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Direito Internacional Privado – OT e P

18.09.2023 (OT)

A grande questão do direito internacional privado são as relações jurídicas


transfronteiriças.

- Sujeitos
- Objeto: mediato e imediato
- Facto: negócio jurídico; contratos sinalagmáticos e não sinalagmáticos
- Garantia

Aquilo que o direito faz em geral é resolver relações jurídicas que se encontram
por algum motivo controvertidas. Alguma questão jurídica que se coloca, perante uma
determinada factualidade num exercício de subsunções, na qual se aplica uma regra
jurídica, daí resultando uma consequência.

No direito internacional privado haverá uma questão jurídica controvertida,


mas o objetivo do DIP não é resolver a questão jurídica controvertida – não queremos
saber se é o A ou o B quem tem razão.

O problema do DIP é que, ao contrário do que temos vindo fazendo até agora,
estes elementos da relação jurídica não se encontram num único enquadramento
jurídico, ou seja, se tivermos direito das obrigações em que A celebra o contrato com o
B e depois o B não paga o preço do contrato e o A entrega a coisa, o que queremos
saber é quem é que está em incumprimento, em mora e quem paga a indemnização,
isso pressupõe quando se começa a resolver e essa é que é a questão controvertida do
direito material.
Isso pressupõe que não se coloque como problema conflitual, ou seja, que
estes elementos se encontram no ordenamento jurídico português que legitima,
primeiro que se a questão for judicial que os tribunais portugueses podem resolver,
por exclusão de qualquer outro tribunal e a aplicar direito português.

O problema do DIP é que estes elementos da relação jurídica estão dispersos


por mais do que um ordenamento jurídico, ou seja, os sujeitos podem estar num país,
o objeto pode estar noutro, o facto. Aqui o grande problema que se coloca é se
tivermos uma relação jurídica puramente interna, em princípio não temos nenhum
problema conflitua.
O problema conflitual coloca-se porque se estes elementos estão dispersos por
mais do que um ordenamento jurídico, aquilo que nós nos devemos questionar é
como é que se faz a seleção de direito material aplicável isto porque se estes
elementos estão dispersos por mais do que um ordenamento jurídico significa que
qualquer um desses ordenamentos jurídicos tem a espectativa de se ver aplicado ao
caso concreto. A questão que se coloca é como e se escolhe algum desses
ordenamentos jurídicos. Essa é que é a questão de DIP, singelamente a questão
jurídica está dispersa e os pontos de contactos, relativamente aos quais aquela relação
jurídica se estabelece, têm virtualmente a legitimidade para se aplicar na resolução do
mesmo.

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A questão do DIP não significa que esta seja a técnica usada pelos
ordenamentos jurídicos em geral, ou porque não querem ou porque não precisam.
Porque não querem e dizem que se a questão está a ser apreciada pelo tribunal do
Estado, este tribunal do Estado não aplica outra lei que não seja a lei do Estado, ou
seja, decidem sempre aplicar a “lex fori” – a lei do lugar onde a questão está a ser
apreciada. Os Estados podem não querer aplicar outro direito que não seja o seu
próprio direito, ou então podem não precisar, como é o caso da “uniformização do
direito”, isto é, situações em que há direito internacional material que resolve a
questão das situações jurídicas internacionais (cheques, livranças).

Problemas: a uniformização é altamente excecional. Os estados acertarem


questões jurídicas materiais internacionais é muito difícil, seria o ideal, porque
qualquer questão jurídica independentemente de ser julgada no país A, B ou C aplica-
se o mesmo.

Os Estados que não adotarem posições conflituais, ou seja, decidirem que não
querem saber se a questão é internacional ou puramente interna, se a questão está a
ser apreciada nos tribunais desse Estado é a lei desse Estado que vai ser aplicada, isto
coloca em causa um dos grandes problemas que o DIP quer resolver.

Quais são os problemas que o DIP quer resolver?

O DIP quer garantir que com o processo que vai adotar para as decisões das
questões transfronteiriças que independentemente do estado que decida a questão,
todos os outros Estados que ou a quem vai ser requerido o reconhecimento daquela
decisão, efetivamente a reconhecem.

Notem: Se um Estado é altamente protecionista e diz que mesmos nas


questões jurídicas internacionais aplica a lei do próprio Estado, depois se chegarem
com uma decisão destas a outro Estado ele pode dizer que também quer aplicar a sua
lei uma vez que não reconhece a lei do outro Estado.
Isto põe em causa um princípio basilar do direito que é a segurança jurídica. No
limite podemos ter uma decisão que só é reconhecida no país onde os tribunais
proferiram aquela decisão e os outros quando a questão lhes chegar dizem que não
aceitam a aplicação daquele direito material, o que significa que para os outros países
a questão ainda está controvertida, decidindo eles a seguir aquela questão.
Vamos ter assim, um caso julgado mais do que uma vez e eventualmente, com
resoluções diferenciadas relativamente à mesma questão, o que naturalmente põe em
causa a segurança jurídica.

Então quando os Estados não têm uniformização do direito material ou então


quando adotam posições em prol da segurança jurídica de forma a garantir a
espectativa jurídica e a segurança jurídica, adotam o chamado direito dos conflitos,
que é um dos elementos do DIP.

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Nesta unidade curricular vamos dar a par do direito dos conflitos, temos a
questão relativa à competência internacional, a questão do direito adjetivo e depois
temos os processos relativos a certidões estrangeiras (que não vamos dar).

O processo conflitual aquilo que vai fazer é permitir à lex fori, ou seja, à lei do
lugar onde a questão está a ser apreciada, que de acordo com determinado processo
conflitual consiga escolher a lei, de entre aquelas que estão em contacto com a relação
jurídica consiga cumprir as finalidades da expectativa e da segurança jurídica,
nomeadamente, que todos os estados percebam esse processo, percebam porque foi
escolhida uma lei de detrimento das outras e que sendo assim, não ponham
obstáculos ao reconhecimento dessas posições estrangeiras através deste processo
conflitual.
Isto faz-se através das denominadas normas de conflito, que estão desde logo
no Código Civil, Código Comercial, Lei da nacionalidade, Regulamentos da UE,
Convenções e notas exclusivas de direitos de conflitos.

Estas normas não resolvem a relação jurídica, a única coisa que elas fazem é
escolher a lei que vai resolver a questão jurídica, através do alio do processo conflitual
que incumbe uma determinada valoração de acordo com princípios de direito
internacional maioritariamente reconhecidos pela maioria dos Estados, que levam à
escolha de uma determinada lei material.
Isto significa que assim sendo, a lex fori vai usar um mecanismo para escolher a
lei material que considera aplicável ao caso em concreto de acordo com este processo
condenativo. Isto significa que esta lei material que os tribunais da lex fori vão aplicar
ao caso concreto, tanto pode ser a lei material do Estado do foro (lei nacional), como a
lei estrangeira – uma delas será competente se tudo correr bem. Isto escolhe-se
independentemente do Estado que seja, mormente o estado para apreciar a questão.

Escolhe-se de acordo com este processo valorativo da norma jurídica, o que


significa que os tribunais ou as autoridades públicas do Estado português de acordo
com o direito conflitual, e da forma que ele está concebido no ordenamento jurídico
português, permite que para situações jurídicas transfronteiriças se aplique o direito
material estrangeiro, que é irrelevante que ele seja parecido ao direito material
português.

Em abstrato o ordenamento jurídico português, como os restantes


ordenamentos jurídicos do mundo não têm nenhum limite a priori à aplicabilidade da
lei material estrangeira. Pode haver de facto limitações à aplicabilidade da lei material
estrangeira, mas a solução não é que seja diferente, a diferença dela viola princípios
essenciais ao nosso ordenamento jurídico.

Notem:

Não é a lei estrangeira ou o ordenamento jurídico estrangeiro que o faz, é se


decidirmos que se aplique lei estrangeira, da aplicação em concreto dessa lei
estrangeira, é que poderá resultar a violação à ordem pública do Estado do foro e só
nesses casos é que há um limite. Não temos sequer aquele juízo a priori que tanto

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aplicamos lei nacional como lei estrangeira, mas o Estado A, B e C são totalmente
diferentes e têm princípios que violam a nossa ordem jurídica e, portanto, nós nunca o
aplicamos. Aplicamos sem problema nenhum, a não ser que da aplicação em concreto
dessa solução material é que de facto resultar a violação desses princípios. Se por
acaso não resultar, ótimo, então não há limite nenhum.

Como é que nós começamos a selecionar a lei aplicável?

Através, naturalmente, das normas de conflito que as temos no CCivil.

Exemplos: artigo 25º, 31º, etc.

Isto significa que quando temos um processo conflitual temos de enquadrar. O


DIP não quer saber se o negócio celebrado por alguém com 14 anos é válido ou não,
quer apontar para a lei que vai dizer se a pessoa com 14 anos tem a capacidade de
exercício para celebrar aquele negócio jurídico.

Se a questão é o menor que celebrou um negócio jurídico num determinado


sítio quer saber se o contrato é válido ou inválido fazem a mesma coisa, mas em vez de
irem para a parte geral do CC, para saberem se ele tem capacidade de exercício, estão
na parte geral das normas de conflito em que têm de saber qual é aplicável para saber
se alguém é maior para efeitos civis.

Para depois conseguirmos fazer o processo de valoração, as normas de conflito


têm 2 elementos:

1. Elemento de conexão: é aquele que lhes diz para determinada relação


jurídica transfronteiriça, que tem uma determinada relação jurídica para
resolver, qual é a lei que o legislador português entende como sendo a mais
adequada para resolver.

Ou seja, sempre que uma norma de conflito diga “em matéria de capacidade
negocial é competente a lei da nacionalidade do sujeito”, “em matéria de direito reais
é competente a lei onde a coisa se situa”, para “a responsabilidade civil
extracontratual é competente a lei do lugar onde ocorreu o facto danoso”. O elemento
de conexão é para determinada questão controvertida, que ninguém vai resolver,
queremos saber qual a lei que vai ditar a questão em concreto, esse é o elemento de
conexão sendo para isso que nos vamos concentrar para já.

2. Conceito quadro: é o âmbito da norma.

Exemplo: artigo 56º. Quando o CCivil se refere à lei pessoal é à nacionalidade.


Quando temos de constituir a filiação vamos ver qual a nacionalidade de cada um dos
progenitores e aplicamos a essa para saber quais são as regras para se estabelecer a
filiação.
O artigo 56º/2 apenas refere a “mulher casada” e a “mãe” e “marido”. E se for
um casal homossexual ou um casal de lésbicas, ou um casal em que alguém não se

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identifica com nenhum género? E as uniões de facto? O conceito quadro vai permitir
explicar qual é o âmbito da norma. Ou seja, se eu estiver a pensar na constituição de
uma filiação entre unidos de facto, eu devo ou não aplicar a regra do nº2, ou a do nº1?
E se for um casal homossexual posso, ou não posso? O exercício interpretativo
é tão mais importante em DIP porque aquando da criação do nosso Código, com a
exceção da CRP que apareceu 10 anos depois e teve muitas alterações em matéria de
direita família, sobretudo na questão dos filhos ilegítimos, não foi revista. A
possibilidade de casamento de pessoas do mesmo sexo é particularmente e de forma
muito vergonhosa para o país recente.

Há a necessidade de interpretar atualistamente algumas das normas tendo em


consideração eventuais padrões legislativos de alteração legislativa. O DIP tem uma
particularidade maior ainda, que é, o âmbito que está no conceito quadro está
pensado para o ordenamento jurídico português e mesmo assim este artigo 56º já está
desatualizado, já precisa de uma interpretação atualista para nós percebermos se
inclui ou não as uniões de fato, os casamentos entre homossexuais, etc.

Mas pensando por exemplo que temos uma filiação relativamente a um casal
polígamo, coisa que em Portugal nem é possível, nós nem reconheceríamos o
casamento polígamo.
Na questão da filiação é aceitável ou não reconhecer o efeito do casamento,
não para o casamento enquanto tal, mas para os efeitos filiais que decorrem do
casamento.
Ou seja, é possível encontrar uma relação jurídica transnacional que não tenha
no ordenamento jurídico português nenhum tipo de paralelo, ou seja, encontrar uma
situação jurídica em que nunca pensamos, nunca vimos, nem nunca seria possível e a
questão é, se nós não temos juízos a priori, que afastem a aplicabilidade de uma lei em
detrimento de outra e não podemos ter situações me que o juiz se abstenha de julgar
por falta de lei aplicável ao caso concreto, a questão é onde é que nós inserimos, por
exemplo, a filiação decorrente de casamento polígamo.
Para dizer que não aceitamos temos de passar pelo processo todo, dizer que
aplicamos uma lei que o reconhece, mas que nós não o aceitamos. Nós inserimos tal
na interpretação do conceito quadro.

O conceito quadro tem de ser tanto ou mais flexível, tendo de estra pronto para
receber qualquer lei, incluindo aquelas que tenham regimes jurídicos dos quais nós
nunca ouvimos falar, ou que não aceitamos de todo.
Naturalmente, que se olharmos para os artigos do direito da família, sem
nenhuma interpretação, nós dizemos que o legislador português nunca pensou no
casamento polígamo, até porque é crime. Naturalmente, a única coisa que existe
relativamente ao casamento polígamo é que é proibido, não havendo nenhuma norma
de conflitos que trate do regime jurídico do casamento polígamo porque o mesmo não
existe em Portugal. Todavia, ele tem de se inserir em algum lado.

Tal e qual como acontece em algumas situações do ordenamento jurídico


português, que de facto nem nunca pensamos, nem nunca se consegue interpretar de
maneira nenhuma, tal qual como acontece em Portugal quando temos uma situação

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de facto que o legislador nunca pensou, não conseguimos fazer interpretação de
norma nenhuma para resolver e, portanto, temos uma lacuna e temos de recorrer à
analogia legis ou iuris.

Antes de concluirmos que há uma lacuna e que precisamos de recorrer à


analogia, temos de passar em revista o ordenamento jurídico português e dizer que
tentamos todo o tipo de interpretações (extensivas, etc.), passamos para a analogia
legis e iuris e não conseguimos nada, temos uma lacuna o que resulta na criação de
uma norma ad hoc.
Antes de concluirmos que há uma lacuna, tem de conseguir interpretar o
conceito quadro, em que concluímos que o legislador não pensou, o conceito quadro
não o consegue integrar no âmbito interpretativo, temos uma lacuna, temos de passar
para a criação de uma norma de conflito ad hoc.

Este exercício de DIP é tão mais importante que as teorias dogmáticas


existentes relativamente ao conceito de quadro imprimem de facto uma elasticidade
muito grande, porque estes conceitos quadros que estão pensados para os nossos
institutos jurídicos têm de pelo menos em abstrato ser aptos a encontrar regimes
jurídicos que tenham um mínimo de ligação com o ordenamento jurídico português
para conseguir harmonizar o espetro interpretativo, sob pena de ou a lei estrangeira
tem um estrutura idêntica à portuguesa ainda que soluções diferentes e temos uma
subsunção perfeita, ou então qualquer coisa que se distinga do âmbito desses regimes
jurídicos nós já conseguimos fazer essa integração.

Este conceito quadro é particularmente relevante em termos interpretativos.

Todos os nossos problemas relativamente ao DIP se resumem ao seguinte:

 A lex fori que é nominada de L1, numa relação jurídica transfronteiriça, de acordo
com elemento de conexão de uma determinada norma de conflitos pode fazer 1 de
2 coisas: ou se considera competente, ou não se considera competente. Se não se
considerar competente, significa que considera competente a lei estrangeira,
denominada por L2. O problema surge quando L2 usa as suas normas de conflito e
acha competente L3, e L3 acha competente L4 e L4 acha competente L3.

Em suma:

As normas de conflito é a utilização de determinado direito privado de outro


Estado, quando o Estado não se considera competente. Significa que, o Estado que
recebe essa competência a tal L2 diz que também tem normas de conflito e se eu sou
competente, também quero resolver a questão conflitual e usar também as minhas
normas de conflito e diz que é L3, que por sua vez diz que é a L4. A questão que se
coloca é, afinal qual é a lei competente?

19.09.2023 (P)

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Se as normas de conflito que têm 2 elementos – elemento de conexão e
conceito quadro -, e o elemento de conexão é a lei que uma determinada norma de
conflitos de um determinado ordenamento jurídico considera competente, significa
que cada Estado quando vai receber a competência para resolver a questão
controvertida e vai aplicar o seu próprio direito, pode aplicar as suas próprias normas
de conflito e para aquelas normas em concreto ter escolhido um elemento de conexão
que dá origem a isto (esquema caderno).

O reenvio é em DIP a conjugação do seguinte: existência de uma relação


jurídica internacional para a qual a lex fori considera competente uma lei estrangeira e
essa lei estrangeira por sua vez quando recebe essa competência não se considera
competente. Reenvia a competência para uma outra lei estrageira qualquer.
Quando isto acontece – e não significa que aconteça quando lhe falta algum
desses pressupostos, ou seja, apesar de haver uma relação jurídica internacional, a lex
fori não considera competente uma lei estrangeira e considera-se a si própria
competente (assunto arrumado) ou a lei estrangeira no caso em concreto considera-se
competente, ou seja, quer uma quer outra estão de acordo em que a L2 é competente.
No primeiro caso aplica-se a lei do foro, no segundo caso aplica-se a lei material
estrangeira.

A questão coloca-se (o problema surge) porque L1 acha que é competente L2,


L2 achava que era competente L3, L3 acha que é competente L4 e L4 acha que é
competente L3.
Ou seja, voltamos à estaca 0, apesar de estarmos a usar o processo de conflitos
para determinar qual a lei competente, os Estados vão sendo sucessivamente
chamados para regular aquela questão não se entendem relativamente à lei que deve
ser aplicada ao caso concreto.
Isto é, não existe abominada harmonia jurídica internacional, que é uma das
finalidades principais do DIP, ou seja, tentar nos procedimentos de DIP que
independentemente do “quando” ou “quais” os Estados vão sendo chamados
sucessivamente ao caso para resolver esta questão, todos eles estarão de acordo em
aplicar a mesma lei.
Se isso acontecer, independentemente do número de Estados, então temos
harmonia jurídico internacional. Se não tivermos harmonia é a parte mais fácil, “isto
não é uma democracia, é uma ditadura”, a lei do foro manda. Mas até chegarmos a
essa fase ditatorial tentamos chegar a uma harmonia jurídica internacional.

Porque é que temos uma situação de reenvio?

Porque a lei estrangeira que nós consideramos aplicável ao caso concreto,


considera competente outra que não a si própria.

Como é que vamos conseguir pôr todos os Estados de acordo em aplicar uma única
lei?

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Os estados adotam ou podem adotar para tentar cumprir a finalidade ou
princípio de DIP, que é a harmonia jurídica internacional, diferenciadas posições em
matérias de reenvio. Reenvio: a lei do foro não se considera competente, considera
competente uma lei estrangeira, que por sua vez também não se considera
competente e reenvia para outro.
Mesmo assim, os Estados quando isso acontece, porque pode acontecer tal
qual vimos no exemplo de ontem, muitas vezes, os estados estarem de acordo com o
princípio que deve presidir à escolha da lei, desse princípio cabem várias leis
alternativas e, portanto, todas igualmente válidas, podendo os estados irem
sucessivamente chamando outras leis à colação.

Então o que é que os estados podem fazer para tentar, apesar de não se entenderem
relativamente à lei que deveria ser aplicada ao caso em concreto, arranjarem uma
solução de compromisso para conseguirem, no final das contas, aplicar uma única
lei?

Os estados podem adotar 2 teorias para tentar ou não (uns mais outros menos)
resolver os problemas de reenvio e mesmo assim, existindo reenvio tentar a harmonia
internacional: são as denominadas teorias anti-devolucionistas e as teorias
devolucionistas. Por sua vez as teorias devolucionistas podem adotar a posição de
devolução simples ou de devolução dupla.

Os estados tomam uma posição relativamente às teorias regras que existem em


matéria de DIP face ao reenvio. Os estados que legitimamente, que não aceitam que
isto possa acontecer nos seus ordenamentos jurídicos são os estados anti-
devolucionistas. São os estados que sendo a lei do foro, só admitem a aplicabilidade de
direito material do seu ordenamento jurídico.
Por sua vez, os estados devolucionistas, mais liberais, mais proativos, para
atingir a harmonia jurídica internacional, são os estados devolucionistas. Tanto pode
haver a aplicabilidade da lei que é eleita pelo seu elemento de conexão.

Exemplo: L2, do seu elemento de conexão consideraria competente L3, mas se


este estado de L2 for devolucionista, tanto pode haver a aplicabilidade de L3, como de
L4, como em qualquer outra.

Como se escolhe qualquer outra?

No âmbito da devolução os estados que sufragam a devolução simples, fazem


uma referência global seguida de uma referência material. Os estados que fazem
devolução dupla só fazem referências globais, enquanto os estados anti-
devolucionistas só fazem referências materiais.

A referência global e a referência material dizem respeito àquilo que


determinado ordenamento jurídico vai considerar competente que o direito
estrangeiro use para resolver a questão conflitual. Quando um determinado estado, no
seu elemento de conexão considera competente um determinado direito que resulta

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do seu elemento de conexão, mormente se for estrangeiro, o âmbito daquilo que esse
Estado vai considerar competente depende de ele fazer referências globais ou
referências materiais.
Quando um estado faz referências globais e considera competente a lei de
outro estado significa que está a considerar competente todo o ordenamento jurídico
desse estado, não só as normas jurídicas de direito material, mas também legitima
esse estado a usar as suas próprias normas de conflitos.

Já um estado que faz referências materiais quando considera outro


competente, também o considera competente, mas só lhe dá legitimidade para usar o
seu direito material. O que significa que para o estado que atribui competência só o faz
se nesse caso concreto dê a solução de direito material e já não solução de direito
conflitual.

Notem: neste caso, perante um esquema destes, nós nunca sabemos na


realidade, sem mais, qual é a lei que cada um destes Estados vai usar porque quando
nós dizemos que a L2 considera competente a L3, aquilo que precisamos de saber é, L2
considera competente a L3 para quê? Para usar o direito material in toto, ou se L2
considera que L3 tem também competência para também usar o seu processo
conflitual e se for o caso para legitimar que a L3 decida antes de dar a solução
material, se é que a vai dar, se se considera competente ou não.

Exemplo:

Imaginemos que L2 faz uma referência global para L3, isso significa que L2 nas
suas normas de conflito vai achar competente a lei L3, mas faz uma referência global,
ou seja, L2 permite que L3 decida em primeiro lugar se se considera competente ou
não. Se é assim, L2 diz “eu acho que L3 é que é competente”, mas se L2 é que está a
permitir que L3 use as suas próprias normas de conflito e, portanto, resolva o
problema conflitual, significa que L2 – dependendo que tipo e teoria adote – pelo
menos, que L2 admita que L3 não se considere competente.

Se L2 acha que L3, mas permite que L3 use as suas normas conflito, para que L3
decida se é competente ou não, significa que L2 em maior ou menor dúvida, vai
admitir que L3 não se ache competente e escolha outra lei. Isto significa que apesar de
L2 achar que L3 é competente, é verdade que pode aplicar L3, mas se permite que L3
decida que não é competente, também vai admitir aplicar a lei que L3 diga que afinal é
competente.

Um estado, que por sua vez só faz referências materiais, imaginemos que L3 só
faz uma referência material para L4, significa que não vai legitimar a aplicabilidade de
todo o ordenamento jurídico, só vai admitir a aplicabilidade das normas de direito
material onde não se incluem as normas de conflito. Significa que um estado que faz
referência material, não permite que este vá decidir se este se considera competente
ou se não se considera competente, porque só lhe faz referência material pelo que ele
só pode dar sua solução de direito material ao caso concreto, não tem legitimidade

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para resolver o problema conflitual. Ou seja, o estado que faz referências materiais só
admite a aplicabilidade da lei eleita pelo seu elemento de conexão.

Vamos considerar para ser mais fácil que L4 considera-se competente. Tal
significa que se L3 uma referência material e L4, não obstante diz “tudo bem, eu
considero-me competente”.
Aquilo que há pouco era todos a dizerem uma coisa diferente, agora L3 e L4
estão de acordo em aplicar L4, se nós não soubéssemos mais nada, diríamos que L2
não estava de acordo, porque L2 quer aplicar L3, mas agora se nós soubermos as
posições dos estados relativamente ao reenvio, nós sabemos que L2 faz uma
referência global, ou seja, nós sabemos que L2 quer ou acha que é competente L3, mas
que lhe permitiu usar as suas normas de conflito para decidir se se acha competente
ou não e L3 não se achou competente. Então L2 pergunta a L3 quem é que acha
competente, ao que ela responde L4 e assim temos harmonia jurídica internacional
apesar de termos um reenvio.

Os estados têm mecanismos, apesar de elementos de conexão para tentar


evitar as situações em que alguns não concordem com a aplicação de uma
determinada lei.
Notem, estamos ainda a dar as posições devolucionistas.

Posição portuguesa está prevista no artigo 16º do CC

Artigo 16.º - (Referência à lei estrangeira. Princípio geral)

Nos termos deste artigo Portugal é, por regra, anti-devolucionista. Portugal


regra geral só tem as seguintes posições: ... ou se houver referência à lei estrangeira só
permite que a lei estrangeira use o seu direito interno – direito material -, ou seja,
Portugal que diz que é a lei do foro e como lei do foro, são as suas normas de conflito
que se aplicam pelo que não tem de conceder a competência da questão conflitual a
ninguém, sou eu que resolvo e, portanto só admite a aplicabilidade de L2.

E tudo estaria bem, não fosse o legislador ter estabelecido todo um conjunto
de exceções. As exceções são as que estão nos artigos 17º, 18º e 19º do CC.

Artigo 17.º - (Reenvio para a lei de um terceiro Estado)

Artigo 18.º - (Reenvio para a lei portuguesa)

Artigo 19.º - (Suspensão do exercício de direitos)

Portugal é por regra anti-devolucionista e os artigos 17º, 18º e 19º têm uma
série de exceções baseadas numa série de ponderação de princípios que vai decidir
qual a lei que vai ser aplicável ao caso concreto. Portugal é altamente vanguardista,
permite de uma forma única atingir casos de harmonia jurídica internacional que

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sendo um princípio informador do DIP, não obstante o legislador resolveu ponderar
outros princípios.

Portugal não aceita que nenhum outro Estado resolva a questão conflitual,
Portugal é o único que resolve, mas apesar de ser anti-devolucionista, permite que de
acordo com um conjunto de pressupostos e da ponderação de um conjunto de
princípios, permite a aplicabilidade de uma lei diferente daquela que resulta da regra
geral do artigo 16º, dando origem às exceções, sobretudo estas do artigo 17º e 18º, ao
denominado reenvio por transmissão de competências ou no artigo 18º o reenvio por
retorno.
Ou seja, na primeira situação temos os casos em que Portugal pode admitir a
aplicabilidade de uma lei diferente de L2, mas para aplicar o artigo 17º a lei diferente
de L2 tem de estar sucessivamente na cadeia de ritmo, só pode ser de L3 em diante.
No artigo 18º teremos exatamente o oposto, Portugal admite a aplicabilidade de uma
lei diferente de L2, mas no artigo 18º a única lei que Portugal vai admitir é a própria da
L1, porque Portugal vai aceitar que lhe devolvam a competência, ao direito interno.

REENVIO POR TRANSMISSÃO DE COMPETÊNCIAS OU REENVIO POR RETORNO.

Não obstante a posição regra de Portugal é nunca admitir qualquer situação em


que não seja a aplicabilidade de se escolher direito material estrangeiro da lei que é
eleita pelo seu elemento de conexão. Porquê? Portugal quando elege direito material
estrangeiro, só lhe designa competência para resolver a questão de direito material e
não para ..., ou seja, não permite a utilização das suas normas de conflito.
Os elementos de conexão não são suficientes para determinar qual é a lei de
cada Estado efetivamente vai aplicar ao caso concreto, porque havendo a possibilidade
que é muito difícil de determinar de reenvio, os Estados podem adotar soluções
diferentes em termos de escolha de lei, daquelas que resultam das suas próprias
normas, mormente se forem devolucionistas.

Como é que Portugal faz então as posições associadas aos artigos 16º, 17º, 18º?

Portugal admite as exceções e o princípio regra que permite que Portugal saia
do artigo 16º e vá ao artigo 17º ou 18º são os seguintes pressupostos: tem de haver
uma situação de reenvio, ou seja, L2 não se pode achar competente e todos os
estados dessa cadeia de reenvio teriam de estar de acordo em aplicar a mesma lei, ou
seja, todos os estados nessa cadeia de reenvio teriam de estar de acordo em aplicar
uma única lei, desde que a lei que todos os Estado estejam de acordo em aceitar seja
uma lei diferente daquela que já resultaria da aplicabilidade do artigo 16º. Imaginemos
que temos uma situação de reenvio e no final das contas todos estão de acordo em
aplicar L2, Portugal não aceita o reenvio porque nos termos do artigo 16º já seria a L2.

Portugal admite a aplicabilidade quer do 17º quer do 18º, havendo reenvio e


todos os estados estão de acordo em aplicar uma lei diferente daquela que Portugal
aplicaria, ou seja, L2.
Nesses casos Portugal pode admitir o reenvio.

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Notem, sair do artigo 16º não significa depois que Portugal efetivamente vá aplicar a
lei diferente daquela escolhida pelo artigo 16º, para isso é preciso verificar os
requisitos do artigo 17º ou 18º.
Pode acontecer que tenhamos uma situação em que Portugal admite que estão
verificados os pressupostos, a aplicabilidade do 17º ou do 18º, ou seja, há reenvio, há
um meio necessário para chegarmos há harmonia jurídica internacional, mas depois
chegamos ao artigo 17º e não estão verificados os requisitos e depois voltamos para
trás e aplicamos L2. Ou então, como vamos ver depois no artigo 17º, Portugal pode
começar por admitir a aplicabilidade de uma lei diferente à L2, mas depois tem uma
exceção à exceção e, portanto, volta a aplicar a regra geral do artigo 16º ou então tem
uma exceção à exceção da exceção e volta a aplicar a exceção do artigo 17º. Ou então
admite tudo e depois vem o artigo 19º dizer para voltar para o artigo 16º.

Ou seja, para que Portugal em qualquer questão em que tenha uma matéria de
DIP, mormente colocando-se o problema de reenvio, em que L1 será Portugal para
aplicarmos as nossas normas de conflito, nunca em tempo algum, começamos por
dizer que Portugal aplica o artigo 16º, 17º e 18º, porque Portugal vai ver o que é que
os outros fariam e só depois de decidir o que é que estes fariam é que Portugal vai
decidir o que é que efetivamente faz no caso concreto.

Ainda que seja, no final das contas dizer “nós nem sequer admitiríamos que L2
usasse as suas normas de conflito, por isso não queremos saber se acha nos
competentes ou não”, nós na realidade procuramos saber o que vários países fariam.
A posição portuguesa nunca é ditada no início da resolução de um caso, ou
seja, ao contrário dos outros estados que adotam uma posição e, portanto, têm
imediatamente perante o reenvio a possibilidade de determinar a prioristicamente
qual a lei que aplicam, a aplicabilidade das exceções depende da verificação de
pressupostos e requisitos e a verificação desses pressupostos ou requisitos depende
do exercício virtual que é caso eu permitisse que se fizesse o que é que eles diriam, e
depois consoante a resposta, Portugal diz “está bem, então aceito o reenvio”, ou diz
“esqueçam lá isso, que eu também queria saber, mas na realidade não quero e,
portanto, aplica-se L2 e está arrumado”.

Numa situação em que as leis vão sucessivamente chamando outras, apesar da


posição regra portuguesa, que é não permitir que L2 use as suas normas de conflito,
nós precisamos de saber o que é que aconteceria ao caso se se permitisse essa
utilização. Depois fazemos o raciocínio ao contrário.

25.09.2023 (P)

ORDENAMENTO JURIDICOS PLURILEGISLATIVOS

· Base Territorial nº1 e 2


· Base Pessoal nº3

Em qualquer caso, estes OJ plurilegislativos são aqueles que dentro do OJ


vigora mais do que 1 lei aplicável a uma determina situação. A escolha dessa lei dá-se

12
Direito Internacional Privado – OT e P
porque o território do estado está dividido em estados tipicamente, a questão relativa
aos estados federais e aos estados federados, como os EUA.
O exemplo mais paradigmático são os EUA, tem 50 estados e alguns casos a lei
federal aplicável, obrigatoriamente (?), há uma circunscrição material. Não havendo
propriamente conflito entre leis.

ORDENAMENTO PLURILEGISLATIVOS DE BASE


São aqueles em que vigora em mais que um sistema jurídico dentro de um
ordenamento, mas a escolha da aplicabilidade desse sistema jurídico, faz-se não tendo
em consideração qualquer divisão interna, mas em determinadas
características/requisitos de uma pessoa, relativamente, às quais se pode aplicar um
direito em detrimento do outo.

Os ordenamentos jurídicos plurilegislativos estão previstos no artigo 20º do CC.


Mais para a frente, quando é depois os regulamentos da união europeia terão soluções
que o legislador da união, relativamente à convicção dos conflitos relativos aos
ordenamentos plurilegislativos. Para já, consideramos só o que está no CC.

Aqui, no artigo 20º do CC, o legislador português resolveu o problema relativo


aos ordenamentos jurídicos plurilegisltivos.

1. BASE TERRITORIAL
2. BASE TERRITORIAL
3. BASE PESSOAL

Artigo 20.º - Ordenamentos jurídicos plurilegislativos

1. Quando, em razão da nacionalidade de certa pessoa, for competente a lei de


um Estado em que coexistam diferentes sistemas legislativos (é o único estado com
vários sistemas) locais, é o direito interno desse Estado que fixa em cada caso o
sistema aplicável.
2. Na falta de normas de direito interlocal, recorre-se ao direito internacional privado
do mesmo Estado; e, se este não bastar, considera-se como lei pessoal do interessado
a lei da sua residência habitual.
3. Se a legislação competente constituir uma ordem jurídica territorialmente unitária,
mas nela vigorarem diversos sistemas de normas para diferentes categorias de
pessoas, observar-se-á sempre o estabelecido nessa legislação quanto ao conflito de
sistemas.

ATENÇÃO!

Na resolução de um caso pratico de DIP terá havido alguma situação que tem uma RJ
internacional plurilocalizada.

Erro! Nome de ficheiro não especificado.

13
Direito Internacional Privado – OT e P
L1 – É a lei que está a ser apreciada e vai usar o seu sistema de conflitos –
Portugal. E usando as normas de conflitos que estão no CC, considera-se competente
uma determinada lei estrangeira, e agora independentemente dos reenvios e se L2 se
acha competente, que aqui é diferente.

L2 - Corresponde a um OJ plurilegisltivo.
Continuamos com o mm problema de conflito de leis, onde o OJ português, de
acordo com o elemento de conexão da sua norma de conflitos, considera competente
uma determinada lei, mas dentro desta lei vigora mais do que um sistema jurídico ou
vigora para determinadas pessoas um sistema jurídico especial. A questão está sempre
em determinar o OJ a aplicar no caso em concreto.
Não basta apontar um sistema jurídico legislativo. O juiz no caso concreto
continuará, agora, a internamente a concluir sobre qual é a lei que aplica na situação
em concreto.

O artigo 20º do CC parte de um pressuposto para as duas situações dos OJ


plurilegislativos.

Nº1 - Para aplicabilidade deste artigo o OJ plurilegislativo haverá de


corresponder à lei da nacionalidade. O OJ plurilegislativo haverá de ser a lei da
nacionalidade, mas não significa que seja a L2, pode ser outra lei qualquer.
O legislador português considerou que as resoluções das questões dos OJ
plurilegislativos decorrem do facto da lei aplicável ao caso concreto ser a lei do OJ da
nacionalidade do sujeito.

Se L2 é a lei determinada pela nossa norma de conflitos, o elemento de conexão da


nossa norma de conflitos, qual é o princípio que esteve subjacente à escolha desta
lei?

Temos um sistema de valores. Depois, de acordo com este, o legislador (?) assenta
num conjunto de princípios que partem da ideia da conexão manifestamente mais
estreita à relação jurídica.
Se o legislador escolheu a lei da nacionalidade, significa que a questão
controvertida da relação jurídica estará mais próxima dos sujeitos da RJ à Princípio da
maior ligação individual.

Artigo 20º, refere que a lei aplicável ao caso em concreto haverá de


corresponder em:
1. Requisito à nacionalidade do sujeito.
2. Determinar se L2 é um ordenamento plurilegislativo de base territorial ou
de base pessoal. (porque temos regimes diferentes).

Se tivermos um OJ plurilegislativo, de acordo com a nossa lei de conflitos for


aplicada a lei da nacionalidade que é um OJ de base territorial, aplicamos o nº1 ou nº2

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Direito Internacional Privado – OT e P
do artigo 20º do CC. Que manda resolver as soluções supletivas, ou seja, só vamos
avançando nelas se a anterior não nos corresponder.

Artigo 20.º - Ordenamentos jurídicos plurilegislativos

Será de aplicar ao SJ concreto de a acordo com:

DIREITO INTERLOCAL – Artigo 20º/1 e 2

1. Direito interlocal – Será de direito interno o OJ plurilegislativo de base


territorial, que vai determinar, dentro daquele caso em concreto, diante todos
os SJ aplicável aquilo que se deve de aplicar ao caso em concreto.

Em princípio, estes OJ se têm vários SJ, haverão de ter em direito interno aquilo
que nós temos a nível internacional que são conflitos de leis.
Nos EUA uma californiana que casa com alguém da Nova Jersey, no estado do
Ohio ou algo do género, saber qual é o regime supletivo que vai em concreto ser
aplicado.

1º quem terá competência para determinar a lei do OJ aplicável no caso em


concreto, é o próprio sistema jurídico conflitual da lei da nacionalidade;

2. Se não existir, pelo nº2, vamos aplicar o DIP da lei da nacionalidade.

3. Se não tiverem um direito interlocal que resolva os conflitos internos,


temos de ver se o DIP da lei da nacionalidade consegue resolver,
naturalmente aplicável analogicamente ao direito interno, a escolha da lei.

4. Se isso não for possível, considera-se aplicável a lei da residência habitual.

Imaginando que o EUA é feito de peças, nós dizemos que é competente a lei
norte americana é competente para resolver a questão: A nacionalidade dos sujeitos.
Se não conseguirmos que o direito norte americano resolva internamente o
conflito de leis, o direito interno que vamos aplicar é de ver onde é que a pessoa
vive. Será a lei do lugar onde a pessoa vive, ou seja, o direito aplicável aquela matéria
no estado federado, que há de resolver esta questão.

DIREITO INTERPESSOAL – Artigo 20º/3

Nº3: Aplica-se o direito interpessoal.


Se há um sistema jurídico que se aplica a determinadas categorias de pessoas,
em razão de especialidade da matéria, temos de verificar se aquelas pessoas cumprem
ou não os requisitos para lhe ser aplicada aquela lei em especial, senão aplica-se o OJ
em geral.

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Direito Internacional Privado – OT e P

Não é muito comum encontrar direito interpessoal. Há algumas soluções de


direito de interno que se aplica a umas pessoas e não se aplica a outras. Como no caso
do estatuto dos refugiados. Não estamos a falar de soluções jurídicas tendo em
consideração determinadas circunstâncias em que as pessoas se encontram. Tem a ver
com determinadas características das pessoas que as torna especiais para lhes ser
aplicada uma determina solução jurídica que não se aplica aos demais.
Não é comum aplicar sistemas jurídicos diferentes a determinadas pessoas em
detrimento de outras, a não ser em circunstâncias justificadas sobre comportamento
discriminatório. Ou seja, há consideração que há todo um SJ que está pensado para
umas pessoas e de outra forma para outras.

CURIOSIDADE:

Um exemplo paradigmático que acontece, (com um acórdão que está no


moodle dos direitos humanos) de uma análise que foi feita relativamente a essa
matéria relativamente à Grécia. A Grécia é um OJ plurilegislativo de base interpessoal.
Em que acontece que, com a queda do império romano, a Grécia e a Turquia,
tiveram algumas querelas a nível internacional e publico relativo a alguns territórios
que ambos consideravam que eram deles próprios.
Acontece que o Chipre ainda tentou resolver algumas questões do que é grego
ou turco, mas algumas questões ainda ficaram por resolver. Uma delas que é a trácia
ocidental.
A trácia ocidental é uma parte da Grécia que os turcos consideravam que era
próprio. Tiveram de fazer com o fim do império a quem era atribuída e foi à Grécia.
Para isso chegaram a uma transação (convenção internacional) com a Turquia.
Isto porque a trácio ocidental inclui cidadãos turcos que agora passaram a ser
cidadãos gregos com a imposição dessa parte do território.

O que resulta desta convenção que para alguns residentes no trácio ocidental,
em matéria de direito da família e das sucessões, pode não se aplicar direito material
grego. Aplica-se outro direito, a lei religiosa do bem – A sharia. Ou seja, os residentes
no trácio ocidental, desde que, sendo esta a condicio, para alem de residirem
necessariamente naquele território, que sejam muçulmanos. Podem ver aplicada em
direito da família e sucessões a lei religiosa islâmica. Sempre que naquele caso em
concreto se decidir a matéria de direito da família e de direito das sucessões, fica o
litígio inclusivamente subtraído aos tribunais gregos e serão decididos nos tribunais
religiosos ou de determinada jurisdição ou fim.

A questão é curiosa, não só por ser um direito interpessoal, como no caso


concreto a lei grega admitir ser afastada pela lei religiosa islâmica, lei da sharia. Há um
caso interessante que chegou ao tribunal europeu dos direitos humanos em que se
colocava uma questão da aplicabilidade da lei da sharia – Caso “mola sally”. Este caso
veio determinar os requisitos da aplicabilidade da lei da nacionalidade com a lei da
sharia. Onde acontece que, o casal Mola Sally, o marido morreu e deixou um
testamento com todo o seu património à sua mulher, tornando-a a sua herdeira única.

16
Direito Internacional Privado – OT e P

As irmãs dele, diziam que ser admissível serem deserdadas de acordo com o
que estava na lei grega, mas não é possível serem deserdadas de acordo com a lei da
Sharia.
Mola Sally era muçulmano que vivia no trácio ocidental e por isso devia de ser
aplicado a lei da Sharia que, em matéria de sucessões, determina que a família do
marido não pode ser deserdada e tem de ser herdeiros legitimários de uma parte do
património, no âmbito da sucessão.
Os tribunais gregos sempre deram razão às irmãs de Mola Sally, sempre
consideraram que não eram competentes para regular aquela questão de acordo com
os tribunais ou da jurisdição, e que se aplicava a lei da sharia. A questão subiu ao
tribunal europeu dos direitos humanos.

Este último veio clarificar a questão relativamente ao eventual conflito de


aplicabilidade da Sharia e da lei grega. Estes juízes vieram decidir a possibilidade da
aplicabilidade da lei da Sharia resulta da convenção e dá origem a um conflito de leis
do trácio ocidental, matéria interpessoal, é de aplicação competente. Logo os
muçulmanos do trácio ocidental podem decidir que se lhe aplica a lei da Sharia no caso
em concreto, mas não lhes pode ser imposta a aplicabilidade da lei da Sharia porque
eles são cidadãos gregos. Se decidirem que querem ver aplicada a lei grega, não se lhes
pode impor a aplicabilidade da lei religiosa.

Se o Mola Sally decidiu nos termos de a lei nacional grega fazer um testamento,
não era admissível a lei da Sharia e (?) então no caso concreto preferia a aplicabilidade
da lei grega e não a da lei da Sharia.
A interpretação atual, relativamente à lei da Sharia, é que os Muçulmanos do
trácio ocidental, vê-se-lhes aplicada a lei da Sharia, a não ser que prefiram ver aplicada
a lei grega no caso concreto.

Sempre que, nesta situação, a questão é particularmente simples. Há uma


determinada categoria de pessoas à qual lhes vai ser a lei (esta). Quando tudo corre
bem também não tem problema nenhum. Ou seja, ou o direito interno da lei nos diz
qual é a lei aplicável, ou o DIP nos diz, ou nem um nem outro e aquilo que nós vamos
decidir é onde é que a pessoa vive e, para aquela matéria em concreto, no local da
residência da pessoa se lhe aplica a lei federal, ou a lei do estado federado, será essa
aplicável ao caso em concreto.

O problema do artigo 20º começa com:

O que acontece se a pessoa residir em pais diferente?

Ou seja, chegamos a nacionalidade, que é o OJ plurilegislativo, e não


conseguimos, nem pelo DT interlocal nem pelo DIP, resolver o conflito interno das leis
que vai ser aplicável ao caso concreto.
Então o legislador diz para aplicar a lei em vigor da residência habitual, se for
dentro do estado da nacionalidade, de entre todos os sistemas jurídicos vamos aplicar

17
Direito Internacional Privado – OT e P
a que está em vigor na parcela do território onde o interessado tem a sua residência
habitual.

O problema é, quando em vez de nós escolhermos estas leis, ainda juntamos


mais uma: a lei da residência habitual.
Ou seja, como é que se resolve o problema do conflito, quando o critério do
desempate da lei da residência habitual não escolhe uma destas leis, mas ainda nos
leva para um estado diferente da lei da nacionalidade.

A residência habitual é de angola, ele é dos EUA, estes não resolvem o problema da
escolha interna de leis. Como se escolhe?

Depende da doutrina. O professor Ferrer Correia defende que, de acordo


com a sua interpretação do artigo 20º/2, o legislador quando avoca a lei da residência
habitual está a provar o elemento de conexão.
Ou seja, se em matéria de princípio da maior coligação individual a lei principal
o legislador escolhe em primeiro lugar que é a da nacionalidade nos leva para um
ordenamento jurídico plurilegislativo que nos não conseguimos resolver pela escolha
de lei e a lei da residência habitual nos leva para outro ordenamento jurídico aquilo
que o professor diz é que o legislador diz no 20º nº 2, esquecer a lei da nacionalidade e
passar para a conexão pessoal supletiva que é a da residência habitual.
Ou a lei da residência habitual está dentro do estado da nacionalidade, ou se
tiver fora significa que temos conexões supletivas. Não é a doutrina vigente.

A doutrina da Isabel Magalhães defende o seguinte:

· As conexões não são supletivas

· O legislador quando indica a lei da residência habitual faz lhe com critério para
escolher de entre a lei da nacionalidade, mas quando não se consegue fazer na
situação em concreto, não se pode concluir que o legislador quis afastar a lei da
nacionalidade em detrimento da lei da residência habitual.
Nas situações me que a lei da residência habitual é fora do estado da nacionalidade se
gera um conflito positivo de conexões, ou seja, temos todas as leis da nacionalidade
mais uma que é ada residência habitual.

Como se resolve o conflito positivos? Tendo em consideração so princípios que lhe


Dão causa, o princípio é o mesmo, o princípio da maior ligação?

O princípio de que lhe da causa a conexão é o princípio da maior aplicação…


Segundo a Isabel, o legislador do DIP não resolveu a questão. Há uma lacuna no
ordenamento jurídico português para resolver este conflito.

Como se resolve?

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Direito Internacional Privado – OT e P
Recorrendo à analogia legis, onde isabel encontrou uma situação análoga no
artigo 28º da lei da nacionalidade. Quando há conflito entre duas leis da nacionalidade,
o artigo 28º resolve a questão de como se escolhe a lei. Aplicamos a lei da
nacionalidade em que o sujeito viva.

O artigo 28º da lei da nacionalidade parte exatamente da mesma forma que o


legislador do artigo 20º faz, quando temos mais que uma nacionalidade, qual é a lei
da nacionalidade que vamos referir?
Aquela que a pessoa tenha a sua residência habitual, aquela ou seja
concentramo-nos num único ordenamento jurídico as duas conexões pessoais,
nacionalidade e residência habitual.

Problema?

Não é o que acontece neste caso em concreto.


No artigo 28º, continua a dizer que se tivermos muitas leis da nacionalidade e
o interessado não viva em nenhuma delas, aplica-se a lei do estado com o qual
mantenha o interessado uma vinculação mais estreita. Vai buscar o princípio do DIP
“principio da conexão mais estreita”.
Tal qual acontece como no artigo 28º, reparem estamos a tratar de uma
analogia, o artigo 28º estado 1 nacionalidade, estado 2 nacionalidade.

Qual das duas é que escolhemos?

Aquela que em que o sujeito tenha a sua residência habitual.

A questão que se coloca agora é: se ele residir num estado diferente?

Escolhe a lei interna onde ele vive, se ele vive noutra acontece a mesma coisa.

Passamos para uma terceira conexão e esta terceira conexão vai permitir
resolver este conflito.
Ou seja, temos de partir do princípio que da origem a estas conexões- princípio
da maior ligação individual. E tendo em consideração o princípio da maior liação
individual, que tem subjacente o princípio da conexão mais estreita, determinar qual é
aquela relativamente ao qual a relação jurídica vai ser resolvida.

Como é que nos no caso concreto demostramos que entre a lei da nacionalidade,
reparem se concluirmos se é a lei da nacionalidade temos que ver com qual delas…
como é que nos escolhemos a lei aplicável?

Se os princípios do DIP são os mais próximos do elemento da relação jurídica


controvertida significa que a conexão manifestamente mais estreita há de ser aquela
que também esta mais próxima do elemento da relação jurídica controvertido.
Este princípio haverá ter um conteúdo diferente de quando temos o princípio da
maior proximidade.

19
Direito Internacional Privado – OT e P
Como é que determinamos qual é a lei mais próxima quando temos em causa o
princípio da maior obrigação individual?

Temos de determinar qual é a lei que esta mais próxima do sujeito.

E qual será essa lei?

Ter em consideração a lei da nacionalidade ou a lei da residência habitual.


Temos de ver qual das duas neste caso concreto o sujeito se considera mais próximo.
Vive em angola é nacional dos EUA. Não fala inglês e nunca a esteve significa,
que se o cumprimento da escolha para escolher a lei que esta mais próxima da
questão controvertida, cumprindo as expectativas das partes, numa situação desta,
nunca viajou para os EUA, a lei angolana é que se aplicava. É preciso determinar entre
as circunstâncias concretas aquela lei que de acordo com o princípio que lhe esta
subjacente cumpra a expectativa da parte.

Mas o artigo 20º, o legislador fez um site tao complexo, que se esqueceu de
uma questão em relação ao ordenamento plurilegislativo.

Imaginem a mesma situação, mas a questão subjacente é uma questão relativa


a direitos reais de imoveis, em que se aplica a L2, artigo 46º, é aplicável a lei do lugar
da situação do bem, onde o bem se encontra. O bem encontra se nos EUA.

Resolvemos a mesma questão da mesma forma ou encontram um problema?

Objeto mediato, significa que é lex rei sitae, se o artigo 20º diz que o
ordenamento jurídico plurilegislativo é a lei da nacionalidade do sujeito.

Isto significa o que?

É porque teve em consideração o princípio da maior ligação individual.

O que significa? Quando os elementos de conexão têm outro princípio, o que


acontece? Se não houver nada disso aplica-se a lei da residência habitual, mas de
quem?

O artigo 20º so pensou nos ordenamentos jurídicos plurilegislativos em que a


conexão tinha um caracter pessoal, significa que todas as outras conexões relativas a
outros elementos em que não esta subjacente o princípio da maior ligação individual.
estão totalmente omissos deste artigo.
Significa que tal e qual acontece no conflito positivo temos uma verdadeira
lacuna em relação a lei a aplicar.

Significa que neste caso concreto temos de fazer o que?

20
Direito Internacional Privado – OT e P
Aplicar analogicamente o artigo 20º tendo em consideração que a nossa
conexão mais estreita já não é a conexão do artigo 20º, mas sim neste caso
concreto a conexão real.

26.09.2023 (OT)

Caso-prático 1:

Hannah é alemã, vive em Portugal e pretende casar com Aníbal, português e


com residência em França.
Admita que, nos termos da lei alemã Hannah ainda não tem capacidade
nupcial, mas de acordo com as leis portuguesas e francesa, não há qualquer
fundamento para impedir este casamento.
Perante esta situação, Hannah e Aníbal decidem casar em Portugal para que
não exista qualquer impedimento ao matrimonio de ambos.
Quid júris?

RESOLUÇÃO:

1º para termos uma situação de DIP a primeira coisa que fazemos é identificar a
relação jurídica que temos no caso concreto. Neste caso a relação jurídica a constituir
diz respeito a um contrato de casamento, em particular a questão controvertida
suscitada é a capacidade dos sujeitos. Tal qual acontece no direito interno.

2º legitimar a aplicabilidade da solução de DIP. Temos de qualificar esta relação


jurídica como internacional ou não – só se coloca o problema de DIP se a relação
jurídica for ela própria internacional, ou seja, há problema se a situação jurídica tiver
ou vá ter contacto com mais do que um ordenamento jurídico -. Separamos os
elementos da relação jurídica: sujeito, objeto, facto, garantia.

Temos 2 sujeitos a Hannah e o Aníbal, quais são as conexões mais próximas dos
sujeitos?

NACIONALIDADE:
ALEMÃ
HANNAH
RESIDÊNCIA
HABITUAL:
PORTUGAL
SUJEITOS
NACIONALIDADE:
PORTUGAL
ANÍBAL
RESIDÊNCIA
HABITUAL: FRANÇA

21
Direito Internacional Privado – OT e P
Temos uma relação jurídica de natureza privada, contrato de casamento,
internacional porque temos elementos da relação jurídica dispersos por mais do que
um ordenamento jurídico. Esta relação jurídica é relativamente internacional. As
relações jurídicas podem ser absolutas ou relativamente internacionais. Elas são
absolutas ou relativas consoante tenham ou não tenham ligação com a lei do foro, ou
seja, neste caso concreto, se nos somos a lei do foro e esta relação jurídica em
elementos que estão em conexão com a lei do foro, ou seja, Portugal para além de ser
a lei do foro é também uma das leis em contacto com uma relação jurídica, portanto,
esta relação jurídica é relativamente internacional.
Ela será absolutamente internacional quando a lei do foro não tenha nenhuma
conexão com a relação jurídica. Neste caso tem, porque ela vive em Portugal, ele é
português e o facto ocorre no ordenamento jurídico português. Esta relação jurídica é
internacional, mas relativamente porque ela tem conexão com o foro.

No caso prático dizem que a lei portuguesa tem uma solução, enquanto a lei
alemã e a lei francesa têm outra.

Se o sistema conflitual português adotasse o sistema de regulação direta,


resolve se a questão diretamente independentemente de a questão jurídica ser
internacional ou não, ou então usasse por regra, o sistema conflitual, nas normas
jurídicas unilaterais que estivesse a mandar aplicar a lei do foro.
Como resolvemos uma questão de DIP, através do sistema conflitual que
escolhe a lei, de acordo com o valor associado à conexão mais estreita que varia
consoante o Princípio que lhe dá causa. Escolhemos o princípio de acordo com a
questão controvertida que está a ser apreciada no caso concreto, ou seja, o legislador
haverá de ter isso em consideração na escolha da lei.

De acordo com o esquema conflitual, vamos para as normas de conflito do CC


encontrar uma norma, onde esta questão jurídica se possa subsumir no respetivo
conceito-quadro para desencadear o elemento de conexão, ou seja, a tal lei que o
legislador escolheu como sendo competente para regular aquela questão.

Temos de ter em atenção, porque desde logo é possível que tal qual acontece
quando temos uma questão do CC de lei material, é possível que tenha normas gerais
e normas especiais. Se esta questão fosse puramente interna, iriamos para a parte
geral do CC à procura do artigo de quem tem capacidade de exercício, mas depois a
capacidade com a especificidade para o contrato em especial, relativo à capacidade de
exercício é uma norma especial. O sistema conflitual, mais uma vez, está organizado da
mesma forma.

Se formos para o artigo 25º, que é a primeira norma de conflito temos uma
norma de estatuto pessoal, incluindo a capacidade das pessoas, as relações de família
e sucessões. Esta é uma norma geral em matéria de estatuto pessoal, as normas de
conflito estão organizadas tal qual estão organizadas no CC, portanto, se o nosso
problema é relativo à capacidade nupcial é preciso ver se não acontece no resto do CC
alguma norma especial a regular a capacidade de exercício quando o contrato que as
pessoas celebram é um contrato de casamento.

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Direito Internacional Privado – OT e P

O artigo 49º fala da capacidade para contrair casamento. Este artigo é uma
norma especial face ao artigo 25º. O artigo 25º trata da capacidade em geral, mas
quando o contrato é especial se o contrato for de casamento há uma norma
especialmente regulada para o efeito.

Segundo o artigo 49º, a capacidade para contrair casamento, é regulada, para


cada nubente, pela respetiva lei pessoal. A lei pessoal é, regra, a que está prevista no
artigo 31º/1, que corresponde à lei da nacionalidade da pessoa.

A lex fori, que é Portugal, para a questão em concreto – capacidade para


contrair casamento no âmbito de uma relação jurídica internacional - determina que,
para cada um dos sujeitos, será aplicável a respetiva lei pessoal, nos termos do artigo
49º e 31º/1 do CC, ou seja, a lei da nacionalidade de cada um.

No que tange a Hannah, L2 será a lei da nacionalidade, ou seja, a lei alemã.


É indiferente onde eles vão casar, é indiferente eles procurarem a lei que
melhor se adapta à sua vontade, pois mesmo em Portugal Hannah continua sem se
conseguir casa pois é lhe aplicada a lei alemã.

O facto de ela ser incapaz para celebrar aquele casamento já tornaria o mesmo
impossível de ser celebrado, mas a questão coloca-se para o Aníbal da mesma forma,
ou seja, para determinar se a Hannah tem capacidade ou não para casar o legislador
manda aplicar a lei alemã, para o Aníbal manda aplicar a lei portuguesa.
Só se os 2, com as respetivas leis forem capazes é que é possível que eles
casem. A lei portuguesa vai ser aplicável ao Aníbal, a lei alemã vai ser aplicável à
Hannah. No final tem de se combinar as duas leis.

Se a lei alemã entende que há uma falta de capacidade nupcial no caso


concreto, significa que nesta situação o conservador do registo civil não consegue
casar, ainda que o contrato esteja a ser celebrado em Portugal.

Caso-prático 2:

Jonathan, nacional norte-americano, nasceu no Dalas, no estado do Texas onde


viveu até há cerca de 3 meses quando se mudou definitivamente para França depois
de conhecer Bernardette, francesa e residente em Paris.
Jonathan e Bernardette pretendem casar, em Paris, e ao competente
conservador do registo civil incumbe verificar a capacidade matrimonial dos nubentes.
Admitindo que nos EUA não existe direito interlocal ou DIP unificado,
determine qual ou quais as leis que o conservador deve considerar para aferir da
capacidade nupcial.

RESOLUÇÃO:

1º questão controvertida – relação jurídica: capacidade dos sujeitos – capacidade


matrimonial – estatuto pessoal

23
Direito Internacional Privado – OT e P

2º relação jurídica internacional absoluta

NACIONALIDADE:
AMERICANO
JONATHAN
RESIDÊNCIA
HABITUAL: FRANÇA
SUJEITOS
NACIONALIDADE:
FRANÇA
BERNARDETTE
RESIDÊNCIA
HABITUAL: FRANÇA

O problema deste conservador é: se se aplica o direito conflitual e se L2 é a lei


da nacionalidade do interessado, quando esta lei da nacionalidade for de um
ordenamento jurídico plurilegislativo, que é o caso, como se escolhe a lei aplicável na
situação em concreto. - Admitindo que a lex fori tem as mesmas normas de conflito
do nosso CC.

Queremos saber se o Jonathan é ou não capaz para casar, se tem capacidade


nupcial ou não – é a lei da nacionalidade que o determina, mas os EUA são um
ordenamento jurídico plurilegislativo.
A primeira coisa que fazemos para resolver um caso prático, cujo ordenamento
jurídico é plurilegislativo: 1º vamos classificar a natureza do ordenamento jurídico
plurilegislativo – os EUA são um ordenamento jurídico plurilegislativo porque tem uma
divisão interna do seu território, neste caso, uma federação, ou seja, é um
ordenamento jurídico plurilegislativo de base territorial (artigo 20º/1 e nº2 CC).

Podemos aplicar o artigo 20º diretamente ou temos de usar uma interpretação


analógica na integração de lacunas?
Podemos aplicar o artigo 20º diretamente, quando a relação jurídica no caso
em concreto for matéria de estatuto pessoal e L2 for a lei da nacionalidade do sujeito.
No caso em concreto, temos uma situação em que L2 é a lei da nacionalidade pelo que
podemos aplicar diretamente o artigo 20º, que só está pensado para estatuto pessoal
em que L2 é a lei da nacionalidade, qualquer outra situação está fora da previsão
normativa do artigo 20º e, portanto, ele só pode ser aplicado de forma analógica.

Vamos aplicar diretamente o artigo 20º porque L2 é a lei da nacionalidade, e


estamos a tratar de matéria de estatuto pessoal.

Como é que escolho de entre as leis todas dos EUA, a lei aplicável ao caso em
concreto? Nos termos do artigo 20º/1 e nº2:

24
Direito Internacional Privado – OT e P
1º direito interlocal – direito do Estado plurilegislativo que resolve o conflito
interno, ou seja, são as normas de conflito que os EUA que em vez de resolver em
questões de direito privado internacional, resolvem relações jurídicas privadas
internas, mas dispersas por mais do que um Estado – o caso prático diz que não direito
interlocal, não há forma de escolher esta lei (de facto nos EUA não é possível recorrer
ao direito interlocal, pois eles não separam entre as normas processuais e normas de
conflito na escolha de lei);
2º DIP unificado – o caso prático também diz que não há;
3º lei da residência habitual do interessado, neste caso de Jonathan, que vive
em Paris.

Temos todas as leis em vigor nos EUA mais a lei federal e agora ainda temos a
lei francesa para regular esta questão, como se resolve?
Seguindo a posição do professor Ferrer Correia, aplica-se a lei francesa e temos
o assunto arrumado. Diz ele que é uma conexão supletiva, que é a residência habitual
e, por isso, esquecemos a lei da nacionalidade.

De acordo com a escola de Lisboa, essa não é a solução, damos origem a um


conflito positivo entre as leis da nacionalidade e da residência habitual. Resolvemos a
questão concluindo, seguindo a escola de Lisboa, que há uma lacuna, ou seja, o
legislador não quer afastar uma conexão relativamente a outra, que a lei da residência
habitual, nos termos da previsão normativa do artigo 20º só funciona se a residência
habitual estiver dentro do estado da nacionalidade, quando está fora, a interpretação
é que há uma lacuna do legislador e estamos fora da previsão normativa e aí vamos
utilizar a última parte do artigo 28º da Lei da Nacionalidade e para desempatar entre
estas leis todas vamos chamas mais uma conexão que é a lei da conexão
manifestamente mais estreita.
De acordo com os elementos objetivos e subjetivos do caso, aquela que
permite dar melhor cumprimento ao princípio da maior ligação individual, ou seja, qual
é de entre todas estas leis a lei que estará mais próxima do sujeito na relação jurídica.
Qual é a lei pessoal de entre todos os possíveis que estará mais próxima do
sujeito: ele é americano, sempre viveu nos EUA, vive há pouquíssimo tempo em Paris,
portanto a lei cuja expectativa permite satisfazer os interesses adjacentes a esta
relação jurídica é a lei da sua nacionalidade, a lei do sítio em que ele viveu sempre,
Dalas – Texas. A lei que estiver em vigor em matéria de capacidade nupcial no Estado
do Texas, seja lei federal, seja lei interna do estado federado.

02.10.2023 (OT)

CASO PRÁTICO 3

Alberto, cidadão português, residente em Viana do Castelo, é prioritário de uma


casa de férias em San Diego, no estado da Califórnia (EUA). Durante as férias nos EUA,
alberto foi confrontado com o seu vizinho, Sebastian, cidadão sueco, com residência
habitual em Barcelona e residência temporária em San Diego, alegando que tem
direito a passar no terreno daquele. Fundamenta a sua alegação invocando, nos
termos da lei sueca e portuguesa, uma servidão legal de passagem.

25
Direito Internacional Privado – OT e P
Admitindo que nos EUA não existe direito interlocal ou DIP unificado, qual a lei
competente para determinar se existe, ou não, uma servidão de passagem.

RESPOSTA:

1º - QUESTÃO CONTROVERTIDA – É a mesma cosia eu se quiséssemos saber se


o Sebastian tinha ou não direito de servidão de passagem.
Na questão controvertida, pretende-se determinar se ele tem ou não um
direito. Neste caso pretende-se resolver se ele tem um direito real de servidão de
passagem relativamente a um imóvel.

2º - Determinar elementos da RJ que permitam concluir se ela é internacional


ou não, e se é relativa ou absolutamente internacional –
Sujeitos: Alberto e o Sebastian.
Para A temos: Nacionalidade - Português;
Residência habitual - Portugal
Para S temos: Nacionalidade - Sueco;
Residência habitual - Espanha
Objeto mediato – Lugar onde a coisa se situa – OJ Americano.

Esta relação jurídica é relativamente internacional porque Portugal para além de


ser a lex fori, é também uma das leis que está em contacto com a RJ, concretamente
no que tange a um dos sujeitos da RJ. Assim sendo vamos aplicar as nossas normas de
conflitos. Para já só o código civil.
Portanto, sendo Portugal a lex fori, a técnica do DIP será encontrar uma norma
de conflitos que permita determinar qual foi o elemento de conexão que o legislador
entendeu aplicar relativamente a esta matéria. Matéria esta de estatuto especial, ou
seja, o que está em discussão é a existência ou não de um direito real.

Os direitos reais estão mais próximos de que elementos da relação jurídica? Do


objeto da relação jurídica, portanto temos aqui claramente matéria de estatuto.
Portanto, neste caso concreto, vamos à procura de uma conexão, ou melhor,
de uma norma de conflito em que esta questão controvertida se possa subsumir para
depois determinar qual momento de conexão eleito pelo legislador.

Artigo 46º - Matéria relativa a, entre outros, outros direitos reais (neste caso
direito de passagem) é determinado. Como elemento de conexão, Portugal considera
competente a lei do lugar da situação dos bens, ou seja, a lei do lugar da situação do
objeto da RJ, por isso a lei norte americana. Não havendo problemas de reenvio e o
caso prático não o suscita, Portugal considerará competente a lei norte americana para
determinar se existe ou não uma servidão legal de passagem para o Sebastian. Estando
Alberto com um ónus relativamente ao seu direito real de propriedade.

Qual é o problema aqui?

26
Direito Internacional Privado – OT e P
O problema aqui é o OJ plurilegislativo. Portugal vai aplicar a lei norte americana
no caso concreto. O problema é que o juiz não sabe qual é o sistema jurídico que os
EUA vão aplicar no caso em concreto, pois este é um OJ plurilegislativo de base
territorial.
Tem pelo menos 50 leis diferentes para serem aplicadas ao caso em concreto.

Qual vamos aplicar, como e porquê? Ou seja, qual é a lei internamente aplicável?
Artigo 20º do CC – Este resolve a questão relativa à determinação do sistema
jurídico aplicável nos OJ plurilegislativos em matéria de estatuto pessoal e neste caso
temos uma matéria de estatuto real. Isto significa que quando levamos este caso para
a previsão normativa do artigo 20º, não conseguimos esta solução.
Ou seja, o artigo 20º, desde logo, determina que os OJ plurilegislativos
determinados no caso em concreto são em relação da nacionalidade do sujeito.
No caso em concreto, o elemento de conexão não é a nacionalidade, aqui
aplica-se a conexão de maior proximidade, ou seja, do lugar de onde está o bem, da
situação do imóvel. Por isso, nesta resolução do caso em concreto estamos perante
uma lacuna.

Como resolvemos esta lacuna?

Analogia legis – Usamos analogicamente o artigo 20º, pois este também se


aplica à resolução dos OJ plurilegislativos de base territorial, artigos 20º/1 e 2, e
tentamos aplicar analogicamente no caso em concreto. Notem, no caso temos uma
matéria de estatuto real enquanto o artigo 20º está pensado para a matéria de
estatuto pessoal. A extensão da aplicabilidade analógica, só pode ser dentro dos
limites do âmbito da previsão normativa.
A primeira solução do artigo 20º é sempre apontado para o OJ plurilegislativo
enquanto estado soberano, em matéria conflitual o estado português nunca
determina a escolha de conflitos internos dentro do OJ.

Logo, a primeira solução que decorre do artigo 20º, analogicamente, como trata
da matéria dos OJ plurilegislativos quanto a isso não há problema. Só que o artigo 20º,
a solução dele parte de matéria de estatuto pessoal e nós temos de estatuto real,
portanto a nossa aplicação analógica só pode ir até ao limite do possível, senão
estamos completamente fora daquilo que é o âmbito.
A primeira solução do artigo 20º é aplicar o direito interlocal. Aqui sem
problema, porque esta aplicabilidade do direito interno, independe em absoluto da
natureza da questão controvertida, seja qual for a matéria. Primeiro o direito interno
interlocal sem problema nenhum, podemos aplicar esta solução diretamente.

2º - Depois temos de ir para o DIP unificado, também é indiferente saber qual é


a matéria em causa, se é de estatuto pessoal se é de estatuto real. A aplicação do DIP,
neste caso seria a escolha da norma de conflitos apropriada, mas também não há DIP
unificado neste caso prático.

3º - Depois temos o critério da lei da residência habitual. Aqui o problema é


que não conseguimos usar diretamente porque esta conexão, está pensada para o

27
Direito Internacional Privado – OT e P
artigo 20º para matéria de estatuto pessoal, mas aqui estamos perante uma matéria
de estatuto real. Portanto, mais ligada ao objeto da RJ.

Agora como fazemos?

Estamos a tentar aplicar analogicamente o artigo 20º e conseguimos.


Conseguimos, inclusivamente, por este 3º critério de integração da lei, não podemos é
usar a mesma conexão porque a analogia não permite, pois esta trata de questões
idênticas, dando lhe soluções idênticas. Neste caso, a 3ª conexão já está relacionada
com estatuto da relação controvertida e por isso não podemos aplicar.

Não conseguindo aplicar mais o artigo 20º. Mas o pp artigo 20º tem ele pp uma
lacuna no que tange às questões relacionadas à matéria de estatuto pessoal. Ou seja, o
artigo 20º também tem uma situação em que a lei da residência habitual não lhe
resolve o problema. A lei da residência habitual nem sempre resolve a questão dos OJ
plurilegislativos, quando a RH fica fora do estado da nacionalidade. Não é o que
acontece no nosso caso, mas nós também temos uma situação em que não podemos,
neste caso, usar a lei da RH.

O que é que fazemos em matéria de estatuto pessoal quando o artigo 20º tem uma
lacuna não podendo, ou não conseguindo, com a lei da RH resolver o problema?

Vamos ao artigo 28º da lei da nacionalidade, mas também é complicado utilizar


no caso em concreto porque também trata de matéria de estatuto pessoal, mas temos
de aplicar analogicamente, tal e qual usamos em matéria de estatuto pessoal no artigo
20º. Isto para ir buscar a conexão mais estreita – Conceito indeterminado (última
parte do artigo 28).
O artigo 28º da lei da nacionalidade, trata de conflitos entre conexões pessoais,
mas estamos perante conexões reais. Mas a conexão manifestamente mais estreita é
aquela que determina, no caso concreto, a lei que estiver mais próxima do elemento
jurídico da questão controvertida. Ou seja, a questão controvertida é um problema de
estatuto material associada ao objeto da relação jurídica.

Qual é a lei que está mais próxima do objeto da relação jurídica?

A do estado da Califórnia. É a lei que está mais próxima, em vigor, do objeto da


relação jurídica.
A lei mais próxima do objeto da relação jurídica, neste caso não será em geral a
lei norte americana. É a lei norte americana, seja ela qual for, que esteja em vigor no
estado da califórnia. Se for lei federal, aplica-se ao caso, se for uma lei interna do
estado da califórnia, será essa aplicada no caso em concreto.

Quando estamos a aplicar a analogia do artigo 20º, os primeiros 2 conceitos


podem ser aplicados diretamente porque não estando a tratar da previsão normativa
do artigo 20º, a verdade é que, quer de DIP interno quer de direito unificado, são
aplicáveis independentemente do estatuto que está associado à questão
controvertida.

28
Direito Internacional Privado – OT e P
A grande questão coloca-se na conexão pessoal associada à lei da residência
habitual, em que aí já não conseguem aplicar. Aí fazem exatamente o mesmo
raciocínio quando tem conexões pessoais que estão em conflito com outro. Ou seja,
quando tem a lei da nacionalidade de um lado, mas a RH é num estado diferente. Aí
vão ao artigo 28º buscar a conexão manifestamente mais estreita. Como esta é um
conceito indeterminado, o conteúdo dela é determinado pelo princípio que está
subjacente ao estatuto que estamos a tratar. Neste caso em concreto é de estatuto
real, é a lei que está mais próxima de (?). O direito real é sobre o objeto.

O artigo 47º não podia ser utilizado, este trata de um conflito entre estatuto
real e pessoal, apesar de ser de estatuto real. É que este trata da capacidade de
exercício para constituir ou dispor de direitos reais. Neste o que acontece é que daqui
para a frente é que tem estatutos em conflitos uns com os outros e o legislador, como
acontece no artigo 47º, é que tem de escolher entre um e outro. Nada do que se
coloque no caso em concreto.

03.10.2023 (OT)

Caso-prático nº4:

O Jorge é apátrida, reside Québec, Canadá e veio a Portugal durante as férias


para visitar a avó materna. Em Portugal, compra a Bento, português, com residência
habitual em Genebra, na Suíça, uma joia que pertence à sua família.
Admita que se discute em Portugal a validade do negócio jurídico uma vez que
Jorge com 19 anos, não tem, de acordo com o direito material em vigor no Québec,
capacidade de exercício uma vez que a maioridade só se atinge aos 21 anos.
Quid iuris.

Resolução:

1º questão controvertida: capacidade de exercício de Jorge.


Neste caso concreto, temos matéria de estatuto pessoal – capacidade das pessoas.

2º relação jurídica internacional

NACIONALIDADE:
OJ APÁTRIDA
JORGE
RESIDÊNCIA
HABITUAL: OJ
CANADÁ
SUJEITOS
NACIONALIDADE:
OJ PORTUGAL
BENTO
RESIDÊNCIA
HABITUAL: OJ
SUÍÇO

29
Direito Internacional Privado – OT e P

3º Facto jurídico: OJ Portugal

Temos uma relação jurídica privada relativamente internacional (tem contacto


com a ordem jurídica portuguesa, em pelo menos 1 dos elementos).
Se a lex fori é a lei portuguesa, isso significa que vamos aplicar o nosso sistema
conflitual.
Temos de encontrar uma norma de conflitos em que se subsuma esta matéria,
em que o legislador aplique a lei mais adequada, cumprindo o princípio da conexão
mais estreita.

Para esta questão controvertida qual é a norma de conflitos aplicável?

Temos o artigo 25º CC, que só não é aplicável se houver uma norma especial.
Nos termos deste artigo a lei aplicável é a lei pessoal, presente no artigo 32º. Quando a
lei pessoal for aplicável a apátridas, deve entender-se que a lei pessoal não é a que
está no artigo 31º (que determina que a lei pessoal é a da nacionalidade,
naturalmente, se ele é apátrida, não tem nacionalidade), sendo-lhe aplicável a lei da
RH, ou seja, a lei da RH é o ordenamento jurídico canadiano.
O ordenamento jurídico canadiano é um ordenamento jurídico plurilegislativo
de base territorial, estando dividido em províncias. Qual a lei que se aplica no caso em
concreto? No ordenamento jurídico do Estado soberano há diversas leis internas,
todas aplicáveis ao caso concreto.

Artigo 20º CC. Aplicamos diretamente ou analogicamente?


Analogicamente, porque apesar de termos matéria de estatuto pessoal, o que
vai fazer determinar a aplicabilidade do artigo 20º, o OJ plurilegislativo desencadeado
pelo artigo 20º é em razão da nacionalidade do sujeito e neste caso temos a RH.
Portanto, vamos aplicar analogicamente. Por um lado, se é matéria de estatuto
pessoal significa que toda a estatuição do artigo 20º é aplicável ao caso concreto e
nunca teremos as situações em que a RH fica fora do Estado do OJ plurilegislativo
porque este é o estado da RH.

É analogicamente, porque esta situação não está na previsão normativa.

A 1º solução é a aplicabilidade do direito interlocal, no caso não diz, não


conseguimos resolver a partir daí. 2º Não havendo direito interlocal passamos para o
DIP unificado, o caso também nada diz, não conseguimos resolver por aí. 3º a lei da RH
que nos permite já não apontar para o Estado soberano, mas para o direito interno
mais próximo da RH dentro do Estado soberano.
Ou seja, tal qual como acontece nas outras situações em que tem
nacionalidade e depois entre a RH, qual é a que está mais próxima da RH, aqui tem
uma situação similar, mas o OJ plurilegislativo, já é ele próprio estado soberano da
nacionalidade, a determinar o espaço deste OJ plurilegislativo, qual a lei mais próxima
do sítio onde a pessoa efetivamente vive. Ou seja, será a lei canadiana que esteja em
vigor na província do Québec.

30
Direito Internacional Privado – OT e P

Dando cumprimento a um dos princípios essenciais do DIP que é escolher a lei


mais próxima da questão controvertida, neste caso, se a matéria é de estatuto pessoal,
elegendo a lei que dá cumprimento ao princípio da maior conexão individual. Temos a
lei da RH, em concreto, do Québec, só que no caso em concreto, esta situação vai nos
suscitar um outro princípio relativamente ao qual o cumprimento deste coloca em
causa um outro, dando origem a um conflito entre 2 princípios.

Nós escolhemos a lei e cumprimos o Princípio da maior ligação individual,


escolhemos a melhor lei possível, para resolver o caso concreto. Só que neste caso
concreto, a solução de direito material estrangeiro vai dar origem a uma violação de
um outro princípio que é o princípio da proteção do comércio jurídico local.
Dando cumprimento a este princípio violado, a questão que se coloca é quando
damos prevalência a um e violamos um outro, sendo o DIP o tal processo de escolher a
melhor lei tendo em consideração os seus princípios, impõe-se saber quando temos
um conflito com princípios qual deles é que deve prevalecer.

Este negócio jurídico celebrado em Portugal vai-se tornar inválido, emerge um


afloramento daquilo que sabemos de direito interno que é a necessidade do
aproveitamento máximo dos negócios jurídicos.
Ou seja, com a solução do direito material estrangeira, nós vamos invalidar um
negócio que foi centrado num país diferente da lei nacional e isso pode suscitar o
problema da violação do princípio do comercio jurídico local.

Quando há um conflito entre estes princípios o legislador implica que


ponderemos os dois para decidir se damos prevalência a um ou a outro. Se com este
damos origem a violação deste, então, vamos ponderar se há soluções de DIP que
permitam dar prevalência a um ou outro.

Há várias opções, nesta não havendo o reenvio a que se aplica é do artigo 28º
do CC (princípio da proteção do comércio jurídico local), tem entre outras soluções o
afloramento do princípio da proteção do comércio jurídico local.

O nº2 tem os seguintes requisitos: 1º quando o facto ocorra em Portugal; 2º


quando a lei pessoal, que neste caso é a lei da residência habitual do sujeito, o
considere incapaz. 3º requisito, cumulativo, que é quando a lex fori considere o sujeito
capaz.

Estes requisitos estão verificados no caso concreto?

O facto foi celebrado em Portugal ou não? qualquer negócio jurídico dá


cumprimento àquele primeiro requisito com exceção dos que estão no nº2.
No caso não se trata de uma destas situações, portanto, foi celebrado em
Portugal. De acordo com a lei da residência habitual o jovem é incapaz ou não? É, tem
19 anos e a capacidade só se adquire com 21 anos.
E de acordo com a lex fori se ela fosse aplicável ao caso concreto, ele era
incapaz ou não? Artigo 123º, adquire-se capacidade de exercício aos 18 anos. Significa

31
Direito Internacional Privado – OT e P
que todos os requisitos que protegem o comércio local, estão verificados no caso
concreto.

Temos um conflito entre a lei que cumpre o princípio da maior ligação


individual, que violava o princípio da proteção do comércio jurídico local. Entra o
mecanismo que protege este segundo princípio, todos os requisitos estão verificados.

Prevalece o segundo, como?

Significa que prevalece o princípio da proteção do comércio jurídico local, a


questão é: como prevalece? A lei canadiana, em prol do princípio da maior ligação
individual continua a aplicar a lei, ou seja, mantém a aplicação da lei da RH, continua a
dar a garantia da aplicação da lei mais próxima da questão controvertida. Mas depois
notem, na conversão para o 25º, impede nos termos do artigo 28º, para proteger o
comércio jurídico local que o tribunal declare a invalidade do negócio com fundamento
na incapacidade que decorre da lei do Québec que se está a aplicar ao caso concreto.

09.10.2023 (OT)

Caso-prático 5:

A e B, casados entre si, são senegaleses e vivem em Milão. Durante umas férias
em Atenas A foi atropelada numa passadeira e teve um sério traumatismo craniano o
que acabou por levar à sua morte um mês mais tarde. C, o condutor – português e com
residência habitual em Helsínquia -, estava visivelmente embriagado e fugiu do local
do acidente acabando por ser hospitalizado mais tarde.
B propõe nos tribunais portugueses, uma ação de responsabilidade civil contra
C peticionando uma indemnização pelo dano morte, no valor de 500.000,00€.

Admita que,
a) o DIP grego considera competente, para a matéria sub judice, a lei da
nacionalidade da lesada
b) o DIP senegalês, bem como o DIP italiano, consideram competente a lei da
residência habitual da lesada

Quid iuris?

Resolução:

1º questão controvertida – Responsabilidade civil extracontratual


(extraobrigacional), por factos ilícitos.

2º Relação jurídica internacional:

- Sujeitos: lesante – C – nacionalidade: ordenamento jurídico português; RH:


ordenamento jurídico finlandês; lesado – A – nacionalidade: ordenamento jurídico

32
Direito Internacional Privado – OT e P
senegalês; RH: ordenamento jurídico italiano; 3º - B: nacionalidade: ordenamento
jurídico senegalês; RH: ordenamento jurídico italiano

NACIONALIDADE:
OJ PORTUGUES
C
RESIDÊNCIA
HABITUAL: OJ
FINLANDÊS

NACIONALIDADE:
OJ SENEGALES
SUJEITOS A
RESIDÊNCIA
HABITUAL: OJ
ITALIANO

NACIONALIDADE:
OJ SENEGALES
B - TERCEIRO
RESIDENCIA
HABITUAL: OJ
ITALIANO

- Facto – atropelamento ocorreu na Grécia - ordenamento jurídico grego


- Dano – ordenamento jurídico grego (onde ocorreu a morte).

- Questão jurídica relativamente internacional.

Se esta ação está pendente nos tribunais portugueses, Portugal é a lei do foro,
L1. In casu, a norma de conflitos é o artigo 45º CC,

Qual é a conexão?

É o que tem o princípio da maior proximidade nesta questão Vs. O princípio da


maior ligação individual. Quando há conflitos entre os 2 princípios, o legislador manda
aplicar, de acordo com os requisitos do caso em concreto. Em princípio, como é
matéria de estatuto pessoal vigora o princípio da maior proximidade, artigo 45º/1, mas
o legislador entende que pode haver conflito com a maior ligação individual, mas o
legislador entende que pode haver conflito com a maior ligação individual, nos termos
do nº3.

A e B estão de férias e C tem residência habitual na Finlândia, pelo que estarão


todos ocasionalmente na Grécia. Logo, o lesante e o lesado não têm a mesma RH nem
a mesma nacionalidade, pelo que, nestas circunstâncias, não vigora o princípio da
maior ligação individual e mantemos o princípio da maior proximidade do facto, o nº1
do artigo 45º manda aplicar a lei do lugar onde se deu a atividade que deu origem ao
dano.

Nota:

33
Direito Internacional Privado – OT e P
 Quando aplicamos o regulamento ? que afasta o artigo 45º, o legislador da UE
optou também pelo princípio da maior ligação individual, mas a conexão foi a
maior proximidade não relativamente ao facto, mas relativamente ao dano.
Portanto, o estado onde ocorreu o facto que deu origem ao dano, foi a Grécia
(OJ Grego), lex loci actus (lei do lugar da prática do facto), pelo que a L2 é a Grécia.

Portugal considera competente L2.

Agora é preciso saber se Portugal aplica ou não o direito material de L2. A regra
seria o artigo 16º, mas nós ainda não decidimos isso porque Portugal, é, por regra,
antidevolucionista. Quando Portugal considera competente determinado OJ quer ver
aplicado o direito material desse OJ, só faz referências materiais, essa é a regra. Não
obstante, poder haver exceções.

Queremos saber o que os outros Estados fariam relativamente a esta questão,


se fossem a lei do foro.

Se l2 pudesse usar as suas normas jurídicas no caso concreto, aplicaria a lei da


nacionalidade da lesada, ou seja, o OJ do senegal – l3 (senegal).

Se o senegal pudesse usar as suas normas de conflito consideraria competente


a lei da RH da lesada, ou seja, Itália. Se a Itália se considerasse competente, considerar-
se-ia a ela própria competente (l4 – Itália).

Conseguimos ou não chegar à solução que Portugal aplicaria?

Portugal está à espera de saber qual a lei que eles aplicariam se fossem a lei do
foro, ou seja, quem consideram competente para resolver a solução de direito
material, isto é, saber se o B tem ou não direito a uma indemnização ou então se é
competente para usar as normas de conflito.

Quando é que essa questão se coloca? Quando é que eu preciso de perguntar não só
qual é a conexão do Estado, mas também qual é a posição dela em matéria de
reenvio?

Se o estado for antidevolucionista, significa que o Estado não admite que


outros usem as suas normas de conflito, se um estado administrar significa que ele
pode usar as normas de conflito e ele fica há espera de alguma coisa.

Nós aqui precisamos de saber a posição dos Estados, mas de todos ou alguns para
saber qual a lei que eles aplicam? Quando é que é relevante saber qual é a posição
jurídica em matéria de reenvio?

Uma lei considera competente uma lei estrangeira, que, por sua vez, não se
considera competente. Isto acontece em Portugal?

34
Direito Internacional Privado – OT e P
Em Portugal há reenvio, ela considera competente lei estrangeira, que não se
considera competente. Precisamos de saber qual a posição jurídica de Portugal em
matéria de reenvio, mas só sei quando todos os outros Estados me dizem qual é a
posição.
Para a Grécia, é um exercício hipotético, o que eles fariam se fossem a lei do
foro – não são, logicamente, Portugal é que manda.

Para a lei grega existe reenvio?

Sim, considera competente o Senegal, que por sua vez não se considera
competente, portanto, falta nos uma informação, não conseguimos saber o que a lei
grega aplica no caso concreto, porque não sabemos se existia reenvio se ela fosse a lei
do foro.

Para o Senegal, existe reenvio?

O Senegal considera competente Itália, que se considera a ela própria


competente, logo não há reenvio para o Senegal.

Para Itália há reenvio?

Não, ela considera-se competente, nem sequer há lei estrangeira.

Não só precisamos de saber a posição dos Estados para definir qual é a lei que
eles aplicam, além daquela que eles consideram competente, quando há reenvio.

Só há reenvio se um Estado remete para uma lei e essa outra lei devolve ou
transmite a competência para outro Estado, o que não acontece nem em L3, nem em
L4.

O nosso problema está em saber qual é a lei grega que se aplica em matéria de
reenvio. Falta-nos uma informação, porque quando Portugal define a sua posição
precisa que haja harmonia jurídica internacional.

Vamos admitir que a lei grega pratica devolução simples, qual a lei que se aplicaria?

Quando se faz uma devolução simples, significa que há uma referência global
para L3 e uma referência material para L4, ou seja, a lei grega também aplicaria L4.

Assim, por regra, Portugal aplicaria a L2, só não o faria se estivessem verificados
3 requisitos: houver reenvio, ter harmonia jurídica internacional, e o reenvio for meio
necessário.

Só se Portugal admitir o reenvio é que temos harmonia jurídica internacional.


Este é um reenvio por transmissão de competências em cadeia.

Então, aplicamos o artigo 17º ou 18º?

35
Direito Internacional Privado – OT e P

Neste caso aplicamos o artigo 17º, só que esta situação não está no artigo
17º/1 do CC.
O artigo 17º/1 diz que se o DIP do direito estrangeiro, considera competente
uma terceira lei e esta, por sua vez, se considera competente, é o direito interno desta
que se aplica.

Notem, a 3º lei não se considera competente, transmite a competência para


uma 4º lei.

Subsumimos esta situação ou não?

Subsumimos e assim temos uma interpretação extensiva da norma, sendo


indiferente se é a 3º ou a 4º lei que se considera competente.
Portugal, nos termos do artigo 17º/1 vai admitir a aplicabilidade no caso
concreto, da lei italiana, que se aplicará ao caso concreto se o artigo 17º/1 não for
excecionado pelo nº2, que manda aplicar o artigo 16º, novamente.

Aplicamos a lei grega se estiverem verificados os requisitos, voltando assim a


aplicar L2, nos termos do artigo 16º, se não estiverem verificados, aplicamos o artigo
17º/1 e aplicamos a lei italiana ao caso concreto.

Os requisitos do nº2 do artigo 17º é que a L2 tem de ser a lei pessoal. A lei
pessoal encontra-se prevista no artigo 31º/1, sendo a lei pessoal a lei da nacionalidade.
Ora, L2 não é a lei da nacionalidade, logo não está verificado o primeiro requisito e
uma vez que eles são cumulativos (os requisitos do nº2 do artigo 17º), significa que
não se verifica a situação do artigo 17º/2.

Assim, neste caso, Portugal vai admitir o reenvio nos termos do artigo 17º/1,
aplicando o direito material de L4, no caso concreto. Já não vamos ao artigo 17º/3
porque este está dependente da verificação do nº2.
Estamos, assim, no âmbito do artigo 17º/1 e aplicamos o direito material
italiano em matéria de responsabilidade civil por factos ilícitos.

10.10.2023 (OT)

Caso-prático 6:

No âmbito de uma ação de separação judicial de pessoas e bens discute-se o


destino da titularidade da casa de morada de família dos cônjuges situada em São
Petersburgo. Samira e Abdul, ambos de nacionalidade iraquiana, com RH, desde que
casaram, em são Petersburgo, sendo que Samira regressou a Portugal depois da
separação de facto.
A ação foi proposta nos tribunais portugueses onde está pendente.
Considere que,
a) o OJ Russo considera competente a lei da última RH comum e pratica RM.

36
Direito Internacional Privado – OT e P
b) O OJ Iraquiano considera competente da lei do lugar da situação da casa
demorada de família e pratica devolução simples.

Quid júris.

Resolução:

1º questão controvertida – fundamento para alterar o cotrato de casamento –


separação de pessoas e bens. a questão controvertida pode indicar uma sucessão de
decisões relativamente a ela, que em DIP se chama questão previa prejudicial. O juiz
para decidir uma coisa tem de esclarecer outras anteriormente.

2º - relação jurídica internacional

NACIONALIDADE: OJ
IRAQUE

RESIDÊNCIA HABITUAL:
OJ RUSSO - na
SAMIRA
pendência do
casasmento

RESIDÊNCIA HABITUAL:
OJ PORTUGUÊS - na
SUJEITOS separação de facto

NACIONALIDADE: OJ
IRAQUE

ABDUL

RESIDÊNCIA HABITUAL:
OJ RUSSIA

Objeto – casa de morada de família – OJ russo

A Relação jurídica é relativamente internacional. A ação está pendente nos


tribunais portugueses. Portugal é a lex fori e vamos usar as nossas normas de conflitos.

Qual a norma de conflitos aplicável?

Temos de encontrar a norma que trata da questão da separação e atribuir a


casa de morada de família, mas antes disso, tínhamos de saber qual era o regime de
bens do casamento, uma vez que a casa de morada de família, em princípio, é um bem
decorrente da união daquelas duas pessoas.
Tínhamos o artigo 53º em primeiro lugar e depois consoante a questão que
tomássemos…, artigo 46º. A solução ou análise da questão enquanto separação é
altamente..., vamos só considerar isto, mas reparem podem ser todas estas normas de
conflito e se tudo correr bem temos mais que uma, não há nenhum conflito, porque
elas tratam de questões diferentes, o que permite o encadeamento lógico para chegar
a uma solução.
L1 (Portugal)---- l2 (iraquiano)----- L3 (Rússia) (considera se competente)

37
Direito Internacional Privado – OT e P

Norma de conflito: Artigo 55º, qual é o elemento de conexão para este artigo?

É o que esta no artigo 52º que é a lei nacional comum, ou seja, o ordenamento
jurídico iraquiano. Portugal considera competente L2, agora se se vai aplicar ou não
depende do que vai acontecer a seguir, depende do que este Estado faça. Se se
considerar competente Portugal aplica L2, se não se considerar competente iniciamos
o esquema de reenvio e depois logo se vê.

Se L2 fosse a lei do foro sem usar as suas normas de conflito, qual era lei que o
ordenamento jurídico iraquiano consideraria competente?

Lugar da situação da casa de morada de família, ou seja, o ordenamento


jurídico russo.

Se o ordenamento jurídico russo fosse competente este consideraria competente


que lei?
A lei da última residência habitual comum. É a residência habitual a última que
os cônjuges tiverem em comum, antes da separação de facto, L3 considera-se
competente.

Temos reenvio porque relativamente a L1 a lei estrangeira designada pela


nossa norma de conflito não se considera competente.
Portugal vai ter de decidir qual é a lei que vai ter de aplicar. Uma coisa é a lei
que eles consideram competente outra coisa é a lei que vão aplicar.
Ele considera competente a L2. Se aplica a L2 ou outra lei qualquer é o que
vamos ver. A posição que Portugal adota em matéria de reenvio pressupõem o reenvio
e a verificação de mais dois requisitos. Se estiverem verificados passamos para fase
seguinte, se não estiverem, aplicamos a L2.

Para estes estados é preciso saber qual é a lei que eles aplicariam. Precisamos
de mais informação ou esta é suficiente? Para L2 e L3 não fazem reenvio significa que
ninguém tem de saber o que eles fazem em matéria de reenvio.
L2 aplicaria L3.
L2 considera competente L3 e aplicaria o direito material de L3.
L3 considera-se competente e, portanto, aplicaria o seu próprio direito material
(L3).
Agora já temos harmonia jurídica internacional, os estados estrangeiros que
são chamados estariam todos de acordo em aplicar uma única lei, L3.

Terceiro requisito: Não basta que haja reenvio, é preciso que Portugal tenha de
aceitar o reenvio para conseguir cumprir a harmonia jurídica internacional, ou seja, o
reenvio tem de ser o meio necessário para atingir a harmonia jurídica internacional.

Portugal precisa de aceitar o reenvio para atingirmos a harmonia jurídica


internacional?

38
Direito Internacional Privado – OT e P
Sim, se Portugal não aceitar o reenvio aplicaria o direito material de L2 nos
termos do artigo 16º, Portugal terá de aceitar o reenvio se quiser atingir a harmonia
jurídica internacional. Os pressupostos estão verificados. Passamos para os requisitos
do artigo 17º ou do artigo 18º.

Vamos para os requisitos do artigo 17º, porque temos um reenvio por


transmissão de competências. Se o DIP de L2 considerar competente outra lei e essa
outra lei se considerar competente, considera aplicável o seu direito material interno,
é esta última que Portugal aplica. Temos os requisitos verificados do 17º nº1.
Portugal aceita o reenvio.

A nossa norma de conflito diz que L2 é competente, mas no final Portugal vai
aplicar o direito material de L3. Estando verificados os requisitos dos artigos do 17º/1
passamos para o 17º/2. Este confronta um problema: o 17º/2 trata de matéria de
estatuto pessoal e estamos bem porque isto é estatuto pessoal, mas se é para
tratarmos questões em que só temos uma pessoa deste lado, que só tínhamos uma
pessoa na história, neste caso concreto, temos um problema porque temos duas
pessoas.
Os efeitos vão-se repercutir, exatamente, na mesma medida para ambos.

Significa que nesta situação em concreto temos dois interessados, os


interessados são aqueles que despoletam a questão controvertida, não é aquele que
propõe a ação, aqueles que despoletam a ação são aqueles que vão ver recair o efeito
da questão controvertida sobre si. No contrato de casamento, quem está a despoletar
são os dois. Significa que os requisitos do 17º/2 têm de se verificar na mesma medida
para ambos.

1º requisito do 17º/2: matéria de estatuto pessoal, L2 tem de ser a lei pessoal


neste caso é dos interessados. A L2 é a lei dos interessados? Sim, está verificado.

2º requisito: ou os interessados vivem em Portugal (neste caso não, quando


muito vive um) ou então vivem num país que também considera competente o direito
interno da nacionalidade.
O segundo requisito é o da residência habitual, ou seja, não considera
competente o direito interno da nacionalidade, não estando verificado o 17º/2, então,
já não vamos ao nº3 porque este dependia de estar verificado o nº2.
Significa que estamos no 17º/1, para tratar desta questão será competente o
direito material russo.

Quanto às conexões: é possível que encontremos conexões novas ao longo do


tempo, conexão móvel, nacionalidade etc. Por regra a conexão que interessa é aquela
que está mais próxima, ou seja, a que dá origem há questão controvertida. Neste caso
em concreto, seria a residência habitual que os cônjuges tiveram em comum.
Se tivermos um acidente de viação é a residência habitual que está mais
próxima do facto. Será o elemento de conexão que estiver mais próximo perante o
princípio da maior proximidade com a questão controvertida.

39
Direito Internacional Privado – OT e P
Nem sempre é assim, como sabemos isso? Analisando. No ordenamento
jurídico português, o legislador foi sempre cuidadoso em explicar qual o momento em
que devemos considerar ou quando não o diz a regra doutrinaria é essa.
Há situações em que isso não acontece, em que chegamos à conclusão
analisando o regime das normas de conflito. Se tivermos em atenção, ao ler a matéria
em relação às questões do casamento, por exemplo no artigo 54º, o legislador trata
das situações em que os cônjuges mudam o regime de bens, como é que eles
mudaram?
Porque conseguiram alterar a conexão que determinava quais eram os efeitos
que decorriam do seu casamento. No nº2 do artigo 54º, essa alteração não pode
meter em causa direitos adquiridos por terceiros.
Quando há uma subsecção de conexões é preciso ter em atenção direitos
adquiridos dos próprios e de terceiros. Para os cônjuges é indiferente se eles tiverem
de acordo em alterar a sua conexão (nacionalidade etc.), mas basta que um não esteja
de acordo para que não se altere. Se um altera a nacionalidade, quando eles
celebraram o casamento, um dos cônjuges estava com uma determinada expectativa e
de repente se alterou, quando temos esta situação então a conexão não é a conexão
mais próxima da questão controvertida, mas a mais próxima do faco que deu origem
aquele direito.

Na questão do casamento vamos buscar a lei de conexão, da nacionalidade,


etc., que está mais próxima do facto, mesmo quando os interessados estão de acordo
esses efeitos jurídicos só produzem o respetivo efeito, relativamente aos factos que
eles próprios autorizaram.

16.10.2023 (OT)

Caso-prático:

Charles e John, norte-americanos e residentes no Estado do Nevada,


compraram, em Portugal, um automóvel a Benedito, Argentino e com RH em Viana do
Castelo. O automóvel encontra-se em Espanha e, aquando do registo do mesmo, o
conservador apercebeu-se que Benedito é menor de 18 anos e, portanto, incapaz para
celebrar o negócio.
Admita que os pais de Benedito propõem nos tribunais portugueses uma ação para
anular o negócio e que:

a) No OJ argentino a capacidade geral de exercício se adquire com 16 anos


e que, neste ordenamento, em matéria de DIP é eleita como conexão a lei do lugar
onde o bem se situa no momento do negócio e pratica devolução simples;
b) O OJ espanhol considera competente a lei do lugar onde o negócio foi
celebrado e é anti-devolucionista;
c) A mesma solução apresenta o ordenamento norte-americano.

Resolução:

40
Direito Internacional Privado – OT e P
1º Questão controvertida – Capacidade de exercício de B

2º Relação jurídica internacional:

- Sujeitos: os compradores, C e J: nacionalidade – OJ EUA; RH: OJ EUA.


B – Nacionalidade: OJ Argentino; RH OJ português

NACIONALIDADE:
OJ EUA
C
RESIDÊNCIA
HABITUAL: OJ
EUA

NACIONALIDADE:
OJ EUA
SUJEITOS J
RESIDÊNCIA
HABITUAL: OJ
EUA

NACIONALIDADE:
OJ ARGENTINO
B
RESIDENCIA
HABITUAL: OJ
PORUGUÊS

- Objeto mediato: OJ Espanhol


- Facto: OJ Português

A questão está pendente nos tribunais portugueses, portanto, Portugal é a lex


fori, L1 é a lei portuguesa.
Estamos perante uma relação jurídica relativamente internacional, porque
temos também contacto com a relação jurídica internacional pois a ação foi aqui
proposta.

Vamos passar para a resolução da questão conflitual, utilizando as nossas


normas de conflitos temos de ver aquela que se aplica. A norma conflitual aplicável no
caso concreto é a do artigo 25º, cuja conexão está no artigo 31º/1, portanto, Portugal
considera competente em matéria de estatuto pessoal, a lei da nacionalidade do
sujeito, ou seja, daquele sujeito cuja capacidade está a ser apreciada, ou seja, o OJ da
Argentina.

41
Direito Internacional Privado – OT e P
Portugal considera competente o OJ da Argentina, pelo que em princípio
Portugal aplicará a lei da nacionalidade, a não ser que aceite reenvio e aí deixe de
aplicar L2 e passa uma outra lei que aceita o reenvio. Essa posição dependerá da
verificação de um conjunto de pressupostos. Agora temos de ver o que os outros
Estados consideram competente, ou seja, o que aplicariam no caso concreto.

Neste caso concreto, Portugal vai se abster de decidir para já e vai determinar
qual era a lei que o OJ argentino aplicaria no caso concreto.

Portanto, qual era a lei que o OJ argentino consideraria competente?

O OJ argentino aplica a lei do lugar onde o bem se situa no momento do


negócio, ou seja, aplicaria o OJ espanhol. Ou seja, L3 é o OJ espanhol. O OJ argentino
pratica devolução simples.

O OJ espanhol, por sua vez considera competente a lei do lugar onde o negócio
foi celebrado, ou seja, devolve a competência para Portugal (L1) e é anti-
devolucionista pelo que faz referências materiais.

L2 considera competente L3, mas fazendo uma devolução simples ela aplicará a
lei L1 – quem faz uma devolução simples faz uma referência global para L3 e uma
referência material para a lei que L3 considera competente, ou seja, L1.
L3 considera competente L1 e sendo anti-devolucionista aplicaria L1.

Temos reenvio, porque L2 é uma lei estrangeira que não se considera


competente. Temos harmonia jurídica internacional, todos os estados querem aplicar
uma única lei e essa lei não sendo L2 significa que Portugal aceitar o reenvio é um
meio necessário para atingir a harmonia jurídica internacional. Agora, vamos ver os
requisitos, para isso temos de qualificar o reenvio. In casu, temos um reenvio por
retorno indireto à lei portuguesa, portanto, aplicamos o artigo 18º.

Agora vamos ver os requisitos do artigo 18º/1, aquilo que diz é que se o DIP
pela lei designada pela nossa norma de conflitos (L2), devolver para o direito interno
português, é este que se aplica e Portugal aceita o retorno. Neste caso, não temos um
retorno direito, ou seja, L2 não nos considera diretamente aplicáveis ao caso concreto,
mas indiretamente considera, fazendo uma interpretação extensiva e tendo em
consideração a ratio legis do preceito, isto também se subsume na previsão normativa
e, portanto, Portugal, neste caso, admite o reenvio e aceita a devolução de
competências ao seu próprio OJ.

Quando se trata de matéria de estatuto pessoal, temos de ter em atenção ao


artigo 18º/2 que tem uma formulação diferente, do 17º/2. Em matéria de estatuto
pessoal, ou estão verificados os requisitos do 18º/2 e Portugal aceita o reenvio, ou se
não estiverem vamos para o 16º e não aplicamos o reenvio.

Portanto, em matéria de estatuto pessoal – a matéria de capacidade de


exercício está compreendida no estatuto pessoal – (a norma 25º tem uma epígrafe

42
Direito Internacional Privado – OT e P
clara relativamente à matéria que lá se subsume), Portugal só aceita este reenvio se
acrescentarmos mais 2 requisitos: o interessado tem de ter RH em Portugal ou a lei do
país desta residência considerar igualmente competente o direito interno português.
Neste caso concreto, o interessado reside naturalmente em Portugal, Portugal
pode aceitar o reenvio neste caso concreto porque é uma das leis pessoais a aplicar ao
caso concreto, ou seja, aplica-se o direito material português.
Aplica-se o direito material português, a não ser que neste caso se suscite um
conflito com outro princípio, do favor negotii, que vem no artigo 19º/1, ou seja,
excecionalmente, neste caso concreto, Portugal vai querer saber qual é a solução
material que é dada ao caso concreto, aplicando o direito português, este negócio é
inválido. De acordo com o direito material argentino o negócio seria válido, porque ele
já teria a possibilidade para celebrar este negócio jurídico.

Como é que, eventualmente, se conjugam estes princípios todos?

Temos uma manifestação do princípio do favor negotii, quando temos uma


situação de reenvio no artigo 19º. Já admitimos o reenvio no âmbito do artigo 18º e
temos de fazer cessar o reenvio, que só acontece nos termos do artigo 19º/1. Se cessa
o disposto nos números anteriores (17º e 18º), se se manifestar uma situação de
reenvio que põe em causa o princípio do favor negotii, se for o caso voltamos, porque
se cessam as exceções, voltamos a aplicar o artigo 16º.

Cessa o disposto, neste caso no artigo 18º, quando a solução a que chegarmos
no reenvio a lei aplicável já era uma invalidade do negócio jurídico. Este negócio
jurídico praticado sem outra indicação, por um menor de 18 anos será inválida. A
aplicabilidade do OJ português no caso concreto gera a invalidade do negócio jurídico,
mas se a lei argentina no caso concreto, considerar o negócio válido, ou seja, se o
Benedito tiver mais de 16 anos e tiver celebrado o negócio, significa que aplicando a
regra geral do artigo 16º, ou seja, o OJ argentino, o negócio já será válido.
Então, nos termos do artigo 19º/1 cessa o disposto no artigo 18º. Se acaba o
reenvio significa que aplicamos a regra geral do artigo 16º. Pela regra geral, do artigo
16º, não há reenvio, portanto, a solução é, a lei do foro considera competente a lei da
nacionalidade, ou seja, o OJ argentino, ao qual lhe faz uma referência material e aplica
L2.

17.10.2023 (P)

CASO PRÁTICO 10

Carlos e Bento, português e angolano, respetivamente, ambos com RH em Faro,


querem casar, mas Bento tem apenas 16 anos e, de acordo com o direito material
angolano a capacidade nupcial só de adquire com 18 anos. Tendo em conta este facto,
Bento aproveita o facto de a mãe ser francesa e renuncia à nacionalidade angolana e
adquire nacionalidade francesa.

43
Direito Internacional Privado – OT e P
Carlos e Bento casam em França e coloca-se agora em Portugal a validade deste
casamento pelas razões descritas.

Admita que:
· O OJ angolano considera competente a lei do lugar do casamento e faz DS
· O OJ francês considera competente a lei da RH no momento do casamento
é faz RM.
Quid iuris?

RESOLUÇÃO:
· Questão controvertida: capacidade nupcial de Bento - matéria de estatuto
pessoal.
Temos de ver se temos ou não uma relação jurídica internacional, neste caso
temos uma verdadeira relação jurídica que é um contrato de casamento no qual a
questão controvertida suscita.

· Sujeitos: Carlos (nacionalidade: ordenamento jurídico


português; Residência Habitual: ordenamento jurídico português) Bento
(Nacionalidade: ordenamento jurídico francês, encontra a conexão mais
próxima da questão controvertida; Residência Habitual: Ordenamento jurídico
português).

· Facto: Ordenamento jurídico francês


Relação jurídica de índole privado, relativamente internacional, porque
Portugal é a lei do foro, admitindo que é competente para tratar da validade do
casamento e é também um dos ordenamentos jurídicos em contacto com a relação
jurídica.
Portanto, neste caso em concreto usamos as nossas normas de conflitos.

Norma de conflito à artigo 49º do CC, capacidade para contrair casamento.


Portuga considera competente o artigo 49.

Qual lei para determinar se o Bento tem a capacidade núbil ou não?

A lei pessoal - Artigo 31º nº1, a lei da nacionalidade.


Portugal considera competente o ordenamento jurídico francês. Em princípio já
sabíamos que Portugal fazia uma referência material ao ordenamento jurídico francês
e aplicava direito material francês, mas excecionalmente (…) a primeira coisa que
vemos é se havia ou não reenvio. Para isso veríamos se L2 consideraria se ou não
competente se não se considerar qual a lei que aplicaria no caso concreto.

O ordenamento jurídico francês consideraria competente, neste caso concreto,


que lei da residência habitual de Bento = Portugal. Portanto, devolve a competência ao
ordenamento jurídico português. Em matéria de reenvio, o ordenamento jurídico
francês adota a referência material.

Portanto, o ordenamento jurídico francês aplicaria que lei?

44
Direito Internacional Privado – OT e P

A lei portuguesa.

Temos um reenvio, ou seja, Portugal considera competente o ordenamento


jurídico francês que não se considera competente.
Temos harmonia jurídica internacional, é a frança consigo mesma.
O reenvio é o meio necessário para atingirmos a harmonia jurídica
internacional. Só se Portugal aceitar esta devolução é que haverá harmonia jurídica
internacional.

Classificação do reenvio: Reenvio por retorno a lei do foro.

Agora vamos analisar os requisitos do artigo 18º. Estão verificados ou não?

O nº 1 sim, aliás diretamente. Precisamos de fazer uma interpretação onde “se


o DIP de L2 nos devolver a competência fazendo-nos uma referência material, ou seja,
se devolver a competência ao direito interno do foro, nós aceitamos a devolução.
Sendo matéria de estatuto pessoal precisamos dos requisitos acrescidos do nº2.”
Ou seja, a lei da nacionalidade tem de devolver à lei do foro e de 2/1, ou a lei
do foro é a lei da residência habitual ou se não for a lei da residência habitual temos de
os considerar competente.
Neste caso: é a conexão eleita pela frança que foi da competência da residência
habitual. Portanto, neste caso nos termos do artigo 18º/1 e 2, Portugal aceita a
devolução da competência e aplica o seu próprio direito material.

Notem: a não ser que este reenvio cesse nos termos do artigo 19º.

Coloca-se alguma questão nos termos do 19º?

Temos dois princípios o favor negotii e a autonomia da vontade.


Este último não é porque a conexão de L2 não foi escolhida por vontade da
parte, mas sim de acordo com a nacionalidade.
A ser vai ser, será o nº1.

Coloca-se algum problema no nº1?

A única lei que limita esta capacidade é a lei angolana, então não há problema
nenhum no favor negotii. Aliás, neste caso concreto, Portugal admite este casamento,
considera-o válido e eficaz.
A única coisa que eventualmente acontece é que se ele se casa se sem o
consentimento dos pais a emancipação não é plena.
Portanto não há problema nenhum com o artigo 19º nº 1 então aceitamos a
devolução. A não ser que haja fraude a lei.

Isto porque, de facto, a nacionalidade que nos temos de considerar é aquela


que gere a questão controvertida, que está mais próxima desta. Ou seja, apesar de ele

45
Direito Internacional Privado – OT e P
já ter sido angolano, a questão controvertida e a capacidade núbil pressupõe que ele
esteja no âmbito do contrato de casamento e ele aqui era francês.
Neste caso ele mudou. E até mudou muito bem. No sentido de ele pode
escolher renunciar uma nacionalidade e desde que haja outro estado que aceite ele
pode escolher a que quiser. No seu ius sanguinis tem a possibilidade de ser francês
também, exerceu o seu direito.

A questão é: a razão pelo qual ele o fez para fugir a aplicabilidade do direito
material angolano.
Suscita-se um problema em que temos de analisar o eventual regime da fraude
à lei, nos termos do artigo 21º.

Como analisamos a questão da fraude à lei? – Artigo 21º do CC.

Para termos fraude a lei temos de verificar os seguintes elementos:

· Elemento objetivo
· Elemento subjetivo.

ELEMENTO SUBJETIVO

A fraude à lei, em DIP, só se evidencia se o interessado, que é o Bento, agiu


com dolo.
Nós sabemos que alguém agiu com dolo quando ele tem de conhecer que está
a atuar no âmbito da fraude a lei e querer os efeitos da fraude a lei - elemento
cognitivo e elemento volitivo.
Olhando para os elementos que temos no caso, ele para fugir ao facto de não
ter capacidade nos termos do direito angolano, ele aproveita a possibilidade que tem
de alterar a sua nacionalidade para um ordenamento jurídico que lhe seria mais
favorável – francês. Seja de direito material, seja de direito conflitual, de facto deu
origem à aplicabilidade de um direito que reconhece que este casamento, reconhece
que tem capacidade para poder casa. Portanto temos dolo.

ELEMENTO OBJETIVO

Este tem 3 requisitos:


1. Primeiro requisito, tem de haver uma manobra defraudada.
Ou seja, alguém tem de alterar um elemento de facto ou de direito que depois
se vá subsumir no elemento de conexão da norma de conflito. Ele altera ou não uma
conexão? Sim, a nacionalidade. Temos uma manobra defraudatória.
Não basta que ele altere esta conexão. Ele altera a conexão nacionalidade, esta
tem de se subsumir numa determinada norma instrumento.

Qual é a norma instrumento?

46
Direito Internacional Privado – OT e P
A norma de conflitos.
Nesta norma de conflitos tem de acontecer que a conexão que ele manobrou
tem de se subsumir no elemento de conexão da norma de conflitos. Ele altera a
nacionalidade. O elemento de conexão da norma de conflitos, neste caso, é a norma
do artigo 41º - Logo o elemento de conexão é a lei da nacionalidade
O elemento de conexão é o elemento jurídico da conexão. A conexão é o
elemento de facto ou de direito que se vai ligar ao ordenamento jurídico.
Ele altera a conexão, e essa conexão é que esta no elemento de conexão. Ou
seja, é que faz a ligação entre a conexão e o OJ.

Portanto, ele altera a conexão nacionalidade, utiliza a norma de instrumento


que é o artigo 49º, cujo elemento de conexão é a lei da nacionalidade. Com a manobra
da conexão ele tem de apontar para o ordenamento jurídico angolano passa a apontar
para o ordenamento jurídico francês.
Imaginem que ele alterava a residência habitual, ele tem uma manobra, mas
não tem o instrumento porque a conexão que ele altera não é o elemento de conexão
da norma de conflitos.

2. Terceiro requisito: tem de haver uma norma defraudada.


Nós temos 2 normas diferentes, a norma de conflitos e a noma de direito
material.
A norma de instrumento é a norma de conflitos.

Qual?
Aquela que usamos para desencadear o esquema.

A norma defraudada qual é?

Era a lei material que aplicaríamos não houvesse manobra. Aquela que aplicam
com a manobra é a L1, a norma defraudada é aquela que aplicariam se não existisse
manobra.
Portanto, isto é, com a manobra defraudada, com a alteração da conexão
nacionalidade. Agora temos de fazer a mesma coisa, mas sem manobra e comparar. Se
chegarmos a uma lei material diferente de L1 dizemos “é esta que devia de ser
aplicada”, estamos a defraudar esta norma. Se chegarmos à mesma conclusão, ele fez
tudo, mas não serviu de nada.

Portanto, agora vamos fazer exatamente a mesma coisa como se estivesse


existido manobra. Se não tivesse existido manobra, naquele esquema que fizemos há
pouco, quando chamássemos a nacionalidade, qual seria a nacionalidade do sujeito
nesse caso? Angolana.
Logo, L1, artigo 49º/1, consideraria competente também a lei da nacionalidade,
mas agora sem a manobra qual era a lei da nacionalidade? Angolana.

O ordenamento jurídico angolano considera competente que lei?

A lei do lugar da situação do casamento, ordenamento jurídico francês.

47
Direito Internacional Privado – OT e P

E frança faria o que?

Consideraria competente a lei da residência habitual, devolvia-nos a


competência.

Agora o ordenamento jurídico angolano em matéria de reenvio faz o que? Devolução


simples e o francês?

Igual.

O OJ angolano aplicaria que lei?


Atenção: L2 considera competente L3, mas faz uma devolução simples,
portanto, a lei que aplica, referencia global para o L3 e referencia material para L1.
Se L3 considera competente L1 e faz uma referência material, aplica (…)

Agora Portugal faria o que?

Há reenvio, há harmonia e o reenvio é o meio necessário para atingir a


harmonia jurídica internacional.
É um reenvio por retorno à lei do foro, artigo 18º.
18º nº 1 não esta textualmente tipificado, mas no âmbito da ratio legis,
Portugal tanto aceita a devolução vinda pela lei da nacionalidade, tanto por retorno
direito como indireto a lei do foro.
Nos termos do nº 2, Portugal aceita a devolução da nacionalidade de 2/! se for
a lei da residência habitual ou se a li da residência habitual nos considerar
competentes.
Nós somos a lei da residência habitual então Portugal aplica (?), não ser que
agora o reenvio cessasse nos termos do artigo 19º.

Cessa ou não?

Portugal considera este negócio valido e eficaz e se aplicasse o direito angolano


o negócio não era valido. Portanto, não cessa o reenvio nos termos do artigo 19º. Se
assim é Portugal aceita o reenvio e aplica L1.
Temos os elementos subjetivo da fraude à lei, e dos elementos objetivos da
fraude a lei temos: manobra (ele altera o elemento de conexão e dá origem a 2
esquemas de (devolução dupla)), temos a norma instrumento, mas não temos norma
defraudada.

Com manobra ou sem manobra, chegamos a aplicabilidade da mesma lei.


Falta o 3º requisito não há fraude a lei.
O troque da fraude a lei é fazer os 2 esquemas.

O que normalmente acontece no caso prático é que, alguém decide fazer


alguma coisa, e de repente já há fraude à lei.

48
Direito Internacional Privado – OT e P
Aqui a questão é que sendo verdade que ele consegue manobrar o elemento
de conexão, a questão é que independente disso, como os estados podem aplicar leis
diferentes daquelas que eles consideram competentes, não significa necessariamente
que haja fraude só porque temos manobra do elemento de conexão.
Neste caso concreto está bem, mas por causa do jogo do reenvio e dos anti-
devolucionistas, não há fraude a lei. Porque não estão verificados um dos requisitos já
que eles são cumulativos. Se não há, ele é francês, portanto é esta que (?).

A fraude a lei está tipicamente pensada para proteger a lei do foro, quando a
norma defraudada seja L1. Não precisa de haver tecnicamente um reenvio, imaginem
que Bento é português e muda a nacionalidade para angolano e a questão é
exatamente o aposto a poder casar. Neste caso, já teriam exatamente uma fraude á
lei, nem sequer há aplicabilidade da lei estrangeira no caso concreto.

Quando há lei estrangeira no caso em concreto, tenham atenção. Nós, apesar


de termos verificados todos os elementos da fraude à lei, concluímos que há fraude,
mas não concluímos que há estatuição. Ou seja, só extraímos as consequências do
artigo 21º quando a norma defraudada é uma lei estrangeira, se nesse ordenamento
jurídico da norma defraudada também existir o instituto da fraude a lei. A não ser que
adotem a posição do professor Ferrer Correia, nada a opor, neste caso ele refere que
se aplica sempre o regime da fraude à lei, mas envolvia explicar a posição dele.

A posição dele é, a não ser que haja situações extremas em que a justiça no
caso concreto atue de uma forma mais (?), a regra é que só aplicamos a fraude à lei, ou
seja, desconsideramos isto para aplicar aquilo, se for um OJ estrangeiro, se esse OJ
estrangeiro se fosse a lei do foro, também tivesse um mecanismo para se proteger a si.
Senão o que estamos a fazer é dar mais garantias de aplicabilidade no
ordenamento jurídico estrangeiro porque o próprio daria a si mesmo em situações de
fraude à lei. Ou seja, se eles fossem a lei do foro e tivessem uma situação de fraude à
lei em que deixassem de aplicar no caso em concreto, mas não tivessem nenhum
mecanismo legal para evitar essa consequência, então nos também não lhes vamos
dar esse mesmo mecanismo porque eles próprios não querem fazer isso.

Nessas situações, a não ser que pode determinadas razoes de justiça


interponham que nós apliquemos a fraude à lei nesses casos, quando em causa está
um ordenamento jurídico estrangeiro, a condição da fraude à lei ter consequências
jurídicas: considerar irrelevante a manobra. Portanto, tudo se ratava como se não
houvesse manobra, dependo do OJ da norma defraudada e também do instituto da
fraude á lei.

23.10.2023 (OT)

Caso-prático 11:

Jorge, brasileiro e com RH em Espanha, adquiriu, em Amesterdão, a Charles,


inglês e residente em Albufeira, um imóvel situado em Atenas pelo preço de 250 mil
euros. Acontece que Jorge tem 18 anos e, nos termos do ordenamento jurídico

49
Direito Internacional Privado – OT e P
brasileiro, a plena capacidade de exercício para a aquisição de bens imóveis só se
adquire aos 21 anos.
A mesma solução é perfilhada pelo ordenamento jurídico grego. Nestes termos,
os pais de Jorge entendem que o negócio deve ser anulado e propõem nos tribunais
portugueses a respetiva ação.

Admitindo que os tribunais portugueses são competentes, considere que:

A) O ordenamento jurídico dos países baixos considera competente a lei do lugar


da situação do bem objeto do negócio e faz Devolução Dupla.
B) O ordenamento jurídico brasileiro, quanto a esta matéria considera
competente a lei do lugar onde o negócio foi celebrado e faz Devolução
Simples;
C) O ordenamento jurídico espanhol considera competente a nacionalidade do
interessado e faz referência material
D) O ordenamento jurídico inglês considera competente a lei do lugar onde a ação
foi proposta e faz devolução dupla.
E) O ordenamento jurídico português considera competente a lei do lugar da
situação do bem objeto do negócio e faz devolução simples

Resolução:

1- Questão controvertida: Capacidade de exercício de um dos outorgantes


- matéria de estatuto pessoal

2- Relação jurídica: Direito privado, temos de identificar os OJ com quem


esta RJ tem contacto.

3- Qualificação:
No que tange à qualificação temos de fazer isto no sentido de: na questão
controvertida no sentido de se esta pessoa tem ou não capacidade de exercício, sendo
esta a questão controvertida, naturalmente.
Não passando no processo de qualificação, o exercício subsequente está para
juntar aquilo que é o âmbito da questão controvertida. Ou seja, aquilo que nós
fazemos é, e a técnica de DIP, aproximar a questão controvertida ao máximo daquilo
que é ou que vai despoletar as normas de conflitos. Mas se ela, por exemplo, não
passar no exercício de qualificação podemos ampliar um bocadinho mais o nosso
âmbito de analise.

Nomeadamente, porque estamos numa questão em que a capacidade de


exercício é relacionada com a compra e venda, ter aqui uma questão obrigacional ou a
compra e venda de um imóvel que é também a questão real. Portanto, ver se depois
outras formas de conflito não conseguem ser chamadas para resolver esta questão.
Em particular, temos uma relação jurídica que é um contrato. E o contato de
compra e venda, no âmbito do qual esta questão se está a colocar.

50
Direito Internacional Privado – OT e P
Nesta questão em particular, quais são os elementos da relação jurídica que
contactam com os diversos ordenamentos jurídicos?

Objeito mediato: OJ Grego.


Facto: OJ Países Baixos.

Temos uma RJ relativamente internacional, temos contacto com o


ordenamento jurídico. Cumpre determinar a lei aplicável, sendo que no caso são os
tribunais competentes. Portanto, a lex fori é Portugal. No caso, a lex fori tem contacto
com a nossa relação jurídica, tem contacto com os elementos da relação jurídica,
portanto temos uma relação jurídica relativamente internacional.
Para esta questão controvertida, vamos usar o nosso sistema de resolução de
conflitos de leis: sistema conflitual de determinação das nossas normas de conflitos.

Neste caso a norma a aplicar é: a regra é do artigo 25º, a não ser que haja uma
norma especial que, neste caso, o artigo 47º que ?

O conceito quadro faz parte ou não da norma?


É literalmente a capacidade para constituir direitos reais sobre imoveis ou para
dispor deles, desde que essa lei assim determine.
Temos um afloramento claro sobre o âmbito da QC - o alargamento da norma.
Neste caso temos uma norma específica que basicamente aquilo que ela faz é a
mesma coisa que o artigo 17º/2 e 3 faz.
No 17º/2 o reenvio cessa por causa do princípio da maior ligação pessoal, L2, a
não ser que entre em conflito com o princípio da maior proximidade, onde estão em
causa direitos reais sobre imóveis, quando esta lei se considera aplicável, aí vigora o
princípio da maior proximidade, prevalece este princípio.
Aqui temos uma conexão que, tendo em consideração a questão controvertida,
ela é claramente de estatuto pessoal, mas para efeitos de garantia o princípio da maior
proximidade, que é aquilo que o 17º/3, porque em causa estão direitos reais sobre
imóveis, a própria conexão, é condicional.
Ou seja, entre a conexão claramente pessoal que é aquilo que aqui se coloca,
mas havendo um conflito eventual do princípio da maior proximidade, efetividade em
particular, prevalece este último, desde que esta lei se considere competente. Ou seja,
exatamente a mesma coisa que o 17º/3 diz que é este que a lex rei sitae que se
considere competente.

O que é que vamos ter de fazer com o artigo 47º?

O artigo 47º exceciona o artigo 25º com uma condição que é: No conflito entre
estatuto real ou estatuto pessoal, neste caso, prevalece o estatuto real, desde que a lei
do estatuto real se considera competente. Isto porque o princípio que está subjacente
é o princípio da maior efetividade.

A questão controvertida é claramente estatuto pessoal, mas por causa daquilo


que está subjacente ao princípio da maior efetividade no âmbito do princípio da maior
proximidade, coloca-se aqui o problema também de estatuto real. Que se

51
Direito Internacional Privado – OT e P
efetivamente ele entrar em conflito, vai prevalecer este em detrimento do outro. Tal
qual acontece com o 17º/3 relativamente ao 17º/2, ou seja, o 17º/3 volta a mandar
aplicar a lei do lugar da situação do bem imóvel em detrimento da lei da nacionalidade
que era aquela que resultaria do artigo 17º/2.

Portanto, neste caso concreto, temos de hipotisar a primeira situação que é:


que L1 vai considerar competente L2 como lex rei sitae, que é a primeira conexão - que
é a Grécia. Só que não pode haver reenvio.
Logo OJ grego, nos termos do artigo 47º, para ser aplicável o estatuo real tem
de estar efetivamente posto em causa o princípio da maior efetividade.

Quando é que ele está efetivamente posto em causa?

Se a lei grega se considerar competente para esta matéria.

Portanto, em matéria de capacidade para dispor de bens moveis, o OJ Grego


considera competente a lei do lugar da situação do bem e por isso considera-se
competente.

Neste caso não há reenvio, portanto artigo 16º do CC, Portugal vai considerar
competente L2. Aqui já não se aplicar o artigo 19º, porque este é para mandar cessar o
reenvio que neste caso não se verifica, portanto OJ grego.

Agora passaríamos por um processo de qualificação, no entanto não é isso que


nos interessa fazer hoje.
Vamos aplicar o OJ Grego.

Acaba por aqui o caso prático?

Em princípio sim.
Sem prejuízo do processo de qualificação, ao DIP não interessa saber qual é a
solução ou se a solução é (?) no OJ PT, só se a solução tiver uma diferença substancial
em termos de princípios, relativamente ao OJ PT, é que se pode limitar, de alguma
forma, os efeitos que ela terá ou que essa norma jurídica terá no OJ PT.

ATENÇÃO:
O que aconteceu aqui foi, desde logo, um problema entre o estatuto pessoal e
o estatuto real. Numa questão controvertida claramente de estatuto pessoal, entre um
conflito com o estatuto real prevaleceu.
Agora entra aqui um novo princípio com o qual esta solução vai conflituar. Na
realidade não é um princípio, mas sim um sub princípio – Princípio da proteção do
comercio jurídico local.

A proteção do comercio jurídico local está em 2 afloramento do CC, que aqui


tem suscetibilidade de ser aplicadas: Artigo 31º/2 e 28º do CC.

52
Direito Internacional Privado – OT e P
· Artigo 31º/2
Tem a ver com questões associadas ao estatuto pessoal. Neste caso concreto a
determinação da lei pessoal.
A nossa regra geral é artigo 31º, portanto a lei da nacionalidade, mas este
artigo 31º/2, aquilo que manda fazer é uma ponderação no que tange a matéria de
estatuto pessoal e a lei aplicável com a 2ª lei pessoal.
Ou seja, situações em que o negócio seja inválido, e estamos na secção do
estatuto pessoal, portanto claramente a validade relativa a matéria relativa aos
sujeitos nomeadamente a questão relativa à capacidade, e no artigo 31º/2 protege-se
o comercio jurídico local da segunda lei pessoal (segunda porque não foi aquela que foi
escolhida de entre os dois possíveis dentro do OJ da segunda lei pessoal).
Logo, se a lei da RH para a questão controvertida considerar o negócio valido,
Portugal reconhece esses efeitos, mas se é para proteger o comércio jurídico de um OJ
a condição é que o negócio tiver sido celebrado, desde logo como primeira condição,
no lugar da RH do sujeito. No artigo 31º/2 temos os 2 requisitos preenchidos
relativamente à proteção do comércio jurídico local são: A nacionalidade não
considera o negócio válido, mas a lei da RH que é a 2ª lei pessoal daquela relação
considera o negócio jurídico válido.
Nota, como estamos na proteção do comercio jurídico local, é para proteger
aquilo que é o princípio da confiança das relações jurídicas do estado da RH.
Ora, neste caso concreto o OJ da RH é a Espanha.

Qual é o OJ onde o negócio foi celebrado?

OJ dos Países Baixos, em Amsterdão. Portanto, o artigo 31º/2 não conseguíamos


usar

· Artigo 28º
Este, atualmente tem pouca expressão prática no OJ PT, porque em matéria de
NJ, não de caráter pessoal, mas outros NJ com natureza pessoal estão fora, mas os NJ
que estão tratados no regulamento de Roma 1, que não trata da matéria de
capacidade, portanto para determinar se alguém é capaz ou não para celebrar
determinados NJ está fora do âmbito do Roma 1, portanto quanto a essa questão em
particular temos de ir ao CC, mas se for no âmbito de regulamentos, e for necessário
aplicar o principio do aproveitamento do comercio jurídico local, o regulamento não
trata da questão de capacidade, portanto temos que ir ao CC, mas já trata das
questões de qualquer contrato decorrente da necessidade da proteção do comércio
jurídico local.
Ou seja, o regulamento aquilo que utiliza é, a capacidade está excluída do
regulamento, mas não está no artigo 28º a matéria relativa ao aproveitamento dos
negócios jurídicos no âmbito da proteção do comercio jurídico local.
Portanto o exercício que se faz é determinar se alguém está fora ou não vamos
para o CC, mas depois se precisarmos de aplicar o princípio da proteção do comercio
jurídico local o regulamento de Roma 1 já se considera competente para avaliar essa
questão.

53
Direito Internacional Privado – OT e P
Portanto, a questão da capacidade é no CC, mas depois se precisarmos de
aplicar o artigo 28º já não aplicamos este e vamos novamente ao regulamento de
Roma 1 porque para isso ele já se considera competente.
Portanto, a expressão efetiva, a expressão prática, associada ao artigo 28 é
particularmente reduzida e se olharmos sobretudo para o artigo 28º/2 vamos que este
não se aplica, sobretudo, a contratos de natureza pessoal.

Portanto, o que é que sobra para o artigo 28º?

Aquilo que são os contratos que estão no Regulamento Roma 1.


Portanto, isto significa que o artigo 28º tem pouca expressão no ordenamento
jurídico português relativamente à questão das suas obrigações e dos negócios
jurídicos obrigacionais relativamente aos quais ele se aplica.
Resta-nos agora o artigo 28º.

O artigo 28º refere que o negócio jurídico celebrado em Portugal, por pessoa
que seja incapaz, segundo a lei pessoal, não pode ser anulado com fundamento na
incapacidade no caso de a lei interna portuguesa, se fosse aplicável, considerar essa
pessoa como capaz.
Não é claramente o que nós temos aqui.

O artigo 28º tem como seguintes requisitos:


1. Um requisito negativo – Número 2.

Que tem 2 afloramentos:


· Se tiverem um contrato ou m negócio jurídico unilateral que está no
número 2, o NJ unilateral pertencer ao domínio do direito da família ou das
sucessões, ou respeitar a disposição de imóveis situados no
estrangeiro. à Aqui não se aplica e também não se aplica como requisito
negativo, quando não está em causa o princípio da confiança que é aquilo que
está subjacente ao princípio da comercio jurídico local.

Se o princípio da proteção do comercio jurídico local é subjacente a confiança


nas relações jurídicas, ou seja, a confiança que cada um dos sujeitos tem que em
determinado OJ razoavelmente conta a que alguém tenha de ter determinadas
características para ter capacidade de exercício. Se for surpreendido com a
nacionalidade de outro sujeito e deixa de ter, põe em causa esse princípio da
confiança.

Isto significa que não pode estar verificado uma situação que esse princípio da
confiança não está posto em causa, ou seja, quando a contraparte sabia da
incapacidade.

Este era o requisito número 1 do afloramento.

2. Requisitos positivos:

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Direito Internacional Privado – OT e P
O negócio tem de ser celebrado em Portugal. Portanto, o comercio jurídico que
se quer proteger é o português, no âmbito daquilo que são as relações jurídicas de
confiança entre as partes.
Agora de 2 opções: A lex fori que é Portugal considerava aquela pessoa como
capaz, mas a lei da nacionalidade considera-o como incapaz.
No caso concreto, claramente não é porque não estamos a proteger o comercio
jurídico local português porque o negócio foi celebrado noutro sítio.

Atenção: No número 3 do artigo 28º. Este refere que se o negócio for celebrado
noutro local. Ou seja, se tivermos de proteger o comércio jurídico local de um país
estrageiro, desde que estejam verificados os requisitos do número 1 e não estejam
verificados os requisitos do número 2, nós aplicamos a mesma sanção. Naturalmente
que tem de se ler o número 1 adaptado ao facto de o comercio jurídico local
português.

Nesse caso concreto o número 1 tem de ser lido como?

O negócio jurídico foi celebrado num país estrangeiro, já não é Portugal neste
caso. De acordo com a lei desse país, o negócio seria válido porque a pessoa era
considerada capaz, apesar de não o ser, de acordo com a lei da nacionalidade.

Há um outro requisito para alem daqueles que estão no número 1 e no número


2, que é o requisito que não está expressamente previsto no 28º/3, mas que é um
requisito que a doutrina comummente entende que tem de ser verificado, que é desde
que esse país, (aquele que nós estamos a proteger o seu comércio jurídico local) em
igualdade de circunstâncias, também protegesse o nosso – Princípio da Reciprocidade.

HIPOTESE:
Imaginando que no caso era de aplicar este artigo 28º. Teríamos de ir para o
artigo 28º e claramente o negócio não foi celebrado em Portugal, portanto não
poderíamos aplicar o número 1 e o número 2, no limite aplicaríamos o número 1 e 2
por remissão do número 3.
Admitimos que se aplicam os requisitos do número 1 e número 2 e não estão
verificados nenhuma das situações ou dos requisitos negativos do número 2. Apesar
disso nos só aplicaríamos a sanção do número 1 se os países Baixos, que é o comercio
jurídico local que estaríamos a proteger no caso concreto, em igualdade de
circunstâncias (não concluiu)
Ou seja, se os países baixos fossem a lei do foro, o negócio fosse celebrado em
Portugal, válido em Portugal, ainda que inválido de acordo com a lei da nacionalidade,
eles não regulavam por isso – Princípio da reciprocidade.

ARTIGO 28º VS ARTIGO 21º


Não confundam o princípio da reciprocidade que eu entendo que deve de estar
no número 3 do artigo 28º, com o artigo 21º do CC. O artigo 21º tem a frauda à lei em
que, a conclusão é que o país da lex fori não é aquela em que a lei material está a ser
defraudada quando a lei defraudada também prevê o instituto da fraude á lei, mas

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Direito Internacional Privado – OT e P
notem não é em prol do princípio da reciprocidade. Nós não estamos na fraude à lei a
exigir que esse OJ, em igualdade de circunstâncias, também protegesse a nossa lei
material do instituto da fraude à lei. Aquilo que nós temos no artigo 21º, quanto à
exigibilidade de eles utilizarem o instituto de fraude à lei, é que eles a usariam para se
proteger a si.
A ideia do artigo 21º é que nos não vamos aplicar um regime de proteção a
uma lei estrangeira superior à que eles teriam para si. Enquanto no artigo 28º/3 aquilo
que nós queremos é que eles tenham para connosco aquilo que nós teríamos para
com eles, que é a proteção do comércio jurídico local estrangeiro. Portanto, a
reciprocidade só se verifica no artigo 28º/3.

CONTINUAÇÃO DA RESOLUÇÃO DO CASO PRÁTICO


Então, a ter alguma coisa, teríamos uma situação do artigo 28º. Este artigo,
através do número 3, ou seja, a possibilidade de proteger o comercio jurídico local do
lugar onde o negócio foi celebrado, ou seja, do OJ dos Países Baixos.

Verificação dos requisitos:


1. Requisito negativo: Não pode ser uma das situações que estão previstas no
28º/2.
O princípio da maior proximidade a prevalecer, neste caso, sobre o princípio da
proteção do comercio jurídico local. Ou seja, não é de aplicar o princípio da proteção
do comercio jurídico local quando se trate de bens imóveis que se situam fora do lugar
do comercio jurídico local.
Isto significa que só (desbloquearíamos) o artigo 28º/2 se o imóvel se situasse
nos países baixos. Estamos a vir do número 3. Se aplicarmos que o comercio jurídico
local é o número 1 e do número 2, significa que nos termos do artigo 28º/2, o imóvel
tem de se situar fora de Portugal. Quando vimos pelo número 3 ele não tem de se
situar fora de Portugal, ele tem de se situar fora dos países baixos, no caso concreto.
Portanto, o local relativo às localizações do 28º/1 e 2 diz respeito ao OJ do
comercio jurídico local que estamos a proteger. Ou seja, o imóvel tem de estar fora do
OJ que está sob a tutela do artigo 28º.

Qual é o OJ que está sobre a tutela do artigo 28º?

OJ holandês, dos Países Baixos.


Nesse caso, não se aplica o artigo 28º

Se se verificasse a aplicabilidade do artigo 28º, a consequência era de que caso


o OJ dos países baixos considerasse a pessoa como capaz – estatuto verificado – o que
faríamos era de que o negócio jurídico não se podia anular. Ou seja, continuava-se a
aplicar a lei que o considera incapaz – EXCESSÃO PERENTORIA IMPEDITIVA.

Ou seja, o tribunal não pode conhecer da incapacidade para anular o negócio


jurídico. Nem em conhecimento oficioso nem em conhecimento (?), apesar de
continuar a aplicar exatamente a mesma lei estrageira no caso em concreto.

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Direito Internacional Privado – OT e P
No artigo 13º do regulamento de Roma 1 a questão é particularmente mais
simples, ela tem exatamente os mesmos requisitos, mas não tem princípio da
reciprocidade. Ele é muito mais fácil de identificar indistintamente, no âmbito do Roma
1 e 2. Aqui tem de fazer esta missão.
Não se esqueçam do requisito que falta no 28º/3 para desbloquear a
consequência jurídica do número 1 quando o comercio jurídico local for um OJ
estrangeiro.

24.10.2023 (OT)

CASO PRÁTICO
Antónia, portuguesa, residente na Grécia, casou no Chipre com Marco Polo, cipriota
com residência na Grécia. Depois de casarem vieram viver para Portugal e coloca-se,
aqui, a questão sobre a validade deste casamento que foi celebrado de acordo com o
ritual ortodoxo, estando ambos representados pelos respetivos progenitores.

Nos termos da lei grega o casamento é válido e eficaz.


O OJ cipriota tem solução idêntica à portuguesa.
a) Em matéria de validade substancial a lei grega considera competente a primeira
residência habitual conjugal e faz RM;

b) Em matéria de validade formal o OJ grego considera competente a lei do lugar


onde o casamento foi celebrado;

c) O OJ cipriota, quer em matéria de validade substancial, que quando à validade


formal, considera competente a lei da RH de cada um dos nubentes e faz DS.

RESOLUÇÃO:

1 – Questão controvertida: Validade do casamento.


2 – Relação jurídica internacional
Sujeitos: Antónia – Nacionalidade: OJ PORTUGUAL
RH: OJ Grécia e RH: OJ Portugal
Marco Polo – Nacionalidade: OJ Cipriota
RH: OJ Grego e RH: OJ Portugal
Facto jurídico: OJ Cipriota

Temos uma RJ privada, é a questão relativa à validade do casamento,


internacional. A questão coloca-se em Portugal, L1 é a lex fori e é Portugal. Sendo que
o OJ PT também é um dos que tem contacto com a RJ, então essa RJ é relativamente
internacional.
Agora vamos resolver a questão de direito internacional privado de acordo com
as nossas normas de conflitos, estamos dentro de uma questão de estatuto pessoal,
uma RJ privada internacional, são as nossas normas de conflitos.

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Direito Internacional Privado – OT e P
Coloca-se o problema da validade, no entanto no caso pratico menciona
algumas informações.
Não entrando na questão da questão da qualificação, mas se se recordarem da
aula teórica é importante conseguirmos (mudou o diálogo) a grande preocupação da
tese originária do professor Ferrer Correia, no âmbito da interpretação dos conceitos
quadro, era nós, enquanto juristas do foro, desprendermos ao máximo daquilo que
são os nossos institutos de direito e da forma como nós enquadramos a questão. Sob
pena de limitamos o âmbito não só da escolha da norma de conflitos, mas também dos
conceitos quadro das nossas normas de conflitos. A tal ideia que vem da interpretação
do conceito quadro ser feito de forma autónoma, ou seja, longe da nossa perspetiva
relativamente à questão controvertida e de acordo com lex formalis fori.
Independentemente da forma como nos enquadramos e que efeitos e que solução é
que efeitos de subsunção é que se tem.
Naturalmente, não obstante, temos de conseguir escolher uma norma de
conflitos numa situação em que tem vários ordenamentos em contacto, se aquela é
uma norma jurídica de caracter privado.
Aquela expressão da técnica do professor Batista Machado de ida e volta,
aquilo que determina é que naturalmente nos temos de nos afastar o máximo possível
daquilo que são as nossas soluções de direito material, quer na escolha das normas de
conflitos, quer na determinação do conceito quadro, mas primeiro temos de conseguir
desbloquear o assunto. Porque se nós tivermos um quadro jurídico de referência então
olhamos para as normas de conflitos e não conseguirmos escolher uma porque não
conseguimos partir do início do raciocínio.
Por outro lado, esta interpretação, ainda que seja daquele exercício teleológico,
ou seja, interessa-nos pouco saber a solução e o enquadramento. Interessa-nos saber
a ratio legis da norma, o elemento teleológico da norma, porque é que o legislador
quis, quais os interesses que ele quis salvaguardar, quais formam as finalidades que ele
quis prosseguir. Ela tem de ter o mínimo de coerência com a letra da lei, sob pena de
não estar nas normas de interpretação. Portanto, o exercício construtivo.
Aquilo que este exercício, depois mais tarde vão ver como é que na qualificação
impera, é que muitas vezes vamos ter de partir da nossa própria referencias do OJ.

A grande questão é que nós temos de partir delas o fazer porque


necessariamente temos de fazer por estas 2 ordens, porque temos de manter o
mínimo de coerência da lei. Aquilo que o exercício impera é que nós não fiquemos
atados com as nossas próprias referencias de direito material, é aquela tal ideia do
exercício de ida e volta. Ou seja, nós às vezes vamos, com uma determinada perspetiva
relativamente à questão controvertida, encontramos um OJ, fazemos as normas de
direito material, depois ela não passa no processo de qualificação e dizemos logo que
o legislador estrangeiro, nomeadamente, tem ou visa uma coisa diferente. Ou seja, o
enquadramento jurídico da questão jurídica não passa no processo de qualificação, o
que fizemos então tem de ser começado de novo. Voltamos ao início, mas nós não
podemos começar com as nossas próprias referencias, começamos por exemplo com a
forma como o legislador estrangeiro interpretou aquela questão e trazemos para nós
uma forma de olhar para ela que eventualmente tem umas vezes diferentes que
eventualmente permite selecionar uma nova norma de conflitos.

58
Direito Internacional Privado – OT e P
Isto é importante porque nesta questão em particular, a pergunta refere-se à
validade do casamento, só que a validade do casamento, enquanto tal, está dispersa
por pelo menos 3 normas de conflitos, mesmo olhando para a questão em Portugal. E
a professora já só está a considerar o princípio da especialidade dos artigos 49º e ?.

A validade do NJ pode ter sempre 2 acessões: (não se percebe)


A nossa questão controvertida está, para já, enquanto o que nós temos (?), mas
se olharem para lá, a questão controvertida é claramente uma: (falou com as raparigas
da frente).
Os únicos (?) para a cessão publica dos efeitos do contrato de casamento são os
sacerdotes/padres ou (impercetível).

De acordo com a concordata em Portugal e a santa Sé, reconheceu-se a estes


sacerdotes da Igreja Católica Apostólica Romana fé publica, porque eles fazem
exatamente o que o conservador do registo civil faz, desde que estejam cumpridos
uma serie de requisitos com as declarações negociais de que nos fazem perante
aquelas pessoas vale para a produção de efeitos jurídicos, para alem das questões
canónicas que lhe estão associadas.
Portanto, nós não temos um ritual ortodoxo, é verdade, mas temos uma outra
questão que ainda seria virtualmente mais evidente, não se pode casar por
representação em Portugal.
Por representação é preciso dar atenção à diferença, pois pode-se colocar um
problema. Se alguém nos representar neste efeito significa que temos de ter
outorgado uma procuração, significa que para haver procuração no NJ isso implica que
alguém tenha de ter capacidade. Que a questão em si não é essa. Em Portugal podem
casar por procuração, mas não podem é estar os 2 a ser representados.

Qual é o problema neste caso concreto que efetivamente ali está?

É o problema da forma do casamento – Validade formal.


A nossa questão controvertida está, (não terminou) porque notem, não estou a
dizer que não, a questão controvertida pode ser a validade do casamento, precisamos
de saber se a lei é formal e substancialmente válida.
Aqui a questão que se coloca é, coloca-se o problema da validade porque eles
primeiro recorreram a um ritual religioso que não existe em Portugal. Portanto, o
procedimento usado da pessoa a quem é conhecida aquela (?) não é reconhecida, é a
questão do caso em que estão os 2 representados. Efetivamente é possível, mas só 1
pode estar representado.

Portanto, validade neste caso é a validade formal – Questão controvertida.


Nós partimos da norma. No entanto aquilo que às vezes acontece é que, nós
temos de partir da nossa referência, não podemos é limitar-nos a ela.
A questão não se coloca ali porque tem as 2 questões e diz nos claramente
como a questão está resolvida, mas aquilo que poderia acontecer é que: imaginem
num caso prático que a questão, ou seja, que o OJ aplicável no caso concreto a
questão relativa ao casamento por procuração, é uma questão de validade substancial.
Quando trazemos essa interpretação do OJ estrangeiro, tentamos fazer um processo

59
Direito Internacional Privado – OT e P
de qualificação que não se subsume. Porque os interesses a salvaguardar nas questões
de validade substancial são diferentes da validade formal. A validade formal está
associada a questões de interesse publico, à garantia, à segurança jurídica, enquanto o
outro tem claramente uma conotação privada, individual, exclusiva. (?) de interesse
privado a normas imperativas, elas claramente têm associado questões de interesse
publico para aquele negócio jurídico. Portanto não passa no processo de qualificação
da normal.

Naquela tal ideia de ida e volta, nós referimos que partimos da nossa
referência, mas porque nos temos de ter uma interpretação de acordo com a lex
formalis fori, não podemos estar limitados à nossa própria interpretação, mas há
nestes OJ todos, uma interpretação diferente que nós trouxemos ainda que fosse, mas
para desconsiderar no processo da qualificação, a dizer que há aqui um OJ que
interpreta essa questão, que de acordo com esse OJ ela é de validade substancial. Isso
permite-nos escolher outro elemento de conexão de outra norma de conflitos e voltar
a tentar passar no processo de qualificação. É aquela ideia da “ida e volta” e “leva e
traz” que permite que nós tenhamos uma perspetiva que estamos a analisar os
conceitos de uma forma autónoma, desprendidos do nosso ordenamento jurídico.
Ou seja, a interpretação conforme nós a fazemos, é de acordo com as
referências à lex fori. Nada nos impede de fazer a outra interpretação, mesmo para
escolher a norma de conflitos, de acordo com a lei estrangeira. E que nós queremos é
exemplo, era a possibilidade de usar o artigo 49º se em causa estivesse a validade
substancial do casamento.

Não é o caso logo, portanto, nesta situação a nossa questão contrapartida é de


validade formal queremos saber se o ritual ortodoxo no qual duas pessoas se podem
casar por procuração cumpre ou não os requisitos de validade formal. Não há nenhum
problema relativo à validade substancial.
Portanto, a norma de conflitos é, agora (deixou em aberto).
Agora, se é assim, então relativo à vontade do casamento, tem o artigo 49º, 50º
e 51º. Se a questão da validade se coloca entre a validade formal e a validade
substancial, significa que todas as questões relativas à vontade extrínseca, ou seja,
tudo aquilo que é para lá da vontade das partes, são questões de validade formal, está
no artigo 50º e eventualmente nas exceções do artigo 51º.

Significa o quê?

Que se agora olharmos para o artigo 49º, ele tem que o conceito quadro a
capacidade para contrair casamento ou celebrar convenções antenupciais, então
significa que se os artigos 50º e 51º tem tudo aquilo que extenso à vontade dos
nubentes, logo o artigo 49º tem de ter tudo aquilo que intrínseco à vontade.
Por isso, mesmo o artigo 49º tem um conceito quadro muito pequeno. Se este
artigo é tratar todas as questões relativas à validade substancial, ou seja, tudo aquilo
que diz respeito à vontade intrínseca das partes a capacidade é só uma delas.
Por isso se a Antónia tivesse sido coagida a casar, isso é um problema de
validade substancial do casamento. E se olharem para o artigo 49º, ele refere
capacidade substancial, não fala em mais nada. Claramente que não há um problema

60
Direito Internacional Privado – OT e P
formal porque estava lá alguém, sem problema nenhum, cumpre os requisitos todos,
aquelas coisas todas, não teríamos norma de conflitos.
Quando começamos a interpretar, temos de começar a perceber o que é que o
legislador quis relativamente à norma. Olhando para nós mesmo em relação ao artigo
49º, ele tem um conceito quadro que é demasiado restritivo. Não considerou as
restrições associadas aos vícios da vontade quando em causa está um contrato de
casamento, que aqui claramente também está em causa o artigo 49º.

Neste caso prático é o 50º. Isto porque o ritual religioso no caso concreto e o
facto de ambos estarem representados, implica questões de forma e não questões de
substância. Não há nenhuma duvida quanto à capacidade ou à vontade daquelas
pessoas que casaram, questão é a forma como essa vontade foi exteriorizada e por
isso é um problema de forma não problema de substância, ou seja, o problema do
artigo 50º do CC.
O artigo 50º tem como conexão, agora notem, vêm aqui a diferença das
conexões entre 49º e o 50º. Enquanto no artigo 49º, porque são questões ligadas à
pessoa, maior ligação individual a conexão é necessária, não é de estatuto pessoal –
Nacionalidade.
Enquanto o artigo 50º, a conexão está mais ligada ao facto - maior
proximidade. O segundo princípio que entrar em conflito.

Porquê?

Não é tal e qual como nos outros, mas porque em circunstâncias de direito
privado, tudo o que não está proibido é permitido. Por tudo o que está proibido, ou há
regras imperativas relativamente a isso, têm de ter subjacente razões de interesse
Público. A forma do contrato de casamento, a forma do contrato de CV quando temos
imóveis e por aí fora. Ou seja, são questões de interesse público.
Logo, isto significa que aquilo que está subjacente ao artigo 50º é a mesma
coisa que está subjacente no resto do código civil, quando há norma imperativas
associadas à forma, ou seja, interesse Público. Ligadas ao lugar e não ligadas à pessoa –
Princípio da maior proximidade.
Portanto, temos aqui claramente um conflito agora entre a maior ligação
individual e a maior proximidade e prevaleceu a maior proximidade, neste caso
concreto. Que diz que é a conexão, ou seja, quando diz que é a forma de casamento, o
que tem aqui é que todos os requisitos exteriores à vontade dos nubentes são
revelados pelo artigo 50º. O conceito quadro tornar-se-á (?).

“É a lei do lugar onde o casamento foi celebrado, sem prejuízo do artigo 51º”.
Tem aqui algumas salvaguardas.

Estamos perante alguma situação do artigo 51º?

Aqui claramente que o artigo 51º está a perseguir questões de validade do


casamento.
No nº1 - Não é o caso.
No nº2 – Também não é o caso.

61
Direito Internacional Privado – OT e P
De um estrangeiro, mas com 1 PT – É o caso.
Pode ser celebrado (… artigo) recurso católico – Também não é o caso.

Ressalvado está ainda o número 4, que é a adaptação das regras canónicas que
apesar de tudo não fazem parte entre a concordata entre Portugal e a Santa Sé. (Lê o
nº4.)
Nº4 – Porque Portugal e a santa Sé negociaram os termos da celebração do
casamento católico em Portugal, que pode ser diferente. Nos termos da concordata,
também, Portugal reconhece todas as formas do casamento porque
independentemente da forma como o Vaticano anunciou com os estados. Não se
aplica o caso na situação em concreto, ele não foi no culto da igreja católica apostólica
romana, mas sim de acordo com o ritual ortodoxo grego.

Portanto, não se aplicando nenhum dos desvios do artigo 51, aplicamos a regra
do artigo 50º. Portanto, a lei do lugar onde o ato foi celebrado, portanto, maior
proximidade – OJ Chipre.

O chipre faz o que?

Tem ali 2 questões, a validade formal e substancial. Já vimos que a substancial


não nos interessa, porque nosso problema é de validade formal.

Em matéria de validade formal o OJ Cipriota, considera competente a RH de


cada um dos nubentes.

Ou seja, se a lei RH cada um dos nubentes, qual é a residência habitual?

“À data do casamento”, não se esqueçam de cada um dos nubentes, eles são


nubentes quando vai casar. Ou seja, o OJ cipriota considera competente o OJ grego.
Aqui é igual, mas se fossem diferentes era preciso fazer um esquema de
reenvio para cada um. Depois, só se os 2 OJ eleitos, sejam eles qual forem,
considerarem este casamento formalmente válido é que o casamento é formalmente
válido.
ATENÇÃO: Conexões.

O Chipre considera competente a lei da RH dos nubentes no momento do


casamento. Neste momento eles viviam na Grécia.
O OJ grego, em matéria de dualidade formal considera competente a lei do
lugar onde o casamento foi celebrado. Ou seja, devolve a competência ao Chipre.
O chipre faz devolução simples e o grego faz Referência material.

Qual é a lei aplicável no caso em concreto?

O Chipre considera competente o OJ Grego, mas faz DS, ou seja, considera-se


indiretamente competente.
L3 considera competente L2 e faz-lhe uma RM, portanto L3 aplicaria L2.

62
Direito Internacional Privado – OT e P

Portanto, temos reenvio, porque L2 não se considera competente, temos HJI,


pois todos querem aplicar L2. O reenvio é meio necessário para atingir a HJI.

Qual era a lei que Portugal aplicaria se usar a sua posição regra do artigo 16º?

L2, não era preciso reenvio para atingir a HJI.

Portanto, neste caso não há reenvio. Portugal vai adotar a regra do artigo 16º
que é faz uma referência material ao OJ do Chipre, ou seja, L2.

EVENTUAL PROBLEMA:
Aqui temos mais ou menos, mas fazemos o processo de qualificação, mas
também não interessa.
A questão que se coloca aqui agora é porque o OJ Cipriota, se tem uma solução
jurídica idêntica à portuguesa, não vai reconhecer o casamento. Primeiro e tudo
porque foi de acordo com um ritual ortodoxo e depois mesmo que reconhecesse, o
casamento nunca seria válido porque os dois estão representados e Portugal só aceita
se um deles estiver representado.
Portanto, temos aqui o conflito com o princípio do favor negotti.

Como é que se manifesta a tutela deste princípio?


Coloca se a questão do artigo 19º/1 ou não? Não porque este aplicar-se-ia se
houvesse reenvio e nós cessamos o reenvio. Aplicamos o artigo 16º, portanto não
houve reenvio.
Depois artigo 31º/2, ou seja, tentar aplicar uma outra lei pessoal. Aqui neste
caso não conseguimos, porque a questão não é de estatuto pessoal.
Artigo 28º também não se aplica, não é um problema de validade substancial do
negócio, ainda que depois apareça um problema relativo com (estas?), não é um
problema de validade substancial, mas sim de validade formal, o que significa que (?).
O artigo 28º o que faz é o conflito do favor negotti com o princípio da maior
ligação individual.

Neste caso concreto aplicamos o OJ Cipriota

30.10.2023 (P)

CASO PRÁTICO 13
Hans e Franz, de nacionalidade alemã, residentes em Atenas, venderam ao seu filho
Gustav, também de nacionalidade alemã, uma quinta de que são proprietários em
Vieira do Minho, Portugal.

Danielle, outra filha do casal, também alemã, pretende anular a venda com
fundamento no preceituado no artigo 877º do CC português e , para o efeito, propõe a
ação respetiva nos tribunais portugueses.

63
Direito Internacional Privado – OT e P
Considere que:

a) O DIP alemão manda aplicar às relações entre pais e filhos a lei da RH comum dos
pais e não aceita o retorno.

b) O DIP grego é anti-devolucionista e, para a mesma matéria, considera competente


a lei da nacionalidade comum dos progenitores,

c) O ordenamento jurídico alemão existe um preceito similar ao artigo 877º, mas o


mesmo não acontece com o grego.

Quid iuris?

RESOLUÇÃO:

1. Questão controvertida: Validade do contrato de CV – Validade do negócio jurídico.


2. Relação jurídica internacional de direito privado:
a. Sujeitos:
i. Vendedores:Nacionalidade – OJ Alemão;
RH - OJ grego.
ii. Compradores:Nacionalidade: OJ alemão;
RH: (não tem).
b. Objeto mediato: OJ português
c. Facto – Não tem

Temos uma relação jurídica de direito privado, internacional. A ação esta


pendente nos tribunais PT, portanto Portugal é a lex fori e, para além disso, o OJ PT
tem contacto com a RJ privada internacional e, portanto, é relativamente
internacional.

Tendo em mente a questão controvertida - norma de conflitos, temos aqui um


problema do artigo 46º. Sendo que um dos efeitos deste contrato é a transmissão do
direito real, não nos chocaria a aplicabilidade do artigo 46º.

Nos termos deste artigo, Portugal considera-se competente para resolver esta
questão. Não há problemas de reenvio, nem de nada, neste caso concreto.

Temos de ir para o processo da qualificação. Nos termos do artigo 15º o objeito


é ligar a interpretação teleológico-funcional do conceito quadro do artigo 46º,
interpretar as normas de direito material que resolvem aquela questão, e depois fazer
o exercício de subsunção, do QUID que neste caso era português. Terá de se subsumir
no conceito quadro do 46º e só assim acontecer, com o processo de qualificação feita
é que vamos ter oportunidade de instituir no caso.
Portanto, a primeira coisa a sere feita no processo de qualificação é identificar
e interpretar o conceito quadro do artigo 46º.

Qual é o conceito quadro do artigo 46º?

64
Direito Internacional Privado – OT e P

Posse, propriedade e demais direitos reais.


A posse não é um direito real, portanto a epigrafe é muito limitada.

Temos então o conceito quadro do artigo 46º, temos de fazer uma


interpretação deste artigo de acordo com a teoria do Ferrer correia. Temos de
encontrar a ratio legis do artigo recorrendo a uma interpretação teleológica funcional
do mesmo. Aqui a questão é de somenos quanto a esta interpretação, porque o nosso
Quid a ser aplicado é de direito português e naturalmente os conceitos e regimes que
estão no conceito quadro são exatamente os mesmos que estão no direito português.
Portanto, não é necessária grande interpretação.
Não obstante, o que o artigo 46º numa interpretação teleológico-funcional, ou
seja, de acordo com o espírito da norma, aquela ideia de que dá uma elasticidade
muito grande que é tratar de todos os direitos que impliquem características para os
direitos reais porque eles podem ter outro (título), mas aquilo que é característico é
que tem os poderes de usar, fruir e dispor, sobre uma coisa, sendo que é um objeto
mediato ou corpóreo. Para além disso, todos os atos sobre uma coisa que impliquem
um corpus e um animus, que para nós é igual.
O que é característica para o poder dos reis, principalmente ter outro nome,
outros podem ter outro. Mas aquilo que é característica tem NOS poderes usar. Estou
indo for. Sobre uma coisa. Você encontra um objeto mediato, coisas aqui fora. E para
além disso. Tem de implicar um corpus e um animus, que para nos é igual. A detenção,
por exemplo, só tem o corpus, não tem o animus, está no artigo 46º.
A forma como eles são classificados entre os OJ, o tipo de regime que tem
dentro dos OJ, temos de encontrar o direito que tem estas características ou a
combinação de alguma delas sobre uma cosia, ou então um ato material, que não
sendo jurídico, implique a detenção da coisa e a vontade de o fazer segundo o corpus e
animus da posse. Tem de ter estes 3 poderes conjuntos ou combinados. Só o direito de
propriedade enquanto tal é que os combina os 3.
Isto significa que, abrimos o âmbito de conceito quadro a mais que direitos
reais ou posse, tudo aquilo que os outros legisladores chamem/regulem, mas que
impliquem esta configuração. Tem de ter o mínimo de consistência, senão a
interpretação não é aplicável.
Por isso o legislador aqui quis tratar dos direitos que versam sore a coisa, ou
seja, o princípio da maior proximidade.

Temos a interpretação do conceito quadro, temos de ir buscar as normas de


direito material PT que resolvem a questão controvertida. Nos termos do artigo 15º,
OJ PT chamado desta forma através do processo conflitual não está todo em aberto, só
tem, tal qual como o direito material estrangeiro, as normas que são aptas para
resolver aquela questão. Ou seja, tipicamente no nosso caso o artigo 877º do CC.

Vamos interpretar este artigo 877º do CC como sendo uma norma de direito
material PT, então vamos interpreta com o jurista que somos do foro, também de uma
interpretação teleológica e tentar perceber o que o legislador PT teve em mente nos
termos do artigo 877º do CC.

65
Direito Internacional Privado – OT e P
O que é que o legislador quis? Quis atingir que objeto/finalidade? Qual é a ratio
legis?

Quis tratar de questões sucessórias.


Ou seja, matéria de estatuto pessoal, ainda que verse sobre coisas
transmissíveis pela morte. Logo o valor princípio que aqui esta subjacente - maior
ligação individual.
É indiferente saber a questão relativa ao objeto, o que interessa são as
características dos sujeitos.

Temos a interpretação do QUID/conceito quadro, o legislador PT no conceito


quadro do artigo 877º e 46º do CC quis proteger os mesmos interesses e objetivos?
Não, o 877º resolvia a questão chamado pelo 46º do CC, não passa o processo de
qualificação, por isso começamos do 0.

L1 é PT e é a lei do foro. Ou de 2/1, ou encontramos outra norma de conflitos


que possa resolver esta questão, da própria interpretação do direito material PT temos
uma nova interpretação para esta questão controvertida, sendo esta a validade do
contrato de CV, aqui a questão não é essa. Só que não é a típica validade das questões
de direitos reais ou das obrigações, mas sim a categoria especifica dos sujeitos desta
RJ.
Um 3º típico desta RJ é o facto de existirem irmãos, relativamente ao
comprador. Logo o problema do 877º é que outros filhos não terem dado
consentimento para a venda.
Naquela ideia e naquele processo do ordenamento jurídico de direito material
e recolher a interpretarão que é dada pela solução de direito material, se
eventualmente ela nos pode dar agora uma interpretação que nos leve a encontrar o
outro conceito quadro.

Tendo em consideração aquilo que resulta da interpretação do artigo 877º


encontramos ou não outra norma de conflitos?

A norma de conflitos será a do artigo 57º.


A informação que retiramos do artigo 877º o problema da questão
controvertida é o facto de entre os sujeitos existir uma relação de filiação, neste caso
no primeiro grau em linha reta. Ou seja, a típica existência das relações ?, portanto o
artigo 57º.

Segundo os termos do artigo 57º, as relações entre pais e filhos são reguladas
pela lei nacional comum dos pais. Sendo esta o OJ alemão. Este OJ alemão faz a
aplicação da lei da residência habitual dos pais, logo L3 será a Grécia. Por sua vez, o OJ
Grego manda aplicar a lei da nacionalidade dos progenitores, portanto devolve a
competência à Alemanha. Ou seja, temos reenvio, precisamos de tomar a posição que
há reenvio para todos eles, a posição dos estados.
L2 que é a Alemanha, não aceita retorno, ou seja, faz uma RM e o OJ Grego,
também a mesma coisa faz RM. Ou seja, L2 aplicaria L3, L3 aplicaria (L2).

66
Direito Internacional Privado – OT e P
Temos reenvio, não temos HJI, portanto, isto está afastado.
Portugal, nos termos do artigo 16º, aplica o direito material alemão.

Agora fazemos a mesma coisa - processo da qualificação.


Primeiro: identificar o conceito quadro do artigo 57º. Sendo o conceito quadro
deste artigo as relações entre pais e filhos, vamos encontrar aqui no âmbito da
interpretação teleológica funcional, ou seja, o legislador tem aqui em vista todos os
efeitos jurídicos decorrentes de relações de parentesco na linha reta.
Ou seja, claramente que o princípio que está subjacente é o princípio da maior
ligação individual porque o que está subjacente são as características das relações
entre 2 ou mais sujeitos, nomeadamente são relações familiares concretas – relações
de filiação.

Agora temos direito material alemão e ao OJ Alemão temos de retirar as


soluções de direito material aptas para resolver aquela questão. Diz o caso prático, que
no OJ alemão há um preceito similar ao nosso 877º, que terá de ser interpretado nos
termos do artigo 23º, porque é direito material estrangeiro. Ou seja, interpretamos
esse direito material alemão como juristas alemães de acordo com as regras alemãs,
por isso se é um preceito similar ao nosso 877º podemos retirar a conclusão que
teríamos há pouco do 877º. Ou seja, que este regula efeitos sucessórios decorrentes
das relações de filiação nomeadamente (esta).
Em último momento, é o momento da qualificação em sentido estrito, ou seja, o
momento em que a interpretação do QUID, ou seja, o tal 877º do CC alemão tem de
cumprir as mesmas finalidades, visar os mesmos fins, do nosso conceito quadro do
artigo 57º.

Visam ou não a mesma coisa?

Concluímos que o QUID alemão se subsume ao conceito quadro do artigo 57º e,


portanto, este artigo é aplicável ao caso concreto.
Agora, porque o 877º alemão que acabamos de legitimar dá origem a uma
invalidade do negócio jurídico, temos de ver se não se subsume relativamente a esta
questão a algum conflito com o princípio do favor negotti.
Que teríamos o artigo 19º (que não é o caso porque não há reenvio), o artigo
28º (que também não é o caso, porque é um problema de capacidade), a questão que
se coloca então é do artigo 31º/2.

Conseguíamos aplicar no caso em concreto?

Mesmo que ele vivesse na Grécia, num país que tal como a Grécia não
considerasse o negócio válido, cada um desses OJ teria de considerar competente. A
Grécia, desde logo, não se considerava competente para regular esta questão, não
precisa de aplicar o artigo 31º/2 de qualquer forma.

31.10.2023 (P)

67
Direito Internacional Privado – OT e P

Caso prático:

A e B, de nacionalidade grega, com RH em França, casaram em Genebra sob a


forma civil. Meses mais tarde A veio a falecer deixando bens móveis e imóveis em Itália
e na Suíça. B pretende agora, junto dos tribunais portugueses ver reconhecidos os seus
direitos enquanto cônjuge e herdeira dos bens deixados pelo marido. C, filho de A,
grego e com RH na Alemanha, opõe-se a tal pretensão alegando que o casamento
entre A e B é inválido.

Considere que:

a) Todas as leis consideram o casamento válido, com exceção da lei grega que o
considera inexistente por não ter respeitado a forma ortodoxa.

b) As leis francesa e grega só concedem direitos a B na qualidade de cônjuge,


estabelecendo o que nestes ordenamentos se dá o nome de "comunhão inter-
vivos" para os efeitos patrimoniais decorrentes do casamento e, quanto a matéria
sucessória não reconhecem a cônjuge como herdeira. Para as restantes leis, B tem
direitos como cônjuge e como herdeira.

c) O DIP grego e francês pratica RM às relações patrimoniais entre os cônjuges e


consideram competente a lei do lugar da celebração do casamento. O DIP Suíço é
anti-devolucionista e entende que à mesma matéria se deve aplicar a lei da última
nacionalidade do de cujus. O DIP italiano pratica devolução simples e adota a
mesma conexão do DIP Suíço.
d) Em matéria sucessória, o DIP italiano (quer para bens móveis, quer imóveis)
entende que deve aplicar-se a lei do último domicílio do de cujus, e o DIP grego,
no que tange à sucessão de bens móveis entende que deve aplicar-se a lei do
último domicílio do de cujus, e quanto aos bens imóveis, a lei da sua respetiva
situação, o DIP francês e suiço entendem que deve aplicar-se a lei do último
domicílio do de cujus.

e) Para a questão da validade do casamento - formal e substancial - deve aplicar-se a


lei nacional comum dos nubentes ou, na falta desta a RH comum ou a lei do país
em que a vida familiar se iniciou.

RESOLUÇÃO:

Questão controvertida: direitos sucessórios


Relação jurídica internacional.

Elementos:

1. SUJEITOS

a. A (de cuius)

68
Direito Internacional Privado – OT e P

i. Nacionalidade – OJ grego
ii. RH – OJ francês

b. Herdeiros (B e C)

i. B. nacionalidade – OJ grego; RH – OJ francês;


ii. C. nacionalidade – OJ grego; RH – OJ alemão;

2. Bens móveis – OJ italiano


3. Bens imóveis – OJ suíço

Na classificação do facto jurídico, a morte não é uma relação jurídica, mas sim
um facto natural, que produz efeitos jurídicos. O único sujeito é o de cuius, ou seja, o
A.

Temos uma relação jurídica de direito privado, internacional, neste caso se


estamos a resolver a questão no OJ português, ela é absolutamente internacional.
Portanto, L1, Portugal é a lei do foro.

Norma de conflitos artigo 62º CC. Só que temos um problema é que as


sucessões determinam quem é que herda e não exatamente o quê, a não ser que haja
uma sucessão testamentária ou legados.
Só que aqui temos 2 problemas a montante para resolver, é que ela será
herdeira se for cônjuge e a segunda questão é o que é que está no património do de
cuius, ou seja, no caso concreto, de facto a questão controvertida é em geral, a
questão sucessória, mas o que B quer tratar são dos efeitos patrimoniais mortis causa
que decorrem do casamento, do que decorre do regime de bens entre os cônjuges e
outro que decorre como ela ser ou não herdeira.

Notem, se ela estiver casada no regime de comunhão de bens, seja de


adquiridos, seja de comunhão geral, a este património já só vai metade, o resto fica
para ela na qualidade de cônjuge meeira. Portanto, para resolver a questão sucessória,
primeiro temos de determinar se o casamento é válido, depois temos de determinar a
lei aplicável para os efeitos patrimoniais do casamento.
Em particular, relativamente à validade do casamento, temos de ir fechar a
questão prévia ou prejudicial. A questão prévia é a questão que, ainda que não seja
expressamente controvertida, o tribunal para decidir a questão controvertida, precisa
de decidir, necessariamente, outra a montante. Ou seja, o Tribunal para decidir se esta
senhora é herdeira e que parte do património lhe pertence, tem de saber primeiro se
ela tem a qualidade de cônjuge ou não.

Temos de resolver primeiro uma questão e depois a outra, são todas questões
que têm de ser necessariamente servidas a montante, para o juiz determine qual o
património em causa que herda. Portanto, notem, temos de ver em primeiro lugar a
validade do casamento, significa que a nossa situação jurídica, não é exatamente como

69
Direito Internacional Privado – OT e P
temos aqui, é um contrato de casamento que tem como sujeitos o A e o B e falta-nos
um elemento para esta relação jurídica que é o facto, que corresponde ao OJ suíço.

Ou seja, cada uma daquelas questões, haverá de ser uma situação jurídica
internacional, porque se não for, então não é um problema de DIP e o julgador resolve
como sendo um problema de direito interno.
A primeira coisa que vamos fazer é determinar se este contrato de casamento é
válido ou não, sendo que para o contrato de casamento A e B são os sujeitos e o
casamento é o facto. É uma relação jurídica, absolutamente, internacional, portanto,
não tem contacto com a ordem jurídica portuguesa, mas se ela é uma relação jurídica
de direito privado internacional e sendo Portugal o tribunal competente, temos de ver
qual é a norma de conflitos agora, para saber se ela é ou não cônjuge.

Questão controvertida prévia: validade do casamento.

Que tipo de validade se trata no caso concreto? O artigo 49º trata da validade
substancial, o 50º e o 51º da validade formal, portanto, o problema daquele caso é o
facto de eles terem seguido a forma civil e segundo o filho, de acordo com a lei grega,
a forma seria religiosa, ou seja, através da religião ortodoxa grega. Temos então, um
problema de validade formal e não estando previsto em nenhum dos números do
artigo 51º, nos termos do artigo 50º é competente a lei do lugar onde o contrato de
casamento foi celebrado, ou seja, o OJ suíço.
Para efeitos de validade, o OJ suíço considera competente, aplica-se a lei
nacional comum dos nubentes, ou seja, o OJ grego. O OJ grego, se tem a mesma
solução, neste caso concreto, o que faz é considera-se competente.

Precisamos de saber posições relativas ao reenvio? Ou conseguimos decidir


qual é o OJ?
L2 considera competente a Grécia, que se considera competente. L2 considera
competente L3 e L3 considera-se competente. Portanto, temos reenvio, temos
harmonia jurídica internacional, o reenvio é meio necessário para atingir a harmonia
jurídica internacional, Portugal vê verificados os pressupostos do artigo 16º.

Agora vamos ver se temos os requisitos do artigo 17º ou 18º, consoante o


reenvio que aqui esteja. Que reenvio é que temos aqui? Temos um reenvio por
transmissão de competências, ou seja, artigo 17º.

Estão verificados os requisitos do nº1 do artigo 17º? Sim, se L2 considera


competente uma 3ª lei e esta se considera competente, é esta que se aplica, nem é
necessária qualquer interpretação extensiva, por isso, temos reenvio, a não ser que se
verifique uma situação prevista no nº2. Estão verificados os requisitos do nº2 ou não?
Temos matéria relativa ao casamento, mas desde logo, L2 precisaria de ser a lei
pessoal, que nos termos do artigo 31º é a lei da nacionalidade, L2 é a lei do lugar da
celebração do casamento, portanto, não estamos no âmbito do artigo 17º/2, ou seja,
Portugal aceita o reenvio e aplica L3.

70
Direito Internacional Privado – OT e P
O artigo 19º só se coloca se podermos aplicar o direito material grego, no caso
concreto, temos de ir ao processo de qualificação, nos termos do artigo 15º.
Reparem, se não passar no processo de qualificação, não há nenhuma questão
que o artigo 19º possa resolver e termos de começar tudo do 0.

Então, nos termos do artigo 15º agora vemos a solução grega, que é uma
norma qualquer que diz que o casamento só pode ser celebrado sob a forma ortodoxa.
O que fazemos em primeiro lugar? É essa norma que será o nosso Quid.

Nos termos do artigo 15º, primeiro vamos interpretar o conceito quadro. O


conceito quadro é o artigo 50º, qual é o conceito quadro do artigo 50º? A forma do
casamento. Notem, o direito material grego trata da questão como um problema de
forma do casamento, portanto, o instituto jurídico é, apesar de eles seguirem uma
forma diferente da nossa, é exatamente a mesma qualificação, ou seja, são requisitos
formais relativos à validade deste casamento.
Mas se quisermos uma interpretação mais ampla, o que é que o legislador tem
em vista, o que é que o legislador tem em vista com o artigo 50º numa perspetiva
teleológico funcional? Para este contrato, com relações jurídicas familiares
(casamento), o legislador quis que todos os requisitos sejam extrínsecos aos sujeitos,
ou seja, que os requisitos não se relacionem com os sujeitos.

Agora fazemos uma interpretação do Quid grego, ou seja, na tal norma jurídica
estará prevista qualquer coisa como que as pessoas só podem casar recorrendo à
forma ortodoxa. Interpretarmos este Quid como juristas gregos, ou seja, nos termos
do artigo 23º, que, naturalmente, aquilo que lá diz é que nos termos do direito grego,
a forma do casamento, só vale se respeitar o ritual ortodoxo. Portanto, o que a Grécia
está a tratar é dos requisitos formais do casamento.

Agora, notem, outro elemento, o legislador grego está a tratar de requisitos de


forma do casamento, por isso, o Quid integra o conceito quadro, o legislador grego e o
legislador português visaram a mesma coisa, ou seja, vamos aplicar o direito material
grego legitimado a não ser (e agora interessa-nos saber a solução grega) e a solução
grega que acabamos de legitimar invalida este casamento.
Portanto, a aplicação da solução material viola um princípio de DIP, que é o
Princípio do favor negotti.

Neste caso conseguimos usar algum dos mecanismos para afastar esta solução, ou
não?

Artigo 19º, cessamos o reenvio porque se voltarmos à regra do artigo 16º já não
aplicamos a solução jurídica do OJ grego, mas o OJ suíço.
Isto se o OJ suíço passar no processo da qualificação.

O conceito quadro já está interpretado, validade formal do casamento, só que


agora o nosso Quid é outro, o nosso Quid é a norma de direito material suíço que
regula esta matéria que é aquela em que eles casaram sobre a forma civil na Suíça.
Portanto, a forma como eles casaram, é uma forma válida na Suíça.

71
Direito Internacional Privado – OT e P
Agora vamos interpretar esta solução material Suíça, ou seja, mais uma vez,
estamos perante um problema de validade formal. Aplicando a solução Suíça, que
aplica o conceito quadro, o casamento é valido e esta questão está resolvida.

Se o casamento fosse válido, a questão estava resolvida, sendo inválido, não há


cônjuge, não havendo cônjuge não há regime de bens nem há sucessões por conta da
relação de casamento.

Segunda questão:

É preciso sabe agora que direitos é que ela tem, patrimoniais, decorrentes do
casamento, que decorrem da morte do marido, ou seja, temos de saber se ela é
cônjuge meeira ou não, ou seja, se do património do marido metade é dela (o que vai
há herança é metade do património, porque metade é do outro cônjuge, no caso de
cônjuge meeiro). Se ela for herdeira, ela vai concorrer à herança não na qualidade de
cônjuge, mas sim na qualidade de herdeira do marido.
Agora queremos saber quais são os efeitos patrimoniais que decorrem do
casamento e que produzem com a morte deste senhor, ainda não sendo efeitos
sucessórios.

Mais uma vez, é a mesma relação jurídica internacional, só que a questão é


outra, isto é, efeitos patrimoniais do casamento, em concreto, o regime de bens, sendo
a norma de conflitos o artigo 53º.

No caso concreto, para determinar os efeitos substanciais deste casamento,


nomeadamente, os efeitos substanciais particulares que são os patrimoniais, são
aqueles que estão no artigo 53º. A conexão é a lei nacional dos nubentes ao tempo da
celebração do casamento, são gregos, portanto, aplica-se a Grécia.

Agora, para esta questão em particular o DIP grego considera (alínea c))
competente a lei do lugar da celebração do casamento, ou seja, a Suíça (L3) e a Suíça,
quanto a esta matéria entende que deve ser aplicada a lei da última nacionalidade do
de cuius, ou seja, devolve a competência à Grécia (L2).

Como temos reenvio, vamos precisar, neste caso, de saber qual é a posição
deles em matéria de reenvio. O DIP grego é antidevolucionista e o DIP suíço também.

Portanto, L2 considera competente L3 e este último considera competente L2,


portanto, temos reenvio, mas não temos a harmonia jurídica internacional, portanto,
cessa qualquer posição relativamente a isto e fazemos uma referência material ao OJ
grego e Portugal aplica L2. É o direito material grego que determinará qual é o regime
de bens a que eles ficaram sujeitos.

Mas para aplicar esta solução grega, para esta matéria, a solução grega também
tem de passar no processo de qualificação nos termos do 15º.
Agora temos de fazer a interpretação do conceito quadro do artigo 53º, sendo
que o conceito quadro é de convenções antenupciais e de regime de bens. Portanto,

72
Direito Internacional Privado – OT e P
vamos fazer uma interpretação teleológico-funcional do artigo 53º, neste caso
concreto, precisamos mesmo, porque no OJ grego não há regime de bens, nem
convenções antenupciais, eles chamam-lhe “comunhão inter vivos”, se formos à
procura daquilo que é um sistema homólogo ao nosso, precisamos de abrir, na medida
do possível, com a coerência do sistema encontrar aquilo que o legislador quis no
artigo 53º.

No artigo 53º, quando o legislador trata do regime de bens e de convenções


antenupciais, ele queria tratar dos efeitos patrimoniais que decorrem do contrato de
casamento, independentemente do tipo que adotem. Portanto, as convenções
antenupciais e os regimes de bens agregam todos os efeitos patrimoniais do contrato
de casamento, ou seja, tratam de várias coisas.

Agora, notem, temos esta interpretação do conceito quadro que para nós é um
problema de regime de bens, de acordo com a convenção antenupcial ou com a regra
supletiva, mas seja o que for só precisamos de encontrar o regime jurídico que tem de
ter em comum aquilo que o legislador quis que foi regular efeitos patrimoniais do
contrato de casamento.

Agora vamos ao OJ grego e já sabemos que, nos termos do artigo 15º, só vamos
trazer as normas de direito material que permitem resolver esta questão no
ordenamento jurídico grego (alínea b)), ela na qualidade de cônjuge tem direitos
patrimoniais que decorrem da “comunhão inter vivos” para os efeitos patrimoniais do
casamento. Agora vamos interpretar isto como se fossemos juristas gregos.

Do contrato de casamento deles, eles têm a denominada “comunhão inter


vivos” e o legislador grego quis tratar dos efeitos patrimoniais do casamento, ou seja, o
legislador grego com um instituto que não tem equivalente no ordenamento jurídico
português, mas trata exatamente da mesma coisa que o nosso legislador visou na
nossa norma de conflitos, ou seja, os efeitos patrimoniais decorrentes do casamento.

Ou seja, pelo seu conteúdo e função, o Quid vai integrar o nosso conceito
quadro e ao integrar, sendo em Portugal um conceito amplo (ou do património todo ou
daquilo que adquiriram depois do casamento), mas que dá direitos decorrentes desta
comunhão inter vivos, nos termos do ordenamento jurídico grego. Notem, assim
sendo só o que sobra depois desta “operação”, desta “comunhão inter vivos” que será
aplicada ao caso concreto é que passamos para a questão sucessória.

06.11.2023 (P)

Continuação do caso prático da última aula

RESOLUÇÃO:

A questão controvertida é de facto, como vimos na última aula, determinar se a


sucessão B relativamente ao património do marido, se ela concorre na qualidade de
cônjuge, a primeira coisa que fizemos foi saber se ela era cônjuge ou não (ou seja,

73
Direito Internacional Privado – OT e P
saber se tínhamos um casamento válido). Agora temos de passar para outra questão,
para que o Tribunal consiga decidir qual é a lei aplicável à sucessão de um cônjuge. A
questão prévia à questão controvertida, que temos de resolver porque é uma condição
para resolver a questão controvertida é se ela de facto é cônjuge ou não.
Agora, a questão que se coloca é, notem, nós queremos saber é se a lei
aplicável à sucessão, os cônjuges são ou não herdeiros. Já sabemos que ela é cônjuge,
agora a questão que se coloca é se podemos passar para a resolução da questão
controvertida efetiva, ou ainda temos de resolver uma outra questão prévia? Ainda
temos de resolver uma questão prévia, que são os efeitos do casamento.

Agora ainda antes de resolver esta questão controvertida, temos de saber quais
são os efeitos mortis causa que decorrem do casamento, ou seja, é preciso saber qual é
a lei que vai determinar os efeitos.
O concurso à herança do cônjuge ou agora ter um casamento válido, vai
depender do regime de bens que vigora entre eles, nomeadamente, para saber qual é
o património que integra o património sucessório de B, isto porque se ela estiver
casada num regime – equiparando ao nosso sistema jurídico – de comunhão, seja
comunhão geral, seja comunhão de adquiridos, notem, um dos efeitos que decorre do
casamento, que é o regime de bens que determina o efeito patrimonial, vai dizer se ela
tem direito a metade do património comum do casal, isto quer dizer que à herança só
vai o resto.
Se ela estiver casada num regime de bens, em que por via do casamento, não
há património comum, ela não é denominada cônjuge meeira e, portanto, todo o
património do marido, segue para a sucessão. Portanto, aquilo que precisamos de
saber é quais são os efeitos patrimoniais que decorrem do casamento porque há um
efeito patrimonial, mortis causa, que tem como pressuposto um regime de bens.

Ora, se temos um casamento válido, formalmente, precisamos de saber qual é a


lei aplicável para determinar qual o regime de bens do casal. Se houver um regime de
separação, o que é dele é dele e o que é dela é dela e todo o património dele, segue
como património sucessório, se houver um regime de comunhão, independente do
nome, relativamente a qual as coisas estejam, o património é, num exercício
comparativo com a lei portuguesa, é comum, ela é cônjuge meeira como efeito mortis
causa deste casamento, tem direito a metade do património e só depois o resto é que
vai concorrer na herança.

Portanto, agora a segunda questão prévia deste caso é saber qual é o regime de
bens que estes cônjuges tinham, ou melhor, queremos saber qual a lei aplicável para
determinar o regime de bens neste caso concreto.

Para esta segunda questão vamos analisar a relação jurídica, mais uma vez, o
casamento e, portanto, temos os sujeitos e temos de verificar os elementos de
conexão.
Esta questão já tínhamos visto na última aula.

Agora, sim temos uma lei que determina se ela é cônjuge ou não, temos uma lei
que determina quais são os efeitos mortis causa, que decorrem do regime de bens dos

74
Direito Internacional Privado – OT e P
cônjuges e então, agora temos o fenómeno sucessório. Quanto ao fenómeno
sucessório:

Elementos:

4. SUJEITOS

c. A (de cuius)

iii. Nacionalidade – OJ grego


iv. RH – OJ francês

d. Herdeiros (B e C)

iii. B. nacionalidade – OJ grego; RH – OJ francês;


iv. C. nacionalidade – OJ grego; RH – OJ alemão;

5. Bens móveis – OJ italiano


6. Bens imóveis – OJ suíço

Temos uma relação jurídica internacional, em contacto com vários ordenamentos


jurídicos, entre os quais, não está o ordenamento jurídico português, portanto, é uma
situação jurídica absolutamente internacional. Não obstante, Portugal é a lex fori.

Na questão sucessória o elemento de conexão, temos de distinguir que tipo de


sucessão temos, temos 2 tipos de sucessão: a sucessão legal ou a sucessão voluntária.
Neste caso concreto, não tendo indicação que há um ato de vontade do de cuius para o
destino dos bens, ou melhor, dos direitos e deveres que não se devam extinguir com a
morte do seu titular, o que significa que estamos no âmbito da sucessão legal.
A norma de conflitos é, claramente, o artigo 62º.
Nos termos do artigo 62º, a conexão é a lei pessoal, que nos termos do artigo
31º/1 é a nacionalidade do de cuius, ou seja, a Grécia.

Em Portugal a regra é que faria uma referência material, mas, excecionalmente,


admite reenvio e temos de ver se admite ou não reenvio no caso concreto.
Em matéria sucessória o OJ grego, distingue quando se trata de bens móveis e
bens imóveis. Quando se trata de sucessão e nós temos os 2, no que tange à sucessão
de bens móveis, a conexão é a residência habitual do de cuius (que vivia em frança),
por sua vez o OJ francês considera competente, em qualquer caso, a lei do último
domicílio do de cuius, portanto, o OJ francês considera-se competente.
Assim sendo, só há reenvio para Portugal, não há reenvio nem para L2, nem
para L3, não precisamos de saber a opinião destes Estados em matéria de reenvio.
Portanto, L2 considera competente L3 e L3 considera-se competente, portanto L2
aplicaria L3, L3 considera-se competente, o que significa que aplicaria L3.

75
Direito Internacional Privado – OT e P
Temos reenvio, temos harmonia jurídica internacional e, por isso, o reenvio é o
meio necessário para atingir a harmonia jurídica internacional.

Que tipo de reenvio é este?

Reenvio por transmissão de competências, ou seja, reenvio nos termos do


artigo 17º do CC. Os requisitos do número 1 estão verificados, literalmente (se o DIP de
L2 remeter para uma lei que se considere competente, é esta outra lei, ou seja, L3 que
se aplica). Portugal aceita o reenvio e aplica L3, a não ser que o nº 2 faça cessar o
reenvio. O reenvio cessará se L2 for a lei da nacionalidade, que neste caso é, ou o
interessado (autor da sucessão – pessoa mais próxima da questão controvertida) se o
de cuius vivia em Portugal (que não é o caso), ou então se a lei da RH também
considera competente a lei da nacionalidade o que não é o caso porque considera-se a
si própria competente, não estando verificado o nº 2, significa que temos o nº 1 e, por
isso, aceitamos o reenvio e aplicaremos L3, ou seja, o OJ francês.

Agora temos de passar para o processo de qualificação, nos termos do artigo


15º

Nos termos do artigo 15º, temos a discussão doutrinária do professor Ferrer


Correia e da professora Isabel Magalhães Collaço. Nos termos do artigo 15º primeiro,
temos de interpretar o conceito quadro da nossa norma de conflitos, que neste caso é
o artigo 62º. Identificando, o conceito quadro (literalmente) é a sucessão por morte,
mas este conceito quadro está muito amplo.
Se olharmos para o artigo 63º e 64º, trata de questões associadas à sucessão
por morte, portanto o artigo 62º não trata de todas as matérias de sucessão por morte,
trata da matéria que não estão no 63º e no 64º, ou seja, a sucessão por morte não
voluntária.
Se houver alguma disposição de vontade, relativo ao destino dos direitos após a
morte de alguém, a questão será tratada, se for uma questão substantiva no artigo 63º
e 64ºe se for uma questão formal no 65º.
O conceito quadro do artigo 62º é tudo o que não seja testamento, pactos
sucessórios, expressões de vontade, ou seja, é a sucessão legal por morte.
Portanto, o conceito quadro do artigo 62º é a sucessão por morte não
voluntária, e se nos interpretamos isto, depois desta restrição, numa interpretação
teleológico funcional temos de encontrar o que é que o legislador português quis tratar
no artigo 62º, quis tratar do quê quando trata da sucessão por morte. Nós chamamos-
lhe sucessão, mas pode-se chamar outra coisa qualquer, porque o regime pode ser
completamente diferente.

O legislador quando trata da sucessão por morte quer tratar do destino dos
bens, dos direitos e deveres cujo titular faleceu e não se devam extinguir com a morte.
Os direitos de personalidade como sabemos extinguem-se.

Agora vamos interpretar o Quid, que são as normas de direito material do OJ


que decidimos aplicar, sendo neste caso o OJ francês que resolve esta questão. Pela
alínea b) o OJ francês trata desta questão conferindo direitos à cônjuge com a morte do

76
Direito Internacional Privado – OT e P
outro, na qualidade de cônjuge, ou seja, naquilo que eles chamam “comunhão inter
vivos”. Em matéria sucessória não a conhecem como herdeira.

Agora temos de fazer esta interpretação nos termos do artigo 23º, ou seja,
como se fossemos juristas franceses, naturalmente, aqui os conceitos são ipsis verbis
àqueles que temos no OJ português.
De acordo com aquilo que temos aqui, o objetivo ou interesse do legislador
francês que trata da sucessão, mas em que ela com a qualidade de sucessora tem
direitos como cônjuges, o que significa que o legislador francês em matéria de efeitos
mortis causa, só teve em consideração relativamente aos direitos de B na qualidade de
cônjuge. Ou seja, o legislador francês teve em consideração, o destino dos bens de
acordo com o efeito do casamento, na tal “comunhão inter vivos”

Logo, se o Quid francês aquilo que considera é que todos os efeitos decorrentes
da morte de um cônjuge, relativamente ao cônjuge sobrevivo, são tratados no âmbito
daquilo que é relação jurídica material, significa que a B só existe naquele
ordenamento jurídico, na qualidade de herdeira, ou seja, o legislador francês teve em
consideração resolver os efeitos matrimoniais decorrentes do contrato casamento.
Literalmente é o que ali está.

Significa que, agora notem, se comparamos os 2 vai acontecer que, temos de


concluir quer este Quid integra este conceito quadro. O que acham? Eles têm os efeitos
patrimoniais do casamento, ela não está na lista de herdeiros sucessíveis, para ela a
única proteção é como cônjuge, integra ou não?

Aquilo que ela quer é ser reconhecida como herdeira, o ordenamento jurídico
francês só lhe dá direitos na qualidade de cônjuge, mas trata do fenómeno sucessório,
ainda que ela não esteja na lista, isto significa que o Quid que trata dos direitos e dos
deveres que não se devem extinguir pela morte de alguém, é tratado também no OJ
francês tendo em consideração, exatamente, o mesmo Princípio.
A única diferença é que ela não está na lista de herdeiros, temos aqui uma
integração.

Só que agora temos um problema. Estamos prontos para aplicar a lei francesa
para os bens móveis. Qual o nosso problema agora? O nosso problema é se
efetivamente podemos ou não aplicar a lei francesa, tendo em consideração a solução
material, porque de acordo com a solução material francesa a cônjuge não tem direitos
sucessórios que, naturalmente, é diferente daquilo que existe no OJ português, em
que, independentemente do regime de bens, os cônjuges são sempre herdeiros, a
questão agora que se coloca é se a solução ou pseudo solução francesa, não põe em
causa, um Princípio essencial do ordenamento jurídico português?
Ou seja, se a solução francesa não viola o artigo 22º do CC.

No nosso artigo 22º, temos situações em que o direito material estrangeiro põe
em causa um valor essencial da ordem jurídica portuguesa. Como sabemos a ordem
pública internacional ou a reserva da ordem pública internacional, é um conceito

77
Direito Internacional Privado – OT e P
indeterminado e encerra aquilo que são os valores e princípios essenciais à ordem
jurídica portuguesa e que a caracterizam enquanto tal.

A questão que se coloca é se deserdando o cônjuge viola ou não a nossa ordem


pública nacional.
A nossa ordem pública interna, tem como princípio, interpreta-se,
necessariamente, tendo em conta o interesse público, o facto de haver quotas
indisponíveis no que tange ao património de cada um, e haver classes de sucessíveis,
algumas delas obrigatórias e como sabemos os cônjuges fazem parte da 1ª e da 2ª
classe de sucessíveis, com os descendentes e os ascendentes.
A questão que se coloca é, se os cônjuges, no direito material que é aplicável
não tiverem a cônjuge na classe de sucessíveis, se essa diferença viola ou não a nossa
ordem pública internacional.

É o que se tem entendido, há um acórdão do Tribunal da Justiça sobre a


questão da ordem pública, exatamente, neste afloramento que aqui temos, em que há
uma lei aplicável que a lei não protege uma classe de herdeiros. Não sendo unanime a
posição, a tendência maioritária quer da doutrina, quer da jurisprudência é que se
entende que (e a proporção da quota não tem de ser exatamente igual à nossa, esta
questão já não entra no âmbito da ordem pública), mas o facto desses herdeiros
obrigatórios não constarem da lei aplicável, entende a maioria da doutrina e da
jurisprudência que é uma violação da ordem pública internacional.

Qual é a justificação?

É o fundamento no qual, cada um de nós, tendo património e herdeiros


obrigatórios, não pode dispor de tudo o que quiserem. A existência dessa quota
indisponível e dos herdeiros obrigatórios, aquilo que tem subjacente é a ideia da
proteção da família, ou seja, da construção de um acervo também patrimonial que,
independentemente, da titularidade, é destino à proteção e à continuidade da família.
Que, nesse aspeto, sendo um elemento essencial à proteção da família, a forma como
ela é conseguida na ordem jurídica portuguesa, e sendo a família a principal instituição
da ordem pública, entende-se a tal desconsideração por esse acervo patrimonial,
consiste numa violação de um princípio essencial para nós, havendo uma
desconsideração da família.

Isto significa que não podemos aplicar o direito material francês, apesar de ter
passado no processo de qualificação.

Vamos ao artigo 23º, nos termos do nº2 temos subjacente o Princípio do


mínimo dano, ou seja, nós temos de interpretar a lei de forma a tentar aplicar a lei
estrangeira para ela não violar a nossa ordem pública, notem, é objetivamente
impossível. Portanto, na incapacidade de fazer esse exercício em prol do princípio do
mínimo dano, esquecemos tudo e aplicamos o direito material de Portugal. Portanto,
para os bens móveis, nos termos da última parte do 23º/3 aplica-se L1.

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Direito Internacional Privado – OT e P
Agora temos outra questão, como nós percebemos nós decidimos aplicar a lei
portuguesa, mas nós só chegamos a isto por causa dos bens móveis, ou seja, para os
bens móveis aplicamos a lei portuguesa e agora para os bens imóveis?
Os bens imóveis, o OJ grego diz que se aplica a lei do lugar da sua situação, ou
seja, a lex rei sitae, ou seja, relativamente aos bens imóveis temos 2 situações: a lei
grega considera competente para os bens que estão em Itália, a lei italiana, que por sua
vez entende que deve de ser aplicada a lei da RH do de cuius, ou seja, a lei francesa,
que se considera aplicável.
Para a Grécia, neste esquema de reenvio, há reenvio e a Grécia faz referência
material, logo L2 considera competente L3, e L3 considera competente L4, e L4
considera-se competente.

Temos reenvio, mas não temos harmonia jurídica internacional, portanto,


Portugal vai fazer uma referência material à Grécia e aplicará L2 e voltamos ao
processo de qualificação.
Em qualquer caso vamos remeter para o que já dissemos no esquema anterior,
a lei grega tem a mesma solução que a lei francesa, portanto, não vamos fazer um novo
processo de qualificação para uma lei que diz que é semelhante a outra, nesse caso
concreto não temos de repetir só temos de dizer que já fizemos.

A lei grega neste caso concreto, tal e qual como há pouco, tem a mesma solução
que a francesa, tem a mesma solução relativamente à ordem pública, ou seja,
acabamos com tudo e aplicamos o direito material português, relativamente aos
imóveis situados em Itália, tal e qual como os móveis – é exatamente a mesma coisa.

Agora falta-nos os imóveis na Suíça.


A lei grega em matéria de imóveis considera competente a lex rei sitae, há
imóveis não só na Itália, mas também na Suíça, a Suíça em matéria de sucessões
considera competente o último domicílio do de cuius, igual à francesa.
A Grécia faz referência material, aplica L3 e estaa aplicam L4, sendo a mesma
solução relativamente ao esquema anterior.

Há reenvio, mas não há harmonia jurídica internacional, Portugal aplicará L2


nos termos do artigo 16º, o processo de qualificação é mais uma vez o mesmo, porque
é novamente a lei grega, exatamente a mesma solução relativamente à ordem pública,
ou seja, aplicamos L2 e o assunto está arrumado.

07.11.2023 (P)

Caso prático

Abdul, marroquino casou, em Marrocos, com Malala, turca em 1999. O casal reside no
Líbano com as outras mulheres de Abdul (Malala é a sua terceira mulher).

Entretanto Abdul e Malala, por razões profissionais daquele, viajam para Portugal para
passar um mês. Tomando consciência de uma nova realidade, com vontade de se

79
Direito Internacional Privado – OT e P
tornar independente e continuar em Portugal, sem se manter submissa ao marido,
Malala decide que não pretende continuar casada e propõe contra Abdul, nos
tribunais portugueses, uma ação de divórcio. Abdul, assim que tomou conhecimento
da ação, repudiou a mulher (Talaq", Talaq', 'Talaq) e considera-se, já, divorciado, o que
invocou na sua contestação, excecionando o pedido de divórcio.

Admita que,

a) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes.


b) Os ordenamentos jurídicos marroquino, Libanês e Turco admitem a validade do
casamento poligâmico.
c) O ordenamento jurídico português, nos termos do artigo 1601.°, al. c) do CC,
considera, quanto a esta questão, a existência de um impedimento dirimente,
obstando ao casamento da pessoa a quem respeita um casamento anterior não
dissolvido.
d) Os ordenamentos jurídicos Libanês e Turco não reconhecem legitimidade ativa
à cônjuge mulher para a dissolução do vínculo matrimonial constituindo um
direito exclusivo dos homens e, os ordenamentos jurídicos Libanês e
Marroquino admitem o repúdio verbal da mulher, pelo cônjuge marido, como
forma de divórcio.
e) Em Portugal vigora o princípio da igualdade entre os cônjuges (v.g. art 1785.°
do CC) e o repúdio não é admissível como forma de dissolução do vínculo
conjugal.
f) Os ordenamentos jurídicos Turco e Libanês consideram competente a lel do
lugar onde se realizou o casamento.
g) O ordenamento jurídico marroquino considera competente a lei da residência
habitual dos cônjuges.
h) Os ordenamentos jurídicos Turco e Libanês são avessos ao reenvio.
i) Ordenamento jurídico marroquino pratica devolução simples.

Resolução:

Questão controvertida: divórcio.


Matéria de estatuto pessoal, matéria familiar.

Se a nossa questão controvertida é o divórcio significa que vamos analisar a


relação jurídica que agora se vai dissolver, ou seja, o casamento. Portanto para esta
questão jurídica temos:

Elementos:

1. SUJEITOS

a. Abdul
v. Nacionalidade – OJ Marrocos
vi. RH – OJ Líbano

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Direito Internacional Privado – OT e P
b. Malala
v. Nacionalidade – OJ turco
vi. RH – OJ Líbano – eventualmente RH – Portugal

2. FACTO – OJ marroquino

A questão está na lex fori, Portugal, mais uma vez, aqui a solução da qualificação
como uma questão relativamente ou absolutamente internacional, ia depender
naturalmente, de incluir ou não a RH recente ou atual de Portugal ou manter a do
Líbano (seria admissível as duas).

Norma de conflitos: artigo ?

A questão controvertida é o divórcio, claramente, mas para se conseguir


resolver a questão controvertida, temos de, neste caso, determinar uma questão
prévia. Uma questão prévia é aquela que prejudica a resolução da questão
controvertida, ou seja, é uma questão que temos de resolver antes e se a resolvermos,
então sim depois conseguimos resolver a questão controvertida. Para sabermos se
conseguimos divorciar alguém, temos de saber se este contrato é válido.
Notem, a questão prévia é a validade do casamento, porque notem, se a
conclusão for que o casamento é válido então divorciamos, se concluirmos que o
casamento é inválido, não produz efeitos jurídicos, o que significa que não há contrato
para dissolver.

Portanto, se a questão é prejudicial, necessariamente, antes de resolver a


questão controvertida, temos de resolver a questão prévia.

Artigo 49º, este artigo tem um conceito quadro muito redutor, porque ele fala
da capacidade para contrair casamento, ou celebrar convenções antenupciais, notem,
mesmo para nós sem uma interpretação ligada a este conceito quadro, nós não
encontramos norma de conflitos para resolver esta questão. O impedimento, pelo
facto de estar casado, não é um problema de capacidade, pois capacidade de exercício
ele tem. Ele tem é uma situação jurídica anterior que impede de ser sujeito num outro
contrato de casamento, mas não afeta a sua capacidade de exercício.

Não conseguimos aplicar o artigo 50º e 51º, porque estes artigos tratam de
problemas de requisitos de forma, de substância. Portanto, claramente, que aqui é o
artigo 49º e este conceito quadro já tem de ser interpretado mesmo antes da
aplicabilidade neste momento, ou seja, o artigo 49º considerando o 50º e 51º que trata
de questões de validade formal, o artigo 49º, que denuncia isso quando fala da
capacidade, trata não só da capacidade, mas também de outros requisitos de ordem
substancial, ou seja, intrínsecos à relação jurídica. Os requisitos de forma, são
requisitos extrínsecos à relação jurídica.

Nos termos do artigo 31º/1 a lei pessoal, é a nacionalidade de cada nubente,


mas é do nubente que se suscita a questão controvertida, o único que suscita a
questão controvertida neste caso concreto é o Abdul ter um impedimento, uma vez

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Direito Internacional Privado – OT e P
que tal situação não se considera para ela. Neste caso concreto, é só o Abdul que
suscita a questão prévia. Abdul é marroquino e, portanto, Portugal considera
competente o OJ de Marrocos.

Por sua vez, diz a alínea g), o OJ marroquino considera competente a RH dos
cônjuges, portanto, a RH única que eles tiveram em comum foi o OJ libanês. O OJ
libanês considera competente a lei do lugar da celebração do casamento, que neste
caso foi Marrocos e devolve a competência a Marrocos.

Como temos reenvio quer para L2, quer para L3, precisamos de saber o que
estes Estados adotam em matéria de reenvio, pela alínea i) diz que o OJ marroquino
pratica devolução simples, e o OJ libanês faz referências materiais, ou seja, não aceita o
reenvio.
L2 faz uma devolução simples a L3. L2 faz referência global a L3 e permite que
ela utilize as suas normas de conflito e depois faz uma referência material para a lei
que L3 considera competente, que é L2, ou seja, L2 considera-se indiretamente
competente.
L3, que faz uma referência material para L2, aplica L2.

Temos reenvio, temos harmonia jurídica internacional, está toda a gente de


acordo em aplicar L2, mas o reenvio não é meio necessário para atingir a harmonia
jurídica, ou seja, Portugal aplicando a regra geral do artigo 16º, também aplicaria L2,
portanto, não tem de aceitar o reenvio. Cessa o reenvio e Portugal, nos termos do
artigo 16º aplica L2, fazendo uma mera referência material nos termos do artigo 16º.

Agora temos de passar para o processo de legitimação da aplicabilidade do


direito marroquino, ou seja, para o processo de qualificação do artigo 15º do CC. No
que tange à interpretação dos conceitos quadro e dos Quid, a questão só se coloca se,
efetivamente, o caso prático der azos a isso, se estivermos a falar de conceitos ou
institutos jurídicos que são homólogos entre a ordem jurídica portuguesa e a ordem
jurídica estrangeira, enfim, o que dizemos é que basta a interpretação literal quer de
um, quer de outro.

A primeira coisa que temos de fazer então, para este exercício é interpretar o
conceito quadro da norma de conflitos, do artigo 49º. Aqui, notem, já tivemos de fazer
a interpretação a montante para resolver o problema. Aqui, impõe-se uma certa
elasticidade da interpretação, não só para a subsunção, mas para efeitos de
determinabilidade para aplicação do elemento de conexão, ou seja, o conceito quadro
do artigo 49º diz respeito a que é que o legislador quis ,de todas as questões relativas à
validade substancial do casamento.

Depois interpretamos o Quid, ou seja, norma de direito material estrangeiro


que vai resolver a questão, isto é, vai determinar se o casamento é válido ou não, que
interpretamos nos termos do artigo 23º. Ou seja, se fossemos juristas marroquinos, a
interpretar, neste caso concreto, a interpretação é literal, o OJ marroquino trata desta
questão como um problema de validade do casamento.

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Direito Internacional Privado – OT e P
Se assim for, passamos para o último momento da qualificação em sentido
estrito, que é perceber se o Quid integra ou não o nosso conceito quadro, ou seja, se
nos termos do artigo 15º as nossas normas de direito material, pelo seu conteúdo e
função, integram o instituto visado pelas nossas normas de conflitos. Ou seja, se o
legislador marroquino nesta norma deles de direito material, se o legislador português
nesta nossa norma do artigo 49º,visaram atingir os mesmos objetivos. O que sim,
visaram ambos tratar das questões de validade substancial no contrato de casamento.

Ou seja, integra o conceito quadro este Quid, está legitimada a aplicabilidade de


direito material estrangeiro, a não ser que e em princípio a questão está resolvida, a
única questão que pode acontecer é que se nós excecionalmente vamos querer saber
qual é a solução de direito material estrangeiro e vamos querer sabê-la por 2 motivos:
ou em prol do favor negotti, ou então por questões de ordem pública.

Podemos estar no âmbito de uma questão de ordem pública, uma vez que
estamos no âmbito de um casamento poligâmico (artigo 22º do CC).
A ordem pública só se coloca na lei estrangeira, nunca na lei portuguesa, e o
problema não é pelo facto de a solução estrangeira ser diferente, é o quão diferente
ela é. O DIP está preparado para receber qualquer ordem estrangeira, e aplicar
soluções diferentes ou até de institutos jurídicos que não tenham existência no OJ
português.

A questão é, a diferença na solução material estrangeira vai até ao limite


daquilo que é o limite dos nossos valores essenciais da nossa ordem jurídica. O
conceito é aberto e indeterminado, precisa de se adaptar de acordo com circunstâncias
de tempo e a própria sociedade vai mudando, os valores e a sua perceção também vai
mudando. O exercício que temos de fazer é, primeiro identificar o valor ou direito que
aqui está.

Relativamente à questão do casamento poligâmico, qual é o direito, valor ou


princípio que importa? A questão que encontramos é o direto a casar, que neste caso
tem fonte constitucional sendo que a fonte constitucional, não obstante, diz-nos
pouco.
A norma da CRP não é programática, não nos diz quantos, a que tempo, etc. A
densificação do direito a casar é de ordem infraconstitucional, numa interpretação
literal à constituição.

A questão que se coloca é se a densificação do direito a casar, notem, é,


naturalmente, de acordo com a CRP, apesar de CRP não referir expressamente, se o
direito a casar conforme temos no CC, que é no máximo 2 pessoas, se consubstancia
ou não num elemento essencial a este direito. Porque de duas uma: ou é, e sendo
direito a casar, facilmente de afloramento constitucional, liga a densificação que o que
faz é o requisito essencial serem duas pessoas, então, dizemos que aquilo que é este
direito, tem de ter esta configuração quanto aos sujeitos sob pena de termos a violação
ao próprio direito. Se entendermos que não, independentemente disso, não há
nenhum problema, apesar de ser diferente.

83
Direito Internacional Privado – OT e P
Como fazemos este exercício?

Aquilo que estamos aqui a perspetivas é, primeiro, a identificação de um direito


essencial (com projeção constitucional), a questão que se coloca é se naquilo que é a
família matrimonializada, se a possibilidade da existência de um casamento poligâmico
altera aquilo que é a nossa perspetiva da família matrimonializada.
Nós não concebemos, enquanto sociedade, enquanto tal. Nós identificamos a
família matrimonializada por ser um elemento essencial da nossa sociedade, a questão
é, a estrutura conforme a percecionamos, se ela existisse enquanto tal, na nossa
sociedade, nós teríamos a nossa ou a perspetiva que teríamos da nossa sociedade com
esta ordem jurídica que permite o poligamismo seria diferente? Seria diferente. A
instituição casamento, seria a instituição casamento, mas era outro, alterava uma das
principais disposições do ordenamento jurídico português. Claramente, temos uma
situação que viola a nossa ordem pública.

Assim, nos termos do artigo 22º, nós teríamos a aplicação ed um princípio, que
é o Princípio do mínimo dano, ou seja, concluindo que a solução marroquina viola a
nossa ordem pública, diz o artigo 22º que nós temos de interpretar a lei de forma a
tentar aplicá-la ao nosso OJ, de forma que ela não viole a nossa ordem pública.
Concluímos que a solução é a aplicação da lex fori.

A não ser que, a aplicabilidade da reserva de ordem pública, implica


necessariamente (consequência lógica), é termos uma solução, que é neste caso,
completamente, diferente àquele que teríamos se aplicássemos a lei marroquina. O
estado português nos termos do artigo 22º diz que admite a aplicabilidade da ordem
pública estrangeira, a não ser que viole a ordem pública, ou seja, os interesses dos
portugueses são salvaguardados, no artigo 22º, mas aquilo que ele exige agora é
porque necessariamente, as soluções a que vamos dar causa são paradigmaticamente
opostas, necessariamente, há efeitos jurídicos que se produzem ou deixam de produzir
porque estamos a aplicar soluções materiais diferentes, neste caso concreto se não
existe casamento, não há os efeitos do casamento.
E, portanto, o que se exige agora é a ponderação daquilo que não vai acontecer
porque não vamos aplicar a lei marroquina, ou seja, implica a ponderação entre os
efeitos da proteção da ordem pública e os efeitos privados que podem ser postos em
causa, pela aplicação da ordem pública portuguesa.

Esta ponderação vai implicar das duas uma: ou se mantém a aplicabilidade da


lei portuguesa, ou então, voltamos para trás e aplicamos a lei marroquina, o
denominado efeito atenuado da exceção da ordem pública.

Esta ponderação faz se como?

Primeiro, a existência naturalmente de efeitos jurídicos que se produziram, se o


contrato aplicando a lei marroquina fosse válido, produziram-se todos os efeitos típicos
do casamento, nomeadamente, os efeitos pessoais e, sobretudo para a questão
controvertida que nos interessa, os efeitos patrimoniais.

84
Direito Internacional Privado – OT e P
Então, agora, protegemos a ordem pública ou protegemos os efeitos do casamento?

Um ou outro, consoante se verificarem ou não 3 requisitos cumulativos:

1. Se a relação jurídica for constituída no estrangeiro;


2. A ligação à ordem jurídica portuguesa;
3. A existência de direitos adquiridos.

Vamos ver se funciona ou não o efeito atenuado:

1. A relação foi constituída no estrangeiro - sim;


2. Também se verifica;
3. Já há direitos adquiridos a salvaguardar, nomeadamente, todos os direitos
decorrentes do divórcio.

Verificados estes 3 requisitos, funciona o efeito atenuado, voltamos à aplicação


da lei marroquina.

Portugal não considera o casamento poligâmico válido (este casamento


poligâmico não é válido), mas aplicamos a lei marroquina neste caso, o casamento
poligâmico é válido neste caso, para efeito de salvaguardar os direitos adquiridos que
decorrem desta relação jurídica. Este casamento não é válido, Portugal não reconhece
e viola, claramente, a nossa ordem pública. Portugal vai reconhecer este casamento
poligâmico para garantir os direitos adquiridos decorrentes do mesmo.
Não temos uma exceção à reserva de ordem pública, temos sim, um efeito
atenuado.
Aquilo que estamos a permitir é, que não reconhecendo que aplicaríamos a lei
portuguesa o casamento poligâmico, vamos limitar os efeitos materiais da nossa ordem
jurídica, com o escopo de salvaguardar os efeitos adquiridos que reconhecemos.

13.11.2023 (P)

Continuação da resolução do caso prático da aula anterior.

Esta questão da poligamia é um instituto particularmente delicado. A questão


relativa ao divórcio e aos efeitos patrimoniais, não obstante, nunca há o
reconhecimento do casamento poligâmico, pode acontecer a produção dos efeitos do
casamento poligâmico para salvaguardar direitos adquiridos, mormente numa ação de
divórcio.

Esta matéria da poligamia tem uma série limitação no que tange da tolerância,
relativamente, aos casamentos poligâmicos, ou seja, o casamento enquanto aquilo que
é uma fonte de família, nomeadamente por não ser poligâmico, é, naturalmente
marcante para a ordem pública internacional. Nós insurgimos quanto ao casamento
poligâmico, não como uma censura, mas sim quanto àquilo que é a diferença estrutural
quanto àquilo que é a nossa perceção de casamento.

85
Direito Internacional Privado – OT e P
Há uma questão muito relevante, que se coloca sobretudo na UE, que não diz
respeito a esta matéria (que é basicamente pacífica), mas um outro efeito que decorre
daquilo que é uma consequência para a UE enquanto tal, ou seja, como sabemos, o
reconhecimento de alguns efeitos do casamento poligâmico, implica depois o
reconhecimento da família que resulte desse casamento e aí quando estamos a tratar
de pessoas que estão num EM da UE, o reconhecimento desse afloramento familiar,
implica uma consequência muito importante, para além destes requisitos que estamos
a falar.
Quanto a esse afloramento, é preciso ter atenção, porque a interpretação da
ordem pública tem de ser feita conforme a lei ditada pela UE, nos termos do primado
do direito da UE, na interpretação que o Tribunal de Justiça sobre a interpretação das
leis aplicadas.

Aquilo que se entende quanto a essa matéria, ou seja, imaginemos que o


cônjuge marido já está num EM da UE, a questão que se coloca agora é se se pode ou
deve reconhecer o casamento poligâmico (o problema nunca se coloca relativamente à
1ª mulher, coloca-se sim relativamente à 2ª, 3ª etc. e aos filhos destas).
O Tribunal de Justiça tem entendido que nesse caso em concreto, não há um
direito, mas ?, ou seja, o Tribunal de Justiça entende, se a primeira mulher estiver na
UE ou num EM, tem direito a ... reunificação familiar e notem, estamos perante um
passo muito importante, porque a partir do momento que um Estado lhe reconhece
esse direito, depois esta mulher tanto no plano europeu, como depois no espaço
Schengen há livre circulação, ou seja, estando num país de um EM, ou espaço
Schengen há livre circulação.
O tribunal de justiça entende que, relativamente à segunda, terceira mulher e
não se reconhece em abstrato o casamento poligâmico e, portanto, não reconhecendo
o casamento poligâmico, não se pode dizer que há um direito à unificação familiar ,
porque é preciso reconhecer em abstrato o casamento poligâmico, reconhecer em
abstrato os direitos adquiridos e só depois reconhecer o casamento poligâmico é que
tem direito à unificação familiar.
Isto depois tem impacto, se forem as 2ª, 3ª, 4ª e por aí fora, mulheres.

A UE tem adotado uma série de políticas restritivas relativamente a esta


interpretação, não completamente alinhadas com o Tribunal Europeu, que tem outro
tipo de preocupações em mente, mas sobretudo, derivado àquilo que são os
movimentos migratórios, que são pessoas que vêm de países onde a poligamia é
aceite.

Então, relativamente à questão prévia estamos esclarecidos, o casamento seria


válido para efeitos de divórcio.

Questão controvertida: Divórcio propriamente dito


Eventualmente, aqui podia-se suscitar, embora no caso não se suscite, uma
outra questão prévia, que é não só determinar qual a lei aplicável ao divórcio, mas
determinar relativamente ao casamento qual é o regime de bens que vigorava entre os
cônjuges.

86
Direito Internacional Privado – OT e P
O caso não oferece esse tipo de dúvida, pelo que ultrapassaríamos essa
questão, mas depois teríamos que se, bom, o casamento fosse válido quem determina
qual é a lei aplicável no regime de bens, porque para o divórcio um dos direitos
adquiridos para salvaguardar são direitos patrimoniais que depende daquilo que seja o
regime de bens aplicável a este casamento. No caso não se coloca a questão e,
portanto, também não a temos de colocar.

A questão relativa a ponderar o casamento internacional é a mesma, a


diferença estará entre determinar a relação jurídica como absoluta ou relativamente
internacional, consoante entendamos que a senhora já vivia no momento atual em
Portugal, ou seja, que a atual RH já era Portugal.

Neste caso concreto, Portugal é a lex fori.

Qual a norma de conflitos que determina o elemento de conexão?

A norma de conflitos que determina o elemento de conexão é o artigo 55º, na


parte relativa ao divórcio, que remete para o artigo 52º. Aqui o que o artigo 52º quer
salvaguardar é que o conceito quadro do 52º é supletivo ao do 53º, ou seja, quando
queremos saber efeitos relativos ao contrato de casamento, só aplicamos o 52º se não
aplicarmos o 53º. Não se coloca neste caso, porque neste caso não há dúvidas quanto
a isso, o conceito quadro é o do 55º, o que vamos buscar ao 52º é o elemento de
conexão. Portanto, analisamos só uma disposição do artigo seguinte porque não
estamos a utilizar a interpretação do conceito quadro do 52º porque o nosso conceito
quadro vem do 55º, o que vamos buscar ao 52º é o elemento de conexão.
Atenção, que quando aplicamos o 52º por remissão do 55º, não vamos ao 53º,
só vamos ao 53º quando estamos a tratar das relações entre os cônjuges. O que o 52º
diz é que trata de todas as relações entre os cônjuges a não ser que estejam no 53º. O
53º tem os efeitos patrimoniais, e o 52º tem os efeitos pessoais.

Assim sendo, quando começamos a lei o artigo 52º, temos a lei nacional
comum, só vamos buscar o elemento de conexão. Não temos, o Abdul é marroquino e
a Malala é turca. Não tendo os cônjuges a mesma nacionalidade, aplica-se a RH
comum, aqui notem, a RH comum seria aquela que estava mais próxima da questão
controvertida de facto, das 2 uma, ou entendíamos que ela nunca tinha mudado de RH
comum, portanto, eles ainda viviam no Líbano, ou então, não tem RH comum, e aí
aplicaríamos a lei com a conexão mais estreita com a vida familiar e aí reparem
chegávamos ao Líbano igualmente.

L2 é o Líbano. Agora, por sua vez, o Líbano considera competente a lei do lugar
da celebração do casamento, ou seja, Marrocos, que por sua vez considera competente
a lei da RH dos cônjuges, ou seja, devolve a competência ao Líbano. Como temos,
notem, reenvio quer em L2, quer em L3, vamos ver quais são as posições que os
Estados adotam em matéria de reenvio. O Líbano em matéria de reenvio é avesso a
este, portanto, só faz referências materiais e Marrocos adota a devolução simples. Ou
seja, se L2 faz uma referência material a L3 aplicaria L3, L3 fazendo uma devolução
simples a L2, faz uma referência global para L2 e uma referência para si própria, ou

87
Direito Internacional Privado – OT e P
seja, considera-se indiretamente competente. Neste caso temos reenvio, temos
harmonia e neste caso o reenvio é meio necessário para atingir a harmonia jurídica
internacional.
Este reenvio é o do artigo 17º, pois temos um reenvio por transmissão de
competências. Estão verificados os requisitos do nº1 ou não? Temos uma transmissão
de competência com retorno, aquilo que o 17º/1 diz é, se o DIP de L2 remeter para
outra lei e esta se considerar competente, Portugal aceita o reenvio, notem, não
exatamente o que acontece aqui porque L3 não se considera competente
imediatamente, ela considera competente L2, mas indiretamente porque aceita a
devolução da competência, indiretamente considera-se competente. Numa
interpretação tendo em consideração a ratio legis da norma, Portugal vai admitir a
aplicabilidade de L3, a não ser que, temos de ir ver o nº2. Temos matéria pessoal,
claramente, o 1º requisito que L2 seja lei da nacionalidade, o que não é, é ou a lei da
RH ou da conexão manifestamente mais estreita, portanto, não se aplica o 17º/2,
admitimos a aplicabilidade da lei marroquina.

Portugal vai admitir o reenvio e aplicar L3, já sabemos que não é todo o OJ de
L3, é ou são as normas de direito material que resolvem a questão e basicamente, a
questão controvertida é saber se eles estão divorciados ou não.

Será que o OJ marroquino admite a validade do casamento poligâmico e admite, nos


termos da alínea d) o repúdio verbal para termos o divórcio?

O divórcio formaliza-se por várias coisas, incluindo o repúdio verbal. Agora


vamos passar pelo processo da qualificação nos termos do artigo 15º. A interpretação
do conceito quadro, do 55º, aqui basta ser literal, o 55º trata entre outras coisas do
divórcio, depois fazemos a interpretação do Quid, ou seja, da tal norma de direito
material que diz que uma das formas de divórcio é o repúdio verbal. Portanto, eles
tratam a questão no OJ marroquino como uma forma de divórcio e agora o elemento
propriamente dito da qualificação: o Quid trata do divórcio e o 55º trata, entre outras
coisas, do divórcio, ou seja, quer um legislador, quer outro, estão a tratar de formas de
extinção do casamento, portanto, integra o Quid, e o seu conteúdo e função integra o
conceito quadro.
Passamos o processo de qualificação, se integra, significa que o juiz agora vai diz
“exceção perentória” verificada, este casamento, que reconhecemos válido para efeitos
de divórcio e os senhores estão divorciados pelo “talaq, talaq, talaq”.

Havia aqui 2 questões para resolver. A primeira era se o facto de o repúdio


verbal ser admissível como forma de divórcio só para o homem e não para a mulher, o
que significa que em abstrato, temos uma discriminação de género em que só os
homens podem usar esta forma de divórcio.

Porque é que não se coloca aqui verdadeiramente um problema do artigo 21º?

O artigo 22º, só se posiciona, quando pela aplicação da lei resulte no caso


concreto uma discriminação, não em abstrato. Ora, no caso concreto não se suscita
nenhum elemento de discriminação, foi ele que quis usar aquele meio, ele usou e

88
Direito Internacional Privado – OT e P
colocar-se-á a questão se ela o quisesse fazer e não o conseguisse porque a lei dizia
que estava impedida por ser mulher, aí sim tínhamos em concreto um efeito
discriminatório. Neste caso, a ordem pública funciona em concreto, nada a opor em
usar a norma que é em abstrato discriminatória, mas no caso concreto não produz
nenhum efeito discriminatório.

Portanto, quanto a essa questão, não há de facto um problema de ordem


pública, porque a norma só tem problemas se esse efeito discriminatório tiver sido
verificado em concreto e não em abstrato.

A grande questão que aqui se coloca é outra.


É se o tal repúdio verbal que se faz, não contraria a ordem pública, por um
outro motivo que, notem, apesar do divórcio ser um direito potestativo, quando não
há consentimento dos cônjuges, como qualquer resolução de qualquer contrato, só
pode ser feita de 2 uma: ou ambas as partes estavam de acordo em termos uma
solução de rescisão, ou quando ambas as partes não estão de acordo com ou sem (?),
os princípios dos contratos sinalagmáticos é que número de partes que fazem parte da
formação do negócio tem que ser o mesmo que permite a alteração desse negócio, sob
pena de ser necessário um terceiro para resolver a questão

Ora, “talaq, talaq, talaq”, para além de não resolver outras questões que aqui se
suscitam, e que não estão propriamente citadas no caso prático, teriam de ser eles os 2
estarem em praça pública e ele repudiá-la com esta expressão, que tem uma
conotação altamente negativa, para além de ser um exercício defraudatório, põe aqui
em causa aquilo que é a consideração relativamente à mulher. Relativamente aquilo
que é a estrutura típica das relações jurídicas no OJ português, a resolução do que
acontecer neste caso, ou seja, a extinção dos negócios que tem das duas uma: ou
cumprir o mesmo nº de partes que deu origem à formação do negócio ou se assim não
for, não pode ser concedido o direito a um de fazer extinguir sem que haja a
possibilidade de uma intervenção judiciária. Sob pena de fazermos o quê? Aquilo que
no direito privado é a ofensivo da autonomia da vontade, que é a igualdade da posição
entre as partes.
No ordenamento jurídico português é um direito potestativo, pode estar
constantemente a dizer que não que fica divorciado na mesma, não havendo esse
acordo de vontades, não há alteração da relação jurídica sem que o Tribunal possa
sindicar o fundamento que é a causa de resolução e depois decretá-la. Sob pena de
uma das partes fiquem numa posição de supremacia relativamente às outras o que
afasta o Princípio da igualdade que está associado àquilo que são as relações jurídicas.

Notem, mesmo quando elas não existam, porque há e existe no OJ português


nomeadamente relações de direito privado, há relações de consumo por exemplo, a lei
aquilo que faz não é manter a posição de supremacia relativamente ao outro, é tentar
esbater a desigualdade relativamente àquilo que ele tem na simetria da informação, ou
é insuscetível porque está numa situação de subordinação gerir aquilo que é a
autonomia da vontade de forma livre.

89
Direito Internacional Privado – OT e P
Portanto, nessas circunstâncias, neste caso concreto, haveria, por isso, uma
violação daquilo que é a estrutura da relação jurídica, portanto, viola a nossa ordem
pública. Conhecemos. O que é que fazemos, artigo 22º do CC.
Já sabemos, Princípio do mínimo dano, a ideia seria interpretar a norma de
forma aplicá-la de forma a ela não ser atentatória da nossa ordem pública, não sendo
possível, volta-se a aplicar L1.

14.11.2023 (P)

CASO PRATICO 19

Aisha e Sald são cidadãos Iranianos, atualmente com residência habitual em Paris,
casaram no Iraque no regime de comunhão de adquiridos. Discute-se em Portugal a
questão da validade da venda de uma casa, propriedade do casal, em Rabat uma vez
que Aisha não foi outorgante, nem se fez representar por qualquer forma no ato de
compra e venda. O contrato de compra e venda foi celebrado em Rabat e os
adquirentes, Maria e José, são cidadãos portugueses com residência habitual em Cuba.

Aquando do casamento e ainda no momento da celebração do contrato, Aisha e Said


residiam no Iraque.

Os ordenamentos jurídicos iraniano e marroquino admitem que, mesmo no regime de


comunhão de bens, só um dos cônjuges possa alienar património comum do casal.

O ordenamento jurídico francês e iraquiano têm uma solução material idêntica à


portuguesa.

Admita que:

a) A lei iraniana considera competente para aferir desta questão, a lei do lugar
do onde o contrato foi celebrado e pratica devolução simples;

b) O ordenamento marroquino, também nesta matéria, considera


competente a lei da residência habitual comum dos cônjuges [vendedores] e
pratica devolução simples.

c) Por fim, o ordenamento jurídico francês considera competente a lei da


primeira residência habitual comum dos cônjuges [vendedores], e é anti-
devolucionista. A mesma solução adotada pelo ordenamento iraquiano.

Diga qual a solução material a aplicar ao caso em apreço.

RESOLUÇÃO:

90
Direito Internacional Privado – OT e P
Vamos ver se temos ou não uma RJ internacional, precisamos de saber se
temos uma RJ para a questão da validade do NJ – CV, mas relativo ao contrato de
casamento.
Portanto temos os conjugues

Questão controvertida: validade deste contrato é um problema de que?

A procuração é inválida, porque não estava o pai a representar o filho, ou porque (não
terminou).

Pensado em Portugal, se eu estivesse casada e o meu cônjuge fosse vender uma


casa, ele foi e o direito (?), depende. Se disser que eu sou casada e hoje o meu marido
acabou de vender um imóvel, eu acho que o contrato não é válido. Depende. Ou seja,
a validade deste contrato é um problema dos efeitos patrimoniais do casamento.
De 2/1, se temos um regime de separação, se temos um regime de comunhão.
Se o bem é anterior ou depois do casamento. Se é casa de morada de família, se é
outra coisa qualquer. É isso que temos que perguntar.
Os senhores estão casados no regime de comunhão geral de adquiridos ou
separação. A professora diria separação de bens. Depois o imóvel era questionado se
era a casa de morada de família e dizia-se que sim.
O problema da validade aqui depende dos efeitos patrimoniais de qualquer
contrato de casamento relativamente ao casal.

Portanto, aqui o que importa é, saber quais são os efeitos que decorrem do
contrato de casamento para saber depois, a partir daí, qual é a lei aplicável. A mesma
coisa que faríamos se perguntássemos à professora, só que já sabíamos qual era a lei
aplicável.
Portanto, para a tal compra, ele pode ir sozinho, ou ele pode ir mas a esposa
tem que consentir, ou ele nem sozinho pode ir porque eu também tenho que
outorgar. São regimes diferentes, depende do nosso regime de bens, quando a coisa
for adquirida ou for a casa de morada de família.
Temos de saber os efeitos patrimoniais do contrato de casamento.

A questão é: se o efeito do contrato de casamento depender do regime de


bens, se disser que ela ou é outorgante ou que só precisa de consentir é uma questão
de validade do contrato.
Depois a questão da validade é muito ampla. Sobretudo, se a questão for da
validade do contrato estão próximos do artigo 41º do CC, ou seja, do objeto imediato
da relação jurídica, ou seja, do princípio da maior proximidade.
Nesta questão em concreto se pensarem no problema de validade que aqui
tem, a vossa norma de conflitos já está a apontar para outro lado. E o princípio que
aqui está subjacente, é a maior ligação individual e não o princípio da maior
proximidade. (Atenção como fecham a vossa questão).

Se assim é, temos de ver se temos ou não uma relação jurídica internacional.


Portanto, aquilo que nós precisamos de saber no caso concreto é: se temos
uma relação jurídica para a questão da validade do negócio jurídico, que é o contrato

91
Direito Internacional Privado – OT e P
de compra e venda, mas relativo ao contrato de casamento. Na realidade tínhamos até
mais que uma situação para analisar.

1. SUJEITOS:
VENDEDORES:
a. A
i. Nacionalidade: OJ Iraniano
ii. RH: OJ Francês
b. S
i. Nacionalidade: OJ Iraniano
ii. RH: OJ Francês
c. Eles viviam no Iraque e depois passaram a viver em Paris – O OJ da
residência habitual é o OJ Iraquiano à data da celebração do contrato e,
entretanto, após o casamento eles mudaram-se para França.

2. FACTO: OJ Iraquiano
3. OBJETO:
a. MEDIATO: OJ Marroquino
b. IMEADIATO: OJ Marroquino

Validade da compra e venda, mas é associado aos efeitos do contrato.

COMPRADORES:
c. Maria e José
i. Nacionalidade: OJ PT
ii. RH: OJ Cuba

Temos uma relação jurídica plurilocalizada, em que ela é relativamente


internacional porque temos aqui os compradores da compra e venda tem
nacionalidade portuguesa. A relação jurídica é relativamente internacional, ou seja, há
uma conexão com a lex fori que é Portugal.

Norma de conflitos: Neste caso concreto, aquilo que nós queremos saber é
quais são os efeitos patrimoniais, ou seja, de acordo com o regime de bens do casal é
saber se este bem é comum ou não, se é preciso de autorização ou não do cônjuge.

É decorrente do quê?

Dos efeitos patrimoniais do casamento, ou seja, do tipo de regime de bens que


tenha sido adotado.

Se estamos a falar dos efeitos do casamento temos o 52º e 53º.


O 52º é uma regra supletiva relativamente ao 53º. O 53º trata dos efeitos do
regime de bens, no caso concreto temos a conexão do artigo 53º.

92
Direito Internacional Privado – OT e P
Entre outras coisas, os efeitos do regime de bens são definidos pela lei nacional
dos nubentes ao tempo da celebração do casamento.

Qual é a nacionalidade dos nubentes?

Ordenamento jurídico iraniano.


O irão considera competente a lei do lugar onde foi celebrado o contrato
(contrato de CV), ou seja, ordenamento jurídico marroquino. Marrocos considera
competente a lei da residência habitual comum dos cônjuges vendedores.

Os vendedores têm duas residências habituais: Iraque e frança. Não diz nada.
Na falta de indicação em contrário, usariam o mesmo critério que usam para Portugal
para decidir qual era a residência habitual aplicável. Escolhemos sempre a conexão
que está mais próxima da questão controvertida.

Qual é o efeito que dá origem à questão controvertida?

A questão controvertida é a validade do contrato de compra e venda, mas a


questão que temos que resolver para efeitos de validade é saber se os outorgantes do
contrato de compra e venda têm que estar 1 ou 2 cônjuges. Portanto o contrato
controvertido é o contrato de compra e venda e não o de casamento.

O nosso problema não é saber se o contrato de CV é válido ou inválido. O que


queremos saber é se no contrato de compra e venda tem de estar um ou dois
cônjuges. Para isso é preciso saber é: noutro contrário qual é o regime e de bens. Mas
a questão controvertida não é o casamento é a compra e venda.
Quando o Irão diz que considera competente o lugar da celebração do NJ, este
é o da questão controvertida, que é o contrato de CV.

Às vezes também acontece em PT a lei dizer que é a lei da RH, é a lei da


nacionalidade e não diz mais nada. Se eu quiser saber, tendo eu 17 anos, se tem
capacidade ou não para celebrar o negócio jurídico, e ontem eu era espanhola e hoje
sou portuguesa, qual é a nacionalidade que temos que considerar? Acontece a mesma
coisa. Muitas vezes nós não sabemos, porque não temos indicação, qual é a lei que
vamos escolher.

Como é que nós determinamos?

Ressalvadas algumas exceções em que a lei expressamente prevê,


nomeadamente a proteção de direitos adquiridos de terceiros, quando era a alteração
dos regimes de bens dos contratos de casamento que se podia fazer essa alteração e
não se pode pôr em causa direitos adquiridos de 3ºs. Ou seja, nós vamos escolher a lei
que esta mais próxima da questão controvertida.

Qual é a questão controvertida?

É saber se no contrato de compra e venda tem de estar um ou dois.

93
Direito Internacional Privado – OT e P

Ou seja, à data de celebração do contrato de compra e venda onde é que os


vendedores viviam?

Porque a questão controvertida é saber se no contrato de compra e venda tem


de estar 1 ou 2. Se a lei não esclarece, usamos o mesmo princípio que em Portugal, a
lei mais próxima da questão controvertida. Sendo esta na constituição da relação
jurídica, quando os sujeitos precisam de estar um ou dois.

Onde é que eles viviam quando celebraram o contrato?

No Iraque.

E o Iraque, considera competente que lei?

É a alínea c). Aqui eles já se especificam claramente.


Considera competente a primeira residência habitual comum do casal, ou seja,
o Iraque considera-se competente. Na falta de indicação, o critério é o mesmo que o
nosso, não temos forma de interpretar de outra forma, a lei mais próxima da questão
controvertida.

Neste caso temos reenvio, mas não temos para as leis todas, só temos reenvio
para L1 e para L2.
Logo, L3 e L4 não têm reenvio neste esquema.

L3 aplicaria que lei?

L3 considera competente L4 que se considera competente. Para L3 não há


reenvio. Para haver reenvio a lei estrangeira não se considerar reenvio. Ora, se não há
reenvio não precisamos de saber qual é a posição deste estado em matéria de reenvio.
L3 aplica que lei? L4.
L4 aplica L4.

Agora temos de saber a posição do Irão em matéria de reenvio - pratica


devolução simples, portanto L2 faz uma referência global para L3 e faz uma referência
material para L4.
Temos reenvio, temos harmonia e o reenvio é o meio necessário. Neste caso é
reenvio por transmissão de competências em cadeia , artigo 17º.

Estão verificados os requisitos do nº1?


Não diretamente. Temos de fazer uma interpretação extensiva de acordo com
o princípio da harmonia jurídica internacional. Desde que todos estejam em acordo em
aplicar a mesma lei, nós interpretamos extensivamente a norma e a aplicabilidade de
L4.

94
Direito Internacional Privado – OT e P
Temos aqui uma matéria de estatuto pessoal, em que L2 é a lei da
nacionalidade, portanto vamos ver se o artigo 17º/2 nos vai complicar a situação.
Aqui temos o mesmo problema que tínhamos para decidir qual era a residência
habitual, se considerarmos os interessados (conjugues), eles residiram na vida em dois
sítios e temos de ver a residência habitual que consideramos. O princípio é exatamente
o mesmo, é a lei da residência habitual mais próxima da questão controvertida - então
o Iraque. Que não considera competente o direito interno da nacionalidade em
questão.
Ou seja, não está verificado o 17º/2, logo aceitamos o reenvio nos termos do
17º/4. No OJ vamos aplicar o OJ iraquiano que tem uma solução idêntica à portuguesa.
Este negócio seria invalido.
Portanto pelo princípio do favor negotti, artigo 19º.
Se, fazendo cessar o reenvio aplicássemos L2, ou seja, o ordenamento jurídico
iraniano, o contrato será valido, independentemente do regime de bens, o cônjuge
sozinho não podia alienar o património.
No caso, não se aplica o artigo 19º porque se suscita um problema de ordem
publica do ordenamento jurídico iraniano.
Tinham um conflito entre o favor negotti e a ordem publica internacional e a
ordem publica internacional prevalece.

Porquê?
O direito de propriedade é um direito fundamental, previsto na CRP.
Considerado, pela doutrina em geral, um direito análogo aos direitos liberdades e
garantias.

àSignifica o quê?
Significa que se olharem para este regime, esta solução jurídica diferente da
nossa, temos um comproprietário, que sem qualquer intervenção da sua parte pode
perder o direito de propriedade.
Ou seja, é um direito absoluto que independentemente da sua manifestação de
vontade pode ser afastada da sua esfera jurídica.
Não havendo prevalência relativamente ao cônjuges, isto é uma forma de
afetar o principal direito real. Para a lei jurídica portuguesa, é elevada a categoria de
direito (?).
A não ser que haja conflitos com interesses de maior valor, nomeadamente
interesses públicos, na CRP única limitação ao direito de propriedade tem a ver com
situações de interesse publico nomeadamente para situações de expropriação,
interesses de igual valor, não podem afetar, no limite podem se comprimir direitos de
propriedade. Mas um não pode prevalecer sobre o outro.
Neste caso pior ainda, não havendo prevalência nem conflito de igual valor,
alguém consiga ficar sem o seu direito de propriedade.

àO que é que isto significa?


Significa que neste caso concreto, se nós fizermos funcionar o artigo 19º, vamos
dar origem a uma solução que valida o negocio, mas depois vamos ter que entrar na
cláusula do artigo 22º de ordem pública. Ou seja, vamos aplicar a aplicar a lei do foro
que é idêntica a solução do ordenamento jurídico que tentamos pelo artigo 17º nº1.

95
Direito Internacional Privado – OT e P
Assim o que fazemos é, não aplicamos o artigo 19º que ele vai dar a violação do
artigo 22º e mantemos aplicação do artigo 17º.

A ponderação de vários interesses jurídicos do DIP, nesta situação, o favor


negocio do artigo 19º entra em conflito com o artigo 22º, então nós não
desencadeámos o artigo 19º, sob pena de darmos origem à exceção de ordem publica
internacional e mantemos o reenvio no caso concreto.

21.11.2023 (P)

As questões controvertidas material é: validade formal do negócio. Sendo que


pelo menos uma das artes suscita a questão de não ser aplicável a lei que as partes
escolheram para aplicar no caso em concreto.
Tal qual como fazemos nos casos sem regulamentos, temos de ver se temos
uma Relação jurídica internacional.

Temos uma situação em que estamos a tratar das obrigações em geral.


Artigo 41º do CC ou supletivamente as regras do 42º do CC. A todas estas
questões, existe para esta matéria, a aplicabilidade do denominado regulamento de
Roma I.

O que acontece aqui?

Para os regulamentos cada um destes tem um determinado âmbito de


aplicação.
O âmbito de aplicação destes regulamentos, de alguma forma coincidem com
normas conflituais que temos no CC, no caso o regulamento de Roma I inclui todas as
matérias do artigo 41º e 42º.
Logo, se concluímos para a aplicabilidade do regulamento de Roma I, aí vigoram
as regras de Direito Internacional e de DUE, onde um regulamento prevalece sobre
uma lei interna. Se for uma situação em que havendo coincidência no que tange ao
conceito quadro do artigo 41º e 42º, entre o conflito da aplicabilidade destes artigos e
do regulamento de Roma I, aplicamos o regulamento da união europeia.

A questão da aplicabilidade do 41º e 42º, é de que a probabilidade de


encontrar algum caso em que estes artigos se apliquem é inexistente. Isto porque o
regulamento de Roma I é de 2009, mas antes do regulamento de Roma I havia uma
convenção de Roma que é da década de 80. Portanto, para todos os contratos
posteriores a 2009, aplica-se a convenção e não se aplica o CC, a partir de 2009,
aplicamos o regulamento de Roma I.
Para se aplicar o 41º e 42º temos de encontrar um contrato internacional, que
antes do mais, seja anterior a 1980. Entre 1980 e 2009 aplicamos a convenção de
Roma e de 2009 a diante é o regulamento de Roma.

Portanto, a conclusão de que chegamos é que o artigo 41º e 42º estão em vigor,
(nada quanto à sua possibilidade, em abstrato, de aplicabilidade) mas a doutrina
considera-se que estão derrogados, mas a falta sucessiva de aplicabilidade significa

96
Direito Internacional Privado – OT e P
que não há nenhum tipo de efetividade de aplicabilidade destes artigos. No entanto, é
difícil que uma coisa dessas aconteça.
Apesar de ter muitas matérias, que depois vamos ver nos respetivos
regulamentos, que esgotam alguns artigos do CC, nesse caso aplicam o regulamento e
não o código civil, que são regulamentos muito mais recentes e, portanto, é possível
que encontrem a aplicabilidade de um ou de outro consoante a data que efetivamente
tenham em consideração.
Para a matéria relativa às obrigações, ainda que não pelo regulamento porque
já havia uma convenção anterior, temos de ter um contrato, da década de 70, do
século passado, para conseguirem aplicar o CC. Não é que não haja contratos da
década de 70 em vigor atualmente, alguns contratos de arrendamento, mas reparem
que tem de ser contratos internacionais que suscitem alguma questão controvertida,
mas não tem, de facto, acontecido. Isto primeiro com a convecção de Roma.

No regulamento de Roma, de facto, na matéria relativa às obrigações foi aquela


que para além de estatuto comercial, mas que o regulamento também se aplica a
essas, foi aquela que, naturalmente, por aquilo que era o mais comum em matéria de
relações publicas internacionais, que o legislador maior estabeleceu como sendo a
matéria mais carecida de uma uniformização em matérias de regras de conflitos, mas,
pelo menos, dentro dos EM da UE houvesse uma uniformidade quanto ao efeito que
efetivamente havia de ser aplicado.

Para alem de ser um princípio de direito interno, mas também é um princípio


de direito internacional, quer num quer noutro para a regra geral para a lei aplicável
para relações jurídicas internacionais em matéria de convenções, é a lei que as partes
escolherem.
Ou seja, se o princípio regra em matéria de direito das obrigações é o princípio
da autonomia da vontade, então em DIP aplica-se o princípio da autonomia da
vontade, ou seja, a lei que as partes escolherem. Com as seguintes diferenças: 06:14

ESTABELECENDO AS DIFERENÇAS ENTRE O 41º E 42º:


Igual: Autonomia da vontade
Diferente:
1. Intangibilidade
2. Spitring ou Dépeçage
3. Autonomia

No regime do artigo 41º dele resultam 2/3 afloramentos importantes:


1º INTANGIBILIDADE- As partes podem escolher a lei – a regra é autonomia da
vontade. Agora recordam-se a lei escolhida só pode ser aquela que tem contacto com
a relação jurídica- A não ser que as partes demonstrem o interesse sério na escolha de
uma outra lei qualquer, ou seja, as partes podem escolher a lei que quiserem, desde
que seja uma das leis em contacto com a relação jurídica – princípio da não
transitividade.

97
Direito Internacional Privado – OT e P
O regulamento de Roma I não tem, ou seja, as partes podem escolher o que
quiserem, tenha ou não contacto com a relação jurídica, ou seja, não se verifica o
princípio da não transitividade. As partes não estão limitadas na escolha de lei.

2º PROIBIÇÃO DO SPLITING OU DÉPEÇAGE – A dividir o contrato por várias


questões jurídicas, para cada uma delas, as partes escolherem leis diferentes.
No caso de, imaginem, as partes queriam para a questão relativa à
responsabilidade contratual X, mas depois se fosse para um problema de
impossibilidade de incumprimento queriam a lei Y. Dividiam o contrato por várias
questões jurídicas e para cada uma delas aplicariam a uma lei diferente.
Isto, como percebem, não é possível pelo artigo 41º CC, mas o regulamento de
Roma I não impõe qualquer limite. Ou seja, as partes podem escolher a lei que
quiserem, podem desmembrar, dividir o contrato da forma que entenderem, para
cada umas partes podem escolher o que entenderem.
Para além disso, mais uma vez desde que não ponham em causa interesses de
3ºs, podem alterar a lei as vezes que quiserem aplicável aquele contrato.

3º AUTONOMIA - Se se recordam, também no artigo 41º, a interpretação é de


que, se as partes só podem escolher uma da lei em contacto com a relação jurídica,
isto significa que aquela relação jurídica tem de ser internacional, para que as partes
possam escolher uma de pelo menos uma das leis aplicáveis.
Isto significava que não era possível pela vontade das partes internacionalizar
uma relação jurídica.
No regulamento de Roma I, nada impede que uma relação jurídica puramente
interna, seja internacionalizada exclusivamente pela conexão autonomia da vontade.
Ou seja, a conexão autonomia da vontade é autónoma, ou seja, para efeitos do
regulamento se quisermos saber se uma relação jurídica é internacional ou não, temos
de ver os sujeitos, o objeto, o facto e autonomia e também a autonomia da vontade.

No artigo 41º, se todos estes elementos fosse num único ordenamento jurídico,
não temos relação jurídica internacional. Ou seja, a autonomia da vontade só servia
para escolher de entre uma relação jurídica que já era internacional.
Com o regulamento de Roma I, todos os elementos da relação jurídica podem
estar num único ordenamento jurídico e a autonomia da vontade é que
internacionaliza a relação jurídica, ela passa a ser uma relação jurídica internacional.
O regulamento de Roma I liberaliza/muscula, de alguma forma, a autonomia da
vontade. As partes têm, em casos concretos, muito mais liberdade da escolha de lei
aplicável, à escolha das suas leis jurídicas, mesmo sendo de direito interno.

Notem a influencia do DUE na interpretação dos princípios e na conformação do


direito internacional. Em direito de obrigações, o princípio regra do direito das
obrigações é que as partes têm autonomia da vontade. Ou seja, as partes escolhem se
querem contratar ou não, com quem querem contratar, o conteúdo dos contratos,
com exceção de regras interpretativas, as partes fazem o que quiserem. Mas notem o
seguinte, claro que há limites a isto.
(raparigas a passar no corredor) tendo em consideração que são serviços de
fornecimento de bens essenciais, ou um não conseguimos escolher a contraparte, ou

98
Direito Internacional Privado – OT e P
então não conseguimos escolher o conteúdo ou conformar o conteúdo do contrato
porque há uma assimetria de posições. Por exemplo, as questões laborais, as questões
dos consumidores.
Para isso o legislador, considerando o princípio da proteção da parte mais fraca,
vai corrigindo essa assimetria para que o princípio regra que é de tal paridade entre as
partes para que elas estão numa posição igualitária prevaleça.

Com o regulamento de Roma I, sofre uma alteração no próprio direito interno e


interpretação de direito interno, para alem destes 3 afloramentos, agora temos
outro: podemos escolher a lei que querem. Não como um problema exclusivamente
conflitual, mas como conexão decorrente do princípio material de internacionalizarem
a vossa relação jurídica.
O que traz uma consequência importante, significa que a não ser em situações
excecionais, em matéria de direito das obrigações, deixa de se colocar problemas da
fraude à lei.
Na matéria de direitos das obrigações, esse problema era as partes de uma
relação jurídica puramente interna, manobrarem o elemento de conexão para
internacionalizarem a relação jurídica para aplicarem lei estrangeira. Ou então tinham
uma relação jurídica internacional e queriam aplicar uma lei diferente daquela que
esta em contacto com a relação jurídica e manobravam o elemento de conexão para
ficarem em contacto com a lei que queriam ver aplicável ao caso concreto. Acabou a
fraude à lei, porque se as partes podem escolher a lei que quiserem, ser aquela que
tem em contacto com a relação jurídica e se só podem, exclusivamente, pela
autonomia da vontade internacionalizar a relação jurídica, os problemas da fraude à
lei desaparecem em matéria de direito das obrigações.

CASO PRÁTICO 20

Manuel e Joaquim, portugueses com RH no Porto, celebraram no Porto um contrato


de compra e venda de uma tonelada de sardinha. A sardinha encontra-se na lota de
Matosinhos e será, posteriormente, entregue numa fábrica de conservas em Vigo,
Espanha, para a respetiva transformação

Nos termos do contrato ficou expressamente estabelecido que, para qualquer questão
emergente do contrato, deverá ser aplicada a lei italiana.
Admita que se discute nos tribunais portugueses o seguinte:

a) Validade formal do contrato, uma vez que, de acordo com a lei espanhola
este contrato teria de ter a forma escrita;
b) A lei italiana não poderia ter sido escolhida pelas partes porquanto não tem
contacto com a relação jurídica;
c) Mesmo que fosse aplicável, a lei italiana considera aplicável a lei do lugar da
celebração do negócio jurídico e é anti-devolucionista.
Quid juris?

RESOLUÇÃO:

99
Direito Internacional Privado – OT e P

Agora, depois de saber o que foi referido acima, é exatamente igual. Temos uma
relação controvertida, a validade de um contrato/negócio de compra e venda. Agora
vamos ver se ela é internacional ou não.
Para alem daquilo que fazíamos antes, agora temos mais um elemento a incluir
- a autonomia da vontade. Antigamente a autonomia da vontade servia só como
elemento de conexão, agora serve para determinar se a relação jurídica é internacional
ou não.

1. Sujeitos:
a. Manuel e Joaquim
i. Nacionalidade: OJ PT
ii. RH: OJ PT
2. Objeto:
a. Mediato: OJ PT
b. Imediato: OJ ESPANHOL – Quando uma das obrigações que é a
obrigação de entrega da coisa, é que o cumprimento desta obrigação é
o OJ espanhol.
3. Facto: OJ PT
4. Autonomia da vontade: OJ ITALIANO – O elemento da relação jurídica é o
elemento para internacionalizar a relação jurídica, ainda que ela já seja
internacional porque já temos contacto com OJ.

A questão está pendente na lex fori – OJ PT.


Os regulamentos da união europeia, ou o DUE, tem o princípio da interpretação
autêntica que devem ser uniformes aos (27?). Duvidas interpretativas resolvem-se
quando da aplicabilidade do DUE, o reenvio prejudicial não esqueça. Ou seja, o sentido
de interpretação das normas, faz-se de acordo com aquele que o tribunal de justiça vai
determinar. Uma espécie de regra de precedente relativamente à evolução ?.
Duvidas interpretativas: vão à procura de um acórdão que as resolvam o
problema e não há possibilidade de aplicar de outra forma. E reparem, se
efetivamente se suscitar alguma dúvida o tribunal não pode fazer a interpretação, na
dúvida tem de fazer o reenvio prejudicial ou o processo desse reenvio ao tribunal de
justiça.
(O regulamento, neste caso, é puramente literal, então aconselho a ler o
regulamento e ele explica a matéria toda).

REGULAMENTO DE ROMA I:

Está dividido da seguinte forma:

· Dos contratos em especial:


Contratos de transporte de mercadorias. Contratos de transporte de pessoas.
Contratos de seguros. Contratos de trabalho. Contratos com consumidores.

100
Direito Internacional Privado – OT e P
Todas aquelas situações em que o legislador da união entendeu que tinha de
ponderar outros princípios que se suscitaram naquela questão, para de alguma forma
limitar ou diminuir a autonomia da vontade.

Tal qual acontece no direito material, qualquer contrato de adesão que


façamos é um contrato de direito privado, em que funciona autonomia da vontade.
Porque é que há, relativamente aos consumidores, um conjunto de regras imperativas,
que nós próprios não podemos renunciar a elas, que fazem parte de um conjunto de
direitos que são garantidos aos consumidores. O legislador percebe que há uma
assimetria.
Dependendo do fluxo de informação que a prestadora tem relativamente aos
consumidores, e da nossa incapacidade de negociar clausulas que estão num contrato
de adesão e, portanto, são inegociáveis.
O que o legislador faz, em todas as regras relativas aos contratos com os
consumidores, esbate esta diferente que há entre as partes, decorrentes da
informação e da capacidade de negociação dos termos do contrato, para proteger os
consumidores.

Notem, em termos conflituais, quando se denota um problema de autonomia


da vontade, o legislador da UE, também percebe que: a posição dessas pessoas,
mesmo no que tange à escolha de lei, também é assimétrica. Ou seja, não é possível
negocial. Portanto, o que o legislador faz é corrigir essas assimetrias.

Portanto, os contratos em especial é tudo o que vão ver muito em


passant porque a matéria ou que não deram em direito comercial, ou porque é de
outras matérias que não temos oportunidade de as ver especificamente. Aquilo que o
legislador da união europeia faz é corrigir essas assimetrias, limitando, nomeadamente
a autonomia da vontade em prol da parte mais fraca no caso concreto.
Aquilo que temos de ver é, se o nosso contrato é um contrato que está
especialmente previsto no regulamento e se é, vão para o regime desse contrato e não
saem de lá. Se não for, então aplicam as regras dos contratos em geral.

· Dos contratos em geral.


As regras dos contratos em geral, são o artigo 3º e o artigo 4º. Por esta ordem.
O artigo 3º tem a conexão regra para os contratos em geral – Autonomia da
vontade. Se as partes não se escolhem uma lei, então aplica-se os critérios supletivos
do artigo 4º. É o que fazem com o artigo 41º e 42º. O artigo 41º diz “em matéria de
obrigações aplica-se a lei escolhida pelas partes”. Depois o 42º diz “Se as partes não
escolherem lei depende, se é um contrato, se é um negócio jurídico unilateral, se é
oneroso ou se é gratuito, aplicam a conexão X ou Y”. Aqui é exatamente a mesma
coisa.

CONTINUAÇÃO DA RESOLUÇÃO:
No nosso caso temos um contrato de CV.
Não há contrato de transporte, não há contrato de seguro, não há contrato de
trabalho, não é um contrato com consumidores.

101
Direito Internacional Privado – OT e P
Isto significa que aplicamos as regras dos contratos em geral – Artigo 3º e 4º.

Aplicamos o artigo 3º ou o 4º consoante as partes tenham ou não tenham


escolhido uma lei. No caso escolheram.
O artigo 3º tem vários números. O busílis da questão está em determinar se
aplicam o nº1 ou o nº3.

Como é que decidem?

Aplicam a regra do nº1 se para além da autonomia da vontade há outra


conexão que internacionaliza a relação jurídica. A autonomia da vontade
internacionaliza a relação jurídica, mas há outro elemento da relação jurídica que a
internacionaliza. Quando temos para além da autonomia da vontade outro elemento
da RJ que internacionaliza a relação jurídica aplicamos o nº1.
Reparem que, se as partes escolhem a lei que querem, vejam a última parte,
“as partes podem designar a lei aplicável à totalidade do contrato ou a penas a parte
do contrato” – Temos aqui presente o Dépeçage, o desmembramento do contrato.

Se a vossa relação jurídica for exclusivamente internacional com a autonomia


da vontade aplicam o nº3.
O número 3 aquilo que diz, basicamente, é: Se todos os elementos da RJ
estiverem num único ordenamento, nada impede que as partes escolham a lei que
quiserem.
No entanto temos um limite no nº1 que é, que as normas imperativas daquele
estado dos elementos da relação jurídica se centram, não podem ser afastadas pela
aplicabilidade da lei.

No caso de, por exemplo, um contrato de mútuo em Portugal de 100 mil€ e


decidimos aplicar a lei chinesa. Nada a opor. Aplicam-lhe a lei que quiserem, não tem
problema nenhum.

Qual é a diferença neste caso concreto?

É que só a autonomia da vontade é que internacionalizava a RJ.

Pode intercionalizá-la com a autonomia da vontade?

Nada a opor, escolhem a lei que quiserem.

Não podem é, neste caso, afastar as regras imperativas do estado PT. Por
exemplo, nos termos da lei chinesa, para a questões de validade formal, deste negócio
jurídico celebrado de acordo a autonomia da vontade em que Portugal exige uma
escritura publica, tem de respeitar a forma prevista no OJ PT. Nada afasta a
possibilidade da escolha da lei.

Se escolhemos a lei, estamos no nº3, porque é um contrato em geral.

102
Direito Internacional Privado – OT e P
Dividindo o nº3:
Nº1 ou Nº3. Nº1 porque a RJ já é internacional para além da autonomia da
vontade. Nos termos do nº1, não havendo limites à escolha da lei, a vontade das
partes é soberana.

Se as partes escolheram a lei italiana, pelo artigo 3º/1, o contrato rege-se pela
lei escolhida pelas partes sem limites ou outras considerações a demonstrar no caso
em concreto. Se é a lei italiana é a autonomia da vontade.

1º Questão caso prático:


Autonomia da vontade, sem obstáculo nenhum, as partes escolhem.

2º Questão caso prático:


Se se recordam, no CC, nos termos do 19º/2, a escolha de lei para o artigo 41º
faz cessar o reenvio, mas a interpretação do 19º/2 é que esta regra é supletiva.

Se as partes não afastaram expressamente o reenvio será que pode haver reenvio
neste caso?

Neste caso refere que a lei italiana não se considera competente e devolve a
competência à lei do lugar onde se celebrou o negócio jurídico. Ou seja, devolve a
competência a Portugal.

No entanto, o regulamento nos termos do artigo 20º o regulamento é anti-


devolucionista, só faz RM. O legislador da UE, refere que não há exceções
O regulamento, em matéria de reenvio, é absolutamente excludente. Ou seja,
aplicando o regulamento fazemos apenas RM. Se a lei estrangeira não se considerar
incompetente, não interessa, só faz RM. Logo não se colocam problemas de reenvio,
nem sequer como acontece com o artigo 19º/2 se aplica, porque nos termos do
regulamento está expressamente proibido qualquer forma de reenvio, nos termos do
artigo 20º.
É verdade que há esta parte que permite, nomeadamente nos contratos em
especial, fazer ponderações sobre leis mais favoráveis, nomeadamente quando
estamos no âmbito de ponderações da parte mais fraca. Nesse caso, o regulamento
permite, excecionalmente, que se uma lei considerar aplicável outra, esta outra lei
proteger a parte mais fraca, então aplica-se da outra. Lamentavelmente não vamos
explorar porque faz parte dos contratos em especial.
Neste caso, só fazemos referências materiais.

3º Questão do caso prático:

A lei espanhola exige um documento escrito, mas não é esta a aplicável, é a


italiana. Sendo que, de qualquer forma, o próprio regulamento tem aqui a
possibilidade de em prol do aproveitamento máximo do negócio jurídico, quando se
coloca um problema de validade mormente formal, conseguirem procurar leis até
darem origem à validade formal.

103
Direito Internacional Privado – OT e P
Esta situação estaria resolvida no artigo 14º, isto que se aplicam à substância
do negócio aplicam também à forma do negócio, portanto a lei italiana resolve todos
os problemas, no entanto, a questão não se colocava porque só a lei espanhola é que
pões questões ao negócio jurídico.
Mas notem, mesmo que a lei italiana se coloca algum problema de validade
formal, temos o artigo 11º/1, onde aplicamos à forma a lei que aplicamos à substância,
ou então em alternativa e a escolha é, se uma não garantir a lei formal escolhem a
outra, ou então aplicamos a lei do lugar onde o negócio foi celebrado. Neste caso cabe
aqui a lei portuguesa.
Mesmo que a lei italiana colocasse algum problema no caso concreto, é aquela
que se aplica para esgotar toda a validade do negócio, mesmo que essa considerasse o
negócio invalido, no artigo 11º aquilo que tem é o princípio do aproveitamento
máximo dos negócios jurídicos e a possibilidade de, no caso concreto, aplicar a lei
portuguesa e garantir a validade do negócio. Seja como for, no caso concreto é de
facto a lei italiana que se vai aplicar, nomeadamente os requisitos da validade formal,
mas em prol do aproveitamento do negócio jurídico, se por acaso a lei italiana
considerasse o negócio como invalido, o regulamento (?) para a aplicabilidade (?) e o
negócio seria formalmente válido.

27.11.2023 (P)

Caso-prático 18:

AA, Lda., sociedade comercial de Direito Português, com sede no Porto, intentou ação
declarativa de condenação, contra BB, S.L., sociedade de Direito
Espanhol, com sede em Madrid alegando, em resumo, que "[] ajustou com a mesma
um contrato de compra e venda de uma grua, e formação para a utilização da mesma,
e pagou o respetivo preço global (€ 125.000,00), não tendo, porém, a Ré, ao arrepio do
que acordara com a Autora, dado formação ao pessoal desta e não tendo os técnicos
que a primeira disponibilizou para a montagem demonstrado conhecer o
funcionamento da máquina.
Ao invés do que fora incutido pela Ré, a grua, ao ser colocada em funcionamento,
evidenciou vários problemas e não trazia consigo o respetivo manual - o que foi
comunicado à Ré - [J. Nessa sequência, a Autora veio a perder o interesse na
manutenção do negócio e a comunicar aqueloutra intenção de o resolver, solicitando a
devolução do preço pago e o levantamento da máquina, o que até agora não
sucedeu".
A grua foi adquirida por contrato celebrado em Madrid e tendo a Ré obrigação de a
entregar na sede da Autora e após esta entrega, a Autora procedeu ao pagamento
integral do preço acordado através de transferência bancária. A formação seria dada
na sede da Autora nos 15 dias seguintes à entrega da grua, o que nunca se verificou.
A Ré contestou, alegando, em resumo, que, "[ ] face ao disposto no artigo 1484,° do
Código Civil Espanhol, aqui aplicável, não está obrigada a

104
Direito Internacional Privado – OT e P
Indemnizar a Autora (. ] uma vez que os direitos exercidos pela Autora já haviam
caducado à data da apresentação da petição inicial []"
Considerando que os tribunais portugueses são internacionalmente competentes,
admita que,
a) A posição assumida pela Ré na contestação está de acordo com a solução
material prevista no Código Civil Espanhol.
b) Em Portugal os alegados direitos da Autora ainda não teriam caducado,
uma vez que no ordenamento jurídico espanhol o prazo de caducidade é
manifestamente mais curto
RESOLUÇÃO:
Primeiro identificamos qual é a questão controvertida. O que é que as partes
estão a discutir me tribunal? Temos um alegado incumprimento de um contrato. Que
contrato é este? De compra e venda. Alegada caducidade, das consequências deste
legado incumprimento será a indemnização.
Se temos ou não uma relação jurídica internacional. Porque estamos no
âmbito dos efeitos de um alegado incumprimento de contrato de compra e venda
estamos na matéria de estatuto obrigacional, coloca se a aplicabilidade ou não do
regulamento de Roma I. que é importante desde logo ara a determinação da relação
jurídica internacional ou não tendo em consideração a autonomia da conexão da
vontade das partes. Portanto a relação jurídica internacional:
· Sujeitos: são sociedades comerciais, em matéria de estatuto pessoal o
elemento de conexão é a sede e não a residência habitual que ela não tem.
A sociedade. A tem sede no ordenamento jurídico português, e a sociedade B
tem sede no ordenamento jurídico espanhol
· Facto: celebraram o contrato onde? Madrid, ordenamento jurídico
espanhol
· Objeto: mediato ( temos aqui uma coisa que esta em trânsito a data da
celebração do negócio jurídico teria no ordenamento jurídico espanhol, mas,
entretanto, já está no ordenamento jurídico português. Foi entregue me
Portugal. Quanto ao objeto jurídico imediato, temos aqui um dos efeitos que é
a obrigação de entrega da coisa, porque quanto ao pagamento e o preço, em
princípio este pagamento resultaria pelo banco português, então seria
Portugal, mas não temos essa indicação, quanto ao objeto imediato o efeito
relativo a entrega da coisa seria no ordenamento jurídico português.
· Autonomia da vontade: as partes exerceram a sua autonomia das vontades
neste caso? Não. portanto elas não usaram da autonomia da vontade.
Temos uma relação jurídica privada. A questão relativa ao incumprimento dos
efeitos nomeadamente da capacidade do contrato. A questão esta pendente em
Portugal, portanto Portugal é a lex fori.
É uma relação jurídica relativamente internacional. Tendo me consideração que
estamos a tratar de matéria de estatuto obrigacional, portanto uns efeitos
decorrentes do contrato. Já sabemos que temos de verificar da aplicabilidade do

105
Direito Internacional Privado – OT e P
regulamento de Roma I e só depois vamos para o código civil. Como sabemos que
vamos aplicar o regulamento Roma I.
Temos de verificar o quê?
Temos de verificar, cumulativamente, quantos âmbitos? Temos de verificar da
aplicação de 3 âmbitos:
Âmbito material - artigo 1º do regulamento, a nossa matéria cera relativa a
contratos e natureza civil e comercial, neste caso será de natureza comercial. Não é
relevante esta classificação. Desde que não suscite questões de natureza fiscal,
administrativa ou aduaneiro, neste caso não. nos termos do artigo 1º nº 1 aplica se o
regulamento de Roma I quanto ao âmbito material a não ser que a questão esteja
afastada pelo número 2. No nosso caso tem alguma das alíneas do nº2 ou não? Não
esta. Portanto âmbito material verificado.
Segundo âmbito artigo 2º, âmbito territorial. Quanto ao Roma I não tem nenhum
limite quanto a aplicabilidade do âmbito territorial, porque o regulamento de Roma I
tem um âmbito de aplicação universal, portanto, pelas conexões do Roma I tanto se
pode aplicar direito material de um estado-membro como direito material de um
estado terceiro.
Neste caso a questão nem se colocaria, porque todos os elementos de conexão
apontam para dois estados-membros. esta verificado o âmbito de aplicação universal,
ou territorial porque é o princípio da universalidade.
E, por fim, temos de verificar o âmbito de aplicação temporal, já sabem que na flat
de indicação, o contrato é temporâneo a data que estão a resolver. , depois nos
termos do artigo 28º, os contratos para o âmbito temporal têm de ser posteriores de
17 de dezembro de 2009. Portanto este se é contemporâneo estamos em 2023,
significa que aplicamos o regulamento de Roma I.
A partir de agora esquecemos a existência do código civil não aplicamos este.
Concentramo-nos no regulamento.
Vamos ver se este nosso contrato é um daqueles que esta expressamente previsto
no regulamento. Quais são estes? Transporte, pessoas e mercadorias, trabalho,
consumo e seguros. Se não é nenhum deste estamos nos contratos em geral cuja regra
é que esta prevista no artigo 3º, a conexão regra do regulamento Roma I, nos termos
do artigo 3º, é a vontade das partes. Temos vontade das partes no coso concreto?
Não, não aplicamos o artigo 3º. Portanto significa que na falta de escolha de lei nos
termos do artigo 3º aplicamos as regras supletivas do artigo 4º. O regulamento optou
pelo princípio da especialização, ou seja, o nº1 do artigo 4º tem uma lista de contratos
em especial e para cada um deles elegeu uma conexão supletiva. Se não
encontrarmos no nº 1 passamos para a seguinte conexão que é subsidiaria de
qualquer uma que esta no nº 1 que é o nº2, tem só de concluir se o contrato se
subsume em algumas das alíneas do nº 1 do artigo 4º.
A dúvida seria na aplicabilidade do nº1, para saber se ... mercadoria ou não. não
seria. Notem: aqui ao contrato do código civil do artigo 42º, o legislador optou por
dividir as conexões tendo em consideração os contratos quanto a estrutura e quanto

106
Direito Internacional Privado – OT e P
aos efeitos. No Roma I o legislador optou por classificar os contratos quanto ao nome
(?) e atribuir a respetiva conexão. Portanto classificação de cada tipo de contrato é
importante porque aí pode estar a depender a aplicabilidade de uma das alíneas do
nº1 ou então continuar nas alíneas seguintes.
Temos uma compra e venda? É um dos efeitos do contrato que esta
nomeadamente aqui ( objeto mediato) , o problema não é só o incumprimento, ou
seja, o cumprimento defeituoso, é também quanto ao objeto mediato o
incumprimento da formação.
Ou tem dois contratos e analisamos um para cada lado ou então, notem se
olharmos para o caso e vermos a forma que esta na segunda linha há duas obrigações
e há um preço global para tudo. Isso denuncia sem prejuízo uma obrigação que esta
dependente da outra em que uma é condição da outra, mas o facto de terem como
único preço global identifica o contrato como que? Ele é a soma de uma compra e
venda e de uma prestação de serviços.
Ou são dois contratos diferentes e analisamos a questão para um e para outro. Ou
então pelo facto de existir efeitos que lhe são comuns e as obrigações estarem na
dependência uma das outras significa que estes contratos que seria compra e venda e
prestação de serviços , são um contrato misto. Estes podem ser desde logo a soma de
dois contratos típicos.
Quando as partes só celebram um e celebram o outro e quando os efeitos dos
tipos contratuais se confundem um com o outro. Ou seja, quer na compra e venda
quer na prestação de serviços há o pagamento do respetivo preço.
Que neste caso concreto tem duas obrigações diferentes que é a obrigação de
entregar a coisa vendida e a obrigação de dar a formação. Só que a obrigação da
contraparte foi ... como uma única prestação. Neste caso concreto o que temos na
realidade é a soma de dois tipos contratuais, que é a definição de uma das formas de
contrato atípico- contrato misto. O que significa isto? Que não estamos no âmbito do
nº1, este não tem contratos mistos.
O que significa agora que passamos para o nº2, este tem o critério subsidiário
supletivo ao nº1.qual é o elemento de conexão do nº2? Há de ser a residência habitual
de um dos sujeitos. Será de A ou de B consoante algum destes contraentes tenha a
prestação característica de contrato misto.
Como identificamos a prestação característica do contrato? Esta é que nos permite
distinguir o contrato, vamos olhar para cada uma das prestações. A prestação do A, que
decorre como efeito imediato, pagamento do preço. E a prestação de B, entregar a
coisa e prestar o serviço de formação.

Qual destes três polos permite distinguir o contrato? A prestação do B, ou seja ,


nos contratos que tem uma obrigação pecuniária a prestação característica do
contrato é a prestação oposta, quem tem a prestação característica do contrato é B .a
lei aplicável há de ser a lei espanhola. A não ser do nº 3 que das circunstâncias
concretas do caso de possa concluir que há uma conexão manifestamente mais
estreita com esta conexão. Conseguimos aqui dar uma prevalência a uma lei diferente

107
Direito Internacional Privado – OT e P
que não seja a lei espanhol, no caso concreto? Alguma que seja manifestamente mais
estreita?
Dificilmente será, não parece que haja. Significa que artigo 4º nº2, excluindo
aplicabilidade do nº 3 aplicamos a lei espanhola. Incluindo nos termos do artigo 12º, a
questão da caducidade.
Aplicamos lhe a lei espanhola, a não ser que se suscite alguma questão de reenvio.
Suscita e fica eventualmente resolvida pela posição do regulamento em matéria de
reenvio ? Ou não sabemos que se suscita?
Ou não se suscita de todo? Se se suscitar significa que L2 não se considera
competente é indiferente, e nos termos do artigo 20º esta excluído qualquer forma de
reenvio. Não sabemos se suscita ou ainda que sem informação sabemos com certeza
que não se suscita nenhuma questão de reenvio , se se suscitasse mais uma vez artigo
20º e o assunto estava arrumado.
Face aquilo que aqui tem, dizem não conseguimos saber se há um problema de
reenvio ou não, mas ainda que houvesse artigo 20º, referencias material para L2 e o
assunto estava arrumado , ou então dizem que conseguimos concluir que não há
nenhum problema de reenvio mesmo sem saber as posições e mesmo sem aplicar o
artigo 20º.

No caso concreto não se coloca nenhum problema de reenvio. Estão a aplicar um


regulamento da união europeia. Quando é que há reenvio? Quando a lei do foro
considera uma lei estrangeira competente que por sua vez não se considera
competente. Se estamos a aplicar um regulamento de união europeia, Espanha aplica
o mesmo regulamento. Já mais Espanha poderia deixar de se considera competente.
porquê?
Porque aplica o mesmo regulamento. significa que esta conexão é igual em
Espanha. mas mesmo se se colocasse uma situação de exceção ( nem se colocaria
porque pelo artigo 20º só há referencias materiais), nunca seria equacionável quando
estamos a falar dos estados-membros. Porque este regulamento é aplicável em todos
os estados-membros.
Se Portugal considera competente a sede do contraente que tema prestação
característica do contrato e a sede é em Espanha. Espanha aplicando o mesmo
regulamento, usara a mesma conexão, ou seja, considera se a competente, nunca se
coloca um problema de reenvio. a vantagem do regulamento da união europeia em
matéria de DIP bem como das convenções internacionais é para os estados que estão
obrigadas a cumprir aquela legislação internacional, significa que nunca se coloca um
processo conflitual porque a conexão é homogénica é a vantagem de terem
regulamentos ou convenções internacionais em matéria de DIP, que é o risco de haver
conflitos de eis em situações de reenvio é muito menor porque temos mais estados a
adotar a mesma conexão.
O regulamento tem aplicabilidade direta nos estados-membros, vincula os a todos.
Espanha é um estado-membro, Espanha considerar se ia competente nos termos do

108
Direito Internacional Privado – OT e P
artigo 4º nº2 do regulamento de Roma I, também é aplicável no ordenamento jurídico
espanhol aplicando qualquer solução conflitual interna …, nem sequer se coloca um
problema de necessidade de aplicação do artigo 20º ou então estar numa situação que
não conseguimos decidir por não termos informação suficiente.
Notem é exatamente a mesma coisa como a lei do foro deixar de ser Portugal e
passar a ser um qualquer país do estado-membro. porque se eles aplicam
exatamente o mesmo regulamento a partir dai não precisamos de saber o direito
interno conflitual daquele estado, porque será a sempre a mesma.
O caso estando a ser julgado em Portugal (?) aplicamos a lei espanhola. Em
Espanha aplicaríamos a lei espanhola com o mesmo fundamento, 4º nº3.

28.11.2023 (P)

Caso Prático 19

Jean Marc, francês, residente em Lisboa, propôs nos tribunais portugueses uma ação
condenatória contra Carl, russo, residente na Costa do Marfim. A ação tem como
fundamento um alegado incumprimento de um contrato de compra e venda de
diamantes, outorgado entre ambos, no Congo, em 2019. No âmbito daquele contrato,
Jean Marc adquiriu três diamantes a Carl - provenientes de uma mina da Costa do
Marfim -, cada um com certificação de avaliação dos 4 CS pela "Gemological Institute
of America". Acontece que, quando os diamantes foram entregues a Jean Marc, o
joalheiro que este havia contratado para fazer avaliação dos mesmos, conclui que um
dos diamantes não apresentava o grau de pureza ("clarity") que constava do
certificado de avaliação. Carl contesta a ação alegando que o contrato celebrado é
nulo uma vez que a lei da Costa do Marfim exige uma forma solene.
Na resposta à exceção Jean Marc invoca clausula 9. do contrato, onde se prevê que as
partes fixaram não só o tribunal internacionalmente competente como escolheram a
lei portuguesa para reger o contrato.
Admita que os tribunais portugueses são internacionalmente competentes, qual a
solução aplicável?
RESOLUÇÃO:

Quais são as questões controvertidas? Incumprimento parcial do contrato de


compra e venda , onde se suscita uma outra questão que é da validade formal do
contrato.

Relação jurídica internacional. Se é um contrato são os elementos do negócio jurídico:


· Sujeito: JM ( nacionalidade; ordenamento jurídico francês; residência
habitual: ordenamento jurídico português) ; C ( nacionalidade: Ordenamento jurídico
russo; residência habitual: ordenamento jurídico costa de marfim)
· Objeto: mediato, saíram da costa de marfim ( ordenamento jurídico costa
de marfim) ( não sabemos muito bem quando ao objeto imediato)
· Facto: ordenamento jurídico congo

109
Direito Internacional Privado – OT e P
· Autonomia da vontade: ordenamento jurídico português. ( uma coisa é
determinar a competência dos tribunais, outra coisa é determinar a lei aplicável por
aqueles tribunais, de entre aquilo que é autonomia da vontade para efeitos da
competência internacional dos tribunais portugueses é determinar quais são só
tribunais portugueses, outra coisa que é diferente é a lei aplicável, a partir dai os
tribunais podem ser componentes, mas não aplicar a lei portuguesa).

Temos uma relação jurídica de direito privado internacional sendo então


admitindo que os tribunais portugueses são internacionalmente portugueses, não
temos nada opor, temos uma relação jurídica relativamente internacional, porque
temos contacto pelo menos um elemento da relação jurídica, o ordenamento jurídico
português é a residência habitual de um dos outorgantes para alem da conexão
autonomia da vontade.

Perante isto que aqui esta, estamos perante uma matéria de estatuto
obrigacional. Nem sequer se colocam outras matérias relativas a outros estatutos. Ela
é toda de estatuto obrigacional. Ou seja, fazemos o exercício de tentar aplicar o
código civil se acabarmos no 41º e 42º para saber qual a lei aplicável para o alegado
incumprimento do contrato ou da validade do contrato aplicariam o artigo 41º do
código civil. Já sabem que esquecem, mas pelo menos sem antes verificarem a
aplicabilidade do regulamento de Roma I . e para determinar se este é aplicável temos
de verificar os três âmbitos:

1º- âmbito material (será o mais aproximado do processo de qualificação, sendo


que notem: para os regulamentos isso é um problema de requisitos de aplicabilidade
e não de pressuposto de legitimação da matéria aplicável. esta no artigo 1º em
conjugação com o artigo 12º que nos esclarece que efeitos não significa só os efeitos
obrigacionais, inclui também a matéria relativa a formação do negócio jurídico, a
validade e depois matéria relativa a extinção do negócio jurídico. Precisamos de ter
efeitos negociais , uma questão de DIP que suscite questões dos efeitos obrigacionais
decorrentes de um contrato, que tenham natureza civil ou comercial. será pelo menos
civil. Não se suscita questões fiscais, aduaneiras ou administrativas. portanto esta
verificado o âmbito material a não ser que o nº 2 do artigo 1º exclua a aplicabilidade. A
nossa situação inclui se do nº 2 ou não? o nº 2 tem matéria de direitos civil e comercial
que não se suscite questões…, mas que o regulamento diz que não se aplicam aquelas
questões me particular. Alguma que esteja no nº2? não esta, portanto âmbito material
verificado.

Segundo âmbito: espacial, artigo 2º, maios uma vez para os regulamentos eles
tem aplicação universal. Mesmo aqui seja aplicada alguma lei e podia ser em abstrato,
a russa para o exemplo, ,é indiferente porque para o regulamento as conexões tanto
apontam para lei dos estados-membros de direito material como direito material de
estados de terceiros, nunca seria um problema. O âmbito de aplicação espacial está
verificado.
Não confundir: quando se diz o âmbito de aplicação universal significa que é a
lei escolhida nos termos do regulamento, não é quem aplica o regulamento.
Naturalmente que quem aplica o regulamento são só os estados-membros que estão

110
Direito Internacional Privado – OT e P
vinculados a eles. Não significa que se estivessem na costa de marfim este aplicasse o
regulamento, ele não aplica. Só os estados-membros é que aplicam o regulamento. A
gora a lei escolhida nos termos do regulamento é que pode ser a lei de um estado-
membro ou de um terceiro.
Âmbito de aplicação espacial princípio da universalidade de regulamento, nada
opor, verificado.

Âmbito de aplicação temporal, artigo 28º, o contrato tem de ser celebrado


depois de 2009. No caso foi em 2019. (Se for o âmbito temporal que nos falta já
sabemos que não vamos ao código civil e sim a convenção de Roma, tem os mesmos
âmbitos de aplicação espacial e material só que o âmbito temporal dela é de 1980 a
2009, se tiverem alguma cosia anterior a 1980 é que vão ao código civil).
Temos os 3 âmbitos verificados aplicamos o regulamento de Roma I.
Aplicabilidade do regulamento: agora vamos escolher a norma que determina o
elemento de conexão. Qualificamos o contrato. Se for um dos contratos em especial
aplicamos as regras em especial. Não.

Significa que aplicamos as regras gerais, as regras gerais do artigo 3º e 4º é


aplicável a todos os contratos mesmo estes que estejam regulados de forma especial.
O legislador estendeu que deve haver algumas especificidades, mormente tendo em
condição a parte mais fraca desse negócio jurídico e cumprindo de alguma forma a
autonomia da vontade e estabelece alguns requisitos. Porque a regra no Roma I é
sempre o artigo 3º , ou seja, a autonomia da vontade.

A questão é: ou ela é totalmente livre que é o típico da ideia de autonomia


provada ( igualde entre as partes) ou então há algumas situações de simetria que o
legislador vai corrigir esta cumprindo de alguma forma a autonomia da vontade. Mas a
regra para tipos dos contratos do Roma I é a autonomia da vontade, as partes
escolhem a lei que quem.
No caso não temos de atender a nenhuma das especificidades para os contratos
em especiais que estão no regulamento, portanto se aplicamos as regras gerais
significa que aplicamos o artigo 3º, se este naos e verificar o artigo 3º as conexões
supletivas do artigo 4º. A conexão regra do Roma I é a autonomia da vontade

Temos autonomia da vontade como conexão? Temos. Aplicamos o 3º nº 1 ou o


3º nº3. O nº 1 é para as situações jurídicas internacionais que já o eram para alem da
autonomia da vontade, e o nº 3 é para as situações jurídicas internacionais que só o
são por causa da autonomia da vontade. Neste caso temos o nº 1 ou 3? Nº 1 a relação
jurídica já era internacional mesmo que as partes não tenham fixado lei para este
negócio.
só teríamos a situação de nº 3 se todos estes elementos tivessem numa única
ordem jurídica e o que internacionalizava a relação jurídica fosse a autonomia da
vontade, que não é o caso. então temos o nº1. Nos termos do nº1 a conexão é a lei
escolhida pelas partes, ou seja, a lei portuguesa. Incluindo como vimos apouco o 12º
para efeitos da validade.
O que no caso não se suscitaria aqui o problema ( e íamos ao 11º)que era caso a
lei portuguesa caso considera se o negócio invalido para a questão da validade

111
Direito Internacional Privado – OT e P
poderíamos aplicar a lei do lugar da celebração do negócio jurídico em prol do
aproveitamento máximo dos negócios.

Não é o caso porque claramente pelo menos daquilo que é invocado a lei da
costa de marfim é que exige uma forma especifica. Portugal não. o que significa que
nem precisaríamos de utilizar o 11º.
Significa que aplicamos a lei portuguesa incluindo para a validade forma do
negócio jurídico.

04.12.2023 (P)

Caso-prático:

Armandine, francesa e com RH em Lyon, passava férias em Portugal, quando durante o


percurso entre Porto e Vila Nova de Gaia, colidiu com o veículo conduzido por Bento,
Espanhol e com RH em Barcelona.

Bento propõe uma ação em Portugal para ser ressarcido dos danos sofridos. Qual a lei
aplicável?

a) Admita agora que Armandine tem RH em Madrid. Qual a lei aplicável?


b) E se a Armandine fosse espanhola. Qual seria a lei aplicável?
c) Admita agora que com Bento estava o seu amigo Pablo, venezuelano e com RH
em Brasília que, também tendo sofrido danos, se coliga com Bento na aludida
ação. Qual a lei aplicável?

Resolução:

Temos uma questão controvertida sobre a responsabilidade civil


extracontratual. Se houver questões de responsabilidade civil, naturalmente, se
colocariam questões relativamente a direitos de personalidade, danos, etc., a ação dirá
expressamente que é para considerar os efeitos decorrentes da violação de um direito
de personalidade, que é para não haver confusões quanto à aplicabilidade do
Regulamento.
Neste caso concreto, é uma responsabilidade civil extracontratual, em princípio
por factos ilícitos.

Sendo um acidente de viação havia aqui uma questão de responsabilidade


pública.

Vamos ver se temos ou não uma situação jurídica internacional:

Elementos:

112
Direito Internacional Privado – OT e P
1. FACTO: Colisão – OJ português
2. DANO: OJ português
3. SUJEITOS
a. Lesante: Armandine
i. Nacionalidade – OJ francês
ii. RH – OJ francês
b. Lesado:
i. Nacionalidade – OJ espanhol
ii. RH – OJ espanhol
c. Autonomia da vontade: Posterior à prática do facto, não foi exercida

É uma relação jurídica privada internacional. A questão é relativamente


internacional. Está pendente em Portugal que é a lex fori.

Vamos ver se podemos aplicar o Regulamento Roma II:

Para podermos aplicar o Regulamento Roma II, têm de estar verificados os 3


âmbitos de aplicação:

Âmbito temporal (artigo 31º) – o âmbito temporal é aplicável a partir do


momento em que o regulamento entra em vigor, ou seja, a partir de 11 de janeiro de
2009, pelo artigo 32º. À falta de indicação, já sabemos que o facto é contemporâneo,
portanto, âmbito temporal, artigo 31º e 32º verificado.

Âmbito espacial (artigo 2º) – neste caso, os OJ em contacto são todos EM, mas
não obstante, o regulamento tem um âmbito de aplicação universal, nos termos do
artigo 2º.

Âmbito material (artigo 1º) – o regulamento aplica-se a matéria de


responsabilidade civil não decorrente de contrato, gestão de negócios, enriquecimento
sem causa ou responsabilidade civil pré-contratual. Excluímos questões administrativas
fiscais ou aduaneiras, a não ser que seja excluída nos termos do nº2 do artigo 1º. No
caso não temos nenhuma exceção.

Então a dúvida seria se teríamos de ter uma ação de responsabilidade na


violação de direitos de personalidade propriamente ditos, que não é o caso, temos os
3 âmbitos verificados.

Neste caso concreto, qual é a lei aplicável?

Neste caso em concreto , a lei aplicável é o artigo 4º e seguintes. A regra geral,


para a responsabilidade civil é próprio artigo 4º, a não ser que fosse uma das situações
especiais, expressamente previstas, ou seja, não é um problema de produtos
defeituosos, questões de concorrência desleal, danos ambientais, alteração de direitos
coletivos, portanto, temos o artigo 4º.

113
Direito Internacional Privado – OT e P
Já excluímos a questão da autonomia da vontade porque as partes não
escolheram nenhuma lei. Qual é a conexão supletiva? É a lei do país onde ocorre o
dano, a não ser que, nº2, lesante e lesado tenham a mesma RH. Nesse caso
aplicaríamos a RH. Portanto, regra geral, é o dano. Neste caso, Portugal considera-se
competente, a não ser, nº3, que o conjunto das circunstâncias no caso concreto
resultasse uma conexão manifestamente mais estreita com outro país. Existe, ou não?
Já sabemos que no Regulamento há uma situação em que o legislador presume que há
sempre uma relação manifestamente mais estreita, é a existência de uma relação
jurídica “perca”, ou então de uma gestão de negócios.
Neste caso em concreto, não temos nenhuma relação jurídica perca entre as
partes.

Neste caso, para a primeira questão, há alguma situação em que se possa concluir
que há uma conexão manifestamente mais estreita, ou não?

Não. Aqui temos 2 princípios, maior ligação individual e maior proximidade. Os


princípios da maior ligação individual que são nacionalidade e RH só os poderíamos
usar se fossem comuns a ambas as partes, o que não é o caso. Claramente, neste caso
não se verifica, o que significa que para esta primeira situação, aplica-se a lei. Nem se
coloca questões de reenvio, porque a lei do foro considera-se competente.

Alínea a)

Armandine reside agora no OJ espanhol. A RH da lesante é o OJ espanhol.

Qual seria a lei competente?

É o Roma II, sempre que lesante e lesado tenham a RH no mesmo país é


aplicável a lei que esse país, ou seja, L1 considera competente neste caso o OJ
espanhol. Aqui também não se coloca problema de reenvio, porque apesar da lei do
foro considerar competente o OJ estrangeiro, o OJ estrangeiro é um EM que está
vinculado ao Regulamento (o único que não está é a Dinamarca), neste caso concreto
usaremos o mesmo Regulamento, portanto, considerar-se-ia sempre competente.
Se fosse um Estado Schengen, mais uma vez uma referência material a esse OJ
estrangeiro.

(não temos de nos preocupar com a questão da Dinamarca)

A não ser mais uma vez, notem, o nº 3 é uma conexão especial que afasta tanto
o nº1 como o nº2, aqui chegaríamos de novo à pergunta de se há uma conexão
manifestamente mais estreita e, neste caso concreto, claramente que não.
A outra conexão próxima era de usarmos a prática do facto ou do dano, notem,
o legislador da união entre o princípio da maior proximidade e da maior ligação
individual, preferiu o princípio da maior ligação individual. Portugal, nunca seria no
caso concreto, a conexão manifestamente mais estreita. Portanto, neste caso
concreto, também não se coloca nenhum problema em saber se há ou não outra
conexão, pelo que a opção seria o OJ espanhol.

114
Direito Internacional Privado – OT e P

Alínea b)

Armandine volta a viver em França, mas agora a nacionalidade dela é o OJ


espanhol.

Qual é a lei aplicável?

Ela é espanhola e com residência em França. Lesante e lesado têm em comum a


nacionalidade.
A regra é o nº1, pelo que Portugal considera-se competente, nos termos do
artigo 4º/1, a não ser que haja uma conexão manifestamente mais estreita com outro
OJ. Neste caso, poderia ser a aplicabilidade do nº3, neste caso, seria L2 o OJ espanhol.

Nota:

Percebesse que tenhamos dúvidas que seja. Não obstante, a doutrina quanto a
esta questão, tem algumas divisões, isto porque os regulamentos só em questões
controvertidas de estatuto pessoal, é que subsidiariamente vão ter a conexão pessoal
a nacionalidade. Ou seja, se analisarmos o Regulamento Roma I e o Regulamento
Roma II, a nacionalidade nunca é apontada pelo legislador da UE.
O legislador da união tem algumas dúvidas, admitisse que a nacionalidade
parece ser uma conexão preponderante para efeitos para afastar os critérios
supletivos, não obstante, a questão é controvertida, por isso, admite, que se
estivermos a falar na questão dos princípios, no nº2 o legislador preferiu o princípio da
maior ligação individual, a nacionalidade é uma conexão pessoal ligada ao princípio da
maior ligação individual, portanto, fará sentido, nos termos dessa interpretação que
nos termos do nº3, a nacionalidade seja a conexão manifestamente mais estreita neste
caso concreto, por ser uma conexão para ambas as partes.

Aqui seria aplicável o OJ espanhol, não pelo nº2, mas sim pelo nº3 do artigo 4º.

Alínea c)

Para além de um lesado temos 2 lesados, que é o Pablo, que temo como
nacionalidade o OJ venezuelano, e tem RH no OJ brasileiro.

Qual seria a lei aplicável?

Pela regra geral, artigo 4º/1, Portugal considerava-se igualmente competente.


Mesmo que o princípio da maior proximidade, na interpretação que temos de fazer do
artigo 4º/2, mas também do nº3, tem de coincidir para todos. Não basta que 1 lesante
e 1 lesado tenham a mesma RH, ou a mesma nacionalidade, nos termos do artigo 4º/3.
Ou seja, o princípio da conexão manifestamente mais estreita, ou o princípio da maior
ligação individual tem de o ser para todos os interessados, senão não se manifesta
esse princípio. Os interessados no caso concreto são todos, lesante e lesado. Se houver
vários tem de ser todos a verificar esses requisitos, quer do nº2, quer do nº3.

115
Direito Internacional Privado – OT e P
Mesmo, no caso de a lesante coincidir com a RH ou na nacionalidade com um
dos lesados, seria indiferente, a partir do momento em que entra um 2º lesado que
não coincidisse com eles. Aplicamos a regra geral, do artigo 4º/1.

05.12.2023 (P)

Caso-prático:

Tessa, cidadã holandesa, com RH em Leiria, encontra-se em Barcelona. Quando visitou


uma leiloeira conheceu Emanuel, cidadão francês, com RH em Barcelona.

No dia seguinte, Emanuel convidou Tessa para sua casa e, enquanto lá estiveram, esta
gostou muito do quadro. Emanuel, percebendo que Tessa achava que o quadro era um
original de um pintor Basco - apesar de saber que tal não correspondia à verdade - não
divulgou esta informação e aceitou iniciar negociações para a venda do quadro.

Por força de compromissos vários de ambos, agendaram uma nova reunião para a
semana seguinte. Nessa altura, Tessa fez-se acompanhar de Charles, um seu amigo
que trabalha no MoMA, em Nova Iorque, tendo para o efeito custeado a viagem e o
alojamento deste a Barcelona.

Após uma breve análise do quadro, Charles informa Tessa que este não é um original e
que não havia qualquer hipótese de Emanuel desconhecer tal facto. Tessa, furiosa,
decide intentar ação em Lisboa contra Emanuel, pedindo que este seja condenado a
pagar-lhe €5.000,00, o total das despesas que suportou com a deslocação e
alojamento de Charles.

Determine a lei aplicável.

Resolução:

A questão controvertida no caso concreto é a responsabilidade civil pré-


contratual (o engano enquanto tal é irrelevante). A eventual má-fé que gera prejuízos
no âmbito das negociações sérias, tendentes ao negócio jurídico, pode ser uma
questão de responsabilidade civil pré-contratual.

Vamos ver se temos uma situação jurídica internacional.

Podemos optar pelas 2 vias, nas situações jurídicas internacionais vamos à


procura dos diversos elementos, mas se preferirmos podemos procurar os elementos
típicos da relação jurídica.
Primeiro, porque a aplicar ao instituto da responsabilidade civil que se estenda
à responsabilidade civil pré-contratual, e pós-contratual, é a adoção típica do regime
da responsabilidade contratual, portanto, se quisermos usar tipicamente a figura dos
elementos da relação jurídica apesar de não termos ou já não temos na relação
jurídica, nada a opor, se quisermos usar os elementos dispersos e classificá-los como
uma questão jurídica internacional também não há nenhum problema quanto a isso.

116
Direito Internacional Privado – OT e P

Vamos ver se temos ou não uma situação jurídica internacional:

Elementos:

1. FACTO: OJ PT
2. OBJETO MEDIATO: OJ ESPANHOL
3. SUJEITOS
a. Tessa
i. Nacionalidade – OJ holandês
ii. RH – OJ PT
b. Emanuel
i. Nacionalidade – OJ francês
ii. RH – OJ espanhol
c. Autonomia da vontade: não foi exercida

Temos uma relação jurídica de direito privado, internacional, ela é face à lex
fori, relativamente internacional.

Vamos ver se podemos aplicar o Regulamento Roma II:

Para podermos aplicar o Regulamento Roma II, têm de estar verificados os 3


âmbitos de aplicação:

Âmbito material – nos termos do artigo 1º, esta questão controvertida


subsume-se no Roma II, porque é uma questão de responsabilidade civil pré-
contratual, que não suscita questões administrativas, fiscais ou aduaneiras. Temos a
verificação do âmbito material, a não ser que esta matéria em particular esteja
excluída pelo artigo 2º. Não temos nenhuma exclusão no caso concreto, pelo que este
âmbito material está verificado.

Âmbito espacial – a lei determinada neste regulamento, tanto pode ser de um


EM ou de um Estado terceiro. No caso concreto temos só os EM.

Âmbito temporal – o regulamento aplica-se a factos praticados posteriormente


à sua entrada em vigor, ou seja, depois de janeiro de 2009. No caso concreto, há falta
de indicação o facto é contemporâneo ao momento atual, pelo que está verificado.

Como temos a verificação dos 3 âmbitos vamos aplicar o Regulamento.

Trata-se de matéria relativa à culpa do contraendo e não há autonomia da


vontade, significa que neste caso vamos aplicar o artigo 12º da responsabilidade civil
pré-contratual (não confundir com o artigo 4º, que é a regra geral da responsabilidade
civil extracontratual). No nosso caso a culpa é do contraendo pelo que esquecemos as
regras gerais, relativamente, ao outro instituto jurídico.

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Direito Internacional Privado – OT e P
Nos termos do art.12º a conexão aplicável é (sem prejuízo das conexões
manifestamente mais estreitas, o Roma II o que pretende fazer, nomeadamente, na
gestão de negócios, no enriquecimento sem causa, na responsabilidade civil pré-
contratual é ligar o instituo jurídico extracontratual, fora da fonte dos contratos, a
eventuais conexões que possam ter ligações com o negócio jurídico extracontratual),
se tiver existido o contrato, aplica-se a lei que se aplica a esse contrato, ou se não se
tiver sido celebrado, aplicar-se-á a lei que fosse aplicável a esse contrato se tivesse sido
celebrado.
Se é a lei aplicável a esse contrato, ora, primeiro, temos de ver qual é o facto,
que seria um contrato de compra e venda. Este contrato porque é um contrato está
excluído do âmbito do Roma II, que só se aplica a matéria extracontratual. Portanto, se
é a lei aplicável, ou a lei que seria aplicável ao contrato se ele tivesse sido celebrado,
significa que temos de mudar de sítio.
Para o contrato de compra e venda, não temos âmbito material, como no Roma
II. O Roma II não consegue determinar qual era a lei aplicável a este contrato de CV,
porque no âmbito material, o contrato de CV não faz parte das matérias que regulam a
relação de questões controvertidas de natureza internacional.

Temos de ir para o Roma I, se ele for aplicável, temos de ver a lei aplicável a
este contrato de CV se ele tivesse sido celebrado.
Se no caso concreto, estivéssemos a analisar as relações emergentes deste
contrato de CV iriamos ao Roma I, mas só aplicaríamos o Roma I se verificássemos os
3 âmbitos.

Âmbito material – artigo 1º, o Roma I aplica-se às obrigações emergentes de


negócios jurídicos, nomeadamente, de direito civil (que não se verifique as questões
administrativas, ficais ou aduaneiras) e esta matéria não está excluída pelo nº2,
portanto, o âmbito material está verificado.

Âmbito espacial – artigo 2º.

Âmbito temporal – artigo 28º, este contrato tinha de ser celebrado depois de
2009 e, mais uma vez, o caso prático é contemporâneo ao presente, pelo que estão
verificados os 3 âmbitos.

Estão verificados os 3 âmbitos de Roma I. Não sendo este um contrato em


especial (transporte, trabalho, seguros), aplicamos as regras dos contratos em geral e a
regra é o artigo 3º, autonomia da vontade, que as partes não exerceram no caso
concreto. Portanto, sobram as normas supletivas nos termos do artigo 4º do Roma I.

Vamos ver no artigo 4º/1 qual seria a lei aplicável a contrato de CV.
Nos termos do artigo 4º/1, aqui das duas uma: ou entendíamos que o quadro
era uma mercadoria e aplicávamos a alínea a) do nº 1 do artigo 4º e, portanto, é
aplicável a lei que seria o vendedor, ou seja, do Emanuel, isto é, o OJ espanhol (não se
colocaria um problema de reenvio porque o regulamento, com a exceção do Estado da
Dinamarca, vincula todos os EM, e, portanto, Espanha, aplicando o regulamento nunca
deixaria de se considerar competente no caso em concreto); se não interpretássemos

118
Direito Internacional Privado – OT e P
o quadro como uma mercadoria, então não teríamos conexões nos termos do nº1
teríamos de ir para o nº2 e aplicar a conexão da RH do contraente que tem a prestação
característica do contrato, ou seja, o vendedor.

Acabou-se o Roma I, se se colocar problemas de ordem pública ou de OJ


plurilegislativos, a conexão manifestamente mais estreita, esquecemos o Roma I, a
partir de agora voltamos para o Roma II e continuamos a resolver tudo a partir daqui.

Escolhemos a lei e agora se se questionar o que acontece se o OJ que


escolhemos for plurilegislativo é um problema já do Roma II, o artigo 12º a única coisa
que manda fazer é determinar a lei aplicável nos termos do Roma I. Determinada a lei,
os problemas que se colocam a partir daí, ou o eventual problema de reenvio, a única
coisa que vamos buscar ao Roma I é a conexão, escolhida a conexão voltamos para o
Roma II.

A lei que seria aplicável a este contrato seria o OJ espanhol, ou a solução


material do OJ espanhol, a não ser que se verificasse uma conexão manifestamente
mais estreita com outro OJ. No caso, não conseguimos encontrar nenhuma conexão
manifestamente mais estreita, portanto, aplicávamos o OJ espanhol, ou seja, o regime
da responsabilidade civil pré-contratual em vigor no OJ espanhol.
11.12.2023 (OT)

Caso-prático:

Vitório, argentino com RH em Buenos Aires, casou com Rodolfo, argentino com RH em
Quito (Equador) em Las Vegas. Depois do casamento passaram a residir em Lisboa.
Celebraram uma convenção antenupcial e, entre o mais, acordaram que, em caso de
divórcio a lei aplicável seria a "(...] lei da RH do casal […]"

Anos mais tarde, Vitório quer divorciar-se, apesar da recusa de Vitório, e propõe nos
tribunais portugueses a respetiva ação.

Notificado para contestar, entre outras formas de defesa, Vitório alega que apesar do
acordo quanto à lei aplicável ter sido reduzido a escrito, quer a lei argentina, quer a lei
do Equador preveem requisitos especiais para que a convenção seja formalmente
válida.

Desta forma o acordo é inválido e a lei aplicável, in casu, deve ser a lei argentina.
Quid juris?

Resolução:

Questão controvertida no caso concreto: divórcio

Vamos ver se temos ou não uma situação jurídica internacional:

Elementos:

119
Direito Internacional Privado – OT e P

1. FACTO: OJ americano (Estado do Nevada) – quando a conexão é espacial,


determina-se, imediatamente, como lei aplicável a lei em vigor do Estado,
em que está o OJ plurilegislativo.
2. SUJEITOS
a. Vitório
i. Nacionalidade – OJ argentino
ii. RH – OJ argentino
b. Rodolfo
i. Nacionalidade – OJ argentino
ii. RH – OJ equador
c. Autonomia da vontade: OJ português

3. RH do casal – OJ português

Temos uma questão jurídica internacional, de direito privado, sendo


relativamente internacional e Portugal tem contacto com esta relação,
nomeadamente, no âmbito da autonomia da vontade. Portanto, a ação está pendente
em Portugal, que é a lex fori. Temos de ver se aplicamos o regulamento.

Vamos ver se podemos aplicar o Regulamento de cooperação reforçada:

Para podermos aplicar o Regulamento de Cooperação Reforçada, têm de estar


verificados os 3 âmbitos de aplicação:

Âmbito material – o regulamento aplica-se a situações jurídicas plurilocalizadas


que se relacionem com questões controvertidas como o divórcio e a separação judicial.
No nosso caso concreto temos um divórcio e ele está verificado a não ser que seja um
dos efeitos de divórcio que está previsto no nº2.
Sempre que num divórcio se suscitem questões relativas à capacidade,
existência, validade de um casamento, anulação de um casamento ou outros efeitos
pessoais, todos os efeitos patrimoniais, incluindo questões relativas a alimentos ou a
outros negócios jurídicos, trusts, e a matéria sucessória e ainda as responsabilidades
parentais. Em matéria de divórcio, a única coisa que se vai determinar é a extinção da
relação, qualquer outra questão fica afastada do regulamento.
Está verificado, nos termos do artigo 4º, também temos um âmbito de
aplicação universal, que implica os EM, mas também os estados que não participantes.

Âmbito espacial – Portugal está vinculado ao regulamento, pelo que este


âmbito está verificado.

Âmbito temporal – terá de ter o seu âmbito de aplicação, a partir de regra


geral, de 21 de junho de 2012 (na falta de indicação o facto é contemporâneo).

Temos os 3 âmbitos verificados no caso concreto, pelo que vamos aplicar este
Regulamento de Cooperação Reforçada. A regra neste regulamento é, de uma forma
altamente inovadora relativamente à autonomia da vontade, apesar do leque limitado

120
Direito Internacional Privado – OT e P
de leis que as partes podem escolher, apesar de tudo a autonomia da vontade entrou
e isso sim, é uma grande inovação nestes regulamentos.
A regra geral é a autonomia da vontade, que no caso foi exercida e, portanto,
vamos aqui ver se estão verificados os requisitos do artigo 5º, porque a lei que as
partes escolheram foi, de acordo com a qual a RH do casal a única que eles alguma vez
tiveram foi Lisboa, o OJ português.
Não obstante, eles podem escolher a lei, resta saber se esta escolha de lei faz
parte ou não do leque de leis escolhidas do artigo 5º. Idealmente o artigo 5º para ser
mais fácil, é lido do fim para o princípio. Isto porque se a escolha de lei não tiver sido
feita no momento certo, é irrelevante que a escolha esteja bem feita ou não.
Nos termos do artigo 2º, a escolha deve ser feita até à entrada de escolha no
processo em tribunal, ou seja, tem de ser anterior, a não ser que a lei do foro permita
que haja alterações de leis materialmente aplicáveis na pendência de leis do processo.
No caso o requisito do nº2, desde logo está verificado, porque se eles
escolheram a lei numa convenção, significa que escolherem a lei num momento prévio
ao contrato de casamento, portanto, o momento está bem verificado.

Agora vamos ver se eles escolheram uma das leis possíveis, de acordo com o
nº1 do artigo 1º. Uma das leis que eles podem escolher é a lei da RH no momento da
celebração do acordo.
No momento de celebração do acordo eles não tinham RH. Alínea b) eles
também podiam escolher a última RH dos cônjuges, desde que um deles ainda aí
resida no momento da celebração do acordo. É verdade que a RH Portugal é a última,
só que notem, a redação da alínea b) do artigo 1º.
É a RH deles é a 1ª e a última e nada indicando o contrário, no limite, vivem os
dois em Portugal. Só que o problema aqui, é que a alínea b) está construída para ligar a
conexão a um sítio onde a vida familiar teve ligação.

Se olharmos para o caso-prático, eles escolheram a RH, mas não escolheram a


última, escolheram a futura RH, com a qual nenhum dos dois à data da escolha, tinha,
efetivamente, a sua ligação.
Apesar de, efetivamente, aquela vir a ser a RH comum dos cônjuges, primeira e
única e, portanto, nem sequer se consegue interpretar a alínea b), porque no
momento da escolha aquela não era a RH, não havia nenhuma ligação familiar com a
lei portuguesa, o que significa que a alínea b) também não está.

Alínea c), a conexão é a nacionalidade, que não pode ser, porque eles também
não escolheram e alínea d), a lei do foro, que eles também não escolheram, pois
escolheram a lei da RH. Portugal é a lei do foro, não significa que fosse esse o critério.

Isto significa que eles não escolheram de facto, pois não cumpriram com as
regras de escolha de lei do artigo 1º. O que significa que a ser assim, resta-nos o artigo
8º.

A defesa do Vitório, não é esta. É que a validade formal não estava cumprida, o que
quanto ao argumento do próprio do Vitório não lhe assiste razão. É verdade que a

121
Direito Internacional Privado – OT e P
escolha de lei deve ser formal e materialmente válida, como qualquer negócio jurídico,
não pode ter vícios de vontade, e é verdade que as particularidades no que tange à
validade formal diz respeito, notem, tem de ser por forma escrita, nos termos do artigo
7º e valem trocas de mensagens por email, mas depois acrescem requisitos de forma,
nomeadamente, no artigo 7º são exatamente aqueles que o Vitório alega: os OJ
exigirem mais requisitos de forma do que simplesmente a redução a escrito do acordo.
No entanto, esses requisitos de forma terão de ser dos estados participantes no
regulamento, onde algum dos cônjuges tenha a sua RH habitual. Se eles viverem em
sítios diferentes, com requisitos diferentes, basta que seja um, ou os requisitos de
validade de um deles.
É verdade que não basta a redução a escrito, pode ser exigido outros requisitos
de forma. Conquanto esses requisitos de forma sejam de um Estado participante, onde
os conjugues tenham RH e não Estados terceiros. Ainda que o OJ da argentina e do
equador exigissem para este acordo outros requisitos de forma, eles não seriam
aplicáveis, nos termos do artigo 7º, eles nunca seriam, nem são estados participantes
neste regulamento. É verdade que o acordo não é válido, mas ele não é válido porque
eles não escolheram uma das leis, previstas no artigo 5º de acordo com os requisitos
que são impostos.

Resta-nos o artigo 8º. Na ausência de escolha, nos termos do artigo 5º, temos
uma série de critérios supletivos, que estão aqui representados de uma forma
subsidiária. O primeiro deles, entre as conexões de RH e nacionalidade, claramente, o
legislador da UE mantém a coerência e prefere o da RH e o primeiro deles é a lei da RH
dos cônjuges à data da propositura da ação em tribunal, ou seja, o OJ português. Ou
seja, no caso concreto vai se aplicar a ordem jurídica portuguesa.

12.12.2023 (P)

Caso-prático:

Hannah, turca com RH em Casa Blanca casou com Karaman, Saudita com RH também
em Casa Blanca, em Teerão. Depois do casamento o casal mudou-se para os EUA
fixando a sua residência em Austin, no Estado do Texas, onde passou a viver.

Alguns anos mais tarde Karaman e Hannah celebraram por escrito um documento, que
assinaram, onde acordaram que, em caso de divórcio, a lei aplicável seria a lei iraniana.

O casal, desavindo, separou-se judicialmente nos EUA - tendo sido aplicada a lei norte-
americana - e Hannah veio viver para Portugal com os dois filhos. Já em Portugal
Hannah propõe nos tribunais portugueses uma ação de divórcio contra o marido
invocando a aplicabilidade da lei portuguesa porquanto a lei iraniana não garante às
mulheres - caso sejam estas as proponentes da ação de divórcio - os mesmos direitos
que teriam caso fossem as demandadas.

Quid juris?

RESOLUÇÃO:

122
Direito Internacional Privado – OT e P

Questão controvertida é o divórcio.

Vamos ver se temos ou não uma situação jurídica internacional:

Elementos:

1. FACTO: OJ iraniano
2. SUJEITOS
a. Hannah
i. Nacionalidade – OJ turco
ii. RH – OJ marroquino
b. Rodolfo
i. Nacionalidade – OJ argentino
ii. RH – OJ marroquino
c. Autonomia da vontade: OJ iraniano

3. RH do casal – OJ americano – se for um OJ plurilegistivo, como é o caso,


podemos indicar logo a lei que esteja em vigor dentro do Estado, in casu,
Texas.
4. RH atual de Hannah – OJ português

Temos uma relação jurídica privada, internacional, em que neste caso Portugal
é a lex fori e agora precisamos de saber qual a lei aplicável a este divórcio.

Vamos verificar a aplicabilidade do Regulamento de Cooperação Reforçada,


que se aplica a Portugal, uma vez que Portugal é um Estado participante no
regulamento. Portanto, vamos ver o Regulamento de Cooperação Reforçada em
matéria de divórcio e separação judicial, vamos analisar a verificação dos âmbitos:

Âmbito material – o regulamento aplica-se, estamos no âmbito de um caso de


divórcio. Ou seja, relações jurídicas de DIP que suscitem questões relativamente ao
divórcio e separação judicial, que é o nosso caso, o divórcio.
Se é uma ação de divórcio, no âmbito do regulamento, não se pode questionar
sobre nenhuma das questões que estão nas diversas alíneas do nº2. Temos todas as
distinções da extinção do contrato de casamento que não seja por divórcio, alguns
efeitos pessoais e patrimoniais, incluindo os mortis causa e matéria relativa às
responsabilidades parentais.

Âmbito espacial – artigo 4º, aplicação universal. Com os elementos de conexão,


com as normas de conflito estando para determinar a aplicabilidade de um Estado
participante, como de um Estado não participante, seja membro ou não, é indiferente,
apesar de haver estados não participantes, não fica limitado o âmbito de aplicação
espacial.

Âmbito temporal – artigo 18º, a partir de 21 de junho de 2012.

123
Direito Internacional Privado – OT e P
Estando os 3 âmbitos verificados, vamos então aplicar este Regulamento de
Cooperação Reforçada, cuja regra é a autonomia da vontade, que de facto os cônjuges
exerceram e, portanto, vamos determinar a lei aplicável nos termos do artigo 5º,
desde que a escolha de lei no caso concreto, apesar da autonomia da vontade ter sido
exercida como princípio desta matéria, é apesar de tudo limitada pelo princípio da
maior ligação individual ou na sua impossibilidade, pelo princípio da maior efetividade.
Eles exerceram de facto a autonomia de lei, eles escolherem a lei, mas esta
escolha de lei só é possível se estiverem cumpridos os requisitos de escolha, ou as
conexões para cumprimento destes princípios do artigo 5º.

Eles escolheram o OJ iraniano. É importante começar a analisar o artigo pelo


fim, esta escolha de lei para ser correta, tem de ser antes da propositura da ação, só
podendo ser depois e tal significa que a lei do foro tem de permitir a alteração da lei já
na pendência do processo em Tribunal. No caso concreto, eles escolheram a lei na
pendência do casamento e antes da propositura da ação de divórcio. Não há indicação
de qualquer vício de ordem substantiva e o documento foi reduzido a escrito, estando
cumprida a validade formal, nos termos do artigo 7º.

Agora a questão que se coloca é, se a lei que eles escolheram era uma das leis
que eles podiam ter optado, nos termos do artigo 5º. A lei que eles escolheram era a
RH dos cônjuges, era a lei da última RH dos cônjuges, desde que um deles ainda viva lá,
era a nacionalidade de algum dos cônjuges, ou é a lei do foro. A Hannah tem razão, no
sentido de que não se aplicará neste caso concreto a lei iraniana em matéria de
divórcio, não tem razão é quanto aos fundamentos. Apesar de que a escolha de lei,
substancial ou formal é válida, ela não atinge os requisitos do artigo 5º, pelo que não é
possível escolher a autonomia da vontade como conexão regra.

Se fosse possível escolher esta lei, de facto ela teria razão em toda a extensão
daquilo que diria, no sentido em que eles poderiam ter escolhido esta lei, mas se esta
lei discrimina as mulheres por o serem, no âmbito do divorcio, nos termos do artigo
10º, temos um afloramento especial, daquilo que mais uma vez, seria resolvido pela
ordem pública internacional, que é de facto aqui uma discriminação quanto ao género
o que imediatamente afastaria a aplicabilidade da lei iraniana, e de facto se aplicaria a
lei do foro.
O artigo 10º fala de 2 causas que afastam a aplicabilidade da lei, que é a falta
de previsão da possibilidade de os cônjuges tenderem o casamento (?), ou seja, a falta
de possibilidade do exercício do direito ao divórcio, ou então qualquer forma de
discriminação em razão do sexo.

Isto não significa que não afaste essa lei, por qualquer outro motivo da ordem
internacional. Imaginemos que há uma discriminação em razão da orientação social,
de facto não conseguimos utilizar o artigo 10º, porque temos uma discriminação que
não é em razão da orientação sexual, mas para isso temos a cláusula geral de ordem
pública internacional.

No artigo 12º, temos exatamente a mesma consequência, a forma como vamos


usar o mecanismo é que é diferente. Nos termos do artigo 10º não temos de explicar

124
Direito Internacional Privado – OT e P
mais nada, só temos de dizer que há esta discriminação, esta inexistência ou
impossibilidade de exercício de direito. No artigo 12º, não obstante o que temos de
justificar é o princípio informador para justificar a aplicabilidade de ordem pública no
caso, mas, notem, afastamos seja num campo como no outro, a aplicabilidade da
ordem jurídica no caso concreto.

Ela tem razão, não se aplica a ordem jurídica iraniana, não obstante o
fundamento é que está errado.

O que significa que sendo assim, agora vamos aplicar o quê?

Aqui a questão que está e a da aplicabilidade do artigo 9º e do 8º. Eles já estão


separados judicialmente. Separados nos EUA, o que significa que o tribunal
competente à data é um Tribunal americano que lá escolheu a lei que achava que
devia ser, claro que não citou o Regulamento e, naturalmente, nós não temos nada a
haver com o assunto porque o processo desencadeou-se nos EUA. A questão que
agora se coloca é, eles estão separados judicialmente, o que significa que agora temos
uma de duas coisas, ou ter um divórcio ou ter a conversão da separação judicial em
divórcio.

O caso-prático diz que ela propôs uma ação de divórcio. Tecnicamente e


processualmente, ela não tem um divórcio, aquilo que vai acontecer em Portugal é
que o contrato de casamento que foi alterado e, notem, se é uma alteração judicial de
pessoas e bens, implica que todos os efeitos deste casamento estão extintos. A única
coisa que este divórcio vai fazer é passar ou alterar o Estado civil destas pessoas, que
estão casadas, para o estado de divorciadas.
Os efeitos enquanto tal, tipicamente já ocorreram na separação judicial e, por
isso, é que o legislador da UE fica preocupado com as situações em que já há
separação, mas depois as pessoas vão se divorciar, querendo fazer uma ligação entre a
separação e o divórcio.

Para não acontecer uma situação que é os institutos jurídicos podem não ser
exatamente iguais. Nós temos uma extinção total de todos os efeitos e depois a única
coisa que há é a alteração do estado civil, mas, notem, pode haver situações em que os
regimes jurídicos não sejam, exatamente, iguais e sobrem algum tipo de efeitos para
serem resolvidos na ação subsequente se ela vier a existir.
O legislador tem a grande preocupação de aplicar a mesma lei, para que não
haja situações me que aplicando leis diferentes, haja duas leis em momentos
diferentes a tratarem a mesma coisa, porque teríamos um problema de caso julgado
ou o contrário, que é, não temos problema nenhum de caso julgado, mas em que
ficam depois por resolver, porque a separação não resolveu e agora o divórcio também
não vai resolver com a aplicabilidade de lei nova.

Agora, a questão que aqui se coloca é, no caso concreto temos uma ação de
divórcio, se isto acontecer no exame a professora diz expressamente que é um caso de
conversão de separação em divórcio.

125
Direito Internacional Privado – OT e P
Aquilo que vamos apreciar neste caso é a conjugação do artigo 9º com o artigo
8º, ou seja, se olharmos para o artigo 9º e, notem, quer o 8º, quer o 9º, tem como
conexão regra a autonomia da vontade. Quer para uma coisa, quer para outra, o artigo
9º também um artigo com conexões supletivas, isto porque os cônjuges podem
determinar a lei aplicável não só para o divórcio como para a separação judicial, como
podem escolher lei diferentes.

Aqui a questão é, a autonomia da vontade não funcionou e eles só escolheram


quanto ao divórcio e não escolheram quanto à separação judicial. Houve um tribunal
num Estado que, naturalmente, não é participante no regulamento, a questão é, o
artigo 9º, aquilo que faz é literalmente, no nº1 mandar aplicar (não havendo escolha
de lei), ao divórcio a lei que foi aplicada à separação judicia, para não haver conflitos
positivos nem negativos, relativamente, a determinados efeitos da alteração do
contrato de casamento, nomeadamente, da extinção do contrato de casamento.
A questão é, se a escolha dessa lei que determinou a aplicabilidade de uma
determinada lei para a separação judicial, teve de ser feita nos termos do
regulamento. Aqui, claramente, que não foi. Se esse for o caso, então não temos
nenhuma situação diretamente do artigo 9º e vamos para o artigo 8º, porque temos 2
coisas diferentes. Se a escolha de lei é, independentemente de onde a questão foi
resolvida, aplica-se a mesma lei que alguém determinou aplicável para a separação
judicial, notem, significa que no mínimo metemos um ponto final dizendo que
aplicávamos a lei norte-americana ao caso concreto porque foi aquela que foi aplicada
à separação judicial.

Portanto, vamos ver a conjugação do artigo 9º para o artigo 8º. O artigo 9º,
sobretudo o nº2 ajuda na resposta. O nº1 é muito claro e não tem grandes
especificidades. Agora o nosso problema é, como é que se escolheu a lei para a
separação judicial, se foi nos termos do Regulamento, ou seja, lá qual for. Se
interpretarmos, o nº2 do artigo 9º também ajuda.

Aquilo que o 9º/2 diz é se nos termos do nº1, a lei aplicável não prevê a
conversão da separação em divórcio, então aplicamos as regras do artigo 8º. Isto
significa, desde logo, que primeiro se houver uma situação de conexões supletivas e
tivermos o caso de separação para ser convertida em divórcio, a conexão regra não é a
do artigo 8º, é do 9º.
Ou seja, não temos de verificar os requisitos do artigo 8º para determinar a lei
aplicável ao divórcio. Se por acaso aplicarmos o regulamento para a separação judicial,
imaginemos que aplicamos a alínea b) do artigo 8º, significa que independentemente
do tempo que foi volvido desde a separação, desde o momento em que eles tiverem
tido a última RH comum, desde se a pessoa ainda habita lá ou não, aplica-se sempre a
mesma lei.
Em caso de a separação ser convertida em divórcio, a conexão regra é do 9º/1 e
não do artigo 8º, se precisarmos de ver os requisitos do artigo 8º, o mais provável é, se
aplicaram o Regulamento, que as conexões já não signifiquem ? divórcio, mas devem ?
verificar a separação judicial. Portanto, a lei do nº1 do artigo 9º, é aquela que foi
aplicada à separação, independentemente, de ela ter sido escolhida pelo Regulamento

126
Direito Internacional Privado – OT e P
se se verificarem ou não os requisitos do artigo 8º à data do divórcio. Esta é a primeira
conclusão.

A segunda conclusão é se o 9º/2 determina que no caso de não ser a lei


aplicada uma lei que admita ou preveja a separação judicial em divórcio, e manda
aplicar as regras do artigo 8º, significa que para efeitos do 9º/1, não tem de ser o
artigo 8º a determiná-la. Em princípio se esse fosse o pressuposto do 9º/1, essa
questão já estaria resolvida pela aplicabilidade imediata do artigo 8º. Isto significa que
a escolha de lei para a separação judicial, não tem de ter sido feita nos termos do
Regulamento.
Se o artigo 9º/1 determina a aplicabilidade concreta em caso de conversão da
separação em divórcio da lei que foi aplicada à separação judicial, independentemente
da verificação dos requisitos do artigo 8º, se por acaso foi através do artigo 8º que se
escolheu aquela ?. significa que o princípio que está subjacente ao artigo 9º não é o
princípio da maior ligação individual, é também o princípio da maior efetividade. Ou
seja, não há conflitos positivos, nem conflitos negativos para a resolução de questões
que podem ser concorrentes.

Isto significa que das duas uma, se neste caso concreto, tivermos uma situação
de conversão da separação judicial em divórcio, então a lei aplicável foi exatamente a
mesma que foi aplicada pelo tribunal norte americano para a separação judicial.

Conforme a redação que está feita, não é um caso de conversão, a conversão


da separação judicial em divórcio é um processo especial para além do divórcio, teria
de ser uma forma especial, de reconhecimento da sentença, aquela sentença de
separação judicial passaria a valer no ordenamento jurídico português e depois havia
um incidente desse processo para reconhecimento da conversão da separação judicial
em divórcio. Não é, claramente o que aconteceu porque ela aqui propõe uma nova
ação, porque é claramente um processo de divórcio.

Se for uma questão de conversão o assunto fica resolvido nos termos do artigo
9º, ou seja, a lei que o tribunal norte americano aplicou para a separação judicial é a lei
que agora vai ser aplicada em Portugal para resolver o divórcio.
Notem, nem sequer temos o problema de ordenamentos jurídicos
plurilegislativos porque essa questão já foi resolvida pelo Tribunal do Estado do Texas
quando determinou se aplicava a lei federal ou a lei em vigor no Estado do Texas para
determinar a separação inicial.
Portanto, aquela forma aplicada, seja ela qual for é aquela que se aplica no
caso concreto.

Se fosse uma conexão do facto, a lei aplicável seria a lei em vigor no Estado do
Texas, seja ela qual for.
Não sendo uma situação de conversão, ou então admitam a outra hipótese nos
termos do nº2 , o OJ norte americano não prevê a situação da conversão em divórcio,
aí sim iríamos para o artigo 8º determinar o que é aplicável a este divórcio. Se
aplicamos o artigo 8º já estamos a aplicar estas conexões ao momento da questão
controvertida que é o divórcio.

127
Direito Internacional Privado – OT e P
RH dos cônjuges à data da instauração do processo em tribunal, eles têm RH?
Não. A lei da última RH dos cônjuges, aqui é um bocadinho diferente da conexão da
autonomia da vontade porque se ela não for comum, para além de um deles ter que lá
estar, ela não pode ter deixado de ser comum há mais de um ano. O caso prático aqui
não é claro.

Se estes requisitos aqui da alínea b) se verificarem, será aplicada a lei em vigor


porque temos aqui um OJ plurilegistivo e nos termos do artigo 14º alínea b), sempre
que se faz referência à RH é a lei aplicável no Estado da RH, portanto a lei aplicável no
Texas, não é nos EUA. Se por acaso os requisitos da alínea b) não estiverem
verificados, ou seja, já passou mais de um ano, então passaríamos há conexão seguinte
que era a nacionalidade, mas neste caso ela tem de ser comum a ambos, não é o caso,
ela é turca ele é saudita. Nesse caso concreto seria a lei do Estado do foro, princípio da
maior efetividade no caso concreto, aplicar-se-ia a lei portuguesa.

18.12.2023 (P)

Caso prático

Sarah, com dupla nacionalidade, cidadã do Mali e Francesa, com residência habitual
em Wellington, na Nova Zelândia, faleceu subitamente na sua casa de férias em Lyon,
França, em setembro de 2022. Para efeitos académicos, admita se pretende decidir em
Portugal a sucessão de Sarah:

a) A falecida não outorgou qualquer testamento ou pacto sucessório;

b) O DIP do Mali considera competente, para a matéria em apreço nos autos, a lei da
nacionalidade do de cujus sendo que, em caso de dupla nacionalidade, e sendo uma
delas a do Mali, só esta releva;

с) Em relação à dupla nacionalidade, também a lei da nacionalidade francesa considera


que se alguém tiver mais do que uma nacionalidade e uma delas for francesa, só esta
releva;

d) O DIP Neozelandês considera competente, para a matéria em apreço nos autos, a lei
do lugar do óbito e adota um sistema de devolução dupla;

Diga, de forma fundamentada e analisando as vicissitudes que se suscitam no caso sub


judice, a lei aplicável para resolver a questão material controvertida.

Questão controvertida: sucessão mortis causa. Destino dos bens.

Relação jurídica internacional: sujeitos: de cujo Sarah Nacionalidade Mali e Francesa e


RH Nova Zelândia. Facto: morte França. Relação jurídica absolutamente internacional,
a questão estaria a ser resolvida em Portugal.

128
Direito Internacional Privado – OT e P
Portugal é a lex fori, vamos aplicar o regulamento das sucessões, par aplicar o
regulamento das sucessões temos de ter os 3 âmbitos de aplicação: 1º âmbito
material, artigo 1º o regulamento aplica-se a toda a matéria relativa a sucessões por
morte que não suscitem questões de natureza de direito publico (fiscal, administrativa
e aduaneira) que é o caso, o âmbito material está verificado. A não ser que a questão
sucessória que se suscite seja uma das que está no nº2 (sucessão em geral e destinos
dos bens).

Âmbito territorial, artigo 20º aplicação universal independentemente da lei


que seja determinada pelas conexões do regulamento ele é aplicável ao caso concreto,
este âmbito também está verificado.

Âmbito temporal, o regulamento aplica-se ao fenómeno sucessório após a data


da entrada em vigor, artigo 84º. Verificados os 3 âmbitos, é o regulamento das
sucessões que vamos aplicar, já sabemos que a regra geral é a autonomia da vontade
que no caso concreto não foi indicado.

Este é altamente limitado, a única coisa que é possível é afastar a RH para


escolher a lei da Nacionalidade, mas não foi determinada. Neste caso concreto
aplicamos a regra geral, artigo 21º, na falta de escolha de lei nos termos do artigo 22º
a lei aplicável às sucessões é a lei do estado onde o de cujos tenha a sua RH, ou seja,
Nova Zelândia, a não ser que por um conjunto de circunstâncias haja uma conexão
manifestamente mais estreita com outro estado, a dúvida podia estar no OJ francês,
no entanto ela tem duas nacionalidades.

É certo que ela vive ocasionalmente em França, onde passa as ferias, mas não é
suficiente para afastar. Considera-se competente a lei da Nova Zelândia, nos termos do
artigo 21º nº1 do Regulamento de Roma I.
No caso concreto não é possível concluir, se se vai aplicar o direito material da
NZ, por quando o regulamento admite exceções e temos de ver se esta situação é uma
dessas. O reenvio está previsto no artigo 34º, lemos este artigo do fim para o princípio.

O reenvio só pode ser admissível, nos casos em que a conexão não é, a


autonomia da vontade, ou a conexão manifestamente mais estreita. Nestes casos
nunca é admissível reenvio. Ora, no caso concreto nos estamos a usar a conexão regra,
ou seja, pode ser admissível o reenvio. Temos de ver se ele é admitido, para ele ser
admitido tem de se verificar os requisitos que estão no nº… o EM da lex fori, tem de
saber com a alínea a) e a alínea b), porque é para o Estado terceiro, este é o primeiro
requisito ( se for para um EM a questão está resolvida, o EM vai aplicar o mesmo
regulamento e considera-se competente) e este estado terceiro de duas uma, ou
transmite de volta a competência ao estado anterior, ou transmite a competência a
outro estado terceiro que se considera competente, temos de ver se há reenvio ou
não.
Temos de ver se a L2 se considera competente ou não, porque se ela se
considerar competente o assunto fica arrumado.

129
Direito Internacional Privado – OT e P
O OJ da Nova Zelândia, considera competente a lei do lugar do óbito, ou seja,
considera competente L3 que é o OJ Francês, onde ocorreu o facto. L2 transmite a
competência para outro EM. Se for para um EM nos termos da alínea a), o EM aceita e
a questão fica resolvida. Nos termos da alínea a), se L2 transmitir a competência para
L3 e L3 for um EM, aceitamos o reenvio, ou seja, no caso concreto vamos aplicar a
solução jurídica Francesa.

É indiferente sabermos se este se considera competente ou não, porque se


devolve para um EM este aceita sempre a competência, nunca se coloca para L2 um
problema de reenvio, porque para quem ele devolve, considera-se competente (é
indiferente saber se é antidevolucionista ou devolução simples ou dupla). Há uma
transmissão da competência para L3, este é um EM e está resolvido pelo artigo 34º nº1
a). No caso concreto vamos aplicar a lei de uma das nacionalidades, que é a lei
francesa.

Se ele tiver multinacionalidades, ele escolhe a nacionalidade que quiser nos


termos da autonomia da vontade, que neste regulamento está limitada entre a lei da
nacionalidade e da RH.

Caso prático:

Viviane, Alemã e com residência habitual em Pretória, na África do Sul, faleceu vítima
de doença súbita no Hospital Pedro Hispano, quando se deslocou a Portugal em 2022
para visitar a sua única filha, Carlota, com múltipla nacionalidade, portuguesa, Alemã e
Equatoriana (esta última por o seu pai ser natural de Quito) e com residência em
Matosinhos. Aquando do seu falecimento Viviane que não deixou testamento - era
proprietária de um imóvel no Québec, Canadá e, para além de outros bens, era
também proprietária de uma valiosa coleção de obras de arte, incluindo um quadro de
Paula Rego e que exibia em sua casa. Admita que:

a) Se discute em Portugal a sucessão de Viviane;

b) O ordenamento jurídico do sul africano considera competente a lei do lugar onde os


bens imóveis se encontram; para os demais bens considera competente a lei da
nacionalidade e, em qualquer caso, pratica devolução simples;

c) A mesma solução é perfilhada pelo ordenamento jurídico Canadiano ainda que


adote sistema de devolução dupla;

d) O ordenamento jurídico do Equador é antidevolucionista e considera competente a


lei da nacionalidade;

e) O ordenamento jurídico Canadiano é plurilegislativo de base territorial e não tem


normas de direito interlocal. Quid juris?

Resolução:

130
Direito Internacional Privado – OT e P
Questão Controvertida: sucessão mortis causa

Relação jurídica internacional: Sujeitos: de cujos, nacionalidade alemã e RH em


Africa do Sul. Facto: morte, em Portugal. E a autonomia da vontade que não foi
exercida. Património: imóvel no canada e um bem movel na Africa do sul. Potencial
herdeira: carlota, nacionalidade portuguesa, alemã e equatoriana e com RH em
Portugal.

Temos uma questão relativamente internacional. Portugal ser a lei competente


para regular a sucessão.

Aplicamos o regulamento das sucessões, mas para isso é necessário que


estejam verificados os 3 âmbitos: âmbito material, artigo 1º aplica-se á sucessão
mortis causa, desde que não suscite questões de direito publico (aduaneiro, fiscal e
administrativa) a não ser que esteja excluído nos termos do nº2, não se verifica no
caso concreto, âmbito material verificado.
Âmbito espacial, artigo 20º, aplicação universal.
Âmbito temporal, artigo 84º. Os 3 âmbitos estão verificados. Aplicamos o
regulamento das sucessões para determinar a lei aplicável a esta sucessão.
A autonomia da vontade não foi exercida, vamos aplicar a opção subsidiaria,
artigo 21º nº1, a RH do falecido, OJ da Africa do sul. A não ser que haja outro que
tenha uma conexão manifestamente mais estreita, não se verifica também no caso em
concreto. OJ sul africano é a lei que Portugal vai considerar competente para regular
esta sucessão.

Como L2 é um estado terceiro, nos termos do regulamento pode ser admissível


o reenvio, mas para isso, L2 não se pode considerar competente, se não temos
reenvio. Se L2 (OJ sul africano) pudesse usar o seu DIP consideraria competente que
lei? Esta distingue consoante os bens, aplica conexões diferentes para bens diferentes.
Bens imoveis, o OJ sul africano considera competente a lei do lugar onde os imoveis se
encontram, ou seja, Canada.

O OJ canadiano por sua vez, considera competente a lei do lugar do bem, ou


seja, considera-se competente. Para os bens imoveis teríamos reenvio, temos de saber
se isto tem ou não enquadramento no artigo 34º, se tiver, admitimos o reenvio e
aplicamos a lei que resulta deste esquema de reenvio, se não fazemos uma referência
material para L2 e aplicamos o OJ sul africano.

Temos de ver se estão verificados os requisitos do artigo 34º (temos de


começar pelo fim, porque há conexões em que nunca se aplica o reenvio, e nessas
conexões o reenvio) nos termos do artigo 34º L2 teria de ser a conexão de autonomia
da vontade ou a conexão manifestamente mais estreita, não é, é a RH, ou seja, não
esta impedido o reenvio nos termos do artigo 34º nº2.

Agora temos que ver se se verifica os requisitos do artigo 34º nº1, será
admissível o reenvio se o estado terceiro, ou seja L2, ou de duas uma, devolve e
transmite este caso de competência para o EM, L3 não é um estado membro por isso

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Direito Internacional Privado – OT e P
não é a alínea a), transmite a competência para um estado terceiro e este considera-se
competente, que é o caso, ou seja, para os bens imoveis, nos termos do regulamento,
apesar de ser competente a lei da RH, vamos aplicar o OJ canadiano.

No entanto, este OJ e um OJ plurilegislativo de base territorial, significa que


precisamos de saber de entre as várias leis em vigor neste OJ qual é que vamos aplicar.
Artigo 36º, é o direito deste OJ que resolve o conflito de leis, ou seja, não
determinamos nenhuma lei aplicável nos termos do regulamento.
É o OJ canadiano que resolvera o seu conflito interno, então nos termos do nº2,
tem as seguintes conexões, se for a RH a conexão, aplica-se a lei em vigor na RH. Se for
a lei da nacionalidade, aplica-se a conexão manifestamente mais estreita com o
falecido. Se for outra conexão qualquer, como é o caso, aqui a conexão é lei do lugar
da situação ade ser a lei que está mais próxima desta conexão (Alínea c), ou seja, se a
conexão é a lei do lugar onde o imóvel se encontra ade ser a conexão mais próxima do
objeto do património, ou seja, a lei em vigor onde o imóvel se situa. O imóvel situa-se
no Canadá, na região do Québec, ou seja, será a lei em vigor na região do Québec que
determinara a sucessão relativamente ao imóvel.

Relativamente aos bens moveis, o OJ sul africano considera competente a lei da


nacionalidade, ou seja, o OJ alemão. Para o restante património desta senhora, o OJ
Sul africano considera competente a lei da nacionalidade do falecido, ou seja, a
Alemanha.
Temos uma questão de reenvio, temos de ver se é possível, voltamos ao artigo
34º, o 34º nº2 não se verifica pelo que já foi dito em cima. Só que agora quando
aplicarmos o nº1 já não aplicamos a alínea b). porque neste caso concreto a conexão
da origem a um OJ diferente, alínea a), admite-se o reenvio quando os estados,
transmite a competência para um EM, que é o caso da Alemanha, neste caso, ainda
que com fundamento diferente, também se vai admitir o reenvio, portanto Portugal
vai aplicar, para os bens moveis a lei alemã.

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