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2 DESENVOLVIMENTO
O juiz brasileiro deve, de lege lata, em princípio, aplicar o direito estrangeiro
de ofício. Com efeito, se não for adotada tal regra no processo, as normas de
direito internacional privado, designativas do direito aplicável, qualificar-se-
iam como imperfeitas, o que na realidade não é o caso. O próprio direito
internacional privado não faz restrições à aplicação do direito estrangeiro e
não o discrimina em relação ao direito interno. Se o juiz não for obrigado a
aplicar o direito estrangeiro de ofício, torna-se incerto se o direito, designado
pelas normas do direito internacional privado, será de fato aplicado no
processo. Não existe nenhuma garantia, neste caso, de que a norma do direito
internacional privado será aplicada como ela própria ordena, razão pela qual
incumbe ao próprio juiz tomar iniciativa de aplicar o direito estrangeiro ao
processo.
Na imensa maioria dos casos, apenas uma ordem jurídica rege os fatos e atos
jurídicos em um determinado local. Por exemplo, um contrato celebrado em
São Paulo, Brasil, provavelmente terá sido assinado por brasileiros residentes
no Brasil, e seus efeitos serão produzidos em território brasileiro, razão pela
qual ele é regido pela lei brasileira. Mas ocorre às vezes que um fato ou ato
jurídico (no exemplo, o contrato) tem relação com mais de uma ordem
jurídica. Ainda no mesmo exemplo, seria o caso de um contrato assinado entre
um brasileiro e um escocês, ou destinado a produzir efeitos no estado da
Califórnia, Estados Unidos.
Os fatos e atos jurídicos são regidos pela lei do local de sua ocorrência ou pela
da escolha das partes.
Lex loci actus e locus regit actus: lei do local da realização do ato jurídico;
Lex loci solutionis: lei do local onde a obrigação ou o contrato deve ser
cumprido;
Lex loci delicti: lei do lugar onde o ato ilícito foi cometido;
Lex loci executionis: lei do local onde se procede à execução forçada de uma
obrigação;
Dentre os elementos de conexão acima, cada país escolhe os que melhor lhes
convêm para compor o direito internacional privado nacional. Por exemplo, o
direito internacional privado brasileiro elegeu a lex domicilii para reger o
começo e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de
família; outros países preferem a lex patriae. O Brasil emprega a lex rei sitae
para reger os bens; outros Estados podem recorrer à mobilia sequuntur
personam.
Tais normas, em regra, são qualificadas como de ordem pública. Assim sendo,
a discriminação do estrangeiro frente ao nacional pode fundar-se somente em
motivos de interesse público.
Observa-se, porém, que as leis, os atos e as sentenças de outro país não terão
eficácia no Brasil quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e
os bons costumes (art.17 da LINDB).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Direito Internacional Privado tem por objetivo maior estabelecer, em razão
do elemento de conexão, as regras e os princípios para a extraterritorialidade
da lei, razão pela qual ele irá definir, em diversas situações, se a legislação a
ser aplicada em determinada relação jurídica é a legislação nacional ou a
estrangeira.
4 REFERÊNCIAS
DINIZ, Maria Helena, Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro
Interpretada, Ed. Saraiva, 2ª edição, 1996.
DOLINGER, Jacob, Direito Internacional Privado (Parte Geral), Ed.
Renovar, 2ª ed., 1993.
FRIEDRICH, Tatyana Scheila, Normas Imperativas de Direito
Internacional Privado - lois de police, Ed. Forum, 2007.
MACHADO, João Baptista, Lições de Direito Internacional Privado, 3.ª
Edição, Coimbra, 2002.
OLIVEIRA, Luiz Andrade. Aplicação do Direito estrangeiro no
processo. In:______. Princípios gerais de Direito Processual Civil
internacional. Disponível em: . Acesso em: 03 fev. 2018.
RAMOS, Rui Moura, The private international law rules of the new
Special Administrative Region of Macau of the People's Republic of
China, Louisiana Law Review, 2000, 1281 ss.
TENÓRIO, Oscar, Direito Internacional Privado, 11a ed., Freitas Bastos,
1976.
VALLADÃO, Haroldo, Direito Internacional Privado, v. 1, Ed. Freitas
Bastos, 4ª ed., 1974.