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INTRODUÇÃO
O direito internacional privado é o ramo jurídico que regulamenta as relações
jurídicas privadas com elementos estrangeiros. Ainda que tenha internacional no nome,
ele terá como objeto a regulamentação de pessoas jurídicas privadas internas. Portanto,
atua no âmbito das relações jurídicas civis e as relações empresariais.
Como ponto de partida, é importante salientar que há a soberania do Estado em
aceitar ou não o direito estrangeiro. Porém, ainda que o estado tenha a possibilidade de
aplicar ou não a lei estrangeira, existem limites concretos relacionados à segurança
nacional, aos bons costumes e questões relacionadas à ordem pública.
De maneira geral, quando tratamos de Direito Internacional Privado, a primeira
pergunta que deve ser feita é: qual a lei que deve ser aplicada? (para cada relação
jurídica, só é possível aplicar um ordenamento). Depois, deve se perguntar, qual o juízo
ou qual jurisdição é competente para solucionar a demanda (no caso do Brasil, temos o
CPC, art. 22 e seguintes), diferentemente da primeira pergunta, podemos ter mais de um
juízo competente (“jurisdição “concorrente”) - questões afetas ao direito processual. Por
fim, busca-se responder qual a solução do caso concreto com elemento estrangeiro, essa
pergunta só se faz pertinente ao dipr quando há um tratado internacional que estabelece
as diretrizes de uma determinada causa.
Portanto, no direito internacional privado, temos como normas, as materiais e
diretas, as normas processuais internas e as normas indiretas, chamadas de regras de
conexão, previstas da LINDB, com a finalidade de auxiliar o ordenamento jurídico a
escolher as normas aplicáveis.
deverá aplicar. O juiz SEMPRE vai aplicar a sua norma indireta (o juiz BR sempre
aplicará a LINDB)
1. A LEI
Continua sendo a fonte principal do direito internacional privado.
A codificação que vai influenciar os dias hodiernos teve seu início em 1804 na
frança, com a inserção do direito internacional privado no sistema de direito civil.
Entretanto, o problema que surge é decorrente de uma falta de unificação, que gera uma
insegurança no momento de aplicação de uma lei. No caso brasileiro, o DIPR é
esquematizado no LINDB, sob influência do LICC alemão.
A lei é, sem dúvida, a fonte mais constante do DIPr em todos os países. É por
meio dela – da lex fori – que prioritariamente se estabelecem as regras conflituais a
serem seguidas pelo juiz do foro quando presente um conflito de leis no espaço com
conexão internacional. A Constituição dos Estados Unidos, no Artigo IV, Seção 1,
dispõe expressamente que “toda a fé e crédito devem ser dados, em cada Estado, aos
atos, arquivos e peças judiciárias públicas de todos os outros Estados”, complementando
que “o Congresso pode, por leis gerais, prescrever a maneira pela qual tais atos,
arquivos e peças devem ser estabelecidos, assim como os seus efeitos decorrentes”.
Ainda que a disposição tenha relevo para os conflitos interestaduais no âmbito da
federação estadunidense, o que dali sempre se extraiu é a importância das leis como
fonte do DIPr naquele país, mesmo que, na prática, a maioria dos conflitos
interespaciais norte-americanos encontre solução na Federal Common Law.
Ainda que existam tratados internacionais a regular os conflitos de leis no
espaço, bem assim costumes (internos e internacionais) a tratar da mesma matéria, o
certo é que as leis internas continuam disciplinando com maior abrangência essa
temática em vários países. De fato, é facilmente perceptível que as normas
internacionais e costumeiras que regulam o DIPr são em número bastante reduzido,
quando comparadas com as leis internas que tratam do mesmo assunto. Daí a
importância que têm as normas internas para o DIPr, especialmente a Constituição e as
leis.
A fonte interna mais importante para o DIPr brasileiro atual é a Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB (Decreto-Lei nº 4.657, de 4 de
setembro de 1942, com redação dada pela Lei nº 12.376, de 30 de dezembro de 2010),
que disciplina o assunto nos arts. 7º a 19. A LINDB, porém, como já se disse, tem sido
criticada por não ter acompanhado a evolução do DIPr no mundo contemporâneo, razão
pela qual deixa de regular inúmeras questões que a atualidade coloca.7 Há, porém,
várias outras normas de DIPr esparsas na legislação brasileira. Assim, v.g., no Código
de Processo Civil encontram-se normas relativas à competência internacional, à prova
do direito estrangeiro e à homologação de sentenças estrangeiras.
Destaque-se, porém, que as leis que disciplinam o DIPr nacional e as normas por
elas indicadas para resolver a lide, por serem leis, estão subordinadas, como não poderia
deixar de ser, às regras e princípios da Constituição Federal e de seu bloco de
constitucionalidade em geral (bem assim dos tratados internacionais em vigor no Estado
– v. item 3.1, infra).8 As normas de DIPr nacionais são leis ordinárias como quaisquer
outras, devendo respeito ao Texto Maior, sob pena de não recepção (se anteriores à
Constituição) ou de inconstitucionalidade (se posteriores à Constituição).9 Também as
leis estrangeiras indicadas pelas regras de DIPr da lex fori devem submeter-se ao exame
intrínseco de constitucionalidade (para além do anterior exame extrínseco de
constitucionalidade, isto é, da aferição de compatibilidade com a Constituição do Estado
de origem da norma – v. Cap. VII, item 2.6, infra), se já não tiveram efeitos cortados em
razão de ordem pública ou por normas de aplicação imediata.10 Objeta-se, contudo, que
as leis estrangeiras indicadas pela norma de DIPr da lex fori não estariam aptas a sofrer
exame material de constitucionalidade no Brasil, por provirem de sistema jurídico
distinto do nosso.
Tal raciocínio, no entanto, é equivocado, pois quando um juiz aplica uma lei
estrangeira num caso de DIPr é porque tal lei foi indicada pela norma nacional
competente, a partir de quando passa a integrar, ainda que reflexamente e para
determinado caso concreto, a coleção de leis nacionais. O controle de
constitucionalidade intrínseco, portanto, se exerce sobre as leis nacionais de DIPr
(formal e materialmente) e também sobre aquelas por elas indicadas (nesse caso, apenas
materialmente, por não poder a Constituição local estabelecer pressuposto
procedimental às normas editadas por outra ordem jurídica); ambas (as leis nacionais de
DIPr e as por elas indicadas) não se movimentam em espaço exterior à órbita
constitucional, em terreno alheio às regras e princípios constitucionais, mas integram a
ordem jurídica da qual a Constituição é norma soberanamente superior.
Por esse motivo, os direitos fundamentais previstos no texto constitucional hão
de impedir a aplicação das normas de DIPr ou das normas estrangeiras indicadas
contrárias aos seus mandamentos.11 Daí prevalecer o texto constitucional brasileiro
(bem como os tratados de direitos humanos incorporados) sobre eventual norma
estrangeira indicada que preveja, v.g., desigualdade entre homens e mulheres, entre
filhos havidos e não havidos na constância do casamento, ou discriminação em razão de
raça, sexo, língua e religião. Frise-se, a propósito, que nos termos do art. 4º do Código
Bustamante “[o]s preceitos constitucionais são de ordem pública internacional”, a
reforçar o impedimento de aplicação do direito estrangeiro contrário às normas de
índole constitucional. Em suma, deve o juiz do foro estar atento para se a indicação feita
pela lex fori não está a violar normas constitucionais, especialmente as de direitos
fundamentais, caso em que deverá rechaçar a aplicação da norma indicada em
desacordo com o comando constitucional.12
Exemplo concreto do que se acabou de dizer ocorreu na Alemanha e foi decidido
pelo Tribunal Constitucional daquele país em 1971.13 Tratava-se de um espanhol,
solteiro, que pretendera casar-se na Alemanha com uma cidadã alemã, divorciada. Pela
norma de conflito alemã a capacidade para casar haveria de reger-se pela lei nacional de
cada um, caso em que se fazia necessário comprovar, no momento da habilitação do
matrimônio, a capacidade de cada qual nos termos da lei do país de origem. O cidadão
espanhol não logrou o certificado, tendo em vista que uma das partes (a alemã) era
impedida de se casar na Espanha, por não ser ali autorizado o divórcio. Após negado o
casamento pelas instâncias judiciárias alemãs, recorreu o casal ao Tribunal
Constitucional, alegando violação de uma norma constitucional alemã, qual seja, a
relativa à liberdade de casamento.
Em sua decisão, o Tribunal Constitucional reconheceu a violação da
Constituição (bem assim, diga-se, da Convenção Europeia de Direitos Humanos de
1950) e autorizou o casamento, esclarecendo que a aplicação do direito estrangeiro
designado pela regra de conflito alemã sujeitava-se, também, aos imperativos da
Constituição. Houve, como se vê, interferência direta do texto constitucional,
especialmente dos direitos constitucionalmente assegurados, no momento da aplicação
da regra conflitual de DIPr alemão, consagrando-se, naquele caso, o efeito horizontal
dos direitos fundamentais (Drittwirkung).14 Em virtude dessa jurisprudência, o
Parlamento Federal alemão alterou a Lei de Introdução ao Código Civil em 1986.
É evidente que a supremacia constitucional (e internacional) que se acabou de referir
terá lugar apenas quando mais benéfica à proteção apresentada. Para chegar a essa
constatação e compreender corretamente o fenômeno, deve o juiz do foro, sobretudo,
aplicar “diálogo das fontes” para a solução adequada da questão sub judice, como se
verá adiante (v. item 5.1, infra).
COSTUME NACIONAL
Também não se descarta o costume nacional como fonte interna do DIPr,
utilizado, em sistemas como o nosso, especialmente quando o juiz do foro não encontra
norma escrita a resolver a questão entre normas interconectadas. De fato, em muitos
países, além das normas escritas há também costumes nacionais a reger as relações
jurídicas de DIPr. Os elementos de conexão lex rei sitae, mobilia sequuntur personam e
locus regit actum são, v.g., de caráter costumeiro em vários países.15 No Brasil, em
razão do disposto no art. 4º da LINDB, os costumes apenas serão utilizados em caso de
omissão legislativa: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a
analogia, os costumes e os princípios gerais de direito”.
Nos países que fazem parte da common law há regras de DIPr que provêm dos
precedentes jurisprudenciais, que também formam certo tipo de costume.16 Também na
França, que, não obstante ter grande codificação civil, dispõe de pouquíssimas e
incompletas regras de DIPr, estas têm sido ditadas constantemente pela Corte de
Cassação, formando um sólido costume interno relativo à matéria.17
2. FONTES INTERNACIONAIS
3. COSTUME
Correspondem aos costumes internacionais. O costume só vira norma jurídica se houver
uma prática reiterada entre os Estados (Os Estados se comportam desse jeito por
entenderem que estão cumprindo uma norma jurídica).
● O caso concreto mais expressivo é a lex mercatoria.
4. DOUTRINA - secundária
Trabalho interpretativo das principais entidades (international law association, academia
de haia, instituto de DIPR e instituto latino americano de DIPR) em determinada
temática.
● É importante ressaltar que ela não cria uma lei, mas sim a interpreta outras
fontes
5. JURISPRUDÊNCIA - secundária
Decisão reiterada de órgãos colegiados. No caso em questão, serão as decisões das
cortes internas, cortes internacionais e tribunais de arbitragem.
● ex: Suíça em 1987; Corte EDH - não discriminação da aplicação do DIPR para o
etrangeiro e a noção de cooperação jurídica internacional entre os estados.
TRATADOS
Ante a impossibilidade de existência de um Direito Uniforme para todo o
planeta, os Estados têm procurado regular os conflitos de leis estrangeiras no espaço
pela conclusão de tratados internacionais específicos. De fato, tais instrumentos têm
experimentado enorme proliferação nos últimos tempos, versando temas e assuntos dos
mais variados relativos ao DIPr. Sejam bilaterais ou multilaterais, o certo é que os
tratados constituem a fonte internacional mais importante do contemporâneo DIPr.28
A afirmação que se acaba de fazer é curiosa, especialmente pelo fato de atestar
que a fonte internacional mais importante do DIPr provém do Direito Internacional
Público, o que demonstra a primazia deste, enquanto disciplina jurídica, sobre a ciência
do conflito de leis. Nesse sentido está a lição de Luís de Lima Pinheiro, para quem “o
Direito Internacional Privado tem o seu fundamento último no Direito Internacional
Público, especialmente no que toca ao Direito de Conflitos”.29 Essa também é a opinião
de Pontes de Miranda, ao sustentar que a primazia exercida pelo Direito Internacional
Público sobre o Direito interno – por delimitar a competência dos Estados em matéria
legislativa – se estende às normas de DIPr, que igualmente são normas internas.30 De
fato, sendo o DIPr regido, a priori, pelo Direito interno do Estado, iguala-se a qualquer
outra norma interna,31 que se subordina ao Direito Internacional Público em vigor no
país, nos termos do art. 27, primeira parte, da Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados de 1969: “Uma parte não pode invocar disposições de seu direito interno para
justificar o inadimplemento de um tratado”. Daí a constatação de que cada Estado “pode
ditar a extensão espacial das normas do Direito interno de outros Estados, salvo
existindo tratados ou convenções internacionais”.32
Seria impossível listar aqui todos os tratados de relevo para o DIPr brasileiro.
Assim sendo, basta agora saber – devendo o juiz do foro, se necessário, realizar a
investigação respectiva – que vários instrumentos internacionais em vigor no Brasil
estabelecem as conexões necessárias à determinação da lei aplicável nas situações por
eles reguladas. Havendo, então, tratado internacional a regular determinada conexão
(v.g., o domicílio, a nacionalidade ou o lugar da realização do ato), deverá o seu
comando ser levado em conta em detrimento de quaisquer disposições internas em
sentido contrário.
É evidente que, para vigorarem no plano interno, devem os tratados ser
ratificados pelo governo (após referendo do Congresso Nacional) e já estar em vigor no
plano internacional, quando, então, poderão impor novas regras de DIPr aos Estados-
partes, revogando as leis internas que lhe forem contrárias. A autorização parlamentar dá
carta branca ao Presidente da República para ratificar tratados, porém não o obriga a
tanto; é discricionária a ratificação de tratados em nosso sistema jurídico, podendo ou
não ocorrer a partir da aprovação (referendum) do Congresso Nacional.33 Uma vez
ratificados, se já em vigor externo, passam os tratados a operar no Brasil, ampliando a
coleção das normas com vigência interna.
Todo o processo de celebração de tratados vem previsto pela Constituição
Federal de 1988 (arts. 84, VIII, e 49, I) e pela Convenção de Viena sobre o Direito dos
Tratados de 1969. Frise-se, contudo, que segundo a jurisprudência atual do STF a
hierarquia dos tratados comuns (como é o caso dos que versam regras de DIPr) é a
mesma das leis ordinárias.34 Não obstante, à luz da Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados esse entendimento ressente-se de equívoco, pelo fato de não ser
internacionalmente lícito que um Estado invoque disposição de seu Direito interno (a
rigor, qualquer disposição de todo o Direito interno) para justificar o inadimplemento de
um tratado, o que demonstra haver, sim, primazia do Direito Internacional Público sobre
o direito interno estatal.35
Uma fonte convencional importante para o DIPr brasileiro, embora de alcance
limitado, é a Convenção de Direito Internacional Privado (Código Bustamante) de 20 de
fevereiro de 1928,36 elaborada pelo jurista cubano Antonio Sánchez de Bustamante y
Sirvén. Trata-se de um instrumento com 437 artigos, que versa praticamente todas as
questões de DIPr e de direito processual civil internacional, sendo, por isso, considerado
a codificação convencional mais completa existente sobre o DIPr.
Sua aplicação prática, porém, tem encontrado certa dificuldade entre nós, ainda
mais quando se constata que muitas de suas disposições caíram em verdadeiro desuso,
não obstante a qualidade de tratado de que se revestem. Pontes de Miranda, nesse
sentido, afirmava com hostilidade ser o Código de Havana “mero tratado, de quase
nenhuma aplicação”.37 Evidentemente que com a primeira assertiva não se pode
concordar; primeiro, por ser o instrumento codificação exaustiva de DIPr, não “mero
tratado”, e, segundo, porque sendo tratado prevalece sobre a LINDB naquilo em que
houver divergência. Isso é o que nos ensina, aliás, a Convenção de Viena sobre o Direito
dos Tratados de 1969 (art. 27).
Na prática, porém, é verdade que tem operado certo desuso da Convenção de
Havana. Outro problema a ela atinente é que a sua aplicação se restringe tão somente às
relações que envolvem nacionais ou domiciliados em seus pouquíssimos dezesseis
Estados-partes, não às ligadas a nacionais ou domiciliados em terceiros Estados (v.g., na
América do Norte ou em toda a Europa).38
Para as questões de DIPr, v.g., entre Brasil e Chile, Brasil e Equador ou entre
Brasil e Honduras, as disposições da Convenção se aplicam; não, porém, às relativas a
Brasil e Estados Unidos ou a Brasil e qualquer país europeu, como claramente
determina o art. 2º da introdução ao Código de Havana, para o qual as disposições do
Código “não serão aplicáveis senão entre as Repúblicas contratantes e entre os demais
Estados que a ele aderirem”.39 Alguns autores, contudo, como Jürgen Samtleben,
entendem, sem razão, ter o Código Bustamante aplicação universal, é dizer, valor
jurídico também para as relações atinentes a Estados-partes com não partes.40
No Brasil, igualmente, o STF, de forma errônea, já aplicou o mesmo Código em
diversos casos envolvendo países europeus (especialmente em matéria de extradição e
de homologação de sentenças estrangeiras). Em um desses casos, a Corte decidiu que
“[e]mbora Portugal não haja ratificado esse Código, ele foi aprovado por lei no Brasil e
assim o critério por ele fixado, quanto ao conceito de lei de ordem pública e
nacional…”.41 O próprio Código, repita-se, é claro ao afirmar que apenas entre os seus
Estados-partes terá valor jurídico vinculante. Seja como for, como lembra Dolinger,
nada obsta que se invoque o Código a título de doutrina, isto é, como meio auxiliar à
atividade prática do juiz para questões envolvendo nacionais ou domiciliados em
Estados que não o ratificaram.42 Por esse motivo, o Código Bustamante vem
constantemente citado no decorrer deste livro.
Ainda no que tange ao Brasil, merece destaque a Convenção Interamericana
sobre Normas Gerais de Direito Internacional Privado, de 1979, em vigor entre nós
desde 27 de dezembro de 1995 (nos termos do seu art. 14).43 Tal Convenção estabelece,
no art. 1º, que “a determinação da norma jurídica aplicável para reger situações
vinculadas com o direito estrangeiro ficará sujeita ao disposto nesta Convenção e nas
demais convenções internacionais assinadas, ou que venham a ser assinadas no futuro,
em caráter bilateral ou multilateral, pelos Estados Partes”, complementando que apenas
“na falta de norma internacional, os Estados Partes aplicarão as regras de conflito do seu
direito interno”.
Existem, atualmente, inúmeras convenções que versam temas estritos ou
conexos de DIPr, merecendo destaque as convenções internacionais de Direito
Uniforme (v. Cap. I, item 3, supra). Tais convenções, a exemplo das normas internas de
DIPr, estabelecem regras de conexão aplicáveis aos conflitos de leis no espaço com
conexão internacional que regulamentam. Na Europa, têm destaque as convenções da
Haia sobre diversos tipos de conflitos normativos, quer no âmbito do Direito Civil como
no do Direito Comercial
MÉTODO CONFLITUAL
1. determinação da lei aplicável (direito material):
● determinação da jurisdição competente para conhecer e julgar o caso (em
geral, é determinada a partir da vontade da parte);
● qualificar a relação jurídica - qual a natureza jurídica da relação
(“questão prévia”);
● análise da regra de conexão - inicialmente, sempre será a norma indireta
do juízo competente;
● elemento ou objeto de conexão
Hipótese e disposição
Como se vê, a norma indicativa ou indireta apresenta sempre uma hipótese e
uma disposição. Tome-se, como exemplo, o art. 10, caput, da LINDB, segundo o qual “a
sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto
ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens”. Nesse caso, o
fato da morte ou ausência é a hipótese normativa, eis que dele poderão decorrer
inúmeras consequências jurídicas, pois o de cujus terá deixado herdeiros, bens, dívidas
etc. A disposição da norma, por sua vez, indica que tais fatos (morte ou ausência) serão
regulados pela lei do domicílio do falecido ou do desaparecido, que poderá ser uma lei
nacional ou estrangeira.8
Diferentemente, porém, do direito comum, que visa solucionar (materialmente) a
questão jurídica concreta, no DIPr a norma respectiva apenas indica a ordem jurídica
adequada à sua resolução. Ademais, enquanto no direito comum há uma hipótese e uma
consequência jurídica com o efeito de obrigar, proibir ou permitir algo, como é, v.g., a
pena (consequência) para o cometimento de um crime (hipótese), no DIPr há uma
hipótese (morte, ausência, obrigação, casamento etc.) e uma disposição, que não obriga,
proíbe ou permite algo, senão apenas faz subordinar o fato geral por ela previsto (morte,
ausência, obrigação, casamento etc.) a um certo ordenamento jurídico.9
QUALIFICAÇÃO
Retomando: escolha da lei aplicável à relação jurídica com elemento estrangeiro:
1. determinação do juízo que pode conhecer a causa - essa determinação é feita
através da jurisdição, que pode ocorrer de forma concorrente ou exclusiva
(nesses casos a parte não tem autonomia de escolher). Na maior parte dos
casos, é uma premissa particular da parte.
2. o juiz vai qualificar a relação jurídica - necessariamente o juiz precisa
qualificar a relação para chegar na lei aplicável e ela será feita em acordo
com o direito civil ou econômico, dependente do caso.
3. O juiz vai aplicar o seu DIPR - o juiz sempre aplica a sua regra de conexão
4. Na regra de conexão, será observado o elemento de conexão, que irá
determinar o direito aplicável. O direito aplicável será material nacional
(Norma direta) quando a teoria do reenvio NÃO É ACEITA e o direito
aplicável será o direito material de outro país, se esse lugar aceitar a teoria do
reenvio.
Tem por finalidade qualificar a relação jurídica privada com elemento estrangeiro
dentro de alguma categoria jurídica.
Essa teoria surge no direito europeu, principalmente no direito francês, onde foi
desenvolvida por Bartin (1897), a partir do caso da sucessão maltês, e alemão nas
teorizações de Franz Kahn (1891).
O processo de qualificação pode acontecer pela lex fori, ou seja, a lei nacional
(1), pela lex causae, lei estrangeira (2) e por tratados assinados pelo DIP (3). A
qualificação pela lei nacional relaciona-se ao fato do juiz que está analisando a relação
concreta irá aplicar o seu direito nacional (material) para qualificar a relação jurídica
com elemento estrangeiro. Por outro lado, a qualificação por intermédio da lei
estrangeira vai partir do pressuposto (que muitas) que será o direito estrangeiro que será
aplicado ao caso concreto. Logo, será o próprio direito estrangeiro que estará apto a
qualificar a relação. Por fim, hoje, o processo de qualificação vem sendo aplicado
através dos tratados, em uma tendência de uniformização do direito civil internacional.
No Brasil, a qualificação é realizada a partir da lex fori, mas a lex causae pode
ser aplicada em casos de direito das obrigações e direito dos bens.
JURISDIÇÃO
Em sentido amplo, é determinado pelo poder de regência de um estado sobre
bens, pessoas e institutos localizados em seu território. Em sentido estrito, pode-se dizer
que é o poder ou atividade típica do poder judiciário. A CIJ define como o exercício da
soberania de um estado.
A importância da jurisdição circunda em torno de dois problemas diferentes: a
escolha do juízo que vai analisar o caso concreto (1) e a escolha do juízo que vai
determinar a lei aplicável (2).
18/05/2023
PASSO A PASSO DO MÉTODO CONFLITUAL
-Passo 1: A determinação da lei aplicável:
1. Determinação da JURISDIÇÃO COMPETENTE;
2. Qualificar a relação jurídica com elemento estrangeiro (isto é, ver em qual
natureza jurídica está a relação – como no caso do marido morrer, a mulher e os
bens é caso de direito sucessório ou matrimonial, de separação de bens?). Essa
qualificação se dá a partir dos institutos do direito civil. Natureza jurídica é a
qualificação do instituto para o direito.
3. Juízo estrangeiro vai analisar a REGRA DE CONEXÃO. A regra de conexão,
inicialmente, sempre será a da jurisdição NACIONAL competente, e não a do
juízo estrangeiro (o juízo aplica primeiramente a sua regra de conexão). A regra
de conexão brasileira é a LINDB. Alguns países possuem a teoria do reenvio,
que estabelece que depois da regra de conexão do juízo nacional, vai para a
regra de conexão do país estrangeiro, e não direto para o seu direito material.
Exemplo: Priscilla é japonesa e mora na China, e quer mudar seu nome. A lei de
introdução ao Código chinês estabelece a aplicação do direito de nacionalidade, nesse
caso o japonês. No Japão, aplica-se a teoria do reenvio, que estabelece que após a regra
de conexão da China estabelecer que se aplica o direito japonês, deve-se olhar a regra de
conexão do Japão para ver o que essa estabelece. Não vai direto para a aplicação do
direito material japonês.
4. ELEMENTO/OBJETO DE CONEXÃO: irá determinar qual direito será
aplicável. Procura-se o elemento de conexão dentro da regra de conexão.
Exemplo: regra do domicílio, regra da nacionalidade. Para a América como um
todo, o elemento de conexão mais importante será o domicílio, já para a Europa,
é a nacionalidade. Isso ocorre porque o colonizador valoriza mais a
nacionalidade, a aplicação de sua lei em qualquer lugar do mundo onde o
europeu estiver. Já o colonizado valoriza mais o domicílio, o território, devido à
grande miscigenação. Problemas da regra da nacionalidade são a questão dos
apátridas, das pessoas com dupla ou tripla nacionalidade, dos refugiados, etc.
Art. 12 da Convenção de Proteção dos Apátridas: uma vez que a pessoa não tem
nacionalidade, aplica-se a lei do domicílio.
· A Teoria Geral dos Elementos de Conexão foi desenvolvida por Savigny:
-Lei do domicílio/nacionalidade: estatuto pessoal (questão do nome, direito de família,
personalidade), casamento;
-Lei do Lugar da Situação da coisa: direitos reais (direito de propriedade, direito de
posse- onde está o bem é que vai reger).
-Lei do Local da Execução: validade do contrato (forma e execução), reger as regras de
execução.
-Lei do Local do Ato (assinatura de contrato): direito das obrigações (conteúdo do
contrato). Pela teoria, duas leis poderiam reger o mesmo contrato, por isso o Brasil
altera essa ideia, no Brasil tudo é lei do local do ato, não se aplica lei da execução.
-Lex Fori: rege as regras da jurisdição de um Estado, isto é, as regras de processamento
e instâncias do Poder Judiciário. Sempre trabalha com regras de conexão
UNILATERAIS, principalmente porque trata de assuntos ligados à SOBERNIA do
Estado. A Lex Fori é a lei do foro, isto é, lei nacional. O antônimo de Lex Fori é a Lex
Causae, que significa lei alienígena ou lei estrangeira.
-Conflitos das normas de DIPRI no espaço:
Estados possuem regras de conexão diferentes, com elementos de conexão diferentes
(exemplo: um Estado adota a regra do domicílio e outro da nacionalidade).
a. Conflitos de 1º grau X conflitos de 2º grau:
· 1º grau: conflitos de normas de direito material
· 2º grau: pressupõe os conflitos de 1º grau, são os conflitos entre as REGRAS DE
CONEXÃO dos Estados, entre os elementos de conexão. Uma das
possibilidades de ocorrência é a TEORIA DO REENVIO.
Há 2 tipos de conflitos de 2º grau:
-CONFLITO ESPACIAL POSITIVO: cada uma das normas de conexão escolhe aplicar
o seu próprio direito nacional. Exemplo é se português domiciliado no Brasil deseja
discutir seu estatuto pessoal. No Brasil, aplica-se a regra do domicílio. No juízo
português, aplica-se a regra da nacionalidade. O português terá que ver qual dos juízos o
beneficiaria mais. Princípio “PRO HOMINE” é a solução para conflitos espaciais
positivos, que estabelece que se aplica a lei material que traga maior consolidação de
DIREITOS HUMANOS.
-CONFLITO ESPACIAL NEGATIVO: abster-se da aplicação do seu próprio
ordenamento nacional para resolver a relação jurídica privada com elemento
estrangeiro. Exemplo é para um brasileiro domiciliado na Itália, a regra para estatuto
pessoal no direito brasileiro é o domicílio, então se aplica o direito italiano. Entretanto,
na Itália, a regra de conexão é a da nacionalidade, portanto se aplica o direito brasileiro.
A solução para essa questão é a TEORIA DO REENVIO.
01/06/2023
-Teoria do REENVIO:
A teoria do reenvio estabelece que se limita ao reenvio a abstenção de aplicação de um
determinado direito para solução do conflito espacial negativo. Ou seja, o reenvio só
pode ocorrer uma vez, sendo proibido o re-reenvio.
· Reenvio de 1º grau: é quando a regra de conexão do país A manda aplicar a lei
do país B, e a lei de conexão do país B manda aplicar o direito do país A.
Lembrando que o processo NÃO sai do juízo do país A, apenas se analisam as
leis do país B.
· Reenvio de 2º grau: é quando a regra de conexão do país A manda aplicar a lei
do país B, e a regra de conexão do país B manda aplicar do país C.
O Brasil, segundo art. 16 da LINDB, não admite o reenvio.
Origem histórica da teoria do reenvio- caso FORGO (1882): Forgo era um cidadão da
antiga Bavária, mas era domiciliado na França, onde ficou muito rico. Foi na França
que, sem herdeiros, veio a falecer. Ele possuía alguns tios que tentaram fazer um
processo sucessório, no juízo francês, para requerer a herança. A regra de conexão da
França mandava aplicar a lei do domicílio, ou seja, a lei francesa. Entretanto, na época,
para se ter domicílio na França, era necessário um decreto do governo francês, o qual
Forgo não possuía. Aos olhos do direito francês, Forgo era domiciliado na Bavária, e,
portanto, o caso foi enviado para a Bavária. A lei da Bavária mandava aplicar a lei do
domicílio habitual, ou seja, a da França, e logo a Bavária reenviou o caso para a França.
Assim, para evitar que se ficasse em um eterno vai e vem, surgiu a teoria do reenvio.
Acabou por ser aplicada a lei francesa.
Pressupostos do reenvio:
· O DIPRI do Estado tem que admitir o reenvio;
· A regra de conflito deve ser bilateral em ambos os Estados (pois regra unilateral
não envia para outro Estado);
· A regra de conflito do Estado tem que resultar na aplicação do direito
estrangeiro (pois se resultar na aplicação do direito nacional, não há envio);
· O elemento de conexão da lei estrangeira tem que ser diferente do da lei
nacional (caso contrário não há conflito, e logo, reenvio).
PRÓXIMOS PASSOS
-Determinação do juízo:
Pode ser por juízo CONCORRENTE (a parte escolhe) ou juízo EXCLUSIVO (a parte
não escolhe).
-Passos para identificação do direito aplicável- passo 2- qualificação da natureza
jurídica:
Determinação de qual âmbito jurídico a relação está situada, isto é, em qual livro do
direito civil (estatuto pessoal, obrigações, família...). É o estudo do direito civil e do
direito econômico que vai determinar.
Quem desenvolveu o passo 2 foi Kahn (na Alemanha, em 1891) e Bartin (na França, em
1897). O direito que mais desenvolveu a teoria do direito internacional privado foi o
FRANCÊS (é um direito predominantemente europeu, com umas “pinceladas” latino-
americanas).
Processo de qualificação:
· Ou pela LEX FORI (lei nacional): juiz que está decidindo o caso concreto
aplicará o seu direito nacional (material) para qualificar a relação jurídica.
· Ou pela LEX CAUSAE (lei estrangeira): juiz vai qualificar a relação segundo o
direito estrangeiro (artifício artificial do juízo, quando ele imagina que a lei
aplicada vai ser a estrangeira, de qualificar a relação também segundo a lei
estrangeira- o juiz pula etapas para depois voltar, há um certo ativismo judicial,
não havendo segurança jurídica). O juiz, assim, parte do pressuposto de que o
direito estrangeiro será o aplicável ao caso concreto, e, portanto, será o apto a
qualificar a relação. O pressuposto pode ser um pressuposto errado, da própria
cabeça do juízo. A lex causae não é aplicada na maior parte dos casos, pois é
muito problemático.
· Ou por tratados de DIP: devido a um movimento crescente contemporâneo de
construção do direito civil internacional, tem-se a possibilidade de qualificar a
relação pela uniformização do direito civil por tratados (como no caso de
sequestro internacional de crianças).
-Passo 3: aplicação da regra de conexão:
Em um primeiro momento, o juízo sempre vai aplicar a regra de conexão da “lex fori”,
isto é, SUA PRÓPRIA regra de conexão.
-Passo 4: observar o elemento de conexão
-Passo 5: direito material aplicável
No caso brasileiro, vai chegar na norma material aplicável, isto é, na norma direta, pois
não se aceita a teoria do reenvio.
Já em outros países, que aceitam a aplicação da teoria do reenvio, vai chegar na norma
indireta.
15/06/2023
JURISDIÇÃO
-Conceito:
Jurisdição em sentido amplo: jurisdição é o poder de regência de um Estado sobre bens,
pessoas e institutos localizados em seu território (isto é, o Estado poder fazer valer o
direito em seu território). Vem da ideia do Estado dizer duplamente o direito, pois
quando o direito material falha, o Estado tem o poder de fazê-lo valer por meio do
processo (jurisdição).
Jurisdição em sentido estrito: é o poder/atividade típica do poder judiciário, isto é,
resolver casos concretos/aplicar o direito. Jurisdição não é sinônimo de poder judiciário,
é sinônimo da ATUAÇÃO do Poder Judiciário (Poder Judiciário é o instituto, a
atividade é jurisdição).
Jurisdição segundo a Corte Internacional de Justiça (CIJ): Jurisdição é o exercício da
soberania de um Estado.
-Escolha da jurisdição:
Geralmente, mais de uma jurisdição tem competência para analisar o caso concreto.
Pode haver DOIS OU MAIS juízos prolatando sentença sobre a mesma relação jurídica
com elemento estrangeiro. Com isso, pode haver uma jurisdição abusiva, um
oportunismo das partes (exemplo disso é o acidente da Gol no qual um avião caiu no
Mato Grosso e matou muitas pessoas. O acidente foi provocado por um jato Legacy
estadunidense que passou em baixo do avião. A jurisdição mais lógica é a brasileira,
mas alguns parentes de vítimas brasileiras entraram no juízo estadunidense, que possui
vínculo mais fraco, devido a maior rapidez e às maiores indenizações. Isso é um
exemplo de jurisdição abusiva. Os EUA, entretanto, fecharam as portas e mandaram
ingressar no juízo brasileiro).
-Limites do poder judiciário:
O DIP ajudou o DIPRI a estabelecer limites a escolha da jurisdição, para combater o uso
de jurisdição abusiva.
A regra geral é o PRINCÍPIO DA TERRITORIALIDADE: se o fato ocorreu em
determinado Estado, será o juízo daquele Estado o competente para julgar a demanda.
A exceção é o PRINCÍPIO DA EXTRATERRITORIALIDADE: quando o caso ocorre
em determinado Estado, mas o juízo de outro Estado está apto a julgar o caso. Isso se dá
por vínculo mais fraco ou mais forte (nacionalidade, por exemplo). Exemplo é o caso da
Mercedes-Benz, empresa alemã, que ocorreu na Argentina, mas foi julgado nos EUA
(maior mercado comprador de Mercedes do mundo).
Novidade: jurisdição universal (como o caso Pinochet).
22/06/2023
FALTA PEGAR
29/06/2023
-2º Caso: Damler-Mercedes-Benz: Durante a ditadura na Argentina, a
Mercedes-Benz começou a denunciar seus funcionários que eram abertamente
contrários ao regime ditatorial argentino para o governo, que, com o aval da empresa,
começou a persegui-los (casos de sequestros e assassinatos). Os familiares das vítimas
começaram a tentar ingressar na jurisdição da Alemanha (pois na Argentina não
adiantava, havia ditadura), mas a Alemanha, devido ao Tratado de Versalhes, não
possuía competência para conhecer o caso. Assim, na falta de alternativas, os familiares
ingressaram na jurisdição dos Estados Unidos, o maior comprador de Mercedes-Benz
do mundo. O vínculo da jurisdição estadunidense era extremamente fraco, por isso os
EUA negaram o caso mais de uma vez. A própria Mercedes-Benz começou a perceber
que teria sua imagem manchada quando caíssem os regimes ditatoriais, e alegou para os
EUA que não haveria prejuízo para sua defesa se o caso fosse lá julgado. Os EUA então
conheceram a demanda, para também não manchar sua imagem de defensor da
democracia.
-Jurisdição do Brasil:
Normas processuais e normas indiretas.
Previsão nos Arts. 21 e 55 do CPC mais art. 12 da LINDB.
O Brasil prevê 2 tipos de jurisdição:
· Jurisdição CONCORRENTE/RELATIVA: O Brasil admite que outros Estados
julguem e conheçam a demanda. Pode levar a decisões conflitantes, que serão
resolvidas pela modificação da jurisdição. A maioria dos casos brasileiros
admitem a jurisdição concorrente.
· Jurisdição ABSOLUTA/EXCLUSIVA: O Brasil não permite que outros Poderes
Judiciários conheçam e julguem a demanda, sob pena de não homologar a
decisão no seu território (se outro poder julgar a demanda, a sentença estrangeira
não poderá ser executada no Brasil- não será nem conhecida).
03/08/2023
JURISDIÇÃO- A DOUTRINA DO FORUM “NON CONVENIENS”
-Justiça de Necessidade vs. Justiça de Conveniência:
Justiça de necessidade X justiça de conveniência (menor vínculo). Na justiça de
conveniência, o autor vai buscar o menor vínculo não devido à necessidade, mas porque
vai entender que o fórum de menor vínculo vai ser prejudicial para a defesa do réu. No
caso da justiça de necessidade, o autor vai também buscar a justiça de menor vínculo,
mas não para prejudicar o réu, e sim porque ele PRECISA, porque a de maior vínculo
não está apta (é para concretizar direitos humanos).
Ambas vêm da ideia de fórum SHOPPING (escolha da jurisdição).
A ideia do fórum non conveniens é a de um instrumento para acabar com a
justiça de conveniência. É utilizado pelos EUA, Reino Unido e Nova Zelândia. Não é
usado no Brasil, pois o Brasil não entende a ideia de justiça de conveniência (há um
certo medo do juiz de deixar de julgar um caso, mesmo com o vínculo frágil). Os juízes
brasileiros não sabem, na prática, o que é direito internacional privado e justiça de
conveniência (para eles, simplesmente não é possível se abster de julgar).
10/08/2023
TRATADOS EM MATÉRIA CÍVEL
-Sequestro Internacional de Crianças:
Em inglês, vem de abduction, que não significa sequestro, mas sim subtração.
Para se caracterizar o abduction, tem que ser feita ou a removal (remoção), ou a
retention (retenção).
· Removal: retirar a criança de seu país de residência habitual, sem o
consentimento da outra pessoa que detém a guarda.
· Retention: a criança tem autorização para deixar o seu país de residência
habitual, porém, fica mais tempo que o devido e acaba prejudicando os direitos
de guarda ou de visita de outros (exemplo: pais com guarda compartilhada, um
deles retira a criança do país de origem, com autorização de um mês, mas fica
fora por mais tempo, prejudicando a guarda do outro).
O sequestro, aqui, não tem nada de criminal. Não há criminalização, os objetivos
centrais dessa convenção são: a proteção do menor e o RETORNO IMEDIATO da
criança para seu país de residência habitual, fazendo valer os direitos de guarda e de
visita do menor. Aqui, no entanto, não se discute o direito de guarda e visita em si.
Assim, o objetivo da convenção NÃO É a criminalização do subtraente, tanto
que tenta conciliar e permitir que o subtraente continue tendo seus direitos de guarda e
visita da criança. Portanto, o subtraente é necessariamente alguém que detém algum
direito de GUARDA E/OU VISITA DA CRIANÇA (por isso não é sequestro, e nem
Direito Penal. Se fosse alguém sem nenhum direito em relação a criança, seria sequestro
propriamente dito, e, logo, crime).
Especificidades da convenção:
· Válida somente para MENORES, visando a garantia de permanência em seu
núcleo (0 a 18 anos). Para menores de 0 a 12 anos, a vontade é desconsiderada;
para menores de 12 a 14 anos, ela é considerada; para maiores de 14 anos, pode
ser até determinante.
· A convenção determinou a figura das AUTORIDADES CENTRAIS, para
garantir o retorno da criança ao país de residência. Todos os países signatários
terão uma autoridade central, geralmente vinculada ao poder executivo. No
Brasil, é a ACAF (Autoridade Central Administrativa Federal- ligada ao
Ministério da Justiça). Quando o subtraente leva a criança, o outro detentor da
guarda entra em contato com a autoridade central de seu país, a qual entrará em
contato com a autoridade central do país onde se encontram o subtraente e a
criança. Assim, as autoridades centrais garantem celeridade na busca e apreensão
da criança, isto é, maior RAPIDEZ em relação ao que levaria o Poder Judiciário.
· ACAF: se a criança está no Brasil, chegará para a ACAF um pedido, vindo de
outro Estado, para que a ACAF realize a busca e apreensão da criança. A ACAF
abrirá então um processo administrativo, único e exclusivamente para que se
possa chegar a um acordo que possibilitará o retorno imediato da criança. O
subtraente não precisa nem de advogado. Se sair o acordo, a criança retorna e o
processo se encerra. Entretanto, se não houver acordo, a Advocacia Geral da
União (AGU-não representa a parte que quer o retorno. Representa os interesses
da UNIÃO, que quer fazer valer o tratado) vai abrir um processo contra o
subtraente na JUSTIÇA FEDERAL. Nesse caso, o subtraente vai precisar de um
advogado, e haverá um processo normal, com pedido de LIMINAR VISANDO
O RETORNO IMEDIATO DA CRIANÇA. A justiça federal vai decidir, no
processo, se retorna ou não a criança. Depois que a AGU começa a atuar, a
ACAF sai de cena, continua somente prestando informações.
Exceções:
· Se o país de residência oficial da criança está em ebulição social ou em situação
de guerra, a criança não está obrigada a ter seu retorno imediato (exemplo:
Síria).
· Se a pessoa que requereu o retorno imediato da criança mudou seu país se
residência habitual, tem o retorno da criança, mas não para o seu país de
residência habitual (vai para a nova residência).
· Há países que aplicam a hipótese de violência doméstica contra a mulher (mãe
provavelmente) como razão para o não retorno imediato da criança.
QUALIFICAÇÃO
Retomando: escolha da lei aplicável à relação jurídica com elemento estrangeiro:
1. determinação do juízo que pode conhecer a causa - essa determinação é feita
através da jurisdição, que pode ocorrer de forma concorrente ou exclusiva
(nesses casos a parte não tem autonomia de escolher). Na maior parte dos casos,
é uma premissa particular da parte.
2. o juiz vai qualificar a relação jurídica - necessariamente o juiz precisa
qualificar a relação para chegar na lei aplicável e ela será feita em acordo com o
direito civil ou econômico, dependente do caso.
3. O juiz vai aplicar o seu DIPR - o juiz sempre aplica a sua regra de conexão
4. Na regra de conexão, será observado o elemento de conexão, que irá determinar
o direito aplicável. O direito aplicável será material nacional (Norma direta)
quando a teoria do reenvio NÃO É ACEITA e o direito aplicável será o direito
material de outro país, se esse lugar aceitar a teoria do reenvio.
Tem por finalidade qualificar a relação jurídica privada com elemento estrangeiro
dentro de alguma categoria jurídica.
Essa teoria surge no direito europeu, principalmente no direito francês, onde foi
desenvolvida por Bartin (1897), a partir do caso da sucessão maltês, e alemão nas
teorizações de Franz Kahn (1891). O processo de qualificação pode acontecer pela lex
fori, ou seja, a lei nacional (1), pela lex causae, lei estrangeira (2) e por tratados
assinados pelo DIP (3). A qualificação pela lei nacional relaciona-se ao fato do juiz que
está analisando a relação concreta irá aplicar o seu direito nacional (material) para
qualificar a relação jurídica com elemento estrangeiro. Por outro lado, a qualificação por
intermédio da lei estrangeira vai partir do pressuposto (que muitas) que será o direito
estrangeiro que será aplicado ao caso concreto. Logo, será o próprio direito estrangeiro
que estará apto a qualificar a relação. Por fim, hoje, o processo de qualificação vem
sendo aplicado através dos tratados, em uma tendência de uniformização do direito civil
internacional.
No Brasil, a qualificação é realizada a partir da lex fori, mas a lex causae pode ser
aplicada em casos de direito das obrigações e direito dos bens.
JURISDIÇÃO
a.nacionalidade;
b. domicílio;
c.local da constituição da obrigação ou local onde a obrigação será
executada;
d. onde se dá a celebração do ato.
É quando a parte autora escolhe a jurisdição com o vínculo mais fraco para se valer de
uma jurisdição conveniente para ela própria. Como consequências temos: (1) o “fórum
shopping” - quando a parte autora decide entrar no poder judiciário que mais lhe
convém, ainda que seja a partir de um vínculo mais falho - e (2) a dificuldade do réu em
exercer o seu devido processo legal.
1. caso inglês das ilhas tobago 1.3- justiça de necessidade
A determinação da jurisdição no brasil vai ocorrer por meio de normas processuais (art.
21 e seguintes do CPC) e normas indiretas (art. 12 da LINDB). A jurisdição no Brasil
pode ser (1) concorrente ou (2) absoluta/exclusiva.
A juris relativa ou concorrente é aquela em que o Brasil admite que outros Estados
possam julgar a demanda concorrentemente. Ainda que eu tenha uma concorrência, o
dipr vai utilizar a modificação da jurisdição para evitar a diferença de decisões para o
mesmo caso.
Diferentemente, a juris absoluta ou exclusiva, é aquela que o Brasil permite apenas que
a competência nacional tenha conhecimento da causa, sob a pena de não permitir que a
sentença estrangeira seja homologada no país, impossibilitando sua execução.
Nesse sentido, o brasil determina hipóteses de competência:
a. HIPÓTESES DE JURISDIÇÃO RELATIVA OU CONCORRENTE:
c. MODIFICAÇÃO DE JURISDIÇÃO:
Elemento que traz segurança jurídica para a jurisdição concorrente. De acordo com a
doutrina, a modificação de jurisdição ocasionou o declínio de uma das jurisdições
concorrentes (“uma vai perder a concorrência”).
isso ocorre nas seguintes hipóteses:
13. juízo prevento vai derrogar a outra jurisdição (essa é a hipótese brasileira);
14. hipótese a força do vínculo (EUA, RU e nova zelândia) - essa hipótese vai gerar
a doutrina do “forum non convenience”, não adotada no Brasil;
Visa assegurar o pagamento da pensão alimentícia de forma mais célere, tal como a
convenção de Nova York.
A diferença está no fato de que ela é aplicável a qualquer membro da família. Portanto,
aplica-se a menores de 21 anos, maiores que continuem dependentes e relações
matrimoniais. Como dito anteriormente, a convenção de Nova York continua sendo
aplicada naquilo que não for contrária (ou seja, a cooperação jurídica a partir das duas
figuras).
Cumpre salientar, que originalmente, esse tópico não fala sobre sequestro, mas sobre a
subtração de crianças, que corresponde a duas perspectivas: o “removal” (remoção) e
“retention” (retenção). Quando falamos em removal, fala-se em retirar a criança de seu
país de residência habitual sem o consentimento do outro genitor (ou outra pessoa que
detém a guarda). Diferentemente, a retenção ocorre quando existe a autorização para
que a criança saia do país de residência habitual, mas a saída demora mais que o
combinado, prejudicando o exercício da guarda ou de visita da outra parte. Portanto,
sequestro é um termo indevido por fazer alusão à criminalidade. O abduction refere-se a
um aspecto cível, não criminalizado.
1. objetivos:
2. especificidades:
1. objetivos: Em relação à proteção da criança, são dois: (1) fazer valer os direitos
fundamentais do menor e (2) garantir uma rede de cooperação entre os Estados
signatários para fazer valer o exercício dos direitos fundamentais do menor (3)
reconhecimento automático da adoção internacional pelos Estados contratantes.
A sentença final de um processo de adoção se chama certificado de adoção, o
reconhecimento automático permite a dispensa para o processo de homologação de
sentença estrangeira.
2. aplicação: aplicada para menores de 0 a 21 anos
3. principais pontos: A convenção não trabalha com conflito de leis, mas o
elemento de conexão para que a convenção seja aplicável é o fato de o adotando
ter residência habitual em um Estado signatário.
4. certificado de adoção: dispensa de homologação (prevista no art. 960, 2°, do
CPC)
3. tráfico humano
Foi organizado em 2003 durante a Convenção das Nações Unidas para o combate do
crime organizado transnacional, complementada pelo protocolo adicional em relação ao
tráfico internacional de mulheres e crianças (“protocolo de Palermo”).