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Direito internacional privado

Aula 1: Objeto e elementos de conexão


Normas de DIPr
• São adjetivas, indiretas, meramente indicativas; também chamadas de
normas de “sobredireito” (P. H. Portela).

• São aplicáveis quando, em uma questão privada, há um elemento


estrangeiro, uma conexão internacional, um conflito de leis no espaço.

• Ela indicam qual a lei aplicável e qual a jurisdição competente (lex fori)
competente para decidir a questão principal. Existem normas de DIPr que,
excepcionalmente, definem se outra norma indicativa pode ser aplicada e
como pode sê-lo (ex.: dívida contraída em cassinos no estrangeiro).
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO MONITÓRIA. COBRANÇA. DÍVIDA DE JOGO. CASSINO NORTE-
AMERICANO. POSSIBILIDADE. ART. 9º DA LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO.
EQUIVALÊNCIA. DIREITO NACIONAL E ESTRANGEIRO. OFENSA À ORDEM PÚBLICA. INEXISTÊNCIA.
ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. VEDAÇÃO. TRIBUNAL ESTADUAL. ÓRGÃO INTERNO. INCOMPETÊNCIA. NORMAS
ESTADUAIS. NÃO CONHECIMENTO. PRESCRIÇÃO. SÚMULA Nº 83/STJ. CERCEAMENTO DE DEFESA. OCORRÊNCIA.
1. Na presente demanda está sendo cobrada obrigação constituída integralmente nos Estados Unidos da América,
mais especificamente no Estado de Nevada, razão pela qual deve ser aplicada, no que concerne ao direito material,
a lei estrangeira (art. 9º, caput, LINDB).
2. Ordem pública é um conceito mutável, atrelado à moral e a ordem jurídica vigente em dado momento
histórico. Não se trata de uma noção estanque, mas de um critério que deve ser revisto conforme a evolução da
sociedade.
3. Na hipótese, não há vedação para a cobrança de dívida de jogo, pois existe equivalência entre a lei estrangeira e
o direito brasileiro, já que ambos permitem determinados jogos de azar, supervisionados pelo Estado, sendo
quanto a esses, admitida a cobrança.
4. O Código Civil atual veda expressamente o enriquecimento sem causa. Assim, a matéria relativa à ofensa da
ordem pública deve ser revisitada sob as luzes dos princípios que regem as obrigações na ordem
contemporânea, isto é, a boa-fé e a vedação do enriquecimento sem causa.
5. Aquele que visita país estrangeiro, usufrui de sua hospitalidade e contrai livremente obrigações lícitas, não pode
retornar a seu país de origem buscando a impunidade civil. A lesão à boa-fé de terceiro é patente, bem como o
enriquecimento sem causa, motivos esses capazes de contrariar a ordem pública e os bons costumes. [...]
(STJ, REsp n. 1.628.974/SP, relator Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 13/6/2017, DJe
de 25/8/2017)
Objeto e elementos de conexão
• Objeto: matéria de que trata a questão principal (personalidade,
obrigações, contratos, casamento, sucessão etc.).
• Elemento de conexão: “é o critério que determina o Direito nacional
aplicável à matéria” (P. H. Portela).

Ex.: “Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as


regras sobre o começo e o fim da personalidade, o nome, a
capacidade e os direitos de família”.
- Elemento de conexão: lex loci domicilii.
Elementos de conexão
Conforme Gustavo Bregalda:
- Pessoais (nacionalidade, domicílio)
- Reais (localização do bem)
- Conducistas (local de celebração/execução do
contrato)
Estatuto pessoal
Relacionado ao estado civil:
- Político: Nacionalidade/naturalidade;
- Familiar: Parentesco/casamento
- Individual: Sexo, Idade e Capacidade
XXXVIII EXAME DO ORDEM
UNIFICADO (aplicada em 27/07/2023)
Questão 21)
O cidadão francês Pierre Renoir, residente e domiciliado em Portugal, foi
casado com uma espanhola, com quem teve dois filhos nascidos na
Alemanha. Pierre faleceu em 2022 e deixou como herança um
apartamento no Brasil, onde viveu durante a fase universitária.
Nesta hipótese, à sucessão do bem será aplicada a lei
(A) francesa.
(B) portuguesa.
(C) brasileira.
(D) alemã.
XXXVI EXAME DE ORDEM
UNIFICADO (aplicada em 23/10/2022)
Questão 21)
Um brasileiro, casado com uma espanhola, faleceu durante uma
viagem de negócios a Paris. O casal tinha dois filhos nascidos na
Espanha e era domiciliado em Portugal. Ele deixou bens no Brasil.
Assinale a opção que indica a lei que regulará a sucessão por morte.
A) A brasileira.
B) A espanhola.
C) A francesa.
D) A portuguesa.
(REsp n. 1.362.400/SP, rel. Ministro Marco
Aurélio Bellizze, 3a Turma, DJe de 5/6/2015.)
1. A lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (LINDB) elegeu o domicílio
como relevante regra de conexão para solver conflitos decorrentes de situações
jurídicas relacionadas a mais de um sistema legal (conflitos de leis interespaciais),
porquanto consistente na própria sede jurídica do indivíduo. Em que pese a
prevalência da lei do domicílio do indivíduo para regular as suas relações jurídicas
pessoais, conforme preceitua a LINDB, esta regra de conexão não é absoluta.
1.2 Especificamente à lei regente da sucessão, pode-se assentar, de igual modo, que o
art. 10 da LINDB, ao estabelecer a lei do domicílio do autor da herança para regê-la,
não assume caráter absoluto. A conformação do direito internacional privado exige a
ponderação de outros elementos de conectividade que deverão, a depender da
situação, prevalecer sobre a lei de domicílio do de cujus. Na espécie, destacam-se a
situação da coisa e a própria vontade da autora da herança ao outorgar testamento,
elegendo, quanto ao bem sito no exterior, reflexamente a lei de regência.
Reenvio (ou retorno ou devolução)
• Reenvio de 1° grau: retorna ao ordenamento jurídico
do Estado A;

• Reenvio de 2° grau: reenvia-se ao ordenamento


jurídico de um terceiro Estado.

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