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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Professor Juliano Napoleão


OBJETO, FONTES E CARACTERÍSTICAS
DO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1 Conhecendo o Direito Internacional Privado

Direito Internacional Público


• Regulação da sociedade internacional;
• Disciplina direta das relações internacionais ou das
relações internas de interesse internacional;
• Normas de aplicação direta;
• Normas estabelecidas na ordem internacional;
1 Conhecendo o Direito Internacional Privado

Direito Internacional Privado


• Regulação de conflito de leis no espaço;
• Indicação da norma nacional aplicável a um conflito de
leis no espaço;
• Normas meramente indicativas do Direito aplicável;
• Normas estabelecidas em normas internas e
internacionais.
1 Conhecendo o Direito Internacional Privado

Direito Internacional Privado


• Incremento das relações de caráter privado,
envolvendo pessoas físicas e jurídicas, que
perpassam as fronteiras nacionais: conexão
internacional.
• Transações comerciais internacionais;
• Investimentos no exterior;
• Casamentos entre pessoas de nacionalidades distintas,
ou que vivem em países diversos
2 Conceito

Direito Internacional Privado


É o ramo do Direito que visa a regular os conflitos de lei
no espaço em relações de caráter privado que tenham
conexão internacional, determinando qual a norma
jurídica nacional que se aplica a esses vínculos, que
poderá tanto ser um preceito nacional como estrangeiro.
Paulo Henrique Gonçalves Portela
3 O Direito Internacional Privado é ramo do
Direito Internacional Público?

• Não, é ramo do Direito interno, ainda que parte


de suas normas sejam previstas na ordem
internacional.
4 Qual a necessidade de normas de Direito
Internacional Privado?

• Sociedade transnacional;
• Diversidade legislativa;
• Interação entre pessoas físicas e jurídicas
provenientes de ordens jurídicas distintas.
5 Características do Direito Internacional Privado

• Ramo do Direito interno;


• Possui normas de sobredireito;
• Configura exceção ao princípio da territoriedade;
• Princípio geral de aplicação: norma nacional mais
estritamente ligada à relação jurídica com conexão;
• Elementos de conexão definidos pelo ordenamento
estatal;
• Fontes internas e internacionais.
6 Objeto do Direito Internacional Privado

• Disciplinar a solução de conflitos de leis no espaço,


indicando a norma, nacional ou estrangeira,
aplicável à uma situação concreta;
• Regular questões pessoais de interesse
internacional (nacionalidade e condição jurídica do
estrangeiro);
• Regulamentar a cooperação jurídica internacional
(cartas rogatórias e homologação de sentenças
estrangeiras);
• Tutelar o reconhecimento de direitos adquiridos no
exterior.
7 Fontes do Direito Internacional Privado

• LEIS
• TRATADOS
• COSTUMES
• JURISPRUDÊNCIA
• PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
• PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
INTERNACIONAL
• ATOS DE ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS
• DOUTRINA
• SOFT LAW
7 Fontes do Direito Internacional Privado

• Destaque:
• Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro:
Lei 12.376, de 30 de dezembro de 2010 (Arts. 7º a
19);
1 O Direito Internacional Privado

• Regulação de conflito de leis no espaço;


• Indicação da norma aplicável a um conflito de leis
no espaço;
• Normas de sobredireito, isto é, meramente
indicativas do Direito aplicável;
• Normas estabelecidas na ordem jurídica nacional
e, também, em tratados internacionais.
2 Incremento das relações jurídicas de caráter
privado com conexão internacional

• Com a globalização econômica, tornam-se


mais intensas e frequentes as relações
jurídicas de interesse privado entre pessoas
físicas e jurídicas provenientes de ordens
jurídicas nacionais distintas.
3 O desafio de internacionalização do
Direito Internacional Privado

• Desafio de unificação progressiva das


normas de direito internacional privado no
mundo;
• Busca de maior previsibilidade e segurança
jurídica na normatização das relações jurídicas
de interesse privado com conexão
internacional.
4 A Conferência de Haia de Direito
Internacional Privado

• Organização intergovernamental de caráter


global, criada em 1893, que promove a
celebração de tratados internacionais de Direito
Internacional Privado;
• O Brasil é membro oficial da Conferência da
Haia.
4 A Conferência de Haia de Direito
Internacional Privado

• Mescla de diversas tradições jurídicas, ela


desenvolve e oferece instrumentos jurídicos
multilaterais que correspondem às necessidades
mundiais;
•A Conferência estimula a cooperação
transfronteiriça em matéria civil e comercial.
4 A Conferência de Haia de Direito
Internacional Privado

• Possui 89 membros e administra um total de


41 convenções multilaterais;
• Estados não membros também aderem às
Convenções da Haia: mais de 120 países
participam hoje nos trabalhos da Conferência.
5 Ratificações e adesões aos tratados firmados
no âmbito da Conferência de Haia

Um gráfico simplificado de assinaturas,


ratificações e adesões às Convenções de Haia
está disponível no link abaixo:

https://assets.hcch.net/docs/ccf77ba4-af95-4e9c-
84a3-e94dc8a3c4ec.pdf
6 Convenções que receberam maior número de
ratificações
• Supressão da exigência • Adoção internacional;
de legalização; • Conflitos de leis
• Citação e notificação no relacionados à forma
estrangeiro; das disposições
• Obtenção de provas no testamentárias;
estrangeiro; • Obrigações
• Acesso à justiça; alimentares;
• Subtração internacional • Reconhecimento de
de menores; divórcios.
7 Atividades recentes da Conferência

Segundo divulgado pelo site da Conferência


(https://www.hcch.net/pt/about), destacam-se os seguintes
esforços de articulação internacional:
• Convenção sobre o reconhecimento e execução de decisões
judiciais estrangeiras em matéria civil ou comercial (2019);
• Negociações quanto a um novo instrumento internacional
sobre prestação de alimentos em favor de filhos menores e
outros membros da família estão atualmente em curso.
• Questões de Direito Internacional Privado suscitadas pela
sociedade de informação - como o comércio eletrônico -
também estão na ordem do dia.
1 Os conflitos de lei no espaço
pertinentes às relações privadas com
conexão internacional
Princípio da territorialidade
• Regra geral: o Estado aplica as normas de sua própria
ordem jurídica a todas as relações que se
desenvolvam dentro de seu território.

Conflitos de lei no espaço


• Situações em que mais de um ordenamento nacional
possa incidir sobre uma relação privada que
transcende as fronteiras de um ente estatal, ou seja,
que tenha conexão internacional. (PORTELA, 2015,
p. 653)
2 Estrutura normativa do Direito
Internacional Privado

OBJETO DE ELEMENTO
CONEXÃO DE CONEXÃO
3 Objetos e elementos de conexão

Objeto de conexão

• Matéria tratada pela norma.

Elemento de conexão

• Critério de determinação do direito aplicável ao objeto


de conexão.
3 Objetos e elementos de conexão

Art. 7º LINDB:

A lei do país em que domiciliada a pessoa determina


as regras sobre o começo e o fim da personalidade, o
nome, a capacidade e os direitos de família.

Objetos de conexão: o começo e o fim da


personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família.
Elementos de conexão: domicílio.
4. Tipos de elementos de conexão

Lex fori
• Aplica-se a norma do Estado onde se
desenvolve a relação jurídica.
• É regra referente à própria aplicação das
normas de Direito Internacional Privado.
4. Tipos de elementos de conexão

Domicílio
• Aplica-se a norma do domicílio de uma das partes;
Ex. Art. 12, LINDB. É competente a autoridade judiciária
brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou aqui
tiver de ser cumprida a obrigação.

Atenção! O domicílio é o principal elemento de


conexão adotado no Brasil;
4. Tipos de elementos de conexão

Nacionalidade
• Aplica-se a norma do Estado de nacionalidade de
uma das partes;
Ex. Art. 18, LINDB. Tratando-se de brasileiros, são
competentes as autoridades consulares brasileiras
para lhes celebrar o casamento e os mais atos de
Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro
de nascimento e de óbito dos filhos de brasileiro ou
brasileira nascido no país da sede do Consulado.
4. Tipos de elementos de conexão

Lex rei sitae


• Aplica-se a norma do lugar onde está situada a
coisa.
Ex. Art. 5º, XXXI, CRFB/1988. A sucessão de
bens de estrangeiros situados no País será
regulada pela lei brasileira em benefício do
cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que
não lhes seja mais favorável a lei pessoal do
"de cujus";
4. Tipos de elementos de conexão

Lex loci delicti comissi


• Aplica-se a norma do lugar onde o ilícito foi
cometido.
4. Tipos de elementos de conexão

Lex loci execucionis/Lex loci solutionis


• Aplica-se a norma do lugar em que se dá a
execução de um contrato ou obrigação.
Ex. Súmula 207 do TST: o contrato de trabalho
deve ser regido pelo local de prestação de
serviço e não pelo local de assinatura do
contrato.
4. Tipos de elementos de conexão

Tipos de elementos de Conexão

Lugar de constituição da obrigação/Locus regit


actum/Lex loci contractus
• Aplica-se a norma do lugar em que a obrigação foi
contraída.
Art. 585, § 2o, CPC. Não dependem de homologação pelo
Supremo Tribunal Federal, para serem executados, os
títulos executivos extrajudiciais, oriundos de país
estrangeiro. O título, para ter eficácia executiva, há de
satisfazer aos requisitos de formação exigidos pela lei do
lugar de sua celebração e indicar o Brasil como o lugar
de cumprimento da obrigação.
4. Tipos de elementos de conexão

Autonomia da vontade
• Aplica-se a norma escolhida pelas partes

Ex.

Art. 2º, Lei 9307/2006. A arbitragem poderá ser de direito


ou de eqüidade, a critério das partes.
§ 1º Poderão as partes escolher, livremente, as regras de
direito que serão aplicadas na arbitragem, desde que não
haja violação aos bons costumes e à ordem pública.
1 Lex fori como regra geral de
aplicação das normas de DIPRIV

Lex fori
• Aplica-se a norma do Estado onde se
desenvolve a relação jurídica.

• É regra referente à própria aplicação das


normas de Direito Internacional Privado.
2 A insuficiência do lex fori diante da
complexidade das relações privadas
com conexão internacional
• Como dito, regra geral, a norma de Direito Internacional a
ser aplicada é indicada pela lex fori.

• Tendo em vista o incremento da complexidade das


relações privadas com conexão internacional e o
correspondente desafio de normatização, muitas vezes o
instituto da lex fori não é suficiente.
3 Institutos básicos do Direito
Internacional Privado

• Além do lex fori, outros institutos podem determinar a


forma pela qual uma norma indicativa incidirá ou não
sobre um caso concreto de conflito de leis no espaço.

• Tais institutos são denominados pela doutrina de


Institutos básicos de Direito Internacional Privado.
4 Qualificação
• Delimitação do objeto de conexão;

• Também denominada qualificação prévia. Corresponde a ação


anterior à escolha da norma aplicável;

• Exige a conceituação e classificação de um instituto jurídico.


4 Qualificação
• Há divergência doutrinária quanto à adoção do lex fori ou do lex
causae pelo juiz no momento da qualificação;

• No Brasil prevalece a adoção do lex fori.

• Exceção: Adoção do lex causae pelos artigos 8º e 9º da LINDB:

Art. 8o Para qualificar os bens e regular as relações a eles


concernentes, aplicar-se-á a lei do país em que estiverem
situados.
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei
do país em que se constituírem.
5 Ordem pública

• Aspectos fundamentais de um ordenamento jurídico e da própria


estrutura do Estado e da sociedade;
• Guarda relação com as noções de soberania nacional e bons
costumes.
• Norma estrangeira contrária à ordem pública não é aplicável.

Art. 17, LINDB. As leis, atos e sentenças de outro país, bem


como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no
Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes.
6 Reenvio
• O ordenamento jurídico do Estado A indica a ordem jurídica do
Estado B como aplicável a um caso. A norma do Estado B
determina como incidente na situação a ordem jurídica do Estado
A, ou mesmo de um outro Estado C.

• Regra: O Brasil não admite o instituto do reenvio:

Art. 16, LINDB. Quando, nos termos dos artigos precedentes,


se houver de aplicar a lei estrangeira, ter-se-á em vista a
disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por
ela feita a outra lei.
7 Direito adquirido
• É o direito que integra o patrimônio jurídico de uma pessoa quando ela
preenche todos os requisitos para a sua aquisição. Uma vez obtido, não
pode ser perdido.

• Reconhecimento por um Estado de direito adquirido em outro, desde que


não ocorra contraposição à ordem pública.

• Exemplo: No Brasil, não seriam admitidos direitos adquiridos provenientes de


um casamento poligâmico.

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