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Noção de DIP - De acordo com A.

FERRER CORREIA, o DIP é o ramo do direito que procura formular os princípios e regras conducentes à
determinação da lei ou leis aplicáveis às questões emergentes das relações privadas internacionais, e bem assim assegurar o reconhecimento
no Estado do foro das situações jurídicas puramente internas, mas situadas na órbita de um único sistema de direito estrangeiro.
Objeto do DIP - O objeto do DIP são as relações jurídicas privadas internacionais quer ao nível da constituição de direitos, quer ao nível do
reconhecimento de direitos, ou seja, relações entre pessoas ou entidades que se apresentam desprovidas de poderes de autoridade (isto é,
que se apresentam em pé de igualdade) e que se encontram em contacto com mais que uma ordem jurídica. Também podem ser designadas
de “relações plurilocalizadas” ou ainda, nos termos de ANABELA GONÇALVES de “relações privadas que atravessam fronteiras”.
Classificação de relações privadas internacionais - (de JITTA – holandês – final do século XIX ao século XX) 1. Relações privadas puramente
internas (excluídas do âmbito do Direito Internacional Privado): relações jurídicas cujos elementos da relação estão em contacto apenas com
um ordenamento jurídico, o do foro. É o sistema jurídico a que pertence o órgão de aplicação do direito (tribunal, a conservatória …) e a quem
é entregue a função de resolver a relação controvertida). Nestas relações aplicamos a lei do foro, o Código Civil. 2. Relações privadas
relativamente internacionais: relações jurídicas que são puramente internas relativamente a um ordenamento jurídico que não é o
ordenamento jurídico do foro. Nestas relações a questão que se coloca é de reconhecimento de direitos adquiridos no estrangeiro. O
elemento de internacionalidade traduz-se no facto de a situação ser apreciada num ordenamento jurídico que não é o ordenamento jurídico
onde a situação foi constituída. 3. Relações privadas absolutamente internacionais: relações jurídicas em que os seus elementos já se
encontram em contacto com mais do que uma ordem jurídica ab initio. São as relações plurilocalizadas/ heterógenas por excelência. O que
visa o DIP? Visa a continuidade e a estabilidade de relações jurídico privadas internacionais, de forma que as fronteiras não impeçam as
pessoas de exercerem os seus direitos; visa a salvaguarda das legítimas espectativas dos indivíduos; ele é um direito que é tolerante às várias
soluções dadas pelos vários ordenamentos jurídicos. Matérias que integram o DIP: 1. Normas de conflitos: normas que designam a lei
aplicável para regular uma relação privada internacional. As normas de conflitos dizem-nos qual a lei onde temos de ir procurar a solução para
determinada questão internacional privada (ex: Art 45.º e 46.º CC). As normas de conflitos podem ser de: fonte nacional: Art 25.º a 65.º do CC;
de fonte internacional: normas de convenções internacionais; ou de fonte da União Europeia: normas em regulamentos (Regulamento Roma I,
Regulamento Roma II e Convenção de Roma). 2. Normas acessórias das normas de conflitos (Art 14.º a 24.º CC): normas que regulam a
aplicação das normas de conflitos; regulam e controlam o resultado material da aplicação a que se chega com a aplicação das normas de
conflitos; 3. Normas sobre o reconhecimento de sentenças estrangeiras e outros atos públicos estrangeiros sobre direitos privados: estas
têm fontes nacionais (Art 978.º e ss. CPC), fontes internacionais e fonte da União Europeia (por exemplo, Regulamento Bruxelas I bis,
Regulamento Bruxelas II bis, Convenção de Bruxelas sobre competência internacional e reconhecimento de sentenças estrangeiras, etc.); 4.
Reconhecimento de sentenças arbitrais: complementam, fixam pressupostos e limites, resolvendo conflitos de jurisdição previstos nos Art
62.º e 63.º do CPC e no Regulamento Bruxelas I bis; 5. Normas de competência dos órgãos que aplicam do Direito Internacional Privado:
dizem quais as autoridades com competências para julgar. Estas possuem fontes nacionais (Art 62.º e 63.º CPC), fontes internacionais
(Convenção de Bruxelas) e fontes da União Europeia; 6. Normas que regulam o direito da nacionalidade (Lei da Nacionalidade): normas de
direito material que regulam a aquisição, a manutenção e a perda da nacionalidade de determinado Estado; a nacionalidade é um elemento
de conexão relevante do Direito Internacional Privado em matéria de estatuto pessoal; 7. Normas que regulam os direitos dos estrangeiros (≠
direito estrangeiro): conjunto de normas que definem a capacidade dos estrangeiros para serem titulares de direitos privados face à
capacidade reconhecida aos cidadãos nacionais; estabelecem uma distinção entre estrangeiros e nacionais (por exemplo, Art 14.º e 15.º CRP).
Métodos de regulamentação das relações privadas internacionais (RPI) - Os métodos de regulamentação das RPI não são métodos
alternativos, mas sim métodos complementares.
1. Método substancialista ou material: 1.1 Direito material do Estado do foro 1.1.1 Direito material comum do Estado do foro: forma de
regulamentar as relações privadas internacionais, cujas relações são submetidas ao direito material comum do Estado do foro, ou seja, às
normas materiais da ordem jurídica a que pertence o órgão aplicador do direito. Isto significa que nesta técnica as relações jurídicas privadas
internacionais serão tratadas como relações privadas internas. Assim sendo, vamos aplicar as normas materiais que pertencem à ordem
jurídica do foro (onde é intentada a ação ou onde se localiza o órgão), como se as relações jurídicas privadas internacionais fossem puramente
internas. Por exemplo, CCV celebrado entre dois portugueses relativamente a um prédio rústico situado em França por documento particular.
Ora, este contrato é válido de acordo com o direito francês. Contudo, caso os tribunais portugueses fossem chamados a pronunciar-se sobre
esta questão, estes iriam tratar esta relação como uma relação jurídica portuguesa e, como tal, seria inválida, uma vez que na ordem jurídica
portuguesa a celebração de um CCV relativamente a um bem imóvel celebrado por documento particular é nula, nos termos dos Art 204.º, n.º
1, al. a), 874.º, 875.º, 220.º e 286.º CC. Vantagens: boa administração da justiça e a solução do litígio será mais rápida, uma vez que não é
necessário alegar, indagar e provar o teor do direito estrangeiro. Desvantagens: imprevisibilidade (direito aplicável varia em função do Estado
do foro), incerteza e insegurança jurídicas e afetação das legítimas espectativas das partes, o que põe em causa o princípio da confiança das
partes. Para além disso, a parte que for mais rápida poderia escolher o foro que lhe fosse mais favorável, o que fomenta o fórum shopping,
colocando em causa também o princípio da igualdade das partes. Com efeito, o método substancialista ou material comum do Estado do foro
está ultrapassado, dado que não é muito útil atualmente. Por estas desvantagens, este método não é aceite atualmente. 1.1.2 Direito material
especial do Estado do foro: conjunto de normas materiais que vão dar a solução para o caso concreto; normas materiais do Estado do foro
especialmente criadas para regulamentar diretamente as relações privadas internacionais. Estas têm na sua génese o ius gentium. Podem
aplicar-se diretamente, completar normas de conflitos, etc. Entre estas normas especiais encontram-se: a) Normas materiais de DIP: normas
que se encontram no meio das normas de conflito; ajudam estabelecendo limites, pressupostos ou complementos (ex: Art 51.º, n.º 3, 54.º, n.º
2, 27.º, n.º 2, 26.º, n.º 2, 2.º, n.º 2, 45.º, n.º 2, 51.º, n.º 1, 53.º, n.º 3, CC e Art 3.º, n.º 2, do CSC); b) Normas de aplicação imediata (NAI):
delimitam o âmbito de aplicação no espaço de forma autónoma independentemente das normas de conflitos; são normas materiais
espacialmente autolimitadas (elas dizem quando se aplicam), que pelo fim social que visam atingir e pela sua especial densidade valorativa (o
nosso legislador quer proteger um valor fundamental), reclamam a sua aplicação, explícita ou implicitamente (o seu âmbito de aplicação
retira-se através dos fins que visa alcançar), independentemente do âmbito de competência da ordem jurídica a que pertencem, derrogando o
sistema conflitual do Estado do foro. Deste modo, estas normas têm um interesse relevante por parte do Estado (interesse público subjacente)

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e, como tal, vão prevalecer sobre as normas de conflitos (por exemplo, Art 2223.º e 1682.º-A, n.º 2, do CC). FRACESCAKIS foi o primeiro autor
que lançou a primeira grande obra sobre as normas de aplicação imediata (NAI). c) Normas que integram direito dos estrangeiros: normas que
limitam a capacidade de gozo conhecida aos cidadãos estrangeiros para serem titulares de direitos privados em comparação àquela que é
atribuída aos cidadãos nacionais portugueses. Estas normas existem em todos os ordenamentos jurídicos (ex: art. 64º código de direitos de
autor). 1.2 Direito material uniforme ou unificado - O Direito material uniforme ou unificado tem uma origem supraestadual, isto é, a fonte
deste direito não é um Estado, mas sim uma organização internacional. 1.2.1 Direito material uniforme aplicável tanto às relações puramente
internas como às relações privadas internacionais: leis materiais comuns a vários Estados que são aplicadas em certos domínios específicos
do Direito Internacional Privado. Através destas normas conseguimos que em vários Estados, que sejam membros daquela convenção, o litígio
se resolva da mesma maneira. Deste modo, vários Estados aplicam a mesma lei. Por exemplo, Convenção de Genebra sobre Letras e Livranças
(1930). Para estas convenções serem aplicadas terão de existir normas de conflitos. DESVANTAGENS: Porém, por vezes, surgem dúvidas quanto
à interpretação e integração das normas de direito material uniforme ou unificado (na maior parte das vezes não existem interpretações
igualitárias para todos os Estados) e, em alguns casos, surgem até mesmo lacunas que são resolvidas pelos vários Estados de formas
diferentes. Todavia, este problema não se coloca quando estamos perante uma fonte comunitária (por exemplo, Regulamento da UE n.º
2027/97). 1.2.2 Direito material uniforme especialmente criado para regular apenas as relações privadas internacionais: este assume,
muitas vezes, a denominação de direito do comércio internacional. Existem várias convenções feitas pelos Estados e regulamentos para regular
as relações privadas internacionais. Por exemplo, Convenção de Varsóvia de 1929 para unificação de regras relativas ao transporte aéreo
internacional e Convenção de Viena de 1980 sobre os contratos de compra e venda internacional de mercadorias (Portugal só aderiu em
2020). Vantagens: Normas mais específicas, ajustadas e adequadas aos problemas de direito internacional privado, pensadas especialmente
para este tipo de questões jurídicas; Se a situação plurilocalizada se enquadrar no âmbito do direito material uniforme e, portanto, já se sabe
quais as normas que serão aplicadas, eliminamos o problema de escolha da lei aplicável e todos os restantes problemas inerentes, tornando-se
mais fácil e mais simples para o aplicador da lei resolver a questão; Quantos mais Estados aderirem haverá uma harmonia jurídica
internacional de soluções, que permite uma maior confiança das partes e uma maior previsibilidade das decisões; Torna-se mais fácil, mais
rápido e menos oneroso para as partes conhecer a disciplina jurídica que será aplicada à sua relação, que se traduz numa certa segurança
jurídica. Desvantagens: O direito material uniforme ou unificado só regula em determinados aspetos parcelares, em aspetos setoriais das
relações privadas internacionais e é sempre necessária uma ligação com a ordem jurídica a que pertencem; Processo moroso, principalmente
quando é de fonte internacional (as convenções demoram muitos anos a serem negociadas); por exemplo, a Convenção de Viena demorou
quase 15 anos a ser negociada e só abrange contratos de compra e venda de mercadorias; Não consegue suprimir totalmente o conflito de
leis; há certas áreas em que é de todo impossível avançar estas regulamentações uniformes que abranjam diversos países (por exemplo,
Direito da Família) – só era possível eliminar de forma absoluta o conflito de leis se a uniformização fosse universal (todos os Estados teriam de
aderir, o que não é possível); Interpretação e integração de lacunas.

Há determinados diplomas que contêm determinadas normas que nos indicam como devemos interpretar as convenções. Por exemplo, o Art
38.º da Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados é o princípio geral, mas, na prática, muitas vezes os Estados vão fazendo as suas
interpretações de acordo com o direito interno. Com efeito, quando existe divergência jurisprudencial entre vários Estados contratantes de
uma determinada convenção, tem que se recorrer à orientação jurisprudencial da ordem jurídica competente segundo o direito conflitual do
Estado do foro. O direito material, em geral, necessita sempre de uma ligação com a ordem jurídica que vai estar a resolver a questão, para
que se possa aplicar. Esta conexão está presente através de uma norma de conflitos do Estado contratante ou convencional, que remeta para
um desses Estados, sendo que funciona de forma diferente no direito material em comparação com o método conflitual. Para aplicar este
direito em Portugal é necessário existir uma conexão entre o litígio e a ordem jurídica portuguesa. Às vezes existem normas de conexão nas
convenções que estabelecem o critério de conexão relevante para que determinada convenção se possa aplicar (por exemplo, Art 1.º da
Convenção de Viena – é uma norma de conexão e, como tal, estabelece as condições em que aquela Convenção se vai aplicar). Se as nossas
normas de conflitos disserem que a determinada questão se aplica determinada lei e o Estado dessa lei é contratante, aplica-se, então, a
Convenção. É necessária a ligação entre a situação e o Estado onde essas normas vigoram. Assim, apesar do direito material uniforme ser uma
forma de regulamentação das relações privadas internacionais, ele não é um meio independente e, portanto, precisa destas ligações, das
chamadas normas de conflitos, normas estas que necessitam de um método conflitual. Daí dizermos que existem dois métodos de
regulamentação e que, embora diferentes, têm pontos de diálogo, não são absolutamente alternativos/ independentes. Isto posto, o método
conflitual e o método material não são métodos alternativos na regulamentação das relações privadas internacionais, mas sim
complementares. Além disso, são métodos que vão buscar um ao outro características. Normalmente através de normas de conflitos, o
método material exige sempre uma ligação com o Estado contratado, caso contrário a convenção não se aplica. Contudo, apesar de o método
material ser complementado pelas normas de conflitos, o funcionamento neste método é diferente do funcionamento das normas de conflitos
no método conflitual. Por outro lado, há duas realidades específicas que querem assumir-se como sendo duas formas substancialistas de
regulamentação das questões privadas internacionais: § Lex mercatoria: contêm os usos e as práticas do comércio internacional e têm uma
grande importância a nível da arbitragem internacional. Não são vistas como verdadeiras normas jurídicas pelos Estados, pois são incompletas
e não tutelam certos valores jurídicos que a norma jurídica interna visa salvaguardar. Todavia, podem ser utilizadas para integrar ou interpretar
a vontade das partes nos contratos internacionais. Dentro da lex mercatoria existem dois instrumentos jurídicos muito importantes:  
Princípios da UNIDROIT relativos aos contratos do comércio internacional (instituto internacional para a unificação do direito privado);  
Princípios do Direito Europeu dos Contratos elaborados no âmbito da União Europeia: estes princípios pretendem transmitir um fundo comum
a todos os Estados da União Europeia, uma espécie de lex mercatoria codificada. Estes existem, essencialmente, para que os Estados possam
modelar a sua ordem jurídica àqueles princípios e para os próprios sujeitos de direito privado se servirem daqueles contratos. § Direito flexível
(soft law): leis modelo/ propostas/ recomendações, ou seja, corpos de normas uniformes criados pelas organizações internacionais que são
propostas aos Estados e estes, se quiserem, podem transpô-las/ adotá-las no âmbito do direito interno. Existe uma lei modelo sobre
arbitragem comercial internacional que Portugal adotou, nomeadamente a UNCITRAL/CNUDC.

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2. Método conflitual: O método conflitual traduz-se essencialmente na formulação e aplicação de normas de conflitos de leis no espaço, ou
seja, normas que vão regular as relações privadas internacionais através de uma remissão para a ordem jurídica interna ou estrangeira, após se
declarar competente, a que a essa questão esteja ligada. Assim sendo, as normas de conflitos são normas que nos indicam qual a lei a aplicar a
determinada relação privada internacional, através do elemento de conexão (elemento individualizador da norma de conflitos – por exemplo,
o território ou a nacionalidade). A norma de conflitos remete para a ordem jurídica onde vamos buscar a solução para determinado litígio (por
exemplo, Art 25.º CC que remete para o Art 31.º, n.º 1, do CC). As normas de conflitos assentam em dois pressupostos: 1) Existência de limites
espaciais à aplicação do Direito: a ordem jurídica de cada Estado não se aplica universalmente (não vale para todas as situações da vida, ou
seja, só vale para as situações que têm uma ligação com a ordem jurídica em questão) e, como tal, tem de existir uma ligação entre a ordem
jurídica com o caso que está a ser apreciado; 2) Pluralidade e diversidade de ordens jurídicas: o método conflitual trata-se de um método de
regulamentação que se funda na tolerância do DIP face à diversidade de direitos. NOTA: Só aplicamos direito estrangeiro se existir uma norma
de conflitos que o permita. Funções das normas de conflitos 1) Delimitam o âmbito de aplicação do direito material interno/ direito do Estado
do foro; 2) Conferem eficácia na ordem jurídica interna a normas materiais da ordem jurídica estrangeira. Por exemplo, Artigo 46.º do CC: um
português compra uma casa de férias localizada em Ibiza. Quando é que se dá a transferência do direito de propriedade sobre este imóvel?
Qual é a lei aplicável? Ora, como estamos perante uma questão privada internacional, a lei aplicável será a lei espanhola, uma vez que se trata
da lei onde está localizada a coisa (elemento de conexão). Isto é, nos termos do Artigo 46.º do CC, o juiz vai decidir que ao caso se aplica a lei
espanhola. O Artigo 46.º do CC permite ao juiz português aplicar direito estrangeiro em Portugal (2.ª função). Se fosse a situação inversa,
aplicaríamos a lei portuguesa (1.ª função). Características das normas de conflitos 1. Formais ou indiretas: opõe-se às normas materiais; não
fornecem diretamente a solução material para a questão privada internacional, apenas se limitam a indicar o direito nacional ou estrangeiro
onde procurar a solução; 2. Remissão ou de conexão: limitam-se apenas a remeter/ indicar o sistema jurídico ao qual nós vamos procurar a
regulamentação material da relação plurilocalizada; estão a remeter para uma ordem jurídica onde procuramos a solução da questão e fazem
essa remissão através do elemento de conexão (elemento que liga a ordem jurídica ao litígio – exemplo da nacionalidade ou do local onde se
situa o imóvel); não contêm a solução material, apenas elaboram essa mesma remissão para que se alcance a respetiva solução – existem
vários elementos de conexão; 3. Imperativas ou injuntivas: as normas de conflitos não estão na disponibilidade das partes, ou seja, as normas
de conflitos vão ser aplicadas independentemente da declaração de vontade das partes; o juiz tem de as aplicar imperativamente, dado que a
sua aplicação não está dependente da vontade das partes; 4. Operam por categorias de questões jurídicas ou relações jurídicas – problema
do dépeçage: normas que utilizam conceitos jurídicos (por exemplo, capacidade jurídica). A mesma questão pode ser regulada por várias
ordens jurídicas diferentes – dépeçage (desmembramento da relação jurídica: quando as relações são reguladas nos seus diferentes aspetos
por ordens jurídicas diferentes). Por exemplo, contrato de compra e venda celebrado em Itália de um apartamento sito em França entre um
português e um espanhol, sendo que estes escolheram como lei reguladora do contrato a lei suíça. ñ Capacidade das partes: Artigos 25.º e
31.º, n.º 1, do CC – para aferir da capacidade para celebrar o contrato aplicamos a lei da nacionalidade: ao espanhol aplicamos a lei espanhola
e ao português a lei portuguesa; ñ Forma do contrato: Artigo 11.º, n.º 1, do Regulamento Roma I – quanto à forma aplicamos a lei do lugar da
celebração. Tendo em conta que o contrato foi celebrado em Itália, aplicamos a lei italiana; ñ Substância: lei escolhida pelas partes – lei suíça
(Artigo 3.º do Regulamento Roma I); ñ Transmissão do direito real (direito de propriedade): lei do lugar da situação da coisa – lei francesa
(Artigo 46.º, n.º 1, do CC). 5. Designam, em princípio, a lei melhor localizada para regular a questão: tendo em consideração os princípios de
DIP, o legislador olha para a questão e vai decidir qual a lei que está melhor localizada. Daí dizer-se, tradicionalmente, que as normas de
conflitos têm um cariz localizador ( Exceção: Norma de conflitos de natureza material - a tal conexão que nos diz qual a lei aplicável e a
configuração da própria norma é feita para atingir um certo resultado material que o legislador considera importante. Por exemplo, Artigos 5.º
da Convenção de Roma e 6.º do Regulamento Roma I (o legislador criou uma norma de conflitos material que favorece o consumidor). 6. O DIP
guarda o controlo do resultado material a que se chega pela aplicação das normas materiais do ordenamento competente pela aplicação
das normas de conflitos: em certos momentos o julgador vai poder afastar ou modificar a solução deduzida ao direito, em princípio,
competente, através de certos mecanismos: a) Reserva da ordem pública internacional (ROPI): após determinar a lei aplicável, o legislador vai
ver a solução e verifica que se torna necessário alterar. Esta reserva constitui um mecanismo de restringir/ corrigir a aplicação da lei material
estrangeira. Por exemplo, quando é aplicável uma lei estrangeira e é necessário alterar porque esta colide com os princípios fundamentais da
ordem pública internacional (Art 22.º do CC). 1.º) Verificamos a norma de conflitos – aplicamos a lei estrangeira (se a norma assim o disser);
2.º) Vemos que o resultado não é eficaz; 3.º) Procuramos outra solução na ordem jurídica estrangeira ou aplicamos o direito do Estado de foro.
Para além disso, a ROPI também se encontra prevista nos Art 16.º da CR, 21.º do RR I e 26.º do RR II. Por exemplo, um iraniano casa em
Portugal com uma iraniana, mas já é casado com outra pessoa. O conservador do registo civil português não pode aplicar em Portugal o
preceito material do direito iraniano da poligamia, uma vez que vai contra a ordem jurídica portuguesa (Art 46.º do CC). Posto isto, o
conservador iria rejeitar a celebração do casamento entre estes, com base na reserva da ordem pública internacional. b) Adaptação: permite
corrigir o direito material a que chegamos através das normas de conflitos; aplica-se quando as normas aplicáveis não se ajustam entre si,
frequentemente por efeito do dépeçage. Como nós aplicamos diferentes leis materiais a vários aspetos da mesma relação jurídica, pode
acontecer que no final tais leis não se consigam relacionar e a solução não consiga alcançar o que se pretende ao solucionar determinado
conflito (por exemplo, celebrar um contrato e no fim não se produzir o efeito pretendido – Art 879.º do CC) – tal pode até colocar em causa o
princípio da confiança das partes. Assim, é necessário fazer uma adaptação da norma, tendo em consideração o caso concreto para que o
contrato celebrado no fim cumpra o objetivo para o qual foi celebrado. A adaptação pode ser feita através de normas de conflitos e de normas
materiais. Para além disso, pode fazer pequenas alterações para salvaguardar os direitos fundamentais. MARQUES DOS SANTOS comparava
esta situação à de um automóvel construído a partir de peças avulsas de marcas diferentes. No final pode até parecer um automóvel, mas é
possível que não consiga andar/ pode não funcionar. Assim, por vezes, tida a solução, é necessário fazer algumas correções tendo em conta o
resultado material que se quer atingir – resolve-se isto através da adaptação. NOTA: Quando aplicamos normas de conflitos não basta
determinar o direito aplicável, mas também é necessário verificar o resultado no âmbito das relações privadas internacionais para aferir as
situações em que será necessária uma intervenção do julgador.

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A origem do método conflitual: O método conflitual surgiu no século XIX como forma de regulamentar as relações privadas internacionais.
Contudo, antes disso já existiam relações privadas internacionais reguladas pelas escolas estatutárias, que assentavam no princípio da
territorialidade e da proporcionalidade. Através do método estatutário, que consistia em interpretar estatutos (lei criadas para aplicar a
determinada localidade), e na aplicação dessas leis procuravase determinar o âmbito de aplicação espacial através do conteúdo do próprio
estatuto. Existiam três tipos de estatutos: § Estatutos pessoais: matérias que diziam respeito às pessoas e aplicavam-se a todas as pessoas com
domicílio no lugar onde vigoravam esses estatutos; § Estatutos reais: matérias que diziam respeito a coisas imóveis e aplicavam-se a coisas
imóveis situadas num território onde esses estatutos vigoravam; § Estatutos mistos: matérias que diziam respeito aos atos jurídicos e aos
delitos, aplicáveis a atos jurídicos praticados no lugar onde vigoravam esses estatutos e aos delitos onde eram cometidos. Críticas 1. Método
rudimentar: oferecia e aplicava-se a um número muito limitado e insuficiente de conexões, pois só existiam três tipos de estatutos, o que trazia
dificuldades quanto à classificação das normas; 2. Dificuldade de classificação das normas materiais ou dos próprios estatutos para se
encontrar o seu âmbito de aplicação; 3. Parte de uma ideia errada de que a aplicação do direito estrangeiro ofende sempre a soberania do
Estado do foro (princípio do territorialismo).
No entanto, apesar das críticas, até pelo longo período de tempo que estas escolas estiveram em vigência, ainda hoje se aplicam algumas
regras que surgiram deste método estatutário, nomeadamente: § Distinção entre a lei aplicável ao processo (lex fori) e a lei aplicável ao fundo
da causa; § Utilização do elemento de conexão do local onde o ato foi celebrado (por exemplo, Art 36.º e 50.º CC): atos jurídicos são regulados
pelo lugar onde são celebrados; § Aplicação da lei pessoal às questões do estado do indivíduo e da capacidade das pessoas (ex: Art 25.º CC); §
Aplicação da lei do lugar da situação da coisa na aplicação do direito das coisas (lex resitae) – ex: Art 46º CC; § Princípio da autonomia da
vontade das partes (ex: Art 41.º do CC e 3.º do RR I); § Disciplina e eficácia das normas de aplicação imediata (NAI) – ex: Art 9.º do RR I.

DIP internacionalista ou universalista: O método conflitual proposto por SAVIGNY, fundamenta-se nas seguintes ideias: § Harmonia jurídica:
ideia de igualdade jurídica entre as ordens jurídicas do Estado do foro e as ordens jurídicas estrangeiras; SAVIGNY acha que entre estas existe
uma comunidade de Direito resultante de uma certa raiz comum entre aquilo que se chama nações civilizadas (consiste na influência das ideias
cristãs em ambas); § Validade universal: esperava-se que se aplicasse às questões privadas internacionais a mesma solução, através das
normas de conflito, independentemente do local onde se encontrasse o conflito; § Relação jurídica: a cada categoria de relação jurídica (por
exemplo, filiação, casamento, etc.) corresponde, segundo a natureza própria das coisas, uma sede (sede da relação jurídica). A essa relação
jurídica vai ser aplicada a lei vigente na sede da relação jurídica; § Sede da relação jurídica: lugar que tinha uma maior conexão/ uma conexão
mais estreita com a relação jurídica/ com a causa que seria aprovada de acordo com os princípios do Direito Internacional Privado; § Direito de
conexão; § Normas localizadoras: as leis de conflitos, tradicionalmente, têm uma vertente localizadora.

O objetivo do DIP, para SAVIGNY, era a harmonia de julgados ou harmonia jurídica internacional, ou seja, a ideia de que as relações jurídico-
privadas internacionais esperam a mesma solução independentemente de serem julgados por tribunais diferentes. Isto significa que deviam
ter a mesma solução onde quer que fossem apreciadas, pelo que os Estados deviam adotar as mesmas normas de conflitos. Contudo, isso só
acontece se os Estados adotarem as mesmas normas de conflitos, isto é, se à mesma situação jurídica aplicarem a mesma sede. No entanto, é
feita uma crítica ao método conflitual de SAVIGNY: o método conflitual tem um caráter excessivamente formal, procura apenas pela justiça
formal, ignorando valores importantes materiais – este método não considerava a justiça e o resultado material (por exemplo, a proteção da
parte mais fraca). Esta proposta de SAVIGNY sobrevive até ao século XX. Porém, nos anos 30 do século XX surge nos EUA uma corrente pouco
contente com as ideias de SAVIGNY – revolução metodológica norte-americana do Direito Internacional Privado. Os EUA são compostos por
vários Estados, tendo cada um deles o seu próprio direito, sendo de origem maioritariamente jurisprudencial. Com efeito, existem dois
restatement on the conflits of laws (1934 e 1971), que consistem em compilações/ codificações privadas de normas de conflitos que
provinham de jurisprudência e que eram aplicadas a todos os Estados – American Law Institute. Para um dos restatement o método conflitual
não tinha em conta os interesses dos Estados, era excessivamente formal, não se ajustava às particularidades das relações jurídicas do
comércio internacional, bem como não tinha em conta os interesses dos próprios Estados na regulamentação das relações jurídicas privadas
internacionais. Posto isto, surgem igualmente várias posições em relação ao conflito entre duas ordens jurídicas, sendo que os americanos
enunciam um conjunto de respostas às questões das relações jurídicas internacionais, respostas estas que foram efetivamente adotadas e
aplicadas pelos tribunais americanos: § DAVID F. CAVERS/ JUNGER (result selective approach): não é um problema entre sistemas de direito;
quando temos de resolver uma questão em contacto com vários ordenamentos jurídicos, o tribunal deve aplicar a norma que, no caso
concreto, conduza a um melhor resultado material (primazia da avaliação casuística) – poder discricionário do julgador; § ROBERT A. LEFLAR
(better rule): defende que de entre as normas de leis conexas com a situação plurilocalizada, o juiz deve aplicar a que, do ponto de vista
material, é a mais adequada; para ele não interessa o resultado, devendo aplicar-se aquela que for a melhor norma em abstrato – poder
discricionário do julgador; § ARTHUR VON MEHVREN (normas ad hoc): defende a justiça material e a intervenção do juiz; nas situações em que
existe mais do que uma jurisdição interessada na resolução da relação privada internacional (nomeadamente aplicando o seu direito
internacional), o juiz deve formular uma norma ad hoc para a situação em particular, constituída a partir das várias normas materiais que têm
conexão com o caso concreto. Isto é, constrói-se uma norma ad hoc, que consiste numa norma criada com um pedaço de uma norma e outro
pedaço de outra norma; § BRAINERD CURRIE (governmental interest analysis) – caso Babcok contra Jackson: defende que na resolução de
conflitos de leis devemos olhar para os objetivos de política legislativa que os Estados visam atingir através das suas normas e aplicar a lei do
Estado que tiver mais interesse na resolução da questão, isto é, o que tiver mais interesse na realização dos seus objetivos deverá ser a sua lei
a ser a aplicada. Se ambos os Estados estiverem igual interesse, aplica-se a lei do Estado do foro. Se nenhuma quiser resolver a questão, aplica-
se também a lei do Estado do foro; § BAXTER (comparative impairment) – caso Bernhard contra Harrah’s Club: defende que de entre os
Estados ligados à relação jurídica internacional deve aplicar-se a lei do Estado cujos objetivos de política legislativa sejam mais prejudicados
com a não aplicação da sua lei; § ALBERT A. EHRENZWEIG (lex fori): defende a aplicação da lei do Estado do foro e, como tal, só podemos
aplicar normas estrangeiras se a lei do Estado do foro o mandar.

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Todas estas teorias foram efetivamente aplicadas pelos tribunais, pelo que o direito americano criou o Second Restatement. Para a 2.ª
Reformulação (Second Restatement) das codificações privadas de normas de conflitos o ideal é a open ended rules, que veio flexibilizar as
normas de conflitos mais rígidas. Os casos devem ser resolvidos caso a caso, tendo em consideração o caso concreto – resolução casuística
(regra comum a todas estas propostas: regra que se sobrepõem à harmonia dos julgados). Não obstante, todas estas propostas norte-
americanas foram alvo de críticas: § Há um excessivo casuísmo que gera incerteza e insegurança jurídicas, isto porque ao deixar nas mãos do
juiz as partes não sabem com o que podem contar; § A melhor lei do ponto de vista material pode não ser a melhor lei/ a lei mais adequada
para resolver o conflito (a questão privada internacional), pode não ser a mais justa; § Além do interesse dos Estados, na regulamentação das
relações jurídicas privadas internacionais devia ser tido em conta o interesse das partes. Os Estados não têm interesse ou se tiverem é muito
residual, na resolução destas questões, dado que o interesse é das partes; § Todas estas propostas levam à maximização da aplicação da lei do
Estado do foro (aplicação máxima do princípio da territorialidade – coloca em causa as finalidades do Direito Internacional Privado); § Nem
sempre é viável olhar para uma norma e tirar os interesses que ela visa salvaguardar, tirar os interesses de política legislativa a aplicar ao caso
concreto. Porém, estas críticas levaram a uma renovação metodológica do Direito Internacional Privado na Europa e atualmente encontramos
duas grandes vertentes.
Atual estado metodológico do Direito Internacional Privado: A renovação metodológica recente reveste duas vertentes: 1. Abertura do
Direito Internacional Privado a uma pluralidade de métodos § Normas materiais de DIP (método substancialista ou material) e método
conflitual que se complementam (não são alternativos); § Normas de aplicação imediata (NAI). 2. Flexibilização das normas de conflitos no
espaço § Normas ou cláusulas gerais de conexão mais estreita: normas de conflitos que conferem ao órgão de aplicação do direito a tarefa de
definir caso a caso qual a conexão mais estreita entre a situação a regular e certo ordenamento jurídico, sendo a lei com a conexão mais
estreita a que será aplicada. Ex: Art. 52.º, n.º 2, e 60.º, n.º 2 CC; Art. 4.º, n.º 1 CR e Art 4.º, n.º 4 RR I. § Normas de conflitos gerais ou
substanciais: normas em que a escolha do elemento de conexão é determinável tendo em conta um resultado material que se pretende obter
na regulamentação das relações jurídicas privadas internacionais; foram construídas pelo legislador para obter uma determinada finalidade
material. Ex: art 6.º, n.º 2, e 8.º, n.º 1, do RR I e Art 5.º da CR e 6.º, n.º 1, do RR I. § Cláusulas de exceção: instrumentos de correção do
funcionamento das normas de conflitos de tipo clássico, tendo como objetivo possibilitar a aplicação de uma lei que apresente com os factos
uma conexão mais estreita do que aquela que foi designada pela norma de conflitos aplicável. Isto é, é possível aplicar ao caso concreto uma
norma mais perfeita do que a prevista pelo legislador. Por exemplo, Art 6.º, n.º 2, in fine, da CR; Art 8.º, n.º 4, do RR I e Art. 4.º, n.º 3, do RR II.
Assim sendo, atualmente as normas de DIP: § Consagram um poder discricionário ao julgador, seja na aplicação da lei, seja na aplicação
material da lei competente; § Atentam no interesse das partes e no interesse residual dos Estados; § Assentam numa pluralidade de métodos:
as normas de materiais de Direito Internacional Privado e as normas de aplicação imediata; § Caracterizam-se por uma flexibilização das
normas de conflitos.
A justiça e os princípios gerais de DIP: Traduzem-se nos valores que inspiram o DIP, sendo os princípios a expressão normativa dos valores
fundamentais. Podemos retirar a justiça e os princípios gerais de DIP dos elementos de conexão que fazem parte das normas de conflitos, das
normas que definem os limites da aplicação da norma designada pelas normas de conflitos, das regras que regulam a interpretação e a
aplicação das normas de conflitos, bem como das regras que estabelecem condições de reconhecimento e eficácia dos Estados do foro a atos
públicos e estrangeiros. Os princípios gerais de Direito Internacional Privado são extremamente importantes para criar a unidade do Direito
Internacional Privado, para a interpretação, para a integração de lacunas (Art 10.º, n.º 1 CC) e para o papel que compete ao julgador na
resolução das questões privadas internacionais, assim como no papel modelador da relação privada internacional (ROPI). No século XIX
SAVIGNY propõe uma harmonia de julgados e afirma que esta ideia era o principal princípio do DIP. Esta é uma ideia que atravessa o século XX,
sendo que atualmente encontra-se completamente ultrapassada. Hoje, consideramos que o Direito Internacional Privado constitui um ramo
do direito privado, logo os seus princípios serão os mesmos que se exigem no direito privado, sendo a única diferença a ideia de que estes
mesmos princípios são os mesmos, mas adaptados ao objeto do DIP (adapta-se ao objeto da disciplina, ou seja, as relações privadas
internacionais). Posto isto, temos princípios que exprimem valores individuais (dizem respeito ao indivíduo) e princípios que exprimem valores
sociais (dizem respeito à comunidade em geral e prosseguem o bem comum). 1. Princípios que exprimem valores individuais § Princípio da
dignidade da pessoa humana: encontra-se previsto no Art 1.º CRP e implica que se reconheça personalidade jurídica e um certo número de
direitos de personalidade às pessoas. No Direito Internacional Privado, este manifesta-se, desde logo, ao nível do direito dos estrangeiros
(reconhecemos aos estrangeiros a suscetibilidade destes serem titulares de direitos privados – Art 15.º, n.º 1, da CRP e 14.º, n.º 1 CC). Além
disso, também o encontramos em matérias de estatuto pessoal das pessoas singulares (lei pessoal) – direito ao estado, capacidade, etc. Estas
matérias estão sujeitas à nacionalidade, ou seja, são reconhecidas em qualquer lugar em que a pessoa esteja (Art 25.º, 26.º e 27.º CC), o que
confere a sua dignidade; § Princípio da autonomia da vontade: as pessoas têm toda a liberdade para contratarem ou não com quem
quiserem, para modificar ou extinguir as suas relações jurídicas. No Direito Internacional Privado, este manifesta-se na medida em que se
permite às partes que escolham a lei aplicável ao contrato por razões de certeza, segurança e previsibilidade jurídicas, bem como as partes são
quem sabe qual a melhor lei para salvaguardar os seus interesses da melhor forma (por exemplo, Art 34.º e 41.º, n.º 1 CC; Art 3.º da CR; Art 3.º
do RR I e Art 14.º do RR II); § Princípio da tutela da confiança: Este princípio assenta na permanência das posições jurídicas, ou seja,
permanência dos direitos, e da realização das legitimas expectativas das pessoas. Significa, em geral, que os direitos subjetivos adquiridos são
mantidos para tutela das expectativas. A nível do DIP, há que analisar várias dimensões: Matérias de estatuto pessoal: proteção das legítimas
expectativas das pessoas singulares e das pessoas coletivas e na tutela da aparência ou da confiança de terceiro – Art. 28º, 31º/2, CC, Art. 11º,
CR, Art. 13º, RR I, Art. 3º/1/2ªp, CSC. Por exemplo, A celebra um testamento em França, onde é imigrante – em Portugal, tal negócio jurídico
será reconhecido, por força do princípio da tutela da confiança, de modo a tutelar as legitimas expectativas do individuo (Art. 31º/2, CC). Um
outro exemplo, Art. 3º/1/2ªp, CSC – a lei da sede principal e efetiva da sociedade é a que regula o estatuto pessoal da sede. No entanto,
existem estados que adotam a lei da sede estatutária, ou seja, a sede prevista no pacto social, prevista nos estatutos da sociedade. Daí que
este artigo estabelece que a sociedades com a sede estatutária em Portugal será aplicada a lei portuguesa – tutela da aparência/confiança de
terceiro. Princípio da proximidade/conexão mais estreita: parte da ideia de que as pessoas só podem orientar a sua conduta por um Direito
que lhes seja previsível e tendem a orientar-se pelo Direito a que estão mais ligadas. Assim, este princípio concretiza-se sobretudo no método

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conflitual, através de normas de conflito de natureza localizador, na cláusula de exceção e clausula geral mais estreita. Isto significa que
algumas leis têm uma conexão mais próxima para regular determinada situação, permitindo respeitar a relação natural entre a ordem jurídica
e o caso, o que facilita o reconhecimento de decisões e atos estrangeiros; para além disso, facilita o respeito pela legitimas expectativas das
partes em ver o caso resolvido por uma lei que lhes é próxima; permite ainda que se concretize o interesse do Estado em ver a lei aplicada
mais próxima a esse estado. Esta proximidade pode ser em relação a ambas as partes (nacionalidade comum ou residência habitual) ou uma
proximidade relativamente a uma das partes. Normas de conflito com conexões alternativas: Art. 36º/1, 65º/1, 9º/1 e 2, CR; Art. 11º/1 e 2,
RR I. O legislador pretende respeitar as legitimas expectativas das partes, pelo que dá a possibilidade de escolha entre várias alternativas,
favorecendo-se a validade do negócio. Autolimitações ao sistema de conflitos do foro: Cláusulas de exceção: por exemplo, Art. 8º/4, Roma I –
a regra geral é a de que se aplica a lei do local da prestação do trabalho mas, neste número, prevê-se uma exceção, pelo que se pode aplicar a
lei mais próxima ao caso, se esta existir. Isto tutela as legitimas expectativas das partes. O legislador permite que o julgador aperfeiçoe a
norma, para a tornar mais justa ao caso concreto. Normas de reconhecimento de decisões e atos estrangeiros: direitos adquiridos no
estrangeiros podem ser exercidos em Portugal. Normas referentes ao reenvio: Art. 16º ao 19º, CC – visam resolver conflitos negativos de §
Princípio da igualdade. Princípio da igualdade: reclama uma valoração uniforme das relações sociais, tendo em conta o que é igual na medida
da desigualdade. No DIP, este princípio implica que as relações plurilocalizadas sejam apreciadas na medida do possível à luz das mesmas
normas, onde quer que sejam julgadas. Isto implica que as diversas ordens jurídicas, para as mesmas questões, devem adotar normas de
conflito idênticas, o que nem sempre acontece. Assim, é importante que os legisladores tentem prevenir o lex forismo/fórum shopping,
ressalvando assim a igualdade de partes. Este princípio subdivide-se noutros princípios: Princípio da harmonia de julgados – as relações
jurídicas internacionais devem ser julgadas da mesma forma independentemente do Estado em que esteja a ser julgado. Há várias formas de
obter esta harmonia: o legislador deve tentar adotar normas de conflito que usem conexões comuns a vários estados; o legislador deve tentar
adotar normas de conflito bilaterais (remeter para o estado de foro ou estado estrangeiro); paridade de tratamento entre a lei estrangeira e a
lei do foro (há exceções); aplicando as mesmas conexões a nacionais portugueses ou nacionais estrangeiros; reconhecendo efeitos a NAI do
estado de foro ou estrangeiras; sistema de reconhecimento de atos estrangeiros; exclusão nas normas de conflito de elementos
discriminatórios. A harmonia de julgados também de consegue através do sistema de reenvio. Princípio da harmonia jurídica material/da
unidade: uniformidade no tratamento dado às questões plurilocalizadas dentro da mesma ordem jurídica. Ou seja, evitar a aplicação de leis
diferentes a diferentes questões da mesma relação/situação jurídica, de modo a evitar contradições normativas dentro da mesma ordem
jurídica. Isto consegue-se através da especialização de normas de conflito. Deve valorar-se a mesma situação dentro da mesma ordem jurídica
da mesma forma – ou seja, tem de ser valorada da mesma forma a título principal e a título acidental/prejudicial. Para além disso, este
princípio justifica as conexões acessórias, o que quer dizer que questões interdependentes sejam decididas pela mesma lei (por exemplo, Art.
4º/3, Roma II – se houver um concurso de responsabilidade, onde se verifica o mesmo evento causal, aplica-se a ambas as questões a mesma
lei). 2. Princípios que exprimem valores sociais § A proteção da parte mais fraca: princípio fundamental do direito privado, uma vez que este
ramo do direito parte do princípio de que as partes estão numa posição de igualdade jurídica. Na realidade, o legislador sabe que isto não
acontece e por isso intervém, nomeadamente através deste princípio (por exemplo, num dano ambiental, o lesado é considerado a parte mais
fraca e o legislador tenta protegê-lo – Art 7.º do RR II). Art 5.º CR e 6.º do RR I (contratos de consumo); Artigo 6.º CR e 8.º do RR I (contratos de
trabalho) § A salvaguarda da soberania nacional: está na base da sujeição das matérias dos direitos reais à lei da situação da coisa – o Estado
tem interesse em regular as coisas situadas no seu domínio. Está na base do Art 46.º CC; § A salvaguarda da paz social: está na base das
normas que sujeitam a responsabilidade extracontratual à lei da conduta/ lugar onde foi praticado o delito. O Estado tem interesse em regular
a situação e repor a paz social. Por exemplo, Art 22.º, 43.º e 45.º, n.º 1, CC; Art 16.º CR; Art 16.º do RR II e Art 21.º RR I; § A preservação da
identidade cultural das pessoas: este princípio está presente nas relações plurilocalizadas quando aplicamos a lei nacional de estatuto pessoal.

Relações do DIP com outras disciplinas jurídicas: § Direito Comparado O Direito Comparado não é um ramo do direito, mas sim uma
disciplina jurídica que tem por objeto apurar as semelhanças e as diferenças entre os sistemas jurídicos considerados na sua globalidade e as
instituições jurídicas através da comparação dos diferentes ordenamentos jurídicos. O Direito Comparado é importante para o Direito
Internacional Privado na criação, no desenvolvimento e no aperfeiçoamento das normas de Direito Internacional Privado como instrumentos
de política legislativa e para a unificação do direito conflitual. Por outro lado, o Direito Comparado é igualmente importante para o Direito
Internacional Privado para a aplicação e interpretação da generalidade das normas de conflitos, nomeadamente no problema da qualificação
(Art 15.º do CC: quando a norma de conflitos do remete para determinada lei, essa competência limita-se às normas materiais que pelo seu
conteúdo e função vão integrar a categoria normativa visada pela norma de conflitos). Ora, quando queremos interpretar e aplicar direito
estrangeiro, devemos fazê-lo exatamente da mesma forma que é feito no seu país de origem. Ex: art. 15.º CC remete para o Art. 46.º CC e,
como tal, aplica-se a lei estrangeira apenas em relação aos direitos reais. ERNEST RABEL chama a atenção para a importância do Direito
Comparado para o Direito Internacional Privado, pois os legisladores quando criam normas para determinado Estado recorrem a esta
disciplina, ou seja, comparam como determinada questão é regulada em vários Estados, de modo a atingir a universalidade desejada pelo
Direito Internacional Privado. Para além disso, o. Direito Comparado é essencial para o Direito Internacional Privado para a interpretação e
aplicação de normas de conflitos materiais ou substanciais, bem como ao nível da interpretação e na aplicação de normas que submetem a
sua aplicação de normas estrangeiras à condição do direito do foro reconhecer a forma de tutela jurídica prevista nessa norma (Art 27.º CC)
Ademais, o Direito Comparado é também importante para o Direito Internacional Privado ao nível da interpretação e na aplicação do direito
estrangeiro. Por exemplo, o Art 23.º CC manda interpretar a lei estrangeira dentro do sistema a que pertence e de acordo com as regras
interpretativas nele fixadas. Portanto, o Direito Comparado vai ajudar-nos a conhecer as fontes a que pertence esse direito, o sistema de
controlo de constitucionalidade, as formas de interpretação em si mesmo e o modo de integração de lacunas. Por fim, o Direito Comparado
também é relevante para o Direito Internacional Privado para resolver o problema da equivalência entre institutos jurídicos, isto é, quando é
preciso reconhecer eficácia no Estado de foro a um direito subjetivo que é desconhecido no nosso ordenamento jurídico, assim como em
relação a certas normas de direito dos estrangeiros que obrigam à comparação de direitos quando está em causa o princípio da reciprocidade
ou retaliação (Artigo 14.º, n.º 2, do CC). § Direito Constitucional 1) Saber se as normas de conflitos de fonte nacional estão sujeitas à CRP do

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Estado do foro: Exclui a sujeição das normas de conflitos à CRP: o Direito Internacional Privado é um domínio estranho à CRP, sendo o Direito
Internacional Privado composto por normas de conflitos, que eram axiologicamente neutras. Consideram que o Direito Internacional Privado
era meramente formal (não visava valores, mas apenas a harmonia de julgados). Determinados autores, tal como DÖLLE e QUADRI, referiam
que estas normas eram completamente estranhas à CRP, pois era impossível violar a constituição. Para QUADRI, as normas de conflitos
ocupam na ordem jurídica uma posição hierárquica superior às normas materiais e estão ao mesmo nível que as normas constitucionais e,
como tal, não se poderão submeter as normas de conflitos à CRP. Para BATISTA MACHADO, as normas de conflitos ou são superiores ou são,
pelos menos, paralelas à CRP. Sujeição à CRP: FERRER CORREIA: como a justiça do Direito Internacional Privado é essencialmente formal (e não
totalmente), estão abertos critérios de justiça material. Logo, o Direito Internacional Privado não pode ignorar os princípios consagrados na
CRP; JORGE MIRANDA: as normas de Direito Internacional Privado estão sujeitas à CRP como quaisquer outras normas estão sujeitas à CRP,
dada a hierarquia que a CRP ocupa na ordem jurídica; RUI MOURA RAMOS: como os princípios do Direito Internacional Privado são princípios
de direito privado e da ordem jurídica portuguesa, as suas normas estão sujeitas à CRP como o estão também as normas de direito privado. 2)
Saber se as normas materiais estrangeiras da lei competente têm de estar em conformidade com a CRP do Estado do foro: As normas de
conflitos remetem para outros ordenamentos jurídicos, sendo que temos normas de conflitos que mandam aplicar normas estrangeiras (por
exemplo, aplicar a lei da situação da coisa). FERRER CORREIA: podemos recusar a aplicação de uma norma estrangeira sempre que a violação
da CRP se caraterize numa violação de princípios absolutamente fundamentais da ordem jurídica portuguesa. Não basta a incompatibilidade
com os princípios fundamentais, mas também uma relação entre os factos e a ordem jurídica portuguesa (juízo de incompatibilidade e
conexão espacial). Limita os casos ao problema da reserva da ordem pública internacional (ROPI). Isto posto, para a ROPI atuar têm de estar
preenchidos os dois requisitos anteriormente mencionados. Esta é uma posição muito restritiva; JORGE MIRANDA: os tribunais portugueses
só podem aplicar normas estrangeiras que estejam de acordo com a CRP. A CRP pode obstar à aplicação do direito estrangeiro
independentemente do funcionamento da ROPI. Ora, nos termos do Artigo 204.º da CRP, quanto aos factos submetidos não podem os
tribunais portugueses aplicar normas estrangeiras que não estejam de acordo com a CRP ou com os princípios nela consagrados. Esta é uma
posição muito expansiva (posição ampla); RUI MOURA RAMOS: não podemos partir do princípio de que a nossa CRP abranja todas as relações
jurídicas internacionais. Assim sendo, não podemos aplicar a nossa CRP sempre que temos uma norma material que infrinja a nossa CRP, isto
é, é preciso algo mais – temos de ter um caso em que as finalidades visadas pelas normas constitucionais reclamem a sua aplicação ao caso
concreto, ou seja, temos de interpretar a norma constitucional e ver as suas finalidades. Através dessas finalidades limitamos a sua aplicação
espacial. Isto posto, não podemos restringir a intervenção da CRP aos casos extremos de atuação da ROPI. Esta é uma posição intermédia. A
posição adotada é a posição intermédia. Temos de olhar para as normas constitucionais e verificar se o fim é justificável. Isto é, aplicamos a
CRP só se a norma constitucional salvaguardar princípios absolutamente fundamentais que só poderão ser salvaguardados com a aplicação
daquela norma ao caso concreto. Por exemplo, Art. 53.º CRP: no que diz respeito a esta norma constitucional, a doutrina, a jurisprudência e
depois os tribunais entenderam que têm de estar em causa trabalhadores nacionais, contratados em Portugal por empresa com sede em
Portugal para prestar trabalho em Portugal ou no estrangeiro. 3) Problema da aplicabilidade de preceitos materiais estrangeiros incompatíveis
com a CRP do Estado de onde provêm Ao aplicar a lei estrangeira, os tribunais têm de a aplicar exatamente como esta é aplicada no seu Estado
de origem, caso contrário não existiria uma harmonia de julgados. Duas hipóteses: Norma estrangeira foi declarada inconstitucional: se a
norma foi declarada inconstitucional com força obrigatória geral no Estado de origem, nós também não a vamos aplicar em Portugal; Norma
estrangeira ainda não foi declarada inconstitucional com força obrigatória geral: se a norma não foi ainda declarada inconstitucional com força
obrigatória geral no seu Estado de origem, a solução dependerá consoante as seguintes situações: - Se os tribunais ordinários do país de
origem não podem fazer controlo de constitucionalidade das normas (há um tribunal próprio para tal), nós também não o podemos fazer; - Se
noutros Estados de origem os tribunais ordinários podem fazer controlo de constitucionalidade das normas e se já existirem decisões a
declarar a inconstitucionalidade de certa norma estrangeira, nós também o podemos fazer (a ideia é a de que nós fazemos o que se puder
fazer no Estado de origem). Porém, JORGE MIRANDA afirma que têm de existir já decisões, que tem de ser uma inconstitucionalidade
evidente, com máxima cautela. § Direito da União Europeia: O Direito da União Europeia aparece como uma fonte relevante de Direito
Internacional Privado, principalmente quando falamos de direito originário da União Europeia (direito presente nos tratados), embora também
possamos falar do direito derivado (diretivas e regulamentos) e da jurisprudência do TJUE. Existem várias normas dos Tratados constituintes
das quais resultam várias normas importantes, tais como: - Proibição de discriminação de nacionais europeus (Art 18.º e 20.º do TUE); -
Liberdade de circulação de pessoas e bens (Art 20.º, n.º 2, al. a), e 21.º do TUE); - O direito de estabelecimento (Art 49.º do TUE); Princípio da
Paridade de tratamento entre nacionais do Estados-Membros, sejam pessoas singulares e pessoas coletivas (Art 54.º do TFUE). Para além
disso, o Direito da União Europeia também é importante como fonte de normas de conflitos. Atualmente, no Tratado de Funcionamento da
União Europeia (TFUE), encontramos competência para a União Europeia legislar em todas as matérias de Direito Internacional Privado. Do
TFUE interessam os Art 67.º e ss. O espaço europeu de liberdade, segurança e justiça apresenta duas vertentes: - Política de cooperação
judiciária em matéria civil (Art 81.º TFUE); - Política de cooperação judiciária em matéria penal (Art 82.º a 86.º TFUE). Objetivos da política de
cooperação judiciária: Unificar normas de conflitos (as questões seriam resolvidas da mesma forma); Reconhecimento mútuo de decisões de
tribunais estrangeiros através de um sistema de reconhecimento de decisão estrangeiras – sistema de reconhecimento automático, significa
que os órgãos dos vários Estados-Membros têm a obrigação de confiar nas decisões dos outros Estados-Membros como se fossem uma só
ordem jurídica; Promover um melhor acesso à justiça (criar mecanismos para que os tribunais tenham acesso aos direitos dos restantes
Estados-Membros). Cooperação judiciária em matéria civil (Art 81.º TFUE) Os atos jurídicos da União Europeia aparecem atualmente
divididos agora por quatro grandes áreas do espaço de liberdade, segurança e justiça: i. Matérias civis e comerciais - Convenção de Bruxelas
relativa à competência judiciária, ao reconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial; Convenção de Roma sobre a lei
aplicável às obrigações contratuais. ii. Matéria de direito da família e sucessões iii. Aspetos processuais iv. Rede judiciária europeia em
matérias civil e comercial (criada pela Decisão 2001/470/CE do Conselho e alterada pela Decisão 568/2009/CE)   Influência da jurisprudência
do TJUE no Direito Internacional Privado: A jurisprudência da UE também é fonte de Direito Internacional Privado, uma vez que o Tribunal de
Justiça da União Europeia pode ser chamado a intervir em matéria de Direito Internacional Privado: Desde que os contratos da União Europeia
tenham uma cláusula compromissória num contrato atribuindo competência internacional ao Tribunal de Justiça da União Europeia (Art 272.º

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TFUE); Em matéria de responsabilidade extracontratual da União Europeia (Art 268.º TFUE); Em competência interpretativa da União Europeia
da Convenção de Bruxelas e da Convenção de Roma; Em competência interpretativa geral dos atos da União Europeia em matéria de Direito
Internacional Privado (Art 267.º TFUE). Neste aspeto encontramos vária jurisprudência no âmbito da reserva da ordem pública internacional
(ROPI) – mecanismo excecional que funciona quando a aplicação de direito estrangeiro ou o reconhecimento de sentenças ou atos jurídicos
estrangeiros coloquem em causa os princípios fundamentais da ordem jurídica do foro.

Análise de Jurisprudência do Tribunal de Justiça da União Europeia : § Reserva da ordem pública internacional (ROPI) - Acórdão do Tribunal
de 1 de junho de 1999 | Caso Eco Swiss China Time Ltd contra Benetton International NV. No presente acórdão estava em causa um contrato
de licença celebrado a 1 de julho de 1986 entre a Benetton, sociedade com sede em Amesterdão, com o prazo de 8 anos, com a Eco Swiss,
estabelecida em Hong Kong. De acordo com o contrato, a Eco Swiss tinha a autorização de fabricar relógios que diziam “Benetton”, mas
podiam ser vendidos quer pela Eco Swiss, quer pela Bulova. Não obstante, havia uma segmentação do mercado: a Eco Swiss não podia vender
os relógios em Itália e a Bulova só podia vender lá. Ora, a Benetton decidiu rescindir o contrato três meses antes do termo inicialmente
previsto. A Benetton, a Eco Swiss e a Bulova instauraram um processo de arbitragram relativo a essa rescisão. As outras duas sociedades (Eco
Swiss e a Bulova) intentam uma ação de responsabilidade pedindo uma indemnização. Os tribunais arbitrais – por força de uma cláusula
arbitral – deram razão às sociedades. No entanto, a Benetton veio invocar a nulidade dos contratos nos tribunais judiciais, invocando que essas
decisões arbitrais eram contrárias à ordem pública em virtude da nulidade. Isto porque a cláusula de segmentação do mercado violava o Art
101.º, n.º 2, do TFUE, que estipulava que estes contratos são nulos por causa da concorrência. O Tribunal de Justiça da União Europeia vem
afirmar que a tutela da concorrência é um princípio axial da ordem jurídica da União Europeia. Como tal, diz que é certo que há a figura dentro
dos EstadosMembros – a reserva de ordem pública internacional (ROPI) –, a qual tem natureza estadual (cada Estado define os seus princípios
axiais). Todavia, os que são princípios axiais da União Europeia são princípios axiais dos Estados-Membros, o que é fundamental para a ordem
jurídica da União Europeia é fundamental para a ordem jurídica dos Estados-Membros. Isto posto, acabou por dar razão à Benetton. A reserva
de ordem pública internacional é um mecanismo que intervém quando a norma de conflitos manda aplicar uma norma de direito estrangeiro.
É um mecanismo que limita a aplicação de lei estrangeira quando daí resulte uma situação absolutamente incompatível com a ordem jurídica
portuguesa e os seus valores. Começa-se a falar, pela primeira vez, da reserva de ordem pública europeia. O Tribunal de Justiça da União
Europeia serve-se de um mecanismo do Direito Internacional Privado para proteger os princípios fundamentais da ordem jurídica europeia,
isto porque o que é princípio axial da ordem jurídica europeia, é princípio axial da ordem jurídica de cada Estado-Membro. Neste caso, o
Tribunal de Justiça da União Europeia veio reconhecer a reserva da ordem pública internacional, mas vem dizer que os princípios fundamentais
da União Europeia devem constituir princípios fundamentais dos órgãos jurídicos dos Estados-Membros. Assim, isto foi uma forma de o
Tribunal de Justiça da União Europeia defender os princípios básicos da União Europeia. A reserva de ordem pública integra os princípios da
União Europeia e de cada Estado-Membro. Tudo o que é princípio fundamental da União Europeia integra a reserva de ordem pública dos
Estados: o que intolerável para o Direito da União Europeia é intolerável para os próprios Estados-Membros. § Fraude à lei (Art 21.º CC) A
fraude à lei diz respeito à constituição formalmente regular de uma situação de facto ou de direito que serve de elemento de conexão a uma
norma de conflitos. Esta tem como objetivo evitar a aplicação da lei normalmente competente e conseguir um resultado que esta lei não
permite. Caso Baufrremeont – 1878 (julgado pelos tribunais franceses) No presente caso, ao tempo dos factos o divórcio não era permitido
em França e a senhora queria casar com um romeno, o que não lhe era permitido por ainda estar casada pela ordem jurídica francesa com
outra pessoa. Adquiriu, por isso, nacionalidade alemã de propósito para beneficiar das normas de direito alemão, que permitiam o divórcio
católico quando estivessem separados de pessoas e bens, e conseguiu casar novamente. Contudo, os tribunais franceses consideraram que era
uma situação de fraude à lei devido à existência de uma manipulação do elemento de conexão da nacionalidade, com o objetivo de alcançar
um resultado não permitido pela lei competente (lei francesa). Acórdão do Tribunal de 9 de março de 1999 | Caso Centros Ltd contra
Erhvervs-og Selskabsstyrelsen Neste caso, dois dinamarqueses queriam constituir uma sociedade comercial, mas na altura a lei dinamarquesa
exigia a libertação de um capital mínimo muito elevado. Com efeito, eles fizeram estudos e constataram que no Reino Unido não havia essa
exigência de capital mínimo. Por conseguinte, deslocam-se para o Reino Unido e fixaram a sua sede estatutária lá. Contudo, eles queriam
exercer a sua atividade comercial na Dinamarca. Ora, isso era possível, mas essa sociedade estrangeira tinha de pedir o registo de uma sucursal
lá na Dinamarca. As autoridades dinamarquesas recusaram o registo com base na fraude à lei. Isto porque a sociedade não exercia nenhuma
atividade no Reino Unido e a sucursal na Dinamarca não era propriamente uma sucursal, uma vez que a sua intenção foi sempre desenvolver a
atividade na Dinamarca. Os dinamarqueses manipularam o lugar de constituição para terem a lei mais favorável. O registo foi recusado na
Dinamarca. Ademais, o tribunal dinamarquês pede ao Tribunal de Justiça da União Europeia para se pronunciar, estando em causa o atual Art
54.º TFUE. Ora, os cidadãos dinamarqueses vêm dizer que o tribunal dinamarquês violava o tratado da União Europeia e a liberdade de
estabelecimento. Quando uma sociedade se internacionaliza artificialmente constitui realmente fraude à lei? É possível ou não esta
manipulação de acordo com o Tribunal de Justiça da União Europeia, de acordo com a liberdade de estabelecimento? O Tribunal de Justiça da
União Europeia veio dizer que o pedido para registar a sucursal na Dinamarca não foi um uso abusivo da liberdade de estabelecimento, dado
que o tratado admite que uma sociedade se estabeleça num Estado para exercer a sua atividade nos outros Estados. Só não deve ser assim se
existirem razões imperiosas de interesses estadual. A partir desse caso o uso deste instituto de fraude à lei fica limitada quando falamos das
liberdades comunitárias. O Art 54.º do TFUE aceita que as sociedades constituídas num Estado-Membro possam exercer a sua atividade em
qualquer Estado-Membro.§ Normas de aplicação imediata (NAI) - Acórdão do Tribunal de 15 de março de 2001 | Caso Arblade e Leloup: No
presente caso, pela primeira vez, o Tribunal de Justiça da União Europeia toma conhecimento das normas de aplicação imediata e dá inclusive
uma definição. O caso colocou-se perante os tribunais belgas e dizia respeito a supostas infrações por parte de empresas francesas. As
empresas estavam temporariamente na Bélgica a construir um silo de cereais e foram inspecionadas pelas autoridades belgas. As autoridades
aplicaram um conjunto de multas porque entenderam que elas não estavam a cumprir as normas de aplicação imediata. Havia uma norma
belga que impunha que qualquer empresa estabelecida num Estado-Membro que estivesse a desenvolver uma atividade na Bélgica e estivesse
a utilizar trabalhadores deslocados na Bélgica tinha de lhes pagar uma remuneração mínima que constava de uma convenção coletiva de
trabalho. Ora, a empresa estava a pagar abaixo dessa remuneração (aos trabalhadores franceses que estavam na Bélgica a trabalhar) e,

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consequentemente, as autoridades aplicaram-lhe uma multa. O Tribunal de Justiça da União Europeia veio dizer que a liberdade de prestação
de serviços não está em confronto com essa norma que se aplica a qualquer trabalhador, naquela área, dentro da Bélgica, isto é, não há
nenhuma discriminação, respeita a liberdade de prestação de serviços. Todavia, estas empresas foram também multadas por não cumprir
algumas obrigações que resultavam do direito belga, obrigações administrativas, mas que elas diziam que já tinham cumprido na França. O
Tribunal de Justiça da União Europeia vem dizer que temos duas empresas a quem está a ser exigido que cumpram obrigações que elas já
cumpriram nas França – há uma duplicação de obrigações. Com efeito, há aqui um entrave de prestação de serviços, pois as empresas
francesas na Bélgica não estão em pé de igualdade com as empresas francesas na França, dado que têm que cumprir as obrigações na França e
duplicar essas obrigações na Bélgica. Isto posto, o Tribunal de Justiça da União Europeia veio dizer que, de facto, havia aqui uma discriminação
entre as empresas belgas e as empresas estrangeiras. O Tribunal de Justiça da União Europeia conhece as normas de aplicação imediata,
conhece a sua natureza internacionalmente imperativa, mas as normas de aplicação imediata dos Estados estão limitadas pelas liberdades
comunitárias no sentido de que devem respeitá-las. Para além disso, um agente que esteja sujeito a uma norma de aplicação de imediata no
Estado de origem não deve estar sujeita a uma norma de aplicação imediata idêntica, ou seja, não pode haver duplicação de obrigações.
Acórdão do Tribunal de 9 de novembro de 2000 | Caso Ingmar GB Ltd contra Eaton Leonard Technologies Inc.: O presente caso trata de um
contrato internacional entre empresas. A Ingmar, sociedade com sede no Reino Unido, celebra um contrato com a Eaton, com sede nos EUA, e
neste contrato a Ingmar seria agente comercial da Eaton, sociedade estabelecida na Califórnia. A lei que regulava o contrato era a lei da
Califórnia. Acontece que esta relação comercial entre a Ingmar e a Eaton entra em rutura e a certa altura a Eaton decide rescindir o contrato/
põe termo ao contrato de acordo com a lei da Califórnia. Ingmar vem invocar perante tribunais do Reino Unido o direito a uma indemnização
que resultava de uma diretiva da União Europeia que foi transposta para o direito do Reino Unido. No que diz respeito ao contrato de agência,
essa lei estabelece que o agente comercial no fim do contrato tem direito a uma indemnização ou reparação de danos causados pelo fim do
contrato/ pela cessação das suas relações contratuais. Isso porque enquanto dura o contrato o agente fica preso naquele contrato. Por outro
lado, a Eaton vinha dizer que não tinha nada que pagar, uma vez que a lei que regulava o contrato era a lei californiana e, como tal, não tinha
que pagar indemnização nenhuma. Ora, o Tribunal de Justiça da União Europeia veio dizer que, de facto, no âmbito dos contratos
internacionais reconhece-se o princípio da autonomia da vontade. Contudo, o Tribunal de Justiça da União Europeia não ficou por aqui. Veio
dizer igualmente que apesar de ser assim, olhando para esta diretiva da União Europeia, da qual resulta este direito de indemnização, essa
diretiva visa aplicar-se a todos os agentes comerciais estabelecidos no território da União Europeia, independentemente da residência e do
local de estabelecimento, pois visa proteger o agente comercial pelo fim do contrato. Isto posto, o Tribunal de Justiça da União Europeia veio
dizer que a finalidade é, dentro da União Europeia, uniformizar as condições de concorrência e aumentar a segurança jurídica dos agentes
comerciais. Logo, a aplicação dessa norma em concreto ao presente caso é necessária para a dinamização dos objetivos da União Europeia. No
fundo, o Tribunal de Justiça da União Europeia veio dizer que dentro dos contratos há um princípio de liberdade contratual, mas esta norma
específica aplicase a todos os agentes que exerçam a atividade dentro do território do União Europeia – norma de aplicação imediata (visa
proteger a uniformidade das condições de concorrência e aumentar a segurança das operações comerciais dentro da União Europeia). Mais
uma vez, o Tribunal de Justiça da União Europeia usa um mecanismo de Direito Internacional Privado para proteger o Direito da União
Europeia. Fontes das normas de conflitos 1) Fontes internacionais § Convenções internacionais: encontramos convenções internacionais
sobre estas matérias desde o século XIX; o organismo que tem mais legislado neste aspeto é a conferência de Haia, que cria as chamadas
Convenções de Haia, com sede em Haia, com mais de 70 Estados aderentes. Esta tem uma particularidade: a União Europeia faz também parte
dela e está presente no momento de negociar estas matérias, embora não vote (apenas votam os Estados-Membros). A Conferência de Haia
tem como implantadores ASSER e MANCINI. Portugal é parte de várias Convenções internacionais da Conferência de Haia. Outra organização é
a Comissão Internacional do Estado Civil que também elabora convenções no âmbito do Direito Internacional Privado, embora tenha um
âmbito material mais limitado. Também é relevante referir a Convenção de Bruxelas e a Convenção de Roma. As normas destas convenções
devem ter uma interpretação autónoma, isto é, devem conter regras próprias de interpretação. § Costume internacional: coloca-se a questão
de saber se o costume internacional (vários Estados adotam as mesmas normas) constituirá fonte também. Este é composto por dois
elementos: a prática reiterada (corpus) e a convicção da sua obrigatoriedade (animus). Porém, aqui as normas são adotadas pelos Estados na
tentativa de adotar normas idênticas, mas tendo em consideração os princípios do Direito Internacional Privado e não no sentido de
obrigatoriedade. Para além de que, o conteúdo destas normas varia de Estado para Estado. Assim, o costume não constitui fonte de normas de
Direito Internacional Privado. § Princípios gerais reconhecidos pelas nações civilizadas: são fontes internacionais e colocam determinados
limites, como o princípio da confiança e o princípio de que cada Estado é livre de dizer quem são os seus nacionais (por exemplo, Artigo 38.º,
n.º 1, al. c) do ETIJ). 2) Fontes da União Europeia 3) Fontes internas § A lei - A grande fonte nacional de Direito Internacional Privado é a lei.
Quer no Código Civil, quer em vários diplomas (por exemplo, Código das Sociedades Comerciais). § O papel da jurisprudência - A
jurisprudência não é uma fonte de direito em Portugal, mas sim uma fonte de aplicação do direito. Porém, noutros países esta assume-se
como uma verdadeira e importante fonte (por exemplo, nos EUA, na França, etc.). O julgador nas matérias de Direito Internacional Privado tem
um poder discricionário muito maior do que o que tem nos outros ramos do direito, uma vez que o Direito Internacional Privado tem vários
mecanismos que atribuem ao julgador um poder discricionário muito maior. § O papel da doutrina - A doutrina é uma fonte indireta. Porém,
esta sempre teve um papel muito importante, dado que muitas das nossas normas tiverem como primeira sugestão a doutrina, como a lei da
nacionalidade aplicável a matérias de estatuto pessoal ou o princípio da autonomia da vontade. O critério da nacionalidade em questões de
estatuto pessoal foi proposto pelo autor MANCINI (importante político italiano). Em meados do século XIX, a Itália era constituída por um
conjunto de reinos e repúblicas, sendo que MANCINI teve esta ideia de nação comum: unificar toda aquela gente não só politicamente, mas
também no plano da nacionalidade. No que diz respeito ao princípio da autonomia da vontade, esta vem dos estatutários, nomeadamente de
DU MOULIN. Por outro lado, a reserva de ordem pública internacional (ROPI) surgiu em primeiro lugar na doutrina com SAVIGNY. Isto posto, a
doutrina teve grande importância na resolução de questões de Direito Internacional Privado de grande complexidade e só depois foram estas
soluções adotadas pelos legisladores.
Órgãos de aplicação das normas de Direito Internacional Privado § Órgãos internos: Os tribunais, os conservadores do registo, os notários e
os cônsules portugueses no estrangeiro (resolvem questões de registo civil e notariado de emigrantes que estejam no estrangeiro). § Órgãos

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internacionais: Tribunal de Justiça da União Europeia; Tribunal Internacional de Justiça: funciona no palácio da paz; foi criado para julgar
litígios levados pelos Estados. Geralmente são litígios de Direito Internacional Público, porém este já teve, na sua história, de julgar questões
de Direito Internacional Privado em matérias de contratos de Estado/ de investimento, e ele decidiu que os litígios emergentes destes
contratos devem ser resolvidos com normas de Direito Internacional Privado. O estatuto deste tribunal só tem normas de Direito Internacional
Público e, como tal, ele próprio concluiu que havia uma lacuna, formulando ele próprio normas de Direito Internacional Privado. Assim, ele
pode legislar em matéria de Direito Internacional Privado, mas só excecionalmente. § Tribunais arbitrais: Cada vez existem mais questões no
âmbito de Direito Internacional Privado a serem resolvidas em tribunais arbitrais – meio por excelência de resolução de litígios. A arbitragem é
uma forma alternativa de resolução de litígios que se traduz em retirar um litígio dos tribunais judiciais e entregá-lo a um órgão (terceiro
independente) fora do sistema judicial para resolver tal litígio. Os tribunais arbitrais podem ser ad hoc ou institucionalizados. Vantagens: Os
árbitros não estão entregues na organização judiciária, não estão relacionados a nenhum país e, por isso, não são acusados de estar a resolver
a questão em função dos interesses de determinado país – há uma maior neutralidade; Maior rapidez na resolução de um litígio; Garante a
confidencialidade do processo; Permite confiar a decisão do litígio a pessoas com especial competência e conhecimento em matérias de certo
litígio (as partes podem escolher árbitros com uma determinada competência específica); A arbitragem dispensa também o patrocínio
judiciário; Reconhecimento de sentenças arbitrais estrangeiras (por exemplo, Convenção de Nova York de 1958); Menor formalismo.
Desvantagens: Os árbitros podem completar-se com representantes das partes que os escolheram (não é comum acontecer);   Os tribunais
arbitrais geralmente têm custos de funcionamento muito elevados, não sendo adequados para causas de pequeno valor, salvo aqueles que
resultam de uma diretiva comunitária que funcionam com financiamento do Estado. A arbitragem privada é um modo de resolução de litígios
privados, de direito privado (sujeitos privados ou Estados quando intervêm na sua veste de privados) que se carateriza por retirar o litígio aos
tribunais da ordem judicial de um Estado e entregar essa competência a pessoas designadas para o efeito (tribunais arbitrais), que vão não só
julgar litígios de direito privado, mas também litígios de direito internacional privado. Para as partes, as sentenças têm a mesma eficácia que as
sentenças judiciais. A arbitragem privada internacional (ou comercial internacional) tem a sua noção no Artigo 49.º da Lei da Arbitragem
Voluntária (Lei n.º 63/2011).
Limites à aplicação da lei competente: 1. As normas de aplicação imediata (NAI) 1.1 Noção: Normas materiais espacialmente autolimitadas
que, pelo fim social que visam atingir e pela intensidade valorativa que revestem, reclamam a sua aplicação independentemente do âmbito de
competência da ordem jurídica a que pertencem, derrogando o sistema conflitual geral do Estado do foro. Estas normas têm uma força tal que
vão poder afastar a lei normalmente competente para resolver a questão privada internacional, daí que se diga que sejam normas à prova de
conflitos, uma vez que elas afastam o próprio direito conflitual (vão afastar a solução a que chegaríamos se aplicássemos as normas de
conflitos). 1.2 Características § Normas materiais: vão dar-nos a solução material para o caso concreto em oposição às normas de conflitos que
são meramente formais (apenas indicam a lei competente para resolver o litígio); § Podem revestir natureza pública ou privada; § Normas
imperativas; § Normas que refletem uma intervenção do Estado na tutela de determinados interesses; § Normas que vão reclamar a sua
aplicação ao caso concreto, explicitamente (Artigo 2223.º do CC) ou implicitamente (Artigo 57.º da CRP); § A vontade de aplicação destas ao
caso concreto pode decorrer de uma norma de conflitos unilateral ou dos próprios princípios gerais do Direito Internacional Privado; § Reflete
a intervenção do Estado, tutelando interesses sociais que a ordem pública considera importantes e que carecem de uma proteção mais forte
do que aquela que seria atingida pela mera aplicação de normas de conflitos; § Variedade (encontram-se em várias áreas do direito); § Caráter
de territorialidade: resulta da ligação íntima aos interesses nacionais dos Estados, interesses esses que se considera que só se podem alcançar
com a aplicação desta norma; § Relatividade espacial e temporal: o tipo de fins sociais ou valores que estas normas visam atingir varia de
Estado para Estado, em função de circunstâncias particulares e da própria conjuntura temporal; § Autonomia face ao sistema conflitual do
Estado do foro: estas podem ser aplicadas independentemente da solução a que chegaríamos pela aplicação da norma de conflitos; § Caráter
excecional: são normas materiais que vão atuar excecionalmente na regulamentação das relações jurídicas privadas internacionais; § Além de
terem a solução para o caso concreto, elas definem a própria conexão que vai demonstrar a relação entre a situação plurilocalizada e o Estado
da ordem jurídica do foro. EX: o Art. 2223.º CC é um exemplo de uma NAI. É uma norma material formulada para resolver uma situação
plurilocalizada e determina o seu âmbito de aplicação espacial. Neste caso, tem de estar em causa um testamento feito por um português no
estrangeiro. Para este ser válido tem de estar sujeito à forma solene. Ora, independentemente da solução a que se chega com a aplicação do
Art 65.º, n.º 1, do CC, no caso de se tratar de um cidadão português que celebre um testamento no estrangeiro, este só será válido se revestir
forma solene. O Art 65.º, n.º 2, do CC é uma norma instrumental ou acessória da NAI. O Art 53.º CRP também foi considerado uma NAI depois
da decisão nesse sentido pelo Supremo Tribunal de Justiça num acórdão de 03/08/1988. MOURA RAMOS define o seu âmbito de aplicação:
salvaguarda da segurança no emprego quando esteja em causa ou um contrato de trabalho executado em território nacional, ainda que sujeito
a lei estrangeira, ou ainda contratos de trabalho em que o trabalhador é português ou residente em Portugal, tendo sido contratado por uma
empresa portuguesa, ainda que o contrato seja executado no estrangeiro. § Podem existir normas de conflitos instrumentais ou acessórias,
que podem ser explícitas ou implícitas, e normas de conflitos ad hoc, regras auxiliares, que auxiliam na aplicação destas NAI (por exemplo,
Artigos 7.º da Convenção de Roma, 9.º do Regulamento Roma I e 16.º do Regulamento Roma II). § Através dos princípios fundamentais
(segurança e certeza jurídicas, conexão mais estreita, harmonia de julgados) nós podemos retirar a vontade de aplicação de uma norma
enquanto NAI. Ou esta resulta de uma norma de conflitos unilateral ou de uma regra auxiliar, etc. 1.3 Efeitos das NAI: Na relação entre a NAI e
as normas materiais da lei aplicável podemos ter uma aplicação efetiva, e esta pode ser em: § Cumulação: aplica-se a NAI juntamente com as
normas materiais da lei aplicável competente para resolver a situação (quando se estão a discutir várias questões e uma delas é regulada por
uma NAI, enquanto que a outra é regulada pela lege causae); § Primazia: as NAI atuam com primazia sobre as normas materiais da lei
aplicável; § Atuação das NAI em combinação com as normas matérias da lei aplicável. Estes efeitos vão variar consoante a NAI pertença ao
ordenamento jurídico do foro ou ao ordenamento jurídico estrangeiro. Assim sendo, quanto aos efeitos da NAI, a aplicação vai depender se a
NAI pertence ao: § Ordenamento jurídico do foro: normalmente, quando pertencem ao ordenamento jurídico do foro, não se levantam muitos
problemas na sua aplicação. Neste caso, vai atuar com prioridade face às normas materiais da lei aplicável, face ao sistema conflitual, desde
que haja a conexão para que esta se possa aplicar; § Ordenamento jurídico estrangeiro: quando estão em causa NAI estrangeiras, a regra é que
não há obrigação de reconhecimento de efeitos, isto é, cada Estado é que estabelece as condições de reconhecimento ou não de efeitos,

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através de normas de reconhecimento. No entanto, quanto à lei aplicável, nós podemos ter duas situações:   Pode pertencer à lei aplicável e
estar dentro do âmbito de competência dessa mesma lei: vamos aplicar a NAI como qualquer outra regra material da lei competente para
resolver a questão. Não faz diferença ser uma NAI ou não, aplica-se a solução material;   Pode pertencer à lei aplicável, mas está fora do seu
âmbito de competência ou então pertence a outro Estado: a regra geral é que não há a obrigação de reconhecimento, os Estados não estão
obrigados a reconhecer efeitos a estas NAI. As condições em que cada Estado está disposto a reconhecer os efeitos estão previstas em normas
de reconhecimento de NAI. Contudo, nos casos em que não existam estas normas de reconhecimento de NAI, a doutrina entende que
podemos reconhecer efeitos às NAI estrangeiras com base na cooperação entre os Estados e na vocação universalista do Direito Internacional
Privado, e com base em certos princípios gerais do Direito Internacional Privado como a tutela da confiança, a harmonia de julgados ou a
unidade e coerência das normas jurídicas. Neste caso, estas NAI não se aplicam porque elas se querem aplicar, mas aplicam-se porque o
Estado do foro reconhece um interesse paralelo em aplicar aquela norma. Além disso, é exigida, mais uma vez, uma ligação com a norma
jurídica. Aplica-se a norma estrangeira, mas as condições são estabelecidas pelo Estado do foro. No entanto, se a NAI estrangeira colocar em
causa interesses do Estado do foro e/ou valores fundamentais, não se reconhecem os seus efeitos. Em Portugal, como existem poucas normas
de reconhecimento de efeitos às NAI, vamos buscar o fundamento para as reconhecer aos princípios e valores fundamentais dos Estados. Pode
também existir uma situação em que a NAI pode ser ainda tomada em consideração como um dado de facto, ou seja, o reconhecimento da
eficácia às NAI pode fazer-se pela sua aplicação ou ponderação como pressuposto de aplicação das normas materiais. Por exemplo, CCV em
que a mercadoria tinha que ser entregue no país X, sendo que as partes do contrato escolheram a lei portuguesa para regular eventuais
questões (escolha de lei – princípio da autonomia da vontade). Contudo, não se consegue entregar a mercadoria no país X, uma vez que nesse
país há uma norma que proíbe a importação da mercadoria em causa. Isto posto, há um incumprimento contratual (Artigo 790.º do CC) e,
consequentemente, a obrigação extingue-se. Ora, a parte portuguesa pode invocar no caso concreto esta norma estrangeira para alegar que
não pode cumprir o CCV. Assim sendo, neste caso, a invocação da NAI estrangeira serve como pressuposto/ requisito à norma material
portuguesa prevista no Artigo 790.º do CC. 1.4 Métodos e NAI Há uma divergência doutrinal quanto à questão de saber se as NAI se integram
no método substancialista ou conflitualista: ANTÓNIO MARQUES DOS SANTOS (método substancialista): conceção que defende as NAI como
um método autónomo face ao sistema conflitual, ou seja, enquadra-as num método substancialista ou material (afasta-as do método
conflitual e insere-as no método substancialista). Para além disso, para o autor, além do caráter de autonomia (dizem como se querem aplicar)
também a própria densidade valorativa das normas, o facto de ser uma norma material que regula diretamente a questão, aproxima-as do
método substancialista; DÁRIO MOURA VICENTE (método conflitual): integra as NAI num método conflitual pelo facto de estas terem uma
conexão, dizendo que estas necessitam de uma norma de cariz conflitual; ANABELA GONÇALVES (figura híbrida): defende que as NAI são uma
figura híbrida e que estas ocupam uma posição intermédia entre o método conflitual e o método substancialista. Assim sendo, as NAI têm
características dos dois métodos, logo têm de ser encaradas como um método autónomo do conflitual e que é tendencialmente
substancialista. Efetivamente, a intervenção da NAI depende da verificação no caso concreto de uma conexão, sendo esta conexão a que vai
traduzir a ligação com a ordem jurídica em causa. É uma conexão definida previamente pelo legislador (implícita ou explicitamente). Contudo,
a definição desta conexão não obedece à lógica tradicional do método conflitual (a lógica tradicional definia as conexões em função da lei
melhor localizada – procura da sede jurídica). Neste caso, o que a define é um fundamento material, isto é, a obtenção de determinados fins
objetivos considerados essenciais para o Estado em cuja ordem jurídica se insere aquela NAI e não a lógica da procura da lei melhor localizada,
daí o funcionamento da NAI ser diferente. Além disso, a NAI é uma norma mista, isto porque contém a solução material, mas também a
própria conexão. Na lógica de funcionamento das NAI nós partimos da análise do conteúdo dos fins e do interesse subjacente à norma
material para definir as condições da sua aplicação. Pelo contrário, no caso das normas de conflitos nós partimos da relação jurídica para
definir qual a lei melhor localizada para resolver em abstrato a questão. Em Direito Internacional Privado houve uma evolução em relação aos
métodos e no próprio direito conflitual surgiu uma figura (normas de conflitos materiais ou substanciais). Em certas circunstâncias o próprio
método conflitual procura atingir um determinado resultado material, e não a norma melhor localizada, através desta nova figura. Estas
normas aproximam-se do método substancialista, uma vez que se tratam de normas de regulamentação, que nos dão a solução para o caso
concreto. O facto de se sobreporem também ao método conflitual levam a que se aproximem do método substancialista. Porém, estas não são
puras normas de regulamentação, pois existe a tal conexão. Podemos assim concluir que as NAI são uma figura híbrida, dado que vão buscar
algumas caraterísticas aos dois métodos. Por este motivo não podem ser consideradas exclusivamente substancialistas, mas tendencialmente,
não obstante a existência da questão da conexão que vai buscar caraterísticas ao método conflitual. As NAI estão para o método
substancialista ou material como as normas de conflitos materiais estão para o método conflitual: ambas representam uma evolução na
regulamentação das questões jurídicas privadas internacionais. 2. A reserva de ordem pública internacional (ROPI) 2.1 Noção: A reserva de
ordem pública internacional (ROPI) é um limite à aplicação do direito estrangeiro competente ao reconhecimento de sentenças estrangeiras e
à transcrição de atos de registo civil lavrados no estrangeiro, quando o resultado da intervenção da lei estrangeira seja manifestamente
incompatível com os princípios fundamentais do Estado do foro ou com conceções ético-jurídicas fundamentais do Estado do foro. É um
mecanismo próprio do Estado do foro e tem como função defender a coerência da ordem jurídica nas situações em que é aplicável a lei
estrangeira. O papel essencial da ROPI será permitir à ordem jurídica do foro manter um controlo sobre o resultado final da aplicação do
direito conflitual. A ROPI atua excecionalmente, isto é, só quando a solução material colocar em causa princípios fundamentais da nossa
norma jurídica - Art 22.º do CC; Art 16.º da CR; Artigo 21.º do RR I e Art 26.º do RR II. 2.2 Características § Imprecisão: o conceito de ROPI é
indeterminado e, como tal, o legislador tem de aferir no caso concreto, de acordo com as conceções ético-jurídicas do Estado do foro, se estará
em causa uma situação em que se exige a atuação da ROPI; § Atualidade: o conceito indeterminado e esta apreciação tem de ser feita à luz do
momento em que a questão está a ser apreciada; as conceções ético-jurídicas do Estado do foro são avaliadas no momento; § Caráter
nacional: reflete os valores fundamentais do Estado do foro; § Excecionalidade: sendo também um limite à aplicação da lei estrangeira
normalmente competente, segundo as normas de conflitos, só deve atuar em última ratio, como limite, até para não colocar em causa outros
princípios do Direito Internacional Privado. 2.3 Requisitos 1) Existência de um juízo de incompatibilidade entre o resultado de aplicação da lei
estrangeira e os princípios fundamentais da ordem jurídica do foro (Artigo 22.º do CC); 2) Existir uma conexão suficiente entre os factos e a
ordem jurídica do foro. A intensidade desta conexão depende da importância que o princípio tem para a nossa ordem jurídica. Isto é, quanto

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mais estruturante for o princípio para a ordem jurídica do foro, menor será a conexão exigida. Para a questão do reconhecimento de sentenças
estrangeiras (situações já a produzir efeitos), exige-se uma menor conexão com a nossa ordem jurídica, uma menor ligação, dado. que já se
produziram efeitos e só estamos a reconhecer. 2.4 Efeitos § Efeito imediato: afastamento da lei normalmente competente; § Efeito secundário:
procurar uma solução material para o caso. De acordo com o princípio do mínimo dano à lei estrangeira, normalmente vamos procurar esta
solução na legislação que seria competente para resolver o caso, ou seja, vamos procurar se existe alguma norma material que possa ser
aplicada. Se esta norma existir nesse ordenamento jurídico, é essa que será aplicada. Caso não exista no ordenamento jurídico competente
alguma solução, em último recurso, aplicamos a lei portuguesa.
A regra de conflitos § Objeto, natureza e função das normas de conflitos: As normas de conflitos são normas de Direito Privado especial.
Distinguem-se das normas materiais, dado que não são normas de regulamentação, uma vez que não apresentam a solução material, e
remetem antes para a ordem jurídica onde se encontrará a solução. As normas de conflitos são normas indiretas, isto é, remetem para outras,
indicam a ordem jurídica onde vamos procurar a solução. As normas de conflitos regulam, assim, as relações interindividuais, nomeadamente
as relações privadas internacionais e não conflitos de soberania. A ordem jurídica para o qual nós vamos encontrar a solução material para o
caso pode ser a ordem jurídica do foro ou pode ser uma ordem jurídica estrangeira. Estas podem ser:Normas de conflitos unilaterais: remetem
para o direito material do foro. Limitam-se a dizer a que situações se aplica o direito interno. Por exemplo, Art 3.º CC Francês: para averiguar a
capacidade de nacionais franceses, aplica-se a lei francesa – esta norma é incompleta, uma vez que não pondera situações de estrangeiros.
Para resolver esta problemática, tenta-se bilateralizar, ou seja, por questões de igualdade se aos franceses se aplica a lei francesa, aos
portugueses aplica-se a lei portuguesa. Normas de conflitos bilaterais: remetem para a ordem jurídica do foro ou para uma ordem jurídica
estrangeira. A primeira função das normas de conflitos é disciplinar as relações privadas internacionais. Para esse efeito vai designar a ordem
jurídica local na qual vamos procurar a solução (segunda função), através de normas de conflito bilaterais e unilaterais. O bilateralismo e o
unilateralismo são duas formas de fazer a mesma função (uma mais completa do que outra). O objeto das normas de conflitos é a situação da
vida caraterizada em razão do conteúdo jurídico que lhe imputam as normas de certo ordenamento jurídico local. § A estrutura geral das
normas de conflitos- As normas de conflitos têm três elementos (estrutura tripartida), nomeadamente uma previsão, uma estatuição e um
elemento de conexão. 1) Previsão: situações da vida que a norma visa regular. Por exemplo, posse, propriedade e mais direitos reais (Art 46.º
CC). A esta previsão chamamos conceito quadro (conceito técnico-jurídico que tem a função de recortar dentro da ordem jurídica indicada
pelo elemento de conexão qual a categoria normativa que deve ser aplicada), pois eles têm esta caraterística jurídica (é constituído por
conceitos jurídicos) e têm uma certa capacidade expansiva (o significado deles não se limita ao significado que têm na ordem jurídica do foro).
Opera por categorias de questões jurídicas, o que pode provocar o dépeçage (a diferentes parcelas da ordem jurídica vamos aplicar diferentes
normas de conflito). 2) Estatuição: consequência jurídica – a ordem jurídica que em concreto é chamada para resolver a questão. Por exemplo,
a lei da nacionalidade; 3) Elemento de conexão: elemento que vai ligar a previsão da norma e a sua consequência jurídica; é o elemento
individualizador da norma de conflitos, aquele que vai indicar a norma jurídica potencialmente aplicável ao caso. Por exemplo, nacionalidade.
Tipos de normas de conflitos quanto ao objeto e à estatuição: Normas de conflitos unilaterais: remetem apenas para a ordem jurídica do
Estado do foro (por exemplo, Art 28.º, n.º 1 CC); Normas de conflitos bilaterais: remetem tanto para a ordem jurídica do Estado do foro como
para uma ordem estrangeira; de acordo com BAPTISTA MACHADO, a estas normas não corresponde uma única consequência jurídica, mas
tantas quantos os ordenamentos existentes; Normas de conflitos bilaterais imperfeitas: remetem tanto para a ordem jurídica do Estado do
foro como para uma ordem estrangeira, mas só se ocupam dassituações que têm uma ligação com o Estado do foro (por exemplo, Artigo 51.º
do CC: esta norma não consagra a hipótese do casamento celebrado entre dois estrangeiros num país estrangeiro). A conexão e as suas
modalidades. O elemento de conexão: De conexão singular: remete apenas para uma ordem jurídica – têm apenas um elemento de conexão;
só uma ordem jurídica é competente para resolver a questão. Pode ser de vários tipos: – Simples: a norma de conflitos que designa apenas
uma ordem jurídica diretamente aplicável (por exemplo, Art 46.º do CC); – Subsidiária: a norma de conflitos designa duas ou mais ordens
jurídicas (vários elementos de conexão), mas a aplicação de uma delas elimina a possibilidade de aplicação da outra (ex:, Art 52.º, n.º 2 CC e
4.º da CR); – Alternativa: a norma de conflitos designa dois ou mais elementos de conexão; o juiz pode escolher um deles, mas terá de
escolher aquele que permite o resultado visado pela norma, normalmente com o objetivo de garantir a validade de um ato, proteger certas
liberdades ou facilitar a constituição ou extinção de certa situação jurídica (ex: Art 65.º, n.º 1, do CC, 9.º, n.º 1, da CR e 11.º, n.º 1, do RR I);–
Optativa: a norma de conflitos estabelece dois elementos de conexão e confere a um sujeito (dispensa o julgador) o direito de optar por
aquele que ele quiser, que o favoreça, que conduza a um melhor resultado material (por exemplo, Art 7.º do RR II); – Acessória: a norma de
conflitos manda aplicar a certa questão a norma que está relacionada com outra questão conexa com a primeira, para evitar o excessivo
desmembramento da mesma situação – dépeçage (ex: Artigo 4.º, n.º 3, do RR II, Art 35º, n.º 1, 36.º, n.º 1, e 44.º CC e Art 8.º, n.º 1, da CR). De
conexão plural ou cumulativa: remete para várias ordens jurídicas. Pode ser de dois tipos: – Simples: para se produzir um certo efeito jurídico
é necessário, simultaneamente, aplicar duas ordens jurídicas (ex: Art 33.º, n.º 3 CC e 3.º, n.º 4 CSC). Ex: uma sociedade com sede em Portugal
quer transferir a sua sede para a Holanda. É possível transmitir a sede de uma pessoa coletiva para outro país, mantendo a personalidade
jurídica, mas é necessário que tanto a lei portuguesa como a lei holandesa concordem. – Condicionante ou limitativa: temos uma norma de
conflitos que elege certo ordenamento competente para regular a questão, mas depois determina outro que tem a competência de limitar a
produção de efeitos jurídicos (ex: Art 27.º, n.º 2, 55.º, n.º 2, e 60.º, n.º 4 CC). O elemento de conexão tem a tarefa de “localizar” a situação
jurídica competente num espaço legislativo determinado para a resolução do litígio. Pode ser definido em função de diferentes elementos:
Sujeito: nacionalidade, residência habitual, etc.; Objeto: lugar da situação da coisa (Art 46.º, n.º 1 CC), etc.; Lugar da prática do ato jurídico: o
lugar da celebração do negócio jurídico (Art 9.º, n.º 1 da CR), lugar da prática do delito (Art 45.º, n.º 1 CC), etc.; Autonomia privada: permitir às
partes a escolha da lei aplicável ou estabelecer uma diretriz de caráter geral que indica ao julgador como encontrar a lei aplicável (conexão
mais estreita); ex:, Art 34.º e 41.º, n.º 1, do CC, Art 3.º, n.º 1, da CR e Art 14.º, n.º 2, do RR II; outros. § Interpretação e aplicação da norma de
conflitos: A norma de conflitos tem algumas especificidades, sendo a mais importante a sua estrutura tripartida. Interpretação da norma de
conflitos: A interpretação das normas de conflitos deve ser feita com uma certa autonomia em relação ao direito material interno, porque
vamos reconhecer uma capacidade expansiva aos conceitos-quadro. De fonte nacional: recorremos às regras gerais de interpretação da nossa
ordem jurídica (Artigo 9.º do CC), sem prejuízo da capacidade de expansão do conceito quadro. Nos conceitos quadro (contêm conceitos

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jurídicos e uma certa capacidade expansiva) vamos incluir conteúdos normativos que podem não existir na ordem jurídica portuguesa, mas
que podem ser idênticos aos que existem na ordem jurídica portuguesa – princípio da autonomia interpretativa dos conceitos quadro da
norma de conflitos em relação ao direito material interno; De fonte internacional: aplicam-se os cânones hermenêuticos e a Convenção de
Roma, com especial atenção à importância da uniformidade das interpretações nos vários Estados através da autonomia em relação ao direito
interno. Por exemplo, Art 18.º da CR: cláusula interpretativa que serve para garantir a harmonia de julgados. Se esta cláusula não existir temos
de recorrer à Convenção de Viena que estabelece a interpretação uniforme da convenção – princípio da autonomia interpretativa face ao
direito dos Estados (as convenções devem ser interpretadas uniformemente por todos os Estados, independentemente do direito interno de
cada um). De fonte da União Europeia: segundo o Tribunal de Justiça da União Europeia, a regra é a ideia de que os atos jurídicos da União
Europeia e as normas de conflitos que estão nesses atos devem ter uma interpretação autónoma, face ao direito material dos Estados-
Membros (esta ideia está nos preâmbulos dos RR I e do RR II). Esta deve ser feita tendo em conta a unidade e a coerência do direito da União
Europeia – a especificidade da norma, o conteúdo, a sua razão de ser, a sua natureza e as interpretações jurisprudenciais. A União Europeia
considera que há certos regulamentos que funcionam em conjunto e, por isso, devem ter uma interpretação coordenada entre si. Por
exemplo, o Regulamento Roma I diz respeito a obrigações contratuais e o Regulamento Roma II diz respeito a obrigações extracontratuais; o
Regulamento Bruxelas I bis abrange matérias de obrigações contratuais e extracontratuais. Ora, a União Europeia entende que estes
regulamentos devem ser interpretados de forma coordenada entre si, ou seja, o que for considerado obrigação extracontratual para efeitos do
Regulamento Bruxelas I será também para efeitos do RR II, por ex. NOTA: Mesmo dentro de certas normas encontramos conceitos
interpretativos que nos dizem o que deve ser entendido por determinado conceito. Integração de lacunas no direito de conflitos É difícil a
existência de lacunas nas normas de conflitos, uma vez que os conceitos quadro destas normas têm capacidade expansiva. Porém, não é
impossível. Em primeiro lugar, estas resolvem-se por recurso à analogia (Art 10.º, n.º 1 CC). Ex: Art 31.º, n.º 2 CC: fala de negócios jurídicos,
mas no que diz respeito aos atos jurídicos. serão aqui abrangidos? Resolvemos esta questão por analogia e dizemos que sim. Em segundo
lugar, estas resolvem-se a partir da criação de uma norma ad hoc (Art 10.º, n.º 3 CC), e para a criarmos no âmbito do Direito Internacional
Privado temos de recorrer aos princípios gerais do Direito Internacional Privado. A aplicação no tempo das normas de conflitos: Podemos ter
problemas quando no que diz respeito à mesma questão surgirem, ao mesmo tempo, novas leis diferentes. Assim sendo, este problema
coloca-se quando ocorre uma sucessão temporal de normas de conflitos. Por exemplo, houve uma altura em que só tínhamos a Convenção de
Roma para as obrigações contratuais (1980) e, posteriormente, apareceu o RR I (2008). Neste caso, temos de ver se estas novas leis têm
respostas específicas para tal questão (por exemplo, Art 17.º da CR). Regra geral, as regras legais/ convencionais específicas determinam o
âmbito temporal, regulando diretamente o problema. Assim, o Artigo 17.º da CR diz-nos que se aplica após a entrada em vigor nesse Estado
(no caso de Portugal, a 1/09/1974), e o Art 28.º do RR I diz-nos que se aplica a contratos celebrados após 17/12/2009. Ora, sabemos se
aplicamos a Convenção de Roma ou o Código Civil (antes da data da convenção), consoante a data aí referida. Não havendo nenhuma norma
específica, aplica-se o direito transitório da ordem jurídica a que pertencem as normas de conflitos alteradas. No caso de Portugal, recorremos
à regra geral do Art 12.º CC (norma de direito transitório), que regula a aplicação das leis no tempo: não aplicação retroativa da lei nova/
princípio da não retroatividade (n.º 1). Se estiverem em causa relações jurídicas duradouras, que já tenham sido constituídas antes da entrada
em vigor da lei nova (constituídas à luz da lei antiga) vamos aplicar a 2.ª parte do Artigo 12.º, n.º 2, do CC e vamos considerar ser admissível a
aplicação da nova norma de conflitos. Problema do conflito móvel: de acordo com A. FERRER CORREIA, é suscitado por uma mudança na
concretização do fator de conexão e consiste em determinar qual a influência que poderão exercer em situações jurídicas já existentes as
mutações verificadas nas circunstâncias de facto ou de direito em que se funda a determinação da lei aplicável. Por outras palavras, o
problema do conflito móvel ocorre quando há uma alteração do conteúdo concreto do elemento de conexão da norma de conflitos,
produzindo uma sucessão de normas aplicáveis. Resulta do facto. Por exemplo, quando se aplica a lei da nacionalidade e a pessoa muda de
nacionalidade. O conflito móvel é conceitualmente um conflito de leis no espaço e não um conflito de leis no tempo. Não se trata de um
fenómeno de sucessão de leis (dinâmica legislativa), mas da “movimentação” de uma relação jurídica através de espaços em que imperam
diferentes soberanias e diferentes sistemas de Direito Internacional Privado. Este conflito supõe uma conexão variável (por exemplo,
nacionalidade, domicílio, residência habitual, lugar de um bem móvel, etc.). O mesmo não poderia suceder com uma conexão constante, como
o lugar da situação da coisa ou o lugar da celebração do negócio. É resolvido através da não aplicação da lei correspondente à nova
concretização do elemento de conexão aos factos constitutivos, modificativos e extintivos das relações jurídicas já verificadas ao tempo da
mudança do conteúdo concreto do elemento de conexão, para proteger as expectativas legítimas. Por exemplo, A, português, com 18 anos de
idade, adquire a nacionalidade suíça, renunciando à nacionalidade portuguesa. Antes de adquirir a nacionalidade suíça, vende a B o seu
automóvel. Depois adquire a nacionalidade suíça (na lei suíça, só se adquire capacidade para celebrar negócios jurídicos aos 20 anos,
enquanto que em Portugal é aos 18 anos), renunciando à portuguesa. A tinha capacidade para celebrar o negócio? Quanto à questão da
capacidade, quando se constituiu o direito, A era de nacionalidade portuguesa, pelo que se aplica a lei da nacionalidade ao tempo em que se
constituiu o direito. Neste caso, é lógico aplicar a lei portuguesa, pois vamos ligar o elemento de conexão ao momento da celebração do
negócio para tutelar as legítimas expetativas das partes envolvidas e o princípio da confiança, caso contrário as espectativas de B seriam
frustradas. Nos termos do Art 29.º do CC, pode ser aplicado sempre que exista um problema de conflito móvel – uma vez maior, sempre maior.
A aplicação no espaço das normas de conflitos. Num tribunal português ao julgar uma questão de Direito Internacional Privado, aplica-se
sempre apenas normas de conflitos portuguesas ou também se aplica normas de conflitos estrangeiras? A regra é a do princípio da
territorialidade das normas de conflitos, isto é, a de que devemos sempre começar por aplicar normas de conflitos portuguesas. Mas,
excecionalmente, podemos aplicar normas de conflitos estrangeiras, mas só quando houver uma norma de conflitos portuguesa que o permita
(EX: Art 28.º, n.º 3 CC). Isto posto, vale o princípio da aplicação territorial do direito de conflitos. Isto significa que, por exemplo, quando
estamos a falar do Estado do foro português as normas de conflitos portuguesas aplicam-se em Portugal a todas as situações privadas
internacionais, mesmo às situações constituídas no estrangeiro sem qualquer contacto com a nossa ordem jurídica do foro. Assim, o tribunal
pode aplicar a norma de conflitos portuguesa à situação privada internacional mesmo que ela não tenha ligação com a ordem jurídica do foro.
Contudo, há duas situações em que será possível afastar as normas de conflitos portuguesas e dar relevância às normas de conflitos
estrangeiras, ou seja, a norma de conflitos portuguesa pode ceder perante uma norma estrangeira, aplicando, por conseguinte, uma norma de

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conflitos estrangeira ao caso concreto. Todavia, para tal acontecer é, desde logo, condição necessária que a norma portuguesa confira um
título de eficácia a essa norma de conflitos estrangeira na ordem jurídica interna. Normalmente, este título de eficácia pode ser conferido por
uma outra norma de conflitos ou por uma norma auxiliar da norma de conflitos. Exceções: 1) Devolução ou reenvio: permitem que a norma
de conflitos portuguesa ceda perante uma norma de conflitos estrangeira por força das regras da devolução ou do reenvio (Art 17.º, 18.º, 36.º,
n.º 2, e 65.º, n.º 1 CC); 2) Simples relevância dada a normas de conflitos estrangeiras: situações que constituem desvios à aplicação da lei
pessoal em que vamos afastar a aplicação da lei pessoal e aplicar uma outra lei que consideramos mais competente para resolver a situação,
sendo que estamos a atribuir eficácia a normas de conflitos estrangeiras (Art 28.º, n.º 3, 31.º, n.º 2, e 47.º CC). Em suma, em regra, as normas
de conflitos portuguesas vão aplicar-se a todas as questões jurídicas privadas internacionais, mesmo aquelas constituídas no estrangeiro que
não tenham ligação com a ordem jurídica do foro. No entanto, em certos casos nós vamos afastar a aplicação das normas de conflitos
portuguesas no Estado do foro e vamos aplicar normas de conflitos estrangeiras

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