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Pedro Silva e Lara Costa

O objeto do direito internacional privado são as relações privadas internacionais. Resolver os problemas
que se colocam nas relações privadas internacionais. Para isso temos de identificar quando estamos
perante uma relação privada internacional. Se a parte privada não irá causar grandes dificuldades, a parte
do internacional pode criar dificuldades.

Quando temos uma relação jurídica internacional?


Há três tipos de relações jurídicas privadas:

• Puramente internas (foro=país onde o caso está a acontecer)


• Relativamente internacionais – são aquelas que só tem contacto com uma ordem jurídica (uma
legislação), nisso são iguais às puramente internas, mas só tem contacto com uma ordem jurídica,
mas que é estrangeira
v.g. a e b, casados em França, residentes de França, no território português

’ O direito internacional privado não soluciona nenhuma destas duas primeiras situações

• Absolutamente internacionais ou plurilocalizadas

Princípio da não transitividade


Nunca se pode aplicar numa situação uma lei que não tenha contacto com ela. Ele resolve as situações em
que as relações são puramente internas.

Nas relativamente internacionais, também nos basta o princípio da não transitividade. No exemplo,
aplicamos a lei francesa.

As relações que nos interessam são as relações absolutamente internacionais ou plurilocalizadas. São as
relações que têm contacto com vários ordenamentos jurídicos.
A, português residente em Espanha casou com B, brasileira residente na argentina. Qual o regime de bens
do casamento
Temos uma relação privada? Sim, o casamento. Será que a lei é internacional ou plurilocalizada? Vamos
mobilizar o princípio da não transitividade e verificamos que tem contacto com o caso a lei portuguesa,
a espanhola, a brasileira e a argentina. Este princípio não nos resolve o problema.
Portanto, este é o objeto da nossa disciplina.

Caso Prático 1:
A, francê s e B, alemã , ambos residentes em Espanha, tendo propriedades confinantes no Algarve,
discutem a extensã o dos respectivos direitos de propriedade, concretamente quanto a saber se podem
construir até à extrema e abrir janelas. Tal conduta é proibida pelas leis portuguesa e espanhola, mas
permitida pela lei alemã . Quid iuris?

Isto é objeto da nossa disciplina? (1º passo a verificar-se). Temos de mobilizar o princípio da não
transitividade (não pode haver apenas uma lei em contacto com o caso, temos de concluir que há duas ou
mais leis com relação ao caso). Se se verificar a situação de várias leis em relação com o caso estamos
perante uma relação plurilocalizada, objeto da nossa disciplina. A lei portuguesa está em contacto com o
caso porque é a localização dos dois prédios (algarve). A lei espanhola está também em contacto com o
caso porque é a residência dos dois cidadãos. A lei francesa também está em contacto com o caso porque
é a nacionalidade do senhor A. Por fim, também temos a lei alemã porque é a nacionalidade da senhora
alemã. Temos 4 leis aplicáveis ao caso. O princípio da não transitividade diz-nos que é uma relação
absolutamente internacional ou plurilocalizada e isto é o objeto da nossa disciplina.
Pedro Silva e Lara Costa

As situações internacionais colocam sempre três problemas


1. O problema da competência internacional do tribunal. O tribunal português é competente? (1º
problema) – problema dos conflitos de jurisdição
2. Se for competente, qual a lei que eu devo aplicar a esta situação internacional – problema dos
conflitos de leis
3. Se eu emitir uma sentença, se o tribunal português emitir uma sentença será que ela será admitida
nos outros países, ou seja, será que ele produzirá efeitos nos restantes países – problema do
reconhecimento das sentenças estrangeiras

Nota: A situação dos problemas tem a ver com o âmbito da nossa disciplina. O DIP vai tratar de todos
estes problemas? Não, a nossa cadeira, derivado do facto de ser uma cadeira semestral, não vai responder
ao problema da competência internacional dos tribunais portugueses. Esta matéria passou-se para
processo civil. Nos pressupomos que os tribunais portugueses têm competência, mas na nossa vida
prática não podemos pressupor.

No problema da lei aplicável (conflito de leis) o que nós vamos dar é apenas a parte geral. Vamos estudar
como se resolve o conflito de leis. Vamos ficar com os instrumentos para o resolver, mas não vamos ver
matéria a matéria qual a resolução (v.g. direito de família, que lei vamos aplicar ao casamento?). vamos
dar a parte geral toda e apenas a parte especial dos contratos internacionais

Quanto ao reconhecimento de sentenças estrangeiras, teremos de ver que há varias formas de


reconhecimento tendo em conta o país d que ela venha
v.g. é mais fácil reconhecer uma sentença de França do que uma sentença da Coreia do Norte
vamos estudar o mecanismo regra, o mecanismo. Normal. Os mecanismos facilitados não o vamos estudar
(os mecanismos facilitados vêm dos membros da União Europeia)

assim temos de pressupor que os tribunais são competentes, depois vemos o problema da lei aplicável e
ainda estudamos o mecanismo normal de reconhecimento de sentenças internacionais

Resolução do caso prático


Situação absolutamente internacional. Os tribunais portugueses são competentes para oc aso
(suposição). Na verdade, seria é uma competência exclusiva, pois nem admitiríamos a competência de
outros países.

Que lei aplicamos ao caso?


Não seria melhor que em todos os casos que decidimos em Portugal aplicássemos a lei portuguesa? Ou
seja, não seria melhor aplicar a lei do foro?
Porque é que não aplicamos o princípio da territorialidade? (aplicar-se a lei do país onde ocorreu o facto)
Se em cada país se aplicasse a própria lei, o estatuto das pessoas variava. Se alguém mudasse de país
mudaria o seu estatuto. Colocava dificuldades evidentes à pessoa. Geraria instabilidade de relações
jurídicas internacionais
Se vigorasse o princípio da territorialidade, ainda temos a dizer, que a territorialidade estabeleceria
insegurança jurídica das pessoas deparar-se-iam com leis que não contavam). Por força de ambos os
motivos, não vigora o princípio da territorialidade.
Desta forma, se não vigora o princípio da territorialidade, nem sempre os tribunais portugueses vão
resolver os litígios através de lei portuguesa, às vezes aplicam lei estrangeira. O que significa que temos
de olhar para o caso prático com outros olhos.

Quais os critérios para resolver uma situação absolutamente internacional coloca o problema do método
do DIP.
Devem escolher-se das várias leis em contacto a que tiver uma ligação mais forte com o caso, aquela com
que as partes contarem mais. É o legislador que tem de fazer essa reflexão. O legislador utiliza regras que
escolhem a melhor lei para o caso. São as regras de conflito. É o método conflitual.
Pedro Silva e Lara Costa

É também conhecido como método savingyano porque foi inventado por Savingy. Para Savingy deveria
aplicar-se a lei onde estiver a sede da relação jurídica (por outras palavras a lei mais intimamente
relacionada com o caso)

O nosso sistema beneficia de vários métodos. Pluralismo metodológico. Atenção que o nosso método não
é apenas o método conflitual!!! Nos temos um pluralismo, temos vários métodos. O método conflitual tem
bastante importância, aplicamo-lo várias vezes (modernizado)

Método conflitual: utiliza-se uma regra de conflitos que escolhe uma lei aplicável para uma situação
internacional. Esta no art. 46º do C.C. No art. 46º encontramos uma regra de conflitos pura, tal e qual
Savingy a definiu.
Esta regra de conflitos vai solucionar o nosso caso? Vai-nos dizer se se pode abrir uma janela junto à
extrema. Ela não nos diz se se pode abrir janelas ou não, ela diz-nos qual a lei que vai determinar isso. A
regra de conflitos não é uma norma direta, mas sim indireta, é uma norma de 2º grau, norma sobre norma.
O DIP escolhe a lei cujas normas vai resolver o caso (são normas sobre normas, normas d 2º grau). O facto
de nos a entendermos como norma de 2º grau vai implicar uma certa forma de resolução de problemas.
Isto não é unânime, na escola de Lisboa entende-se que são normas substantivas, porque entende-se que
são elas resolvem as leis. Nos manuais temos que a regra de conflitos é uma norma de 2º grau.

Têm duas partes (encontramos duas partes no art. 46º/1)


A norma material tem duas partes. A hipótese é a primeira parte, depois temos a consequência. Na regra
de conflitos também temos isto. A norma de conflitos tem um primeiro elemento que é o conceito
quadro. Faz exatamente o mesmo que nas normas materiais é feito pela hipótese, que é saber quando é
que vamos aplicar aquela norma (quando é que se aplica aquela norma?). na regra de conflitos é para isto
que serve o conceito quadro. O conceito quadro, da regra de conflitos, aplica-se à posse, propriedade...
A 2ª parte é o elemento de conexão que é a circunstância que o legislador entendeu como relevante
para escolher a lei no caso, para saber qual é a lei mais próxima.
Qual será o elemento de conexão? O território onde as coisas estejam situadas, a situação da coisa. É
aquilo que o legislador entendeu mais relevante, que tem a ligação mais forte com o caso.

Art. 62º Aplica-se à sucessão por morte


Fazer remissão para o art. 31º/1. A lei pessoal é em princípio a lei da nacionalidade.

O elemento de conexão é a nacionalidade do de cujus.

Art. 45º/1.
Conceituado: Responsabilidade extracontratual. Elemento de conexão? O local onde ocorreu o facto
danoso

Nota: vamos trabalhar com centenas de regras de conflitos.

3º elemento da regra de conflitos: a consequência


• o conceituado
• o elemento de conexão
• a consequência jurídica: aplicação da lei designada pelo elemento de conexão à matéria
circunscrita pelo conceito quadro

No nosso caso prático vamos fazer funcionar o art. 46º


No nosso caso o conceituado é a posse, propriedade e demais direitos reais. O elemento de conexão?
A lei aplicável é a lei portuguesa. Mas não podemos ficar por aqui, depois de determinada, temos de a
aplicar. Não pode construir até à extrema nem abrir a janela.
Pedro Silva e Lara Costa

Caso prático 2:
Antónia, cidadã de 18 anos que é simultaneamente austrı́aca e saudita,
residente na Ará bia Saudita, pretende contrair casamento em Portugal, sem autorizaçã o dos seus
pais, com Belmiro, portuguê s residente em Portugal, de 18 anos de idade.
O Conservador do Registo Civil tem dú vidas sobre a capacidade nupcial de Antónia. Na verdade, em
face da lei saudita, a mulher precisa de autorizaçã o do pai para casar até aos 21 anos sob pena de
nulidade do casamento, ao passo que nas leis portuguesa e austrı́aca esta autorizaçã o nã o é
necessá ria. . Quid iuris, tendo em conta o art. 49.o do Có digo Civil?

Verificar se é objeto de direito internacional? Sim, porque tem contacto com a lei da Arabia saudita já que
é uma das nacionalidades da senhora Antónia. Também tem contacto com a lei austríaca já que também
é uma das nacionalidades dela. E ainda tem contacto com a lei portuguesa porque é o local onde ela quer
casar e o Belmiro é português e residente em Portugal.
Há contacto ente lei saudita, austríaca e portuguesa. A solução vai variar muito consoante a lei que nos
entendamos como aplicável.

Temos de resolver o problema da lei aplicável. Mobilizando a regra de conflitos.


Como nos não vamos ver a parte especial, os casos têm lá sempre identificada a regra de conflitos, daí o
art. 49º e vamos precisamente utilizar esta. Vão estar sempre identificadas as regras de conflitos exceto
a regra de conflitos dos contratos. Aí temos de as saber, nas restantes matérias a regra de conflitos vai
ser-nos dada.

As regras de conflitos têm três elementos. O conceito quadro, o elemento de conexão e a consequência
jurídica.
Conceito quadro: Capacidade para contrair casamento; capacidade para celebrar a convenção
antenupcial e regularidade e vícios do consentimento

Elemento de conexão: qual é a circunstância em que ele localizou a relação jurídica? A respetiva lei
pessoal. O que é que é alei pessoal (remeter para o artigo que nos diz que é a lei da nacionalidade). Vamos
aplicar uma lei ao nubente Antónia e uma lei ao nubente Belmiro. É uma conexão múltipla, a regra de
conflitos chama duas leis. A capacidade de Belmiro aprecia-se pela lei da sua nacionalidade. A capacidade
de Antónia determina-se pela sua lei da nacionalidade. Qual é a lei que vai regular a capacidade de casar
de Belmiro? É a lei portuguesa e ele não tem problema nenhum com a convenção antenupcial. Vamos
agora ver a capacidade de Antónia. Qual é a sua nacionalidade? Ela tem duas nacionalidades (saudita e
austríaca). Se for a austríaca não há problema nenhum, se for a saudita tem de se chamar o pai

Nota: há dois problemas eventuais que às vezes se colocam no direito internacional privado. Um deles é
o direito da nacionalidade (coloca-se o problema de quem tem a nacionalidade). O problema do direito
da nacionalidade muitas vezes é questão prévia ao direito internacional privado. Por isso, é que se diz
que é matéria de direito constitucional. Mas as vezes, a verdade é que o direito internacional privado,
escolhendo a lei da nacionalidade, precisa de que se esteja resolvido o problema da nacionalidade
O outro problema é o dos estrangeiros. Será que o estrangeiro tem os mesmos direitos que os
portugueses? As vezes o problema dos estrangeiros coloca-se antes do direito internacional privado. Ele
é questão previa ao direito internacional privado apesar de não ser direito internacional privado.

Em França, os autores dizem que estes dois problemas pertencem a direito internacional privado. Em
Portugal não partilhamos dessa visão, apenas temos entendimento que há situações em que estes dois
problemas extra são questões prévias ao direito internacional provado.

Só vamos estudar um problema atinente ao direito da nacionalidade, os conflitos positivos da


nacionalidade e os conflitos negativos da nacionalidade (apátridas, pessoas que não têm nacionalidade)
Nas aulas teóricas veremos alguns problemas inerentes aos direitos dos estrangeiros.
Pedro Silva e Lara Costa

No nosso caso, temos um conflito positivo de direito da nacionalidade que é questão prévia ao direito
privado internacional. O que fazer nestas situações? Os conflitos positivos de nacionalidade resolvem-se
através de duas normas presentes na lei da nacionalidade portuguesa (art. 27º e art. 28º da lei da
nacionalidade)
Diz o art. 27º que se alguém tiver duas ou mais nacionalidades e se uma delas for portuguesa, em Portugal
considera-se que essa pessoa tem nacionalidade portuguesa. Aqui não mobilizamos este critério porque
a senhora não tem nacionalidade portuguesa
Nesse caso vamos ao art. 28º e, não sendo nenhuma das nacionalidades portuguesas, prevalecerá a
nacionalidade do estado onde resida. A Antónia reside na arabia saudita então prevalecerá a
nacionalidade da arabia saudita. Então ela mantem-se em Portugal como saudita. Sendo competente a lei
saudita, vamos resolver o caso. Ela não tem capacidade nupcial, faríamos, como conservadores, um
despacho de recusa

E se ela residisse em Portugal?


Art. 28º/2ª parte: prevalece a nacionalidade com a qual apresente uma conexão mais forte. Ela tem como
nacionalidades austríacas e sauditas. Logo não podemos aplicar a lei portuguesa (que é apenas a da
residência). O julgador tem de escolher (neste caso o conservador do registo civil). E como? Critério de
proximidade (critério de justiça formal). Em vez de ser o legislador a fazer o juízo de proximidade, passa-
se o juízo de responsabilidade para o julgador, em face do caso concreto. Consagração judicial do
princípio da proximidade. Consegue-se uma escolha mais eficaz. Há alguma insegurança com o princípio
da proximidade (não se consegue prever a escolha)

E se ela fosse apátrida (não tivesse nacionalidade)?


Fazer remissão do art. 31º/1 para o art. 32º
A lei dos apátridas é a do lugar da sua residência habitual. Na falta de residência habitual, no lugar de
residência ocasional (art. 82º/2). Também não tem e, por isso, aplica-se a lei do local onde se encontrar.

E se ela em vez de se casar quiser abrir uma sucursal especializada na compra e venda de imoveis
(ela tem dupla nacionalidade: (austríaca e saudita)
25º capacidade de contrair negócio jurídico
Elemento de conexão: há duas, mas se ela reside na arabia saudita aplica-se essa lei. Mas há a diferença
porque ela quer abrir uma sucursal da empresa que tem em Viena
Do ponto de vista europeu, a EU dá o direito aos seus cidadãos o direito de abrir uma sucursal. Prevalece
a nacionalidade da arabia saudita, é a nacionalidade que conta, logo à partida ela não é cidadã europeia.
Será que pode ser assim? Não pode ser assim, ela está a tentar exercer um direito atribuído pelo TFUE a
quem tiver nacionalidade europeia. Não se pode dizer que não conta a nacionalidade austríaca da
senhora! Existe o acórdão MICHELLETTI, no qual o TJUE veio dizer que: via de regra, cada estado é que
decide como resolve o conflito de nacionalidades (as pessoas tem mais que uma ou não têm nenhuma
nacionalidade), mas se estivermos a falar um direito conferido pelos tratados, para esses efeitos, entre
nacionalidade de um estado membro e nacionalidade de um estado terceiro tem de prevalecer a
nacionalidade do Estado membro. Se tivermos perante um direito atribuído pelos tratados tem de
prevalecer a nacionalidade dos estados membros
Pedro Silva e Lara Costa

As regras de conflitos são compostas por três elementos: o conceito quadro (que determina o âmbito de
aplicação da norma; o conceito quadro está apara a regra de conflitos como a hipótese está para)
*art. 55º remissão para o regulamento da EU: 1259 de 2010
*art. 41º remissão para o regulamento Roma I

Depois temos o elemento de conexão que é a circunstância eleita como relevante para a determinação da
lei aplicável.
v.g. art. 46º lei da situação da coisa

Os elementos de conexão podem ser qualificados de várias maneiras:


1. Podem ser elementos de conexão pessoais ou reais
Real: se diz respeito ao objeto da relação jurídica é real.
Pessoal: Se diz respeito ao sujeito da relação jurídica é pessoal
Lei escolhida pelas partes (art. 3º/1 do Regulamento Roma) - Neste caso é pessoal porque foram
os sujeitos que escolheram a lei aplicável
art. 50º - elemento de conexão é a local de celebração do casamento que é real
A nacionalidade é um elemento de conexão pessoal

2. Podem ser elementos de conexão factuais ou jurídicos


Os factuais são aqueles que para a sua concretização não precisamos de aplicar qualquer norma.
Os jurídicos, para nós os concretizarmos temos de aplicar normas
v.g. O local de celebração do contrato: basta olhar para os factos da vida, logo é factual
v.g. lei do local onde a obrigação deve ser cumprida: é jurídico pois temos de aplicar normas
v.g. residência habitual: é factual
domicílio legal: para sabermos o que é um domicílio legal temos de aplicar normas, logo é jurídico

3. Os elementos de conexão podem dividir-se entre móveis ou imóveis


Os móveis são elementos que podem ser alterados. A lei para que apontam pode ser modificada
pelos sujeitos.
v.g. residência habitual (aquela pessoa hoje pode residir no brasil e amanhã pode residir em
Portugal)
v.g. móvel (as pessoas podem mudar de nacionalidade)
Os imóveis não são suscetíveis de possibilidade de alteração
v.g. local de nascimento do sujeito

Nota importante: o local de situação da coisa DEPENDE da coisa.

Esta distinção tem duas relevâncias práticas.


Há um problema jurídico que existe nos moveis e que não existe nos imoveis
Problema do conflito móvel ou da sucessão de estatutos: problema que acontece aquando da
concretização do elemento da conexão devemos dar valor à lei antiga ou à lei nova.
v.g. art. 52º do C.C.: às relações entre os conjuges aplica-se a lei da nacionalidade comum, mas
qual? A que tinham quando se casaram ou a que têm agora?
Conta a lei antiga ou a lei nova?
v.g. dois brasileiros que casaram no Brasil e emigraram para Portugal, tendo obtido lei portuguesa
e tendo renunciado à lei brasileira

Instituto da fraude à lei


Apenas tem relevância nos móveis. A sua lei não permitia casar então muda. De nacionalidade
para alcançar determinado resultado (art. 21º do C.C.)
Não existe nos imóveis porque por exemplo o local de nascimento nunca pode ser alterado (as
partes não conseguem alterar)

v.g. art. 53º: o elemento de conexão é a nacionalidade, mas ao tempo da celebração do casamento
Pedro Silva e Lara Costa

O legislador tornou imóvel. As vezes ele utiliza elementos de conexão móveis, mas cristaliza-os,
torna-os imóveis. Por isso, é um elemento de conexão móvel, mas que se encontra cristalizado (é
quase como um terceiro tipo)

4. Regras de conflitos com uma regra de conexão (sistema de conexão única ou simples): a uma
regra de conflitos utilizamos uma regra de conexão; mas existem regras de conflitos que utilizam
sistemas de conexão múltipla ou complexa: são regras de conflitos que têm dois ou mais
elementos de conexão e há quatro tipos de conexão múltipla:
• Alternativas
• Cumulativas
• Distributivas
• Subsidiárias

Elas têm em comum o facto de terem vários elementos de conexão e apresentam como diferença a forma
como os elementos de conexão se relacionam entre si

Alternativas
O legislador indica vários elementos de conexão que apresentam uma relação de paridade e vai aplicar-
se um deles; qual? O julgador vai escolher aquele que cumprir a finalidade pretendida pelo legislador.

v.g. art. 65º do C.C.


conceito quadro: forma das disposições por morte
elemento de conexão: lugar da celebração do casamento ou a lei pessoal do autor da celebração ou a lei a
que remete a regra de conflitos do local da celebração

Temos uma conexão múltipla alternativa; ou uma ou outra e o juiz vai escolher qual

Caso: inglês que reside em Portugal e que celebrou testamento escrito e assinado pelo próprio na
presença de uma testemunha e guardado secretamente. Era testamento para Amélia, que tinha em
comum os filhos dele
O direito inglês admite testamento a órfão, o ordenamento português não admite. O testamento é
formalmente válido?
O art. 65º admite vários elementos de conexão; todas as hipóteses em alternativa levam a resultados
diferentes. Qual é a que o legislador vai aplicar? O legislador dá três leis para conseguir alcançar um
determinado resultado. Esse resultado é a existência de um testamento válido. Quando ele diz que o
testamento é valido se for esta ou esta ou esta ele está a colocar como objetivo a justiça material: o
legislador utiliza as conexões alternativas para alcançar um resultado material que no caso do art. 65º é
a validade testamentária.

APARTE
Princípio do favor negotti
Tende a favorecer a validade do negócio. O senhor tinha a legitima expetativa de ser tratado de acordo
com a lei inglesa. Será que poderia ter expetativas de celebrar de acordo com a lei portuguesa? Sim,
poderia ter confiado que a lei certa era a do local de celebração. Por isso, este tipo de regra de conflitos
favorece as legítimas expetativas. Havia expetativas de validade que o legislador quis alcançar e utilizou
o mecanismo da conexão múltipla alternativa
Assegurar a validade do negócio jurídico porque as partes tinham legitimas expetativas nessa validade.

art. 11º do Regulamento nº1


É valido quando respeite a lei que regular o contrato ou aquela em que se celebra o contrato
Qual a lei que se aplica?
Pedro Silva e Lara Costa

A que o julgador entender melhor com a finalidade de o negócio ser válido (porque o legislador assim o
quer). Dá-se uma série de alternativas e o legislador diz o que quer com elas e neste caso é a validade do
negócio

A utilização de uma conexão múltipla alternativa visa facilitar a constituição das relações jurídicas! Basta
preencher uma das hipóteses!

Cumulativas
É uma conexão múltipla que chama duas ou mais leis, na qual se vão aplicar também duas ou mais leis.
Faz depender um certo efeito jurídico da concordância de duas leis. Só se as várias leis concordarem é
que se vai produzir esse efeito jurídico
Exemplos:
• art. 60º C.C.
conceito quadro: constituição da adoção
se estivermos a falar de adoção singular falamos do art. 60º/1 em que a lei chamada é a
nacionalidade do adotante (critério de justiça formal: a lei mais próxima)
art. 60º/4: adiciona uma segunda lei
se a lei não permitir a adoção não vai ser decretada a adoção. Quantas leis é que têm de dizer que
pode haver adoção para que o tribunal português decrete a adoção? Duas, a lei pessoal do
adotante e a lei das relações biológicas.
A conexão múltipla cumulativa facilita ou dificulta? Ela dificulta a constituição das relações
jurídicas. Têm todas de dizer que sim para se constituírem as relações jurídicas internacionais.
Isto é assim porque decretada uma adoção deste género ela poderia depois não ser reconhecida
noutros países. E n´s não queremos isto! São as situações claudicantes (situações reconhecidas
por certas leis, mas não por outras que tenham relação com o caso).

Num sistema de conexão múltipla coletiva promete mais do que dá!


Comente a frase
Ele promete que vai chamar duas ou mais leis e que vai aplicar duas ou mais leis. É efetivamente isto que
ele faz?
Prometemos que íamos aplicar duas leis, mas verdadeiramente no caso dado apenas aplicamos uma (a
lei mais restritiva). Basta que uma diga que não que nos seguimos o juízo negativo.
Por isso, é que se diz que ela promete mais do que dá

• art. 33º/3
conceito quadro: transferência da sede de uma pessoa coletiva
v.g. sociedade comercial com sede no brasil que quer transferir a sede para Portugal
O que é que diz o legislador?
Não extingue a personalidade jurídica se a lei dos dois países o permitir
Para que o efeito jurídico se produza é preciso que as duas leis chamadas o permitam. O legislador
chamou a lei da sede antiga e a lei da sede nova e vai apenas permitir a produção do efeito jurídico
se ambas as leis o aceitarem
Isto é assim para não criar uma situação claudicante (uma situação em que a sociedade fosse
reconhecida no Brasil e não fosse reconhecida em Portugal)

Distributivas
É uma conexão múltipla, já que chama duas ou mais leis, mas vai dividir a relação jurídica em dois e vai
aplicar uma lei diferente a cada parte da relação jurídica
O senhor A, português quer casar com uma brasileira e vai ao conservador
Convocar o art. 49º. O que é que se faz para regular a capacidade nupcial?
Chama-se a lei pessoal (é mais do que uma lei porque chama a lei da nacionalidade de ambos os nubentes)
Nota: nunca podem ser 3 ou 4 porque se houver um caso de dupla nacionalidade temos de resolver o
problema da nacionalidade e determinar apenas uma!
Pedro Silva e Lara Costa

Porque é que o legislador utiliza aqui uma conexão múltipla distributiva?


Se não houvesse uma conexão múltipla distributiva apenas se aplicava uma lei, que teria de ser ou a
portuguesa ou a brasileira. Aplicaríamos por exemplo a lei portuguesa aos dois (isto seria a lei mais
próxima para uma das partes, mas não para a outra parte) este tipo de leis permite uma justiça formal
mais aperfeiçoada! estamos a aplicar a cada uma das partes a lei que tem uma conexão mais próxima!

Facilitam o reconhecimento das situações jurídicas!! Porquê?


O senhor A e a senhora B são afinal portugueses e argentinos, têm 16 anos. Vamos supor que a lei
argentina nem com o consentimento dos pais admite o casamento.
A senhora argentina (B) com 18 anos já é experiente, senhor A com 16 anos. A lei portuguesa permite a
aplicação. ...
(não entendeste)

Ao dividir a relação jurídica em dois nós restringimos também o impedimento de ambas as leis. Os
impedimentos da senhora argentina vão vigorar apenas para ela. Os impedimentos da lei portuguesa vão
aplicar-se ao senhor português e, com isto, facilitamos a constituição das relações jurídicas
internacionais.

Subsidiárias
Chamamos duas ou mais leis e só se vai aplicar uma. O legislador chama elementos de conexão, mas numa
relação hierárquica; só passamos para o 2º elemento de conexão se falharmos o primeiro.
art. 53º
Conceito quadro:
Lei da nacionalidade dos nubentes ao tempo do casamento (nacionalidade comum)
Pode acontecerem não terem nacionalidade comum. Mas o art. 53º não fica por aqui, pois não tendo eles
a mesma nacionalidade, será a residência habitual comum na data do casamento (não residiam, eram de
Erasmus v.g.)
Mas o legislador continua e dá-nos uma terceira que é a primeira residência conjugal.

Porque é que ele utiliza isto?


Poderia acontecer não terem nacionalidade comum e o juiz não poderia não deixar de decidir. O que é
que aconteceria se faltasse a conexão eleita, o elemento de conexão eleito (art. 348º/3 do C.C.)
Aplicar-se-ia a lei portuguesa, o direito português, a lei do foro. E nos não queremos aplicar a lei do foro?
Corríamos o risco de desarmonia jurídica internacional. Se falta a conexão principal ele apresenta a
conexão subsidiária (em vez de aplicarmos a lei portuguesa imediatamente).

E se não tiverem residência conjugal? Se faltarem todas as conexões subsidiárias aí sim, aplica-se a lei do
foro. Mas o legislador quer evitar a aplicação imediata da lei do foro, daí esta solução.
Pedro Silva e Lara Costa

O método conflitual foi posto em causa nos Estados Unidos. As regras de conflitos não são boas porque
são rígidas, são injustas, são cegas (não têm em consideração o caso concreto) e não levam em
consideração as políticas legislativas dos Estados internacionais. Essas crtiticas não tiveram o mérito de
substituir o método conflitual, estes métodos não eram satisfatórios, não se apresentou nenhuma
alternativa. Contudo, teve o mérito de chamar a atenção para os problemas do método conflitual. Por
força disso, assistimos hoje a um método conflitual diferente do método conflitual do sec. XIX.

O método do séc. XIX era incrivelmente cego e injusto. Procurava-se a lei com uma ligação mais forte. Mas
a verdade é que as propostas americanas mudaram o método conflitual
Assistimos a três grandes alterações
1º flexibilização da regra de conflitos: a regra de conflitos ficou mais flexível. O que é que isto quer
dizer? A flexibilização da regra de conflitos significa que vai ser dado um maior poder ao juiz. Ou seja,
vamos deixar de ter as regras de conflitos muito rígidas e que de forma imediata determinam a norma
aplicável.

Caso prático nº3


A e B, amigos, ambos norte-americanos e residentes no Estado de Nova
Iorque foram dar um passeio no carro de A, tendo um acidente quando passavam no Canadá , de que
resultaram danos para B.
B intentou uma acçã o no tribunal de Nova Iorque pedindo a A uma indemnizaçã o pelos danos, nos
termos da lei nova-iorquina. A entende que nã o tem nada a pagar, pois a lei do Canadá nã o confere um
direito à indemnizaçã o aos passageiros transportados gratuitamente.
Como deve o juiz de Nova Iorque decidir sabendo que a Regra de Conflitos de Nova Iorque dispõ e que
a maté ria de danos causados ao passageiro transportado gratuitamente é regulada pela lei do local
onde se verificou o dano.

Este é o caso real Berbock VS Jackson. Foi este caso que despertou a revolução americana.
Isto é um caso objeto de DIP?
Temos de ter no caso conexões com múltiplos ordenamentos jurídicos. Temos conexões com os Estados
Unidos e o Canadá, por isso, é uma situação internacional.
O que é que diz a regra de conflitos de Nova Iorque? Diz-se que se aplica a lei do local onde se produziu o
dano. O conceito quadro é a matéria de danos causados ao passageiro transportado gratuitamente e o
elemento de conexão é o local onde se produziu o dano. O juiz vai aplicar a lei canadiana. Quem escolheu
a lei? O legislador é que escolheu a regra de conflitos. Como é que ela escolheu? Juízo informal de
proximidade, procura identificar a lei mais próxima que neste caso entendeu ser a de produção do dano.
Vamos então aplicar a lei do Canadá. A lei do Canadá não confere direito à indemnização, ou seja, absolve
A do pedido. Nos termos da lei canadiana o senhor B não tem direito à indemnização. Só que neste caso,
o juiz teve problemas de consciência. O legislador escolheu a lei do Canada como a lei aplicável, mas a lei
canadiana não é a mais próxima. O senhor A e B, americanos, residentes em Nova Iorque não têm ponto
de contacto com o Canadá, apenas foram passear lá. Ele conseguiu ver que a lei mais próxima, neste caso,
não era a canadiana, mas sim a norte americana. Aplicar a lei do Canadá era aplicar uma lei que eles não
conhecem. Esta regra de conflitos era uma regra rígida. Ao aplicar a lei do Canadá absolvia-se, porque a
lei do Canadá assim o diz. E, portanto, aplicava-se uma lei injusta (não vai dar indemnização) nem sequer
as razões que levaram o Canadá a aprovar a lei se verificam neste caso (não há interesse ambiental nesta
situação de passeio de dois norte americanos).

1) Flexibilização:
Encontramos três efeitos, por força das críticas norte americanas.
’ Open ended rules (as regras de fim aberto): o fim da regra de conflitos clássica ou
tradicional. O elemento de conexão está em aberto, são regras de conflitos que não têm
elemento de conexão. As open ended rules são regras que passam para o juiz a
responsabilidade da escolha da lei aplicável. Perante o caso em concreto ele é que vai
decidir qual a lei aplicável. Exemplos no Código Civil: art. 52º (cumulação de conexões,
Pedro Silva e Lara Costa

identifica-se uma lei, mas ela só é relevante se for comum, mas e se eles tiverem
nacionalidade diferente? Continuamos a ler, porque o art. 52º diz-nos que se faltar esta
há outra – a residência habitual comum, é uma conexão múltipla subsidiária. Mas pode
acontecer eles não residirem em países diferentes e o art. 52º continua, aplica-se a lei com
a qual a vida familiar se ache mais estreitamente conexa. O juiz vai olhar para o caso
concreto e escolher a lei mais próxima, esta última, é uma regra open ended, fenómeno de
flexibilização. A regra de conflitos ficou flexível. Isto não havia no século XIX, isto é um
efeito das críticas que foram feitas pela revolução americana. );

Art. 3º e 4º regulamento de Roma


Estes critérios às vezes falham e vamos para o art. 4º/4. Lei do pais que apresente uma
conexão mais estreita. Quem escolhe é o juiz, passa-se a responsabilidade para o juiz da
escolha da lei aplicável. Isto é o primeiro efeito da revolução americana. O juiz é que vai
ver perante o caso concreto qual é a lei mais próxima

’ Cláusulas de exceção: passou a haver no DIP o mecanismo das cláusulas de exceção que
significa que a cláusula será um inciso colocado numa regra de conflitos e esta é uma
cláusula de exceção que vai criar uma exceção à regra de conflitos. Vai permitir excecionar
o juízo conflitual. São exceções à regra de conflitos: temos a regra de conflitos e temos
uma exceção. Estas clausulas podem ser qualificadas de várias formas: podem ser abertas
ou fechadas
-Abertas: clausula que permite excecionar a regra de conflitos e que dá ao juiz o poder de
escolher a lei que aplica em alternativa
v.g. regulamento nº1, art. 4º/3; permite ao juiz dizer que não aplica a lei que estava a ser
indicada pela regra de conflitos e eu aplico aquela que tiver uma conexão mais estreita, e
isso é matéria que vai ser o juiz que vai ver
-Fechada – é o legislador que determina a escolha em alternativa
v.g. diferença para o art. 45º do C.C. – se lesante e lesado tiverem a mesma residência
aplica-se a lei da residência comum. O que é que isto fez? Excecionou o nº1 e aplica-se em
alternativa a residência. Foi escolhida pelo legislador.

As clausulas de exceção também podem ser formais ou materiais. Tem a ver com a razão
pela qual o legislador vai alterar a lei aplicável.
As clausulas de exceção formais permitem ao juiz mudar a lei aplicável por causa de
razões de natureza formal, uma lei que tenha uma ligação mais forte tendo em conta a
justiça formal. V.g. art. 4º/3 Reg. de Roma
A clausula de exceção material permite-lhe aplicar outra que seja mais justa, que atinja
outro resultado material que seja mais justo

Podem ser ainda gerais ou especiais


As especiais são aquelas que existem apenas para aquela regra de conflitos
Mas alguns sistemas como por exemplo o suíço tem clausulas de exceção gerais, que são
aquelas que valem para todas as regras de conflitos.
v.g. em qualquer regra de conflitos o juiz pode desaplicar uma lei que foi aplicada por
outra que ele entenda que seja melhor

A flexibilização traduz-se por um maior poder ao juiz, o juiz vai ter mais poderes. Isto
significará uma vantagem: sabemos que vamos aplicar a lei que é efetivamente mais
próxima. O juiz mobiliza estes expedientes não para os casos todos, mas perante o caso
concreto. O sistema fica menos previsível, não conseguimos prever tão bem as soluções
dos juízes
Pedro Silva e Lara Costa

’ Dépreçaje ou Especialização: pretende não ter uma regra de conflitos para cada relação
jurídica, mas muitas regras de conflitos para cada aspeto de determinada relação jurídica.
Vamos ver a lei mais próxima para cada um dos aspetos de uma relação jurídica.
art. 49º, art. 50º, art. 51º, art. 52º
Relações entre os cônjuges: capacidade, forma, convenções antenupciais, modificação de
regime de bens... Para cada aspeto desta relação jurídica, temos várias regras de conflitos
Qual o objetivo do legislador?
Conseguimos o apuramento da justiça formal; conseguimos escolher a lei mais próxima
para cada “aspetozinho” da relação. Isto é flexibilização não pelas razões que as outras
duas eram flexibilização (davam mais poderes ao juiz); esta pelo contrário consegue
evitar uma lei rígida.

Flexibilização no sentido de passarmos a ter um sistema mais adaptado e adequado ao


caso concreto. Isto é a flexibilização que ocorreu no método conflitual. Continuamos na
europa a ter o método conflitual, mas a revolução americana mudou-o amplamente

2) Materialização
O DIP hoje toma em consideração a justiça material. As regras de conflitos eram puramente
localizadoras, limitavam-se a identificar a lei aplicável mais próxima do caso. Ora bem, depois da
revolução americana temos regras de conflitos de conexão puramente localizadora, mas
passamos a ter regras de conflitos de conexão material. Estas regras de conflitos escolhem a lei
aplicável por atenção ao resultado a que as várias leis conduzem (não em função da ligação mais
próxima, mas sim em relação ao resultado). Exemplos: conexões múltiplas alternativas: são uma
amostra de materialização, escolhem a lei aplicável pelo resultado; clausulas de exceção material
(diz ao juiz para não aplicar uma lei, para alcançar outro resultado, aplica-se outra lei porque se
atinge outro resultado);

Será que todas as regras de conflitos de conexão material têm de ser conexões múltiplas? Podem
ser unilaterais?
O senhor A, português residente em Portugal e a senhora B, portuguesa residente em Portugal
foram casar a Las Vegas, foram na Sexta voltaram no Domingo. Será que isto é valido em Portugal?
Na lei portuguesa ou casa-se com o conservador do registo civil ou em casamento católico. Vamos
agora reparar no art. 50º do C.C. português.
Conceito quadro: forma de casamento
Elemento de conexão: local de celebração do casamento
Sistema de conexão: um elemento de conexão (apenas o lugar da celebração)

Mas nos dizemos que a lei mais próxima não era a lei de Las Vegas. O legislador enlouqueceu?
Está na cara que a lei mais próxima é a lei portuguesa. O legislador pensa que se eles casaram em
Las Vegas seguiram a lei de Las Vegas, ao dizer que a forma do casamento se rege pela lei de Las
Vegas ele está a mostrar que tem como objetivo a validade de casamento. Apenas temos um
elemento de conexão única e ele não é puramente localizador, o que o legislador está a fazer é
proteger a validade do casamento. Escolheu aquela lei com o objetivo de obter a validade do
casamento. Está-se a escolher a lei que se entende atingir um certo resultado

3) Politização
Para entendermos a politização podemos atentar no caso prático nº4
Pedro Silva e Lara Costa

Caso prático nº4


Em 2016, A comprou a B 2 toneladas de dentes de elefante no Qué nia, paı́s onde é proibida a respectiva
comercializaçã o. De acordo com a lei queniana, tal proibiçã o aplica-se a todas os contratos, mesmo
que a lei queniana nã o seja aplicá vel à situaçã o concreta. A e B escolheram como lei aplicá vel ao
contrato a lei australiana, que nada proı́be quanto a esta maté ria. Como B nã o entregou os dentes de
elefante, A intenta em Portugal uma acçã o de responsabilidade contratual. Quid iuris?

Estamos perante uma situação de interesse publico (lei queniana)


Esta situação jurídica entra em contacto com o ordenamento português 8residem cá), com o australiano
(porque é a lei que eles querem ver aplicável no caso) com o Quénia. Temos três ordenamentos jurídicos
conectados e quando isto acontece estamos perante um problema de direito internacional privado.

O tribunal português tem competência para o caso? Pressupomos que o tribunal português é competente
para o caso.
Sendo o tribunal português competente, não se aplica sempre lei portuguesa, não vigora o Princípio da
territorialidade. Então temos de escolher a lei que vamos aplicar e vamos escolher através da regra de
conflitos. A regra de conflitos competente é o art. 3º do Regulamento nº1.

O contrato rege-se pela escolha das partes. As partes escolheram a lei australiana. Pode perfeitamente
escolher uma lei que não tenha mais aplicação com o caso senão a sua vontade. A lei a aplicar-se vai ser,
por isso, a lei australiana. Vamos agora aplicar a lei australiana.

A lei australiana não proíbe, por isso, em princípio o contrato é válido. Então condena-se o devedor a
entregar os dentes. Satisfaz esta solução? Não, porque há aqui valores políticos envolvidos, o método
conflitual pode, por vezes, desconsiderar políticas legislativas por de trás. Escolhendo a lei australiana,
não tomou em consideração que havia um país com uma política importante sobre a matéria para o caso.

O DIP sofreu um fenómeno de politização: agora atendemos aos objetivos político legislativos das leis
envolvidas. Há aqui dois institutos que temos de falar:
’ Adaptação
’ Normas espacialmente auto-limitadas

Normas espacialmente auto-limitadas


Normas materiais, não são regras de conflitos. Normas materiais que são espacialmente auto-limitadas.
São normas materiais que determinam elas próprias o seu âmbito espacial de aplicação. Se não fossem
espacialmente auto-limitadas precisaríamos de uma regra de conflitos para saber quando a aplicar-mos.
Com estas normas dispensamos a regra de conflitos. Não precisamos da regra de conflitos para saber se
elas se aplicam ou se não se aplicam. Elas existem ao lado da regra de conflitos. Existe hoje um pluralismo
metodológico. Ao lado da regra de conflitos temos hoje outras coisas. Aqui temos normas materiais que
dizem quando é que se aplicam. Estas normas, dividem-se em duas categorias:
’ Normas de aplicação necessária e imediata
’ Normas espacialmente auto-limitadas em sentido estrito

Normas de aplicação necessária e imediata


São normas materiais que estabelecem resultados e comportamentos, normas substantivas. Só que são
espacialmente auto-limitadas porque elas é que dizem em que casos se aplicam, não precisando de regra
de conflitos. Elas vão aplicar-se a mais casos do que aqueles a que a regra de conflitos se aplicaria. Se uma
certa norma portuguesa se aplica o que é tem de acontecer? Para saber se a regra de conflitos tem de
estar a apontar para a lei portuguesa. Isto significa que nos podemos aplicar lei portuguesa mesmo que a
regra de conflitos não preveja a aplicação da lei portuguesa. São normas que determinam a sua aplicação
mesmo que a regra dos conflitos não esteja a determinar a sua aplicação
É uma norma que vai ter uma aplicação necessária, mesmo que a regra de conflitos esteja a mandar
aplicar lei espanhola. E é imediata: sabemos que vamos aplicar antes da regra de conflitos. Porque ela
Pedro Silva e Lara Costa

tem uma aplicação imediata. São normas que tutelam valores muito importantes. São normas que tutelam
interesses importantíssimos do Estado do foro. Eu quero aplicar esta lei meso que a regra de conflitos
não indique que a minha lei é competente.
v.g. art. 23º do diploma das cláusulas contratuais gerais (“independentemente”). O primeiro exemplo é
assim as cláusulas contratuais gerais.

Também são conhecidas como normas internacionalmente imperativas. Elas passam por cima da regra
de conflitos. Elas determinam a sua própria aplicação independentemente daquilo que diga a regra de
conflitos.

Também se designam lei de polícia, porque elas são tão importantes, que garantem a segurança do país
que as emitiu.

Porquê de aplicação necessária? Aplicam-se mesmo que a regra de conflitos esteja a mandar aplicar outra
lei.

Imediata? Sabemos que a vamos aplicar mesmo antes de vermos qual é a lei competente.

Vimos também um exemplo, que é constituído pelas clausulas contratuais gerais. O legislador determinou
a aplicação daquelas normas independentemente do que disser a regra de conflitos. Basta terem contcto
com o ordenamento português.

Estas normas podem ser explícitas. É uma norma que explicitamente se aplica a todos os casos que
determinar

A doutrina e a jurisprudência vão identificando normas que não cumpririam o seu objetivo s enão se
aplicassem de forma direta e imediata. Dois exemplos de escola: art. 53º da CRP (“é proibido o
despedimento sem justa causa”) – a ratio desta norma não se realiza se nos a aplicarmos apenas quando
a lei portuguesa é competente; ela não tem eficácia se se aplicar a mais casos do que quando a lei
portuguesa for competente. São três casos: sempre que o trabalho seja realizado em Portugal; sempre
que o trabalhador seja português; sempre que o trabalhador residir em Portugal.

Art. 1682º/A nº2


Norma que regula a casa de morada da família; é uma norma sobre direito de família. Se fosse uma norma
normal, nos só aplicaríamos aquela norma quando aquela família se estivesse a plicar a lei portuguesa.
Se os cônjuges fossem suecos residentes em Portugal íamos ao art. 52º do C.C. e víamos que aplicávamos
a lei nacional comum, e eles têm essa nacionalidade comum – aplica-se a lei sueca. Se não se aplica a lei
portuguesa não se aplica o art. 1682º/A-2.
Mas a doutrina concluiu que a ratio desta norma não se realizaria se não se aplicasse neste caso. A
doutrina veio dizer que não é apenas para os casos que a lei portuguesa é competente; então esta deve
ser tida como uma norma de aplicação necessária e imediata. Aplica-se mesmo que a regra de conflitos
esteja a mandar aplicar uma outra lei. Aplica-se quando? Não ao senhor A e senhora B que são de Nova
Iorque. Temos de deduzir quando ela se quer aplicar e aplica-se quando a casa de morada de família for
em Portugal, mesmo que eles estejam regidos por outra lei. Isto são as normas de aplicação necessária e
imediata implícitas

Normas espacialmente auto limitadas em sentido estrito


Têm em comum o facto de serem normas materiais e o facto de determinaram a sua própria aplicação.
As normas de aplicação necessária e imediata aplicavam-se a mais casos; aplicavam-se a mais casos do
que aqueles que a regra de conflitos mandava. Estas são o contrário. São normas que determinam a sua
própria aplicação a menos casos do que aqueles que a regra de conflitos determinou.

A regra de conflitos manda aplicar lei portuguesa, estamos a discutir os deveres de um órgão de um
estabelecimento individual de responsabilidade limitada. Que deveres tem o gerente desta sociedade?
Pedro Silva e Lara Costa

Qual a lei aplicável?


Vamos a uma regra de conflitos, à do art. 33º do C.C.
Vamos aplicar a lei da sede. Pode acontecer que certas normas digam que eu quero aplicar a menos casos
do que a lei manda, atendendo ao interesse político legislativo, eu vou exigir um requisito extra para me
poder aplicar. Eu vou aplicar-me a poucos casos.
É precisamente o caso do EIRL. Exige-se que... e que o estabelecimento seja em Portugal.
Estabelecem o seu próprio âmbito de aplicação a poucos casos.

Há mais normas de aplicação necessária e imediata do que normas espacialmente auto-limitadas em


sentido estrito. Há muito poucas situações desta lei.

Como é que as normas espacialmente auto-limitadas em sentido amplo se articulam com o método
conflitual?
As normas de aplicação necessária e imediata são um desvio ao método conflitual. Criam desvios,
exceções ao método conflitual. São domínios onde não vigora o metido conflitual.

Temos vários métodos no nosso DIP – pluralismo metodológico, um desses desvios são as normas de
aplicação necessária e imediata.

Este método é um método de CURRY

O fenómeno de politização tem também a adaptação e a qualificação; no nosso caso interessavam as


normas espacialmente auto-limitadas.

Retomando ao caso, eles escolheram a lei australiana, não sabemos onde residiam nem as suas
nacionalidades.
Utilizamos a regra de conflitos e determinamos a lei aplicável – Reg. Roma I, art. 3º - a lei australiana é a
lei que as partes escolheram, logo será a lei australiana. Não tem nenhuma causa de nulidade, o contrato
é válido.
Se formos aplicar a lei australiana a solução é condene o B a entregar os dentes de elefante.
E a política legislativa?? Agora sabemos que existem leis de aplicação necessária e imediata. O
ordenamento jurídico do foro tem uma norma a regular esta matéria que passe por cima da regra de
conflitos. FORO: Portugal (local onde está a ser julgado), a lei portuguesa não tem nada sobre elefantes,
não há elefantes. A única maneira seria encontrar uma norma de aplicação necessária e imediata em
Portugal: não há

Mas o Quénia tem essa norma de aplicação necessária e imediata. Será que se deve dar relevância a
normas de aplicação necessária e imediata estrangeiras? Este mecanismo foi criado para proteger os
casos do foro, mas neste caso é estrangeiro, será que se deve aplicar ou não?
As visões tradicionais diziam que não. Mas esta tese esta ultrapassada. Será que devemos aplicar as
normas de aplicação direta e imediata estrangeiras?

Duas teses:
Tese do estatuto de obrigações: devemos de aplicá-las, mas só as da lei competente. As da lei competente
são as únicas que nos aplicamos. Nos sabemos a lei competente através da regra de conflitos. A lei
competente que o nosso ordenamento identificou é a australiana, por isso, não iramos aplicar as normas
de aplicação direta e necessária do Quénia.
Diz-se que esta tese esvazia a natureza internacionalmente operativa daquelas normas (de aplicação
necessária e imediata). O Dr. Ferrer defende isto nas lições.
Não se aplica a norma queniana, condene-se o B a entregar os dentes

Temos outra tese, a tese de WENGLER, que é a teoria da conexão especial. Ele diz que devemos aplicar
as normas de aplicação necessária e imediata do foro e também as da lei estrangeira que tenham uma
conexão especialmente relevante com o caso. Esta tese sofreu várias variações; há várias interpretações
Pedro Silva e Lara Costa

quanto à questão de saber quando é que há a tal conexão especialmente relevante ou o que fazer quando
surgir essa conexão
• 1º tese, seguida por moura ramos: há conexão relevante quando há um contacto com o caso que
podia ser do elemento de conexão.

Podemos aplicar as que tenham uma ligação especial com o caso, aqui há uma norma de aplicação
necessária e imediata estrangeira do Quénia. Entre o Quénia e o caso há algo relevante, é o local de
celebração. Há elementos de conexão que têm a ver com o local de celebração do contrato, logo o contrato
será nulo e absolve-se o réu do pedido.
O Dr. Moura Ramos acabou de desviar a regra de conflitos?
Para conseguir-mos Harmonia jurídica internacional temos de aplicar a norma. O fundamento é a
harmonia jurídica internacional; é a única forma que temos de chegar à mesma solução que o tribunal do
Quénia. Sempre que hja uma ligação forte aplica-se a norma necessária e imediara.

• Variante intermédia: tese da senhora Isabel Magalhães Collaço


Podemos aplicar a lei de acoro com a tese do estatuto obrigacional. Ferrer correia dizia que
aplicar só as da lei competente (muito parecido à proposta do Ferrer Correia); quanto há dos
países que tenham conexão especial não a podemos aplicar, mas temos de levar em consideração
que elas existem sem as aplicar. O que é que isto quer dizer? Podemos aplicar a norma do Quénia
que diz que o contrato é nulo? NÃO. O contrato é valido, vamos responsabilizar o B em
responsabilidade extracontratual. Pressupostos:
Culpa; Danos – ao tratar da responsabilidade extracontratual não se pode esquecer, o juiz, que
existe a norma do Quénia. O facto de se lembrar da norma do Quénia pode ajudar o caso? No juízo
de censura pode dizer que não há culpa porque havia que a norma do Quénia que dizia que o
contrato era nulo. Ele esta a levar em consideração sem aplicação em norma. Assim o contrato vai
ser válido, mas não responsabilizamos em responsabilidade extracontratual (não houve culpa no
incumprimento)

• Temos também a tese do Dr. Marques dos Santos e Lima Pinheiro: podemos aplicar as normas
estrangeiras desde que tenhamos um título no nosso sistema que o determine
Só se a regra de conflitos estiver a dizer que se pode aplicar uma norma necessária e imediata
estrangeira. Existem poucas, mas existem: proteção de património cultural

Podemos escolher qualquer destas teses, com exceção se estivermos a utilizar o regulamento do
ROMA I ou II
No nosso caso, foi do Regulamento Roma I, não vamos poder escolher qualquer uma das teses,
temos uma solução imposta e devemos estar a olhar para o art. 9º desse regulamento.
Art. 9º/1: definição não exaustiva: Há algumas que não são exatamente isto e que não deixam de
ser normas de aplicação necessária e imediata.
Art. 9º/2: normas de aplicação necessária e imediata do país do foro. Não é o problema do nosso
caso.
Art. 9º/3: é importante para o nosso caso – só se aplicam normas de aplicação necessária e
imediata do local da execução das obrigações; e só se essas normas tornarem o contrato ilegal.
Qual a tese que aqui está presente?
É a do Dr. Marques Santos e Lima Pinheiro. Trata-se de um título que manda aplicar normas de
aplicação necessária e imediata de um país estrangeiro, só aquelas que sejam o local de celebração
do contrato e aquelas que tornem o contrato ilegal.

Solução para o caso: devemos de aplicar as normas do Quénia porque era lá o local de execução
do contrato e porque a norma torna o contrato ilegal. A lei competente é a australiana, mas temos
de ter em consideração esta norma de aplicação necessária e imediata do Quénia.
Pedro Silva e Lara Costa

A politização tem também como efeitos a Qualificação e a Adaptação. O método de qualificação vai ter em
conta a função de conteúdo dos interesses político legislativos de cada Estado

Adaptação
instituto que vai permitir a juiz modificar o sistema do direito int. privado quando o sistema tiver
conduzido a um resultado que não era querido por nenhuma das legislações envolvidas. Vai ter em conta
interesses político-legislativos e vai dar mais poderes ao juiz.
WENGLER falava no incidente técnico: aplicar leis diferentes a aspetos diferentes de um caso. Aplicamos
parcialmente as leis a cada aspeto da relação jurídica.
Por vezes geram-se incompatibilidades entre essas leis diferentes, é o incidente técnico.

O senhor F é português e reside em Portugal. Ele é filho biológico do senhor A que é português residente
em Portugal. Foi adotado pelo senhor B que é iraniano e reside no Irão. O senhor A morreu e o senhor B
também. Discute-se os direitos sucessórios do senhor F. aberta a sucessão do senhor A, a regra de
conflitos manda aplicar para as sucessões a última lei da residência do de cujus – vamos aplicar ao senhor
A lei portuguesa. Nos termos da lei portuguesa F, é herdeiro do senhor A? a adoção extingue os laços com
a família biológica, ele deixa de ser filho da família biológica, logo, deixa de ser herdeira do pai biológico.
Porque é que a lei portuguesa faz isto? Porque a lei portuguesa quer que a pessoa venha a ser herdeira
do pai adotivo. Discutindo-se a sucessão do senhor A nenhum dos bens cabem a F, os filhos biológicos
que passem a ser adotados não são filhos.

Sucessão do senhor B, aplica-se a lei de residência do senhor B – a adoção não cria efeitos sucessórios,
não há efeitos sucessórios. A adoção não estabelece efeitos sucessórios porque se mantém herdeiro da
sua família biológica.
Que bens é que cabem a F? Nenhuns

O senhor F fica sem bens, mas não era isto que queria nem a lei portuguesa nem a lei iraniana. Isto é o
chamado acidente técnico. Chegamos a uma contradição, a um resultado que não era querido por
nenhuma das legislações. Mas, atendendo, à política legislativa dos estados desenvolveu-se o mecanismo
da adaptação. Eu não posso atribuir este resultado porque os interesses político legislativos dos Estados
não querem receber estes efeitos. Então o julgador vai receber para manipular o sistema do DIP de modo
a que o resultado a que se chegue seja compatível com as políticas legislativas envolvidas.

O juiz so pode mudar normas de DIP, o juiz tem autorização para mudar as regras de conflitos de modo a
chegar a um resultado querido pelas leis envolvidas.

Podemos, por exemplo, fingir que a regra de conflitos está a mandar aplicar a lei portuguesa ao pai
adotivo de F, logo ele vai receber dinheiro. Vamos chegar a um resultado que tanto a lei portuguesa como
a lei iraniana queriam. Qual o problema disto? É um instituto difícil e perigoso para o juiz. O juiz tem
quase que poderes para se transformar num legislador do direito internacional privado. Se é perigoso,
porque é que nós o queremos? É melhor deixá-lo funcionar do que permitir os resultados maus a que
chegaríamos inicialmente pelo seu normal funcionamento

Ferrer Correia diz que se calhar adaptar regras de conflitos é ir longe de mais. O que se deve adaptar são
as regras materiais. Deixamos a regra de conflitos estar como estão, damos é autorização ao juiz para
criar normas materiais, dentro da lei iraniana ou da portuguesa deve criar-se normas materiais para a
situação. Como é que isto funciona?
O juiz pode criar uma norma material ou na lei portuguesa ou na lei iraniana. Vamos criar na portuguesa:
as pessoas são herdeiras do pai biológico. Dá-se autorização ao juiz a permissão para criar uma norma
que respeite os interesses políticos do Estado envolvido (o Estado não queria que a pessoa ficasse sem
nada). Isto é um pouco violação da separação dos poderes, mas é uma solução menos má. Esta aplicação
parcial não pode ser cega, temos de permitir que ele a corrija para chegar ao objetivo que o legislador
pretendeu.
Pedro Silva e Lara Costa

O acidente técnico, felizmente, acontece muitas poucas vezes. Os casos em Portugal que o legislador
precisou de fazer uma adaptação foram ZERO.

A adaptação vai ser precisa para resolver o problema de conflito negativo de qualificações.

Problema da qualificação
Problema que se põe no método conflitual, que é o problema de saber qual a regra de conflitos que no vai
auxiliar no caso. Importa saber como é que ele faz a identificação da regra de conflitos. As regras de
conflitos não têm identificação de factos, têm conceitos jurídicos. Quando se recebe um caso da vida com
efeitos práticos importa saber que regra de conflitos usar. Qual a regra de conflitos usar?

Nas normas materiais, a interpretação é mais ou menos evidente;

CasoPrático6:
Em Dezembro de 1998, Anna (dinamarquesa e residente em Portugal), fez, em Portugal, uma
promessa pú blica de oferta de 100.000$00 a quem encontrasse o seu cã o. Dois dias depois, Bernard,
també m dinamarquê s residente em Portugal, encontrou o cã o e entregou-o a Anna. Alguns meses
depois Anna e Bernard casaram. Em 2017 divorciaram-se e Bernard intenta agora em Portugal uma
acçã o de condenaçã o para pagamento da dı́vida (de 500 Euros).
Anna alega a prescriçã o da dı́vida invocando que, segundo o direito dinamarquê s o prazo de
prescriçã o geral é de 5 anos e nã o existe na Dinamarca qualquer causa de suspensã o semelhante à do
artigo 318.o/a) do Có digo Civil portuguê s. Por outro lado, invoca que o negó cio de promessa pú blica
nã o a vincula, pois nã o existe no direito canadiano (que considera aplicá vel) norma similar à do art.
459.o do Có digo Civil Portuguê s.
Bernard, pelo contrá rio, alega que a dı́vida nã o prescreveu, porquanto o respectivo prazo esteve
suspenso nos termos do art. 318.o/a) do Có digo Civil Portuguê s (que entende ser aplicá vel) e que, nos
termos do artigo 309.o do Có digo Civil Portuguê s (que entende dever aplicar-se), o prazo de
prescriçã o é de 20 anos.
a) Quid iuris, tendo em conta o disposto nos arts. 40.o, 41.o, 42.o e 52.o do CC, sabendo que o DIP
dinamarquê s manda aplicar aos negó cios jurı́dicos a lei do local da celebraçã o e à s relaçõ es familiares
a lei da nacionalidade comum dos cô njuges?
b) E se adoptasse a posiçã o relativa à qualificaçã o, quer de Ago quer de Robertson, como resolveria
esta hipó tese?

Fazer lista para as normas potencialmente aplicáveis ao caso:


DIN: 5 anos de prescrição e correu durante o casamento
PT: não há prescrição entre os cônjuges
PT: 459º C.C.: o negócio de promessa publica vincula; na DIN não
PT: (309): o prazo de prescrição é de 20 anos

Lista de regras de conflitos estrangeira:


Regra de conflitos dinamarquesa sobre negócios que manda aplicar a lei do local de celebração
Regra de conflitos sobre: manda aplicar a lei de nacionalidade comum

O caso prático nº 6 coloca-nos o problema de Qualificação. É, no fundo, a questão de saber em que regra
ou regras de conflitos é que subsume o nosso caso apresentado.
A nossa qualificação não é uma qualificação de factos, mas sim uma qualificação de normas – que normas
materiais é que vamos aplicar no caso, que normas materiais estão a ser chamadas.
Pedro Silva e Lara Costa

Ana tinha nacionalidade dinamarquesa e residia em Portugal. Bernard tinha nacionalidade dinamarquesa
e residia em Portugal. Fez-se uma promessa publica e o local de celebração do negócio foi em Portugal.
Ambos casaram e “viveram felizes” até 2017. O que acontece agora é que Bernardo intenta uma ação para
reclamar o dinheiro por ter encontrado o cão.

No nosso método de qualificação nos qualificamos normas; normas essas de várias leis; nós não
escolhemos uma lei competente; estamos dispostos a aplicar normas de leis diferentes. Temos de saber
quais são as normas que resolvem o problema das várias leis envolvidas.

Normas potencialmente aplicáveis das várias leis envolvidas:


• art.318º-A do C.C. (lei portuguesa) - suspensão da prescrição durante o casamento
• norma dinamarquesa que nos diz que a prescrição não suspende
• art. 459º - promessa publica (aquele que promete fica vinculado à promessa) - não há na
Dinamarca nenhuma norma como o art. 459º
• art. 319º - o prazo de prescrição é de 20 anos
• norma dinamarquesa que diz que o prazo geral de prescrição é de 5 anos

problema da qualificação: quais as normas materiais que vamos chamar. Só com essas normas o juiz vai
poder regular a situação.
Devemos escolher uma única lei competente? Nos não escolhemos a lei competente, não fazemos a
qualificação primaria. Nos estamos dispostos a aplicar várias leis, mas para matérias distintas. Vamos
fazer a qualificação das normas; das várias leis apenas chegamos algumas normas

Como sabemos quais as leis relevantes? Precisamos de olhar para as regras de conflitos
Elenco das regras de conflitos que nos são dadas:
• art. 40º, 41º, 42º e 52º do C.C.
para cada regra de conflitos vamos identificar a sua hipótese, isto é, o seu conceito quadro.

Conceito quadro do art. 40º: prescrição e caducidade


Como é que interpretamos estes conceitos?
Fazemos uma interpretação do conceito quadro que é autónoma e teleológica
O conceito de prescrição do art. 40º é autónomo; não é igual ao conceito de prescrição do direito
português. Vamos também fazer uma prescrição teleológica: vamos abranger todas as figuras
similares à prescrição do direito português.
Interpretação ampla de conceito quadro, é algo mais do que a prescrição para a lei portuguesa.

Prescrição e caducidade
Conexão dependente - diz-se nesta regra de conflitos que não vou escolher a lei aplicável à
prescrição; vou aplicar á prescrição a lei que estiver a ser indicada por outra regra de conflitos.
Que lei é essa? Que lei é que disciplina a obrigação de eventualmente prescrever?
Vai regular a prescrição a lei que eventualmente regulou a obrigação que eventualmente
prescreveu

Qual é a obrigação que eventualmente prescreveu?


É a obrigação de promessa publica. A prescrição do direito de pagar 500 euros vai ser regulada
pela lei que regular o direito que regule a obrigação de pagar os 500€
São duas regras de conflitos para o mesmo conceito quadro.
Conceito quadro: Obrigações que provêm do negócio jurídico (conexão dominante)
41º e 42º conceito quadro: obrigações de negócios jurídicos
Fazemos uma interpretação de negócio jurídico autónoma e teleológica
Elemento de conexão: escolha das partes

42º na falta de escolha de lei, nos negócios jurídicos unilaterais, atende-se a lei de residência
Pedro Silva e Lara Costa

Sistema de conexão múltipla subsidiária. O legislador identificou primeiro aquela que queria e na
falta de escolha das partes passou para a residência.

O art. 41º e 42º está a mandar aplicar a lei portuguesa. Residem em Portugal.

Art. 52º
Conceito quadro: relações entre os cônjuges
Interpretação autónoma e teleológica
Elemento de conexão: nacionalidade comum dos cônjuges – dinamarquesa

Quando a nossa regra de conflitos manda aplicar uma lei estrangeira temos de colocar a hipótese
de o tipo dinamarquês reenvia a questão para outro sistema – problema que vai ser estudado
O DIP dinamarquês se remeter vai colocar o problema do Reenvio

Regra de conflitos da lei dinamarquesa: lei da nacionalidade comum dos cônjuges


Então nos mandamos aplicar a lei dinamarquesa; a lei dinamarquesa manda aplicar também a lei
dinamarquesa. Ou seja, considera-se aqui a lei dinamarquesa competente. Aqui não há problemas
de reenvio.

Regras de conflitos à luz do que diz o art. 15º do C.C.


Quer dizer que quando o art. 40 remete para a lei portuguesa não é para a lei portuguesa toda, é apenas
para as normas portuguesas que pelo conteúdo e função que tenham apliquem-se a matéria de prescrição

...

Em matéria de relações entre os cônjuges só aplico normas dinamarquesas

Vamos aplicar várias leis diferentes, mas para problemas diferentes.


O que nos qualificamos são normas, vamos qualificar e caracterizar normas. Vamos olhar a normas
materiais potencialmente aplicáveis e vamos qualificá-las, olhando também para qual é a sua natureza.

Vamos ver as normas materiais que potencialmente resolvem o problema.


Art. 318º-A do C.C.: normas que pelo seu conteúdo e função sejam relativas ao conceito quadro.
Qual é o conteúdo e função do art. 318º-A?
Conteúdo: Ele suspende a prescrição entre os cônjuges;
Função: para evitar que os cônjuges tivessem de propor ações um contra o outro durante o tempo de
casamento; a ratio é proteger o casamento

Atendendo ao seu conteúdo e respetiva função isto é uma norma relativa a relações entre os cônjuges. O
que o legislador quis no art. 318º-A foi proteger o casamento. É uma norma sobre relações entre os
cônjuges

Sendo uma norma sobre relações entre os conjuges, vamos subsumi-la no conceito quadro do art. 52º; é
uma norma sobre relações entre os cônjuges; norma portuguesa sobre relações entre os cônjuges.

Em matéria de relações entre os cônjuges as normas que nos aplicamos são dinamarquesas; por isso, esta
não é para aplicar. As normas que nos aplicamos entre relações entre os cônjuges é dinamarquesa; como
esta é portuguesa não a vamos aplicar
Art. 309º do C.C. português: conteúdo e função
Conteúdo (o que ele faz): estabelece o prazo geral de prescrição;
Função: Estabilidade da ordem jurídica, segurança da ordem jurídica
Pedro Silva e Lara Costa

Atendendo a este conteúdo e função, isto será uma norma sobre prescrição. Se é uma norma sobre
prescrição subsumimo-la no conceito quadro do art. 40º do C.C. em matéria de prescrição as normas que
nós aplicamos são as da lei portuguesa. Esta norma é portuguesa e é sobre prescrição, logo, aplica-se.

A norma dinamarquesa que estabelece o prazo geral de prescrição é de 5 anos:


Conteúdo: estabelecer o prazo geral de prescrição
Função: razões de segurança jurídica
Subsumimo-la no art. 40º. Esta norma não é portuguesa, então não a vamos aplicar.

Art. 459º do C.C português:


Conteúdo (o que é que ele faz): prevê um negócio jurídico unilateral que cria uma obrigação (promessa
publica)
Função (porque é que ele o faz): o legislador quis criar uma fonte de obrigações; quis criar um negócio
jurídico que é fonte de obrigações.
Atendendo ao conteúdo e função, subsume-se no conceito quadro dos negócios jurídicos. Logo subsumi-
mos no art. 41º e 42º. Em matéria de negócios jurídicos só aplicamos normas da lei portuguesa. Esta
norma é portuguesa, por isso, aplico.

Resolvemos o problema da qualificação, que e o de saber que normas o nosso ordenamento está a chamar.

O prazo de prescrição é de 20 anos e nuca esteve suspenso. Então já passou ou não o prazo de prescrição?
Temos de saber quando é que ela prometeu? Ela prometeu em dezembro de 1998, por isso, prescreve em
Dezembro de 2018. Ainda anão prescreveu. O negócio vincula, porque concluímos que se aplicava a
norma portuguesa que a vinculava. Condenação da Ana a pagar os 500€

b) Resolver o caso utilizando o método tradicional de qualificação.


Há aqui uma diferença fundamental entre o nosso método e a dupla qualificação.
A dupla qualificação faz duas; primeiro faz uma qualificação primaria ou de competência em que vai
qualificar factos. É uma qualificação de factos para determinar a única regra de conflitos que se vai usar
e assim determinar a lei competente. Depois, faz-se uma segunda qualificação, que é um chamamento de
normas, aqui vamos encontrar duas posições diferentes.

Qualificar factos é o nosso primeiro passo. Como é que qualificamos os factos? Qualificamos factos à luz
da lei do foro; apresentem-se os factos à lei do foro; se o caso fosse puramente interno, como é que tu, lei
do foro, o resolvias?
Que norma é que a juíza portuguesa aplicaria para resolver o caso? Temos de identificar a norma chave
da lei do foro. É o art. 318º-A do C.C.. o prazo esteve suspenso e, por isso, não há prescrição nenhuma. Ia
aplicar uma norma sobre o regime de relações entre os cônjuges, então para o foro isto é um problema
de relações entre os cônjuges. Então a regra de conflitos é a regra de conflitos de relações entre os
cônjuges. Esta regra está presente no art. 52º do CC. O art. 52º considera competente a lei dinamarquesa
(lei de nacionalidade comum). A teoria tradicional considera a lei dinamarquesa. A regra de conflitos que
se utiliza é o art. 52º e a lei competente é a dinamarquesa.

Qualificação secundária? Que normas da lei dinamarquesa é que se vão aplicar?


E quanto a isto temos duas formas de resolver o problema. Dentro da teoria tradicional temos duas
formas de resolver o problema. Segundo Ago deve fazer-se um chamamento indiscriminado das normas
do ordenamento jurídico dinamarquês. Aplique-se todo o ordenamento jurídico dinamarquês.

Desde logo, o negócio não é vinculativo, porque não há norma. E mesmo que fosse o prazo de prescrição
era apenas de 5 nos e não suspenderia. O negócio não é vinculativo e mesmo que fosse já tinha prescrito.
Aqui absolvia-se.

O método de qualificação é importantíssimo; vejamos que na alínea a) condenamos e aqui absolvemos.


Pedro Silva e Lara Costa

E quanto a Robertson?
Aplicamos o art. 52º e a lei competente é dinamarquesa; só que não fazemos um chamamento integral;
fazemos um chamamento circunscrito – só as normas que pelo conteúdo e função sejam relativas a
relações entre os cônjuges. Só vamos buscar da lei dinamarquesa normas que pelo seu conteúdo e função
sejam relativas às relações entre os cônjuges.

Quais são as normas dinamarquesas que aqui são relativas a cônjuges?


Não há.
Segundo Robertson a lei competente era a dinamarquesa, mas a lei competente não vê este caso como
um problema de relação entre os cônjuges, logo não tem normas aplicáveis para este caso.
Diz então Robertson, que se não for possível fazer um chamamento circunscrito; então subsidiariamente
faça-se um chamamento indiscriminado, faça-se como Ago propunha.
Assim, trata-se de um negócio não vinculativo; um prazo de prescrição de 5 nos que não foi suspenso.
Assim, absolvemos Ana do pedido. Não é um negócio vinculativo e mesmo que fosse já tinha prescrito.

Qual é a grande vantagem da qualificação tradicional?

Só chama uma lei; é esta a grande vantagem. A virtude é que só chama uma lei; porque faz uma
qualificação primária que determina a lei competente (e nós não fazemos isto) – isto vai evitar o
problema, que o nosso sistema cria, que é o problema dos conflitos de qualificação.

Mas apresenta desvantagens:


• viola o princípio da paridade de tratamento das ordens jurídicas
Dá prevalência à lei do foro. O princípio da paridade de tratamento é violado porque qualificamos
os factos à luz daquilo que diz a lei do foro. E não levamos em conta aquilo que nos diz a outra lei.
Qualificamos os factos à luz da opinião que a lei do foro tem sobre a tipo de problema,
desconsiderando a restante opinião
• Cria desarmonia jurídica internacional
O resultado a que se chega cá seria diferente do resultado a que se chega no outro país
• Bloqueia perante institutos jurídicos diferentes
Não considera o trust, a união registada. Sempre que aparece um instituto jurídico que a lei do
foro não conhece não apresenta resposta
• Tem uma operação desnecessária, que é a de escolher a lei competente
Não é necessário escolher a lei competente; podemos resolver o caso sem ter de escolher a lei
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prático nº 7
Em Fevereiro de 2017, A, portuguê s e residente em Munique, e B també m portuguê s mas residente
em Viena celebraram em Roma um contrato de compra e venda de um pré dio urbano situado em
Berlim, tendo eleito como lex contractus a lei portuguesa.
Dois meses volvidos, pretendendo A ocupar o referido pré dio, B recusou-se a entregá -lo. Em seu
favor alega ser ainda titular da propriedade do mesmo, porquanto nã o se havendo verificado o
registo, que é exigido pelo direito alemã o, nã o se deu ainda a transferê ncia do direito de propriedade
(§ 873 BGB).
A, por seu turno, contrapõ e, ex vi dos artigos 408.o/1 e 879.o/a) do CC, a transmissã o do direito de
propriedade sobre o pré dio por mero efeito do contrato. Tendo em conta os artigos 46.o do CC e
3.o/1 do Regulamento ROMA I, e sabendo que na Alemanha vigoram regras de conflitos iguais à s
portuguesas, que soluçã o daria a esta hipó tese prá tica?

Problema de qualificação: quais são as normas materiais que estão a ser chamadas pelo sistema
conflitual. Há no caso sob apreciação normas que se contrastam.

É um problema do DIP? Sim, tem contacto com o ordenamento português (lei que escolheram para
regular o contrato, e é a lei de nacionalidade de A e B), tem com o ordenamento italiano (local de
celebração do contrato); e com o ordenamento alemão (é onde está o imóvel e é a residência do A). temos
uma relação jurídica absolutamente internacional, logo não nos basta o princípio da não transatividade.

Quais são as regras de conflitos que aqui estão?


• Art. 46º do C.C.
Conceito quadro: direitos reais (posse propriedade e demais direitos reais)
Conceito autónomo e teleológico. O conceito conflitual é mais amplo, abrange, v.g., o trust, a
servidão de coisas móveis, abrange todas as figuras que sejam afins das nossas
Elemento de conexão: local onde se encontra a coisa (o prédio está na Alemanha). O art. 46º
manda aplicar a lei alemã. ALERTA: a regra de conflitos mandou aplicar uma lei estrangeira. Será
que mandamos aplicar a lei estrangeira e ela remete para uma terceira lei? Problema do reenvio.
Temos de ver se se coloca ou não um problema de reenvio no caso prático. A regra de conflitos
alemã é igual à nossa, logo ela também remete para ela própria. Por isso, considera-se competente
– não se coloca o problema do reenvio

• Art. 3º/1 do Reg. Roma 1


Conceito quadro: lei aplicável ao contrato (ás obrigações contratuais). Como é que interpretamos
contrato? De forma abrangente, fazemos uma interpretação autónoma e teleológica de forma a
abranger figuras similares. O contrato rege-se pela escolha das partes e elas escolheram a lei
portuguesa.
Em matéria de direitos reais aplicam-se normas da lei alemã, mas são só as normas alemãs que
pelo seu conteúdo e função sejam relativas a direitos reais. Em matéria de contratos so se aplicam
normas d alei portuguesa. Apenas as normas portuguesas que pelo seu conteúdo e função sejam
relativas às obrigações contratuais -chamamento circunscrito

Elenco de normas materiais aplicáveis:


• 873º BGB (lei alemã) – estabelece que o registo é necessário para transferência ou constituição
de direitos reais
• Art. 408º/1 do C.C. português – norma portuguesa que diz que a constituição de direitos reais dá-
se por mero efeito do contrato;
• Art. 879º do C.C. português – produz efeitos a compra e venda a transmissão de propriedade

Ou seja, já temos o elenco da regra de conflitos. Vamos subsumir as normas. Vamos qualificá-las. Vamos
caracterizá-las. Que tipo de normas são estas?
Pedro Silva e Lara Costa

Art. 873º BGB


Conteúdo: estabelecer um sistema de modo, é preciso um registo para a transmissão de direitos reais
Função: segurança jurídica dos direitos reais

Norma sobre direitos reais, logo subsumimo-la no art. 46º. É uma norma alemã em matéria de direitos
reais, logo aplica-se esta norma.

Art. 408º
Conteúdo: estabelecer um sistema de título de direitos reais
Função: Celeridade do comercio jurídico de direitos reais

Qualificamo-la como uma norma de direitos reais. Subsumimo-la no conceito quadro do art. 46º.
Aplicamos as da lei alemã, logo esta não está a ser chamada, não se aplica

Art. 879º
Conteúdo: estabelece um efeito automático de transmissão de propriedade, um efeito do contrato
Função: o que quer é que os direitos reais se transmitem por mero efeito do contrato de compra e venda

É uma norma que está a regular um direito real. Se é uma norma jurídico real subsumimo-la no art. 46º.
Em matéria de direitos reais aplicamos normas alemãs. Logo não se aplica.

Falta-nos dar uma solução ao caso. De quem é a coisa?


A coisa continua ser do vendedor.

Caso Prático 8:
A e B, casados e de nacionalidade espanhola, adoptaram em Espanha, nos termos do direito
espanhol, C, uma criança de nacionalidade portuguesa que residia em Espanha. Algum tempo depois
D, portuguê s, pretende reconhecer a paternidade de C. A e B vê m impugnar o reconhecimento
invocando o artigo 1987.o do CC portuguê s, ao que D contrapõ e que o direito espanhol nã o conhece
nenhum preceito aná logo à quela disposiçã o da nossa lei.

Quid iuris, atento o disposto nos artigos 56.o e 60.o do CC e tendo em conta que o DIP espanhol
submete a adopçã o internacional à lei da residê ncia do adoptado?

Trata-se de uma situação objeto do DIP, é uma situação absolutamente internacional ou plurilocalizada’
Sim, tem contactos com o ordenamento jurídico espanhol (local de adoção, nacionalidade dos pais
adotivos, residência da criança).

As relativamente internacionais são as relações que só tem contacto com um ordenamento jurídico que
não é o foro.

Mas no nosso caso temos também contacto com o ordenamento português, logo estamos perante uma
relação plurilocalizada.

Será que o tribunal português é competente para o caso? Nos pressupomos que sim.

Qual é a lei aplicável? Sabemos isto mobilizando regras de conflitos, o método conflitual.
Pedro Silva e Lara Costa

Qual é a lei competente para o caso? Nós não escolhemos uma lei competente, aplicamos várias leis
diferentes. Cada regra de conflitos vai chamar parcelarmente uma certa lei. Aplicamos a lei 1 para a
matéria x, a lei 2 para a matéria y.
Como é que sabemos quais são as tais leis diferentes que vamos chamar?
As que estão indicadas, estão lá as regras de conflitos que podem solucionar o caso.

Para aonde é que apontam cada uma da regra de conflitos?

As das regras de conflitos que nos foram dadas foram a dos arts. 56º e 60º do C.C.

Qual é a parte da regra de conflitos que estabelece o âmbito de aplicação de cada lei? O conceito quadro,
logo temos de identificar o conceito quadro de cada uma das regras de conflitos

Art. 56º: constituição da filiação (biológica)


Interpretamos filiação de forma autónoma e teleológica.

O conceito de filiação para efeito de regra de conflitos é diferente daquele do direito de família, trata-se
de um conceito mais abrangente pois abrange todas as figuras afins, aquelas que tenham uma finalidade
similar.

Qual a nacionalidade do pai? Português. Está a mandar-nos aplicar lei portuguesa.

Vamos agora caracterizar o art. 60º do C.C.


Conceito quadro: constituição da filiação adotiva
Interpretamos adoção de forma autónoma e teleológica, podem haver figuras similares noutros sistemas
Manda aplicar a lei da nacionalidade do adotante. São dois, o A e o B.
Podemos para efeitos de art. 60º/2 uma interpretação em que cabem adoção de pessoas do mesmo sexo?
Sim, porque fazemos uma interpretação autónoma e teleológica.
Aplicamos a lei da nacionalidade comum dos adotantes, essa lei é espanhola. Então mandamos aplicar a
lei espanhola.

Será que existe uma lei espanhola? Espanha é um sistema plurilegislativo (lei da Catalunha, lei da Galicia
- vamos ignorar este problema, porque só o estudamos em Dezembro)

Quando a regra de conflitos manda aplicar uma lei estrangeira pode surgir um problema. A lei estrangeira
pode não se considerar competente. O que coloca um problema de reenvio. Será que a lei espanhola não
remete para outra lei?

Precisamos de ir ver o que faz a regra de conflitos espanhola. O que é que ela diz?
Manda aplicar a lei internacional da residência do adotado. Nos mandávamos aplicar a nacionalidade dos
adotantes, mas o sistema espanhol manda aplicar a lei de residência do adotado.

Acontece que o adotado, o C, reside em Espanha. Nos mandamos aplicar lei espanhola e a lei espanhola
manda aplicar a lei espanhola. A lei espanhola considera-se competente, logo não há nenhum problema
de reenvio.

Temos agora de ler estas regras de conflitos à luz do art. 15º. Ele vai mandar aplicar várias leis
parcelarmente. O art. 56º está a mandar aplicar lei portuguesa, mas só vamos chamar as normas que pelo
seu conteúdo e função sejam relativas à constituição da adoção biológica.

O art. 60º está a mandar aplicar lei espanhola, mas só as normas espanholas que pelo seu conteúdo e
função sejam relativas à adoção adotiva.
Pedro Silva e Lara Costa

Temos de fazer o elenco das normas substantivas das várias leis conectadas que são potencialmente
aplicáveis ao caso. As normas potencialmente aplicáveis constam do enunciado.

Encontramos, desde logo, o art. 1987º da lei portuguesa, norma esta que proíbe o estabelecimento da
filiação biológica depois de decretada a adoção.

Vamos então qualificar esta norma, caracterizá-la, atendendo ao seu conteúdo e função. Para ver se é uma
norma de filiação biológica ou de adoção.
Não olhamos aqui à inserção sistemática da norma, mas ao seu conteúdo e função (art. 15º do C.C.). o que
é que esta norma faz e qual é a sua ratio legis (porque é que ela existe)

Quem faz a operação de qualificação é o julgador.


O seu conteúdo: impede o estabelecimento da filiação biológica depois de decretada a adoção
Está em consonância com o princípio fundamental da verdade biológica? Estabelece uma exceção.

Já identificamos o conteúdo falta identificar a função


A função é proteger a relação jurídica adotiva. Se se permitisse destruir-se-ia a relação adotiva já
decretada.

Falta ponderar o conteúdo e função e tirar uma conclusão. Todas estas operações têm de ser
fundamentadas.

Impede o estabelecimento da filiação, estabelecendo uma exceção ao princípio da verdade biológica,


porque tem como objetivo proteger a adoção.

Por isso, parece ser uma norma que atendendo ao conteúdo e função, é uma norma relativa ao instituto
da adoção. É uma norma sobre adoção.

Se é uma norma sobre adoção subsumimo-la no conceito quadro do art. 60º do C.C.

Agora recuperamos a nossa conclusão previa.

Em matéria de adoção só aplicamos normas de regulamentação espanholas, logo o art. 1987º não se
aplica; apenas vamos aplicar normas de adoção espanholas.

Em matéria de adoção chamamos normas espanholas, logo o art. 1987º não vai se aplicável.

A norma portuguesa não se aplica, então não aplicamos a norma que proíbe o estabelecimento da filiação
natural, logo pode concluir-se a filiação natural.

Estamos preocupados porque estamos a destruir a adoção. O DIP redundou na destruição da adoção. O
resultado é injusto, é chocante. Há face das nossas conceções é um resultado chocante e o juiz não pode
ser indiferente. Deixamos funcionar o sistema, mas o sistema resultou numa solução chocante.

Para estas situações, vendo que o resultado é chocante, pode ter lugar a mobilização da ordem publica
internacional (OPI), prevista no art. 22º do C.C.
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prático 10:


Em 2012, A, italiana, casou-se com B, portuguê s, de acordo com o regime de comunhã o de
adquiridos, passando ambos a residir em Portugal. Em Julho de 2018, foi aberta a sucessã o de C,
portuguê s residente em Milã o, ex- marido de A, que, em testamento, havia nomeado A como sua
herdeira. Todavia, ainda nesse mê s, A declarou, em escritura pú blica, o repú dio da sucessã o.

os
B vem agora pedir a anulaçã o do repú dio, invocando o n.o 2 do artigo 1683.o e os n. 1 e 2 do
artigo 1687.o do Có digo Civil portuguê s, ao que os herdeiros legı́timos de C contrapuseram que, no
ordenamento jurı́dico italiano – e, designadamente, nos artigos 59.o e ss. do Có digo Civil Italiano
(que tratam da capacidade em geral) – nã o existia qualquer disposiçã o idê ntica à do n.o 2 do artigo
1683.o citado supra, concluindo nã o ser exigı́vel o consentimento do cô njuge do sucessı́vel. De facto,
as indicadas normas italianas conferem plena capacidade a A para repudiar sem consentimento de
ningué m.

Cfr. os artigos 25.o e 52.o do Có digo Civil portuguê s e o artigo 21.o do Regulamento (UE) 650/2012 e
tenha em consideraçã o que a Lei Italiana de Direito Internacional Privado considera competente
para reger a capacidade a lex patriae e, para regular as relaçõ es entre os cô njuges, a lei da residê ncia
conjugal.

a) Segundo o nosso ordenamento, quid iuris?


b) Se devesse seguir a conceçã o de Roberto Ago relativa à qualificaçã o, como resolveria a questã o?

Nos termos do art. 1683º/2 ele tinha de poder tido a oportunidade de repudiar a herança.
É este o argumento do senhor B. ele acha que se deve aplicar a lei portuguesa e por isso o repudio pode
ser anulado.

A lei italiana diz que ela é capaz e se é capaz poe sozinha repudiar sem consentimento do marido.
Entendem eles que o repúdio é válido.

Resolução
a) é um problema da nossa disciplina? É uma situação absolutamente internacional ou plurilocalizada?
Sim, tem contactos relevantes com o ordenamento jurídico italiano e com o ordenamento jurídico
português. Tendo uma situação plurilocalizada colocamos os problemas do DIP.

Será que os tribunais portugueses são competentes? Pressupomos que sim

Qual a lei aplicável? Nós aplicamos várias leis de sistemas diferentes, faz remissões parcelares. Para a
matéria A aplica a lei x, para a matéria B aplica a lei Y.

Que leis estão a ser chamadas e para que matérias?


Quais as leis potencialmente aplicáveis?

Art. 25º do C.C.


Conceito quadro: estado das pessoas, capacidade das pessoas
Interpretamos capacidade de forma autónoma e teleológica.; vamos abranger aqui outras figuras da
capacidade que sejam afins.
Elemento de conexão: lei pessoal (que vai ser identificada no art. 31º/1) – nacionalidade do indivíduo
Está-se a discutir a capacidade dela para repudiar. A nacionalidade da senhora é italiana.
Pode haver um problema de reenvio. Quando se remete para a lei italiana pode ser que a lei italiana não
considere aplicável a lei italiana; pode suceder que o DIP italiano remeta para outra lei. Mas a lei italiana
Pedro Silva e Lara Costa

considera aplicável a lei italiana. Desta forma, não há problema de reenvio. Considera-se competente a
lei italiana. Com isto precisamos a nossa primeira rgra de conflitos

Art. 52º do C.C.


Conceito quadro: relações entre os cônjuges. Cônjuges para efeito do art. 52º é mais, são todas as relações
afins porque fazemos uma interpretação autónoma e teleológica.
Para que lei remete o aart. 52º? Lei da nacionalidade comum dos cônjuges (não têm), mas utiliza-se uma
conexão múltipla, deve atender-se a lei da residência habitual comum. Eles residem em Portugal. A nossa
regra de conflitos determinou a aplicação da lei portuguesa.

Art. 21º do Regulamento Europeu das Sucessões


Conceito quadro: sucessão. Para efeitos do art. 21º sucessão é algo mais abrangente, não é aquilo que
para nós seja sucessão, mas também institutos similares. Isto porque fizemos uma interpretação
autónoma e teleológica.

Morreu C e era residente em Itália. A nossa regra de conflitos mandou aplicar lei estrangeira. Atenção, o
DIP dessa lei pode remeter para outra lei. O que é que diz o DIP de Itália em matéria de sucessões?
O nosso DIP é o regulamento europeu das sucessões, que vigora em todos os Estados Membros, também
vigora em Itália e, por isso, em Itália também mandam aplicar a lei da residência, que é a lei italiana. Não
se dá reenvio. Aplicamos lei italiana.

Temos agora de ler este mapa à luz do art. 15º

Em matéria de capacidade aplicam-se normas italianas que pelo seu conteúdo e função sejam relativas à
capacidade em geral.

Relações entre os cônjuges? Vamos agora ao art. 52º e concluímos que se aplica lei portuguesa, mas
apenas normas portuguesas que pelo seu conteúdo e função sejam relativas às relações entre os cônjuges.

E em matéria sucessória? Vamos buscar à lei italiana as normas materiais italianas que pelo seu conteúdo
e função sejam relativas às sucessões.

Temos que fazer então a qualificação. Nós qualificamos normas materiais de todas as leis conectadas com
o caso.
Cada uma destas normas pelo seu conteúdo e função é relativa ao quê?

Quais as normas potencialmente aplicáveis da lei portuguesa e da lei italiana?


Art. 1683º 2; Art. 1687º 1 e 2

O que é que elas fazem, estas normas?


Exigem consentimento do cônjuge para o repudio.

Mas temos mais normas para qualificar:


Art. 59º e ss. do C.C. italiano

O que é que elas fazem?


Não tem limite a capacidade do cônjuge; conferem plena capacidade ao sucessível para repudiar. Não é
precisa a plena capacidade para repudiar.

O que é que temos de fazer agora? Temos de fazer a caracterização propriamente dita.

A qualificação da norma vai depender, de acordo com o art. 15º, do seu conteúdo (o que é que ela faz) e a
sua função (a sua ratio legis).
Pedro Silva e Lara Costa

Art. 1683º/2; Art. 1687º/1 e 2


Conteúdo: ilegitimidade, que gera uma incapacidade relativa;
Função: parece ser uma preocupação com uma vida familiar. Os bens próprios acabam por ser em última
análise bens comuns, se acabar o património comum.

Esta ilegitimidade só aparece por causa do casamento

Parece, por isso, ser uma norma relativa ao casamento, aos cônjuges
Se o objetivo é proteger o património e evitar conflitos entre o casal parece ser uma norma de relação
entre os cônjuges. Subsumimos esta norma no conceito quadro do art. 52º, logo vamos recuperar a nossa
conclusão. Em matéria de relação entre os cônjuges aplicamos lei portuguesa que pelo seu conteúdo e
função sejam relativos às relações entre os cônjuges, por isso, desta forma, claro que se aplica esta norma.

Arts. 59º e ss. do C.C. italiano


Conteúdo: plena capacidade, legitimidade para recusar a herança sem o consentimento
Função: no enunciado diz que são as normas que tratam a capacidade em geral;

Ou seja, a norma italiana se é relativa à capacidade em geral subsume-se no conceito quadro do art. 25º
(capacidade em geral). Vamos recuperar a nossa conclusão previa. Em matéria de capacidade em geral
nos aplicamos as normas italianas que pelo seu conteúdo e função sejam relativas á capacidade em geral,
por isso, esta norma italiana aplica-se.

Solução a dar ao caso: aplica-se a norma portuguesa que diz que é necessário consentimento e aplica-se
a norma italiana que diz que não é necessário consentimento. Então reparamos que temos resultados
incompatíveis. Chamamos leis diferentes para regular matérias diferentes e os resultados foram
incompatíveis. Estamos perante um conflito positivo de qualificações. Apesar de chamarmos leis
diferentes, as normas chamadas têm resultados conflituantes.

Tentamos, nestes casos, compatibilizar. Não conseguimos incompatibilizar porque elas têm resultados
incompatíveis.

O que é que fazemos a seguir?


Aplica-se só uma, temos de hierarquizar; ou aplicamos uma ou outa.

Hierarquizamos regras de conflitos ou normas materiais?


Fazemos uma hierarquização das regras de conflitos. Vamos ver de acordo com os critérios da doutrina
e jurisprudência que regra de conflitos deve prevalecer.

Temos então o art. 25º com o art. 52º


E vamos ter de ir aos critérios de hierarquização.

Se o conflito for entre regra de aplicação de substância do negócio e da forma do negócio, prevalece a
regra de conflitos da substância. A ei da substância é alei que em regra tem mais proximidade com o caso
e temos o exemplo do art. 36º/1/2ª parte.

O nosso conflito é entre a lei aplicável à capacidade e a lei aplicável à relação entre os cônjuges, logo este
conflito não resolveu

Outro critério é que a lei aplicável ao estatuto real deve prevalecer sobre a lei aplicável ás matérias do
art. 25 (estatuto pessoal).

Por duas razões:


Pedro Silva e Lara Costa

Havendo um conflito entre lei aplicável aos direitos reais e lei aplicável ao estatuto pessoal deve
prevalecer a lei aplicável aos estatutos reais porque queremos que a sentença produza efeitos no local de
situação da coisa. (...)

Este critério também não resolve o nosso problema, não serve.

Se o conflito for em matéria de proteção do cônjuge sobrevivo, entre lei aplicável ao regime de bens e lei
aplicável à solução aplica-se aquele que cronologicamente tiver produzido efeitos primeiro!

Porquê?
Porque foi gerando expetativas antes da morte

Este terceiro critério resolve o caso?


O nosso conflito é entre lei aplicável às relações entre os cônjuges e lei aplicável à capacidade.
Não é para isto que serve o terceiro critério, o terceiro critério é para os casos em que morre um cônjuge;
na situação morreu um ex-cônjuge.

Não sendo possível escolher entre regras de conflitos devemos escolher entre normas materiais.
Devemos passar para a solução de recurso que é escolher entre normas materiais. Não vamos escolher
entre o 25º e o 52º, mas sim entre aplicar o art. 1682º e o art. 59º do C.C. italiano.

Com que critérios?


Temos de nos comportar como se as duas fizessem parte do nosso ordenamento. O que é que nos
fazíamos se tivéssemos estas duas normas no nosso ordenamento?
Aplicávamos a norma especial. Se uma das normas for geral e a outra for especial deve prevalecer a
especial.

O art. 1683º é especificamente para esta situação, enquanto que o art. 59º do C.C. italiano regula a
capacidade em geral.

Logo é necessário o consentimento do cônjuge e, por isso, anulamos o repudio porque falta o
consentimento.

O nosso sistema criou este problema porque chamamos várias leis para problemas diferentes envolvidos
no caso.

Quem não corre este risco é o método tradicional porque escolhe apenas uma lei. É por isso, que a
doutrina francesa ainda diz que não se deve aplicar o método português. Só que nos conseguimos resolver
este problema; hierarquizando e caso isso falhe escolhendo entre as normas de direito material

E se as duas normas incompatíveis forem ambos gerais?


Recorre-se aos princípios gerais de direito.
Por exemplo: a norma mais recente afasta a norma mais antiga.
Mas isto é muito raro de acontecer.

b) A teoria tradicional de qualificação qualifica factos. Por isso é que se chama a teoria da dupla
qualificação. Fazem-se duas qualificações. Qualificação primaria para escolher a lei competente.
Qualificação secundaria que é a qualificação propriamente dita.

Qualificação primaria.: perante estes factos que normas do foro é que se aplicariam? Se isto fosse uma
situação puramente interna como é que o juiz português resolvia o caso?

Aplicavamos a norma do C.C. português que resolve o caso, que é o art. 1683º/2, que nos diz que é preciso
o consentimento do cônjuge.
Pedro Silva e Lara Costa

Mas este art. 1683º/2 é uma norma sobre as relações entre os cônjuges. Para o foro isto é um problema
de relações entre os cônjuges. Logo a regra de conflitos que usamos é o art. 52º e então aplicamos lei
portuguesa.

Falta a qualificação secundária. Que normas da lei indicada é que vamos aplicar?
Segundo Ago aplicam-se todas as normas da lei portuguesa que resolvam o caso, trata-se do chamamento
indiscriminado, logo é preciso o consentimento e o repudio é invalido. Vamos anular o repudio.

Solução diferente à da al. a?


Concluímos o mesmo; levou ao mesmo resultado e foi mais simples.
O sistema tradicional é muito mais simples. No nosso sistema tivemos de resolver o problema do conflito
de qualificações. Coisa que não acontece no método tradicional porque só chama uma lei. A sua grande
vantagem é não criar conflitos de qualificações.

Então se este sistema é tão bom porque não o utilizamos?


O nosso problema aparece ás vezes, mas resolvemo-lo. Mas os quatro problemas do método tradicional
aparecem sempre e não são resolvidos:

• Viola a paridade das relações internacionais


• Gera desarmonia internacional (a solução que chegaríamos é diferente da solução que o juiz
italiano chegaria)
• Bloqueia perante institutos jurídicos desconhecidos
• Tem uma etapa desnecessária: a determinação da lei aplicável

A qualificação tradicional está a entrar em desuso

Caso Prá tico 12:


A, portuguê s, e B, italiana, casaram em 2011 em Milã o. A‡ data do casamento, A tinha 77 anos e B apenas
21. Em 2013 fixaram a sua residê ncia com cará cter está vel e permanente em Barcelona. Em 2017, na
comemoraçã o do 6.o aniversá rio do seu casamento, A ofereceu a B um jipe que tinha adquirido meses
antes em Coimbra. A doaçã o realizou-se em Espanha.
C, filho de A, pretende invalidar a doaçã o e invoca, para tanto, os artigos 1720.o/1/b) e 1762.o do CC
portuguê s. Deveria o tribunal dar razã o a C sabendo que a doaçã o é vá lida em face do direito espanhol?
Cfr. os artigos 25.o, 52.o e 53.o do CC portuguê s e n.o 2 do artigo 4.o do Regulamento (CE) n.o
593/2008, (Roma I), tendo em consideraçã o que o artigo 9.o do Có digo Civil Espanhol tem soluçõ es
idê nticas à s dos artigos 52.o e 53.o do Có digo Civil Portuguê s

É um problema de direito privado porque tem contactos com os ordenamentos português, italiano e
espanhol (onde residem, onde foi realizada a doação).

Temos uma situação absolutamente internacional.


Pressupomos a competência dos tribunais portugueses para regular o caso.

Sendo competente, coloca-se o problema da lei aplicável.

Estamos dispostos a aplicar leis diferentes, mas para matérias diferentes e, por isso, o que temos de fazer
é determinar as várias leis aplicáveis às várias matérias que temos no caso.
Pedro Silva e Lara Costa

Regras de conflitos:
Art. 25º do C.C.
Conceito quadro: capacidade das pessoas, estado das pessoas, relações da família e sucessões por morte
(os arts. Seguintes esvaziam o art. 25º de forma a ficar a penas a capacidade das pessoas e o estado das
pessoas)
Interpretamos capacidade de forma autónoma e teleológica. Tentando abranger as figuras de capacidade
que sejam similares ao nosso conceito de capacidade.

Em matéria de capacidade aplicamos a lei pessoal, o elemento de conexão é nos dado pelo art. 31º do C.C.

Assim, em matéria de capacidade, vamos aplicar a lei da nacionalidade do Sr. A, para realizar a doação.

A nacionalidade do A é portuguesa. O art. 25º do C.C. manda aplicar a lei portuguesa.

Temos algum problema de reenvio? Não, a regra de conflitos portuguesa manda aplicar lei portuguesa.

Artigo 52º do C.C.


Conceito quadro: relações entre os cônjuges. Interpretamos de forma autónoma e teleológica. Não têm
nacionalidade comum, vamos procurar a residência habitual comum, e essa é Espanha, por isso,
aplicamos a lei espanhola e temos de ficar alerta para o problema de reenvio. A nossa regra de conflitos
indiciou lei estrangeira e pode acontecer que a lei espanhola considere competente outra lei. Será que vai
haver reenvio? Temos de ir ver a regra de conflitos da lei espanhola. O art. 9º do C.C. espanhol tem
soluções idênticas, mada aplicar a lei da residência comum, então nos mandamos aplicar lei espanhola e
em Espanha mandam aplicar lei espanhola. Considera-se competente.

Art. 53º do C.C.


Conceito quadro: convenções antenupciais e regime de bens
Qual a lei aplicável para regular o regime de bens do casamento? Nacionalidade comum dos cônjuges ao
tempo da celebração do casamento; não tinham, mas temos um elemento de conexão múltipla subsidiaria
– residência habitual comum ao tempo do casamento – mas também falha este elemento de conexão;

Não tinham, então primeira residência conjugal. A nossa regra de conflitos mandou aplicar lei
estrangeira. Pode acontecer o problema do reenvio. Precisamos de procurar na lei espanhola para saber
se há ou não um problema de reenvio. O art. 9º do C.C. também manda aplicar a lei da primeira residência
habitual, logo considera-se competente.

Aqui não se coloca nenhum problema de reenvio

Art. 4º/2 do Regulamento Roma 1


Conceito quadro: obrigações contratuais
Em matéria de contratos o Regulamento Roma 1 começa por dizer que a regra de conflitos relevante é a
do art. 3º, que nos diz que os contratos são regulados pela vontade das partes. Assim, o primeiro elemento
de conexão é a vontade das partes. O problema coloca-se quando as partes não escolhem. Nestas
situações, falha o elemento de conexão presente no art. 3º; mas o Regulamento Roma 1 utiliza um
elemento de conexão múltipla subsidiaria. Temos agora de ir ao art. 4º/1 do Reg. Roma 1.
Vamos ver em que alínea se subsume. E reparamos que a doação não está prevista. E por isso é que o
enunciado nos fala do art. 4º/2 do Regulamento Roma 1: aplica-se a lei da residência da parte que estiver
obrigada à prestação característica do contrato. As partes do nosso contrato são A e B. vamos aplicar a lei
da residência destas duas partes. O A reside em Espanha e a outra parte do contrato, a senhora B reside
em Espanha. Ou seja, o art. 4º/2 diz-nos que vamos aplicar a lei de residência de uma das partes e então
o art. 4º/2 manda aplicar lei espanhola.

Haverá problema de reenvio já quês estamos a mandar aplicar uma lei estrangeira?
Pedro Silva e Lara Costa

Pode acontecer que a lei espanhola não se considere competente; temos de ir ver qual o modo de atuação
da lei espanhola. Só que o Regulamento Roma 1 vigora em todos os países da União Europeia. Logo, em
Espanha, por força do Regulamento Roma 1 vão considerar competente a lei espanhola. A lei espanhola
considera-se competente.

Com isto, ficamos com o nosso mapa conflitual. Agora vamos ter de ler isto à luz do art. 15º do C.C.
português. Porque o nosso regime aplica simultaneamente leis diferentes para problemas diferentes.

A referência a uma outra lei é so para uma parte dessa lei.

Em matéria de capacidade só aplicamos a lei portuguesa que pelo seu conteúdo e função sejam relativas
à capacidade. Em matéria de relações entre os cônjuges apenas aplicamos as normas espanholas que pelo
seu conteúdo e função sejam relativas às relações entre os cônjuges e assim sucessivamente quanto à
norma sobre regime de bens e as normas sobre o regime dos contratos

Temos agora de qualificar as normas, saber a natureza dessas normas.


• Artigo 1720º/1/B do C.C. – norma portuguesa que estabelece que as pessoas com mais de 60 anos
se casam no regime de separação de bens
• Artigo 1762º do C.C. – as doações entre os cônjuges são permitidas. Mas há uma norma especial,
são nulas as doações entre os cônjuges quando vigorar o regime imperativo de separação de bens,
estabelece, por isso, a nulidade das doações quando vigorar o regime imperativo da separação de
bens.

A lei espanhola não tem norma para este caso, não tem norma especial, por isso considera a
doação válida, ou seja, no fundo, o problema que se coloca é saber se aplicamos as normas
portuguesas e a doação será nula ou então não aplicamos as normas e a doação será válida.

Conteúdo e função destas normas:


o art. 1720º do C.C. estabelece um regime imperativo de separação de bens mesmo contra as
vontades dos cônjuges para proteger o património. Estabelece um regime imperativo de
separação de bens em nome da proteção do património. Identificamos o conteúdo e a sua
teleologia.
O art. 1762º estabelece uma invalidade das doações se vigorar o regime imperativo da separação
de bens. Para garantir o regime imperativo. O objetivo é salvaguardar o regime imperativo da
separação de bens.

São normas relativas a quê?


Atendendo ao seu conteúdo e função são normas - a do art. 1720º e a do art. 1762º - sobre o
regime de bens do casamento.

A questão é que parece evidente que são normas familiares, a dúvida é sobre o âmbito de
aplicação do art. 52º ou do art. 53º, mas verdadeiramente esta questão não é relevante.

Qualificando-se ou no art. 52º ou no art. 53º elas não se aplicam porque a lei competente nesta
matéria é espanhola.

Portanto a solução a dar ao caso, é que a doação será válida.

Como é que se dilucida entre o art. 52º do C.C. e o art. 53º?

O art. 52º é para a parte institucional do casamento – tudo aquilo que os cônjuges não podem
modelar. O art. 53º º é para as partes do casamento que os cônjuges podem modelar
v.g. o regime de bens.
Pedro Silva e Lara Costa

A nossa situação é complexa porque houve uma imposição do regime de bens. Por isso, o
legislador juntou uma norma que não é uma regra de conflitos, é sim uma norma auxiliar de
qualificação. O art. 54º do C.C., que é uma norma orientadora de qualificação, que diz que o
problema da modificabilidade do regime de bens (a questão de saber se os cônjuges podem ou
não mudar o regime de bens) é resolvida pela norma do art. 52º do C.C.

Nota: o princípio da imutabilidade do regime de bens só vigora num país – o nosso. Qualquer que
seja o casamento o nosso legislador estabelece que o regime de bens é imutável.

Caso prático 16
A, cidadã o inglê s residente em Portugal morreu em Agosto de 2018, sem familiares, deixando bens
imó veis em Inglaterra. A lei inglesa permite a apropriaçã o pela coroa dos bens sitos no seu territó rio
nos termos de um direito real de ocupaçã o (ocupaçã o ius imperium). Por seu turno, o Estado
portuguê s pretende, segundo o disposto no artigo 2152.o CC ser chamado a herdar a totalidade da
herança.
a) Quid iuris? Cfr. artigos 46.o CC e arts. 21.o e 22.o do Regulamento (UE) 650/2012.
b) E se todos os bens estivessem situados em Portugal, mas o de cuius residisse em Londres, a soluçã o
seria idê ntica? Suponha que o DIP inglê s adopta opçõ es conflituais iguais à s nossas.

Alínea a) É um problema de DIP?


Temos uma relação jurídica plurilocalizada, temos contacto com o ordenamento inglês e o ordenamento
português. Então temos de colocar os problemas do DIP
• Conflito de jurisdições (será que o tribunal português é competente para dirimir este litígio?
Pressupomos que sim)
• Conflito de leis (problema da lei aplicável)

O nosso sistema chama parcelarmente leis diferentes, apenas para a matéria que são chamadas.

Em matéria de regras de conflitos, elas aparecem-nos no enunciado.

Art. 46º do C.C.


Conceito quadro: posse, propriedade e demais direitos reais
Interpretamos direitos reiais de forma autónoma e teleológica. É uma interpretação muito mais
abrangente, temos de ver o que o legislador conflitual quis aqui abranger.
E o art. 46º está a mandar aplicar que lei? Qual o elemento de conexão? Local onde se encontra a coisa:
Inglaterra.

Desta forma, o artigo 46º manda aplicar lei inglesa. Pode colocar-se então aqui um problema de reenvio.
Em Inglaterra também se manda aplicar a lei do local da coisa, por isso, a lei inglesa considera-se
competente.

Em matéria de direitos reais aplicamos lei inglesa.

Art. 21º e 22º do Regulamento da EU 650/2012


Conceito quadro: a sucessão. Interpretamos sucessão de forma autónoma e teleológica. A lei que está a
ser indicada é Portugal, ele residia em Portugal. Nós mandamos aplicar a nossa própria lei, não há
problema de reenvio.
Pedro Silva e Lara Costa

Em matéria de direitos reais aplicamos lei inglesa, mas apenas as normas que pelo seu conteúdo e função
sejam relativas a direitos reais. Em matéria de sucessões aplicamos lei portuguesa que pelo seu conteúdo
e função sejam relativas a sucessões.

Agora há que determinar as normas que estão a ser chamadas:

Temos de ver o art. 2152º do C.C. que nos diz que o Estado é chamado à herança quando falte o cônjuge
e todos os parentes sucessíveis

E temos a norma da lei inglesa que diz que a coroa tem um direito real de ocupação.

Falta identificar o respetivo conteúdo e função e qualificar.

Artigo 2152º: o seu conteúdo é a chamada do Estado a título sucessório; esta norma faz do Estado
herdeiro legítimo. E quanto à função é não existir bens sem dono.

O que fazemos com este conteúdo e com esta função?


Ponderamos e retiramos uma conclusão.
Esta é uma norma de tipo sucessório porque tem como conteúdo chamar o Estado como herdeiro para
que a herança não fique vaga. É uma norma sucessória. Subsume-se no regulamento das sucessões.

Em matéria de sucessões aplicamos lei portuguesa, logo, esta norma, aplica-se.

Norma inglesa: confere um direito real de ocupação, enquanto a norma portuguesa chamava o Estado
português para a sucessão. Isto é ligeiramente diferente, porque no fundo está a estabelecer um direito
real de aquisição dos bens sem dono. Função: os bens não fiquem sem dono. Atendendo a este conteúdo
e a esta função parece ser uma norma relativa a direitos reias. Repare-se que tem a mesma política
legislativa, mas tratam este problema como matérias diferentes. Se esta norma é real subsume-se no
conceito quadro do art. 46º. Em matéria de direitos reais nós aplicamos lei inglesa, logo esta norma
inglesa vai ser aplicada.

Solução a dar ao caso: estamos perante um problema de conflito positivo de qualificações. Nos chamamos
duas leis diferentes para matérias diferentes, mas os resultados são incompatíveis. Isto é um problema
do método português de qualificação porque chamamos várias leis para regular um problema.
Habitualmente não se coloca este problema porque os problemas são realmente distintos. Aqui este
problema colocou-se porque os dois legisladores resolvem o mesmo problema por vias diferentes. O
mesmo problema é resolvido por direito das sucessões em Portugal e por direitos reais em Inglaterra.

Se tivéssemos escolhido uma única lei competente este problema não se colocaria; mas há bons
argumentos para defendermos este método.

Primeiro vamos tentar compatibilizar as duas normas materiais: as normas não podem ser
compatibilizadas

Então agora vamos hierarquizar: vamos aplicar uma; temos de escolher uma; a pergunta é qual é que
aplicamos?
Devemos escolher entre duas regras de conflitos ou entre duas normas materiais?
Se o problema for gerado pelo DIP nós temos de o resolver por via do DIP, por isso, devemos escolher
entre regras de conflitos. E seguimos só a regra de conflitos que entendemos deve prevalecer.

Há três critérios de hierarquização:


Algum deles resolverá este caso?
A regra de conflitos de direito real deve prevalecer sobre as matérias previstas no art. 25º do C.C.,
matérias de estatuto pessoal. Este critério serve-nos.
Pedro Silva e Lara Costa

Mas temos de fundamentar: eu vou escolher uma, mas tenho que dizer porquê?
Por razões de efetividade de decisão. Seria arriscado escolhermos a lei portuguesa – teria de registar a
propriedade em Inglaterra; o conservador inglês não iria aceitar. O sítio onde interessava que ela fosse
reconhecida não vai reconhecer. Deve prevalecer-se a situação real em vez da situação pessoa. A nossa
sentença não seria reconhecida. Então mais vale à partida escolher o elemento real.

A ligação dos imoveis ao sítio onde estão é mais forte do que a ligação das pessoas à sua nacionalidade e
residência (porque estas mudam) enquanto os imoveis não mudam de sítio.

Por estas duas razões vamos fazer prevalecer a regra de conflitos real.

Comestes dois argumentos fizemos prevalecer a regra de conflitos real e, por isso, a solução a dar ao caso
é aplicar lei inglesa: o bem vai para o Estado Inglês – o bem vai para o Estado Inglês.

Alínea b) a localização da coisa e a residência do de cujus mudaram.

A lei portuguesa mandou aplicar lei portuguesa (era. 46º)

O regulamento europeu das sucessões manda aplicar lei inglesa.

Há um problema de reenvio?
A Inglaterra resolveu não participar no Regulamento Europeu das Sucessões (foram o Reino Unido, a
Dinamarca e a Irlanda). Isto obriga-nos a ver a regra de conflitos inglesa
Mas tem soluções conflituais igual à nossa porque também manda aplicar a lei da residência, logo não há
aqui um problema de reenvio.

Como é que tínhamos qualificado estas normas?


A norma portuguesa era de tipo sucessório logo subsumia-se no conceito quadro dos regulamentos das
sucessões.

Em matéria sucessória aplicamos leis inglesas logo esta norma não se aplica.

A norma inglesa é uma norma jurídico-real logo subsume-se no conceito quadro do art. 46º do C.C.. Em
matéria de direitos reais aplica-se normas portuguesas.

Estamos perante um problema de conflito negativo de qualificações. Nós chamamos leis diferentes para
matérias diferentes, mas nenhuma das leis chamadas tem norma aplicável do título pelo qual foi
chamada. Chamamos a lei portuguesa para direitos reais, mas a lei portuguesa não tem uma norma
jurídico-real para resolver este problema porque para ela é um problema das sucessões. A lei inglesa era
competente para regular sucessões, asa lei inglesa não tem nenhuma lei para regular este problema
porque para Inglaterra este é um problema de direitos reais.

Estamos perante um problema que bloqueia o sistema. Quem terá de o resolver é o julgador: o julgador
tem a responsabilidade de modificar o sistema de forma a que o problema desapareça. Não tem norma
para aplicar, tem de modificar o sistema para gerar normas – este é o instituto da adaptação.

O julgador vai ter de intervir


A solução do problema passa por começar por saber qual a lei que tinha legitimidade para impor a sua
solução. Das duas leis que não tem norma para a matéria pela qual foram chamadas qual seria a lei que
teria força para impor a sai vontade.

Devemos proceder à hierarquia das qualificações (que costumamos usar nos conflitos positivos) para
determinar qual a lei que vai impor a solução para o caso? Essa será a lei dos direitos reais, porque a lei
real prevalece sobre a lei pessoal. A lei que deve dar solução é a lei competente para os direitos reais que
Pedro Silva e Lara Costa

é a lei portuguesa: o imóvel está em Portugal. A lei portuguesa só foi chamada para a matéria dos direitos
reais e a lei portuguesa trata isto como um problema sucessório, por isso, é que não tem normas.

Mas teria uma solução se o caso fosse puramente interno. Devemos fazer uma qualificação subsidiária –
a norma que entendemos que deve prevalecer (o 2152º) devemos ficcionar que ele tem a natureza pela
qual a lei portuguesa está a ser chamada -devemos fazer-lhe uma qualificação subsidiária – temos de
ficcionar que esta norma não é sucessória, mas sim jurídico real.

Subsumimo-la no conceito quadro do artigo 46º do C.C. e passamos a ter solução para o caso.

O juiz está a fingir que é uma norma real, quando ela não o é, mas tem de o fazer para desbloquear o
sistema.

Em suma:
1º passo: hierarquizamos entre regras de conflitos para saber qual a lei que tem a legitimidade para
dar a solução;
2º passo: vemos qual a norma dessa lei que daria a solução
3º passo: ficcionamos qua a natureza da norma é aquela pela qual a lei em causa está a ser chamada.

Caso Prá tico 17:


A, brasileiro, residente em Portugal, pretende celebrar casamento,
apresentando-se hoje perante Conservató ria do Registo Civil. O Conservador prepara-se para analisar
a sua capacidade nupcial. Sabendo que a lei brasileira considera competente, neste domı́nio, a lei do
domicı́lio e pratica a referê ncia material, que lei deve o Conservador aplicar?

Falta aqui a indicação da regra de conflitos. Temos de encontrar no C.C. um conceito quadro relativo a
este caso prático. É o art. 49º com o conceito quadro de capacidade de contrair casamento, convenções
ante nupciais, falta e os vícios da vontade do casamento

O art. 49º é um sistema de conexão múltipla; estão a ser chamadas duas leis, está a chamar a lei pessoal
de cada nubente. chama duas leis, é um sistema de conexão múltiplo distributivo porque divide a relação
jurídica e aplica uma lei diferente a cada parte da relação jurídica.

No nosso caso coloca-se o problema da capacidade do senhor A.

A nossa lei, no art. 49º, está a mandar aplicar a lei pessoal. Em Portugal, em principio, a lei pessoal é a lei
da nacionalidade. O senhor A é brasileiro. Nos consideramos competente a lei brasileira.

L1 à L2

E se a lei estrangeira não se considera competente?


Problema do conflito de sistemas de DIP; e se lá no Brasil eles aplicam outra lei?

49º NAC/BRA
L1 à L2

RM
Pedro Silva e Lara Costa

O problema do reenvio é saber se devemos deixar de aplicar a lei que o nosso sistema resolveu aplicar,
para passar a aplicar a lei que o sistema para o qual remetemos considera competente

Temos um sistema de reenvio pragmático; aceita-se o reenvio se ele promover a harmonia jurídica
internacional. Aceito o reenvio se a lei que aplico em Portugal seja a mesma que esteja a ser aplicada no
Brasil.

Porque é que o legislador quer a harmonia jurídica internacional? Quer a estabilidade das relações
jurídicas; o casamento poderia considerar-se valido num país e não noutro país

Se o nosso sistema é pragmático precisa de saber que leis os outros países estão a aplicar para saber que
lei é que vamos aplicar

O outro sistema envolvido é o brasileiro

Se o problema da capacidade de casamento se colocasse no Brasil, que lei é que era lá aplicável?
T2: está a mandar aplicar a lei portuguesa; precisamos de saber a sua posição, em matéria de reenvio,

Posição da referência material: nunca deve ser aceite. Reenvio


Posição de referência global: aceita-se o reenvio

Qual é a posição brasileira?


Referencia material: significa uma posição hostil ao reenvio. No Brasil, quando se remete para uma lei
estrangeira, está a considerar-se que a remissão é apenas para as normas materiais estrangeirar,
desconsiderando as regras de conflitos do sistema português.

Na referência material, temos uma posição hostil ao reenvio. Quando remeto para a lei portuguesa, é
mesmo para aplicar lei portuguesa, quero desconsiderar as suas regras de conflitos

Desta forma, em T2, aplica-se lei portuguesa.

O que é que T1 deve fazer?


Do ponto de vista da harmonia jurídica internacional, interessa aceitar-se o reenvio
Assim garantimos que a nossa decisão dobre a validade de casamento seja igual a uma decisão do Brasil

Será que podemos?


Tudo começa com o art. 16º do C.C. Diz-nos ele que o que se faz é uma referência material. Em princípio,
quando remetemos para a lei brasileira, remetemos apenas para o direito interno brasileiro, apenas
olhamos para as suas normas materiais. Mas diz-nos “na falta de preceito em contrário”

E há preceitos em contrário, que são os artigos 17º e 18º do Código Civil. São os casos em que vamos ter
um desvio à regra do art. 16º. Tratam-se dos casos em que o legislador chegou à conclusão que era útil à
harmonia jurídica internacional aceitar o reenvio

O art. 17º do C.C. utilizamos quando há uma transmissão de competências.


Mas nós temos um caso de retorno, e os casos de retorno estão presentes no art. 18º do C.C. tanto o
retorno direto como o retorno indireto é o art. 18º do C.C. que nos diz se podemos aceitar o reenvio.

Se o DIP da lei designada pela norma de conflitos?


Qual é essa lei? A lei 2

Se o DIP da lei brasileira estiver a mandar aplicar o direito material português é este o direito aplicável.
Pedro Silva e Lara Costa

Em 2, no Brasil, considera-se competente a lei portuguesa. O requisito é que na lei 2 esteja a aplicar-se lei
portuguesa. Está preenchido, então podemos aceitar o reenvio e alcançamos harmonia jurídica
internacional.

Será que, nestas matérias, o reenvio é sempre assim tão simples?


Não, estamos nas matérias do estatuto pessoal.

Mandamos aplicar a lei da nacionalidade, a lei pessoal. Em princípio, as pessoas conhecem a lei da sua
nacionalidade. Nos aceitamos o reenvio para outra lei e, desta forma, no fundo, podemos estar a ser
reenviados para uma lei que a pessoa não conheça.

Quando aceitamos o reenvio, somos reenviados para uma outra lei e nas matérias de estatuto pessoal
isso é sensível

Então nestes casos o nosso legislador, em matéria de reenvio, é mais exigente. Somos mais rigorosos; não
vamos recusar, mas adicionar um outro requisito

O da harmonia jurídica qualificada

Só vamos manter o reenvio se houver uma harmonia jurídica qualificada

Trata-se de um acordo quanto ao direito aplicável entre as duas leis mais importantes para a pessoa (lei
da residência e lei da nacionalidade têm de estar em acordo quanto à lei aplicável);

Depois de passarmos pelo art. 18º/1, estando em estatuto pessoal temos de ver se o reenvio se mantém;
temos então de ir ao art. 18º/2 (casos excecionais de reenvio mais exigente).

O estatuto pessoal é definido pelo artigo 25º: estado dos indivíduos, capacidade das pessoas, sucessão
por morte....

Estamos numa delas? Sim porque estamos perante a capacidade

Quando a nossa regra de conflitos está a colocar como competente a lei da nacionalidade pode funcionar
o nº2 – é o caso

A lei portuguesa só é aplicável, só mantemos o reenvio se estiverem cumpridos um de dois requisitos:


Eu vou exigir um de dois requisitos:
• O interessado estiver em território português a sua residência habitual
• Se a lei do pais da residência considerar competente a lei portuguesa

Tem de se preencher um destes dois requisitos

O interessado reside em Portugal, preenche-se o requisito, então o reenvio mantém-se porque os


requisitos são alternativos. Logo, a lei aplicável é a lei portuguesa

Se o legislador deixou funcionar o reenvio em matéria pessoal é porque existe harmonia jurídica
qualificada

T. RES: L1
T. NAC: L1

Solução a dar ao caso: o conservador deve aplicar lei portuguesa à capacidade pessoal do A
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prá tico 18:


A, alemã e com residê ncia habitual em Portugal, pediu uma indemnizaçã o por danos sofridos à sua
honra e consideraçã o em decorrê ncia da publicaçã o, num jornal portuguê s e em Julho de 2018, de um
artigo escrito por B, espanhol e residente em Espanha. Sabendo que a lei espanhola considera aplicá vel
a lex loci do dano e pratica a devoluçã o simples, que lei considera aplicá vel?
1- Sabendo que a lei espanhola considera aplicá vel a lex loci do dano e pratica a devoluçã o simples,
que lei considera aplicá vel?
2- A sua resposta seria a mesma caso os danos tivessem sido originados por um acidente de viaçã o
ocorrido em Portugal?

1)
É preciso concretizar apenas regras de conflitos. Normalmente depois temos a operação de qualificação
(subsumir) – no exame vai ser assim; neste caso não

São normas sobre responsabilidade. Regras de conflitos sobre responsabilidade temos o art. 45º do C.C.;
e o Regulamento Roma 2 (o art. 45º ainda não foi substituído na matéria de responsabilidade civil por
danos de personalidade então nesses casos aplicamos o art. 45º);

Na alínea 1) aplicamos o art. 45º; na alínea 2) utilizamos o Regulamento Roma 2

A lei do estado onde ocorreu a atividade causadora do conflito; no art. 45º está a mandar aplicar a lei
espanhola – lei da atividade danosa ou da residência

Se não for a lei da nacionalidade temos o sistema de reenvio normal. Se for a lei da nacionalidade temos
o reenvio mais rigoroso. Como a lei 2 não é a lei da nacionalidade então temos o sistema de reenvio
normal.

L1 à L2

Precisamos de saber a regra de conflitos espanhola e a sua posição em caso de reenvio

Manda aplicar a lei do país onde se produziu o dano. O dano, à senhora A, foi produzido onde ela reside e
ela reside em Portugal

O sistema espanhol tem devolução simples.

L1 à L2

DS

A haver reenvio ele vai ser regulado no art. 18º do C.C., já que é um caso de retorno.

Será que neste conflito negativo de sistemas devemos aceitar o reenvio? Deixar de aplicar a regra de
conflitos que a nossa lei tinha indicado, a lei espanhola que foi onde ocorreu a atividade danosa e passar
a aplicar outra?

O nosso sistema de reenvio é pragmático, vai ver em concreto se se alcança ou não a harmonia jurídica
internacional

A regra de conflitos espanhola está a mandar aplicar a lei portuguesa e adota a posição de devolução
simples. Está a remeter para toda a lei portuguesa; não só para as normas materiais; está a mandar aplicar
a lei que tiver sido aplicada pela lei portuguesa; eu aplico a regra de conflitos que a regra de conflitos
portuguesa estiver a aplicar; aceita o reenvio uma vez
Pedro Silva e Lara Costa

T2: o DIP espanhol está a remeter para a lei portuguesa; aplica a lei que a regra de conflitos portuguesa
estiver a mandar aplicar. Então aplica-se em Espanha a lei 2. Se o caso se colocasse em dois, eles
aplicariam a lei 2

Queremos aceitar o reenvio ou aplicar a lei por nos indicada?


Interessa-nos não aceitar o reenvio; aplicar a lei que nos indicamos (porque assim conseguiremos
harmonia jurídica internacional)

Não estaremos perante um daqueles casos em que devemos aceitar o reenvio ou valerá a regra do artigo
16º? Temos de ir ao art. 18º - trata-se de um caso de retorno.

Se o DIP da lei 2 estiver a mandar aplicar a lei portuguesa é este aplicável.

O DIP da lei 2 não está a mandar aplicar a lei portuguesa, então não se preenche o pressuposto do art.
18º/1. Então vale a regra geral do artigo 16º do C.C.

O artigo 16 manda-nos fazer uma referência material. O que temos de fazer é uma referência material e
aplicamos, assim, a lei 2. Desta forma, conseguimos harmonia jurídica internacional.

Aceitámos o reenvio?
Não, fomos pelo artigo 16º, conseguimos harmonia jurídica internacional aplicando a lei, por nós,
considerada competente.

Não temos de ir ver o art. 18º/2 por duas razões:


Não estamos perante matérias de estatuto pessoal
Nós aqui nem sequer aceitamos o reenvio e, então, não temos de ver se ele para.

2)
Muda a nossa regra de conflitos; já não é o artigo 45º do C.C.
A regra de conflitos de fonte europeia manda aplicar-se a residência comum de lesante e lesado; depois,
a lei do país onde se produziu o dano.

O dano produziu-se em Portugal, então a lei considera-se competente; não faço nenhuma seta, porque a
lei 1 considera-se competente.

Solução a dar ao caso: aplica-se a lei portuguesa

Não colocamos o problema de reenvio porque não se remete para uma lei estrangeira. Nós mandamos
aplicar a nossa lei
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prá tico 20:


Discute-se nos tribunais portugueses a sucessã o imobiliá ria de A, cidadã o
francê s que morreu em Junho de 2015 tendo por ú ltimo domicı́lio Portugal e deixando bens imó veis
no Brasil. Sabendo que o direito francê s regula, nestes casos, a sucessã o pela lex rei sitae e pratica a
devoluçã o simples, e que o direito brasileiro considera competente a lei do domicı́lio assumindo uma
posiçã o hostil ao reenvio, que lei aplicaria?

Está a pedir-nos para concretizar regras de conflitos apenas? Sim, não aparecem as normas materiais
para nós qualificarmos.

Precisamos das regras de conflitos em matéria de sucessões – art. 62º do C.C e o Regulamento Europeu
Aplica-se o regulamento à sucessão das pessoas que tenham morrido depois de 17 de Agosto de 2015.

Se tiver morrido antes, aplica-se a regra de conflitos do C.C.

Aplicamos a regra de conflitos interna, mobilizamos o artigo 62º do C.C.

Estamos a aplicar que lei à sucessão?

A lei pessoal, a lei da nacionalidade.

A lei da nacionalidade é a lei francesa; estamos a mandar aplicar a lei 2 que é a lei da nacionalidade, a lei
francesa.

Estamos em estatuto pessoal, a nossa regra de conflitos mandou aplicar lei estrangeira. Se houver reenvio
vai ser o reenvio mais restrito, mais exigente.

Se aplicarmos lei estrangeira temos de colocar o problema do conflito de sistemas. Será que vai haver
conflito de sistemas? Nos mandamos aplicar lei francesa e a lei francesa manda aplicar outra lei?

Temos de procurar na lei francesa a sua regra de conflitos e a sua posição de reenvio

Regra de conflitos: manda aplicar a lei do local da situação do imóvel. Então temos de fazer uma seta para
a lei 3, já que 2 considera competente a lei 3

Sistema de reenvio: devolução simples

De forma esquemática:
DS
L1 à L2 à L3

Pode acontecer a lei brasileira não se considerar competente; a lei brasileira está a remeter para a lei do
domicílio; o senhor reside em Portugal. Então temos:

L1à L2 (DS) à L3

RM

A nossa posição em matéria de reenvio é pragmática. É uma técnica pra alcançar a uniformidade da lei
aplicável.
Pedro Silva e Lara Costa

T3: remete-se só para as normas materiais, desconsiderando as regras de conflitos; aplica-se a lei 1

T2: remeto para a lei que a regra de conflitos estiver a indicar; então aplica-se a lei 1

Temos de perguntar: do ponto de vista da harmonia jurídica internacional faria sentido aceitar o reenvio?
Sim, faz sentido aceitar o reenvio; deixar de aplicar a lei 2, para passar a aplicar a nossa lei.

Se fizemos isso conseguimos uniformidade da lei aplicável. Será que podemos?


Temos de ir ao artigo 18º porque trata-se de um caso de retorno.

Só que temos um problema: o artigo 18º só prevê expressamente as situações de retorno direto; mas a
jurisprudência e doutrina defendem a extensão teleológica do artigo 18º para abranger o retorno
indireto.

Qual a teleologia do artigo 18º? Promover a harmonia jurídica internacional. Desta forma, nos casos de
retorno indireto que conduzam a harmonia jurídica internacional devemos aceitar o reenvio. É o tal inciso
que criamos no artigo 18º do C.C.

Se o DIP da lei 2 devolver direta ou indiretamente para o direito interno português é este o direito
aplicável.

Porque nestes casos o reenvio promove a harmonia jurídica internacional.

O que nos interessa é que em 2 esteja a aplicar-se a lei portuguesa?


Sim, ainda que indiretamente. Logo, preenche-se o requisito do artigo 18º e aceitamos o reenvio;
aplicando lei portuguesa e conseguindo harmonia jurídica internacional

Mas estamos em matéria de estatuto pessoal, ainda não terminou o caso. Em matéria de estatuto pessoal
o nosso legislador é mais exigente para não aplicar a este tipo de matérias uma lei que a pessoa não
conhece.

Estar a aplicar uma lei que as pessoas não conhecem pode ser mais grave do que alcançar harmonia
jurídica internacional

Então só aceito reenvio se as duas leis mais importantes para a pessoa estiverem de acordo quanto à lei
aplicável - harmonia jurídica qualificada

Vamos ao artigo 18º/2 do C.C. que apresenta os requisitos extra. Requisitos de aplicação alternativa
porque basta que um deles se preencha para que o reenvio se mantenha
Quando se tratar de matéria de estatuto pessoal, a lei portuguesa só é aplicável, só mantemos o reenvio
• se o interessado tiver em território português a sua residência habitual (ele reside em Portugal,
logo preenche-se o primeiro requisito, nem precisamos de ver se o segundo se verifica) – o
reenvio mantém-se

Logo, a esta sucessão, aceita-se o reenvio e aplica-se lei portuguesa a esta sucessão.

O legislador só deixa funcionar o reenvio se houver harmonia jurídica qualificada

Vamos ver se de facto é assim:


O país da nacionalidade, França manda aplicar a lei 1
No país da residência também se manda aplicar a lei 1.
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prá tico 21:


A, nacional do Chile, mas residente em Itá lia, quer contrair casamento em Portugal. A‡ face de que lei
se deve aferir a sua capacidade, sabendo que o direito chileno remete para a lei do local de celebraçã o
com referê ncia material e que o direito italiano faz uma referê ncia material à lei da nacionalidade?

Aqui só nos pede para concretizar a regra de conflitos. Depois temos o problema de saber que normas
vamos chamar.

Não está no enunciado a regra de conflitos da matéria que está em causa.

O senhor A quer casar, então precisamos de uma regra de casamentos com conceito quadro de capacidade
nupcial. Temos o artigo 49º do C.C.

Se vier a haver um conflito de sistemas o sistema que deveemos usar é o sistema de reenvio nacional.

Quando usamos regras de conflitos europeias não se aplica o sistema de reenvio.

Temos, no artigo 49º, um sistema de conexão múltipla.

Manda aplicar a lei pessoal de cada nubente. É uma conexão múltipla distributiva- divide a relação
jurídica e manda aplicar uma lei diferente a cada parte da relação jurídica.

Qual a lei que está a ser indicada para o senhor A?

A regra de conflitos está a mandar aplicar a lei da nacionalidade, portanto, estamos a mandar aplicar a lei
chilena

A lei portuguesa remete para a lei chilena

L1 à L2 (chilena/nacionalidade)

Alerta:

’ pode acontecer que ela não se considere competente à luz do seu DIP

’ Estamos a aplicar a lei da nacionalidade: se vier a haver o reenvio vai ser o reenvio mais rigoroso
– interesse em que se aplique à pessoa uma lei que ela conheça bem

Será que a lei chilena entra em conflito connosco? Temos de ir consultar o seu sistema conflitual de DIP

L1 à L2

RM

Nos mandamos aplicar uma lei que não se considera competente. A lei chilena manda aplicar a nossa lei
competente com referência material (apenas está a remeter para as normas materiais por si indicadas)

O nosso sistema de reenvio é um sistema pragmático – espera para ver

Temos de ver se em concreto no nosso caso será ou não útil aceitar o reenvio. Devemos de deixar de
aplicar a lei que estávamos a indicar para aceitar o reenvio?
Pedro Silva e Lara Costa

É um sistema pragmático; temos de ver o que faz o Chile – temos de olhar para a sua regra de conflitos e
para o seu sistema de reenvio

T2: se o caso se colocar em Chile vai aplicar-se a lei 1, que é a lei portuguesa
Perante isto, interessa-nos aceitar o reenvio. Se aceitarmos o reenvio aplicamos lei portuguesa e
alcançamos harmonia jurídica internacional

Será que podemos? Devemos procurar no artigo 18º já que se trata de um caso de retorno

O artigo 18º/1 diz-nos que se aceita o reenvio quando a lei designada pela norma de conflitos portuguesa
estiver a devolver para o direito material português; se em 2 se estiver a aplicar lei portuguesa pode
aceitar-se o reenvio. É isto que acontece, podemos aceitar o reenvio

Contudo estamos em estatuto pessoal e o nosso legislador, nestas situações, não é tão brando. Ao aceitar
o reenvio para a lei portuguesa podemos estar a aceitar o reenvio para um alei que a pessoa não conhece.
Repare-se que ela vive em Itália. Assim, nestas matérias, só se aceita o reenvio se houver harmonia
jurídica qualificada – acordo qualificado entre as duas leis mais importantes para a pessoa –
nacionalidade e residência.

Estando em estatuto pessoal, temos de ir ao artigo 18º 2 se se preenche um dos requisitos adicionais. O
artigo 18º/2 é uma norma de aplicação sucessiva: só se aplica se tivermos aceitado o reenvio com base
no artigo 18´/1 e só se estivermos em matéria de estatuto pessoal. É o caso, nós mandamos aplicar a lei
da nacionalidade

Quais os requisitos adicionais?


Basta um para que o reenvio se aceite

Só se mantêm o reenvio se:


O interessado tiver em território português a sua residência habitual (este senhor reside em Itália, o
primeiro requisito não se preenche)
Se a lei do pais da residência considerar igualmente competente a lei portuguesa

Lei italiana (lei da residência)


Qual é o seu juízo conflitual?

A lei italiana remete para a lei 2 com referência material (posição hostil ao reenvio, remete para as
normas materiais, desconsidera as regras de conflitos).

A lei da residência não está a aplicar lei portuguesa, então, cessamos o reenvio. Deixa de ser aplicável o
artigo 18º e não aceitamos o reenvio.

Então vamos buscar a solução ao artigo 16º que nos manda fazer uma referência material e assim se
fizermos aplicar uma referência material à lei chilena nós aplicamos a lei chilena.

O legislador enlouqueceu?
Mais importante do que a harmonia jurídica internacional é aplicar uma lei que a pessoa conhece.

Vamos verificar então se há harmonia jurídica qualificada


Se o caso se pusesse em 2 aplicava-se a lei
Se o caso se pusesse em Itália aplicava-se a lei 1

Não há harmonia jurídica qualificada e, por isso, cessa o reenvio. Preferimos aplicar uma lei que a pessoa
conhece e que nos entendemos ser a lei da nacionalidade. Á capacidade nupcial é aplicável a lei chilena.
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prá tico 22:


A, de nacionalidade brasileira e residente em França, faleceu em Portugal em Julho de 2015 onde se
discute a sucessã o quanto a alguns bens mó veis.
a) Sabendo que o direito brasileiro remete, nesta maté ria, para a lei do ú ltimo domicı́lio do de cuius e
é hostil ao reenvio, e que a lei francesa considera igualmente competente a lei do seu ú ltimo domicı́lio,
quid iuris?
b) A soluçã o seria a mesma se A tivesse morrido em Setembro de 2017?

Só nos pede a concretização da regra de conflitos ou ainda nos pede a qualificação de normas materiais?
Só nos está a pedir a concretização da regra de conflitos.

Sabemos que nos exames ainda temos o problema da qualificação.

Qual a regra de conflitos da matéria de sucessões?


É o artigo 62º do C.C. em matéria sucessória já existiu europeização do DIP e isso coloca-nos o problema
de saber qual a regra de conflitos que se deve usar. A de fonte interna ou a de fonte europeia?

O regulamento europeu das sucessões aplica-se às pessoas que tenham morrido depois de 7 de Agosto
de 2015. Quem tiver morrido antes aplica-se o sistema conflitual interno.

Ou seja, na alínea a), tendo em conta que ele morreu em Julho de 2015, vamos utilizar a regra de conflitos
de fonte interna

Na alínea b) vamos utilizar a regra de conflitos de fonte europeia

a)
artigo 62º - sucessões – está a mandar aplicar a lei da nacionalidade que é a lei brasileira.

Estamos a mandar aplicar a lei brasileira

E então a lei 1 remete para uma lei estrangeira.

Dois alertas:

• Estamos a aplicar a lei da nacionalidade, logo, estamos em estatuto pessoal. O reenvio será
diferente, pode ter lugar o reconhecimento de direitos adquiridos.

• Estamos a mandar aplicar a lei estrangeira e então podemos ter um conflito de sistemas; será que
no brasil não remetem para outra lei.

A lei brasileira manda aplicar a lei do último domicílio. Então a lei 2 está a remeter para a lei 3 (através
de referência material).

Pode acontecer que essa lei 3 não se considere competente. Mas ela manda aplicar a lei da residência que
é ela própria, então considera-se competente.

Estamos perante um caso de transmissão de competências então a norma é o artigo 17º do C.C.

Devemos ou não aceitar o reenvio?


Temos uma posição pragmática: aceitamos o reenvio se promover a uniformidade da lei aplicável.

Que leis é que os outros sistemas estão a considerar competentes?


Pedro Silva e Lara Costa

T3: aplica-se a lei 3 porque ela se considera competente


T2: aplica-se a lei 3; mas a posição de reenvio é que esta a remeter as normas materiais e a desconsiderar
as regras de conflitos. Aplica-se a lei 3

Do ponto de vista da harmonia jurídica internacional nós queremos aceitar o reenvio, queremos ser
reenviados para outra lei.

Será que podemos?


Temos de ir ver ao artigo 17º/1 do C.C. o pressuposto é que a lei 3 se considere competente.

“Se o DIP da lei brasileira remeter para outra lei e esta se considerar competente” – então o requisito é
que em três se aplique a lei 3. Então preenche-se o requisito do artigo 17º/1 e podemos aceitar o reenvio.
Aplicamos a lei francesa e com isso conseguimos harmonia jurídica internacional. A solução vai ser a
mesma onde é que o problema se coloque.

O caso ainda não terminou, estamos em estatuto pessoal, e o nosso legislador não se basta cm harmonia
jurídica internacional; podemos estar a plicar uma lei que a pessoa não conhece. Então o legislador é
muito mais restrito; só há reenvio se houver harmonia jurídica qualificada.

Temos o artigo 17º/2 que é uma norma de aplicação sucessiva: so aceitamos o reenvio se o tivermos
aceite nos temos do artigo 17º/1

O artigo 17º/2 é diferente do artigo 18º/2

O artigo 17º/2 não são requisitos adicionais.

Ele diz cessa a disposição do direito anterior, o que temos são causas de cessação do reenvio.

Que causas são essas?


Cessa o reenvio:
Se a lei for a lei pessoal, se estivermos em estatuto pessoal
Se o interessado residir habitualmente em território português (ele não reside, reside em França)
Se viver em país cujas normas de conflitos estejam a aplicar a lei da nacionalidade

O pais de residência é França, o país de nacionalidade é o Brasil. Para-se o reenvio se na França estiver a
aplicar a lei 2.

O país 3 está a aplicar a sua própria lei, não está a aplicar a lei da nacionalidade. Não se preenche nenhuma
das causas de cessação de reenvio, então ele mantém-se.

Vamos verificar se há harmonia jurídica qualificada

Em 3 está a aplicar-se a lei

Em 2 está a aplicar-se a lei 3.

Temos harmonia jurídica qualificada.

Resolução do caso: a esta sucessão deve ser aplicada a lei francesa. Alei francesa é a lei reguladora desta
sucessão

b)
Aqui tem de mudar a nossa regra de conflitos. Passa a ser a regra de conflitos do regulamento da União
Europeia.
Pedro Silva e Lara Costa

A regra de conflitos é o art. 21º do Regulamento Europeu das sucessões

A lei aplicável à sucessão é a lei da residência habitual. Este senhor residia em França.

A lei remete para a lei 2 que é a lei francesa

L1 à L2 (francesa)

Pode acontecer que a lei francesa esteja a remeter para outro sistema de reenvio, caso em que termos o
problema de reenvio

Mas estamos perante fonte europeia, então nunca será aplicável o sistema interno de reenvio.

Todos os regulamentos da EU têm o sistema de reenvio mais simples possível: todos eles têm referência
material exceto o regulamento europeu das sucessões, que tem um sistema de reenvio que é copiado pelo
sistema português.

Aqui coloca-se o problema?


O que diz o DIP francês das sucessões?

Os regulamentos têm caracter geral: aplicam-se a todas as pessoas e a todos os Estados membros. Tem
aplicabilidade direta. Caracter geral: ele vigora em todos os estados membros. Portugal e França são
estados membros desde o início.

O regulamento também agora em França, também se manda aplicar a lei da residência. Então a lei 2
considera-se competente

O regulamento consegui eliminar o conflito de sistemas. Passamos a ter um DIP unificado.

O regulamento europeu das sucessões é uma exceção ao caracter geral dos regulamentos. Há três estados
membros que não o aplicam: a Dinamarca, a Holanda e o Reino Unido. Ele vincula 25 estados membros.
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prá tico 23:


A, tailandê s residente na Tanzâ nia, pretende celebrar um contrato de doaçã o de uma pintura situada
no Qué nia, formalizando o negó cio em Madagá scar. Supondo que se coloca, num tribunal portuguê s,
o problema da capacidade negocial de A, que lei é competente para este problema, sabendo que:
• A lei tailandesa manda regular a questã o pela lei do local de celebraçã o, aplicando a teoria da
referê ncia material;
• A lei de madagascarense remete para a lex rei sitae, por referê ncia material;
• A lei queniana regula esta maté ria por aplicaçã o da lex rei sitae.
• A lei da Tanzâ nia manda aplicar a lei do local de celebraçã o, por referê ncia material.

Qual a lei aplicável? Só nos está a pedir a concretização de regras de conflitos, não nos aparecem normas
materiais para nós qualificarmos.

É o artigo 25º sobre a capacidade, a regra de conflitos que vamos utilizar é o artigo 25º cujo conceito
quadro é capacidade.

Vamos ver para onde está a apontar

A lei está a apontar para a lei da nacionalidade. Está a remeter para a lei tailandesa, que é a lei da
nacionalidade

Dois alertas:
Estamos em estatuto pessoa, se houver reenvio será mais rígido; e pode haver reconhecimento de
direitos adquiridos se houver invalidade de negócio jurídico

Mandamos aplicar lei estrangeira: pode acontecer que o DIP tailandês remeta para outra lei. Sendo um
sistema pragmático, podemos aceitar o reenvio se houver uniformidade da lei aplicável.

A lei 2 remete para a lei 3 que é a lei de Madagáscar, que é a lei do local de celebração e remete através
de referência material. Pode acontecer que esta lei três também não se considere competente.

A lei 4 remete para a lei do local da coisa que é a lei do Quénia. Com uma posição de referência material.
Pide acontecer que aquela lei 4 não se considere competente. A lei 4, a lei da situação da coisa está a
remeter para ela própria, a lei 4 está a considerar-se competente.

Temos um conflito de sistemas no modelo de transmissão de competências.

Estamos perante uma transmissão de competências que não está expressamente regulada n artigo 17º,
temos de fazer uma extensão teleológica para que o artigo 17º cumpra a sua teleologia. Aceitar o reenvio
se ele promover a harmonia jurídica internacional.

Exigimos que a lei 4 se considere competente e ainda que a remissão da lei 2 para a lei 3 seja uma posição
de referência global

Em concreto aceitar o reenvio é útil para a harmonia jurídica internacional? Devemos deixar de aplicar a
lei que nos tínhamos designado e ser reenviados para outra lei. Estamos dispostos a isto desde que isso
promova a uniformidade da lei aplicável.

T4: L4
T3: L4
T2: L3
Pedro Silva e Lara Costa

O reenvio não é capaz de promover a harmonia jurídica internacional, não vamos conseguir a
uniformidade da lei aplicável.

Não se preenchem os requisitos do artigo 17º/1: que a lei 4 se considere competente e que a remissão da
lei 2 para a lei 3 seja uma posição de referência global (devolução simples ou dupla devolução). Não é o
caso. Não foi referência global, mas sim referência material.

Então não aplicamos o artigo 17º e vamos buscar o artigo 16º que nos manda fazer uma referência
material. Faça-se uma referência material à lei por nos designada. Então aplicamos a lei 2.

Estamos em estatuto pessoal, estamos a aplicar a lei da nacionalidade. Neste campo o nosso legislador
costuma preocupar-se com a harmonia qualificada – nacionalidade e residência

A harmonia qualificada restringe o reenvio – já vimos casos em que por força da harmonia jurídica
qualificada nós cessamos o reenvio.

Costuma ser um limite ao reenvio.

Neste caso, não faz sentido vermos se o reenvio para com harmonia jurídica qualificada; nós n\ao
aceitamos o reenvio, não faz sentido então ver se há harmonia jurídica qualificada.

O artigo 17º/2 é de aplicação sucessiva: só faz sentido se aceitarmos o artigo 17º/1

Mas vamos ver qual a posição das duas leis mais importantes – a lei da nacionalidade e a lei da residência

Teremos harmonia qualificada?

Vamos verificar.

A lei da nacionalidade é a lei 2 e em 2 está a aplicar-se a lei 3

A lei da residência é a lei 5 e em 5 o que é se está a fazer?

Está a mandar aplicar a lei do local de celebração. O negócio estava a ser celebrado em Madagáscar. A lei
5 está a remeter para a lei 3 através de referência material.

Se o caso se pusesse num tribunal da Tanzânia, aplicava-se a lei 3.

Ora, repare-se que não aceitamos o reenvio porque não promovia a uniformidade da lei aplicável, mas as
leis mais importantes para as pessoas estão de acordo.

Será que faz sentido aceitar o reenvio para a lei 3?


Para que haja harmonia jurídica qualificada, porque as duas leis mais importantes para a pessoa estão de
acordo em aplicar a lei 3.

Será que não devíamos também aplicar a lei 3?

Resposta da posição de Coimbra: sim, devemos aplicar a lei 3, não devemos desconsiderar que há
harmonia jurídica qualificada. A lei da cidadania da pessoa e a lei do local onde mora aplicam a lei 3, não
podemos fazer outra coisa que não aplicar a lei 3.

Fundamento jurídico?
Em matéria de estatuto pessoal o legislador preocupa-se com a harmonia jurídica qualificada. há um
princípio de harmonia jurídica qualificada estruturante que se retira do artigo 17º/2 e do artigo 28º/2
Pedro Silva e Lara Costa

Assim, aplicamos a lei 3 em nome da harmonia jurídica qualificada. Ela aqui fez aceitar o reenvio. Esta
teoria é a teoria da harmonia jurídica qualificada como fundamento autónomo do reenvio. Deve aceitar-
se autonomamente em honra da harmonia qualificada.

A lei aplicável é a lei 3, que é a lei do Madagáscar.

Segundo a escola de Lisboa o sistema devia de ver a harmonia qualificada como fundamento autónomo
do reenvio, mas não temos normas que o prevejam, logo, não o podemos aceitar.

Não estando previsto, não se devendo aceitar, aplicamos a lei 2, que é a lei da nacionalidade.

Caso Prá tico 19:


A, inglê s e residente em Portugal, faleceu em Coimbra em Julho de 2015, aı́ deixando bens imó veis.
Sabendo que a lei inglesa considera competente a lex rei sitae para reger o destino dos bens imó veis
e pratica a dupla devoluçã o, por que lei regeria a sucessã o quanto a esses bens?

Há duas normas de conflitos nesta matéria. Como morreu antes de 17 de Agosto de 2015 vamos aplicar
a regra de conflitos de fonte interna.

O art. 62º do C.C. está a mandar aplicar a lei da nacionalidade, que é a lei inglesa. O estado é o Reino Unido
e lá há vários Estados e há vários sistemas jurídicos diferentes neste Reino Unido.

Portanto, nas aulas teóricas vamos ter de tratar deste problema: que é o problema de não haver
nacionalidade inglesa, mas sim do Reino Unido.

Mas é a lei inglesa, a lei da nacionalidade

Mandamos aplicar a lei da nacionalidade e estamos em reenvio então vamos ter um reenvio que vai ter
preocupação com a harmonia jurídica qualificada. Pode haver reconhecimento de direitos adquiridos

Mandamos aplicar lei estrangeira então pode haver conflito de sistemas.

O DIP inglês manda aplicar a lei da situação da coisa. A lei 2 remete para a lei 1, os bens estão em Portugal.

Precisamos de saber a sua posição em matéria de reenvio. Qual é a sua posição? É o sistema de dupla
devolução (teoria do tribunal estrangeiro) – é a tese do reenvio total – eu faço um reenvio integral, aplico
a mesma exata lei que o país por mim designado aplicaria, quero decidir como decidiria o tribunal
estrangeiro

Temos um conflito de sistemas, a lei por nós indicada não se considera competente?

Aceitaremos o reenvio se houver harmonia jurídica internacional.

Sendo um retorno vamos ter de ter em atenção o artigo 18º do C.C.

T2: está a remeter para a lei portuguesa e faz um reenvio total; eu vou aplicar a mesma exata lei que em
Portugal se considerar competente. Preciso de ver que lei vão aplicar em Portugal para saber que lei
considero competente

T1: qual a lei que se está a aplicar em Portugal? A nossa posição é pragmática, precisamos de saber que
leis os outros estão a aplicar para decidir? E eles querem aplicar a mesma lei que em Portugal estão a
aplicar.
Pedro Silva e Lara Costa

Colocou-se um problema; o nosso sistema está a espera que o sistema inglês decida, e o sistema inglês só
vai decidir depois de saber que solução nós aplicamos; estão os dois sistemas um à espera do outro. O
que fazer nesta situação?

O que quer que nos decidamos fazer a harmonia jurídica internacional estará sempre salvaguardada

Se aplicarmos a lei 2 os ingleses aplicam lei 2


Se aplicarmos lei 1 eles aplicam lei 1

Nota: Inglaterra, Israel e Suíça são os países que têm dupla devolução.

Podemos escolher o problema é saber o que escolher

Proposta de solução do Dr. Ferrer correia


Em matéria de reenvio o nosso sistema tem uma regra, o art. 16º, que tem duas exceções, o artigo 17º e
o artigo 18º. Só vamos para as exceções quando o reenvio for necessário à harmonia jurídica
internacional.

Só se aceita o reenvio quando for necessário à harmonia jurídica internacional e aqui o reenvio não é
necessário à harmonia jurídica internacional. O reenvio não sendo necessário não deve ser aceite. Então
aplicamos a lei 2, fazemos uma referência material e aplicamos a lei 2. Os ingleses fazem o mesmo que
nós.

A lei 2 é a lei da nacionalidade, é bom aplicarmos porque é a lei que nos tínhamos escolhido como mais
importante. É a lei mais próxima da situação

Proposta do Dr. Batista Machado


O sistema de reenvio não tem regras nem exceções; não há regras nem exceções. O que temos é casos de
aceitação do reenvio (art. 17º e 18º) e casos de não aceitação do reenvio (art. 16º do CC)

Este caso é um não previsto. Se é um caso não previsto e se nos podemos aplicar a lei que nós quisermos
– o que quer que decidamos, os ingleses vão aplicar a mesma lei que nos indicarmos – então devemos
fazer funcionar um concreto princípio de DIP que só é realizado quando os demais princípios estiverem
salvaguardados.

Estamos a falar do princípio da boa administração da justiça – devemos aplicar a lei que o juiz melhor
conheça. A harmonia internacional está salvaguardada então podemos escolher a lei que o juiz conhece
melhor, e essa lei é a lei portuguesa. Então devemos escolher a lei que nós conhecemos melhor. Ao
aplicarmos lei portuguesa os ingleses também o vão fazer. Então escolha-se aceitar o reenvio, escolha-se
aceitar o retorno para a lei portuguesa.

Se aceitarmos o reenvio em estatuto pessoal precisamos de ver se eles se mantêm de acordo com os
requisitos do art. 18º/2 (basta um)
Se o interessado residir em Portugal. Preenche-se o requisito adicional. Podemos

Solução a dar ao caso:


Segundo Ferrer Correia aplica-se lei inglesa
Segundo Batista Machado aplica-se a lei portuguesa.

NOTA: caso prático 26 não se faz!


Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prático 27:


A, cidadã̃ francesa e residente em Itália, faleceu intestada em Portugal, sítio onde passava fé rias,
deixando um património composto exclusivamente por bens imóveis situados no Paraguai.
1. Supondo que A faleceu a 1 de Agosto de 2015, qual a lei competente para reger a sua sucessã o,
sabendo que:
- o direito francês aplica à sucessã o dos bens imó veis a lex rei sitae e pratica a devoluçã o simples;
- o direito italiano manda aplicar à sucessã o dos bens imó veis a lex patriae e é hostil ao reenvio;
- A lei paraguaia, que em maté ria de reenvio pratica a referê ncia material, aplica à sucessã o a lex
domicilii, salvo quanto aos bens imó veis situados no Paraguai, caso em que considera competente a
lex rei sitae.
2. Suponha agora que A faleceu a 1 de Agosto de 2017. Qual a lei competente para a sucessã o?

Temos de concretizar as várias regras de conflitos e a seguir a qualificação das normas materiais OU este
caso é um caso simplificado (não nos aparecem normas materiais para qualificar).

Só nos pede para concretizar as regras de conflitos de sucessões. Na vida prática temos um segundo
problema.

Precisamos de uma regra de conflitos cujo conceito quadro seja sucessão.

Não será o regulamento europeu das sucessões; o regulamento europeu das sucessões aplica-se as
pessoas que tenham falecido depois de 17 de agosto de 2015

Se houver reenvio vai ser o sistema de reenvio do C.C.

Vamos utilizar a regra de conflitos do conceito quadro sucessões, art. 62º que nos está a mandar aplicar
a lei da nacionalidade (31º).

Dizia que a lei da nacionalidade era francesa.

Temos de estar em alerta.

Estamos em estatuto pessoal, mandamos aplicar a lei da nacionalidade. Então será um reenvio mais
exigente, só vai aceitar o reenvio se houver harmonia jurídica qualificada; estamos no sistema rigoroso
do reenvio.

Pode vir a ver reconhecimento de direitos adquiridos;

Pode acontecer que ela não se considere competente, que ela entre em conflito connosco.

Temos de ver a regra de conflitos estrangeira; conhecimento oficioso para o juiz. A regra de conflitos está
lá no enunciado.

Remete-se para o local da situação dos imoveis. Os imoveis estão no Paraguai.

Então a lei 2, francesa, remete para a lei do Paraguai

L1 à L2 (francesa/nacionalidade); o seu sistema de reenvio é devolução simples à L3 (lei da situação


da coisa) – considera-se competente
Pedro Silva e Lara Costa

Devolução simples é uma posição favorável ao reenvio; não aplicamos necessariamente a lei do Paraguai,
mas a lei da regra de conflitos que a lei do Paraguai estiver a indicar. Pode acontecer que a lei do Paraguai
não se considere competente; portanto temos de ir ver. Ela considera-se competente

Ela remete para a lei do domicílio, mas quanto aos imoveis que estão situados no Paraguai ela remete
para si própria (temos de ler bem a regra de conflitos).

A lei 3 considera-se competente.

Se for um retorno a norma de aceitação do reenvio é o art. 18º. Mas isto é uma transmissão de
competências e, por isso, aplicamos o art. 17º do C.C.

A nossa posição é uma posição pragmática; precisamos de saber se este reenvio conduz à uniformidade
da lei aplicável. Queremos a estabilidade das relações jurídicas. Precisamos de ver em concreto se o
reenvio promoveria a estabilidade das relações internacionais.

Só vamos decidir depois de saber que leis os outros estão a aplicar:

T3: se a lei do Paraguai se considera competente, o juiz aplica a lei 3.

T2: se o caso se pusesse em França, aplicar-se-ia a lei 3; não é necessariamente a lei 3, mas a lei que a
regra de conflitos estiver a indicar. Aplicar-se-ia a lei 3.

Com este panorama, interessa-nos aceitar o reenvio. Alcançamos a tal estabilidade das relações
internacionais. A pergunta que se coloca é se podemos?

Artigo 17º: se o DIP da lei 2 remeter para uma terceira lei e esta se considerar competente é esta a lei
aplicável. É o caso, a lei 3 considera-se competente. O que interessa é que em 3 se aplique a lei 3 e então
verificamos que se preenche e aplicamos a lei 3.

Ainda não terminou o caso. Estamos em estatuto pessoal; estando em estatuto pessoal, o nosso legislador
é muito mais exigente; a nacionalidade desta senhora é francesa e reside em Itália e estamos a aplicar lei
paraguaia. Ela pode não conhecê-la. O nosso legislador tem cuidados nestas matérias.

Nós entendemos que a melhor lei é a lei da nacionalidade. Aceitamos uma possível lei que a pessoa não
conhece?

Para aceitar aplicar uma lei que a pessoa não conhece eu vou exigir harmonia jurídica qualificada: as duas
leis mais importantes para a pessoa – nacionalidade e residência – tem de aceitar a aplicação da lei 3.

O art. 17º tem o nº2 que é uma aplicação de norma sucessiva; aceitamos o reenvio nos termos do 17º/1
e estamos em estatuto pessoal então temos de ver se o reenvio para.

O art. 17º/2 tem causas de cessação do reenvio.

O art. 17º/2 é uma norma de aplicação sucessiva: só aplicamos, vendo se o reenvio pára, se aceitámos o
reenvio pelo n.º 1 – tem causas de cessação do reenvio.

A senhora A não reside em Portugal, logo, não cessa por aqui o reenvio (a primeira causa de cessação do
reenvio não se verifica).

O país da residência está a mandar aplicar a lei da nacionalidade? Temos de saber qual a sua regra de
conflitos e posição quanto ao reenvio.
Pedro Silva e Lara Costa

T.RES. (L4)(ITA): manda aplicar a lei francesa (L2), e é hostil ao reenvio (referência material), logo, aplica
a lei francesa, desconsiderando as suas regras de conflitos (normas conflituais).

Assim, verifica-se a causa de cessação do reenvio – se se pára o reenvio, deixa-se de se aplicar o art. 17º,
e vamos para o art. 16º - rejeitamos o reenvio, aplicando a L2.

Mas assim estragamos a harmonia jurídica internacional.

T.NAC. (L2): L3
T. RES. (L4): L2

Não temos harmonia jurídica qualificada – as duas leis mais importantes para a pessoa não estão de
acordo; logo, paramos o reenvio, regressando à aplicação do art. 16.
Assim, é a lei da nacionalidade, a lei francesa, que vai dizer quem são os herdeiros da senhora A.

Mas os filhos desta senhora teriam muita dificuldade em fazer valer os seus direitos no Paraguai, que não
considera França o país competente para regular esta situação.
Estamos a criar um risco: de não reconhecimento da nossa decisão no país que interessava aos herdeiros
ver a decisão reconhecida – pois é lá que estão os bens.
Nós escolhemos a lei francesa, porque era a lei que a pessoa conhecia bem; mas estamos a correr o risco
de essa decisão judicial não valer no país onde as partes querem que a decisão valha, no país de
localização dos bens.

Isto tem a ver com o princípio da maior proximidade


Tem duas aceções (material, que deixamos de aplicar a lei que queríamos se a lei da situação da coisa tem
uma aceção material; e conflitual, deixamos de aplicar a lei que tínhamos escolhido para aplicar a lei da
situação dos imóveis porque ela se considera competente).
Este princípio, como princípio geral, não vigora entre nós: vigora a aceção conflitual.

Temos um afloramento deste princípio no sistema do reenvio.

Art. 17º/3: vamos deixar de aplicar a lei que tínhamos escolhido, para aplicar a lei da situação dos imóveis
porque ela se considera competente. Esta é uma norma de aplicação sucessiva (temos de ter verificado
os números 1 e 2 para vir a este número – para reativar o reenvio).
Tem 3 requisitos cumulativos:
- Estarmos numa das matérias elencadas
Neste caso verifica-se (sucessão por morte)
- A lei nacional (neste caso, francesa) devolve para a lei da situação dos bens imóveis
Verifica-se, pois a lei francesa está a mandar aplicar a lei paraguaia – a lei, neste caso, da situação dos
bens
- A lei da situação dos bens considerar-se competente
Verifica-se: a lei paraguaia está a aplicar-se

Assim, reativamos o reenvio, passando a aplicar a lei 3 (lei paraguaia).

Porquê?
A nossa preocupação em aplicar uma lei que a pessoa conhecia estava a redundar no não reconhecimento
da nossa decisão, logo, não nos servia de nada aplicar uma lei que a pessoa conhecia bem para depois não
vir a ser reconhecida, não vir a ser aceite a decisão no país que interessava reconhecer.
Tem a ver com o princípio da efetividade: que a nossa decisão produza efeitos úteis; segue-se o princípio
da efetividade em nome do princípio da maior proximidade.

Assim, não foi pela harmonia jurídica internacional que aceitámos o reenvio neste caso.
Mas sim o princípio da efetividade ou da maior proximidade.
Pedro Silva e Lara Costa

No estrito caso do n.º 3 do art. 17º temos um fundamento de aceitação diferente do reenvio que não a
harmonia jurídica internacional: princípio da efetividade das decisões jurídicas (ou da maior
proximidade).

Ou seja, solução da alínea 1: aplica-se a lei 3, que é a lei paraguaia.

2. O que muda?
A regra de conflitos: deixa de ser o art. 62º do CC, mas o art. 21º do Regulamento Europeu das Sucessões,
que diz que, em matéria de sucessão por morte, aplica-se a lei da residência do de cujus ao tempo da
morte. Neste caso, a lei italiana.

Pode haver o risco de, ao indicar para uma lei estrangeira, que esse país mande aplicar outra lei diferente.

Mas Itália faz parte da UE, logo, a regra de conflitos de Itália é a mesma, é o Regulamento Europeu. Assim,
considera-se competente.

Não temos conflito de sistemas nem reenvio. É esta a ideia da unificação do DIP, dos Regulamentos: não
se colocarem problemas de conflitos de sistemas, pois a regra de conflitos é a mesma em vários países.

L1 à L2cc.
Pedro Silva e Lara Costa

Como é que funciona a harmonia qualificada?


Acordo entre a lei da residência e lei da nacionalidade – nas matérias de estatuto pessoal se esse acordo
não existir cessa-se o reenvio – dizem-nos isto as normas do art. 17º/2 e do art. 18º/2

Estas normas estão orientadas para o mesmo objetivo, mas são diferentes. O art. 17º/2 tem duas causas
de cessação; o art. 18º/2 tem requisitos adicionais.

Porque é que estas normas são diferentes?

O art. 18º, constituído para casos de retorno.

L1 à L2

RM

17º pra casos de transmissão de competências

L1 à L2 (NAC) com RM à L3 (local de celebração)

Faz ou não sentido aceitarmos o reenvio nestes dois casos.

O fundamento de reenvio do nosso sistema é harmonia jurídica internacional


18º
T2: L1
T1: L1 (fundamento jurídico = art. 18º/1, que a lei 2 esteja a mandar aplicar o direito interno português,
então podemos, faz sentido).

17º
T3: L3 (considera-se competente)
T2: L3 (porque está a fazer uma referência material à lei 3, desconsidera as regras de conflitos)
T1: do ponto de vista da harmonia internacional faz sentido deixar de aplicar a lei que escolhemos e
aplicar outra. O requisito do art. 17º/1 é que a lei 3 se considere competente.

Dois casos iguais que o nosso legislador resolve da mesma forma

Mas estamos em estatuto pessoal; e se esta pessoa não conhecia a lei do local da celebração? Tem de
haver harmonia jurídica qualificada

O nosso sistema quando não há harmonia qualificada cessa o reenvio e aplica a lei que tinha escolhido.

18º
Qual é a lei da nacionalidade? É a lei 2 que está a mandar aplicar a lei 1. A lei da residência está a mandar
aplicar-se a si própria. Não temos harmonia qualificada, por isso, estamos à espera que cesse o reenvio

Vamos ver se o art. 18º/2 para. Ele funciona com requisitos adicionais. O reenvio só se mantem se:
• o interessado residir em Portugal (não se preenche)
• se a lei do país da residência estiver a mandar aplicar a lei portuguesa (não se preenche)

Não há reenvio, cessamos o reenvio e aplicamos a lei 2.

17º
A lei da nacionalidade é que está a mandar aplicar a lei 3
A lei da residência considera-se competente. Manda aplicar-se a si própria.
Pedro Silva e Lara Costa

Não há harmonia qualificada. Alguma delas faz parar o reenvio, como nós estamos à espera.

Se o interessado residir em Portugal (ele residia em 4, não se preenche)


Se o país da residência considerar competente a lei 2 (não é o caso)

Não paro o reenvio. O artigo 17º/2 não nos manda parar o reenvio. Ou seja, o reenvio vai manter-se na
matéria de estatuto pessoal. E não havia harmonia qualificada.

Há uma diferença de formulação do art. 17º/2 e do art. 18º/2.

Porque é que. Reenvio do 17º neste caso funciona sem haver harmonia qualificada. Enquanto o art. 18º/2
nunca deixe que tal se verifique

No caso do art. 18º nós podemos ser mais exigentes e podemos impor a nossa vontade contra a lei
aplicável. A nossa vontade era a aplicação da lei da nacionalidade. Podemos impor a aplicação da lei 2 e
parar o reenvio. Porque? Porque a ordem jurídica portuguesa, neste caso, de certeza, que tem uma ligação
séria com o caso. A lei da nacionalidade, que é a mais importante, esta a mandar aplicar a lei portuguesa,
então, nos somos importantes neste caso; pare-se o reenvio e aplique -se a lei da nacionalidade

No caso do art. 17º ninguém está a mandar aplicar a lei portuguesa, por isso, não somos assim tão
importantes. O art. 18º é mais exigente porque a lei portuguesa é uma lei conectada com o caso. Aqui não,
a lei portuguesa não é conectada com o caso

Dr. Batista Machado


O 18 não é nada mais exigente que o 17. O 18º é o sistema normal porque só aceitamos quando houver
quando houver harmonia jurídica qualificada, o art. 18º é normal, não tem nada de especial, é igual ao
que nós estávamos à espera. A especialidade está no art. 17º já que deixou funcionar o reenvio sem haver
harmonia jurídica qualificada. É o art. 17º que é menos exigente do que o art. 18º. O artigo 17º deixou
funcionar o reenvio sem haver harmonia jurídica qualificada. Que explicações é que existem?

A lei portuguesa, no caso do art. 17º, não tem qualquer ligação ao caso, não tem autoridade. Ninguém
quer saber sobre o nosso juízo conflitual, então temos de ser menos exigentes.

É esta a diferença entre o art. 17º e o art. 18º.

(...)
Pedro Silva e Lara Costa

Caso Prá tico 29:


A e B, ingleses e residentes em Londres, querem casar no Canadá paı́s onde, para o efeito, celebraram
uma convençã o antenupcial que é vá lida face ao direito inglê s, mas nula face ao direito canadiano, por
incapacidade para a sua celebraçã o.
Quid iuris sabendo que o Direito Internacional Privado inglê s e canadiano regem a validade das
convençõ es antenupciais pela lei do lugar da celebraçã o e que o direito inglê s pratica a dupla
devoluçã o?

Pergunta-se aual a lei aplicável para celebrar a convenção antenupcial? Não, ela já foi celebrada! É para
reconhecer!

Em que situações é que reconhecemos em Portugal negócios jurídicos estrangeiros? Reconhecemos esse
negócio se ele for válido para a lei competente. O reconhecimento depende da lei aplicável; só é valido se
for válido para a lei aplicável.

Sei isto através da regra de conflitos.

A matéria em causa é a capacidade para a convenção antenupcial. Temos, nesta meteria, o art. 49º do C.C.

Temos de determinar a lei competente porque é ela que nos diz se é uma situação válida ou não é.

Determinamos a lei aplicável para podermos reconhecer.

O artigo 49º tem um sistema de conexão especial: conexão múltipla distributiva; uma lei para cada parte
da relação jurídica. São os dois ingleses, então, é a mesma lei para os dois.

Nós mandamos aplicar a lei inglesa, mandamos aplicar a lei 2 que é a lei da nacionalidade. Isto é
importante porque então estamos em estatuto pessoal; em matéria de reenvio vai ser mais exigente e
pode haver reconhecimento de direitos adquiridos.

Mas nós temos de ver o DIP inglês porque pode não se considerar competente; ela remete para a lei do
local de celebração, a convenção foi celebrada no Canadá.

Então, a lei 2 manda aplicar a lei 3 que é a lei do local de celebração. Mas também precisamos de saber a
sua posição em matéria de reenvio que é uma posição de dupla devolução, posição favorável ao reenvio.

Mas também precisamos do DIP do Canadá e verificamos que se considera competente, já que remete
para a lei do local de celebração.

Coloca-se um problema de conflito de sistemas na modalidade de transmissão de competências. Isto é


relevante porque se houver reenvio vai estar em causa o ar.t 17º e não o art. 18º.

A nossa posição é pragmática, temos de ver primeiro o que os outros vão fazer.

T3: aplicam a lei 3 já que consideram competente


T2: aplica-se a lei 3

Do ponto de vista da harmonia internacional interessa aceitar o reenvio.

Será que podemos?


Pedro Silva e Lara Costa

Temos de ir ver ao art. 17º (caso de transmissão de competências). O requisito é que a lei 3 se considere
competente. Ela considera-se, por isso, aceitamos o reenvio.

Mas, repare-se, que aceitamos o reenvio em matéria de estatuto pessoal; estes senhores são ingleses e
residem em Londres e estamos a aplicar a lei do Canadá. Será que devemos aplicar esta lei que eles não
conhecem? Nestas matérias o legislador é mais exigente.

Temos de ver se este reenvio cessa nos termos do art. 17º/2.


A 1ª causa de cessação do reenvio é os interessados residirem em Portugal (não se verifica, pois, residem
em Londres)
A 2ª causa é que cessa se o país da residência estiver a aplicar a lei da nacionalidade (não se preenche)

Há harmonia qualificada?
Sim, estão de acordo, percebe-se porque é que o legislador deixou funcionar o reenvio.

A lei 3 diz que é nula. O DIP materializou-se e o resultado material interessa.

Por curiosidade vamos ver o que as outras leis dizem sobre a validade do negócio.

A lei 2 diz que o negócio é válido.

A lei 1 diz que o negócio é inválido.

Solução a dar ao caso: a convenção é nula

A nossa regra de conflitos manda aplicar a lei 2 e se a aplicássemos chegávamos à conclusão que o negócio
era válido.

Foi por causa do reenvio que tornamos a convenção nula. Isto pode ser mau para as partes porque elas
poderiam contar com a validade da celebração.

A nossa lei dizia que tinha de se respeitar a lei 2 e para a lei 2 era válida. Agora aceitamos o reenvio e isto
resulta na invalidade do negócio.

Há o princípio do favor negotti: quando as partes tenham expetativas na validade do negócio o negócio
deve ser considerado válido.

O princípio do favor negotti é, por um lado, um limite do reenvio.

Vai fazer cessar o reenvio quando estejamos perante um reenvio que tenha feito cessar a validade do
negócio

Este princípio é um limite ao reenvio (19º): pára o reenvio quando ele prejudicar a validade do negócio,
voltando a vigorar o art. 16º (a nossa posição quanto ao reenvio passa a ser a referência material).

1º requisito: quando o reenvio considerar o negócio inválido ou ineficaz (preenche-se)

2º requisito: que o negócio seria válido ou eficaz segundo a lei que seria aplicável se tivéssemos ido pelo
art. 16º (preenche-se, pois, a lei inglesa considerava o negócio válido)

Cumprindo-se os requisitos deste artigo, cessa o reenvio e aplicamos a lei 2, sendo o negócio válido e
sendo reconhecido em Portugal.

Para a Escola de Lisboa é só isto, o art. 19º funciona apenas com estes dois requisitos.
Pedro Silva e Lara Costa

Para nós não é assim tão simples.


Os Doutores MOURA RAMOS, BAPTISTA MACHADO e FERRER CORREIA vêm dizer que não basta isto,
que tem outro efeito.
O art. 18º vem prejudicar o princípio supremo do DIP: a Harmonia Jurídica Internacional. (...)
De facto, isto faz sentido, mas só se houver expectativas, e só se houver expectativas das partes.

A escola de Coimbra acrescenta 2 requisitos:


• So vale em negócios já celebrados, não funciona para negócios a celebrar. Este requisito adicional
existe porque as partes só têm expetativas se o negócio já estiver celebrado. Se não tiver, este
artigo não deve estragar a harmonia. Este requisito adicional verifica-se. Eles já celebraram a
convenção internacional
• Nós vamos prejudicar a harmonia internacional e se deixarmos funcionar a lei 2 isto só faz sentido
se as partes contassem objetivamente com a lei 2. Em que circunstancias as partes podiam ter
uma expetativa de ver aplicada a lei 2? Nós é que estamos a aplicar a lei 2, mas eles moram em
Inglaterra e residem em Inglaterra e celebraram o negócio no Canadá que mandam aplicar a lei
3. Eles só teriam expetativas se tivessem visto a nossa regra de conflitos; só se eles tivessem ido
vero art. 49º porque a nossa lei é a única. Se no momento da constituição do negócio havia alguma
ligação à ordem jurídica portuguesa. Se no momento da constituição do negócio havia uma
qualquer ligação relevante com a ordem jurídica portuguesa presumimos que eles tinham essa
expetativa. Se não houver presumimos que não há essa expetativa. Só quando as partes tenham
verdadeiras expetativas na aplicação da lei 2 o que nos podemos presumir se no momento da
celebração do negócio havia uma ligação relevante com a ordem jurídica portuguesa.

Vamos ao caso e vemos que não há nenhuma ligação. Não havendo nenhuma ligação, segundo a escola de
Coimbra, não funciona o art. 19º - o negócio não é reconhecido.

Segundo a escola de lisboa não. Não se reconhecem estes requisitos, o negócio seria inválido.

Princípios jurídicos que sustentam o reenvio:


• Harmonia jurídica internacional
• Harmonia jurídica qualificada no estatuto pessoal (que pode funcionar como fundamento
autónomo ou imite)
• Princípio da maior proximidade
• Princípio do favor negotti (o art. 19º cessa o reenvio, este princípio é um limite ao reenvio; mas
este princípio pode também ser um fundamento ao reenvio: há duas regras de conflitos assim: o
art. 36º/2 e o art. 65º/1/in fine)

Caso Prá tico 31:


A e B, portugueses, casaram no Brasil em 1990 sem processo preliminarde publicaçõ es e aı́
continuaram a residir até Janeiro de 2017, altura em que vieram de fé rias a Portugal e onde A
faleceria de acidente. Discute-se nos tribunais portugueses a validade de uma doaçã o feita no Brasil
por A a B em 2012. Os herdeiros testamentá rios de A entendem que a doaçã o é nula face aos artigos
53.o, 1720.o e 1762.o do Có digo Civil. B invoca que possui os bens como sendo seus desde 2012 e
que face à lei brasileira, onde as relaçõ es entre os cô njuges sã o reguladas pela lei do domicı́lio
comum, o negó cio jurı́dico é vá lido. Quid iuris?

Estamos no domínio do DIP? É uma relação plurilocalizada, tem contacto com o ordenamento português
e o brasileiro.

É uma situação a constituir ou a reconhecer? É uma situação jurídica a reconhecer (é a doação do senhor
A quando era vivo que fez à senhora B)

Reconhecemos que são válidas para a lei competente, através da regra de conflitos.
Pedro Silva e Lara Costa

Art. 53º do C.C.

Regime de bens do casamento – está a mandar aplicar a lei da nacionalidade comum dos nubentes ao
tempo da celebração do casamento. São portugueses.

Então, a lei 1 considera-se competente. Em matéria de regime de bens é aplicável a portuguesa.

Não temos de ver se há um conflito de sistemas. A lei portuguesa é a competente.

Que normas é que aplicamos? As que pelo seu conteúdo e função sejam relativas ao regime de bens.

• Art. 1720º regime imperativo da separação de bens


• Art. 1762º quando vigora o regime imperativo da separação de bens são nulas as doações entre
os cônjuges

Isto permitiria subverter a finalidade do regime de bens

Vamos qualificar estas normas: são normas sobre regime de bens

O art. 53º manda aplicar a lei portuguesa. Em matéria de regimes de bens aplicamos lei portuguesa então
estas normas aplicam-se. Logo, a doação é nula.

Era uma situação a reconhecer e o resultado foi a nulidade.

Quando nos temos uma situação a reconhecer e chegamos a uma situação de não reconhecimento
devemos lembrarmo-nos do Princípio do favor negotti.

Nós já conhecemos um expediente do favor negotti que é o art. 19º, mas não faz sentido aceitá-lo aqui (é
para parar).

Será que o art. 19º esgota o favor negotti ou está previsto noutro instituto?

Nos estamos a aplicar a lei portuguesa porque é a lei da nacionalidade, mas eles residiam no Brasil.

Lá no Brasil, eles aplicam a lei do domicílio. Então a lei brasileira também se considera competente.

Nós temos desarmonia jurídica internacional por causa de um conflito positivo de sistemas.

Não se trata de um conflito negativo; aqui não faz sentido reenvio.

Nós mandamos aplicar a nossa lei; no estrangeiro mandam aplicar a deles. Isto deve ser relevante. O
Brasil tem grande relação com o caso. O nosso sistema costuma no estatuto pessoal ser sensível à
residência. Será que isto deve ser relevante?

A lei da residência é igualmente importante. Estamos perante o problema do reconhecimento dos direitos
adquiridos (art. 31º/2 do C.C.). o artigo 31º/2 vai permitir-nos derrogar a opção pela nacionalidade em
nome do favor negotti, das expetativas das partes.
Pedro Silva e Lara Costa

Contratos que colocam problemas de parte especial

CASO PRA‹ TICO 41:


A, português, residente em Portugal, deslocou-se a Cabo Verde em Dezembro de 2012 para participar
na instalaçã o de uma unidade hoteleira. Durante a sua estadia, contratou B, portuguesa e residente
em Portugal, para tomar conta das crianças. Devido a um motivo urgente regressou subitamente a
Portugal em 2014, nã o tendo pago os últimos dois meses de salá rio a B. Hoje, B intenta em Portugal
uma acçã o de condenaçã o contra A, exigindo o pagamento da dı́vida e respectivos juros. A invoca a
prescriçã o do cré dito salarial face ao direito portuguê s – artigo 337.o do Có digo do Trabalho (igual ao
entã o vigente art. 38.o da LCT). B opõ e a imprescritibilidade dos cré ditos salariais no direito cabo-
verdiano. Quid iuris?

Diz a lei portuguesa que o crédito salarial já prescreveu. Mas em Cabo Verde os créditos salariais são
imprescritíveis. Quid iuris a este caso verídico.

Isto são normas sobre prescrição e, por isso, importa saber qual a regra de conflitos em matéria de
prescrição.

Temos duas fontes de DIP nesta matéria. Temos por um lado o C.C.. Nele temos a regra de prescrição do
art. 40º. Mas, por outro lado, temos o Regulamento Roma I e o seu respetivo art. 12º onde encontramos
o âmbito da lei aplicável ao contrato. Temos duas regras de conflitos. O regime do C.C. e o regime do
Regulamento Roma I

Qual a fonte que nos vai ajudar na solução para este caso?
Tentamos aplicar o Regulamento porque é mais recente e se tiver dentro do seu âmbito de aplicação
prima sobre o direito interno. Mas se o regulamento não for aplicável vamos par ao regime do C.C.

O regulamento tem quantos requisitos de aplicabilidade? Três


So se aplica a certos negócios jurídicos – só se aplica aos contratos (negócios jurídicos bilaterais). Se for
um negócio jurídico unilateral vamos diretamente para o C.C.

No caso sob apreciação estamos perante um contrato

O segundo requisito é o requisito temporal. O Regulamento, nos termos do art. 29º, é aplicável aos
contratos celebrados após 17 de dezembro de 2009.

Neste caso, importa então saber a data de produção do contrato. Este contrato foi celebrado em 2012.
2012 é depois da data de aplicação do Regulamento então pode aplicar-se

O terceiro requisito é que não pode tratar-se de um contrato em que o regulamento exclua o seu âmbito
de aplicação.

Vamos ao art. 1º para descobrir os contratos que não são regulados pelo Regulamento. Verificamos que
não é excluído e então verifica-se que se cumpre o âmbito de aplicação do Regulamento.

Como é que funciona o regime do Regulamento Roma I

Temos regras gerais que são o art. 3º e o art. 4º.

A lei aplicável ao contrato é a lei escolhida pelas partes, a isto se dá o nome de autonomia conflitual, é
esta a regra geral do regulamento. Esta solução é idêntica à do art. 41º do C.C. pois o C.C. tem uma
autonomia conflitual menos generosa do que as regras do Regulamento nº1
Pedro Silva e Lara Costa

O regulamento permite que as partes escolham a lei aplicável hoje e que a mudem amanha; o C.C. não
O regulamento permite que as partes escolham a lei aplicável a uma parte do contrato e a outra parte
outra lei aplicável; o C.C. não

A grande diferença é que o C.C. tem autonomia conflitual limitada: apenas permite a escolha de leis que
tenham um contacto com o caso; o Regulamento permite a escolha de quaisquer leis. Escolhas tácitas são
permitidas tanto no regulamento como no C.C.

No nosso caso as partes não escolheram (nem expressa nem tacitamente) a lei aplicável. Não á escolha
da lei aplicável; não a havendo temos de ir ver o seu sistema de conexão múltipla subsidiária.

O regulamento dá elementos de conexão consoante o tipo de contrato.

O Regulamento tem regras de conflito especiais para contratos que tenham uma parte mais fraca; tem 4
regras especiais.
• Tem o art. 5º para o contrato de transportes
• Tem o art. 6º para os contratos celebrados por consumidores
• Tem o art. 7º para os contratos de seguros
• Tem o art. 8º para os contratos de trabalho (é o caso)

Porque é que não se deixa funcionar o regime geral?


Para evitar que o empregador imponha ao trabalhador uma lei que não lhe seja favorável.

É verdade que as partes podem escolher a lei aplicável, mas essa escolha não pode diminuir a proteção
do trabalhador em relação à lei aplicável na falta de escolha. mesmo que as partes tenham escolhido uma
lei aplicável ao contrato vamos ter de determinar a lei que seria aplicada no caso de falta de escolha.
Porque só vamos atender à escolha da lei na parte que não diminuir a proteção que a lei aplicável na falta
de escolha dava ao trabalhador. So vamos aplicar a lei escolhida na parte em que ele seja mais favorável
ao trabalhador.

Nas partes em que seja menos favorável ao trabalhador aplicamos a lei que seria aplicada na falta de
escolha.

Se em matéria de remuneração a lei escolhida tem tabelas remuneratórias de 2000 euros. Na lei que se aplicaria s
enão houvesse escolha paga-se 1800 euros. Neste caso aplicamos a lei escolhida pelas partes na medida em que ela
é mais favorável ao trabalhador.

Aqui não houve escolha (no nosso caso). Para isso temos o art. 8º/2. Será então aplicável a lei do local de
trabalho. Onde é que a senhora trabalhava? Não temos dados sobre isso (então colocávamos as duas
hipóteses)

Mas no caso verídico, a senhora tinha sido recrutada para trabalhar em Cabo Verde. Logo a dívida é
imprescritível. Mas a mão é portuguesa, o pai também (e ambos residentes em Portugal); os filhos são
portugueses, e curiosamente celebraram o contrato em Portugal (no caso verídico este último aspeto)

Parece que o DIP está a funcionar mal. A lei cabo Verdiana parece não ser a mais próxima.

Houve uma contrarrevolução norte americana e o DIP europeu flexibilizou-se. O art. 8º/4 absorve esta
tendência. Se repararmos no art. 8º/4 vemos lá presente uma cláusula de exceção.

Se o juiz entender que há uma outra lei com uma ligação mais forte então é aplicada a lei que o juiz
entender que tem uma ligação mais forte.

Neste caso será uma cláusula exceção material ou formal? É uma clausula de exceção formal.
Pedro Silva e Lara Costa

É aberta ou fechada? É o legislador que diz ou é o julgador que vê? É o juiz que vê então é aberta.

Deve funcionar-se esta cláusula de exceção neste caso?


O Tribunal da Relação de lisboa fez funcionar a cláusula de exceção. Apesar de o art. 8º/2 determinar a
aplicação da lei cabo-verdiana, o juiz entendeu que neste caso concreto consegui ver que há uma outra
lei que tem ligação mais forte. Seguindo a clausula de exceção aplica-se a lei portuguesa logo a divida já
prescreveu.

Pergunta: o regulamento está a mandar aplicar a lei de Cabo Verde, mas a lei de Cabo Verde (C.C.) manda
aplicar a lei da residência (lei portuguesa). Devemos ou não aceitar este reenvio.

Mandamos aplicar lei de Cabo Verde, mas ela reenvia para nós.

Estamos a utilizar regras de conflitos de fonte internacional. Então não se aplica o sistema de reenvio
interno.

O nosso sistema de reenvio não é para as matérias de fonte europeia

Atentar no art. 20º do Regulamento que nos dá a posição desse regulamento em matéria de reenvio
“Exclusão do reenvio” – referência material. Quando o regulamento manda aplicar uma lei é só para
aplicar as suas normas materiais. Não as suas normas conflituais.

Nota final: então o regulamento manda aplicar uma lei que não é de um Estado Membro. As normas d
regulamento só se aplicam a países estados membros? Não é só para estados membros, tem aplicação
universal. Substitui o C.C. totalmente dentro do seu âmbito de aplicação. Passou a ser o nosso DIP dos
contratos.

Ou se mobilizava a clausula de exceção e aplicava-se lei portuguesa; ou não se aplicava clausula de


exceção e aplicava-se lei Cabo Verdiana.

CASO PRA‹ TICO 42:


Em 2 de Maio de 2013 entre A, residente em Coimbra e uma sociedade portuguesa que se dedica à
construçã o civil, celebrou-se um contrato de trabalho. O local de trabalho situava-se na Ará bia Saudita.
A retribuiçã o era paga em euros, sendo fixada em funçã o das tabelas salariais constantes da convençã o
coletiva em vigor para o sector em Portugal. As partes acordaram ainda que o contrato nã o seria regido
pela lei portuguesa. Em 20 de Julho do corrente ano, a sociedade comunicou por escrito ao trabalhador
a vontade de rescindir o contrato a partir do dia 30 de Setembro de 2018. A invoca a violaçã o do direito
portuguê s, mas sociedade considera ter cumprido o direito da Ará bia Saudita que considera
competente.
a) Qual o direito competente para reger esta situaçã o?
b) Supondo que o direito da Ará bia Saudita é competente, que posiçã o deveria o juiz portuguê s tomar
se a sociedade nã o conseguisse provar o conteú do desse direito?

Lei aplicável para regular a extinção do contrato. Esta forma como se extingui o contrato cumpre a lei
portuguesa. Os empregadores podem dizer aos trabalhadores “daqui a dois meses não venha trabalhar
mais”? Não está de acordo com a lei portuguesa, mas está de acordo com a lei saudita. Com a lei
portuguesa temos um despedimento ilícito (consequente reintegração ou indemnização)

Regulamento Roma I que tem a ver com contratos e fonte interna do C.C. com os artigos 41º e 42º. Como
compatibilizar estas fontes?

Importa ver se estamos dentro do âmbito de aplicação do Regulamento.


Pedro Silva e Lara Costa

Três requisitos:
• Ser contrato e não negócio jurídico unilateral: cumpre-se (é um contrato)
• Critério temporal: ser posterior a 17 de Dezembro de 2009: é posterior, foi celebrado em 2013
• Terceiro critério: não ser excluído no art. 1º do Regulamento Roma 1 (não é)

Estamos dentro do Regulamento Roma I e sendo um contrato com parte mais fraca não vamos aplicar as
regras gerais dos artigos 3º e 4º, mas sim a regra especial do art. 8º.

As partes podem escolher, mas essa escolha só é mais relevante se for mais favorável ao trabalhador do
que a lei que teria sido aplicável na falta de escolha. O legislador vai ter que ver a lei escolhida e a lei que
teria sido aplicada s enão houvesse escolha e para todas as matérias vai comparar as duas e aplicar a que
proteger mais o trabalhador.

Nos termos do art. 8º a lei aplicável ao contrato é determinada da seguinte forma:


As partes podem escolher a lei aplicável, mas só se aplicará a lei escolhida se for mais favorável ao
trabalhador.

Art. 8º/2 diz-nos que é a lei do local onde o trabalhador presta habitualmente o seu trabalho, que é na
Arábia Saudita.

Mas as regras de conflito hoje não são rígidas e sobretudo num DIP mais moderno.

No DIP mais recente a regra de conflitos indica uma lei, mas não a podemos aceitar automaticamente.
Será que esta é uma delas. Precisamente, no art. 8º/4.

O elemento de conexão relevante é o local de trabalho, mas se houver algum contrato em que alguma lei
(que não a do local de trabalho) que tem uma ligação mais forte, quero que o juiz faça uma exceção.

Quando é que se pode fazer isto (usar a cláusula de exceção)?


Qual o risco de flexibilização? Cria insegurança jurídica, as partes não têm previsão sobre lei aplicável ao
caso.

o julgador não se vai substituir ao legislador na escolha do elemento de conexão; é para aqueles casos
que o julgador pode dizer com segurança que se o legislador tivesse olhado para este caso em concreto
teria aplicado uma outra lei que não esta.

Temos de saber se em concreto se cumprem os pressupostos para excecionarmos a lei indicada pela regra
de conflitos por outra com base no art. 8º/4?

Identificar os pontos de contacto deste caso com outra lei que não a de Arábia Saudita
O trabalhador e a empresa são portugueses; a residência do trabalhador; as tabelas salariais estão a ser
determinadas pela lei portuguesa; a retribuição é paga em euros; e o local de celebração do contrato
também foi celebrado em Portugal

Se o legislador tivesse visto este contrato, com estas características, ele teria mandado aplicar lei da
Arábia Saudita? É o juiz que vai ter de decidir isto

O que é que a doutrina aconselha?

Há apenas uma posição que nos diz que tem de ser muito mais estrito do que isto. Para a maioria da
jurisprudência a residência das partes, a nacionalidade, o local de celebração em conjugação com a moeda
e as tabelas salariais são suficientes para mobilizar a cláusula de exceção.
Pedro Silva e Lara Costa

Se seguirmos esta posição a lei aplicável na falta de escolha é a lei portuguesa por força do art. 8º/4 do
Regulamento Roma I.

Saber qual a lei escolher é o que nos falta.

As partes não fizeram uma escolha, eles não dizem escolho a lei X. eles dizem apenas que não querem a
lei portuguesa.

A escolha de lei no contrato de trabalho é feita nos termos do art. 3º?


Sim, o regime da escolha de lei é o art. 3º

Nos termos do art. 3º a escolha tem de ser expressa?


Pode ser tácita. Não tem de ser necessariamente expressa, pode ser uma escolha em que as partes não
dizem expressamente. Atenção, que não está aqui em causa uma escolha hipotética.

Houve escolha expressa de lei? Não

Mas será que houve escolha tácita? Ao dizerem que não querem lei portuguesa estavam no fundo a
revelar que tinham escolhido a lei da Arábia Saudita?

Quais são os critérios que permitem ao julgador identificar uma escolha tácita? Devemos ser exigentes
nos critérios ou flexíveis?
O problema da flexibilidade é que se formos muito flexíveis pode redundar numa violação das expetativas
das partes (o julgador pode encontrar indícios de leis com que as partes não contavam)

Então o critério de determinação da escolha tácita deve ser exigente e rigoroso; só quando não haja a
mínima duvida de que as partes contavam com a aplicação de determinada lei (aqui há uma uniformidade
da jurisprudência que interpreta o regulamento) – a escolha tácita é para os casos em que não haja
mínima dúvida

Temos dois critérios:


• Haver remissão nas disposições no contrato para uma certa lei (por exemplo, falam da norma x
da lei francesa). A referência no contrato a normas de uma determinada lei é tida como um indício
de que as partes escolheram essa lei
• Haver menção a um instituto de direito material que seja específico de uma certa lei; as partes
referiam-se no contrato a uma cafala??? – indício de que estão a escolher a lei muçulmana

O considerando nº 12 refere-se mais um indício: se as partes escolhem um tribunal competente, isso um


indício que elas estavam a escolher a lei desse país

No nosso caso, temos escolha tácita?


Têm referência a normas matérias do direito português. Será que podemos conclui que estavam
tacitamente a escolher a lei portuguesa? Não podemos concluir isto, pois eles disseram expressamente
que não queriam a lei portuguesa.

Resta saber se no contrato existem indícios claros de que eles estavam a escolher uma outra determinada
lei. Não se referiram a um instituto jurídico que seja específico de uma determinada lei, não escolheram
tribunal competente. Não há indícios então não escolha da lei aplicável.

O facto de eles terem dito que não queriam a aplicação da lei portuguesa não deve ser tida em conta.

Então qual é a lei aplicável ao contrato?


A lei portuguesa. Só que eles tinham dito que não a queriam. E agora?
Pedro Silva e Lara Costa

A primeira instância respondeu a este problema: se não há indícios de forma clara que houve uma escolha
da lei aplica-se a lei aplicável na falta de escolha (lei portuguesa) – o despedimento é ilícito

A empresa (SONAE) não gostou desta decisão e recorreu par ao tribunal da Relação: a lei portuguesa foi
a única que claramente as partes não queriam; se o cas só tinha conexão com duas leis e as partes
excluíram uma delas, isto é um bom indício de que elas queriam a lei da Arábia Saudita.

Aplica-se a lei escolhida pelas partes ou a lei que seria aplicada na falta de escolha?
Entre as duas vai aplicar-se, em cada matéria, a que for mais favorável ao trabalhador. Tem de se ver
matéria a meteria a que é mais favorável ao trabalhador

Estávamos em matéria de extinção do contrato de trabalho e em matéria de despedimento a lei mais


favorável é a lei portuguesa, é mais protetora do trabalhador – então o despedimento é ilícito.

A doutrina diz que o tribunal nem precisava de escolher a lei aplicável. É que há uma norma no
ordenamento jurídico do foro que se aplica independentemente da regra de conflitos – existe uma ordem
de aplicação necessária e imediata que independentemente da lei aplicável ao contrato regula o caso – é
o art. 53º da CRP – proíbe o despedimento sem causa nas situações em que o trabalhador é português, se
trabalhar em Portugal e ainda se residir em Portugal (basta um).

É o caso porque o trabalhador é português e reside em Portugal

Mas o regulamento da U.E deixa aplicar as normas de aplicação necessária e imediata?


No art. 9º/1 diz-se o que é. no art. 9º/2 permite-se a aplicação de normas de aplicação necessária e
imediata. Devia ser esta a solução a dar ao caso.

b) Problema do regime de aplicação do direito estrangeiro. O que é que o juiz deve fazer? Tem de
determinar oficiosamente (art. 348º do C.C.). como é que ele faz isso? Há um gabinete próprio. Gabinete
de documentação e direito comparado que vai prestar a informação sobre o que é que diz a lei da arabia
saudita em matéria de contato de trabalho. E se o Gabinete não conseguir determinar o conteúdo da lei
estrangeira? Nos termos do art. 23º do C.C. passamos para a lei subsidiariamente competente (vamos à
conexão múltipla subsidiária, se a houver); se tudo falhar, o juiz que está obrigado a decidir, vai socorrer-
se do art. 348º/3 do C.C. e aplica a lei do foro

CASO PRA‹ TICO 43:


Durante o mê s de Agosto do ano passado, A, cidadã o portuguê s domiciliado em Viseu, deslocou-se ao
Egipto integrado numa viagem de fé rias. Enquanto se passeava nos mercados do Cairo, juntamente com a
sua mulher, apontou para um dos muitos papiros que se encontravam à venda numa das bancas e que
representava um dos monumentos que tinham visto em Luxor. Perplexos, A e a mulher sã o de imediato
interpelados pelo vendedor que, invocando uma prá tica costumeira dos mercados egı́pcios segundo a qual
o simples facto de se apontar para um dos objectos expostos vale como declaraçã o negocial de cunho
irrevogá vel, pretende que os turistas comprem o objecto que tinha sido apontado e cujo preço se
encontrava marcado de forma bem visı́vel. Sendo a situaçã o discutida nos tribunais portugueses, aprecie
as questõ es seguintes:
a) Refira, fundamentando, qual a lei competente, face ao DIP vigente, para dizer se houve efetivamente
acordo negocial?
b) Caso o direito egı́pcio seja o competente para regulamentar a questã o, será que o juiz portuguê s deverá
atribuir relevâ ncia vinculativa à s referidas prá ticas comerciais de cariz costumeiro?
c) Imagine agora que a viagem tinha sido organizada por uma agê ncia de viagens com sede e administraçã o
principal em Salamanca e que o contrato abrangia o transporte (a partir de Viseu), alojamento, alimentaçã o
e atividades turı́sticas vá rias. Levantando-se agora o problema do cumprimento do contrato por parte da
agê ncia de viagens, qual seria a lei aplicá vel à responsabilidade contratual?
Pedro Silva e Lara Costa

a) o problema é um problema prévio; é o problema de saber se houve ou não contrato. Trata-se do


problema de saber se um comportamento vale como declaração negocial. Qual será a regra de conflitos
que nos vai ajudar neste problema. Temos que ver se o contrato existisse se ele estaria ou não dentro do
Regulamento Roma I. se sim vamos buscar à solução do Regulamento Roma I. se não vamos buscar o
regime do C.C.

Vamos testar a solução do at. 35º do C.C. – residência habitual comum entre o senhor A (residente em
Viseu) e o declaratário que reside habitualmente no Egipto. Não tem residência habitual comum. Segundo
critério, verificamos que é a lei do local onde se celebrou o comportamento e essa é a lei egípcia. Quem
não vai gostar nada disto é o senhor A.

Mas ele está ao abrigo do Regulamento Roma I?


• Ser um contrato – neste caso é
• Ser celebrado após 2009 – sim, foi em Agosto do ano passado
• Não estar excluído do art. 1º - e ele não está excluído (também se cumpre)

A solução para este caso está no art. 10º do Regulamento Roma I


A lei que vai dizer se aquela declaração vale ou não como declaração é a lei que seria aplicável ao contrato
caso o contrato existisse. Então vamos criar um contrato putativo e a lei putativamente aplicável a este
contrato é que vai ser determinante

Se o contrato existisse seria um contrato de compra e venda – aplicar-se-ia a lei escolhida pelas partes –
art. 3º do Regulamento Roma I. e as partes não escolheram

Se não escolheram, vamos para o art. 4º. Caso existisse este contrato ele estaria lá? Sim, na alínea a)

Então seria aplicável a lei da residência do vendedor, logo é a lei Egípcia se apontar é o não declaração
negocial

Solução igual à do nosso C.C.

Só que o regulamento é mais moderno. O nº2 diz-nos que o contraente pode invocar a lei da sua residência
habitual (Portugal) para mostrar que não deu o seu consentimento desde que ele prove que não é exigível
saber que na lei egípcia apontar vale como declaração negocial.

Conseguirá? Não era razoável perante as circunstâncias que ele soubesse que apontar teria valor
negocial? É precisamente neste caso que tem de funcionar o art. 10º/2, achamos que não é razoável.

b) que valor é que se dá a lei estrangeira? O costume deve ter valor? Solução no art. 23º/1 do C.C.
(depende do valor que tiver lá). Se o costume tiver valor lá damos a mesma solução. Se não tiver valor lá
não lhe damos. Isto visa a harmonia jurídica internacional.

c)
As partes querem invocar responsabilidade junto da agência de viagens. Coloca-se o problema da lei
aplicável ao contrato. Que regime é que será aplicável aqui. É o regime dos consumidores? Este vai ter
três requisitos (devemos ter cuidado, porque não sabemos se temos dados suficientes para sabermos s
estamos perante o regime de proteção dos consumidores) então colocamos duas hipóteses. Construímos
a resposta caso entendemos que se deva aplicar o regime de proteção dos consumidores; se entendermos
que não deve valer este regime, vamos pelo regime geral.

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