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1ª Fase | 37° Exame da OAB

Direito Internacional

1ª FASE 37° EXAME

Direito
Internacional
Prof. Mateus Silveira

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade.

Lembre-se: o seu sonho também é o nosso.

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc. ♥

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Direito Internacional

1ª FASE OAB | 37° EXAME

Direito Internacional
Prof. Mateus Silveira

Sumário

1. Introdução ao Direito Internacional .......................................................................................... 4


2. LINDB ...................................................................................................................................... 6
3. Homologação de Decisão Estrangeira e da Convenção da Apostila de Haia .......................... 9
4. Direito Internacional Público .................................................................................................. 12
5. Direito dos Tratados ............................................................................................................... 14
6. Missões Diplomáticas ............................................................................................................ 15
7. Nacionalidade ........................................................................................................................ 18
8. Domínio Público Internacional ............................................................................................... 23
9. Direito Comunitário e Direito de Integração Regional (Mercosul e Outras Instituições) ......... 25
10. Sistema de Solução de Controvérsias da OMC ................................................................... 26
11. Direito Internacional do Trabalho ......................................................................................... 27
12. Lei de Migração (Lei no 13.445/2017) .................................................................................. 27

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em outubro de 2022.

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Direito Internacional

1. Introdução ao Direito Internacional

1.1. Diferença de Direito Internacional Público e Privado


A disciplina de Direito Internacional, na 1a fase do Exame de Ordem, em regra, aparece com duas
questões na prova, as quais abordam ou direito internacional privado ou direito internacional público.

*Para todos verem: esquema.

Direito Internacional Privado


Direito Internacional Público

Regula as relações jurídicas entre


É o conjunto de princípios e
pessoas, que tenham a presença
normas, positivas e costumeiras,
de um elemento estrangeiro, e o
representativas dos direitos e
conflito de leis no espaço,
deveres aplicáveis no âmbito da
definindo qual o direito ou a
sociedade internacional.
jurisdição aplicável.

1.2. Direito Internacional Privado


É o conjunto de princípios e regras sobre qual direito será aplicável numa relação com elemento
estrangeiro e conflito de leis no espaço, buscando a solução de relações jurídicas com características in-
ternacionais privadas, quando, numa relação jurídica, tivermos mais de uma legislação estrangeira envol-
vida e com possibilidade de mais de uma jurisdição.
Na verdade, esse direito é um sobredireito, pois indica o direito aplicável e não soluciona o litígio
(traz normas conflituais e indiretas).
O Direito Internacional Privado busca encontrar elementos de conexão, que são regras que apon-
tam o direito aplicável a uma ou várias situações jurídicas unidas a mais de um sistema legal.
São exemplos, entre outros, de elementos de conexão: nacionalidade, domicílio e residência habi-
tual da pessoa física, lex rei sitae (lei do local da situação da coisa), lex loci delicti commissi (lei do lugar
onde foi cometido o ato ilícito), lex fori (lugar do foro) e lex loci actus (lei do lugar da ação ou obriga-
ção).
Normas e artigos importantes para a prova de Direito Internacional Privado:

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*Para todos verem: esquema.

CPC - Limites da
Jurisdição Nacional LINDB Código Civil
e da Cooperação
Internacional (Arts. 7º a 10) (Arts. 76 a 78)
(Arts. 21 a 25)

1.2.1. Código de Processo Civil: dos limites da jurisdição nacional e da cooperação internacional

Situações em que encontramos uma competência concorrente, ou seja, a justiça brasileira tem
competência, mas outros judiciários de diferentes países que possam estar envolvidos na relação jurídica
também poderão ser competentes (arts. 21 e 22 do CPC):

Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações em que:
I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-se domiciliada no Brasil a
pessoa jurídica estrangeira que nele tiver agência, filial ou sucursal.
Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações:
I – de alimentos, quando:
a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;
b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou propriedade de bens, recebimento
de renda ou obtenção de benefícios econômicos;
II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residên-
cia no Brasil;
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem à jurisdição nacional.

1.2.1.1. Da competência exclusiva


Na competência exclusiva, só o judiciário brasileiro tem competência para analisar a relação jurídica
com a exclusão de outros judiciários de países estrangeiros, portanto, nos casos do art. 23 do CPC só vale
a manifestação do judiciário brasileiro.

Art. 23. Compete à autoridade judiciária brasileira, com exclusão de qualquer outra:
I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;
II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à confirmação de testamento particular
e ao inventário e à partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da herança seja
de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio fora do território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união estável, proceder à partilha de
bens situados no Brasil, ainda que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional.

Não existe litispendência envolvendo processos com as mesmas partes, mesmas causas e pedidos
que estejam tramitando em tribunais de diferentes países, por exemplo, um processo que esteja tramitando
no tribunal da Noruega e também em um tribunal do Brasil, conforme prevê o art. 24 do CPC:

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Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não induz litispendência e não obsta
a que a autoridade judiciária brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são cone-
xas, ressalvadas as disposições em contrário de tratados internacionais e acordos bilate-
rais em vigor no Brasil.
Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição brasileira não impede a ho-
mologação de sentença judicial estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil.

1.2.1.2. Da validade da cláusula de eleição de foro

Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o processamento e o julgamento


da ação quando houver cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato in-
ternacional, arguida pelo réu na contestação.
§ 1o Não se aplica o disposto no caput às hipóteses de competência internacional exclusiva
previstas neste Capítulo.
§ 2o Aplica-se à hipótese do caput o art. 63, §§ 1o a 4o.

Atenção!
Quanto ao Código Civil, há três artigos importantes para o direito internacional privado que estabe-
lecem regras de domicílio, que são os arts. 76, 77 e 78 do CC. Esses artigos devem ser lidos e estudados
para prova.
1.2.2. Da arbitragem e o Direito Internacional Privado
A arbitragem é válida para dirimir litígios patrimoniais disponíveis, e tratando-se de uma arbitragem
realizada no estrangeiro, ela só terá validade no Brasil se estiver de acordo com regras de tratados interna-
cionais assinados pelo Brasil, ou então for homologada pelo STJ no processo de homologação de decisão
estrangeira previsto pelo Código de Processo Civil.

Lei no 9.307/1996
Art. 34. A sentença arbitral estrangeira será reconhecida ou executada no Brasil de conformidade
com os tratados internacionais com eficácia no ordenamento interno e, na sua ausência, estritamente
de acordo com os termos desta Lei.
Parágrafo único. Considera-se sentença arbitral estrangeira a que tenha sido proferida fora do terri-
tório nacional.
Art. 35. Para ser reconhecida ou executada no Brasil, a sentença arbitral estrangeira está sujeita,
unicamente, à homologação do Superior Tribunal de Justiça.

2. LINDB

2.1. Da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Dec. n o 4.657/1942)


2.1.1. A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e a personalidade da pessoa natural

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*Para todos verem: esquema.

Começo e o fim da

Lei em que é domiciliada a


personalidade

pessoa regula (Art. 7º)


Nome

Capacidade civil

Direitos de família

2.1.2. A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro e as normas relativas ao casamento (art.
7o, §§ 1o a 7o)
De acordo com o art. 7o da LINDB, aplica-se a lei brasileira para os casamentos realizados no Brasil
quanto aos impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
O casamento de estrangeiros poderá ser celebrado perante autoridades diplomáticas ou consulares
do país de ambos os nubentes, mas atenção: esse dispositivo só se aplica quando os nubentes tiverem a
mesma nacionalidade.
Quanto à invalidade do matrimônio, a lei que regerá essa situação será a do domicílio dos nubentes.
Tendo eles domicílio diverso, valerá a lei do primeiro domicílio conjugal. Do mesmo modo, é regulado o
regime legal de bens, que será fixado o do domicílio dos nubentes, que, se antes do casamento for diverso,
valerá o primeiro domicílio conjugal.
2.1.3. Regras para determinação de domicílio de modo subsidiário na Lei de Introdução às Normas
de Direito Brasileiro
O domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e aos filhos não emancipados, salvo
em caso de abandono. O mesmo acontece quanto ao domicílio do tutor ou curador aos incapazes sob sua
guarda. E quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência ou
no local em que se encontre.

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*Para todos verem: esquema.

LINDB - Temas
Bens - Art. 8º

Obrigações - Art. 9º

Sucessões - Art 10

2.1.4. Regras para os direitos reais na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (art. 8 o)
Para qualificar os bens imóveis e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que estiverem situados.
Quanto aos bens móveis que o proprietário trouxer e/ou transportar para outros lugares, aplicar-se-
á a lei do país em que for domiciliado o proprietário.
2.1.5. A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e as obrigações (art. 9 o)
Para se qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem, e desti-
nando-se a obrigação a ser executada no Brasil, e dependendo de forma essencial, será esta observada,
admitindo-se as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos do ato.
Caso não tenhamos o local de constituição e os sujeitos da norma sejam ausentes, o contrato re-
putar-se-á constituído no lugar onde reside o proponente.
2.1.6. Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro e sucessões (art. 10)
Qualquer que seja a natureza e a situação dos bens, a sucessão por morte ou por ausência obedece
à lei do país em que domiciliado o defunto ou o desaparecido, bem como a sucessão de bens de estran-
geiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros,
ou de quem os represente.
Sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus, este mesmo dispositivo constará
também previsto no art. 5o, XXXI, da CF/1988. Já no tocante à capacidade de suceder a lei do domicílio
do herdeiro ou legatário, será a lei reguladora.
Atenção!
O juiz poderá julgar uma demanda utilizando lei estrangeira, desde que tenha competência para
realizar o julgamento previsto no Código de Processo Civil. Além disso, não conhecendo a lei estrangeira,
poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do texto e da vigência (art. 14 da LINDB).

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2.1.7. Demais pontos importantes da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro


Quando as declarações de vontade, leis, atos e sentenças de outro país ofenderem a soberania
nacional, a ordem pública e os bons costumes, não terão eficácia no Brasil.
Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para celebrar o
casamento e os demais atos de Registro Civil e de tabelionato, inclusive o registro de nascimento e de óbito
dos filhos de brasileiro ou brasileira nascidos no país da sede do Consulado.
2.1.8. Competência do Judiciário brasileiro
A autoridade judiciária brasileira é competente para julgar uma demanda quando o réu for domicili-
ado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação. Contudo, só à autoridade judiciária brasileira com-
pete conhecer das ações relativas a imóveis situados no Brasil.

2.2. Resumindo a LINDB

*Para todos verem: esquema.

Art. 7º - Direito de família,


Capacidade, Personalidade (início e Art. 8º - Bens Imóveis e Móveis.
fim) e Nome. Elemento de conexão:
Elemento de conexão: Imóveis = Local da situação do bem;
Domicílio Móvel = domicílio do proprietário.
Ex: 1º domicílio conjugal ou dos
nubentes.
LINDB -
Dec nº 4.657/1942

Art. 10 - Sucessão por morte ou


Art. 9º - Obrigações e Contratos.
ausência.
Elemento de Conexão:
Elemento de conexão:
Local de constituição da obrigação ou
Lei do país em que domiciliado o de
local da residência proponente.
cujus.

3. Homologação de Decisão Estrangeira e da Convenção


da Apostila de Haia

3.1. Homologação de Decisão Estrangeira


Decisão Estrangeira é homologada no STJ:

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Constituição Federal
Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I – processar e julgar, originariamente:
(...)
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas roga-
tórias; (...)
Execução e cumprimento da decisão estrangeira homologada na Justiça Federal:
Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta
rogatória, após o “exequatur”, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas
referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; (...)

3.1.1. Homologação de decisão estrangeira (arts. 15 da LINDB e 960 a 965 do CPC)


Sentença estrangeira: advinda de um tribunal estrangeiro (p. ex., uma decisão de um tribunal ita-
liano). As decisões do tribunal estrangeiro não valem de imediato no Brasil, por este motivo precisam ser
homologadas para terem força executiva no País.
Sentença internacional: advinda de um tribunal internacional (p. ex., Corte Internacional de Justiça
[CIJ], Tribunal Penal Internacional [TPI] e Corte Interamericana de Direitos Humanos [COIDH]). As decisões
dos tribunais internacionais têm validade em todos os países que se submetem à jurisdição do tribunal, ou
seja, têm validade nos países signatários submetidos às suas decisões.
A homologação de sentença estrangeira e a concessão de exequatur às cartas rogatórias é reali-
zada pelo STJ desde a EC no 45/2004, conforme dispõe o art. 105, I, i, da CF/1988. Após a homologação
e a concessão da exequatur pelo STJ, compete ao Juiz Federal a execução de carta rogatória e o cumpri-
mento da sentença estrangeira homologada (art. 109, X, da CF/1988).
As regras de homologação de sentença estrangeira que estavam inicialmente dispostas no art. 15
da LINDB, agora são estabelecidas pelo Código de Processo Civil, nos arts. 960 a 965, e somente de modo
subsidiário se utiliza a norma da LINDB e do Regimento Interno do STJ.
O STJ regula também o procedimento de homologação, que está disciplinado nos arts. 216-A a
216-X do Regimento Interno do STJ (RISTJ), introduzidos pela ER no 18/2014 do STJ, contudo, atenção,
pois o Código de Processo Civil traz as regras gerais, sendo o RISTJ e o art. 15 da LINDB utilizados
apenas de forma supletiva (SEC no 14.812-EX – rel. Min. Nancy Andrighi – por unanimidade – j. 16-5-
2018 – DJe 23-5-2018 – Informativo 626).
Ainda quanto à homologação de decisão estrangeira, destacam-se:
a) Da superação da Súm. no 420 do STF: “Não se homologa sentença proferida no estrangeiro
sem prova do trânsito em julgado”.
O STJ é que homologada a “Sentença Estrangeira”, segundo o art. 105, I, i, da CF/1988.
Outro elemento é que a Súm. no 420 do STF foi editada pelo Supremo em 8-7-1964, ou seja, na

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vigência da Constituição anterior e do Código de Processo Civil revogado. Assim, a súmula do STF, apesar
de não dito de forma expressa pelos tribunais, já foi superada pela nova legislação vigente.
b) A reciprocidade com o país de origem da decisão não é requisito para a homologação de sen-
tença estrangeira (art. 26, § 2o, do CPC).
c) Não cabe homologação de sentença em matérias de competência exclusiva do poder judiciário
brasileiro.
d) É possível a homologação parcial da decisão estrangeira.
e) É possível homologar decisões estrangeiras interlocutórias e decisões arbitrais, por meio de carta
rogatória.
f) Segundo o STJ, as decisões estrangeiras precisam respeitar o princípio da efetividade, ou seja,
todo pedido de homologação de sentença alienígena, por apresentar elementos transfronteiriços, demanda
a imprescindível existência de algum ponto de conexão entre o exercício da jurisdição pelo Estado brasileiro
e o caso concreto a ele submetido.

SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. CONDENAÇÃO EM MONTANTE SUPE-


RIOR A DEZOITO BILHÕES DE DÓLARES, SOB A ALEGAÇÃO DE DANOS AMBIEN-
TAIS. AUSÊNCIA DE JURISDIÇÃO BRASILEIRA E DE INTERESSE DE AGIR. EXTIN-
ÇÃO DO PROCESSO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO.
1. Não há dúvida quanto à existência de coisa julgada e, até mesmo, a interposição dos
recursos ordinários e extraordinários possíveis, não constituindo óbice, para a configura-
ção do trânsito em julgado, o ajuizamento da ação extraordinária de proteção no âmbito
do direito equatoriano.
2. Tampouco se verificou qualquer irregularidade na representação para o ajuizamento da
presente ação de homologação da sentença estrangeira.
3. Em conformidade com o princípio da efetividade, todo pedido de homologação de sen-
tença alienígena, por apresentar elementos transfronteiriços, demanda a imprescindível
existência de algum ponto de conexão entre o exercício da jurisdição pelo Estado brasileiro
e o caso concreto a ele submetido.
4. Na hipótese em julgamento, é certa a ausência de jurisdição brasileira – questão que é
pressuposto necessário de todo e qualquer processo –, haja vista que: a) a Chevron Cor-
poration, empresa norte-americana contra a qual foi proferida a sentença estrangeira, não
se encontra situada em território nacional; b) a Chevron do Brasil, pessoa jurídica distinta
da requerida e com patrimônio próprio, não integrou o polo passivo da lide originária; e c)
não há nenhuma conexão entre o processo equatoriano e o Estado brasileiro.
5. Sentença estrangeira não homologada.
(SEC no 8.542/EX – rel. Min. Luis Felipe Salomão – Corte Especial – j. 29-11-2017 – DJe 15-3-
2018)

3.2. Convenção da Apostila


A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto ao
ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo aos tribunais brasileiros provas que a lei brasileira desco-
nheça (art. 13 da LINDB).

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Atenção!
QUANTO A PROVAS – Convenção sobre a Obtenção de Provas no Estrangeiro em Matéria Civil
ou Comercial: Dec. no 9.039/2017.
O Brasil não autorizou a OBTENÇÃO DE PROVAS POR REPRESENTANTES DIPLOMÁTICOS,
AGENTES CONSULARES OU COMISSÁRIOS, pois não aceitou estes elementos previstos no tratado inter-
nacional.

4. Direito Internacional Público

4.1. Direito Internacional Público


Regula ou regra a relação entre Estados, e outros sujeitos de Direito Internacional, como os orga-
nismos internacionais intergovernamentais (ONU, BIRD, FMI) e os indivíduos, principalmente nas normas
de proteção internacional da pessoa.
O Direito Internacional Público tem como características importantes para a sua compreensão: ine-
xistência de uma autoridade superior, falta de coercibilidade para o cumprimento dos regramentos estabe-
lecidos, sistema de sanções frágeis, descentralização das decisões e dever do respeito à soberania dos
Estados, tendo com fonte mais importante os tratados internacionais.
São fundamentos do Direito Internacional Público (DIP):

*Para todos verem: esquema.

Fundamentos
do DIP

Manifestação Pacta Sunt


Soberania
de Vontade Servanda

O que fundamenta o DIP é a soberania estatal (art. 1o, I da CF/1988), manifestação da vontade ou
consentimento e o pacta sunt servanda.
SOBERANIA: é a qualidade que caracteriza o poder supremo de um Estado (independência, auto-
ridade dentro e fora do seu território) (arts. 1o, I, 4o, I, III e V, e 170, I, da CF/1988).
PACTA SUNT SERVANDA: liberdade de contrair obrigações (direitos e deveres), compromissos
livremente firmados devem ser cumpridos.

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MANIFESTAÇÃO DA VONTADE: os países livremente consentem em celebrar um tratado após as


negociações diplomáticas sobre o tema.
4.1.1. Conceitos importantes
POPULAÇÃO: é o conjunto de habitantes que mantêm ligação estável com determinado Estado,
por meio de um vínculo jurídico, ou seja, o vínculo da nacionalidade. Inclui os nacionais residentes dentro
e fora (emigrantes) do território nacional. Não inclui os estrangeiros residentes no território do Estado.
NACIONALIDADE: é o vínculo jurídico-político de fidelidade entre o Estado e o indivíduo, atribuído
pelo Estado no exercício de seu poder soberano.
TERRITÓRIO: é o espaço onde se exerce a soberania estatal. Ele determina os limites do exercício
do poder do Estado. Delimitar um território significa estabelecer seus limites, o que é feito por tratados
ou costumes. Demarcar um território significa implantar marcos físicos sobre o território.
Atenção!
Não confundir limite com fronteira. Limite é um ponto que determina, com certa precisão, até
onde vai o território do Estado, já fronteira é uma região em torno do limite territorial, sobre o qual o
Estado tem interesse de zelar para garantir sua segurança nacional.
4.1.2. Personalidade jurídica de direito internacional
Significa quais sujeitos gozam de aptidão internacional para contrair direitos e deveres no direito
internacional público.
Os Estados e as organizações internacionais intergovernamentais e os particulares ou indivíduos
têm personalidade jurídica internacional, ou seja, são sujeitos do Direito Internacional. Os indivíduos, as
pessoas se configuram muito mais como sujeitos de direito internacional, uma vez que o objeto dos acordos
internacionais de direitos humanos estabelece a proteção de todos os seres humanos.
Atenção!
A Anistia Internacional e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha não são organizações internaci-
onais, mas, sim, Organizações Não Governamentais de atuação internacional. Por esse motivo, não cele-
bram tratados, não sendo, portanto, considerados sujeitos de direito internacional.
Destaco que Ongs de atuação internacional e entidades esportivas, por exemplo, o Greenpeace e
a Fifa, não são organizações internacionais para o direito internacional público, pois não foram constituídas
por Estados em tratados internacionais.
4.1.3. Organizações internacionais, também chamadas de organizações internacionais
intergovernamentais
São pessoas jurídicas de direito público externo formadas pela reunião de dois ou mais Estados

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que têm uma finalidade em comum. Após serem constituídas, adquirem personalidade internacional, inde-
pendente da de seus membros constituintes (ONU, OIT, OTAN E FMI).

5. Direito dos Tratados

5.1. Tratados internacionais


Principal fonte jurídica de direito internacional público, o tratado é um acordo internacional celebrado
por escrito entre dois ou mais Estados ou outros sujeitos sob égide do Direito Internacional.
No Brasil, quem pode assinar tratados, em regra, é o nosso Chefe de Estado, ou seja, o Presidente
da República, mas também podem assinar e negociar tratados o Ministro das Relações Exteriores, bem
como os chamados PLENIPOTENCIÁRIOS (pessoas escolhidas pelo Presidente com a confirmação do
Ministro das Relações Exteriores) e Chefes de Delegação Nacional, ambos necessitando de CARTA DE
PLENOS PODERES do Chefe de Estado.
Atenção!
Os tratados são normas de direito externo até serem internalizados pelos ordenamentos jurídicos
de cada nação. O Brasil adotou a teoria da incorporação no art. 5o, §§ 2o e 3o, da CF/1988.
No Brasil, após assinado (art. 84, VIII, da CF/1998), o tratado é enviado ao Congresso Nacional,
devendo ser aprovado nas duas Casas (art. 49, I, da CF/1988). Aprovado, é emitido pelo Presidente do
Congresso Nacional um Decreto Legislativo autorizando o Presidente a ratificar o acordo e, uma vez
ratificado por decreto presidencial, o tratado será promulgado e publicado, passando a valer no
território nacional.
Cuidado! Cuidado com os termos reserva e denúncia!
Reserva significa uma declaração unilateral, qualquer que seja a sua redação ou denominação,
feita por um Estado ao assinar, ratificar, aceitar ou aprovar um tratado, ou a ele aderir, com o objetivo de
excluir ou modificar o efeito jurídico de certas disposições do tratado em sua aplicação a esse Es-
tado.
Denúncia é um ato unilateral, de efeito jurídico inverso ao da ratificação e da adesão, manifestando
o Estado sua vontade de deixar de ser parte no acordo internacional.
Hierarquia dos tratados – incorporados à legislação brasileira

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*Para todos verem: esquema.

CF e tratados de
DH com força
de emenda
constitucional

Tratados de Direitos
Humanos com força
supralegal

Leis e Tratados Internacionais


que não falam de Direitos
Humanos

Demais normas

5.2. Tratados internacionais com força de Emenda


1) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Convenção de Nova Iorque) – De-
creto no 6.949/2009.
2) Protocolo Facultativo à Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
– Decreto no 6.949/2009.
3) Tratado de Marraqueche – Decreto no 9.522/2018.
4) Convenção Interamericana Contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância – Decreto no 10.932/2022.

6. Missões Diplomáticas

6.1. Das missões diplomáticas


Agentes diplomáticos: são responsáveis pela representação do próprio Estado em território es-
trangeiro, perante governos estrangeiros.
Missão diplomática: é formada pelo conjunto de diplomatas que representam os Estados ou orga-
nizações intergovernamentais.
Direito de legação: consiste na prerrogativa dos Estados de enviar (ativa) e receber (passiva)

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agentes diplomáticos (embaixadores) de outros Estados.


Os Embaixadores são a própria representação da nação no Estado estrangeiro ou no organismo
internacional, sendo responsáveis pela representação política.
O chefe da missão diplomática é chamado de embaixador ou núncio. Também em missões
sem embaixadas, o chefe poderá ser chamado de enviado ou ministro ou encarregado de negócios.
Embaixador é uma função ocupada, e não uma classe da carreira diplomática; o último nível da
carreira diplomática é ministro de primeira classe.
As embaixadas, que são o local onde funciona a missão diplomática, compreendendo o conjunto
de suas instalações físicas, são invioláveis, segundo a Convenção de Viena.
Agentes consulares: são funcionários públicos enviados pelo Estado para a proteção de seus
interesses e de seus nacionais.
Consulados são repartições públicas estabelecidas pelos Estados em portos ou cidades de outros
Estados. São responsáveis pela representação comercial, administrativa e a de caráter notarial.
A nomeação do cônsul depende de aceitação prévia do nome indicado (feito mediante o exequatur,
que é a autorização concedida pelo Estado receptor que admite o agente consular para o exercício de suas
funções), competindo tal função a cada Estado individualmente, nos termos de sua legislação específica.
Carta patente é o documento que representa a investidura do agente consular.
6.1.1. Imunidade
Em razão do desempenho das suas funções, os agentes diplomáticos gozam de privilégios e imuni-
dades.
Esses privilégios e imunidades podem ser classificados em: inviolabilidade, imunidade de juris-
dição civil, administrativa e criminal, e isenção fiscal.
A inviolabilidade abrange o local da missão diplomática e as residências particulares dos agentes
diplomáticos. Nesses locais, o Estado acreditado não pode exercer nenhum tipo de coação (invasão pela
polícia), a não ser que haja autorização do chefe da missão. Do mesmo modo, não pode haver uma citação
dentro da missão.
A inviolabilidade cessa se os locais da missão forem utilizados de modo incompatível com as suas
funções. Cessa, ainda, em caso de emergência (incêndio). É inviolável também a correspondência.
A inviolabilidade também significa que os agentes diplomáticos não podem ser presos. O Estado
acreditado deverá proteger os imóveis da missão, bem como a própria pessoa dos agentes diplomáti-
cos.
Os atos da missão, praticados como representante do Estado acreditante (assinatura de tratado),

16
1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

não podem ser apreciados pelos tribunais do Estado acreditado.


Quanto às questões penais, o agente diplomático goza de imunidade de jurisdição criminal. É
absoluta e aplica-se a qualquer delito. Ele tem ainda imunidade de jurisdição civil e administrativa. A
imunidade de jurisdição não significa que ele esteja acima da lei, mas apenas que ele deverá ser proces-
sado no Estado acreditante.
Poderá haver renúncia à imunidade de jurisdição do agente diplomático ou de qualquer pessoa que
dela se beneficie. De modo geral, sustenta-se que a imunidade penal cessa em caso de flagrante delito
que não esteja ligado ao exercício de suas funções.
A imunidade de jurisdição civil, administrativa e penal não se aplicará quando:
a) em uma ação real sobre imóvel privado situado no território do Estado acreditado, salvo se o
agente diplomático o possuir por conta do Estado acreditado para os fins da missão;
b) em uma ação sucessória na qual o agente diplomático figure, a título privado e não em nome
do Estado, como executor testamentário, administrador, herdeiro ou legatário;
c) em uma ação referente a qualquer profissão liberal ou atividade comercial exercida pelo
agente diplomático no Estado acreditado fora de suas funções oficiais.
No tocante às imunidades, ainda temos o fato de que o agente diplomático não é obrigado a prestar
depoimento como testemunha em processos judiciais que correm no país acreditado.
A execução relativa aos casos mencionados no parágrafo anterior poderá ser realizada desde que
não afete a inviolabilidade da pessoa ou da residência do diplomata.
Atenção!
A imunidade de jurisdição de um agente diplomático no Estado acreditado não o isenta da jurisdi-
ção do Estado acreditante.
6.1.2. Da renúncia das imunidades
O Estado acreditante pode renunciar à imunidade de jurisdição dos seus agentes diplomáti-
cos e das demais pessoas que gozam de imunidade, porém, essa renúncia será sempre expressa. A
renúncia à imunidade de jurisdição, no tocante às ações civis ou administrativas, não implica renúncia à
imunidade quanto às medidas de execução da sentença, para as quais nova renúncia é necessária.
Ao iniciar uma ação judicial, o agente diplomático que goza de imunidade de jurisdição não poderá
invocar a imunidade no tocante a uma reconvenção ligada à ação principal.
Se um agente diplomático ou uma pessoa que goza de imunidade de jurisdição iniciar uma
ação judicial, não lhe será permitido invocar a imunidade de jurisdição no tocante a uma reconven-
ção ligada à ação principal.

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

6.1.3. Da isenção de impostos ao representante diplomático


O agente diplomático gozará de isenção de todos os impostos e taxas, pessoais ou reais, nacionais,
regionais ou municipais, salvo as seguintes exceções:
a) os impostos indiretos que estejam normalmente incluídos no preço das mercadorias ou dos servi-
ços;
b) os impostos e taxas sobre bens imóveis privados situados no território do Estado acreditado, a
não ser que o agente diplomático os possua em nome do Estado acreditante e para os fins da missão;
c) os direitos de sucessão percebidos pelo Estado acreditado;
d) os impostos e taxas sobre rendimentos privados que tenham a sua origem no Estado acreditado
e os impostos sobre o capital referentes a investimentos em empresas comerciais no Estado acreditado;
e) os impostos e taxas que incidem sobre a remuneração relativa a serviços específicos;
f) os direitos de registro, de hipoteca, custas judiciais e imposto de selo relativos a bens imóveis.
6.2. Da diplomacia e da solução pacífica dos conflitos
É um dos princípios das relações internacionais previstos no art. 4o, VII, da CF/1988 a “solução
pacífica dos conflitos”. Este princípio também está presente na Carta das Nações da ONU, da qual o Brasil
é signatário e um dos fundadores da ONU.
Atenção!
#Ficaadica:
1) Os locais da missão diplomática não podem ser violados.
2) O agente diplomático goza de isenção de impostos e taxas, havendo exceções a esse respeito.
3) Os bens da embaixada são invioláveis e não podem ser objetos de penhora.
4) A correspondência e a comunicação oficial da missão diplomática são invioláveis.
5) A mala diplomática não poderá ser aberta ou retida.

7. Nacionalidade

7.1. Introdução
Pode ser adquirida de dois modos: originária e derivada.
Originária: adquirida com o nascimento.
Derivada ou secundária: adquirida por vontade posterior.
A nacionalidade originária pode se dar por dois critérios:

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a) Ius soli: é nacional aquele que nascer no solo do país (compreendendo extensões territoriais,
como navios de guerra e navios mercantes em alto-mar).
b) Ius sanguinis: é nacional aquele que for filho, ou seja, que tiver a filiação de nacional do país.
No Brasil, a regra é o ius soli: nasceu em solo brasileiro, será brasileiro. Contudo, há exceções, nas
quais a Constituição adotou o ius sanguinis.
7.2. Nacionalidade originária ou primária no Brasil
São brasileiros natos os casos previstos nas hipóteses do art. 12, I, a, b e c, da CF/1988:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes
não estejam a serviço de seu país;
Ius soli + não ser filho de estrangeiros que estejam a serviço do seu país no Brasil. É a
regra da nacionalidade no nosso país.
Atenção!
Atenção para a exceção, pois necessitamos de um casal de estrangeiros, e um deles deve estar
a serviço do seu país no Brasil para que seu filho seja da sua nacionalidade.
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que qualquer deles
esteja a serviço da República Federativa do Brasil;
Ius sanguinis + o trabalho no exterior para o brasileiro.
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que sejam registrados
em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem,
em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira;
1a parte: ius sanguinis + registro no exterior na repartição pública competente (em regra
consulados); 2a parte: nascimento no exterior + ius sanguinis + venha a residir no Brasil +
maioridade + opção (manifestação de vontade) pela nacionalidade.
Atenção!
As mudanças no art. 12, I, c, da CF/1988, que ocorreram com a EC de revisão no 3/1994 (tirou a
possibilidade do registro em repartição competente no exterior) e a EC no 54/2007, pois criaram uma
situação para os nascidos entre as duas revisões, regulada no art. 95 do ADCT:
Art. 95. Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação
desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser regis-
trados em repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de regis-
tro, se vierem a residir na República Federativa do Brasil.

7.3. Nacionalidade derivada ou secundária no Brasil


A nacionalidade derivada é aquela que se dá por meio da manifestação da vontade do estrangeiro

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

que busca se tornar brasileiro. Alguns elementos podem ser utilizados como objeto de análise para a con-
cessão da nacionalidade derivada, como casamento com brasileiro(a), trabalho no Brasil ou para o
Brasil e residência no Brasil.
A Constituição brasileira menciona somente a hipótese de residência como forma de adquirir a na-
cionalidade derivada para estrangeiro, mas a Lei de Migração prevê outras possibilidades que levam em
conta os critérios mencionados.
São brasileiros naturalizados aqueles previstos no art. 12, II, a e b, da CF/1988:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países
de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;
1a parte: poderão se naturalizar os estrangeiros que cumprirem os requisitos constantes na lei (arts.
64 a 72 da Lei no 13.445/2017); 2a parte: poderão se naturalizar os indivíduos originários de países de
língua portuguesa que tenham residência ininterrupta de um ano no país e idoneidade moral.
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há
mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade
brasileira.
Esta hipótese de naturalização também é chamada de naturalização extraordinária.
A naturalização no Brasil está regulada pela Lei de Migração (arts. 64 a 72 da Lei no 13.445/2017).
São tipos de naturalização no Brasil:

*Para todos verem: esquema.

Ordinária
Naturalização no Brasil
(Lei de Migração)

Extraordinária

Especial

Provisória

7.4. Naturalização ordinária


Para que o estrangeiro consiga se naturalizar, a lei exige o preenchimento das seguintes condições:
capacidade civil no Brasil, residência em território nacional (pelo prazo mínimo de quatro anos), comunicar-
se em língua portuguesa e não possuir condenação penal ou estiver reabilitado (se foi condenado, já ter

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
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cumprido integralmente a pena).


O requisito da residência no Brasil será reduzido para o prazo de, no mínimo, 1 (um) ano se o
estrangeiro naturalizando preencher quaisquer das seguintes condições: tiver filho brasileiro; tiver cônjuge
ou companheiro brasileiro e não estiver dele separado legalmente ou de fato no momento de concessão da
naturalização; houver prestado ou poder prestar serviço relevante ao Brasil; e ter sido recomendado por
sua capacidade profissional, científica ou artística.
7.5. Naturalização extraordinária
É uma naturalização concedida ao estrangeiro que comprovar ter fixado no Brasil residência há
mais de 15 (quinze) anos ininterruptos e sem condenação penal. Esta forma de naturalização está prevista
nos arts. 67 da Lei no 13.445/2017 e 12, II, b, da CF/1988.
7.6. Naturalização especial
Utiliza os mesmos critérios da naturalização ordinária, com exceção do critério da residência no
Brasil, pois ela troca esse critério por outros: ou que o naturalizando seja cônjuge ou companheiro, há mais
de 5 (cinco) anos, de integrante do Serviço Exterior Brasileiro em atividade ou de pessoa a serviço do
Estado brasileiro no exterior; ou que o naturalizando tenha sido empregado em missão diplomática ou em
repartição consular do Brasil por mais de 10 (dez) anos ininterruptos.
7.7. Naturalização provisória
É a naturalização que poderá ser concedida ao migrante criança ou adolescente que tenha fixado
residência em território nacional antes de completar 10 anos de idade, e deverá ser requerida por intermédio
de seu representante legal. Esta naturalização será convertida em definitiva se o naturalizando expressa-
mente assim o requerer no prazo de 2 (dois) anos após atingir a maioridade.
Os pedidos de naturalização serão apresentados pelos estrangeiros na Polícia Federal e/ou no Mi-
nistério das Relações Exteriores, mas a concessão da naturalização é de competência exclusiva do Minis-
tério da Justiça. No curso do processo de naturalização, o naturalizando poderá requerer a tradução ou a
adaptação de seu nome à língua portuguesa. O nome do naturalizando será mantido no cadastro com o
nome traduzido ou adaptado associado ao nome anterior.
Atenção!
O naturalizado terá o prazo de até 1 (um) ano, após a concessão da naturalização, para comparecer
perante a Justiça Eleitoral para o devido cadastramento.
Os efeitos da naturalização ocorrem após a publicação no Diário Oficial do ato de naturalização.
7.8. Da perda da nacionalidade
O naturalizado perderá a nacionalidade em razão de condenação transitada em julgado por

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

atividade nociva ao interesse nacional, conforme dispõe o inciso I do § 4o do art. 12 da CF/1988.


Cuidado!
O risco de geração de situação de apatridia será levado em consideração antes da efetivação
da perda da nacionalidade.
Para os brasileiros natos, é possível a perda de nacionalidade se adquirirem outra nacionalidade
derivada ou nata que seja incompatível com a nacionalidade brasileira (art. 12, § 4o, II, da CF/1988).
Contudo, é possível ao brasileiro readquirir a nacionalidade brasileira que tenha sido perdida em
razão do previsto no incido II do § 4o do art. 12 da CF/1988. Uma vez cessada a causa, poderá readquiri-la
ou ter o ato que declarou a perda revogado, na forma definida pelo órgão competente do Poder Executivo.
7.9. Da quase nacionalidade
Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor dos brasi-
leiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos na Constituição Federal.
Essa situação trata-se da quase nacionalidade ou, como a doutrina chama, brasileiros por equipara-
ção. A reciprocidade evidencia-se no presente caso, uma vez que, com o Dec. no 3.927/2001, promulgou-
se o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Federativa do Brasil e a República
Portuguesa, celebrado em Porto Seguro, em 22 de abril de 2000.
7.10. Das distinções constitucionais entre brasileiros natos e naturalizados
Em regra, brasileiros natos e naturalizados devem ser tratados como iguais, podendo somente a
Constituição Federal prever algumas distinções específicas entre os dois. Existem somente as seguintes
diferenças entre brasileiros natos e naturalizados na Constituição:

*Para todos verem: esquema.

Art. 12, § 3º Art. 12, § 4º, I

Art. 5º, LI

Art. 89, VII Art. 222

7.11. Cargos privativos de brasileiros natos

Art. 12. (...)


(...)
§ 3o São privativos de brasileiro nato os cargos:
I – de Presidente e Vice-Presidente da República;
II – de Presidente da Câmara dos Deputados;
III – de Presidente do Senado Federal;
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal;

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

V – da carreira diplomática;
VI – de oficial das Forças Armadas;
VII – de Ministro de Estado da Defesa.

Mnemônico: “MP³.COM”
M = Ministro do STF
P³ = três cargos que começam com P (Presidente da República, Presidente da Câmara e Presidente
do Senado)
C = Carreira Diplomática
O = Oficial das Forças Armadas
M = Ministro de Estado da Defesa
Atenção!
Se todos os ministros do STF devem ser brasileiros natos, temos uma hipótese não listada no § 3 o
do art. 12, que é o cargo de Presidente do Conselho Nacional de Justiça, uma vez que só preside o CNJ o
Presidente ou o Vice-Presidente do STF, por força do disposto no § 1o do art. 103- B da CF/1988.
Resumindo nacionalidade:

*Para todos verem: esquema.

Ocorre no momento do
Nacionalidade Originária
nascimento, critérios ou solo ou
Brasileiro Nato
filiação.

Ocorre por vontade da pessoa que


Nacionalidade Derivada
quer ser brasileira, critérios
Brasileiros Naturalizados
residência, trabalho ou casamento.

8. Domínio Público Internacional

O mar territorial brasileiro compreende uma faixa de 12 milhas marítimas de largura, medidas a
partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular. Nos locais em que a costa apresente recortes
profundos e reentrâncias ou em que exista uma franja de ilhas ao longo da costa na sua proximidade ime-
diata, será adotado o método das linhas de base retas para realizar a medida da extensão do mar territorial.
A soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo sobrejacente, bem como ao seu leito
e subsolo.
Na zona contígua, o Brasil poderá tomar as medidas de fiscalização necessárias para: evitar as
infrações às leis e aos regulamentos aduaneiros, fiscais, de imigração ou sanitários, no seu território ou no

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Direito Internacional

seu mar territorial; e reprimir as infrações às leis e aos regulamentos, no seu território ou no seu mar terri-
torial. Por exemplo: as autoridades policiais brasileiras poderão prender pessoas em área de zona contígua
que tenham realizado um crime em território brasileiro e estejam fugindo.
Zona econômica exclusiva (ZEE) é uma faixa de 200 milhas marítimas contadas a partir da linha
base, onde há o direito exclusivo do Brasil de investigação e exploração científica econômica. O Brasil, no
exercício de sua jurisdição, tem o direito exclusivo de regulamentar a investigação científica marinha, a
proteção e preservação do meio marítimo, bem como a construção, a operação e o uso de todos os tipos
de ilhas artificiais, instalações e estruturas. A investigação científica marinha na ZEE só poderá ser condu-
zida por outros Estados com o consentimento prévio do governo brasileiro, bem como a realização de exer-
cícios ou manobras militares, em particular as que impliquem o uso de armas ou explosivas, porém é reco-
nhecido a todos os Estados o gozo na ZEE das liberdades de navegação e sobrevoo e o uso do mar inter-
nacionalmente lícito, relacionado com as referidas liberdades, como as ligadas à operação de navios e
aeronaves.
Plataforma continental corresponde ao leito e ao subsolo das áreas submarinas que se estendem
além do mar territorial em toda a extensão do prolongamento natural de seu território terrestre, até o bordo
exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas marítimas das linhas de base. O Brasil
exerce direitos de soberania sobre a plataforma continental para efeitos de exploração dos recursos natu-
rais. É reconhecido a todos os Estados o direito de colocar cabos e dutos na plataforma continental. O
traçado da linha para a colocação de tais cabos e dutos na plataforma continental dependerá do consenti-
mento do governo brasileiro.
Alto-mar é um conceito de direito do mar, definido como todas as partes do mar não incluídas no
mar territorial e na zona econômica exclusiva de um Estado costeiro, nem nas águas arquipelágicas de um
arquipélago. Em outras palavras, alto-mar é o conjunto das zonas marítimas que não está sob jurisdição de
nenhum Estado. Nos termos do direito do mar, qualquer reivindicação de soberania sobre tais zonas, da
parte de um estado, é ilegítima.
Rios internacionais são aqueles que correm em mais de um Estado, quer sejam limítrofes (formam
fronteira entre dois Estados), quer de curso sucessivo (correm no território de um Estado em seguida ao de
outro). A importância da navegação fluvial somou-se aos interesses econômicos da utilização dos recursos
naturais (geração de energia hidrelétrica, irrigação etc.) para criar a necessidade de disciplina internacional
para tais rios, de que são exemplos o Danúbio, na Europa, e a Bacia do Prata, na América do Sul. A disci-
plina de tais situações é realizada por meio de entendimentos ou tratados específicos para cada situação
e, por vezes, até mesmo por atos unilaterais. Aplica-se nesta matéria um princípio básico que regula os rios

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

internacionais: o da soberania dos Estados sobre os trechos que correm dentro de seus respectivos limites.
Espaço aéreo é a porção da atmosfera localizada sobre o território ou mar territorial de um Estado.
O Direito Internacional Público reconhece a soberania exclusiva do Estado sobre o espaço aéreo sobreja-
cente. Tal espaço, diferentemente do mar territorial, não comporta direito de passagem inocente, razão pela
qual, em princípio, uma aeronave estrangeira somente pode sobrevoar o território de determinado Estado
com o consentimento deste.

9. Direito Comunitário e Direito de Integração Regional


(Mercosul e outras instituições)

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) é um órgão de integração regional da América Latina fundado
em 1991.
O Mercosul é instrumento fundamental para a promoção da cooperação, do desenvolvimento, da
paz e da estabilidade na América do Sul. É o principal instrumento com o qual o Brasil conta para cumprir
o disposto no parágrafo único do art. 4o da CF/1988: “A República Federativa do Brasil buscará a integração
econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações”.
Os membros que fundaram o Mercosul foram Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, signatários do
Tratado de Assunção, e após, em 2012, a Venezuela aderiu, mas está suspensa desde dezembro de 2016,
por descumprimento de seu Protocolo de Adesão. Em agosto de 2017, aplicou-se à Venezuela a Cláusula
Democrática do Protocolo de Ushuaia, que condiciona a participação do bloco ao respeito da democracia.
Todos os demais países sul-americanos relacionam-se com o Mercosul na qualidade de Estados
associados. A Bolívia aparece com o status de Estado associado em processo de adesão.
O Mercosul conta com um sistema próprio de soluções de controvérsias estabelecido pelo Protocolo
de Brasília, de 1991, que depois foi substituído pelo Protocolo de Olivos, de 2002. Uma das principais
inovações do Protocolo de Olivos foi a criação do Tribunal Permanente de Revisão (TPR), órgão principal
do sistema, em razão de sua competência para conhecer e resolver os recursos de revisão contra os laudos
dos Tribunais Arbitrais Ad Hoc (TAHM). O TPR entrou em funcionamento em agosto de 2004.
O Acordo de Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e Ad-
ministrativa entre os Estados Partes do Mercosul, a República da Bolívia e a República do Chile foi promul-
gado no Brasil por meio do Decreto no 6.891/2009, tendo por finalidade estabelecer as bases em que a
cooperação e a assistência jurisdicional entre os Estados-membros será realizada. Vejamos as principais
normas do acordo:

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

Artigo 2
Para efeitos do presente Acordo, os Estados Partes indicarão uma Autoridade Central en-
carregada de receber e dar andamento a pedidos de assistência jurisdicional em matéria
civil, comercial, trabalhista e administrativa. Para tanto, as Autoridades Centrais comuni-
car-se-ão diretamente entre si, permitindo a intervenção das respectivas autoridades com-
petentes, sempre que necessário.
Artigo 3
Os nacionais, os cidadãos e os residentes permanentes ou habituais de um dos Estados
Partes gozarão, nas mesmas condições dos nacionais, cidadãos e residentes permanen-
tes ou habituais de outro Estado Parte, do livre acesso à jurisdição desse Estado para a
defesa de seus direitos e interesses.
O parágrafo anterior aplicar-se-á às pessoas jurídicas constituídas, autorizadas ou regis-
tradas de acordo com as leis de qualquer dos Estados Partes.
(...)
Artigo 12
A autoridade jurisdicional encarregada do cumprimento de uma carta rogatória aplicará
sua lei interna no que se refere aos procedimentos.
Não obstante, a carta rogatória poderá ter, mediante pedido da autoridade requerente,
tramitação especial, admitindo-se o cumprimento de formalidades adicionais na diligência
da carta rogatória, sempre que isso não seja incompatível com a ordem pública do Estado
requerido.
O cumprimento da carta rogatória deverá efetuar-se sem demora.
(...)
Artigo 23
Se uma sentença ou um laudo arbitral não puder ter eficácia em sua totalidade, a autori-
dade jurisdicional competente do Estado requerido poderá admitir sua eficácia parcial me-
diante pedido da parte interessada.

10. Sistema de Solução de Controvérsias da OMC

A Organização Mundial de Comércio (OMC) tem um sistema de solução de controvérsias, desde a


sua criação, que toca a todos os países-membros da organização.
O órgão da OMC competente para administrar o SSC é o Órgão de Solução de Controvérsias
(OSC). Somente os Membros da OMC – isto é, Estados, territórios aduaneiros autônomos e determinadas
organizações internacionais (no caso, a União Europeia) – podem participar desse mecanismo, sendo o
recurso vedado a outros atores, como empresas, pessoas físicas e organizações não governamentais.
O Sistema de Solução de Controvérsias da OMC tem as seguintes características:
• Abrangência: o sistema aplica-se a todos os casos e a todos os países-membros, que em
regra estão obrigados ao sistema.
• Automaticidade: com uma jurisdição “quase obrigatória” ou muito difícil de não ser imple-
mentada.
• Duplo grau de jurisdição: foi criado um órgão revisor chamado de Órgão de Apelação (AO).
• Exequibilidade: existência de meios específicos para estimular o cumprimento das recomen-
dações dos relatórios adotados pelo OSC.

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

11. Direito Internacional do Trabalho

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) é o principal órgão internacional, com mais de 100
anos de atuação na proteção dos trabalhadores e das relações de trabalho no mundo.
O estrangeiro, em regra, para trabalhar no Brasil, necessitará de visto temporário e, além disso, a
autorização de trabalho do estrangeiro se dá pelo Ministério do Trabalho (ou órgão correspondente), pois
trata-se de ato administrativo de competência do órgão governamental, que concede a autorização de tra-
balho no país.

12. Lei de Migração (Lei no 13.445/2017)

12.1. Princípios, diretrizes e direitos que regem a política migratória brasileira


A Lei no 13.445/2017 veio para estabelecer uma nova relação com os estrangeiros no Brasil, deter-
minando princípios e diretrizes que respeitam as normas internacionais de proteção aos direitos humanos
(art. 3o da Lei no 13.445/2017). Destacamos os princípios da não criminalização da migração, acolhida hu-
manitária, garantia do direito de reunião familiar e repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas
já cobrados no exame.

Art. 3o A política migratória brasileira rege-se pelos seguintes princípios e diretrizes:


I – universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos;
II – repúdio e prevenção à xenofobia, ao racismo e a quaisquer formas de discriminação;
III – não criminalização da migração;
IV – não discriminação em razão dos critérios ou dos procedimentos pelos quais a pessoa
foi admitida em território nacional;
V – promoção de entrada regular e de regularização documental;
VI – acolhida humanitária;
VII – desenvolvimento econômico, turístico, social, cultural, esportivo, científico e tecnoló-
gico do Brasil;
VIII – garantia do direito à reunião familiar;
IX – igualdade de tratamento e de oportunidade ao migrante e a seus familiares;
X – inclusão social, laboral e produtiva do migrante por meio de políticas públicas;
XI – acesso igualitário e livre do migrante a serviços, programas e benefícios sociais, bens
públicos, educação, assistência jurídica integral pública, trabalho, moradia, serviço bancá-
rio e seguridade social;
XII – promoção e difusão de direitos, liberdades, garantias e obrigações do migrante;
XIII – diálogo social na formulação, na execução e na avaliação de políticas migratórias e
promoção da participação cidadã do migrante;
XIV – fortalecimento da integração econômica, política, social e cultural dos povos da Amé-
rica Latina, mediante constituição de espaços de cidadania e de livre circulação de pes-
soas;
XV – cooperação internacional com Estados de origem, de trânsito e de destino de

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1ª Fase | 37° Exame da OAB
Direito Internacional

movimentos migratórios, a fim de garantir efetiva proteção aos direitos humanos do mi-
grante;
XVI – integração e desenvolvimento das regiões de fronteira e articulação de políticas
públicas regionais capazes de garantir efetividade aos direitos do residente fronteiriço;
XVII – proteção integral e atenção ao superior interesse da criança e do adolescente mi-
grante;
XVIII – observância ao disposto em tratado;
XIX – proteção ao brasileiro no exterior;
XX – migração e desenvolvimento humano no local de origem, como direitos inalienáveis
de todas as pessoas;
XXI – promoção do reconhecimento acadêmico e do exercício profissional no Brasil, nos
termos da lei; e
XXII – repúdio a práticas de expulsão ou de deportação coletivas.

12.1.1. Dos direitos dos estrangeiros no Brasil


Os estrangeiros no Brasil são sujeitos de direitos fundamentais, assim prevê a nossa Constituição
Federal e a Lei no 13.445/2017. A Lei de Migração traz um rol de garantias e direitos fundamentais aos
estrangeiros, destacando-se o direito ao acesso aos serviços de saúde, acesso à justiça brasileira, direito
à educação pública e o direito de reunião familiar, entre outros que estão previstos no art. 4 o da Lei no
13.445/2017.
Art. 4o Ao migrante é garantida no território nacional, em condição de igualdade com os
nacionais, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, bem como são assegurados:
I – direitos e liberdades civis, sociais, culturais e econômicos;
II – direito à liberdade de circulação em território nacional;
III – direito à reunião familiar do migrante com seu cônjuge ou companheiro e seus filhos,
familiares e dependentes;
IV – medidas de proteção a vítimas e testemunhas de crimes e de violações de direitos;
V – direito de transferir recursos decorrentes de sua renda e economias pessoais a outro
país, observada a legislação aplicável;
VI – direito de reunião para fins pacíficos;
VII – direito de associação, inclusive sindical, para fins lícitos;
VIII – acesso a serviços públicos de saúde e de assistência social e à previdência social,
nos termos da lei, sem discriminação em razão da nacionalidade e da condição migratória;
IX – amplo acesso à justiça e à assistência jurídica integral gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos;
X – direito à educação pública, vedada a discriminação em razão da nacionalidade e da
condição migratória;
XI – garantia de cumprimento de obrigações legais e contratuais trabalhistas e de aplica-
ção das normas de proteção ao trabalhador, sem discriminação em razão da nacionali-
dade e da condição migratória;
XII – isenção das taxas de que trata esta Lei, mediante declaração de hipossuficiência
econômica, na forma de regulamento;
XIII – direito de acesso à informação e garantia de confidencialidade quanto aos dados
pessoais do migrante, nos termos da Lei no 12.527, de 18 de novembro de 2011;
XIV – direito a abertura de conta bancária;
XV – direito de sair, de permanecer e de reingressar em território nacional, mesmo en-
quanto pendente pedido de autorização de residência, de prorrogação de estada ou de
transformação de visto em autorização de residência; e
XVI – direito do imigrante de ser informado sobre as garantias que lhe são asseguradas
para fins de regularização migratória.

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12.2. Documentos de viagem


São documentos de viagem previstos pela Lei de Migração (art. 5o da Lei no 13.445/2017):
I – passaporte;
II – laissez-passer;
III – autorização de retorno;
IV – salvo-conduto;
V – carteira de identidade de marítimo;
VI – carteira de matrícula consular;
VII – documento de identidade civil ou documento estrangeiro equivalente, quando admi-
tidos em tratado;
VIII – certificado de membro de tripulação de transporte aéreo; e
IX – outros que vierem a ser reconhecidos pelo Estado brasileiro em regulamento.

12.3. Condição jurídica do migrante visitante


Imigrante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que trabalha ou reside e se estabelece tem-
porária ou definitivamente no Brasil.
Emigrante: brasileiro que se estabelece temporária ou definitivamente no exterior.
Residente fronteiriço: pessoa nacional de país limítrofe ou apátrida que conserva a sua residência
habitual em município fronteiriço de país vizinho.
Visitante: pessoa nacional de outro país ou apátrida que vem ao Brasil para estadas de curta du-
ração, sem pretensão de se estabelecer temporária ou definitivamente no território nacional.
Apátrida: pessoa que não seja considerada nacional por nenhum Estado, segundo a sua legisla-
ção, nos termos da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas, de 1954, promulgada pelo Decreto no 4.246,
de 22 de maio de 2002, ou assim reconhecida pelo Estado brasileiro.
12.3.1. Do visto
O visto é o documento que dá a seu titular expectativa de ingresso em território nacional (art. 6o da
Lei no 13.445/2017). O visto será concedido por embaixadas, consulados gerais, consulados, vice-consula-
dos e, quando habilitados pelo órgão competente do Poder Executivo, por escritórios comerciais e de re-
presentação do Brasil no exterior. Temos cinco tipos de vistos: visita, temporário, diplomático, oficial e de
cortesia. Importante ler os arts. 13 e 14 da Lei no 13.445/2017, que estabelecem as regras dos vistos de
visita e temporários.
Dos tipos de visto (art. 12 da Lei no 13.445/2017):

I – de visita; (sem intenção de estabelecer residência)


II – temporário; (com o intuito de estabelecer residência por tempo determinado)
III – diplomático;
IV – oficial;
V – de cortesia.

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12.4. Medidas de retirada compulsória de estrangeiros (Lei n o 13.445/2017)


São medidas de retirada compulsória de estrangeiros nos Brasil: deportação, expulsão, extradição
e repatriação.
12.4.1. Deportação (arts. 50 a 53 da Lei no 13.445/2017)
Medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada compulsória de pessoa
que se encontre em situação migratória irregular em território nacional. Portanto, a deportação trata-se de
uma irregularidade administrativa, ou seja, o estrangeiro entra com um visto de turista, mas excede o prazo
de permanência, trabalhando sem a devida autorização.
Pontos principais:
A) a deportação é medida decorrente de procedimento administrativo que consiste na retirada com-
pulsória de pessoa que se encontre em situação migratória irregular em território nacional (art. 50 da Lei no
13.445/2017);
B) o estrangeiro será notificado expressamente de todas as irregularidades verificadas e receberá
um prazo não inferior a 60 dias para realizar a regularização, que poderá ser prorrogado por igual período,
por despacho fundamentado e mediante compromisso da pessoa de manter atualizadas suas informações
domiciliares;
C) vencido o prazo determinado sem a reparação das irregularidades, será realizada a deportação;
D) todos os procedimentos relativos a deportação devem respeitar o contraditório e a ampla defesa
e também garantir recurso com efeito suspensivo;
E) se a pessoa for apátrida, o procedimento de deportação dependerá de prévia autorização da
autoridade competente;
F) a deportação não será realizada se a medida configurar extradição não admitida pela legislação
brasileira.
12.4.2. Expulsão (arts. 54 a 60 da Lei no 13.445/2017)
Consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território
nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. A expulsão poderá ocorrer
com a condenação em sentença transitada em julgado relativa à prática de: crime de genocídio, crime
contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma
do Tribunal Penal Internacional, ou crime comum doloso, passível de pena privativa de liberdade, conside-
radas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional.
Não podem os estrangeiros ser expulsos se a medida configurar extradição inadmitida pela legisla-
ção brasileira; ou se o expulsando tiver filho brasileiro que esteja sob sua guarda ou dependência econômica

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ou socioafetiva ou tiver pessoa brasileira sob sua tutela; tiver cônjuge ou companheiro residente no Brasil,
sem discriminação alguma, reconhecido judicial ou legalmente; tiver ingressado no Brasil até os 12 anos de
idade, residindo desde então no País; for pessoa com mais de 70 anos que resida no País há mais de 10
(dez) anos, considerados a gravidade e o fundamento da expulsão.
No processo de expulsão, serão garantidos o contraditório e a ampla defesa. Se não houver defen-
sor constituído, a Defensoria Pública da União será notificada da instauração de processo de expulsão.
A existência de processo de expulsão não impede a saída voluntária do expulsando do País.
12.4.3. Extradição (arts. 81 a 99 da Lei no 13.445/2017)
É a medida de cooperação penal internacional que pode ser requerida por via diplomática ou por
autoridades centrais designadas para cuidarem da extradição. Nessa medida, o Estado brasileiro solicita
ou recebe a solicitação de outro Estado para a entrega de pessoa sobre quem recaia condenação criminal
definitiva ou para fins de instrução de processo penal em curso. A extradição é um processo que passa pela
via diplomática e pelo controle de legalidade do STF.
Os brasileiros natos não podem ser extraditados do Brasil para outros Estados, bem como os bra-
sileiros naturalizados só poderão ser extraditados do Brasil em duas situações específicas: por crime co-
mum antes da naturalização ou por tráfico de entorpecentes a qualquer tempo.
Não se concederá a extradição quando: o fato que motivar o pedido não for crime no Brasil ou no
Estado requerente; o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao extraditando;
a lei brasileira impuser ao crime pena de prisão inferior a 2 (dois) anos; o extraditando estiver respondendo
a processo ou já houver sido condenado ou absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se fundar o pedido;
a punibilidade estiver extinta pela prescrição, segundo a lei brasileira ou a do Estado requerente; o fato
constituir crime político ou de opinião; o extraditando tiver de responder, no Estado requerente, perante
tribunal ou juízo de exceção; ou o extraditando for beneficiário de refúgio ou de asilo territorial no Brasil.
Entre as condições para o Brasil realizar a extradição para outro país estão o fato de o crime ter
sido cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando as leis penais desse
Estado, e estar o extraditando respondendo a processo investigatório ou a processo penal ou ter sido con-
denado pelas autoridades judiciárias do Estado requerente a pena privativa de liberdade.
12.4.4 Da prisão cautelar em extradição
Com o objetivo de assegurar a executoriedade da medida de extradição, é possível, em caso de
urgência, que o Estado interessado na extradição realize prévia ou conjuntamente com a formalização do
pedido extradicional o pedido de prisão cautelar (art. 84, caput, da Lei no 13.445/2017), que será requerido
por via diplomática ou por meio de autoridade central do Poder Executivo.

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12.4.5 Repatriação (art. 49 da Lei no 13.445/2017)


Consiste em medida administrativa da devolução ao país de procedência ou de nacionalidade da
pessoa em situação de impedimento de ingresso, identificada no momento da entrada no território nacional.
Na repatriação, o impedimento de ingresso dá-se no momento da entrada do estrangeiro no Brasil, e por
esse motivo não será permitida a entrada dele, que deverá retornar, às expensas da empresa transporta-
dora, para o país de origem da viagem.

12.4.6 Entrega de nacionais ou estrangeiros

É o envio de um indivíduo para ser julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI). Pode ocorrer
com brasileiros natos, naturalizados ou estrangeiros. A Constituição Federal proíbe a extradição de brasi-
leiros natos; porém, quanto à entrega, nada menciona. Além disso, é importante salientar que o Brasil inte-
gra o TPI, fazendo parte do órgão, conforme dispõe o art. 5o, § 4o, da CF/1988. A entrega é promovida pela
autoridade brasileira e deve ter a concordância do acusado.

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