Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
14.09.2023 (T)
NORMAS DE CONFLITO
Isto significa que em matéria de DIP não existe aquilo que existe na “Common
Law” a dominada “Better ruler approach”, ou seja, a escolha da lei, seja ela estrangeira,
seja ela nacional, sobretudo quando tratarmos de normas de conflitos bilaterais, que
não são tendencialmente as nossas, não têm em consideração aquilo que é a solução
material desse direito estrangeiro que mande aplicar.
Ou seja, uma norma de conflitos que mande aplicar a lei X, num estado qualquer,
mesmo aplicando a sua própria lei no caso concreto, fá-lo através de um processo
valorativo conflitual e neste processo não se encontra a ponderação da solução material
estrangeira.
QUAL É A SOLUÇÃO?
A solução material que se vai dar ao caso concreto é o problema que está
afastado pelo DIP. Isto porque, não pode vigorar num ordenamento jurídico, situações
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
que sendo factualmente analógicas, não havendo alterações legislativas, tenham
soluções materiais diferentes.
O facto destas normas serem informais, ou seja, que aquilo que elas fazem é
legitimar a aplicabilidade de uma determinada solução, e não querer saber qual é essa
solução, isto significa que no âmbito do DIP: 1º, é possível aplicar direito material
estrangeiro, assim como este direito material estrangeiro pode ser contrário a solução
jurídica homologa dentro do ordenamento jurídico português.
Não gerando, nesse caso, nenhum problema ao nível daquilo que é a segurança
jurídica. Ou seja, casos idênticos julgados de forma diferente, porque aquilo legitima a
aplicabilidade de uma lei estrangeira no caso concreto, é uma norma do foro formal que
a legitimou. Não tendo em consideração a sua solução material, mas por ser a lei que
está mais bem colocada de acordo com os princípios de segurança jurídica.
Logo, podem ter um contrato num ordenamento jurídico PT que de acordo com
o PT é válido e ter a mesma situação e ser inválido, mas podemos ter exatamente a
mesma situação, mas o facto de ser um contrato internacional que leva aplicação de
uma lei estrangeira e nesse caso o contrato é valido, então o tribunal português,
considerando aquela aplicabilidade da lei estrangeira, o contrato válido. Podemos ter
esta dualidade e esta possibilidade.
É-nos indiferente e não há nenhum juízo de valor a montante relativamente a
qualquer solução. O ordenamento jurídico português aplica qualquer lei, desde que seja
legitimada pelas normas de conflito, seja a nível nacional, seja da união europeia ou
qualquer outra convenção a que o estado PT se tenha vinculado.
- Limitado por circunstâncias de lugar, cada estado tem a sua própria ordem
publica. Sobretudo em circunstâncias de tempo, mesmo dentro de cada um dos
estados.
- Corresponde aquilo que aquele momento o ordenamento jurídico entende
como sendo os valores ético jurídicos e os princípios informadores de cada
estado. Ou seja, o recetáculo continuo daquilo que se chama de princípios
essenciais ao estado português.
EXEMPLOS:
Por isso, mesmo nos estados outros estados que reconheçam o casamento a
partir dos 16 anos, nesta altura é altamente discutível. Onde referem que não podem
reconhecer oficialmente este casamento porque há princípios básicos do estado alemão
que estão postos em casos.
No entanto este caso é curioso, pois a questão que se coloca é se a proteção
daquela mulher/criança não lhe traz mais problemas do que os resolve. Sendo uma
criança já com 3 filhos. O tratamento e custódia de uma mulher que não fala alemão,
que nunca saiu daquilo que é a família patriarcal e por isso não tem nenhuma autonomia
e independência, se no caso concreto não era pior do que efetivamente reconhecer e
deixar que eles continuassem casados.
NOTA:
Não há nenhum problema em aplicar qualquer lei que seja diferente daquela
que vigora diferente do ordenamento jurídico português. Mesmo este exercício, relativo
à ordem publica, só se faz quando: da aplicação da lei resulta um efeito jurídico que é
contrário à ordem publica.
No caso concreto, a lei aplicada na Alemanha, tal qual seria em Portugal era a lei
da Sharia – lei religiosa islâmica. Que é a lei nacional jurídica para resolver questões de
família e sucessões na Síria. O estado alemão aplica sem motivo de problema esta lei. A
questão que se coloca é: se do resultado da aplicação dessa lei, resulta ou não um efeito
jurídico contrário à ordem publica.
Esta é uma solução da aplicabilidade quer direta quer indireta do foro, que é a
que muitos estados usam, mas que não é difícil de usar, mas é desconsiderar em
absoluto que é uma questão é de DIP. Que há uma questão transfronteiriça que vai ser
regulada, é aplicar direitamente o direito internacional, seja a questão internacional ou
não seja.
Não aplicam o direito material igual àquele que aplicam para as situações
jurídicas puramente internas, mas sim um direito material especial que só usam para as
situações jurídicas internacionais.
• Vantagem: O facto de que nesse caso concreto, afasta o fórum shopping. Isto
significa que as partes já sabem que independentemente do sítio onde
proponham a ação, eles vão aplicar direito material, mas como ele é
supraestadual, todos os estados vão aplicar um único direito material que é igual
para todos, para as situações transfronteiriças.
Até aqui o que nós usamos é a regulação indireta, através de normas de conflito
que tem 2 elementos:
1. Conceito quadro
2. Elemento de conexão
As normas de conflito podem ser usadas, se o estado usado for o estado do foro.
Ou seja, enquanto o DIP está à procura da lei num determinado processo valorativo, é
aquela que consegue cumprir as finalidades de harmonia e segurança jurídica, as normas
de conflitos a aplicar não são aquelas que são encontradas por elas.
As normas de conflitos são: ou de direito interno, no sentido que a fonte é
interna ou fonte internacional que os estados decidiram aplicar ao caso concreto, mas
elas são aquelas que estão em vigor no estado do foro. São leis nacionais do estado.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Ao contrário do direito material que vai ser escolhido, tanto pode ser nacional
como pode ser estrangeiro, as normas de conflitos que são usadas são aquelas que estão
em vigor no estado em que a questão controvertida é colocada.
Exemplo, no contrato de casamento referido na última aula, se a questão estiver
a ser apreciada em Portugal, nós vamos escolher qual a lei a aplicar para perceber se o
contrato válido ou não, mas para decidir qual a lei a aplicar, mesmo sendo lei
estrangeira, porque é a lei do foro, usa as suas próprias normas de conflito (as que se
encontram no CC).
Uma das situações, é este artigo 2223º do CC, em que tem uma situação de
relação jurídica de DIP.
Artigo 2223.º
Testamento feito por português em país estrangeiro
O testamento feito por cidadão português em país estrangeiro com observância da lei
estrangeira competente só produz efeitos em Portugal se tiver sido observada uma
forma solene na sua feitura ou aprovação.
Aplicar a lei não tem problema nenhum, mas em termos de validade formal,
Portugal não está a dizer que o negócio jurídico é invalido, aquilo que Portugal está a
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
dizer que não é valido em Portugal. Exige-se a mesma forma se for um português a
celebrar no estrangeiro, que se exigia em Portugal.
Isto para evitar os testamentos cerrados, mas mesmo nestes implica formalidades
nomeadamente ser verificado pelo notário que não há nenhum tipo de coação, estão
verificados os requisitos e depois o notário fica (?).
Isto é um exemplo de solução material.
Agora, como limite na norma de conflitos e não como solução material, está
previsto no artigo 54º do CC que aquilo que faz é em prol do princípio da igualdade
relativamente aos cônjuges, em Portugal não é possível alterar o regime de casamento
depois de casar, salvo as exceções de separação judicial de bens em determinada
situação 2e mesmo nessas tem de ser declarado judicialmente. Pode haver soluções
materiais diferentes e se a lei nacional dos cônjuges disser que eles podem alterar o
regime dos bens, nada a opor relativamente ao ordenamento jurídico português, mas
pelo artigo 54º/2 do CC, tem verdadeiramente uma solução de direito material.
Artigo 54.º
Modificações do regime de bens
1. Aos cônjuges é permitido modificar o regime de bens, legal ou convencional, se a tal
forem autorizados pela lei competente nos termos do artigo 52.º
2. A nova convenção em caso nenhum terá efeito retractivo em prejuízo de terceiro.
No número 1 refere que: Se os cônjuges tiverem uma lei nacional que lhes
permita alterar o regime de bens, alterem como quiserem e por isso altera na respetiva
certidão de casamento o regime de bens.
No número 2 refere que: há uma solução de direito material que é a mesma que
impede os cônjuges em Portugal de alterarem o seu regime de bens. Eventuais
proteções de direitos adquiridos por 3ºs, como no caso das dividas comuns. Se
alterassem o regime de bens, depois só 1 é que seria responsável pelo pagamento da
divida.
Isto seria o ideal, ou seja, os estados todos acertassem num único direito material,
em que, independentemente, de onde a ação se propusesse, seja em direito nacional
ou internacional, havia uma única solução e o problema estava resolvido.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A única coisa tendencialmente uniforme que existe é a declaração universal dos
direitos humanos, que tem um problema de natureza jurídica para muita gente, não
para Portugal, se é vinculativo ou não. Mesmo assim esta DUDH não teve a adesão de
todos os países do mundo.
Os estados estarem de acordo numa única solução é praticamente impossível.
• UNIFORMIZAÇÃO
o Esta é o ideal. Significa que os estados aplicam leis uniformes quer a
situação seja juridicamente interna, quer seja juridicamente
internacional. As mais comuns são estas leis uniformes de letras e
livranças.
São leis uniformes uma vez que tem uma expressão quase mundial. Isto porque
por exemplo as letras, livranças e cheques, são a forma mais fácil de transacionar coisas
com dinheiro. O problema é que se um cheque português vai para a um banco na Suíça,
se o banco conhece aquele documento ou não.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Então para facilitar as transações comerciais, os estados viram-se na
contingência de uniformizar as posições relativamente aos títulos de crédito. Por isso,
deu origem a estas leis uniformes que assim neste sentido, mas porque se aplicam não
só a relação jurídicas internacionais. Ou seja, um problema em Portugal de uma relação
jurídica puramente interna sobre um cheque posso (?) em uniforme sobre cheques,
assim como em letras e livranças.
A nível europeu tem algumas situações nomeadamente a nível da matéria de
consumidor, sobretudo a matéria de transporte aéreo e transporte marítimo.
Relativamente a esta matéria há regulamentos específicos. Seja a questão puramente
interna seja a questão puramente internacional, aplica-se o regulamento internacional
da união europeia.
• UNIFICAÇÃO
• HARMONIZAÇÃO
O que as partes e camaras de comercio decidiram fazer foi codificar essas regras,
que não são mais do que aquilo que a praxe dita aquele nível desses contratos, mas no
limite quando alguém celebra contratos, é que pensa assim “se eu autorizar que o navio
passe na época alta dos navios da Somália, eu já sei que o risco da perda de mercadorias
corre por conta do adquirente”, isso não está escrito em lado nenhum, mas é a praxe
que existe relativamente àquilo.
Há a possibilidade de criação destes guias jurídicos relativamente a um conjunto
de contratos, que permite, não só a possibilidade de recurso à equidade, mas sobretudo
a tipificação de regras contratuais em que temos partes de acordo com aquele tipo de
negócio, estarão na espectativa de que lhe seja aplicada.
Se a ideia do DIP é colocar a ideia que está mais bem colocada para não pôr em
causa a espectativa das partes, então naquele caso concreto a espectativa das partes
estará mais bem colocada se recorrendo à equidade se aplicarem regras que levam à
prática comercial, mas que não são propriamente regras jurídicas.
Esta é a aplicação/solução material, que claramente de fundo voluntário neste
caso concreto, que é enfatizada pelas questões de circulação a nível internacional (?) ou
de natureza civil.
SUMA:
A regra dos ordenamentos jurídicos em geral que recebem o direito material são
de regulação indireta através de um sistema conflitual de cada uma das leis do foro.
As leis do foro são as leis dos estados em que a questão está a ser apreciada.
Nesse estado haverá, como é o caso do ordenamento jurídico português, normas de
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
conflitos, que mais não fazem, por regra, do que através de um processo escolher a lei
que consegue cumprir com todos os requisitos para que a solução material que seja
dada pelo estado português, seja através de direito português, seja através de direito
estrangeiro, seja reconhecida em qualquer país onde a sentença ou o ato público seja
proferido.
Fora isso, há, de facto, algumas soluções de regulação direta de aplicação de
direito material no foro, são absolutamente excecionais.
20.09.2023 (T)
• ELEMENTO DE CONEXÃO
É para os regimes que estão previstos em cada uma das normas de conflitos. A
lei que o legislador entendeu que deve de ser aplicada ao caso em concreto.
• CONCEITO QUADRO
Determina o âmbito de aplicação da norma.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O professor Luís de Lima Pinheiro, no final, fala da estatuição que é o elemento
de conexão e o conceito quadro que depois é a legitimidade da aplicação desse direito
material, seja nacional seja estrangeiro, no ordenamento jurídico.
Verificados estes 2, é a legitimidade de aplicação desse direito material no
ordenamento jurídico PT.
• Bilaterais
• Unilaterais.
CLASSIFICAÇÃO:
Artigo 28.º
Desvios quanto às consequências da incapacidade
1. O negócio jurídico celebrado em Portugal por pessoa que seja incapaz segundo a lei
pessoal competente não pode ser anulado com fundamento na incapacidade no caso
de a lei interna portuguesa, se fosse aplicável, considerar essa pessoa como capaz.
Ou seja, após uma leitura deste artigo 28º entendemos que “é um desvio à regra
do artigo 25º, que é uma norma de conflitos bilateral” E relativamente à capacidade de
exercício, “aplica-se a lei da nacionalidade do menor”.
No artigo 25º refere que tem uma norma de conflitos bilateral, se o menor for
português aplica-se a lei estrangeira e se for estrangeiro aplica-se a lei estrangeira.
Mais uma vez aquilo que está subjacente, é sempre um processo valorativo que
tendencialmente também por ser um princípio com alguma estabilidade a nível
internacional e mesmo que não seja de DIP os estados reconhecem.
Artigo 28.º
Desvios quanto às consequências da incapacidade
3. Se o negócio jurídico for celebrado pelo incapaz em país estrangeiro, será observada
a lei desse país, que consagrar regras idênticas às fixadas nos números anteriores.
Exatamente a mesma coisa. Uma norma unilateral, só que desta vez é extroversa.
Não lhe aplica o direito material português, aplica o direito material do estado onde o
negócio foi celebrado e, nesse caso concreto, não a lei da nacionalidade da pessoa (do
artigo 25º?).
Pode haver justificação, e há claramente, em termos de um princípio valorativo,
para utilização de normas unilaterais.
Não é a melhor técnica. A utilização das normas unilaterais tem de ser usada
tendo em consideração às críticas que se fazem quando não se usa o processo conflitual.
Se num estado diz que adota o processo conflitual, como uma forma de escapar as
críticas da regulação direta, está constantemente a aplicar o seu direito material do foro,
mas se tem um processo conflitual que a única coisa que tem são normas unilaterais
introversas que está constantemente direcionado às soluções de direito material do
foro, por interposto caminho vamos chegar à mesma conclusão. Está necessariamente
a pôr em causa aquilo que um processo conflitual quer, ultrapassar situações de
regulação indireta.
A ideia de processo valorativo servirá que há determinados valores que vão tentar
mitigar ou ultrapassa eventuais situações de conflito a que o estado pode chegar no que
tange à determinação da lei aplicável do caso concreto.
Como é que este processo conflitual, que é valorativo, tenta ultrapassar eventuais
situações contraditórias, relativamente à lei aplicável que os estados, estando em
contacto com a relação jurídica, possam ter?
Como se faz?
1. Identificar aqueles princípios que permitem uma escolha de lei que cumpra
tal e qual nas relações internas a escolha da lei aplicável ao caso concreto.
Qual é a lei que está em melhores condições para cumprir os critérios de certeza e
previsibilidade relativamente aqueles sujeitos da relação jurídica transnacional e será
essa que se vai aplicar ao caso concreto?
• Valores formais:
A escolha da lei aplicável tem de garantir que àquela relação jurídica é aplicável
a lei que as partes tenham a expectativa que lhes seja aplicável ao caso concreto. Tal e
qual como no direito interno, as partes não precisam de conhecer a lei, nem sequer
precisam de ter a certeza de qual era a lei que lhes aplicaria no caso concreto, a certeza
e previsibilidade é uma questão abstrata. É preciso demonstrar que é aquela a que
razoavelmente as partes teriam de contar que seria aplicável ao caso concreto.
Ou seja, a relação jurídica pode ter contacto com N ordem jurídicas e o exercício
para chegar à HIJ é: se perguntássemos a cada um dos ordenamentos jurídicos se tivesse
de decidir qual a lei material aplicável ao caso concreto, todos estariam de acordo em
aplicar o direito material.
É a finalidade principal.
NOTA:
Quanto mais elevada for a fonte das normas de conflito, significa que mais
estados vão juntando ao âmbito daqueles instrumentos de direito internacional.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Isto significa que esses instrumentos de direito internacional, se vigorarem nos
respetivos ordenamentos jurídicos, logo, independentemente se a ação for proposta em
qualquer um daqueles estados, eles vão usar essa norma de conflito internacional e por
isso vão chegar todos ao elemento de conexão.
VALORES MATERIAIS
Muitos deles são comuns àqueles que existem no direito interno, como princípios
gerais. Valores estes como:
1. Dignidade da pessoa humana
2. Igualdade
3. Adequação
4. Equilíbrio
5. Ponderação
6. Liberdade
7. Tutela da confiança
8. Coerência do sistema
O princípio da igualdade faz com que quando nós tratamos de relações jurídicas
internacionais, o tratamento que damos a sujeitos que não são portugueses, não possa
ser menos favorável do que aquele que resultaria da lei portuguesa em igualdade de
situação. Ou seja, se tiverem determinados direitos civis que reconheceriam ao
português, não podem abster-se de os reconhecer também para estrangeiros.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
São valores de direito material todos comuns ao ordenamento jurídico
português, que a partir daqui vão permitir densificar aquilo que será visto na próxima
aula da justiça conflitual relativamente ao DIP.
21.09.2023 (T)
VALORES
Nesse âmbito, este processo valorativo que integra o processo conflitual que se
inicia no movimento aprioristicamente estabelecido para a própria resolução do
problema conflitual, porque ele coloca-se necessariamente no momento legislativo. Ou
seja, quando o órgão (?) redige determinada norma de conflitos e que tendo ela
elemento de conexão e conceito quadro, significa que a própria escolha da lei, que é o
elemento de conexão, resulta de uma escolha valorativa que tem em consideração
determinados princípios do DIP. Depois se vão estendendo em todo o processo
conflitual.
Na HJI é desde logo onde se forma um valor. É um valor pois garante a certeza e
previsibilidade enquanto finalidade do direito.
No que tange aos valores, estamos no seguinte caminho: Valores enquanto tal,
adotados no sistema jurídico enquanto princípio e depois enquanto elementos de
conexão. Estamos numa ideia em que estamos a afunilar aquilo que são os valores, em
princípios e depois em soluções concretas ao nível dos elementos de conexão.
NOTA:
Entre regulação direta ou indireta, os estados para chegar à HJI a regulação
direta. Dentro da regulação direta do sistema conflitual, optarão, sempre que possível,
por normas de conflitos bilaterais.
Isto vai dar origem a que escolha da lei não seja arbitrária e que permita o
desenvolvimento dos princípios valorativos que sendo comuns, a capacidade em
abstrato de conseguirmos com que haja uma convergência no que tange à lei aplicável
no caso em concreto de entre os estados seja maior. A possibilidade de chegar à HJI é
maior.
Bem como quando os estados não estão de acordo no que tange a aplicabilidade
de uma lei, adotar melhorias que lhes permitam ser flexíveis na escolha de lei para o
caso em concreto de acordo com as teorias revolucionistas, para admitirem aplicar uma
lei diferente do que aquela que resulta do seu elemento de conexão.
Ou seja, todas estas são técnicas, que os estados não havendo possibilidade de
uma harmonização em direito material nem em direito conflitual, pelo menos tentarem
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
adotar posições que lhes permitam uma convergência, para tentarem pelo menos
atingir a HIJ. Nem sempre é possível e nesses casos alguém manda e alguém obedece.
Nota:
Altamente coerente. Aliás tendo em consideração a harmonia material ou
interna, que é outro princípio, é altamente coerente.
Se eu lhes perguntar qual é o princípio que identificariam imediatamente quando
pensam no livro do direito das obrigações, é o princípio da autonomia da vontade. Ou
seja, no âmbito dos contratos, os negócios jurídicos estão no livro das obrigações. A
opção é, fazem o que quiserem desde que não esteja proibido.
Nada mais coerente do legislador, quando tem uma relação jurídica privada
internacional ao nível do direito das obrigações, levar para o direito Internacional
privado exatamente isso que tem sido preside ao direito interno, que é a autonomia da
vontade.
Para o ordenamento jurídico português, (insisto mais uma vez que este artigo
41º, como vão perceber, agora só vamos usar para resolver outras questões a nível de
direito interno, ele está revogado, portanto, esta questão já não é assim mesmo no
ordenamento jurídico portugueses, porque 41º não tem aplicabilidade nenhuma) não
podem internacionalizar a relação jurídica exclusivamente com autonomia da vontade.
Se a relação jurídica for puramente interna, ou seja, se todos os elementos da
relação jurídica estiverem no ordenamento jurídico português, não podem escolher
uma lei diferente que não seja a lei portuguesa. Obrigatoriamente se a relação jurídica
é interna se aplica direito português, porque a relação não é internacional.
2. Se ela já for internacional, não podem chamar ao conflito de leis, leis novas
para além daquelas pessoas estão em contato com a vossa relação jurídica.
Também já não tem as limitações que eram sobretudo dogmáticas, mas que a
esta altura já não se colocam. A doutrina, mesmo em Portugal, como se refere à
expressão inglesa ou à expressão francesa, mas basicamente significa “separar”.
Aquilo que acontece é: tem uma relação jurídica e na limitação do dépeçage ou
spliting, no afloramento do princípio da não transitividade, é para uma relação jurídica,
escolhem ou aplicam, um direito material.
O spliting aquilo que permite fazer é: separar as várias questões que a relação
jurídica pode suscitar e decidir que, consoante a natureza da questão, aplica um direito
material diferente.
NOTA:
Um exemplo do artigo 28º e da técnica da norma de conflitos unilateral. O
legislador tem aqui uma preocupação tal qual como tem direito interno, nos
mecanismos de conversão e resolução do dolo do menor, que é, por exemplo, proteger
o comércio jurídico local.
Aqui o que faz é, a partir do momento que o legislador elegeu para a ordem
pública interna um princípio essencial, o levará também para o nível de DIP.
PRINCÍPIO DA CONFIANÇA
Exatamente para fugir ao artigo 28º e acharem partir depois é exemplo por tudo,
pensem por exemplo na seguinte situação, uma já falamos sobre isto quando demos
antes a ordem pública Internacional do Estado do estado do foro.
Mais uma vez, um limite excecional à aplicabilidade do direito material
estrangeiro, ou seja, aquelas poucas situações que excecionalmente o DIP quer saber
qual é a sua solução do direito material estrangeiro, porque ela vai permitir a sua
aplicabilidade porque ela viola princípios informadores do próprio direito nacional.
Agora pensem que o que está a ser discutido é a validade do casamento para
efeitos de um divórcio a terceira mulher daquele homem. Portanto, nós precisamos de
reconhecer o casamento para conceder o divórcio. Mas agora pensem o seguinte,
imaginem que aquela Senhora que esteve casada não sei quantos anos com aquela com
aquele senhor, sempre foi se não trabalhadora, viveu em casa, sustentada pelo marido,
e ou nós reconhecemos aquele casamento e o património que aquelas pessoas fizeram
ao longo do tempo, é também dela. Ou então aquele património é dele.
Este princípio da confiança pode, nas situações mais extremas levar a que, não
é Portugal a reconhecer o casamento poligâmico. Isso nunca vai acontecer, é naquele
caso concreto, reconhecer efeitos do casamento poligâmico para garantir os efeitos
patrimoniais que decorrem de um regime de bens que vão garantir a tutela direitos da
mulher. Portanto, é preciso ter atenção ao afloramento internacional que este princípio
vai ter.
A uma dada altura era a seguinte questão, o contrato de promessa pode ser
bilateral ou unilateral. Consoante uma das partes, ou ambas, se obriguem à celebração
do contrato. Depois um dos problemas é, o que é que acontece quando os termos do
contrato resulta que o contrato é bilateral, mas depois só uma assinou um contrato. Ou
seja, o contrato só é formalmente válido para uma, para a outra é nulo, como não
assinou, não há contrato formal.
EXEMPLO:
Sempre que estamos a tratar de matéria relativa aos sujeitos na relação jurídica,
escolhemos A diante das várias, mas o legislador desde logo escolherá aquela que
apresentar uma ligação aos sujeitos.
Se a questão for associada ao facto que vimos há pouco, adotará o mesmo
princípio que adota no OJ interno – A vontade das partes (autonomia da vontade).
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Mas se a questão já estiver associada aos efeitos reais, ou às coisas, o legislador
vai escolher a lei que está mais próxima das coisas – Lei da nacionalidade.
Na cadeira de DIPub uma das coisas que (?) do estado soberano, é as fronteiras
de um território (não se percebe nada).
Isto significa que para os estados o território é um elemento característico da sua
própria soberania, sobretudo quando estamos a tratar de imoveis. Estes são imoveis
porque estão (nada).
Quando estamos a tratar destas matérias, vamos precisar de execução da decisão
do território do estado. Tem a força coerciva de um estado a aplicar direito material de
outro estado.
PRINCÍPIO DO FAVORECIMENTO
Não é um princípio das conexões. O legislador não escolhe as leis tendo em conta
a HJI, é um fim que ele visa e pode tentar adotar as suas funções para a tentar atingir.
Mas nas normas de conflito da HJI não é uma conexão.
Ela está aqui para explicar que a HJI, sendo a finalidade última, porque aí há a
garantia de que nunca vai haver problemas no que tange àquelas decisões, ela não é um
princípio absoluto.
A própria HJI pode, em algumas situações, ser afastada, tendo em consideração
alguns destes princípios. Tem como exemplo o artigo 19º/2 do CC.
Uu877<
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE
27.09.2023 (T)
ORDENAMENTOS JURIDICOS COMPLEXOS
Como já vimos nas aulas teóricas teremos todas aquelas situações em que a LEX
FORI, usa as suas normas de conflitos, em particular o seu elemento de conexão, aponta
para o ordenamento jurídico estrangeiro.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem: no nosso caso a lex fori será sempre Portugal, Portugal não é um
ordenamento jurídico complexo, Portugal só tem 2 hipóteses forçadas, ou o elemento
de conexão, porque as normas de conflito são unilaterais, apontam para si próprio e não
há nenhum problema de ordenamentos jurídicos complexos, ou apontam para um
ordenamento jurídico que considera aplicável ao caso concreto. Problema que se suscita
nesta situação é que este ordenamento jurídico que aqui está é um ordenamento
jurídico complexo legislativo.
O que isto significa? Significa que dentro do Estado desse ordenamento jurídico
vigora mais do que um sistema jurídico, ou seja, há conjuntos normativos
diferenciados que se aplicam no mesmo ordenamento jurídico. Ou seja, para as
mesmas situações há leis diferentes.
Já a professora Isabel Magalhães Collaço diz que essa é uma interpretação que
não resulta daquilo que são as normas do DIP, muito pelo contrário, ou seja, diz a
professora que o problema do DIP é resolver conflitos de leis, quando esses conflitos de
leis resultam da existência ou coexistência de mais do que um ordenamento jurídico.
Os conflitos internos de lei de cada Estado soberano, não é um problema de DIP,
é um problema de direito interno de cada um desses Estados e, portanto, não cabe ao
DIP escolher qual é a lei que vai aplicar, selecionando uma de entre os possíveis dentro
do Estado soberano. Ou seja, o estado é soberano dentro do seu território, dentro do
seu ordenamento jurídico, caberá a esse estado soberano selecionar essa lei.
Esse DIP, dos 50 Estados dos EUA, das duas uma, ou é unificado, ou seja, é igual
para todos, ou então voltamos à estaca 0. Ter 50 DIP dentro dos EUA, qual aplicam no
caso concreto se o elemento de conexão vai desempatar a lei aplicável. Portanto, só é
possível recorrer nestas situações ao DIP se ele for dentro daquele ordenamento jurídico
unificado, sob pena de mais uma vez ser impossível determinar qual é o DIP de qual dos
Estados competente para resolver aquela situação.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se não existir nem uma coisa nem outra, a solução do legislador é introduzir novo
elemento de conexão que é a lei da residência habitual do interessado.
Diz bom, nós consideraríamos competente a lei da nacionalidade, que é o
primeiro requisito melhor para desencadear a aplicabilidade?, se não conseguirmos
escolher qual dentro da lei da nacionalidade, a lei que vai ser aplicada ao caso concreto
então aplica-se a lei da residência habitual.
Uma situação mais simples, a lei da nacionalidade é esta onde vigoram vários
sistemas jurídicos. Aquilo que o artigo 20º/2 última parte diz é: veja onde é que o
interessado vive e aplique-lhe a lei que está em vigor nesse lugar.
Com a residência habitual conseguimos selecionar um lugar ou um espaço
dentro do Estado da nacionalidade e dentro do Estado da nacionalidade, aplicou-lhe a
lei em vigor que está na delimitação fronteiriça dentro do Estado.
E se ele viver noutro país, ou seja, ele é nacional de um país, mas não vive nesse país?
Não só não selecionamos dentro dos Estados, qual era a lei que se aplicava, como
ainda juntamos outro.
Mas enfim, fora dessas situações excecionais, o legislador deu clara preferência
à lei da nacionalidade. Como? De entre as várias possíveis para cumprir o princípio da
maior ligação individual, a da nacionalidade era aquela que para o legislador português
cumpre em pleno esse princípio nos termos do artigo 31º/1.
Agora voltamos ao início, se é assim então o que é que acontece nas situações
em que este estrangeiro, nacional de um país com o ordenamento jurídico vive em país
diferente da sua nacionalidade. Diz, então, a formulação da professora IMC que essa
não é uma situação que esteja prevista no artigo 20º do CC e que o legislador não pensou
nela quando redigiu o referido artigo.
Portanto, temos uma lacuna legal para as situações em que o interessado não
reside no país da sua nacionalidade, no caso do artigo 20º.
E, portanto, para estas situações temos uma lacuna que está fora da previsão
normativa, significa que ou encontramos um exercício de analogia que se possa fazer
ao caso concreto, ou então a cada situação que se coloque no tribunal terá de ser
produzida pelo julgador uma norma ad hoc.
A professora IMC entende que esta é uma lacuna que se consegue resolver com
recurso à analogia legis, ou seja, diz ela que no ordenamento jurídico há uma situação
parecida com esta, à qual o legislador deu uma solução e, portanto, por serem
semelhantes analógicas quanto à sua previsão normativa, é possível estender a sua
aplicabilidade para as situações do artigo 20º, diz ela que a situação é que está prevista
no artigo 28º da lei da nacionalidade.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O artigo 27º diz que quando haja concurso efetivo de várias nacionalidades, em
que uma delas cidade portuguesa então aplicamos a lei portuguesa, se é para escolher
escolhemos a nossa. O artigo 28º resolve outro problema, este “sim” agora resolve
agora outro problema interpretativo essencial para resolver a lacuna que a professora
IMC diz que resulta, desde logo, do artigo 20º do CC.
Quando o interessado tem mais do que uma nacionalidade e nenhuma delas é
portuguesa, são todas estrangeiras. Quando isso acontece, vamos usar um critério para
desempatar, aplicamos a lei da nacionalidade do Estado, em que o interessado tenha a
sua residência habitual.
Não é um critério supletivo, o legislador do artigo 28º, diz que se alguém tem
mais do que uma nacionalidade, então vamos desempatá-las, escolhendo a
nacionalidade, considerando o lugar em que a pessoa vive. Se ele é espanhol, italiano e
francês e se viver em Florença, será a lei italiana.
Depois o artigo 28º, ao contrário do que vimos no CC, diz assim, “mas se ele não
viver em nenhuma”, introduz-se uma nova conexão através da formulação,
basicamente, de um princípio geral de DIP, que é, apliquem-lhe aquela que manifestar
a conexão mais estreita com o sujeito, ou seja, a denominada conexão manifestamente
mais estreita.
Sendo uma conexão de uma norma jurídica, ela é absolutamente oca, eu sei lá
qual é a conexão manifestamente mais estreita, sendo que pode ser um problema de
estatuto pessoal, um problema de estatuto real, um problema de estatuto obrigacional.
Então, como é que ela se concretiza no caso concreto? Tendo em consideração os
princípios do DIP, ou seja, como é que o legislador de DIP escolhe os elementos de
conexão? Considerando a lei que está mais próxima do elemento da relação jurídica que
suscita a questão controvertida, formulando a partir daí o princípio que permite
escolher a lei que está mais próxima.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Neste caso concreto como é que identificamos a conexão manifestamente mais
estreita?
Conforme aquela que no caso em concreto se evidenciar como aquela que está
mais próxima do sujeito. No caso do artigo 28º das nacionalidades, aquela que o sujeito
está mais próximo, usando esse elemento proativo 28º qual das leis de entre da lei da
residência habitual ou a lei da nacionalidade e se for a lei da nacionalidade que tem
vários sistemas jurídicas, com qual desses sistemas jurídicos é que o interessado se
considera mais próximo?
Mas agora, continuamos com um problema que será maior, que é, se eu fizer
este caminho todo, para encontrar a lei mais próxima do sujeito, o artigo 20º
parcialmente resolve a questão, eu com o artigo 28º da lei da nacionalidade resolvo
todas as questões que se podem colocar (que se podem suscitar em matéria de estatuto
pessoal, pois o 1º requisito da aplicabilidade do artigo 20º é a lei da nacionalidade e
critério de desempate é a lei da residência habitual).
Isto significa que o legislador precisava de resolver outras questões, não estaria
a cumprir o processo valorativo das folhas de lei, se se aplicasse o artigo 20º ... de outras
matérias que não sejam destinadas a estatuto pessoal, e agora a questão que se coloca
é: mas se assim for, então como é que aplicamos o artigo 20º? Não aplicamos,
lamentavelmente, ou seja, quanto a isto a doutrina não diverge, neste caso concreto, o
legislador não tratou da resolução dos problemas de ordenamentos jurídicos
plurilegislativos quando a matéria não é estatuto pessoal, há uma lacuna.
Como se resolve?
O problema está a seguir, porque a seguir o legislador dá-nos uma conexão que
permite escolher ... só que esta conexão que permite escolher de entre os vários
sistemas – conexão relativa a estatuto pessoal, portanto, não pode ser usada no caso
concreto da matéria porque estatuto real, obrigacional, de garantia, etc. - temos que
analogicamente, encontrar um critério ou melhor uma conexão que permita escolher a
lei de entre as várias possíveis dentro do ordenamento jurídico plurilegislativo.
Exemplo:
O facto ocorreu em Dalas, será a lei aplicável no Estado do Texas, dos EUA, em
matéria de responsabilidade civil extracontratual.
Não existindo esse direito interlocal e não havendo formas para desempatar,
aplicação analógica do artigo 28º e de entres as várias leis possíveis de aplicar aquela
pessoa, qual delas está mais próxima do sujeito? No nº3 nunca teremos o problema de
ter outras matérias de outros estatutos, porque o artigo 20º/3 são características de
determinadas pessoas.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
28.09.2023 (T)
Portanto, quando a fez fori considera competente uma lei estrangeira, mas esta
lei estrangeira não concorda e considera competente outro OJ. Pode fazer o seguinte:
pode considerar competente uma 3ª lei, ou então pode considerar competente a
própria lei do foro e devolve-lhe a competência.
- Ou transmite a competência à outra lei. Faz isto de acordo com o seu próprio
sistema de conflitos tem uma norma de conflitos e para aquela matéria elegeu
um elemento de conexão diferente do foro. Portanto entrega a competência a
uma 3ª lei.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
- Faz uma devolução à lei do foro, ou seja, vale para a competência a lei do
foro (L1).
Para resolver esta questão, ou seja, para tratar dos eventuais problemas de
matéria de reenvio ou devolução, os Estados adotam 1 de 2 posições.
1. Ou assumem que fazem referências globais.
2. Ou, pelo contrário, fazem referências materiais.
Para estas situações, que são comuns no DIP, o estado ou a lei do foro considera
competente a lei que não se considera competente. Ou transmitindo a competência ou
devolvendo a competência à lei do foro. Para resolver este problema conflitual, os
estados fazem então:
• REFERÊNCIAS GLOBAIS
• REFERÊNCIAS MATERIAIS
Quando um Estado, e agora não vou pôr L1 nem L2, porque é indiferente saber
qual é a lei do foro, quando um Estado que seja a lei do foro, considera competente uma
outra lei, adotará então uma destas 2 referências, ou seja as referências materiais ou as
referências globais.
Quando um estado adota referências materiais, significa que este estado quando
considera competente direito estrangeiro, ou seja, como LX considera competente LY,
só considera competente o direito de material de LY.
Isto significa que as leis, mormente a lei do foro que é a primeira que desencadeia
a questão, quando elege um elemento de conexão, adotam também no seu sistema de
conflitual um sistema de referências globais ou referências materiais.
Isto porque nós quando dizemos que com o elemento de conexão, o estado elege
a lei competente para resolver a questão, em direito Internacional privado há sempre 2
questões para resolver.
Isto significa que quando um Estado, com o seu elemento de conexão, diz que é
competente uma determinada lei, a questão que se coloca é, mas ela é competente
para quê?
Para ser ela a resolver o problema de DIP, ser ela a escolher a lei ou só para nos
dizer a resposta à questão material controvertida.
A diferença é que num Estado que ela é competente para resolver todo o
problema em comum. Porque se nós dissermos isso, se for essa interpretação que nós
fazemos, os Estados estrangeiros que vamos eleger naquele exemplo qual é LY, quando
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
receber o problema para o qual LX considera competente, o primeiro problema que ela
tem para resolver é qual é a lei que eu acho que é aplicável ao caso concreto.
Depende.
Faz referências globais ou materiais. Se fizer referências de materiais, significa
que LX acha que LY é competente exclusivamente para a questão do direito material,
não para resolver a questão de DIP.
Se quiserem, um estado que faz referências materiais considera que é o único
que pode resolver a questão de DIP. As leis que chamam a seguir são leis que
exclusivamente só servem para resolver a questão de direito material. A questão
conflitual é exclusiva deste estado.
NOTA:
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se este estado agora que tem a competência perante este para determinar qual
é a lei competente, nada impede que ele considere um 3º estado competente.
NOTA:
Um Estado que só faz referência material, o que este acha ou não acha em
matéria de direito Internacional privado, é absolutamente indiferente. Porque se este
só fizer referências materiais, significa que não considera que este tem competência
para decidir se acha ou não competente. Isto porque só permite que ele aplique no caso
concreto o seu próprio direito material.
NATUREZA DO REENVIO
Numa cadeia destas, nós não sabemos qual é a lei que vai ser aplicada no caso
concreto, ou seja, é preciso saber que os Estados estão anti-devolucionistas ou não, ou
seja, se fazem referências materiais ou se fazem referências globais.
Se nós dissermos que um estado faz uma REFERÊNCIA MATERIAL, significa que
este estado ou para este estado, não há outra lei aplicável que não seja L3.
Ou seja, se L2 é anti-devolucionista e se elegeu como competente esta lei, elegeu
a como competente exclusivamente para dar a solução de direito material. Isto significa
que este Estado que não admite que se aplique outro direito material que não seja o
que esteja em vigor no ordenamento jurídico de L3.
Se o estado adotar uma REFERÊNCIA GLOBAL, significa que este estado permite
que este resolva também a questão conflitual. Isto significa que L1 vai ficar à espera de
que digam afinal qual é que vai ser aplicado no caso concreto, e L1 pode voltar 1 de 2
posições:
Quando os Estados adotam referências globais podem adotar 2 teorias
devolução simples ou devolução dupla.
Isto significa que um Estado que faz devolução dupla, ou seja, o pressuposto faz
referências globais, vai aderir à solução deste estado. Portanto se L1 considera L2
competente, mas lhe faz uma referência global adotando a teoria da devolução dupla,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
significa que este estado diz que este é que tem a competência exclusiva para resolver
a questão conflitual. E este, quando resolver a questão conflitual, vai responder a este
qual é a sua solução conflitual, e este vai aderir exatamente a solução deste.
• Devolução simples
Um Estado que faz devolução simples, faz uma referência global para L2, neste
caso, para o estado do seu elemento de conexão, permite que ele use as suas normas
de conflito, mas já não permite que o estado seguinte usa as suas formas de conflitos.
Para L1 o único que pode usar as normas de conflito é este, este já não pode. Isto
significa que se este usar as normas de conflito e considerar competente um terceiro
estado, esse terceiro estado já não pode usar as formas de conflitos e L1 faz nenhuma
maneira referência material para impedir que ele se achar competente ou não.
Significa o que neste caso concreto, L1 considera competente L3. Nós ainda nem
sabemos o que é que L2 acha, mas L1 aquilo que vai fazer é: adotando uma teoria
devolucionista, permitir que este use o seu sistema conceptual, mas já não permite que
este estado use o seu sistema conflitual. Isto significa que considera que este é o único
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
que pode escolher qual é a norma direito material aplicável, mas quando este escolher
a norma de direito material aplicável é aquela necessariamente a aplicada. Já não
permite que este terceiro estado se considere competente ou não, ou seja para L1, no
limite a questão ficará resolvida em L3.
RELATIVAMENTE A PORTUGAL
Artigo 16º.
A regra do artigo 16º para Portugal é: nós somos os únicos com exclusividade
quando somos a lei do foro para resolver a questão conflitual. Portanto quando
escolhemos uma lei estrangeira nunca a consideramos competente, ou seja, quando as
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
nossas normas de conflitos, perante determinada questão, o legislador diz que é
competente a lei X no seu elemento de conexão, a competência cinge-se, nos termos do
artigo 16º, exclusivamente ao direito material dessa lei, nunca o direito conflitual, nunca
o direito Internacional.
Ou seja, para Portugal, por regra, independentemente do que esta lei de ache ou
se considere competente ou não se considere competente, ou considera competente L1
ou devolver o assunto para L1, é-nos absolutamente indiferente. Portugal considera
competente para resolver a questão material o direito estrangeiro de L2 do assunto e o
assunto morre aqui. Esta é a regra para ordenamento jurídico português.
No OJ Português não há problemas de devolução ou reenvio. Ressalvadas as
exceções.
Como exceções começamos pelos artigos 16º, 17º, 18º e 19º, e aquilo que
Portugal faz é, adotar os princípios de DIP e jogar com eles. Consoante um prevaleça
aceita, depois vem outro e já não aceita, e assim por diante. A partir de agora admite-se
posições excecionais em que não se aplica L2, em que se aplica qualquer lei em que,
nomeadamente a própria lei de portuguesa admitindo que a questão volta ao OJ
português, mas não adota nenhuma daquelas teorias.
As posições portuguesas que estão nos artigos seguintes são exclusivas de
valoração tendo em consideração os princípios que entram em conflito na questão do
sistema conflitual que está na lizado no caso concreto.
04.10.2023 (T)
A DEVOLUÇÃO OU REENVIO
A regra geral, que resulta do artigo 16º é que Portugal é anti-devolucionista, não
aceita o reenvio ou a devolução da competência à lei do foro. Sempre que o elemento
de conexão da norma de conflitos, a lei do foro, neste caso Portugal é a L1, considera
competente lei estrangeira, faz-lhes exclusivamente uma referência material, ou seja, a
lei do foro apenas considera competente o direito material desse ordenamento jurídico
estrangeiro, ou seja, a sua exclusividade da relação conflitual.
Não obstante, resulta também do artigo 16º, que esta é a regra geral, estando
ela sujeita a exceções que são a admissibilidade do reenvio.
Excecionalmente, Portugal adota esta posição, ou seja, exclusivamente faz
referências materiais para L2 quando considera competente um ordenamento jurídico
estrangeiro, ou seja, aplica necessariamente o direito material de L2. É indiferente para
Portugal saber o que L2 considera competente ou não, se se considera, se devolve a
competência a L1, ou se transmite a competência a outra lei estrangeira.
Excecionalmente, Portugal admite o reenvio, excecionalmente Portugal não faz
referências materiais, e aceita que continue a cadeia de reenvio.
Para o DIP, com a norma de conflitos portuguesa, numa relação jurídica privada
internacional, ou a lei portuguesa se considera materialmente competente (tudo fica na
lei do foro) ou se considerar competente lei estrangeira, o assunto para Portugal é a
aplicabilidade do direito material de L2 e não quer saber de mais nada, não admite o
reenvio.
Portugal admite o reenvio nos termos do artigo 17º e 18º e quer um, quer outro
implicam a verificação de 3 pressupostos, ou seja, para Portugal ponderar a
aplicabilidade da exceção quer do artigo 17º ou do 18º, admitir o reenvio por
transmissão de competências ou reenvio por retorno à lei do foro, é necessário que em
qualquer caso estejam verificados estes 3 pressupostos:
1º - A lei estrangeira, ou seja, L2, não se considere competente, ou seja, que haja
efetivamente uma situação de reenvio, ou de possibilidade de reenvio;
2º - O princípio base pelo qual Portugal vai admitir o reenvio é para garantir o
Princípio da harmonia jurídica internacional.
Ou seja, todos os estados, L2 em diante, têm de estar todos de acordo em aplicar
a mesma lei (o que faz sentido, pois se não houver harmonia jurídica internacional, os
Estados nunca vão ficar satisfeitos porque algum deles que não vai ver a sua posição ter
cabimento no caso em concreto).
Isto significa que o reenvio é meio necessário para atingir a harmonia jurídica
internacional, quando a lei que todos os Estados querem ver aplicada ao caso concreto
não é L2, porque se for L2, Portugal com a sua posição antidevolucionista consegue
atingir o mesmo objetivo.
Não obstante, literalmente no artigo 17º/1, aquilo que se conclui, é que Portugal,
excecionalmente, verificados os pressupostos, aceita uma das formas de reenvio por
transmissão de competências. Não obstante, na aula passada percebemos que pode
haver um reenvio por transmissão de competências em cadeia, L3 não se considera
competente e considera competente L4, que considera competente L5, depois
considera competente L6, por aí fora, ou então ainda, o reenvio por transmissão de
competências em cadeia com retorno, quando L5 devolve para L4, tem ali o fecho da
cadeia.
Literalmente, no artigo 17º/1 isso não está lá. O 17º/1 é, as normas de conflito
da lei estrangeira, indicada pelo nosso DIP considera competente uma outra lei, L3 e
esta considera-se competente, ou seja, literalmente só temos isto no artigo 17º/2. Não
obstante, o artigo 17º/1 implica que haja uma interpretação extensiva da sua previsão
normativa, passando a incluir também o reenvio por transmissão de competências em
cadeia, e o reenvio por transmissão de competências por retorno.
Tanto o 17º como o 18º aquilo que querem é que Portugal não estrague a
harmonia jurídica internacional e aplique a lei que todos os outros estados querem ver
aplicada ao caso concreto. Nessa conformidade, significa então que o legislador foi parte
nas palavras e na formulação da previsão normativa do artigo 17º/1 e deste artigo pode
haver as interpretações extensivas necessárias, quer para a existência do reenvio por
transmissão de competências em cadeia, quer pelo reenvio por retorno, no âmbito da
transmissão de competências, desde que todos estejam de acordo em aplicar uma lei
diferente daquela que Portugal aplicaria, Portugal aplicará a mesma lei.
Neste caso, aquilo que Portugal quer fazer é um juízo hipotético, o que é que os
outros faziam no caso concreto se fossem a lei do foro. Para além das conexões dos
ordenamentos jurídicos, precisamos de saber qual é a posição que eles adotam em
matéria de reenvio e se L2 fosse a lei do foro, consideraria competente L3 e fazia-lhe
uma devolução dupla, ou seja, a lei que L2 afinal considera competente é a lei que L3
considera competente. L3 se fosse a lei do foro considera competente L4 e faz-lhe uma
devolução dupla, ou seja, a lei que L3 aplica é a que L4 determinar.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
L4 considera competente L5, mas faz uma devolução simples, a lei que L4
aplicava? Uma referência global para L5, mas depois se L5 não se considerar
competente, não pode ser aplicada outra lei que não seja o direito material da lei que
L5 designar, ou seja, L6.
Que significa que se L4 aplica l6 no caso em concreto, L3 aplica L6, L2 aplica L6.
Se L5 faz uma devolução dupla a L6 significa que aplica o que L6 aplicar. Se L6 se acha
competente aplicaria L6, o que significa que neste reenvio por transmissão de
competências em cadeia, nos termos do artigo 17º/1, Portugal não aplica o artigo 16º,
aplica o artigo 17º/1 e aplica o direito material de L6.
Neste caso, não diretamente, mas com a interpretação extensiva que se
fundamenta no Princípio que está subjacente no Princípio da harmonia jurídica
internacional, ou seja, Portugal não ser o único que aplicará uma lei diferente daquela
que todos os outros Estados, em contacto com o sistema de reenvio querem ver aplicada
ao caso em concreto e essa lei não é L2. Portugal deixa o artigo 16º, deixa a sua posição
antidevolucionista e aplica L6.
Ao contrário dos estados que fazem devolução simples ou devolução dupla, que
aplicam uma determinada lei ou porque outro os escolheu, ou porque é aquela que no
limite admitem aplicável ao caso em concreto, em nenhuma dessas circunstâncias
garantem, efetivamente, que exista harmonia jurídica internacional. Adotam posições
devolucionistas que contribuem para ela, mas a lei que vão aplicar não garantem a
harmonia jurídica internacional.
Exemplo:
O artigo 17º/2 aquilo que exige é L2 ser a lei da nacionalidade e a lei da RH, se
não for a de Portugal, faz uma referência material à lei da nacionalidade, a lei da RH a
fazer uma referência material a L2, isto tem cabimento ou não?
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Isto não tem cabimento, porque não é necessário aplicar o artigo 17º/2. Nesta
situação nunca chegamos ao artigo 17º, porque os pressupostos para sairmos da regra
geral, para aplicarmos o artigo 17º é haver reenvio (há, L2 não se considera
competente), haver harmonia jurídica internacional, mas o reenvio ser meio necessário
para atingir a harmonia jurídica internacional. Portugal já aplicaria L2 de acordo com a
regra geral do artigo 16º fazendo uma referência material, pelo que o reenvio não é
meio necessário.
A questão que se coloca é, então, quais são as situações, que estão na 2ª parte do
artigo 17º/2?
Neste caso concreto damos origem àquilo que vamos ver na próxima semana
que é a lei satélite, em que nessa situação em concreto, será a única hipótese em que
conseguimos encontrar uma situação que se subsuma na previsão normativa do artigo
17º/2.
11.10.2023 (T)
Requisitos do 17º que são cumulativos, mas que, não obstante, a lei da residência
habitual, tanto pode ser Portugal, como pode ser um país estrangeiro e nesse caso o
artigo considera competente a lei da nacionalidade, ou a lei pessoal que resulta do artigo
17º/2.
Estando verificados os requisitos do art. 17º/2, aquilo que Portugal faz nessa
situação é a ponderação entre o princípio da harmonia jurídica internacional, (que está
subjacente à ratio da admissibilidade de reenvio, nos termos do artigo 17º e também do
artigo 18º), relativamente ao princípio da maior ligação individual que, no caso concreto
se suscitará, tendo em consideração facto de L2 ser a lei pessoal, estamos a tratar de
matéria de estatuto pessoal.
O artigo 17º/3 aquilo que ele diz é, algumas das matérias do 17º/2,
nomeadamente, “todas as matérias do estatuto pessoal” se L2 é a lei da nacionalidade,
significa que temos uma série de estatuto pessoal indiferentemente de quais sejam,
estamos a aplicar a lei da nacionalidade, estamos a aplicar a lei que têm maior
proximidade ao sujeito, mas para algumas das matérias de estatuto pessoal.
Portanto, o 17º/3 agora diz que, algumas das matérias do estatuto pessoal, as
que lá estão expressamente previstas, se a lei nacional (L2) devolver a competência para
a lei do lugar da situação dos bens imóveis, e esta lei (lex rei sitae) se considerar
competente, é o direito interno desta, desde não seja a lex rei sitae que se aplica.
Nos termos do 17º/2 nós íamos aplicar a lei da nacionalidade porque estamos a
aplicar o regime regra do artigo 16º. No artigo 17º/3 voltamos a esquecer o que é que
dissemos sobre o 17º/2 e voltamos a aceitar o reenvio, que tínhamos nos termos do
17º/1.
SE E QUANDO:
Qual é o princípio que está subjacente à aplicabilidade da lei do lugar da situação dos
bens?
O que é o exequátur?
Significa que os Estados, normalmente, não têm grande abertura para permitir
que outros tribunais e que outras leis decidam sobre direitos reais sobre bens imóveis.
Exatamente porque para cada Estado, ou seja, a ligação com o território, e um território
delimitado por fronteiras, é a diferença de um Estado de uma nação de um Estado
soberano, portanto normalmente eles são pouco permissíveis a isso.
Isso significa que os estados, normalmente, tendem a ter muita dificuldade, e só
em casos excecionais é que reconhecem estas decisões materiais estrangeiras, ou
aplicam direito material estrangeiro, e depois a execução decisões só pode ser feita no
lugar da situação do bem móvel, porque ao contrário de todas as outras situações o bem
móvel não é suscetível de ser transportado. Por exemplo, se for para alterar o direito de
propriedade, tem de ser uma autoridade publica em Portugal a fazê-lo. Se for para
penhorar o imóvel, tem de ser uma autoridade pública em Portugal a fazê-lo. Se for para
entregar o imóvel a fazê-lo. Ao contrário de outros efeitos sobre outros objetos, este só
pode depois ser executado pelos tribunais do próprio estado.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se as decisões podem ser tomadas pelos outros Estados e pelos outros tribunais,
a execução dessas decisões é exclusiva do Tribunal do Estado. Ou seja, só se reconhece
autoridade pública judicial, às entidades policiais e judiciárias de cada Estado e não
estrangeiros, que as coisas têm de ser reconhecidas no ordenamento jurídico português.
Portanto o exequátur, ou seja, a possibilidade ou a maior facilidade de executar
(executar não é a mesma coisa que no processo executivo) é de fazer cumprir as
decisões, será tão mais fácil, ou em alguns casos mesmo possível, só se for decidida pela
lei do lugar da situação desses bens imóveis. Portanto, quando temos um conflito entre
a maior efetividade decorrente do princípio da maior proximidade, então prevalece o
princípio da maior efetividade.
Neste caso, concreto, imaginem que tem uma situação deste género, chegariam
à conclusão (começando do zero) que tínhamos um esquema de reenvio.
A não ser que, tratando-se algumas das matérias que estão previstas no 17º/3,
L3 seja a lei do lugar da situação dos bens imóveis, em que aí voltamos a deixar 16º
voltamos a aplicar o 17º/1 por força do número 3.
Nesta situação têm verificado o 17º/1, o número 2 e o número 3. Ou seja, o
esquema andou como, regra geral do artigo 16º aceitamos reenvio. Aceitamos o
reenvio nos termos do 17º/1 voltamos a deixar não aceitar o reenvio nos termos do
17º/2 e no fim aceitamos o reenvio nos termos do 16º/3. Isto faz-se que com a sucessão
de potenciais conflitos entre princípios, em cada caso, se se verificarem nos termos do
artigo 17º, mais uma vez, é o legislador que vai encontrá-los e tenta aplicá-los no caso
concreto.
1. Artigo 18.
Neste artigo tem exatamente a mesma coisa que tínhamos até agora. Ou seja, a
existência de um reenvio, só que desta feita, o reenvio em vez de transmitir a
competência para L3, a lei estrangeira também não se considera competente e,
portanto, há reenvio, mas devolve a competência à lei do foro. Nesse caso concreto, o
reenvio a ponderar se aceitar ou não, já não vê no caso concreto a aplicabilidade do
artigo 17º, mas sim do artigo 18º.
Ou seja, se num caso prático considerar incompetente nos termos da lei ou da
norma de conflitos L2, mas L2 devolver a competência a Portugal, tem um reenvio e
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
fazem exatamente a mesma coisa, ou seja, a única diferença entre o artigo 16º e 18º é
que no artigo 18º o esquema acaba em L1. A típica (?).
Portanto, neste caso concreto, fiz uma referência ao direito interno português,
ou seja, se alguém fizer uma referência material para Portugal, é imperativo nos termos
do artigo 18º que L2 nos devolva a competência, então significa que L2 considera
competente L1 o que significa que temos reenvio, temos harmonia e que o reenvio é
um necessário. Ou seja, nós não aplicamos a nós próprios temos aqui 16º, mas L2 se L2,
nos fizeram uma referência material, e isso foi essencial a que L2 nos devolva a
competência, mas fazendo-nos uma referência, portanto L2 tem de ser a título
devolucionista neste caso, então, como tal, nos termos do artigo 18º/1, aceita a
devolução da competência e aplica-se no caso em concreto.
Tal como fazem no artigo 17º/1 também é preciso fazer uma interpretação ao
artigo 18º/1. Ou seja, 18º/1 literalmente tem este esquema de reenvio, este artigo diz
literalmente que “Se o DIP da lei designada pela norma de conflitos, L2, devolver para o
direito interno português, ou seja nos fizeram uma referência material, é este, ou seja,
o direito interno português, que se aplica”.
Não obstante, nós aqui também podemos fazer uma interpretação extensiva na
mesma consideração à ratio legis do artigo, ou seja, o que o legislador quer no artigo
18º é a mesma coisa quer no artigo 17º, quer que Portugal não seja o único a estragar a
harmonia jurídica Internacional, e, portanto, a aderir à solução que todos os outros, ou
outro Estado, considera aplicável no caso concreto.
Portanto tal qual no artigo 17º admitem o reenvio por transmissão de
competências, não só, mas também em cadeia do reenvio por transmissão de
competências com retorno.
No reenvio por retorno à lei do foro, para além retorno direto que está
expressamente previsto também admitem o retorno indireto à lei do foro, por exemplo
neste caso L2 não considera competente L1, mas considera competente L3 e é L3 que
nos devolve a competência.
L2, se faz uma devolução simples, significa que faz uma referência global para L3
e uma referência material para L1, ou seja, L2 considera indiretamente, mas considera
competente o direito material de L1. L3 faz-nos uma referência material, ou seja,
considera também competente do ordenamento jurídico português. É um retorno
indireto, mas não obstante, Portugal vai admitir a aplicabilidade da sua própria lei no
caso concreto, seu próprio direito material, para garantir a harmonia jurídica
Internacional.
A não ser, tal qual acontece no artigo 18º, haja um conflito entre HJI não é o
princípio da maior ligação individual.
A solução é diferente daquela que está no artigo 17º/2. Aquilo que se diz no
número 2 é que em matéria de estatuto pessoal, não aceitamos o reenvio quando:
Porque é que nos dissemos que nesse caso concreto Portugal não aceita o reenvio?
Portugal, nesse caso concreto, não admite a aplicabilidade de uma lei diferente
de uma das leis pessoais. Ou seja, nesse caso concreto, a aplicabilidade da lei da
nacionalidade.
Porquê?
Com 18º/2 o que ele diz é: Até aqui tudo bem. Temos como L2 a lei da
nacionalidade e ele vive cá. Significa que, apesar de nesse caso Portugal não estar a
aplicar a lei da nacionalidade, como ele vive no ordenamento jurídico português que
está a aplicar a outra lei pessoal que a lei da residência habitual.
Mas notem agora a segunda parte se L2 considerar competente Portugal, ou
seja, L2 considera competente uma lei que não é lei pessoal ou nenhuma das leis
pessoais, e a lei da residência habitual também considerar competente a lei portuguesa,
reparem na segunda parte do artigo 17º Portugal dizia: “Eu Não quero saber” aplicamos
da lei pessoal por 18º/2 mesmo sendo matéria de estatuto pessoal, Portugal vai admitir
a sua própria aplicabilidade no caso concreto, apesar de não ser natural que essa lei da
nacionalidade, que essa é a L2, que estamos a tratar de matéria de estudo pessoal, nem
na segunda parte é a lei da residência habitual.
Repare a posição e a exigência do artigo 18º/2 temos muito mais (?), no 17º/2
diz que Portugal não quer saber se aplicamos da lei da nacional, maior delegação
individual. No 18º/2 é se as leis mais pessoais acham que sou eu não me importo, mas
então para garantir o princípio da maior ligação individual devia ser consequentemente
aplicar L2.
Notem, é repartir por cada partido, porque se quem reparte e reparte é que fica
com a melhor parte, então (?).
Aqui a justificação é, ainda que seja a garantia do princípio da maior ligação
individual, mas no seguinte afloramento, aplicam e a lei que ambas as leis da maior
ligação individual aplicam no caso em concreto. Portugal assume que nesse caso está
garantido o princípio da maior ligação individual.
Ainda que seja uma diferença de regime relativamente ao artigo 17º/2, mas isso
é claramente uma questão protecionista relativamente ao OJ português. É numa opção
válida de não aplicar na estrangeira e aplicar na portuguesa, então vou garantir que se
aplica a lei portuguesa, neste caso concreto. Está claro está toda a gente de acordo,
também não me vou opor nessa situação.
De qualquer forma, L2 se faz devolução dupla a L3, significa que aplica a lei que
L3, considerar aplicável ao caso concreto. Se L3 fizeram uma referência material para
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
L1, significa que vai aplicar material o direito material de L1, o que significa que L2 aplica
L1.
Portanto temos que reenvio, temos HJI, e significa que esse reenvio é meio
necessário para atingir a HJI.
Neste caso, é um reenvio por retorno à lei do foro, portanto, os requisitos
relativos ao artigo 18º que não estão verificados no termos do artigo 18º/1 a não ser
uma interpretação extensiva da norma, porque não é L2 que devolve a competência, é
L3 que nos devolve a competência.
Mas, porque L2 é a lei da nacionalidade, significa que estamos a tratar de matéria
de estatuto pessoal. Isto significa que Portugal só vai aceitar o reenvio se: sendo L2 a lei
da lei nacionalidade, de duas uma:
- Ou ele vive em Portugal, que não é o caso.
- Ou então vive num país que também considera competente o direito interno
português.
Notem que, tal qual como acontece no artigo 17º/2, a lei da residência habitual,
neste caso, pode estar no esquema de reenvio, ao contrário do que acontece no 17º/2,
mas também pode ser uma lei satélite.
Se por acaso a lei da residência habitual não estiver no esquema de reenvio, não
obstante, aquilo que vamos fazer para determinar a aplicabilidade ou não do artigo
18º/2, é saber se a lei da residência habitual nos consideraria competentes no caso
concreto.
Se a resposta for positiva, então mesmo estando fora do esquema de reenvio,
nesse caso, estaria verificado o regime do artigo 18º esta é uma das opções. A outra
opção está a ser por exemplo esta, em que neste caso concreto a lei da residência
habitual está no esquema de reenvio, não está fora.
Tanto esta opção, como esta, são perfeitamente admissíveis.
A interpretação da norma é sempre no sentido de, não é por falta do âmbito da
previsão normativa relativa à HJI, que deixamos de aplicar a lei, neste caso a lei
portuguesa, e o último reenvio no caso concreto.
EXCEÇÃO
E depois tem o artigo 65º/1 na parte final, em que este além de tem sido de
aproveitamento máximo dos negócios jurídicos, tem um afloramento particularmente
relevante o que este é ou diz respeito à matéria da validade formal do testamento.
Como sabem, no OJ português para além do princípio geral do aproveitamento
máximo negócios jurídicos, quando estamos a falar de matéria sucessória, o legislador
tem especiais cautelas que amplia ainda mais os mecanismos para aproveitar os
negócios jurídicos.
Porquê?
Não se esqueçam que estes negócios jurídicos são mortis causa, ao contrário dos
outros negócios jurídicos que se podem repetir, o testamento é irrepetível. Sendo que
ele consubstancia simbolicamente a última vontade de alguém.
Portanto, o legislador tenta ao máximo perceber essa vontade que consta do
testamento. Portanto se virem o artigo 65º, ele está constantemente a dizer: “aplica-se
esta forma, se esta não der escolhem aquela”, ou seja, tem várias conexões alternativas
para tentar garantir a aplicabilidade da lei.
Ou então vejam a última parte do artigo 65º que eleva essa questão que é:
quanto à forma: aplica-se “ou, ou, ou”, portanto escolhe-se aquela que garante a
validade formal, ou então no fim, “se nenhuma delas conseguir, a lei que, ou para o qual,
as outras remetem, e se alguma dessas terceiras leis ou a lei do que foro considerem
competente, ou considerarem válido o negócio, nós aceitamos o reenvio”.
Estamos completamente fora do regime do artigo 17º e do artigo 18º aqui não
há referências materiais, não há nada, somos nós a preferir a cadeia de leis para
perceber se elas se vão a aplicar ou não ao caso em concreto.
FASE SEGUINTE:
Se for admissível o reenvio nos termos 17º ou 18ºdo código civil, ou seja, aplicam
L3, L4, L5 o que seja, ou então aceitam a devolução e aplicam o direito material do foro.
Não obstante, podem voltar ainda à regra do artigo 16º.
Por exemplo, artigo 17º está verificado número 1, como está verificado número
2, aplicamos L3, não tem problema nenhum. Ou então temos o artigo 18º aceitamos
que nos devolvam a competência. Ou seja, aceitamos o reenvio ou num ou noutro.
Ainda não concluímos corretivamente o que vamos aceitar, isto porque diz o
artigo 19º/1 que cessa o reenvio outra vez, ou seja se aceitarem o reenvio nos termos
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
do artigo 17º ou 18º, podem voltar a acabar com ele e aplicar 16º e aplicar L2 e arrumar
o assunto, não significa que apliquem L2, significa que podem aplicar L1 se:
Então agora temos outra situação, que é o princípio do favor negotii e princípio
do aproveitamento máximo, quando com o reenvio nobre, ou estão a dar prevalência
ao princípio da HJI, ao princípio da maior proximidade, mas se esses princípios entrarem
em conflito com o princípio de favor negotii, então afastamos esse e voltamos a aplicar
L2, ou seja prevalece o princípio do favor negotii, relativamente à harmonia jurídica
Internacional e a maior proximidade.
Ou seja, o reenvio que admitiram pelo artigo 17º ou pelo artigo 18º acaba e
notem, se deixarmos de aceitar o reenvio, voltamos, nos termos do artigo 19º, à nossa
posição anti-devolucionista do artigo 16º, ou seja, aplicamos L2.
No artigo 17º ou 18º chegamos a uma lei, que considera o negócio inválido e
ineficaz, mas se aplicássemos a nossa posição regra do artigo 16º, ou seja L2, o negócio
seria válido ou eficaz, nesse caso concreto fazemos cessar o reenvio que tínhamos
acabado de analisar e voltamos a aplicar o artigo 16º ou seja aplicamos o direito material
de L2 assumindo a nossa posição regra – Anti-devolucionista
Ou então, no artigo 19º/2, não será de aceitar o reenvio caso a conexão que lhe
deu origem seja autonomia da vontade. No código civil está no artigo 41º, ou seja,
segundo o legislador relativo artigo 19º/2, se as partes poderem escolher a lei aplicável
para o seu negócio jurídico de escolher, então, nesse caso concreto, se for uma lei
estrangeira, deve-se entender que as partes só fazem uma referência material para essa
lei estrangeira.
Ou seja, quando as partes dizem “eu quero aplicar a lei estrangeira”, diz o
legislador que as partes não estão a pensar em aplicar as formas de consumos essa lei,
mas a solução material dessa lei, ou seja, escolheram aquela que por algum motivo é
aquela que melhor acautela os seus.
Reparem, não vou explorar muito mais esta matéria também está no
regulamento de Roma e atualmente tem pouca aplicabilidade prática.
Não obstante, a posição doutrinária que resulta é, saber se esta norma do tipo
19º/2 é imperativo ou supletivo. Ou seja, se quando as partes escolhem uma lei é
efetivamente o artigo 19º/2, o limite ao reenvio imperativo, e reparem, se for, a partir
do momento em que alguém diga, para este negócio jurídico Internacional eu vou
aplicar direito chinês, deve-se ler “se esta norma foi negativa, direito material chinês
porque as partes estão obrigatoriamente a fazerem uma referência material” e aí, de
facto, o reenvio cessa.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Há doutrina que entende que este artigo 19º é supletivo. Ou seja, tal qual a
escolha das da lei é uma opção para as partes, se não escolherem a lei resolve e escolhe
por ela, também o artigo 19º/2 deve ser entendido como uma norma supletiva.
Logo, só há uma limitação ao reenvio, se se concluir que as partes efetivamente
quiseram limitar o reenvio no caso concreto, ou seja, se a norma relativa 19º/2 for
supletiva, nada impede que as partes a afastem no caso concreto, tal qual como as
partes podem escolher a lei, também podem dizer que querem afastar ou não a
aplicabilidade do artigo 19º/2. Se as partes disserem que querem escolher determinada
lei concluindo com as suas normas de conflitos, então já não aplicam o artigo 19º/2 e o
esquema de reenvio continua.
Como percebem, o artigo 41º tem um limite de escolha de lei, ? fraude à lei para
tentar chegar a uma lei diferente do que aquela que efetivamente o artigo 41º permite.
Em princípio não estaremos perante essa questão. As partes quando escolhem
uma lei, escolhem no termo de consideração da solução material, não passa pela cabeça
de ninguém as pessoas entrarem num regime do artigo 17º e 18º e depois logo se vê se
vai para trás ou para os lados. A situação é demasiado arriscada para permitir que as
pessoas queiram aplicar o sistema conflitual português e não o direito material
português.
O instituto da fraude à lei em DIP, cuja definição está no artigo 21º do CC, é uma
forma de violação da lei aplicável. Não uma violação da lei aplicável, tal qual se encontra
na fraude à lei quando ela é em relações jurídicas puramente internas. Neste caso é
indireta, isto significa que no âmbito do DIP se conseguirá a aplicação de uma lei
diferente daquela que seria aplicada se não houvesse a fraude à lei. Não se viola,
diretamente, o direito material, no sentido de evitar a aplicação ou de ver aplicado os
efeitos que se aplicariam no caso concreto, mas determinar por uma manobra
fraudulenta a aplicabilidade de uma lei que não seria aplicável ao caso concreto.
No âmbito do CC, do artigo 21º, podemos ter 2 tipos de fraude à lei: a fraude à
lei pode ser para internacionalizar uma relação jurídica, ou seja, uma situação em que
tem uma relação jurídica que não está dispersa por vários ordenamentos jurídicos,
portanto, uma relação jurídica puramente interna. O artigo 41º do CC, nessas situações
a autonomia da vontade não é suficiente para internacionalizar a relação jurídica. Ou,
então a relação jurídica já é internacional, mas através da fraude à lei vamos dar origem
a aplicabilidade de direito material diferente no caso em concreto.
Se olharmos para o artigo 21º do CC aquilo que ele diz é que com a aplicação das
normas de conflito são irrelevantes as situações de facto ou de direito criadas com o
intuito fraudulento para evitar a aplicabilidade de uma lei que noutras circunstâncias
seria competente. Ou seja, afastamos a aplicabilidade da lei que sem a manobra ou sem
a fraude seria aplicável.
Por fim, é preciso ser bem sucedido, ou seja, a fraude à lei só vê repercutido os
seus efeitos se efetivamente, a norma material que seria aplicada no caso concreto
deixa de ser em consequência da manobra defraudatória, ou seja, tem que haver uma
norma defrauda, ou seja, tem que haver direitos material, nacional ou estrangeiro, (a
fraude pode ser para internacionalizar uma relação jurídica e deixar a lei do foro, há uma
lei que seria aplicável que por causa da manobra e da norma jurídica deixa de se aplicar
ao caso concreto e passa-se a aplicar outra.
No final, entre aquilo que Portugal considera competente e aquilo que vai
aplicar, podem ser coisas diferentes, no âmbito do reenvio.
Podemos ter uma manobra que até pode dar para subsumir-se na norma
instruída, mas depois por causa da questão dos reenvios, se admite ou não admite
reenvio, no final da história podemos chegar à aplicabilidade da mesma lei. Não há
norma defraudada, neste caso, apesar de ter havido tudo o resto. Portanto, é preciso
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
testar as 2 situações para conseguir concluir se há uma norma de direito material que
foi defraudada no caso concreto.
O DIP não se vai imiscuir dos efeitos jurídicos materiais das alterações das
circunstâncias de facto ou de direito que levam a que o elemento de conexão aponte
para ordenamento jurídicos diferentes. A única consequência que tem é puramente
para determinar a aplicação da lei aplicável ao caso concreto, que é desconsiderar a
manobra. Os últimos efeitos da manobra não são problema de DIP.
A grande questão que aqui se coloca, que põe a doutrina a divergir de alguma
forma é que o artigo 21º do CC, apesar de não dizer, na realidade protege sobretudo
questões de direito interno. Ou seja, para situações de internacionalização da norma de
conflitos, porque notem, nesse caso, naturalmente, a norma defraudada será a
portuguesa, que se deixa de aplicar ao caso em concreto, ou enão alguma situação em
que Portugal seria aplicável, nomeadamente, por aceitar o retorno à lei do foro, mas
deixa de se aplicar no caso concreto.
A doutrina dominante entende que não e entende que o artigo 21º se deve
aplicar quando a norma defraudada não é a lei do foro, mas é uma lei estrangeira que
deixa de ser aplicada em detrimento de outra.
A questão que se coloca agora é, mas sendo assim, deve-se sancionar sempre e
sancionar é aquilo que temos no artigo 21º, ou seja, considerar irrelevante a manobra e
aplicar a lei que seria aplicável ao caso concreto, ou devemos ter alguns critérios de
determinação. Há 2 posições dominantes na doutrina, sendo que, tendencialmente, a
jurisprudência segue esta última.
Ferrer Correia entendia que em matéria de DIP, a lei do foro está legitimada para
sancionar a fraude à lei, quer a norma defraudada seja a lei do foro, quer seja lei
estrangeira. Se a questão é uma relação jurídica privada internacional, então a lei do
foro é que pode determinar se há ou não fraude à lei e, portanto, se tem consequências
jurídicas internacionais.
A professora Isabel Magalhães Collaço, entende que também deve haver sanção,
ou seja, o que está no artigo 21º para a fraude à lei quando a norma defraudada é o
ordenamento jurídico estrangeiro, mas impõe condições para que a lei do foro, neste
caso Portugal o faça.
Essas condições, só existem para a professora Isabel quando a lei é estrangeira.
Se a norma defraudada for uma norma de direito material português, a fraude é sempre
considerada sem outras condições, para além dos requisitos referidos há pouco. Para
ela o que acontece é que se a norma defraudada for a lei estrangeira, tem de haver o
facto no ordenamento jurídico da norma defraudada, uma previsão normativa idêntica
ao nosso artigo 21º do CC.
Se a lei estrangeira que é defraudada no caso concreto, fosse a lei do foro, e não
sancionasse a fraude à lei, não tinha a normativa de fraude à lei, ou seja, não extraía
nenhuma consequência há existência de fraude, então o que ela diz é “então nós vamos
fazer mais do que aquilo que eles fariam no caso concreto?”.
Imaginemos que no caso concreto, aplicamos a lei francesa em vez da lei
espanhola, e que há uma fraude. O que a professora Isabel diz é para ver no OJ espanhol,
se este também tem fraude à lei e se também se protege em relação à mesma. Porque
se o OJ espanhol fosse a lei do foro, visse a fraude à lei, mas não a sancionasse de alguma
forma e deixava aplicar a lei estrangeira à mesma, o que ela diz é “vamos fazer mais para
proteger o OJ espanhol do que aquilo que eles fariam no caso concreto para se proteger
a si?”.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Portanto, a condição, para que o artigo 21º se aplique, relativamente a direito
material estrangeiro, é o OJ da norma defraudada também tem de prever a fraude à lei.
Se ele não sancionar a fraude à lei, nós também não vamos sancionar por ele, não
faremos mais para proteger aquele OJ estrangeiro do que aquilo que eles próprios
fariam para se proteger a si.
Mesmo que o OJ estrangeiro não sancione a fraude à lei, por questões de justiça,
admite a aplicabilidade para o OJ do foro do artigo 21º. – serão situações de escola-.
Mas, não obstante, é uma clausula de salvaguarda em que apesar de não estar verificada
a primeira situação, a segunda por razoes de justiça impõe a sanção para a fraude a lei.
A sanção nunca é direito material, é exclusivamente para feitos de DIP naquela situação
em concreto, para aquela questão controvertida em concreto, ou seja, considerar
irrelevante a manobra e, portanto, considerar os estados ? para outras situações que
não estão no âmbito da manobra, nem no âmbito da norma jurídica, é aplicável.
18.10.2023 (T)
A QUALIFICAÇÃO
Significa que nos termos do artigo 15º o que se denuncia é que, quando em
matéria conflitual se determina uma determinada lei como competente e se aplica ao
caso concreto no esquema de reenvio, Portugal considera competente uma
determinada lei estrangeira e depois aplicará a lei que for admitida, nos termos do
artigo 15º.
Aquilo que se percebe no artigo 15º é que uma coisa é a seleção dessa lei, ou
seja, ela é aplicável ao caso concreto, isto é, de todas as leis que estão em conflito,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
positivo, ou seja, de todas as leis ou de todos os ordenamentos jurídicos, cujos sistemas
jurídicos estão em conflito para se aplicarem ao caso concreto, o primeiro momento é
selecionar uma, mas isso a única coisa que faz é selecionar uma das leis que passará ao
processo de qualificação, que é o processo de legitimação da aplicabilidade dessa lei ao
caso concreto.
Qual é a lei que o legislador para uma determinada questão considera aplicável?
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Para matéria de estatuto pessoal, considera aplicável a lei pessoal que é a lei da
nacionalidade, portanto, como elemento de conexão, é a lei que o legislador considera
aplicável. Agora, vamos verificar um outro elemento, que até agora não temos
considerado, pelo menos não temos feito referência expressa a ele, que é outro
elemento da norma de conflitos que é o denominada conceito quadro das normas de
conflito.
O conceito quadro da norma conflitos, notem, singelamente é aquilo que nos
permite identificar para a questão controvertida onde é que essa questão se subsume
na norma de conflitos. Portanto, é aquilo que nós fazemos quando queremos saber se
uma determinada pessoa tem ou não capacidade de exercício. O que é o que nós vamos
fazer? Vamos à procura de uma norma de conflitos onde se subsuma o problema da
capacidade de exercício.
Esse elemento a que nós vamos recorrer agora é o denominado conceito quadro
Ou seja, com a categorização do conceito quadro, isso vai nos permitir com o
ordenamento jurídico aplicável ao caso concreto, pelo elemento de conexão determinar
quais são as normas, os institutos, as figuras jurídicas, o que quer que seja, que o
legislador quis que integrassem esse conceito e que estão legitimadas a ser aplicadas
para a resolução da questão controvertida.
Mas o exercício que a partir de agora se faz é, vamos à procura de todos os factos
que permitam subsumir essa previsão normativa e se subsumir desencadeiam
estatuição, só que nós não temos nem previsão nem estatuição, temos conceito quadro
e elemento de conexão.
Vamos pegar nas normas de direito material estrangeiro que elegemos como
elemento de conexão para o subsumir como conceito quadro. Qual é a dificuldade desta
subsunção? Ao contrário da típica subsunção das normas jurídicas, em termos factos
que se subsumem na previsão de uma norma, neste caso concreto, o objeto da
subsunção são normas.
Ou seja, normas de direito material que têm de se subsumir no elemento de uma
norma de conflito, ou seja, o exercício de subsunção em DIP para legitimar a
aplicabilidade da lei eleita pelo elemento de conexão da norma de conflitos é um
exercício de normas de direito material, que tem de subsumir em normas
concretamente do conceito quadro da norma de conflitos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O artigo 64º, como é o DIP ... o grande objetivo do direito, ainda que haja Estados
que não adotem entre si, o grande objetivo do DIP é encontrar a melhor lei para aplicar
naquele caso, ou seja, que de entre todas as possibilidades encontrar a melhor e depois
melhor que vários processos de Seleção entende que o menos mau é o sistema conflitual
e dentro do sistema de conflitual o menos mau são normas de conflito bilaterais e nisso
ainda o menos mal é assentá-los em Princípios valorativos que sejam gerais no âmbito
de DIP. (?)
Significa que quando temos uma norma de conflito com um conceito quadro em
que determina o âmbito de aplicabilidade daquela norma de conflito, ou seja, a tal
categorização de questões jurídicas que podem incluir-se naquela norma de conflito.
Significa o quê?
Que o legislador do DIP tem de estar preparado para receber normas de direito
material português se for a lei do foro aplicável ao caso concreto, mas também normas
de direito material estrangeiro e nós, não ser que estivesse o legislador em reserva
mental no sentido de “eu vou fingir que não me importo de aceitar normas de direito
material estrageiro, mas depois mato a questão no processo de qualificação da norma
direito material estrangeiro”.
Das duas uma: ou tem um sistema parecido com o meu, ou então nunca vai
conseguir integrar-se no âmbito do nosso conceito quadro, ou seja, numa perspetiva em
que o DIP está pronto para receber, quer o direito material do foro, quer direito material
estrangeiro, o legislador tem de preparar o conceito quadro de forma a esgotar as
questões do direito privado.
Acontece, por exemplo, vejamos o artigo 30º em que o próprio legislador fala da
tutela como institutos análogos à tutela do ordenamento jurídico português. Para
situações de tutela temos o poder paternal, depois têm para maiores incapazes,
eventualmente curatela ou então temos para menores ou maiores incapazes a
administração de bens, mas também não se confunde com o âmbito da tutela. A tutela
é o exercício das responsabilidades parentais por alguém que não seja o ascendente
daquele menor.
Porquê?
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Porque não conseguimos encontrar um paralelo entre o direito material
estrangeiro e o direito material português que influenciou a relação do nosso conceito
quadro.
O nosso legislador tanto não quis influenciar que diz em DIP que, escolheu para
testamento de mãos comuns ou para pactos sucessórios a lei pessoal. Se o legislador
quisesse mesmo no sentido interpretativo, nem sequer admitia essa aplicabilidade.
Porquê? No nosso caso são nulos quaisquer testamentos de mão comum ou
pactos sucessórios. O que significa que o processo de qualificação tem um objeto que é:
só pode pedir Direito material que esteja no conceito quadro.
Mas o conceito de quadro tem de ser flexível o suficiente. Para que não se limite
aos sistemas o instituto jurídico homólogo, o direito interno português. Isto significa que
o princípio é: nós escolhemos o Direito material e dizemos que se aplica L3, aplica-se L2,
aplica-se o que quer que seja.
Não podendo nós trazer todo aquele ordenamento jurídico para resolver a
questão controvertida, o processo de qualificação vai permitir fazer aquilo para a
situação jurídica concreta, que queremos resolver. Trazer as normas de direito material
desse ordenamento jurídico e notem não é que preveja a questão controvertida, mas
que façam parte integrante o tal juízo de subsunção jurídico, do conceito quadro da
nossa norma de conflito.
Ou seja, quando nós dizemos que temos um problema ou uma questão jurídica
controvertida e vamos determinar o direito de material estrangeiro, a única coisa que
nós vamos saber é que vamos ao direito material estrangeiro, buscar as normas de
direito material, porque se tudo corre bem serão aquelas que vamos aplicar à questão
controvertida. Mas antes de as aplicar a questão controvertida, nós só conseguimos
trazer do direito material estrangeiro as normas que se subsumam no âmbito de
conceito quadro.
Vejamos o artigo 877º do CC, imaginemos que temos uma situação jurídica
internacional em que temos uma compra e vende de pais para filhos e em Portugal, um
dos irmãos, anular ou querer anular esta venda.
Nos termos do 877º do CC, qual era a norma de conflitos que aplicaríamos para
determinar se esta compra e venda era válida? Estão pendentes nos tribunais
portugueses, está pendente uma ação que se discute a compra e venda de um imóvel
que está inserida no âmbito das obrigações, porque foi celebrada entre pais e filhos sem
consentimento com os outros.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem, o artigo 877º está inserido em que parte? No direito das obrigações, o
legislador adotou para as normas de conflito a mesma sistemática que adotou para os
restantes livros na tradição germânica. Em princípio e desde logo o problema que aqui
está é um problema de relações obrigacionais.
É um problema de relações obrigacionais, de validade do contrato das obrigações
decorrentes do contrato, eficácia do contrato, etc. Ou seja, desde logo a matéria geral
do artigo 41º, portanto, das relações obrigacionais. Há várias normas, mas esta será mais
evidente na sistemática.
Se pensarmos bem, o artigo 877º não tem problema nenhum no que tange ao
direito das obrigações, tem uma pessoa que quer vender e outra que comprou e o
contrato está cumprido. O problema qual é: não é o problema de uma compra e venda,
mas sim é que há uma relação familiar entre parentes na linha reta que o legislador por
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
objetivos estranhos ao direito das obrigações, quis evitar que haja situações de
privilegiar os descendentes, relativamente, a outros.
No artigo 41º temos tudo aquilo que é relacionado com o estatuto obrigacional.
Validade, formal e substancial, cumprimento, efeitos, impossibilidade de comprimento
e o artigo 877º, aquilo que quer é calcular as quotas indisponíveis de alguns parentes
que são sucessíveis uns aos outros, ou seja, matéria de estatuto pessoal o que significa
que quando vamos buscar a norma jurídica e encontrarmos a ratio legis do legislador e
quando encontramos a ratio legis do nosso legislador do conceito quadro, temos de
concluir que são comuns porque só aí é que há o exercício de subsunção.
Ou seja, quando o nosso legislador do DIP quis a mesma coisa, seja o português
ou estrangeiro, com aquela norma de direito material. Ou seja, as normas têm a mesma
função que têm as nossas normas de conflitos, precisamos de encontrar o processo
valorativo que levou o legislador a prever por um lado a norma de conflito e por outro
as normas de direito material que permitiriam resolver aquela questão.
Neste caso nós íamos buscar o artigo 877º que resolvia, mas esta norma com
esta ratio legis não é a mesma que o legislador no artigo 41º pensou. Notem, é a ratio
legis do conceito quadro que determinou o elemento de conexão.
Se o pressuposto para eleger aquele direito material estrangeiro não está verificado
significa o quê?
Que não está legitimada a aplicabilidade daquela norma de direito material, não
passa o processo de qualificação. E o que temos de fazer aqui? Esta norma não passa no
processo quadro do artigo 41º, temos de voltar ao direito material estrangeiro há
procura de outra, outra que faça a mesma coisa e tentar que se subsuma ao conceito
quadro.
De duas uma: há norma de conflitos que passa e ótimo, está resolvido. Ou então
não há. O que acontece? Com esta norma de conflito e com este conceito quadro não
conseguimos legitimar nenhuma norma jurídica que resolvesse a nossa questão
controvertida. Ou seja, nós considerávamos aplicável um determinado ordenamento
jurídico, mas as normas de direito material desse ordenamento quando trazidas do
processo de qualificação, nenhuma delas se subsume no nosso conceito quadro, ou seja,
continuamos com a questão controvertida.
E temos outro problema: com esta norma de conflito com este direito material
estrangeiro agora já não temos direito material para aplicar ao caso concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Qual a solução?
Qual o problema?
QUALIFICAÇÃO
Portanto, tal qual estávamos a ver uma aula de ontem, esse processo é exigido
nos termos do artigo 15º do Código civil, que nos dá, desde logo, duas informações que
implicam que se determine qual é a solução jurídica para a questão controvertida
daquela situação concreta. Portanto, quando se considera aplicável um determinado
ordenamento jurídico, para resolver a questão do direito Internacional privado, aquele
ordenamento jurídico não fica acriticamente e em peso, se quiserem, pronto para ser
aplicado para a situação em concreto, portanto, não há esse processo primeiro de
receção do direito material estrangeiro, por um lado.
Por outro lado, ou seja, ele aplica-se como direito estrangeiro e não como direito
estrangeiro foi recebido pelo ordenamento jurídico português e, portanto, passa a ser
direito português para aquele caso concreto. Os processos que aprenderam,
nomeadamente em direito Internacional Público, direito da União Europeia e, por outro
lado, que nunca será aplicável, a esse ordenamento jurídico, mas só as normas,
institutos jurídicos, grupos das figuras jurídicas, o que quer que seja, que sejam
suscetíveis de resolver aquela questão contrapartida. Mais uma vez, com perceberam,
aquela questão jurídica.
PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO
Portanto as normas, ou melhor, aquilo que o artigo 15º então, nesse processo
de legitimação do direito material de lei pelas normas de conflitos, é um exercício de
subsunção. Tal como lhes disse ontem, ao contrário daquilo que acontece tipicamente
na resolução de questões controvertidas em direito, que implica que factos se
subsumam numa determinada previsão normativa para desencadear uma estatuição,
não tendo as normas de conflitos: primeiro - previsão normativa; segundo - não visando
resolver questões do direito material. Portanto, as questões controvertidas em DIP
implicam a determinação da escolha de uma lei e essa lei é que vai resolver a questão
material controvertida. Este exercício de subsunção é de normas jurídicas em normas
de conflitos. Portanto, num exercício de subsunção puramente jurídico de normas sobre
normas. Portanto, de algum exercício de abstração que aqui está associado.
(Relativamente a isto não se adota grandes variações, é uma teoria que foi
desenvolvida pelo Professor Ferrer Correia e, portanto, nessa parte, ainda que o manual
que lhes é recomendado que explique particularmente bem no processo de
qualificação, o manual do Professor Ferrer Correia é recomendado, portanto, quanto a
esta matéria, não havendo alterações, se quiserem ler diretamente a fonte e o
desenvolvimento da teoria, o Professor Ferrer Correia tem curiosamente tem uma
escrita muito fácil. Se lerem algo que é como ouvir alguém, portanto, é particularmente
simples de perceber aquilo que ele escreve, se quiserem. Ir diretamente à fonte,
presumo que lhes possa ser particularmente útil nesse caso.)
Portanto, primeira coisa que ele diz é, precisamos de fazer esta interpretação do
conceito quadro. Depois precisamos de determinar qual é a questão controvertida.
Reparem aquilo que nós fazemos sempre, logo em primeiro lugar, na resolução
dos casos. A questão controvertida em direito Internacional privado, porque o direito
Internacional privado não tem como objeto a resolução da questão material, a questão
controvertida é a interpretação da figura jurídica que está associada à questão
controvertida.
Ou seja, para o DIP, como nós fazemos sempre é, ao contrário das situações de
resolução da questão de direito material, que é olhar para os factos subsumida a norma
e desencadear a estatuição, o nosso exercício é ao contrário, é de baixo para cima.
Nós temos os factos, nós perguntemos a norma para resolver a questão de
direito material nem é isso que queremos. Depois precisamos de encontrar a categoria
jurídica que está associada à questão controvertida.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
No caso prático que do não sei das quantas, que tinha 16 anos, e não sabia se
podia casar ou não. O que é que nós precisamos de fazer para sabermos se ele em
Portugal tem capacidade nupcial ou não? Temos a idade do senhor e vamos à procura
de uma norma que nos diga a partir de que idade é que alguém pode casar e em que
condições.
Ora no DIP, é no indiferente, saber se ele tem ou não capacidade para casar, o
que nós temos de identificar é: para decidir se alguém, em razão da idade, pode casar
ou não, temos que identificar a categorização normativa em que aquela questão se
coloca, ou seja, temos que identificar que a questão controvertida é um problema de
capacidade para um contrato em particular que é o contrato de casamento.
Se fizermos isto pelas normas jurídicas, aquilo que diz é: Até aos 16 anos não tem
capacidade de gozo, a partir dos 16 anos, tem capacidade de gozo, pode casar com
autorização ou sem autorização. As consequências são aquelas ou estas. Ou seja, é a
norma jurídica que nos dá consequência. A falta ou não de capacidade.
Na matéria de DIP, é-nos indiferente isso que nós precisamos é da categorização,
ou seja, partimos os factos para cima e não para baixo, como acontece nas questões
controvertidas. Portanto, a interpretação da premissa menor, se quiserem neste
exercício, é a categorização jurídica da questão de direito material. Ou seja, a situação
de facto ao qual as normas jurídicas, depois darão resposta, haverão de se categorizar
num determinado instituto, numa determinada figura e essa que nós precisamos de
identificar nesta premissa menor - a nossa questão controvertida, ou seja a questão
controvertida para o DIP.
Perceber se, para aquela questão controvertida, ou seja, para aquela questão de
direito, a que o DIP vai dar resposta, e para o qual elegeu um determinado elemento de
conexão, seja no direito interno, seja no direito estrangeiro, se aplicável direito material
estrangeiro, aquilo que depois nós vamos fazer é um exercício de comparação entre:
A questão que aqui se coloca agora é: OK, nós fazemos a interpretação de uma
interpretação de outra e vemos como é que elas coincidem ou não coincidem.
Para além disso, o DIP tem, ou deve, estar preparado, sobretudo quando adota
proposições de sistemas conflituais de normas bilaterais, ou seja, normas que querem
aplicar, tanto o direito português, no caso concreto, como direito material estrangeiro,
aquilo que as norteia não é um favorecimento da lei do foro, mas a aplicabilidade da lei
que estiver mais bem colocada para resolver aquela questão. E qual é essa? aquela que
responde ao princípio que está subjacente à norma de conflito.
Isto significa que o âmbito do conceito quadro, sob pena então de não termos
sequer normas de conflitos para elas, têm de estar preparados para não se limitarem a
institutos jurídicos que sejam homólogos ao ordenamento jurídico português.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Diz o Professor Ferrer Correia: “Temos que estar preparados, então, para que
nunca, dentro dos limites da interpretação, a interpretação do direito Internacional
privado, se pode limitar ou ficar espartilhado àquilo que são os institutos jurídico-
materiais do foro.”
Para o DIP isto é péssimo, porque a partir do momento em que olham para
aquilo, se não tiverem em consideração a interpretação, que já vamos ver se faz daqui
a pouco, no DIP aquilo que se faz é pôr-lhes umas palas para o lado. Ou seja, já não vêm
mais nada no que tange casamento, por exemplo, que não seja aquele que encontram
no código civil, os efeitos que encontram no código civil, quem pode e quem não pode
casar as limitações.
No DIP é evidente, até porque nós, sob pena não termos um exercício de
interpretação, se nos afastarmos totalmente do texto da lei, tem de manter o mínimo
de correspondência que seja ao texto da lei, sob pena de estarmos no exercício,
arbitrariedade e não de interpretação. Mas, ainda que nós partamos da nossa
interpretação jurídica para os conceitos jurídicos que estão no conceito quadro, não nos
podemos limitar a eles. Porque, senão, não encontramos mais nenhum regime jurídico
que não seja leis estrangeiras que tenham os mesmos regimes jurídicos que nós temos
na sistemática hermenêutica que nós temos. Não é possível interpretá-lo de outra
forma.
Portanto, ainda que partamos dos nossos conceitos de direito material, eles não
são suficientes para nos dar o âmbito da norma. Ou seja, agora precisamos de criar a
tal indeterminabilidade valorativa.
Quando tem casamento, relações entre costume e este é o conceito quadro. Para
efeitos de qualificação não nos interessa, pelo menos, o que é que o conceito quadro
diz. Interessa-nos o que é que o legislador quis atingir com aquele conceito quadro.
Logo, se aquilo que o artigo 15º quer é encontrar o regime do instituto visado,
que não pode limitar a interpretação do conceito quadro à nossa lex materialis fori,
porque interpretação de tem de ser fora do sistema, ou seja, tem de ser de forma
autónoma. A única regra interpretativa que nos permite fazer isso é: a interpretação
teleológica e a interpretação funcional.
A interpretação teleológica da norma, como aprendemos em IED, (é o maior
exercício de abstração que temos na interpretação) é quando não percebendo aquilo
que o legislador quis, vamos buscar qual foi a finalidade que ele visou, relativamente
àquela norma. Temos de encontrar o fim visado pelo legislador.
O fim visado pelo legislador, associado, desde logo, ao princípio que está
subjacente aquela norma de conflitos, vai nos permitir o tal exercício de
indeterminabilidade. Isto porque, a partir de uma determinada altura, nós já não
estamos à procura do casamento, já estamos à procura de o que é que o legislador quis
quando pensa no casamento, nomeadamente em DIP. Quis tratar de quê? De situações
em que 2 ou mais pessoas, agora tem o mundo todo a vossa frente. Querem constituir
uma família. Sem tem contratos com União de facto, são 2 ou mais, são do mesmo
género, são do género diferente, aquilo que nós queremos encontrar é o que é que
significa o casamento.
Artigo 23.º
Interpretação e averiguação do direito estrangeiro
1. A lei estrangeira é interpretada dentro do sistema a que pertence e de acordo com
as regras interpretativas nele fixadas.
2. Na impossibilidade de averiguar o conteúdo da lei estrangeira aplicável, recorrer-se-
á à lei que for subsidiariamente competente, devendo adotar-se igual procedimento
sempre que não for possível determinar os elementos de facto ou de direito de que
dependa a designação da lei aplicável.
Se usarmos o artigo 41º, vamos interpretar o que é que o legislador quis com um
conceito quadro do artigo 41º. E aquilo que o legislador quis, na interpretação de
teleológica ou funcional, quanto à teoria do professor Ferrer Correia, foi de tratar das
vicissitudes do quê, da constituição, do cumprimento ou incumprimento de um
determinado negócio jurídico.
Significa o quê?
Portanto, imaginem quando tiverem direito material estrangeiro, ainda por cima
quando não tem regimes homólogos ao português e por isso é que o exercício de
interpretação, quanto mais elástico conseguirem, quanto mais conseguirem expandir
esta elasticidade, mais abrem no âmbito do conceito quadro, que é particularmente
importante.
Porque senão estão constantemente a reprovar as normas de direito material
estrangeiro, porque elas não têm paralelo com o direito material português.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
(É um exercício muito interessante, mas naturalmente, mas no caso prático
alguém terá de dizer o que é que o legislador nos diria, no caso concreto, sob pena,
naturalmente, de não conseguirem entender.
Mas aquilo que eu preciso, e essa aí no ultrapassável, as normas de conflitos e o
conceito quadro essas têm de conseguir interpretar, porque são de direito português.
Portanto, aconselho vivamente que a técnica é interpretação teológica saber
exatamente como é que se faz uma interpretação teleológica.
Portanto, encontrar a finalidade visada pelo legislador para aquela norma
jurídica, quanto mais quanto maior for a abstração que conseguirem fazer uma maior
possibilidade tem de expandir, que é esse o objetivo do DIP que é o âmbito do
conceituado, senão depois não conseguem fazer os exercícios de subsunção.)
25.10.2023 (T)
A lei aplicável implica não só determinar qual a lei competente, mas também a
qual a lei aplicável e depois dentro da lei aplicável quais as normas jurídicas que
resolvem a questão controvertida relativamente aos quais é preciso um processo de
legitimação, através do processo da qualificação e só nesse momento, não o
ordenamento jurídico da lei aplicável, mas sim essas normas em particular de passar no
processo da qualificação é que podem ser chamadas e serão utilizadas nesse caso
concreto, para resolver a questão controvertida. Sejam normas do foro, direito material
do foro, seja naturalmente de direito material estrangeiro e neste último caso por
maioria de razão.
Notem, aquilo que falamos em DIP, 1º não é isto. O conceito de ordem pública
que temos em DIP e que está expressamente previsto no artigo 22º, não é comparável
com as razões de ordem pública que temos no direito material. Apesar de terem o
mesmo nome, resultam da mesma visão do legislador, os conceitos, os efeitos e as
consequências jurídicas são diferentes. Por um lado, no âmbito do direito material, no
direito interno, o que está em causa é salvaguarda de outros interesses privados,
relativamente ao qual o legislador entende terem de ter uma proteção acrescida, ou
então, razões de interesse público, que o legislador, naturalmente, pretende acautelar.
Se o DIP não quer saber, por regra, da solução material estrangeira ou a solução
material, seja ela qual for, nomeadamente, estrangeira e enfim, se o objetivo do DIP e
do processo conflitual é escolher a lei que está melhor colocada, de acordo com o
processo para resolver a questão, se nós limitarmos a aplicabilidade de direito material
estrangeiro a uma solução diferente, daquela que existe na lei do foro, significa então
que aquilo que estamos a fazer é, efetivamente, ainda que com um longo processo
conflitual a, de uma forma adaptada, dar origem a normas unilaterais que estivessem
constantemente a direcionar para a lei do foro. A questão não é essa.
Tanto assim é, que todos os casos de DIP que encontremos, encontraremos esta
cláusula ou exceção de salvaguarda, que os Estados que permitem a utilização do
processo conflitual para resolver conflitos de leis no espaço, não se vejam confrontados
com a obrigação de aplicar direito material estrangeiro, que não admitiam aplicar no
caso concreto.
Primeiro, pressuposto base que até agora já sabemos: é indiferente, por regra,
que a solução de direito material estrangeiro não coincida com a solução de direito
material do foro. Nem sequer é preciso que o direito material do foro tenha aquela
questão jurídica, reconheça aquele instituto ou figura jurídica e, portanto, ela seja
totalmente omissa no OJ do foro, é absolutamente indiferente ela ser diferente. Ou seja,
não é a diferença enquanto solução material, por parte dos legisladores que vai ditar a
utilização ou suscetibilidade de aplicação desta cláusula.
A questão reside naquilo que é diferente. Para este efeito, para efeitos do artigo
22º, aquilo que se entende é, que no âmbito desta diferença existe para determinadas
soluções um núcleo essencial que apesar das soluções serem diferentes, não pode ser
posto em causa pela solução material de direito estrangeiro.
Por exemplo, dizer que a maioridade em Portugal se atinge aos 18 anos, aquilo
que o legislador visa no OJ português e no OJ estrangeiro, apesar das soluções serem
diferentes, nem sequer tem uma única diferença quanto aos efeitos jurídicos a
salvaguardar, ou seja, os legisladores entendem que a maioridade para efeitos de
capacidade de exercício depende de uma determinada capacidade natural e o legislador
português, para proteger o próprio menor, o legislador português entende que é aos 18
o legislador estrangeiro entende que é aos 21. Nada contra relativamente a isso.
A questão que se coloca é, no âmbito de uma determinada solução jurídica que
implica que dentro dessa solução jurídica os legisladores possam variar no sentido da
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
decisão, nos requisitos, nos critérios, nas soluções jurídicas, etc., há sempre um núcleo
essencial (falamos da ordem pública do foro, da ordem pública portuguesa), o legislador
português considera essencial. Ou seja, cada solução, seja igual à portuguesa, seja
diferente da portuguesa, tem sempre de garantir que esses núcleos essenciais está a ser
garantido.
A questão que se coloca é, que núcleo essencial e de quê? Bom, aquilo que se
entende como sendo o núcleo essencial de solução jurídica que conflitua com aquela
que é a solução jurídica material do foro, é aquela cuja diferença põe em causa, valores
essenciais, ou seja, os valores fundamentais.
Valores que têm desde logo, uma fonte muito importante, com um valor
constitucional, portanto qualquer solução de direito material que sendo diferente
daquela que é determinada pela ordem pública portuguesa, mas a diferença implica
uma violação de princípios constitucionais português, implica uma violação da nossa
ordem jurídica.
Sendo verdade que a ordem pública internacional tem a ver com o direito interno
português, não é bem verdade. Se uma das fontes destes valores essenciais (a principal
fonte), nomeadamente, quando estamos a tratar de direito privado, estamos sobretudo
a tratar de direitos, liberdades e garantias e do afloramento dos direitos de
personalidade, portanto, temos sempre a principal Carta de Direitos Fundamentais, nos
termos do artigo 8º, Portugal recebe todas as regras de ius cogens para além dos direitos
fundamentais terem de ser fundamentados de acordo com a Declaração Universal de
Direitos Humanos. São textos de direito internacional, naturalmente que há aqui uma
componente de direito internacional, ainda que de uma forma ou de outra seja tida pela
ordem jurídica portuguesa. Não é verdade que é só um problema de direito interno,
também pode haver um problema internacional quando estamos a tratar ao nível dos
direitos humanos ou da interpretação da constituição ao nível dos textos internacionais,
mormente, na DUDH.
Dentro deste núcleo duro, daquilo que reside a essência da ordem jurídica
portuguesa, encontramos os princípios vinculantes para o legislador. Ou seja, se o
legislador português, tem de atuar e procurar soluções legais (podem ir num sentido ou
noutro, tem é de estar de acordo com a CRP, sob pena de nem sequer direito português
se aplicar no caso concreto, em Portugal os Tribunais não estão obrigados a aplicar
normas que considerem não conformes com a CRP). A reserva de ordem pública,
garante, quando estamos a aplicar direito material estrangeiro que o julgador no caso
concreto, também não aplicará uma norma.
Notem, o direito material estrangeiro não é recebido no OJ português, porque
se fosse o julgador não tem forma de fazer alinhar a solução de direito material
estrangeiro com a CRP, porque o direito material estrangeiro não tem de estar
conforme à CRP.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Com isto, consegue encontrar na solução, ou pode encontrar uma solução de
direito material estrangeiro, que não é por ser diferente da solução de direito material
português, é porque a diferença da solução de direito material estrangeiro, implica uma
violação dos Princípios conformadores do Estado, que estão designados na CRP.
Por exemplo, um divórcio em Portugal de um casal muçulmano, em que de
acordo com a lei aplicável ao caso concreto, conclui-se que a senhora não tem o direito
a pedir o divórcio, mas ele tem. É uma solução diferente da nossa, nada a opor, ou seja,
em abstrato não há nenhum juízo de valor que se esteja a fazer à solução enquanto
norma geral e abstrata, agora no caso concreto, se daquela solução nós limitarmos o
exercício de direito à extensão do contrato de casamento, fundado no género da
outorgante, significa que estamos a violar um dos princípios essenciais do Estado
português, o Princípio jurídico que é, não há discriminação em razão do género.
Isto significa que neste caso concreto, podemos limitar a aplicabilidade do direito
material estrangeiro.
Isto significa que nós conseguimos em abstrato explicar quais são esses valores,
que variam ao longo do tempo – a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo
é uma questão de evolução e maturação social, a questão da adoção relativa a
homossexuais, ou a solteiros, é também uma questão de evolução de ampliar aquilo que
é o núcleo de cada um dos direitos -, só se consegue ver de acordo com a aplicação no
caso concreto. Portanto, a verificação da existência de uma violação de ordem pública
depende necessariamente daquilo que são as circunstâncias do caso concreto e da
existência (ou não) no caso concreto da efetiva violação ou compressão de um valor que
nos é essencial.
Se isso acontecer, diz o artigo 22º que a questão se resolve desta forma: Princípio
do mínimo dano, ou seja, afasta-se a norma de direito material estrangeiro que ofende
a nossa ordem pública (exercício valorativo), as outras que existem (podem ser várias),
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
não se afastam, só aquela que implica uma violação a nossa ordem pública, se se afastar
essa norma em concreto e não se gerar para a resolução da questão controvertida uma
lacuna, isto é, não ficarem questões por resolver, então continuasse a aplicar direito
material estrangeiro.
Princípio do mínimo dano, o limite não é imediato, primeiro tenta-se fazer um
exercício interpretativo do direito material estrangeiro, afasta-se a parte que ofende a
nossa ordem pública, se o resto existente enquanto solução jurídica conceber uma
solução de direito material, nós aplicamos sem problema nenhum. Se isto não for
possível, ou seja, se afastarmos aquela solução de direito material estrangeiro e
continuarmos com a questão controvertida por resolver, esquecemos tudo o que
aplicamos até então, porque aplicamos a lei do foro, aplicando-se L1.
26.10.2023 (T)
RESERVA DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL
O legislador usou mecanismos que estão previstos no artigo 22º do CC para desta
forma se limitar a aplicabilidade de direito material estrangeiro.
Percebemos que este conteúdo de reserva de ordem pública internacional do
Estado do foro, é um conceito altamente indeterminado, particularmente elástico e
volátil. Desde logo, cada Estado tem a sua própria ordem pública internacional e para
além disso, dentro de cada Estado aquilo que é a defesa de valores de princípios
essenciais de um Estado é limitável ao âmbito da culpa (?).
Nas matérias de DIP aquelas que é mais comum encontrar as questões relativas
à ordem pública, nomeadamente, em direito privado, da família, das sucessões, o direito
da UE não se imiscui diretamente nessas questões, mas, não obstante, a interpretação
do tribunal tem de ser feita, de acordo com esses mesmos princípios valorativos.
Não obstante, não se volta a aplicar outra vez o direito material estrangeiro, cuja
aplicabilidade acabamos de limitar nos termos do artigo 22º do CC. Todo este processo,
em que excluímos a aplicabilidade de direito material estrangeiro, recusamos porque
viola a nossa ordem pública e aplicaremos direito interno português, a não ser que se
verifique agora outra coisa e voltemos o mesmo direito material estrangeiro.
Notem, o direito material estrangeiro que nesse caso nós vamos aplicar, é o
mesmo que nós recusamos a aplicabilidade momentos antes, porque viola a nossa
ordem pública internacional. Então nós aplicamos direito material estrangeiro e já
tentamos de várias formas, mas ele está constantemente a violar a nossa ordem pública,
como? Interpretá-lo de forma que ele não viole a nossa ordem pública, mas há situações
em que mesmo o direito material estrangeiro que viola a nossa ordem pública, o
julgador vai admitir a sua aplicabilidade no caso concreto.
Elas não estão, naturalmente, previstas no artigo 22º do CC, portanto, é uma
construção puramente doutrinária e aquilo que a doutrina entende, no caso concreto,
o professor Batista Machado, foi quem desencadeou esta Teoria, aquilo que ele entende
é que os efeitos do limite à aplicabilidade do direito material estrangeiro, decorrente da
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
reserva de ordem pública internacional devem ser em alguns casos atenuados. É o
chamado Princípio do efeito atenuado da exceção da ordem pública.
Nós dizemos, que nos termos do artigo 22º, temos um limite à aplicabilidade de
direito material estrangeiro. Não resta outra alternativa que não seja aplicar direito
material português. Para o direito material português aquele casamento é inexistente,
havendo uma violação da ordem pública e, portanto, se não há casamento também não
há divórcio.
Notem, salvaguardando a nossa ordem pública o que é que vamos fazer? Vamos
estar a afastar o direito de adquiridos, ainda que seja no âmbito de outra legislação
relativamente aos efeitos patrimoniais em particular. É preciso ponderar aquilo que
vamos dar causa na esfera jurídica desta pessoa, versus, aquilo que nós vamos proteger.
Pode ser demasiado gravoso para alguém suportar os efeitos daquilo que é a
decorrência do artigo 22º, da aplicabilidade da lei material do foro, versus, aquilo que
nós deixamos de proteger no caso concreto.
É atenuado para quê? É atenuado até ao limite da garantia dos efeitos adquiridos
que vamos salvaguardar no caso concreto.
08.11.2023 (T)
Naturalmente, que a ratio legis terá um determinado instituto visado, mas aquilo
que o DIP quer é que ele não esteja contido naquilo que são os nossos próprios institutos
de direito. Encontrar a ratio legis, permite encontrar qualquer instituto,
nomeadamente, no direito estrangeiro e, sobretudo, se não houver esse instituto
homólogo no ordenamento jurídico português, que no limite se possa subsumir em
matéria de DIP.
Se o âmbito dessa interpretação tiver de ser, necessariamente, de acordo com a
lex formalis foro, ou seja, temos de desprender daquilo que são os nossos institutos de
direito, para encontrar a ratio legis e nomearmos o raciocínio na busca pelas normas de
direito material, mormente quando estamos a falar de direito material estrangeiro,
significa que temos de partir de acordo com o instituto conforme no ordenamento
jurídico português. Aquilo que fazemos é abri-lo ao máximo, no sentido de perceber que
o legislador ali o que disse foi determinar os objetivos e interesses que é isso que vamos
perceber.
Quer numa situação, quer noutra, se temos um conflito negativo, significa que já
esgotamos todas as interpretações materiais possíveis da questão controvertida, já
usamos todas essas interpretações para desencadear conceitos quadro distintos e
nenhum deles passou no processo da qualificação. Aqui vamos ter um problema, em
que vamos concluir, efetivamente, que temos uma lacuna, ou seja, temos uma questão
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
controvertida que se se podia subsumir em várias normas de conflitos, nenhuma delas
passa no crivo do artigo 15º e, portanto, não há norma de conflitos e sem norma de
conflitos, temos uma lacuna legal.
O artigo 17º/1 e nº2, sendo que um dos grandes princípios de DIP e que há
harmonia jurídica internacional para garantir segurança jurídica, é afastado em prol do
princípio da maior ligação individual, idem o artigo 18º/2, mas notem, se a questão de
ordem formal for, por exemplo, a maior efetividade, 17º/3, em princípio as questões de
ordem formal vão prevalecer sobre as questões da ordem material.
Esta ponderação que é mensurável, porque vai depender das circunstâncias, será
mais vincada consoante o estatuto real ou a qualificação real tiver sobre o princípio da
maior proximidade sobre coisas imóveis, que é essas que efetivamente o 17º/3 que nos
fazem afastar a conexão pessoal e o Princípio da maior ligação individual.
Há várias formas de resolver esta questão, cada uma delas mais interessante que
a outra, mas particularmente complicadas.
Vamos apenas nos referir a alguma delas, nomeadamente, há forma como
aprendemos quando temos alguma lacuna no direito. Se há uma lacuna, significa que
não temos norma, se não termos norma partimos para os princípios. O primeiro deles é
a analogia legis ou iuris, vamos tentar usar uma determinada norma que regule uma
situação parecida e aplicá-la ao caso concreto.
Em DIP essas situações têm fórmulas específicas para serem usadas,
nomeadamente, através destas técnicas que aqui estão (mas que vamos ultrapassar),
ou então não conseguindo utilizar a analogia, a necessidade imperativa de criar, o
julgador não se pode abster de julgar, mesmo na ausência de leis questões que estão na
ordem jurídica, que é a criação de uma de conflitos ad hoc, que se esgota no caso
concreto, ou seja, ela é só aplicável no caso concreto.
09.11.2023 (T)
Para terminar da matéria do CC, vamos falar hoje da última matéria que ficou.
Para além das questões que são muito interessantes em termos dogmáticos e também
em termos práticos, mas que ela em termos de efetividade prática está muito esbatida.
Artigo 14º do CC. Este artigo inicia, com o qual vamos agora terminar a matéria
conflitual no CC, a matéria relativa ao processo conflitual no ordenamento jurídico
português, através da especificação da composição (?) jurídica dos estrangeiros em
Portugal.
Nos termos do seu nº1 aquilo que diz é que os estrangeiros, são equiparados aos
nacionais quanto ao gozo dos direitos civis, salvo expressa convenção em contrário. Ou
seja, decorre do artigo 14º/1 que em qualquer situação esse facto de alguém ser
nacional de um país que não seja Portugal, que não pode nunca limitar,
independentemente, do vínculo jurídico que resulte para esse seu país, que não seja
reconhecido ou que essa pessoa não possa usar os seus direitos civis, tal qual é a
reconhecido a todos os cidadãos portugueses.
Este nº1 não suscita grandes dúvidas interpretativas, o problema está no nº2 do
artigo 14º. Aqui existe para grande parte da doutrina, o denominado Princípio da
retaliação. Isto significa que nos termos do nº1 Portugal reconhece os direitos civis que
reconhece aos portugueses, aos estrangeiros que cá estejam, o nº2 diz que se o país
desse estrangeiro reconhecer direitos civis aos seus nacionais, mas não os reconheça
aos portugueses nesse país, então nós não reconhecemos os direitos civis a esses
estrangeiros em Portugal.
Há quem defenda que este artigo 14º/2 é inconstitucional, face ao artigo 13º da
CRP, ou seja, ele consubstancia uma discriminação em razão da nacionalidade,
relativamente ao qual o artigo 13º da CRP, sendo um princípio fundamental não admite
restrições ou limitações a não ser nas situações em que a constituição o permite. A
constituição não o permite e, portanto, o nº2 também não pode permitir. O que, notem,
não é estranho que para quem defenda a inconstitucionalidade deste artigo nº2, seja
estranho porque a nossa CRP é de 1976 e o CC é de 1966, como sabemos quando entrou
em vigor a CRP de 76, as normas de conflito muitas delas foram revogadas, em virtude
da alteração da CRP, nomeadamente, em matéria de família e sucessões, igualdade
entre os cônjuges, os filhos legítimos e ilegítimos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Este artigo, para quem o entender inconstitucional, passou ao crivo da revisão
do CC e, entretanto, a aplicabilidade efetiva dele não tem sido muito importante. Como
não foi revisto na altura, agora teria de ser declarado inconstitucional (3 vezes pelo
Tribunal Constitucional) ou numa revisão do CC. De facto, para quem entenda este nº2
como um Princípio da Retaliação, ou seja, concebemos todos os direitos civis exceto se
não os concederem a portugueses nesse país estrangeiro, de facto pelo Princípio da
Retaliação ele viola, francamente, o artigo 13º da CRP, portanto, será inconstitucional
(mais uma vez, para quem o entender assim).
A não ser que para esse direito político, o que esteja em causa não seja a
organização do estado enquanto tal, mas a organização de uma determinada
comunidade dentro do Estado, por exemplo, questões relativas à RH, ou então,
questões relativas à possibilidade, nomeadamente, dos compromissos internacionais de
Portugal ao nível da UE, de garantir a livre circulação de pessoas e para não limitar a
livre circulação de pessoas é preciso reconhecer a essas pessoas que podem circular
livremente que os seus direitos políticos não vão ser afetados porque vivem num país
diferente da sua nacionalidade.
Ou então, aos países em geral da CPLP, porque se o elemento característico da
nacionalidade, sobretudo para a naturalização é o domínio da língua portuguesa,
naturalmente, que essas pessoas, têm uma afinidade com o povo português que é
diferente de qualquer outro. Portanto, nessas circunstâncias há uma discriminação
positiva associada à nacionalidade.
A verdade é que não é difícil encontrar direitos civis que sejam direitos
fundamentais, a questão é, é difícil encontrar direitos civis que estejam ligados a uma
conexão nacionalidade, que funcionem ao nível das relações jurídicas privadas. O direito
a votar, não é um problema de direito privado, mas sim de direito público.
Ter capacidade eleitoral ativa é um direito civil, é um direito fundamental, mas
não é objeto das nossas questões jurídicas de caráter privado.
Encontrar um direito civil que esteja no âmbito das relações jurídicas privadas,
dos quais dependa a nacionalidade, não é particularmente fácil, há alguns exemplos que
a doutrina tenta dar que, francamente, para a professora estão na ressalva do nº1 do
artigo 14º.
A professora percebe e concorda com o exercício de interpretação do nº2, mas
que na verdade para ela não tem aplicação prática
A doutrina invoca uma série de exemplos, que são, nomeadamente, aqueles que
estão associados a situações, no âmbito de relações jurídicas privadas, que falamos
delas, mas que são objeto de tratamento específico em alguma legislação de DIP, que
diz respeito a questões, nomeadamente, de investimento estrangeiro em Portugal,
nomeadamente, quando estamos a tratar situações de empreitadas em que o Estado
seja um dos sujeitos.
Temos de ter o Estado a atuar como privado no caso concreto, porque se o
Estado estiver a atuar como entidade pública, então aplicamos o direito administrativo
e já não estamos no âmbito do DIP.
Se for uma coisa dessas, para fomentar a atividade económica portuguesa, uma
limitação desse gênero, eventualmente, em algumas situações de contratos de
concessão, em que aí, aplicando direito privado, se possa conceber por exemplo, que
não possam ser entidades estrangeiras a concorrer. Há instrumentos de direito privado
que podem ser utilizados, nomeadamente, quando há interesses públicos a
salvaguardar, ou então mais paradigmático (ainda que se conseguia subsumir na 2ª
parte do nº1 do artigo 14º, sem problema nenhuma), que diz respeito ao investimento
de capital estrangeiro em empresas privadas na bolsa de valores. Ou seja, a compra de
capital social cotadas em bolsa em Portugal, naturalmente, elas têm de estar abertas,
quando abre o capital social para a respetiva compra, os Estados estrangeiros estão
limitados ao número de ações que podem comprar aos portugueses.
Como são empresas cotadas em bolsa, isso significa que são as maiores empresas
de Portugal e elas significam que em termos de economia e de saúde de economia, as
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
melhores empresas e, portanto, aquilo que é o controlo delas através de capitais
privados portugueses.
Pela professora isso estaria pelo nº1 porque primeiro, se não estiver pelo nº1 e
se entramos pelo nº2, significa que no país desse estrangeiro, os portugueses também
teriam alguma limitação no investimento em bolsa, normalmente há, mas pode não
haver. Para além disso, e ainda que estejamos no âmbito de direito privado, a professora
tem muitas dúvidas que conseguisse funcionar aqui a própria autonomia da vontade, no
artigo 14º, porque aquilo que limita o investimento estrangeiro, é o interesse público,
não o privado. Portanto, tal qual acontece nas relações jurídicas privadas internas,
quando há um interesse público há normas imperativas que impedem que os privados
consigam ultrapassar aquilo que ali está, tem muitas dúvidas no caso concreto, porque
o que está subjacente é o interesse público e, portanto, há ali normas imperativas que
não se compadeceriam com a aplicabilidade do artigo 14º/2 e a suscetibilidade depois
da possibilidade dessas pessoas depois investirem ou não, está limitada por aquilo que
o Estado daquela pessoa determinaria ou não para português.
16.11.2023 (T)
NACIONALIDADE
Têm vindo grandes alterações, quanto à lei da nacionalidade nos últimos anos,
sobretudo a partir de 2015/2018/2020/2022. Ela foi recentemente alterada. Tem aqui
um objetivo de garantir até por questões de inclusão, que seja concedida nacionalidade
de forma mais simples. Depois temos as situações típicas, as situações em que a
nacionalidade passa a ser mercantilizada.
Por outro lado, temos também a matéria que diz respeito aos refugiados,
refugiados políticos, ou seja, daqueles que fogem, às situações de perseguição nos seus
próprios países num contexto bélico.
Das várias Convenções de Genebra e, por isso também, a Convenção de Genebra
em matéria de refugiados políticos inclui, também, matéria relativamente a DIP. Não se
considera a lei pessoal, a lei da nacionalidade, mas a lei onde a pessoa está. Não tem de
ser a RH basta ser qualquer residência legal onde se encontre para passar a ser a
conexão pessoal.
O âmbito é aquele que que já analisamos da matéria do artigo 25º. Ou seja, toda
a matéria de estatuto pessoal incluindo também aquelas que vimos do artigo 26º, 27º e
do 30º, que fazem parte do âmbito pessoal e, portanto, aplicando-se a matéria relativa
ao estatuto pessoal e da nacionalidade. Salvaguardando situações em que um prol de
outros princípios, que não seja o princípio da maior ligação visual, nomeadamente o
princípio do favor negotti se obtém desde a nacionalidade, a Lei da residência habitual
como o artigo 32º, ou o artigo 28º.
Mas, enfim, também a possibilidade de usar uma conexão diferenciada daquela
que já vimos aqui.
Mais uma vez, sem prejuízo de conflitos que haja com outros princípios,
nomeadamente, a matéria relativa do artigo 28º.
Notem: vamos esquecê-lo, isto porque este é matéria da capacidade relativa ao
aproveitamento do negócio jurídico, no âmbito da ideia do SUB princípio que é a
proteção do comércio jurídico local, tipicamente em matéria obrigacional.
Se ele disser que é competente para uma parte e não para outra. Aplicamos para
uma parte o regulamento e para a outra aplicamos o código. Sem prejuízo, o artigo 28º
por exemplo fica afastado pela aplicabilidade do artigo 13º do regulamento ainda que a
matéria para determinar se a pessoa é ou não capaz para celebrar o negócio seja
expressamente excluída da aplicabilidade do regulamento de Roma I.
PESSOAS COLETIVAS
No que tange às pessoas coletivas a conexão regra é a do artigo 33º do CC. Este
aplica-se às pessoas coletivas de natureza civil. Para as de natureza comercial há uma
regra específica no código das sociedades comercias (irrelevante para o teste).
A regra é o critério da sede, ou seja, onde a pessoa coletiva tiver a sede, será esse
o elemento pessoal para aqui ser considerado.
ESTRANGEIROS EM PORTUGAL
Portugal reconhece para estrangeiros que fazem parte dos países que têm como
língua oficial português ou também português, especiais relações, nomeadamente para
nesse caso concreto, haver uma maior equiparação relativamente aos portugueses,
ainda que essas pessoas que não sejam nacionais de Portugal, mas são nacionais de
outros países, o que não existe com outros países, em que não existe essa proximidade
fraterna com Portugal.
22.11.2023 (T)
O caso foi remetido ao Tribunal de Justiça, porque eles invocaram que estavam
a expulsar a criança, que era inglesa e que não a podiam expulsar do país, exatamente,
devido ao princípio associado aos efeitos da nacionalidade.
O Tribunal de Justiça determinou que era necessário garantir o direito subjetivo,
sendo este a garantia que determinada pessoa tem. Temos aqui a extensão dos efeitos,
decorrentes do direito subjetivo, devido à nacionalidade.
Bom, isto tudo muito exemplificativamente. Estes são os casos mais conhecidos,
mas para explicar esta nova dimensão dos estatutos que são interpretados na
aplicabilidade dos regulamentos, mas que influenciam aquilo que é a interpretação
também do direito português e também do DIP, no que tange aos efeitos do mesmo,
nomeadamente, à própria ideia de ordem pública que fica condicionada ou é levado
também a uma segunda camada.
Não só os princípios inerentes ao direito português, mas também os princípios
e direitos àquilo que Portugal recebe, nomeadamente a interpretação do Tribunal de
Justiça bom.
E agora vamos passar para o primeiro dos 4 regulamentos que vamos dar em
matéria de direito Internacional privado, o denominado Regulamento Roma I.
REGULAMENTO ROMA I
O regulamento Roma I, é o sucessor da denominada convenção de Roma em
matéria de obrigações contratuais. O âmbito de aplicação de Roma I tal qual era o da
Convenção de Roma, se se colocar alguma das questões, cujo âmbito de aplicação esteja
previsto no Regulamento, não se aplica o CC e aplica-se, necessariamente o
regulamento.
Este regulamento, ou melhor, a matéria que está neste regulamento foi aquela
que foi tratada com maior rapidez ao nível da UE, porque é em matéria de obrigações
contratuais, aquelas situações em que por um lado mais questões conflituais se
colocavam aos tribunais.
Por outro lado, tratando-se de matéria dos contratos em geral, era aquela que
era mais fácil o acordo dos EM para a interpretação daquilo que eram ou poderiam ser
os princípios que estavam associados.
Notem, tratar de matéria obrigacional, em que o princípio regra é a autonomia
da vontade, cujos contratos têm o conteúdo que as partes quiserem, é particularmente
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
mais simples do que tratar de problemas de pactos sucessórios ao nível das sucessões,
quando apenas alguns Estados os reconhecem.
Portanto, naturalmente, quer pela extensão do número de casos, quer pela
facilidade de acordos, a matéria das obrigações foi a primeira a ser regulada. Mais uma
vez, primeiro pela Convenção de Roma da década de 80, a que se seguiu o Regulamento
da UE de 2008, o comumente designado regulamento de Roma I, ou seja, das obrigações
em geral.
Este diploma enquadra toda a matéria que tem nos artigos 41º e 42º do CC.
Significa que o âmbito material do regulamento coincide com o conceito quadro dos
artigos 41º e 42º. O que significa que a partir do momento em que, para a mesma
matéria há 2 diplomas legais o CC e o Regulamento, pela hierarquia das normas primeiro
verificamos se se aplica o Regulamento e se não conseguirmos aplicar o regulamento,
aplicamos o CC. Não há nota para se ter aplicado nos últimos 30 anos, quer a o artigo
41º, quer o 42º para a matéria que está neste regulamento.
ÂMBITOS REGULAMENTO ROMA I
Para verificar a aplicabilidade do regulamento, é preciso verificar 3 âmbitos, ou
seja, se tivermos uma matéria relativa às obrigações contratuais. Ou seja, matéria que
está no artigo 41º. Temos de verificar se há ou não uma aplicação do Regulamento,
mediante a verificação dos 3 âmbitos: material, temporal e espacial.
ÂMBITO MATERIAL
O âmbito material está previsto no artigo 1º em que não há interpretações de
conceitos quadro, porque o legislador da UE descreveu o que queria e o que não queria
que estivesse na aplicabilidade do regulamento de Roma I. Este aplica-se às obrigações
contratuais em matéria civil.
O âmbito de aplicação do Regulamento está no artigo 12º. Todas as questões
emergentes de obrigações contratuais: validade formal, validade substancial prescrição,
caducidade, tudo o que há para além dos próprios efeitos das obrigações contratuais,
em matéria civil e em matéria comercial, fazem parte do plano material do regulamento.
É a mesma coisa que tem o artigo 41º
O âmbito de aplicação do regulamento, esclarece exatamente todas as questões
em que pudesse haver dúvidas.
Podemos ter contratos de natureza civil ou comercial, desde que, e aí já não
aplicamos o regulamento, a questão controvertida não seja matéria fiscal,
administrativa ou aduaneira. Se a questão for “quem é que paga o imposto de selo de
um determinado contrato?”, o problema é de Direito Público, não é direito
Internacional. O Regulamento especifica claramente essa questão.
Contratos civis e Comerciais deste que a questão controvertida, não seja de
direito Público. Aplica-se a todos os contratos civis e comerciais, com exceção das
matérias que estão na lista do número 2 do artigo 1º.
Se concluímos que sim, ou seja, que a matéria civil ou comercial que não suscita
questões de Direito Público e não está excluída pela aplicabilidade do número 2, então,
está verificado o âmbito material.
Vamos ver se a matéria se subsume no artigo 1º: o legislador da UE aquilo que
fez foi identificar, claramente, o que é que está no regulamento, o que é que não está
no regulamento, portanto, a partir daí, a interpretação que se faz é literal da norma.
Ainda que possa haver outro tipo de interpretação, já sabemos que ela fica
condicionada pelo Tribunal de Justiça, portanto, não se coloca a questão de encontrar o
elemento teológico da norma para perceber se as finalidades de uma norma de direito
material coincidem ou não com as normas conflituais do CC, porque o legislador disse
exatamente o que quer tratar.
ÂMBITO ESPACIAL
O artigo 3º diz que as partes podem escolher a lei, sem qualquer tipo de limite
e podem dividir o contrato em mais partes e pode cada uma das partes aplicar uma lei
diferente.
Para além disso, autonomia da vontade é uma conexão autónoma. O artigo 41º
só funciona para relações jurídicas internacionais, ou seja, quando os elementos da
relação jurídica permitem concluir que a relação jurídica é internacional, a autonomia
da vontade só serve como critério para resolver conflitos positivos de leis.
Ou seja, nós em Portugal, temos de ter uma relação jurídica puramente interna
e escolher uma ordem jurídica completamente diferente para regular a nossa relação
jurídica. Será a lei dessa ordem jurídica que vai regular o nosso contrato nacional,
exceto no que tange a normas imperativas. Quanto ao resto nada a opor.
Limite este que já não temos, se a relação jurídica for internacional para além
da conexão, autonomia da vontade. E aqui escolhemos a lei que quisermos. Tudo isto é
extensível aos diversos afloramentos do contrato. Não tem de ser só aos efeitos do
negócio jurídico incluí entre aquilo que está no artigo 13º, também a matéria relativa
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
à validade formal e substancial do negócio jurídico. Todas estas matérias, se incluem
no âmbito material e, no limite, na escolha de lei das partes.
Se por acaso as partes não escolheram a lei. Então, tal qual acontece no CC,
aplicaríamos o artigo 42º. Ou seja, se as partes não escolheram a lei, temos os critérios
supletivos. Aqui é a mesma coisa. Se a conexão regra, autonomia da vontade, não
existir no caso concreto, ou seja, as partes não escolheram a lei, temos todo o artigo
4º com critérios supletivos. Este é particularmente extenso, porque ele tem subjacente
um Princípio de especialização.
Se o nosso contrato não estiver nas alíneas do nº1 apoiam o nº2. O nº 2 aquilo
que diz é: se não tivermos aquele contrato, ou seja se o nosso contrato não se
subsumir em nenhumas das alíneas do nº1, então a conexão regra é sempre, sem
prejuízo de demonstrar que existe outra manifestamente mais estreita, a conexão
supletiva que é a RH do contraente que tem a prestação característica do contrato.
Significa que, olhando para o contrato, aquilo que vamos fazer é olhar para as
obrigações dos efeitos jurídicos daquele contrato e determinar qual é o sujeito
daquela relação jurídica, que tem uma obrigação que permite distinguir aquele
contrato dos outros e, portanto, particularmente simples.
Se olharem para estes contratos o que vamos ter é que o arrendatário tem a
obrigação de pagar. O locatário a obrigação de pagar o preço. O comprador obrigação
de pagamento. Se olharmos para estas obrigações não sabemos que tipo de contrato é
temos, porque a obrigação implícita em todos é o pagamento do preço.
23.11.2023 (T)
Estes princípios e valores essenciais já sabem, que são, tal qual a ordem pública,
aqueles que, num determinado local e num determinado momento, determinada
ordem jurídica considera como sendo repositório ou único, daquilo que são os princípios
e valores que caracterizam aquela sociedade e aquela ordem jurídica naquele momento.
Portanto, o Conselho tem um determinado conjuntural e depende depois da
riqueza e das circunstâncias do caso concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Ou seja, se se recordam daquilo que era a solução do CC, a ordem pública do foro
é um mito à aplicação da solução material estrangeira, não sem antes, o intérprete dessa
lei na ordem jurídica foro, desencadear processos de interpretação normativa dessa lei
estrangeira, que possa permitir, com base nesse exercício interpretativo, continuar a
aplicar da estrangeira por forma a que ela não ofenda a ordem pública portuguesa no
caso concreto.
Repare que nem todos os regulamentos têm esta solução. Vão ver que em
matéria de estatuto pessoal, exatamente porque tem muitas vezes situações em que o
legislador tem de ir à nacionalidade ou à conexão nacionalidade, aí ele é menos simplista
a resolver a questão.
29.11.2023 (T)
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
REGULAMENTO DE ROMA II
Tal qual acontece com o artigo 41º e 42º do CC, que fica afastado pela
aplicabilidade do regulamento de Roma I, ou então anteriormente pela Convenção de
Roma, também a matéria do Roma II afasta a aplicabilidade do CC no que tange à
responsabilidade civil extracontratual (? 43º, 44º e 45º)
Todas essas matérias aplicam o regulamento de Roma II a não ser que esteja
especificado, necessariamente, no CC.
Ao contrário do Roma I, desde a sua entrada em vigor não recebeu nenhum outro
diploma legal.
Porquê?
Significa que ele por ser mais ou menos contemporâneo com o Roma I, sendo
este Roma II contemporâneo, tem matérias que se aplicam mesmo até da entrada em
vigor do Roma I. No entanto, a matéria do Roma I já estava na convenção de Roma,
portanto, necessariamente, todo o âmbito material estava delimitado pela matéria das
relações contratuais, muito mais antiga que o atual (?) contemporâneo deste mesmo
regulamento.
Este regulamento também não tem, tal qual o como no Roma I, limites quanto à
vinculatividade aos EM, portanto, todos os EM, com exceção da Dinamarca, estão muito
latos à aplicabilidade do regulamento.
1. Âmbito material
2. Âmbito temporal - portanto, todas as matérias posteriores a janeiro de 2009.
3. Âmbito espacial
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
ÂMBITO MATERIAL
Ou seja, o âmbito material está então para estas matérias e dentro destas
matérias portuguesas de direito civil, comercial, responsabilidade civil extracontratual,
a gestão de negócios, enriquecimento sem causa, responsabilidade civil pré contratual,
excluindo aquelas que estão no número 2.
As questões número 2, são exatamente quanto à natureza como no Roma I. Ou
seja, são matérias de relação pessoal, (?) diversas alíneas do nº 2, aquilo que tem é a
responsabilidade de relações de casamento, das responsabilidades parentais, etc.
Tem algumas questões do direito comercial, também alguns negócios jurídicos
que, tal qual no como no Roma I estavam excluídos, nomeadamente os casos. Questões
relativas ainda de direito adjetivo, nomeadamente a matéria do ónus da prova com uma
exceção, como veremos.
Atenção na alínea g), do artigo 1º. A alínea g) possui uma fonte interessante de
responsabilidade civil extracontratual pela prática de facto ilícitos, ou seja, a violação de
direitos absolutos.
A alínea g) e tem sido, a maior fonte de controvérsia do Roma II. Isto porque,
historicamente, ela corre mais uma vez uma Felicidade de considerar aquilo que é
diferenças do regime, sobretudo da Europa continental, com a data, o Reino Unido e a
classificação dos direitos para efeitos de responsabilidade civil extracontratual,
nomeadamente na prática de factos ilícitos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Sem a violação da reserva da vida privada e sem a violação de outros direitos de
personalidade, reparem, nomeadamente no fim de tudo, no regulamento é que tem
exemplos no que se entende como esse tipo de direitos, nomeadamente em matéria de
informação. Naturalmente, o problema não é diferença. A informação é a classificação
do direito como uma categoria, nomeadamente de ordem criminal, o está aqui em causa
é, naturalmente, o direito de personalidade associada ao Roma I e às interpretações das
pessoas.
O que não acontece ou não acontecia aquilo que, agora a questão não se coloca
com tanta atividade, que como sabem (?) saiu da UE, mas a verdade é que, para efeitos
de responsabilidade civil, esta com Portugal a classificação dos direitos da
personalidade, dava origem a outras fontes de Responsabilidade civil extracontratual,
nomeadamente sítios que não tecnicamente a responsabilidade civil extracontratual.
Isto significa que grande parte daqueles que são os nossos direitos absolutos,
sendo direitos de personalidade, ficam excluídos do âmbito de aplicação do
regulamento.
Significa que se tivermos direitos da personalidade, apesar deles para nós serem
também direitos absolutos, fontes de responsabilidade civil extracontratual, não
podemos usar o Regulamento de Roma II, mas sim do CC para tramitar qualquer questão
emergente do conflito de leis associada à responsabilidade civil extracontratual.
Mas mais uma vez a explicação é por técnica associada entre os concursos de
regimes presentes no Reino Unido.
Peço a vossa especial atenção para essa alínea G), porque mais uma vez, muitos
dos direitos de personalidade que são fundos de responsabilidade civil extracontratual,
são eles também direitos absolutos. Para nós será necessário, naturalmente, fonte de
responsabilidade extracontratual, mas relativamente ao qual não podemos aplicar o
regulamento de Roma II.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Significa que qualquer lei que seja escolhida pelo elemento de conexão das
normas de conflitos, do Roma II, seja a lei dos Estados Unidos, seja uma lei de um Estado
terceiro, não implica nenhum tipo de limite ao âmbito aplicação especial do Roma II.
Portanto, o regulamento de Roma II decidem aplicar a lei como (?), será aplicada
sem nenhum tipo de limitação.
Nos termos do artigo 14º, pode haver aqui uma alteração, ou seja, pode-se
admitir um acordo de vontades prévio ao facto, para agentes económicos. Ou seja, para
todas as pessoas que exerçam faculdades comerciais, das quais possam, eventualmente,
emergir situações de responsabilidade civil extracontratual de enriquecimento sem
causa ou gestão de negócios e, nesse caso concreto, é possível fazer aquela se
estabelecerem no âmbito daquilo que é complexidade das suas relações uma lei
convencional.
Pensem, por exemplo, na questão relativa aos comitentes e aos comissários, por
exemplo. Quando foi essa, há uma responsabilidade, nomeadamente, no risco relativo
ao comissário e nada impede que o comitente/comissário nas relações entre eles,
estabeleçam, previamente, uma lei aplicável para efeitos de por exemplo, os direitos de
regresso.
Nessas situações excecionais, mas notem, temos de estar paradigmaticamente
perante um ato de comércio, é possível ou será possível as partes estabelecerem
previamente a lei aplicável.
Nas outras circunstâncias, por razões óbvias, a lei escolhida só pode ser aquela
que seja determinada por convenção posterior à prática do facto. Mas se isso acontecer,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
essa convenção afasta aplicabilidade da lei que é terminada nos restantes elementos de
conexão supletivo do regulamento.
- Tal qual acontece que respeita ao artigo 3º, a autonomia da vontade é (?)
não há nenhum limite no tange à escolha de lei.
- A não ser que, tal qual como acontece no regulamento de Roma I, como se
recordam do artigo 3º/3 e 4, se todos os elementos daquela situação jurídica,
forem incrédulos a um único ordenamento jurídico, ou seja, autonomia da
vontade é a única que internacionaliza esta situação pública, então, tal qual
acontece no Roma I, também não podem ser afastadas as normas imperativas
daquele país relativamente à questão controvertida que vai ser realizada.
Ressalvando:
Aqui a particularidade está no seguinte: Como a escolha de lei posterior à prática
de facto, significa que, nos termos do regulamento, já havia uma lei anterior que devia
ser aplicada, que as partes afastam por vontade.
Significa que é possível, nesse caso concreto (?), desde que não se ponham em
causa direitos adquiridos que restantes.
Ressalvando este artigo 14º, mais uma vez, não sendo a conexão regra que
aumenta, a autonomia da vontade permite afastar as conexões dentro desses limites.
Ou seja, nada impede não perde numa situação de facto escolha, ou seja, é essa que se
vai aplicar à revelia daquela que determinaria o regulamento.
ORGANIZAÇÃO
Portanto, se aplicarem Roma II aquilo que vamos fazer a seguir é, e sem prejuízo
do artigo 14º quando as partes escolham uma lei, (?) de responsabilidade civil
extracontratual são negócios ou documentos em causa ou responsabilidade pré
contratual, consoante seja uma dessas aplica na secção respetiva
Nomeadamente:
4. Propriedade intelectual.
Portanto, em todas estas situações, têm regras especiais para determinar qual
ela é lei aplicada. Nós não as damos.
O regulamento de Roma II optou pelo outro elemento que é o dano. Onde obtive
o principal dano daquela ação, independentemente dos danos causados ou das
consequências dos danos.
Regulamento de Roma II faz a mesma coisa que número 3 do artigo 43º do CC.
Aqui com bem menos (?) , mas o regulamento admite que as pessoas estejam, para
efeitos de responsabilidade civil extracontratual, de forma meramente ocasional no sítio
onde ocorre o dano, e caso lesante e lesado, tenham a residência habitual no mesmo
(?) então a conexão será a lei da residência habitual dessas pessoas.
Faz a mesma coisa que o CC fazia é que, não ser aplicada ao sujeito, uma lei que
desconhece em absoluto que estão numa situação meramente ocasional, mas o
regulamento de Roma II nem sequer especifica exatamente isso no requisito, mas
permite aplicar uma lei pessoal
Mas tal qual acontece no regulamento de Roma I, o legislador sempre que tem
uma conexão supletiva, dá-lhe alguma flexibilidade, permitindo que as partes
demonstrem que há uma conexão manifestamente mais estreita do que aquela que
resulta do próprio regulamento. Ou seja, a lei do lugar onde ocorreu o dano, ou, então
a lei da residência habitual, se elas tiverem uma residência habitual comum.
Tentar demonstrar que eles têm a mesma nacionalidade comum, portanto, essa
deve prevalecer relativamente à lei onde ocorreu os danos, que é uma lei meramente
ocasional onde eles estavam de férias, por exemplo.
Terão de demonstrar ou não é conexão supletiva, ela poderá, no limite, entrar
por este regime, o que tem muita flexibilidade que o legislador dá para adaptar a
conexão às circunstâncias do caso concreto e aplicar efetivamente a lei mais próxima da
questão controvertida.
Sendo que, neste caso concreto, o legislador estabelece algumas indicações para
a demonstração da conexão, única coisa que mais estreita.
Então legislador, aquilo que quer fazer agora é: Aquilo que permite às partes
fazer, o legislador quer evitar que é o “Dépeçage”.
Ou seja, para a mesma questão, ainda que haja várias questões contrapartidas,
mas que elas emirjam do mesmo fato, mas também naquela situação em concreto, ele
prefere que seja uma única lei aplicável ao caso concreto.
Se naquela situação houver, nos termos do Roma I uma lei aplicável, que não
seja aquela que é determinada nos termos do regulamento de Roma II, então ele
entende que esse será um exemplo de conexão manifestamente mais estreita.
Nos termos do artigo 4º é a lei do lugar da prática, a não ser que as partes
residam no mesmo país em que isso se aplica ao evento com (?), sem prejuízo se
demonstrado no caso concreto, que há uma conexão manifestamente mais estreita do
que é.
Sendo que uma delas será efetivamente uma conexão manifestamente mais
estreita, se: para parte das questões controvertidas for aplicada o Roma I e for aplicado
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
um determinado direito material e que, nesse caso concreto, esse direito material
também vai resolver a questão da responsabilidade civil extra contratual.
30.11.2023 (T)
REGULAMENTO ROMA II – RESPONSABILIDADE CIVIL
Depois as outras limitações que têm quando têm uma relação jurídica não
contratual, que é puramente interna e a autonomia da vontade é a única que a
internacionaliza, também é apetecível na senda daquilo que acontece no Roma I, em
que as partes podem internacionalizar de acordo com a autonomia da vontade a
situação jurídica, sendo que nesse caso têm de garantir que se aplicam as normas
imperativas do Estado onde todo os elementos/requisitos/pressupostos para
desencadear o instituto jurídico aplicam-se no caso concreto.
Depois diz também, sem prejuízo das regras que possam ser aplicáveis ao
enriquecimento sem causa, ou seja, podemos ter situações de responsabilidade civil
extracontratual, mesmo no nosso ordenamento jurídico que prescreveu e, portanto, já
não podem desencadear a indemnização porque a obrigação já é natural, porque já não
é coercivamente exigível, mas continua a ser coercivamente exigível se por acaso o
lesado no caso concreto, conseguir desencadear o instituto da responsabilidade civil. No
limite, há uma causa que dará origem a esse enriquecimento sem causa, ainda que essa
causa esteja prescrita (ou a obrigação decorrente dessa causa esteja prescrita).
Esta situação para nós não é tão fácil de explicar. Há uma querela e um acórdão
(para quem estiver interessado em estudos futuros), que é uma questão que liga a
responsabilidade contratual com o enriquecimento sem causa.
Isto significa que o contraente fiel não tem de cumprir a sua contraprestação, o
contrato extingue-se por resolução com efeitos retroativos e vai receber da contraparte
a compensação pelos danos que sofreu pelo facto daquele contrato não ter sido
comprido, ou então pode optar (não é para todos os contratos, tem de ser contratos
bilaterais, sinalagmáticos, etc.) e se a prestação for possível e tiver interesse nisso, pode
optar pela indemnização por um interesse contratual positivo, que tem uma grande
diferença, naturalmente, uma vez que ele tem de oferecer a contraprestação, mas aí ele
é indemnizado pelos lucros cessantes, ou seja, ele vai ser compensado por aquilo que
deixou de ganhar pelo não cumprimento do contrato.
Aí ele vai ter de oferecer a sua contraprestação, porque ele quer os efeitos
decorrentes do contrato como se este tivesse sido cumprido.
A não ser que se demonstre que há uma conexão manifestamente mais estreita
e mais uma vez, como acontece na responsabilidade civil extracontratual, a não ser que
as partes tenham residência habitual no mesmo país e depois se tudo falhar aplicamos
a lei do lugar onde ocorreu o facto que deu origem ao enriquecimento. Sempre com a
“válvula de escape” do sistema, mostrando a conexão manifestamente mais estreita.
GESTÃO DE NEGÓCIOS
Mesmo que seja necessário, ou mesmo que tenhamos para o contrato ou para o
negócio jurídico determinada lei a partir do Roma I, é a mesma que aplicamos agora, a
não ser que as partes tenham RH no mesmo país e se tudo falhar onde foi praticado a
gestão de negócios (princípio da maior proximidade ao facto), será essa a lei aplicável,
sem prejuízo de demonstrarem uma conexão manifestamente mais estreita com outra
lei. A conexão geral e abstrata que é totalmente oca, e adaptável às circunstâncias do
caso em concreto.
E, portanto, a lei que escolhemos no Roma I será aquela que vai tratar também
da eventual situação ou possibilidade de desencadear a responsabilidade civil pré-
contratual. Aqui (Roma II), classificamos o negócio e vamos para o Roma I à procura da
lei aplicável ao contrato, mesmo que o contrato não tenha sido celebrado.
Na maior parte dos casos na responsabilidade civil pré-contratual, depois há uma
frustração efetiva da celebração do negócio jurídico, mas seja da maneira que for,
mesmo que ele não tenha sido celebrado, é a lei que seria aplicável a esse negócio
jurídico.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
06.12.2023 (T)
Não é o caso português, portanto, Portugal faz parte do leque dos Estados que
contempla matéria reforçada em matéria de divórcio e separação judicial. Portanto, no
que diz respeito a nós, enquanto lex fori, o artigo 55º do CC, ficará, desde que verificados
os 3 âmbitos do regulamento, afastará a aplicabilidade do artigo 55º do CC, aplicando-
se este regulamento que de facto tem uma adesão limitada, dado que é um regulamento
de cooperação reforçada e não tecnicamente um regulamento ?, tendo em
consideração ainda questões controvertidas associadas ao divórcio e separação judicial
mesmo entre EM da UE.
Quando estamos a falar de RH podem ser várias, ou diferentes daquela que foi a
primeira, podemos ter aqui um leque um bocadinho mais amplo, mas não havendo
escolha ou de alguma forma o acordo relativamente à escolha seja inválido as conexões
supletivas estão previstas no artigo 8º e a conexão regra, como em qualquer matéria
que esteja associada ao princípio de maior ligação individual, é a lei da RH dos cônjuges
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
a que está mais próximo da questão controvertida, ou seja, a lei da RH dos cônjuges à
data da questão controvertida, à data do divórcio ou separação judicial.
Se isso não acontecer, temos a nacionalidade comum dos cônjuges, mais uma
vez, aqui os interessados são os 2, não está a funcionar a autonomia da vontade, a
conexão da maior ligação individual tem de ser comum a ambos. Se eles não tiverem
nacionalidade comum aplica-se a lex fori, ou seja, o tribunal internacionalmente
competente para decidir aquela questão, será a lei aplicável a este negócio ou separação
judicial.
Uma situação de direito substantivo é o artigo 9º/2, em que se a lei que tiver sido
escolhida, nos termos do artigo 8º, para a separação judicial (a solução de direito
material, ou o instituo de divórcio e separação judicial da lei que foi escolhida no artigo
8º), não incluir a hipótese de converter a separação judicial em divórcio, aí volta-se a
aplicar o artigo 8º para escolher a lei aplicável em situação de divórcio, a não ser que as
partes tenham escolhido.
Notem: o que pode dar origem a alteração, porque imaginemos que foi aplicada
a lei da última RH e, entretanto, já passou mais de um ano ou o cônjuge que vivia
naquele país deixou de viver, vamos ter aqui uma alteração a esta lei aplicável no caso
concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Uma particularidade, para além desta, que tem o divórcio e a separação judicial,
para além da autonomia da vontade da solução da conversão da separação judicial em
divórcio, foi a previsão especial do legislador da UE, no artigo 10º.
O artigo 10º diz que sempre que a lei aplicável, ou porque foi escolhida pelas
partes ou porque não foi escolhida, mas é a lei que resulta nos termos do artigo 8º, quer
seja a aplicabilidade do artigo 8º, quer seja a aplicabilidade do artigo 5º, essa lei não
prevê o divórcio ou não garante igualdade entre os cônjuges no acesso ao divórcio ou
separação judicial quando o fundamento seja o sexo, aplica-se a lei do foro.
Ou seja, se houver alguma situação em que não seja garantido o direito
fundamental à cessação ou alteração do vínculo conjugal, ou há uma discriminação em
razão do sexo, artigo 10º veio, sendo particularmente enfático (seria uma situação que
nós pela ordem pública internacional chegaríamos facilmente, se houvesse situações de
discriminação ou impossibilidade de alguém fazer cessar uma relação conjugal, nós
diríamos que essa solução legal, viola claramente a solução jurídica do foro e, portanto,
vamos aplicar a cláusula da ordem pública internacional).
Para além disso, este regulamento também é super divertido, porque nos termos
do artigo 11º exclui o reenvio, portanto, qualquer referência da lex fori a uma lei
estrangeira implica uma referência material e para além disso, artigo 12º, inclui-se
também, para além daquilo que já está no artigo 10º, a cláusula geral de ordem pública
internacional.
Para além disso, sendo tendo matéria de estatuto pessoal associadas, é possível
que haja outros problemas dos ordenamentos jurídicos plurilegislativos, que não se
colocam no Roma I nem no Roma II porque a matéria não é de estatuto pessoal, são os
ordenamentos jurídicos de base pessoal.
Ou seja, as situações em que há uma discriminação positiva para um
determinado número de pessoas, tendo em consideração algumas matérias de estatuto
pessoal, em que, claramente, em que a matéria do casamento em geral e das sucessões,
faz parte desse âmbito de estatuto pessoal, que pode dar origem ou estar na base desses
ordenamentos plurilegislativos de base pessoal.
07.12.2023 (T)
CONTINUAÇÃO REGULAMENTO DE COOPERAÇÃO REFORÇADA
Será que isso não consubstanciaria uma corrida aos tribunais competentes?
Essa questão pode-se colocar, uma vez que as partes têm de escolher a
aplicabilidade da lei do foro por um lado, e depois em matéria de competência
internacional, que aí a princípio da autonomia da vontade no que tange à escolha do
tribunal internacionalmente competente, ao contrário do que acontecia no Roma I (nas
matérias incluídas na autonomia da vontade em que se pode convencionar também os
tribunais competentes, nomeadamente, a arbitragem voluntária se for o caso concreto),
em matéria de direitos pessoais, designadamente em matéria de direito da família e
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
sucessões a escolha do tribunal internacionalmente competente é superior à autonomia
da vontade.
Portanto, a ideia da corrida à lei do foro é muito mais limitada apesar de tudo e
por isso, é que supletivamente o próprio regulamento, não estando dentro do princípio
da maior ligação individual, acabou por adotar também nas conexões supletivas um
princípio de especificidade ou seja, garantir que o foro aplica na limite, não podendo ser
garantido o princípio da maior ligação individual, a sua própria lei, para evitar que
tribunais de um país estejam a aplicar leis de outros países que não se consegue esse
princípio da maior ligação individual.
Eles estão presentes no artigo 14º (de base territorial) e no artigo 15º (de base
pessoal), exatamente como temos os artigos 20º nº1 e nº2 do CC para a primeira
situação e o 20º/3 para a segunda situação. Pela primeira vez num regulamento aparece
um OJ plurilegislativo de base pessoal, nos outros regulamentos jurídicos apenas temos
OJ plurilegislativos de base territorial porque pela primeira vez, estamos a analisar um
regulamento que trata matéria de estatuto pessoal.
Os OJ plurilegislativos de base pessoal, assentam num princípio de discriminação
positiva, tendo em consideração determinadas características e pessoas que os outros
não têm. Portanto, nunca podem existir matérias do Roma I e no Roma II que se baseiam
no absoluto princípio da igualdade entre as partes e, portanto, a impossibilidade através
da inexistência da relação jurídica de caráter pessoal, poder haver a aplicação de um
regime jurídico pessoal, tendo em consideração determinadas características das
pessoas.
Ou seja, de entre todas as unidades territoriais, vamos ver aquela com que a vida
familiar esteve mais próxima para resolver a questão controvertida. Se estivermos a
aplicar no caso concreto, a da nacionalidade, se os cônjuges tiverem uma RH num desses
Estados, será um elemento identificativo para demonstrar a conexão manifestamente
mais estreita.
Agora já não há conflitos positivos entre a nacionalidade e a RH, tal e qual como
no CC, porque a partir daí é o direito interlocal, ou as partes resolvem o conflito interno,
dentro desses casos escolhem a lei interna mais próxima dos cônjuges no caso concreto,
para resolver a questão controvertida.
Isto significa que em princípio se nada for dito, qualquer pessoa naquele OJ pode
ver aplicado a solução A ou B, o que não é razoável que aconteça, ou seja, a existência
de uma solução material especial no OJ, tradicionalmente, não resulta daquilo que é a
técnica legislativa normal, ou seja, normalmente, nessa situações há um exercício de
compressão entre algumas situações, nomeadamente, de caráter religioso e de
concessão ao nível diplomático de aplicação de determinadas soluções de caráter
religioso normalmente, sendo que é difícil que esse OJ não especifique exatamente
quem é que pode ver aplicado para as suas questões conflituais a solução material
especial do caso concreto.
Dificilmente, numa situação destas, vamos ter alguma solução material interna
que diga bom ... (não acabou o raciocínio).
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A lei da Sharia está em vigor no OJ Grego, não como lei nacional, mas como uma
lei que a lei nacional admite que não se aplique ao caso concreto, para determinadas
pessoas que preenchendo determinados requisitos, podem ver aplicada a lei religiosa
em vez de verem aplicada a lei nacional grega. Seria estranho uma coisa dessas
acontecer.
13.12.2023 (T)
Depois temos o âmbito de aplicação espacial, e atenção aqui tem de saltar para
o artigo 20º que é quando começa a matéria dos conflitos de leis, até aí temos a
competência dos tribunais. Passamos para o artigo 209º que tal e qual os outros
regulamentos, o seu âmbito de aplicação é universal. Ou seja, não há problema que se
suscite a lei aplicável nos termos do regulamento, pode ser um estado-membro como
um estado terceiro.
ÂMBITO TEMPORAL
O regulamento entrou em vigor em 2012. É aplicável a partir de 17 de agosto de
2015. Em que se inicia logo com a sua publicação em 2012, temos um período de vacatio
legis particularmente longo, mas a partir de 17 de agosto de 2015 entra em vigor o
regulamento e vincula todos os EM com exceção da Dinamarca, artigo 84º.
Atenção artigo 1º e depois a matéria relativa ao direito conflitual só começa no
artigo 20º.
A grande novidade do regulamento na senda, daquilo que aconteceu nos demais
regulamentos, é que o legislador da UE garantindo o Princípio da maior ligação
individual, portanto, estamos numa matéria de estatuto pessoal e ele tem de o garantir,
mas admite também a autonomia da vontade.
Ou seja, se analisarmos o artigo 21º e o artigo 22º, o legislador estabeleceu a
regra geral, relativamente, a matéria de estatuto pessoal como elemento de conexão a
RH, mas reparem, sem prejuízo de disposição em contrário e aquela que nos importa é
a que está no artigo 22º. O que temos neste artigo é uma autonomia da vontade em
matéria sucessória.
Significa que qualquer pessoa, qualquer cidadão de um EM pode agora
determinar a lei aplicável na sua sucessão sendo que, não obstante, a escolha é
particularmente limitada.
E isto porquê?
Porque na falta de escolha a regra geral é a RH da pessoa, do de cuius a única
possibilidade de escolha, neste caso concreto, é optar pela lei da nacionalidade.
Ou seja, é possível afastar a lei da RH que é aquela que na falta de escolha será
aplicada, mas a escolha na realidade é limitada, que é a opção, relativamente, a outra
conexão de estatuto pessoal, ou seja, a lei da nacionalidade nos termos do artigo 22º.
Esta lei da nacionalidade sendo uma conexão móvel, o legislador da UE permite
que ela seja excluída sem ser alterada, no sentido em que se houver uma alteração da
nacionalidade, a nacionalidade tanto pode ser aquela que foi feita no momento da
escolha como posteriormente e se houver nacionalidades múltiplas, a pessoa pode
escolher a aquela que mais lhe aprouver para aplicar no caso concreto.
À escolha desta lei são aplicadas as exigências de forma que se exigiriam para os
negócios jurídicos mortis causa e todos os requisitos de validade formal e substancial
nesta escolha de lei, ficam incluídos no âmbito da lei escolhida.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Na falta de escolha de lei nos termos do artigo 21º então, a regra geral é a lei da
RH do de cuius, sendo várias é aquela que está mais próxima da questão controvertida,
ou seja, do de cuius, isto é, a última residência habitual do de cuius.
A não ser tal e qual acontece em todas as restantes regras supletivas dos
restantes regulamentos, que se demonstre, no caso concreto, que há uma conexão
manifestamente mais estreita, como o fenómeno sucessório, que é a residência
habitual.
Esta escolha de lei tanto é para o fenómeno sucessório mortis causa legal como
voluntário. Ou seja, o de cuius pode escolher a lei aplicável ainda que não faça nenhum
testamento, ou fazendo um testamento, ou então estende a possibilidade para isso num
pacto sucessório.
A matéria do testamento e do pacto sucessório estão nos artigos 24º e 25º. Se
repararmos nas respetivas redações, a lei aplicável, se tivermos um fenómeno
sucessório sem testamento, ou seja, artigos 21º e 22º, é a mesma regra que aplicamos
para o testamento ou para o pacto sucessório, a lei que seria aplicável nos termos do
regulamento, quer seja a lei escolhida, quer seja a conexão supletiva.
A particularidade que tem está de facto nos pactos sucessórios. É uma matéria
controvertida e os pactos sucessórios não são admitidos no ordenamento português.
O que significa?
Significa que a partir do regulamento da UE é possível que um pacto sucessório
seja válido em Portugal através de um português. Basta que, para isso, seja aplicável a
lei da residência habitual e se ela não tiver residência habitual em Portugal, o assunto
fica arrumado. A particularidade é que de facto, a questão mais controvertida ao nível
da UE, foi os pactos sucessórios porque muitos EM não admitem a validade destes
fenómenos sucessórios, destes contratos sucessórios.
Ele reveste particulares exigências no seguinte sentido: o pacto sucessório
depende se for relativo a uma sucessão de uma pessoa, ou se for relativo a uma sucessão
de várias pessoas.
Notem, se nos recordarmos, a matéria relativa ao divórcio e à separação judicial
em que falávamos das questões de validade de forma e substancial e bastava nos casos
concretos os requisitos de validade formal, relativa à escolha de lei em caso de divórcio
e separação judicial, se o Estado participante exigisse mais requisitos esses deviam ser
atendidos, mas se os cônjuges estiverem residência habitual em países diferentes que
sejam participantes do regulamento, basta que se cumpram os requisitos de um único
estado participante ainda que não se cumpra do outro.
Na matéria do pacto sucessório o acordo não foi tão longe, significa que se tivermos
sucessões relativas a mais que uma pessoa, os típicos testamentos que em Portugal
seriam os testamentos de mão comum, portanto, as pessoas vão estabelecendo
condições relativamente às sucessões de uma das outras, neste caso concreto, os
requisitos para além daqueles que constam das respetivas leis, terão de ser atendidos
e terão de ser combinados, relativamente, a todos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Ou seja, se tivermos sucessões relativas a várias pessoas, se para cada uma delas
tivermos leis aplicáveis diferentes, porque eles tem nacionalidades ou residência
habituais diferentes, o pacto sucessório tem que ser válido, naturalmente, em cada uma
destas leis aplicáveis e se houver outros requisitos a atender, cada um desses requisitos
de cada um dos estados participantes, terão de ser combinados e cumulativamente
verificados no caso concreto, para termos, efetivamente, um pacto sucessório válido.
Mas notem é possível o estabelecimento desses pactos sucessórios nos termos
do artigo 25º.
A segunda solução de direito material é aquela que tal e qual o legislador fez no
CC e que está no artigo 32º e esta solução é a mesma que está no CC, a denominada
presunção de comoriência, ou seja, de entre o denomino sucessório pode-se colocar a
questão de saber quando duas pessoas desaparecem, ou não se sabe exatamente se
elas sucedem uma outra quem morreu em primeiro lugar. Há várias soluções, no CC
como sabemos a solução é a presunção de comoriência, isto é, presume-se que
morreram ao mesmo tempo. O CC nessa matéria também não permite que seja a lei
aplicável que determine como se resolve a questão de dúvida quando quem morreu em
primeiro lugar, remetendo para a regra do CC, ou seja, aplicada a solução de direito
material português independentemente da lei aplicada.
Sempre que duas ou mais pessoas cujas sucessões são regidas por leis diferentes
morram em circunstâncias que haja incerteza quanto à ordem que os óbitos ocorreram
e que essas leis regulem esta situação de forma diferente ou não a regulem, nenhuma
destas pessoas tem direito a sucessão da outra ou das outras.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Portanto, é o princípio da presunção de comoriência, nenhuma herda
relativamente à outra, ou seja, presume-se que morreram ao mesmo tempo, ou seja,
nenhuma delas tem personalidade jurídica quando o fenómeno sucessório se abre.
Tal e qual como acontece nos outros regulamentos, é estabelecida uma reserva
de ordem pública internacional, sempre que a lei aplicável viole algum
princípio conformador do Estado do foro, é afastada a solução material e aplica-se a lei
do foro. Tal e qual como acontece nos outros regulamentos, não há o princípio do
mínimo dano e aplica-se logo a lei do foro.
Nas matérias relativas aos ordenamentos jurídicos plurilegislativos, neste caso
teremos a solução da união europeia mais próxima daquela que temos no CC, que estão
previstas no artigo 36º e 37º - ordenamento jurídicos plurilegislativos de base territorial
e de base pessoal.
Aqui a regra geral é, em toda a sua extensão sempre que tenhamos um
ordenamento jurídico plurilegislativo de base territorial é o DIP interlocal (não é
internacional) que vai resolver o conflito de leis. Na ausência desta solução o legislador
aproxima-se daquilo que já vem no regulamento de divórcio e separação judicial.
Ou seja, se a conexão for residência habitual é a lei aplicável do lugar da
residência habitual, se for a nacionalidade ou outra conexão será aquela que tiver uma
ligação manifestamente mais estreita com a pessoa. Se for um ordenamento jurídico
plurilegislativo de base pessoal é o direito interpessoal desse ordenamento jurídico que
vai resolver esse conflito interno e na falta ou na insusceptibilidade de determinação, a
conexão manifestamente mais estreita determina-se entre a lei geral e a lei especial
aquela que se deve aplicar ao caso concreto.
O regulamento das sucessões admite o reenvio. Neste caso concreto se olharem
para o artigo 34º não esta excluído o reenvio.
14.12.2023 (T)
Para haver reenvio significa que L1 não se pode considerar competente. L1 tem
de considerar competente uma lei estrangeira, lei estrangeira essa que não se pode
considerar competente.
Se L2 é a ei estrangeira determinada pelo Regulamento não se considera
competente, L2 só pode ser um estado não membro da UE, ou seja, L2 tem de ser
obrigatoriamente um estado terceiro.
Quando é que se aplica outra conexão sem haver autonomia da vontade que não seja
a RH?
Segunda hipótese: na alínea b), L1 tem de ser um EM, que considera competente
L2 que tem de ser necessariamente um estado não membro, este estado não membro
não pode ser a nacionalidade nem outra conexão qualquer, dado ser a conexão supletiva
a RH, esta lei não se considera competente, mas agora não considera competente a lei
de um EM, mas considera competente a lei de um Estado não membro.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem, na alínea b) a única hipótese que temos é a transmissão de competências
para L3, para trás não vem porque se L2, nos termos da alínea b) tem de considerar
competente um Estado terceiro, L2 nunca pode ser um Estado terceiro. A única hipótese
da alínea b) é L2 considera competente outro Estado e este é um Estado terceiro, que
se considera competente.
Porque é que o legislador optou por esta situação no regulamento das sucessões?
A regra é que seja a lei da nacionalidade. Aquilo que ele diz é que prefere a da
RH, mas se por acaso a da RH e da nacionalidade concordarem que tem de ser a da
nacionalidade, aplicam-na. Com a exceção de algumas questões associadas a direitos
reais sobre imóveis, esta L3 ou L1 será em princípio, a lei da nacionalidade e se não for
a lei da nacionalidade é porque, por sua vez, tem direitos reais sobre imóveis em que o
princípio da maior proximidade, tal qual o nosso CC, ganha prevalência (artigo 17/2 e
nº3 do CC).
Aqui é exatamente a mesma coisa, portanto, a regra é, esta L3 ou L1 quando
retornam e é devolvida a competência à lei do foro, por regra, será necessariamente a
lei da nacionalidade. Aplicamos a lei da RH, mas se por acaso a lei da RH entender que
deve ser a lei da nacionalidade, então toda a gente fica satisfeito, sendo uma forma de
transigir coletivamente à não escolha da lei da nacionalidade como conexão supletiva
regra em matéria de estatuto sucessório
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A regra é, esta l3 ou l1 quando é devolvida a competência a lei do foro, é por
norma, a lei da nacionalidade. Se a lei da RH entender que deve ser a lei da
nacionalidade, tudo bem.
Atenção à leitura do artigo, é essencial começar a ler o artigo pelo fim! Não há
reenvio, não temos de nos preocupar em saber se estão verificados os requisitos do
reenvio quando L2 é a lei escolhida pelo de cuius, ou a conexão manifestamente mais
estreita. Nesse caso não há, há uma mera referência material e o assunto fica arrumado.
Portanto, idealmente começamos pelo fim, se não for nenhuma daquelas
situações então pode-se admitir o reenvio e a partir daí é que vamos verificar se os
requisitos estão ou não verificados. Se estão admitimos a aplicabilidade da lei escolhida,
L3 ou L1, senão não estão aplicamos L2 e fazemos uma referência material e o assunto
fica arrumado.