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Caderno de Direito Internacional Privado


Ana Carolina Guimarães Machado

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Prof. Renata Furtado Barros


renatabarrospucminas@gmail.com

Plano de ensino
1) Introdução ao DIPriv
● Conceito
● Objeto
● Institutos
2) Conflitos de leis no espaço - elementos de conexão
3) Aplicação direta do direito estrangeiro no Brasil
4) Homologação de sentença estrangeira
5) Tratamento jurídico do nacional e estrangeiro
● Passaportes
● Vistos
6) Asilo x Refúgio
7) Sistema Interamericano de Direitos Humanos

O ser humano é sujeito de direito internacional público, mas muitas das vezes não
conseguem exercer seus direitos se não houver o Estado do seu lado. A insistência da
aplicação do ​pacta sunt servanda nos faz sempre olhar os tratados aplicados e observando a
hard law e soft law​, pois o país ratificando o tratado ele se torna uma ​hard law​, isto é,
obrigatório. Deste modo, verifica-se que o Direito Internacional Público influencia o Direito
Internacional Privado, em que são de áreas distintas, pensando de forma distinta, em que a
noção de legalidade são diferentes. Porém, também se vê a liberdade do ​pacta sunt servanda,
mas a liberdade não é plena, pois existem princípios que limitam (só que em relação aos
princípios, o Judiciário brasileiro nos faz achar que tudo é um princípio, mas para ser princípio
tem que estar na legislação), ​como o jus cogens, u ​ ma vez que um tratado não pode ser feito
violando direitos humanos.
Além de toda a relação com o Direito Internacional Público, o Privado também usa dos
tratados, tendo em vista serem a fonte primária desse Direito. E as relações passam a não ser
mais entre os Estados, mas sim o homem, haja vista que não se contenta em viver em um só
território, precisando ir ao encontro de outros povos, seja para comercializar, adquirir ou
aumentar riquezas ou até mesmo buscar novas experiências, fazendo nascer diversos conflitos
de leis no espaço, ​como um contrato de compra e venda entre um brasileiro e um alemão,
casamento entre brasileiro e um norte americano ou o nascimento de filho de brasileiros que
moram no Japão​. Nestes termos, dentro desses conflitos a solução também será um tratado,
uma vez que é a fonte primeira do Direito Internacional Privado.

Conflitos que envolvem pessoas (físicas ou jurídicas) de Estado diferentes.

Esses conflitos podem se dar em relação ao tempo ou em relação ao espaço. A


primeira hipótese, decorre do Direito Intertemporal, ou seja, é o conflito de leis decorrente da
coexistência de duas ou mais normas distintas regulando uma mesma relação jurídica. A Lei de
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Introdução ao Código Civil Brasileiro regula a matéria sobre conflito temporal aparente de leis,
ao prescrever:

Art. 2° LINDB - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
§1° - A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com
ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§2° - A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes,
não revoga nem modifica a lei anterior.
§3° - Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência

Já o conflito de leis no espaço decorre de dois fatores:


● Diversidade legislativa​​: cada sistema jurídico, autônomo e soberano, dá
tratamento diferente a aspectos sociais.
● Existência de uma sociedade transnacional: relações entre indivíduos
vinculados a sistemas jurídicos diferentes.
Cabe ressaltar que ​o conflito de leis no espaço é o principal objeto do Direito
Internacional Privado. Alguns autores entendem que um conflito de leis no espaço será
solucionado com a possibilidade de aplicação de uma lei estrangeira no território nacional,
enquanto Edgard Carlos de Amorim entende que o que ocorre quando se aplica uma lei
estrangeira por determinação de uma lei nacional é um reconhecimento de um direito adquirido
no exterior, bem como que conflitos só existem quando a lei estrangeira ferir a nossa soberania
ou a ordem pública local.
Assim, o que podemos entender como objeto desse ramo do Direito? Os choques da
legislação estrangeira com a brasileira e ofensas à soberania nacional e à ordem pública
(conflitos de leis no espaço) e condições jurídicas do estrangeiro e os direitos adquiridos
(aplicação da lei estrangeira).

A regra geral é a aplicação do direito pátrio.

Não se deve aplicar o direito estrangeiro, determinado pela norma de direito


internacional privado, quando verificar que fere a ordem pública, a soberania ou os bons
costumes ou quando os interessados estiverem tentando fraudar a legislação interna.
Deste modo, o conceito de Direito Internacional Privado é: ​Ramo do Direito que regula
as relações jurídicas das pessoas físicas e jurídicas de Direito Privado. A condição
jurídica do estrangeiro é quase a mesma nos Estados, sofrendo restrição em apenas alguns
outro, pois antigamente eram estrangeiros os escravos. Quando se pensa nesse objeto, ​como
o estrangeiro é tratado? A Constituição Federal do Brasil estabelece igualdade entre os
brasileiros e estrangeiros residentes, salvo os direitos restritos na própria Constituição (votar e
participar de partidos).

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se
aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade (...)
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E os que não residem aqui? Sem estar expresso na CF/88 e já se discutiu muito,
decidindo que a interpretação é extensiva, dando igualdade aos estrangeiros que tenha entrado
e que permaneça no Brasil de modo regular (os ilegais não possuem os mesmo direitos,
podendo ser extraditados, deportados ou expulsos do país).
O último objeto do Direito Internacional Privado é o ​direito adquirido do estrangeiro,
em que significa direitos, aos quais os nacionais e estrangeiros fazem jus, que existem pelo
preenchimento de requisitos estabelecidos na lei, podendo exercê-lo inclusive se houver
mudança na lei. Porém, quando se trata do estrangeiro, esse direito pode ter sido adquirido no
exterior, ​isso influencia? ​Um direito adquirido em sentença no exterior, o qual seria cumprido
aqui no Brasil, poderá ocorrer pela homologação aqui. Esse direito não é protegido de forma
absoluta, porque dizem hipóteses que violem a ​ordem pública (legislação ou costume).
Exemplo: Um homem árabe casado com duas mulheres requer o reconhecimento de seus dois
casamentos no território brasileiro. A resposta do Governo Brasileiro consistirá na negação do
seu pedido, uma vez que o ordenamento jurídico brasileiro não aceita a bigamia, com base nos
bons costumes locais.

Qualquer direito adquirido no exterior pode ser executado aqui caso não viole a ordem pública e que faça
sentido ser executado aqui.

DIPrivado e o DIPúblico
São ramos autônomos, em que o Público tem como questão o voluntarismo jurídico e a
sanção voluntária, uma vez que é o conjunto de normas que regula as relações externas dos
atores que compõem a sociedade internacional (em especial os Estados Nacionais), estudando
o complexo normativo das relações de direito público externo. Já o Privado não é de direito,
mas sim de obrigações, sendo constituído por legislações internas de cada país, haja vista que
é o conjunto de normas jurídicas criadas por uma autoridade política autônoma (como um
Estado, por exemplo) com o propósito de resolver os conflitos de leis no espaço, por isso que é
internacional.

O Privado é um conjunto de regras de direito interno que indica ao juiz local que lei (a interna ou externa)
deverá ser aplicada a um caso (geralmente privado) que tenha relação com mais de um país.

Direito Internacional Público (DIP) Direito internacional privado (DIPriv.)

● É o conjunto de normas que regula as ● É o conjunto de normas jurídicas criadas por


relações externas dos atores que compõem a uma autoridade política autônoma (um Estado
sociedade internacional (em especial os nacional, por exemplo) com o propósito de
Estados Nacionais). resolver os conflitos de leis no espaço.
● O DIP estuda o complexo normativo das ● Em termos simples, o DIPriv. é um conjunto
relações de direito público externo. de regras de direito interno que indica ao juiz
● O DIPriv. não tem nenhuma correlação local que lei – se a do foro ou a estrangeira;
especial ou dependência em relação ao ou dentre duas estrangeiras - deverá ser
DIP, A maioria dos autores reconhece mesmo aplicada a um caso (geralmente privado) que
a impropriedade da denominação, só admitida tenha relação com mais de um país
porque consagrada pelo uso, desde que foi
proposta pelo jurista americano Joseph Story
em seu The Conflict of Laws (1834).
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Não existe um sistema supranacional para regular as relações de direito privado entre
indivíduos sujeitos a diferentes ordenamentos nacionais. O que existe é um conjunto de
princípios para a determinação da lei aplicável a relações jurídicas que possam incidir na
regulação de dois ou mais sistemas legais conflitantes, de Estados diversos. Havendo
controvérsia sobre a lei a ser aplicada, dois problemas podem ocorrer na solução de um pleito:
saber qual o juiz competente para decidir a causa; e saber qual lei a ser aplicada​.

Classificação das normas


● Imperfeita: Normas que visam beneficiar e favorecer os nacionais, não significando que
são inconstitucionais, ​como o art. 10, parágrafo 1° da LINDB e o imposto de importação.
Sabendo que pode ter distinção entre brasileiro nato e naturalizado somente na
Constituição, mas no plano da realidade não pode ter diferença! Já sobre a distinção
entre brasileiro e o estrangeiro, ela pode existir, podendo, inclusive, ter lei
infraconstitucional que diminua seus direitos, uma vez que o estrangeiro ​não é
brasileiro​.

O estrangeiro tem o direito, mas a relação com ele depende com a relação com o Estado dele
(observando os tratados) e os requisitos podem ser mais rígidos.

● Perfeita: Normas que tem aplicação indistinta em relação a nacionais e estrangeiros,


como o art. 5°, caput, CR/88.

Também temos a classificação em relação à natureza das normas, sendo igual ao


Direito Interno:
● Imperativas:​​ impõem uma ação ou comportamento
● Permissivas:​​ facultam uma determinada conduta

Autonomia do Direito Internacional Privado


Existem divergências se esse ramo possui realmente uma autonomia científica.
Sabemos que o Direito é um só, mas adotamos o entendimento de que o Direito Internacional
Privado é uma disciplina autônoma pois possui:
● Objeto próprio: Conflito de leis; reconhecimento aos direitos adquiridos e à
condição jurídica do estrangeiro.
​ omo a extradição, deportação, expulsão, nacionalidade etc​.
● Institutos​​: C
● Fundamentos​​: necessidade de aplicação de normas de conflito no espaço para
regulamentar o relacionamento de pessoas pertencentes a Estados diferentes

Fontes
As fontes são de onde emanam as regras do Direito Internacional Privado

São aqueles fatos que se manifestam por meio da vontade prevalecente de um


determinado povo, e se constituem em preceitos válidos, obrigatórios e vigentes para aquele
mesmo povo. A classificação das fontes do Direito Internacional Privado envolve uma grande
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variedade, uma vez que existe grande complexidade dos problemas a serem solucionados,
baseando-se em regras produzidas por fontes supranacionais, ou seja, baseia-se em grande
parte em regras das fontes internas, quais sejam, pela ordem de importância: ​Leis, Tratados,
Jurisprudências, Doutrina e Costumes​​.
Essas fontes possuem as seguintes classificações:
● Fonte material: Exprimiam uma tendência para o jurídico, porém, integrando o
ordenamento jurídico somente no instante em que assumissem uma forma
determinada através de um ato ou de uma série de atos que constituíssem
precisamente as fontes formais. ​Assim, servem de inspiração, uma vez que
não integram o mundo jurídico, mas quando passam a integrar esse
mundo, passam, também, a ser fontes formais.
● Fonte formal: É aquela fonte em vigência. Toda Sociedade, Nação ou Estado
têm o seu Direito Positivo que é a prevalência de uma vontade que tem atuação
dentro das estruturas jurídicas de um povo.

Grande complexidade dos problemas a serem solucionados pelo DIPriv implica variedade de fontes.

Enquanto o Direito Internacional Público se baseia em regras produzidas por fontes


supranacionais, ​o Direito Internacional Privado se baseia em grande parte em regras
das fontes internas, quais sejam, pela ordem de importância​​:

1)Leis
2)Tratados
3)Jurisprudência
4)Doutrina
5)Costumes

(1) ​Atualmente no Direito Internacional Privado o que se entende como “​lei interna​​” é o
Direito Nacional de cada país, ou seja, essas normas são elaboradas na legislação de cada
Estado.

Lei interna é a principal fonte do Direito Internacional Privado

O Código de Napoleão que estabeleceu as primeiras regras sobre a aplicação das leis
no espaço e após essa inovação do Código de Napoleão vários outros Códigos foram criados
com normas de Direito Internacional Privado. Sobre o Brasil, somente em 1916, nos artigos 8º
a 21 do Código Civil, que foram determinadas regras de direito interno sobre o ramo.
Entretanto, em 04 de setembro de 1942, com a Lei de Introdução ao Código Civil,
consagrou-se o sistema pelo qual solucionamos, no Brasil, os conflitos de leis entre a lei
brasileira e a lei estrangeira. Hoje, houve uma mudança de nome e conhecemos como ​LEI DE
INTRODUÇÃO À NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO​​.
(2) ​Os ​tratados internacionais entram no Brasil como Decreto Legislativo (mesmo
quando tem força de emenda! Ou seja, o que muda é a hierarquia desse tratado mesmo
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chamado de Decreto), sendo que ao serem ratificados são ​hard law (obrigatório) e sem
ratificação são ​soft law. Até a EC 45/2004 os ​todos tratados ratificados possuíam a hierarquia
de Lei Ordinária Federal, ​mas depois da emenda houve a exceção dos tratados de direitos
humanos, os quais possuem status de norma supralegal​, sendo hierarquicamente superiores.
Porém, o Pacto de San José da Costa Rica foi recepcionado como Lei Ordinária, mas é um dos
tratados de direitos humanos mais importantes e serve como base para a proteção dos direitos
humanos no âmbito internacional, ou seja, por ser recepcionado na época em que não se
aceitava a hierarquia superior dos tratados ele possuía força de Lei Ordinária. ​Só que se
entendeu, por conta da recepção material, que o Pacto de San José da Costa Rica possui força
constitucional​, pois tudo que é de direitos humanos é de interesse coletivo (STF espera a
recepção formal dos tratados de depois da EC 45/2004 e os anteriores foram recepcionados
materialmente). Cabe ressaltar que em relação aos direitos humanos, se a lei interna for mais
benéfica ela será aplicada, uma vez que se é mais benéfica quer dizer que o tratado, de
alguma maneira, já é aplicado (​um exemplo é a adoção internacional, em que o ECA protege
mais a criança que o tratado internacional, o que, dependendo do caso, até dificulta mais que a
adoção aconteça, mas é aplicado por ser mais benéfico).​
(3) A ​jurisprudência​​, conforme Amilcar de Castro, é importantíssima fonte de Direito
Internacional Privado, cujas normas legisladas, em geral, são poucas. A autoridade e o valor
positivo da jurisprudência variam em cada Estado, como se percebe, no Brasil, ocupa uma
terceira posição, por exemplo, enquanto nos países do ​common law,​ ​como a Grã-Bretanha e
os EUA, l​ he dão maior categoria de fonte que os direitos escrito e codificado.
(4) ​A ​doutrina ​serviu de muita influência à evolução da disciplina em todas as partes do
mundo, uma vez que os princípios fundamentais do ramo moderno repousam nas teorias
doutrinárias desenvolvidas desde o século XIX. Serve para interpretar as decisões judiciais a
respeito do DIPriv. e com base nas mesmas desenvolve os princípios da matéria, bem como
serve de orientação para os tribunais, que muitas vezes recorrem a ela para decidir questões
deste Direito.
Também elaborou um sistema de regras jurídicas constitutivas da parte geral do DIPriv.
e cabe ressaltar que leva em consideração o aspecto global do ramo, o seu lado internacional,
e não apenas o direito interno como outras fontes. É encontrada nos trabalhos dos institutos
especializados na pesquisa, nas Convenções elaboradas nas Conferências Internacionais,
mesmo quando não vigentes pela falta do número necessário de ratificações, haja vista que
mesmo essas que não obtiveram o número necessário de ratificações tem um valor doutrinário
elevado, já que foram preparadas por especialistas de alto nível, devendo ser aproveitadas
pelos tribunais na aplicação do Direito Internacional Privado.
(5) ​Os ​costumes são práticas longevas, uniformes e gerais, constantes da repetição
geral de um comportamento, que, pela reiteração, passaram a indicar um modo de proceder
em determinado meio social, segundo as lições do civilista Cristiano Chaves (para o Estatuto
de Haia é a prática geral aceita como sendo direito).

​O costume - "​​jus non scriptum"​ (direito não escrito) - se constitui de dois elementos indispensáveis para
que ele se consolide juridicamente:
A repetição uniforme de certos atos e crença de que a norma obedecida é obrigatória
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No costume há um sentimento de dever jurídico, de obrigatoriedade, mas tem caído em


desuso já que é difícil de ser provado (o costume deve ser provado por quem o alega!) e
demorado para ser constituído. Ou seja, os conflitos com os sujeitos de direito internacional
têm exigido soluções rápidas e ágeis, o costume internacional é de constituição lenta, não
satisfazendo as necessidades do mundo atual. Desde a 2ª Guerra Mundial, o costume
internacional vem sendo substituído gradualmente pelos tratados e convenções internacional
como fonte de direito.

Circunstâncias de conexão
As leis de cada Estado tem vigência ​apenas em seu território​​, criando, então, o
impasse de ​“qual lei deverá será aplicada?”​. ​Temos o exemplo do casamento homoafetivo, o
qual fora legalizado primeiro na Argentina, e, assim, os casais casavam-se lá e faziam o
traslado do documento aqui, aplicando a lei estrangeira
A solução é a ​Lex Fori (lei nacional) ou seja, a resposta será encontrada na lei do foro
(​leis internas de cada país​) que tratam.da aplicação da lei estrangeira e do conflito de leis no
espaço. Deste modo, a ​Lex Fori brasileira é a LINDB e demais normas de Direito Privado, mas
cabe ressaltar que cada país terá seu sistema de aplicação da lei estrangeira no seu território.

Temos a ​Lex Fori​, que é a lei nacional, e a ​Lex Causae,​ que é a Lei da circunstância do conflito, muitas vezes
sendo a lei estrangeira.

Registro que os elementos de conexão solucionam esses conflitos e os veremos a


seguir.

Elementos de conexão (vínculo/ligação)


Significam as circunstâncias diretamente ligadas ao caso, usadas pela norma de Direito
Internacional Privado para indicar a Lei a ser aplicada no caso concreto, em que se todos os
Estados adotasse o mesmo elemento de conexão os conflitos do Direito Internacional Privado
seriam reduzidos, já que todos usariam o mesmo critério.
Temos como esses elementos:

Domicílio
O ​domicílio é o lugar em que a pessoa ordinariamente exerce seus direitos e cumpre
suas obrigações da vida civil. Muito utilizado por causa da nossa história, em que antes da
Segunda Guerra Mundial o Brasil adotava a nacionalidade como elemento de conexão (tal qual
os países europeus adotam), mas depois da Segunda Guerra Mundial devido à grande
imigração de europeus para o Brasil, o critério mudou para o domicílio para evitar a excessiva
de normas estrangeiras no Brasil na solução de conflitos envolvendo estrangeiros e assim
continua até hoje. ​O casal do travel&share não possui domicílio fixo, pois viajam sempre,
aplicando o local onde eles se encontram, por exemplo.
O ​domicílio voluntário é aquele que a pessoa escolhe morar, unindo ​vontade +
objetivo de residência​, enquanto o ​domicílio necessário é aquele imposto por lei, ​como no
caso do domicílio do funcionário público, do militar e do preso​.
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As exceções surgem quando o território se envolve no conflito, como: ​domicílio das


tripulações de navios mercantes, isto é, navio particular (valendo o mesmo com aviões), o qual
será o lugar onde estiver matriculada a embarcação, ou seja, funciona tal qual o registo de
carro, por exemplo, e em alto mar se aplica a lei da bandeira e em portos será o local que se
encontra o porto ou mar territorial; O domicílio das tripulações de navios militares será a base
ou estação naval, ou seja, a lei da bandeira vale, pois entende-se como se fosse uma extensão
do território; O domicílio da União é o Distrito Federal, enquanto o domicílio dos Estados é a
sede de suas administrações (capitais); O domicílio de pessoa sem residência habitual é onde
ela se encontra (como o exemplo dado no parágrafo anterior); Nas ações se separação judicial,
consensual, de alimentos e para anulação de casamento é no local de residência da mulher (tá
assim na LINDB, mas a jurisprudência e o NCPC dizem que é o local de quem possui a
guarda); e, por fim, nas ações de alimentos é o local de residência do alimentando (caso o
alimentando resida fora, o juízo daqui pode se dizer incompetente, devendo a ação ser
interposta no domicílio dele e ser executada aqui). ​Já a ​residência é, somente, o local onde o
indivíduo mora.

Art. 7°, LINDB, §8º: “Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no
lugar de sua residência ou naquele em que se encontre.

Exceções

● Domicílio das tripulações de navios mercantes = lugar onde estiver matriculada a embarcação.
● Domicílio das tripulações de navios militares = base ou estação naval.
● Domicílio da União = DF.
● Domicílio dos Estados = sede de suas administrações (capitais).
● Domicílio de pessoa sem residência habitual = lugar onde se encontra.
● Ação de separação judicial, consensual, de alimentos e para anulação de casamento = residência da
mulher.
● Ação de alimentos = residência do alimentando.

● Território marítimo (revisão): Baseado nas premissas da Convenção de Montego Bay


de 1982. Tinham a intenção de determinar qual pedaço do mar que pertence ao
território de um país e assim estabeleceram que o mar territorial é a única parte do mar
que faz parte do território, a zona contígua e econômica exclusiva não fazem parte do
território. O mar territorial equivale a 12 milhas/22,2 km, baseado na suposição da
distância de um tiro de canhão, mas cabe lembrar que existem Estados escrustados
(sem mar) e Estados que o mar territorial não atinge essas 12 milhas, fixando em um
tamanho menor e utilizando da linha de Talvegue, em que se traça uma linha imaginária
dividindo igualmente o espaço de mar territorial entre os Estados. ​Na hipótese de um
navio mercante (privado) se utiliza do seguinte esquema: (1) n ​ avio mercante > território
> porto ou mar territorial > território do solo desse porto ou desse mar territorial; (2)
navio mercante > território de ninguém > lei da bandeira; (3) ​navio militar > território ficto
do país de origem desse navio.​ ​Essas mesmas regras são aplicadas aos aviões! No
caso de navios piratas se aplica a lei de onde ele se encontra ou a lei da nacionalidade
das pessoas que se encontram no navio (da vítima, do acusado, etc), uma vez que não
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possuem bandeira e podem ser encontrados em território de ninguém. Temos também a


chamada ​zona contígua​​, a qual possui extensão de até 24mm, local onde o país tem o
direito de fazer seu controle de quem entra em seu mar territorial. Depois dessa zona
temos a ​zona econômica exclusiva (ZEE)​,​ a qual um país possui competência para
explorá-la economicamente, não existindo a possibilidade de delegação e havendo a
responsabilidade de proteção ambiental dessa zona, podendo fazer isso em até 200
milhas/370,4 km. O subsolo também é de exploração pelo país no mar territorial e na
zona econômica exclusiva, uma vez que é da crosta continental. O ​alto mar não é ​res
nulius (coisa nula, de ninguém)​, é, na verdade, um território global comum, envolvendo
exploração e sustentabilidade.

Nacionalidade

1° - SOLO
2° - SANGUE - FILHO DE DIPLOMATA OU BRASILEIRO NASCIDO NO ESTRANGEIRO - COM REGISTRO NO
CONSULADO/EMBAIXADA OU QUANDO A PESSOA, MAIOR DE IDADE, VOLTA AO BRASIL E REQUERE A
NACIONALIDADE A QUALQUER TEMPO

No sentido sociológico é um grupo de pessoas que falam a mesma língua, são da


mesma raça, professa. a mesma religião e tem os mesmos costume e tradições (maioria),
como no caso dos alemães que adotam a nacionalidade como uma identidade de r​ aça, religião
e língua,​ enquanto os franceses acrescentam à nacionalidade o ​elemento psicológico do
desejo de viver em comum​. No conceito jurídico é o vínculo jurídico de direito público interno
que une o indivíduo ao Estado.
O povo é necessariamente o nacional daquele Estado, atingindo o comparativo entre
povo e ​população​, em que aquele se refere aos nacionais e este termo envolve todos de forma
mais ampla, usados em estudos sociais e geográficos. Envolve também uma identidade
nacional, acontece que para um Estado de Direito é complexo adotar elementos subjetivos,
focando, então, na Constituição, a qual adota 2 critérios de adoção de nacionalidade: ​o solo e
o sangue​​. Quando se pensa nessa adoção traz a noção de ser uma espécie de contrato que
existe entre o indivíduo e o Estado, já que ele gera direitos (segurança pública, educação,
saúde, liberdade de expressão, etc) e deveres (seguir as leis, pagar impostos, etc) ao
contratante.

A nacionalidade é um vínculo jurídico-político que impõe ao indivíduo obrigações e concede-lhe direitos,


inclusive de natureza política.

Registro que a Declaração Universal de Direitos do Homem traça critérios para a


solução de divergências sobre nacionalidade, sendo eles: ​toda pessoa deve ter nacionalidade
(​mas e a situação dos apátridas?​), ​deve tê-la desde o nascimento e pode mudá-la
voluntariamente​.

A apatridia aumentou muito após a Segunda Guerra Mundial e essa Declaração trouxe a nacionalidade como
um direito humano.
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É hoje um dos principais métodos de exclusão de direitos, mesmo sendo considerado


um direito humano, ​como se observa com os refugiados​. Só que também temos outro conceito
importante, os polipátridas. Assim, os ​POLIPÁTRIDAS​​, são aquelas pessoas com mais de uma
nacionalidade, ​como o caso de um casal de alemães vem morar no Brasil. Os seus filhos
nascidos no Brasil serão brasileiros pelo critério ius solis adotado no Brasil e serão também
alemães, pelo critério ius sanguinis adotado na Alemanha.​ Enquanto os ​APÁTRIDAS ​são
pessoas sem nacionalidade, ​como na hipótese de um brasileiro se naturaliza americano,
perdendo a nacionalidade brasileira (já que os dois países adotam o mesmo critério ius solis).
Nos EUA se envolve com tráfico de drogas e tem a sua cidadania americana cassada e se
torna um apátrida ​(ressalta-se que poderá fazer um pedido de retorno à pátria de origem ao
Brasil que concederá caso resolva fazer uma cortesia).
Quando se fala do Brasil, temos os brasileiros ​natos​​, os que nascem no Brasil ou que
são filhos de brasileiro, mas atenção! ​Sempre que houver nacionalidade apelo critério do
sangue, a pessoa é nata daquele país​​! ​A pessoa que teve sua nacionalidade italiana
reconhecida por ser neta de italianos é uma italiana nata​. Sendo esse tipo de ​nacionalidade
natural/originária​​. A Constituição brasileira, com a emenda constitucional revisional n° 3 de
1994, trouxe a mudança da alínea C) do art. 12. Quando se tem a aquisição de nacionalidade,
tenta-se aplicar a alínea a), depois a b) e só depois a c), ou seja, existe uma aplicação
sucessiva, sendo a alínea a), do solo, a preferencial.

Art. 12. São Brasileiros


I - natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde
que estes não estejam a serviço de seu país; (ius solis)
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer
deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; (ius sanguinis)
c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam
registrados em repartição brasileira competente (ius sanguinis), ou venham a residir na
República Federativa do Brasil antes da maioridade (ius solis) e, alcançada esta, optem
em qualquer tempo pela nacionalidade brasileira;

A alínea c) é a que deu problema, uma vez que o texto original trazia que é brasileiro
quem é filho de brasileiro e foi registrado no consulado brasileiro quando nascido no exterior,
bem como que se não houvesse registro, após a maioridade poderia requerer o registro
quando voltasse a morar no Brasil. Só que acharam muito complexo (ou registro no consulado
ou o registro após voltar morar no Brasil) e a emenda veio e manteve os dois primeiros casos
(alíneas a) e b), somente), alterando a alínea c) e retirando o critério ​ius ​sanguinis para filhos
de brasileiros nascidos no estrangeiro, ou seja, não existe a possibilidade de registro no
consulado brasileiro mais, utilizando somente o critérios do ​ius solis:​ vir a residir no Brasil +
Optar pela nacionalidade brasileira.

Fizeram a mudança sem pensar e a única forma de corrigir é fazendo uma emenda constitucional
reformadora, a qual possui aqueles requisitos mais rígidos (⅗⅗ em dois turnos nas duas casas), gerando os
chamados ​brasileirinhos apátridas​​.
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Os brasileirinhos apátridas, pela confusão, acabaram recebendo um passaporte que


valia até a maioridade das crianças, esperando que a situação se resolvesse. Em 2007 houve a
EC n°54, a qual resolveu o problema maior e readicionou o “​desde que sejam registrados em
repartição brasileira competente​​”. Essa “repartição brasileira competente” pode ser tanto um
Consulado​​, ​o qual representa particulares de um país em outro país e são um apoio às
embaixadas, realizando serviços de concessão de vistos e atendimento aos cidadãos de seu
país que residem em outro território, ou uma ​Embaixada​​, que é o “Órgão" máximo que
representa um país em território estrangeiro, geralmente localizada nas capitais federais e
mantém funções diplomáticas e trata de assuntos de interesse comum entre as nações.
Hoje o Brasil emite documentos para os apátridas (tal qual os refugiados), não concede
a nacionalidade, somente se a pessoa cumprir os requisitos da naturalização.

Pelo critério ​ius solis​​, são brasileiros:

Os nascidos em:
● Solo pátrio,
● Nas aeronaves militares ou públicas,
● Nos navios de guerra,
● No mar territorial,
● Nas sedes das embaixadas,
● Nas ilhas,
● Nos golfos,
● Nos estreitos,
● Nos canais,
● Nos lagos,
● Nos rios e
● No nosso espaço aéreo brasileiro.

Como exceção ao critério ius solis, pelo critério ius sanguinis, são brasileiros também os filhos de
brasileiros residentes no estrangeiro.

O outro tipo de nacionalidade é a ​adquirida​​, em que a pessoa é ​naturalizada​​, sem ter


vínculo anterior e houve o requerimento.
Os ​naturalizados ​são aqueles que estão no Brasil há mais de 15 anos sem contenção
penal, mesmo que ilegal, possuindo, após o cumprimento desses requisitos, o direito de pedir a
nacionalidade. Em outros casos, como uma pessoa legal, por exemplo, são apenas 4 anos com
um visto permanente, ou seja, são outros prazos.

NATURALIZADO​​ É SÓ ​CRITÉRIO DO SOLO!​​ Quando se fala sobre ​critério de sangue​​ é ​nato​​!

Art. 12. São Brasileiros


II - naturalizados:
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto
e idoneidade moral;
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do
Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que
requeiram a nacionalidade brasileira. (Estatuto do Estrangeiro)
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

§ 1º - Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em


favor dos brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
previstos nesta Constituição.
§ 2º - A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo
nos casos previstos nesta Constituição.
§ 3º - São privativos de brasileiro nato os cargos:
I - de Presidente e Vice-Presidente da República;
II - de Presidente da Câmara dos Deputados;
III - de Presidente do Senado Federal;
IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática;
VI - de oficial das Forças Armadas;
VII - de Ministro de Estado da Defesa.

Perda de nacionalidade
No artigo 12, § 4° da Constituição da República são dois os casos de possibilidade de
perda de nacionalidade por um brasileiro: se tiver cancelada a sua naturalização, por sentença
judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; ou se adquirir outra nacionalidade
por naturalização voluntária, salvo nos casos de: Reconhecimento de nacionalidade originária
pela lei estrangeira. A imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao Brasileiro
residente no estrangeiro, como condição de permanência em seu território ou para o exercício
de direitos civis. É importante observar, portanto, que o brasileiro nato só terá a possibilidade
de perder a sua nacionalidade nos casos em que ele optar por naturalizar-se com outra
nacionalidade. Se for necessário o brasileiro se naturalizar para exercer cargo ou emprego, ou
para casar-se com estrangeira no país onde reside, ele ficará com dupla nacionalidade. No
caso de alguém perder a nacionalidade brasileira, a pessoa não conseguirá registrar o filho
como brasileiro, uma vez que deixou de ser brasileira.

Assim, entende-se como povo aquele que possui nacionalidade, sendo nato ou naturalizado.

Deste modo, vejamos a tabela a seguir para entender sobre a cumulação e perda de
nacionalidades:
1° 2° TOTAL

Pessoa nascida em BH Brasileira nata que resolve, após Apenas 1 nacionalidade, uma vez
brasileira nata pelo critério do solo, morar em Portugal, ficar e se que a pessoa abriu mão da
conforme art. 12, I, a), não tendo naturalizar lá sem justificativa nacionalidade brasileira. A regra
como ter a nacionalidade pelo Será naturalizada em Portugal, mas é: ​se você é brasileira pelo solo e
sangue, uma vez que as alíneas perderá a nacionalidade brasileira, se vinculou a outro território,
são sucessivas e se já cumpriu a pois ​não se pode ter duas você se desvincula do Brasil
letra a), não há o que se falar em nacionalidades de critério de solo
cumprimento da alínea b). sem justificativa

Mesmo caso, brasileiro nato pelo Mudou-se para Portugal e quer se A pessoa fica com as 2
critério do solo. naturalizar ​com justificativa​, sendo nacionalidades, haja vista que a
do país. S​ erá naturalizada justificativa mantém a
portuguesa e não perderá a nacionalidade brasileira, mesmo
nacionalidade brasileira, por causa que ambas sejam pelo critério do
da justificativa solo.
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

Pessoa que nasceu no Japão mas Pessoa foi para Portugal e pediu Como são nacionalidades
de pais brasileiros,​ sendo brasileira para ser naturalizada.​ adquiridas por critérios
nata pelo critério do sangue, Será naturalizada pelo critério do diferentes, a pessoa, então, tem 2
conforme o art. 12, I, c) solo. nacionalidades.

Pessoa que é brasileira nata pelo Também é alemã pelo critério do Mantém as 2 nacionalidades.
critério de solo. sangue, sendo alemã nata.

Caso polêmico: Essa pessoa foi para os EUA, A pessoa foi extraditada aos
Caso comum de pessoa que é casou-se e conseguiu sua EUA, mas a sua defesa apontou
brasileira nata pelo critério do solo. naturalização pelo solo. ​Assim, ela que ela possuía justificativa, só
perdeu a nacionalidade brasileira. que no estado em que ela morava
Porém, ela foi acusada de matar não havia a necessidade de
seu marido e fugiu para o Brasil, naturalizar, era preciso só o
apontando ser brasileira, mas greencard.
determinaram sua extradição, u ​ ma Ela conseguiu uma benesse, em
vez que deixou de ser brasileira. que não seria condenada à pena
Os EUA ainda não cancelaram a de morte, somente 30 anos de
nacionalidade dela e caso os faça, reclusão no máximo, por causa
o Brasil possivelmente devolverá a de um tratado do Brasil com os
nacionalidade brasileira, pois a EUA.
legislação daqui tenta evitar a
apatridia

Outras hipóteses são:


1° 2° 3° TOTAL

Pessoa brasileira nata É também alemã nata Mas também é portuguesa Possui 3 nacionalidades
pelo critério do sangue pelo critério do pelo sangue, sendo nata, sem problema algum.
que nasceu no Japão, sangue, porque o pai porque o avô é português.
porque a mãe é brasileira. é alemão.

Pessoa brasileira nata Possui nacionalidade Também é portuguesa nata Possui as 3


pelo critério do solo alemã pelo critério do pelo critério do sangue. nacionalidades também.
sangue, sendo nata.

Nacionalidade x Cidadania
Nacionalidade é vínculo jurídico-político que une a pessoa ao Estado. A cidadania não é
sinônimo de nacionalidade, mas uma decorrência do estado de ser cidadão, ou seja, a
cidadania é o conjunto de direito civis e políticos de que dispõe o indivíduo, podendo, como
conseqüência, desempenhar funções públicas, atividade profissional, votar, ser votado,
participar de partidos políticos, enfim, exercer os atos da vida civil em sua plenitude.

Não há cidadania sem nacionalidade!

Exercitar os direitos civis e políticos é exercitar a cidadania, ​por exemplo, um polipátrida


Brasileiro e Alemão tem as duas nacionalidades, mas exercerá a sua cidadania somente no
país em que exercer os seus direitos civis e políticos.
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Caderno de Direito Internacional Privado
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Raça, religião e vizinhança


São elementos de conexão raramente utilizados. Raça e religião são utilizados em
países da África e Oriente Médio como critério de solução de conflitos, já que os direitos
desses países são distribuídos de acordo com esses critérios. Já a vizinhança é um elemento
de conexão ligado à origem do indivíduo e utilizado principalmente na Suíça, em que cada
pessoa terá fixados os seus direitos de acordo com a cidade em que nasceu (direito da cidade).
● RAÇA​​: África do Sul – a discriminação racial permite que os direitos sejam
divididos de acordo com o tipo de sangue – brancos puros têm mais direitos e os
negros têm mais obrigações.
● RELIGIÃO​​: Irã – os direitos e as obrigações são repartidos de acordo com a
religião de cada iraniano.
● COSTUME TRIBAL​​: países da África – cada tribo tem os seus direitos e
obrigações estabelecidos

Autonomia da vontade
Tem sua origem no Liberalismo e consiste na faculdade das partes de elegerem a lei a
ser aplicada para solução de conflitos (ex: contratos). A autonomia da vontade sempre foi
reconhecida e respeitada no DIPriv.
No século XVI a autonomia da vontade passou a ser vista como elemento de conexão.
A Lei de Introdução antiga, em seu art. 13, permitia a eleição da lei a ser aplicada em contratos
firmados entre indivíduos de territórios diferentes. A LINDB atual proíbe esse autonomia no
Brasil. Só que a doutrina e a jurisprudência têm aceitado que nos casos de ato pactuado no
exterior com a indicação da lei brasileira a ser aplicada, o ato é válido e plenamente aplicável.

Lex Rei Sitae


Elemento de conexão aplicado aos imóveis, não importando o domicílio do réu. Assim,
toda e qualquer ação que versar sobre bem imóvel situado no Brasil terá de ser proposta diante
do juiz brasileiro.

Princípio universalmente aceito​​.

● LUGAR DA CONSTITUIÇÃO DAS OBRIGAÇÕES​​: Art. 9° da LINDB: “​Para


qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem”​ e seu parágrafo 2°: “​A obrigação resultante de contrato reputa-se
constituído no lugar em que residir o proponente​”.
● LUGAR DA EXECUÇÃO DO CONTRATO​​: Rege-se pela lei brasileira os
contratos aqui exeqüíveis. Critério adotado por quase todas as legislações do
mundo
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

QUALIFICAÇÕES

É a conceituação, interpretação para solucionar o conflito.

É outro problema do Direito Internacional Privado, em que além das normas, os


institutos dos diversos sistemas jurídicos também possuem conceitos variados de uma
legislação para outra, ​como a noção do início da personalidade, em que o Brasil basta o
nascimento com vida.​ Assim, ​como serão solucionadas as controvérsias quanto aos conceitos
legais?​ Existem 3 critérios e o Brasil adota os 3:
● Critério da Lex Fori, a lei do foro​​: O juiz ao aplicar o direito estrangeiro, não
deve se preocupar com a qualificação do instituto por parte do seu sistema de
origem, deve tomar por base a própria lei.

Art. 8º LINDB. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes,


aplicar-se-á a lei do país em que estiverem situados.

● Critério da Lex Causae, a lei do direito de origem​​: O juiz ao aplicar o direito


estrangeiro deve deve tomar por base os conceitos do direito estrangeiro
adotado (direito estrangeiro tal como ele é).

Art. 9º LINDB. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituírem

● Critério do Lex Rei Sitae, a lei da situação da coisa.

Art. 12, § 2º da LINDB. “A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur


e segundo a forma estabelecida pela lei brasileira, as diligências deprecadas por
autoridade estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das
diligências.”
Art. 13 da LINDB. “A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que
nele vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.​”

ATOS PROCESSUAIS SERÃO SEMPRE REGIDOS PELA LEX FORI!

Mas como será a interpretação dos institutos inseridos nos tratados internacionais? A
qualificação nos tratados será: 1° - Qualificação contida no próprio tratado; 2° - Em casos de
omissão da qualificação será aplicado o critério ​lex fori.
No caso não será possível a qualificação ​lex causae,​ já que o tratado não virá como
norma interna de um país, mas como um acordo entre Estado diferentes com direitos positivos
distintos. Ou seja, conclui-se que são dois os sistemas de qualificação dos institutos legais: ​lex
fori e lex causae.​ O entendimento majoritário é o de adoção do critério lex fori.
Deste modo, segue-se os seguintes questionamentos:
1. Qual o juízo competente​​?​ Sendo o Brasil competente
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Caderno de Direito Internacional Privado
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2. Qual direito material​​? ​Brasileiro ou o estrangeiro? Supondo que se entendeu, pelos


elementos de conexão, que o direito a ser aplicado é o estrangeiro a ser aplicado que
se observam as qualificações, que nada mais são que o modo de se interpretar o direito
estrangeiro, podendo se dar de três maneiras: à luz do direito brasileiro, permitindo a
aplicação da lei estrangeira, fazendo uma analogia com o direito brasileiro; à luz da lei
de origem, isto é, interpretando e aplicando o próprio direito estrangeiro; ou pela lei da
situação da coisa.
3. Qual direito serve de base interpretativa​​? Em regra é o critério da ​Lex Fori,​ a lei do
foro, ​mas a nossa lei de introdução determina qual critério que se usa, interpretando
pela lei brasileira (Lex Fori), interpretando de acordo com a lei estrangeira (Lex Causae)
ou interpretando de acordo com a lei da situação da coisa (Lex Rei Sitae). O juiz ao
aplicar o direito estrangeiro, não deve se preocupar com a qualificação do instituto por
parte do seu sistema de origem, devendo tomar por base a própria lei. Tem que olhar se
a ordem pública brasileira (leis e costumes) não foi ferida, uma vez que se houver
violação.

APLICAÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO


Antes, no século XIX, o direito estrangeiro era considerado como a matéria de fato. No
século XX o Direito Internacional Privado se tornou um direito positivo, podendo então ser
matéria de fato (exigência de prova para a parte interessada, sob pena do Direito não ser
reconhecido pelo juiz do foro) e de direito (a prova não é exigida para ser aceita pelo juiz do
foro, e tratando, caso a desconheça ele pode requerer a produção de prova pelo interessado).
Podendo o juiz pedir prova sobre a lei a ser aplicada, ele terá também a obrigação de
pesquisar o direito estrangeiro ao aplicá-lo já que tem um comprometimento com a justiça,
sendo que poderá invocar direito estrangeiro de ofício, uma vez que lei estrangeira se equipara
à lei interna (segundo a LINDB). Ressalta-se que pode ocorrer de haver a obrigatoriedade de
aplicação da lei estrangeira, ​salvo nos casos em que há um conflito com a ordem pública​.
O ​comitas gentium é a aplicação da lei interna a TODOS, ou seja, não importa quem
cometeu o crime, a punição será a mesma para todos, não podendo usar do fato de ser
estrangeiro como uma desculpa para ser punido. Esse termo é latino, mas com origem na
Escola Holandesa, a qual entendia que o direito tinha um caráter puramente territorial, ou seja,
o estrangeiro era obrigado a acatar a lei nacional e ser submetido aos seus ditames.

Prova do direito estrangeiro

Art. 14, LINDB: Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova do
texto e da vigência.
Art. 376, CPC: A parte que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário
provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz determinar.”

Caso a prova não seja suficiente compete ao juiz estudar o caso para que encontre a lei
estrangeira adequada. Cabe ressaltar que não há conflito entre o Art. 14 da LINDB e o Art. 376
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Caderno de Direito Internacional Privado
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do CPC, pois caso o julgador já conheça o direito estrangeiro não há motivo plausível para a
exigência de sua prova.
O modo de prova é ​DETERMINADO PELA LEX FORI, ​ou seja, ​a conclusão é que o
Direito Brasileiro não aceita prova que não adota ou inexiste em seu contexto. Em que são
exemplos de prova de direito estrangeiro: códigos, certidões, revistas, livros, jornais e outras​.
Entretanto, a prova testemunhal ​NÃO TEM VALOR​​, já que o direito estrangeiro não é matéria
de fato.

Atenção:
Deve-se lembrar que os tratados ratificados pelos países passam a fazer parte do direito positivo interno,
devendo ser observados independente de alegação e prova.

Meios de interpretação do direito estrangeiro


São os meses adotados pelo direito brasileiro, em que em relação à pessoa do
intérprete, a interpretação poderá ser:
● Doutrinária
● Judicial
● Legislativa ou autêntica: Quando realizada pelo órgãos que exercem
predominantemente a atividade legislativa.

A interpretação quanto ao método e forma de pesquisa poderá ser:


● Sociológica: busca a razão de ser da lei. O ato jurídico, segundo essa interpretação,
deve ser aplicado para atender o seu propósito social
● Sistemática: interpreta a norma no contexto do seu sistema jurídico e em função das
outras normas.
● Lógica:​​ busca o real sentido da lei.
● Analógica:​​ interpretação por analogia.
● Declarativa: Conseqüência lógica do resultado obtido ante a coincidência do texto da
lei com o seu sentido.
● Restritiva: necessária quando o legislador quis dizer menos e disse mais, é necessário
então diminuir o campo de sua aplicação.
● Extensiva:​​ antítese da interpretação restritiva.

Aplica-se a regra do ​LOCUS REGIT ACTUM, ​em que “o lugar determina o ato” ou “a lei
do lugar rege o ato”.

Art. 9°, § 1º da LINDB “Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de


forma essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos
requisitos extrínsecos do ato”

Resumindo: A obrigação contraída no exterior e executada no Brasil, ​EM REGRA​​, será


observada segundo a lei brasileira, ​MAS COM A EXCEÇÃO ​das peculiaridades da lei
alienígena em relação à forma extrínseca (pressupostos processuais) serão respeitadas.
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RETORNO, DEVOLUÇÃO OU REMISSÃO


Tenta assegurar a segurança jurídica do Estado, conforme a seguinte hipótese: ​existe
um conflito de leis no espaço, olhando na lei brasileira qual elemento de conexão que vai
solucionar, sendo o domicílio, sendo que a pessoa do conflito tem domicílio na Argentina, ou
seja, aplica-se o direito da Argentina, o qual aponta que se usa do elemento de conexão da
nacionalidade e a pessoa é francesa. A ​ Lei brasileira vai falar que qualquer retorno, devolução
ou remissão é desconsiderado para se aplicar a lei brasileira, para que não fique ocorrendo
esse ​pingue-pongue ​em que não se saberá qual direito aplicar e não se solucionará o caso.
Qual a diferença entre os termos? ​Retorno​,​ é quando um direito que a lei brasileira
disse ser competente aponta que é outra lei estrangeira que é, enquanto está terceira lei
aponta que é a Lei brasileira que é, na verdade competente, como no seguinte exemplo: ​A
Argentina, assim como o Brasil adota como principal elemento de conexão o domicílio. No caso
um argentino com domicílio na Alemanha vai se casar na Argentina, o juiz argentino irá fazer a
verificação de sua capacidade para a habilitação para o casamento segundo a lei alemã, ou
seja, a lei do domicílio do argentino. Entretanto a lei alemã determina que a lei aplicada será
aquela da nacionalidade do indivíduo, portanto a lei argentina (reenvio). A ​ teoria do retorno tem
sido aplicada pelos juízes com o objetivo único de facilitar a aplicação das suas próprias leis e
essa teoria requer que as leis entrem em choque e que ao se tentar aplicar o direito estrangeiro
esse direito nos reenvie ao direito interno. Só que a LINDB proíbe o retorno no Brasil:

Art. 16. da LINDB – “Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por ela
feita a outra lei.”​ > ​nesse caso se aplicará a lei brasileira​​.

A ​devolução é quando o próprio país que a lei brasileira apontou ser competente,
aponta que quem é competente é o Brasil; por fim, a r​ emissão é qualquer menção genérica
feita sobre a lei de outro país.

Direito adquirido
Um direito é adquirido a partir do momento em que um indivíduo preenche os requisitos
de uma lei para obter de determinado Estado uma vantagem. O Direito Adquirido dos
estrangeiros é um dos objetos do DIPriv., assim como o conflito de leis no espaço.

Não será reconhecido um direito caso esse ofenda a ordem pública


ex: poligamia / escravatura

Todo direito tem origem em uma lei de determinado Estado. Preenchidos os requisitos
dessa lei, e desde que não ofenda a ordem pública, o outro Estado terá que acatá-la em razão
dos tratados internacionais. Aplicação da lei estrangeira é uma obrigação do Estado (não é
cortesia) a aplicação da lei, relacionando com reciprocidade. O reconhecimento do Direito
Adquirido é sempre em função da soberania do Estado.
Exemplo de direito adquirido no estrangeiro e acolhido pelo Brasil: ​Um casal de franceses se casam na
França e vêm morar definitivamente no Brasil com o visto permanente. O casamento dos dois como não ofendeu a
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ordem local da França, passa a ser acolhido no Brasil para todos os seus efeitos. Para ter efeitos erga omnes basta
que a certidão de casamento seja registrada nos termos do art. 129, inciso 6° da lei 6015/73.
O juiz brasileiro para reconhecer um direito adquirido no estrangeiro no Brasil deverá:
1. Verificar se o instituto alienígena tem similar no Direito Brasileiro. Assim ele qualificará o
referido instituto.
2. Verificar se o instituto não fere a ordem pública brasileira, ferindo e violando nossas
tradições.
Quando não houver o instituto estrangeiro no Direito Brasileiro, considera-se o instituto
desconhecido e diante do instituto desconhecido ​o juiz recorrerá ao Direito Comparado que
estudará as origens do instituto, costumes, tradições e poderá recorrer até à analogia para
solucionar o caso​.
A aplicação direta do direito estrangeiro significa que o juiz aplica instituto estrangeiro
em seu país. Enquanto a aplicação indireta do direito estrangeiro é quando o juiz profere
sentença para que ela seja aplicada em outro país. ​ATENÇÃO!!!!!! O STJ deve homologar a
sentença para ela ter eficácia no Brasil. (MUDANÇA EMENDA 45!)

Síntese da Aplicação do Direito Estrangeiro


Existem duas formas de aplicação do Direito estrangeiro:
● Direta: O processo tem a devida tramitação perante o juiz do foro, em que a primeira
tarefa dele é identificar o elemento de conexão, pois este indicará qual lei será aplicada,
a nacional ou a estrangeira. Caso seja a lei estrangeira, o juiz passará a qualificação.
Distinguida a instituição estrangeira e, em havendo identidade desta com uma do nosso
sistema jurídica, o juiz investirá se referida lei não conflitos com a nossa ordem pública.
Deste modo, se a aplicação é da lei nacional, verifica-se ​que não há aplicação da lei
estrangeira!
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Caderno de Direito Internacional Privado
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● Indireta: A princípio é a aplicação por homologação, porque não foi julgado por juiz
brasileiro, por isso é indireto! Envolvem duas possibilidades, na verdade, sendo a outra
possibilidade q concessão do ​exequatur, o ​ u seja, realização de diligências por meio de
carta rogatória, a qual é processada pelo STJ, podendo ser regulado pelo direito
brasileiro ou tratado que o Brasil participe, ​como a facilitação com a União Europeia e
MERCOSUL​.

SISTEMAS DE HOMOLOGAÇÃO
Se há a aplicação direta da lei estrangeira não há necessidade de homologação, mas
no caso de aplicação indireta, ou seja, no caso de uma pessoa que precise que uma sentença
estrangeira faça efeito aqui e o juízo daqui não era competente, haverá necessidade de
homologação dessa sentença estrangeira.

Toda sentença precisa ser homologada aqui?


Não! Somente se quiser/precisar que ela produza efeitos aqui

Existem 5 sistemas de homologação de sentença estrangeira no Direito Processual


Civil.
1°) Sistema de revisão do mérito da sentença
É como se julgasse tudo de novo, em que as provas produzidas servem apenas como
parâmetro. Apontam que este método viola a soberania do Estado que proferiu a sentença a
ser revista.
2°) Sistema de revisão parcial de mérito
“será que essa sentença foi boa ou ruim?”, analisando se foi um bom ou mau
julgamento do caso, sendo que muitas das vezes deixam ter efeito apenas no que foi
considerado bom e o ruim não é aplicado, em que também o considera violador da soberania,
uma vez que modifica o mérito.
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Caderno de Direito Internacional Privado
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3°) Sistema de reciprocidade diplomática


O Brasil utiliza, mas não é o seu sistema principal, como o caso da facilidade dos países
do Mercosul de se homologar as sentenças entre si, pois tem fulcro nos tratados mantidos
entre os países.
4°) Sistema de reciprocidade de fato
O Brasil também aplica este no caso de não haver tratado com o país que proferiu a
sentença.
5°) Sistema de delibação - ESTE É O ADOTADO PELO BRASIL!
Sistema principal brasileiro, em que o será analisado aqui serão requisitos formais, sem
entrar no mérito da sentença. Observando os seguintes requisitos: competência, trânsito em
julgado, tradução (o que é o primeiro passo, na verdade!) e violação à ordem pública. Essa
delibação pode ser facilitada se houver tratado ou reciprocidade.

Exame feito no Brasil


Examina o Superior Tribunal de Justiça (EC 45/2004, art. 105, inciso I, “i”) apenas se
foram observados determinados requisitos legais.

“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: i) a


homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;”
Art. 15. LINDB - “Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro que reúna os
seguintes requisitos: (delibação)

● “a) haver sido proferida por juiz competente;...”​​: O STJ examinará primeiro a
competência do juiz, ou melhor esclarecendo, se a lide não era da competência de juiz
brasileiro. A competência só é exclusiva do Brasil quando: (1) O réu, ao tempo da
decisão, tinha domicílio no Brasil. (2) O caso trate de imóvel localizado em nosso solo.
(3) O caso trate de obrigação a ser cumprida no Brasil. (4) Se a pessoa ao falecer era
domiciliada no Brasil, o inventário deve ser aberto no Brasil.
● “b) terem sido as partes citadas ou haver-se legalmente verificado a revelia;...”: A
ausência de citação afasta o contraditório e a ampla defesa e a falta do exercício
regular da ampla defesa e do contraditório fulmina o processo com uma nulidade ab
initio (desde o início). A revelia se inclui nesses casos, uma vez que torna verdadeiros
os fatos alegados na inicial (confissão ficta). Requisitos da citação ou da revelia a serem
examinados são aqueles da legislação da sentença exeqüenda, isto é, do país de sua
procedência.
● “c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a
execução no lugar em que foi proferida;...”: A sentença que transita em julgado é
sempre aquela cujos recursos se exauriram. Assim, o trânsito em julgado depende da
publicidade e da exaustão de recursos e todos esses aspectos são examinados à luz da
lei do juiz prolator da referida sentença (exequenda).
● “d) estar traduzida por intérprete autorizado;...”: A tradução só poderá ser feita por
tradutor oficial ou, na sua falta, por pessoa devidamente autorizada pelo relator.
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PERSONALIDADE/NOME/CAPACIDADE E DIREITOS DE FAMÍLIA


Art. 7º. A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo e o fim da
personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.

A personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família são determinadas pela lei


do domicílio do indivíduo.

Esse artigo preconiza a lei do domicílio como critério fundamental do estatuto pessoal,
introduzindo o princípio domiciliar como elemento de conexão para determinar a lei aplicável. O
domicílio elimina o inconveniente da dupla nacionalidade ou da falta de nacionalidade e o
começo e fim da personalidade também remete ao direito do domicílio do indivíduo.

Art. 70 O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.

CASAMENTO REALIZADO NO BRASIL


Art. 7º. § 1º. Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.

O casamento deve ser celebrado de acordo com a solenidade imposta pela lei do local
onde o mesmo se realizou, não importando se a forma ordenada pela lei pessoal dos nubentes
seja diversa. A capacidade matrimonial e direitos de família são regidos pela lei pessoal dos
nubentes, ou seja, a lei do seu domicílio. Um casamento consumado tem efeitos e limitações
que serão submetidos à lei domiciliar. Já os casamentos celebrados no exterior, quando de
acordo com as formalidades legais do Estado onde foi celebrado, serão reconhecidos como
válidos no Brasil, ressalvados os casos de ofensa à ordem pública brasileira e de fraude à lei
nacional, se não se observarem os impedimentos matrimoniais fixados pela lei.

Causas Suspensivas X Causas Impeditivas do Casamento


● CAUSAS SUSPENSIVAS (Art. 1.523 do CC): lei do domicílio e, assim, casamentos
realizados no Brasil obedecerão as causas suspensivas do domicílio do nubente.
● CAUSAS IMPEDITIVAS (Art. 1.521 do CC): lei do local de celebração do casamento.
Casamentos realizados no Brasil obedecerão ao Art. 1521 do CC para todos os
indivíduos, mesmo que sejam estrangeiros.

Causas Suspensivas do casamento ⇒ LEI DO DOMICILIO


Causas Impeditivas ⇒ LEI DO LOCAL DE CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

Art. 7º. § 2º. O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou
consulares do país de ambos os nubentes.

Estrangeiros poderão contrair casamento fora de seu país = perante o agente consular
ou diplomático de seu país, no consulado ou não. O cônsul estrangeiro é competente para
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realizar casamento somente quando: A lei nacional o atribuir tal competência; Os nubentes
forem co-nacionais e; O cônsul tenha a mesma nacionalidade
Casamento de estrangeiros, domiciliados ou não no Brasil, somente é celebrado
conforme o direito alienígena no que diz respeito à forma do ato, pois seus efeitos materiais
serão apreciados conforme a lei brasileira. Enquanto o casamento de brasileiros residentes no
exterior poderá ser realizado perante autoridade consular brasileira. Entretanto, há a
impossibilidade de um casamento diplomático entre uma brasileira e um estrangeiro ou
apátrida (tem que ter mesma nacionalidade).
No que tange ao traslado de Assento de Casamento, o casamento de brasileiro,
celebrado no estrangeiro, perante as respectivas autoridades ou os cônsules brasileiros,
deverá ser registrado em 180 dias, a contar da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil,
no respectivo domicílio, ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado em que passarem a
residir.
Decurso do prazo de 180 dias, não impedirá a transcrição do assento e o casamento
celebrado no exterior é um negócio jurídico ao qual a lei brasileira confere valor, sendo o
registro mera condição de oponibilidade a terceiros. Os assentos de casamento de brasileiros
em país estrangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar em que forem
feitos. Apenas para produzir efeitos no país é que serão trasladados.

Art. 7º. § 3º. Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio a
lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4º. O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os nubentes
domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§ 5º O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa anuência de
seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização, se apostile ao
mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os direitos de terceiros e
dada esta adoção ao competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros, só será
reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver sido antecedida
de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação produzirá efeito imediato,
obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das sentenças estrangeiras no país. O
Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu regimento interno, poderá reexaminar, a
requerimento do interessado, decisões já proferidas em pedidos de homologação de sentenças
estrangeiras de divórcio de brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
NÃO EXISTEM MAIS PRAZOS!!!!!!!!!!!!!!
§ 7º. Salvo o caso de abandono, o domicílio do chefe da família estende-se ao outro cônjuge e
aos filhos não emancipados, e o do tutor ou curador aos incapazes sob sua guarda.
§ 8º. Quando a pessoa não tiver domicílio, considerar-se-á domiciliada no lugar de sua residência
ou naquele em que se encontre.

BENS
Art. 8º. Para qualificar os bens e regular as relações a eles concernentes, aplicar-se-á a lei do país
em que estiverem situados.
§ 1º. Aplicar-se-á a lei do país em que for domiciliado o proprietário, quanto aos bens moveis que
ele trouxer ou se destinarem a transporte para outros lugares.
§ 2º. O penhor regula-se pela lei do domicílio que tiver a pessoa, em cuja posse se encontre a
coisa apenhada
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

OBRIGAÇÕES
Art. 9º. Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.
§ 1º. Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma essencial, será
esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto aos requisitos extrínsecos
do ato.
§ 2º. A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.

SUCESSÕES
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado o defunto
ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º. A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei brasileira em
benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente, sempre que não lhes
seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.​ NORMA IMPERFEITA!
§ 2º. A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.

PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO


Art. 11. As organizações destinadas a fins de interesse coletivo, como as sociedades e as
fundações, obedecem à lei do Estado em que se constituírem
§ 1º. Não poderão, entretanto, ter no Brasil filiais, agências ou estabelecimentos antes de serem
os atos constitutivos aprovados pelo Governo brasileiro, ficando sujeitas à lei brasileira.
§ 2º. Os Governos estrangeiros, bem como as organizações de qualquer natureza, que eles
tenham constituído, dirijam ou hajam investido de funções públicas, não poderão adquirir no Brasil
bens imóveis ou suscetíveis de desapropriação.
§ 3º. Os Governos estrangeiros podem adquirir a propriedade dos prédios necessários à sede dos
representantes diplomáticos ou dos agentes consulares

Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no Brasil ou
aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1º. Só à autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a imóveis
situados no Brasil.
§ 2º. A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a forma
estabelecida pela lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade estrangeira competente,
observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.

Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele vigorar, quanto
ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais brasileiros provas que a lei
brasileira desconheça

O SISTEMA BRASILEIRO INTERNACIONAL PRIVADO: LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


PASSAPORTES E VISTOS
Personalidade Internacional: Estrangeiros

Para o Estado todo indivíduo será: ​Nacional ou Estrangeiro​. Sendo que esse Estado
Soberano tem competência exclusiva para: ​Conceder Nacionalidade a um indivíduo; Permitir
ou negar o ingresso de estrangeiros em seu território; Limitar ou não o tempo de permanência
de estrangeiros em seu territóri​o. Cabe ressaltar que a entrada de um estrangeiro no território
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

de um Estado gera uma série de deveres do Estado em relação ao estrangeiro, uma vez que
faz com que o estrangeiro tenha que se adequar às normas do Estado em que se encontra.
O Estado deverá garantir os direitos fundamentais do estrangeiro presente em seu
território, mesmo que ele esteja apenas em trânsito entre aeroportos – como o direito à vida,
integridade física etc.

Direitos políticos – mesmo o estrangeiro residente no Brasil não terá direito de


participação na vida política

PASSAPORTE
É um documento de identidade emitido por um governo nacional que ​atesta
formalmente o portador como nacional de um Estado em particular e requisita permissão em
nome do soberano ou do governo emissor para o detentor poder cruzar a fronteira de um país
estrangeiro​. Passaportes estão ligados ao direito de proteção legal no exterior e ao retorno do
indivíduo a seu país de origem e têm como elementos comuns (para identificação) ​a fotografia,
assinatura, data de nascimento, nacionalidade e algumas vezes outras informações coerentes
a seu propósito.

Tipos de Passaportes:
● Passaporte Comum​​ = usados em viagens regulares. ⇒ (azul)
● Passaporte Diplomático = identifica seus membros como representantes diplomáticos
de seu país natal. ⇒ (vermelho)
● Passaporte de Serviço = emitidos ao pessoal técnico e administrativo lotado em
missão diplomática, como uma embaixada ou consulado (não tem tantos privilégios
como o passaporte diplomático). ⇒ (verde)
● Passaporte “laissez-passer” = Para cidadãos de países que não possuem relações
diplomáticas com o Brasil. ⇒ (marrom)
● Passaporte para estrangeiros asilados ou refugiados no país​​ ⇒ (amarelo)
● Passaporte de emergência​​ ⇒ (azul celeste - ONU)
● Passaporte Oficial = emitido por alguns países para servidores civis em viagens com
propósitos oficiais (alguns países usam nesse caso passaportes de serviço).
Necessidade de visto dependerá de acordo entre os países.
● Passaporte Coletivo = Emitido para um grupo de pessoas ser identificado em outro
território. Exemplo: Em uma viagem de escola todas as crianças estarão cobertas pelo
mesmo documento.

O novo passaporte brasileiro teve suas modificações em acordo assinado entre os


países do do Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que agora possuem passaportes
padronizados. Com 16 novos itens de segurança para evitar a falsificação do documento, em
que agora está entre um dos mais modernos e seguros do mundo. Com ele, o Brasil passa a
atender às normas de segurança da ICAO (Organização de Aviação Civil Internacional),
agência ligada às Nações Unidas.
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

A mudança do passaporte é resultado da crescente pressão internacional pós-atentado


de 11 de setembro. A página principal do novo passaporte brasileiro traz um código de
barras bidimensional, contendo os dados biométricos.

Tem como objetivo principal a criação de um banco de dados internacional através do


registro desses dados por meio de máquinas leitoras dos dados dos novos passaportes. Por
ser um país de grande diversidade de raças, o Brasil tem seu passaporte como um dos mais
cobiçados do mundo, por isso há uma grande necessidade de combate à falsificação de
passaportes brasileiros.
Principais medidas de segurança do novo passaporte:
● Código de barras bidimensional, contendo os dados biométricos;
● Fundo com microletras;
● Impressão íris; impressão invisível; impressão intaglio com imagem latente e
com tinta opticamente variável;
● Laminado de segurança para proteção dos dados;
● Marca d´água posicionada;
● Papel com fibras visíveis e invisíveis, fio de segurança e reativo a produtos
químicos;
● Tintas sensíveis à abrasão e a solventes;
● Fio de costura luminescente bicolor;
● Perfuração cônica a laser;
● Costura das páginas com arremate;
● Paginação em filigrana eletrotipo.

O formulário de requisição do passaporte deve ser preenchido na Internet e após o


pagamento da taxa em dinheiro basta fazer o agendamento em dia e horário específicos para
comparecimento à Polícia Federal, será preciso deixar as impressões digitais, tirar uma
fotografia e assinar o documento, bem como que, para evitar adulteração, tanto a fotografia
quanto a assinatura serão digitalizadas. Todos esses dados, chamados biométricos, ficarão
armazenados em um banco de dados da Polícia Federal, mas também serão inseridos no
código de barras bidimensional presente em uma das páginas do novo passaporte. No
momento de embarque, eles serão lidos por uma máquina especial, instalada nos pontos de
checagem migratória no Brasil e no exterior. Ao mesmo tempo, a tela do computador exibirá a
foto do titular do documento.

Tudo isso vai agilizar a conferência dos dados e facilitar o desembarque do passageiro.

Mudança em 2015
1. Qual a diferença? • O prazo de validade agora é de dez anos -o dobro do anterior, que valia cinco. Tirar
o documento também ficou mais caro: de R$ 156,07 passou para R$ 257,25. A capa ganhou um desenho
com cinco estrelas que representam a constelação do Cruzeiro do Sul.
2. É mais seguro? • Um novo padrão de criptografia foi adotado, o que garante mais segurança aos dados
gravados no chip, segundo a Polícia Federal. Também há novas marcas-d'água nas contracapas, que
mostram o mapa do Brasil sob radiação ultravioleta.
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

3. Preciso trocar já? • Não. Só é preciso fazer um novo passaporte na data em que o documento for
expirar (mas há países que exigem o documento com ao menos seis meses de validade).
4. Posso trocar? • Mesmo que não esteja vencido, o passaporte pode ser trocado por qualquer motivo -se
a pessoa quiser um que tenha mais tempo de validade, por exemplo. O antigo será cancelado, e é
preciso pagar a taxa de R$ 257,25.
5. É mais rápido? • A agilidade na hora de tirar o documento não muda. O sistema do site da Polícia
Federal continua o mesmo.
6. E se eu mudar muito? • Se houver mudanças na aparência, como ganho de peso ou troca de corte de
cabelo, não é preciso alterar o passaporte. Mas pode haver problemas com vistos já emitidos ou na
recepção em determinados países.
7. E as crianças? • Somente quem tem mais de 18 anos tem passaporte com validade de dez anos. Para
os menores, a duração varia entre um e quatro anos.
8. Já paguei, e agora? • Desde 6 de julho, todas as pessoas que se dirigirem à Polícia Federal para
renovar o passaporte já receberão o novo documento, independentemente da data em que tiverem pago
a taxa, mesmo se o pagamento tiver sido efetuado sob o valor antigo.
9. Os vistos mudam? • A regra continua a mesma: o passaporte antigo tem todas as páginas canceladas,
exceto aquelas com os vistos ainda vigentes. Nesse caso, é preciso que o viajante carregue consigo na
viagem o passaporte novo e o velho.
10. Tem mais espaço? • A mudança não afetou o número de páginas destinadas a vistos e carimbos.
Apesar de a validade ter sido dobrada, o espaço é o mesmo.

VISTOS
Documento emitido por um Estado que dá permissão ao estrangeiro entrar em seu
território.

É UM ATO DE CORTESIA INTERNACIONAL, NÃO É UM DIREITO

Portanto poderá ser negado a qualquer momento pelo Estado emissor sem a
necessidade de uma justificativa. A concessão de vistos faz parte do exercício da soberania
nacional e nenhum Estado poderá ser obrigado a permitir a entrada de um estrangeiro em seu
território, bem como que os vistos não serão obrigatórios, em que por meio de acordos
bilaterais ou através da reciprocidade os Estados poderão dispensar a necessidade de uma
prévia emissão de vistos para nações “amigas”. O Brasil não requer a emissão prévia de vistos
para a maioria dos países da América Latina e da Europa Ocidental (reciprocidade).

Art. 7º: Não será concedido visto ao estrangeiro:


I – Menor de dezoito anos, desacompanhado do responsável legal ou sem sua autorização
expressa.
II – Considerado nocivo à ordem e aos interesses nacionais.
III – Anteriormente expulso do país, salvo se a expulsão tiver sido revogada.
IV – Condenado em outro país por crime doloso passível de extradições segundo a lei brasileira;
ou
V – Que não satisfaça as condições de saúde estabelecidas pelo Ministério da Saúde
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

Tipos de vistos
O Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80) relaciona os vistos emitidos para entrada em
território nacional. O tipo de visto será emitido de acordo com os objetivos do estrangeiro no
país emissor.
● VISTO DE TURISTA​​: Concedido a estrangeiro que vem ao país em caráter
recreativo ou simplesmente de visita, sem fim imigratório e sem o objetivo de
exercício de atividade remunerada. No Brasil é dispensada a emissão para países
limítrofes. O prazo de validade depende de Tratado (fixado pelo Ministério das
Relações Exteriores, dentro dos critérios de reciprocidade). ​Proporciona múltiplas
entradas no país​​. Entradas não excedentes a 90 dias, podendo ser prorrogado por
mais 90 dias totalizando, no máximo, uma permanência de 180 por ano. ​O
estrangeiro não poderá permanecer em solo pátrio após exaurido o prazo do
visto. Não poderá exercer, mesmo na vigência do visto, atividade remunerada
sob pena de ser deportado.
● VISTO DE TRÂNSITO: Concedido a estrangeiro que precise passar pelo território
nacional para chegar ao seu país de destino, inclusive com parada no Brasil por no
máximo 10 dias. A passagem rápida por aeroporto em território brasileiro dispensa e
emissão do visto é necessário que haja a parada em território brasileiro a ponto de
que o estrangeiro precise sair do aeroporto para aguardar seu próximo voo. ​Seu
prazo de validade é de até 10 dias​.​ Requisitos para emissão do visto de trânsito: ​(1)
Passaporte ou documento equivalente; (2) Certificado internacional de
imunização (quando necessário); (3) Bilhete de viagem para o país de destino
final.
● VISTO TEMPORÁRIO: ​Não recebe essa denominação em função do tempo que ele
vale, já que se assim fosse só o visto permanente não seria denominado como
temporário.
Art. 13 do Estatuto do Estrangeiro: O visto temporário será concedido a
estrangeiro que pretende vir ao Brasil:
I – Em viagem cultural ou em missão de estudos;
II – Em viagem de negócios;
III – Na condição de artista ou desportista;
IV – Na condição de estudante;
V – Na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra
categoria sob regime de contrato ou serviço do Governo Brasileiro;
VI – Nas condições de correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou
agência noticiosa estrangeira; e
VII – Nas condições de ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de
vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa.

Art. 23 do Estatuto do Estrangeiro: Requisitos para emissão do visto temporário:


– Passaporte ou documento equivalente;
– Certificado internacional de imunização (quando necessário);
– Atestado de saúde;
– Prova de meios de subsistência; e
– Atestado de antecedentes penais ou documento equivalente.
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Caderno de Direito Internacional Privado
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Art. 25 do Estatuto do Estrangeiro: Prazos do Visto Temporário


I – No caso de viagem cultural ou missão de estudos, até dois anos;
II – No caso de viagens de negócios, até 90 dias;
III – Para artistas ou desportistas, até 90 dias;
IV – Para estudantes, até um ano;
V – Para cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria sob
regime de contrato ou serviço do Governo Brasileiro, até dois anos;
VI – Para correspondente de jornal, revista, rádio, televisão ou agência noticiosa
estrangeira, até quatro anos;
VII – Para ministro de confissão religiosa ou membro de instituto de vida
consagrada e de congregação ou ordem religiosa, até um ano.

Os prazos poderão ser prorrogados pelo mesmo período.

● VISTO PERMANENTE​​: Concedido àquele que tem a intenção de morar no território


nacional (imigrante = é o estrangeiro que se estabelece no Estado com o intento de
permanência definitiva). ​Não é todo o estrangeiro que pode imigrar para o Brasil.
O Estatuto do Estrangeiro prevê a imigração com o objetivo principal de aumento de
mão-de-obra especializada, com o intuito de ajudar o crescimento econômico
brasileiro. Somente pessoas qualificadas para atender as necessidades do país e
que tiverem boa saúde física e mental conseguirão obter vistos permanentes (blue
card – U.E.). ​Requisitos para emissão do visto permanente: ​– Passaporte ou
documento equivalente; – Certificado internacional de imunização (quando
necessário); – Atestado de saúde; – Atestado de antecedentes pessoais; – Prova da
residência; – Certidão de nascimento ou de casamento; e – Contrato de trabalho
visado pela Secretaria de Imigração do Ministério do Trabalho, quando for o caso. A
concessão do visto permanente poderá ficar condicionada a: ​– Exercício de atividade
certa (por prazo máximo de 5 anos) – Fixação em região determinada do território
nacional. O estrangeiro Português não precisa obedecer todas essas exigências, em
função do Tratado de Amizade estabelecido entre Brasil e Portugal. ​Cabe ressaltar
que o estrangeiro com visto permanente tserá direito à vida, segurança,
liberdade, igualdade e propriedade – entretanto haverão limites para a compra
de propriedades rurais (Art. 106 do Estatuto do Estrangeiro)​​.
● VISTOS OFICIAL, DIPLOMÁTICOS E DE CORTESIA: São de competência do
Ministério das Relações Exteriores, que irá concedê-los, prorrogá-los ou
dispensá-los, mas mesmo assim ainda é competência do Ministério da Justiça a
análise da permanência do indivíduo no território nacional (Art. 26 do Estatuto do
Estrangeiro).
● VISTO DE OFICIAL: Concedido ao estrangeiro que vem ao Brasil em missão oficial
bem como aos funcionários de órgãos internacionais portadores de salvo-conduto,
laissez-passer.
● VISTO DIPLOMÁTICO: Específico das autoridades diplomáticas estrangeiras, que
representam o seu Estado.
● VISTO DE CORTESIA: Oriundo de convite feito pelas autoridades do Governo
Brasileiro a pessoas amigas do Brasil e de reconhecido valor.
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

Registro dos vistos


É obrigatório o registro no Ministério de Justiça o registro de vistos: – Na condição de
permanente; – Temporário, em viagem cultural ou missão de estudos; na condição de
estudante, de cientista, professor, técnico ou profissional de outra categoria, sob o regime de
contrato ou serviço com o Governo Brasileiro; bem como na qualidade de correspondente de
jornal, revista, rádio, televisão ou agência noticiosa estrangeira, de ministro de confissão
religiosa ou membro de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa e,
finalmente, como exilado.

Transformação dos vistos


Art. 13, inciso V, do Estatuto do Estrangeiro
● Aquele que na condição de cientista, professor, técnico ou profissional de outra
categoria, sob o regime de contrato ou serviço com o Governo Brasileiro​​:
PODERÁ OBTER A TRANSFORMAÇÃO DO SEU VISTO TEMPORÁRIO EM
PERMANENTE, DESDE QUE SATISFEITAS AS CONDIÇÕES PREVISTAS EM LEI.
● Titular de visto temporário, por ser de ministro de confissão religiosa ou membro
de instituto de vida consagrada e de congregação ou ordem religiosa​​: PODERÁ
TRANSFORMAR SEU VISTO EM PERMANENTE SOMENTE APÓS 2 ANOS.
● Em todos os casos o novo visto terá que obedecer os requisitos do Art. 18 do
Estatuto do Estrangeiro​​: prazo de 5 anos e permanência em região determinada do
país.
● Os vistos oficial e diplomático poderão ser transformados em permanente desde
que seja ouvido o Ministério das Relações Exteriores​​.
● Vistos de Turista, de Trânsito e Temporários (viagem cultural ou em missão de
estudos e correspondentes de meios de comunicação)​​: NÃO PODERÃO SER
TRANSFORMADOS EM PERMANENTE.
● Vistos de Turista, de Trânsito, Temporários ou Permanente​​: PODERÃO SER
TRANSFORMADOS EM VISTOS OFICIAL OU DIPLOMÁTICO (Art. 42 Estatuto)

EXTRADIÇÃO / DEPORTAÇÃO / EXPULSÃO / BANIMENTO / ENTREGA


Extradição
Instituto pelo meio do qual um Estado entrega a outro Estado, em razão de solicitação
deste, uma pessoa para responder a processo penal ou cumprir pena. O Ministério da Justiça
determina que a extradição é ato de defesa internacional, forma de colaboração na repressão
do crime. Objetiva a entrega de um infrator da lei penal, que, no momento, se encontra em
nosso país, para que possa ser julgado e punido por juiz ou tribunal competente do país
requerente, onde o crime foi cometido. Trata-se, pois, de um ato com fundamento na
cooperação internacional no combate e repressão à criminalidade.
Fundamento jurídico do pedido: ​– Em regra consiste em um tratado entre os Estados
envolvidos. – Na ausência de um tratado previamente assinado baseia-se na reciprocidade
(normas internas)​. ​No Brasil a promessa de extradição por meio da reciprocidade
comporta a possibilidade de recusa sumária.
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

Tratado de Extradição não admite a recusa sob pena de responsabilidade internacional.

A extradição está definida nos artigos 76 a 94 do Estatuto do Estrangeiro, e constitui


uma faculdade do País concedê-la (“poderá ser”).

Art.76: “A extradição poderá ser concedida quando o governo requerente se fundamentar em


tratado, ou quando prometer ao Brasil a reciprocidade”.

Salvo na hipótese de recusa sumária do Executivo o pedido de extradição deverá


ser analisado pelo STF​​. A prisão do extraditando é condição de prosseguibilidade para o
processo de extradição; não comporta exceção e não pode o extraditando dispensar a análise
e o pronunciamento do Judiciário, adiantando-se à concessão do pedido. O controle
jurisdicional é um benefício legal que objetiva proteger a liberdade da pessoa e no Brasil é
irrenunciável. ​O MP atuará como fiscal da lei no processo extradicional​​.
O Estado requerente não é formalmente parte do processo, apesar de representação
por advogado ser admitida, e de o indeferimento do pedido gerar efeitos semelhantes aos da
sucumbência. A defesa poderá versar sobre: ​– A identidade da pessoa reclamada – Defeito de
forma nos documentos apresentados – Ilegalidade da extradição

NÃO SE CONCEDE EXTRADIÇÃO DE NACIONAL ​ ​– Art. 5°, inciso LI da CR/88.

EXCEÇÃO: feita por poucos países que em tratado – (Ex: EUA e Inglaterra). Já o
MERCOSUL tem a tendência a assinar um tratado que permita a extradição de nacionais para
países membros do bloco (Brasil – art. 5° da Constituição da República – proteção do nacional
– cláusula pétrea).

Crimes militares e políticos não comportam extradição.


No Brasil o crime comum conexo com crime político comporta a extradição.

A legislação brasileira é taxativa quanto às situações em que a extradição não será


concedida.
Art. 77 do Estatuto do Estrangeiro):
I – se tratar de brasileiro, salvo se a aquisição dessa nacionalidade se verificar após o fato que
motivar o pedido;
II – quando o fato que está à base do pedido não for crime no Brasil ou no Estado requerente;
III – nos casos em que o Brasil for competente, segundo suas leis, para julgar o crime imputado ao
extraditando;
IV – se a pena imposta pela lei brasileira para o crime for igual ou inferior a um ano;
V – no caso em que o extraditando estiver respondendo processo ou já houver sido condenado ou
absolvido no Brasil pelo mesmo fato em que se funda o pedido de extradição;
VI – quando estiver a extinta a punibilidade pela prescrição de acordo com a lei brasileira ou a do
Estado requerente;
VII – se o for pedida com base em crime político; mas essa exceção não impedirá a extradição,
quando o crime comum, conexo ao delito político, constituir o fato principal;
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Caderno de Direito Internacional Privado
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VIII – se o extraditando tiver que responder, no Estado requerente, perante um Tribunal ou Juízo
de Exceção.

Art. 78. São condições para concessão da extradição:


I - ter sido o crime cometido no território do Estado requerente ou serem aplicáveis ao extraditando
as leis penais desse Estado; e
II - existir sentença final de privação de liberdade, ou estar a prisão do extraditando autorizada por
Juiz, Tribunal ou autoridade competente do Estado requerente, salvo o disposto no artigo 82.

Art. 79. Quando mais de um Estado requerer a extradição da mesma pessoa, pelo mesmo fato,
terá preferência o pedido daquele em cujo território a infração foi cometida

Deportação
É uma forma de exclusão compulsória do estrangeiro que se recusa a sair
voluntariamente do território nacional, por iniciativa das autoridades locais nas hipóteses de
entrada ou estadia irregular no Brasil. O estrangeiro que entrou ou se encontra em situação
irregular no país, será notificado pela Polícia Federal, que lhe concederá um prazo variável
entre um mínimo de três e máximo de 8 dias, conforme o caso, para retirar-se do território
nacional. Se descumprido o prazo, o Departamento de Polícia Federal promoverá a imediata
deportação.
A retirada voluntária é, pois, o elemento que diferencia, fundamentalmente, a
deportação dos outros dois meios de afastamento compulsório, a expulsão e a extradição. A
previsão legal de que ao estrangeiro será dado um prazo para que se retire do país não é
absoluta. Se for conveniente aos interesses nacionais, a deportação será efetivada
independentemente de ser concedido ao estrangeiro o prazo fixado no Decreto 86.715/81
(art.98, 2º).

A deportação não causa empecilho para retorno do estrangeiro ao país que o deportou.

Ele poderá regressar a qualquer momento desde que tenha sua situação regularizada.
A deportação não ocorrerá nas hipóteses em que a extradição não é autorizada no Brasil. Para
regularizar a situação do deportado: ​– O tesouro nacional deverá ser ressarcido do montante
gasto com a deportação do estrangeiro; – Pagamento de multa (se existente). – Todos os
valores deverão ser corrigidos monetariamente​. No que tange ao país de destino, a Lei
6815/80, art. 58, parágrafo único: ​“A deportação far-se-á para o país de nacionalidade ou de
procedência do estrangeiro, ou para outro que consinta em recebê-lo”​. Dá-se direito de opção
ao deportando. Finalmente, assegura o Estatuto do Estrangeiro que não se procederá a
deportação se esta medida implicar em extradição não admitida pela Lei brasileira (art. 63, Lei
6815/80).

Expulsão
É uma forma de retirada do estrangeiro do território nacional que entrou regularmente
no país, mas tornou-se nocivo ao país. José Afonso da Silva define a expulsão como: ​“um
modo coativo de retirar o estrangeiro do território nacional por delito ou infração ou atos
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

que o tornem inconveniente. Fundamenta-se na necessidade defesa e conservação da


ordem interna ou das relações internacionais do Estado interessado"​​.

Art. 65 (Lei 6815/80): “É passível de expulsão o estrangeiro que, de qualquer forma, atentar contra
a segurança nacional, a ordem política ou social, a tranqüilidade ou moralidade pública e a
economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivo à conveniência e aos interesses
nacionais”.
Parágrafo único. É passível, também, de expulsão o estrangeiro que:
a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil;
b) havendo entrado no território nacional com infração à lei, dele não se retirar no prazo que lhe for
determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a deportação;
c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou
d) desrespeitar proibição especialmente prevista em lei para estrangeiro

Decreto de competência exclusiva do Presidente da República é o que irá formalizar a


expulsão.

Será o presidente que deverá resolver sobre a conveniência e a oportunidade da


expulsão e de sua revogação (art. 66). Ter o poder de expulsar o estrangeiro é um dos pontos
principais distinção com o nacional, porque este tem o direito inalienável de permanecer em
solo pátrio, uma vez que a constituição da República veda o banimento, enquanto o estrangeiro
não tem esta garantia, pois o Estado, mesmo depois tê-lo admitido em seu território em caráter
permanente, tem a possibilidade de expulsá-lo se for considerado perigoso para a boa ordem e
a tranqüilidade pública.

CONCLUSÃO: NO BRASIL O NACIONAL NUNCA PODERÁ SER EXPULSO DE SEU


TERRITÓRIO.

Art. 68 do Estatuto do Estrangeiro: Até 30 dias do trânsito em julgado de sentença condenatória do


estrangeiro autor de crime doloso ou de qualquer crime contra a segurança nacional, a ordem
política ou social, a economia popular, a moralidade ou a saúde pública

MP envia cópia da sentença e da folha de antecedentes penais constantes dos autos


para o ⇒ Ministério da Justiça ⇒ Dará início ao inquérito para a expulsão do estrangeiro. O
ministro da justiça poderá determinar a qualquer tempo a prisão do estrangeiro pelo prazo de
90 dias, podendo ser prorrogado pelo mesmo período (Art. 69).

Art. 71 - casos de infração contra a segurança nacional, a ordem política ou social e a economia
popular, assim como nos casos de comércio, posse ou facilitação de uso indevido de substância
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, ou de desrespeito à proibição
especialmente prevista em lei para estrangeiro - I​ NQUÉRITO SUMÁRIO (PRAZO MÁX 15 DIAS)
Art. 75. Não se procederá à expulsão:
I - se implicar extradição inadmitida pela lei brasileira; ou
II - quando o estrangeiro tiver:
a) Cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado, de fato ou de direito, e desde que
o casamento tenha sido celebrado há mais de 5 (cinco) anos; ou
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Caderno de Direito Internacional Privado
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b) filho brasileiro que, comprovadamente, esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente.
§ 1º. Não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o reconhecimento de filho brasileiro
supervenientes ao fato que o motivar.
§ 2º. Verificados o abandono do filho, o divórcio ou a separação, de fato ou de direito, a expulsão
poderá efetivar-se a qualquer tempo.

Banimento
Medida jurídica pela qual um cidadão perde direito à nacionalidade de um país,
passando a ser um apátrida (a não ser que previamente possua dupla cidadania de outro país).
O banimento foi usado com freqüência pela ditadura militar do Brasil para punir dissidentes
políticos e guerrilheiros que cometessem "crimes contra a Segurança Nacional", como
seqüestro de diplomatas estrangeiros e luta armada nas cidades e em áreas rurais. A
constituição brasileira de 1988 proíbe de modo absoluto esta pena de banimento

Art. 5°, inciso XLVII - não haverá penas:


a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;

Entrega
No Tribunal Penal Internacional (Corte Penal Internacional) = Foi estabelecido em 2002
em Haia, capital dos Países Baixos, onde inclusive fica a sede do Tribunal, conforme
estabelece o artigo 3º do Estatuto de Roma, documento aprovado no Brasil pelo Decreto Nº
4.388 de 25 de setembro de 2002. O objetivo do TPI é promover o Direito Internacional, e sua
função é julgar os indivíduos e não os Estados (tarefa do Tribunal Internacional de Justiça). Ele
é competente somente para os crimes mais graves cometidos por indivíduos: (genocídios,
crimes de guerra, crimes contra a humanidade), crimes definidos por diversos acordos
internacionais, principalmente o Estatuto de Roma.

O TPI defende que os os Estados devem colaborar para processar os responsáveis por
esses tipos crimes, MESMOS QUE SEJAM SEUS NACIONAIS

Significa a entrega de indivíduo ao Tribunal Penal Internacional para que ele seja
julgado pelos crimes de competência do Tribunal.

O art. 102 do Estatuto de Roma diferencia a entrega da extradição: "Por entrega, entende-se a
entrega de uma pessoa por um Estado ao Tribunal Penal Internacional, nos termos do presente
Estatuto; por extradição, entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado,
conforme previsto em um tratado, em uma convenção ou no direito interno".

Tem-se a polêmica: ​é possível a entrega de brasileiros ao TPI pelo Brasil? Sobre isso, a
EC nº 45, de 08 de dezembro de 2004, acrescentou o § 4º ao art. 5º da CR/88, no qual prevê o
Tribunal Penal Internacional, cujo teor é o seguinte: ​"O Brasil se submete à jurisdição de
Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão"​. Assim, o entendimento
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Caderno de Direito Internacional Privado
Ana Carolina Guimarães Machado

majoritário é que sim, é possível a entrega de brasileiros ao TPI pelo Brasil, já que se diferencia
da extradição e já que o Brasil ratificou o Estatuto de Roma.

RESUMO
Requerimento de um Estado para que o
seu nacional que se encontre em outro
EXTRADIÇÃO Estado seja entregue para processamento
e julgamento. OBS: Brasileiros natos
nunca poderão ser extraditados.

Ocorre quando há entrada desautorizada


DEPORTAÇÃO de um indivíduo num país, ou se,
autorizada, posteriormente torna-se
irregular.

Ocorre quando o indivíduo entra


EXPULSÃO regularmente em um país, mas torna-se
nocivo durante sua estada

BANIMENTO É a expulsão do próprio nacional.


PROIBIDO NO BRASIL.

É uma forma de extradição específica, na


ENTREGA qual o indivíduo é entregue ao Tribunal
Penal Internacional (TPI) e não ao país
requisitante

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