Você está na página 1de 70

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

(DISCIPLINA COMUM AOS CURSOS DE DIREITO E


RELAÇÕES INTERNACIONAIS – IBMEC/MG)

RESUMO DE AULAS

Prof. Dorival Guimarães Pereira Júnior


2º semestre 2018 (com atualizações da Lei 13.105/2015)
AULA I – (Introdução)
IBMEC / BELO HORIZONTE
Assunto: Objeto do Direito Internacional Privado

1. Introdução
Historicamente a convivência sempre surgiu como imperativo da própria
natureza humana, traduzido no empenho de promover as relações e
intercâmbios, tanto no aspecto social como comercial.

Também é verdade que a vida em comum em função de vários motivos


traz divergências, porque as contradições fazem parte inevitável desse
processo de relações.

Para resolver tais conflitos, o homem criou o Estado (entidade que


assegura a obediência) e o Direito (ciência que disciplina as relações
entre as pessoas).

O Direito disciplina as relações entre pessoas por meio de normas,


sempre compostas de dois elementos: hipótese e disposição. A
hipótese é a parte que compreende os fatos. A disposição é a parte da
regra que determina a consequência daqueles fatos compreendidos pela
norma.

2. Conflito de leis
Cada Estado soberano cria e impõe o seu próprio Direito, o seu próprio
ordenamento jurídico. Como existem vários Estados soberanos no
mundo, consequentemente, existem vários ordenamentos jurídicos.

Geralmente os fatos são constituídos de elementos que remetem


somente a um Estado. Ou seja, todos os seus elementos estão em
conexão unicamente com um ordenamento jurídico. Por exemplo, um
brasileiro, domiciliado em Belo Horizonte, casa-se.

No entanto, existem fatos cujos elementos remetem a distintos


ordenamentos jurídicos, de dois ou mais Estados soberanos. Por
exemplo: um brasileiro casa-se em Belo Horizonte com uma argentina.
Como se vê, os elementos deste fato remetem a dois Estados soberanos
distintos, Brasil e Argentina.

Na terminologia adotada por Amílcar de Castro, o fato cujos elementos


fazem conexões ou referências com meios sociais diversos é chamado de
fato anormal.

Chamamos de elementos de conexão o vínculo que relaciona um fato


qualquer a determinado sistema jurídico.

Presentes elementos de conexão relativos a mais de um sistema jurídico,


surge a dúvida sobre qual direito material deve ser aplicado para
disciplinar aquele fato.

Para resolver essa dúvida, foi criado o direito internacional privado, que
cuida de indicar quais regras materiais devem ser aplicadas em cada
caso. No exemplo acima, as normas de DIP indicarão se será o direito de
família brasileiro ou argentino que disciplinará o casamento.

O objeto fundamental do direito internacional privado é o conflito de leis


no espaço.

A tarefa do direito internacional privado é procurar qual a solução


adequada para resolver um conflito de leis no espaço.

O direito internacional privado tem por fim principal a aplicação da lei


estrangeira em determinado Estado.
3. Pressupostos do DIPr
Para que o direito internacional privado exista, é preciso haver dois
pressupostos: um jurídico e um fático.

Pressuposto jurídico: possibilidade de aplicabilidade da lei estrangeira


dentro do território nacional.

“Art. 376 NCPC. A parte que alegar direito municipal,


estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor
e a vigência, se assim o juiz determinar.”

“Art. 14, LINDB. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá


o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência.”

Pressuposto fático: existência do intercâmbio internacional, ou seja, um


fato que contenha ao menos um elemento de estraneidade, que o vincule
a dois ou mais ordenamentos jurídicos.

Os diferentes sistemas jurídicos vinculados ao pressuposto fático podem


pertencer a um mesmo Estado, como por exemplo Estados Unidos,
França, Suíça, etc.

4. Conflito de leis penais e processuais


Como nenhum ordenamento jurídico admite que os tribunais de seu país
apliquem o direito material, substantivo, penal estrangeiro, não há que se
falar em conflito de leis penais no espaço, pois falta o pressuposto jurídico.

É sempre a lei territorial que determina a competência dos juízes, que


determina o rito do processo a ser obedecido. No entanto, pertencem ao
campo do direito internacional privado os conflitos de leis processuais
relativos às provas dos atos jurídicos.
Dessa forma, o objeto do direito internacional privado é o conflito de leis
no espaço, incluídos os problemas de direito processual a respeito de
provas.

“Art. 13, LINDB. A prova dos fatos ocorridos em país


estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao ônus
e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.”

5. Definição de DIPr
“(...), o conjunto de regras de direito interno que determinam as leis
aplicáveis às relações jurídicas concernentes aos particulares, quando
intervém dado estrangeiro, chama-se direito internacional privado.” (IS,
36)

“Disciplina jurídica autônoma, sua denominação, apesar de imperfeita,


está consagrada. Não é internacional, nem privado, pois é ramo do
direito público interno. Suas regras determinam quando o direito
estrangeiro será aplicável dentro do território nacional.” (NDA, 33/34)
AULA – 2
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Objeto do Direito Internacional Privado (cont.)


História do Direito Internacional Privado

5. Reconhecimento de direitos adquiridos no exterior

Por vezes, um Estado precisa decidir se atribui efeitos a fatos ocorridos no


estrangeiro. Tal assunto é característico do DIPr, porque tais fatos são sempre
interjurisdicionais. (AC, 54)

No entanto, não se trata de transporte para o foro de direito adquirido no


estrangeiro, mas a apreciação de um fato anormal, com a consequente indicação
de qual direito material deverá regulamentá-lo.

Exemplos de direitos adquiridos em um país que podem ter efeitos em outro


país:
a) casamento; b) contrato de compra e venda; c) paternidade e filiação; d) crédito
concedido no estrangeiro; e) doação causa mortis; f) título de mestre e/ou doutor;
g) habilitação de advogado.

6. Conflito de jurisdições

Conflito de jurisdição só pode existir em face de um mesmo regulamento de


competências; e não consiste em divergência de disposições legais, mas
exclusivamente em divergências de juízes interpretando a mesma disposição
legal. (AC, 47)
“Art. 66 NCPC. Há conflito de competência quando:

I - 2 (dois) ou mais juízes se declaram competentes;


II - 2 (dois) ou mais juízes se consideram incompetentes, atribuindo
um ao outro a competência;
III - entre 2 (dois) ou mais juízes surge controvérsia acerca da
reunião ou separação de processos.

Parágrafo único. O juiz que não acolher a competência declinada


deverá suscitar o conflito, salvo se a atribuir a outro juízo.”

As normas reguladoras da competência geral pertencentes à ordem jurídica de


um Estado não definem os limites das jurisdições dos Estados estrangeiros, os
quais, do mesmo modo, são fixados exclusivamente pelas disposições legais
desses Estados. (AC, 47)

“Art. 21 NCPC. Compete à autoridade judiciária brasileira


processar e julgar as ações em que:

I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado


no Brasil;
II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se


domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver
agência, filial ou sucursal”.

“Art. 22 NCPC. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira


processar e julgar as ações:

I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou
propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de
benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor
tiver domicílio ou residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à
jurisdição nacional”.

“Art. 23 NCPC. Compete à autoridade judiciária brasileira, com


exclusão de qualquer outra:

I - conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;


II - em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de
testamento particular e ao inventário e à partilha de bens situados
no Brasil, ainda que o autor da herança seja de nacionalidade
estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III - em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável,
proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o titular
seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do
território nacional.”

A jurisdição é uma função constitucional do Estado, não podendo, portanto, um


juiz nacional aplicar norma estrangeira de competência em detrimento do direito
nacional.

7. A maior parte dos autores filia-se à corrente anglo-saxônica, que procura

responder a três perguntas nucleares da disciplina: (NA, 34)

1) Em que local acionar – as questões de direito processual civil internacional,


especialmente as relativas à competência internacional, também chamada de
conflito de jurisdição;
2) Qual a lei aplicável – a utilização do método conflitual e suas regras, bem
como as novas tendências da disciplina;

3) Como executar atos e decisões estrangeiras – a cooperação


interjurisdicional entre os poderes judiciários de Estados diferentes,
especialmente nas questões relativas ao reconhecimento das decisões
proferidas pela justiça estrangeira.

REVISÃO DOS CONCEITOS INTRODUTÓRIOS

01. O que são fatos anormais?


São fatos cujos elementos remetam a dois ou mais ordenamentos jurídicos.
Dessa forma, surge a dúvida de qual desses ordenamentos será aplicável para
regulamentar aquele fato.
Exemplos:
a) um brasileiro que mora no Brasil e se casa aqui com uma argentina;
b) um brasileiro que importa roupas produzidas na Itália;
c) um chinês que morre na China deixando bens aqui no Brasil.

02. Qual é o objeto clássico do DIPr?


O objeto clássico do DIPr é dar solução ao conflito espacial de leis. Ou seja,
indicar qual é o direito material que regulamentará um fato anormal.

03. É correto dizer que as normas de DIPr são internacionais? Explique.


Não. As normas de DIPr não são internacionais, mas internas. Cada Estado tem
as suas próprias normas de DIPr. Dessa forma, nós estudaremos as normas
brasileiras de DIPr.
AULA – 3
IBMEC / BELO HORIZONTE

II – HISTÓRIA DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Da antiguidade ao feudalismo, não existiram normas de DIPr tal qual hoje ele é
considerado. O DIPr nasceu no fim da idade média, por volta do século XII, no
norte da Itália. Veremos a seguir, no entanto, como era feita a apreciação dos
fatos anormais antes do nascimento das normas de DIPr.

1. Antiguidade (3.000a.C./200a.C.)

No período mais antigo, predominava intensa xenofobia entre os povos.

Nesse período era impossível estabelecer identificação entre um estrangeiro e a


sociedade nacional. O isolamento era absoluto com referência ao estrangeiro.
(IS, 205)

Curiosamente, são as guerras, as conquistas e o comércio internacional que


começaram a alterar o quadro de xenofobia que predominava na Idade Antiga.

2. Período clássico (200a.C./476)

Aos poucos começou a surgir uma convivência natural, obrigando os povos a


criar certos dispositivos de proteção ao estrangeiro, sobretudo na Grécia e no
Império Romano.

Na Grécia, foi criada uma situação de garantia aos estrangeiros. Havia o


próxeno, que era o cidadão que protegia e ajudava o estrangeiro em trânsito ou
domiciliado. Auxiliava o estrangeiro em suas transações comerciais, servindo-
lhe de guia ou conselheiro.
O problema na Grécia era cogitado em termos de proteção, mas sem significado
jurídico. Havia a preocupação de criar um ambiente de paz, de harmonia para
os estrangeiros.

Em Roma, havia dois direitos: um que era aplicado aos cidadãos romanos,
chamado jus civile, e outro, aplicado aos estrangeiros, denominado jus
gentium.

Além do jus gentium, estabeleceu-se em Roma, a partir de 242a.C., a


magistratura especial do praetor peregrinus, incumbido de julgar causas entre
cidadãos e peregrinos, ou entre estes, uns com os outros.

Não se tratava o jus gentium de gênese do direito internacional privado, uma vez
que continha normas materiais, emanadas pelo Império Romano, destinadas a
regulamentar as questões envolvendo estrangeiros.

O jus gentium era, ao contrário, a negação do direito internacional privado,


já que se destinava à direta apreciação de relações estabelecidas entre
peregrinos, uns com os outros, ou entre romanos e peregrinos.

3. Primeira fase da idade média (476/814: Alta Idade Média)

A queda do Império Romano assinala novo momento histórico para o direito


internacional privado, com a invasão dos bárbaros e com os vários povos de
costumes diferentes que se fixaram numa extensa área geográfica.

As tribos bárbaras formavam associações de homens livres, chamadas pagus


ou civitas. Exemplos: francos, borguinhões, saxões, frisões, lombardos.

A cada uma dessas associações era aplicado o respectivo direito.


Sistema da personalidade

No chamado sistema da personalidade do direito, valia a origem, de modo que


as pretensões que houvesse eram propostas com o direito de cada um, isto é,
pelo direito do povo a que pertencesse, independentemente de onde se
encontrasse, o interessado ou parte.

Nos atos extrajudiciais, a pessoa declarava qual era o direito por que se
governava, e quando ia a Juízo fazia também a declaração de qual fosse o seu
direito;

Pergunta do juiz:

Sub qua leges vives?, e o interessado respondia, indicando o direito


que deveria ser observado.

4. Segunda fase da idade média (feudalismo) (814/1453: Baixa Idade Média)

Sistema da territorialidade
Enquanto no primeiro período da Idade Média esteve em vigor o sistema da
personalidade do direito, viu-se pouco a pouco afirmar-se e triunfar o sistema
contrário, qual seja, o regime territorial.

Uma das causas que mais contribuíram para o advento do regime territorial foi a
implantação de sistema feudal após a dissolução do Império Carlovíngio, em
seguida à morte de Carlos Magno.

A autoridade do senhor feudal não fazia concessões. O feudalismo foi a negação


da personalidade do direito e nenhum vassalo poderia invocar direito estranho
ao que vigorava no feudo a que pertencesse. Em cada domínio feudal
aplicavam-se as leis do território. (IS, 211)  Manifestação e

consolidação do princípio da territorialidade das leis.


O período feudal não teve influência muito grande no norte da Itália, em que
cidades ricas e populosas não se adaptaram a esse sistema.

AULA – 4
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Escolas estatutárias

1. Introdução

Na segunda metade do século XII, surgiu uma pergunta fundamental: se


homens de diversas províncias, as quais têm diversos costumes, litigam perante
um mesmo juiz, qual desses costumes deve seguir o juiz que recebeu o feito
para ser julgado? Segundo Aldricus, o juiz deveria seguir o costume que lhe
parecesse mais preferível e mais útil.

Com o fim do império romano ocidental, em 476 (deposição do imperador


Rômulo Augusto), os lombardos haviam submetido a seu poder todo o norte da
Itália, onde se encontravam as cidades de Milão, Bolonha, Florença, Módena,
Pisa, Pavia, Perusa, Veneza.

Em 774, os lombardos foram derrotados pelos francos, e subjugados ao império


de Carlos Magno.

Após a morte de Carlos Magno, assistiu-se a uma grande luta contra as cidades
italianas setentrionais.

Tendentes à autonomia, mesmo pertencentes a um império, tais cidades


começaram a eleger seus magistrados, a cuidar de sua administração e a
reger suas relações externas umas com as outras.
Reconhecidas como comunas livres, eram verdadeiras repúblicas
autônomas, com direito próprio, escrito, ou não, denominado statuta, em
oposição ao direito romano, que era a Lex.

Nessa época, os juristas italianos voltaram a estudar e a aplicar o direito romano,


considerado o direito comum a todo o império franco.

Surgimento da Universidade de Bolonha, no ano 1.100, chamada escola de


glosadores. Dedicavam-se ao estudo dos textos romanos, penetrando nas
minúcias, mediante glosas explicativas, breves notas interlineares ou marginais.
O principal representante dos glosadores chamava-se Irnerius.

Nos séculos XIII e XIV, surgiu a chamada Escola dos pós glosadores, nas
cidades italianas de Perusa, Pádua, Pisa e Pavia, cujo maior representante foi
Bártolo. Os pós glosadores, também chamados de comentaristas ou
bartolistas, não se restringiam a comentar o direito romano, mas, mais que
isso, preocupavam-se em revelar um direito novo.

Os pós glosadores dedicaram-se especialmente a apreciar fatos anormais,


ou seja, estudar a aplicação do direito local de uma cidade em outra.
Formam assim a primeira escola, chamada Escola Estatutária Italiana.

2. Características comuns às escolas estatutárias

Chamam-se estatutárias as primeiras escolas que a partir do século XIV até o


século XVIII apresentaram estudos a respeito de especial apreciação de fatos
anormais.

Além de serem todas européias, as três primeiras escolas sobre direito


internacional privado possuem características em comum que as permitem ser
reunidas em um mesmo grupo, chamado “escolas estatutárias”.

2.1. Estatutos
Em primeiro lugar, são os estatutos (direitos particulares) que aproximam
essas três escolas.

O direito lombardo e o direito romano, compreendidos por disposições de


interesse geral, eram aplicados em todo o norte da Itália e o sul da França.
Dessa forma, era o chamado Direito comum. Ocorre que, muitas cidades
italianas, tendentes à autonomia, foram conquistando sua independência em
relação ao Império Lombardo e posteriormente ao Império Franco.

Com autonomia administrativa e política, tais cidades indicavam os seus próprios


juízes, administravam a si mesmas, e criavam o seu próprio Direito, derrogando
o Direito comum, formado pelo direito romano e lombardo.

2.2. Divisão do Direito em estatutos reais e pessoais


Outra característica comum a essas escolas é a divisão do direito em estatutos
reais ou estatutos pessoais.

Buscavam a classificação do direito através do objeto de suas normas. Se as


normas têm como objeto as pessoas, recebem o nome de estatutos
pessoais.

Se as normas têm como objeto as coisas, recebem o nome de estatutos


reais.

2.3. Ausência de autonomia do DIPr


A última característica em comum das três escolas é a ausência de regras
autônomas sobre DIPr. Os doutrinadores focavam seus estudos nos estatutos
de direito privado (primário), e não na apreciação de um fato anormal.

Partiam do pressuposto em que havia um conflito entre os estatutos, admitindo


que estes se aplicavam, ao mesmo tempo, ao mesmo fato.
Para saberem se determinado estatuto é aplicável fora da cidade em que foi
emanado, os doutrinadores analisavam o próprio texto do direito material.

3. Escola italiana (sécs. XIII e XIV)

Principal representante: Bartolo de Sassoferrato

Divisão dos conflitos em duas classificações: uns relativos à causa e outros


relativos ao processo. Às questões processuais, a lei aplicável é a lex fori (lei
do foro), enquanto que para os aspectos relativos à causa, aplica-se a lei do
lugar de constituição.

Divisão dos estatutos em pessoais e reais, fixando o princípio da


territorialidade para o estatuto real e da extraterritorialidade para o pessoal.

4. Escola francesa (séc. XVI)

Principais representantes: Charles Dumoulin e Bertrand D´Argentré.

Dumoulin defendia a aplicação da autonomia da vontade das partes como


elemento de conexão que deveria determinar a lei aplicável às questões de fundo
dos contratos e ao regime de bens do casamento.

Bertrand adotava o princípio da territorialidade como regra geral, aproximando


suas idéias daquelas que prevaleciam na época do feudalismo.

Segundo ele, para os direitos reais sobre bens móveis, deveria se aplicar a lei
do país onde é domiciliado o proprietário, enquanto que aos imóveis, aplicar-se-
ia a lei do local onde se encontrassem.

Previsão dos estatutos mistos e incertos, além dos reais e pessoais. O princípio
da territorialidade deveria vigorar para os estatutos mistos, incertos e reais.
Não havia preocupação com critérios científicos, mas somente com o bom
senso e com o dever de justiça.

5. Escola holandesa (séc. XVIII)

Principal representante: Ulrich Huber.

A escola holandesa aperfeiçoou a escola francesa. A doutrina de Huber foi


sintetizada em três máximas:

1ª máxima: o direito de cada Estado reina nos limites de seu território e rege
todos os seus súditos, mas além não tem nenhuma força.

2ª máxima: devem ser considerados como súditos de um Estado todos aqueles


que se encontrem nos limites de seu território, quer estejam aí fixados de
maneira definitiva, quer não tenham aí senão estada temporária.

3ª máxima: a aplicação da extraterritorialidade se dá apenas pela “cortesia


internacional” (comitas gentium), ou seja, a aplicação do direito estrangeiro se
dá por mera cortesia do Estado Soberano aos nacionais de outros países. Tal
cortesia não poderia prejudicar o direito nacional, nem o de terceiros.

A cortesia pensada pela escola holandesa só traduz relações entre a autoridade


jurisdicional e as pessoas interessadas no fato a ser juridicamente apreciado; e
não sobre relações entre Estados.

Cortesia (comitas), para os holandeses, era necessidade de fato, referente a


interesses particulares, e não cortesia ou reverência a Estado ou governo
estrangeiro.

6. Decadência das escolas estatutárias


Já no séc. XVIII as escolas estatutárias eram muito questionadas, pois quase
todos os autores dessas escolas estavam em desacordo.

Sem qualquer motivo, dividiram aqueles doutrinadores o direito objetivo em


estatutos pessoais, reais e mistos, e depois tiveram trabalho insano para
acomodar certas disposições numa dessas categorias. (AC, 128)

Foi também sem razão que deram efeito territorial ao estatuto real, e eficácia
extraterritorial ao pessoal, estabelecendo regra e exceção.

Não tomavam em consideração os fatos anormais, mas apenas pelo exame


do próprio estatuto, pretendiam dizer se este, ou aquele, podia, ou não, ser
observado fora da jurisdição que lhe era própria.

Supunham a desnecessidade de normas especiais reguladoras dos conflitos,


porque as mesmas se encontravam contidas nas próprias palavras dos
estatutos.

A teoria dos estatutos tornou-se muito vaga, incerta e confusa para


subsistir.
AULA – 5
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Doutrinas modernas

1. Joseph Story (Estados Unidos – 1830)

No sul dos Estados Unidos havia um direito codificado (por influência da França),
e no norte, um direito consuetudinário (influência da Inglaterra, da Common
Law).

A teoria de Joseph Story sofreu muita influência da escola estatutária holandesa,


sobretudo nas três máximas de Ulrich Huber.

A cortesia de um Estado para com o outro devia-se em virtude de reciprocidade,


ou seja, a eficácia de um direito estrangeiro em território nacional se justificava
por motivos de ordem pública. Story dizia que a prática da vida mostra a
vantagem de reconhecer os atos legislativos, executivos e judiciais de outras
jurisdições.

O direito internacional privado foi confundido com política internacional.

Graças à essa idéia de relações entre nações que Story adotou a terminologia
“direito internacional privado”.

Máximas de Story:

a) cada nação decide autonomamente em que medida deve aplicar


direito estrangeiro;

b) é de interesse mútuo admitir o direito de outro país; vale dizer: o


governo tem o dever moral de fazer justiça aos súditos de nações
estrangeiras, a fim de que os governos dessas nações façam também
justiça a seus súditos.

Para Story, influenciado pelo direito inglês, a jurisprudência deve ser a principal
fonte do direito internacional privado.

2. Friedrich Karl von Savigny (Alemanha - 1849)

Teoria da Comunidade do Direito entre os Diferentes Povos

Savigny assenta sua teoria numa comunhão de direitos entre os povos que têm
relação entre si, pressupondo que a respeito dos fatos anormais, o direito de
cada Estado seja comum a qualquer outro.

O Estado tem o dever internacional de admitir direito estrangeiro como


fonte do nacional.

Cada fato anormal deve ser apreciado pelo direito mais conforme à sua natureza,
nada importando seja esse direito nacional ou estrangeiro, já que a aplicação
deste é dever internacional.

O direito mais conforme à natureza do fato é sempre o da jurisdição onde este


esteja situado. Para Savigny, todo fato tem sua sede, seu centro de gravidade.

Toda relação ocupa um lugar no espaço. Há um lugar onde a relação atua de


maneira predominante. Esse lugar que vincula qualquer relação de direito, em
caráter permanente, é o que se chama de “sede da relação jurídica”.

O direito da sede só não prevalece por dois motivos: ser ofensivo à ordem
pública, ou inexistência da instituição no fórum (p.ex. a escravidão), únicos
limites à comunhão do direito.
1ª regra: estatuto pessoal (estado, capacidade, direitos de família e direitos
sucessórios): lei do domicílio da pessoa (lex domicilii).
2ª regra: Bens: a sede é sempre o lugar da respectiva situação dos bens,
regulados, desse modo, pela lex rei sitae.
3ª regra: obrigações: a sede é o lugar da execução em que está a prestação do
devedor, que é a essência da obrigação, onde se concentra a atenção das
partes. Dessa forma, prevalece a lex loci executionis.
4ª regra: processo: parte do direito que põe em andamento a atividade
jurisdicional do Estado. A sede da relação jurídica é dada pela lex fori.
5ª regra: forma extrínseca dos atos: a forma dos atos que foram objeto de uma
relação de direito deve ser regida pela lei do Estado onde ele é praticado, ou
seja, pelo locus regit actum (por exemplo: o mérito da questão é uma dívida. A
forma pode ser um contrato de mútuo, uma nota promissória, uma letra de
câmbio, etc).

3. Pasquale Mancini (Itália - 1874)

Mancini defende a idéia da nacionalidade como base do direito internacional.


Sustenta a tese de que, em direito internacional, a nação é que devia ser levada
em conta, não o Estado.

Assentou sua doutrina numa única idéia: a extraterritorialidade, denominando-


a personalidade do direito. Partindo da premissa de que o direito sempre se
refere às pessoas, e não às coisas, foi à conclusão de que deve acompanhar a
pessoa, como o sangue que lhe circula nas veias.

Justificando a extraterritorialidade como regra geral, aponta Mancini dois


fatos: a diversidade das legislações e a natureza cosmopolita do homem.
Assim, a aplicação do direito estrangeiro consiste em dever internacional,
imposto pela solidariedade humana.

Regras jurídicas necessárias, imperativas: estado, capacidade da pessoa,


direito de família e sucessões: direito nacional.
Regras jurídicas voluntárias: negócios e contratos: autonomia da vontade.
Regras jurídicas de ordem pública: direito territorial, em virtude da soberania.

Como regra geral indicava a extraterritorialidade do direito privado


necessário. Como exceções a essa regra, apontava: ser esse direito ofensivo à
ordem social e a autonomia da vontade.

AULA – 6
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: História do DIPr brasileiro

Os cursos jurídicos foram criados no Brasil em 11 de agosto de 1827, com a


instituição das Faculdades de São Paulo e do Recife.

Nesses primeiros tempos dos estudos jurídicos no Brasil, o tema do conflito de


leis integrava o currículo de Direito Civil, seguindo as ideias dos tratadistas
franceses.

O DIPr, como disciplina autônoma, apareceu somente em 1907 no curso da


Faculdade de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro.

1. Doutrina de Teixeira de Freitas (1816 – 1883)

Pioneiro do DIPr no Brasil. O grande mérito de Teixeira de Freitas não é


exatamente a sua originalidade, já que suas idéias baseavam-se em outras
doutrinas, especialmente a de Savigny. O mérito de Teixeira de Freitas foi reunir
normas que tratavam sobre conflito espacial de leis com uma preocupação
sistemática, e não de maneira incompleta e fragmentada como os tratadistas
internacionais que o precederam.
Esboço do Código Civil do Império do Brasil – 1860. Projeto de lei que não foi
terminado nem aprovado pelo governo da época, Ministro da Defesa, José
Alencar.

O “Esboço” inspirou o jurista Dalmácio Vélez Sársfield, autor do Código Civil


argentino.

Sofreu forte influência da teoria de Savigny, que dispunha sobre a comunhão


do direito, e sobre a sede da relação jurídica.

É o domicílio e não a nacionalidade o que determina a sede jurídica das


pessoas, para que se saiba quais as leis civis que regem a sua capacidade ou
incapacidade. Ou seja, ao referir-se ao estatuto pessoal, Teixeira de Freitas
adotou o princípio da lex domicilii.

Os bens devem ser regidos pelas leis do lugar da sua situação (lex rei sitae).

Quanto à forma dos atos, aplica-se a lei do lugar onde tais atos foram praticados
(lex locus regit actum). Quanto à sua substância, adota-se a lei do lugar de sua
execução (lex locus executionis).

2. Pimenta Bueno (1803 – 1878)

Direito internacional privado e aplicação de seus princípios com referência às


Leis Particulares do Brasil – 1863.

Pimenta Bueno não teve a preocupação de elaborar um corpo legislativo,


tratando a matéria somente do ponto de vista doutrinário.

A doutrina de Pimenta Bueno estende bastante o objeto do DIPr, abrangendo o


direito administrativo e o direito criminal.
Pimenta Bueno vinculou-se ao princípio da comitas gentium, ou seja, de aplicar
o direito estrangeiro em outro território pura e exclusivamente por um ato de
cortesia.

Cada nacionalidade ou país tem o seu estatuto pessoal especial e apropriado,


que acompanha os seus nacionais em toda parte a que eles se dirijam.

As atribuições de efeitos ao direito estrangeiro depende só e absolutamente do


livre-arbítrio e conveniência do Estado, ou ideias de mútua utilidade, cortesia ou
reciprocidade.

3. Clóvis Beviláqua (1859 – 1944)

Princípios elementares de direito internacional privado – 1906.

A lei nacional da pessoa rege a sua capacidade e os seus direitos de família.

Clóvis Beviláqua foi um dos principais idealizadores do Código Civil de 1916, e


de sua Lei de Introdução (substituída em 1942).

Existem alguns inconvenientes de se aplicar o critério da nacionalidade para


definir a sede da pessoa quando se trata de estatuto pessoal. Especialmente
quando se trata de um país de grande imigração, como o Brasil.

Irineu Strenger traz um exemplo de uma comarca no sul do país em que em um


ano, o juiz teve de aplicar maior número de vezes a lei civil alemã do que a
brasileira.

Em 1942, a nova Lei de Introdução abandonou o antigo critério da


nacionalidade, substituindo-o pela lei do domicílio da pessoa.
AULA – 7
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Fontes do DIPr – leis e tratados

1. Introdução

“Para Del Vecchio são fontes os modos de manifestação da vontade social


preponderante (vontade cuja presença dá caráter positivo ao direito).” (IS, 82)

Fontes do direito são os fatos que se manifestam por meio da vontade


prevalecente de um determinado povo, e se constituem em preceitos válidos,
obrigatórios e vigentes para aquele mesmo povo. (IS, 83)

São fontes do DIPr: a) lei interna; b) tratados normativos; c) costumes; d)


jurisprudência; e) doutrina nacional e internacional.

2. Leis internas

O DIPr é direito interno, é direito nacional de cada país. No Brasil, a lei interna é
a grande fonte do DIPr.

Cada país resolve seus problemas de DIPr com regras de direito interno que
obrigam apenas dentro das fronteiras onde os respectivos juízes exercem sua
jurisdição. Os indivíduos pedem o reconhecimento ou a aquisição de um direito,
pouco importando o que disponham outras leis em conflito. (IS, 98, citando Pillet)

Em 1916, foi promulgado o Código Civil, em cuja “Introdução”, nos arts. 8º a 21,
foram determinadas regras de direito interno sobre DIPr.

Na última “Lei de Introdução”, de 4 de setembro de 1942, consagrou-se o nosso


sistema local de direito internacional privado.
Existem outras leis esparsas que cuidam de matérias de DIPr, tais como:

a) Constituição Federal de 1988. Nacionalidade, direitos e deveres dos


estrangeiros, questões atinentes aos tratados internacionais, sucessão de
bens de estrangeiros situados no país (art. 5º, XXXI), questões de
cooperação internacional.

b) Código de Processo Civil (NCPC). Regulamenta a questão da jurisdição


internacional, cartas rogatórias, prova do direito estrangeiro,
homologação de sentenças estrangeiras e auxílio direto.

c) Lei 6.404, de 15 de dezembro de 1976, que dispõe sobre as sociedades


por ações. O art. 73 trata sobre emissão de debêntures no estrangeiro.

Até o meado do século XVIII, não havia leis de direito internacional privado,
conquanto já se conhecessem e se observassem desde o século XII muitas
normas jurisprudenciais e doutrinárias.

3. Tratados
3.1. Tratados normativos e contratuais

Tratados normativos (= tratados-lei) são os que estabelecem regras de


interesse geral, e podem se constituir numa norma obrigatória e vigente num
determinado Estado. (IS, 102)

Tratado contratual é o acordo entre governantes acerca de qualquer assunto.


Exemplos: a) pacto de não agressão; b) problemas de fronteiras; c) acordos de
paz; d) anexação de territórios.

3.2. A teoria monista e a teoria dualista

A teoria dualista, na forma esboçada por Triepel, afirmava a existência de dois


sistemas distintos: a ordem jurídica internacional e a ordem jurídica interna.
A teoria monista, fundamentada na idéia de Hans Kelsen, entendia existir uma
única ordem jurídica, com projeções interna e internacional. Assim, não há
necessidade de internalização das obrigações decorrentes do tratado no plano
interno, ante a ausência de separação entre as leis internas e internacionais,
impondo-se sua aceitação automática.

3.3. Os tratados internacionais segundo o direito positivo brasileiro

O sistema constitucional brasileiro – que não exige a edição de lei para efeito de
incorporação do ato internacional ao direito interno (visão dualista extremada) –
satisfaz-se, para efeito de executoriedade doméstica dos tratados internacionais,
com a adoção do iter procedimental que compreende a aprovação congressional
e a promulgação executiva do texto convencional (visão dualista moderada).
(NA, 166)

No Brasil, as fases de elaboração dos tratados são: negociação, assinatura,


ratificação, promulgação, publicação e registro.

“Art. 84, CR. Compete privativamente ao Presidente da República:


(...)
VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos
a referendo do Congresso Nacional.”

“Art. 49, CR. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos
internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos
ao patrimônio nacional;”

OBS. O Protocolo de Medidas Cautelares, adotado pelo Conselho do Mercado


Comum (MERCOSUL), por ocasião de sua VII Reunião, realizada em Ouro Preto
/ MG, em dezembro de 1994, embora aprovado pelo Congresso Nacional
(Decreto Legislativo 192/95), não se acha formalmente incorporado ao sistema
de direito positivo interno vigente no Brasil, pois, a despeito de já ratificado
(instrumento de ratificação depositado em 18/03/97), ainda não foi promulgado,
mediante decreto, pelo Presidente da República. ADIn 1.480-DF, Rel. Min.
Celso de Mello. (NA, 148)

3.4. Solução de antinomias1 jurídicas.

Havendo contradição entre leis e tratados internacionais internalizados, há que


se observar três critérios: a) a hierarquia do tratado internacional quando
internalizado; b) a especialidade; c) o tempo.

Critério hierárquico: lex superior derogat legi inferiori (norma superior revoga
inferior).

“Art. 5º, CR. (...)


§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais.”

Critério cronológico: lex posterior derogat legi priori (norma posterior revoga
anterior).

“Art. 2º da LINDB. Não se destinando à vigência temporária, a lei


terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o
declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.”

1 Contradição entre leis, princípios ou doutrinas.


Critério da especialidade: lex specialis derogat legi generali (norma especial
revoga a geral).

OBS. JURISPRUDÊNCIA STF2

No acórdão, era discutido qual o prazo prescricional a ser seguido, se o da


Convenção de Varsóvia, de apenas dois anos ou o do CDC, mais amplo e mais
favorável ao consumidor. A Ministra Relatora Ellen Gracie utilizou o critério da
especialidade, pois embora o CDC se aplicasse a todos os contratos, a norma
da Convenção regulava apenas o transporte aéreo internacional, prevalecendo
na espécie.

3.5. Exemplos de tratados internacionais, incorporados ao ordenamento


jurídico brasileiro, que contém disposições de direito internacional privado.

a) Decreto 57.663, de 24 de janeiro de 1966, que promulga as Convenções para


adoção de uma Lei Uniforme em matéria de letras de câmbio e notas
promissórias. > Convenção destinada a regular certos conflitos de leis em
matéria das letras de câmbio e notas promissórias e protocolo. Art. 2º. A
capacidade de uma pessoa para se obrigar por letra ou nota promissória é
regulada pela respectiva lei nacional.

b) Decreto 3.087, de 21 de junho de 1999. (Decreto Legislativo 1, de 14 de


janeiro de 1999). Promulga a Convenção Relativa à Proteção das Crianças e à
Cooperação em matéria de adoção internacional, concluída em Haia, em 29
de maio de 2003.

Capítulo V - Reconhecimento e Efeitos da Adoção

Artigo 23. - 1. Uma adoção certificada em conformidade com a Convenção, pela


autoridade competente do Estado onde ocorreu, será reconhecida de pleno

2 RE 297.901 / RN – Min. Ellen Gracie. Julgamento: 07/03/06. Segunda turma.


direito pelos demais Estados Contratantes. O certificado deverá especificar
quando e quem outorgou os assentimentos previstos no artigo 17, alínea "c". (...)

Artigo 24. - O reconhecimento de uma adoção só poderá ser recusado em um


Estado Contratante se a adoção for manifestamente contrária à sua ordem
pública, levando em consideração o interesse superior da criança.

AULA – 8
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Fontes do DIPr – costumes, jurisprudência e doutrina.

1. Costumes

O costume, como fonte criadora do Direito, se compõe de dois elementos: o


procedimento e a convicção da obrigatoriedade do procedimento.

O costume só é fonte de direito quando reconhecido pelo Estado.

Conceito de costume: prática geral aceita como sendo o direito. (Estatuto da


Corte Internacional de Justiça, art. 38, 1, b)

Lex mercatoria: conjunto de princípios gerais e regras costumeiras referidas


espontaneamente ou criadas dentro da estrutura do comércio internacional, sem
referência a um sistema jurídico nacional em particular.

A lex mercatoria é revelada por vários fatos, tais como convenções, regras
uniformes, contratos-tipo, jurisprudência estatal e arbitral, etc.
Os Incoterms (International Commercial Terms / Termos Internacionais de
Comércio) foram criados pela Câmara de Comércio Internacional (ICC –
International Chamber of Commerce).

Eles servem para definir, dentro da estrutura de um contrato de compra e venda


internacional, os direitos e obrigações recíprocos do exportador e do importador,
estabelecendo um conjunto-padrão de definições e determinando regras e
práticas neutras, como por exemplo: onde o exportador deve entregar a
mercadoria, quem paga o frete, quem é o responsável pela contratação do
seguro.

Na realidade, não impõem e sim propõem o entendimento entre vendedor e


comprador, quanto às tarefas necessárias para deslocamento da mercadoria do
local onde é elaborada até o local de destino final (zona de consumo):
embalagem, transportes internos, licenças de exportação e de importação,
movimentação em terminais, transporte e seguro internacionais etc.

Existem 13 siglas, sempre compostas de três letras, que distribuem as


responsabilidades entre vendedor e comprador sobre transporte, desembaraço
aduaneiro, operações de seguro, etc.

Exemplo: FOB (free on board … porto de embarque designado)


O vendedor encerra suas obrigações quando a mercadoria transpõe a amurada
do navio (ship's rail) no porto de embarque indicado e, a partir daquele momento,
o comprador assume todas as responsabilidades quanto a perdas e danos;
A entrega se consuma a bordo do navio designado pelo comprador, quando
todas as despesas passam a correr por conta do comprador;
O vendedor é o responsável pelo desembaraço da mercadoria para exportação;
Este termo pode ser utilizado exclusivamente no transporte aquaviário (marítimo,
fluvial ou lacustre).
2. Jurisprudência

Não se deve confundir jurisprudência com decisão judicial. A decisão judicial é


sempre um julgado, ao passo que a jurisprudência, em regra, é uma série de
julgados.

A jurisprudência, conquanto entre nós não tenha força obrigatória, valendo


apenas como doutrina, é importantíssima fonte de normas de direito
internacional privado, cujas regras legisladas, em geral, são poucas.

Há tanta ilusão em supor-se que no sistema do common law sempre os casos


julgados obrigam os juízes, como em imaginar-se que no sistema romano os
juízes nunca se sentem obrigados pela jurisprudência.

3. Doutrina

A doutrina contribui para a confecção, e para a mais perfeita interpretação das


leis e da jurisprudência; mostra analogias, e informa os princípios gerais de
direito.

Uma lei inalterável só pode conceber-se numa sociedade imutável.

A doutrina vai pelo tempo à frente, preparando a discussão do assunto,


formulando princípios teóricos, saneando direito natural, enquanto a
jurisprudência e a legislação a acompanham, aceitando suas melhores
sugestões, colhendo os frutos dessa sementeira ideal.

Exemplos de atuação destacada da doutrina:

a) A primeira LINDB (então LICC), publicada em 1916, trazia a nacionalidade da


pessoa como centro de gravidade nas relações jurídicas relativas ao estatuto
pessoal. Graças ao trabalho científico da doutrina, dentre outros fatores, o
legislador alterou para o critério do domicílio da pessoa.
b) A guarda compartilhada já era aceita pela doutrina há muito tempo. Aos
poucos foi sendo implantada por alguns juízes, e hoje já se encontra positivada,
através da Lei 11.698/08.

AULA – 9
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Obrigações

1. Conceito

Obrigação é vínculo jurídico em virtude do qual uma pessoa pode exigir de outra
prestação economicamente apreciável. (Caio Mário, in César Fiúza, pág. 139)

2. Classificação

Existem dois tipos de obrigações, de acordo com suas fontes: as obrigações


contratuais e as extracontratuais.
Contratuais são obrigações oriundas de contratos, enquanto extracontratuais
são obrigações oriundas da lei ou de declarações unilaterais de vontade
(promessa de recompensa e títulos ao portador).
As obrigações decorrentes de atos ilícitos são exemplos de obrigações legais.

3. Legislação aplicável às obrigações

“Art. 9º, LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país
em que se constituírem.”
As obrigações ex lege (legais) reger-se-ão pelo direito que as tiver
estabelecido. Exemplo: a) a obrigação alimentar entre parentes, decorrente de
imposição legal relativa ao direito de família, será regida pela lei domiciliar (art.
7º, LINDB); b) as obrigações decorrentes da relação de vizinhança disciplinar-
se-ão pela lex rei sitae (art. 8º, LINDB), por constituírem consequência do direito
real. (Maria Helena Diniz, pág. 295)

As obrigações ex delicto, ou seja, decorrentes da prática de um ato ilícito, serão


regidas pela lei onde ocorreu o ato ilícito (lex loci delicti commissi).

4. Cláusula de eleição de foro

“Art. 47, NCPC. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é
competente o foro de situação da coisa.

§ 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se
o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e
demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
§ 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa,
cujo juízo tem competência absoluta..”

“Art. 62, NCPC. A competência determinada em razão da matéria, da pessoa


ou da função é inderrogável por convenção das partes”.

“Art. 63, NCPC. As partes podem modificar a competência em razão do valor e


do território, elegendo foro onde será proposta ação oriunda de direitos e
obrigações.

§ 1o A eleição de foro só produz efeito quando constar de instrumento escrito e


aludir expressamente a determinado negócio jurídico.

§ 2o O foro contratual obriga os herdeiros e sucessores das partes.


§ 3o Antes da citação, a cláusula de eleição de foro, se abusiva, pode ser
reputada ineficaz de ofício pelo juiz, que determinará a remessa dos autos ao
juízo do foro de domicílio do réu.

§ 4o Citado, incumbe ao réu alegar a abusividade da cláusula de eleição de foro


na contestação, sob pena de preclusão”.

“A cláusula de eleição de foro não se confunde com a lei aplicável. A primeira


tem implicação exclusivamente processual, e a segunda é de direito material,
inserida no âmbito da liberdade contratual e da autonomia da vontade,
designando a lei aplicável ao negócio jurídico”. (Nádia de Araújo, pág. 381)

“O princípio da liberdade de eleição de foro tem por efeito a derrogação da


competência internacional”. (Nádia de Araújo, pág. 381)

“Diante das lacunas da lei brasileira quanto à possibilidade de se escolher a lei


aplicável, uma solução é a determinação de um foro no qual esta escolha seja
permitida. Neste caso, sendo o litígio ali julgado, a escolha da lei pelas partes
será respeitada.” (Nádia de Araújo, pág. 384)

“A cláusula de eleição de foro é permitida e amplamente utilizada no Brasil. Mas


há nuances, quando se analisa a cláusula em conjunto com regras de
competência internacional.” (Nádia de Araújo, pág. 384)

Possibilidade de a competência internacional concorrente brasileira ser


afastada pela vontade das partes: TJRJ, Agravo de Instrumento 2007.002.02431
e 2007.002.02478, 15ª Câmara Cível, Relator: Des. Ricardo Rodrigues Cardozo,
27/03/07.

Impossibilidade de a competência internacional concorrente brasileira ser


afastada pela vontade das partes: STJ, Recurso Especial nº 251.438 – Rio de
Janeiro (2000/0024821-5), 4ª Turma, Relator: Min. Barros Monteiro, 08/08/00
AULA – 10
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto 1: Obrigações e contratos: Os contratos internacionais

1. ELEMENTOS QUE COMPÕEM UM CONTRATO (partes, objeto, lugar onde


se pactua a obrigação, etc);

Se os elementos originam-se e realizam-se sob os limites geográficos de um


único Estado, estamos situados no âmbito interno das obrigações. O Direito
interno regulará todos os aspectos relativos à formação e consequências do
negócio jurídico que se produzir no âmbito interno.

2. CONTRATOS INTERNACIONAIS E POLÍTICA (interação com as RI e


influências)

Nos contratos internacionais, existirá a possibilidade de diversas legislações


pretenderem exercer seu controle. Ex: lei do domicílio, lei da celebração do
contrato. Os contratos internacionais não estão sujeitos unicamente à regulação
do Direito interno.

Algumas premissas podem ser colocadas a respeito dos contratos


internacionais:

1) Os contratos internacionais são normalmente identificáveis (substrato fático


compõem-se de dados sensíveis a todas as atividades referentes ao comércio
internacional).

2) Podem ser considerados os únicos veículos de ação para o comércio


internacional

3) Baseiam-se mais em sistemas principiológicos que legais.


3. CONTRATOS INTERNACIONAIS E EFICÁCIA

4. NATUREZA JURÍDICA DOS CONTRATOS INTERNACIONAIS

Centro de gravidade: declaração de vontade/cumprimento de obrigação.


Elemento espacial: aplicação das leis (englobando inclusive noção temporal).

5. CONTRATOS INTERNACIONAIS: FORMAÇÃO

Coincide com a fase da negociação (encontro de vontades x formalismo legal)


Prevalência do princípio da autonomia da vontade das partes
Momento da produção de vínculos jurídicos: fase preliminar ( contratos internos)
Considera-se, para efeito de formação dos contratos internacionais, todas as
fases, a partir das transações iniciais, que têm por finalidade a colocação de
pressupostos do objeto consensual com força vinculativa e eficácia jurídica, que
prevalece para todos os efeitos posteriores, salvo revogação expressa das
partes.

6. AS PARTES E AS NEGOCIAÇÕES

1a Fase: encontro das partes interessadas (interação das relações comerciais)

Elementos de aproximação das partes: feiras, salões, exposições, serviços


comerciais de embaixadas, câmaras de comércio, revistas (Le moniteur du
commerce exterieur, Le Droit et les affaires) etc.
A importância dos intermediários (câmaras de comércio, bancos)

2a Fase: negociação (propostas e contrapropostas)

Observância de princípios:

1) Boa fé e equilíbrio contratual


2) Análise do conteúdo do contrato
Exercício de contratos

Assunto 2: Obrigações – Estudo de caso

Revisão para as obrigações contratuais:


Charles Dumoulin (escola estatutária francesa) e Pasquale Mancini (doutrina
moderna italiana) defendiam a autonomia da vontade (lex voluntatis).
Savigny (doutrina moderna alemã) e Teixeira de Freitas (brasileiro, 1860)
defendiam a lei da execução (lex executionis).
A LINDB brasileira prevê o lugar da constituição das obrigações (lex loci
celebrationis).

Corroborando a abordagem da profa. Nádia de Araújo, responderemos as três


perguntas nucleares de Direito Internacional Privado:
a) Em que local acionar? Escolha do país com jurisdição e do juízo competente.
b) Qual a lei aplicável?
c) Como executar atos e decisões estrangeiras?

1ª situação: venda de balas de goma dentro do Brasil.

Um supermercado mineiro compra as balas de goma da indústria gaúcha, de


Porto Alegre. Acordaram que a indústria forneceria 10 caixas de balas de goma
por mês. A formalização do negócio ocorreu através de um contrato de
fornecimento, assinado em Belo Horizonte, pelo representante legal da indústria
gaúcha com o representante legal do supermercado mineiro.

Problema 1: durante os meses de agosto e setembro, a indústria gaúcha enviou


as balas de goma, conforme acordado, mas o supermercado mineiro não pagou.
Problema 2: durante os meses de agosto e setembro, o supermercado mineiro
pagou as balas de goma conforme acordado, mas a indústria gaúcha não as
enviou.

1. O referido contrato de fornecimento nada dispõe acerca da legislação

aplicável, nem do foro competente.

a) JURISDIÇÃO
Aplica-se a regra sobre competência internacional (art. 21, NCPC) para verificar
em que país a demanda será ajuizada.

“Art. 21, NCPC. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e


julgar as ações em que:

I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no


Brasil;

II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se


domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência,
filial ou sucursal”.

“Art. 22, NCPC. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira


processar e julgar as ações:

I - de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;

b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de


bens, recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver
domicílio ou residência no Brasil;

III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à


jurisdição nacional”.

A situação concreta encaixa-se nos três incisos do art. 21, NCPC, razão pela
qual, conclui-se que o Brasil tem jurisdição.

b) COMPETÊNCIA
Aplicam-se as regras de competência interna para verificar perante qual juízo
brasileiro a demanda será ajuizada.

Aplicar-se-á a regra geral do art. 94, CPC, uma vez que não existe nenhuma
exceção no caso concreto a excepcionar tal regra.

“Art. 46, NCPC. A ação fundada em direito pessoal ou em direito


real sobre bens móveis será proposta, em regra, no foro de
domicílio do réu.

§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro


de qualquer deles.

§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá


ser demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do
autor.

§ 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a


ação será proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também
residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro.

§ 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios,


serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.
§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu,
no de sua residência ou no do lugar onde for encontrado.

CONCLUSÃO QUANTO À COMPETÊNCIA:

Problema 1: como o réu da ação de cobrança será o supermercado belo


horizontino, o foro competente será uma das varas cíveis da comarca de Belo
Horizonte.
Problema 2: como o réu da ação de indenização (ou cominatória) será a indústria
porto alegrense, o foro competente será uma das varas cíveis da comarca de
Porto Alegre.

c) LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
O juiz brasileiro (ou de belo horizonte ou de porto alegre) será competente para
apreciar e julgar as ações. Como se trata de um fato normal, não há dúvidas
sobre qual legislação aplicar: a brasileira. Não existe nenhum elemento de
estraneidade, fator estrangeiro, nos fatos deduzidos em juízo.

d) EFETIVAÇÃO

Caso a parte que perca a demanda não cumpra a ordem judicial


espontaneamente, a parte vitoriosa poderá executar tal ordem aqui no Brasil,
segundo as normas de cumprimento de sentença, previstas pelo NCPC.

2. O referido contrato de fornecimento dispõe acerca do foro competente.

a) JURISDIÇÃO
Idem ao tópico 1 supra.

b) COMPETÊNCIA
Será competente o juiz escolhido pelas partes.
“Art. 47, NCPC. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é
competente o foro de situação da coisa.

§ 1o O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição se
o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, divisão e
demarcação de terras e de nunciação de obra nova.

§ 2o A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da coisa,


cujo juízo tem competência absoluta”
.
c) LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Idem ao tópico 1.1. supra, pois as partes não podem escolher qual será a
legislação aplicável.

d) EFETIVAÇÃO
Idem ao tópico 1.1. supra.

2ª situação: venda de balas brasileiras para a França (exportação), contrato


assinado em Porto Alegre.

Um comerciante francês, domiciliado em Paris, França, compra as balas de


goma da indústria gaúcha, de Porto Alegre. Acordaram que a indústria forneceria
10 caixas de balas de goma por mês. A formalização do negócio ocorreu através
de um contrato de fornecimento, assinado em Porto Alegre, pelo representante
legal da indústria gaúcha com o comerciante francês.

Problema 1: durante os meses de agosto e setembro, a indústria gaúcha enviou


as balas de goma, conforme acordado, mas o comerciante francês não pagou.

Problema 2: durante os meses de agosto e setembro, o comerciante francês


pagou as balas de goma conforme acordado, mas a indústria gaúcha não enviou
as balas.
1. O referido contrato de fornecimento nada dispõe acerca da legislação

aplicável, nem do foro competente.

a) JURISDIÇÃO
Aplica-se a regra sobre competência internacional (art. 21, NCPC) para verificar
em que país a demanda será ajuizada.

“Art. 21, NCPC. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as


ações em que:

I - o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;

II - no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;

III - o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.

Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no


Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.

Art. 22, NCPC. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e


julgar as ações:

I - de alimentos, quando:

a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;

b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens,


recebimento de renda ou obtenção de benefícios econômicos;

II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou


residência no Brasil;
III - em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição
nacional.Problema 1 (o brasileiro aciona o francês): encaixa-se nos incisos II* e
III do art. 21, NCPC, razão pela qual, conclui-se que o Brasil tem jurisdição.
(*considerando-se o fato de a obrigação de pagamento, pelo comprador, ter que
efetivar-se no Brasil)

Problema 2 (o francês aciona o brasileiro): encaixa-se nos incisos I e III do


NCPC. A obrigação é a entrega das balas, e ocorrerá na França. Dessa forma
não se aplica o inciso II.

b) COMPETÊNCIA
Aplicam-se as regras de competência interna para verificar perante qual juízo
brasileiro a demanda será ajuizada.

“Art. 46, NCPC. A ação fundada em direito pessoal ou em direito real sobre bens
móveis será proposta, em regra, no foro de domicílio do réu.

§ 1o Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer


deles.

§ 2o Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele poderá ser


demandado onde for encontrado ou no foro de domicílio do autor.

§ 3o Quando o réu não tiver domicílio ou residência no Brasil, a ação será


proposta no foro de domicílio do autor, e, se este também residir fora do Brasil,
a ação será proposta em qualquer foro.

§ 4o Havendo 2 (dois) ou mais réus com diferentes domicílios, serão


demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor.

§ 5o A execução fiscal será proposta no foro de domicílio do réu, no de sua


residência ou no do lugar onde for encontrado”.
Problema 1: como o réu da ação de cobrança será o comerciante francês, o foro
competente será uma das varas cíveis da comarca de Porto Alegre (domicílio do
autor).

Problema 2: como o réu da ação de indenização (ou cominatória) será a indústria


porto alegrense, o foro competente será uma das varas cíveis da comarca de
Porto Alegre.

c) LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
O juiz brasileiro (ou de belo horizonte ou de porto alegre) será competente para
apreciar e julgar as ações. Como se trata de um fato anormal, há dúvidas sobre
qual legislação aplicar: se a brasileira ou se a francesa.

“Art. 9º, LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á


a lei do país em que se constituírem.”

Como o contrato foi assinado em Porto Alegre, a obrigação foi constituída no


Brasil (lex loci celebrationis). Dessa forma, a legislação aplicável será a
brasileira.

As partes não podem escolher qual é a lei aplicável, pois a autonomia da vontade
não está prevista no Dec Lei 4657/42.

d) EFETIVAÇÃO
Caso o brasileiro perca a demanda, e não cumpra voluntariamente a
determinação do juiz, o francês poderá executar a ordem judicial aqui no Brasil
de acordo com as normas processuais sobre cumprimento de sentença,
previstas pelo NCPC.

Caso o francês perca a demanda, e não cumpra voluntariamente a determinação


do juiz, e só tenha bens na França, o brasileiro deverá levar a decisão proferida
aqui no Brasil para a França, pedindo ao Estado Francês que lhe reconheça
efeitos.
2. O referido contrato de fornecimento dispõe acerca do foro competente.

Questão polêmica, que divide a doutrina e a jurisprudência. Enquanto alguns


autores e juízes entendem que o ordenamento jurídico brasileiro permite a
eleição de foro, mas não de jurisdição, outros entendem que a cláusula de
eleição de foro também se estende à jurisdição.
Poderia a vontade das partes derrogar as normas brasileiras sobre competência
internacional (jurisdição)?

3ª situação: venda de chicletes para fora do Brasil (exportação), contrato


assinado em Paris.

Um comerciante francês, domiciliado em Paris, França, compra chicletes da


indústria gaúcha, de Porto Alegre. Acordaram que a indústria forneceria 10
caixas de chicletes por mês. A formalização do negócio ocorreu através de um
contrato de fornecimento, assinado em Paris, pelo representante legal da
indústria gaúcha com o comerciante francês.

Problema 1: durante os meses de agosto e setembro, a indústria gaúcha enviou


os chicletes, conforme acordado, mas o comerciante francês não pagou.

Problema 2: durante os meses de agosto e setembro, o comerciante francês


pagou os chicletes conforme acordado, mas a indústria gaúcha não os enviou.

a) JURISDIÇÃO
Problema 1 (o brasileiro aciona o francês): encaixa-se no inciso II do art. 21,
NCPC, razão pela qual, conclui-se que o Brasil tem jurisdição.
Problema 2 (o francês aciona o brasileiro): encaixa-se no inciso I do NCPC. A
obrigação é a entrega das balas, e ocorrerá na França. Dessa forma não se
aplica o inciso II.

b) COMPETÊNCIA
Problema 1: como o réu da ação de cobrança será o comerciante francês, o foro
competente será uma das varas cíveis da comarca de Porto Alegre (domicilio do
autor, exceção à regra geral).

Problema 2: como o réu da ação de indenização (ou cominatória) será a indústria


porto alegrense, o foro competente será uma das varas cíveis da comarca de
Porto Alegre (domicílio do réu, regra geral).

c) LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
O juiz brasileiro será competente para apreciar e julgar as ações. Como se trata
de um fato anormal, há dúvidas sobre qual legislação aplicar: se a brasileira ou
se a francesa.

“Art. 9º, LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á


a lei do país em que se constituírem.”

Como o contrato foi assinado em Paris, a obrigação foi constituída na França


(lex loci celebrationis). Dessa forma, a legislação aplicável será a francesa.

As partes não podem escolher qual é a lei aplicável, pois a autonomia da


vontade não está prevista no Dec. Lei 4657/42.

d) EFETIVAÇÃO
Idem ao tópico 1 supra.

Elaboração de contratos internacionais:


• Qualificação das partes • Garantias
• Objeto • Confidencialidade
• Preço • Vigência
• Pagamento • Penalidades
• Impostos e remessa • Rescisão
• Seguro • Notificações
• Transporte • Arbitragem
• Entrega (compromisso)
• Vistoria • Lei aplicável
• Licenças e • Eleição de foro
autorizações • Procuração (inclusive para
• Indenizações citação)
(responsabilidade) • Local e data de assinatura
• Propriedade intelectual • Testemunhas
• Obrigações específicas • Registros

AULA – 28
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Das pessoas jurídicas estrangeiras

1. Da nacionalidade das pessoas jurídicas

O direito internacional privado indica qual o direito a regulamentar a constituição,


o funcionamento e a dissolução de sociedade e fundação.

“Art. 11, LINDB. As organizações destinadas a fins de interesse


coletivo, como as sociedades e as fundações, obedecem à lei do
Estado em que se constituírem.”
Verifica-se, assim, que o DIPr Brasileiro desprezou o critério da nacionalidade
dos sócios, do domicílio dos sócios ou dos fundadores, do país da subscrição do
capital social, da sede empresarial, da autonomia da vontade, dentre outros.

No direito brasileiro, uma sociedade se considera nacional se atende a dois


requisitos: sede no Brasil e organização de acordo com a nossa legislação. Não
é relevante, assim, a nacionalidade dos sócios, nem a origem do capital investido
na sua constituição.

“Art. 1.126, CC. É nacional a sociedade organizada de


conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de
sua administração.”

2. Da autorização do Governo Brasileiro

“Art. 11, LINDB. (...)


§1º Não poderão, entretanto, ter no Brasil filiais, agências ou
estabelecimentos antes de serem os atos constitutivos aprovados
pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.”

“Art. 1.134, CC. A sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu


objeto, não pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar
no País, ainda que por estabelecimentos subordinados, podendo,
todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de
sociedade anônima brasileira.”

Existem duas alternativas para a exploração de atividade empresarial no Brasil.


A primeira é a constituição de sociedade empresária brasileira, da qual eles se
tornam sócios ou acionistas; a segunda, o pedido de autorização para
funcionamento, hipótese em que não se constitui nenhuma pessoa jurídica nova,
apenas se confere licença para a extensão ao Brasil das operações negociais
exploradas pelo estrangeiro. (Fábio Ulhoa Coelho, pág. 30)
3. Das subsidiárias e das filiais

“Diferentemente da subsidiária, que é uma empresa brasileira, com sede e


administração no Brasil, a filial é a própria empresa estrangeira, ou melhor, uma
extensão ou parcela desta, autorizada a operar no País na forma das leis
brasileiras.”

“O termo subsidiária costuma ser vinculado à idéia de poder de controle. Assim,


considera-se subsidiária de uma empresa, aquela de cuja parcela do capital
social com direito a voto participe esta última com 50% mais uma das ações (ou
quotas, no caso de sociedades por quotas de responsabilidade limitada), (...).”

“Não se confundem os conceitos de subsidiária e filial, visto constituir esta última


uma parte integrante da própria empresa matriz, autorizada a funcionar no País
e subordinada às leis brasileiras, enquanto a subsidiária, qualquer que seja o
percentual de participação estrangeira em seu capital, é uma empresa brasileira,
com sede e administração no Brasil.”

Exemplo: Telecom Italia SpA (empresa constituída na Itália) > TIM Brasil
Serviços e Participações S/A (empresa constituída no Brasil) > TIM Participações
S/A (empresa constituída no Brasil).

Vantagens da criação de subsidiária em vez de filial:

1. Em primeiro lugar, preserva-se a separação entre a pessoa jurídica e


os membros que a compõem, respeitando o princípio da autonomia
patrimonial. Os sócios somente respondem pelas obrigações da
sociedade empresária no limite do capital que subscreverem. Limitação
da possibilidade de perdas nos investimentos mais arriscados.

2. Em segundo lugar, dispensa-se a autorização do Governo Federal


Brasileiro para funcionamento da filial, exigida pelo art. 11, caput, da
LINDB, e o art. 1134 do CC.
4. Do exercício de direitos reais de pessoas de direito público estrangeiras

sobre bens brasileiros

As pessoas jurídicas de direito público externo são, por lei, absolutamente


incapazes para adquirir a posse ou a propriedade de imóvel situado no Brasil ou
de bens suscetíveis de desapropriação. (Maria Helena Diniz)

“Art. 11, LINDB. (...)


§2º Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de
qualquer natureza, que eles tenham constituído, dirijam ou hajam
investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil bens
imóveis ou suscetíveis de desapropriação.”

“Art. 11, LINDB. (...)


§3º Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos
prédios necessários à sede dos representantes diplomáticos ou
dos agentes consulares.”

A exceção prevista pelo art. 11, §3º, LINDB encontra sua justificação na comitas
gentium. Tal cortesia há de ser entendida sob o prisma proposto por Joseph
Story (doutrina moderna americana), e não por Ulrich Huber (escola estatutária
holandesa). Trata-se de cortesia internacional entre dois Estados soberanos,
motivada por interesses públicos e recíprocos, e não de uma cortesia de um
magistrado para com um jurisdicionado.

5. Propriedade intelectual

Assunto de extrema relevância para o comércio internacional. Paralelamente ao


comércio de bens, regulados nos acordos que estabelecem as regras sobre o
comércio de bens, há na OMC o acordo sobre o comércio de serviços e o relativo
aos Direitos de Propriedade Intelectual.
Este último assinala uma transformação de largo espectro na estrutura da
sociedade moderna, porque somente a partir da década de 60 a proteção
dos direitos intelectuais passou a ser diretamente associada ao comércio
(até fins do século XVIII, o conhecimento era visto como algo que deveria
ser apropriado coletivamente).

No final do século XX, rompendo há muito com os ideais iluministas, o


conhecimento tende a adquirir um aspecto provado: há uma relação
intrínseca entre crescimento econômico e desenvolvimento científico e
tecnológico.

O próprio fosso estabelecido entre os países desenvolvidos e em


desenvolvimento ocorre, principalmente, graças ao domínio da ciência e
tecnologia.

Dimensão internacional dos direitos de propriedade intelectual: marcos

Final do séc. XIX: ganham dimensão internacional. Convenção de Paris (1883),


Berna (Produção artística e literária, 1886) => reunidos em 1892. Substituídos
pelas OI depois da 2ª Guerra. (ex: ONUDI).

Assunto: Revisão sobre conflitos de leis no espaço

01. Quais são as perguntas nucleares do DIPr?


Em se tratando de um processo com algum fator estrangeiro, as perguntas
nucleares são:
a) em que local acionar (jurisdição e competência interna);
b) qual a lei aplicar (objeto fundamental do DIPr);
c) como executar a decisão judicial estrangeira no Brasil?

02. O que é conflito espacial de leis?


Conflito de leis no espaço é a dúvida sobre qual legislação será aplicável para
reger um fato anormal, ou seja, cujos elementos remetam a dois ou mais
ordenamentos jurídicos distintos.
Portanto, para haver o conflito espacial de leis, é necessário haver dois
pressupostos, um jurídico, outro fático. O pressuposto jurídico consiste na
possibilidade de aplicação de direito estrangeiro por um juiz brasileiro. O
pressuposto fático consiste na presença de, ao menos um elemento de
estraneidade, que conecte aquele fato com dois ou mais ordenamentos jurídicos
distintos.

03. Qual é o critério adotado pelo legislador brasileiro para definir a legislação
aplicável às ações que versem sobre bens?
Se a ação versar sobre direitos reais, tomando em consideração os bens a título
singular, aplicar-se-á a legislação do lugar em que estiverem situados. (lex rei
sitae – art. 8º, caput, LINDB)
Se a ação versar sobre regime de bens no casamento, aplicar-se-á a legislação
do país em que tiverem os nubentes o domicílio, e, se este for diverso, à do
primeiro domicílio conjugal. (lex loci domicilii – art. 7º, 4§º, LINDB)
Se a ação versar sobre partilha de bens em sucessão internacional por morte ou
por ausência, aplicar-se-á a legislação do lugar do último domicílio do de cujus,
salvo se a legislação nacional do defunto seja mais favorável ao cônjuge e/ou
filhos brasileiros. (lex loci domicilii – art. 10, caput e §1º, LINDB)

04. O Brasil respeita a autonomia da vontade das partes na escolha da legislação


aplicável às obrigações contratuais internacionais?
Segundo o art. 9º da LINDB, para qualificar e reger as obrigações aplicar-se-á a
lei do país em que se constituírem. Dessa forma, as obrigações contratuais
internacionais, a priori, são reguladas pela lei do lugar em que os contratos foram
celebrados.
No entanto, se as partes elegerem um foro estrangeiro, e conseguirem uma
decisão proferida por juiz estrangeiro, ainda que segundo a lei escolhida pelas
partes, tal decisão pode gerar efeitos aqui no Brasil, desde que seja homologada
pelo Superior Tribunal de Justiça.
Mas, se a despeito da eleição de foro estrangeiro, alguma das partes ajuizar
ação aqui no Brasil, as normas de jurisdição brasileiras (arts. 21 e 23 do NCPC)
não podem ser derrogadas pela vontade das partes.

05. Um argentino, domiciliado nos EUA, morreu deixando bens e herdeiros, tanto
na Argentina, quanto nos EUA, quanto no Brasil. Os bens são uma casa de praia,
situada na cidade do Rio de Janeiro, um apartamento em Buenos Aires, e um
apartamento em Miami. Todos os herdeiros moram na Argentina. Pergunta-se:
a) onde tramitará o processo de inventário? b) qual a legislação aplicável?

Em primeiro lugar, há que se verificar se o Brasil tem jurisdição. Segundo o art.


23, II, NCPC, compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de
qualquer outra, proceder o inventário e a partilha da casa de praia situada no Rio
de Janeiro.
Em segundo lugar, há que se verificar qual é o juízo brasileiro competente. O
foro competente será a comarca do Rio de Janeiro, por força do art. 48, parágrafo
único, I, NCPC.
Em terceiro lugar, há que se verificar qual será a lei material aplicável. Por força
do art. 10, caput da LINDB, a legislação aplicável será a lei dos EUA, pois lá era
o último domicílio do autor da herança. No entanto, se houvesse cônjuge e/ou
filhos brasileiros, e se a lei argentina fosse mais favorável a eles, o juiz brasileiro
a aplicaria, por força do art. 10, §1º da LINDB e do art. 5º, XXXI da CF.

06. Para uma pessoa jurídica estrangeira fazer negócios no Brasil é preciso
autorização específica do Governo Brasileiro?
Segundo o art. 11, LINDB e o art. 1.126, CC, é nacional a sociedade organizada
de conformidade com a lei brasileira e que tenha no País a sede de sua
administração. Dessa forma, se a empresa não foi constituída segundo a lei
brasileira, nem tenha a sede de sua administração aqui no Brasil ela será
considerada estrangeira.
Dependendo do negócio a ser feito pela empresa estrangeira aqui no Brasil, ela
precisa de autorização do Governo Brasileiro.
Caso este negócio não exija que a empresa estrangeira esteja situada aqui no
Brasil, como por exemplo, importação/exportação e representação comercial,
não é necessária autorização do Governo Brasileiro.
Caso este negócio exija que a empresa estrangeira esteja situada aqui no Brasil,
com a exploração de atividade econômica direta aqui, com abertura de filiais, a
autorização do Governo Brasileiro faz-se necessária.
No entanto, nada impede que a exploração da atividade econômica seja feita
através da criação de uma empresa subsidiária brasileira, cujo quotista /
acionista controlador seria a empresa estrangeira.

07. Qual é a diferença entre uma subsidiária e uma filial?


Diferentemente da subsidiária, que é uma empresa brasileira, com sede e
administração no Brasil, a filial é a própria empresa estrangeira, ou melhor, uma
extensão ou parcela desta, autorizada a operar no País na forma das leis
brasileiras.

AULA – 12
IBMEC / BELO HORIZONTE

Assunto: Homologação de sentença estrangeira

1. Introdução
Por aplicação do princípio da territorialidade, “a decisão judicial tem eficácia
limitada à jurisdição onde foi proferida. Para o forum, as sentenças estrangeiras
não passam de fatos relevantes; sem dúvida, são atos oficiais de jurisdições
autônomas, mas destituídos de obrigatoriedade”. (Amílcar de Castro, 472)

Atualmente, nenhum país admite execução direta de sentenças estrangeiras,


isto é, sem intermédio de nova ação, ou de autorização. (Amílcar de Castro, 474)

Para que uma sentença estrangeira produza efeitos no Brasil, não é necessário
o ajuizamento de novo processo de conhecimento, basta que ela seja
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça.
2. Do juízo de delibação

A homologação de sentença estrangeira no Brasil é feita pelo Superior Tribunal


de Justiça por meio do chamado juízo de delibação. O tribunal, nessa instância
de exequatur não entra na apreciação do mérito do julgado.

Exequatur: autorização necessária à execução.

Delibação: colher um pouco de alguma coisa; tocar de leve, saborear, provar, no


sentido de experimentar, examinar, verificar. O que pretende significar em direito
processual é que o tribunal, tomando conhecimento da sentença estrangeira,
para mandar executá-la, “toca de leve” apenas em seus requisitos externos,
examinando sua legitimidade, sem entrar no fundo, ou mérito, do julgado.

Através do juízo de delibação, examina-se se a sentença estrangeira foi proferida


por autoridade judiciária competente (1), se não contém disposição contrária à
ordem pública (2) e se o vencido foi legalmente citado (3).

3. Da competência para homologar a sentença estrangeira

Compete ao Superior Tribunal de Justiça a homologação de sentenças


estrangeiras, nos termos da alínea “i” do artigo 105 da Constituição da República
Federativa do Brasil.

“Art. 961, NCPC. A decisão estrangeira somente terá eficácia no


Brasil após a homologação de sentença estrangeira ou a
concessão do exequatur às cartas rogatórias, salvo disposição em
sentido contrário de lei ou tratado.

§ 1o É passível de homologação a decisão judicial definitiva, bem


como a decisão não judicial que, pela lei brasileira, teria natureza
jurisdicional.
§ 2o A decisão estrangeira poderá ser homologada parcialmente.

§ 3o A autoridade judiciária brasileira poderá deferir pedidos de


urgência e realizar atos de execução provisória no processo de
homologação de decisão estrangeira.

§ 4o Haverá homologação de decisão estrangeira para fins de


execução fiscal quando prevista em tratado ou em promessa de
reciprocidade apresentada à autoridade brasileira.

§ 5o A sentença estrangeira de divórcio consensual produz efeitos


no Brasil, independentemente de homologação pelo Superior
Tribunal de Justiça.

§ 6o Na hipótese do § 5o, competirá a qualquer juiz examinar a


validade da decisão, em caráter principal ou incidental, quando
essa questão for suscitada em processo de sua competência.

“Art. 965, NCPC. O cumprimento de decisão estrangeira far-se-á


perante o juízo federal competente, a requerimento da parte,
conforme as normas estabelecidas para o cumprimento de decisão
nacional.

Parágrafo único. O pedido de execução deverá ser instruído com


cópia autenticada da decisão homologatória ou do exequatur,
conforme o caso”.

“Art. 105, CF. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:


I – processar e julgar, originariamente: (...)
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de
exequatur às cartas rogatórias.”
Resolução STJ 9, de 4 de maio de 2005. Dispõe, em caráter transitório, sobre
competência acrescida ao Superior Tribunal de Justiça pela Emenda
Constitucional nº 45/2004.

A transitoriedade permanecerá até que sejam criadas normas regimentais


próprias com o mesmo objeto dessa Resolução.

Em 17/12/2014 foi promulgada a Emenda Regimental nº


18 do STJ, que transferiu para o Regimento Interno
daquele Tribunal os dispositivos relativos à
Homologação de Decisões Estrangeiras.

Caberá ao Presidente do STJ homologar sentenças estrangeiras, salvo se elas


forem contestadas, que acarretará sua distribuição para julgamento pela Corte
Especial do STJ.

“Art. 2º, Resolução. É atribuição do Presidente homologar


sentenças estrangeiras e conceder exequatur a cartas rogatórias,
ressalvado o disposto no artigo 9º desta Resolução.”

“Art. 9º, Resolução. (...)


§1º Havendo contestação à homologação de sentença estrangeira,
o processo será distribuído para julgamento pela Corte Especial,
cabendo ao Relator os demais atos relativos ao andamento e à
instrução do processo.

4. Dos requisitos para homologação de sentença estrangeira

“Art. 15, LINDB. Será executada no Brasil a sentença proferida no


estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a
revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Não dependem de homologação as sentenças
meramente declaratórias do estado das pessoas.”

5. Trânsito em julgado

Enunciado 420 da súmula do STF: Não se homologa sentença proferida no


estrangeiro sem prova do trânsito em julgado. (art. 15, “c”, LINDB).

Para que a sentença estrangeira seja homologada é preciso que a respectiva


carta esteja revestida das formalidades externas necessárias, segundo a
legislação do país de origem. A sentença deve estar autenticada pelo cônsul
brasileiro.

Pela instância preliminar da delibação, só se deve atribuir força executiva ao


título formal que válido e operante seja na jurisdição de origem.

Se o processo ainda não tiver transitado em julgado, ainda assim a decisão


judicial estrangeira poderá gerar efeitos no Brasil. Não através da homologação
de sentença estrangeira, mas através da concessão de exequatur à carta
rogatória passiva.

6. Competência do juiz estrangeiro (art. 15, “a”, LINDB)

No juízo de delibação, só se examina a competência geral do juiz estrangeiro


(jurisdição), sem se preocupar com a competência interna. (Amílcar de Castro,
486)
Há também que se verificar se o caso julgado não era de jurisdição exclusiva do
Poder Judiciário brasileiro (art. 23, NCPC).

7. Imprescindibilidade da citação

Informa o processo moderno o chamado princípio do contraditório, que não


consente ignore uma das partes o que a outra faz em juízo. Como ninguém pode
contestar um pedido que desconhece, a citação é instituto complementar deste
princípio.

Exemplos:

a) Sentença estrangeira 6729/Espanha, STF, 15.04.2002. Citação por edital


publicado somente na Espanha que não produz efeitos no Brasil. Homologação
indeferida.

b) Sentença estrangeira 4125, STF, 12.09.1990. Inadmissibilidade de proceder-


se à citação da ré – residente no Brasil – por meio outro que não a carta rogatória.
Indeferimento do pedido de homologação de sentença estrangeira.

8. Violação da sentença estrangeira à soberania nacional ou à ordem pública

“Art. 6º, Resolução STJ 9, 2005. Não será homologada sentença


estrangeira ou concedido exequatur a carta rogatória que ofendam
a soberania ou a ordem pública.”

“Art. 17, LINDB. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil,
quando ofenderem soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.”
Não serão cumpridas no Brasil cartas rogatórias estrangeiras referentes a
processo de competência exclusiva dos tribunais brasileiros (constitui uma
violação de ordem pública). Mas a jurisprudência é pacífica no sentido de que,
em se tratando de lide cuja competência da autoridade judiciária brasileira é
meramente relativa ou concorrente, a possibilidade do interessado em não
aceitar a jurisdição estrangeira não impede a concessão do exequatur para a
sua citação, notificação ou intimação. (Bregalda, 225)

Exemplos:
a) Sentença estrangeira contestada 4415/Estados Unidos, STF, 11.12.1996.
Questionamento sobre ausência de fundamentação de sentença estrangeira
proferida em sistema que adota o júri civil. No Brasil, somente se admite o júri
para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXVIII, “d”, CF). O
STF entendeu que tal sentença não ofendeu a soberania brasileira, nem a ordem
pública.

b) Sentença estrangeira 4012/Alemanha, STF, 18.12.1992. Decisão da justiça


alemã que fixou pensão alimentícia a filhos menores. Existência de decisão
anterior da Justiça brasileira proferida, nos autos da separação consensual do
casal, no mesmo sentido. Homologação indeferida.

Não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias de


estado das pessoas.

9. Da execução de sentença estrangeira

Uma vez homologada a sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça,


esta deverá ser cumprida pelo Juízo Federal competente.

“Art. 13, Resolução. A carta rogatória, depois de concedido o


exequatur, será remetida para cumprimento pelo Juízo Federal
competente.”
“Art. 109, CF. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...)
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro,
a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à
nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;”

AULA – 13
IBMEC/ BELO HORIZONTE

Assunto: Homologação de sentença estrangeira (cont.)

4. Dos requisitos para homologação de sentença estrangeira

“Art. 15, LINDB. Será executada no Brasil a sentença proferida no


estrangeiro, que reúna os seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a
revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades
necessárias para a execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Parágrafo único. Não dependem de homologação as sentenças
meramente declaratórias do estado das pessoas.”

“Art. 5º, Resolução STJ 9/2005. Constituem requisitos


indispensáveis à homologação de sentença estrangeira:
I – haver sido proferida por autoridade competente;
II – terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado
a revelia;
III – ter transitado em julgado; e
IV – estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de
tradução por tradutor oficial ou juramentado no Brasil.”
5. Competência do juiz estrangeiro (art. 15, “a”, LINDB; art. 5º, I, Resolução)

No juízo de delibação, só se examina a competência geral do juiz estrangeiro


(jurisdição), sem se preocupar com a competência interna. (Amílcar de Castro,
486)

Há também que se verificar se o caso julgado não era de jurisdição exclusiva do


Poder Judiciário brasileiro (art. 23, NCPC).

6. Imprescindibilidade da citação (art. 15, “b”, LINDB; art. 5º, II, Resolução 9)

Informa o processo moderno o chamado princípio do contraditório, que não


consente ignore uma das partes o que a outra faz em juízo. Como ninguém pode
contestar um pedido que desconhece, a citação é instituto complementar deste
princípio.

“Art. 5º, CF. (...)


LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”

“Art. 238, NCPC. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu,
o executado ou o interessado para integrar a relação processual”.

Exemplos:

a) Sentença estrangeira 6729/Espanha, STF, 15.04.2002. Citação por edital


publicado somente na Espanha que não produz efeitos no Brasil. Homologação
indeferida.
b) Sentença estrangeira 4125, STF, 12.09.1990. Inadmissibilidade de proceder-
se à citação da ré – residente no Brasil – por meio outro que não a carta rogatória.
Indeferimento do pedido de homologação de sentença estrangeira.

7. Trânsito em julgado (art. 15, “c”, LINDB; art. 5º, III, Resolução)

Enunciado 420 da súmula do STF: Não se homologa sentença proferida no


estrangeiro sem prova do trânsito em julgado. (art. 15, “c”, LINDB).

Para que a sentença estrangeira seja homologada é preciso que a respectiva


carta esteja revestida das formalidades externas necessárias, segundo a
legislação do país de origem. A sentença deve estar autenticada pelo cônsul
brasileiro.

Pela instância preliminar da delibação, só se deve atribuir força executiva ao


título formal que válido e operante seja na jurisdição de origem.

Se o processo ainda não tiver transitado em julgado, ainda assim a decisão


judicial estrangeira poderá gerar efeitos no Brasil. Não através da homologação
de sentença estrangeira, mas através da concessão de exequatur à carta
rogatória passiva.

8. Violação da sentença estrangeira à soberania nacional ou à ordem pública

“Art. 6º, Resolução STJ 9, 2005. Não será homologada sentença


estrangeira ou concedido exequatur a carta rogatória que ofendam
a soberania ou a ordem pública.”

“Art. 17, LINDB. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como
quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no Brasil,
quando ofenderem soberania nacional, a ordem pública e os bons
costumes.”
Não serão cumpridas no Brasil cartas rogatórias estrangeiras referentes a
processo de competência exclusiva dos tribunais brasileiros (constitui uma
violação de ordem pública). Mas a jurisprudência é pacífica no sentido de que,
em se tratando de lide cuja competência da autoridade judiciária brasileira é
meramente relativa ou concorrente, a possibilidade do interessado em não
aceitar a jurisdição estrangeira não impede a concessão do exequatur para a
sua citação, notificação ou intimação. (Bregalda, 225)

Exemplos:
a) Sentença estrangeira contestada 4415/Estados Unidos, STF, 11.12.1996.
Questionamento sobre ausência de fundamentação de sentença estrangeira
proferida em sistema que adota o júri civil. No Brasil, somente se admite o júri
para julgamento dos crimes dolosos contra a vida (art. 5º, XXXVIII, “d”, CF). O
STF entendeu que tal sentença não ofendeu a soberania brasileira, nem a ordem
pública.

b) Sentença estrangeira 4012/Alemanha, STF, 18.12.1992. Decisão da justiça


alemã que fixou pensão alimentícia a filhos menores. Existência de decisão
anterior da Justiça brasileira proferida, nos autos da separação consensual do
casal, no mesmo sentido. Homologação indeferida.

9. Não dependem de homologação as sentenças meramente declaratórias de


estado das pessoas.

Tais sentenças são apresentadas no Brasil como documentos, e não como


títulos exequendos, e podem ser tidas como válidas sem processo de delibação,
desde que não ofendam a ordem pública, a soberania nacional e os bons
costumes. Terão, portanto, mera eficácia documental. (Maria Helena Diniz, pág.
399)

Se, entretanto, a sentença sobre o estado da pessoa envolve relações


patrimoniais, a homologação é necessária, porque será o título executivo. (Maria
Helena Diniz, pág. 400)
Exemplos: a) sentença de interdição para comprovar a representação do
interdito por um curador; b) reconhecimento de paternidade que se limite apenas
a essa declaração; c) divórcio realizado no exterior sem repercussão patrimonial.

10. Da execução de sentença estrangeira

Uma vez homologada a sentença estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça,


esta deverá ser cumprida pelo Juízo Federal competente.

“Art. 13, Resolução. A carta rogatória, depois de concedido o


exequatur, será remetida para cumprimento pelo Juízo Federal
competente.”

“Art. 109, CF. Aos juízes federais compete processar e julgar: (...)
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro,
a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à
nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;”

11. Dos títulos executivos extrajudiciais

“Art. 515, NCPC. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de
acordo com os artigos previstos neste Título:

(...)

VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;

IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta


rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;
AULA – 14
IBMEC / BELO HORIZONTE

Paraísos fiscais

Paraísos fiscais: Países de fiscalidade privilegiada (tax heavens, steuer oasen)


onde os impostos são muito baixos ou inexistentes, além de imporem sigilo em
relação à composição societária das empresas ali instaladas. Exemplos de
paraísos fiscais na América: Uruguai, Panamá, Ilhas Cayman, Ilhas Virgens
Britânicas, Delaware (EUA).
Instrução Normativa da Secretaria da Receita Federal 1474, de 18 de junho de
2014

Esses territórios de regime fiscal privilegiado têm como característica comum a


não incidência de imposto de renda sobre pessoas jurídicas cujo capital seja
detido por não residentes e exerçam exclusivamente a sua atividade fora do
território em questão, também não incidindo, via de regra, imposto de renda na
fonte sobre os dividendos distribuídos aos seus sócios (off-shore, exempt
companies- Aruba)

As sociedades básicas pressupõem os seguintes requisitos: sociedades


estrangeiras (instaladas em país diverso do da sociedade mãe; o país do
domicílio é um país de tributação superior; são controladas por pessoas físicas
ou jurídicas domiciliadas em outro país e exercem a sua atividade operacional
em um terceiro país.

Para o “sucesso” de um paraíso fiscal, espera-se:


• Nenhum tributo ou baixíssimos tributos
• Liberdade cambial (para entrar ou sair do país com qualquer moeda)
• Confidencialidade (ex: ilhas Cayman e sanções aplicáveis a contadores
que revelem o sigilo das contas de seus clientes)
• Estabilidade política
• Estruturas locais aptas a oferecer serviços básicos e eficientes
• Agilidade legislativa (capacidade de reagir adequadamente aos
movimentos de repressão aos paraísos fiscais)

Tipos de paraíso:

1) Paraíso fiscal puro: sem tributação sobre renda, há somente a cobrança de


taxas no momento da constituição das empresas, bem como taxas anuais.
Vantagens para o país: esse fenômeno ocorre especialmente em países que não
têm fonte de riqueza, havendo geração de empregos, criação de estrutura de
prestação de serviços e circulação de dinheiro nos bancos do país. Ex: Cayman.

2) Paraíso com base territorial específica: a tributação de rendimentos depende


da sua origem territorial; não se tributam rendas obtidas em operações off-shore.
As operações internas são tributadas normalmente, mas as receitas que vêm de
fora do país estão isentas de tributo. Ex: Uruguai e Hong Kong.

3) Baixa tributação e atividade específica: somente empresas específicas têm


baixa tributação. Ex: Holanda (áudio visual, livros, etc) e Irlanda (software).

4) Pavilhão de conveniência: Estados oferecem a bandeira a navios e aeronaves


para que não paguem tributos ou frete, oferecendo também regras flexíveis
quanto à composição da tripulação. Ex: Libéria e Panamá.

Uma sociedade típica estabelecida nesse tipo de paraíso fiscal é a “sociedade


conduta”: o exportador cria uma segunda empresa em um paraíso fiscal para
reexportar seu produto por preço superior, só havendo a movimentação dos
papéis, indo a mercadoria direto ao verdadeiro comprador.
Exemplos de objetivos lícitos: Planejamento tributário; fluxo de pagamentos e
recebimentos em moeda estrangeira.

Exemplos de objetivos ilícitos: fraude; lavagem de dinheiro.

O brasileiro adquire o controle de uma empresa sediada em outro país, de


preferência em um paraíso fiscal. > O direito deste paraíso fiscal permite que o
capital social seja todo representado por ações ao portador. > O brasileiro
transfere para o domínio da pessoa jurídica estrangeira os seus bens. > Os bens
que vier a adquirir já serão também registrados em nome da pessoa jurídica
estrangeira. > Em seu próprio nome não se encontra qualquer bem de expressão
econômica.

Você também pode gostar