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DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

14.09.2023 (T)

NORMAS DE CONFLITO

As normas de conflito são normas de direito internacional privado,


tendencialmente formais. Aquilo que visa é, através de um determinado processo
formal, valorativo, escolher a lei que consiga cumprir todos os requisitos, associados
àquilo que é a expectativa das partes, a expectativa dos próprios estados, para depois
reconhecerem as sentenças estrangeiras, as decisões estrangeiras ou os atos
estrangeiros. Por isso, tendencialmente as normas são formais.

Isto significa que em matéria de DIP não existe aquilo que existe na “Common
Law” a dominada “Better ruler approach”, ou seja, a escolha da lei, seja ela estrangeira,
seja ela nacional, sobretudo quando tratarmos de normas de conflitos bilaterais, que
não são tendencialmente as nossas, não têm em consideração aquilo que é a solução
material desse direito estrangeiro que mande aplicar.
Ou seja, uma norma de conflitos que mande aplicar a lei X, num estado qualquer,
mesmo aplicando a sua própria lei no caso concreto, fá-lo através de um processo
valorativo conflitual e neste processo não se encontra a ponderação da solução material
estrangeira.

Isto significa que no âmbito do DIP, sobretudo no âmbito conflitual, ou seja,


quando as questões transfronteiriças são resolvidas através da escolha de uma
determinada lei. Seja a lei do foro, seja lei estrangeira, é indiferente à lei do foro saber
qual é a solução material estrangeira. (A solução material significa aquilo que sempre
estudamos como se tivéssemos um caso pratico e perceber se o A e B se podem
divorciar, se o A paga uma indemnização a B.) A solução material é a solução jurídica do
efetivo caso e a produção do respetivo efeito.

Isto é particularmente importante, porque, desde logo vigorando essa mesma


regra, ela não vigora não só a montante, ou seja, naquilo que é a determinação do caso
concreto é indiferente ao estado saber qual é a solução material da lei que vai ser
aplicada ao caso concreto. Depois, como segunda vertente, quando o tribunal do estado
ou uma autoridade publica determina a aplicabilidade da lei, mormente isso se for uma
lei estrangeira não coloca nenhum tipo de entrave, por regra, à aplicabilidade dos
efeitos materiais dessa lei, mesmo que eles sejam diferentes da solução material do
foro.
Ao DIP é, em princípio, por serem normas formais, absolutamente irrelevante
saber qual é a solução material estrangeira. Em princípio, determina a sua função
escolhendo a lei aplicada ao caso concreto. A lei do foro ou outra lei material
estrangeira.

QUAL É A SOLUÇÃO?

A solução material que se vai dar ao caso concreto é o problema que está
afastado pelo DIP. Isto porque, não pode vigorar num ordenamento jurídico, situações
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que sendo factualmente analógicas, não havendo alterações legislativas, tenham
soluções materiais diferentes.

Logo, para uma determinada relação jurídica, um tribunal decide de um


determinado sentido e para uma exatamente igual situação jurídica, outro tribunal
decide num sentido diferente. Isto põe em causa a seguração jurídica, significando que
a solução material de determinado caso, a sorte dela vai depender se calharmos num
determinado tribunal. Sendo que os juízes podem fazer interpretações diferentes
consoante a sua orientação doutrinária.

Para estes casos existe um remédio no nosso ordenamento jurídico que é um


recurso extraordinário, que depende de trânsito em julgado das respetivas decisões,
que é o recurso de domiciliação de jurisprudência. Ou seja, o pleno supremo tribunal de
justiça reúne e decide qual é a interpretação que este quer dar, relativamente, a uma
questão que é doutrinária ou judicialmente controvertida que leva para os tribunais
decidirem, determinadas situações análogas, de forma diferente.

Os assentos em Portugal, deixaram de ser fonte de direito e em processo civil, e,


por isso, os tribunais continuam a decidir da forma que entenderem só que se uma
decisão contrariar um acórdão de uniformização de jurisprudência, ele tem que,
necessariamente, dizer que está contra esse acórdão, explicar porquê e neste caso há
recurso obrigatório para o STJ que, nesse caso, ele resolve outra vez.

O facto destas normas serem informais, ou seja, que aquilo que elas fazem é
legitimar a aplicabilidade de uma determinada solução, e não querer saber qual é essa
solução, isto significa que no âmbito do DIP: 1º, é possível aplicar direito material
estrangeiro, assim como este direito material estrangeiro pode ser contrário a solução
jurídica homologa dentro do ordenamento jurídico português.
Não gerando, nesse caso, nenhum problema ao nível daquilo que é a segurança
jurídica. Ou seja, casos idênticos julgados de forma diferente, porque aquilo legitima a
aplicabilidade de uma lei estrangeira no caso concreto, é uma norma do foro formal que
a legitimou. Não tendo em consideração a sua solução material, mas por ser a lei que
está mais bem colocada de acordo com os princípios de segurança jurídica.

Logo, podem ter um contrato num ordenamento jurídico PT que de acordo com
o PT é válido e ter a mesma situação e ser inválido, mas podemos ter exatamente a
mesma situação, mas o facto de ser um contrato internacional que leva aplicação de
uma lei estrangeira e nesse caso o contrato é valido, então o tribunal português,
considerando aquela aplicabilidade da lei estrangeira, o contrato válido. Podemos ter
esta dualidade e esta possibilidade.
É-nos indiferente e não há nenhum juízo de valor a montante relativamente a
qualquer solução. O ordenamento jurídico português aplica qualquer lei, desde que seja
legitimada pelas normas de conflito, seja a nível nacional, seja da união europeia ou
qualquer outra convenção a que o estado PT se tenha vinculado.

Não obstante, existem limites:


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Exceção de ordem pública internacional – Sendo verdade que as normas são
tendencialmente formais, sendo verdade que é indiferente quer para escolher a lei quer
para aplicar uma solução material que seja diferente aquela que vigora dentro do
ordenamento jurídico português, o DIP não a “better ruler approach” e não quer saber
se ela é igual ou se é diferente, desde que ela a lei nacional em valor no estado
considerado aquele com a lei competente para regular aquela questão, aplica-se pelos
tribunais ou entidades publicas.

A ordem publica é um limite áquilo que é o exercício de direitos, como na questão


do abuso de direito. As normas imperativas, dentro do ordenamento jurídico português,
mesmo no âmbito daquilo que são as relações jurídicas de caracter privado, tem em
consideração normalmente interesses públicos naquilo que estão associados à ordem
publica.

A ordem publica internacional no estado do foro, não se confunde com a ordem


publica interna. A ordem pública do estado do foro, é um conceito impossível de definir
porque é:

- Limitado por circunstâncias de lugar, cada estado tem a sua própria ordem
publica. Sobretudo em circunstâncias de tempo, mesmo dentro de cada um dos
estados.
- Corresponde aquilo que aquele momento o ordenamento jurídico entende
como sendo os valores ético jurídicos e os princípios informadores de cada
estado. Ou seja, o recetáculo continuo daquilo que se chama de princípios
essenciais ao estado português.

A ordem publica é um limite. Ou seja, aquelas situações excecionais em que o


DIP que pretendente saber qual é a solução material desse estado. Que permite que
cada estado, ainda que adote esta forma de atuação do DIP, é mais liberal no sentido de
é a mais apaziguador nas situações de conflito e é aquela que gera menos conflitos a
nível internacional para os estados a nível das respetivas sentenças.
Permite, não obstante, ao estado que, ainda que legitime a aplicabilidade do
direito material estrangeiro, ainda que admita direito material estrangeiro possa ter
uma solução diferente, atua aqui uma crítica as soluções materiais diferentes.
Mas, há um limite que é inultrapassável, que são os valores essenciais do estado
português.

EXEMPLOS:

No caso de um casal de refugiados sírios que foi recebido na Alemanha e pedia


o reconhecimento do casamento celebrado em Damasco. Homem de 50 anos e a mulher
com 3 filhos dele de 14 anos. O estado alemão, mesmo admitindo os refugiados sírios,
eles nem sequer tinham residência habitual pois estavam com estatuto de refugiados,
então a Alemanha queria aplicar a lei da nacionalidade dos conjugues, que diz não haver
nada a opor. A senhora tem idade mobile e, portanto, não há problema absolutamente
nenhum.
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Pois bem, não só é um problema associado a criminal, mas o estado alemão
achou que não poderiam reconhecer casamentos infantis pois isto era legitimar um
conjunto de atividades. Por isso, para o estado alemão seria a violação de princípios
básicos, nomeadamente aquilo que é o reconhecimento da infância. E é este mesmo
que impede que, nomeadamente, a aceitação da idade mobile.
Notem, mesmo com 16 anos, é altamente discutível, que é aquilo que diz o
ordenamento português, ainda que não se refira expressamente, mas, por exemplo, a
convenção nacional para a proteção das crianças, diz que se é criança até aos 18 anos.

Por isso, mesmo nos estados outros estados que reconheçam o casamento a
partir dos 16 anos, nesta altura é altamente discutível. Onde referem que não podem
reconhecer oficialmente este casamento porque há princípios básicos do estado alemão
que estão postos em casos.
No entanto este caso é curioso, pois a questão que se coloca é se a proteção
daquela mulher/criança não lhe traz mais problemas do que os resolve. Sendo uma
criança já com 3 filhos. O tratamento e custódia de uma mulher que não fala alemão,
que nunca saiu daquilo que é a família patriarcal e por isso não tem nenhuma autonomia
e independência, se no caso concreto não era pior do que efetivamente reconhecer e
deixar que eles continuassem casados.

Na questão de casamento poligâmico. Comum nos países muçulmanos e vem um


senhor com 3 mulheres e quer conhecer, sem resolver vínculos materiais anteriores, o
casamento relativamente às 3 mulheres. Se isso, tendo em consideração a estrutura da
família materializada organizada no ordenamento jurídico português, implica a
existência de 2 pessoas, no máximo. Independentemente da orientação sexual ou do
sexo.
Em princípio, há princípios básicos dentro de ordenamento jurídico português,
que pode impedir a aplicabilidade do direito material estrangeiro.

NOTA:

Não há nenhum problema em aplicar qualquer lei que seja diferente daquela
que vigora diferente do ordenamento jurídico português. Mesmo este exercício, relativo
à ordem publica, só se faz quando: da aplicação da lei resulta um efeito jurídico que é
contrário à ordem publica.
No caso concreto, a lei aplicada na Alemanha, tal qual seria em Portugal era a lei
da Sharia – lei religiosa islâmica. Que é a lei nacional jurídica para resolver questões de
família e sucessões na Síria. O estado alemão aplica sem motivo de problema esta lei. A
questão que se coloca é: se do resultado da aplicação dessa lei, resulta ou não um efeito
jurídico contrário à ordem publica.

Só se acontecer, efetivamente, neste caso em concreto, é que nós


eventualmente faremos este exercício de delimitação da aplicabilidade da lei
estrangeira.
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Não há um pré-conceito estabelecido relativamente a umas leis, e não
relativamente a outras. Por exemplo se da aplicação da lei da Sharia não resultar um
problema de regulação da ordem publica do estado do foro, então ótimo. Aplica-se a lei
da Shara sem problema.
É sempre um exercício que se faz a jusante, depois de aplicar a lei, o efeito dessa
lei, se acontecer a violação da ordem publica funcionara este instituo publico: reserva
da ordem publica internacional – ROPI.

É possível resolver os conflitos leis em matéria de DIP através, ao contrário


daquilo que o processo conflitual que é aquele que nós vamos evitar, haver uma
regulação direta. Regulação esta que significa que as relações transfronteiriças são
resolvidas, não primeiramente usando as normas de conflito escolhendo determinada
lei material, mas tendo imediatamente a aplicação de uma solução ao caso concreto.

1. Solução: Aplicação do direito material do foro, seja comum, seja especial.


2. Aplicação do direito material, neste caso concreto não do foro, mas
supraestadual.

Esta é uma solução da aplicabilidade quer direta quer indireta do foro, que é a
que muitos estados usam, mas que não é difícil de usar, mas é desconsiderar em
absoluto que é uma questão é de DIP. Que há uma questão transfronteiriça que vai ser
regulada, é aplicar direitamente o direito internacional, seja a questão internacional ou
não seja.

Há algumas situações em que isto acontece mesmo no próprio ordenamento


jurídico português. Excecionalmente, tendo em consideração que há umas técnicas do
DIP que também é possível que aconteça. Não é propriamente essas técnicas do DIP que
usamos em direito privado.

Possibilidade de aplicação também de direito material, mas no caso concreto o que é


que os estados fazem?

Não aplicam o direito material igual àquele que aplicam para as situações
jurídicas puramente internas, mas sim um direito material especial que só usam para as
situações jurídicas internacionais.

• Vantagem - Tem os tribunais e as entidades publicas a aplicar o seu próprio


direito material. Não têm o problema de ter de identificar qual a lei material
aplicável e se for uma lei estrangeira ter de descobrir como é que efetivamente
se aplica no caso em concreto.
• Desvantagem – Ela põe em causa princípios, nomeadamente aqueles que
aprendemos em Direito Internacional Público. Ou seja, aqueles que impõe a
segurança e a harmonia jurídica seja também vista ao nível das relações jurídicas
internacionais.
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Bem como o respeito pela aplicabilidade do direito material estrangeiro, quando
ele deva ser aplicado ao caso concreto. Depois, leva a uma consequência comum
encontrar no DIP, se encontrarmos estados que adotam este tipo de soluções que é o
denominado: “fórum shopping”.
Tal e qual como acontece na questão do direito interno, se tivermos juízes a
decidir de forma diferente a mesma situação, a tendência é arranjar alguma forma para
citar ao tribunal que dá mais jeito à parte que pode compor a ação. Aqui é a mesma
coisa.
Se souber de um estado que vai aplicar o seu próprio direito material, aqui o que
as partes vão tentar fazer é tal e qual como se fosse em direito interno, é procurar a
solução mais adequada aos seus próprios interesses. Isto porque aí estariam a regular,
de tal forma “better ruler approach” os seus próprios interesses.

APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL SUPRAESTADUAL

O direito material supraestadual é exatamente a mesma coisa, mas em que tem


situações em que os estados aceitam a aplicabilidade do direito material.
É pouco comum que isto aconteça, mas é possível que existam algumas situações
em que os estados aceitam, no âmbito de convenções internacionais, ou outras, regular
diretamente a situação. Ou seja, no caso concreto aceitam em deixar de aplicar o seu
próprio direito material e aplicar direito material especial, só que em vez de ser nacional
é supraestadual.

• Vantagem: O facto de que nesse caso concreto, afasta o fórum shopping. Isto
significa que as partes já sabem que independentemente do sítio onde
proponham a ação, eles vão aplicar direito material, mas como ele é
supraestadual, todos os estados vão aplicar um único direito material que é igual
para todos, para as situações transfronteiriças.

Até aqui o que nós usamos é a regulação indireta, através de normas de conflito
que tem 2 elementos:

1. Conceito quadro
2. Elemento de conexão

ÂMBITO DE APLICAÇÃO NO ESPAÇO

As normas de conflito podem ser usadas, se o estado usado for o estado do foro.
Ou seja, enquanto o DIP está à procura da lei num determinado processo valorativo, é
aquela que consegue cumprir as finalidades de harmonia e segurança jurídica, as normas
de conflitos a aplicar não são aquelas que são encontradas por elas.
As normas de conflitos são: ou de direito interno, no sentido que a fonte é
interna ou fonte internacional que os estados decidiram aplicar ao caso concreto, mas
elas são aquelas que estão em vigor no estado do foro. São leis nacionais do estado.
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Ao contrário do direito material que vai ser escolhido, tanto pode ser nacional
como pode ser estrangeiro, as normas de conflitos que são usadas são aquelas que estão
em vigor no estado em que a questão controvertida é colocada.
Exemplo, no contrato de casamento referido na última aula, se a questão estiver
a ser apreciada em Portugal, nós vamos escolher qual a lei a aplicar para perceber se o
contrato válido ou não, mas para decidir qual a lei a aplicar, mesmo sendo lei
estrangeira, porque é a lei do foro, usa as suas próprias normas de conflito (as que se
encontram no CC).

Quanto às normas de conflitos, não se colocam problemas conflituais, cada


estado do foro utiliza as suas próprias normas de conflitos. Os estados quanto a isso na
técnica de processo conflitual, nada a opor a essa escolha de lei.

Sendo esta a técnica, relativamente à regulação direta, há algumas situações,


não obstante, o ordenamento jurídico português, excecionalmente, trata diretamente
da questão no sentido em lhe dar uma solução material. São poucas as situações em
que isto existe. Notem, aquilo que justifica são razoes de ordem publica interna do
próprio estado, em que quando tem uma situação conflitual dentro do ordenamento
jurídico português, este afasta a regulação indireta e, excecionalmente, aplica-lhe
direito material. Ou seja, faz uma regulação direta.
A relação do ordenamento jurídico português com o DIP, é uma relação
conflitual, logo aplica qualquer lei desde que cumpra os requisitos, seja estrangeira ou
portuguesa.

A APLICABILIDADE DE DIREITO MATERIAL INTERNO, SEJA COMUM SEJA


ESPECIAL, PARA AS RELAÇÕES JURÍDICAS INTERNACIONAIS.

Uma das situações, é este artigo 2223º do CC, em que tem uma situação de
relação jurídica de DIP.

Artigo 2223.º
Testamento feito por português em país estrangeiro
O testamento feito por cidadão português em país estrangeiro com observância da lei
estrangeira competente só produz efeitos em Portugal se tiver sido observada uma
forma solene na sua feitura ou aprovação.

Isto quer dizer que, se se colocar um problema de validade formal, relativamente


a um testamento celebrado por um português no estrangeiro, o testamento só é valido
em Portugal, se a forma exigida nesse direito material estrangeiro, for idêntica aquela
que é exigida no ordenamento jurídico português.
Chegaríamos aqui pelo artigo 65º/2 do CC, que tem a ver com a validade formal
dos testamentos. Onde se aplica a lei do lugar onde o ato é celebrado.

Aplicar a lei não tem problema nenhum, mas em termos de validade formal,
Portugal não está a dizer que o negócio jurídico é invalido, aquilo que Portugal está a
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dizer que não é valido em Portugal. Exige-se a mesma forma se for um português a
celebrar no estrangeiro, que se exigia em Portugal.
Isto para evitar os testamentos cerrados, mas mesmo nestes implica formalidades
nomeadamente ser verificado pelo notário que não há nenhum tipo de coação, estão
verificados os requisitos e depois o notário fica (?).
Isto é um exemplo de solução material.

Agora, como limite na norma de conflitos e não como solução material, está
previsto no artigo 54º do CC que aquilo que faz é em prol do princípio da igualdade
relativamente aos cônjuges, em Portugal não é possível alterar o regime de casamento
depois de casar, salvo as exceções de separação judicial de bens em determinada
situação 2e mesmo nessas tem de ser declarado judicialmente. Pode haver soluções
materiais diferentes e se a lei nacional dos cônjuges disser que eles podem alterar o
regime dos bens, nada a opor relativamente ao ordenamento jurídico português, mas
pelo artigo 54º/2 do CC, tem verdadeiramente uma solução de direito material.

Artigo 54.º
Modificações do regime de bens
1. Aos cônjuges é permitido modificar o regime de bens, legal ou convencional, se a tal
forem autorizados pela lei competente nos termos do artigo 52.º
2. A nova convenção em caso nenhum terá efeito retractivo em prejuízo de terceiro.

No número 1 refere que: Se os cônjuges tiverem uma lei nacional que lhes
permita alterar o regime de bens, alterem como quiserem e por isso altera na respetiva
certidão de casamento o regime de bens.
No número 2 refere que: há uma solução de direito material que é a mesma que
impede os cônjuges em Portugal de alterarem o seu regime de bens. Eventuais
proteções de direitos adquiridos por 3ºs, como no caso das dividas comuns. Se
alterassem o regime de bens, depois só 1 é que seria responsável pelo pagamento da
divida.

O número 1 é tecnicamente uma norma de conflitos, mas depois o número 2


apresenta no caso em concreto uma solução de direito material, que é de direito
material que não é comum. É especial, só para as relações jurídicas de caracter
internacional.
Aqui temos situações de ordem publica e interna que o estado português não
prescindiu mesmo no processo conflitual.
Estes são dos poucos exemplos que encontramos que claramente o estado
português tem uma solução conflitual.

SITUAÇÕES DA APLICAÇÃO DO DIREITO MATERIAL ESPECIAL COMO FONTE


INTERNACIONAL

Isto seria o ideal, ou seja, os estados todos acertassem num único direito material,
em que, independentemente, de onde a ação se propusesse, seja em direito nacional
ou internacional, havia uma única solução e o problema estava resolvido.
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A única coisa tendencialmente uniforme que existe é a declaração universal dos
direitos humanos, que tem um problema de natureza jurídica para muita gente, não
para Portugal, se é vinculativo ou não. Mesmo assim esta DUDH não teve a adesão de
todos os países do mundo.
Os estados estarem de acordo numa única solução é praticamente impossível.

Havendo a possibilidade da criação de um direito material, aquilo que


tecnicamente em DIP se chama de: unificação internacional de direito material.

UNIFICAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITO MATERIAL

Pode ter vários caminhos para lá chegar:


• Uniformização
• Unificação
• Harmonização

Quem chega a estes caminhos?

Terão de ser organizações internacionais supraestaduais. Ou seja, que os estados


conheçam legitimidade e autoridade para poderem produzir e depois decidir se querem
ou não.

Ao nível do direito internacional e, naturalmente, ao nível da UE, sobretudo nas


situações em que o estado português se vincula a aderir a soluções legais da UE, há
algumas convenções a nível internacional das nações unidas.
Ao nível do direito internacional privado, as organizações que conseguem ter
algum papel ao nível quer de convenções para a unificação para o direito material,
sobretudo, excecionalmente, ao nível conflitual, são organizações internacionais não
estadual de fonte doutrinaria.

UNIQUAC – Organização internacional com académicos ao nível do direito


internacional que aquilo que produz são estudos que pelo seu conhecido mérito, os
estados, e depois de negociarem, podem aderir.

Como é que se consegue unificação, ainda que pouco expressiva, do direito


internacional?

• UNIFORMIZAÇÃO
o Esta é o ideal. Significa que os estados aplicam leis uniformes quer a
situação seja juridicamente interna, quer seja juridicamente
internacional. As mais comuns são estas leis uniformes de letras e
livranças.
São leis uniformes uma vez que tem uma expressão quase mundial. Isto porque
por exemplo as letras, livranças e cheques, são a forma mais fácil de transacionar coisas
com dinheiro. O problema é que se um cheque português vai para a um banco na Suíça,
se o banco conhece aquele documento ou não.
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Então para facilitar as transações comerciais, os estados viram-se na
contingência de uniformizar as posições relativamente aos títulos de crédito. Por isso,
deu origem a estas leis uniformes que assim neste sentido, mas porque se aplicam não
só a relação jurídicas internacionais. Ou seja, um problema em Portugal de uma relação
jurídica puramente interna sobre um cheque posso (?) em uniforme sobre cheques,
assim como em letras e livranças.
A nível europeu tem algumas situações nomeadamente a nível da matéria de
consumidor, sobretudo a matéria de transporte aéreo e transporte marítimo.
Relativamente a esta matéria há regulamentos específicos. Seja a questão puramente
interna seja a questão puramente internacional, aplica-se o regulamento internacional
da união europeia.

• UNIFICAÇÃO

o Que ao contrário desta que tem de facto um direito internacional


supranacional, que é uniforme que se aplica independentemente de a
característica da relação jurídica ser interna ou internacional. Na
unificação não!

Aquilo que temos é a aplicabilidade de soluções materiais que só vigoram para


relações jurídicas internacionais. Isto significa que, se a relação jurídica for puramente
interna tem direito material comum, do estado. Se a relação jurídica for de direito
internacional, então aplica-se as leis unificadas.
Tem alguns exemplos delas, sendo os mais comuns em matéria de transportes e
de direito comercial. Tem também o regulamento em matéria de sucessões que inclui
todo as questões relativas aos testamentos, sejam eles quais forem, de relações jurídicas
internacionais.

• HARMONIZAÇÃO

o Funciona bem a nível da arbitragem.

Quando estudamos a lei da arbitragem voluntaria em OJ, aquilo que sabemos é


que no âmbito da arbitragem voluntária, a regra é que a não ser que as partes
estabeleçam dentro da clausula contratual que a decisão arbitral admite recurso, se não
disserem nada não admite. Depois, há uma parte que refere que seja como for, se as
partes admitirem o recurso à equidade nunca há recurso.
Como sabemos, os tribunais do estado estão vinculados à aplicabilidade da lei,
só recorrem à equidade quando o legislador os autoriza a tal. Por isso as partes resolvem
recorrer à equidade quando há harmonização ao nível das relações jurídicas
internacionais.
Isto porque há, guias jurídicos relativamente a determinadas relações jurídicas.
Nesses guias jurídicos as partes podem recorrer a eles. Nesta matéria, isto implica a este
nível necessariamente a vontade das partes, por isso, eles tendencialmente encontram-
nos a nível da arbitragem. As partes encontram um clausulado específico onde tem por
exemplo multas contratuais, que estabelecem todas as regras relativas aquele contrato
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que são normalmente aquelas que são praticadas na praxe, relativamente àqueles
contratos.

Como exemplo paradigmático temos o contrato para transporte de mercadorias


marítimas. Um navio que vem da china até ao porto de leixões. Passa por águas
internacionais, águas territoriais e se passar na Somália está sujeito a questões de
pirataria. Todas estas questões que são muito particulares, as pessoas estariam na
contingência de que se praticassem certas normas de conflito, a de repente se aplicar a
lei Somália, elas não faziam a mais pálida ideia do que é que diz relativamente a algum
problema relativo ao seu transporte marítimo. E aquilo pode acontecer em qualquer
sítio, como pode acontecer em águas internacionais.
Para além disso, nessa área, é particularmente comum, uma certa praxe. Ou seja,
um conjunto de regras que as pessoas sabem que ao nível do transporte marítimo
existem, mas não fazem a mais pálida ideia de onde é que elas vêm.

O que as partes e camaras de comercio decidiram fazer foi codificar essas regras,
que não são mais do que aquilo que a praxe dita aquele nível desses contratos, mas no
limite quando alguém celebra contratos, é que pensa assim “se eu autorizar que o navio
passe na época alta dos navios da Somália, eu já sei que o risco da perda de mercadorias
corre por conta do adquirente”, isso não está escrito em lado nenhum, mas é a praxe
que existe relativamente àquilo.
Há a possibilidade de criação destes guias jurídicos relativamente a um conjunto
de contratos, que permite, não só a possibilidade de recurso à equidade, mas sobretudo
a tipificação de regras contratuais em que temos partes de acordo com aquele tipo de
negócio, estarão na espectativa de que lhe seja aplicada.

Se a ideia do DIP é colocar a ideia que está mais bem colocada para não pôr em
causa a espectativa das partes, então naquele caso concreto a espectativa das partes
estará mais bem colocada se recorrendo à equidade se aplicarem regras que levam à
prática comercial, mas que não são propriamente regras jurídicas.
Esta é a aplicação/solução material, que claramente de fundo voluntário neste
caso concreto, que é enfatizada pelas questões de circulação a nível internacional (?) ou
de natureza civil.

Depois tem também a possibilidade na sequência da outra, de fontes neste caso


legais, porque ela vem de organizações internacionais, mas que elas são optativas. Logo,
as partes podem decidir que se vai aplicar ao caso concreto, em detrimento ou de outro
direito material ou do sistema conflitual do estado do foro. O exemplo que mais se usava
no ordenamento jurídico português, são os agrupamentos de interesse económico.

SUMA:

A regra dos ordenamentos jurídicos em geral que recebem o direito material são
de regulação indireta através de um sistema conflitual de cada uma das leis do foro.
As leis do foro são as leis dos estados em que a questão está a ser apreciada.
Nesse estado haverá, como é o caso do ordenamento jurídico português, normas de
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conflitos, que mais não fazem, por regra, do que através de um processo escolher a lei
que consegue cumprir com todos os requisitos para que a solução material que seja
dada pelo estado português, seja através de direito português, seja através de direito
estrangeiro, seja reconhecida em qualquer país onde a sentença ou o ato público seja
proferido.
Fora isso, há, de facto, algumas soluções de regulação direta de aplicação de
direito material no foro, são absolutamente excecionais.

20.09.2023 (T)

NORMAS DE CONFLITOS BILATERAIS

Compreendendo a técnica base de utilização para resolução de conflito de leis no


tempo e no espaço, não havendo uma situação de regulação direta, passamos então
para as situações de regulação indireta ou o recurso às respetivas normas de conflito.
O processo relativamente ao qual se elege uma lei aplicável a uma relação
jurídica transfronteiriça/internacional é tecnicamente, por via da regra, o sistema de
regulação indireta.
É através do processo conflitual que corre as normas de conflitos. Elas têm fontes
internas, nomeadamente o CC e sociedades comerciais, regulamentação europeia e
internacional, relativamente ao qual Portugal se vincula. Aqui a aplicação das normas
conflituais resulta do artigo 8º, ou seja, elas terão preponderância sobre as normas do
ordenamento jurídico português. Portanto, é a fonte de DI do qual elas provêm.

As normas de conflito que temos de considerar, são as de fonte interna e das do


CC. O DIP no CC está previsto nos artigos 14º e seguintes e as normas de conflitos estão
nos artigos 25º e 65º do CC. Nestas 40 normas do artigo 25º temos um mini código civil,
ou seja, nestes artigos tem vários institutos que existem ao longo de diversos (?) do CC.
Estes 40 artigos do CC abarcam todos os regimes que estão previstos depois, de
direito material, no CC.

ELEMENTOS DAS NORMAS DE CONFLITOS:

As normas de conflitos têm 2 elementos, no entanto o professor Luís de Lima


Pinheiro considera que existem 3 elementos, mas que não é propriamente um elemento
da norma de conflitos, é a consequência jurídica da aplicabilidade da norma de conflitos.

• ELEMENTO DE CONEXÃO
É para os regimes que estão previstos em cada uma das normas de conflitos. A
lei que o legislador entendeu que deve de ser aplicada ao caso em concreto.

• CONCEITO QUADRO
Determina o âmbito de aplicação da norma.
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O professor Luís de Lima Pinheiro, no final, fala da estatuição que é o elemento
de conexão e o conceito quadro que depois é a legitimidade da aplicação desse direito
material, seja nacional seja estrangeiro, no ordenamento jurídico.
Verificados estes 2, é a legitimidade de aplicação desse direito material no
ordenamento jurídico PT.

CARACTERISTICAS DAS NORMAS DE CONFLITOS:

As normas de conflitos podem ser:

• Bilaterais
• Unilaterais.

Se são normas de conflitos estamos tecnicamente a tratar de regulação indireta.


Excecionalmente situações de regulação direta, ou seja, situações em que a relação
jurídica internacional tem imediatamente uma resolução de direito material em
relativamente à questão controvertida.
Na regulação indireta, aquilo que o DIP faz é escolher uma das leis que está em
contacto com a relação jurídica e essa depois aplicará o seu direito material e resolve a
questão controvertida.

Se temos normas de conflito, temos um processo conflitual de regulação indireta


e se elas são bilaterais significa que nesta função dúplice, a determinação do direito
aplicável tanto pode dar origem a aplicabilidade do direito material do foro. Ou seja,
uma relação jurídica de direito internacional que está a ser discutida nos tribunais
portugueses, através das normas de conflitos que estão no ordenamento jurídico
português, se elas forem bilaterais tanto pode dar origem a aplicabilidade do próprio
direito material português, que será o ideal, mas também pode dar origem a
aplicabilidade do direito material estrangeiro.

Nesse caso, quando através do elemento de conexão de normas de conflitos, se


remete para direito material estrangeiro, pode acontecer porque as normas são
bilaterais, significa que fica legitimada ou melhor, a legitimação é um processo, começa
agora mas não termina, mas pelo menos significa que o direito material estrangeiro vai
poder ser aplicado, porque foi determinado pela (norma) de conexão da norma de
conflitos, no ordenamento jurídico português, pelos tribunais portugueses ou
autoridades publicas portuguesas, em detrimento do direito material português.
Isto significa que, nestas normas de conflito remetendo para direito material
estrangeiro e passando por todo este processo de legislação, se efetivamente este
direito material estrangeiro passar, aquilo que vai acontecer é que os tribunais
portugueses deixam de aplicar direito material português e passa a aplicar direito
material estrangeiro.

Este direito material estrangeiro, e sobretudo porque temos um processo de


regulação indireta, ou seja, o DIP não quer tratar da questão como a do “Better Ruler
Aproach” é indiferente saber se a solução material estrangeira é ou não idêntica à
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
solução material portuguesa. Podemos ter tribunais portugueses a aplicar direito
material estrangeiro, que numa situação análoga, se lhe aplicasse direito material
português, a solução seria diferente, mas aquela que vai ser decidida no caso em
concreto.

Nas normas de conflitos bilaterais tanto podem dar origem a aplicabilidade de


direito material do foro como à aplicabilidade de direito material estrangeiro.
Ao contrário das normas de conflito bilaterais, em que tratando de uma questão
conflitual, ou seja, de regulação indireta, sendo unilaterais, apontam, não é tendo
exatamente em consideração qual é a solução, mas tendo em consideração um princípio
através do qual saber a solução de determinado direito material passa a ser relevante.
Indiretamente, só.

CLASSIFICAÇÃO:

Nas normas de conflitos unilaterais ao contrário das bilaterais, direcionam a


aplicabilidade das duas uma: Ou se forem (?) da aplicabilidade do direito material
estrangeiro, excluindo o direito material do foro, por sua vez, exatamente ao contrário,
ou a aplicabilidade no acaso concreto de direito material do foro – Normas de conflito
unilaterais introversas, direcionam a resolução conflitual para aplicabilidade da lei do
foro.

Esta técnica da utilização das normas de conflitos, os estados tendencialmente


escolhem normas de conflitos bilaterais. No artigo 25º e ss do CC, aquilo que
encontramos é que em matéria de direito de propriedade vigora a lei onde a coisa se
situa. Em matéria de responsabilidade civil é aplicável a lei do lugar onde ocorreu o facto
ilícito. É indiferente nesse caso concreto para o legislador se esse facto ocorreu em
Portugal. Ora, se ocorreu dentro de Portugal aplica-se a lei do foro, se ocorreu fora de
Portugal aplica-se a lei do lugar onde o facto ocorreu.

Tecnicamente a regra é a utilização das normas de conflito bilaterais. De acordo


com alguns princípios do DIP, há alguns princípios associados à ordem publica interna
do estado português, onde é possível encontrar algumas normas de conflitos unilaterais.
Ou seja, normas de conflitos que mandam aplicar uma determinada lei, mas depois, a
determinada altura, direciona a aplicabilidade da solução desse direito material ou para
aplicar direito do foro ou para aplicar direito estrangeiro.

Artigo 28.º
Desvios quanto às consequências da incapacidade
1. O negócio jurídico celebrado em Portugal por pessoa que seja incapaz segundo a lei
pessoal competente não pode ser anulado com fundamento na incapacidade no caso
de a lei interna portuguesa, se fosse aplicável, considerar essa pessoa como capaz.

Neste artigo 28º temos uma exceção à regra.


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Porque em matéria de estatuto pessoal, do artigo 25º relativamente à questão
da menoridade, vigora a lei da nacionalidade da pessoa.

Ou seja, após uma leitura deste artigo 28º entendemos que “é um desvio à regra
do artigo 25º, que é uma norma de conflitos bilateral” E relativamente à capacidade de
exercício, “aplica-se a lei da nacionalidade do menor”.
No artigo 25º refere que tem uma norma de conflitos bilateral, se o menor for
português aplica-se a lei estrangeira e se for estrangeiro aplica-se a lei estrangeira.

No artigo 28º refere “continua-se a aplicar a lei estrageira com a seguinte


nuance: não admitimos se esta pessoa fosse maior de acordo portuguesa, mas é incapaz
de acordo com a lei da nacionalidade, e, portanto, de acordo com esta última o negócio
seria anulável, se o negócio tiver sido celebrado em Portugal”.
Aqui acontece que, apesar de continuarmos com a questão conflitual, apesar de
continua a ser aplicável ao caso concreto a lei da nacionalidade ao menor que diz que
ele é incapaz, o estado PT refere que com a nossa solução de direito material, direciona
a aplicabilidade de direito material do foro, apesar de continua a aplicar-se a lei material
estrangeira, que refere que este menor é incapaz e o negócio até será anulável. Mas se
se verificarem estes requisitos, nós não deixamos essa produção de efeitos jurídicos no
ordenamento jurídico português.

O que é que aqui está subjacente relativamente a esta solução excecional?

Porque há determinadas finalidades que sendo, integrando alguns princípios


quer de DIP quer de direito interno associado não à ordem pública internacional, mas à
ordem pública interna, vão preponderar sobre aquilo que é a regra relativamente à
utilização de normas de conflitos bilaterais.

No regime da menoridade que demos em DPSJ, quando falamos no regime de


maiores acompanhados, se a ação já tiver sido preposta e revistada, há um regime; se
já tiver sido decretada, há outro; antes havia um regime completamente diferente;
depois há um regime que é o dolo do menor – apesar de serem menores, se conseguir
convencer alguém de que ele é maior, não se anula o NJ.

Isto devido ao princípio associado à expectativa jurídica daquilo que é o que o


comercio jurídico defende, é que alguém com mais de 18 anos ou pelo menos aparenta,
as pessoas podem, com segurança, celebrar determinado negócio jurídico com aquela
pessoa.
Há um interesse publico associado. Há garantia e a segurança associada ao
comércio jurídico, que faz com que o legislador, a nível interno, coloque algumas
limitações à anulabilidade de negócios jurídicos praticados por incapazes.
Então, o que o legislador faz, é exatamente aquilo que acontece a nível
internacional. O negócio pode ser anulável, mas para Portugal esses negócios não se
deixam anular em prol desse mesmo princípio. Ou seja, pode haver conflitos com os
princípios, quer a nível interno, quer internacional, que justifiquem a aplicabilidade de
normas unilaterais.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
São excecionais, porque de facto introduzem um elemento estranho àquilo que
é a tramitação processual.

Mais uma vez aquilo que está subjacente, é sempre um processo valorativo que
tendencialmente também por ser um princípio com alguma estabilidade a nível
internacional e mesmo que não seja de DIP os estados reconhecem.

Artigo 28.º
Desvios quanto às consequências da incapacidade
3. Se o negócio jurídico for celebrado pelo incapaz em país estrangeiro, será observada
a lei desse país, que consagrar regras idênticas às fixadas nos números anteriores.

Aqui neste caso o legislado português não só protege o comercio jurídico, o


princípio valorativo, mas não é um problema do ordenamento jurídico português.
É porque o comercio jurídico é um princípio essencial no âmbito da segurança
desse exercício, que o próprio ordenamento jurídico português e o sistema conflitual,
protege o seu comércio jurídico e eleva (?) protegendo o ordenamento jurídico
estrangeiro.
Ou seja, se o negócio jurídico, ao contrário do nº1, for celebrado num estado que
de acordo com a sua lei interna, aquela pessoa era capaz, portanto quem celebrou o
negócio jurídico com ele tinha a confiança que aquele negócio era valido e eficaz em
prol daquilo que são as estruturas básicas do comercio jurídico.

O ordenamento jurídico o que é que faz?

Exatamente a mesma coisa. Uma norma unilateral, só que desta vez é extroversa.
Não lhe aplica o direito material português, aplica o direito material do estado onde o
negócio foi celebrado e, nesse caso concreto, não a lei da nacionalidade da pessoa (do
artigo 25º?).
Pode haver justificação, e há claramente, em termos de um princípio valorativo,
para utilização de normas unilaterais.

Não é a melhor técnica. A utilização das normas unilaterais tem de ser usada
tendo em consideração às críticas que se fazem quando não se usa o processo conflitual.
Se num estado diz que adota o processo conflitual, como uma forma de escapar as
críticas da regulação direta, está constantemente a aplicar o seu direito material do foro,
mas se tem um processo conflitual que a única coisa que tem são normas unilaterais
introversas que está constantemente direcionado às soluções de direito material do
foro, por interposto caminho vamos chegar à mesma conclusão. Está necessariamente
a pôr em causa aquilo que um processo conflitual quer, ultrapassar situações de
regulação indireta.

Não é, tendencialmente a técnica utilizada no processo conflitual, estas normas


de conflito unilaterais, a não ser que no tal processo valorativo haja um conflito de
interesses, no sentido de princípios ou de valores, que justifiquem o recurso à técnica.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Nesse caso, não haverá mais nenhum problema no que tange ao reconhecimento de
sentenças estrangeiras.

NORMAS UNILATERAIS GERAIS

Encontram-se no código das sociedades comerciais. Mas de momento não importam.

JUSTIÇA DO DIREITO DE CONFLITOS

• PRINCIPIOS - QUESTÃO VALORATIVA

A ideia de processo valorativo servirá que há determinados valores que vão tentar
mitigar ou ultrapassa eventuais situações de conflito a que o estado pode chegar no que
tange à determinação da lei aplicável do caso concreto.

O processo conflitual e a utilização de normas de conflitos, não determina que


todos os estados estejam a aplicar a mesma lei. Como no caso da aula prática, onde
Portugal considera competente a lei da nacionalidade, mas depois nunca chegam a
acordo relativamente à lei aplicável.

Como é que este processo conflitual, que é valorativo, tenta ultrapassar eventuais
situações contraditórias, relativamente à lei aplicável que os estados, estando em
contacto com a relação jurídica, possam ter?

1. Porque a escolha do elemento de conexão da norma de conflitos não é


arbitraria.
Ou seja, quando o legislador nacional, relativamente as normas de conflitos a
nível interno do CC, elege um determinado elemento de conexão, faz isso tendo em
consideração um determinado conjunto de princípios e valores. Valores esses que são
tendencialmente reconhecidos ao nível do DIP como sendo essenciais.

Não significa, que se aplique. A aplicabilidade efetiva ou não de direito material


estrangeiro, tem todo ele um processo, onde pode não se legitimar.

O próprio elemento de conexão não é arbitrário, a escolha dele não é arbitrária.


Depois da escolha da lei como elemento de conexão, mormente se for de direito
material estrangeiro, passe ele próprio por um processo de validação.
Este processo é todo um denomino processo de – Qualificação (?) 15º do CC.

O elemento de conexão escolhe a lei. Este elemento de conexão que


encontramos em normas de conflitos, é ele próprio valorativo, mas não chega.
Depois para decidir que efetivamente se vai aplicar direito material estrangeiro,
este vai passar por um processo de validação nos termos do 15º do CC que é também
ele um processo valorativo. Só depois disto vamos legitimar a aplicabilidade de direito
material estrangeiro da norma de conflitos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Isto, sem prejuízo, de elementos/princípios que sejam estranhos ao DIP, ou que
não sejam próprios ou exclusivos do DIP, mas que devam favorecer outros princípios de
ordem material.
Nomeadamente o princípio do aproveitamento máximo dos negócios jurídicos a
nível internacional com utilização de uma norma de conflitos unilateral, nos termos do
29º/1.
Esse princípio do aproveitamento ou da proteção do comercio jurídico, não é de
DIP, mas pode influenciar também valorativamente as soluções que o DIP tem para
aplicação do caso concreto, seja a nível conflitual seja a nível material.

Como se faz?

O DIP vai fazer é:

1. Identificar aqueles princípios que permitem uma escolha de lei que cumpra
tal e qual nas relações internas a escolha da lei aplicável ao caso concreto.

Se tivermos uma relação jurídica permanente interna, a nossa expectativa é que


só se aplique direito material português. Mas pode haver um problema de sucessão de
leis no tempo e se tivermos uma questão destas, teremos de acordo com determinados
princípios e regras, a expectativa de ver aplicada a lei em vigor num determinado
momento e não a lei que está em vigor noutro momento.

Inicialmente, o problema não é de aplicação de leis no tempo, mas sim no espaço,


mas o DIP parte do princípio de, quando se tem uma relação jurídica que se vai aplicar
a determinado direito material, esse mesmo direito que se vai aplicar tem de cumprir
critérios de certeza e previsibilidade para garantir uma das finalidades do direito:
segurança jurídica.
Quando é a nível interno tem a ver com questões de sucessões de leis no tempo,
quando a nível nacional tem a ver com leis no espaço.

Qual é a lei que está em melhores condições para cumprir os critérios de certeza e
previsibilidade relativamente aqueles sujeitos da relação jurídica transnacional e será
essa que se vai aplicar ao caso concreto?

O objetivo do legislador é conseguir ao nível do conflito das leis no espaço,


cumprir o critério da finalidade da segurança jurídica, ao nível das finalidades do direito.

CARACTERISTICAS DOS PRINCIPIOS:

Estes princípios são tendenciais e comuns transversalmente a nível mundial em


matéria de DIP.
Tem valores de ordem formal e valores de ordem material. A certeza e
previsibilidade são mais um pressuposto que propriamente um valor em si.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

• Valores formais:

A escolha da lei aplicável tem de garantir que àquela relação jurídica é aplicável
a lei que as partes tenham a expectativa que lhes seja aplicável ao caso concreto. Tal e
qual como no direito interno, as partes não precisam de conhecer a lei, nem sequer
precisam de ter a certeza de qual era a lei que lhes aplicaria no caso concreto, a certeza
e previsibilidade é uma questão abstrata. É preciso demonstrar que é aquela a que
razoavelmente as partes teriam de contar que seria aplicável ao caso concreto.

PRINCÍPIO DA HARMONIA JURIDICA INTERNACIONAL

É a grande finalidade do DIP.


A HJI é: quando todos os estados em contacto com a relação jurídica, bem como
a lex fori, quando esta lex fori não tem contacto com a relação jurídica, é exclusivamente
e a lei do foro, estão todos de acordo em aplicar um único direito material.

Ou seja, a relação jurídica pode ter contacto com N ordem jurídicas e o exercício
para chegar à HIJ é: se perguntássemos a cada um dos ordenamentos jurídicos se tivesse
de decidir qual a lei material aplicável ao caso concreto, todos estariam de acordo em
aplicar o direito material.
É a finalidade principal.

Sobretudo quando estamos a tratar das normas de conflito a nível interno, é


previsível que os estados vão elegendo elementos de conexão diferentes para resolver
determinadas questões.
Não é expectável que se consiga, nas normas de conflitos de direito interno, que
se consiga chegar a estas normas de HJI. Por isso, os estados fazer severos esforços para
tentar harmonizar o direito dos conflitos.

HARMONIZAÇÃO DO SISTEMA CONFLITUAL ≠ HARMONIZAÇÃO DO DIREITO


MATERIAL

• Harmonização do direito material: são soluções transnacionais ou


internacionais de direito material, ou seja, aplica-se imediatamente o direito que
vai dar a solução jurídica ao caso.

• Harmonização de direito conflitual: são instrumentos de direito


internacional em que aquilo que se harmoniza não é o direito material, mas sim
o direito conflitual dos estados.

NOTA:
Quanto mais elevada for a fonte das normas de conflito, significa que mais
estados vão juntando ao âmbito daqueles instrumentos de direito internacional.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Isto significa que esses instrumentos de direito internacional, se vigorarem nos
respetivos ordenamentos jurídicos, logo, independentemente se a ação for proposta em
qualquer um daqueles estados, eles vão usar essa norma de conflito internacional e por
isso vão chegar todos ao elemento de conexão.

EXEMPLO: No RUE, em matéria conflitual, nessa matéria Portugal e mais 26


estados, vão deixar de usar os seus CC e vão aplicar o regulamento. Se tivermos uma
relação jurídica internacional em matéria de divorcio, deixamos de aplicar o CC e vamos
aplicar o regulamento. Nesse mesmo regulamento há uma norma de conflitos que diz
qual a lei a aplicar no caso em concreto.
Pelo menos tem menos “27%” de probabilidade destes estados pelo menos não
aceitarem este direito material. Porque se tem aplicável a todos, para aquela matéria,
uma norma de conflitos, essa norma se for igual para todos, tem o mesmo elemento de
conexão para todos. Se a ação for proposta em Portugal, aplica-se a lei da residência
habitual para tratar dos cônjuges, se a ação for proposta em Espanha, aplica-se a lei da
residência habitual e assim sucessivamente para os outros estados da UE.

• A harmonização do sistema conflitual é a construção de instrumentos que


compactuam normas de conflitos em que os estados aceitem aplicar essas
normas de conflito em detrimento das suas normas de conflitos de direito
interno. Isto para tentar chegar à harmonia jurídica internacional.

O instrumento internacional/sistema de conflitos que tem uma maior adesão no


mundo resulta das conferencias de Haia de direito internacional privado.

A conferencia de Haia tem vários instrumentos. Se os estados sendo membros


desta organização internacional, depois de negociados os termos da convenção,
decidem se a querem aplicar ou não. A mais conhecida, e a que resolveu mais
problemas, é então a conferencia de Haia em matéria de adoção internacional. Em
matéria de adoção internacional, esses estados usam a convenção de Haia que tem
normas de conflitos, mas também tem normas elativas à escolha de tribunais
competentes, de órgãos públicos competentes, bem como o conhecimento das
respetivas decisões. O que torna a questão particularmente mais célere e segura.

O trabalho que aqui foi feito, é particularmente importante porque tem


exatamente uma demonstração da materialização de DIP. Introduziu a matéria de
adoção internacional, que não existia, e introduziu um princípio importante para a
adoção da criança – Princípio da subsidiariedade.

Ou seja, só é possível uma adoção internacional quando o estado de origem da


criança demonstra que no caso concreto não é possível, em tempo útil, colocar aquela
criança numa família adotiva dentro do seu próprio pais para garantir a continuidade da
identidade cultural. Quando se passa para adoção internacional, a conferencia de Haia
a primeira coisa que pretende garantir é não há a possibilidade da adoção a nível interno
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
do estado de onde a criança é natural, só depois da entidade que é designada (em
Portugal seria a Segurança Social), só depois dessa garantia – princípio da
subsidiariedade – é que se aceita a adoção internacional daquela criança.
Isto evitou que viessem muitas crianças que acabavam em situações de
exploração sexual que vinham do leste da Europa e da Rússia.

OBJETIVO DA HARMONIA JURÍDICA INTERNACIONAL

Que sejam adotados todos os procedimentos que permitam que todos os


estados em contacto com aquela relação jurídica sejam de acordo em colocar um unido
direito material. Isso vai evitar que algum estado que depois esteja em desacordo com
os outros, depois não reconheça os respetivos (?).

VALORES MATERIAIS

Muitos deles são comuns àqueles que existem no direito interno, como princípios
gerais. Valores estes como:
1. Dignidade da pessoa humana
2. Igualdade
3. Adequação
4. Equilíbrio
5. Ponderação
6. Liberdade
7. Tutela da confiança
8. Coerência do sistema

Estes valores de direito internacional em geral, mas também de direito interno,


vão permitir depois densificar os princípios que permitem aos legisladores escolher os
respetivos elementos de conexão. Por exemplo, dignidade da pessoa humana, é um
princípio muito abstrato, mas depois concretiza muitas coisas.

Densificado em matéria de direito privado, uma das suas dimensões é quando


estamos a tratar de questões relativas às pessoas, quando relação jurídica é
controvertida, tendo em consideração alguma vicissitude da relação jurídica relativa à
pessoa da dessa relação jurídica, as conexões que devem ser escolhidas são aquelas que
dão uma dimensão de pessoa - as leis que estão mais próximas do sujeito:
• Nacionalidade
• Residência habitual.

O princípio da igualdade faz com que quando nós tratamos de relações jurídicas
internacionais, o tratamento que damos a sujeitos que não são portugueses, não possa
ser menos favorável do que aquele que resultaria da lei portuguesa em igualdade de
situação. Ou seja, se tiverem determinados direitos civis que reconheceriam ao
português, não podem abster-se de os reconhecer também para estrangeiros.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
São valores de direito material todos comuns ao ordenamento jurídico
português, que a partir daqui vão permitir densificar aquilo que será visto na próxima
aula da justiça conflitual relativamente ao DIP.

21.09.2023 (T)

VALORES

Os valores gerais do ordenamento jurídico vão permitir formular princípios com


aplicabilidade direta no âmbito do DIP que são relevantes ao nível do sistema conflitual
em geral dos estados, porque permite então que nas diversas ordens jurídicas se
compreenda o processo valorativo que cada Estado adotou em matéria conflitual.

Nesse âmbito, este processo valorativo que integra o processo conflitual que se
inicia no movimento aprioristicamente estabelecido para a própria resolução do
problema conflitual, porque ele coloca-se necessariamente no momento legislativo. Ou
seja, quando o órgão (?) redige determinada norma de conflitos e que tendo ela
elemento de conexão e conceito quadro, significa que a própria escolha da lei, que é o
elemento de conexão, resulta de uma escolha valorativa que tem em consideração
determinados princípios do DIP. Depois se vão estendendo em todo o processo
conflitual.

A norma de conflitos tem dois elementos: Elemento de conexão e conceito


quadro. Vão ser os elementos que nos permitem depois, desenvolver um processo
conflitual que está desde a lei que está no elemento de conexão, à titulação dessa lei
para resolver a questão e depois ao processo que vai legitimar mormente o direito
estrangeiro, há de ser aplicada em concreto.

Pode acontecer alguma situação em que tem todo o processo conflitual


relativamente à escolha da lei que está associada ao elemento de conexão, mas depois
concluímos que essa lei não passa no processo valorativo.
A dimensão não é “sin gelem” (não percebi), pode-se densificar.

Tendo em consideração aqueles valores, a própria estrutura (?) desde a escolha


da lei que resulta do elemento de conexão parte da formulação de princípios formais e
materiais do DIP, que levaram o legislador a, em determinadas situações, escolher uma
lei em deterioração de todas as outras opções que tinha no caso concreto. A partir daí,
o desenvolvimento deste princípio é importante para, desde logo, a escolha das
conexões, ou seja, as leis que o legislador vai integrar no elemento de conexão da norma
de conflito. E que depois vai ser particularmente relevante para o legislador português
basear todo o processo conflitual naquilo que é o “jogo de cartas dos princípios”, onde
o legislador de repente acha que tem um princípio importante, mas depois se esse
conflituar com outro já acha que esse outro é que é importante. Nesse jogo, vai ser o
que vai decorrer ao longo de todo o processo conflitual e será útil para o legislador.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
MATÉRIA RELATIVA AOS PRINCIPIOS E À CONFORMAÇÃO GERAL DO SISTEMA
CONFLITUAL

PRINCÍPIO DA HARMONIA JURÍDICA INTERNACIONAL

Na HJI é desde logo onde se forma um valor. É um valor pois garante a certeza e
previsibilidade enquanto finalidade do direito.
No que tange aos valores, estamos no seguinte caminho: Valores enquanto tal,
adotados no sistema jurídico enquanto princípio e depois enquanto elementos de
conexão. Estamos numa ideia em que estamos a afunilar aquilo que são os valores, em
princípios e depois em soluções concretas ao nível dos elementos de conexão.

Nesta situação é a otimização, a formulação enquanto princípios, das finalidades


de certeza e segurança jurídica, enquanto finalidades do direito.
Em matéria de DIP, é com a HJI, aquilo que queremos garantir é a aplicabilidade
de um único direito, evitando a harmonia do fórum shopping. Independentemente das
regras de fixação da competência, ou seja, independentemente de que estado a que
seja a lex fori, onde está a questão a ser apreciada, a solução terá sempre o mesmo
direito material a resolvê-la.
Ou seja, de entre as várias opções de escolha de lex fori, o legislador identifica
uma, mas seria indiferente escolher outra, porque no final quer a lex fori A ou a lex fori
B, todas estariam de acordo em aplicar uma única solução de direito material. É
indiferente que o caso seja julgado ou no estado A ou no estado B, porque tanto um
como outro vão aplicar o mesmo direito material porque a solução será sempre a
mesma.
Este é um valor, é um princípio e é a finalidade única do DIP. É o ideal, mas nem
sempre acontece.

Deste princípio decorrem outras características:


Suscetibilidade para conseguirmos a HJI, decorre de várias opções que os estados
façam a montante relativamente à resolução de questões jurídicas transfronteiriças.

NOTA:
Entre regulação direta ou indireta, os estados para chegar à HJI a regulação
direta. Dentro da regulação direta do sistema conflitual, optarão, sempre que possível,
por normas de conflitos bilaterais.
Isto vai dar origem a que escolha da lei não seja arbitrária e que permita o
desenvolvimento dos princípios valorativos que sendo comuns, a capacidade em
abstrato de conseguirmos com que haja uma convergência no que tange à lei aplicável
no caso em concreto de entre os estados seja maior. A possibilidade de chegar à HJI é
maior.
Bem como quando os estados não estão de acordo no que tange a aplicabilidade
de uma lei, adotar melhorias que lhes permitam ser flexíveis na escolha de lei para o
caso em concreto de acordo com as teorias revolucionistas, para admitirem aplicar uma
lei diferente do que aquela que resulta do seu elemento de conexão.
Ou seja, todas estas são técnicas, que os estados não havendo possibilidade de
uma harmonização em direito material nem em direito conflitual, pelo menos tentarem
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
adotar posições que lhes permitam uma convergência, para tentarem pelo menos
atingir a HIJ. Nem sempre é possível e nesses casos alguém manda e alguém obedece.

PRINCÍPIO DA NÃO TRANSATIVIDADE

Sendo objetivo como princípio essencial do ordenamento jurídico português


interno, não é atualmente no âmbito do direito internacional, um princípio que seja
efetivamente sufragado.
É característico do ordenamento jurídico português.

Com o desenvolvimento das teorias associadas ao DIP, este princípio, nesta


altura, já não é essencial ao sistema. Nos regulamentos da união europeia, o legislador
europeu já não adota, já admite a transitividade no âmbito do DIP.
Artigo 41º do CC não costuma ter muita aplicabilidade, está praticamente
revogado.

Em matéria de DIP temos que o sistema conceitual, o elemento de conexão e o


legislador escolhe a lei deve ser aplicada ao caso concreto. Às vezes o legislador que diz
o seguinte: quem escolhe a lei são as partes.
Tal como refere no artigo 41º: Em matéria contratual atender-se-á a lei que as
partes escolheram ou como lhe couberam, qualquer coisa do género.
Ou seja, o elemento de conexão nesse caso concreto e autonomia da vontade.

Nota:
Altamente coerente. Aliás tendo em consideração a harmonia material ou
interna, que é outro princípio, é altamente coerente.
Se eu lhes perguntar qual é o princípio que identificariam imediatamente quando
pensam no livro do direito das obrigações, é o princípio da autonomia da vontade. Ou
seja, no âmbito dos contratos, os negócios jurídicos estão no livro das obrigações. A
opção é, fazem o que quiserem desde que não esteja proibido.

A autonomia da vontade é: escolhe se quer contratar ou não, escolhe com quem


quer contratar, escolhe o conteúdo do nosso contato. No conteúdo do nosso contrato
podem escolher um contrato típico, ou seja, aquele que está expressamente previsto na
lei, podem escolher um contrato que não está previsto na lei e nesse sentido podem
escolher, ou não está previsto na lei porque são fantasiosos e começam a combinar
vários tipos contratuais, portanto tem um tipo contratual completamente novo porque
ele nasce da soma de vários. Depois em direito das obrigações quando falam desse tipo
de contato, são dados mistos, falam da teoria da absorção, da teoria da combinação.
Por exemplo, tem regimes jurídicos relativos ao cumprimento dos contratos,
portanto depois não sabem muito bem se aplicou o tipo contratual A ou B, ou então
podem criar um tipo contratual que não existe sequer no ordenamento jurídico
português.
Ou seja, adotar um contrato que está em vigor novo ordenamento jurídico
qualquer, fazê-lo para ordenamento jurídico português, ou então serem ainda mais
inovadores e criarem um contrato “ex novo”. Desde que não violem normas imperativas
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
e haja acordo de vontades, passa a ser um negócio jurídico válido e eficaz no
ordenamento jurídico português.

Nada mais coerente do legislador, quando tem uma relação jurídica privada
internacional ao nível do direito das obrigações, levar para o direito Internacional
privado exatamente isso que tem sido preside ao direito interno, que é a autonomia da
vontade.

No artigo 48º do CC, o que tem é um afloramento novo princípio da autonomia


da vontade. É não só escolher se querem contratar ou não, com quem querem contratar
ponto do nosso contrato até agora. Se o vosso contrato for de natureza internacional é
escolher a lei querem ver aplicada ao contrato. Se a lei A ou se a lei B.

O princípio da não transitividade, é o que está no artigo 41º/2 do CC. São os


limites à escolha da lei.
É possível escolher a lei, ou seja, um elemento de conexão do artigo 41 é
autonomia da vontade.
O legislador “dispara” para as partes a escolha da lei, mas refere que não podem
violar a não transitividade.

Que é que isto significa?


• Que não podem escolher uma lei que não esteja em contato com a vossa
relação jurídica ou pelo menos, se eles tiverem contato com a relação jurídica,
se não mostrarmos interesse sério no caso concreto na aplicabilidade de uma lei
em concreto.
Podem escolher a lei, mas não podem escolher uma qualquer lei.

Significa que tem 2 consequências no ordenamento jurídico português:


1. Que não podem internacionalizar uma relação jurídica que seja puramente
interna.

Para o ordenamento jurídico português, (insisto mais uma vez que este artigo
41º, como vão perceber, agora só vamos usar para resolver outras questões a nível de
direito interno, ele está revogado, portanto, esta questão já não é assim mesmo no
ordenamento jurídico portugueses, porque 41º não tem aplicabilidade nenhuma) não
podem internacionalizar a relação jurídica exclusivamente com autonomia da vontade.
Se a relação jurídica for puramente interna, ou seja, se todos os elementos da
relação jurídica estiverem no ordenamento jurídico português, não podem escolher
uma lei diferente que não seja a lei portuguesa. Obrigatoriamente se a relação jurídica
é interna se aplica direito português, porque a relação não é internacional.

2. Se ela já for internacional, não podem chamar ao conflito de leis, leis novas
para além daquelas pessoas estão em contato com a vossa relação jurídica.

Se o conflito de leis da relação jurídica internacional for entre a lei portuguesa e


uma lei espanhola, não podem escolher outras leis que não seja a portuguesa ou a
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
espanhola. Isto é o que dita o princípio da não transitividade para o ordenamento
jurídico interno, nomeadamente no artigo 41º.
Atualmente, eles já não têm esta expressão no âmbito dos regulamentos. Nada
impede de escolher uma lei estrangeira onde a nossa relação jurídica seja puramente
interna, nada impede se a nossa relação jurídica não for puramente interna, escolher
uma lei que não tem contato nenhum com a relação jurídica e não precisamos de
justificar porque é que queremos aquela. O que as partes escolherem é o que vai vigorar
então.
Este princípio não transitividade já não tem expressão e o impacto que tinha no
exterior.

AFLORAMENTO DO PRINCÍPIO DA NÃO TRANSITIVIDADE


LIMITAÇÃO DO DÉPEÇAGE OU SPLITING

Também já não tem as limitações que eram sobretudo dogmáticas, mas que a
esta altura já não se colocam. A doutrina, mesmo em Portugal, como se refere à
expressão inglesa ou à expressão francesa, mas basicamente significa “separar”.
Aquilo que acontece é: tem uma relação jurídica e na limitação do dépeçage ou
spliting, no afloramento do princípio da não transitividade, é para uma relação jurídica,
escolhem ou aplicam, um direito material.

O spliting aquilo que permite fazer é: separar as várias questões que a relação
jurídica pode suscitar e decidir que, consoante a natureza da questão, aplica um direito
material diferente.

EXEMPLO: Num contrato de compra e venda internacional, se o problema for um


acidente com o transporte da mercadoria, aplicam-lhe direitos civis. Se o problema for
do não pagamento das mercadorias, se for cumprimento defeituoso, aplicam-lhe outro
direito material.
Dividem relação jurídica por várias temáticas e, a cada uma delas, podem decidir
aplicar direito material diferente.

É uma limitação que resulta sobretudo de direito material português, ao nível


contratual e no âmbito do princípio da autonomia da vontade, no regulamento (?) essa
imitação está totalmente vazia.
Naturalmente que quando escolhem lei estrangeira ou quando fazem dépeçage
particular atenção porque pode separar as questões, mas as vezes elas são
convergentes.

Pode ter um problema contratual porque deriva de uma questão de transportes.


Podem terem ali uma dúvida se aplicam a lei A ou lei B porque o problema que se coloca
é da conjugação de 2.

Mais uma vez, depende da interpretação da vontade das partes. No limite, se as


partes não pensarem nessa situação, tal qual acontece nos contratos internos, o
julgador haverá de decidir de acordo com aquilo que entender. Nomeadamente
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
considerar que aquela questão é lacunosa e aplicar-lhe as regras relativas à escolha de
lei.

O princípio é este - A coerência relativamente à ordem jurídica interna.

O que é que isto significa?

Significa que os princípios do direito interno poderão, de alguma forma,


condicionar as soluções que se fazem ao nível do próprio sistema conflitual.

Ou seja, é necessário considerar a ordem interna ao nível do direito internacional


privado.

NOTA:
Um exemplo do artigo 28º e da técnica da norma de conflitos unilateral. O
legislador tem aqui uma preocupação tal qual como tem direito interno, nos
mecanismos de conversão e resolução do dolo do menor, que é, por exemplo, proteger
o comércio jurídico local.
Aqui o que faz é, a partir do momento que o legislador elegeu para a ordem
pública interna um princípio essencial, o levará também para o nível de DIP.

Encontramos N soluções quanto a isso. Por exemplo, nas preocupações que o


legislador tem em matéria de consumo. Quando há escolha de lei que tem uma relação
de consumo internacional, as preocupações de corrigir a assimetria que existe entre o
prestador de serviços e o consumidor, o legislador levará isso também ao nível do
sistema confortável, para corrigir aquilo que é, apesar de ser direito privado, um
pressuposto que em princípio não está verificado, que é a igualdade da posição ou
paridade situação racionalmente aos sujeitos.

Ou seja, ao nível do direito Internacional do Estado legislador também vai


garantir que a assimetria de posições entre comprador e vendedor é corrigida para
evitar a violação de direitos do consumidor.
Idem quanto às questões de direito laboral, assim como quanto às questões
relativas às crianças. Por exemplo, princípios essenciais associados ao superior interesse
do menor, também serão garantidos.

Portanto, todos esses princípios de ordem interna, que se imponham ao


legislador que o direito, e que no direito privado se encontram como normas
imperativas, terão algum reflexo para garantir a harmonia das próprias soluções do
direito matéria.

PRINCÍPIO DA CONFIANÇA

Mecanismos de correção relativamente a soluções de direito material que


possam pôr em causa, este princípio da confiança. Que podem dar origem a limitações
de direito material estrangeiro, ou então a utilização de técnicas que permitem essa
correção. Artigo 28º.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Também é particularmente útil para perceber o funcionamento da ordem
publica e internacional e as limitações ao direito material estrangeiro. Ou,
eventualmente, ainda que haja violação da ordem publica internacional, admitirmos,
não obstante, a aplicação de efeitos jurídicos mesmo que eles violem a nossa ordem
publica internacional. Exatamente para garantir o princípio da confiança.

Exatamente para fugir ao artigo 28º e acharem partir depois é exemplo por tudo,
pensem por exemplo na seguinte situação, uma já falamos sobre isto quando demos
antes a ordem pública Internacional do Estado do estado do foro.
Mais uma vez, um limite excecional à aplicabilidade do direito material
estrangeiro, ou seja, aquelas poucas situações que excecionalmente o DIP quer saber
qual é a sua solução do direito material estrangeiro, porque ela vai permitir a sua
aplicabilidade porque ela viola princípios informadores do próprio direito nacional.

Imaginem que tenho por exemplo um casamento poligâmico.


Andamos para frente e trás com o casamento, decidimos aplicar a lei da
nacionalidade dos conjugues. Ele pode casar com as mulheres todas que quiser que não
tem problema nenhum.
O casamento poligâmico, ou seja, o casamento a partir da segunda mulher,
inclusive, não é admissível no nosso ordenamento jurídico português. Nós aplicaríamos
o direito material estrangeiro, mas depois se decidimos aplicar esse material estrangeiro
a solução que ele nos dá, é a validade do casamento poligâmico.

A família é a principal instituição do Estado e a conceção de família. As pessoas


organizam-se entenderem, nomeadamente a poligamia, mas se querem organizar-se
em poligamia não podem pretender que o contrato de casamento.
Isto porque, para o ordenamento jurídico português é essencial que o contrato
de casamento seja entre 2 pessoas capazes de exercer o seu contrato.

Juridicamente protegemos esta família, as crianças desta família, sem problema


nenhum, como uma situação de facto, não como uma situação de (?). Numa situação
jurídica censuramos essa questão.
Agora não vamos reconhecer a validade do segundo terceiro, quarto, casamento
senhor caso porque ele viola nossa ordem pública Internacional.

Agora pensem que o que está a ser discutido é a validade do casamento para
efeitos de um divórcio a terceira mulher daquele homem. Portanto, nós precisamos de
reconhecer o casamento para conceder o divórcio. Mas agora pensem o seguinte,
imaginem que aquela Senhora que esteve casada não sei quantos anos com aquela com
aquele senhor, sempre foi se não trabalhadora, viveu em casa, sustentada pelo marido,
e ou nós reconhecemos aquele casamento e o património que aquelas pessoas fizeram
ao longo do tempo, é também dela. Ou então aquele património é dele.

Ou seja, a ordem pública internacional pode, no caso concreto, em prol do


princípio da confiança, ter de ceder, tendo em consideração, os interesses conflituais.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Ou seja, ainda aquele casamento enquanto tal, viole a nossa ordem jurídica, a
questão é, no caso concreto, os efeitos do não reconhecimento VS os efeitos do
reconhecimento, tem de ser ponderados.
Devemos ceder ou não da nossa posição, para garantir a tutela de uma relação
jurídica constituída no estrangeiro, que produza efeitos jurídicos que nós vamos obstar,
onde numa situação depravada um dos sujeitos, que constituída a relação jurídica no
estrangeiro, não dá com determinados efeitos jurídicos que agora vamos retirar.

Este princípio da confiança pode, nas situações mais extremas levar a que, não
é Portugal a reconhecer o casamento poligâmico. Isso nunca vai acontecer, é naquele
caso concreto, reconhecer efeitos do casamento poligâmico para garantir os efeitos
patrimoniais que decorrem de um regime de bens que vão garantir a tutela direitos da
mulher. Portanto, é preciso ter atenção ao afloramento internacional que este princípio
vai ter.

PRINCÍPIO DA EFETIVIDADE; PRINCÍPIO DO FAVOR NEGOTII; PRINCÍPIO DA RESERVA


JURÍDICO MATERIAL

Tem um afloramento muito importante, associado à maior proximidade, ou


conexão mais estreita.
Este princípio é muito importante porque nos vai dar uma solução em matéria
conflitual importante, que é o princípio do favor negotii.

Se pensarem na harmonia interna, estre princípio não é mais que uma


consequência do princípio do aproveitamento máximo dos negócios jurídicos. Este
princípio era muito falado quando dávamos a simulação.

No princípio do aproveitamento máximo, tínhamos 2 institutos que falamos em


obrigações, a validade formal do contrato de promessa de compra e venda onde era
preciso ver se o contrato necessitava ou não de documento particular, fazer aquela
interpretação da norma, etc.

A uma dada altura era a seguinte questão, o contrato de promessa pode ser
bilateral ou unilateral. Consoante uma das partes, ou ambas, se obriguem à celebração
do contrato. Depois um dos problemas é, o que é que acontece quando os termos do
contrato resulta que o contrato é bilateral, mas depois só uma assinou um contrato. Ou
seja, o contrato só é formalmente válido para uma, para a outra é nulo, como não
assinou, não há contrato formal.

Agora temos 2 soluções, porque a 3ª não cumpre o princípio do aproveitamento


máximo do negócio jurídico. O contrato não é nulo devido ao princípio do
aproveitamento máximo do negócio jurídico, que é a redução da conversão. Ou
reduzem aquele contrato que as partes queriam que fosse bilateral, mas que só 1
assinou, depois a única parte que está vinculada é que tem de demonstrar no caso em
concreto que não aceitaria aquele negócio se ele não fosse bilateral; ou então a
conversão. Todo o contrato é nulo, mas permite-se à parte interessada que (?) para um
negócio válido.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

As soluções de DIP, haverão de convergir para, sempre que possível e havendo


várias opções, optar por aquela que favorece a validade do negócio jurídico.
Na escolha de lei, se o legislador escolher entre A e B, deve de optar por aquela
que, se A vai invalidar a eficácia do negócio, deve direcionar a solução para B que leva à
eficácia/validade do negócio.
A harmonia interna do sistema, não é mais que o aproveitamento dos negócios
jurídico.

EXEMPLO:

Artigo 19º do CC.

Depois tem também uma certa materialização do DIP.


Ou seja, uma reserva jurídica material, também se verifica no DIP. Os princípios
do direito material, que se impor que, mesmo ao nível do DIP, se justifique que sejam
considerados, independentemente de se recorrer a uma solução conflitual.

Por exemplo, o princípio da equiparação entre países estrangeiros em matéria


de DIP. Não se discriminam estrangeiros nas relações jurídicas que sejam decididas em
Portugal pelo simples facto de serem estrangeiros.
Princípios de ordem material que são levados para o direito internacional.

PRINCIPIOS DAS CONEXÕES

O legislador parte de valor à princípio a conexões.


Aquilo que retira, desde logo, como regra geral, é que de entre estes valores e
princípio, aquele que identifica como sendo o que, em princípio, garante, desde logo, a
primeiro pressuposto do DIP que é a certeza e a segurança, é aproximar a lei aplicável
ao caso ao elemento da relação jurídica que está controvertido à Princípio da conexão
mais estreita.
Ou seja, se nos tratamos das relações jurídicas privadas controvertidas, aquilo
que o legislador agora vai considerar é qual é a questão controvertida dentro da relação
jurídica que se é do sujeito, se é do objeto (mediato ou imediato, os efeitos (reais ou
obrigacionais), se é um problema de facto ou garantia e vai identificar as leis que estão
mais próximas de cada um desses elementos, que em princípio serão aquelas que
estarão em melhor posição para resolver essa questão.
Assim sendo, singelamente desenvolve:
Que os ligam aos anteriores e os ligam aos valores.

PRINCÍPIO DA MAIOR LIGAÇÃO INDIVIDUAL

Sempre que estamos a tratar de matéria relativa aos sujeitos na relação jurídica,
escolhemos A diante das várias, mas o legislador desde logo escolherá aquela que
apresentar uma ligação aos sujeitos.
Se a questão for associada ao facto que vimos há pouco, adotará o mesmo
princípio que adota no OJ interno – A vontade das partes (autonomia da vontade).
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Mas se a questão já estiver associada aos efeitos reais, ou às coisas, o legislador
vai escolher a lei que está mais próxima das coisas – Lei da nacionalidade.

Se for a questão de (?) ela é particularmente delicada porque aí entram princípios


de ordem publica que é preciso considerar.
Pensando no Código Civil, na competência dos tribunais tem uma parte que refere
“da competência exclusiva”. Um desses artigos é de quando a questão seja de direitos
reais sobre imóveis, depois o legislador aqui escolhe a lei do lugar onde as coisas estão
situadas.

Na cadeira de DIPub uma das coisas que (?) do estado soberano, é as fronteiras
de um território (não se percebe nada).
Isto significa que para os estados o território é um elemento característico da sua
própria soberania, sobretudo quando estamos a tratar de imoveis. Estes são imoveis
porque estão (nada).
Quando estamos a tratar destas matérias, vamos precisar de execução da decisão
do território do estado. Tem a força coerciva de um estado a aplicar direito material de
outro estado.

Os direitos reais são intocáveis, porque nestes não vigora a autonomia da


vontade, só são direitos reais aqueles que estão expressamente previstos na lei.
Uma solução de direito estrangeiro que reconhece direito material diferente do
que vigora no OJ do estado, é um problema difícil de resolver ao nível da própria ordem
publica internacional. Os estados lidam mal com isso.

Deve de dar maior proximidade quando estamos a falar de direitos reais ou do


objeto da relação jurídica – Lei do lugar onde a coisa está.

PRINCÍPIO DO FAVORECIMENTO

Todas aquelas situações que resultam da própria materialização do DIP ou da


reserva jurídica material. As correções que o OJ interno faz relativamente ao DIP a
assimetrias entre as partes também são levadas a tribunal.
Na matéria de trabalhadores, consumidores, crianças, tudo aquilo que implica
que haja conversões à própria autonomia da vontade (?).

PRINCÍPIO DA HARMONIA JURIDICA INTERNACIONAL

Não é um princípio das conexões. O legislador não escolhe as leis tendo em conta
a HJI, é um fim que ele visa e pode tentar adotar as suas funções para a tentar atingir.
Mas nas normas de conflito da HJI não é uma conexão.
Ela está aqui para explicar que a HJI, sendo a finalidade última, porque aí há a
garantia de que nunca vai haver problemas no que tange àquelas decisões, ela não é um
princípio absoluto.
A própria HJI pode, em algumas situações, ser afastada, tendo em consideração
alguns destes princípios. Tem como exemplo o artigo 19º/2 do CC.
Uu877<
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE

A autonomia da vontade prevalece sempre a vontade dos estados. No caso


concreto, aquilo que o estado tem como princípio é a liberdade das partes conformarem
as suas RJ ao nível internacional, é escolher a lei. Então a lei que, eventualmente, todos
os estados estariam de acordo em aplicar, ser diferente da lei que as partes querem ver
aplicada, aplica-se a lei que as partes querem aplicar no caso em concreto.
Apesar do fim último do DIP ser a HJI, ele pode ser, face às (próprias conexões
(não percebi bem)) de DIP.
Tao singelamente quando isto, com base em alguns princípios e afloramentos
conforme vamos ver nos casos práticos, as conexões e os processos valorativos, agora
fazem-se de acordo com, a cada situação concreta os princípios são chamados, se eles
entram em conflito ou não e, se for o caso, então qual é que prevalece.

27.09.2023 (T)
ORDENAMENTOS JURIDICOS COMPLEXOS

Quanto aos ordenamentos jurídicos plurilegislativos que já iniciámos nas aulas


práticas ou de orientação tutorial a respetiva matéria cumpre fazer o enquadramento,
para o efeito, consideremos a questão relativa aos diversos diplomas legais que vamos
dar em questão que se coloca, nomeadamente, no código civil e em todos os
regulamentos da União Europeia que nós vamos dar uma matéria conflitual.

Notem que, não obstante, a questão dos ornamentos jurídicos plurilegislativos


por ser uma questão de DIP, sempre que tivermos uma convenção ou qualquer outro
regulamento ou texto legal que se relacione com a matéria conflitual, ela terá uma
solução própria para a questão dos ordenamentos jurídicos plurilegislativos ou
ordenamentos jurídicos complexos.
Portanto, cada um destes diplomas terá, quer o regulamento ronda 1, quer o
regulamento ronda 2, quer o regulamento do divórcio, da separação judicial ou
regulamento as sucessões, têm soluções específicas indiferentes entre si, que daremos
exclusivamente quando falarmos destes regulamentos internos e do respetivo regime.

Nesta altura vamos concentrar-nos exclusivamente naquilo que está previsto no


artigo 20º do CC, portanto, no tratamento da matéria dos ordenamentos
plurilegislativos, conforme a lei nacional que resulta do código civil para a qual
precisaremos da lei da nacionalidade.
Da lei da nacionalidade precisamos, exclusivamente, de 2 artigos que são os
artigos relativos ao DIP são os artigos 27º e 28º (portanto, basta imprimir só essa página
da lei da nacionalidade que será suficiente).
Não obstante o artigo 20º tem de ser conjugado, necessariamente, com os
artigos 27º e 28º da lei da nacionalidade. Esses artigos 27º e 28º serão também
essenciais para resolver casos práticos de DIP.

Como já vimos nas aulas teóricas teremos todas aquelas situações em que a LEX
FORI, usa as suas normas de conflitos, em particular o seu elemento de conexão, aponta
para o ordenamento jurídico estrangeiro.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem: no nosso caso a lex fori será sempre Portugal, Portugal não é um
ordenamento jurídico complexo, Portugal só tem 2 hipóteses forçadas, ou o elemento
de conexão, porque as normas de conflito são unilaterais, apontam para si próprio e não
há nenhum problema de ordenamentos jurídicos complexos, ou apontam para um
ordenamento jurídico que considera aplicável ao caso concreto. Problema que se suscita
nesta situação é que este ordenamento jurídico que aqui está é um ordenamento
jurídico complexo legislativo.

O que isto significa? Significa que dentro do Estado desse ordenamento jurídico
vigora mais do que um sistema jurídico, ou seja, há conjuntos normativos
diferenciados que se aplicam no mesmo ordenamento jurídico. Ou seja, para as
mesmas situações há leis diferentes.

Os ordenamentos jurídicos complexos podem sê-lo tendo em consideração 2


pressupostos ou 2 fundamentos: ou porque há uma divisão interna do território (o
exemplo mais paradigmático é dos Estados federais, cuja divisão interna dos Estados
federados, vigora um sistema jurídico que dependerá depois naturalmente, daquilo que
é autonomia do respetivo estado (acontece também em Espanha em algumas matérias
relativas às regiões autónomas do território espanhol); depois temos os ordenamentos
jurídicos complexos de base atual, ou seja, aqueles em que no ordenamento jurídico
não há divisão interna do território, apesar de haver mais do que um sistema jurídico
aplicável para as mesmas situações, só que a escolha do sistema jurídico não tem em
consideração a divisão interna do território, mas sim determinadas categorias de
pessoas ao qual vai ser aplicado um sistema ...

Qual o problema que aqui se coloca?

Se a lex fori aponta para determinado jurídico, que é um ordenamento jurídico


complexo, ou seja, é um ordenamento jurídico que seja qual for o fundamento
plurilegislativo, a questão que se coloca é: qual é dentro deste ordenamento jurídico
qual é a lei aplicável?
Se existe mais do que um sistema jurídico dentro do mesmo Estado, pode ser
aplicável ao caso concreto, continuamos com um problema mais limitado, mas
continuamos com um problema de conflito de leis para serem aplicadas àquela situação
em concreto.

Para a resolução desta questão, no ordenamento jurídico português, temos o


artigo 20º do código civil, que é interpretado, desde logo, de acordo com 2 doutrinas
diferentes, 2 posições diferentes, que podem chegar, neste caso concreto, a soluções
também diferentes, no que tange há permeabilidade da lei aplicada.

Para o artigo 20º tem 2 posições: a escola de Coimbra e a escola de Lisboa,


inicialmente a escola de Coimbra defendida pelo professor Ferrer Correia e a escola de
Lisboa, inicialmente defendida pela professora Isabel Magalhães Collaço.
A posição do professor Ferrer Correia, parte de um princípio – que é diferente da
professora Isabel Magalhães Collaço, da escola de Lisboa - que é, os elementos de
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
conexão sempre que sejam conexões relativas a circunstâncias de facto, apontam para
a lei em vigor nesse local, independentemente, de essa lei ser a do Estado soberano ou
de ser outra qualquer lei interna do Estado.

Já a professora Isabel Magalhães Collaço diz que essa é uma interpretação que
não resulta daquilo que são as normas do DIP, muito pelo contrário, ou seja, diz a
professora que o problema do DIP é resolver conflitos de leis, quando esses conflitos de
leis resultam da existência ou coexistência de mais do que um ordenamento jurídico.
Os conflitos internos de lei de cada Estado soberano, não é um problema de DIP,
é um problema de direito interno de cada um desses Estados e, portanto, não cabe ao
DIP escolher qual é a lei que vai aplicar, selecionando uma de entre os possíveis dentro
do Estado soberano. Ou seja, o estado é soberano dentro do seu território, dentro do
seu ordenamento jurídico, caberá a esse estado soberano selecionar essa lei.

Esta posição ou estas posições são particularmente importantes quando


interpretamos depois o artigo 20º do CC.

O artigo 20º do CC apresenta as soluções para o ordenamento jurídico complexo


de base territorial e de base pessoal, nos seus números 1 e 2 para o primeiro caso e no
seu número 3 para o segundo caso.
Parte do seguinte pressuposto, relativamente, à localidade deste artigo que L2,
esta lei que aqui está, ou seja, este ordenamento jurídico plurilegislativo, relativamente
ao qual o nosso elemento de conexão aponta é a lei da nacionalidade, ou seja, a lei
estrangeira que é o ordenamento jurídico legislativo para a aplicabilidade do artigo 20º
do CC, há de ser a lei da nacionalidade do interessado.

Retiramos isso da própria leitura do artigo 20º “quando, em razão da


nacionalidade de certa pessoa, for competente a lei de um Estado em que coexistam
diferentes sistemas legislativos”. Isto significa que o nosso elemento de conexão aponta
para a nacionalidade dos sujeitos, ou seja, nós vamos considerar competentes para
resolver aquela questão controvertida, a lei da nacionalidade, portanto, este é o
primeiro requisito.
Posto isto, é naturalmente pressuposto que tínhamos um ordenamento
complexo.

Como é que a partir daí o artigo 20º resolve o problema?

Resolve o problema, em segundo lugar, determinando-se aquilo que dá origem


à coexistência de vários sistemas jurídico é o facto desse território da nacionalidade
estar dividido em várias partes, em Estados federados, em regiões autónomas, ou então
apesar de não haver essa divisão, há um sistema jurídico especial que se aplica a uma
determinada?.

Na primeira situação diz o artigo 20º/1 e nº 2, seguindo aqui o entendimento,


particularmente palpável da professora Isabel Magalhães Collaço, diz o artigo 20º do CC,
que quem vai resolver o conflito interno de lei, potencialmente, aplicável ao caso
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
concreto, é o próprio ordenamento jurídico da lei da nacionalidade. Através do
denominado direito interlocal.

O que é o direito interlocal? O direito interlocal corresponde ao sistema de


normas de um estado plurilegislativo, que permite resolver internamente os conflitos
de lei.

Notem: o ordenamento jurídico plurilegislativo tem ao nível interno, aquilo que


os ordenamentos jurídicos não plurilegislativos não têm, como é o caso português só
existe a nível Internacional, que é internamente eles têm vários sistemas jurídicos
especialmente aplicáveis, quando tem uma relação jurídica que passa por mais do que
um desses sistemas coloca-se também a questão de saber qual é a lei aplicável.
Portanto, o direito interlocal resolverá internamente, não ao nível Internacional
porque é dentro do mesmo estado soberano, os conflitos internos dos vários sistemas
jurídicos que podem ser potencialmente aplicáveis àquela relação física.

A típica situação do ordenamento jurídico em que têm vários sistemas mínimos


e a relação jurídica passa todos eles, qual é a lei aplicável o direito internacional haverá
de existir para resolver aquela questão.

Aproximando-se esta ideia da professora Isabel Magalhães Collaço, ou seja, o DIP


apenas aponta para um Estado soberano, cumprindo ao Estado soberano dizer qual é a
lei dentro desse estado soberano que vai ser aplicável.
Continua o número 2 do artigo 20º dizendo que se não existir direito interno
local, ou seja, se o ordenamento jurídico complexo não tiver um sistema de normas que
permita escolher qual é o sistema jurídico aplicável, então vamos recorrer ao DIP desse
ordenamento jurídico.

Ou seja, ver como é que aquele ordenamento jurídico escolhe elementos de


conexão, se a relação jurídica for internacional e depois usar sempre que possível esse
mesmo elemento de conexão para resolver a questão internamente, mas isto só é
possível, quando nesses ordenamentos jurídicos de DIP, seja unificado.

Se pensarmos nos Estados Unidos de forma muito figurativa, se cada um dos


Estados dos Estados Unidos tem um código civil, alguns diferentes, outros iguais, outros
parecidos, ou eles têm direito interlocal que lhes permite escolher a lei aplicável, se não
tiverem, terão de eles próprios recorrer tanto ao artigo 25º, como ao 65º, ao qual nós
podemos recorrer para tentar resolver conflitos internos.

Esse DIP, dos 50 Estados dos EUA, das duas uma, ou é unificado, ou seja, é igual
para todos, ou então voltamos à estaca 0. Ter 50 DIP dentro dos EUA, qual aplicam no
caso concreto se o elemento de conexão vai desempatar a lei aplicável. Portanto, só é
possível recorrer nestas situações ao DIP se ele for dentro daquele ordenamento jurídico
unificado, sob pena de mais uma vez ser impossível determinar qual é o DIP de qual dos
Estados competente para resolver aquela situação.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se não existir nem uma coisa nem outra, a solução do legislador é introduzir novo
elemento de conexão que é a lei da residência habitual do interessado.
Diz bom, nós consideraríamos competente a lei da nacionalidade, que é o
primeiro requisito melhor para desencadear a aplicabilidade?, se não conseguirmos
escolher qual dentro da lei da nacionalidade, a lei que vai ser aplicada ao caso concreto
então aplica-se a lei da residência habitual.

Uma situação mais simples, a lei da nacionalidade é esta onde vigoram vários
sistemas jurídicos. Aquilo que o artigo 20º/2 última parte diz é: veja onde é que o
interessado vive e aplique-lhe a lei que está em vigor nesse lugar.
Com a residência habitual conseguimos selecionar um lugar ou um espaço
dentro do Estado da nacionalidade e dentro do Estado da nacionalidade, aplicou-lhe a
lei em vigor que está na delimitação fronteiriça dentro do Estado.

Primeiro problema: o interessado relativamente alguma questão controvertida,


norte-americano, se não temos nem direito interlocal nem direito Internacional privado
unificado, perguntamos onde é que ele vive? Vivem em Dalas, então aplica-se a lei que
estiver em vigor no Estado do Texas, relativamente àquela questão controvertida.
A questão agora que se coloca é:

E se ele viver noutro país, ou seja, ele é nacional de um país, mas não vive nesse país?

Não só não selecionamos dentro dos Estados, qual era a lei que se aplicava, como
ainda juntamos outro.

O professor Ferrer Correia, entende que na esteia da formulação da posição, que


a lei da residência habitual é um elemento de conexão supletivo quando também está
lei da nacionalidade, ou seja, interpreta ele o seguinte do artigo 20º/2: quando
chegamos à conexão de residência habitual significa que não foi possível escolher qual
o sistema jurídico dentro da lei da nacionalidade que se pudesse aplicar. Então diz ele
que afastamos por impossibilidade de escolher a lei da nacionalidade aplicável, o
elemento de conexão nacionalizado e passamos para o elemento de conexão da
residência habitual e aplicamos este. Portanto, se ele é nacional dos Estados Unidos,
mas vive em Itália, aplica-se a lei italiana.
A professora Isabel Magalhães Collaço entende que não. Entende que não é
parte do seguinte pressuposto: nos termos do artigo 31º do CC, o legislador português
tendo em consideração o princípio, ou melhor o valor que está associado aos princípios
ou ao princípio da escolha da lei da nacionalidade ou da lei da residência habitual que é
o princípio da maior ligação individual, deu preferência à lei da nacionalidade e no artigo
31º quando fala da lei pessoal no CC é a lei da nacionalidade.

Só em situações muito excecionais, é que se lhe aplica a lei da residência


habitual. Há outras situações, que veremos mais tarde com os casos-práticos,
nomeadamente, as situações de apátridas que naturalmente não têm nenhuma
nacionalidade, ou então com a aplicabilidade de uma das convenções de Bruxelas
relativo aos refugiados políticos, em que nesse caso em concreto também não se
considera a nacionalidade ...
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Mas enfim, fora dessas situações excecionais, o legislador deu clara preferência
à lei da nacionalidade. Como? De entre as várias possíveis para cumprir o princípio da
maior ligação individual, a da nacionalidade era aquela que para o legislador português
cumpre em pleno esse princípio nos termos do artigo 31º/1.

Então diz a professora Isabel Magalhães Collaço que temos um problema de


discriminação que a Constituição proíbe e o CC também, relativamente ao tratamento
dos estrangeiros. Porquê? Porque todos os estrangeiros que tem uma questão
submetida à Lex fori, que é Portugal de ordenamento jurídico, em que esses
ordenamentos jurídicos não têm nem direito interlocal, nem DIP unificado, nunca vêm
aplicada a lei da nacionalidade, tem de ser aplicada a lei da residência habitual.

Então estamos a discriminar alguns estrangeiros relativamente a outros, em


relação da opressão do Estado em sentido amplo, seja qual for a inexistência de direito
interlocal ou DIP unificado, não estamos a dar cumprimento àquilo que é o princípio da
maior ligação individual.
Diz ela, então, que, sob pena de inconstitucionalidade por discriminação de
alguns estrangeiros essa não pode ser a interpretação dada ao nº 2 do artigo 20º última
parte, ou seja, a interpretação de que a lei da residência habitual é simplesmente uma
conexão supletiva, face à lei da nacionalidade. Aquilo que a professora entende é que o
artigo 20º do CC ou o legislador do artigo 20º do CC, só incluiu na sua previsão normativa
as situações em que a residência habitual é elemento de conexão para escolher a lei da
nacionalidade que vai ser aplicada no caso concreto.
Só quando a residência habitual serve para desempatar e entre as várias leis da
nacionalidade inicialmente aplicáveis, aquela que vai ser aplicada no caso concreto ao
interessado.

Agora voltamos ao início, se é assim então o que é que acontece nas situações
em que este estrangeiro, nacional de um país com o ordenamento jurídico vive em país
diferente da sua nacionalidade. Diz, então, a formulação da professora IMC que essa
não é uma situação que esteja prevista no artigo 20º do CC e que o legislador não pensou
nela quando redigiu o referido artigo.
Portanto, temos uma lacuna legal para as situações em que o interessado não
reside no país da sua nacionalidade, no caso do artigo 20º.

E, portanto, para estas situações temos uma lacuna que está fora da previsão
normativa, significa que ou encontramos um exercício de analogia que se possa fazer
ao caso concreto, ou então a cada situação que se coloque no tribunal terá de ser
produzida pelo julgador uma norma ad hoc.
A professora IMC entende que esta é uma lacuna que se consegue resolver com
recurso à analogia legis, ou seja, diz ela que no ordenamento jurídico há uma situação
parecida com esta, à qual o legislador deu uma solução e, portanto, por serem
semelhantes analógicas quanto à sua previsão normativa, é possível estender a sua
aplicabilidade para as situações do artigo 20º, diz ela que a situação é que está prevista
no artigo 28º da lei da nacionalidade.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Os artigos 27º e 28º da Lei da Nacionalidade, aquilo que resolvem são as


situações em que alguém tem mais do que uma nacionalidade, ou seja, alguém tem uma
múltipla nacionalidade, portanto, quando em matéria de DIP se vai aplicar a lei da
nacionalidade, verifica-se que a pessoa tem mais do que uma e é preciso escolher qual
é a aplicável.

O artigo 27º diz que quando haja concurso efetivo de várias nacionalidades, em
que uma delas cidade portuguesa então aplicamos a lei portuguesa, se é para escolher
escolhemos a nossa. O artigo 28º resolve outro problema, este “sim” agora resolve
agora outro problema interpretativo essencial para resolver a lacuna que a professora
IMC diz que resulta, desde logo, do artigo 20º do CC.
Quando o interessado tem mais do que uma nacionalidade e nenhuma delas é
portuguesa, são todas estrangeiras. Quando isso acontece, vamos usar um critério para
desempatar, aplicamos a lei da nacionalidade do Estado, em que o interessado tenha a
sua residência habitual.

Não é um critério supletivo, o legislador do artigo 28º, diz que se alguém tem
mais do que uma nacionalidade, então vamos desempatá-las, escolhendo a
nacionalidade, considerando o lugar em que a pessoa vive. Se ele é espanhol, italiano e
francês e se viver em Florença, será a lei italiana.

A residência habitual não é um novo critério que afasta a lei da nacionalidade é


um critério que permite escolher de entre as potenciais leis da nacionalidade aplicáveis
ao caso. No artigo 28º da lei da nacionalidade, o sujeito tem várias nacionalidades, o que
significa que tem tantas leis da nacionalidade, quantas nacionalidades tem, portanto, se
nós só podemos escolher uma, vamos beneficiar qual? Aquela onde ele tenha a sua
residência habitual.

Depois o artigo 28º, ao contrário do que vimos no CC, diz assim, “mas se ele não
viver em nenhuma”, introduz-se uma nova conexão através da formulação,
basicamente, de um princípio geral de DIP, que é, apliquem-lhe aquela que manifestar
a conexão mais estreita com o sujeito, ou seja, a denominada conexão manifestamente
mais estreita.

O que é a conexão manifestamente mais estreita?

Sendo uma conexão de uma norma jurídica, ela é absolutamente oca, eu sei lá
qual é a conexão manifestamente mais estreita, sendo que pode ser um problema de
estatuto pessoal, um problema de estatuto real, um problema de estatuto obrigacional.
Então, como é que ela se concretiza no caso concreto? Tendo em consideração os
princípios do DIP, ou seja, como é que o legislador de DIP escolhe os elementos de
conexão? Considerando a lei que está mais próxima do elemento da relação jurídica que
suscita a questão controvertida, formulando a partir daí o princípio que permite
escolher a lei que está mais próxima.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Neste caso concreto como é que identificamos a conexão manifestamente mais
estreita?

Estamos a tratar matéria relativa à nacionalidade e à residência habitual, que


significa que estamos a tratar necessariamente às questões associadas às leis ou melhor
ao elemento da relação jurídica que avocam a proximidade destas leis.
Isto significa que no caso concreto temos o princípio da maior ligação?

Como é que encontramos neste caso, a ligação manifestamente mais estreita?

Conforme aquela que no caso em concreto se evidenciar como aquela que está
mais próxima do sujeito. No caso do artigo 28º das nacionalidades, aquela que o sujeito
está mais próximo, usando esse elemento proativo 28º qual das leis de entre da lei da
residência habitual ou a lei da nacionalidade e se for a lei da nacionalidade que tem
vários sistemas jurídicas, com qual desses sistemas jurídicos é que o interessado se
considera mais próximo?

Como é que nós sabemos?

Conforme aquela situação no caso em concreto se evidenciar que permite a


aplicação de uma lei que está mais próxima do sujeito em detrimento de outra.

Tudo pode acontecer, porque se já esgotamos todas as possibilidades de aplicar


a lei mais próxima do sujeito no caso em concreto, in extremis, na absoluta
impossibilidade de escolher qual das leis se vai aplicar, aplica-se a única que é
determinada pela lei da residência habitual.

Mas agora, continuamos com um problema que será maior, que é, se eu fizer
este caminho todo, para encontrar a lei mais próxima do sujeito, o artigo 20º
parcialmente resolve a questão, eu com o artigo 28º da lei da nacionalidade resolvo
todas as questões que se podem colocar (que se podem suscitar em matéria de estatuto
pessoal, pois o 1º requisito da aplicabilidade do artigo 20º é a lei da nacionalidade e
critério de desempate é a lei da residência habitual).

Se o legislador no artigo 20º considerou o elemento de conexão que dá origem


ao ordenamento jurídico plurilegislativo a lei da nacionalidade e se considerou que a lei
da residência habitual era a lei que desempatava essa lei da nacionalidade, significa que,
na escolha valorativa destes elementos de conexão, o legislador estava a pensar em que
elemento da relação jurídica?
Se ele tem de dar cumprimento ao princípio da maior ligação individual, ou seja,
a lei que está mais próxima ou as leis que estão mais próximas da questão controvertida,
se no caso concreto a escolha dele foi nacionalidade e depois a residência habitual para
desempatar na posição da professora IMC está a pensar nos elementos da relação
jurídica “sujeitos”.

O princípio que está subjacente já não é o princípio da maior ligação individual é


o princípio da maior proximidade com esses elementos. Já em termos valorativos não
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
legitimam o legislador desses casos, a não ser que haja consulta de conhecimento, a
escolher a lei da nacionalidade ou lei da residência habitual, porque essas leis não estão
mais próximas nem do objeto, nem de facto, nem da garantia (é a lei do lugar da
celebração do negócio, é lei do lugar onde as coisas se situam, é a lei do lugar da
produção dos efeitos jurídicos, é a lei do lugar onde se verifica o incumprimento, é a lei
do lugar de coisa qualquer).

Isto significa que o legislador precisava de resolver outras questões, não estaria
a cumprir o processo valorativo das folhas de lei, se se aplicasse o artigo 20º ... de outras
matérias que não sejam destinadas a estatuto pessoal, e agora a questão que se coloca
é: mas se assim for, então como é que aplicamos o artigo 20º? Não aplicamos,
lamentavelmente, ou seja, quanto a isto a doutrina não diverge, neste caso concreto, o
legislador não tratou da resolução dos problemas de ordenamentos jurídicos
plurilegislativos quando a matéria não é estatuto pessoal, há uma lacuna.

Como se resolve?

Ou recorrendo à analogia, ou se não der, temos de recorrer a uma norma ad hoc.


Por sorte, conseguimos recorrer à analogia.

Como se recorre à analogia neste caso?

Aplicando analogicamente o artigo 20º do CC, ou seja, temos um caso no CC, em


que o legislador tratou da matéria dos ordenamentos jurídicos plurilegislativos,
portanto, vamos aplicar analogicamente no caso concreto. Analogicamente, porque
nesse caso concreto, L2 não será a lei da nacionalidade porque a matéria não é de
estatuto pessoal, mas será de outro estatuto qualquer e dá origem ao ordenamento
jurídico plurilegislativo.
Aplicando analogicamente, a 1º consequência é a aplicabilidade de direito
interno local, se seguirmos o caminho formulado pela tese da professora IMC, em
qualquer caso, o princípio base é sempre apontado para o Estado soberano e será o
Estado soberano que resolverá o direito interno, ou melhor, resolverá o conflito interno
do seu próprio ordenamento jurídico. Portanto, em qualquer situação a 1º coisa a fazer
é aplicando analogicamente o artigo 20º é, deixar o estado soberano resolver o seu
conflito interno, ou seja, aplicar o direito interno local.
Se não houver direito interlocal, continuamos na opção de deixar a esse Estado
a escolha da lei, ou seja, avançamos para o DIP unificado.

O problema está a seguir, porque a seguir o legislador dá-nos uma conexão que
permite escolher ... só que esta conexão que permite escolher de entre os vários
sistemas – conexão relativa a estatuto pessoal, portanto, não pode ser usada no caso
concreto da matéria porque estatuto real, obrigacional, de garantia, etc. - temos que
analogicamente, encontrar um critério ou melhor uma conexão que permita escolher a
lei de entre as várias possíveis dentro do ordenamento jurídico plurilegislativo.

Como é que nós fazemos isso?


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se houver mais do que uma conexão possível, elas vão se usando através da
análise dos vários elementos de conexão que o legislador escolheu para aquela matéria,
em matéria de estatuto pessoal, só do artigo 31º percebemos que há 2 leis possíveis a
nacionalidade e excecionalmente a da residência habitual. Nas outras matérias que nós
vamos fazer é procurar a possibilidade para o mesmo assunto que existir mais do que
solução.

Analogicamente, temos de usar os vários princípios subsidiários, que permitam


resolver aquela questão. Se não encontrarmos ou esse elemento de conexão apontar
para outro ordenamento jurídico, voltamos a ter um problema que já tínhamos no artigo
20º.
A situação já nem está no âmbito da previsão normativa e vamos usar
analogicamente o artigo 30º da lei da nacionalidade, ou seja, vamos buscar ao artigo 28º
da lei da nacionalidade, as situações em que temos conflitos positivos de leis, que não
conseguimos resolver com o artigo 20º, para ir buscar a conexão manifestamente mais
próxima. Enquanto à pouco era a conexão, manifestamente, mais próxima do sujeito,
agora vamos ter de decidir qual é a conexão manifestamente mais próxima, de acordo
com ... do caso em concreto, aquela que está mais próxima do elemento da relação
jurídica da questão controvertida.

Exemplo:

Imaginemos uma situação de responsabilidade civil extracontratual, aplica-se a


lei do lugar onde ocorreu o facto danoso, o facto danoso ocorreu nos Estados Unidos.
Temos um ordenamento jurídico plurilegislativo, o elemento da relação jurídica que
aqui temos é o facto. Temos de ter em consideração que o princípio da maior
proximidade relativamente ao facto que dá causa ao dano. Direito interlocal primeiro,
direito Internacional unificado depois se não houver direito interlocal, se não houver
nem um, nem outro, vamos para um artigo do CC ver se encontramos conexões, que
para além do lugar onde o facto ocorreu possam ser chamadas, tal qual acontece no
estatuto pessoal, relativamente à lei da residência habitual.
Vamos perceber que em algumas situações, nomeadamente, se o lugar onde
ocorreu o facto for um lugar meramente indeterminado e os sujeitos tiverem a mesma
residência ou nacionalidade. Fora dessas situações não tem outras conexões que sejam
chamadas ao caso concreto.

A lei que está mais próxima do facto danoso.

O facto ocorreu em Dalas, será a lei aplicável no Estado do Texas, dos EUA, em
matéria de responsabilidade civil extracontratual.

Não existindo esse direito interlocal e não havendo formas para desempatar,
aplicação analógica do artigo 28º e de entres as várias leis possíveis de aplicar aquela
pessoa, qual delas está mais próxima do sujeito? No nº3 nunca teremos o problema de
ter outras matérias de outros estatutos, porque o artigo 20º/3 são características de
determinadas pessoas.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
28.09.2023 (T)

Estamos a tratar, tipicamente, de situação em que Portugal sendo a lex fori, é


competente para, de acordo com seu sistema conflitual, determinar qual é a lei
aplicável.
De acordo com o elemento de conexão da norma de conflitos que é escolhido de
acordo com a questão controvertida, de acordo com determinados valores.

No âmbito desta relação jurídica privada Internacional pode acontecer 1 de 2


coisas:
1. Se Portugal para além de ser a lei do foro for também uma das leis em
contato com a relação jurídica, a tal relação jurídica relativamente Internacional,
Portugal pode aplicar o seu próprio direito material.
Ou seja, neste caso concreto Portugal considera-se competente as normas de
conflito são bilaterais, isto pode acontecer.

2. Portugal considera como tendo uma lei estrangeira.


Se a lei estrangeira fosse o ordenamento plurilegislativo depois escolhemos a lei
interna aplicável ao caso concreto.

Bom a grande questão agora evoluindo no raciocínio do direito Internacional


privado está, se a lex fori se considerar competente, ótimo. Se Portugal considerar
como competente uma lei estrangeira, Portugal aplicará o direito material dessa lei
estrangeira e em princípio também não há problema absolutamente nenhum.
O problema coloca-se agora, na seguinte situação quando Portugal considera
como sendo uma lei estrangeira, e nota, eu acredito Portugal porque a lex fori é
Portugal, mas a questão coloca-se para qualquer outro ordenamento jurídico que seja o
lex fori e que não seja Portugal.

Portanto, quando a fez fori considera competente uma lei estrangeira, mas esta
lei estrangeira não concorda e considera competente outro OJ. Pode fazer o seguinte:
pode considerar competente uma 3ª lei, ou então pode considerar competente a
própria lei do foro e devolve-lhe a competência.

Quando isto acontece, coloca-se o problema do reenvio ou devolução em DIP.


Ou seja, todas aquelas situações em que a lei do foro, neste caso no OJ português,
ou sendo uma relação absolutamente internacional, onde jamais aplicará o seu direito
material, ou sendo uma relação jurídica relativamente internacional, mas de acordo com
o seu elemento de conexão considera competente uma lei estrangeira e essa não se
considera competente.

Fará uma de duas coisas:

- Ou transmite a competência à outra lei. Faz isto de acordo com o seu próprio
sistema de conflitos tem uma norma de conflitos e para aquela matéria elegeu
um elemento de conexão diferente do foro. Portanto entrega a competência a
uma 3ª lei.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

- Faz uma devolução à lei do foro, ou seja, vale para a competência a lei do
foro (L1).

Para resolver esta questão, ou seja, para tratar dos eventuais problemas de
matéria de reenvio ou devolução, os Estados adotam 1 de 2 posições.
1. Ou assumem que fazem referências globais.
2. Ou, pelo contrário, fazem referências materiais.

Para estas situações, que são comuns no DIP, o estado ou a lei do foro considera
competente a lei que não se considera competente. Ou transmitindo a competência ou
devolvendo a competência à lei do foro. Para resolver este problema conflitual, os
estados fazem então:

• REFERÊNCIAS GLOBAIS
• REFERÊNCIAS MATERIAIS

REFERÊNCIAS GLOBAIS ou REFERENCIAS MATERIAIS

Quando um Estado, e agora não vou pôr L1 nem L2, porque é indiferente saber
qual é a lei do foro, quando um Estado que seja a lei do foro, considera competente uma
outra lei, adotará então uma destas 2 referências, ou seja as referências materiais ou as
referências globais.

Quando um estado adota referências materiais, significa que este estado quando
considera competente direito estrangeiro, ou seja, como LX considera competente LY,
só considera competente o direito de material de LY.
Isto significa que as leis, mormente a lei do foro que é a primeira que desencadeia
a questão, quando elege um elemento de conexão, adotam também no seu sistema de
conflitual um sistema de referências globais ou referências materiais.
Isto porque nós quando dizemos que com o elemento de conexão, o estado elege
a lei competente para resolver a questão, em direito Internacional privado há sempre 2
questões para resolver.

1. Qual é a lei competente no caso concreto para resolver a questão


controvertida.
2. Resolver a questão controvertida

Isto significa que quando um Estado, com o seu elemento de conexão, diz que é
competente uma determinada lei, a questão que se coloca é, mas ela é competente
para quê?

Para ser ela a resolver o problema de DIP, ser ela a escolher a lei ou só para nos
dizer a resposta à questão material controvertida.

A diferença é que num Estado que ela é competente para resolver todo o
problema em comum. Porque se nós dissermos isso, se for essa interpretação que nós
fazemos, os Estados estrangeiros que vamos eleger naquele exemplo qual é LY, quando
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
receber o problema para o qual LX considera competente, o primeiro problema que ela
tem para resolver é qual é a lei que eu acho que é aplicável ao caso concreto.

Ou então, pelo contrário, se o Estado de LX apenas considera competente como


elemento de conexão a lei estrangeira, para não resolver o problema do direito
Internacional privado, ou seja, nesse caso o estado diz que é ele o único que resolve o
problema direito Internacional privado, e o elemento de conexão aponta para uma lei,
e essa lei só é competente para resolver a questão controvertida. Ou seja, a questão do
direito material.

Como é que nós sabemos uma coisa ou outra?

Dependendo da solução que os estados colocam.


Agora voltando ao caso, se eles adotarem um sistema de referências materiais,
significa que ela só considera quando elege direito material estrangeiro, o direito
material desse OJ.
Ou seja, quando ele LX diz que é LY é competente.

Mas competente para quê?

Depende.
Faz referências globais ou materiais. Se fizer referências de materiais, significa
que LX acha que LY é competente exclusivamente para a questão do direito material,
não para resolver a questão de DIP.
Se quiserem, um estado que faz referências materiais considera que é o único
que pode resolver a questão de DIP. As leis que chamam a seguir são leis que
exclusivamente só servem para resolver a questão de direito material. A questão
conflitual é exclusiva deste estado.

Já os estados que adotam as referências globais, são estados que quando


consideram uma lei competente, mormente lei estrangeira, consideram esta
competente, desde logo e em primeiro lugar, para ser ela a determinar qual é a lei que
acha competente para resolver a questão.
Ou seja, um estado que faz referências globais, considera o outro competente
para todo o seu sistema jurídico. Ou seja, não só para o direito material, mas também,
desde logo, para o seu DIP.
Isto significa que o estado que adota referencia global, entrega ao Estado
estrangeiro toda a competência para resolver o problema.

Quais são os problemas?

1. Para ser ele a decidir qual é a lei competente.


2. Se ele se achar competente, para aplicar o seu próprio direito material.

NOTA:
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se este estado agora que tem a competência perante este para determinar qual
é a lei competente, nada impede que ele considere um 3º estado competente.

O que é que isto significa?

Significa que o problema do reenvio ou devolução, se coloca perante estes


pressupostos que aqui estão.
Ou seja, ficam agora cientes que não é qualquer Estado que se pode achar
competente ou não, perante aquele que entrega a competência, para se atribuir a
conferência ao terceiro para se achar a si próprio competente.
O problema da devolução do reenvio significa que, a lex fori não se acha
competente e acha competente uma lei estrangeira, mas a esta lei estrangeira tem de
fazer uma referência global, para a legitimar, a que ela não se ache competente e
devolva a competência a um outro Estado, seja de transmissão de competências seja
por retorno à lei portuguesa, neste caso.

NOTA:
Um Estado que só faz referência material, o que este acha ou não acha em
matéria de direito Internacional privado, é absolutamente indiferente. Porque se este
só fizer referências materiais, significa que não considera que este tem competência
para decidir se acha ou não competente. Isto porque só permite que ele aplique no caso
concreto o seu próprio direito material.

Portanto, o problema do reenvio ou da devolução pressupõe que a lex


fori considere competente o direito estrangeiro e permite ou considera que esse OJ
estrangeiro, use o seu próprio sistema conflitual para decidir ele próprio se acha ou não
competente. E se não se achar como sempre enviar a respetiva competência para um
terceiro estado ou então devolvê-la à lei do foro. Nesse caso então temos um problema
de reenvio.

NATUREZA DO REENVIO

O reenvio pode ser de 2 naturezas:

• REENVIO POR RETORNO


Significa que a lei do foro considera competente lei estrangeira. A lei estrangeira
não se considera competente e devolve a competência à lei do foro.
O retorno pode ser DIRETO OU INDIRETO consoante quem devolve à
competência a lei do foro, for a lei a quem a lei do foro aqui viu competência, neste caso.
Ou uma terceira lei, por exemplo, (terceira, quarta, quinta, 20ª, o que for) L2 não se
considera competente considera competente L3 que é o L3 é que devolve a conferência
à lei do foro - Retorno indireto.

• REENVIO POR TRANSMISSÃO DE COMPETÊNCIAS


O reenvio que transmissão de competências é que ele que, naturalmente, não
têm retorno à lei do retorno.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Naquele primeiro caso a lei do foro considera competente L2 que por sua vez
não se considera competente e considera competente L3. L3 aceita, acha que é
competente.
O que nós ali temos é um reenvio, ou seja, L2, não se considerou competente e
transmitiu a competência a uma terceira lei.

Este reenvio transmissão de competências pode ser EM CADEIA sempre que L2


não se considera competente e transmite a competência para a frente para L3 e depois
continuamos por aí fora. L3 não se considera competente, considera competente L4,
e só L4, L5, L6 ou L7, as leis vão sendo chamadas umas às outras e depois uma delas é
que se considera competente, a L2 - Reenvio transmissão de competências em cadeia.

Depois podem ter um reenvio de transmissão de competências direta ou em


cadeia com retorno. Não confundir com o reenvio por retorno este é com retorno.
Ou seja, por exemplo, o reenvio de transmissão de competências por retorno
significa sempre que a competência volta à lei do foro. Neste caso concreto têm uma
pescadinha de rabo na boca, mas é para frente nunca vai além do que foro, ou seja, um
reenvio de transmissão de competências em cadeia significa que de L2 em diante
alguma vai fazer voltar a competência para trás, mas não é à lei do foro, se for à lei do
foro é um reenvio por retorno.

Tem um reenvio por transmissão de competências, há um retorno, mas não é à


lei do foro, senão teriam outra situação.

Isto acontece porque os estados, sucessivamente, têm elementos que são


diferentes.
Quando isto acontece, a questão que se coloca é, “mas então qual é a lei
aplicável?” ou seja, no simples caso em que L1, que é a lei do foro, considera competente
L2, L2 considera competente L3. L3 considera-se competente, a questão que se coloca

Então qual é a lei que nós vamos aplicar no caso concreto?

No caso, como a lei aplicável ao caso concreto, depende se os Estados assumiram


ou não a tese das referências globais ou das referências materiais.
Se os Estados assumiram as teses das referências materiais, são estados, no
âmbito dos quais, não existe reenvio um retorno à lei do foro. Porque aqui a única
possibilidade que existe nessas situações, de a lei para o qual eles consideram
competente aplicável àquele caso, é exclusivamente de direito material.
Portanto, são Estados que não permitem que a resposta desse direito seja “ eu
não me acho competente” ou seja, um estado defende posições de referência material
é um Estado que considera que só ele exclusivamente é que tem competência para
determinar a questão conflitual e, portanto, o assunto morre para ele.

Os Estados de referência global vão, sucessivamente, transmitindo a


competência à cadeia seguinte, ou seja, adotam tais referências globais. Não obstante,
continuamos sempre com o mesmo problema que é:
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O que é que acontece quando que adotam esses temas e afinal qual a lei vai ser
aplicada?

Depende. Depende que entre as REFERÊNCIAS MATERIAIS e REFERÊNCIAS


GLOBAIS qual é a teoria que os Estados adotam.

Os Estados adotam uma de 2 teorias, se adotarem única e exclusivamente as


REFERÊNCIAS MATERIAIS são os chamados Estados anti-devolucionistas. Para eles não
há outra lei competente que não seja aquele que eles indicaram. Porque só eles,
entendem eles, são os que têm competência exclusiva para determinar qual é a questão
conflitual e qual é a solução conceitual.
Portanto, são os Estados que não admitem que outro Estado venha dizer que
aquele que eles consideram competente não se acha competente.

Já os estados que a adotam a REFERÊNCIA GLOBAL, aquilo que eles consideram


é que o elemento de conexão determina uma lei, e é essa lei que terá competência para
resolver todo o problema, nomeadamente a questão conflitual. Isto significa que
aqueles Estados vão ficar à espera de que lhe digam qual é a solução ao caso concreto.

Dentro destes Estados que adotam as REFERÊNCIAS GLOBAIS, eles podem


adotar uma de 2 teorias:
• Devolucionistas simples
• Devolução dupla

Numa cadeia destas, nós não sabemos qual é a lei que vai ser aplicada no caso
concreto, ou seja, é preciso saber que os Estados estão anti-devolucionistas ou não, ou
seja, se fazem referências materiais ou se fazem referências globais.
Se nós dissermos que um estado faz uma REFERÊNCIA MATERIAL, significa que
este estado ou para este estado, não há outra lei aplicável que não seja L3.
Ou seja, se L2 é anti-devolucionista e se elegeu como competente esta lei, elegeu
a como competente exclusivamente para dar a solução de direito material. Isto significa
que este Estado que não admite que se aplique outro direito material que não seja o
que esteja em vigor no ordenamento jurídico de L3.

Se o estado adotar uma REFERÊNCIA GLOBAL, significa que este estado permite
que este resolva também a questão conflitual. Isto significa que L1 vai ficar à espera de
que digam afinal qual é que vai ser aplicado no caso concreto, e L1 pode voltar 1 de 2
posições:
Quando os Estados adotam referências globais podem adotar 2 teorias
devolução simples ou devolução dupla.

• Devolução dupla: estado entrega, sem qualquer limite, toda a competência


da resolução da questão conflitual ao Estado na sua conexão.

Isto significa que um Estado que faz devolução dupla, ou seja, o pressuposto faz
referências globais, vai aderir à solução deste estado. Portanto se L1 considera L2
competente, mas lhe faz uma referência global adotando a teoria da devolução dupla,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
significa que este estado diz que este é que tem a competência exclusiva para resolver
a questão conflitual. E este, quando resolver a questão conflitual, vai responder a este
qual é a sua solução conflitual, e este vai aderir exatamente a solução deste.

Se L1 um fizer uma devolução dupla L2 significa que entrega a


competência exclusiva da resolução, desde logo, da questão conflitual a L2. Vai ficar à
espera de que L2 me diga afinal qual é a lei que acha competente. Se é assim L2 vai
poder usar o seu sistema conflitual, ou seja, vai poder achar-se competente ou não. Foi
o caso, achou competente L3.

L2 considerou competente L3, mas é L2 e ao contrário de L1 um estado anti-


devolucionistas, ou seja, isto significa que para L2 ele é o único que pode resolver a
questão conflitual e não há outro direito material, para L2, naturalmente que deva ser
aplicado que não seja L3.
Portanto, L2 considera aplicável L3, L1 considera aplicável a lei que L3 considerar
aplicável, portanto L1 aplica L3. L3 considerou-se competente.
Apesar de todos eles terem elementos de conexão diferentes, conseguimos
atingir um dos princípios mais importantes 3 do DIP: a harmonia jurídica Internacional.
Apesar de eles terem conexões diferentes, adotarem princípios diferentes para
resolver a mesma questão, todos eles estão de acordo em aplicar a mesma lei: L3.

• Devolução simples

Os Estados podem, quando adotam a referência global, em vez de adotar a


devolução dupla, adotarem outra teoria que é da devolução simples.
Um estado que pratica devolução, seja dupla seja simples, é um estado faz
referências globais, portanto é um Estado que considera sempre que aquele do seu
elemento de conexão pode usar o sistema conflitual.
Não apenas neste caso se agora L1 usar um sistema de devolução simples,
significa que está a fazer uma referência global para L2. Vai permitir o que L2 não se
ache competente. Tal qual acontecia na devolução dupla.
Mas tem um limite, ou seja, um Estado que faz devolução simples, é verdade
que, porque é socialista, adota teorias de referência global, mas impõe-se um
limite: uma referência material subsequente.

Um Estado que faz devolução simples, faz uma referência global para L2, neste
caso, para o estado do seu elemento de conexão, permite que ele use as suas normas
de conflito, mas já não permite que o estado seguinte usa as suas formas de conflitos.
Para L1 o único que pode usar as normas de conflito é este, este já não pode. Isto
significa que se este usar as normas de conflito e considerar competente um terceiro
estado, esse terceiro estado já não pode usar as formas de conflitos e L1 faz nenhuma
maneira referência material para impedir que ele se achar competente ou não.

Significa o que neste caso concreto, L1 considera competente L3. Nós ainda nem
sabemos o que é que L2 acha, mas L1 aquilo que vai fazer é: adotando uma teoria
devolucionista, permitir que este use o seu sistema conceptual, mas já não permite que
este estado use o seu sistema conflitual. Isto significa que considera que este é o único
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
que pode escolher qual é a norma direito material aplicável, mas quando este escolher
a norma de direito material aplicável é aquela necessariamente a aplicada. Já não
permite que este terceiro estado se considere competente ou não, ou seja para L1, no
limite a questão ficará resolvida em L3.

Relativamente ao exemplo de há pouco, imaginem que L2 faz uma devolução


dupla.

Qual é a lei que L2 aplica?

A que L3 considera competente, sem limites.


L3 faz uma devolução simples a L4, que se considera competente, ou seja, faça
referência global para L4, mas L4 acha-se competente, portanto L3 aplica L4. L4
considera-se competente, então aplica L4.
L2 vai aplicar a lei que faz, neste caso, devolução dupla, a lei que L3 aplicar, logo
L4.

A DEVOLUÇÃO SIMPLES apesar de fazer uma referência global, depois não


permite que haja transmissão de competências em cadeia. A coisa tem de ficar
necessariamente em L3, não pode passar de L3.
Enquanto, quem adota a DEVOLUÇÃO DUPLA transmite totalmente sem limites,
a competência ao Estado seguinte. O que ele decidiu está bem decidido. Nota neste caso
concreto não temos harmonia jurídica internacional.

RELATIVAMENTE A PORTUGAL

Portugal, é, por regra anti-devolucionista. Nos termos do artigo 16º do código


civil para Portugal a questão é sempre esta, nós somos a lei foro e quando somos a lei
do foro, nos termos do artigo 16º, temos a seguinte posição:
1. Ou nos consideramos competentes. Aplicamos direito material português.

2. Ou quando não nos consideramos competentes, e aplicamos direito material


estrangeiro, por regra, Portugal só faz referências materiais, ou seja, adota as
teorias anti-devolucionistas.

Artigo 16º.

Ressalvando as exceções, quando as nossas normas de conflito, em concreto


quando o elemento de conexão das suas normas de conflitos é referido uma lei
estrangeira, ressalvadas as exceções, a falta de disposição em contrário, apenas nos
estamos à aplicação do direito interno dessa lei, ou seja, excluindo o direito
Internacional, neste caso o DIP.

A regra do artigo 16º para Portugal é: nós somos os únicos com exclusividade
quando somos a lei do foro para resolver a questão conflitual. Portanto quando
escolhemos uma lei estrangeira nunca a consideramos competente, ou seja, quando as
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
nossas normas de conflitos, perante determinada questão, o legislador diz que é
competente a lei X no seu elemento de conexão, a competência cinge-se, nos termos do
artigo 16º, exclusivamente ao direito material dessa lei, nunca o direito conflitual, nunca
o direito Internacional.
Ou seja, para Portugal, por regra, independentemente do que esta lei de ache ou
se considere competente ou não se considere competente, ou considera competente L1
ou devolver o assunto para L1, é-nos absolutamente indiferente. Portugal considera
competente para resolver a questão material o direito estrangeiro de L2 do assunto e o
assunto morre aqui. Esta é a regra para ordenamento jurídico português.
No OJ Português não há problemas de devolução ou reenvio. Ressalvadas as
exceções.

Como exceções começamos pelos artigos 16º, 17º, 18º e 19º, e aquilo que
Portugal faz é, adotar os princípios de DIP e jogar com eles. Consoante um prevaleça
aceita, depois vem outro e já não aceita, e assim por diante. A partir de agora admite-se
posições excecionais em que não se aplica L2, em que se aplica qualquer lei em que,
nomeadamente a própria lei de portuguesa admitindo que a questão volta ao OJ
português, mas não adota nenhuma daquelas teorias.
As posições portuguesas que estão nos artigos seguintes são exclusivas de
valoração tendo em consideração os princípios que entram em conflito na questão do
sistema conflitual que está na lizado no caso concreto.

04.10.2023 (T)
A DEVOLUÇÃO OU REENVIO

O ordenamento jurídico português também adota uma posição relativamente ao


reenvio sendo que ela é eclética, ou seja, tem uma posição mista relativamente à
aceitação ou não do reenvio – artigo 16 a 19º CC.

A posição de Portugal é, tendencialmente, aquela que resulta do artigo 16º do


CC - em matéria de DIP quando a norma de conflitos considera competente o direito
material estrangeiro, concretamente, o elemento de conexão da norma de conflitos,
remete para o ordenamento jurídico estrangeiro, aquilo que significa essa remissão para
o ordenamento jurídico estrangeiro, é exclusivamente para o seu direito interno, ou
seja, para o seu direito material, ou seja, excluindo o DIP.

A regra geral, que resulta do artigo 16º é que Portugal é anti-devolucionista, não
aceita o reenvio ou a devolução da competência à lei do foro. Sempre que o elemento
de conexão da norma de conflitos, a lei do foro, neste caso Portugal é a L1, considera
competente lei estrangeira, faz-lhes exclusivamente uma referência material, ou seja, a
lei do foro apenas considera competente o direito material desse ordenamento jurídico
estrangeiro, ou seja, a sua exclusividade da relação conflitual.

Portanto, é indiferente para o ordenamento jurídico português saber se naquele


caso em concreto L2 se considera ou não competente ou remete para outra lei, ou
devolve a competência para a lei do foro, ou seja, no ordenamento jurídico português
não há reenvio ou devolução, esta é a nossa regra geral (simples apesar de tudo).
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Portugal, é por regra, nos termos do artigo 16º, anti-devolucionista. Só considera


competente o direito interno, excluindo o direito internacional.

Não obstante, resulta também do artigo 16º, que esta é a regra geral, estando
ela sujeita a exceções que são a admissibilidade do reenvio.
Excecionalmente, Portugal adota esta posição, ou seja, exclusivamente faz
referências materiais para L2 quando considera competente um ordenamento jurídico
estrangeiro, ou seja, aplica necessariamente o direito material de L2. É indiferente para
Portugal saber o que L2 considera competente ou não, se se considera, se devolve a
competência a L1, ou se transmite a competência a outra lei estrangeira.
Excecionalmente, Portugal admite o reenvio, excecionalmente Portugal não faz
referências materiais, e aceita que continue a cadeia de reenvio.

Neste caso concreto, aceitando quer o reenvio por transmissão de competência,


quer por retorno à lei do foro, ou seja, a devolução da competência à lei do foro. Esta
primeira situação está no artigo 17º do CC, esta situação do reenvio por retorno à lei do
foro, está no artigo 18º do CC.

Para o DIP, com a norma de conflitos portuguesa, numa relação jurídica privada
internacional, ou a lei portuguesa se considera materialmente competente (tudo fica na
lei do foro) ou se considerar competente lei estrangeira, o assunto para Portugal é a
aplicabilidade do direito material de L2 e não quer saber de mais nada, não admite o
reenvio.

Então, quando é que Portugal admite o reenvio?

Portugal admite o reenvio nos termos do artigo 17º e 18º e quer um, quer outro
implicam a verificação de 3 pressupostos, ou seja, para Portugal ponderar a
aplicabilidade da exceção quer do artigo 17º ou do 18º, admitir o reenvio por
transmissão de competências ou reenvio por retorno à lei do foro, é necessário que em
qualquer caso estejam verificados estes 3 pressupostos:

1º - A lei estrangeira, ou seja, L2, não se considere competente, ou seja, que haja
efetivamente uma situação de reenvio, ou de possibilidade de reenvio;

2º - O princípio base pelo qual Portugal vai admitir o reenvio é para garantir o
Princípio da harmonia jurídica internacional.
Ou seja, todos os estados, L2 em diante, têm de estar todos de acordo em aplicar
a mesma lei (o que faz sentido, pois se não houver harmonia jurídica internacional, os
Estados nunca vão ficar satisfeitos porque algum deles que não vai ver a sua posição ter
cabimento no caso em concreto).

3º - A admissibilidade por parte de Portugal de admitir que se aplique uma lei


diferente de L2 tem de ser um meio necessário para conseguir a uniformidade de leis
aplicadas.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Isto significa que todos os Estados têm de estar de acordo em aplicar a mesma
lei (2º requisito), e notem, só se Portugal aceitar o reenvio é que Portugal se junta à lei
que todos os outros querem aplicar no caso concreto.

Portugal admitirá o reenvio quando esta lei não se considera competente e


transmite a competência a uma 3º lei ou devolve a competência.
O 2º requisito é que todas as leis e L2 inclusive e em diante, estão de acordo em
aplicar a mesma lei e essa lei não pode ser L2, porque para aplicar L2 Portugal adota a
posição antidevolucionista, não tem de admitir o reenvio e consegue satisfazer aquilo
que todos os Estados estão de acordo em aplicar no caso concreto que é L2. Ou seja, se
Portugal adotar esta posição antidevolucionista vai aplicar a lei que em abstrato todos
eles já estariam dispostos em aplicar, portanto, é indiferente Portugal aceitar ou não o
reenvio, porque Portugal vai aplicar que todos eles estão de acordo em aplicar.

Isto significa que o reenvio é meio necessário para atingir a harmonia jurídica
internacional, quando a lei que todos os Estados querem ver aplicada ao caso concreto
não é L2, porque se for L2, Portugal com a sua posição antidevolucionista consegue
atingir o mesmo objetivo.

Estando verificados estes pressupostos (pressupostos para todas as exceções,


para o artigo 17º ou artigo 18º), depois de estarem verificados estes pressupostos o que
vamos fazer a seguir é perceber qual das exceções vamos aplicar ao caso concreto, a do
artigo 17º ou a do artigo 18º.

Aplica-se o artigo 17º ou o 18º consoante a aplicação do reenvio, ou seja, se


tivermos um reenvio por transmissão de competências, ou seja, se L2 não se considerar
competente – esse é o 1º pressuposto, que é o reenvio – transmitindo a competência
para um outro ordenamento jurídico estrangeiro, para l3 por exemplo, em que temos
um reenvio por transmissão de competências, nesse caso aplicaremos a situação do
artigo 17º do CC. Aquilo que este artigo no seu nº 1 diz é que quando a norma de
conflitos da lei estrangeira determinada pelo nosso DIP, ou seja, quando a norma de
conflito de L2 não se considerar competente e considerar uma 3ª lei competente e esta
lei se considerar competente, então Portugal admite a aplicabilidade desta 3ª lei.

Relativamente aos pressupostos: 1º L2 não se considera competente, inicia


assim, o reenvio (se o reenvio “for para a frente” é transmissão de competências, se
“voltar à lei do foro” é por retorno). Todos os estados estão de acordo em aplicar a
mesma lei e essa lei não é L2, sendo o reenvio um meio necessário para atingir a
harmonia jurídica internacional.

Sendo um reenvio por transmissão de competências, requisitos agora do artigo


17º/1: se as normas de conflito de L2 transmitirem a competência para uma 3ª lei e essa
3ª lei se considerar competente, significa que L2 independentemente de saber qual é a
posição que ela adota em matéria de reenvio, L2 considera competente L3 e L3
considera-se competente. Para L2 não há reenvio porque L3 considera-se competente.
L2 aplicaria L3, L3 considera-se competente pelo que aplicaria o seu próprio direito
material, ou seja, todos os Estados estão de acordo em aplicar uma lei diferente daquela
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
que Portugal aplicaria se usasse a regra geral do artigo 16º, ou seja, pelo artigo 16º
Portugal aplicaria L2 e assim estaria a pôr em causa o Princípio da harmonia jurídica
internacional. Nesse caso, Portugal esquece a aplicabilidade da sua regra geral, e aplica
L3.

Portugal aplica L3, porque estão verificados os pressupostos em 1º lugar e depois


os requisitos do artigo 17º. Naturalmente, que neste caso concreto, Portugal adota uma
posição de alegada referência global, se ela permite que L2 usa as suas normas de
conflito, deixará a sua posição devolucionista para adotar uma teoria da referência
global.

Ao contrário das teorias da referência global, tanto a devolução simples, como a


devolução dupla, Portugal não adota nem uma, nem outra. Na devolução dupla se
Portugal adotasse devolução dupla, entregaria a competência da resolução conflitual a
L2 e adotaria a mesma solução que L2 aplicasse. Se Portugal adotasse a devolução
simples, fazia uma referência global para L2 e depois uma referência material para L3 –
não é nada disso. Portugal aplica L3, que é a mesma solução que L2 chega e a mesma
solução que L3 também chegaria no caso concreto, mas Portugal adota L3 não porque
faz devolução dupla, nem porque faz devolução simples, é porque todos os Estados
podendo usar as suas normas de conflito, estariam de acordo em aplicar uma lei
diferente daquela que Portugal estaria nos termos do artigo 16º.

Não obstante, literalmente no artigo 17º/1, aquilo que se conclui, é que Portugal,
excecionalmente, verificados os pressupostos, aceita uma das formas de reenvio por
transmissão de competências. Não obstante, na aula passada percebemos que pode
haver um reenvio por transmissão de competências em cadeia, L3 não se considera
competente e considera competente L4, que considera competente L5, depois
considera competente L6, por aí fora, ou então ainda, o reenvio por transmissão de
competências em cadeia com retorno, quando L5 devolve para L4, tem ali o fecho da
cadeia.

Literalmente, no artigo 17º/1 isso não está lá. O 17º/1 é, as normas de conflito
da lei estrangeira, indicada pelo nosso DIP considera competente uma outra lei, L3 e
esta considera-se competente, ou seja, literalmente só temos isto no artigo 17º/2. Não
obstante, o artigo 17º/1 implica que haja uma interpretação extensiva da sua previsão
normativa, passando a incluir também o reenvio por transmissão de competências em
cadeia, e o reenvio por transmissão de competências por retorno.

Não confundir reenvio de transmissão de competências com retorno, do artigo


17º, com reenvio de transmissão de competências por retorno do artigo 18º. O reenvio
por retorno significa que o retorno é feito além do foro. O reenvio por transmissão de
competências com retorno significa que naquela cadeia de transmissão de
competências haverão ? além do foro.
Faz-se esta interpretação extensiva, porque assim sendo, havendo harmonia
jurídica internacional, significa que Portugal vai aplicar literalmente, segundo a previsão
normativa do artigo 17º a lei do ordenamento jurídico indicado por L2, mas se for, por
exemplo, um reenvio por transmissão de competências e estarem todos de acordo em
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
aplicar a 20º lei que é chamada ao sistema de reenvio, Portugal nesse caso aplicará a
20º lei que for chamada ao sistema de reenvio, porque o artigo 17º/1 tem como
pressuposto que Portugal não estrague a harmonia jurídica internacional. Ou seja,
Portugal aceita o reenvio tendo em consideração o cumprimento de um princípio do DIP
– harmonia jurídica internacional.

Ou seja, Portugal adere à posição de todos os outros Estados que estão em


contacto com o esquema de reenvio, que querem ver aplicada ao caso em concreto. Lei
essa que se Portugal não prescindir da sua posição de devolucionista não chega e vai
aplicar, que só Portugal ia aplicar uma lei diferente. Então, Portugal abdica da sua
posição devolucionista e aplica a lei que todos os outros estão de acordo em aplicar.

Se este é o pressuposto associado ao artigo 17º ou ao artigo 18º, então, é


indiferente para Portugal se está a aplicar a lei do direito material do Estado indicado
por L2 ou a lei do direito material do Estado indicado por outra lei qualquer, dentro do
esquema de reenvio.

Tanto o 17º como o 18º aquilo que querem é que Portugal não estrague a
harmonia jurídica internacional e aplique a lei que todos os outros estados querem ver
aplicada ao caso concreto. Nessa conformidade, significa então que o legislador foi parte
nas palavras e na formulação da previsão normativa do artigo 17º/1 e deste artigo pode
haver as interpretações extensivas necessárias, quer para a existência do reenvio por
transmissão de competências em cadeia, quer pelo reenvio por retorno, no âmbito da
transmissão de competências, desde que todos estejam de acordo em aplicar uma lei
diferente daquela que Portugal aplicaria, Portugal aplicará a mesma lei.

Portugal, lei do foro, considera competente o seu elemento de conexão L2, o 1º


pressuposto para Portugal deixar a sua posição de antidevolucionista: L2 não se
considera competente, considera competente uma 3ª lei, que neste caso em concreto
também não se considera competente, considera L4, que considera competente L5, que
considera competente L6 em que esta concorda.
Neste caso, a única coisa que sabemos é que os estados têm posições diferentes,
mas em prol da harmonia jurídica internacional, vamos descobrir quais são as posições
que os Estados adotam em matéria de reenvio. Isto é um raciocínio que Portugal quer
fazer para saber se sai ou não da exceção, ou seja, Portugal quer saber se aplicando o
artigo 16º está na mesma “senda” de todos os Estados e todos querem aplicar L2, ou
então todos os outros Estados querem aplicar uma lei diferente e Portugal adere em
prol da harmonia jurídica internacional, ou então não há harmonia jurídica
internacional.

Neste caso, aquilo que Portugal quer fazer é um juízo hipotético, o que é que os
outros faziam no caso concreto se fossem a lei do foro. Para além das conexões dos
ordenamentos jurídicos, precisamos de saber qual é a posição que eles adotam em
matéria de reenvio e se L2 fosse a lei do foro, consideraria competente L3 e fazia-lhe
uma devolução dupla, ou seja, a lei que L2 afinal considera competente é a lei que L3
considera competente. L3 se fosse a lei do foro considera competente L4 e faz-lhe uma
devolução dupla, ou seja, a lei que L3 aplica é a que L4 determinar.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

L4 considera competente L5, mas faz uma devolução simples, a lei que L4
aplicava? Uma referência global para L5, mas depois se L5 não se considerar
competente, não pode ser aplicada outra lei que não seja o direito material da lei que
L5 designar, ou seja, L6.

Que significa que se L4 aplica l6 no caso em concreto, L3 aplica L6, L2 aplica L6.
Se L5 faz uma devolução dupla a L6 significa que aplica o que L6 aplicar. Se L6 se acha
competente aplicaria L6, o que significa que neste reenvio por transmissão de
competências em cadeia, nos termos do artigo 17º/1, Portugal não aplica o artigo 16º,
aplica o artigo 17º/1 e aplica o direito material de L6.
Neste caso, não diretamente, mas com a interpretação extensiva que se
fundamenta no Princípio que está subjacente no Princípio da harmonia jurídica
internacional, ou seja, Portugal não ser o único que aplicará uma lei diferente daquela
que todos os outros Estados, em contacto com o sistema de reenvio querem ver aplicada
ao caso em concreto e essa lei não é L2. Portugal deixa o artigo 16º, deixa a sua posição
antidevolucionista e aplica L6.

Idem, relativamente, a esta situação em concreto, é exatamente a mesma coisa


dá pouco só que aqui tem um reenvio por transmissão de competências também, com
um retorno de L6 para L3. Se L2 faz uma devolução simples para L3 significa que faz uma
referência global para L3 e uma referência material para L4, ou seja, L2 aplica L4.

Se L3 faz uma referência material para L4, significa que L3 é antidevolucionista e


aplica L4. Se L4 faz devolução dupla para L5 aplica L5. Se L5 faz devolução dupla para L6,
significa que L5 aplica L6. Se L6 faz uma devolução dupla para L3, aplica a lei que L3
aplicar, ou seja, L4, o que significa que todos estão de acordo em aplicar L4, incluindo
Portugal que deixa a sua posição antidevolucionista para em prol do artigo 17º/1, passar
a aplicar em prol da harmonia jurídica internacional a lei que todos os Estados em
contacto com o sistema de reenvio desejam aplicar ao caso em concreto.
Apesar de Portugal ter uma posição, aparentemente, de todas aquelas que
podem ser tomadas, a mais a ver se a harmonia jurídica internacional, a verdade é que
com as exceções, Portugal garante o Princípio da harmonia jurídica internacional, mas
só abdica da posição se existir efetivamente, harmonia jurídica internacional.

Ao contrário dos estados que fazem devolução simples ou devolução dupla, que
aplicam uma determinada lei ou porque outro os escolheu, ou porque é aquela que no
limite admitem aplicável ao caso em concreto, em nenhuma dessas circunstâncias
garantem, efetivamente, que exista harmonia jurídica internacional. Adotam posições
devolucionistas que contribuem para ela, mas a lei que vão aplicar não garantem a
harmonia jurídica internacional.

Portugal é antidevolucionista, mas se existir harmonia jurídica internacional,


Portugal também não estraga o sistema de reenvio e adota a lei que todos os outros
querem aplicar ao caso em concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O problema de Portugal é que tem uma regra, tem uma exceção e depois tem
exceções à exceção, ou seja, tem exceções há aplicabilidade da regra.
Tudo isto é verdade, ou seja, Portugal é antidevolucionista, excecionalmente,
tendo em consideração aqueles requisitos, nomeadamente, no âmbito de uma
interpretação extensiva, mas tudo pode mudar.
Se o princípio da harmonia jurídica internacional entrar em conflito, no caso em
concreto, com outros princípios, aí Portugal vai começar a ponderar se deve dar
prevalência ao Princípio da harmonia jurídica internacional, ou se pôr causa da harmonia
jurídica internacional há a violação ou são postos em causa outros princípios, se deve
prevalecer esse princípio ou a harmonia jurídica internacional.

O primeiro desses princípios é o princípio da maior ligação individual, que está


presente no artigo 17º/2. Portugal, por regra é antidevolucionista, não aplicamos o
artigo 16º, havendo o reenvio, havendo harmonia e o reenvio ser meio necessário, se
estiverem verificados os requisitos da transmissão de competências, do artigo 17º/1, ,
Portugal prescinde da sua posição antidevolucionista do artigo 16º e vai aplicar a lei que
todos os outros querem ver aplicada ao caso em concreto.
Mas Portugal vai voltar a recusar o reenvio se na situação do caso concreto, a
existência do reenvio para acudir ou para cumprir o Princípio da harmonia jurídica
internacional, puser em causa o Princípio da maior ligação individual. Na ponderação
entre os 2, aquilo que Portugal diz é que dar-se-á prevalência a um ou a outro, consoante
estejam ou não estejam verificados os requisitos do artigo 17º/2 do CC.

Isto significa que se no caso em concreto, a questão controvertida for associada


a matéria de estatuto pessoal, porque só nesse caso é que temos o Princípio da maior
ligação individual e L2, ou seja, o ordenamento jurídico estrangeiro indicado pela nossa
norma de conflitos, é a lei da nacionalidade e cumulativamente L2 é a lei da
nacionalidade e 2 uma, ou Portugal é a lei da RH (no caso em concreto a pessoa vive em
Portugal e é nacional do país indicado pela nossa norma de conflitos, ou seja, é nacional
do Estado de L2), ou então, ele não reside em Portugal - notem, o 1º requisito é
obrigatório em todos os casos -, 2ª opção para o 2º requisito, ele não vive em Portugal,
mas vive num país diferente de Portugal e esse país também considera competente o
direito interno da nacionalidade.

Nestas situações, prevalece o Princípio da maior ligação individual porque no


caso em concreto, sendo matéria de estatuto pessoal deverão ser uma das 2 leis mais
próximas do sujeito que devem regular aquela situação e não uma terceira lei. Isto
significa que se L2 é a lei da nacionalidade e não se vai aplicar ao caso concreto e
também não se vai aplicar ao caso concreto a lei da RH, significa que nestas
circunstâncias está posta em causa a maior ligação individual, que em matéria de
estatuto pessoal, há de ser, das 2 uma, preferencialmente a lei da nacionalidade ou a lei
da RH.

Exemplo:

Um reenvio por transmissão de competências em cadeia. Vamos descobrir as


posições que os Estados adotam em matéria de reenvio. L2 faz devolução dupla e
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
considera competente a lei que L3 considerar, idem para L3. L4 faz uma devolução
simples para L5, ou seja, faz uma referência global para L5 e uma referência material
para L6, portanto, L4 aplica L6. L5 é devolucionista, portanto, só admite a aplicabilidade
de L6. L6 considera-se competente. L4 aplica L6, portanto, L3 aplica a mesma coisa e L4
aplica L6. L2 aplica a mesma coisa de L3, aplica L6.
Temos reenvio, temos harmonia jurídica internacional, o reenvio é meio
necessário para atingir a harmonia jurídica internacional. Interpretação extensiva do
artigo 17º/1, para conseguirmos dar cabimento ao reenvio por transmissão de
competências em cadeia. Portugal prescinde da sua posição de antidevolucionista em
que aplicaria L2, para passar a aplicar o direito material de L6.

Se a matéria for de estatuto pessoal e L2 for a lei da nacionalidade e L1 a lei da


RH, significa que neste caso concreto estará verificado uma das situações de opção do
artigo 17º/1, ou seja, as situações em que estando em causa a matéria de estatuto
pessoal, suscitando o princípio da maior ligação individual, o que o ordenamento jurídico
português vai impor a ponderação entre o que deve dar cumprimento.
L6 é uma lei qualquer, é uma matéria de estatuto pessoal e Portugal põe em
causa o Princípio da maior ligação individual, porque no caso em concreto não está a
aplicar nenhuma das leis mais próximas do sujeito.

Neste caso, estando verificados os requisitos do artigo 17º/2, apesar de haver


harmonia jurídica internacional, neste caso, prevalece o Princípio da maior ligação
individual, ou seja, Portugal deixa o reenvio e volta a aplicar a regra geral do artigo 16º,
ou seja, é a exceção da exceção, e 2 negativas, são a regra. Ou seja, o artigo 17º/2 é uma
exceção ao 17º/1 e o 17º/1 por sua vez, é uma exceção ao artigo 16º.
Ou seja, verificados os requisitos do artigo 17º/2, temos a exceção da exceção,
que implica a aplicabilidade da regra geral, ou seja, Portugal neste caso concreto, do
conflito entre os Princípios da maior ligação individual com o Princípio da harmonia
jurídica internacional vai dar prevalência ao Princípio da maior ligação individual e vai
aplicar a lei mais próxima do sujeito, neste caso a da nacionalidade.

A outra opção é, Portugal considera competente L2, 2º opção, L2 considera


competente L3 e L3 faz uma referência material para L2. A primeira opção é L2 ser a lei
da nacionalidade e L1 ser a lei da RH, ou então, para este 2º requisito, o interessado não
vive em Portugal, mas vive num país que considera competente o direito interno da
nacionalidade, ou seja, faz uma referência material à nacionalidade.
Este caso, é um exemplo da 2º opção ou não? Se L2 faz uma devolução dupla
para L3, significa que aplica a lei que L3 aplicar, L3 devolve a competência a L2 fazendo
uma referência material, ou seja, L3 aplica L2, o que significa que L2 aplica L2, temos
harmonia jurídica, o que significa que toda a gente está de acordo em aplicar L2. Este é
um exemplo da 2ª opção do artigo 17º/2?

O artigo 17º/2 aquilo que exige é L2 ser a lei da nacionalidade e a lei da RH, se
não for a de Portugal, faz uma referência material à lei da nacionalidade, a lei da RH a
fazer uma referência material a L2, isto tem cabimento ou não?
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Isto não tem cabimento, porque não é necessário aplicar o artigo 17º/2. Nesta
situação nunca chegamos ao artigo 17º, porque os pressupostos para sairmos da regra
geral, para aplicarmos o artigo 17º é haver reenvio (há, L2 não se considera
competente), haver harmonia jurídica internacional, mas o reenvio ser meio necessário
para atingir a harmonia jurídica internacional. Portugal já aplicaria L2 de acordo com a
regra geral do artigo 16º fazendo uma referência material, pelo que o reenvio não é
meio necessário.

Se o 2º requisito que aqui está subjacente é a lei da RH fazer uma referência


material, para a lei da nacionalidade, significa que a lei da RH que tanto pode ser L3
como outra coisa qualquer, vai acabar por fazer uma referência material a L2, porque o
1º requisito do artigo 17º/2 é L2 ser a lei da nacionalidade. Se assim é, para haver
harmonia jurídica internacional, todos têm de estar de acordo em aplicar L2, mas se
todos estão de acordo em aplicar L2 temos que o reenvio não é meio necessário.

A questão que se coloca é, então, quais são as situações, que estão na 2ª parte do
artigo 17º/2?

Neste caso concreto damos origem àquilo que vamos ver na próxima semana
que é a lei satélite, em que nessa situação em concreto, será a única hipótese em que
conseguimos encontrar uma situação que se subsuma na previsão normativa do artigo
17º/2.
11.10.2023 (T)

MANUTENÇÃO DO REENVIO POR FORÇA DO PRINCÍPIO DA MAIOR PROXIMIDADE


(ARTIGO 17º/1 E 2 (ARTIGO 16º) 3, 1

Requisitos do 17º que são cumulativos, mas que, não obstante, a lei da residência
habitual, tanto pode ser Portugal, como pode ser um país estrangeiro e nesse caso o
artigo considera competente a lei da nacionalidade, ou a lei pessoal que resulta do artigo
17º/2.
Estando verificados os requisitos do art. 17º/2, aquilo que Portugal faz nessa
situação é a ponderação entre o princípio da harmonia jurídica internacional, (que está
subjacente à ratio da admissibilidade de reenvio, nos termos do artigo 17º e também do
artigo 18º), relativamente ao princípio da maior ligação individual que, no caso concreto
se suscitará, tendo em consideração facto de L2 ser a lei pessoal, estamos a tratar de
matéria de estatuto pessoal.

Aquilo que o ordenamento jurídico português considera é que quando há um


potencial conflito, ou melhor, quando estamos numa situação em que há conflitos
destes 2 princípios – HJI e a maior ligação individual -, o legislador considera que se
estiverem verificados os requisitos do artigo 17º/2, deve prevalecer o princípio da maior
ligação individual, ou seja, a aplicabilidade do direito material de L2 através da exceção
do artigo 17º/1, ou seja, da aplicabilidade da regra geral do artigo 16º. Isto é, nessas
circunstâncias o reenvio que estava admitido nos termos do artigo 17º/1, deixa de ser
admitido, outra vez, e aplicamos a regra geral do artigo 17º.
Isso, não obstante, pode voltar a ser excecionado nos termos do artigo 17º/3.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Se no caso concreto o princípio da maior ligação individual que já prevaleceu face


ao princípio da harmonia jurídica Internacional nos termos do artigo 17º/2, mas se no
caso concreto existir o confronto com outro princípio, ou melhor não é exatamente com
um princípio é um afloramento de outros dos princípios, voltamos a aplicar o artigo
17º/1 voltamos a aceitar o reenvio, quando temos verificados os requisitos do artigo 17
número 3.

O artigo 17º/3 aquilo que ele diz é, algumas das matérias do 17º/2,
nomeadamente, “todas as matérias do estatuto pessoal” se L2 é a lei da nacionalidade,
significa que temos uma série de estatuto pessoal indiferentemente de quais sejam,
estamos a aplicar a lei da nacionalidade, estamos a aplicar a lei que têm maior
proximidade ao sujeito, mas para algumas das matérias de estatuto pessoal.

Quais as matérias de estatuto pessoal?

Tutela curatela relações, patrimoniais entre os cônjuges, poder paternal,


relações entre adotante e adotado e sucessões por morte, ou seja, enquanto no
17/2 tenho todas as matérias de estudos pessoal, no 17º/3 só tem estas.
Terão de ser necessariamente pessoais, primeiro porque como sabemos o artigo
17º é um efeito cadeia, ou seja, sempre que verificam um número passam para o
número seguinte, porque eles vão-se excecionando uns aos outros.
Se nós aplicarmos o artigo 17º/2 já concluímos, necessariamente, que é matéria
de estatuto pessoal, senão nem sequer tínhamos aplicado o 17º/2.

Portanto, o 17º/3 agora diz que, algumas das matérias do estatuto pessoal, as
que lá estão expressamente previstas, se a lei nacional (L2) devolver a competência para
a lei do lugar da situação dos bens imóveis, e esta lei (lex rei sitae) se considerar
competente, é o direito interno desta, desde não seja a lex rei sitae que se aplica.
Nos termos do 17º/2 nós íamos aplicar a lei da nacionalidade porque estamos a
aplicar o regime regra do artigo 16º. No artigo 17º/3 voltamos a esquecer o que é que
dissemos sobre o 17º/2 e voltamos a aceitar o reenvio, que tínhamos nos termos do
17º/1.

SE E QUANDO:

1. Só para algumas das matérias do estatuto pessoal, as que lá estão.


2. E a questão suscitar um conflito com outro princípio mais uma vez não é com
o princípio. Não é com o princípio total é com afloramento

Qual é o princípio que está subjacente à aplicabilidade da lei do lugar da situação dos
bens?

Princípio da maior proximidade.


Portanto, temos aqui as situações em que temos um conflito agora. Um conflito
entre a HJI e a aplicação da maior ligação individual, o que nos diz é: prevalece a maior
ligação individual.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Mas depois se este conflito e se este princípio da maior ligação individual, entrar
em conflito, mais uma vez não sabe como, mas para já vamos entender assim, com o
princípio da maior proximidade, prevalece o princípio da maior proximidade.

Na realidade, não é relativamente a todo o princípio da maior proximidade.


- Só o princípio da maior proximidade, relativamente à matéria de estatuto
real.

Se a lei da nacionalidade manda aplicar a lei do lugar da situação dos bens


imóveis, significa que a maior proximidade, neste caso concreto, está ligada ao objeto
do negócio jurídico. Portanto estamos a tratar de estatuto real.
Não é qualquer objeto, é se aquele objeto for um bem imóvel. Isto porque o
princípio que aqui está subjacente é, naturalmente, o princípio da maior ligação
individual, mas na realidade, e de facto, o conflito entre formulado desta forma, maior
ligação individual VS maior proximidade, é a maior ligação individual que prevalece
sempre.
Com exceção do número 3. Este tem um afloramento do princípio da maior
proximidade, que é este denominado por exequátur.

O que é o exequátur?

Quando falamos em direito Internacional privado, e na cadeira de OJ e quando


falo da competência dos tribunais em particular da competência Internacional dos
tribunais portugueses, enfim um regulamento que se estuda no código civil a solução
em que aparece sempre a competência exclusiva dos tribunais do Estado, para decidir
sobre terminadas e uma das questões associada é exatamente a matéria relativa a bens
imóveis ou direitos reais sobre bens imóveis.
Isto porque têm a ver com o significado que o bem imóvel tem para a soberania
do Estado. Em que afloramento, não a existência de imóveis naturalmente, mas o facto
de os imóveis serem móveis porque estão ligados algo território. E o território é uma
coisa muito importante para as soberanias dos estados.

Significa que os Estados, normalmente, não têm grande abertura para permitir
que outros tribunais e que outras leis decidam sobre direitos reais sobre bens imóveis.
Exatamente porque para cada Estado, ou seja, a ligação com o território, e um território
delimitado por fronteiras, é a diferença de um Estado de uma nação de um Estado
soberano, portanto normalmente eles são pouco permissíveis a isso.
Isso significa que os estados, normalmente, tendem a ter muita dificuldade, e só
em casos excecionais é que reconhecem estas decisões materiais estrangeiras, ou
aplicam direito material estrangeiro, e depois a execução decisões só pode ser feita no
lugar da situação do bem móvel, porque ao contrário de todas as outras situações o bem
móvel não é suscetível de ser transportado. Por exemplo, se for para alterar o direito de
propriedade, tem de ser uma autoridade publica em Portugal a fazê-lo. Se for para
penhorar o imóvel, tem de ser uma autoridade pública em Portugal a fazê-lo. Se for para
entregar o imóvel a fazê-lo. Ao contrário de outros efeitos sobre outros objetos, este só
pode depois ser executado pelos tribunais do próprio estado.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se as decisões podem ser tomadas pelos outros Estados e pelos outros tribunais,
a execução dessas decisões é exclusiva do Tribunal do Estado. Ou seja, só se reconhece
autoridade pública judicial, às entidades policiais e judiciárias de cada Estado e não
estrangeiros, que as coisas têm de ser reconhecidas no ordenamento jurídico português.
Portanto o exequátur, ou seja, a possibilidade ou a maior facilidade de executar
(executar não é a mesma coisa que no processo executivo) é de fazer cumprir as
decisões, será tão mais fácil, ou em alguns casos mesmo possível, só se for decidida pela
lei do lugar da situação desses bens imóveis. Portanto, quando temos um conflito entre
a maior efetividade decorrente do princípio da maior proximidade, então prevalece o
princípio da maior efetividade.
Neste caso, concreto, imaginem que tem uma situação deste género, chegariam
à conclusão (começando do zero) que tínhamos um esquema de reenvio.

O que é que nós vamos fazer a seguir?

Vamos ver o que é que os Estados de L2 e L3 consideram como competente.


Neste esquema consideramos como competente a lei L3 e esta competente,
portanto, há reenvio e há harmonia jurídica internacional, o reenvio é meio necessário
para atingirmos a HJI é um reenvio por transmissão de competências, portanto, temos
o artigo 17º/1. Ou seja, se L2 remeter para L3 e se L3 se considerar competente no caso
concreto, Portugal aceita o reenvio. Portanto, nos termos do artigo 17º/1 aceita o
reenvio.
Mas se, por exemplo, está verificada no número 1 temos de passar para o
número 2, se alguns forem a lei da nacionalidade e se L1 for da residência habitual, está
verificado 17º/2, por isso o reenvio deixa de se verificar no caso em concreto, ou seja,
voltamos a aplicar L2.

A não ser que, tratando-se algumas das matérias que estão previstas no 17º/3,
L3 seja a lei do lugar da situação dos bens imóveis, em que aí voltamos a deixar 16º
voltamos a aplicar o 17º/1 por força do número 3.
Nesta situação têm verificado o 17º/1, o número 2 e o número 3. Ou seja, o
esquema andou como, regra geral do artigo 16º aceitamos reenvio. Aceitamos o
reenvio nos termos do 17º/1 voltamos a deixar não aceitar o reenvio nos termos do
17º/2 e no fim aceitamos o reenvio nos termos do 16º/3. Isto faz-se que com a sucessão
de potenciais conflitos entre princípios, em cada caso, se se verificarem nos termos do
artigo 17º, mais uma vez, é o legislador que vai encontrá-los e tenta aplicá-los no caso
concreto.

1. Artigo 18.
Neste artigo tem exatamente a mesma coisa que tínhamos até agora. Ou seja, a
existência de um reenvio, só que desta feita, o reenvio em vez de transmitir a
competência para L3, a lei estrangeira também não se considera competente e,
portanto, há reenvio, mas devolve a competência à lei do foro. Nesse caso concreto, o
reenvio a ponderar se aceitar ou não, já não vê no caso concreto a aplicabilidade do
artigo 17º, mas sim do artigo 18º.
Ou seja, se num caso prático considerar incompetente nos termos da lei ou da
norma de conflitos L2, mas L2 devolver a competência a Portugal, tem um reenvio e
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
fazem exatamente a mesma coisa, ou seja, a única diferença entre o artigo 16º e 18º é
que no artigo 18º o esquema acaba em L1. A típica (?).

Portanto, neste caso concreto, fiz uma referência ao direito interno português,
ou seja, se alguém fizer uma referência material para Portugal, é imperativo nos termos
do artigo 18º que L2 nos devolva a competência, então significa que L2 considera
competente L1 o que significa que temos reenvio, temos harmonia e que o reenvio é
um necessário. Ou seja, nós não aplicamos a nós próprios temos aqui 16º, mas L2 se L2,
nos fizeram uma referência material, e isso foi essencial a que L2 nos devolva a
competência, mas fazendo-nos uma referência, portanto L2 tem de ser a título
devolucionista neste caso, então, como tal, nos termos do artigo 18º/1, aceita a
devolução da competência e aplica-se no caso em concreto.

Tal como fazem no artigo 17º/1 também é preciso fazer uma interpretação ao
artigo 18º/1. Ou seja, 18º/1 literalmente tem este esquema de reenvio, este artigo diz
literalmente que “Se o DIP da lei designada pela norma de conflitos, L2, devolver para o
direito interno português, ou seja nos fizeram uma referência material, é este, ou seja,
o direito interno português, que se aplica”.
Não obstante, nós aqui também podemos fazer uma interpretação extensiva na
mesma consideração à ratio legis do artigo, ou seja, o que o legislador quer no artigo
18º é a mesma coisa quer no artigo 17º, quer que Portugal não seja o único a estragar a
harmonia jurídica Internacional, e, portanto, a aderir à solução que todos os outros, ou
outro Estado, considera aplicável no caso concreto.
Portanto tal qual no artigo 17º admitem o reenvio por transmissão de
competências, não só, mas também em cadeia do reenvio por transmissão de
competências com retorno.

No reenvio por retorno à lei do foro, para além retorno direto que está
expressamente previsto também admitem o retorno indireto à lei do foro, por exemplo
neste caso L2 não considera competente L1, mas considera competente L3 e é L3 que
nos devolve a competência.
L2, se faz uma devolução simples, significa que faz uma referência global para L3
e uma referência material para L1, ou seja, L2 considera indiretamente, mas considera
competente o direito material de L1. L3 faz-nos uma referência material, ou seja,
considera também competente do ordenamento jurídico português. É um retorno
indireto, mas não obstante, Portugal vai admitir a aplicabilidade da sua própria lei no
caso concreto, seu próprio direito material, para garantir a harmonia jurídica
Internacional.
A não ser, tal qual acontece no artigo 18º, haja um conflito entre HJI não é o
princípio da maior ligação individual.

Em que neste caso, notem que a técnica do (?) é indiferente da do 17º/2. A


técnica deste artigo aquilo que faz é excluir um número ou seja aplicando os requisitos
negativos, enquanto no artigo 18º/2 acrescentam-se requisitos para Portugal admitir a
sua aplicabilidade.
Portugal assim só aceita o reenvio em matéria de estatuto pessoal, nota que
naturalmente tem de se considerar competente nos termos do artigo 18º/1, se:
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
1. Ou o interessado vive em Portugal;
2. Ou então vive num país que também considera competente o direito interno
português.

A solução é diferente daquela que está no artigo 17º/2. Aquilo que se diz no
número 2 é que em matéria de estatuto pessoal, não aceitamos o reenvio quando:

- L2 é a lei da nacionalidade e L1 for a lei da residência habitual.


Ou então
- L2 é a lei da nacionalidade e a lei da residência habitual, também considera
aplicável a lei da nacionalidade.

Porque é que nos dissemos que nesse caso concreto Portugal não aceita o reenvio?

Portugal, nesse caso concreto, não admite a aplicabilidade de uma lei diferente
de uma das leis pessoais. Ou seja, nesse caso concreto, a aplicabilidade da lei da
nacionalidade.

Notem que, no 18º/2, Portugal apesar de dar prevalência ao princípio da maior


ligação individual, é bem menos exigente porque nota enquanto que no 17º/2 Portugal
diz que mesmo que a lei da nacionalidade não se considere competente, porque nota,
que nos termos do 17º/2 a lei da nacionalidade não se considera competente, mas ou
ele vive cá ou vive num país que também considera competente a lei da nacionalidade,
eu só aplico a lei da nacionalidade.

Porquê?

Maior ligação individual, aplica uma das leis do estatuto pessoal.

Com 18º/2 o que ele diz é: Até aqui tudo bem. Temos como L2 a lei da
nacionalidade e ele vive cá. Significa que, apesar de nesse caso Portugal não estar a
aplicar a lei da nacionalidade, como ele vive no ordenamento jurídico português que
está a aplicar a outra lei pessoal que a lei da residência habitual.
Mas notem agora a segunda parte se L2 considerar competente Portugal, ou
seja, L2 considera competente uma lei que não é lei pessoal ou nenhuma das leis
pessoais, e a lei da residência habitual também considerar competente a lei portuguesa,
reparem na segunda parte do artigo 17º Portugal dizia: “Eu Não quero saber” aplicamos
da lei pessoal por 18º/2 mesmo sendo matéria de estatuto pessoal, Portugal vai admitir
a sua própria aplicabilidade no caso concreto, apesar de não ser natural que essa lei da
nacionalidade, que essa é a L2, que estamos a tratar de matéria de estudo pessoal, nem
na segunda parte é a lei da residência habitual.

Porquê a diferença de tratamento?


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Continuamos a aplicar no caso concreto, ou vamos aplicar no caso concreto, uma
lei em matéria de estatuto pessoal, que não é a lei mais próxima do sujeito. O argumento
é exclusivamente crato, é mais conveniente.
Enquanto pelo art. 17º/2 Portugal vai ter de aplicar lei estrangeira, seja L3 seja
L3, seja qual for, portanto “já vou chatear a estudar a lei estrangeira então vamos aplicar
e garantir o princípio da maior ligação individual”.
No artigo 18º/1 aquilo que o legislador nos diz é que em vez de aplicar lei
estrangeira, tenho todas as leis, os pessoais a dizer que sou eu competente. Porque se
as leis pessoais não se querem comprometer no caso concreto é que eu também não
comento incluídos no próprio direito material que é mais fácil de aplicar mais desejável
aplicar no caso como é um argumento puramente pragmático.

Repare a posição e a exigência do artigo 18º/2 temos muito mais (?), no 17º/2
diz que Portugal não quer saber se aplicamos da lei da nacional, maior delegação
individual. No 18º/2 é se as leis mais pessoais acham que sou eu não me importo, mas
então para garantir o princípio da maior ligação individual devia ser consequentemente
aplicar L2.
Notem, é repartir por cada partido, porque se quem reparte e reparte é que fica
com a melhor parte, então (?).
Aqui a justificação é, ainda que seja a garantia do princípio da maior ligação
individual, mas no seguinte afloramento, aplicam e a lei que ambas as leis da maior
ligação individual aplicam no caso em concreto. Portugal assume que nesse caso está
garantido o princípio da maior ligação individual.
Ainda que seja uma diferença de regime relativamente ao artigo 17º/2, mas isso
é claramente uma questão protecionista relativamente ao OJ português. É numa opção
válida de não aplicar na estrangeira e aplicar na portuguesa, então vou garantir que se
aplica a lei portuguesa, neste caso concreto. Está claro está toda a gente de acordo,
também não me vou opor nessa situação.

Se não estiverem verificados os requisitos do artigo número 2 em matéria de


estatuto pessoal, voltamos ao artigo 16 e acaba-se o reenvio.
Ou seja, fora dos requisitos do artigo 18/2, temos artigo 16º. Portugal, nesse
caso, não aceitará o reenvio.

Por exemplo, se algum considerar competente L2 - lei da nacionalidade,


considera competente L3 que devolve a competência a L2.

Do livro vão perceber algumas nuances relativamente a este artigo 18º/2, eu


não vou explorar neste caso concreto, nomeadamente a Portugal ter ou não que
garantir que algo lhe faz uma referência social ou eventualmente assumir uma posição
fora da harmonia jurídica Internacional, é só para se lerem e não se confundir, mas
estamos a dar a versão base não vou continuar a explorar isto não parece muito
relevante.

De qualquer forma, L2 se faz devolução dupla a L3, significa que aplica a lei que
L3, considerar aplicável ao caso concreto. Se L3 fizeram uma referência material para
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
L1, significa que vai aplicar material o direito material de L1, o que significa que L2 aplica
L1.
Portanto temos que reenvio, temos HJI, e significa que esse reenvio é meio
necessário para atingir a HJI.
Neste caso, é um reenvio por retorno à lei do foro, portanto, os requisitos
relativos ao artigo 18º que não estão verificados no termos do artigo 18º/1 a não ser
uma interpretação extensiva da norma, porque não é L2 que devolve a competência, é
L3 que nos devolve a competência.
Mas, porque L2 é a lei da nacionalidade, significa que estamos a tratar de matéria
de estatuto pessoal. Isto significa que Portugal só vai aceitar o reenvio se: sendo L2 a lei
da lei nacionalidade, de duas uma:
- Ou ele vive em Portugal, que não é o caso.
- Ou então vive num país que também considera competente o direito interno
português.

Notem que, tal qual como acontece no artigo 17º/2, a lei da residência habitual,
neste caso, pode estar no esquema de reenvio, ao contrário do que acontece no 17º/2,
mas também pode ser uma lei satélite.
Se por acaso a lei da residência habitual não estiver no esquema de reenvio, não
obstante, aquilo que vamos fazer para determinar a aplicabilidade ou não do artigo
18º/2, é saber se a lei da residência habitual nos consideraria competentes no caso
concreto.
Se a resposta for positiva, então mesmo estando fora do esquema de reenvio,
nesse caso, estaria verificado o regime do artigo 18º esta é uma das opções. A outra
opção está a ser por exemplo esta, em que neste caso concreto a lei da residência
habitual está no esquema de reenvio, não está fora.
Tanto esta opção, como esta, são perfeitamente admissíveis.
A interpretação da norma é sempre no sentido de, não é por falta do âmbito da
previsão normativa relativa à HJI, que deixamos de aplicar a lei, neste caso a lei
portuguesa, e o último reenvio no caso concreto.

EXCEÇÃO

Estão previstas no Código Civil 2 outras formas de reenvio:


- Em matéria de casamento
- Em matéria de sucessões

Atualmente a aplicabilidade destes 2 preceitos é bastante difícil, tendo em


consideração quer a matéria das sucessões, quer a matéria do casamento, estão
previstas em regulamentos da União Europeia. Portanto a aplicabilidade prática deles é
pouca.
Não obstante, nos termos do artigo 36º/2, são situações em que apesar de não
estar numa situação do artigo nem 17º nem 18º, pode ser necessário ter de fazer um
esquema de reenvio.
O artigo 36º aquilo que se determina é que, relativamente aos negócios jurídicos,
os requisitos de forma, ou seja, saber se é preciso uma forma escrita ou outra qualquer,
são regulados pela lei se considerar aplicável à substância do negócio jurídico.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Sendo que depois têm que o artigo 36º/1 tem várias relações conexões de
múltiplas, em prol do aproveitamento do negócio jurídico, que é, neste caso concreto,
se a lei do lugar da celebração de negócios jurídico, admitir a validade formal que a outra
lei não permite, aplica-se a lei todo lugar da celebração do negócio jurídico.
Mas agora vendo o número 2, que é esse que interessa, se uma ou outra não
considerarem o negócio formalmente válido, em vez de se considerar essa a lei aplicável,
se essa lei considerar competente uma outra lei, ou seja, se remeter a competência para
L3 ou remeter a competência à lei do foro, e L3 ou a lei do foro considerarem o negócio
formalmente válido, o negócio é válido e aplicação essa lei.
Mais uma vez, é o princípio do aproveitamento máximo dos negócios jurídicos.

E depois tem o artigo 65º/1 na parte final, em que este além de tem sido de
aproveitamento máximo dos negócios jurídicos, tem um afloramento particularmente
relevante o que este é ou diz respeito à matéria da validade formal do testamento.
Como sabem, no OJ português para além do princípio geral do aproveitamento
máximo negócios jurídicos, quando estamos a falar de matéria sucessória, o legislador
tem especiais cautelas que amplia ainda mais os mecanismos para aproveitar os
negócios jurídicos.

Porquê?

Não se esqueçam que estes negócios jurídicos são mortis causa, ao contrário dos
outros negócios jurídicos que se podem repetir, o testamento é irrepetível. Sendo que
ele consubstancia simbolicamente a última vontade de alguém.
Portanto, o legislador tenta ao máximo perceber essa vontade que consta do
testamento. Portanto se virem o artigo 65º, ele está constantemente a dizer: “aplica-se
esta forma, se esta não der escolhem aquela”, ou seja, tem várias conexões alternativas
para tentar garantir a aplicabilidade da lei.

Ou então vejam a última parte do artigo 65º que eleva essa questão que é:
quanto à forma: aplica-se “ou, ou, ou”, portanto escolhe-se aquela que garante a
validade formal, ou então no fim, “se nenhuma delas conseguir, a lei que, ou para o qual,
as outras remetem, e se alguma dessas terceiras leis ou a lei do que foro considerem
competente, ou considerarem válido o negócio, nós aceitamos o reenvio”.
Estamos completamente fora do regime do artigo 17º e do artigo 18º aqui não
há referências materiais, não há nada, somos nós a preferir a cadeia de leis para
perceber se elas se vão a aplicar ou não ao caso em concreto.

FASE SEGUINTE:
Se for admissível o reenvio nos termos 17º ou 18ºdo código civil, ou seja, aplicam
L3, L4, L5 o que seja, ou então aceitam a devolução e aplicam o direito material do foro.
Não obstante, podem voltar ainda à regra do artigo 16º.
Por exemplo, artigo 17º está verificado número 1, como está verificado número
2, aplicamos L3, não tem problema nenhum. Ou então temos o artigo 18º aceitamos
que nos devolvam a competência. Ou seja, aceitamos o reenvio ou num ou noutro.
Ainda não concluímos corretivamente o que vamos aceitar, isto porque diz o
artigo 19º/1 que cessa o reenvio outra vez, ou seja se aceitarem o reenvio nos termos
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
do artigo 17º ou 18º, podem voltar a acabar com ele e aplicar 16º e aplicar L2 e arrumar
o assunto, não significa que apliquem L2, significa que podem aplicar L1 se:

• Na primeira situação do artigo 19º, se a lei que aplicariam no reenvio


considerar o negócio global o inválido ou ineficaz, mas L2 considerava um
negócio válido e eficaz.

Então agora temos outra situação, que é o princípio do favor negotii e princípio
do aproveitamento máximo, quando com o reenvio nobre, ou estão a dar prevalência
ao princípio da HJI, ao princípio da maior proximidade, mas se esses princípios entrarem
em conflito com o princípio de favor negotii, então afastamos esse e voltamos a aplicar
L2, ou seja prevalece o princípio do favor negotii, relativamente à harmonia jurídica
Internacional e a maior proximidade.
Ou seja, o reenvio que admitiram pelo artigo 17º ou pelo artigo 18º acaba e
notem, se deixarmos de aceitar o reenvio, voltamos, nos termos do artigo 19º, à nossa
posição anti-devolucionista do artigo 16º, ou seja, aplicamos L2.

No artigo 17º ou 18º chegamos a uma lei, que considera o negócio inválido e
ineficaz, mas se aplicássemos a nossa posição regra do artigo 16º, ou seja L2, o negócio
seria válido ou eficaz, nesse caso concreto fazemos cessar o reenvio que tínhamos
acabado de analisar e voltamos a aplicar o artigo 16º ou seja aplicamos o direito material
de L2 assumindo a nossa posição regra – Anti-devolucionista

Ou então, no artigo 19º/2, não será de aceitar o reenvio caso a conexão que lhe
deu origem seja autonomia da vontade. No código civil está no artigo 41º, ou seja,
segundo o legislador relativo artigo 19º/2, se as partes poderem escolher a lei aplicável
para o seu negócio jurídico de escolher, então, nesse caso concreto, se for uma lei
estrangeira, deve-se entender que as partes só fazem uma referência material para essa
lei estrangeira.
Ou seja, quando as partes dizem “eu quero aplicar a lei estrangeira”, diz o
legislador que as partes não estão a pensar em aplicar as formas de consumos essa lei,
mas a solução material dessa lei, ou seja, escolheram aquela que por algum motivo é
aquela que melhor acautela os seus.

Não obstante, aqui tem uma posição doutrinária de divergente.

Reparem, não vou explorar muito mais esta matéria também está no
regulamento de Roma e atualmente tem pouca aplicabilidade prática.
Não obstante, a posição doutrinária que resulta é, saber se esta norma do tipo
19º/2 é imperativo ou supletivo. Ou seja, se quando as partes escolhem uma lei é
efetivamente o artigo 19º/2, o limite ao reenvio imperativo, e reparem, se for, a partir
do momento em que alguém diga, para este negócio jurídico Internacional eu vou
aplicar direito chinês, deve-se ler “se esta norma foi negativa, direito material chinês
porque as partes estão obrigatoriamente a fazerem uma referência material” e aí, de
facto, o reenvio cessa.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Há doutrina que entende que este artigo 19º é supletivo. Ou seja, tal qual a
escolha das da lei é uma opção para as partes, se não escolherem a lei resolve e escolhe
por ela, também o artigo 19º/2 deve ser entendido como uma norma supletiva.
Logo, só há uma limitação ao reenvio, se se concluir que as partes efetivamente
quiseram limitar o reenvio no caso concreto, ou seja, se a norma relativa 19º/2 for
supletiva, nada impede que as partes a afastem no caso concreto, tal qual como as
partes podem escolher a lei, também podem dizer que querem afastar ou não a
aplicabilidade do artigo 19º/2. Se as partes disserem que querem escolher determinada
lei concluindo com as suas normas de conflitos, então já não aplicam o artigo 19º/2 e o
esquema de reenvio continua.

Como percebem, o artigo 41º tem um limite de escolha de lei, ? fraude à lei para
tentar chegar a uma lei diferente do que aquela que efetivamente o artigo 41º permite.
Em princípio não estaremos perante essa questão. As partes quando escolhem
uma lei, escolhem no termo de consideração da solução material, não passa pela cabeça
de ninguém as pessoas entrarem num regime do artigo 17º e 18º e depois logo se vê se
vai para trás ou para os lados. A situação é demasiado arriscada para permitir que as
pessoas queiram aplicar o sistema conflitual português e não o direito material
português.

Não obstante, há estas 2 posições. Se se entender esta do artigo 19º/2 que é a


tendência maioritária da doutrina então este 19º/2 pode ser afastado por vontade das
partes, portanto num contrato as partes escolherem uma lei expressamente disserem
que querem ver aplicado o sistema conflitual dessa lei, significa que nesse caso concreto,
não obstante do 19º/2 ele fica afastado, entrando o esquema de reenvio.
Se as partes nada disserem, e não se puder interpretar outra coisa, então 19º/2
da norma supletiva. Então, se nada disseram que não há reenvio e nesses casos faz mera
referência material.
12.10.2023 (T)

FRAUDE À LEI NO DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Situações em que de forma lícita ou ilícita, as pessoas conseguem ultrapassar a


aplicabilidade de uma determinada norma jurídica, ou dos efeitos de uma determinada
previsão normativa, de um determinado instituto, manobrando alguns dos elementos
dessa previsão normativa ao nível do direito interno, o que dá um conjunto de
consequências.

No DIP também se coloca o problema específico de fraude à lei. Tem uma


configuração diferente da fraude à lei, exclusivamente no direito interno - Artigo 21º do
CC.

O elemento histórico decorre de um caso muito conhecido que foi um caso


julgado em França, de um divórcio de uma senhora que era uma princesa que se queria
divorciar para casar com outra pessoa.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Na altura tínhamos uma relação jurídica privada internacional, o problema dela
é que se aplicaria no caso concreto a nacionalidade dela para a determinação do
divórcio, só que há data o ordenamento jurídico francês não permitia o divórcio.
Ela renunciou à nacionalidade francesa e naturalizou-se alemã. Com a aplicação
do ordenamento jurídico alemão, ela não teria problema em divorciar-se.

O caso andou pelos tribunais franceses e os tribunais franceses entenderam que


havia aqui um afloramento de um abuso de direito que desconsideraram alteração da
nacionalidade da requerente, nunca tendo sido reconhecida, pelo menos em França, o
divórcio desta princesa. A partir daí e muito devido a alguma influência francesa, acabou
por se adotar no ordenamento jurídico e no CC, o instituto da fraude à lei, em DIP.

O instituto da fraude à lei em DIP, cuja definição está no artigo 21º do CC, é uma
forma de violação da lei aplicável. Não uma violação da lei aplicável, tal qual se encontra
na fraude à lei quando ela é em relações jurídicas puramente internas. Neste caso é
indireta, isto significa que no âmbito do DIP se conseguirá a aplicação de uma lei
diferente daquela que seria aplicada se não houvesse a fraude à lei. Não se viola,
diretamente, o direito material, no sentido de evitar a aplicação ou de ver aplicado os
efeitos que se aplicariam no caso concreto, mas determinar por uma manobra
fraudulenta a aplicabilidade de uma lei que não seria aplicável ao caso concreto.

É a perseguição através das normas de conflito da “better ruler approach”.


Portanto, não podemos escolher a lei que queremos ver aplicada ao caso concreto, nem
conseguindo, mesmo escolhendo o tribunal, ver aplicada aquela lei, aquilo que se faz no
caso concreto é manobrar a lei para conseguir aplicar ao caso concreto, uma lei
diferente daquela que seria aplicada, ou seja, uma lei cujos efeitos jurídicos será mais
relacionada com aquilo que as partes querem.

No âmbito do CC, do artigo 21º, podemos ter 2 tipos de fraude à lei: a fraude à
lei pode ser para internacionalizar uma relação jurídica, ou seja, uma situação em que
tem uma relação jurídica que não está dispersa por vários ordenamentos jurídicos,
portanto, uma relação jurídica puramente interna. O artigo 41º do CC, nessas situações
a autonomia da vontade não é suficiente para internacionalizar a relação jurídica. Ou,
então a relação jurídica já é internacional, mas através da fraude à lei vamos dar origem
a aplicabilidade de direito material diferente no caso em concreto.

Se olharmos para o artigo 21º do CC aquilo que ele diz é que com a aplicação das
normas de conflito são irrelevantes as situações de facto ou de direito criadas com o
intuito fraudulento para evitar a aplicabilidade de uma lei que noutras circunstâncias
seria competente. Ou seja, afastamos a aplicabilidade da lei que sem a manobra ou sem
a fraude seria aplicável.

Para verificarmos a aplicabilidade do artigo 21º do CC, é preciso verificar 2


elementos: elemento subjetivo e elemento objetivo.
O elemento subjetivo implica necessariamente que o interessado ou
interessados, atuem com dolo, ou seja, não basta a mera negligência para termos fraude
à lei, é necessário verificar no caso concreto o elemento cognitivo e o elemento volitivo
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
da fraude. Ou seja, é necessário que as pessoas queiram aplicar a fraude e queiram ver
aplicado ao caso concreto os efeitos decorrentes dessa fraude.

Quanto ao elemento objetivo, temos 3 subelementos: 1º a existência de uma


manobra defraudatória – a manobra defraudatória, são nos termos do CC todas as
situações de facto ou de direito que recaindo na norma de conflitos, pode-se considerar
competente uma lei diferente.

Por exemplo a lei da RH ou da nacionalidade, eu vou celebrar um facto noutro


país, ou eu vou determinar a entrega ou um dos efeitos do contrato num sítio diferente
daquele que normalmente seria aplicado ao caso concreto, é preciso manobrar esta
circunstância de facto ou de direito. Esta circunstância de facto ou de direito tem de se
subsumir numa norma instruída, em particular, tem de se subsumir no elemento de
conexão da norma de conflito aplicada ao caso concreto.
Se eu quiser, para efeitos da determinação da minha capacidade, vem aplicada
uma lei nacional diferente, mas em vez de alterar a nacionalidade altero a RH, tenho
uma manobra, com o intuito de defraudar a lei, mas ela não se subsume no elemento
de conexão da norma de conflitos. É diferente eu ter mudado a RH, porque a conexão
não é a RH, mas sim a nacionalidade. Portanto, a manobra tem de ser por forma a que
o elemento de conexão passa a contar com um ordenamento jurídico diferente daquilo
que apontaria antes.

Por fim, é preciso ser bem sucedido, ou seja, a fraude à lei só vê repercutido os
seus efeitos se efetivamente, a norma material que seria aplicada no caso concreto
deixa de ser em consequência da manobra defraudatória, ou seja, tem que haver uma
norma defrauda, ou seja, tem que haver direitos material, nacional ou estrangeiro, (a
fraude pode ser para internacionalizar uma relação jurídica e deixar a lei do foro, há uma
lei que seria aplicável que por causa da manobra e da norma jurídica deixa de se aplicar
ao caso concreto e passa-se a aplicar outra.

Verificados cumulativamente estes requisitos, não basta alguém ter vontade ou


manobrar alguma coisa, é preciso concluir que há uma norma defraudada e, isso, só se
faz da seguinte maneira, fazer um sistema de reenvio com o elemento de conexão
anterior e depois fazer o mesmo caso-prático com o novo elemento de conexão. Só
assim é que percebemos que através da utilização do novo elemento de conexão deu
origem à lei X, com a manobra deu origem à lei Y. Só conseguimos perceber que há uma
manobra e uma determinada norma defraudada se testarmos o caso nas 2 situações,
dizendo que se não tivesse havido manobra aplicava-se a lei X, mas como houve
manobra aplica-se a lei Y, portanto, concluímos que há uma norma defraudada.

No final, entre aquilo que Portugal considera competente e aquilo que vai
aplicar, podem ser coisas diferentes, no âmbito do reenvio.
Podemos ter uma manobra que até pode dar para subsumir-se na norma
instruída, mas depois por causa da questão dos reenvios, se admite ou não admite
reenvio, no final da história podemos chegar à aplicabilidade da mesma lei. Não há
norma defraudada, neste caso, apesar de ter havido tudo o resto. Portanto, é preciso
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
testar as 2 situações para conseguir concluir se há uma norma de direito material que
foi defraudada no caso concreto.

Verificados todos estes requisitos, significa que, temos fraude à lei.

Quais são as consequências da fraude à lei?

Aquela que está expressamente prevista no CC, ou seja, a pessoa alterou de


nacionalidade, alterou de RH, celebrou um facto num sítio diferente daquele que
celebraria, qual é a consequência para este efeito? Se ela alterou a nacionalidade ou a
RH, ótimo. Fez aquilo que nos termos da lei podia ter feito. A questão é quando ela o
faz, para obter uma fraude à lei em DIP.

A questão é, para efeitos de DIP o que é que é irrelevante?

É desconsiderar a manobra, ou seja, tudo se passa como se não tivesse existido


manobra, mas não há outra consequência jurídica. Se eu alterar a minha nacionalidade,
tendo em vista a fraude à lei e se concluir efetivamente que há fraude à lei, todo o caso
é resolvido como se não tivesse alterado a nacionalidade. Mas notem, eu alterei e sou
agora da nova nacionalidade. O DIP não se imiscuiu dos efeitos jurídicos que são criados
pela norma defraudatória, esses continuam a existir.
Se eu deixei de viver em Portugal e passei a viver em França, a minha RH é em
França, a questão é, a razão pela qual eu me mudei para França para efeitos de fraude
à lei é irrelevante como se eu nunca tivesse alterado a minha RH. “Como se eu não
tivesse alterado”, mas alterei pelo que sou residente em França, exceto quando a
questão não é aplicável no caso concreto.

O DIP não se vai imiscuir dos efeitos jurídicos materiais das alterações das
circunstâncias de facto ou de direito que levam a que o elemento de conexão aponte
para ordenamento jurídicos diferentes. A única consequência que tem é puramente
para determinar a aplicação da lei aplicável ao caso concreto, que é desconsiderar a
manobra. Os últimos efeitos da manobra não são problema de DIP.

A grande questão que aqui se coloca, que põe a doutrina a divergir de alguma
forma é que o artigo 21º do CC, apesar de não dizer, na realidade protege sobretudo
questões de direito interno. Ou seja, para situações de internacionalização da norma de
conflitos, porque notem, nesse caso, naturalmente, a norma defraudada será a
portuguesa, que se deixa de aplicar ao caso em concreto, ou enão alguma situação em
que Portugal seria aplicável, nomeadamente, por aceitar o retorno à lei do foro, mas
deixa de se aplicar no caso concreto.

Porque é que a regra, apesar de não dizer expressamente no artigo 21º é da


consideração da lei do foro?

A fraude a lei é o afloramento da ordem pública do estado, ou seja, aquilo que a


fraude à lei quer sancionar no caso concreto, é a violação das suas normas. Isto significa
que o Estado não censura a violação de normas jurídicas de outros estados, ou seja,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
quando há violação de normas jurídicas de outros estados, nomeadamente, de fraude à
lei, são os tribunais de outro estado porque são questões de ordem pública, não somos
nós que resolvemos, são eles.
Não obstante, a doutrina entende que para efeitos de DIP se pode também
estender a aplicabilidade da fraude à lei, quando a norma defraudada não é a lei do foro,
mas é também uma lei estrangeira. Há outra doutrina que tem entendido que não, o
entendimento maioritário da jurisprudência não segue esse pensamento.

A doutrina dominante entende que não e entende que o artigo 21º se deve
aplicar quando a norma defraudada não é a lei do foro, mas é uma lei estrangeira que
deixa de ser aplicada em detrimento de outra.

A questão que se coloca agora é, mas sendo assim, deve-se sancionar sempre e
sancionar é aquilo que temos no artigo 21º, ou seja, considerar irrelevante a manobra e
aplicar a lei que seria aplicável ao caso concreto, ou devemos ter alguns critérios de
determinação. Há 2 posições dominantes na doutrina, sendo que, tendencialmente, a
jurisprudência segue esta última.

Ferrer Correia entendia que em matéria de DIP, a lei do foro está legitimada para
sancionar a fraude à lei, quer a norma defraudada seja a lei do foro, quer seja lei
estrangeira. Se a questão é uma relação jurídica privada internacional, então a lei do
foro é que pode determinar se há ou não fraude à lei e, portanto, se tem consequências
jurídicas internacionais.

A professora Isabel Magalhães Collaço, entende que também deve haver sanção,
ou seja, o que está no artigo 21º para a fraude à lei quando a norma defraudada é o
ordenamento jurídico estrangeiro, mas impõe condições para que a lei do foro, neste
caso Portugal o faça.
Essas condições, só existem para a professora Isabel quando a lei é estrangeira.
Se a norma defraudada for uma norma de direito material português, a fraude é sempre
considerada sem outras condições, para além dos requisitos referidos há pouco. Para
ela o que acontece é que se a norma defraudada for a lei estrangeira, tem de haver o
facto no ordenamento jurídico da norma defraudada, uma previsão normativa idêntica
ao nosso artigo 21º do CC.

Se a lei estrangeira que é defraudada no caso concreto, fosse a lei do foro, e não
sancionasse a fraude à lei, não tinha a normativa de fraude à lei, ou seja, não extraía
nenhuma consequência há existência de fraude, então o que ela diz é “então nós vamos
fazer mais do que aquilo que eles fariam no caso concreto?”.
Imaginemos que no caso concreto, aplicamos a lei francesa em vez da lei
espanhola, e que há uma fraude. O que a professora Isabel diz é para ver no OJ espanhol,
se este também tem fraude à lei e se também se protege em relação à mesma. Porque
se o OJ espanhol fosse a lei do foro, visse a fraude à lei, mas não a sancionasse de alguma
forma e deixava aplicar a lei estrangeira à mesma, o que ela diz é “vamos fazer mais para
proteger o OJ espanhol do que aquilo que eles fariam no caso concreto para se proteger
a si?”.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Portanto, a condição, para que o artigo 21º se aplique, relativamente a direito
material estrangeiro, é o OJ da norma defraudada também tem de prever a fraude à lei.
Se ele não sancionar a fraude à lei, nós também não vamos sancionar por ele, não
faremos mais para proteger aquele OJ estrangeiro do que aquilo que eles próprios
fariam para se proteger a si.

A professora Isabel, tem depois um princípio de salvaguarda, para todas aquelas


situações em que a existência da fraude à lei e à aplicabilidade de direito material
estrangeiro, que de outra forma não seria aplicável, põe em causa princípios éticos de
DIP. Sabemos isso só analisando as circunstâncias do caso concreto.

Mesmo que o OJ estrangeiro não sancione a fraude à lei, por questões de justiça,
admite a aplicabilidade para o OJ do foro do artigo 21º. – serão situações de escola-.
Mas, não obstante, é uma clausula de salvaguarda em que apesar de não estar verificada
a primeira situação, a segunda por razoes de justiça impõe a sanção para a fraude a lei.
A sanção nunca é direito material, é exclusivamente para feitos de DIP naquela situação
em concreto, para aquela questão controvertida em concreto, ou seja, considerar
irrelevante a manobra e, portanto, considerar os estados ? para outras situações que
não estão no âmbito da manobra, nem no âmbito da norma jurídica, é aplicável.

18.10.2023 (T)

A QUALIFICAÇÃO

O processo da qualificação em DIP entra num exercício que é o segundo


momento do processo de determinação da lei aplicável a uma determinada
questão controvertida, que é o processo de qualificação.
Este está no artigo 15º do CC e diz, singelamente, que a competência atribuída a
uma lei abrange somente as normas que, pelo seu conteúdo e função, que tem essa lei
integram um regime do instituto visado na regra de conflitos.

Trata, então, aquilo que é o denominado processo de qualificação. Lendo o


artigo 15º do CC, a norma tem uma previsão normativa completamente abstrata. Na
realidade o artigo é difícil de entender, não sendo difícil de entender a verdade é que
ele faz denotar por parte do legislador que a escolha de uma determinada lei tem de
ser legitimada para ser aplicada ao caso concreto ou melhor a questão controvertida.

O que isto significa?

Significa que nos termos do artigo 15º o que se denuncia é que, quando em
matéria conflitual se determina uma determinada lei como competente e se aplica ao
caso concreto no esquema de reenvio, Portugal considera competente uma
determinada lei estrangeira e depois aplicará a lei que for admitida, nos termos do
artigo 15º.

Aquilo que se percebe no artigo 15º é que uma coisa é a seleção dessa lei, ou
seja, ela é aplicável ao caso concreto, isto é, de todas as leis que estão em conflito,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
positivo, ou seja, de todas as leis ou de todos os ordenamentos jurídicos, cujos sistemas
jurídicos estão em conflito para se aplicarem ao caso concreto, o primeiro momento é
selecionar uma, mas isso a única coisa que faz é selecionar uma das leis que passará ao
processo de qualificação, que é o processo de legitimação da aplicabilidade dessa lei ao
caso concreto.

O que é que se anuncia pelo artigo 15º?

Denuncia-se que, em primeiro lugar, quando o legislador português de DIP,


determina que, ou pela regra geral do artigo 16º ou porque admite algum reenvio, ou
porque deixa de admitir pelo artigo 19º e determina a aplicabilidade de uma
determinada lei, essa lei, não vai ser aplicada enquanto tal no ordenamento jurídico
português, ou seja, o legislador quando determina que é aplicável uma determinada lei,
mormente se ela for uma lei estrangeira porque se for lei portuguesa já está
tecnicamente resolvido, ele não quer fazer substituir o ordenamento jurídico português
no seu todo ao caso concreto.
A única coisa que é selecionável desse ordenamento jurídico são as normas, os
institutos ou os sistemas jurídicos (o que quer que seja desse ordenamento jurídico),
que permita resolver a questão de controvertida.

Todos os restantes sistemas que tratam de outras questões que não


tecnicamente a questão controvertida, bem como princípios éticos, continuam a ser
aplicáveis no ordenamento jurídico português, as regras do ordenamento jurídico
português, ou seja, a escolha de uma lei estrangeira por parte do DIP, não consubstancia
afastar o ordenamento jurídico português no caso concreto e vir um outro sistema
jurídico a ser aplicável em Portugal.

Ou seja, Portugal não recebe normas de direito material estrangeiro, elas


aplicam-se ao caso concreto, mas o ordenamento jurídico português não as recebe
como sendo direito material português, elas não passam por esse processo.
Mas também não acolhemos o ordenamento jurídico estrangeiro no seu todo e
depois nós escolhemos aquilo que queremos, não. Aquilo que o artigo 15º pelo menos
anuncia, é: Primeiro não vem no ordenamento todo, nós não recebemos esse
ordenamento jurídico todo. Só vamos receber desses ordenamentos, ou melhor, só
vamos aplicar desses ordenamentos jurídicos estrangeiros, as nossas normas de
conflitos visadas (última parte artigo 12º).

O que é que isto significa?

Significa que vamos agora para um processo de qualificação e começando pelo


fim do artigo 15º, vamos buscar o outro elemento da norma de conflitos. Elas, ao
contrário das normas jurídicas, não têm previsão, nem estatuição, ou seja, tecnicamente
as normas conflitos têm um elemento de conexão que reparem que é aquilo que nós
temos usado na resolução de casos práticos até agora.

Qual é a lei que o legislador para uma determinada questão considera aplicável?
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Para matéria de estatuto pessoal, considera aplicável a lei pessoal que é a lei da
nacionalidade, portanto, como elemento de conexão, é a lei que o legislador considera
aplicável. Agora, vamos verificar um outro elemento, que até agora não temos
considerado, pelo menos não temos feito referência expressa a ele, que é outro
elemento da norma de conflitos que é o denominada conceito quadro das normas de
conflito.
O conceito quadro da norma conflitos, notem, singelamente é aquilo que nos
permite identificar para a questão controvertida onde é que essa questão se subsume
na norma de conflitos. Portanto, é aquilo que nós fazemos quando queremos saber se
uma determinada pessoa tem ou não capacidade de exercício. O que é o que nós vamos
fazer? Vamos à procura de uma norma de conflitos onde se subsuma o problema da
capacidade de exercício.
Esse elemento a que nós vamos recorrer agora é o denominado conceito quadro

E o que é que é o conceito quadro não sendo uma previsão normativa?

O conceito quadro é o âmbito de aplicação do elemento de conexão, ou seja, é


um conceito técnico jurídico que determina quais as categorias normativas que são
operantes para aquele elemento de conexão e este conceito quadro faz esta
categorização, é que permite depois determinar quais as normas de direito material
estrangeiro (mas pode ser também a lei do foro, se for aceito o retorno ou se Portugal
se considerar aplicável ao caso concreto) é que vai determinar quais são as normas de
direito material, que nos termos do artigo 15º, o legislador visou que se integrasse no
seu objeto.

Ou seja, com a categorização do conceito quadro, isso vai nos permitir com o
ordenamento jurídico aplicável ao caso concreto, pelo elemento de conexão determinar
quais são as normas, os institutos, as figuras jurídicas, o que quer que seja, que o
legislador quis que integrassem esse conceito e que estão legitimadas a ser aplicadas
para a resolução da questão controvertida.
Mas o exercício que a partir de agora se faz é, vamos à procura de todos os factos
que permitam subsumir essa previsão normativa e se subsumir desencadeiam
estatuição, só que nós não temos nem previsão nem estatuição, temos conceito quadro
e elemento de conexão.

O que nós fazemos neste exercício de subsunção?

Vamos pegar nas normas de direito material estrangeiro que elegemos como
elemento de conexão para o subsumir como conceito quadro. Qual é a dificuldade desta
subsunção? Ao contrário da típica subsunção das normas jurídicas, em termos factos
que se subsumem na previsão de uma norma, neste caso concreto, o objeto da
subsunção são normas.
Ou seja, normas de direito material que têm de se subsumir no elemento de uma
norma de conflito, ou seja, o exercício de subsunção em DIP para legitimar a
aplicabilidade da lei eleita pelo elemento de conexão da norma de conflitos é um
exercício de normas de direito material, que tem de subsumir em normas
concretamente do conceito quadro da norma de conflitos.
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O artigo 64º, como é o DIP ... o grande objetivo do direito, ainda que haja Estados
que não adotem entre si, o grande objetivo do DIP é encontrar a melhor lei para aplicar
naquele caso, ou seja, que de entre todas as possibilidades encontrar a melhor e depois
melhor que vários processos de Seleção entende que o menos mau é o sistema conflitual
e dentro do sistema de conflitual o menos mau são normas de conflito bilaterais e nisso
ainda o menos mal é assentá-los em Princípios valorativos que sejam gerais no âmbito
de DIP. (?)

Diz que o elemento de conexão é a lei pessoal do autor da sucessão ao tempo da


declaração. Estamos a falar das disposições mortis causa? Que regula vejam a alínea c).
Reparem o ordenamento jurídico português não é admissível nem testamento de mão
comum nem pactos sucessórios.

O que significa que para o ordenamentos jurídicos como é o caso do português,


que adota em matéria de DIP, o sistema de conflito em que, a regra geral, são normas
bilaterais, ou seja, é indiferente para onde é que aponta o elemento de conexão, ou
seja, se é para a lei do foro ou se é para lei estrangeira, porque nós queremos é aplicar
dentro dos princípios do DIP, a melhor lei ao caso concreto, ou seja, aquela que cumpre
as expectativas das partes e garante a tutela dos seus interesses da mesma forma como
faríamos no direito interno.

Significa que quando temos uma norma de conflito com um conceito quadro em
que determina o âmbito de aplicabilidade daquela norma de conflito, ou seja, a tal
categorização de questões jurídicas que podem incluir-se naquela norma de conflito.

Significa o quê?

Que o legislador do DIP tem de estar preparado para receber normas de direito
material português se for a lei do foro aplicável ao caso concreto, mas também normas
de direito material estrangeiro e nós, não ser que estivesse o legislador em reserva
mental no sentido de “eu vou fingir que não me importo de aceitar normas de direito
material estrageiro, mas depois mato a questão no processo de qualificação da norma
direito material estrangeiro”.

Das duas uma: ou tem um sistema parecido com o meu, ou então nunca vai
conseguir integrar-se no âmbito do nosso conceito quadro, ou seja, numa perspetiva em
que o DIP está pronto para receber, quer o direito material do foro, quer direito material
estrangeiro, o legislador tem de preparar o conceito quadro de forma a esgotar as
questões do direito privado.

Notem, a esgotar as questões de direito privado que se organizem numa tradição


diferente daquela que o nosso legislador adotou no CC. Como sabemos o CC assenta
numa tradição germânica de organização do código e sobretudo assenta naquilo que
nós fazemos em cada caso prático que é onde é que está a relação dos livros
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Estes conceitos quadros tem de se abrir o suficiente para que consigam entregar
se no seu âmbito não só as normas jurídicas, mas também não só as normas jurídicas
estrangeiras que só tenham institutos jurídicos homólogos ao português. Por isso é que
o legislador diz: No livro das Sucessões que não há testamento, de mão comum e não
há pactos sucessórios, mas depois diz oposto quando chegamos ao artigo 64º alínea c)
diz que a lei pessoal que regula os testamentos de mão comum ... e não há muita coisa.

Acontece, por exemplo, vejamos o artigo 30º em que o próprio legislador fala da
tutela como institutos análogos à tutela do ordenamento jurídico português. Para
situações de tutela temos o poder paternal, depois têm para maiores incapazes,
eventualmente curatela ou então temos para menores ou maiores incapazes a
administração de bens, mas também não se confunde com o âmbito da tutela. A tutela
é o exercício das responsabilidades parentais por alguém que não seja o ascendente
daquele menor.

Quais são os casos análogos no direito português?

Podemos tentar inclui alguns, nomeadamente, o apadrinhamento civil que ainda


existe, mas mais uma vez, não é igual socialmente.

O legislador, não podendo fazer em todos os casos, é notem, não o consegue


fazer sequer para esgotar a realidade de todo o código civil.

Aquilo que fez foi determinar o âmbito de aplicação daquele elemento de


conexão como um conceito quadro, ou seja, esta tal categorização de questões jurídicas
que se podem subsumir no âmbito do conceito quadro, depois de chamar-lhes as
normas de direito material.

Mas qual é o grande problema dela?

É que de duas uma: ou temos direito material português e a questão da


qualificação fica resolvida para si, porquê? Porque o Legislador que fez o código até ao
artigo 65º é o mesmo que fez dali para a frente. Portanto, quando o legislador português
pensou em tutela pensou em testamento ou em casamento e pensou igualmente
naquele que depois tem o direito de criar mais para a frente.

O problema do legislador com estes conceitos quadro é: o Legislador que está


pronto para garantir, no âmbito do direito Internacional privado, um sistema conflitual
com normas de conflitos bilaterais, ou seja, o legislador quer a todo o custo garantir que
aplica a melhor lei (naquele sentido interpretativo que vimos há pouco no caso
concreto).
Seja direito português, seja direito estrangeiro, pois tem de garantir que no
âmbito do processo de qualificação não impede a aplicabilidade desse direito material
estrangeiro, ou seja, não legitima a sua aplicabilidade.

Porquê?
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Porque não conseguimos encontrar um paralelo entre o direito material
estrangeiro e o direito material português que influenciou a relação do nosso conceito
quadro.

O nosso legislador tanto não quis influenciar que diz em DIP que, escolheu para
testamento de mãos comuns ou para pactos sucessórios a lei pessoal. Se o legislador
quisesse mesmo no sentido interpretativo, nem sequer admitia essa aplicabilidade.
Porquê? No nosso caso são nulos quaisquer testamentos de mão comum ou
pactos sucessórios. O que significa que o processo de qualificação tem um objeto que é:
só pode pedir Direito material que esteja no conceito quadro.

Mas o conceito de quadro tem de ser flexível o suficiente. Para que não se limite
aos sistemas o instituto jurídico homólogo, o direito interno português. Isto significa que
o princípio é: nós escolhemos o Direito material e dizemos que se aplica L3, aplica-se L2,
aplica-se o que quer que seja.

Qual é o passo seguinte?

Não podendo nós trazer todo aquele ordenamento jurídico para resolver a
questão controvertida, o processo de qualificação vai permitir fazer aquilo para a
situação jurídica concreta, que queremos resolver. Trazer as normas de direito material
desse ordenamento jurídico e notem não é que preveja a questão controvertida, mas
que façam parte integrante o tal juízo de subsunção jurídico, do conceito quadro da
nossa norma de conflito.
Ou seja, quando nós dizemos que temos um problema ou uma questão jurídica
controvertida e vamos determinar o direito de material estrangeiro, a única coisa que
nós vamos saber é que vamos ao direito material estrangeiro, buscar as normas de
direito material, porque se tudo corre bem serão aquelas que vamos aplicar à questão
controvertida. Mas antes de as aplicar a questão controvertida, nós só conseguimos
trazer do direito material estrangeiro as normas que se subsumam no âmbito de
conceito quadro.

Depois das duas uma: ou elas subsumem e se subsumirem nós legitimamos a


sua aplicabilidade no processo de qualificação para resolver a questão controvertida.
Ou se não se subsumem e são insuficientes para resolver a questão controvertida, não
passaram o processo de qualificação e voltamos ao início.

Vejamos o artigo 877º do CC, imaginemos que temos uma situação jurídica
internacional em que temos uma compra e vende de pais para filhos e em Portugal, um
dos irmãos, anular ou querer anular esta venda.
Nos termos do 877º do CC, qual era a norma de conflitos que aplicaríamos para
determinar se esta compra e venda era válida? Estão pendentes nos tribunais
portugueses, está pendente uma ação que se discute a compra e venda de um imóvel
que está inserida no âmbito das obrigações, porque foi celebrada entre pais e filhos sem
consentimento com os outros.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem, o artigo 877º está inserido em que parte? No direito das obrigações, o
legislador adotou para as normas de conflito a mesma sistemática que adotou para os
restantes livros na tradição germânica. Em princípio e desde logo o problema que aqui
está é um problema de relações obrigacionais.
É um problema de relações obrigacionais, de validade do contrato das obrigações
decorrentes do contrato, eficácia do contrato, etc. Ou seja, desde logo a matéria geral
do artigo 41º, portanto, das relações obrigacionais. Há várias normas, mas esta será mais
evidente na sistemática.

Então o que é que vamos usar?

Vamos usar o artigo 41º e vamos escolher um elemento de conexão como


sabemos no artigo 41º temos a autonomia da vontade. Vamos para o critério supletivo
porque temos uma compra e venda, o que significa que nos termos do artigo 42º/1, o
elemento de conexão para determinar a lei aplicável é a residência habitual em comum
das partes. Imaginemos que aplicamos qualquer direito material estrangeiro e que esse
direito material estrangeiro tem uma norma igual à nossa do artigo 877º.

Agora o que fazer? O que é que nos permite o processo de qualificação?

Primeiro apontamos para um ordenamento jurídico estrangeiro, por exemplo,


Espanha, não sabemos que se aplica lá, por isso, vamos procurar as normas e vamos
trazer as normas que, potencialmente podem resolver esta questão controvertida, ou
seja, traremos uma norma idêntica à do nosso artigo 877º do Código Civil.

Antes de legitimarmos a aplicação dessa norma para a resolução do caso


concreto, ou seja, para determinar se o contrato é válido ou não, se produz efeitos ou
não, essa norma de Direito material tem de subsumir onde? No conceito quadro da
nossa norma de conflitos.

O conceito quadro do artigo 41º trata do quê?

De todas as vicissitudes, sendo um bocadinho mais amplo do que aquilo que lá


está escrito, de questões relativas emergentes de contratos, questões relativas à
validade formal, validade substancial e aos efeitos decorrentes, bem como as questões
associadas à patologia dos contratos, que é o caso.
O artigo 877º, que enquanto no artigo 41º tem uma matéria de estatuto
obrigacional, ou seja, validade, eficácia, cumprimento do negócio jurídico se tivermos
nesse ordenamento jurídico estrangeiro no artigo 877º o princípio que lhe está
subjacente é um problema de validade da compra e venda essa é a consequência do
pressuposto.

Se pensarmos bem, o artigo 877º não tem problema nenhum no que tange ao
direito das obrigações, tem uma pessoa que quer vender e outra que comprou e o
contrato está cumprido. O problema qual é: não é o problema de uma compra e venda,
mas sim é que há uma relação familiar entre parentes na linha reta que o legislador por
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objetivos estranhos ao direito das obrigações, quis evitar que haja situações de
privilegiar os descendentes, relativamente, a outros.

Tem de encontrar a ratio legis do legislador do conceito quadro. O que é que o


legislador quis tratar com este conceito quadro? E depois temos de pegar nas normas
jurídicas, seja de direito material português ou estrangeiro e fazer exatamente o
mesmo.

O que que o legislador quis com esta norma?

No artigo 41º temos tudo aquilo que é relacionado com o estatuto obrigacional.
Validade, formal e substancial, cumprimento, efeitos, impossibilidade de comprimento
e o artigo 877º, aquilo que quer é calcular as quotas indisponíveis de alguns parentes
que são sucessíveis uns aos outros, ou seja, matéria de estatuto pessoal o que significa
que quando vamos buscar a norma jurídica e encontrarmos a ratio legis do legislador e
quando encontramos a ratio legis do nosso legislador do conceito quadro, temos de
concluir que são comuns porque só aí é que há o exercício de subsunção.

Ou seja, quando o nosso legislador do DIP quis a mesma coisa, seja o português
ou estrangeiro, com aquela norma de direito material. Ou seja, as normas têm a mesma
função que têm as nossas normas de conflitos, precisamos de encontrar o processo
valorativo que levou o legislador a prever por um lado a norma de conflito e por outro
as normas de direito material que permitiriam resolver aquela questão.

Neste caso nós íamos buscar o artigo 877º que resolvia, mas esta norma com
esta ratio legis não é a mesma que o legislador no artigo 41º pensou. Notem, é a ratio
legis do conceito quadro que determinou o elemento de conexão.

Se o pressuposto para eleger aquele direito material estrangeiro não está verificado
significa o quê?

Que não está legitimada a aplicabilidade daquela norma de direito material, não
passa o processo de qualificação. E o que temos de fazer aqui? Esta norma não passa no
processo quadro do artigo 41º, temos de voltar ao direito material estrangeiro há
procura de outra, outra que faça a mesma coisa e tentar que se subsuma ao conceito
quadro.

De duas uma: há norma de conflitos que passa e ótimo, está resolvido. Ou então
não há. O que acontece? Com esta norma de conflito e com este conceito quadro não
conseguimos legitimar nenhuma norma jurídica que resolvesse a nossa questão
controvertida. Ou seja, nós considerávamos aplicável um determinado ordenamento
jurídico, mas as normas de direito material desse ordenamento quando trazidas do
processo de qualificação, nenhuma delas se subsume no nosso conceito quadro, ou seja,
continuamos com a questão controvertida.
E temos outro problema: com esta norma de conflito com este direito material
estrangeiro agora já não temos direito material para aplicar ao caso concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Qual a solução?

Começar o processo outra vez, escolhendo outra norma de conflito e fazemos o


processo todo e, mais uma vez, ou passa no processo de qualificação, ou não passa e
voltamos ao início.
Nós olharíamos para as normas de conflito, vemos o artigo 57º, e agora notem,
se usarmos a norma de conflitos do artigo 57º vamos chegar a uma lei qualquer, pode
ser a lei espanhola outra vez, se trouxermos agora esse ordenamento jurídico, essa
norma de conflito agora chamada pelo artigo 57º, o conceito quadro do 57º são as
relações entre pais e filhos.

O que o legislador do DIP quis com este conceito quadro?

Quis estabelecer todos os efeitos jurídicos que decorrem da existência de uma


relação parentesco entre ascendentes e descendentes de 1º grau.
Se olharmos para o 877º se for igual ao nosso CC, o que o legislador quis
acautelar? Não foi a compra e venda, mas foi acautelar alguns dos efeitos, mormente,
mortis causa que decorrem das relações entre pais e filhos, estatuto pessoal versus
estatuto pessoal.

Neste caso concreto, se usássemos a do artigo 57º conseguíramos que o artigo


877º se subsumisse ao conceito quadro do artigo 57º do CC, porque aquilo que o
legislador quis com o conceito quadro e com o artigo 877º foi a mesma finalidade e a
mesma função que é exigível pelo artigo 15º.
Se correr bem ótimo, temos o direito material aplicável, se não correr o exercício
é o mesmo, é procurar uma norma de conflitos até resolver a questão. Se acabarem as
normas de conflito porque já não encontramos mais aí entra o processo de criação de
uma norma de conflitos ad hoc, ou com adaptação ou com a norma de conflitos especial
dentro do espírito de sistema.
Sendo que, lamentavelmente, agora é preciso todo um novo momento. Significa
que a escolha das normas de conflito tal e qual como este caso pode não ser uma, mas
sim várias.

Qual o problema?

É que depois não têm regra, se tivermos várias normas de conflitos


potencialmente aplicáveis ao caso concreto iremos por ordem. Neste caso teríamos 3
normas de conflito, teríamos de fazer o processo para as três e depois de duas uma: ou
passa a todas ou não passa a nenhuma e passamos para outro momento ou passa
algumas. Porque notem, qualquer uma delas é potencialmente aplicável.
Temos de aplicar todas porque nesse caso há um concurso real de normas de
conflitos, temos de fazer para cada uma delas o esquema de reenvio e o processo de
qualificação. Se só uma passar, ótimo é aquela, se passarem as três temos a fase
seguinte: conflito positivo de qualificações e temos de escolher qual delas é aplicável
ao caso concreto de acordo com os princípios do DIP, ou nenhuma passa e voltamos a
começar do zero, voltando a criar uma norma de conflitos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
19.10.2023 (T)

QUALIFICAÇÃO

Neste exercício de construção dogmática associada o processo de legitimação


das normas de Direito material e estrangeiro, ou melhor, português e estrangeiro, mas
sobretudo para situações em que não temos os institutos ou normas jurídicas que sejam
homólogas no ordenamento jurídico português.

Portanto, tal qual estávamos a ver uma aula de ontem, esse processo é exigido
nos termos do artigo 15º do Código civil, que nos dá, desde logo, duas informações que
implicam que se determine qual é a solução jurídica para a questão controvertida
daquela situação concreta. Portanto, quando se considera aplicável um determinado
ordenamento jurídico, para resolver a questão do direito Internacional privado, aquele
ordenamento jurídico não fica acriticamente e em peso, se quiserem, pronto para ser
aplicado para a situação em concreto, portanto, não há esse processo primeiro de
receção do direito material estrangeiro, por um lado.

Por outro lado, ou seja, ele aplica-se como direito estrangeiro e não como direito
estrangeiro foi recebido pelo ordenamento jurídico português e, portanto, passa a ser
direito português para aquele caso concreto. Os processos que aprenderam,
nomeadamente em direito Internacional Público, direito da União Europeia e, por outro
lado, que nunca será aplicável, a esse ordenamento jurídico, mas só as normas,
institutos jurídicos, grupos das figuras jurídicas, o que quer que seja, que sejam
suscetíveis de resolver aquela questão contrapartida. Mais uma vez, com perceberam,
aquela questão jurídica.

PROCESSO DE QUALIFICAÇÃO

O processo de qualificação implica agora, para além dessa conclusão, o tal


processo de legitimação que resulta, no artigo 15º que a lei exige que essas normas
integrem as nossas regras de conflitos.

Portanto as normas, ou melhor, aquilo que o artigo 15º então, nesse processo
de legitimação do direito material de lei pelas normas de conflitos, é um exercício de
subsunção. Tal como lhes disse ontem, ao contrário daquilo que acontece tipicamente
na resolução de questões controvertidas em direito, que implica que factos se
subsumam numa determinada previsão normativa para desencadear uma estatuição,
não tendo as normas de conflitos: primeiro - previsão normativa; segundo - não visando
resolver questões do direito material. Portanto, as questões controvertidas em DIP
implicam a determinação da escolha de uma lei e essa lei é que vai resolver a questão
material controvertida. Este exercício de subsunção é de normas jurídicas em normas
de conflitos. Portanto, num exercício de subsunção puramente jurídico de normas sobre
normas. Portanto, de algum exercício de abstração que aqui está associado.

Concretamente, um exercício de subsunção de quê?


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Das normas jurídicas do ordenamento jurídico de direito material eleito, nas
nossas normas de conflitos, em particular que me vimos ontem no conceito quadro, que
é aquilo que permite limitar o âmbito, no qual aquele elemento de conexão foi eleito
para este efeito.
Para este efeito, desencadeou-se então, aqui mais uma vez entendam que isto
está expressamente previsto, nem resulta de todo do artigo 15º, desencadeou-se, por
imperativo do legislador, ainda que ele não tenha explicado exatamente o que é que
isto significa, diversas teorias doutrinárias associadas ao processo de qualificação,
aquela que tendencialmente se adota.

(Relativamente a isto não se adota grandes variações, é uma teoria que foi
desenvolvida pelo Professor Ferrer Correia e, portanto, nessa parte, ainda que o manual
que lhes é recomendado que explique particularmente bem no processo de
qualificação, o manual do Professor Ferrer Correia é recomendado, portanto, quanto a
esta matéria, não havendo alterações, se quiserem ler diretamente a fonte e o
desenvolvimento da teoria, o Professor Ferrer Correia tem curiosamente tem uma
escrita muito fácil. Se lerem algo que é como ouvir alguém, portanto, é particularmente
simples de perceber aquilo que ele escreve, se quiserem. Ir diretamente à fonte,
presumo que lhes possa ser particularmente útil nesse caso.)

A teoria desenvolvida pelo Professor Ferrer Correia baseia-se no


estabelecimento de 3 grandes pressupostos que terão de se verificar no caso concreto.
Através de um exercício de silogismo, portanto, a existência de premissas no caso
concreto, verificadas desencadeiam uma determinada consequência jurídica.

1. A premissa maior é estabelecer a previsão normativa da norma de conflitos.


Como sabem, ela não tem previsão normativa, portanto, ela é usada no sentido
próprio que é interpretação das situações jurídicas que fazem parte do âmbito da
previsão da norma de conflito, ou seja, do conceito quadro da norma de conflitos.

1. Portanto, a primeira coisa é identificar o conceito quadro da norma de conflitos.


2. Interpretar este conceito parte da nova conflito mais uma vez, de acordo com a
teoria do Professor Ferrer Correia.

Portanto, primeira coisa que ele diz é, precisamos de fazer esta interpretação do
conceito quadro. Depois precisamos de determinar qual é a questão controvertida.
Reparem aquilo que nós fazemos sempre, logo em primeiro lugar, na resolução
dos casos. A questão controvertida em direito Internacional privado, porque o direito
Internacional privado não tem como objeto a resolução da questão material, a questão
controvertida é a interpretação da figura jurídica que está associada à questão
controvertida.
Ou seja, para o DIP, como nós fazemos sempre é, ao contrário das situações de
resolução da questão de direito material, que é olhar para os factos subsumida a norma
e desencadear a estatuição, o nosso exercício é ao contrário, é de baixo para cima.
Nós temos os factos, nós perguntemos a norma para resolver a questão de
direito material nem é isso que queremos. Depois precisamos de encontrar a categoria
jurídica que está associada à questão controvertida.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

No caso prático que do não sei das quantas, que tinha 16 anos, e não sabia se
podia casar ou não. O que é que nós precisamos de fazer para sabermos se ele em
Portugal tem capacidade nupcial ou não? Temos a idade do senhor e vamos à procura
de uma norma que nos diga a partir de que idade é que alguém pode casar e em que
condições.
Ora no DIP, é no indiferente, saber se ele tem ou não capacidade para casar, o
que nós temos de identificar é: para decidir se alguém, em razão da idade, pode casar
ou não, temos que identificar a categorização normativa em que aquela questão se
coloca, ou seja, temos que identificar que a questão controvertida é um problema de
capacidade para um contrato em particular que é o contrato de casamento.

Se fizermos isto pelas normas jurídicas, aquilo que diz é: Até aos 16 anos não tem
capacidade de gozo, a partir dos 16 anos, tem capacidade de gozo, pode casar com
autorização ou sem autorização. As consequências são aquelas ou estas. Ou seja, é a
norma jurídica que nos dá consequência. A falta ou não de capacidade.
Na matéria de DIP, é-nos indiferente isso que nós precisamos é da categorização,
ou seja, partimos os factos para cima e não para baixo, como acontece nas questões
controvertidas. Portanto, a interpretação da premissa menor, se quiserem neste
exercício, é a categorização jurídica da questão de direito material. Ou seja, a situação
de facto ao qual as normas jurídicas, depois darão resposta, haverão de se categorizar
num determinado instituto, numa determinada figura e essa que nós precisamos de
identificar nesta premissa menor - a nossa questão controvertida, ou seja a questão
controvertida para o DIP.

2. E depois o último momento que é, em sentido estrito o momento da subsunção


jurídica.

Perceber se, para aquela questão controvertida, ou seja, para aquela questão de
direito, a que o DIP vai dar resposta, e para o qual elegeu um determinado elemento de
conexão, seja no direito interno, seja no direito estrangeiro, se aplicável direito material
estrangeiro, aquilo que depois nós vamos fazer é um exercício de comparação entre:

Aquilo que o Direito material nos diz.


VS
Aquilo que é a nossa norma de conflitos nos diz.

Ou seja, haveremos de interpretar as normas do direito material que escolhemos


como as competentes para regular aquela questão, e a interpretação que resultar
dessas normas, haverá de ter para passar neste último momento do processo da
qualificação, de coincidir com a interpretação que vamos fazer do nosso conceito
quadro.

Nota, como nós estamos a fazer um exercício de subsunção jurídica, ou seja, de


normas sobre normas, ela, naturalmente, não acontece como nos factos, não se
encaixam literalmente relativamente àquilo que é sobre visão normativa.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Portanto, de 2/1 ou andávamos à procura de normas para o exercício de
subsunção que dissessem a mesma coisa (que era objetivamente impossível), ou então
aquilo que nós temos de ir fazer é: de acordo com a cuida do Professor Ferrer Correia,
fazer uma concreta interpretação de acordo com determinado método jurídico das
normas de direito material VS do conceito quadro das normas de conflito.

E o resultado interpretativo de ambas 2/1:

1. OU é coincidente e nós dizemos que temos subsunção e temos o processo de


qualificação feito
2. OU não é coincidente e não temos processo de subsunção, que significa que não
legitimamos a aplicabilidade daquele direito material estrangeiro.

A questão que aqui se coloca agora é: OK, nós fazemos a interpretação de uma
interpretação de outra e vemos como é que elas coincidem ou não coincidem.

Que interpretação é que nós temos de fazer?

As normas de conflito estas, no limite, não é o mais difícil, porque as normas de


conflito são portuguesas, portanto, qualquer uma das técnicas de interpretação nós
conhecemos.
Se a norma de direito material for português também não temos grandes
dificuldades ainda, porque, (a não ser em situações muito excecionais, porque ele
exemplo que demos ontem na aula da compra e venda entre pais e filhos, avós e netos,
o que quer que seja), o legislador do DIP é um legislador do resto do código civil,
portanto, o legislador do resto do código civil, quando teve em conta as normas de
direito material quando foi redigir as normas conflituais, haverá de ter tido exatamente
a mesma coisa em conta, portanto, elas haverão de coincidir.

No direito material estrangeiro temos 2 problemas. Primeiro, essa coincidência


pode não ser evidente e depois as próprias regras de interpretação dessas normas, é
preciso decidir se fazemos: de acordo com a lei do foro ou se acordo com o direito
material estrangeiro.
Isto porque a própria técnica de interpretação da norma pode não ser
exatamente igual à nossa e é preciso decidir aí também se aplica ao direito material
estrangeiro para a interpretação ou se aplica o direito material português para as regras
de interpretação.

Para além disso, o DIP tem, ou deve, estar preparado, sobretudo quando adota
proposições de sistemas conflituais de normas bilaterais, ou seja, normas que querem
aplicar, tanto o direito português, no caso concreto, como direito material estrangeiro,
aquilo que as norteia não é um favorecimento da lei do foro, mas a aplicabilidade da lei
que estiver mais bem colocada para resolver aquela questão. E qual é essa? aquela que
responde ao princípio que está subjacente à norma de conflito.
Isto significa que o âmbito do conceito quadro, sob pena então de não termos
sequer normas de conflitos para elas, têm de estar preparados para não se limitarem a
institutos jurídicos que sejam homólogos ao ordenamento jurídico português.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Naturalmente que o legislador português quando pensou nas nossas normas de


conflitos, pensou no que escreveu no Código Civil do Artigo 66º em diante, não andou
pelos códigos civis do mundo, e alguns nem sequer tem código civil, a ver todos os
regimes de direito privado para incluir, literalmente, no conceito quadro.

Não havendo regimes homólogos ou regimes portugueses, significa que pode


haver várias questões de direito privado que, se não houver um princípio interpretativo
que não exclua esses institutos, haverá de ser feita uma técnica de interpretação que é
sobretudo valorativa. Ou seja, logo, objetivo para que não se limite a aplicabilidade do
direito material estrangeiro, mormente direito material estrangeiro, cuja sistemática
hermenêutica e organização não seja idêntica à nossa, é preciso que se fuja ao máximo
da letra da lei.
Porque quanto mais ligados estivermos a letra da lei, mais difícil é adotar regimes
jurídicos, mormente aqueles que não têm nenhum tipo de paralelo no ordenamento
jurídico português.

Para além disso, e já que estamos num exercício interpretativo, se as novas


conflitos, como perceberam desde o início, (nota um legislador português de forma
particularmente vincada, como viram pelos artigos 17º, 18º, 19º), as normas estão
preparadas para responder a princípios, a cumprir princípios e a resolver problemas de
conflitos entre princípios - Significa que estas normas de conflitos são valorativamente
orientados.
Isto significa que quando nós fazemos essa interpretação, não podemos fugir ao
princípio que ali está subjacente e havendo conflitos entre princípios, temos de estar
preparados para decidir qual o caminho que vamos seguir nessa orientação.

Portanto, esta interpretação implica que se garanta o afastamento o máximo


possível, da letra da lei, o que é verdade que vai levar como aqui diz a uma certa
indeterminabilidade, o quanto mais fugimos de uma perspetiva positivista, mais
abstrata se torna este exercício de interpretação. Mas que a lei na realidade essencial
para cumprir as finalidades do DIP e, sobretudo, o esquema valorativo que o DIP
responde.

E então como é que nós fazemos isso?

Diz o Professor Ferrer Correia: “Temos que estar preparados, então, para que
nunca, dentro dos limites da interpretação, a interpretação do direito Internacional
privado, se pode limitar ou ficar espartilhado àquilo que são os institutos jurídico-
materiais do foro.”

Ou seja, quando nós interpretamos qualquer um dos conceitos quadro. É


objetivamente impossível não fazer, e ele também não a recusa. Mas quando nós
olhamos para um determinado conceito quadro (…)
O nosso problema é se olharmos com uma norma de conflitos que diz a
capacidade, as relações entre pais e filhos, o casamento. Reparem, nós já não
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
explicamos porque já olhámos para aquilo como uma categoria normativa, do qual
extraímos determinadas consequências.

Para o DIP isto é péssimo, porque a partir do momento em que olham para
aquilo, se não tiverem em consideração a interpretação, que já vamos ver se faz daqui
a pouco, no DIP aquilo que se faz é pôr-lhes umas palas para o lado. Ou seja, já não vêm
mais nada no que tange casamento, por exemplo, que não seja aquele que encontram
no código civil, os efeitos que encontram no código civil, quem pode e quem não pode
casar as limitações.
No DIP é evidente, até porque nós, sob pena não termos um exercício de
interpretação, se nos afastarmos totalmente do texto da lei, tem de manter o mínimo
de correspondência que seja ao texto da lei, sob pena de estarmos no exercício,
arbitrariedade e não de interpretação. Mas, ainda que nós partamos da nossa
interpretação jurídica para os conceitos jurídicos que estão no conceito quadro, não nos
podemos limitar a eles. Porque, senão, não encontramos mais nenhum regime jurídico
que não seja leis estrangeiras que tenham os mesmos regimes jurídicos que nós temos
na sistemática hermenêutica que nós temos. Não é possível interpretá-lo de outra
forma.
Portanto, ainda que partamos dos nossos conceitos de direito material, eles não
são suficientes para nos dar o âmbito da norma. Ou seja, agora precisamos de criar a
tal indeterminabilidade valorativa.

E como é que fazemos isso?

Através de uma interpretação. Vamos buscar o tipo de interpretação ao artigo


15º, a expressão que ali tem: Temos de encontrar o regime do Instituto visado pela
norma de conflitos.
Logo, para efeitos de qualificação, não nos interessa o conceito quadro,
interessa-nos o que é que aquele conceito quadro visa.

Quando tem casamento, relações entre costume e este é o conceito quadro. Para
efeitos de qualificação não nos interessa, pelo menos, o que é que o conceito quadro
diz. Interessa-nos o que é que o legislador quis atingir com aquele conceito quadro.

O professor Ferrer Correia, depois desenvolvido pela Professora Isabel


Magalhães Colaço, que:
“A partir daqui garantimos o exercício de interpretação com um mínimo de
correspondência à letra da lei, (que precisamos mais uma vez como vos dizia há pouco,
sob pena de não termos uma interpretação, estamos num exercício de criação jurídica)
e a interpretação tem que ser feita de forma que aquilo que é o nosso regime de direito
material pelo qual se inicia a interpretação e que nos faz a ligação ao conceito quadro,
não limite o âmbito do regime visado”
Ou seja, a interpretação tem de ser de forma autónoma.

O que é que isto significa?


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Temos de a partir dali nos afastar do que é que o nosso direito material quis, para
o caso concreto. Quais foram as opções que nós no direito material quisemos visar para
o caso concreto. Por isso é que se diz que fazemos uma interpretação de acordo com a
lex formalis fori.
Ou seja, esquecendo o que é que o nosso direito material quer faz, soluciona
opção, se aceita, se não aceita relativamente àquilo. Depois fazemos a interpretação de
acordo com a teoria teleológica ou funcional do professor Ferreira Correia.

Logo, se aquilo que o artigo 15º quer é encontrar o regime do instituto visado,
que não pode limitar a interpretação do conceito quadro à nossa lex materialis fori,
porque interpretação de tem de ser fora do sistema, ou seja, tem de ser de forma
autónoma. A única regra interpretativa que nos permite fazer isso é: a interpretação
teleológica e a interpretação funcional.
A interpretação teleológica da norma, como aprendemos em IED, (é o maior
exercício de abstração que temos na interpretação) é quando não percebendo aquilo
que o legislador quis, vamos buscar qual foi a finalidade que ele visou, relativamente
àquela norma. Temos de encontrar o fim visado pelo legislador.

O fim visado pelo legislador, associado, desde logo, ao princípio que está
subjacente aquela norma de conflitos, vai nos permitir o tal exercício de
indeterminabilidade. Isto porque, a partir de uma determinada altura, nós já não
estamos à procura do casamento, já estamos à procura de o que é que o legislador quis
quando pensa no casamento, nomeadamente em DIP. Quis tratar de quê? De situações
em que 2 ou mais pessoas, agora tem o mundo todo a vossa frente. Querem constituir
uma família. Sem tem contratos com União de facto, são 2 ou mais, são do mesmo
género, são do género diferente, aquilo que nós queremos encontrar é o que é que
significa o casamento.

Nota: Precisamos de garantir o mínimo de ligação com a letra da lei, portanto,


nesta interpretação tem de caber tudo, incluindo o nosso próprio casamento, nosso
próprio no sentido que nós temos previsto no Código Civil, senão é um exercício de
abstração total, nem sequer nosso lá cabe.

Portanto, o que é que o legislativo com o casamento?

Quis identificar uma forma através de um contato de pessoas, de constituírem


família.
Para nós, tem de ser 2 maiores de idade, do mesmo sexo ou de sexos diferentes.
Acabamos de ultrapassar o problema, a partir de agora já não andamos à procura
de um contrato de casamento, estamos à procura de qualquer situação jurídica em que
o legislador qualquer reconheça que determinadas pessoas naquilo que é a relação
jurídica, seja lá por que forma for, de maneira que seja reconhecida, constituiu uma
família.

Isto permite o quê?


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Permite sair do regime, do instituto, dos efeitos, das limitações, para passarem
a encontrar o fundamento jurídico que leva o legislador a estabelecer aquele conceito
quadro, ou seja, o regime visado pelo legislador.
O regime visado pelo legislador quando ele diz casamento é, para os ornamentos
jurídicos que o têm, mas ele não pode limitar a aplicabilidade de ordenamentos jurídicos
que não têm a figura que eu tenho uma forma diferente.
O que significa que temos de adotar exercícios de interpretação teleológica.
São os mais difíceis de encontrar, porque implica perceber a razão pelo qual o
legislador estabeleceu aquele regime no caso concreto.

E depois com essa interpretação, temos de fazer o quê?

1. Temos a questão controvertida.


2. Temos aquilo que o nosso legislador quis quando estabeleceu aquele conceito
quadro.
3. Vamos ao ordenamento jurídico estrangeiro e nota, não buscar lá qualquer coisa,
só vamos buscar as normas jurídicas que permitem resolver aquela questão
controvertida.
4. Trazemos aquelas normas jurídicas – QUID.

O QUID são as normas do direito material do ordenamento jurídico eleito, que


estão no artigo 15º, quando diz que “são algumas normas que vêm para o ordenamento
jurídico português para resolver a questão”.

O que é que fazemos com o QUID?

Agora temos de fazer a mesma coisa que fizemos relativamente ao conceito


quadro.
A questão que se coloca é que se o conceito quadro, se estas normas de
materiais, ou seja – QUID, se for direito português, naturalmente usamos as nossas
regras de interpretação, nomeadamente também a interpretação pelo teleológica, para
descobrir o que é que o legislador quis com aquelas normas de direito material.
Naturalmente, que este exercício que aqui está é o mais extremo que podem ter
para não afastar a aplicabilidade do direito material estrangeiro.

Se estiverem a resolver o problema da validade de um casamento, e aplica-se


direito material português, os senhores não precisam de fazer interpretações
sociológicas sobre o que é o casamento. O casamento na norma de conflito, o conceito
quadro é o mesmo casamento que no artigo X do código civil, é interpretação literal.
Se tiverem um casamento no ordenamento jurídico espanhol que adota a
mesma sistemática do Código Civil português, que também reparem, apesar de ser
direito material estrangeiro, eles têm casamento, nós temos casamento, é exatamente
a mesma coisa.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Esta questão ganha particular cuidado quando nós começámos a distanciar-nos
sistemas jurídicos homólogos aos novos, e a questão é que não podemos deixar de
aplicar a lei porque estamos a limitados na interpretação aos nossos sistemas jurídicos.
Se eles forem iguais aos nossos, ótimo, a interpretação é literal da norma, não
precisam de grande coisa.

Mas se for direito português, naturalmente, que a interpretação é feita de


acordo com o direito português.
Se for direito material estrangeiro, a questão que se coloca é, como é que se
interpreta o QUID. Neste caso concreto o legislador é claro e nos termos do artigo 23º
do Código Civil a regra é:

Artigo 23.º
Interpretação e averiguação do direito estrangeiro
1. A lei estrangeira é interpretada dentro do sistema a que pertence e de acordo com
as regras interpretativas nele fixadas.
2. Na impossibilidade de averiguar o conteúdo da lei estrangeira aplicável, recorrer-se-
á à lei que for subsidiariamente competente, devendo adotar-se igual procedimento
sempre que não for possível determinar os elementos de facto ou de direito de que
dependa a designação da lei aplicável.

Logo, quando se considera competente lei estrangeira, para efeitos de


qualificação, ou seja, para efeitos de interpretação do QUID, as normas interpretativas
desse ordenamento jurídico estrangeiro também podem vir. Logo, se olharem para o
artigo 23º, nós interpretamos a lei estrangeira, como se fosse um jurista dessa lei
estrangeira. Portanto, as regras de interpretação da lei estrangeira são aquelas que são
usadas nesse ordenamento jurídico estrangeiro.

Salvaguardando o que aquilo que está no número 2. Ou seja, se não


conseguirmos de todo fazer exercícios de interpretação, não conseguimos fazer com
que a lei passe o processo de reenvio, portanto temos de voltar ao esquema inicial da
aplicabilidade da lei 5 e no limite, se não consigo nenhuma dessas, a lei do foro, se for o
caso.
Mas não se for lei estrangeira, é interpretada de acordo com as regras de
interpretação da lei estrangeira. Naturalmente, nesta questão, ser-lhes-á
expressamente referido o que deverão fazer para efeitos de interpretação, porque,
naturalmente, não conhecem os códigos civis, nos outros ordenamentos jurídicos,
portanto, essa questão será expressamente referida. O objetivo é exatamente esse, é
fazer ou tentar, de acordo com as regras de interpretação dessa lei estrangeira e
portuguesa, perceber o que é que o legislador estrangeiro, no caso concreto, visou com
aquela norma diretamente.

E, depois desse exercício de interpretação, notem, haveremos de chegar àquilo


que foi a finalidade visada pelo legislador da nossa norma de conflitos e a finalidade
visada que o legislador da norma de direito material.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Chega agora o momento do 3º exercício de subsunção propriamente dito, que é:
Se o fim ou interesse visado, pelo legislador do QUID, ou seja, das normas de direito
material, se subsumir no fim o interesse ou visado pelo nosso legislador das normas de
conflitos, do conceito quadro das nossas normas de conflitos, então temos a subsunção
feita. Ou seja, ambos os legisladores, m para o direito material outro para o direito
conflitual, tiveram o mesmo interesse em vista e visaram o mesmo objeto.
Se for esse o caso, temos subsunção. Se não for esse o caso não temos
subsunção, não temos qualificação, voltamos para trás.

De onde é que se retira essa parte?

Daquela expressão que é o que está entre vírgulas.


“Abrange somente as normas que, pelo seu conteúdo e função”.

O que é que se deve interpretar pelo seu conteúdo e função?

Que as regras de interpretação do QUID e do conceito quadro, deram origem às


mesmas finalidades de ambos os legisladores. Se isso for o caso o seu conteúdo de
função, o QUID integra a nossa regra de conflitos.
Se as finalidades e interesses forem diferentes, o QUID não integra o conceito
quadro, não há qualificação.

Nota, aquele tal exercício que fizemos ontem. Se se recordam, na compra e


venda entre pais e filhos, aquilo que nós fazemos, (estamos a falar do direito português)
nós chamamos uma lei aplicável, que é a lei portuguesa, para resolver a questão da
validade de um contrato em que um comprador é o pai, o vendedor, é filho.

O que é que nós vamos fazer?

Se usarmos o artigo 41º, vamos interpretar o que é que o legislador quis com um
conceito quadro do artigo 41º. E aquilo que o legislador quis, na interpretação de
teleológica ou funcional, quanto à teoria do professor Ferrer Correia, foi de tratar das
vicissitudes do quê, da constituição, do cumprimento ou incumprimento de um
determinado negócio jurídico.

Se agora formos interpretar o QUID, que é de direito português, e se olharmos


para o artigo 877º do CC, aquilo que nós percebermos é que o legislador com o 877º
quis não foi tratar questões de validade, cumprimento ou incumprimento do contrato,
aquilo que ele quis, naquele caso concreto, foi acautelar alguns dos efeitos mormente
sucessórios, que decorrem das eventuais relações jurídicas que se estabelecem entre
pais e filhos. Ou seja, quando chegam ao momento da subsunção propriamente dita,
aquilo que dizem é que o legislador no 877º visou acautelar efeitos familiares,
sucessórios propriamente ditos, parentes na linha reta.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se forem para o artigo 41º, o legislador quis acautelar as matérias do estatuto de
obrigacional – Constituição, cumprimento, eventual incumprimento de relações
jurídicas em geral.
Isto significa que aquilo que legislador do DIP visou e aquilo que o legislador da
norma de direito material visou, foram coisas diferentes. Isto significa que a legitimidade
que resulta para aquele conceito quadro, para chamar aquelas normas de direito
material, não está comprido. Ou seja, nós só queremos chamar a lei aplicável àquele
caso concreto, se ela cumprir a finalidade pelo qual o legislador estabeleceu no seu
conceito de quadro que podia ser cumprida com aquela lei à Estatuto obrigacional.
Se aquela lei, a resposta que lhe dá é a finalidade do estatuto pessoal, familiar
concretamente, significa que a finalidade da norma de conflitos, quando elogio aquele
elemento reconexão, não está cumprido, ou seja, não se legitima.
Porque o legislador do DIP quer cumprir uma finalidade do estatuto obrigacional
e a norma de direito material do elemento de conexão, não cumpre. Porque cumpre
outra finalidade qualquer, ótimo, mas aquela não.

Significa o quê?

Se aquele elemento de conexão, ou seja, se aquela lei é chamada porque tem


em conta o princípio da maior proximidade, portanto é aquela que está mais bem
colocada para responder ao interesse visado por aquele conceito quadro, quando o
outro lado que vem a resposta com o princípio da maior ligação individual, nós dizemos
“ótimo”, mas o princípio da maior proximidade não está a cumprido.
Portanto, não conseguimos legitimar aplicabilidade com aquela norma de
conflitos, relativamente àquele direito material. Portanto não aplicamos no caso
concreto.

No direito português é, ressalvadíssimas exceções como esta, é particularmente


simples. O legislador do DIP é o legislador do resto. Portanto, a não ser que esta norma,
por exemplo, é particularmente usada no direito português, porque as pessoas
percebem que o legislador inseriu mal sistematicamente
Ou seja, ele pula no livro das obrigações, quando o problema é claramente
sucessório, portanto, ela devia estar no livro das Sucessões. Quando nós olhamos para
877º livro das obrigações, portanto, é um problema obrigacional, problema do artigo
41º é lógico. A organização implica este tipo de raciocínio. Mas notem, porque ela está
mal inserida sistematicamente, esta própria norma de direito material português não
subsume no seu próprio conceito quadro.

Portanto, imaginem quando tiverem direito material estrangeiro, ainda por cima
quando não tem regimes homólogos ao português e por isso é que o exercício de
interpretação, quanto mais elástico conseguirem, quanto mais conseguirem expandir
esta elasticidade, mais abrem no âmbito do conceito quadro, que é particularmente
importante.
Porque senão estão constantemente a reprovar as normas de direito material
estrangeiro, porque elas não têm paralelo com o direito material português.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
(É um exercício muito interessante, mas naturalmente, mas no caso prático
alguém terá de dizer o que é que o legislador nos diria, no caso concreto, sob pena,
naturalmente, de não conseguirem entender.
Mas aquilo que eu preciso, e essa aí no ultrapassável, as normas de conflitos e o
conceito quadro essas têm de conseguir interpretar, porque são de direito português.
Portanto, aconselho vivamente que a técnica é interpretação teológica saber
exatamente como é que se faz uma interpretação teleológica.
Portanto, encontrar a finalidade visada pelo legislador para aquela norma
jurídica, quanto mais quanto maior for a abstração que conseguirem fazer uma maior
possibilidade tem de expandir, que é esse o objetivo do DIP que é o âmbito do
conceituado, senão depois não conseguem fazer os exercícios de subsunção.)

25.10.2023 (T)

LIMITES À APLICAÇÃO DO DIREITO ESTRANGEIRO

A lei aplicável implica não só determinar qual a lei competente, mas também a
qual a lei aplicável e depois dentro da lei aplicável quais as normas jurídicas que
resolvem a questão controvertida relativamente aos quais é preciso um processo de
legitimação, através do processo da qualificação e só nesse momento, não o
ordenamento jurídico da lei aplicável, mas sim essas normas em particular de passar no
processo da qualificação é que podem ser chamadas e serão utilizadas nesse caso
concreto, para resolver a questão controvertida. Sejam normas do foro, direito material
do foro, seja naturalmente de direito material estrangeiro e neste último caso por
maioria de razão.

Os efeitos da técnica jurídica, essas normas de direito material estrangeiro, não


são recebidas no ordenamento jurídico do foro, no caso no OJ português, elas são
aplicadas não como normas de direito material estrangeiro, que foram recebidas pelo
direito material português, portanto, normas de direito português, elas são aplicadas
como normas estrangeiras que passaram pelo processo de qualificação, nos termos do
artigo 15º. Portanto, nesse momento, aquele segundo grande elemento da
determinação da lei aplicável ao caso concreto, fica concluído e, em princípio, será então
essa a solução de direito material que se vai aplicar ao caso concreto.

Tal pode não acontecer, porque excecionalmente depois de aplicarmos esse


direito material estrangeiro que está legitimado, mesmo assim, com a solução material
podem emergir conflitos com outros princípios que são, ou que fazem parte do âmbito
do DIP, o mais paradigmático diz respeito ao Princípio do favor negotti, nos seus vários
elementos (proteção do comércio jurídico local, a proteção da concorrência), mas
efetivamente, enquanto tal existem também (agora numa outra vertente), aquilo que a
doutrina chama “limite à aplicação do direito material estrangeiro”, em que neste caso
não se suscita diretamente um problema com outros princípios de DIP, mas sim, com a
denominada ordem pública do Estado do foro.

A ordem pública do Estado do foro, apresenta-se, então, como um limite à


aplicabilidade de direito material estrangeiro e está prevista no artigo 22º do CC. De
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
notar, que a ordem pública que não sendo estranho enquanto conceito ou instituto, no
direito privado, a ordem pública justifica as supressões ou compressões à autonomia da
vontade , ou seja, as regras imperativas que resultam no âmbito do direito privado, em
que o princípio regra é a autonomia da vontade, ou seja, não estando proibido as
pessoas podem, no âmbito das relações jurídicas, podem fazer aquilo que entenderem
e produzir os efeitos que pretender.
As normas imperativas no âmbito do direito privado podem ter diversos
fundamentos ou manifestações, nomeadamente, quando há interesses de outras partes
e também quando há razões de ordem pública ou de interesse público que estejam
associadas (por exemplo, a conexão relativa aos negócios jurídicos, temos
manifestações de normas imperativas que dizem respeito a obrigatoriedade de seguir
uma determinada forma, ou seja, os negócios estarem sujeitos a autonomia da vontade
– a liberdade de forma -, mas uma forma legalmente admitida, por razões de ordem
pública).
São esses interesses públicos que se manifestam, também no âmbito de direito
privado, que justificam por razões de ordem pública algumas soluções legais.

O princípio também tem manifestações noutros institutos do direito,


nomeadamente, nos limites ao exercício dos direitos ?, por exemplo, a questão típica do
abuso de direito. Por exemplo, a ordem pública a manifestar-se de alguma forma como
um limite ao exercício de um direito e se é um exercício de um direito, em princípio será
sempre lícito, a não ser por razões de ordem pública, em que conflituem com o exercício
do direito.

Notem, aquilo que falamos em DIP, 1º não é isto. O conceito de ordem pública
que temos em DIP e que está expressamente previsto no artigo 22º, não é comparável
com as razões de ordem pública que temos no direito material. Apesar de terem o
mesmo nome, resultam da mesma visão do legislador, os conceitos, os efeitos e as
consequências jurídicas são diferentes. Por um lado, no âmbito do direito material, no
direito interno, o que está em causa é salvaguarda de outros interesses privados,
relativamente ao qual o legislador entende terem de ter uma proteção acrescida, ou
então, razões de interesse público, que o legislador, naturalmente, pretende acautelar.

No âmbito do DIP, a ordem pública internacional, ou a comumente designada,


reserva de ordem pública internacional, manifesta-se de uma outra forma.
A reserva de ordem pública internacional, e, por isso, é que ela não é comparável
em termos de técnica jurídica àquilo que tem acontecido com as soluções de diversão
que o legislador adota, nomeadamente, na ponderação dos princípios como do favor
negotti, em que altera conexões, usa exceções perentórias, o que quer que seja, a
reserva de ordem pública internacional, manifestando-se no DIP, não é tecnicamente
um problema de DIP. É um problema de direito interno de cada um dos Estados.
Ou seja, a ordem pública que tem o artigo 22º que é a ordem pública
internacional, não é de direito internacional, nem ultrapassa a lei do foro, apesar do
nome, ela existe porque existem relações jurídicas internacionais, relativamente às
quais o legislador português adota uma solução conflitual, com normas de conflito
bilaterais, ou seja, que permitem a cada caso concreto, a aplicabilidade de lei
estrangeiro no OJ do foro, para dar uma solução de direito material.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Mas esta ordem pública internacional, é um instituto jurídico puramente interno


com considerações exclusivas da lei do foro. Ainda que não seja inteiramente verdade
esta informação, apesar de estarmos a falar de ordem pública internacional, ela não tem
a ver diretamente, com o direito internacional, ou com o DIP, ela tem exclusivamente a
ver com o direito interno do foro. Isto significa que a reserva da lei internacional só se
coloca enquanto uma questão juridicamente relevante para a lei do foro, ou seja, para
a lei do lugar onde a questão está a ser apreciada. Ou seja, a ordem pública internacional
só pode ser invocada enquanto limite à aplicação de direito material estrangeiro, pela
lei do lugar onde a questão controvertida vai ser decidida. Porque é na lei do foro que
se vai efetivamente aplicar direito material estrangeiro.

§ 2º elemento característico da ordem pública internacional.

Ela só se suscita, por imperativo do direito do foro, quando o direito do foro é,


no âmbito do processo conflitual, confrontado com a aplicabilidade do direito material
estrangeiro, ou seja, não se invoca a ordem pública internacional como limite à
aplicabilidade do próprio direito do foro.
Ou seja, no Estado português, se é no OJ português que a questão controvertida
está a ser decidida, portanto, o OJ português é também a lei do foro, se no âmbito do
processo conflitual se limita a aplicabilidade do direito material português, L1 considera-
se competente, ou aceita a devolução e aplica-se no caso concreto, ela não pode invocar
a reserva de ordem pública internacional para limitar a aplicabilidade do seu próprio
direito.

Isto acontece, quando a reserva de ordem pública internacional se verifica


sempre que na lei do foro que aplica direito material estrangeiro que é ou tem uma
solução material diferente do direito do foro.

Se o DIP não quer saber, por regra, da solução material estrangeira ou a solução
material, seja ela qual for, nomeadamente, estrangeira e enfim, se o objetivo do DIP e
do processo conflitual é escolher a lei que está melhor colocada, de acordo com o
processo para resolver a questão, se nós limitarmos a aplicabilidade de direito material
estrangeiro a uma solução diferente, daquela que existe na lei do foro, significa então
que aquilo que estamos a fazer é, efetivamente, ainda que com um longo processo
conflitual a, de uma forma adaptada, dar origem a normas unilaterais que estivessem
constantemente a direcionar para a lei do foro. A questão não é essa.

A ordem pública internacional, suscita-se sempre que do direito material


estrangeiro tem uma solução diferente da solução do direito material do foro. A questão
não está em absoluto na existência da diferença, mas na qualidade da diferença.
Notem, quando afirmamos “qualidade” é para evitar a ideia que a questão não
é absoluta, é mensurável. As soluções têm de ser diferentes, porque se forem iguais não
se coloca o problema. Mas a questão não é elas serem diferentes, é o quão diferentes
elas são. É nessa medida qualitativa, ou seja, no fundamento da diferença que,
eventualmente, poderá funcionar o artigo 22º do CC.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Para efeitos de DIP, não sendo uma das finalidades ou princípios de DIP, é um
princípio que o DIP reconhece a todos os Estados por forma a impedir por causa do
processo conflitual de DIP, os Estados se vejam confrontados com a aplicação de
soluções materiais que não habitem na sua ordem jurídica e que, portanto, são
diferentes.

Tanto assim é, que todos os casos de DIP que encontremos, encontraremos esta
cláusula ou exceção de salvaguarda, que os Estados que permitem a utilização do
processo conflitual para resolver conflitos de leis no espaço, não se vejam confrontados
com a obrigação de aplicar direito material estrangeiro, que não admitiam aplicar no
caso concreto.

Qual é a grande questão relativamente à ordem pública internacional?

É, se o critério para invocar a ordem pública internacional nos termos do artigo


22º, ou seja, se efetivamente ela existir limitar a aplicabilidade de direito material
estrangeiro no caso concreto, ou seja, aquele que escolhemos, passamos pelo processo
da qualificação e vimos que aplicamos ao caso concreto, mas que agora neste 3º
elemento vamos decidir outra vez que já não vamos aplicar, se a questão não está na
diferença das questões de direito material, mas sim no quão diferentes elas são, a
questão que se coloca é, então como é que se encontra o critério para determinar essa
medida da diferença?

O conceito é indeterminado e depende das circunstâncias do caso em concreto.

Primeiro, pressuposto base que até agora já sabemos: é indiferente, por regra,
que a solução de direito material estrangeiro não coincida com a solução de direito
material do foro. Nem sequer é preciso que o direito material do foro tenha aquela
questão jurídica, reconheça aquele instituto ou figura jurídica e, portanto, ela seja
totalmente omissa no OJ do foro, é absolutamente indiferente ela ser diferente. Ou seja,
não é a diferença enquanto solução material, por parte dos legisladores que vai ditar a
utilização ou suscetibilidade de aplicação desta cláusula.

A questão reside naquilo que é diferente. Para este efeito, para efeitos do artigo
22º, aquilo que se entende é, que no âmbito desta diferença existe para determinadas
soluções um núcleo essencial que apesar das soluções serem diferentes, não pode ser
posto em causa pela solução material de direito estrangeiro.

Por exemplo, dizer que a maioridade em Portugal se atinge aos 18 anos, aquilo
que o legislador visa no OJ português e no OJ estrangeiro, apesar das soluções serem
diferentes, nem sequer tem uma única diferença quanto aos efeitos jurídicos a
salvaguardar, ou seja, os legisladores entendem que a maioridade para efeitos de
capacidade de exercício depende de uma determinada capacidade natural e o legislador
português, para proteger o próprio menor, o legislador português entende que é aos 18
o legislador estrangeiro entende que é aos 21. Nada contra relativamente a isso.
A questão que se coloca é, no âmbito de uma determinada solução jurídica que
implica que dentro dessa solução jurídica os legisladores possam variar no sentido da
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
decisão, nos requisitos, nos critérios, nas soluções jurídicas, etc., há sempre um núcleo
essencial (falamos da ordem pública do foro, da ordem pública portuguesa), o legislador
português considera essencial. Ou seja, cada solução, seja igual à portuguesa, seja
diferente da portuguesa, tem sempre de garantir que esses núcleos essenciais está a ser
garantido.

A questão que se coloca é, que núcleo essencial e de quê? Bom, aquilo que se
entende como sendo o núcleo essencial de solução jurídica que conflitua com aquela
que é a solução jurídica material do foro, é aquela cuja diferença põe em causa, valores
essenciais, ou seja, os valores fundamentais.

Que valores são esses?

Valores que têm desde logo, uma fonte muito importante, com um valor
constitucional, portanto qualquer solução de direito material que sendo diferente
daquela que é determinada pela ordem pública portuguesa, mas a diferença implica
uma violação de princípios constitucionais português, implica uma violação da nossa
ordem jurídica.

Sendo verdade que a ordem pública internacional tem a ver com o direito interno
português, não é bem verdade. Se uma das fontes destes valores essenciais (a principal
fonte), nomeadamente, quando estamos a tratar de direito privado, estamos sobretudo
a tratar de direitos, liberdades e garantias e do afloramento dos direitos de
personalidade, portanto, temos sempre a principal Carta de Direitos Fundamentais, nos
termos do artigo 8º, Portugal recebe todas as regras de ius cogens para além dos direitos
fundamentais terem de ser fundamentados de acordo com a Declaração Universal de
Direitos Humanos. São textos de direito internacional, naturalmente que há aqui uma
componente de direito internacional, ainda que de uma forma ou de outra seja tida pela
ordem jurídica portuguesa. Não é verdade que é só um problema de direito interno,
também pode haver um problema internacional quando estamos a tratar ao nível dos
direitos humanos ou da interpretação da constituição ao nível dos textos internacionais,
mormente, na DUDH.

Dentro deste núcleo duro, daquilo que reside a essência da ordem jurídica
portuguesa, encontramos os princípios vinculantes para o legislador. Ou seja, se o
legislador português, tem de atuar e procurar soluções legais (podem ir num sentido ou
noutro, tem é de estar de acordo com a CRP, sob pena de nem sequer direito português
se aplicar no caso concreto, em Portugal os Tribunais não estão obrigados a aplicar
normas que considerem não conformes com a CRP). A reserva de ordem pública,
garante, quando estamos a aplicar direito material estrangeiro que o julgador no caso
concreto, também não aplicará uma norma.
Notem, o direito material estrangeiro não é recebido no OJ português, porque
se fosse o julgador não tem forma de fazer alinhar a solução de direito material
estrangeiro com a CRP, porque o direito material estrangeiro não tem de estar
conforme à CRP.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Com isto, consegue encontrar na solução, ou pode encontrar uma solução de
direito material estrangeiro, que não é por ser diferente da solução de direito material
português, é porque a diferença da solução de direito material estrangeiro, implica uma
violação dos Princípios conformadores do Estado, que estão designados na CRP.
Por exemplo, um divórcio em Portugal de um casal muçulmano, em que de
acordo com a lei aplicável ao caso concreto, conclui-se que a senhora não tem o direito
a pedir o divórcio, mas ele tem. É uma solução diferente da nossa, nada a opor, ou seja,
em abstrato não há nenhum juízo de valor que se esteja a fazer à solução enquanto
norma geral e abstrata, agora no caso concreto, se daquela solução nós limitarmos o
exercício de direito à extensão do contrato de casamento, fundado no género da
outorgante, significa que estamos a violar um dos princípios essenciais do Estado
português, o Princípio jurídico que é, não há discriminação em razão do género.

Isto significa que neste caso concreto, podemos limitar a aplicabilidade do direito
material estrangeiro.

O conceito é particularmente, elástico, primeiro porque sendo verdade que os


princípios essenciais, os princípios conformadores à ordem jurídica portuguesa,
resultam diretamente da CRP, a verdade é que o legislador não se limitou a essa fonte
os valores essenciais do Estado, ou seja, nada impede que no caso concreto, se
encontrem esses valores essenciais em fontes infra legais, nomeadamente, no próprio
CC.

Exemplo, na CRP é proibido o casamento poligâmico. Toda a gente tem o direito


a casar e a constituir família. O legislador português é particularmente liberal. Desde a
Constituição de 76 que não se associa o direito a constituir família, a família
matrimonializada. A Convenção Europeia de Direitos Humanos, o direito à constituição
a família depende do matrimónio, as outras formas de constituir família não entram no
direito a casar e constituir família, mas no direito à vida privada e familiar. Foi necessário
que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, nos termos do artigo 8º, fazer várias
intervenções para aumentar o âmbito daquilo que era a previsão normativa da vida
privada, para além das famílias matrimonializadas.
Não há nenhum tipo de limite àquilo que é uma forma de casamento, que implica
várias pessoas. Nada dizia na CRP de 2 pessoas do mesmo sexo casarem. Isso tinha a ver
com a interpretação que este Estado representa no conceito de família
matrimonializada.

O CC, altera no que tange ao casamento de pessoas do mesmo sexo e a CRP no


seu artigo que todos têm direito a casar ou a constituir família, não sofreu nenhuma
alteração. Ou seja, a previsão normativa da CRP, já permitia que 2 pessoas do mesmo
sexo casassem, apesar do CC dizer que até à alteração legal não podiam. Isto significa,
que depende particularmente, daquilo que é a interpretação que em cada Estado, em
cada momento, as pessoas fazem daquilo que são os princípios e os direitos.
É preciso que haja alguma evolução social para se expandirem os conceitos e
para deixarem entrar outras realidades que até então não existiam.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Se a nossa fonte fosse exclusivamente a CRP, aquilo que nós dizemos,
nomeadamente, quanto ao casamento poligâmico é que o casamento com mais de 2
pessoas, se existir, implica necessariamente reconhecer aquela forma que para nós não
é aceitável, mas que para eles é, que há ali uma família.
Completamente estranho àquilo que a nossa família e na perspetiva jurídica e
cultural adota no casamento, mas há ali uma família. Se a segunda mulher deste senhor
quiser vir para Portugal porque o marido está cá, ela vem. Coisa diferente é, se nós lhe
reconhecemos o casamento.

Isto significa que a nossa perspetiva relativamente a, primeiro, ao


reconhecimento da família como sendo um elemento essencial a instituição da ordem
jurídica, a fazer parte do núcleo essencial daquilo que estado tem de conhecer, proteger
e salvaguardar, a perspetiva de casamento que nós temos não é ditada pela CRP, é
ditada pelo CC. Isto significa que a fonte no caso concreto, relativo à interpretação em
concreto de que é um valor essencial não está na CRP, está no CC, que é a existência de
um contrato entre 2 pessoas. A suscetibilidade entrarem outras, implica a dissolução do
vínculo matrimonial anterior.

Se não existirem, a poligamia é crime. Assim vemos ao nível que o legislador


eleva este valor essencial, que o reconhece depois como um bem jurídico digno do
Código Penal, carecido de tutela penal. Mas a fonte que está subjacente à interpretação
do que é uma família matrimonializada vem diretamente da CRP. Isto significa que a
ordem jurídica, em termos de definição possível, não é mais do que o núcleo essencial
dos valores que configuram a ordem jurídica de cada estado do foro.

Sendo que, nunca há na utilização da cláusula do artigo 22º um juízo valorativo,


ou seja, não olhamos para um OJ estrangeiro e dizemos que não aplicamos porque tem
umas normas que não me agradam, no limite, nada impede que aquela solução de
direito material estrangeiro diz que a mulher não pode pedir o divórcio se aplique em
Portugal. Se for o homem a pedir o divórcio já não se coloca problema nenhuma. Ou
seja, tem de ser aplicada uma determinada norma de direito material estrangeiro num
caso concreto, e da aplicabilidade dessa norma é que resultem consequências ou efeitos
jurídicos que põem em causa valores que nos são essenciais.

Isto significa que nós conseguimos em abstrato explicar quais são esses valores,
que variam ao longo do tempo – a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo
é uma questão de evolução e maturação social, a questão da adoção relativa a
homossexuais, ou a solteiros, é também uma questão de evolução de ampliar aquilo que
é o núcleo de cada um dos direitos -, só se consegue ver de acordo com a aplicação no
caso concreto. Portanto, a verificação da existência de uma violação de ordem pública
depende necessariamente daquilo que são as circunstâncias do caso concreto e da
existência (ou não) no caso concreto da efetiva violação ou compressão de um valor que
nos é essencial.

Se isso acontecer, diz o artigo 22º que a questão se resolve desta forma: Princípio
do mínimo dano, ou seja, afasta-se a norma de direito material estrangeiro que ofende
a nossa ordem pública (exercício valorativo), as outras que existem (podem ser várias),
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
não se afastam, só aquela que implica uma violação a nossa ordem pública, se se afastar
essa norma em concreto e não se gerar para a resolução da questão controvertida uma
lacuna, isto é, não ficarem questões por resolver, então continuasse a aplicar direito
material estrangeiro.
Princípio do mínimo dano, o limite não é imediato, primeiro tenta-se fazer um
exercício interpretativo do direito material estrangeiro, afasta-se a parte que ofende a
nossa ordem pública, se o resto existente enquanto solução jurídica conceber uma
solução de direito material, nós aplicamos sem problema nenhum. Se isto não for
possível, ou seja, se afastarmos aquela solução de direito material estrangeiro e
continuarmos com a questão controvertida por resolver, esquecemos tudo o que
aplicamos até então, porque aplicamos a lei do foro, aplicando-se L1.

26.10.2023 (T)
RESERVA DE ORDEM PÚBLICA INTERNACIONAL

Nos termos do artigo 22º do CC, funciona também aí a aplicabilidade do direito


estrangeiro, no âmbito do processo valorativo ou conflitual, até à determinação da lei
aplicável (que como já sabemos, não é só determinar a lei competente), depois tem de
haver ainda o processo de qualificação.
A reserva de ordem pública internacional é, exclusivamente, para limitar a
aplicação de direito material estrangeiro, ela não funciona contra a própria ordem
jurídica do foro, serve, então para limitar a aplicabilidade de direito material estrangeiro,
que de outra forma, ainda que ele servisse princípios e valores essenciais à ordem
jurídica do foro, neste caso à ordem jurídica portuguesa, o julgador ou a autoridade
pública que estivesse a aplicar a estatuição normativa de direito material estrangeiro,
não teria forma de evitar, porque o direito material estrangeiro não é recebido pelo
ordenamento jurídico português, naturalmente quando o direito material estrangeiro
não obedeça aos princípios conformes da constituição.

O legislador usou mecanismos que estão previstos no artigo 22º do CC para desta
forma se limitar a aplicabilidade de direito material estrangeiro.
Percebemos que este conteúdo de reserva de ordem pública internacional do
Estado do foro, é um conceito altamente indeterminado, particularmente elástico e
volátil. Desde logo, cada Estado tem a sua própria ordem pública internacional e para
além disso, dentro de cada Estado aquilo que é a defesa de valores de princípios
essenciais de um Estado é limitável ao âmbito da culpa (?).

Apesar de ser uma questão de cada posição de cada ordenamento jurídico


interno daquilo que esse ordenamento jurídico equaciona, daquilo que são os
elementos essenciais que o caracterizam, ele não tem de estabelecer ? sendo que a
principal fonte é a própria lei fundamental do Estado, mas que essa lei fundamental
recebe textos de direito internacional, em que a interpretação dela é feita de acordo
com textos de direito internacional, em particular da DUDH.
Para além disso, Portugal circunscreve-se numa união de Estados, que é a UE e
como sabemos também, no âmbito daquilo que é a UE a interpretação de alguns dos
princípios essenciais, tem de se fazer de conta tendo em conta os princípios da própria
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
união, portanto, a limitação ou a compressão de alguns desses princípios também tem
de ser fazer de acordo com aquilo que nestas matérias o direito da União contém, a não
ser que haja permissão para legislar sobre estas matérias.

Nas matérias de DIP aquelas que é mais comum encontrar as questões relativas
à ordem pública, nomeadamente, em direito privado, da família, das sucessões, o direito
da UE não se imiscui diretamente nessas questões, mas, não obstante, a interpretação
do tribunal tem de ser feita, de acordo com esses mesmos princípios valorativos.

Se existindo, podemos pôr limite à aplicabilidade de direito material estrangeiro,


nos termos do artigo 22º faz-se de acordo com o Princípio do mínimo dano, ou seja,
não há uma recusa, ou deste limite é mensurável, o que significa que ele só será uma
limitação em absoluto para a aplicabilidade de uma lei material estrangeira se não
conseguirmos encontrar uma solução para a aplicar o direito material estrangeiro, de
forma a que não ponha em causa a nossa ordem pública, quer através de discordar de
uma norma de direito material que afeta a nossa ordem pública, desde que isso não dê
origem a uma lacuna, ou então gerar, nos termos do artigo 23º interpretações de acordo
com o direito material estrangeiro, de forma a aplicar as soluções desse direito material,
de forma a que não ponham em causa os nossos princípios ou valores essenciais que
estão aqui associados à ordem pública.

Só nas situações em que há uma absoluta impossibilidade de garantir a


aplicabilidade de direito material estrangeiro, uma vez que, seja como for, da sua
aplicabilidade resulta, naturalmente, a violação da ordem pública internacional, é que
no limite será de recusar a aplicabilidade de direito material estrangeiro, sendo a
questão controvertida resolvida de acordo com o direito material do foro.

Não obstante, não se volta a aplicar outra vez o direito material estrangeiro, cuja
aplicabilidade acabamos de limitar nos termos do artigo 22º do CC. Todo este processo,
em que excluímos a aplicabilidade de direito material estrangeiro, recusamos porque
viola a nossa ordem pública e aplicaremos direito interno português, a não ser que se
verifique agora outra coisa e voltemos o mesmo direito material estrangeiro.

Notem, o direito material estrangeiro que nesse caso nós vamos aplicar, é o
mesmo que nós recusamos a aplicabilidade momentos antes, porque viola a nossa
ordem pública internacional. Então nós aplicamos direito material estrangeiro e já
tentamos de várias formas, mas ele está constantemente a violar a nossa ordem pública,
como? Interpretá-lo de forma que ele não viole a nossa ordem pública, mas há situações
em que mesmo o direito material estrangeiro que viola a nossa ordem pública, o
julgador vai admitir a sua aplicabilidade no caso concreto.

Que situações são essas?

Elas não estão, naturalmente, previstas no artigo 22º do CC, portanto, é uma
construção puramente doutrinária e aquilo que a doutrina entende, no caso concreto,
o professor Batista Machado, foi quem desencadeou esta Teoria, aquilo que ele entende
é que os efeitos do limite à aplicabilidade do direito material estrangeiro, decorrente da
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
reserva de ordem pública internacional devem ser em alguns casos atenuados. É o
chamado Princípio do efeito atenuado da exceção da ordem pública.

O que significa este efeito atenuado da exceção da ordem pública?

Notem, se é o efeito atenuado, o efeito é o limite à aplicabilidade de direito


material estrangeiro, se nós temos um efeito atenuado, significa que vamos limitar de
alguma forma os limites à aplicabilidade de direito material estrangeiro, ou seja, vamos
admitir que se aplica em pelo menos alguma dúvida o direito material estrangeiro que
ofende a nossa ordem pública.

Em que situações é que isso acontece?

Nas circunstâncias onde as situações, em que os efeitos da ordem pública, ou


seja, em que o limite à aplicabilidade do direito material estrangeiro que ofende a nossa
ordem pública gera a violação de outros interesses que não os que estão subjacentes à
ordem pública. Nós limitamos direito material estrangeiro, para efeitos da aplicabilidade
de direito material estrangeiro há violação da ordem pública, nós para impedir a
violação da ordem pública não aplicamos direito material estrangeiro e protegemos a
ordem pública. Mas não aplicamos direito material estrangeiro, porque viola a nossa
ordem pública e cuja consequência será aplicar o direito material do foro e, assim
violamos outros direitos e a doutrina diz que neste caso então, é preciso ponderar entre
os interesses que estamos a proteger na ordem pública e os interesses que estamos a
violar para a proteção da nossa ordem jurídica.
Ou seja, tem de haver uma comparação entre os interesses da nossa ordem
pública e aquele que estamos a violar.

O exemplo típico é: imaginemos uma situação de um casamento poligâmico.


Aquilo que se discute em Portugal é o divórcio da 2ª mulher, do cavalheiro que está
casado com 2 ao mesmo tempo, ou seja, está casado com esta 2ª senhora que pede o
divórcio, não tendo dissolvido previamente o vínculo conjugal anterior.
Portanto, imaginemos que a questão está colocada em Portugal e o Tribunal a
primeira coisa que vai dizer é a validade deste casamento, atendendo à validade formar
e substancial, atendendo a uma lei qualquer que diz que este casamento é válido e
eficaz. Passamos o processo de qualificação e damos origem à aplicabilidade de direito
material estrangeiro.
A aplicabilidade de direito material estrangeiro aquilo que vai dizer é, este 2º
casamento, não estando o 1º dissolvido é válido. Nós aplicamos as normas de direito
material desse ordenamento jurídico que diz que o casamento é válido e passamos
agora para o divórcio.
Artigo 22º, nós dizemos agora, bom, mas nós não conseguimos aplicar este
direito material estrangeiro porque sendo a instituição “casamento”, uma instituição
fundante de uma outra que é fundamental à ordem jurídica que é a família, a ordem
jurídica portuguesa entende que e é um elemento essencial ao nosso acervo valorativo
na ideia da instituição familiar é que quando ela é matrimonializada há no mínimo e no
máximo 2 pessoas. O que significa que qualquer coisa que implique um negócio jurídico
com várias pessoas ao mesmo tempo a produzir efeitos jurídicos a esta relação jurídica,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
para nós descaracteriza um negócio fundante de uma instituição que é para nós
essencial que é a família.

Nós dizemos, que nos termos do artigo 22º, temos um limite à aplicabilidade de
direito material estrangeiro. Não resta outra alternativa que não seja aplicar direito
material português. Para o direito material português aquele casamento é inexistente,
havendo uma violação da ordem pública e, portanto, se não há casamento também não
há divórcio.

Notem na particularidade, que é preciso que a norma de direito material


estrangeiro aplicada no caso concreto, gere uma violação da ordem pública, não pode
ser em abstrato. Se fosse a primeira mulher deste senhor a pedir o divórcio, nós
aplicávamos a lei sem problema nenhum.
Particularidade do caso, esta senhora quer o reconhecimento do casamento para
se poder divorciar e em particular, pensemos nos efeitos decorrentes do casamento e
daquilo que se extingue relativamente ao divórcio. Imaginemos que no caso concreto, a
senhora vai perder direitos patrimoniais que decorrem dos efeitos patrimoniais do
casamento. Admitindo que ela se casou no regime de comunhão geral de bens ou de
adquiridos, se ela não está casada e só ele é que era o detentor do património, significa
que ela no fundo tem 0. Então o que a doutrina diz é que nestas situações é preciso
perceber se aquilo que nós queremos salvaguardar não vai gerar um efeito pior,
relativamente àquilo que devíamos também proteger no caso concreto.

Notem, salvaguardando a nossa ordem pública o que é que vamos fazer? Vamos
estar a afastar o direito de adquiridos, ainda que seja no âmbito de outra legislação
relativamente aos efeitos patrimoniais em particular. É preciso ponderar aquilo que
vamos dar causa na esfera jurídica desta pessoa, versus, aquilo que nós vamos proteger.
Pode ser demasiado gravoso para alguém suportar os efeitos daquilo que é a
decorrência do artigo 22º, da aplicabilidade da lei material do foro, versus, aquilo que
nós deixamos de proteger no caso concreto.

Então, a doutrina, através do professor Batista Machado desenvolveu o tal efeito


atenuante da exceção da ordem pública que é, notem, só há efeito atenuado da exceção
da ordem pública se dentro da ordem pública decidimos que vamos aplicar o direito
material português e depois o legislador diz, que aplicamos o direito material português
a não ser que se justifique o efeito atenuado da exceção da ordem pública. Nesse caso
concreto, voltamos a aplicar o direito material estrangeiro, ou seja, na confrontação
entre o nosso interesse e o interesse particular salvaguardado deve prevalecer o outro.

Então, quais são os requisitos para termos o efeito atenuante?

1º requisito - a relação jurídica tem de se constituir no estrangeiro, ou seja, o


elemento de facto da relação jurídica, a conexão tem de dar origem ao ordenamento
jurídico estrangeiro.
2º requisito – tem de haver uma fraca ou inexistente ligação à ordem jurídica do
foro, ou seja, ou é uma relação jurídica absolutamente internacional e Portugal só é a
lei do foro, ou então ainda que haja essa ligação, ou seja, ainda que seja uma relação
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jurídica relativamente internacional, o contacto com a ordem jurídica portuguesa não é
o preponderante.
3º requisito – há direitos já constituídos, ou seja, direitos adquiridos por parte
dos sujeitos da relação jurídica.

Notem o caminho, aplicávamos lei estrangeira, decidimos não aplicar lei


estrangeira porque ela viola a nossa ordem pública. Verificados estes 3 requisitos,
voltamos a aplicar lei estrangeira.

Porque é que é um efeito atenuado e não é uma exclusão de efeitos?

Porque nós não reconhecemos o casamento poligâmico, nós reconheceremos o


casamento poligâmico, admitindo a aplicabilidade de lei estrangeira ainda que ela viole
a nossa ordem pública, exclusivamente, para garantir àquela pessoa os direitos
adquiridos. Ou seja, ela não é em geral a cônjuge daquele senhor, ela só é reconhecida
como cônjuge daquele senhor para efeitos de uma ação de divórcio, para garantir os
efeitos patrimoniais, nomeadamente, que decorrem da ação de divórcio. Para tudo o
resto, exclui este âmbito, não existe casamento e aplicasse direito material português,
por isso, é que o efeito é atenuado.

É atenuado para quê? É atenuado até ao limite da garantia dos efeitos adquiridos
que vamos salvaguardar no caso concreto.

Se isso acontecer, não obstante, continuamos a aplicar direito material


estrangeiro porque na ponderação entre o nosso interesse público e os interesses
particulares a salvaguardar no caso concreto, prevalecem os interesses particulares e
continuamos a aplicar direito material estrangeiro.

Os direitos adquiridos podem não ser exclusivamente dos sujeitos da relação


jurídica. Os sujeitos da relação jurídica podem não ser aqueles que vão despoletar a
questão controvertida, por exemplo que decorrente do reconhecimento do contrato de
casamento há direitos relativamente aos filhos. O reconhecimento de um casamento,
implica direitos adquiridos para terceiros que estão na dependência do reconhecimento
do casamento.

Muitas vezes, os direitos adquiridos, ou os interesses a salvaguardar também são


interesses da ordem pública, não significa que sejam, necessariamente, interesses
privados. Por exemplo, nos contratos de gestação de substituição, que aliás o Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos se referiu a eles, relativamente aos Estados que não
reconhecem os contratos de gestação de substituição, notem, não reconhecer aquele
contrato, que a gestante tem de ser a mãe da criança, se a lei onde o contrato foi
celebrado diz que a beneficiária é que é a mãe. Portugal diz que isso viola a nossa ordem
pública e é a gestante que é a mãe.
O interesse a salvaguardar no caso concreto é garantir que a criança não é órfã,
nem apátrida, porque de acordo com um dos Estados não estabelecerem a possibilidade
de filiação, significa que aquela criança não tem pai nem mãe e não tem país. O interesse
que aqui está é, desde logo, que o Estado tem de garantir é o interesse associado à
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
proteção da infância, nomeadamente, o direito de garantir que a criança tem uma
filiação reconhecida, tem uma nacionalidade e é criada pelos respetivos pais.

São questões de interesse público que, muitas vezes, podem estar a


contrabalançar o efeito atenuado, seja como for, o efeito atenuado é verificado
mediante a verificação destes 3 requisitos para aquele efeito em particular, continuando
a se verificar a limitação à aplicação do direito material estrangeiro.

08.11.2023 (T)

ADAPTAÇÃO, CONCURSO E FALTA DE NORMAS APLICÁVEIS

Neste caso o concurso, normas do concurso aparente ou do concurso efetivo que


aqui no DIP temos 2 normas em aberto, que são as normas de conflito e as normas de
direito material.
Como percebemos no processo de qualificação, ou para efeitos do processo de
qualificação e da necessidade da interpretação das normas quer, o conceito quadro da
norma de conflitos, quer depois na matéria relativa à interpretação de direito
estrangeiro, é preciso ter (naturalmente que se for direito estrangeiro, a interpretação
é feita de acordo com o legislador estrangeiro e pelas regras do ordenamento jurídico
estrangeiro), na interpretação do conceito quadro o grande objetivo é estender o
âmbito do conceito quadro de acordo com uma formulação ou uma técnica formulógico,
para encontrar a ratio legis da norma, independentemente, do instituto que,
efetivamente, está presente.

Naturalmente, que a ratio legis terá um determinado instituto visado, mas aquilo
que o DIP quer é que ele não esteja contido naquilo que são os nossos próprios institutos
de direito. Encontrar a ratio legis, permite encontrar qualquer instituto,
nomeadamente, no direito estrangeiro e, sobretudo, se não houver esse instituto
homólogo no ordenamento jurídico português, que no limite se possa subsumir em
matéria de DIP.
Se o âmbito dessa interpretação tiver de ser, necessariamente, de acordo com a
lex formalis foro, ou seja, temos de desprender daquilo que são os nossos institutos de
direito, para encontrar a ratio legis e nomearmos o raciocínio na busca pelas normas de
direito material, mormente quando estamos a falar de direito material estrangeiro,
significa que temos de partir de acordo com o instituto conforme no ordenamento
jurídico português. Aquilo que fazemos é abri-lo ao máximo, no sentido de perceber que
o legislador ali o que disse foi determinar os objetivos e interesses que é isso que vamos
perceber.

Acontece que às vezes, no tal processo de qualificação, nós vamos com a


interpretação do conceito quadro e chegamos ao direito material estrangeiro e por
qualquer motivo, o instituto de direito material que lá encontramos para resolver a
questão controvertida, não se subsume no conceito quadro porque o legislador do
nosso ordenamento jurídico, pela tal interpretação que nós fazemos, tem outros
interesses em mente.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Paradigmaticamente, isto pode acontecer no ordenamento jurídico português.
Por exemplo, no caso prático que fizemos da questão da compra e venda entre pais e
filhos e netos. No nosso próprio ordenamento jurídico, a norma que regula a questão é
uma norma tipicamente de direito da família que está inserida no livro de obrigações.
Portanto, aquilo que são os princípios de direito das obrigações não se aplicam pela
norma, porque ela está, sistematicamente, mal inserida.

Naturalmente, no direito material estrangeiro, independentemente, da questão


da organização e da harmonia, podem acontecer outras.
Aquilo que às vezes, pode acontecer é nós com este exercício de qualificação
relativamente ao qual partimos da questão controvertida para uma determinada
interpretação e conceptualização de acordo com o nosso próprio direito material,
vamos encontrar uma determinada norma de conflitos. Nos tais exercícios que temos
vindo a fazer, encontramos a norma de direito material, e depois o que acontece é que
vamos tentar fazer a qualificação e imaginemos, que ela não passa o processo de
qualificação.
Exercício seguinte, o nosso exercício seguinte é, porque temos de fazer
interpretações da lex formalis foro é tentar perceber se conseguiríamos encontrar outra
norma de conflitos que nos permita resolver aquela questão. Agora começamos do 0,
tentando perceber se aquela questão controvertida pode chamar em abstrato uma
outra norma de conflitos e, muitas vezes, este exercício faz-se, naturalmente, de acordo
com a norma respetiva de direito material e não há outra norma de conflitos. Se o
problema é de validade substancial de casamento, não há forma nenhuma de
interpretar a questão de acordo com o direito material português que não seja um
problema de validade substancial de casamento.
Se de acordo com, as normas de direito material, no ordenamento jurídicos
estrangeiros e das diferentes interpretações que nós fomos fazendo nos ordenamentos
jurídicos estrangeiros, nós percebemos que de acordo com esses ordenamentos a
qualificação a questão é diferente, notem, se nós não podemos viciar o nosso raciocínio,
no sentido de dominarmos e espartilharmos dentro daquilo que é o nosso próprio
direito material, ou seja, temos de ter a abrangência de qualquer direito material,
significa que as interpretações do direito material estrangeiro, pode escolher outro
conceito quadro.

Fizemos um caso prático, em que a questão era da validade substancial do


casamento, da incapacidade nupcial, e aplicamos um determinado direito material
estrangeiro o quid é interpretado, de acordo com as indicações do legislador, a
capacidade naquele ordenamento jurídico é entendida como uma questão formal.
Quando tentamos fazer o processo de integração não conseguimos, os interesses
visados para questões de ordem formal e questões de ordem substancial são,
necessariamente, diferentes. Os próprios princípios de DIP que norteiam as questões de
ordem substancial em que se aplica a lei da nacionalidade, ou as questões de ordem
formal em que se aplica a lei do lugar da celebração do casamento, os próprios princípios
de direito internacional privado, são diferentes, portanto, claramente, que o legislador
quer coisas diferentes.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Quando nós vemos mudado o processo de qualificação, a questão que se coloca
a seguir é, então nós não temos mais normas de conflitos. Notem, não temos mais
normas de conflitos de acordo com a interpretação que estávamos a fazer da questão
controvertida, como sendo uma questão de problema de validade substancial. Mas a
indicação que acabamos de receber no ordenamento jurídico estrangeiro, é que dos
ordenamentos jurídicos em contacto com aquela norma de conflitos há ordenamentos
que o interpretam de outra forma e de acordo com a interpretação desses
ordenamentos jurídicos, agora já não temos só o artigo 49º a concurso, terremos,
eventualmente, também o artigo 50º a concurso.
Ou seja, nós não conseguimos usar o nosso artigo 49º porque não passa no
processo de qualificação, mas não temos uma verdadeira lacuna em direito
internacional privado porque temos um outro ordenamento jurídico e de acordo com a
interpretação da questão controvertida a subsumiria numa outra norma conflitos que
nós temos. Nesse caso teremos de concluir que não há uma ?, que conseguimos
identificar de acordo com a interpretação da questão controvertida que, notem, se tem
de ser de acordo com a lex formalis fori ela não pode ficar exclusivamente viciada à
nossa interpretação da questão controvertida e se outro ordenamento jurídico tem uma
interpretação diferente da questão controvertida que nos permite desbloquear uma
outra norma de conflitos, nós vamos tentar resolver a questão com outra norma de
conflitos.

Qual é a questão que aqui se coloca?

Significa que se assim é, temos 3 questões para resolver:

1º se resolvermos a questão com a nossa interpretação da questão


controvertida, encontramos uma norma de conflitos, encontrarmos o direito material e
ele face ao processo de qualificação pode-se aplicar no caso concreto, a primeira
questão é, mas se as diferentes ordens jurídicas em contacto com a relação jurídica,
existirem outras interpretações da questão controvertida que permitiriam desencadear
outras normas de conflitos, a questão que se coloca é, se nós resolvermos com a nossa
interpretação precisamos de fazer as outras?
Lamentavelmente, a resposta é positiva, porque de acordo com o Princípio geral
de DIP que é as interpretações são feitas de acordo com a lex formalis fori, significa que
a interpretação que nós fazemos da questão controvertida, apesar de sermos a lex fori
(e, notem, a lex fori que está vinculada a um princípio de interpretação de acordo com
a lex formal, não de acordo com a lei material), ou seja, aquilo que implica o exercício
conflitual do DIP é de acordo com, exclusivamente, questões de ordem formal. Ou seja,
não exclusivamente com questões de ordem material, ou seja, independentemente, da
norma da questão material.
Isto significa que, naturalmente, a interpretação da questão controvertida é feita
de acordo com o primeiro vício de raciocínio do jurista da lei do foro, que é olhar para a
questão controvertida, olhar para o CC e enquadrá-la noutros livros do CC e se isso
permitir encontrar uma lei aplicável, ótimo. Mas implica que se faça o seguinte
raciocínio, se das ordens jurídicas em contacto, houver outras interpretações, porque
nós não podemos viciar o processo conflitual porque de acordo com a nossa lex material
fori, estamos só vinculados à lex formalis fori, significa que temos de fazer tantas
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
interpretações e usar tantas as normas de conflito, quantas as interpretações da
questão controvertida a que as ordens jurídicas em contacto com a relação jurídica
permitem.

Ou seja, no primeiro exemplo, em que o processo de qualificação não ficava


completo, nós dizíamos bom, mas agora conseguimos perceber que a lei aplicável
estrangeira interpreta isto de acordo com um princípio de interpretação de validade
formal permite-nos desencadear o nosso artigo 50º, mas isto não é um critério supletivo
para o caso de não funcionar a aplicabilidade do artigo 49º na interpretação.
Ou seja, independentemente, do seguimento que nós tenhamos com a
interpretação a encontrar uma norma de direito material que passa o processo da
qualificação, temos de iniciar o processo para cada uma das normas de conflito que as
interpretações das normas de direito material estrangeiro permitam. Ou seja, nesta
questão em que nós olharíamos para este caso prático em que dizem que o
ordenamento jurídico da lex fori do âmbito formal, o nosso trataria da questão do
âmbito material, notem, temos os 2 e tem aqui um denominado concurso de normas,
porque fora dessa questão ou o legislador português estava esquizofrénico ou o
enquadramento há de ser só um, a norma de conflito há de ser só uma.

Naturalmente, que o concurso de normas se desenrola a partir da possibilidade


daquela questão controvertida ser interpretada de acordo com princípios diferentes que
nos permitem desencadear várias normas de conflitos e qualquer uma delas é válida,
portanto, temos de as fazer todas.

Só uma passa o processo da qualificação, ou seja, temos um mero concurso


aparente. Tínhamos várias normas de conflitos, potencialmente aplicáveis, só uma é que
passou no processo de qualificação, então ótimo, só aquela é que se aplica. Pode-nos
acontecer é exatamente o oposto, quer do lado negativo, quer do lado positivo, ou seja,
apesar de até podermos ter mais de uma norma de conflitos, elas dão origem a leis que
não se subsumem no conceito quadro, o que é possível (por exemplo, a questão que
vimos à pouco do casamento, em que a conexão do artigo 49º é diferente da conexão
do artigo 50º, basta que a lei escolhida pelo artigo 49º dizer que trata da questão ao
nível formal, não se subsume, mas depois quando vamos ao artigo 50º que aplica a lei
do lugar da celebração do casamento, se não for a lei da nacionalidade dos nubentes,
pode aplicar uma outra lei que considere exatamente o oposto, reparem, tínhamos uma
mão cheia de nada e aí, nessa situação, temos um conflito negativo de normas). Ou
então, temos exatamente o oposto, isto é, uma mão cheia de coisas, que podem dar
origem à aplicabilidade de normas diferentes, quer o artigo 49º que passa no processo
da qualificação, quer o artigo 50º e aí como um conflito positivo.

A questão que se coloca é o que fazer?

Quer numa situação, quer noutra, se temos um conflito negativo, significa que já
esgotamos todas as interpretações materiais possíveis da questão controvertida, já
usamos todas essas interpretações para desencadear conceitos quadro distintos e
nenhum deles passou no processo da qualificação. Aqui vamos ter um problema, em
que vamos concluir, efetivamente, que temos uma lacuna, ou seja, temos uma questão
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
controvertida que se se podia subsumir em várias normas de conflitos, nenhuma delas
passa no crivo do artigo 15º e, portanto, não há norma de conflitos e sem norma de
conflitos, temos uma lacuna legal.

Depois, podemos ter exatamente, o oposto em que passaram os processos de


qualificação, uma e outra subsumiu-se no respetivo conceito quadro e temos um
conflito positivo para saber qual delas é que se aplica.

A decisão é igual ainda que, naturalmente, se tivermos um conflito negativo


vamos ter de usar para fazer mais alguma coisa, mas a decisão parte sempre de perceber
com qual das qualificações é que vamos ficar e isso decorre, necessariamente, da
ponderação dos princípios de cada uma das normas de conflitos.

Notem, no caso de o conflito ser positivo é ótimo, ou seja, de entre 2 aplicáveis


escolhemos uma e resolvemos o assunto, no caso negativo, ótimo também, porque de
acordo com esse princípio sabemos qual é o elemento de conexão e, portanto, o assunto
também fica arrumado na construção da norma ad hoc.

Como é que chegamos a esta conclusão?

Primeiro temos de encontrar, como fazemos sempre agora na resolução de casos


práticos, encontrar qual é o princípio que está subjacente a cada uma das normas de
conflito e de acordo com as diversas indicações que o legislador vai dando, ao longo do
CC vamos encontrar esses princípios e dar prevalência a um ou a outro.

Os exemplos mais temáticos são entre questões que separam a forma da


substância. Ou seja, sempre que tenhamos situações de ordem substancial versus
situações de ordem formal, em princípio, dá-se prevalência à substância, porque a regra
é a prevalência e o artigo 17º, 18º, 19º, 28º e 31º são particularmente importantes, para
mostrar a prevalência de uns princípios relativamente aos outros.

A substância tem subjacente por regra, o Princípio da maior ligação individual.


Notem, estamos a falar de situações de regra.

Como é que conseguimos verificar isso?

O artigo 17º/1 e nº2, sendo que um dos grandes princípios de DIP e que há
harmonia jurídica internacional para garantir segurança jurídica, é afastado em prol do
princípio da maior ligação individual, idem o artigo 18º/2, mas notem, se a questão de
ordem formal for, por exemplo, a maior efetividade, 17º/3, em princípio as questões de
ordem formal vão prevalecer sobre as questões da ordem material.

Mas bom, estamos na regra. As questões de ordem substantiva em geral,


prevalecem sobre as questões de ordem formal. Quando temos, ao nível do objeto (ali
tínhamos questões de sujeito e de facto, sobretudo), da relação jurídica, se tivermos
situações de conexão real e pessoal e reparem, aqui necessariamente, questões de
ordem real, não é questões de ordem formal, é se nesta questão de ordem formal se
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
colocar o Princípio da maior efetividade (pode não ter questões de caráter real
associadas), mas tivermos questões de ordem real e pessoal, em princípio, a indicação
do 17º/2 versus do 17º/3 é que o Princípio da maior proximidade, prevalece sobre o
Princípio da maior ligação individual, portanto, damos prevalência à qualificação real
versus a qualificação pessoal.

Esta ponderação que é mensurável, porque vai depender das circunstâncias, será
mais vincada consoante o estatuto real ou a qualificação real tiver sobre o princípio da
maior proximidade sobre coisas imóveis, que é essas que efetivamente o 17º/3 que nos
fazem afastar a conexão pessoal e o Princípio da maior ligação individual.

EVENTUAIS PSEUDO CONCURSOS DE NORMAS E CONCURSOS REAIS

Identificam-se, por exemplo, na qualificação pessoal específica, entre a


matrimonial e a sucessória. Notem, a sucessória também se pode colocar aqui e em
princípio, prevalece a real e a não a sucessória, temos de ter em atenção que estamos a
falar aqui de Princípios gerais e depois temos de os conjugar, eles não são muitos, mas
estamos a ver um a um, que depois se vão colocando, de acordo com o Princípio da
maior ligação individual, nomeadamente aqui, em que temos o Princípio da maior
ligação individual em vários âmbitos.

A questão sucessória, pode estar aqui também, porque é qualificação em geral,


mas quando temos um conflito direto da qualificação pessoal, entre o matrimónio e as
sucessões, em princípio nesta situação em concreto, o conflito é meramente aparente.
Dizemos em princípio porque, mais uma vez estamos a viciar o raciocínio de
acordo com aquilo que é a interpretação da ordem jurídica do foro, porque em princípio
numa questão de um contrato de casamento o fenómeno morte gera efeitos
patrimoniais e pessoais e efeitos sucessórios, mas eles são autonomizáveis.
Reparem, os efeitos patrimoniais e pessoais da morte de alguém, esgotam-se no
âmbito daquilo que é a lei aplicável à matéria do casamento, nomeadamente, qual é o
regime de bens entre as pessoas, e o problema sucessório é um problema de uma outra
questão relativa a um outro objeto.

Ou seja, o objeto da qualificação matrimonial é diferente do objeto da questão


sucessória, em que esquematicamente uma coisa é alguém morrer e estar casado e o
seu cônjuge sobrevivo ter ou não direito a metade dos bens do casal, se for casado no
regime de bens adquiridos, acesso à casa de morada de família e depois é a sua
qualidade como herdeiro.
Tenho 2 regimes a atuar ao mesmo tempo, mas o objeto de cada um deles, é
enfim, mais uma vez, estamos a viciar o jogo com a nossa interpretação, na
interpretação de lei estrangeira pode ser diferente, mas em princípio eles são
sucessivos, ou seja, primeiro trata-se de um que se esgota e só depois é que se trata do
outro, ou seja, não há, efetivamente, um concurso real, porque apesar de termos mais
de uma norma de conflitos para resolver aquela questão, elas tratam de realidades
diferentes, portanto, elas nunca se sobrepõem.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
No caso de, eventualmente, a interpretação que esteja a ser feita, de acordo com
o direito material estrangeiro que possa dar aso a um conflito, o princípio é aquele que
já conhecemos àquele que é aproximar a conexão da questão controvertida. Notem,
neste caso concreto, aquilo que dá origem a todos estes efeitos, sejam patrimoniais,
sejam sucessórios, é a morte do autor da sucessão, portanto, é a conexão mais próxima
deste facto que será, necessariamente, a conexão sucessória.

Em termos gerais, no conflito positivo, se tivermos, as várias normas de conflito,


o que temos de fazer é qualificá-las e escolhê-las, de acordo com cada um destes
princípios que aqui está. Se o conflito for negativo, naturalmente, que aqui não tenho
por onde escolher porque não tenho norma de conflitos e aqui temos uma verdadeira
lacuna de DIP.

Há várias formas de resolver esta questão, cada uma delas mais interessante que
a outra, mas particularmente complicadas.
Vamos apenas nos referir a alguma delas, nomeadamente, há forma como
aprendemos quando temos alguma lacuna no direito. Se há uma lacuna, significa que
não temos norma, se não termos norma partimos para os princípios. O primeiro deles é
a analogia legis ou iuris, vamos tentar usar uma determinada norma que regule uma
situação parecida e aplicá-la ao caso concreto.
Em DIP essas situações têm fórmulas específicas para serem usadas,
nomeadamente, através destas técnicas que aqui estão (mas que vamos ultrapassar),
ou então não conseguindo utilizar a analogia, a necessidade imperativa de criar, o
julgador não se pode abster de julgar, mesmo na ausência de leis questões que estão na
ordem jurídica, que é a criação de uma de conflitos ad hoc, que se esgota no caso
concreto, ou seja, ela é só aplicável no caso concreto.

Como é que se cria uma norma ad hoc em DIP?

Como se queria qualquer outra. Não é particularmente difícil, porque em matéria


de DIP temos 40 normas para aplicar ao caso concreto. O processo de criação da norma
ad hoc, é um processo particularmente simples, sobretudo, quando estamos a tratar de
normas de conflito. Quando são normas jurídicas a questão é mais complicada, porque
implica não só a previsão normativa e quais os factos a aplicar na previsão normativa,
mas depois também a respetiva estatuição de acordo com aquela situação, o que é
sempre complicado porque se está a escolher a estatuição depois de se saberem os
factos, portanto, há sempre aqui um vício de raciocínio. Mas é exatamente isso que se
impõe na criação da norma de ad hoc, ou seja, o julgador só é confrontado com a norma
ad hoc depois de ter todos os factos e não os conseguir subsumir em lado nenhum.

Na criação de uma norma de conflitos temos de construí-la através dos seus


elementos, o conceito quadro e o elemento de conexão. A norma ad hoc é uma norma
individual e concreta, é uma norma que encaixe. Para se fazer uma norma de conflitos,
primeiro se tivermos várias normas de conflitos que potencialmente se aplicavam ao
caso concreto, significa que temos várias interpretações da questão controvertida,
estamos a criar uma norma ad hoc, não vamos criar várias normas ad hoc, temos de
escolher uma, tal como faríamos num processo de conflito positivo.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Por exemplo, numa situação da validade do casamento, nenhuma delas passou


no processo de qualificação, entre escolher questões de validade substancial e questões
de validade formal, escolhemos as questões de validade substancial. Isto é importante
porque o estatuto em princípio tem o elemento de conexão, se a questão for de validade
substancial ou qualificação substancial, necessariamente, teremos estatuto de ordem
pessoa, nomeadamente e necessariamente conexões pessoais, designadamente, a lei
da nacionalidade.
Se tivermos de escolher entre o estatuto obrigacional ou real, em princípio
prevalece o real, ou seja, escolhemos a lex rei sitae. Portanto, das 2 uma, ou temos várias
normas que achamos que podíamos aplicar ao caso concreto e cada uma delas dava
origem a leis diferentes e temos de escolher agora qual a lei que queremos ver aplicável
ao caso concreto, escolhemos essa lei de acordo com o princípio que ali está.

Se só tínhamos uma norma de conflito, todos os ordenamentos jurídicos


achavam que aquilo era um problema de validade, mas nunca passaram um processo
de qualificação, então só temos uma questão de validade substancial e o princípio é o
que lá está.

Notem, importante reter que se temos várias normas de conflitos e se


escolhemos uma de acordo com isto, ou se só temos uma norma de conflitos, o
elemento de conexão é o da norma que escolhemos ou da única que temos.

Na questão da validade substancial do casamento, significa que no caso concreto


a conexão para a nossa norma ad hoc há de ser a lei da nacionalidade.
Agora temos de encontrar o conceito quadro. Como? Verdadeira burla de
etiquetas, o nosso conceito quadro tem de ser encontrado para passar no nosso
processo de qualificação e quando é que o conceito quadro passa no processo de
qualificação? Quando a interpretação do direito material que escolhemos por aquele
elemento de conexão se subsume à interpretação do conceito quadro.

Como é que se subsume à interpretação de um conceito quadro que não existe?

Sendo igual ao Quid. Tendo o Quid de interpretar o elemento de conexão,


constrói o conceito quadro para que este Quid lhe subsuma.

Por exemplo, a questão da validade formal versus a validade substancial,


queremos aplicar a lei da nacionalidade, a conexão substância prevalece sobre a forma.
No âmbito da lei da substância, a questão é resolvida como um problema formal,
significa que o conceito quadro não pode ser a capacidade para contrair casamento,
porque isso é um problema substancial. Portanto, tem de ser validade do casamento.
Da validade do casamento temos tanto a capacidade como a forma, o nosso Quid é a lei
da nacionalidade, agora no nosso conceito quadro já se subsume e esgotamos a norma
de conflitos assim que a aplicamos. O processo é totalmente invertido.

Andar com o processo todo ao contrário, escolher a norma jurídica de acordo


com o elemento de conexão que queremos ver aplicado, interpretar o Quid, fazer um
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
conceito quadro relativamente àquele Quid e temos o processo de qualificação feito. A
nossa norma de conflitos seria a validade do casamento em que era aplicada a lei da
nacionalidade.

09.11.2023 (T)

Para terminar da matéria do CC, vamos falar hoje da última matéria que ficou.
Para além das questões que são muito interessantes em termos dogmáticos e também
em termos práticos, mas que ela em termos de efetividade prática está muito esbatida.

Artigo 14º do CC. Este artigo inicia, com o qual vamos agora terminar a matéria
conflitual no CC, a matéria relativa ao processo conflitual no ordenamento jurídico
português, através da especificação da composição (?) jurídica dos estrangeiros em
Portugal.

Nos termos do seu nº1 aquilo que diz é que os estrangeiros, são equiparados aos
nacionais quanto ao gozo dos direitos civis, salvo expressa convenção em contrário. Ou
seja, decorre do artigo 14º/1 que em qualquer situação esse facto de alguém ser
nacional de um país que não seja Portugal, que não pode nunca limitar,
independentemente, do vínculo jurídico que resulte para esse seu país, que não seja
reconhecido ou que essa pessoa não possa usar os seus direitos civis, tal qual é a
reconhecido a todos os cidadãos portugueses.

Notem, é o Princípio geral da equiparação que decorre naturalmente, do


Princípio da igualdade que está previsto no artigo 13º da CRP, ou seja, não há
discriminação e o CC aqui estabelece exatamente este princípio, nomeadamente, no
que tange à nacionalidade da pessoa.

Este nº1 não suscita grandes dúvidas interpretativas, o problema está no nº2 do
artigo 14º. Aqui existe para grande parte da doutrina, o denominado Princípio da
retaliação. Isto significa que nos termos do nº1 Portugal reconhece os direitos civis que
reconhece aos portugueses, aos estrangeiros que cá estejam, o nº2 diz que se o país
desse estrangeiro reconhecer direitos civis aos seus nacionais, mas não os reconheça
aos portugueses nesse país, então nós não reconhecemos os direitos civis a esses
estrangeiros em Portugal.

Há quem defenda que este artigo 14º/2 é inconstitucional, face ao artigo 13º da
CRP, ou seja, ele consubstancia uma discriminação em razão da nacionalidade,
relativamente ao qual o artigo 13º da CRP, sendo um princípio fundamental não admite
restrições ou limitações a não ser nas situações em que a constituição o permite. A
constituição não o permite e, portanto, o nº2 também não pode permitir. O que, notem,
não é estranho que para quem defenda a inconstitucionalidade deste artigo nº2, seja
estranho porque a nossa CRP é de 1976 e o CC é de 1966, como sabemos quando entrou
em vigor a CRP de 76, as normas de conflito muitas delas foram revogadas, em virtude
da alteração da CRP, nomeadamente, em matéria de família e sucessões, igualdade
entre os cônjuges, os filhos legítimos e ilegítimos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Este artigo, para quem o entender inconstitucional, passou ao crivo da revisão
do CC e, entretanto, a aplicabilidade efetiva dele não tem sido muito importante. Como
não foi revisto na altura, agora teria de ser declarado inconstitucional (3 vezes pelo
Tribunal Constitucional) ou numa revisão do CC. De facto, para quem entenda este nº2
como um Princípio da Retaliação, ou seja, concebemos todos os direitos civis exceto se
não os concederem a portugueses nesse país estrangeiro, de facto pelo Princípio da
Retaliação ele viola, francamente, o artigo 13º da CRP, portanto, será inconstitucional
(mais uma vez, para quem o entender assim).

Não é, não obstante, a posição única na doutrina, enfim, e a tese da


inconstitucionalidade será mais forte, até porque a solução da outra parte da doutrina,
como vamos ver, em termos de efeitos de aplicabilidade prática também se esbate
muito. A tese da inconstitucionalidade é mais forte, embora a doutrina esteja
verdadeiramente dividida no que tange a esta interpretação.
Há quem entenda, nomeadamente, o professor Vital Moreira, que não há
nenhuma inconstitucionalidade, associada ao nº2 do artigo 14º do CC, ele de facto, tem
de ser interpretado. A interpretação que leva literalmente a norma ao Princípio da
Retaliação, aí ninguém tem dúvidas que é inconstitucional, ele deve é ser interpretado
conforme à CRP no sentido de retirar a tal retaliação, se tivermos efetivamente, uma
interpretação que leva ao Princípio da Retaliação, não há dúvidas que é inconstitucional,
agora se nós conseguirmos interpretar o nº2 do artigo 14º, por forma a ultrapassarmos
o Princípio da Retaliação e chegarmos a um novo princípio, que seja conforma à
interpretação constitucional, então aí nada a opor, relativamente ao artigo 14º/2.

Essa doutrina faz o seguinte exercício, que é o artigo 13º é um Princípio


fundamental, seja qual for a discriminação, mas a própria CRP nunca numa
discriminação negativa, portanto, nunca numa discriminação de retaliação, a verdade é
que tem situações de discriminação positiva e, portanto, se é discriminação positiva
significa que não retira direitos a uns, concedem direitos a outros, em razão da
nacionalidade que está prevista o artigo 15º da CRP, que diz respeito à capacidade
eleitoral ativa e passiva (“só os cidadãos portugueses e nacionais é que podem ser
eleitos e podem eleger, etc.), no sítio da sua RH e depois também de acordo com aquilo
que são as características típicas de determinação da ligação à comunidade portuguesa
(para além da RH, a língua é um dos seus elementos preponderantes que demonstra a
ligação à comunidade portuguesa – PALOSPS, Brasil, etc.).
Nessas circunstâncias há ali também ainda que não haja efetivamente uma
nacionalidade portuguesa, o critério da nacionalidade que é a ligação efetiva à
comunidade portuguesa, mas está lá verificado o requisito da nacionalidade e, portanto,
para nacionais portugueses, e para cidadãos de países da CPLP e para algumas situações
de estrangeiros que residam em Portugal, isto significa que são conferidos direitos, que
não são conferidos a estrangeiros, ou sobretudo, a outros estrangeiros.

Isto, porque como sabemos, não sendo possível a discriminação negativa, a


discriminação positiva consegue mesclar o Princípio da igualdade com o Princípio da
equidade, ou seja, o tratamento diferenciado de coisas que são diferentes. Igualdade
deve ser interpretada no seu sentido material e não no seu sentido formal, ou seja,
integrando também a questão da equidade.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Portanto, a CRP pacificamente diz que se há direito, como sejam de votar e ser
eleito, que são direitos políticos e os direitos políticos são relativos à organização
política, são aqueles que estão no âmbito da relação jurídica entre uma pessoa e o
Estado, aquilo que une uma pessoa ao Estado é por regra a sua nacionalidade.

A não ser que para esse direito político, o que esteja em causa não seja a
organização do estado enquanto tal, mas a organização de uma determinada
comunidade dentro do Estado, por exemplo, questões relativas à RH, ou então,
questões relativas à possibilidade, nomeadamente, dos compromissos internacionais de
Portugal ao nível da UE, de garantir a livre circulação de pessoas e para não limitar a
livre circulação de pessoas é preciso reconhecer a essas pessoas que podem circular
livremente que os seus direitos políticos não vão ser afetados porque vivem num país
diferente da sua nacionalidade.
Ou então, aos países em geral da CPLP, porque se o elemento característico da
nacionalidade, sobretudo para a naturalização é o domínio da língua portuguesa,
naturalmente, que essas pessoas, têm uma afinidade com o povo português que é
diferente de qualquer outro. Portanto, nessas circunstâncias há uma discriminação
positiva associada à nacionalidade.

Se percorrermos o artigo 15º, a verdade é que Portugal vai fazendo isso e se o


formos vendo, me muitas destas situações, nós porque conseguimos identificar aqui um
elemento que aproxima estas pessoas dos cidadãos nacionais, nós vamos conferir
direitos políticos e depois diz muitas vezes, “se aos portugueses nesse sítio também lhes
conferirem”.
Para nós, por exemplo, países da CPLP, por causa da língua temos um elemento
comum que nos aproxima, ainda que não sejam nacionais portugueses, mas o processo
de cultura e de comunidade é único relativamente a esses Estados.
Mas isso significa que a CRP primeiro, garante o Princípio da igualdade, mas não
significa que não possa discriminar positivamente, tendo em consideração a
prossecução da igualdade material e fá-lo no artigo 15º da CRP.

Esses autores dizem o seguinte, então notem, o principio da igualdade, do artigo


13º, como nós temos o artigo 14º/1 do CC, agora se nós interpretamos o nº2 não como
um Princípio da Retaliação, mas como um Princípio de reciprocidade e equivalência de
direitos entre portugueses e estrangeiros, tal qual acontece no artigo 15º da CRP, aquilo
que estamos a fazer é exatamente aquilo que a CRP está a fazer no artigo 15º, que é a
dizer que há direitos que porque dependem da relação jurídica entre nacional e o seu
Estado, só serão atribuídos aos seus nacionais.
Mas notem, então aí o 14º/2 ainda é mais bondoso, do que o artigo 15º, porque
o artigo 15º diz que só damos se nos derem, o 14º diz que o Princípio geral é darmos a
todos, se por acaso houver algum, independentemente, de nós até podermos ter uma
discriminação positiva em razão da nacionalidade, mas no país de origem daquele
estrangeiro não houver limitações para portugueses, nós também não limitamos, só o
vamos fazer quando, relativamente, a esses direitos que esse país estrangeiro nos limite
a nós. Exercício exatamente igual ao artigo 15º da CRP.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Vamos interpretar o artigo 14º/2 não como um Princípio de Retaliação, mas
como um Princípio de reciprocidade nos termos do artigo 15º da CRP. Se for assim anda
a opor. A verdade é que aquilo que é inconstitucional é a interpretação que se faz da
norma. Neste caso ela deixa de ter a interpretação literal conforme aqui está e passa a
ter a tal interpretação nos termos do artigo 15º e se for dessa forma, nada a opor.

Nesta interpretação o 14º/2 não está ferido de qualquer inconstitucionalidade,


porque fica interpretado conforme a constituição nos termos do artigo 15º.

A verdade é que não é difícil encontrar direitos civis que sejam direitos
fundamentais, a questão é, é difícil encontrar direitos civis que estejam ligados a uma
conexão nacionalidade, que funcionem ao nível das relações jurídicas privadas. O direito
a votar, não é um problema de direito privado, mas sim de direito público.
Ter capacidade eleitoral ativa é um direito civil, é um direito fundamental, mas
não é objeto das nossas questões jurídicas de caráter privado.

Encontrar um direito civil que esteja no âmbito das relações jurídicas privadas,
dos quais dependa a nacionalidade, não é particularmente fácil, há alguns exemplos que
a doutrina tenta dar que, francamente, para a professora estão na ressalva do nº1 do
artigo 14º.
A professora percebe e concorda com o exercício de interpretação do nº2, mas
que na verdade para ela não tem aplicação prática

A doutrina invoca uma série de exemplos, que são, nomeadamente, aqueles que
estão associados a situações, no âmbito de relações jurídicas privadas, que falamos
delas, mas que são objeto de tratamento específico em alguma legislação de DIP, que
diz respeito a questões, nomeadamente, de investimento estrangeiro em Portugal,
nomeadamente, quando estamos a tratar situações de empreitadas em que o Estado
seja um dos sujeitos.
Temos de ter o Estado a atuar como privado no caso concreto, porque se o
Estado estiver a atuar como entidade pública, então aplicamos o direito administrativo
e já não estamos no âmbito do DIP.

Se for uma coisa dessas, para fomentar a atividade económica portuguesa, uma
limitação desse gênero, eventualmente, em algumas situações de contratos de
concessão, em que aí, aplicando direito privado, se possa conceber por exemplo, que
não possam ser entidades estrangeiras a concorrer. Há instrumentos de direito privado
que podem ser utilizados, nomeadamente, quando há interesses públicos a
salvaguardar, ou então mais paradigmático (ainda que se conseguia subsumir na 2ª
parte do nº1 do artigo 14º, sem problema nenhuma), que diz respeito ao investimento
de capital estrangeiro em empresas privadas na bolsa de valores. Ou seja, a compra de
capital social cotadas em bolsa em Portugal, naturalmente, elas têm de estar abertas,
quando abre o capital social para a respetiva compra, os Estados estrangeiros estão
limitados ao número de ações que podem comprar aos portugueses.
Como são empresas cotadas em bolsa, isso significa que são as maiores empresas
de Portugal e elas significam que em termos de economia e de saúde de economia, as
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
melhores empresas e, portanto, aquilo que é o controlo delas através de capitais
privados portugueses.

Estas empresas, como representam as grandes empresas portuguesas e, por isso,


é que estão cotadas em bolsa, apesar da bolsa portuguesa ser muito fraquinha, de
qualquer forma, quando abre o capital social o investimento estrangeiro, fica limitado,
relativamente, ao investimento português.

Pela professora isso estaria pelo nº1 porque primeiro, se não estiver pelo nº1 e
se entramos pelo nº2, significa que no país desse estrangeiro, os portugueses também
teriam alguma limitação no investimento em bolsa, normalmente há, mas pode não
haver. Para além disso, e ainda que estejamos no âmbito de direito privado, a professora
tem muitas dúvidas que conseguisse funcionar aqui a própria autonomia da vontade, no
artigo 14º, porque aquilo que limita o investimento estrangeiro, é o interesse público,
não o privado. Portanto, tal qual acontece nas relações jurídicas privadas internas,
quando há um interesse público há normas imperativas que impedem que os privados
consigam ultrapassar aquilo que ali está, tem muitas dúvidas no caso concreto, porque
o que está subjacente é o interesse público e, portanto, há ali normas imperativas que
não se compadeceriam com a aplicabilidade do artigo 14º/2 e a suscetibilidade depois
da possibilidade dessas pessoas depois investirem ou não, está limitada por aquilo que
o Estado daquela pessoa determinaria ou não para português.

Se o interesse é público, depois vamos dar a volta ao texto que é, se o interesse


é público e entrássemos pelo 14º/2 alguns estrangeiros podiam e outros não é o
interesse público ficaria salvaguardado porque nós também podíamos investir nesse
país estrangeiro sem limites? Não faz sentido a nível prático.

16.11.2023 (T)

CONEXÕES EM ESPECIAL DA ORGANIZAÇÃO DA RELAÇÃO JURÍDICA


A partir de agora, naturalmente, à medida que estas questões forem dadas,
aplicaremos as normas de direito da UE ou o CC, consoante aquilo que …, de modo que
já sabemos, ou seja, se a questão em particular pudesse ser verificada em determinado
regulamento da UE, naturalmente, que a regulação da questão espacial no âmbito do
regulamento da UE afasta a aplicabilidade do sistema de conflitos do CC.
Os regulamentos têm uma aplicação particularmente mais simples e as dúvidas
interpretativas tem de ser resolvidas por interpretação autêntica, a partir do Tribunal
de Justiça da UE e ainda que haja algumas particularidades é, naturalmente, muito mais
simples em termos dogmáticos do que aquilo que temos vindo a dar até agora.
Portanto, no que tange à parte geral do direito civil também, como percebemos
o direito dos conflitos da organização do sistema conflitual em especial, está organizado
exatamente como está organizado o direito civil em geral.
Ou seja, uma parte geral que inclui, sobretudo, a matéria relativa às pessoas,
pessoas singulares e as pessoas coletivas. Depois temos a matéria das obrigações para
o qual temos o Regulamento de Roma I, a matéria de direitos reais que dependendo da
situação, poderão ter de aplicar alguns regulamentos, senão voltamos ao CC.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A matéria relativa à família e, no que toca a esta matéria, temos relativa ao
divórcio, separação judicial de pessoas e bens um regulamento próprio para este efeito.

De resto, vamos continuar a aplicar o CC, com a nuance da Convenção de Haia


em matéria de adoção Internacional que, enfim, exclui toda a matéria do código
relativamente à avaliação Internacional de crianças e depois o regulamento das
sucessões que é, sobretudo, o grande regulamento, no sentido de que é comum o
regulamento e veio resolver grande parte das querelas que se colocam em direito
Internacional privado, sobretudo, questões relativas há matéria sucessória e há criação
do denominado certificado sucessório do preço, uma espécie de livre trânsito ao nível
da UE, relativamente, à matéria sucessória.

No âmbito das obrigações, não só no regulamento Roma I, mas também no


regulamento Roma II, porque ele está dividido em questões obrigacionais e extra
obrigacional, no que tange ao direito das pessoas, como sabemos, estamos para esta
parte geral quase, exclusivamente, mantidos no CC.

Regra geral é a do artigo 25º, no que tange a todas as matérias do estatuto


pessoal, a não ser que elas estejam especialmente reguladas no CC.
Por exemplo, a questão da capacidade negocial, a capacidade para Transmissão
de direitos reais sobre imóveis, etc. que têm uma regulação especial. Fora isso, o CC
estabelece que toda a matéria de estatuto pessoal é regulada pela lei pessoal de cada
interessado, que devemos interpretar nos termos do artigo 31º nº1 como sendo a lei da
nacionalidade de cada pessoa.

NACIONALIDADE

Se tivermos um conflito de nacionalidade, aplicamos a lei da nacionalidade que


já falamos no termos do artigo 27º, ou seja, se o conflito positivo for entre a lei da
nacionalidade portuguesa e uma nacionalidade estrangeira, nesse caso, prevalecesse o
critério da nacionalidade portuguesa.

Se formos ao artigo 28º, aplicávamos analogicamente, para resolver as situações


dos ordenamentos plurislegislativos o artigo 20º.
Se forem nacionalidades distintas, aplicamos, para desempatar, o critério da RH,
se o interessado não residir em nenhuma das nacionalidades escolhe-se a
nacionalidade através de outro critério - da conexão mais estreita. Com a nacionalidade,
relativamente, ao qual o interessado tenha uma ligação mais estreita em termos de
matéria de estatuto pessoal. Não havendo nacionalidade, ou seja, quando temos uma
situação negativa, em que a pessoa não é nacional de um Estado, essa pessoa é uma
apátrida.

Não nascem crianças apátridas, atualmente, a não ser em algumas situações de


conflito, mas os Estados têm a obrigação de garantir que qualquer criança que nasce
dentro do seu Estado, mesmo que não cumpram os requisitos do dominado e os solos
sanguíneo, que é tipicamente aquilo que acontece no ordenamento, ou seja, são
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
portugueses os filhos dos portugueses, os filhos de portugueses que nasceram em
território nacional.
Não obstante, situações de estrangeiros e de filhos de estrangeiros a quem não
pudesse ser considerada a nacionalidade portuguesa. Se os pais forem apátridas ou por
qualquer motivo, não consigam ou não desencadeiem os mecanismos para conferir a
nacionalidade o Estado português garante no âmbito de uma Convenção, a respetiva
nacionalidade portuguesa.

Têm vindo grandes alterações, quanto à lei da nacionalidade nos últimos anos,
sobretudo a partir de 2015/2018/2020/2022. Ela foi recentemente alterada. Tem aqui
um objetivo de garantir até por questões de inclusão, que seja concedida nacionalidade
de forma mais simples. Depois temos as situações típicas, as situações em que a
nacionalidade passa a ser mercantilizada.

Relativamente, à questão da nacionalidade, podemos ter exatamente o oposto


que são os apátridas, pessoas que não têm nacionalidade. Para crianças é difícil
encontrá-la.
O adulto pode renunciar à sua própria nacionalidade e tornar-se um apátrida.
Temos uma norma específica no CC que trata dessa matéria no âmbito do artigo 32º.
Não obstante, Portugal está vinculado à Convenção de Nova Iorque sobre os
Apátridas e nessa matéria, todas estas questões têm uma convenção internacional que
no caso de conflito com o artigo 32º, prevalecia a regulamentação da Convenção,
relativamente, ao artigo 32º.

Por outro lado, temos também a matéria que diz respeito aos refugiados,
refugiados políticos, ou seja, daqueles que fogem, às situações de perseguição nos seus
próprios países num contexto bélico.
Das várias Convenções de Genebra e, por isso também, a Convenção de Genebra
em matéria de refugiados políticos inclui, também, matéria relativamente a DIP. Não se
considera a lei pessoal, a lei da nacionalidade, mas a lei onde a pessoa está. Não tem de
ser a RH basta ser qualquer residência legal onde se encontre para passar a ser a
conexão pessoal.

Se estas pessoas são perseguidas no país da sua nacionalidade então a ligação


que têm com essa nacionalidade será alterada, naquelas circunstâncias em concreto.
Portanto, afasta-se de entre as várias conexões possíveis e opta-se pela questão
da RH, mas neste caso entendida num sentido mais amplo.

SITUAÇÕES EM QUE NO ÂMBITO DOS DIVERSOS REGULAMENTOS SE TRATA DE


MATÉRIA DE ESTATUTO PESSOAL

Os regulamentos, em geral, quando se referem a esta matéria de estatuto


pessoal acabam, por excluir a própria aplicabilidade do regulamento. Por exemplo no
regulamento de Roma I tínhamos as matérias relativas à validade do negócio jurídico,
toda a nossa matéria do artigo 41º, e a certa altura diz “exceto se for um problema de
capacidade onde não se aplica o regulamento”.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Os regulamentos acabam por remeter para o CC a não ser quando estamos a
falar de regulamentos que eles próprios tenham matéria de estatuto pessoal.
Nomeadamente, o regulamento relativo ao divórcio e separação judicial e o
regulamento das sucessões em que aí sim as conexões pessoais são aquelas que estão
no regulamento porque o regulamento é de estatuto pessoal.

Atenção as conexões do regulamento em matéria de estatuto pessoal que como


sabemos têm duas conexões: a nacionalidade e a residência habitual. O legislador da UE
optou pela residência habitual como uma conexão regra de estatuto pessoal.

O âmbito é aquele que que já analisamos da matéria do artigo 25º. Ou seja, toda
a matéria de estatuto pessoal incluindo também aquelas que vimos do artigo 26º, 27º e
do 30º, que fazem parte do âmbito pessoal e, portanto, aplicando-se a matéria relativa
ao estatuto pessoal e da nacionalidade. Salvaguardando situações em que um prol de
outros princípios, que não seja o princípio da maior ligação visual, nomeadamente o
princípio do favor negotti se obtém desde a nacionalidade, a Lei da residência habitual
como o artigo 32º, ou o artigo 28º.
Mas, enfim, também a possibilidade de usar uma conexão diferenciada daquela
que já vimos aqui.

MATÉRIAS DE PERSONALIDADE E CAPACIDADE

No que tange a matérias de personalidade e capacidade também já vimos e


aplicamos o artigo 26º, com exceção das situações em que ela esteja especialmente
regulada noutras formas, a denominada capacidade nupcial, por exemplo, a capacidade
para a transmissão de direitos reais sobre imóvel.

Mais uma vez, sem prejuízo de conflitos que haja com outros princípios,
nomeadamente, a matéria relativa do artigo 28º.
Notem: vamos esquecê-lo, isto porque este é matéria da capacidade relativa ao
aproveitamento do negócio jurídico, no âmbito da ideia do SUB princípio que é a
proteção do comércio jurídico local, tipicamente em matéria obrigacional.

O regulamento de Roma I exclui os problemas de capacidade com exceção disto


que aqui está. Esta matéria do artigo 28º, apesar de ser um problema de capacidade
esta excluído do regulamento de Roma I.
Resolvido depois que esteja a questão da capacidade e concluir que o negócio é
invalido por incapacidade de um dos declarantes.

E depois a matéria relativa ao aproveitamento ou não do negócio em prol do


princípio do comércio jurídico local, o regulamento Roma I volta a avocar a si a
competência. A matéria do artigo 28º fica derrogada por aplicação do regulamento do
Roma I.
No que tange em matéria de personalidade e capacidade, quer a aplicação do
artigo 26º, quer do 28º.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Todas estas matérias estão reguladas e continuam a ser reguladas pelo CC, mais
uma vez, com exceção daquilo que os regulamentos da UE agora consideram que faz
parte do seu âmbito material e, portanto, se fizer parte do âmbito material dos
regulamentos, nós aplicamos os regulamentos e não o CC.

Se ele disser que é competente para uma parte e não para outra. Aplicamos para
uma parte o regulamento e para a outra aplicamos o código. Sem prejuízo, o artigo 28º
por exemplo fica afastado pela aplicabilidade do artigo 13º do regulamento ainda que a
matéria para determinar se a pessoa é ou não capaz para celebrar o negócio seja
expressamente excluída da aplicabilidade do regulamento de Roma I.

PESSOAS COLETIVAS

No que tange às pessoas coletivas a conexão regra é a do artigo 33º do CC. Este
aplica-se às pessoas coletivas de natureza civil. Para as de natureza comercial há uma
regra específica no código das sociedades comercias (irrelevante para o teste).
A regra é o critério da sede, ou seja, onde a pessoa coletiva tiver a sede, será esse
o elemento pessoal para aqui ser considerado.

ESTRANGEIROS EM PORTUGAL

Depois temos a matéria relativa aos estrangeiros em Portugal, já falamos,


nomeadamente no artigo 14º CC, relativamente ao direito dos estrangeiros em Portugal
e da querela que se suscita, relativamente, os direitos que são atribuídos aos
portugueses em Portugal e aos estrangeiros em Portugal.
E como sabemos, a regra de interpretação deste artigo 14º, nos termos do 13º
da CRP, informada por todos os textos do Direito Internacional e pela Declaração
Universal dos Direitos Humanos, e Carta de Direitos Fundamentais da UE é,
necessariamente, um princípio de equiparação dos direitos civis entre portugueses e
estrangeiros, que estejam em Portugal.
Não se admite qualquer tipo de discriminação negativa, independentemente da
causa, nomeadamente em razão da nacionalidade das pessoas e da residência habitual
delas.

Aquilo que existe, relativamente, ao número 2, há de ser uma interpretação


nunca do Princípio da retaliação (?), mas sim de uma eventual situação de discriminação
positiva relativa a portugueses em Portugal, quando se conclua que a nacionalidade é o
critério determinante para o reconhecimento ou atribuição desse direito.
Para quem entenda que é inconstitucional é considerado o 14 número 2
inconstitucional e usar qualquer situação de discriminação positiva a partir da última
parte do número 1 artigo 14º.

O número 2, se não entenderem constitucional, a interpretação terá de ser


sempre de acordo com a analogia que está. Com o artigo 15º da República Portuguesa,
ou seja, que a própria Constituição reconhece que, havendo direitos que estão
necessariamente ligados à nacionalidade das pessoas. Sendo esse caso, Portugal
pode reconhecer para portugueses direitos que não reconhece os estrangeiros.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Portugal reconhece para estrangeiros que fazem parte dos países que têm como
língua oficial português ou também português, especiais relações, nomeadamente para
nesse caso concreto, haver uma maior equiparação relativamente aos portugueses,
ainda que essas pessoas que não sejam nacionais de Portugal, mas são nacionais de
outros países, o que não existe com outros países, em que não existe essa proximidade
fraterna com Portugal.

Atenção: quando a conexão é a RH e tivermos que estar a fazer interpretações


relativa a estrangeiros, notem que nunca podemos estar a fazer discriminações mesmo
nos termos do artigo 14º nº2 relativamente aos estrangeiros que sejam de EM da UE,
não se esqueçam que quanto esses há a livre circulação de pessoas e, portanto, isso
nunca pode implicar que o reconhecimento dos direitos desses estrangeiros seja
diferenciado relativamente a portugueses, portanto, aí, quando tem essa conexão,
necessariamente tem que haver um processo de equiparação.

Continuamos a aplicar nestas matérias o estatuto pessoal da parte geral do


CC. Pontualmente, as questões são efetivamente pontuais, sempre que alguns dos
regulamentos avoque a si essas matérias estatuto pessoal, da parte geral, ou seja, do
artigo 25º, até à parte do livro das obrigações de DIP, as situações são pontualíssimas,
continuamos a aplicar o CC.

22.11.2023 (T)

INTERPRETAÇÃO AO NÍVEL DOS REGULAMENTOS DA UE


A interpretação que tem agora ao nível dos regulamentos da UE que se faz não
só tendo em concessão o direito internacional, mas também o Princípio direito da união
em matéria, quer material, quer conflitual.
Naturalmente, acontece em matéria de que a UE possa legislar e que vincula os
estados ou em matérias que os estados se vinculam autonomamente. A partir daí já
sabemos, essas normas prevalecem sobre as de direito interno, bem como nesta
matéria que prevalece, independentemente disso, as interpretações do direito da União
para garantir aquilo que é a estrutura do pilar jurídico da UE.
Em matéria de DIP, algumas interpretações que se fazem, nomeadamente, das
mais comuns, aquelas que qualquer manual fará referência, sendo que foi a partir dessas
que houve um grande desenvolvimento na matéria da alegada Unificação de DIP ao nível
da UE, que, conforme percebemos foi em matéria de direito das obrigações, portanto,
os contratos em geral dos direitos das obrigações que vêm já desde a Convenção de
Roma de 1985 e agora, desde 2008, que é o Regulamento Roma I, que esgota a matéria
dos direitos das obrigações em geral, tipicamente a matéria do 41º e 42º do nosso
código.
Estes diplomas ao nível da UE e depois as sucessivas interpretações do Tribunal
de Justiça que se foram colocando, nomeadamente, naquilo que era o início deste
processo de unificação da UE, sofreu naquela altura uma série de interpretações do
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Tribunal de Justiça sobretudo em matéria de estatuto pessoal quer no que tange
conexão nacionalidade, quer no que tange à conexão da residência habitual.
CIDADANIA EUROPEIA
Aquilo que se refere a ligação de uma determinada pessoa a um determinado
Estado justifica aquilo, que nós falávamos na altura, de um estatuto jurídico dos
estrangeiros. A diferença de tratamento do artigo 14º/2, que resulta, nomeadamente,
do artigo 13º da Constituição e do artigo 15º, que admite discriminação positiva,
relativamente, aos portugueses e a atribuição de determinados direitos que não
atribuem estrangeiros.
Sem prejuízo das relações que ligam Portugal com outros países irmãos pela sua
razão histórica, nomeadamente, nos países de língua oficial portuguesa e porque, para
além disso, a língua é um dos elementos essenciais no processo de aculturação, para os
cidadãos desses países, existe também um princípio de discriminação positiva, bem
como existe, com a revisão do artigo 15º da CRP, um princípio também de discriminação
positiva, não tendo em consideração a questão da língua, mas tendo em consideração
aquilo que é mundialmente o exemplo mais acabado da desmaterialização da
nacionalidade.
Porque tradicionalmente, a nacionalidade consubstancia a ligação de um
indivíduo de uma determinada pessoa a um determinado Estado ou a mais que um no
caso de eles serem plurinacionais. O que justifica que os direitos associados àquilo que
é organização desse Estado estejam por regras, exclusivamente, atribuídos aos seus
nacionais.
Como sabemos, a partir do momento em que temos, na UE, a ideia da livre
circulação de pessoas dentro do espaço europeu, incluindo para o exercício de direitos
políticos, elevou-se uma nova categoria de nacionalidade, ou cidadania, que é a
cidadania europeia.
Notem, também tem ela (a cidadania europeia) direitos políticos, mas que eles
não estão associados a uma nação ou a um território particular. Portanto, a
desmaterialização completa da ligação das pessoas que fazem parte desta União, não
como um Estado específico, não com uma ligação mais estreita, mas sim a uma
instituição Internacional desmaterializada.

As votações para o Parlamento Europeu, Direitos políticos, exercício de direitos


políticos dependem daquilo que é a cidadania europeia e que implica outras coisas que
as pessoas possam votar para o Parlamento Europeu no sítio que tenham a sua RH.

A questão da materialização da nacionalidade, bem como da materialização de


alguns direitos é particularmente pertinente. Atualmente, coloca-se com grande
atividade, primeiro porque é a UE que pela primeira vez consegue ultrapassar a ideia de
Estado-nação-território, relativamente, a direitos políticos.
Nós estamos ligados a todos os países da UE, independentemente daquilo que é
a nossa ligação com um dos Estados.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem, é um exercício, particularmente, relevante a vários níveis, um deles diz
respeito àquilo que a nacionalidade e a cidadania se tornaram, em que o facto da
cidadania nacionalidade se ter tornado mercantil, ou seja, é possível agora, em que
através de sistemas de investimento estrangeiro concediam os denominados vistos
Gold, através de investimentos, nomeadamente, em mobiliários, sociedades comerciais,
garantiam que determinadas pessoas podiam passar a residir legalmente em Portugal.
Notem, a partir do momento em que estão em Portugal, não só essas pessoas
têm livre circulação dentro dos EM da UE como um todo, espaço Schengen e, portanto,
tornou-se apetecível vender a nacionalidade, sobretudo, para os Estados que, tendo em
conta a sua posição, permitiam a circulação livre, onde de outra forma não conseguiriam
aceder.
Tem aqui quanto a esta matéria, sobretudo em matéria de estatuto pessoal que
é aquela que implicou uma dimensão ou uma alteração daquilo que a perspetiva normal
dos conceitos tradicionais, a UE e o Tribunal em particular denunciaram-se diversas
vezes este é um dos acórdãos mais referidos e qualquer manual de se referir a ele, que
é o determinado Acórdão Rottmann, que é exatamente a necessidade ou
obrigatoriedade da naturalização dos determinados estrangeiro num determinado país.
Notem, com este acordo, Acórdão Rottmann, o direito fundamental que é o
dinheiro para ser cidadão de um país, portanto, todas as obrigações que os Estados têm
para combater os apátridas, com este Acórdão Rottmann tornou-se um verdadeiro
direito subjetivo, ou seja, os poderes discricionários da administração pública e decidir
se concede ou não a naturalização a determinados estrangeiros, mediante a verificação
de determinados requisitos, passou de um poder discricionário para um poder
vinculado.
Ou seja, nasceu não só um direito fundamental e, portanto, uma situação em
que temos direito fundamental, mas a administração pública tem o poder discricionário
de decidir se quer ou não naturalizar determinado sujeito para ser um verdadeiro direito
subjetivo oponível contra o Estado de direito de um determinado país e, portanto,
obrigatoriedade de naturalizar determinados estrangeiros.
Porque a partir do momento em que temos esta naturalização dentro de um EM
da UE. Notem, a total livre circulação não só entre os EM, mas também de todos os
países do Estado, de todos os países sem.
Depois tem, sobretudo estes desta jurisprudência que aqui tem, a mais ou as
mais referidas são sobretudo o Garcia Bell. Eles tratam mais ou menos a mesma coisa e,
sobretudo, a questão relativa a … em que é um casal de chineses. Em que foi exatamente
na senda do Acórdão Rottmann, a interpretação daquilo que é o conteúdo de direito
subjetivo à nacionalidade. Como sabem, a pena de expulsão relativamente aos
estrangeiros que estejam em Portugal, ainda que com residência legal em Portugal,
podem ser expulsos do território nacional, portanto, devolvidos ao país da sua
nacionalidade, coisa que não pode acontecer relativamente à portugueses.
Este acordo deu uma nova dimensão no que tange à livre circulação de pessoas
isto porquê? Porque foi a filha desse casal de chineses. Tendo em consideração um
princípio que foi aplicado no Reino Unido, aquando do seu nascimento denominado
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
princípio dos solos, ou seja, é se nacional de circo onde se nasce a criança, obteve
nacionalidade inglesa.
Os pais não tinham nacionalidade inglesa porque eram chineses e o tempo de
residência legal terminou, portanto, o visto que lhes foi atribuído, terminou quando
foram expulsos do território.

O caso foi remetido ao Tribunal de Justiça, porque eles invocaram que estavam
a expulsar a criança, que era inglesa e que não a podiam expulsar do país, exatamente,
devido ao princípio associado aos efeitos da nacionalidade.
O Tribunal de Justiça determinou que era necessário garantir o direito subjetivo,
sendo este a garantia que determinada pessoa tem. Temos aqui a extensão dos efeitos,
decorrentes do direito subjetivo, devido à nacionalidade.

Atenção à entrada em vigor do Tratado de Lisboa e da Carta de Direitos


Fundamentais da UE, em que fica, expressamente, consagrado o direito à cidadania.
Aproveitando aqui, nesta interpretação, todos os acórdãos que resultam do
Tribunal de Justiça, que se implicavam de qualquer forma, mas que agora ficam
consolidados com a Carta dos Direitos Fundamentais da UE.

Bom, isto tudo muito exemplificativamente. Estes são os casos mais conhecidos,
mas para explicar esta nova dimensão dos estatutos que são interpretados na
aplicabilidade dos regulamentos, mas que influenciam aquilo que é a interpretação
também do direito português e também do DIP, no que tange aos efeitos do mesmo,
nomeadamente, à própria ideia de ordem pública que fica condicionada ou é levado
também a uma segunda camada.
Não só os princípios inerentes ao direito português, mas também os princípios
e direitos àquilo que Portugal recebe, nomeadamente a interpretação do Tribunal de
Justiça bom.
E agora vamos passar para o primeiro dos 4 regulamentos que vamos dar em
matéria de direito Internacional privado, o denominado Regulamento Roma I.
REGULAMENTO ROMA I
O regulamento Roma I, é o sucessor da denominada convenção de Roma em
matéria de obrigações contratuais. O âmbito de aplicação de Roma I tal qual era o da
Convenção de Roma, se se colocar alguma das questões, cujo âmbito de aplicação esteja
previsto no Regulamento, não se aplica o CC e aplica-se, necessariamente o
regulamento.
Este regulamento, ou melhor, a matéria que está neste regulamento foi aquela
que foi tratada com maior rapidez ao nível da UE, porque é em matéria de obrigações
contratuais, aquelas situações em que por um lado mais questões conflituais se
colocavam aos tribunais.
Por outro lado, tratando-se de matéria dos contratos em geral, era aquela que
era mais fácil o acordo dos EM para a interpretação daquilo que eram ou poderiam ser
os princípios que estavam associados.
Notem, tratar de matéria obrigacional, em que o princípio regra é a autonomia
da vontade, cujos contratos têm o conteúdo que as partes quiserem, é particularmente
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
mais simples do que tratar de problemas de pactos sucessórios ao nível das sucessões,
quando apenas alguns Estados os reconhecem.
Portanto, naturalmente, quer pela extensão do número de casos, quer pela
facilidade de acordos, a matéria das obrigações foi a primeira a ser regulada. Mais uma
vez, primeiro pela Convenção de Roma da década de 80, a que se seguiu o Regulamento
da UE de 2008, o comumente designado regulamento de Roma I, ou seja, das obrigações
em geral.
Este diploma enquadra toda a matéria que tem nos artigos 41º e 42º do CC.
Significa que o âmbito material do regulamento coincide com o conceito quadro dos
artigos 41º e 42º. O que significa que a partir do momento em que, para a mesma
matéria há 2 diplomas legais o CC e o Regulamento, pela hierarquia das normas primeiro
verificamos se se aplica o Regulamento e se não conseguirmos aplicar o regulamento,
aplicamos o CC. Não há nota para se ter aplicado nos últimos 30 anos, quer a o artigo
41º, quer o 42º para a matéria que está neste regulamento.
ÂMBITOS REGULAMENTO ROMA I
Para verificar a aplicabilidade do regulamento, é preciso verificar 3 âmbitos, ou
seja, se tivermos uma matéria relativa às obrigações contratuais. Ou seja, matéria que
está no artigo 41º. Temos de verificar se há ou não uma aplicação do Regulamento,
mediante a verificação dos 3 âmbitos: material, temporal e espacial.
ÂMBITO MATERIAL
O âmbito material está previsto no artigo 1º em que não há interpretações de
conceitos quadro, porque o legislador da UE descreveu o que queria e o que não queria
que estivesse na aplicabilidade do regulamento de Roma I. Este aplica-se às obrigações
contratuais em matéria civil.
O âmbito de aplicação do Regulamento está no artigo 12º. Todas as questões
emergentes de obrigações contratuais: validade formal, validade substancial prescrição,
caducidade, tudo o que há para além dos próprios efeitos das obrigações contratuais,
em matéria civil e em matéria comercial, fazem parte do plano material do regulamento.
É a mesma coisa que tem o artigo 41º
O âmbito de aplicação do regulamento, esclarece exatamente todas as questões
em que pudesse haver dúvidas.
Podemos ter contratos de natureza civil ou comercial, desde que, e aí já não
aplicamos o regulamento, a questão controvertida não seja matéria fiscal,
administrativa ou aduaneira. Se a questão for “quem é que paga o imposto de selo de
um determinado contrato?”, o problema é de Direito Público, não é direito
Internacional. O Regulamento especifica claramente essa questão.
Contratos civis e Comerciais deste que a questão controvertida, não seja de
direito Público. Aplica-se a todos os contratos civis e comerciais, com exceção das
matérias que estão na lista do número 2 do artigo 1º.

Tem um conjunto de alíneas em que são matérias civis ou comerciais, mas


relativamente às quais o legislador diz que não se aplica o regulamento. Significa que se
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tivermos uma matéria civil ou comercial em que se suscita algumas das questões das
alíneas do número 2 voltamos ao CC.
Se olharmos para elas, elas estão taxativamente previstas e distintas. Temos
determinados tipos de contrato muito particulares para os quais há regulamentação
específica. Se for um problema de capacidade dos sujeitos, ou então, tem matérias de
índole adjetivo ou processual.
Em matéria de direito adjetivo ou processual, não é um problema do direito dos
conflitos, mas do direito do reconhecimento da competência dos tribunais. O
regulamento esclarece exatamente qual é a matéria civil e a matéria comercial que não
está incluída.

Se concluímos que sim, ou seja, que a matéria civil ou comercial que não suscita
questões de Direito Público e não está excluída pela aplicabilidade do número 2, então,
está verificado o âmbito material.
Vamos ver se a matéria se subsume no artigo 1º: o legislador da UE aquilo que
fez foi identificar, claramente, o que é que está no regulamento, o que é que não está
no regulamento, portanto, a partir daí, a interpretação que se faz é literal da norma.
Ainda que possa haver outro tipo de interpretação, já sabemos que ela fica
condicionada pelo Tribunal de Justiça, portanto, não se coloca a questão de encontrar o
elemento teológico da norma para perceber se as finalidades de uma norma de direito
material coincidem ou não com as normas conflituais do CC, porque o legislador disse
exatamente o que quer tratar.

ÂMBITO ESPACIAL

Verificado o âmbito material, vamos passar para a verificação do âmbito


espacial, que está no artigo 2º do Regulamento.

Notem, em nenhum destes regulamentos se coloca qualquer tipo de questão, o


âmbito espacial, diz respeito em matéria conflitual a eventuais limites que o
regulamento imponha quando se elege determinada lei estrangeira.
Ou seja, o regulamento pode dizer que no âmbito espacial o regulamento só é
aplicável se, nos termos do regulamento, a lei estrangeira for a lei de um EM, por
exemplo.

Não é o que acontece no regulamento, este tem um âmbito de aplicação


universal. Só os EM é que aplicam o regulamento, naturalmente, a lex fori ou a partir do
regulamento, se a lex fori determinar a aplicabilidade de uma lei qualquer, será essa a
lei aplicável, ou seja, o regulamento não impõe limites à lei que vai ser aplicada ao caso.
Todos estes regulamentos têm o tal âmbito de aplicação universal.

ÂMBITO DE APLICAÇÃO TEMPORAL

Naturalmente, o regulamento só se aplica a contratos que produzam efeitos, ou


seja, tenham sido constituídos depois da sua entrada em vigor. Antes da entrada em
vigor, também não aplicável o CC, aplicaríamos a Convenção de Roma, talvez.
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A professora também não se lembra da última vez que foi aplicada recentemente
a Convenção de Roma.

VERIFICADOS ESTES 3 ÂMBITOS APLICAMOS O REGULAMENTO

Verificado, então os 3 âmbitos, significa que se aplica ao regulamento.


Esquecemos o CC.

E como é que aplica o regulamento?

Vamos à procura da norma de conflitos que se deve aplicar ao caso concreto.


Nós só vamos tratar dos contratos em geral, apesar de o regulamento especificar
contratos em especial.
A forma de encontrar a norma de conflitos é a mesma como qualquer norma
jurídica. Classificamos o contrato. Se for um contrato especial, vamos à procura da parte
especial que tem aquele contrato e usamos as normas de conflitos daquele contrato. Se
o contrato não for um desses em especial, aplicamos as regras gerais que estão no artigo
3º e 4º.

Para todos eles, qualquer contrato do regulamento, a regra geral, é como


elemento de conexão é a vontade das partes. O que as regras em especial têm, é que,
se olharmos para os diversos tipos de contrato, contrato de transporte, transporte de
mercadorias e transporte de pessoas, contratos de seguro e os contratos relativos à
proteção da parte mais fraca, ou seja, o contrato de trabalho, contrato com
consumidores, aquilo que o legislador da UE faz, aquilo que o legislador português faz
relativamente a estes contratos, é considerar que aquilo que é o princípio de igualdade
entre as partes não está assegurado e, portanto, tem que introduzir algumas correções.
O direito nacional bem como o direito material da UE introduz essas correções.

Se se protege o consumidor, relativamente, a contratos de adesão, porque ele


não pode negociar as cláusulas do contrato, o legislador quanto a matéria de escolha
de lei também protege o consumidor, porque ele também não consegue escolher a lei,
ou melhor, ele escolhe a lei por adesão, mas não tem capacidade de negociação.

Apesar destes contratos em especial, há algumas compressões, no que tange


à autonomia da vontade, no sentido de proteger a parte mais depauperada da
relação.

A regra é: aplica-se ao contrato a lei que as partes escolheram.


É o princípio da autonomia da vontade, conforme resulta do artigo do artigo 41,
este em matéria de obrigações contratuais, aplica-se ao contrato a lei que as partes
escolheram.
Sendo que ainda que igual ao artigo 41º, o princípio da autonomia da vontade
no regulamento Roma I, e, no entanto, mais musculado, ou seja, as partes têm agora
uma maior amplitude de autonomia da vontade no que tange à escolha de lei, estas
diferenças ou se quisermos perceber, exatamente, qual é a extensão da autonomia da
vontade das partes, é aquela que está presente no artigo 3º, que é a conexão regra.
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A conexão regra a aplicar a qualquer contrato de DIP, ou que suscite questões


de DIP é a lei que as partes escolheram, as partes escolhem a lei que quiserem.
O regulamento não protege do princípio da não transitividade.
Nota, em termos de interpretação das normas, com a aplicabilidade do
regulamento o princípio da não transitividade perdeu dimensão.
Nos termos do artigo 41º o princípio da não transitividade formula-se no
sentido de que as partes podem escolher a lei, desde que seja uma das leis que está
em contato com a relação jurídica. A não ser que as partes tenham um interesse sério
na escolha de uma outra lei.

O artigo 3º diz que as partes podem escolher a lei, sem qualquer tipo de limite
e podem dividir o contrato em mais partes e pode cada uma das partes aplicar uma lei
diferente.

AUTONOMIA DA VONTADE COMO CONEXÃO AUTÓNOMA

Para além disso, autonomia da vontade é uma conexão autónoma. O artigo 41º
só funciona para relações jurídicas internacionais, ou seja, quando os elementos da
relação jurídica permitem concluir que a relação jurídica é internacional, a autonomia
da vontade só serve como critério para resolver conflitos positivos de leis.

No regulamento de Roma I, serve ela própria para internacionalizar a relação


jurídica. Ou seja, podem ter quanto aos seus elementos, uma relação jurídica
puramente interna, mas ela será internacional se as partes escolherem uma lei
diferente daquela que todos os elementos da sua relação de jurídica tenham contacto.

Notem a autonomia da vontade ganha uma nova dimensão também para o


direito português, ele deixa de ser a liberdade ou só a liberdade de escolher com
quem contratar, se quer contratar ou não o conteúdo do contrato para admitir
também a lei aplicável ao contrato.
Com a seguinte nuance, se a relação jurídica for puramente interna e a
autonomia da vontade é o único elemento que internacionaliza a relação, ela é
internacional e as partes podem escolher a lei que bem lhes apetecer, desde que não
coloquem em causa normas imperativas do Estado com quem a relação jurídica tem
contacto.

Ou seja, nós em Portugal, temos de ter uma relação jurídica puramente interna
e escolher uma ordem jurídica completamente diferente para regular a nossa relação
jurídica. Será a lei dessa ordem jurídica que vai regular o nosso contrato nacional,
exceto no que tange a normas imperativas. Quanto ao resto nada a opor.

Limite este que já não temos, se a relação jurídica for internacional para além
da conexão, autonomia da vontade. E aqui escolhemos a lei que quisermos. Tudo isto é
extensível aos diversos afloramentos do contrato. Não tem de ser só aos efeitos do
negócio jurídico incluí entre aquilo que está no artigo 13º, também a matéria relativa
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à validade formal e substancial do negócio jurídico. Todas estas matérias, se incluem
no âmbito material e, no limite, na escolha de lei das partes.

Se por acaso as partes não escolheram a lei. Então, tal qual acontece no CC,
aplicaríamos o artigo 42º. Ou seja, se as partes não escolheram a lei, temos os critérios
supletivos. Aqui é a mesma coisa. Se a conexão regra, autonomia da vontade, não
existir no caso concreto, ou seja, as partes não escolheram a lei, temos todo o artigo
4º com critérios supletivos. Este é particularmente extenso, porque ele tem subjacente
um Princípio de especialização.

Notem, um princípio de especialização para os contratos em geral, não para


aqueles contratos em especial para esses há regras próprias.
Se olharmos para o número 1, ele tem muitas alíneas. Vamos encontrar a
conexão considerando qual é o nosso contrato e se ele se subsume numa dessas
alíneas, ele estabelece uma série de contratos e para cada um deles estabelece uma
conexão.

Com a seguinte particularidade, escolhida a conexão através de uma dessas


alíneas do artigo 4º, o legislador, isto é o que faz praticamente todos os regulamentos.
Permite a afastar a aplicabilidade dessa lei se se provar que no caso concreto
existe outra que é manifestamente mais estreita com a relação jurídica. Ou seja,
aquele princípio que nós também temos, nomeadamente, na aplicação do artigo 28º
que é o princípio da conexão manifestamente mais estreita e aqui é exatamente a
mesma coisa. Só que aqui o legislador presume que há uma conexão tendo em conta o
tipo de contrato que deve ser aplicado ao caso, mas permite às partes desde que
provem demonstrar que, naquele caso, tendo em conta aqueles critérios a outra que
prevalece sobre aquela que em geral foi determinada.

O que notem, é particularmente relevante, tendo em consideração as


expectativas das partes e a riqueza do caso concreto, ou seja, permite que uma
conexão que é geral e abstrata possa ser adaptada tendo em consideração as
circunstâncias do caso concreto.

Se o nosso contrato não estiver nas alíneas do nº1 apoiam o nº2. O nº 2 aquilo
que diz é: se não tivermos aquele contrato, ou seja se o nosso contrato não se
subsumir em nenhumas das alíneas do nº1, então a conexão regra é sempre, sem
prejuízo de demonstrar que existe outra manifestamente mais estreita, a conexão
supletiva que é a RH do contraente que tem a prestação característica do contrato.

Significa que, olhando para o contrato, aquilo que vamos fazer é olhar para as
obrigações dos efeitos jurídicos daquele contrato e determinar qual é o sujeito
daquela relação jurídica, que tem uma obrigação que permite distinguir aquele
contrato dos outros e, portanto, particularmente simples.

Se olhar para as obrigações, conseguimos perceber qual o tipo de contratos


que aqui está ou não, ou seja, conseguimos classificar o contrato ou não. Aquele que
permite distinguir o contrato é aquele que tem a prestação característica.
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A regra geral para determinar isto é o contraente que tem a contraprestação da


prestação pecuniária. Pensem num contrato de arrendamento, obrigações entre as
partes: obrigação de pagar a renda, o outro tem obrigação de garantir o gozo do local.
O contrato de compra e venda, um tem obrigação da entrega da coisa e
outro tem obrigação de pagar o preço.

Se olharem para estes contratos o que vamos ter é que o arrendatário tem a
obrigação de pagar. O locatário a obrigação de pagar o preço. O comprador obrigação
de pagamento. Se olharmos para estas obrigações não sabemos que tipo de contrato é
temos, porque a obrigação implícita em todos é o pagamento do preço.

Se olharmos para as obrigações do outro lado, um tem obrigação de ceder o


gozo da coisa, o outro tem obrigação de entregar a coisa. Chegamos à conclusão de
que aquilo que caracteriza o contrato, naquele caso concreto, é a obrigação do
vendedor e a obrigação do senhorio.

Portanto, a conexão regra mais uma vez, sem prejuízo da conexão


manifestamente mais estreita é a RH do senhorio. Se não puserem ou se não
souberem o contrato, só puserem os efeitos, de um lado só tem pagamento do preço,
pagamento que quer que seja.
Ou seja, a prestação pecuniária não é de toda a prestação característica do
contrato, ou seja, é contraprestação de cada prestação característica do contrato é a
contraprestação, ou seja, a prestação oposta àquilo que tem obrigação de pagar
alguma coisa. Será a RH do sujeito, a não ser que se demonstre que há outra conexão
manifestamente mais estreita.

Problema é se não tivermos importação característica do contrato, por


exemplo, no mútuo. Entregar dinheiro, entregar dinheiro. Ou seja , não conseguem
distinguir. Aí aplicamos a última conexão que lhes resta que é ter em consideração as
circunstâncias do contrato, aquela que apresenta uma conexão manifestamente mais
estreita.

23.11.2023 (T)

CONTINUAÇÃO DO REGULAMENTO DE ROMA I

O alargamento que aqui está é meramente literal e, portanto, sem grandes


questões interpretativas ou sem grandes dificuldades, mormente tendo em
consideração que é uma matéria que já demos ao nível do CC e aqui aplica-se ipsis
verbis, sem grandes alterações, ou então porque tem um regime próprio. Como vamos
perceber o regime do CC é, particularmente, mais complicado e, portanto, a partir daqui
o regulamento resolve as questões de uma forma mais fácil.
Uma delas, são as NANIS.

NORMAS DE APLICAÇÃO NECESSÁRIA E IMEDIATA


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
São um conjunto de normas, com natureza jurídica que têm e que são da lei do
foro que se aplica, necessariamente, à situação em concreto.
Todos os regulamentos as previram. No âmbito do CC, elas não são
expressamente previstas, mas a doutrina já as classificava como normas que não podem
ser afastadas, porque mesmo que, não colocando questões relativas à ordem pública do
foro, elas fazem parte daquilo que é a estrutura dos sistemas jurídicos dos diversos
Estados, portanto, têm de ser aplicadas.

Estas normas de aplicação necessária e imediata são sempre da lei do foro,


portanto, estão expressamente previstas, mas elas são, sobretudo, normas
correspondentes a outros ramos de direito que, ainda que possam ser direito de direito
civil, são de direito civil especial e depois afastam-se um bocadinho daquilo que é a
estrutura da unidade curricular.
Temos aqui um conjunto de normas associado, por exemplo, a questões laborais
que têm consideração, aquilo que é o princípio da proteção, relativamente, aos
trabalhadores, matérias relativas a direitos de consumo, algumas questões relativas ao
direito da família, etc.

Com a natureza jurídica que têm, elas aplicam-se independentemente da solução


jurídica que seja adotada no caso concreto, numa solução jurídica estrangeira.
Elas estão expressamente previstas em todos os regulamentos da UE, mais uma
vez, no CC nós também tínhamos estas normas por construção dogmática e não por
estarem expressamente previstas no regulamento.

REGULAMENTOS A SALVAGUARDAR O PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA ORDEM


PÚBLICA INTERNACIONAL DO ESTADO DO FORO

No regulamento de Roma I, ele está previsto no artigo 21º.


Também todos os regulamentos da UE, qualquer instrumento legal
Internacional do direito Internacional privado, nomeadamente, as convenções
internacionais, preveem expressamente a questão de ordem pública.

A questão da ordem pública é um princípio essencial aos Estados, portanto,


nenhum estado se vincula a um instrumento de Internacional privado em que não seja
possível salvaguardar situações em que a lei estrangeira possa pôr em causa a sua
própria ordem pública.
Reparem que o princípio interpretativo do artigo 21º é, exatamente, o mesmo
que tem no CC, ou seja, é de recusar, o Estado pode recusar a aplicabilidade da solução
material estrangeira, quando essa solução de direito material estrangeiro põe em causa,
princípios e valores que são essenciais ao Estado.

Estes princípios e valores essenciais já sabem, que são, tal qual a ordem pública,
aqueles que, num determinado local e num determinado momento, determinada
ordem jurídica considera como sendo repositório ou único, daquilo que são os princípios
e valores que caracterizam aquela sociedade e aquela ordem jurídica naquele momento.
Portanto, o Conselho tem um determinado conjuntural e depende depois da
riqueza e das circunstâncias do caso concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Aqui, a interpretação é exatamente a mesma, portanto, o que era um problema


de ordem política, nos termos do CC, se aplicarem o regulamento e aplicarem a lei
estrangeira será exatamente o mesmo problema de ordem pública, sendo que a única
diferença ou a nuance que tem relativamente ao tipo de regulamento, face ao CC, é que
o regulamento não prevê o princípio do mínimo dano que tange à aplicabilidade do
direito material estrangeiro.

Ou seja, se se recordam daquilo que era a solução do CC, a ordem pública do foro
é um mito à aplicação da solução material estrangeira, não sem antes, o intérprete dessa
lei na ordem jurídica foro, desencadear processos de interpretação normativa dessa lei
estrangeira, que possa permitir, com base nesse exercício interpretativo, continuar a
aplicar da estrangeira por forma a que ela não ofenda a ordem pública portuguesa no
caso concreto.

Portanto, ou seja, não se afasta imediatamente a aplicabilidade de lei


estrangeira, sem que seja feito esse exercício interpretativo, eventualmente, encontrar
um QUID diferente nessa ordem pública, nessa ordem estrangeira, para resolver aquela
questão no caso concreto.

NOTEM: a aplicabilidade da exceção da ordem pública Internacional, reserva da


ordem pública Internacional, faz-se exatamente também nos termos do CC, ou seja, não
é uma censura em abstrato à solução de direito material estrangeiro. Tem de se aplicar
o direito material estrangeiro ao caso concreto e da solução que resultar da
aplicabilidade normativa desse diploma, ou dessa norma, o que quer que seja, é que
tem de resultar um efeito jurídico que põe em causa a ordem pública Internacional do
Estado do foro.

Recordam-se daqueles exemplos que davam em que ele é totalmente discriminatório,


por exemplo, em razão do género?

Não funciona a ordem pública Internacional.


Funcionaria ou funcionará se da aplicabilidade daquela solução material
estrangeiro e que é discriminatório, efetivamente, no caso concreto, resultar um efeito
jurídico de discriminação entre homens e mulheres, por exemplo.
Portanto, nunca é um juízo em abstrato a ser um juízo em concreto.

O exemplo paradigmático, que demos um caso prático, o direito ao divórcio é


um direito só do Homem, por exemplo, mas se foi um homem a pedir o divórcio não se
coloca nenhum problema relativamente a mulher, foi o homem que exerceu aquele
direito.
Portanto, não é a aplicabilidade em abstrato ou a previsão em abstrato, é a
previsão em concreto da solução, tem de resultar no efeito estimulador. Quanto a isso
é exatamente igual, o exercício interpretativo é exatamente igual, tal como fazemos no
CC.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A única diferença que aqui tem deste artigo 21º do regulamento, aquele facto
não prevê o princípio da proteção do mínimo dano relativamente à aplicabilidade da
ordem pública estrangeira e, portanto, não impõe ter de se expurgar o efeito
discriminatório, continuar na manutenção da aplicabilidade de lei estrangeira. A solução
é afastar a lei estrangeira e aplicar a lei do foro (?).

Ou seja, se da solução material estrangeira resulta que o regulamento se chegar


a uma situação em que efetivamente se viole a ordem pública Internacional, afasta-se a
lei estrangeira e a ordem pública utiliza o seu próprio direito internacional material para
resolver a questão controvertida.
Ou seja, tal qual como nós fazíamos em última instância no que tange ao limite
da aplicabilidade da lei estrangeira, ou seja, afastávamos a lei estrangeira e aplicávamos
a lei do foro.

Outra especificidade a salvaguardar do regulamento de Roma I: Ordenamentos


jurídicos plurilegislativos.

ORDENAMENTOS JURIDICOS PLURILEGISLATIVOS

Estão expressamente previstos no artigo 22º do CC.


Ou seja, o regulamento também resolve questões de ordenamento do
ordenamento jurídico que vigore mais do que um sistema normativo.
Portanto, quando em razão, qualquer conexão, ou seja, não é a nacionalidade,
não é o princípio de nada, quanto à aplicabilidade daquele regulamento se determine a
lei do Estado, que é plurilegislativo, seja qual for natureza, o artigo 22º resolve o
problema.

Numa situação, particularmente distinta daquela que resulta do artigo 20º do


CC, primeiro já sabem contigo 20 é muito castrador das situações dos ordenamentos
jurídicos plurilegislativos, ou seja, só em matéria de estatuto pessoal e quando a lei do
ordenamento jurídico plurilegislativo é lei da nacionalidade.
Fora disso, temos de fazer todas aquelas interpretações analógicas e depois
resolver o conflito, se for o caso, através da interpretação analógica do princípio da
ligação manifestamente mais estreita, nos termos do artigo 28º da lei da nacionalidade.
Nos termos do artigo 22º, ao contrário do pressuposto que existe para o artigo
20º do CC, quando o elemento de conexão do regulamento se determina, a
aplicabilidade de uma lei do ordenamento jurídico plurilegislativo legislativo, no CC
significa que, necessariamente, o legislador português está a apontar para a lei do
Estado soberano e por isso é que se geram todos os conflitos internos.
O legislador do artigo 22º foi particularmente querido. Porque não é assim.

Ou seja, os ordenamentos jurídicos plurilegislativos resolvem-se da seguinte


forma:
Se o ordenamento for plurilegislativo, não se aponta para além do Estado de
soberano, aponta-se, imediatamente, para a lei interna deste Estado soberano, para o
qual a conexão pertence.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Ou seja, se a conexão for a residência habitual do vendedor for o lugar onde se
encontra imóvel, for o lugar da celebração do negócio jurídico, for o lugar do
cumprimento, (não se colocam, por regra, problemas de nacionalidade porque mesmo
em matéria de estatuto pessoal, como sabem, ao nível da UE, a conexão regra é da
residência habitual, não a nacionalidade, portanto, nunca apontam numa situação
destas para o ordenamento jurídico legislativo no seu todo).

Se a residência habitual do vendedor, se um lugar da celebração do negócio


jurídico, se o lugar do cumprimento, for no ordenamento jurídico legislativo, não
apontam para o Estado soberano, apontam para um lugar no espaço para a lei em vigor,
onde a conexão se verifica.

Ou seja, dentro do ordenamento jurídico plurilegislativo ele reside em que Estado? E


nesse Estado, qual é a lei que está em vigor? É a lei interna, a lei federada, a lei
federal?

É essa que se aplica.

Ou seja, cada uma das unidades que compõem o ordenamento jurídico


plurilegislativo, consubstanciam, para efeitos do regulamento, um ordenamento
jurídico autónomo.
Portanto, se a conexão é a lei do lugar da residência do vendedor, se o vendedor
reside no Estado do Colorado, nos Estados Unidos, é a lei em vigor no Estado do
Colorado que se aplica ao caso concreto. Portanto, não há conflito interno de leis porque
para o regulamento cada unidade territorial é um ordenamento jurídico autónomo. O
assunto fica arrumado assim.

Repare que nem todos os regulamentos têm esta solução. Vão ver que em
matéria de estatuto pessoal, exatamente porque tem muitas vezes situações em que o
legislador tem de ir à nacionalidade ou à conexão nacionalidade, aí ele é menos simplista
a resolver a questão.

Neste tipo de situações, então se coloca matéria de questões de estatuto


pessoal, a única conexão pessoal que suscita é conexão da residência habitual, que é a
conexão regra ao nível da UE. Então o legislador, resolveu a questão de uma forma muito
simples que é: cada unidade é, para todos os efeitos, uma ordem pública e, portanto,
procurem-na partir daí.
Ou seja, nunca se colocam, ao nível do regulamento de Roma I, conflitos internos
dentro de ordenamento jurídicos plurilegislativos. Por exemplo, cada Estado dos EUA é,
para efeitos deste regulamento, um Estado autónomo, com autonomia e é essa que se
aplica sem outras considerações. Tem a resolução particularmente simples no que tange
a estas matérias.

29.11.2023 (T)
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

REGULAMENTO DE ROMA II

Na matéria relativa ao Regulamento de Roma I, temos questões de obrigações.


No regulamento de Roma II temos uma matéria relativa à responsabilidade civil, à
gestão de negócios, ao enriquecimento sem causa e era uma dúvida que se colocava se
o Roma I integrava esta matéria, mas, entretanto, o Roma I, esclareceu expressamente
a questão, quanto à matéria relativa à responsabilidade pré-contratual.

Tal qual acontece com o artigo 41º e 42º do CC, que fica afastado pela
aplicabilidade do regulamento de Roma I, ou então anteriormente pela Convenção de
Roma, também a matéria do Roma II afasta a aplicabilidade do CC no que tange à
responsabilidade civil extracontratual (? 43º, 44º e 45º)
Todas essas matérias aplicam o regulamento de Roma II a não ser que esteja
especificado, necessariamente, no CC.

Ao contrário do Roma I, desde a sua entrada em vigor não recebeu nenhum outro
diploma legal.

Porquê?

Significa que ele por ser mais ou menos contemporâneo com o Roma I, sendo
este Roma II contemporâneo, tem matérias que se aplicam mesmo até da entrada em
vigor do Roma I. No entanto, a matéria do Roma I já estava na convenção de Roma,
portanto, necessariamente, todo o âmbito material estava delimitado pela matéria das
relações contratuais, muito mais antiga que o atual (?) contemporâneo deste mesmo
regulamento.
Este regulamento também não tem, tal qual o como no Roma I, limites quanto à
vinculatividade aos EM, portanto, todos os EM, com exceção da Dinamarca, estão muito
latos à aplicabilidade do regulamento.

Que é que isto significa?

Significa que Portugal, neste caso concreto, se encontra vinculado a este


regulamento.
Que para aquilo que nos interessa a nós, ainda que haja matéria relativa às
questões de direitos de autor e direitos de propriedade intelectual, o Roma II considera
a sua aplicabilidade, anterior no que tange ao âmbito temporal.
O Roma II aplica-se a todas as matérias que emergem, de facto jurídicos
posteriores à sua entrada em vigor, ou seja, posteriores a 11/01/2009.

Tal qual como acontece com o como o Roma I, a aplicabilidade deste


regulamento está dependente da verificação de 3 âmbitos:

1. Âmbito material
2. Âmbito temporal - portanto, todas as matérias posteriores a janeiro de 2009.
3. Âmbito espacial
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
ÂMBITO MATERIAL

No que tange ao âmbito do material, o Roma II aplica-se então a todas as


obrigações emergentes por fontes não contratuais: A responsabilidade civil
extracontratual, ou seja, por facto ilícios, por factos lícitos, ao enriquecimento sem
causa, à gestão de negócios; responsabilidade civil pré-contratual, excluindo qualquer
questão, relativa a matéria fiscal, administrativa ou aduaneira.

Fica também excluído do âmbito do regulamento as questões relativas à


responsabilidade civil extracontratual do Estado ou Estados.
Portanto, neste caso concreto, a ressalva que lá tem para nós, é uma
redundância e ressalvada qualquer questão em que o Estado seja parte, quando ele atua
no âmbito do seu livre império.
Para nós é um problema administrativo, portanto, já estaria excluída, mas, não
obstante, todas as matérias no âmbito de responsabilidade civil extracontratual, em que
esteja demandado o estado português, atuando na sua posição de ius imperium, não se
aplica o regulamento de Roma I. Mais uma vez, para nós seria uma questão de direito
Público e não direito privado, portanto, temos uma relação jurídica de direito privado.

Tal como como acontece no Roma I, a técnica é exatamente a mesma, porque


encontramos exatamente aquilo que têm escrito. O Roma I liga então todas estas
matérias, com exceção das administrativas, fiscais, aduaneiras e aquelas em que o
Estado atue no âmbito do seu ius império, cujo âmbito de aplicação do Roma I no artigo
12º e no Roma II está no artigo 15º, em que percebemos exatamente o âmbito de
aplicação do Roma I, relativamente, a estas matérias, sem prejuízo, não obstante, das
matérias que estão excluídas nos termos do número 2 do artigo primeiro.

Ou seja, o âmbito material está então para estas matérias e dentro destas
matérias portuguesas de direito civil, comercial, responsabilidade civil extracontratual,
a gestão de negócios, enriquecimento sem causa, responsabilidade civil pré contratual,
excluindo aquelas que estão no número 2.
As questões número 2, são exatamente quanto à natureza como no Roma I. Ou
seja, são matérias de relação pessoal, (?) diversas alíneas do nº 2, aquilo que tem é a
responsabilidade de relações de casamento, das responsabilidades parentais, etc.
Tem algumas questões do direito comercial, também alguns negócios jurídicos
que, tal qual no como no Roma I estavam excluídos, nomeadamente os casos. Questões
relativas ainda de direito adjetivo, nomeadamente a matéria do ónus da prova com uma
exceção, como veremos.

Atenção na alínea g), do artigo 1º. A alínea g) possui uma fonte interessante de
responsabilidade civil extracontratual pela prática de facto ilícitos, ou seja, a violação de
direitos absolutos.
A alínea g) e tem sido, a maior fonte de controvérsia do Roma II. Isto porque,
historicamente, ela corre mais uma vez uma Felicidade de considerar aquilo que é
diferenças do regime, sobretudo da Europa continental, com a data, o Reino Unido e a
classificação dos direitos para efeitos de responsabilidade civil extracontratual,
nomeadamente na prática de factos ilícitos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Sem a violação da reserva da vida privada e sem a violação de outros direitos de
personalidade, reparem, nomeadamente no fim de tudo, no regulamento é que tem
exemplos no que se entende como esse tipo de direitos, nomeadamente em matéria de
informação. Naturalmente, o problema não é diferença. A informação é a classificação
do direito como uma categoria, nomeadamente de ordem criminal, o está aqui em causa
é, naturalmente, o direito de personalidade associada ao Roma I e às interpretações das
pessoas.

Notem, para nós, independentemente da classificação como direitos de


personalidade, podem ser também direitos absolutos emergentes ou fontes (?) quando
violados com responsabilidade civil extracontratual, ou seja, há um conjunto de direitos
para nós, no ordenamento jurídico português, tendo introduzido em geral na europa
continental em que os direitos tem classificações diferentes, consoante a fonte legal de
onde decorrem.

Ora, o direito à vida é um direito humano, solidário do Conselho diretivo


nacional, relativo à matéria dos direitos dos humanos. É um direito fundamental, se
olharmos para a Constituição, é um direito de personalidade, se olharmos para o CC, é
um direito absoluto, se olharmos para responsabilidade civil extracontratual, que é um
bem jurídico se olharmos para o código penal.
Ou seja, estamos sempre a falar de direitos, que, dependendo das relações
jurídicas que são estabelecidas verticais ou horizontais e dependendo de qual nos diz
que vai ser aplicado, em concurso real ou num concurso meramente aparente, a
classificação vai variando consoante essa mesma fonte.

O que não acontece ou não acontecia aquilo que, agora a questão não se coloca
com tanta atividade, que como sabem (?) saiu da UE, mas a verdade é que, para efeitos
de responsabilidade civil, esta com Portugal a classificação dos direitos da
personalidade, dava origem a outras fontes de Responsabilidade civil extracontratual,
nomeadamente sítios que não tecnicamente a responsabilidade civil extracontratual.
Isto significa que grande parte daqueles que são os nossos direitos absolutos,
sendo direitos de personalidade, ficam excluídos do âmbito de aplicação do
regulamento.

Que é que isto significa?

Significa que se tivermos direitos da personalidade, apesar deles para nós serem
também direitos absolutos, fontes de responsabilidade civil extracontratual, não
podemos usar o Regulamento de Roma II, mas sim do CC para tramitar qualquer questão
emergente do conflito de leis associada à responsabilidade civil extracontratual.
Mas mais uma vez a explicação é por técnica associada entre os concursos de
regimes presentes no Reino Unido.
Peço a vossa especial atenção para essa alínea G), porque mais uma vez, muitos
dos direitos de personalidade que são fundos de responsabilidade civil extracontratual,
são eles também direitos absolutos. Para nós será necessário, naturalmente, fonte de
responsabilidade extracontratual, mas relativamente ao qual não podemos aplicar o
regulamento de Roma II.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

ÂMBITO DE APLICAÇÃO ESPACIAL – Artigo 2º

Tal qual acontece com o Regulamento de Roma I, o âmbito de aplicação do Roma


II é universal.

Que é que isto significa?

Significa que qualquer lei que seja escolhida pelo elemento de conexão das
normas de conflitos, do Roma II, seja a lei dos Estados Unidos, seja uma lei de um Estado
terceiro, não implica nenhum tipo de limite ao âmbito aplicação especial do Roma II.

Portanto, o regulamento de Roma II decidem aplicar a lei como (?), será aplicada
sem nenhum tipo de limitação.

Mais uma vez, a aplicabilidade deste regulamento resulta da verificação


cumulativa destes 3 âmbitos.
Sendo que, ao contrário do Roma I, nomeadamente, no que tange ao limite
temporal, defesa inicial deste regulamento, se for essa a questão não tem um outro
texto direito Internacional, nomeadamente direito da UE, para aplicar no caso concreto,
mas sim do CC.

Ou seja, significa que em matéria de responsabilidade civil extracontratual ainda


tem, no âmbito do CC, alguma expressão, nomeadamente nesta altura, os tribunais
portugueses não são obrigados a aceitar (?) anteriores a 2009 (?) em que se aplica o CC,
mas sobretudo nas matérias relativas à responsabilidade civil em que a violação dos
direitos de personalidade, em que no Roma II, nos termos da alínea g) do artigo 1º, exclui
o seu âmbito de aplicação.

O CC ainda tem aqui alguma margem expressiva de aplicabilidade, não obstante


do regulamento, onde enfim este tem mais de 15 anos desde a sua entrada.
Tal qual acontece para o Regulamento de Roma I, ou seja, verificados estes 3
âmbitos aplicamos o regulamento.
E o regulamento de Roma II também exclui qualquer possibilidade de reenvio.
Isto significa que quando a lei do foro, necessariamente um EM ou o tribunal de um EM
considerar uma lei estrangeira, isso só (?) exclusivamente a aplicabilidade do direito
material de lei estrangeira, o regulamento de Roma II não admite isto e só faz referências
materiais.

Tal qual o regulamento de Roma I, no que tange a ordenamentos jurídicos


plurilegislativos, o regulamento de Roma II remete para um lugar no espaço e não para
o ordenamento jurídico do estado soberano. Se for aplicável a lei do lugar onde ocorreu
o dano, aplica-se no espaço onde ocorreu o dano, se naquele espaço vigora direito
interlocal ou vigora a lei federal no Estado soberano, é absolutamente indiferente. Será
a lei que fica no interior daquele espaço, mesmo sendo a divisão interna do território,
aquela que é aplicável ao caso concreto.
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A grande inovação do Roma II, tendo em consideração a solução política


portuguesa para estas matérias, é que a conexão do Roma II, ainda que não seja a
conexão de regras, é a personalidade de as partes escolherem qual é o plano que
querem ver aplicada.
Ou seja, o Roma II também inclui a comunicação autonomia da vontade.

ATENÇÃO: O regime do Artigo 14º do Roma II em comparação com o artigo 3º


do regulamento de Roma I.
Ou seja, enquanto no Roma I conexão regra é a autonomia da vontade, em que
há um conjunto de normas coletivas, o artigo 14º prevê a autonomia da vontade, as
partes podem escolher a lei de que quiserem para regular a sua situação controvertida,
mas com a seguinte particularidade, que eu diria que é obvio.
Qualquer uma destas questões que fazem parte do âmbito material do
regulamento de Roma II, considerassem extracontratual a gestão de negócios (?),
significa que não há um facto jurídico prévio do qual possam emergir, situações,
obrigações e, portanto, situações de conflito.

Se for atropelada numa passadeira, não consegui antes estabelecer um acordo


de vontades com quem me atropela, para dizer que no caso se esse me atropelasse para
dizer que isto era uma situação que escolhemos em concreto.
Naturalmente, não há nenhum facto jurídico prévio, a não ser numa situação
excecional, qualquer escolha de lei, só pode ser através de uma convenção entre as
partes, levantes e lesados, após o facto.
Ou seja, se pode ser atropelada e chegar a acordo de como eu a lesei para
aplicarmos uma lei diferente do que aquela que seria aplicável, nos termos do
regulamento, nada a opor, será essa a lei a ser aplicada.

Nos termos do artigo 14º, pode haver aqui uma alteração, ou seja, pode-se
admitir um acordo de vontades prévio ao facto, para agentes económicos. Ou seja, para
todas as pessoas que exerçam faculdades comerciais, das quais possam, eventualmente,
emergir situações de responsabilidade civil extracontratual de enriquecimento sem
causa ou gestão de negócios e, nesse caso concreto, é possível fazer aquela se
estabelecerem no âmbito daquilo que é complexidade das suas relações uma lei
convencional.
Pensem, por exemplo, na questão relativa aos comitentes e aos comissários, por
exemplo. Quando foi essa, há uma responsabilidade, nomeadamente, no risco relativo
ao comissário e nada impede que o comitente/comissário nas relações entre eles,
estabeleçam, previamente, uma lei aplicável para efeitos de por exemplo, os direitos de
regresso.
Nessas situações excecionais, mas notem, temos de estar paradigmaticamente
perante um ato de comércio, é possível ou será possível as partes estabelecerem
previamente a lei aplicável.

Nas outras circunstâncias, por razões óbvias, a lei escolhida só pode ser aquela
que seja determinada por convenção posterior à prática do facto. Mas se isso acontecer,
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essa convenção afasta aplicabilidade da lei que é terminada nos restantes elementos de
conexão supletivo do regulamento.

Com as seguintes particularidades:

- Tal qual acontece que respeita ao artigo 3º, a autonomia da vontade é (?)
não há nenhum limite no tange à escolha de lei.
- A não ser que, tal qual como acontece no regulamento de Roma I, como se
recordam do artigo 3º/3 e 4, se todos os elementos daquela situação jurídica,
forem incrédulos a um único ordenamento jurídico, ou seja, autonomia da
vontade é a única que internacionaliza esta situação pública, então, tal qual
acontece no Roma I, também não podem ser afastadas as normas imperativas
daquele país relativamente à questão controvertida que vai ser realizada.

Tanto para (?) em Portugal, um português que reside em Portugal, mas


decidimos aplicar a lei espanhola, mais uma vez, nada a opor se todos estiverem de
acordo. Chefe, qualquer norma imperativa quanto a essa matéria no orçamento jurídico
português, em que essa é aplicável e não aquela que vigora para esse efeito no
orçamento jurídico espanhol.

Ressalvando:
Aqui a particularidade está no seguinte: Como a escolha de lei posterior à prática
de facto, significa que, nos termos do regulamento, já havia uma lei anterior que devia
ser aplicada, que as partes afastam por vontade.

O que é que significa?

Significa que é possível, nesse caso concreto (?), desde que não se ponham em
causa direitos adquiridos que restantes.

Acontece exatamente no regulamento de Roma I, quando as partes alteram a lei


aplicável ao caso concreto, nada impede que elas o façam, não podem é prejudicar
direitos adquiridos terceiros que os tinham face à lei primitivas seguidas pelas partes.
Aqui é exatamente a mesma coisa. Quando acontece o facto, nos termos do
regulamento há uma lei aplicável, que as partes podem afastar por vontade das partes,
sem problema, mas não podem pôr em causa interesses de terceiros que estejam
salvaguardados de lei que seria aplicável

Ressalvando todas estas especialidades, o Roma II que tem a grande inovação de


ampliar a autonomia da vontade. É mais um elemento do que aquilo que tem
relativamente ao princípio da autonomia da vontade interna. Que não é só para relações
contratuais - qual é a lei escolhida para as relações contratuais, mas também para todas
as relações civis, cuja fonte de obrigação não seja o contrário, portanto, estende a
conexão autonomia da vontade também para as relações jurídicas extracontratuais.
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Como vamos ver, quer no regulamento de divórcio e separação, quer no
regulamento das sucessões, o legislador em matéria de direito privado foi
particularmente impressivo em produzir autonomia da vontade.
Naturalmente, na questão das obrigações, a autonomia da vontade é muito mais
ampla e a partir dela vai se cumprindo cada vez mais, nomeadamente quando estamos
a tratar de relações que família em que naturalmente temos em consideração direitos
indisponíveis do Estado das pessoas, não são suscetíveis de ser alterados de acordo
exclusivo com a autonomia da vontade.
Mesmo assim nesses regulamentos vão encontrar situações em que é possível
determinar qual é a lei aplicável, exclusivamente por vontade das partes ou no caso das
sucessões, do de cuius, quando seja que escolhe a lei aplicável para a sua própria
solução. Aqui é exatamente a mesma coisa.

Ressalvando este artigo 14º, mais uma vez, não sendo a conexão regra que
aumenta, a autonomia da vontade permite afastar as conexões dentro desses limites.
Ou seja, nada impede não perde numa situação de facto escolha, ou seja, é essa que se
vai aplicar à revelia daquela que determinaria o regulamento.

ORGANIZAÇÃO

O regulamento está dividido, a partir de agora, tal qual como no Roma I.


Ou seja, está dividido por responsabilidade civil extracontratual, mais uma vez
por factos lícitos, factos ilícitos, responsabilidade e risco.

Portanto, se aplicarem Roma II aquilo que vamos fazer a seguir é, e sem prejuízo
do artigo 14º quando as partes escolham uma lei, (?) de responsabilidade civil
extracontratual são negócios ou documentos em causa ou responsabilidade pré
contratual, consoante seja uma dessas aplica na secção respetiva

A primeira delas é a responsabilidade civil extracontratual, que está dividida na


parte geral e da parte especial. Nós não vamos dar, tal qual fizemos no Roma1, não
vamos dar a parte especial porque são matérias de outras unidades curriculares
relativamente aos quais precisarão ter aqui alguns conhecimentos que não têm, mas a
responsabilidade civil extracontratual, tem a parte geral e depois tem responsabilidade
civil extracontratual que emerge questões especificas.

Nomeadamente:

1. Produtos defeituosos, e peço a vossa especial atenção a esta, porque é no momento


usada, a questão relativa à responsabilidade do produtor. Muito aplicável agora, se bem
que com algumas dúvidas se deve aplicar ou não relativamente às questões, por
exemplo, nos carros autónomos, ou seja, aqueles que já têm algum tipo de condução
autónoma. Saber quem é que é o que efetivamente responsável por caso haja
efetivamente uma falha, se pode aplicar ou não se deve aplicar ou não o regime da
responsabilidade civil do produtor.

2. Matéria relativa a concorrência desleal.


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3. Danos ambientais. Matéria muito (?), nomeadamente a questão relativa ao nexo de


causalidade, nexo de imputação sobre o facto e o dano.

4. Propriedade intelectual.

5. Situações relativas a direitos coletivos.

6. Também tem aqui muitas questões relativas a consumo, por exemplo em


substituição as ações coletivas.

Portanto, em todas estas situações, têm regras especiais para determinar qual
ela é lei aplicada. Nós não as damos.

Em particular, vamos só dar a regra geral que está no artigo 4º do regulamento


de Roma II. Todas as situações de responsabilidade civil extracontratual que
não envolvam nenhuma destas situações.

O Regulamento Roma II tem, ao contrário do que acontece no CC no artigo 43º,


um elemento de conexão, mas que entronca um dos elementos da relação jurídica
distinto daquele que está no CC.
Se recordam do artigo 43º do CC, a regra é que o elemento de conexão aplicável
(????) É o lugar onde ocorre o facto ou omissão.

O regulamento de Roma II optou pelo outro elemento que é o dano. Onde obtive
o principal dano daquela ação, independentemente dos danos causados ou das
consequências dos danos.

Regulamento de Roma II faz a mesma coisa que número 3 do artigo 43º do CC.
Aqui com bem menos (?) , mas o regulamento admite que as pessoas estejam, para
efeitos de responsabilidade civil extracontratual, de forma meramente ocasional no sítio
onde ocorre o dano, e caso lesante e lesado, tenham a residência habitual no mesmo
(?) então a conexão será a lei da residência habitual dessas pessoas.

Isto faz o quê?

Faz a mesma coisa que o CC fazia é que, não ser aplicada ao sujeito, uma lei que
desconhece em absoluto que estão numa situação meramente ocasional, mas o
regulamento de Roma II nem sequer especifica exatamente isso no requisito, mas
permite aplicar uma lei pessoal

NOTA: Porque é aqui o grande enfoque na matéria de estatuto pessoal, porque se


estamos a falar da responsabilidade civil extracontratual, estamos a falar sobretudo de
direitos absolutos, portanto claramente ligados àquilo que é o sujeito.
A possibilidade de aplicar uma lei que seja comum a ambos e que ambos
conheçam bem, porque é a lei da sua residência habitual.
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A prevalência do legislador da UE, quanto à matéria de estatuto pessoal ou


quando chama conexões de estatuto pessoal, a dar prevalência à residência habitual e
não a nacionalidade, notem que, ao contrário do que acontece no CC, que vai
perseguindo as várias conexões pessoais, se olharem para o artigo 43º, se as partes
tiverem a mesma nacionalidade, se não tiver a mesma nacional nacionalidade, tiverem
mesma residência habitual, o legislador da UE não quer saber da nacionalidade, mantém
como única conexão a lei da residência habitual.
Portanto, aplica-se a lei onde ocorreu o dano, a não ser que as partes tenham a
mesma residência habitual.

Mas tal qual acontece no regulamento de Roma I, o legislador sempre que tem
uma conexão supletiva, dá-lhe alguma flexibilidade, permitindo que as partes
demonstrem que há uma conexão manifestamente mais estreita do que aquela que
resulta do próprio regulamento. Ou seja, a lei do lugar onde ocorreu o dano, ou, então
a lei da residência habitual, se elas tiverem uma residência habitual comum.

Tentar demonstrar que eles têm a mesma nacionalidade comum, portanto, essa
deve prevalecer relativamente à lei onde ocorreu os danos, que é uma lei meramente
ocasional onde eles estavam de férias, por exemplo.
Terão de demonstrar ou não é conexão supletiva, ela poderá, no limite, entrar
por este regime, o que tem muita flexibilidade que o legislador dá para adaptar a
conexão às circunstâncias do caso concreto e aplicar efetivamente a lei mais próxima da
questão controvertida.
Sendo que, neste caso concreto, o legislador estabelece algumas indicações para
a demonstração da conexão, única coisa que mais estreita.

Como vão ver, ao longo de todas as situações do regulamento o legislador,


claramente, já dá indicação de que será uma conexão manifestamente mais estreita, é
se entre as partes existir uma relação jurídica prévia, do qual possa emergir esta questão
jurídica que está a ser tratada no Roma II.

Como aquilo que foi referido relativamente ao comitente e o comissário, por


exemplo, se no âmbito das relações de prestação de serviços de comitente, ou de
trabalho, se estabelecer uma lei aplicável nos termos da relação contratual, e depois
decorrer uma situação de responsabilidade civil extracontratual, em que se aplicaria a
lei donde se verificou o principal dano, ou então a lei da residência habitual comum das
partes, se houver uma relação jurídica que trate de parte desta questão controvertida,
nomeadamente a questão do incumprimento contratual, então legislador diz que essa
será, uma conexão manifestamente mais estreita.

O que é que o legislador faz?

O princípio é exatamente o mesmo, perante uma situação em concreto, aplica-


se a vontade das partes, não se aplicando a vontade das partes, aplica-se a lei que é
determinada pelo regulamento, sem prejuízo demonstrar que é uma conexão
manifestamente estreita.
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A única diferença é isso é o legislador explicar, pelo menos numa situação qual é
a conexão manifestamente mais estreita é, se entre as partes, existir uma relação
jurídica preexistente e com base nessa relação jurídica pré-existente se aplicar,
nomeadamente o Roma I, para resolver essa questão, então a lei que resolve a relação
jurídica pré-existente será a mesma lei que resolve a questão da responsabilidade civil
extra contratual.

Por exemplo, na questão da prestação de serviços, tem que o contrato será


resolvido nos termos do Roma I de um eventual incumprimento contratual e depois tem
uma questão que emerge porque existe direito a regresso ou responsabilidades pelo
risco do comitente, no âmbito da responsabilidade civil extracontratual.
Esta só existe porque é um contrato previamente existente que deu origem a
uma relação jurídica de comitente/comissário.

Então legislador, aquilo que quer fazer agora é: Aquilo que permite às partes
fazer, o legislador quer evitar que é o “Dépeçage”.
Ou seja, para a mesma questão, ainda que haja várias questões contrapartidas,
mas que elas emirjam do mesmo fato, mas também naquela situação em concreto, ele
prefere que seja uma única lei aplicável ao caso concreto.
Se naquela situação houver, nos termos do Roma I uma lei aplicável, que não
seja aquela que é determinada nos termos do regulamento de Roma II, então ele
entende que esse será um exemplo de conexão manifestamente mais estreita.

Não é o único, é aquele que o legislador diz que será.


Nesse caso concreto, se tivermos uma situação dessas, deixamos de aplicar as
conexões coletivas e aplicamos a conexão manifestamente mais estreita aqui com a
seguinte nuance: Não tem que se demonstrar que aquela conexão é manifestamente
mais estreita, porque o legislador entende que ela é uma conexão manifestamente mais
estreita e, portanto, a lei aplicável à relação contratual será a lei aplicável à
responsabilidade civil extracontratual, seja por facto lícito, seja pelo ilícitos, seja por
ação ou por omissão, ou seja, por factos danosos.
Tudo isto sem prejuízo da lei escolhida pelas partes.

Porque, naturalmente, se as partes aplicarem o artigo 14º e escolheram qual era


a lei que vai ser aplicável, naturalmente, já não têm consideração o artigo 4º onde a
conexão é a autonomia da vontade e essa é aquela que vai regular aquela questão em
concreto.

Agora, se não houver autonomia da vontade?

Nos termos do artigo 4º é a lei do lugar da prática, a não ser que as partes
residam no mesmo país em que isso se aplica ao evento com (?), sem prejuízo se
demonstrado no caso concreto, que há uma conexão manifestamente mais estreita do
que é.
Sendo que uma delas será efetivamente uma conexão manifestamente mais
estreita, se: para parte das questões controvertidas for aplicada o Roma I e for aplicado
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um determinado direito material e que, nesse caso concreto, esse direito material
também vai resolver a questão da responsabilidade civil extra contratual.

30.11.2023 (T)
REGULAMENTO ROMA II – RESPONSABILIDADE CIVIL

Na responsabilidade civil pela prática de factos ilícitos, lícitos danosos, a grande


inovação no âmbito de aplicação do regulamento é a possibilidade nesta matéria de se
escolher a lei aplicável.
Portanto, a autonomia da vontade deixa de ser no âmbito do direito da UE uma
questão exclusiva da matéria de direito das obrigações, fonte das relações contratuais,
para se incluir agora também às fontes não contratuais e, portanto, as partes poderem
escolher a lei aplicável com as nuances que vimos na última aula (particularidades de ter
um negócio jurídico prévio do qual possam emergir uma situação de conflito, em que
em princípio ela sendo posterior à prática do facto, pelo que não há uma não aplicação
da lei, porque o regulamento na falta de escolha da lei determinará qual a lei aplicável
e do âmbito dessa lei aplicável, até as partes escolherem qual é a lei que querem podem
já decorrer direitos relativamente a terceiros, quanto à lei aplicável, sendo que nos
termos desse regulamento esses direitos têm de ser garantidos).

Depois as outras limitações que têm quando têm uma relação jurídica não
contratual, que é puramente interna e a autonomia da vontade é a única que a
internacionaliza, também é apetecível na senda daquilo que acontece no Roma I, em
que as partes podem internacionalizar de acordo com a autonomia da vontade a
situação jurídica, sendo que nesse caso têm de garantir que se aplicam as normas
imperativas do Estado onde todo os elementos/requisitos/pressupostos para
desencadear o instituto jurídico aplicam-se no caso concreto.

Portanto, todo o regulamento e a grande inovação é a da possibilidade da


autonomia da vontade, fora dessas circunstâncias, o regulamento tem facilmente
determinadas quais são as regras de aplicação, que têm em consideração conflitos entre
o princípio da maior proximidade (que no caso pela responsabilidade civil está associado
não ao facto, mas sim ao dano – o legislador da UE considerou que aquilo que é
característico da responsabilidade civil não é o facto lícito ou ilícito, é ao contrário da
outra responsabilidade, nomeadamente, a direito público ou a penal, é a necessidade
da existência de um facto que seja ou que cause danos a outros, portanto, ele liga o
elemento de conexão não ao facto na responsabilidade civil extracontratual, mas ao
dano, sem prejuízo do conflito com matérias de estatuto pessoal, ou seja, se os sujeitos
tiverem a mesma residência habitual e tudo isto, sem prejuízo de termos uma conexão
manifestamente mais estreita).

O legislador depois no âmbito do enriquecimento sem causa, gestão de negócios


e na responsabilidade civil extracontratual, a responsabilidade ou a culpa do contraente,
que excecionalmente pode gerar responsabilidade civil, não é muito fácil de
desencadear, mais própria e mais adequada nas questões da responsabilidade laboral
nomeadamente, e não incluindo aquilo que é responsabilidade civil pós-contratual (que
está afastada no âmbito do regulamento não estando expressamente prevista, havendo
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
uma querela nesta questão). Seja da maneira que for, estas fontes de obrigações
decorrentes de contratos estão também expressamente previstas e fazem parte do
âmbito do regulamento Roma II.

ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA

No que tange ao enriquecimento sem causa, temos o artigo 6º do Regulamento


Roma II e aquilo que o legislador faz no preceito no que tange às conexões é ligá-lo com
a eventual situação de existir entre as partes uma relação jurídica previamente
existente.
Na matéria da responsabilidade civil extracontratual a questão também se
colocava, a situação em que as partes podiam escolher se fossem agentes económicos,
previamente a sua lei, se tivessem também uma situação contratual existente e também
não tendo se o negócio jurídico previamente existente entre as partes pudesse ser fonte
de obrigações, que por sua vez, pudesse gerar responsabilidade civil extracontratual, o
legislador tenta ligar a lei aplicável ao negócio jurídico do facto que dará origem a
responsabilidade civil extracontratual, que dará origem também a um eventual
incumprimento ?, a lei dá cumprimento a essa questão.

O legislador da UE, admitiu exatamente o mesmo pressuposto relativamente à


matéria do enriquecimento sem causa. Nesta sede seria objetivamente impossível ter
uma relação jurídica previamente existente, relativamente ao enriquecimento sem
causa, considerando o instituto jurídico do enriquecimento sem causa, que é
exatamente a inexistência de uma relação jurídica prévia entre as partes, ou seja, o
enriquecimento de um lado, o desfavorecimento do outro resulta da inexistência de
uma causa jurídica que justifique aquele fluxo entre o empobrecimento e o
enriquecimento.

Primeiro, não é inteiramente verdade, o exemplo mais paradigmático, mesmo


para o nosso ordenamento jurídico está expressamente previsto, que é a questão
relativa à prescrição da responsabilidade civil. No artigo 487º do CC, diz que a
responsabilidade civil extracontratual prescreve ao final de 3 anos, a não ser que a
responsabilidade civil também gere responsabilidade criminal e nesse caso, a prescrição
da responsabilidade civil está ligado ao prazo da prescrição criminal.

Depois diz também, sem prejuízo das regras que possam ser aplicáveis ao
enriquecimento sem causa, ou seja, podemos ter situações de responsabilidade civil
extracontratual, mesmo no nosso ordenamento jurídico que prescreveu e, portanto, já
não podem desencadear a indemnização porque a obrigação já é natural, porque já não
é coercivamente exigível, mas continua a ser coercivamente exigível se por acaso o
lesado no caso concreto, conseguir desencadear o instituto da responsabilidade civil. No
limite, há uma causa que dará origem a esse enriquecimento sem causa, ainda que essa
causa esteja prescrita (ou a obrigação decorrente dessa causa esteja prescrita).

Mesmo nessas situações e a verdade é que tecnicamente no limite já não há


causa, porque se ela prescreveu significa que se torna uma obrigação natural apesar de
estar na ordem jurídica, ela perde a característica típica de uma obrigação. Numa
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interpretação extensiva do sem causa, significa que aquela obrigação não sendo
coercivamente exigível significa que, efetivamente e juridicamente, não há causa que
possa desencadear essa situação.

Mas bom, para percebermos a ligação, não é a total inexistência, ou vácuo


jurídico prévio existente entre as partes que pode a ordem jurídica ?, mesmo no nosso
ordenamento jurídico quando isso acontece, nomeadamente, quando temos uma
situação de responsabilidade civil extracontratual e de enriquecimento sem causa, o que
escolhermos para a responsabilidade civil extracontratual será a lei aplicável ao
enriquecimento sem causa, ou então, se tivermos tecnicamente uma situação relativa à
responsabilidade contratual ou aos efeitos contratuais, ou seja, a aplicabilidade de uma
solução material ditada pelas normas de conflito do Roma I, a lei aplicável nos termos
do Roma I, será aquela que nos termos do Roma II tratará também da questão,
relativamente, ao enriquecimento sem causa.

Esta situação para nós não é tão fácil de explicar. Há uma querela e um acórdão
(para quem estiver interessado em estudos futuros), que é uma questão que liga a
responsabilidade contratual com o enriquecimento sem causa.

Com o incumprimento contratual, há 2 caminhos que é possível seguir: ou a


demonstração da perda do interesse, ou a transformação de uma mora em
incumprimento definitivo, ou a resolução do contrato que dará origem a uma
indemnização pelo interesse contratual negativo, ou seja, o contraente fiel é
indemnizado por todos os danos decorrentes pelo não cumprimento daquele contrato.

Isto significa que o contraente fiel não tem de cumprir a sua contraprestação, o
contrato extingue-se por resolução com efeitos retroativos e vai receber da contraparte
a compensação pelos danos que sofreu pelo facto daquele contrato não ter sido
comprido, ou então pode optar (não é para todos os contratos, tem de ser contratos
bilaterais, sinalagmáticos, etc.) e se a prestação for possível e tiver interesse nisso, pode
optar pela indemnização por um interesse contratual positivo, que tem uma grande
diferença, naturalmente, uma vez que ele tem de oferecer a contraprestação, mas aí ele
é indemnizado pelos lucros cessantes, ou seja, ele vai ser compensado por aquilo que
deixou de ganhar pelo não cumprimento do contrato.
Aí ele vai ter de oferecer a sua contraprestação, porque ele quer os efeitos
decorrentes do contrato como se este tivesse sido cumprido.

Ou se quer uma indemnização porque extinguimos o contrato, extinguem-se as


obrigações, ou queremos uma indemnização e queremos os efeitos do contrato. Ora,
não se pode ter uma coisa e outra. Acontece que, excecionalmente, há contratos que
tendo em consideração o objeto mediato da relação jurídica constituem ou dão origem
a um feixo obrigacional para além das obrigações típicas do contrato e que se o
contraente fiel quiser optar pela resolução do contrato, ou não tiver hipótese para o
fazer, aquilo que ele vai fazer é extinguir o contrato, relativamente à obrigação principal,
naturalmente, ele vai ser compensado, mas relativamente às obrigações acessórias que
decorrem da existência e do tempo de duração daquele contrato, ele deixa de ter
qualquer tipo de compensação quanto a isso.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
O exemplo mais paradigmático é, e foi sobre isso que o STJ se pronunciou muito
recentemente sendo uma posição altamente curiosa e inovadora face à doutrina, é a
seguinte: o contrato paradigmático é o contrato de empreitada relativo a imóveis de
longa duração. Tem grande particularidade, como aprendemos em Reais, a garantia de
obra, ou seja, tem um prazo de 5 anos relativamente a defeitos de construção e
modificação que assim que identificam um defeito, tem um prazo de um ano para o
denunciar e dentro dos 5 (ou seja tem um prazo dentro de um prazo), tem o empreiteiro
de vir corrigir e tem de ser interpelado para alguém vir corrigir.
Se tivermos uma situação de incumprimento do contrato de empreitada em que
optem pela resolução, aquilo que vai ao dono de obra, é a indemnização pelo não
cumprimento da obra, ou seja, porque a obra esteve atrasada, porque foi construída
apenas parcialmente, etc., a garantia de obra, depende da existência da obra e que o
contrato continua a produzir efeitos depois da sua conclusão no que tange à obrigação
principal. Extinguindo-se um contrato porque não se cumpre a obrigação principal,
tecnicamente extingue-se, naturalmente, as obrigações acessórias de garantia de obra
que decorrem naturalmente, do cumprimento da obrigação principal.

Isto significa que relativamente à obra, ou à parte da obra que o empreiteiro


construiu, ele fica beneficiado porque fica desobrigado porque o contrato foi resolvido
a prestar garantia de obra, porque se o contrato deixou de existir e a obrigação principal
nunca se cumpriu, ele não tem de fazer garantia de obra.

Então a doutrina e a jurisprudência são confrontadas com esta situação em que


dizem que se assim é, então resolvemos a questão, que não pode ser, sobretudo porque
estamos a beneficiar o contraente relapso porque não cumpriu o contrato, ou seja, ele
cumpriu mal a sua obrigação de cumprir com a obra e depois no final ele não tem de
prestar garantia de obra relativamente àquilo que construiu, não pode ser, o sistema
está de facto aqui a falhar. A doutrina e jurisprudência maioritária vêm dizer que de
facto há aqui um empobrecimento, as pensas de alguém, que sem causa justificativa faz
enriquecer outra pessoa e vice-versa. Ou seja, o empreiteiro porque já não tem as
obrigações acessórias do contrato que se extinguiu (se não existe contrato, não existem
garantias de obra), vai ficar enriquecido relativamente ao dono de obra que vai ter de
pagar, nesse caso concreto a um terceiro para vir reparar os defeitos da obra.

Então, relativamente às eventuais situações que geravam empobrecimento do


dono de obra, decorrentes da necessidade que ele tinha de reparar aqueles defeitos
entendia que resolvido o contrato, deixa de haver causa para ele poder imputar esses
danos ao empreiteiro, mas nos termos do enriquecimento sem causa, não temos uma
causa justificativa para que isso aconteça e faziam desencadear para essa parte, para
tudo aquilo que fosse gasto pelo dono de obra, que devia ter sido compensado pelo
empreiteiro ou reparado por ele, todas as despesas que ele tivesse era um
empobrecimento relativamente a outro que mantinha o enriquecimento, ou seja, que
não tinha a despesa.

O que tínhamos aqui?


DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Para a maior parte da doutrina e da jurisprudência, apesar do supremo se ter
pronunciado e não haver obrigatoriedade nos acórdãos de uniformização, conseguiam
juntar a relação jurídica causal com o enriquecimento sem causa, as duas formas de
conjugar esta situação.

O STJ veio de forma particularmente inovadora e usando doutrina minoritária,


mas muito interessante apesar de tudo, veio dizer que não se deve entender que não
há causa justificativa.
De acordo com os princípios da justiça e daquilo que é inerente às relações
contratuais e há boa-fé contratual, será um dos casos excecionais em que se pode
cumular o interesse contratual negativo, para efeitos de resolução de contrato e para as
obrigações acessórias, apesar do contrato estar resolvido entender, que, não obstante,
houve uma causa, que fez com que houvesse prejuízos, ou seja, que houvesse lucros
cessantes, que o contraente fiel não auferiu.
Ou seja, o supremo tribunal de justiça, nesta altura, admite, excecionalmente,
admite uma coisa e exatamente o seu oposto para efeitos de compensação de toda a
realidade.
Quando há, sobretudo o enriquecimento sem causa, que parece uma coisa que
nunca acontece, a causa ou a inexistência de causa pode ser porque tecnicamente a
relação jurídica de alguma forma se extinguiu e, portanto, é preciso perceber os efeitos
da extensão da relação jurídica.

Por isso, é que o efeito de Roma II é particularmente impreciso nisso e pode


causar alguma estranheza, na relação jurídica que pode existir no enriquecimento sem
causa e que pressupõe a existência absoluta da relação jurídica. Pode de facto existir e
aquilo que o Regulamento quer, é que existindo seja lá qual for a técnica jurídica a que
dá causa, cumulam as 2 situações, nem que sejam numa relação jurídica contratual.

Nesta perspetiva do contrato de empreitada, aquilo que faríamos é que no Roma


I, escolher a lei aplicável ao contrato de empreitada, se optarmos pela doutrina que diz
que relativamente ao resto é um enriquecimento sem causa essa parte é pelo Roma II e
aplicámos a lei que escolhemos pelo Roma II. A técnica é que não haja, ou diminuir ao
máximo os eventuais conflitos de leis quando uma causa pode dar origem a situações
de relações contratuais, ou então excecionalmente a inexistência dessas relações
contratuais.

A não ser que se demonstre que há uma conexão manifestamente mais estreita
e mais uma vez, como acontece na responsabilidade civil extracontratual, a não ser que
as partes tenham residência habitual no mesmo país e depois se tudo falhar aplicamos
a lei do lugar onde ocorreu o facto que deu origem ao enriquecimento. Sempre com a
“válvula de escape” do sistema, mostrando a conexão manifestamente mais estreita.

GESTÃO DE NEGÓCIOS

Com a gestão de negócios, os critérios são, exatamente, os mesmos. Se houver


um facto jurídico, seja ele contratual ou extracontratual, que ligue o sujeito ativo e o
sujeito passivo, a lei que determinarmos para qualquer um destes institutos será aquela
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
que aplicamos à gestão de negócios. Aqui é mais fácil encontrar situações e relações
contratuais prévias (como por exemplo, um contrato de mandato em que alguém esteja
a atuar fora dos poderes do contrato).

Mesmo que seja necessário, ou mesmo que tenhamos para o contrato ou para o
negócio jurídico determinada lei a partir do Roma I, é a mesma que aplicamos agora, a
não ser que as partes tenham RH no mesmo país e se tudo falhar onde foi praticado a
gestão de negócios (princípio da maior proximidade ao facto), será essa a lei aplicável,
sem prejuízo de demonstrarem uma conexão manifestamente mais estreita com outra
lei. A conexão geral e abstrata que é totalmente oca, e adaptável às circunstâncias do
caso em concreto.

RESPONSABILIDADE CIVIL PRÉ-CONTRATUAL, OU POR CULPA DO CONTRAENTE

As questões da responsabilidade civil pós-contratual não entram neste âmbito,


não fazem parte do regulamento a não ser que consigamos defini-la nos institutos da
responsabilidade civil extracontratual ou contratual está completamente afastado.
No âmbito daquilo que é e a especificidade é relativamente à norma de conflitos,
aquilo que vai fazer no nosso ordenamento jurídico é separar aquilo que nós
conseguiríamos integrar no âmbito da responsabilidade civil do Roma II, ou seja, para
Portugal nunca se colocava a questão de saber qual é que era aplicável se era a
convenção de ? ou a convenção de Roma. Depois quando entrou o regulamento Roma I
e Roma II, a questão ficou totalmente esclarecida.

Portugal nunca aplicou a convenção de Roma para a responsabilidade civil pré-


contratual, porque para nós a haver um problema de responsabilidade civil pré-
contratual o regime próximo será o da responsabilidade civil extracontratual e não o da
responsabilidade civil contratual e, portanto, nunca conseguimos aplicar, considerando
os nossos institutos e a interpretação deles a convenção de Roma, mas enfim, também
no regulamento de Roma II não precisávamos de autonomizar a responsabilidade civil
pré-contratual, porque nós com a responsabilidade civil com a prática de factos ilícitos
ou extracontratual em geral, conseguíamos gerar a responsabilidade pré-contratual.

De qualquer forma, ela está especificamente prevista e aqui a solução é ainda


mais evidente. Se a responsabilidade civil é pré-contratual aquilo que o legislador manda
e neste caso é muito fácil é que o conflito será sempre com o Roma I é literalmente uma
remissão para o Roma I, ou seja, é determinar nos termos do Roma I, qual é que seria
ou qual é a lei aplicável ao contrato, se eventualmente ele depois tivesse celebrado.

E, portanto, a lei que escolhemos no Roma I será aquela que vai tratar também
da eventual situação ou possibilidade de desencadear a responsabilidade civil pré-
contratual. Aqui (Roma II), classificamos o negócio e vamos para o Roma I à procura da
lei aplicável ao contrato, mesmo que o contrato não tenha sido celebrado.
Na maior parte dos casos na responsabilidade civil pré-contratual, depois há uma
frustração efetiva da celebração do negócio jurídico, mas seja da maneira que for,
mesmo que ele não tenha sido celebrado, é a lei que seria aplicável a esse negócio
jurídico.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Aqui, porque estamos numa situação muito específica da responsabilidade civil


se não conseguirmos determinar essa lei, vamos escolher a lei em que ocorre o dano
(mesmo regime da responsabilidade civil extracontratual), a não ser que as partes
tenham RH comum, sem prejuízo de em qualquer caso se aplicar uma lei diferente se
das circunstâncias do caso em concreto se evidenciar uma conexão manifestamente
mais estreita, que dependerá do caso prático.

06.12.2023 (T)

DIREITO DE CONFLITOS – PARTE ESPECIAL


REGULAMENTO 1259/2010 DE COOPERAÇÃO REFORÇADA

Este regulamento ao contrário dos outros, não é extensível a todos os EM da UE,


portanto, ele é um regulamento de cooperação entre alguns EM da UE e, portanto,
aqueles que não manifestarem interesse em aderir ao regulamento estão excluídos e
continuam a aplicar a suas normas conflituais.

Não é o caso português, portanto, Portugal faz parte do leque dos Estados que
contempla matéria reforçada em matéria de divórcio e separação judicial. Portanto, no
que diz respeito a nós, enquanto lex fori, o artigo 55º do CC, ficará, desde que verificados
os 3 âmbitos do regulamento, afastará a aplicabilidade do artigo 55º do CC, aplicando-
se este regulamento que de facto tem uma adesão limitada, dado que é um regulamento
de cooperação reforçada e não tecnicamente um regulamento ?, tendo em
consideração ainda questões controvertidas associadas ao divórcio e separação judicial
mesmo entre EM da UE.

Em matéria de regulação de família, nós já vimos matéria associada no CC.


Naquilo que tange às relações familiares, incluímos aquilo que é não só as matérias
relativas aos cônjuges, mas também a matéria relativa ao casamento, portanto, tudo
aquilo que antecede ou os negócios jurídicos que antecedem o casamento e o próprio
casamento, como convenções antenupciais e outros contratos que sejam admissíveis
para, de entre outras coisas, fixarem os efeitos patrimoniais decorrentes do contrato de
casamento.

O próprio contrato de casamento, na qualidade formal e substancial, incluindo a


capacidade de exercício. Depois as relações entre os cônjuges, no âmbito pessoal e
patrimonial (artigo 52º do CC para os efeitos pessoais e artigo 53º do CC para os efeitos
patrimoniais). Na seda daquilo que é a organização, da hermética jurídica do CC, aquilo
que é o desenvolvimento da família matrimonializada, nomeadamente, das questões
relativas aos descendentes, decorrentes ou não de um contrato prévio de casamento, a
matéria da filiação, quer a filiação natural, quer a filiação adotiva.
Portanto, a constituição ou reconhecimento das relações filiais e a constituição
de relações para-familiares, naquilo que tange à matéria da adoção e também em
matéria relativa ao divórcio e separação.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Neste âmbito das convenções antenupciais e regime de bens temos o artigo 52º,
53º e 54º para analisar, nada de novo relativo àquilo que demos no CC. De facto, a
matéria relativa idem também quanto à questão das relações familiares ou filiais, as
relações entre pais e filhos (perfilhação, adoção), mantemos o CC.
Não obstante termos no moodle, mas que não é de todo avaliável para efeitos
da unidade curricular a Convenção de Haia em matéria de adoção internacional e a
Convenção Europeia em matéria de adoção internacional, porque dessa também
Portugal faz parte e afasta a matéria relativa à adoção no CC e é comumente utilizado
as questões conflituais até porque a própria UE é signatária na Convenção de Haia em
matéria de adoção.

Portanto, mesmo que os EM não fossem signatários seriam-no porque a


Convenção de Haia é um instrumento de DIP fora daquilo que são as relações
contratuais, nomeadamente, aquilo que dissemos nós no Roma I.

A convenção internacional com maior adesão a nível mundial, portanto, será o


instrumento de DIP com maior adesão a nível internacional é a Convenção em matéria
de adoção internacional que tem 2 princípios, que falamos logo no início do semestre,
que alteram a configuração daquilo que são os princípios de DIP nessa matéria,
nomeadamente, o que diz respeito ao afloramento do direito internacional relativo ao
superior interesse da criança, que é o princípio da subsidiariedade da adoção
internacional, face à adoção nacional para efeitos de garantia, a identidade cultural da
própria criança, mantendo-se inserida no país onde nasceu e está aí as suas raízes
culturais e sociais com interpretação pelo princípio da identidade.

Relativamente a esta matéria das relações familiares em geral, temos o CC,


quanto a isto não há nenhuma alteração. A única mudança que agora temos de
considerar é relativamente ao artigo 55º do CC, em matéria relativa ao divorcio e
separação judicial entre cônjuges que é regulada pelo Regulamento da UE, de
cooperação reforçada entre alguns EM da UE e, portanto, só esses estados se vincularam
à aplicabilidade do regulamento.
Para Portugal, que se vinculou a este regulamento, a matéria do artigo 55º desde
que verificados os 3 âmbitos do regulamento, fica então a ser regida pelo Regulamento
1259/2010.

É preciso ter atenção ao Regulamento 2201/2003 que diz respeito a


responsabilidade parentais, sendo matéria que está em direito da família ou processo
civil, trata de questões processuais e não propriamente de questões conflituais, não
estando as responsabilidades parentais incluídas no âmbito da separação e divórcio,
estamos só a falar da extensão do contrato de casamento, dos efeitos pessoais e
patrimoniais decorrentes. Todos os outros afloramentos, nomeadamente, no que tange
a casa de morada de família, questões parentais, etc., é tudo afastado do regulamento.

O Regulamento 1259 diz respeito a conflitos de lei, a relações jurídicas de DIP,


em matéria de divórcio e separação judicial e que vinculou os EM que aceitaram fazer
parte do âmbito territorial dos Estados que adotaram este regulamento, que é o caso
português, e a partir da sua entrada em vigor, em Dezembro de 2010, Portugal passou,
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
verificados os 3 âmbitos do regulamento, a aplicar este regulamento afastando a
aplicabilidade do artigo 55º do CC.

Para aplicar este regulamento, tem de se verificar os 3 âmbitos de aplicação:

1º âmbito de aplicação temporal, nos termos do artigo 21º do regulamento ele


é aplicável, a partir de junho de 2012, portanto, ele entrou em vigor 2 anos antes e
temos aqui uma vacatio legis, durante 2 anos, nos termos do artigo 21º do Regulamento.

2º âmbito de aplicação espacial, em que o regulamento mantém neste caso


concreto o âmbito de aplicação universal, tal qual o Roma I e Roma II, nos termos do
artigo 4º, o EM que aplicar este regulamento no âmbito das suas normas de conflitos,
tanto pode determinar a aplicabilidade da lei ? como da lei de um estado terceiro,
portanto, o âmbito de aplicação do regulamento é também ele universal.

3º âmbito de aplicação material, artigo 1º, o âmbito de aplicação diz respeito a


todas as questões de DIP sobre a modificação ou extinção de um contrato de casamento,
ou seja, um divórcio ou então a separação judicial. Com exceção, dos efeitos do divórcio
e separação que estão previstos no nº2 do artigo 1º, ou seja, capacidade jurídica,
existência da validade ou reconhecimento de um casamento, ou seja, não se aplica o
regulamento para ações para anular o casamento civil, nomes, efeitos patrimoniais,
responsabilidades parentais que tem um regulamento específico, dentro dos efeitos
patrimoniais, necessariamente, as obrigações de alimentos e todos os efeitos que
decorrem de negócios jurídicos que se tutelem para além do contrato de casamento,
aquele que nos é mais próximo em matéria sucessória.

As matérias ou qualquer questão relativa aos efeitos sucessórios ainda que


dependam da existência de um contrato de casamento, já são do problema de outro
regulamento e algo que não é particularmente comum existir no OJ português, que tem
a ver com os trusts que também sempre foram excluídos do regulamento de Roma I e
II, qualquer questão relativa aos trusts que aconteçam no âmbito de contratos de
casamento, são excluídos.

Matéria de divórcio e separação judicial, excluindo qualquer uma das matérias


que ainda que sejam decorrentes do processo de divórcio e que anteceda ou constituam
uma questão prévia ao próprio divorcio, efetivamente, se existe um contrato de
casamento, é um problema do CC, não é um problema do regulamento, porque depois
de estabelecer qual a lei aplicável ao regulamento, essa sim, será um problema do
regulamento.

Verificados estes 3 âmbitos temos a aplicação deste regulamento de cooperação


reforçada, nomeadamente, Portugal vinculou-se a este regulamento e aplicando-se este
regulamento, significa que se afasta a aplicabilidade das regras do CC e as normas de
conflitos serão aquelas que naturalmente decorram do regulamento. A grande novidade
do regulamento e aliás a grande novidade de todos os regulamentos, desde o Roma II a
este Regulamento da cooperação reforçada, bem como o regulamento das sucessões é
a extensão da conexão da autonomia da vontade.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Aplicando-se este regulamento, a lei aplicável ao divórcio ou separação judicial,


é a lei que os cônjuges tiverem escolhido para o seu divórcio ou separação judicial, a
escolha desta lei depende de requisitos de validade formar e substancial, artigo 6º e 7º,
mas estando verificados os requisitos os cônjuges podem escolher a lei que querem ver
aplicada ao seu divórcio ou separação judicial, nos termos do artigo 15º do regulamento.
Não obstante, a escolha no caso concreto é bem mais limitada, daquela que tem,
naturalmente, o Roma I, que é a expressão do direito das obrigações à autonomia da
vontade e também bem mais limitada daquela que tem no Regulamento de Roma II.

A escolha de lei não é livre e implica, necessariamente, uma ligação ao princípio


da maior ligação individual. Então, nos termos do artigo 5º as partes podem escolher a
lei da RH no momento da celebração do acordo o então a lei da última RH dos cônjuges
(portanto, eles já não residem nesse ordenamento jurídico), mas desde que pelo menos
um ainda tenha aí a sua residência, não como RH dos cônjuges, mas como residência
própria. Ou então, a lei da nacionalidade dos cônjuges, de um ou de ambos, ou ainda a
lei do foro.
Sendo que, nos termos do nº3 do artigo 5º, um acordo para determinar qual a
lei aplicável pode fazer parte das convenções antenupciais dos cônjuges, pode ser
sucessivamente alterado, sem a preocupação que existem relativamente aos direitos de
terceiros porque os efeitos patrimoniais do casamento estão excluídos do âmbito do
regulamento.

Portanto, os efeitos que decorrem desta escolha de lei, vinculam exclusivamente


os cônjuges e não os terceiros pelo que não há qualquer preocupação relativa há
proteção de direitos adquiridos por terceiros em princípio e essa lei pode ser, em
princípio, escolhida ou alterada até ao momento da propositura da ação a não ser que
nesse caso concreto, ela possa ser feita até mais tarde, desde que nos termos das regras
processuais da lex fori, se permita que essa escolha já se faça na pendência do processo,
aí depende necessariamente, das regras processuais de cada uma da lex fori, que esteja
a considerar o caso. Isto significa que, dentro dessas leis, os cônjuges poderão, não
obstante, exercer a sua autonomia da vontade.

Se os cônjuges não escolherem ou tiverem de alguma forma revogado a escolha


no momento do divórcio ou separação judicial (pode ter acontecido), o legislador da
união estabeleceu como conexões supletivas aquelas que estão previstas no artigo 8º.
Curiosamente, nesta matéria a conexão regra é a autonomia da vontade, portanto, em
último caso é manter na disponibilidade das partes a possibilidade de escolherem a lei
que querem, ainda que o leque seja bem mais reduzido, ainda assim escolherem o leque
que querem para regular a extinção ou alteração do seu contrato de casamento.

Quando estamos a falar de RH podem ser várias, ou diferentes daquela que foi a
primeira, podemos ter aqui um leque um bocadinho mais amplo, mas não havendo
escolha ou de alguma forma o acordo relativamente à escolha seja inválido as conexões
supletivas estão previstas no artigo 8º e a conexão regra, como em qualquer matéria
que esteja associada ao princípio de maior ligação individual, é a lei da RH dos cônjuges
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
a que está mais próximo da questão controvertida, ou seja, a lei da RH dos cônjuges à
data da questão controvertida, à data do divórcio ou separação judicial.

Na falta desta RH o legislador considera competente a lei da última RH dos


cônjuges, mas aqui num conflito com o princípio da nacionalidade, com a conexão da
nacionalidade relativamente ao princípio da maior ligação individual, estabeleceu como
condição para aplicabilidade da última RH, desde logo a alínea b) do artigo 8º, desde
que o período desta RH comum, da última, não seja superior a um ano à data da
instauração do processo, e um dos cônjuges ainda resida nesse local.
Aquelas típicas situações, em que cessa a convivência, os cônjuges separam-se
e, eventualmente, um deles sai do país onde estava, é possível usar a última RH se ela
não existir no momento da propositura da ação, mas o período temporal não pode ser
superior a um ano e um dos cônjuges ainda tem de residir nesse país.

Se isso não acontecer, temos a nacionalidade comum dos cônjuges, mais uma
vez, aqui os interessados são os 2, não está a funcionar a autonomia da vontade, a
conexão da maior ligação individual tem de ser comum a ambos. Se eles não tiverem
nacionalidade comum aplica-se a lex fori, ou seja, o tribunal internacionalmente
competente para decidir aquela questão, será a lei aplicável a este negócio ou separação
judicial.

O regulamento estabelece e aquilo que o direito substantivo diz também, a


possibilidade de converter a separação judicial em divórcio, no caso disso acontecer, e
o legislador estabeleceu expressamente no artigo 1º. Tal qual como fez nas delegações
entre o Roma I e o Roma II, quando as matérias do Roma II emergem de uma relação
jurídica prévia entre as partes, aquilo que o legislador quis foi ligar as 2 situações para
evitar situações de conflitos de lei, a não ser que as partes tenham expressamente
definido qual a lei aplicável no caso concreto, a conexão regra do artigo 15º, a lei
aplicável às relações em que se converte a separação judicial em divórcio é a mesma
que escolheríamos nos termos do artigo 8º. Ou seja, a lei que foi aplicada pelo artigo 8º
à separação judicial, é aquela que determinará depois a possibilidade de não conversão
judicial em divórcio, nos termos do artigo 9º/1.

Uma situação de direito substantivo é o artigo 9º/2, em que se a lei que tiver sido
escolhida, nos termos do artigo 8º, para a separação judicial (a solução de direito
material, ou o instituo de divórcio e separação judicial da lei que foi escolhida no artigo
8º), não incluir a hipótese de converter a separação judicial em divórcio, aí volta-se a
aplicar o artigo 8º para escolher a lei aplicável em situação de divórcio, a não ser que as
partes tenham escolhido.

Notem: o que pode dar origem a alteração, porque imaginemos que foi aplicada
a lei da última RH e, entretanto, já passou mais de um ano ou o cônjuge que vivia
naquele país deixou de viver, vamos ter aqui uma alteração a esta lei aplicável no caso
concreto.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Uma particularidade, para além desta, que tem o divórcio e a separação judicial,
para além da autonomia da vontade da solução da conversão da separação judicial em
divórcio, foi a previsão especial do legislador da UE, no artigo 10º.
O artigo 10º diz que sempre que a lei aplicável, ou porque foi escolhida pelas
partes ou porque não foi escolhida, mas é a lei que resulta nos termos do artigo 8º, quer
seja a aplicabilidade do artigo 8º, quer seja a aplicabilidade do artigo 5º, essa lei não
prevê o divórcio ou não garante igualdade entre os cônjuges no acesso ao divórcio ou
separação judicial quando o fundamento seja o sexo, aplica-se a lei do foro.
Ou seja, se houver alguma situação em que não seja garantido o direito
fundamental à cessação ou alteração do vínculo conjugal, ou há uma discriminação em
razão do sexo, artigo 10º veio, sendo particularmente enfático (seria uma situação que
nós pela ordem pública internacional chegaríamos facilmente, se houvesse situações de
discriminação ou impossibilidade de alguém fazer cessar uma relação conjugal, nós
diríamos que essa solução legal, viola claramente a solução jurídica do foro e, portanto,
vamos aplicar a cláusula da ordem pública internacional).

Não obstante, o legislador da UE não deixou que a questão fosse sequer


necessário fazer esse tipo de argumentação e justificação quanto há necessidade de
aplicar uma lei que, eventualmente, seja afastada de acordo com a ordem pública
internacional, ou seja, nessa situação sem necessidade de justificar que aquela solução
viola princípios fundamentais e informadores da ordem pública do foro, se isso
acontecer, afasta-se quer a regra da autonomia da vontade do artigo 5º, quer o artigo
8º, seja diretamente, seja através do artigo 9º e aplica-se a lei do lugar onde a questão
está a ser julgada.
A questão está a ser julgada, necessariamente, nos termos do regulamento num
EM e, naturalmente, nos termos dos OJ dos EM nunca haverá uma solução legal em que
haja ou impossibilidade de aceder ao divórcio ou separação judicial, ou então uma
discriminação em razão do sexo, tendo em consideração a integração na UE e Carta de
Direitos Fundamentais da UE, bem como os restantes direitos internacionais em que a
própria UE se inclui. Mas a questão nunca se coloca, aqui sem necessidade de outra
justificação aplicamos, imediatamente, a lei do foro. Não temos de explicar que não
garantir o divórcio, ou a separação judicial ou haver algum tipo de discriminação em
razão do sexo, no que tange ao acesso ou ao exercício do direito ao divórcio ou
separação judicial, implica imediatamente afastar, quer a conexão regra, quer a conexão
supletiva, nomeadamente, a conexão regra que é a autonomia da vontade.

Para além disso, este regulamento também é super divertido, porque nos termos
do artigo 11º exclui o reenvio, portanto, qualquer referência da lex fori a uma lei
estrangeira implica uma referência material e para além disso, artigo 12º, inclui-se
também, para além daquilo que já está no artigo 10º, a cláusula geral de ordem pública
internacional.

Por fim, o regulamento inclui também a matéria relativa aos ordenamentos


plurilegislativos, nos seus artigos 15º e 16º, em que aqui a solução já não é coincidente,
pelo menos em toda a sua extensão com a solução que tínhamos no Roma I e II.
Enquanto no Roma I e II as conexões apontam sempre para um lugar no espaço, têm
sempre em consideração de acordo com o legislador da união um lugar no espaço e não
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
o Estado, enquanto Estado soberano, implica a aplicabilidade nesse caso concreto, da
lei interna ou soberana, consoante aquela que esteja em vigor nesse local.
Considerando que estamos a falar de matéria de estatuto pessoal, é possível
aplicar, porque é uma das conexões expressamente permitidas pelo legislador, por um
lado, a lei da nacionalidade (é uma conexão jurídica, necessariamente, ligada ao Estado
soberano, aí já não é possível apontar para um lugar no Estado) e aí o legislador tem de
ter em consideração as regras relativas aos conflitos internos, porque não consegue
determinar no espaço dentro desse espaço soberano qual é que será a lei aplicável
tendo em consideração a nacionalidade.

Para além disso, sendo tendo matéria de estatuto pessoal associadas, é possível
que haja outros problemas dos ordenamentos jurídicos plurilegislativos, que não se
colocam no Roma I nem no Roma II porque a matéria não é de estatuto pessoal, são os
ordenamentos jurídicos de base pessoal.
Ou seja, as situações em que há uma discriminação positiva para um
determinado número de pessoas, tendo em consideração algumas matérias de estatuto
pessoal, em que, claramente, em que a matéria do casamento em geral e das sucessões,
faz parte desse âmbito de estatuto pessoal, que pode dar origem ou estar na base desses
ordenamentos plurilegislativos de base pessoal.

07.12.2023 (T)
CONTINUAÇÃO REGULAMENTO DE COOPERAÇÃO REFORÇADA

Portugal, sendo nomeadamente a lex fori, está vinculado à aplicabilidade deste


regulamento, cuja grande inovação que tem é estender o princípio ou a conexão da
autonomia da vontade para matérias que tecnicamente até agora estavam excluídas do
âmbito da autonomia da vontade em matéria de DIP.
A possibilidade de os cônjuges no âmbito do regulamento poderem escolher a
lei que querem ver aplicada ao caso de divórcio ou separação judicial e notem, ela é nem
sequer tem de ser comum, uma vez que podemos escolher uma lei para o divórcio e
outra para a separação judicial.
A autonomia da vontade apesar de tudo, se vai limitando a um leque menor de
leis possíveis que os cônjuges possam ter para garantir o princípio da maior ligação
individual sobretudo, ou se isso não acontecer, a possibilidade que o regulamento
confere de ser estabelecida uma ligação entre a ordem do foro (a lex fori dos tribunais
competentes), com a lei que esses tribunais vão aplicar.

Será que isso não consubstanciaria uma corrida aos tribunais competentes?

Essa questão pode-se colocar, uma vez que as partes têm de escolher a
aplicabilidade da lei do foro por um lado, e depois em matéria de competência
internacional, que aí a princípio da autonomia da vontade no que tange à escolha do
tribunal internacionalmente competente, ao contrário do que acontecia no Roma I (nas
matérias incluídas na autonomia da vontade em que se pode convencionar também os
tribunais competentes, nomeadamente, a arbitragem voluntária se for o caso concreto),
em matéria de direitos pessoais, designadamente em matéria de direito da família e
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
sucessões a escolha do tribunal internacionalmente competente é superior à autonomia
da vontade.
Portanto, a ideia da corrida à lei do foro é muito mais limitada apesar de tudo e
por isso, é que supletivamente o próprio regulamento, não estando dentro do princípio
da maior ligação individual, acabou por adotar também nas conexões supletivas um
princípio de especificidade ou seja, garantir que o foro aplica na limite, não podendo ser
garantido o princípio da maior ligação individual, a sua própria lei, para evitar que
tribunais de um país estejam a aplicar leis de outros países que não se consegue esse
princípio da maior ligação individual.

A segunda grande novidade do regulamento é a inclusão e a garantia expressa,


é uma marca característica ao nível da UE que a classificação expressa em matéria do
regulamento de divórcio e separação judicial, de formas de extinção voluntária do
contrato de casamento, ou de alteração desses contratos, como efetivamente, um
direito fundamental da própria união.
Portanto, a interpretação não só do direito a casar como do direito fundamental,
que é pacífica nas legislações quer internas (como acontece, por exemplo, na CRP que o
casamento é a principal forma da constituição de relações familiares e tradicional), mas
também agora a sua aceção negativa, que é o direito de fazer cessar essa relação
também ele com um afloramento de direito fundamental.

No artigo 10º, a garantia de que qualquer limitação quer à existência desse


direito, quer ao exercício desse direito ou qualquer forma de discriminação entre os
cônjuges no acesso de exercício desse direito, implica imediatamente que se afaste o
direito material escolhido, nos termos do regulamento, aplicando-se a lex fori, que mais
uma vez tudo seria resolvido através da cláusula ou da reserva da ordem pública
internacional, que é uma exceção que está prevista em todos os regulamentos.
Quando a solução material viole um princípio conformador da lex fori,
imediatamente, nos termos de qualquer um dos regulamentos, permitem afastar o
direito internacional estrangeiro e aplica a lei do foro no caso concreto.

Este caso concreto, o legislador da união consagrou a garantia de que não é


preciso justificar que este direito fundamental, viola a ordem pública internacional do
foro, ou seja, a desnecessidade de justificar, portanto, a garantia ao nível da UE, esta
forma negativa deste direito a casar, a extinguir esta relação jurídica familiar é assumida
como um verdadeiro direito fundamental e, portanto, fazendo parte do regulamento a
desnecessidade, neste caso concreto, através da cláusula do artigo 10º de justificar
porque é que aquilo viola, o legislador assume logo que em qualquer caso,
consubstanciará uma violação, e um ónus de demonstrar, primeiro que não existe
“prova em contrário” e, por outro lado, quem afasta a aplicabilidade do direito material
estrangeiro também não tem de justificar a razão pelo qual o está a fazer no caso
concreto.

Também o regulamento que vimos na última aula, é avesso ao reenvio e,


portanto, só faz referências materiais.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Por fim, diz respeito aos ordenamentos jurídicos plurilegislativos que tem uma
nuance diferente daquela que vimos no Roma I e no Roma II, sendo um regime bem
mais próximo daquele que temos no CC.

Eles estão presentes no artigo 14º (de base territorial) e no artigo 15º (de base
pessoal), exatamente como temos os artigos 20º nº1 e nº2 do CC para a primeira
situação e o 20º/3 para a segunda situação. Pela primeira vez num regulamento aparece
um OJ plurilegislativo de base pessoal, nos outros regulamentos jurídicos apenas temos
OJ plurilegislativos de base territorial porque pela primeira vez, estamos a analisar um
regulamento que trata matéria de estatuto pessoal.
Os OJ plurilegislativos de base pessoal, assentam num princípio de discriminação
positiva, tendo em consideração determinadas características e pessoas que os outros
não têm. Portanto, nunca podem existir matérias do Roma I e no Roma II que se baseiam
no absoluto princípio da igualdade entre as partes e, portanto, a impossibilidade através
da inexistência da relação jurídica de caráter pessoal, poder haver a aplicação de um
regime jurídico pessoal, tendo em consideração determinadas características das
pessoas.

Quer este regulamento, quer depois o regulamento das sucessões incluem


também os conflitos de leis relativos aos OJ plurilegislativos de base pessoal e a
diferença que têm, relativamente, ao Roma I e ao Roma II é que, mais uma vez, estamos
a tratar de matéria de estatuto pessoal que como percebemos é pela primeira vez a
situação em que o legislador tem uma matéria de estatuto pessoa e pela primeira vez,
por causa disso, considerou formalmente uma outra conexão, para além da RH, que é a
da nacionalidade.

Enquanto no Roma I e no Roma II a solução implica sempre considerar a unidade


territorial da conexão no espaço, ou seja, porque as conexões do Roma I ou do Roma II,
apontam para uma matéria de um lugar determinado no espaço (a RH de alguém, o
lugar do dano, do facto), isso implica, naturalmente, apontar para determinado sítio no
globo e a lei que esteja em vigor nesse sítio, ainda que consubstancia uma unidade
territorial autónoma do Estado tenha questões relativas a OJ plurilegislativos de base
territorial, o princípio é o mesmo.
Ou seja, se tivermos conexões, mormente a RH, que aponta para um lugar no
espaço, considera-se a lei em vigor nessa unidade territorial, seja mais uma vez a do
Estado soberano, seja um direito interno em vigor nesse pedaço do Estado soberano.
Como temos pela primeira vez uma conexão que não aponta para o lugar do
Estado, aliás, ela por definição nunca o fará, porque a nacionalidade é a ligação de uma
pessoa a um determinado Estado soberano, ou seja, só se é cidadão de alguma coisa se
se tem uma ligação que incida sobre um determinado Estado confere a nacionalidade,
então, naturalmente, nesse caso concreto, o conceito é puramente jurídico, não é
factual. Nesse caso concreto, o legislador tem uma solução mais próxima daquela que
temos no CC, que está no artigo 14º.
A solução é, exatamente, como temos no CC, a solução será o direito interlocal
do Estado soberano que determinará qual é a lei aplicável, ou seja, tal qual como temos
no CC, quando temos OJ plurilegislativos de base territorial, aquilo que vamos perceber
é, como é que esse Estado soberano resolve o próprio conflito interno de lei.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Será a forma como ele resolver esse conflito interno de lei que será aplicado no
caso concreto.

Há possibilidade, no âmbito do princípio da autonomia da vontade, das próprias


partes escolherem qual o direito interno que querem, portanto, no âmbito da
autonomia da vontade, quando as partes escolhem se é a nacionalidade, se a
nacionalidade delas ou de uma delas for o OJ plurilegislativo elas podem escolher qual
o direito interno que querem ver aplicar.
Imaginemos que os cônjuges escolheram a lei em vigor nos EUA em concreto, a
lei do Estado X ou do Estado Y, a autonomia da vontade permite, se ela tiver sido
exercida, ela pode ser exercida depois para determinar qual o direito aplicável ao caso
concreto e se não tiver nem uma coisa nem outra, escolhem dentro dessa Estado qual é
a conexão manifestamente mais estreita.

Ou seja, de entre todas as unidades territoriais, vamos ver aquela com que a vida
familiar esteve mais próxima para resolver a questão controvertida. Se estivermos a
aplicar no caso concreto, a da nacionalidade, se os cônjuges tiverem uma RH num desses
Estados, será um elemento identificativo para demonstrar a conexão manifestamente
mais estreita.
Agora já não há conflitos positivos entre a nacionalidade e a RH, tal e qual como
no CC, porque a partir daí é o direito interlocal, ou as partes resolvem o conflito interno,
dentro desses casos escolhem a lei interna mais próxima dos cônjuges no caso concreto,
para resolver a questão controvertida.

Nos OJ plurilegislativos de base pessoal, o que acontece é a aplicação de um


direito especial a uma categoria determinada de pessoas, neste caso concreto, tal qual
acontece no CC será o direito do Estado soberano que determinará quais as pessoas que
podem ver aplicada a sua questão controvertida de divórcio ou separação judicial, o
direito interno.
É difícil que isso não aconteça, nos OJ plurilegislativos de base pessoal significa
que há um direito especial que se aplica a uma determinada categoria de pessoas, o que
significa que dentro do mesmo OJ convivem no mesmo espaço, território, duas soluções
jurídicas, 2 institutos jurídicos que podem ser conflituantes entre elas.

Isto significa que em princípio se nada for dito, qualquer pessoa naquele OJ pode
ver aplicado a solução A ou B, o que não é razoável que aconteça, ou seja, a existência
de uma solução material especial no OJ, tradicionalmente, não resulta daquilo que é a
técnica legislativa normal, ou seja, normalmente, nessa situações há um exercício de
compressão entre algumas situações, nomeadamente, de caráter religioso e de
concessão ao nível diplomático de aplicação de determinadas soluções de caráter
religioso normalmente, sendo que é difícil que esse OJ não especifique exatamente
quem é que pode ver aplicado para as suas questões conflituais a solução material
especial do caso concreto.
Dificilmente, numa situação destas, vamos ter alguma solução material interna
que diga bom ... (não acabou o raciocínio).
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A lei da Sharia está em vigor no OJ Grego, não como lei nacional, mas como uma
lei que a lei nacional admite que não se aplique ao caso concreto, para determinadas
pessoas que preenchendo determinados requisitos, podem ver aplicada a lei religiosa
em vez de verem aplicada a lei nacional grega. Seria estranho uma coisa dessas
acontecer.

Será o direito interpessoal, no caso concreto, a determinar a aplicabilidade da


lei especial ou da lei nacional, mas se isso não acontecer, o princípio da conexão
manifestamente mais estreita, ou seja, se para aqueles cônjuges eles estão mais
próximos da lei geral ou da lei especial, no caso concreto, será essa a que vai determinar
e regular o divórcio e a separação judicial.

A especificidade aqui é porque primeiro, temos matéria de estatuto pessoal e só


essa é que permite a discriminação positiva, só nesta faz sentido o legislador referir-se
à conexão para o legislador da UE, supletiva que é a nacionalidade.
Depois, a partir daí fica confrontado, com um problema que nós também temos
no nosso CC que é a nacionalidade é um conceito jurídico e não um elemento factual
que permite determinar um lugar no espaço, qual a lei em vigor nesse determinado
espaço e, portanto, o legislador teve de optar por uma solução diferente daquela que
tinha tido.

A diferença está exclusivamente quando a conexão pessoal, não é a RH, mas a


nacionalidade. Se a conexão pessoal for a da RH, é a lei em vigor no sítio onde as pessoas
vivem, e será a lei em vigor na divisão interna daquele Estado, seja a lei interna, seja a
lei do Estado soberano seja ela qual for.

13.12.2023 (T)

REGULAMENTO DAS SUCESSÕES


SUCESSÕES MORTIS CAUSA
Tal qual acontece nos restantes regulamentos, a união europeia decidiu neste
último regulamento tratar da questão sucessória.
É uma questão importante para a livre circulação tendo de considerar um
conjunto de negócios jurídicos associados ao fenómeno sucessório, particularmente
relevante para matérias de testamento, bem como da questão da validade dos pactos
sucessórios.
Como sabemos em Portugal não são admissíveis, nem todos os ordenamentos
jurídicos da união europeia admitem a validade dos pactos sucessórios o que criava
algum tipo de constrangimento, nomeadamente, no reconhecimento de decisões
judicias, designadamente, aos pactos sucessórios.
Este regulamento vem pacificar a questão sucessória ao nível da união europeia,
sendo um dos regulamentos que mais aplicamos. A união europeia trata das matérias
que mais… se colocam e este também é um dos fenómenos mais importantes que aqui
temos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A grande novidade para além da questão do DIP em geral, este regulamento é
extenso e a nós não interessa todo o regulamento porque ele inclui a fixação dos
tribunais das autoridades públicas em matéria do fenómeno sucessório bem como o
reconhecimento das decisões e dos (...) ( sejam os testamentos, os pactos sucessórios),
bem como o certificado sucessório europeu, a possibilidade de partir de agora com isto
todo o fenómeno sucessório voluntário que o de cuius trate em vida é livremente
circulável, não há conflitos que se coloquem na matéria do fenómeno sucessório.
Quanto àquilo que nos interessa, em particular em matéria dos conflitos que é
essa que vamos tratar. Este regulamento trata de todo o fenómeno sucessório, e a sua
aplicabilidade depende tal qual acontece nos restantes da verificação dos 3 âmbitos de
aplicação.
ÂMBITOS DE APLICAÇÃO
O âmbito espacial, o temporal, e o material. Só tenham em atenção é que este
regulamento é particularmente extenso, ele está dividido em 3 secções, e a primeira é
da competência dos tribunais.
Notem, também tem conexões para determinar qual é o tribunal ou a autoridade
pública competente. Temos de ter atenção para não confundir os conflitos relativos à
determinação da lei aplicável ao fenómeno sucessório, com os conflitos para ver qual o
tribunal competente.
Na verificação dos âmbitos, verificado estes 3 âmbitos tal e qual como acontece
nas restantes matérias, afasta se a aplicabilidade do CC em matéria de direito das
sucessões mortis causa.
ÂMBITO MATERIAL
O regulamento é aplicável pelo âmbito material no artigo 1º, e o regulamento
aplica-se a todo o fenómeno sucessório mortis causa, desde que, não se suscite
questões, fiscais, administrativas e aduaneiras.
O regulamento trata, então, de todo o fenómeno sucessório com exceções das
matérias que estão expressamente proibidas no nº2 do artigo 1º. São elas matérias
relativas ao estado das pessoas e relações familiares, eventuais efeitos sucessórios que
suscitem questões ao nível do direito da família ou do estado das pessoas ficam
excluídas do âmbito de aplicação do regulamento.
A matéria relativa à capacidade com exceção da alínea b) do artigo 23º e 26º
que diz respeito a capacidade sucessória, essa está incluída no âmbito do regulamento,
estamos a falar reconhecidamente na alínea b) da capacidade de exercício.
Todas as matérias relativas à equiparação da morte, o regime da ausência, do
desaparecimento, morte presumida as matérias relativas aos efeitos matrimonias,
eventuais obrigações a alimentos e ainda eventuais situações de negócios jurídicos
mortis causa que não sejam reduzidos escrito.
Depois tem também matérias relativas a direito societário, mais uma vez os
contratos especiais e a tipificação de direitos reais, estão excluídos do âmbito do
regulamento. Ressalvadas estas exceções o fenómeno mortis causa em geral é aquele
exclusivamente regulado pelo Regulamento.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
ÂMBITO ESPACIAL

Depois temos o âmbito de aplicação espacial, e atenção aqui tem de saltar para
o artigo 20º que é quando começa a matéria dos conflitos de leis, até aí temos a
competência dos tribunais. Passamos para o artigo 209º que tal e qual os outros
regulamentos, o seu âmbito de aplicação é universal. Ou seja, não há problema que se
suscite a lei aplicável nos termos do regulamento, pode ser um estado-membro como
um estado terceiro.
ÂMBITO TEMPORAL
O regulamento entrou em vigor em 2012. É aplicável a partir de 17 de agosto de
2015. Em que se inicia logo com a sua publicação em 2012, temos um período de vacatio
legis particularmente longo, mas a partir de 17 de agosto de 2015 entra em vigor o
regulamento e vincula todos os EM com exceção da Dinamarca, artigo 84º.
Atenção artigo 1º e depois a matéria relativa ao direito conflitual só começa no
artigo 20º.
A grande novidade do regulamento na senda, daquilo que aconteceu nos demais
regulamentos, é que o legislador da UE garantindo o Princípio da maior ligação
individual, portanto, estamos numa matéria de estatuto pessoal e ele tem de o garantir,
mas admite também a autonomia da vontade.
Ou seja, se analisarmos o artigo 21º e o artigo 22º, o legislador estabeleceu a
regra geral, relativamente, a matéria de estatuto pessoal como elemento de conexão a
RH, mas reparem, sem prejuízo de disposição em contrário e aquela que nos importa é
a que está no artigo 22º. O que temos neste artigo é uma autonomia da vontade em
matéria sucessória.
Significa que qualquer pessoa, qualquer cidadão de um EM pode agora
determinar a lei aplicável na sua sucessão sendo que, não obstante, a escolha é
particularmente limitada.
E isto porquê?
Porque na falta de escolha a regra geral é a RH da pessoa, do de cuius a única
possibilidade de escolha, neste caso concreto, é optar pela lei da nacionalidade.
Ou seja, é possível afastar a lei da RH que é aquela que na falta de escolha será
aplicada, mas a escolha na realidade é limitada, que é a opção, relativamente, a outra
conexão de estatuto pessoal, ou seja, a lei da nacionalidade nos termos do artigo 22º.
Esta lei da nacionalidade sendo uma conexão móvel, o legislador da UE permite
que ela seja excluída sem ser alterada, no sentido em que se houver uma alteração da
nacionalidade, a nacionalidade tanto pode ser aquela que foi feita no momento da
escolha como posteriormente e se houver nacionalidades múltiplas, a pessoa pode
escolher a aquela que mais lhe aprouver para aplicar no caso concreto.
À escolha desta lei são aplicadas as exigências de forma que se exigiriam para os
negócios jurídicos mortis causa e todos os requisitos de validade formal e substancial
nesta escolha de lei, ficam incluídos no âmbito da lei escolhida.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Na falta de escolha de lei nos termos do artigo 21º então, a regra geral é a lei da
RH do de cuius, sendo várias é aquela que está mais próxima da questão controvertida,
ou seja, do de cuius, isto é, a última residência habitual do de cuius.
A não ser tal e qual acontece em todas as restantes regras supletivas dos
restantes regulamentos, que se demonstre, no caso concreto, que há uma conexão
manifestamente mais estreita, como o fenómeno sucessório, que é a residência
habitual.

Esta escolha de lei tanto é para o fenómeno sucessório mortis causa legal como
voluntário. Ou seja, o de cuius pode escolher a lei aplicável ainda que não faça nenhum
testamento, ou fazendo um testamento, ou então estende a possibilidade para isso num
pacto sucessório.
A matéria do testamento e do pacto sucessório estão nos artigos 24º e 25º. Se
repararmos nas respetivas redações, a lei aplicável, se tivermos um fenómeno
sucessório sem testamento, ou seja, artigos 21º e 22º, é a mesma regra que aplicamos
para o testamento ou para o pacto sucessório, a lei que seria aplicável nos termos do
regulamento, quer seja a lei escolhida, quer seja a conexão supletiva.
A particularidade que tem está de facto nos pactos sucessórios. É uma matéria
controvertida e os pactos sucessórios não são admitidos no ordenamento português.
O que significa?
Significa que a partir do regulamento da UE é possível que um pacto sucessório
seja válido em Portugal através de um português. Basta que, para isso, seja aplicável a
lei da residência habitual e se ela não tiver residência habitual em Portugal, o assunto
fica arrumado. A particularidade é que de facto, a questão mais controvertida ao nível
da UE, foi os pactos sucessórios porque muitos EM não admitem a validade destes
fenómenos sucessórios, destes contratos sucessórios.
Ele reveste particulares exigências no seguinte sentido: o pacto sucessório
depende se for relativo a uma sucessão de uma pessoa, ou se for relativo a uma sucessão
de várias pessoas.
Notem, se nos recordarmos, a matéria relativa ao divórcio e à separação judicial
em que falávamos das questões de validade de forma e substancial e bastava nos casos
concretos os requisitos de validade formal, relativa à escolha de lei em caso de divórcio
e separação judicial, se o Estado participante exigisse mais requisitos esses deviam ser
atendidos, mas se os cônjuges estiverem residência habitual em países diferentes que
sejam participantes do regulamento, basta que se cumpram os requisitos de um único
estado participante ainda que não se cumpra do outro.
Na matéria do pacto sucessório o acordo não foi tão longe, significa que se tivermos
sucessões relativas a mais que uma pessoa, os típicos testamentos que em Portugal
seriam os testamentos de mão comum, portanto, as pessoas vão estabelecendo
condições relativamente às sucessões de uma das outras, neste caso concreto, os
requisitos para além daqueles que constam das respetivas leis, terão de ser atendidos
e terão de ser combinados, relativamente, a todos.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Ou seja, se tivermos sucessões relativas a várias pessoas, se para cada uma delas
tivermos leis aplicáveis diferentes, porque eles tem nacionalidades ou residência
habituais diferentes, o pacto sucessório tem que ser válido, naturalmente, em cada uma
destas leis aplicáveis e se houver outros requisitos a atender, cada um desses requisitos
de cada um dos estados participantes, terão de ser combinados e cumulativamente
verificados no caso concreto, para termos, efetivamente, um pacto sucessório válido.
Mas notem é possível o estabelecimento desses pactos sucessórios nos termos
do artigo 25º.

O regulamento estabeleceu também os requisitos de validade formal destes


negócios jurídicos, mas estabeleceu também algumas regras que, curiosamente, tal qual
fez o legislador português no que tange a algumas soluções materiais em matéria
conflitual e fê-lo em duas situações diferentes que estão nos artigos 31º e 32º, a
primeira delas diz respeito há classificação de direitos reais.
O regulamento, está excluído o âmbito de aplicação do regulamento para a
classificação dos direitos reais, o regulamento não trata da classificação dos direitos
reais e como sabemos tratando-se de direitos reais de imóveis, os estados são latamente
protecionistas tendo em consideração a soberania nacional associada à ideia de
território.

O regulamento, não obstante, no artigo 21º prevê um Princípio de adaptação,


sendo possível quando há fenómenos sucessórios relativos a determinados direitos
reais, que por algum motivo não existam no ordenamento jurídico.
O que acontece é que vai haver uma adaptação para o direito real mais próximo
desse ordenamento jurídico, uma verdadeira oscilação de direito material.

A segunda solução de direito material é aquela que tal e qual o legislador fez no
CC e que está no artigo 32º e esta solução é a mesma que está no CC, a denominada
presunção de comoriência, ou seja, de entre o denomino sucessório pode-se colocar a
questão de saber quando duas pessoas desaparecem, ou não se sabe exatamente se
elas sucedem uma outra quem morreu em primeiro lugar. Há várias soluções, no CC
como sabemos a solução é a presunção de comoriência, isto é, presume-se que
morreram ao mesmo tempo. O CC nessa matéria também não permite que seja a lei
aplicável que determine como se resolve a questão de dúvida quando quem morreu em
primeiro lugar, remetendo para a regra do CC, ou seja, aplicada a solução de direito
material português independentemente da lei aplicada.

O legislador da união europeia estabeleceu o mesmo princípio, ou seja, na dúvida


havendo pessoas que tenham de suceder umas às outras, não sabendo quem morreu
em 1º lugar, independentemente, da lei aplicável o regulamento estabelece a solução
de direito material que é aquela que está estabelecida no artigo 32º e que é também
uma presunção de comoriência, ou seja, estas pessoas são comorientes.

Sempre que duas ou mais pessoas cujas sucessões são regidas por leis diferentes
morram em circunstâncias que haja incerteza quanto à ordem que os óbitos ocorreram
e que essas leis regulem esta situação de forma diferente ou não a regulem, nenhuma
destas pessoas tem direito a sucessão da outra ou das outras.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Portanto, é o princípio da presunção de comoriência, nenhuma herda
relativamente à outra, ou seja, presume-se que morreram ao mesmo tempo, ou seja,
nenhuma delas tem personalidade jurídica quando o fenómeno sucessório se abre.

Tal e qual como acontece nos outros regulamentos, é estabelecida uma reserva
de ordem pública internacional, sempre que a lei aplicável viole algum
princípio conformador do Estado do foro, é afastada a solução material e aplica-se a lei
do foro. Tal e qual como acontece nos outros regulamentos, não há o princípio do
mínimo dano e aplica-se logo a lei do foro.
Nas matérias relativas aos ordenamentos jurídicos plurilegislativos, neste caso
teremos a solução da união europeia mais próxima daquela que temos no CC, que estão
previstas no artigo 36º e 37º - ordenamento jurídicos plurilegislativos de base territorial
e de base pessoal.
Aqui a regra geral é, em toda a sua extensão sempre que tenhamos um
ordenamento jurídico plurilegislativo de base territorial é o DIP interlocal (não é
internacional) que vai resolver o conflito de leis. Na ausência desta solução o legislador
aproxima-se daquilo que já vem no regulamento de divórcio e separação judicial.
Ou seja, se a conexão for residência habitual é a lei aplicável do lugar da
residência habitual, se for a nacionalidade ou outra conexão será aquela que tiver uma
ligação manifestamente mais estreita com a pessoa. Se for um ordenamento jurídico
plurilegislativo de base pessoal é o direito interpessoal desse ordenamento jurídico que
vai resolver esse conflito interno e na falta ou na insusceptibilidade de determinação, a
conexão manifestamente mais estreita determina-se entre a lei geral e a lei especial
aquela que se deve aplicar ao caso concreto.
O regulamento das sucessões admite o reenvio. Neste caso concreto se olharem
para o artigo 34º não esta excluído o reenvio.

14.12.2023 (T)

REGULAMENTO DAS SUCESSÕES - CONTINUAÇÃO

A grande nota distintiva do regulamento das sucessões, apesar de não ser


desenvolvido na competência das autoridades públicas, diz respeito ao reenvio. Ao
contrário do que acontece no Roma I, Roma II e no Regulamento de Cooperação
Reforçada, Regulamento das Sucessões, ainda que com algumas limitações, admite o
reenvio. Isto significa que no âmbito do Regulamento das Sucessões, sempre que um
Estado Membro, ou seja, a lex fori, determina a aplicabilidade de direito material
estrangeiro, não significa que se exclua a possibilidade desse ordenamento jurídico não
se considerar competente.

Se isso acontecer o Regulamento das Sucessões pode admitir a aplicabilidade de


uma lei diferente de L2. O legislador não chegou nem aos calcanhares da doutrina
portuguesa, mas fez alguma coisa de diferente e admitiu o reenvio conforme os
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
requisitos previstos no artigo 34º. Nas situações da alínea a) e b) do nº1 admite-se a
aplicabilidade de lei que não seja a lei estrangeira determinada pela lei do foro.

Como analisar o art 34º?

Como sabemos a regra geral, relativamente também ao Regulamento das


Sucessões é a autonomia da vontade, apesar de tal qual como vimos na matéria de
estatuto matrimonial com muitas limitações no que tange à escolha de lei, no
Regulamento das Sucessões, por maioria de razão, é que foi possível optar por uma lei
diferente daquela que seria a lei aplicável. Então o reenvio só é admissível quando,
notem, se estamos a tratar do Regulamento das Sucessões e L1 é a lex fori, apesar do
artigo 34º não dizer, L1 tem de ser um EM. O Regulamento aplica-se aos EM da UE, isto
significa que se L1 é uma lex fori, ou seja, o Tribunal Internacional está a aplicar o
Regulamento da UE, obrigatoriamente L1 tem de ser um EM.

Para haver reenvio significa que L1 não se pode considerar competente. L1 tem
de considerar competente uma lei estrangeira, lei estrangeira essa que não se pode
considerar competente.
Se L2 é a ei estrangeira determinada pelo Regulamento não se considera
competente, L2 só pode ser um estado não membro da UE, ou seja, L2 tem de ser
obrigatoriamente um estado terceiro.

Se o regulamento da UE, em matéria de sucessões vincula todos os EM, significa


que se L2 for a lei de qualquer EM, esse EM vai pegar no Regulamento e vai ver se é
competente ou não. Está a aplicar o mesmo regulamento, a mesma lei, a mesma norma
de conflitos, ou há um erro de tradução ou ele tem de se considerar competente.
A única hipótese de L2 não se considerar competente, é L2 não ser um EM, mas
sim um estado terceiro. Nos termos do artigo 34º este é o pressuposto para termos
reenvio, o EM da lex fori considera competente um Estado terceiro.

Notem, se para haver reenvio L2 não se pode considerar competente, L2 só pode


ser um Estado terceiro. L2 é um Estado terceiro e não é nem a nacionalidade, nem outra
conexão diferente da RH.
Notem, o artigo 34º/2 diz que não há reenvio e que, portanto, nas situações em
que temos a lex fori, o EM a considerar competente o ordenamento jurídico estrangeiro
e o Regulamento diz que para estas situações nunca há reenvio. Regra dos outros
Regulamento é que só há referências materiais, nos casos em que funciona a autonomia
da vontade (que é trocar a RH do de cuius pela nacionalidade do de cuius), portanto, se
L2 for a nacionalidade escolhida pelo de cuius não há reenvio.
Ou então não há autonomia da vontade e está a ser aplicada qualquer outra
conexão que não seja a RH.

Quando é que se aplica outra conexão sem haver autonomia da vontade que não seja
a RH?

Quando afastamos a RH com a conexão manifestamente mais estreita e aí


notem, a conexão manifestamente mais estreita pode ser a nacionalidade.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

Isto porque o legislador da UE considera, ao contrário do CC, em que quando


estudamos as situações em que cessa o reenvio, nomeadamente, pela autonomia da
vontade, que se verifica pela regra supletiva, ou seja, nada impede que aquela escolha
de lei seja feita não só com uma referência material, mas também com uma referência
global à lei estrangeira, o legislador entende sempre que alguém escolhe uma lei é o
porque quer ver essa lei aplicada ao caso em concreto. Expressão máxima da autonomia
da vontade.
Quando não há autonomia da vontade, mas se está a aplicar uma conexão
diferente da RH, a forma de deixar esta é a aplicar a conexão manifestamente mais
estreita. O legislador entende que, entre garantia a harmonia jurídica internacional e
aplicar a conexão mais próxima, aquela que manifesta a maior ligação individual sendo
que no caso em concreto necessário demonstrar que dentro daquelas circunstâncias há
uma conexão para além da RH que ainda é mais estreita daquela questão controvertida,
então nesse caso concreto nunca há reenvio.

Se L2 for escolhida pela autonomia da vontade ou porque escolhemos a conexão


manifestamente mais estreita de acordo com as circunstâncias do caso concreto, nestes
casos nunca há reenvio e só fazemos referências materiais. Isto significa que L2 haverá
de ser a lei escolhida de acordo com o critério supletivo do legislador, L2 há de ser a RH
do de cuius.
Aqui sim, podemos ter uma situação de reenvio, ou seja, a lex fori que é um EM,
considera competente a RH do de cuius, sendo que a RH é um estado terceiro que não
se considera cometente. Quando isto acontece, é admissível o reenvio se estiver
verificado o pressuposto de L1 considera competente L2, que não se considera
competente, mas L1 pode considerar-se competente da seguinte forma: L2 não se
considera competente, mas considera competente a lei de um EM, é a alínea a).
Na alínea a) temos 2 opções: ou L2 considera competente L3, que é um EM e se
admite o reenvio significa que se aplicará L3 e é indiferente saber o que L3 faz ou não,
porque se L3 é um EM, aceita o reenvio, ou seja, aceita a transmissão da competência,
nos termos do artigo 34º. Portanto, primeira hipótese da alínea a), L2 não se considera
competente e considera competente um EM (opção 1 da alínea a)), ou então, em
alternativa, se L1 também é um EM ele em vez de transmitir a competência pode
devolver a competência à lei do foro (opção 2).

Na primeira hipótese, aplica-se L3, na segunda hipótese, L1 aceita a devolução


da competência e aplica L2.

Mais uma vez, na primeira hipótese L2 não se considera competente e considera


competente a lei de um EM, seja para transmitir a competência para L3 (1ª opção),seja
para devolver a competência a L1.

Segunda hipótese: na alínea b), L1 tem de ser um EM, que considera competente
L2 que tem de ser necessariamente um estado não membro, este estado não membro
não pode ser a nacionalidade nem outra conexão qualquer, dado ser a conexão supletiva
a RH, esta lei não se considera competente, mas agora não considera competente a lei
de um EM, mas considera competente a lei de um Estado não membro.
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
Notem, na alínea b) a única hipótese que temos é a transmissão de competências
para L3, para trás não vem porque se L2, nos termos da alínea b) tem de considerar
competente um Estado terceiro, L2 nunca pode ser um Estado terceiro. A única hipótese
da alínea b) é L2 considera competente outro Estado e este é um Estado terceiro, que
se considera competente.

Porque é que o legislador optou por esta situação no regulamento das sucessões?

Primeiro, porque se não nunca mais haveria Regulamento das Sucessões, a


matéria de estatuto pessoal é altamente complicada, porque as soluções jurídicas são
diferentes e como sabemos, a UE não pode impor regras relativas a matéria de estatuto
família (matrimónio, sucessões), isto implica, necessariamente, uma negociação entre
todos os estados que quando não se coloca matérias de estatuto pessoal,
nomeadamente, no âmbito comercial e das obrigações é particularmente mais simples
de resolver, as situações ou são muito parecidas ou funciona a autonomia da vontade e
não há questões particulares para resolver.

Aqui o legislador teve de acautelar a necessidade de um consenso. Primeiro


porque os Estados estão divididos relativamente, a qual é a lei que deve ser aplicada em
matéria de estatuto pessoal (nacionalidade ou RH), como sabemos o legislador da UE
deu prevalência à RH em detrimento da nacionalidade, portanto, na hipótese da alínea
a), estamos a tratar matéria de estatuto sucessório, o que há de quase unânime, com
exceção de algumas questões relativas a direitos reais e imóveis, é gravitar entre 2 leis:
nacionalidade e RH.
O legislador da UE resolveu o conflito dos estados relativamente a este
problema: se as partes escolherem ou encontrarem uma conexão manifestamente mais
estreita o assunto fica arrumado, se isso não acontecer, o legislador consegue dizer que
acha que é a lei da RH, mas se tiver toda a gente de acordo em aplicar outra lei, por ele
também não tem problema nenhum.

Que outra lei é que será?

A regra é que seja a lei da nacionalidade. Aquilo que ele diz é que prefere a da
RH, mas se por acaso a da RH e da nacionalidade concordarem que tem de ser a da
nacionalidade, aplicam-na. Com a exceção de algumas questões associadas a direitos
reais sobre imóveis, esta L3 ou L1 será em princípio, a lei da nacionalidade e se não for
a lei da nacionalidade é porque, por sua vez, tem direitos reais sobre imóveis em que o
princípio da maior proximidade, tal qual o nosso CC, ganha prevalência (artigo 17/2 e
nº3 do CC).
Aqui é exatamente a mesma coisa, portanto, a regra é, esta L3 ou L1 quando
retornam e é devolvida a competência à lei do foro, por regra, será necessariamente a
lei da nacionalidade. Aplicamos a lei da RH, mas se por acaso a lei da RH entender que
deve ser a lei da nacionalidade, então toda a gente fica satisfeito, sendo uma forma de
transigir coletivamente à não escolha da lei da nacionalidade como conexão supletiva
regra em matéria de estatuto sucessório
DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO
A regra é, esta l3 ou l1 quando é devolvida a competência a lei do foro, é por
norma, a lei da nacionalidade. Se a lei da RH entender que deve ser a lei da
nacionalidade, tudo bem.

Acautelando também desta forma, ainda que excecionalmente, as matérias


relativas a direitos reais, sobretudo direitos reais sobre imóveis, em que como sabemos,
há uma grande preocupação do legislador que haja o princípio da maior proximidade,
para que depois as decisões sejam reconhecidas no lugar de situação desses bens. É uma
forma de conformar alguma harmonia jurídica internacional que no caso concreto se
suscita pela necessidade de harmonizar pela via conflitual, através da admissibilidade
excecional do reenvio, as posições antagónicas das partes em aceitar alterar a sua
conexão preferencial em matéria de sucessões.
No limite há admissibilidade de poder ser aplicado em extremis a nacionalidade,
ainda que o legislador supletivamente tenha escolhido a RH e, por isso, para efeitos de
transação e negociação do Regulamento, dos Estados, excecionalmente admite-se o
reenvio.
Nestas 2 situações, a primeira tem as duas situações alternativas, quer a
transmissão, quer a devolução da competência, ou então esta situação.
Não obstante no regulamento das sucessões é possível.

Atenção à leitura do artigo, é essencial começar a ler o artigo pelo fim! Não há
reenvio, não temos de nos preocupar em saber se estão verificados os requisitos do
reenvio quando L2 é a lei escolhida pelo de cuius, ou a conexão manifestamente mais
estreita. Nesse caso não há, há uma mera referência material e o assunto fica arrumado.
Portanto, idealmente começamos pelo fim, se não for nenhuma daquelas
situações então pode-se admitir o reenvio e a partir daí é que vamos verificar se os
requisitos estão ou não verificados. Se estão admitimos a aplicabilidade da lei escolhida,
L3 ou L1, senão não estão aplicamos L2 e fazemos uma referência material e o assunto
fica arrumado.

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