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INTENSIVO I

Flávio Tartuce
Direito Civil
Aula 1

ROTEIRO DE AULA
Tema: Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB)

Conteúdo programático

a) Intensivo I (25 AULAS)

- Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB);


- Parte Geral do Código Civil;
- Teoria Geral das Obrigações;
- Teoria Geral dos Contratos; e
- Contratos em espécies.

b) Intensivo II (20 AULAS)

- Responsabilidade Civil;
- Direito das Coisas;
- Direito de Família; e
- Direito das Sucessões.

Bibliografia:
➢ TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. Método. 11ª edição.

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➢ TARTUCE, Flávio. Coleção de Direito Civil. 6 volumes. Forense.
➢ TARTUCE, Flávio. Código Civil Comentado. Forense. 3ª edição.
Contato:
E-mail para dúvidas: fftartuce@uol.com.br
Site: www.flaviotartuce.adv.br
Instagram: @flavio.tartuce

Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB – Decreto-Lei 4.657/1942)

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 2021, p. 1-41.

Aspectos de Direito Privado


1. Primeiras palavras
A LINDB antes era chamada de LICC (Lei de Introdução ao Código Civil). Desde a Lei 12.376/2010, ela passou a ser chamada
de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro.

Trata-se de uma norma de sobredireito, isto é, uma “norma que trata da aplicação de outras normas jurídicas” (lex legum).
✓ É uma lei ou norma jurídica diferente.
De um modo geral, o comando inscrito em uma norma jurídica é dirigido a todos (atributo da generalidade). A LINDB, no
entanto, é destinada a atores específicos, ou seja, é dirigida ao aplicador do Direito, ao intérprete e ao legislador. Essa
peculiaridade da LINDB fica mais visível quando analisamos os comandos dos arts. 4º e 5º.

O art. 4º da LINDB prevê as formas de integração da norma jurídica. O art. 5º, por sua vez, trata dos fins sociais da norma e
da pacificação social.

LINDB, art. 4o: “Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais
de direito.” - integração da norma jurídica

LINDB, art. 5o: “Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
- pacificação social

➢ A alteração do nome se justifica? Autores como o Prof. José Fernando Simão acreditam que não. Entretanto, a
posição que prevalece afirma que sim, pois a LINDB não é dirigida apenas ao Direito Civil, mas a todos os ramos do
Direito, motivo pelo qual a alteração do seu nome faz sentido.

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A título de exemplo, a LINDB traz as regras do Direito Internacional Público e do Direito Internacional Privado. Por
esse motivo, é conhecida como “Estatuto do Direito Internacional.” O “Estatuto do Direito Internacional.” designa
um rol de 12 (doze) artigos da LINDB, os quais estão voltados à disciplina de tópicos como a competência processual
em matéria internacional, o conflito entre normas internacionais e o direito dos tratados (art.171).
- a LINDB sobressai ao direito do consumidor.

✓ Obs.: Ver, em matéria de Direito Público, os artigos 20 a 30 da LINDB, os quais foram incluídos pela Lei 13.655/2018.
Tais regras representam um distanciamento ainda maior do Direito Privado.
É bom lembrar que a Lei de Introdução nunca fez parte de nenhum dos dois Códigos Civis (CC/1916 e CC/2002). Trata-
se de uma lei introdutória a todo o sistema jurídico.

Conteúdo da LINDB
I) Formas de integração da norma jurídica;
II) Regras de aplicação da norma jurídica no tempo e no espaço;
III) Fontes do Direito (visão clássica);
IV) Regras de Direito Internacional (Público e Privado); e
V) Regras de Direito Público.

2. Fontes do Direito (visão clássica)


Segundo a doutrina civilista, a palavra “fonte” pode ter dois sentidos principais:
• Origem (“de onde vem”), como ensina a prof.ª Maria Helena Diniz
• Manifestações jurídicas (“formas de expressão do Direito”), nas palavras de Rubens Limongi França

As fontes do Direito se dividem em:


FONTE PRIMÁRIA: Lei*1 – Sistema da civil law / art. 5º, II, CF2.
Fontes formais (constam da
LINDB) FONTES SECUNDÁRIAS*2: São aplicadas na falta de lei como um
Fontes do Direito recurso de integração normativa: (i) analogia, (ii) costumes e (iii)
princípios gerais de Direito / art. 4º, LINDB.
AFASTAMENTO DO NÃO JULGAMENTO ( NON LIQUET)

(i) doutrina

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LINDB, art. 17: “As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de vontade, não terão eficácia no
Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem pública e os bons costumes.”
As convenções de Varsóvia e Montreal, que tratam de tarifação do transporte aéreo internacional prevalecem sobre o CDC - STF
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CF, art. 5º, II: “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”

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Fontes não formais *3 (não (ii) jurisprudência
constam da LINDB) (iii) equidade (?).

Observações importantes:

*1 – Lei: é a norma jurídica (norma agendi). - definição de lei:


Segundo o conceito do Prof. Gofredo Telles Júnior, o qual é seguido por Maria Helena Diniz, a lei é um imperativo autorizante.
• A lei é um IMPERATIVO porque emana de uma autoridade competente, sendo dirigida a todos. A imperatividade faz
remissão ao atributo da GENERALIDADE (= vigência sincrônica).
• A lei é AUTORIZANTE porque autoriza ou não autoriza determinadas condutas.
Dentro deste conceito não cabe, por exemplo, o conceito tradicional de Hans Kelsen, segundo o qual a norma jurídica
é um imperativo sancionador (“Não há norma jurídica sem sanção”). Teoria Pura do Direito ( Kelsen) superada
Exemplo: a Constituição Federal de 1988 contém diversos comandos que não comportam sanção. Nesse sentido, veja
o que diz o dispositivo que trata da instituição familiar.

CF, art. 226: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.”

Além de IMPERATIVA e AUTORIZANTE, a norma jurídica tem OBRIGATORIEDADE. Essa ideia está contida no art. 3º da LINDB3,
o qual estabelece que ninguém pode deixar de cumprir a lei alegando que não a conhece.

Fundamento - Sobre a obrigatoriedade, existem três correntes: - 3 correntes sobre OBRIGATORIEDADE


• Teoria da Ficção: a lei trouxe a ficção de que todos conhecem as leis.
• Teoria da Presunção: há uma presunção de que todos conhecem as leis.
• Teoria da Necessidade Social (majoritária): há uma necessidade coletiva de que todos conheçam as leis (Maria
Helena Diniz e Zeno Veloso).

A regra do art. 3º da LINDB não é absoluta.


Exemplo de exceção no Direito Civil: art. 139, III do CC/024, o qual permite a anulação do negócio jurídico por erro do direito.

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LINDB, art. 3º: “Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece.”
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CC, art. 139, III: “O erro é substancial quando: (...)
III- sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.”

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SUBSUNÇÃO E INTEGRAÇÃO:

ATENÇÃO: não confundir SUBSUNÇÃO com INTEGRAÇÃO. A SUBSUNÇÃO é a aplicação direta da lei, ao passo que a
INTEGRAÇÃO é a aplicação de ferramentas de correção do sistema, as quais estão previstas no art. 4º da LINDB (analogia,
costumes e princípios gerais do Direito).

*2 – Fontes formais secundárias: são aplicadas na falta da lei, isto é, quando ela for omissa (lacuna normativa).
As fontes formais secundárias são as ferramentas de correção do sistema e vedam o não julgamento (non liquet).

CPC, art. 140: “O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.”

A ordem do art. 4º da LINDB deve ser rigorosamente obedecida? - 2 CORRENTES


Sobre o assunto, existem duas correntes:
• Doutrina clássica (Clóvis Beviláqua, Washington de Barros Monteiro, Maria Helena Diniz): SIM.
• Doutrina contemporânea (Gustavo Tepedino, Zeno Veloso e Daniel Sarmento): NÃO.

A opção por uma das duas correntes dependerá muito da composição da banca avaliadora do concurso. Entretanto, prevalece
a doutrina contemporânea, pois os princípios constitucionais têm prioridade de aplicação. - PRIORIDADE NA UTILIZAÇÃO
DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
Fundamentos:
1º) Art. 5º, §1º da CF - Trata da aplicabilidade imediata das normas de direitos fundamentais.
2º) Art. 8º do CPC - Coloca o princípio da dignidade da pessoa humana como ponto de partida para qualquer decisão judicial.

CF, art. 5º, §1º: “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.”

CPC, art. 8º: “ Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando
e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade
e a eficiência.”

*3 – Fontes não formais - NÃO CONSTAM NA LINDB COMO FONTES

• Doutrina: é a interpretação do Direito feita pelos estudiosos.


Ex.: teses de doutorado, dissertações de mestrado, manuais, cursos, tratados e enunciados do Conselho da Justiça Federal
(CJF) aprovados nas Jornadas de Direito Civil (JDC).

• Jurisprudência: é a interpretação do Direito feita pelos Tribunais.

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Ex.: Súmulas do STJ e do STF.

Cuidado: o CPC de 2015 valorizou a jurisprudência, dando-lhe força vinculativa. Neste aspecto, verifica-se “um caminhar” em
JULGARÁ LIMIRNAMENTE IMPROCEDENTE, SE CONTRARIAR
direção ao sistema da common law. 1) SÚM DO STF;
2) ACÓRDÃO DO STF E STJ;
3) INCIDENTE DE RES DE DEMANDA REPETITIVA OU ASSUNÇÃO DE COMPETENCIA;
4) SÚM OU ORIENTAÇÕESDE TRIBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE DIREITO LOCAL.
CPC, art. 332: “Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará
liminarmente improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;
IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.”

CPC, art. 489, §1º, VI: “Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão,
que: [...]. VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a
existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.”

CPC, art. 926: “Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.”

CPC, art. 927: “Os juízes e os tribunais observarão: I - as decisões do Supremo Tribunal Federal em controle concentrado de
constitucionalidade; II - os enunciados de súmula vinculante; III - os acórdãos em incidente de assunção de competência ou
de resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial repetitivos; IV - os enunciados
das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria
infraconstitucional; V - a orientação do plenário ou do órgão especial aos quais estiverem vinculados.”

Equidade (?) – É “a justiça do caso concreto.” (Aristóteles).

A equidade é fonte do Direito? Sobre o tema, há duas correntes: - 2 CORRENTES

• Doutrina Clássica (Washington de Barros Monteiro e Maria Helena Diniz): Não. É apenas uma ferramenta de auxílio
ao juiz.
• Doutrina Contemporânea (Pablo Stolze, Rodolfo Pamplona e Flávio Tartuce): Sim, conforme se extrai do art. 5º da
LINDB, que impõe a busca dos fins sociais da lei e do bem comum; e do art. 8º do CPC.
Obs.: A resposta à questão depende da banca organizadora do concurso.

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Em alguns casos, a lei pode mencionar a equidade como fonte do direito.
Exemplo: art. 7º do CDC.
CDC, art. 7º: “Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais
de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.- FONTE FORMAL
SECUNDÁRIA CDC
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.”

E a Súmula Vinculante (art. 103-A, CF5)? É fonte do Direito?


Seguindo a lição de Walber Moura Agra, a Súmula Vinculante é fonte formal, estando compreendida entre a fonte primária e
as fontes secundárias, isto é, ocupa uma posição intermediária e ostenta uma natureza sui generis.
CONSTITUIÇÃO FEDERAL TRAZ PRIMAZIA DE APLICAÇÃO DA SÚMULA VINCULANTE COMO FONTE FORMAL

3. Formas de Integração da Norma Jurídica (art. 4º, LINDB)


1) ANALOGIA; 2) COSTUMES E 3) PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO
3.1. Analogia
Conceito: é a aplicação de uma (i) norma próxima ou de um (ii) conjunto de normas próximo, não havendo lei para o caso
concreto.
• Analogia legal (=legis) – Em caso de aplicação de uma norma próxima. - 1 ARTIGO
• Analogia jurídica (=iuris) – Em caso de aplicação de um conjunto de normas próximo. - CONJUNTO DE ARTIGOS

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CF, art. 103-A: “O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus
membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa
oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta,
nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em
lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja
controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica
e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser
provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá
reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão
judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.”

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Exemplo: aplicação de regra(s) do casamento para a união estável.

ATENÇÃO: não confunda ANALOGIA com INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA.


ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA
Outra norma jurídica é aplicada, além da sua previsão O sentido da norma jurídica é ampliado.
original. ROMPIMENTO DO TIPO
Na analogia, há integração. Neste caso, há subsunção.

Vejamos alguns exemplos:


REGRA 1: Por essa linha somente circula camelo amarelo.
➢ Se o intérprete, por qualquer motivo, aplica o comando descrito na regra jurídica para camelos da cor marrom, há
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. No entanto, se no momento da aplicação o intérprete assume como verdadeira a
premissa de que dromedários também podem circular pela linha, ele o faz com base no mecanismo da ANALOGIA, já
que houve a mudança do tipo descrito.

REGRA 2: Neste cesto, só podem ser colocadas maçãs vermelhas.


➢ Aqui vale o mesmo raciocínio. Se o intérprete aceitar que, no cesto, sejam colocadas maçãs verdes, ele terá feito uma
INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA. Agora, se o intérprete aceita que sejam colocadas peras no cesto, a alteração do tipo
de fruta faz deste um caso de ANALOGIA.

3.2. Costumes
Conceito: são práticas e usos reiterados com conteúdo lícito e relevância jurídica.
CC, art. 113, caput: “Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.”

Classificação
a) Costumes segundo a lei (secundum legem): ocorre quando a expressão “costume” consta da norma jurídica, havendo,
neste caso, subsunção. - APLICAÇÃO DA LEI QUE MENCIONA O COSTUME - SUBSUNÇÃO

CC, art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.” - SUBSUNÇÃO

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b) Costumes na falta da lei (praeter legem): aplicado quando a lei for omissa (= costume integrativo). Neste caso, há
integração. - COSTUME INTEGRATIVO
Ex.: Cheque pós-datado.
Súmula 370, STJ: “Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado”.

c) Costumes contra legem: são aqueles que contrariam a lei, não sendo, em regra, admitidos pelo ordenamento; salvo se a
lei correspondente tiver caído em desuso.- EM REGRA, NÃO É ADMITIDO PELO ORDENAMENTO JURÍDICO

Ex.: A norma que prevê que o “jogo do bicho” é contravenção penal.

3.3. Princípios Gerais do Direito

Segundo Limongi França, os princípios gerais do Direito são regramentos básicos aplicáveis a determinado instituto jurídico;
RETIRADOS
sendo abstraídos das normas, da doutrina, da jurisprudência e de aspectos políticos, econômicos e sociais.
Os princípios podem estar expressos na norma jurídica ou não. Como exemplo, temos o instituto da função social do contrato,
o qual está expresso no Código Civil de 2002 (artigos 421 e 2.035, parágrafo único); e está implícito no Código de Defesa do
Consumidor (CDC).

CC, art. 421: “ A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. (Redação dada pela Lei nº 13.874,
de 2019)
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da
revisão contratual. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)”

CC, art. 2.035, §único: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.”

O Prof. Paulo Bonavides destaca que, com a vigência da CF/88, alguns dos princípios gerais do Direito ganharam status
constitucional, tendo prioridade de aplicação.
- OUTRO ARGUMENTO DO DIR CONTEMPORANEO SOBRE A
DESNECESSIDADE DE SEGUIR ORDEM DE APLIÇÃO DO ART 4º LINDB

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São exemplos disso: a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, CF6), a solidariedade social (art. 3º, I, CF7) e a isonomia ou
igualdade material (art. 5º, caput, CF8).

4. Regras de aplicação da norma jurídica no tempo

➢ “A lei entra em vigor” = esta expressão se refere à vigência da lei.

A vigência da lei deve observar os requisitos necessários em três planos de juridicidade:


• Existência;
• Validade (requisitos formais); e
• Eficácia (aplicabilidade da lei).

4.1. Início de vigência

A doutrina civilista destaca três fases que antecedem a vigência da lei. São elas:
1ª) Elaboração.
2ª) Promulgação – Pode ser dispensada.
3ª) Publicação.

• A lei entra em vigor imediatamente após a publicação?


Não, pois, em regra, deve ser observado o prazo de “vacatio legis” (art. 1º, LINDB). Não havendo previsão na própria lei, o
prazo será de 45 (quarenta e cinco) dias para o Brasil ou 3 meses para os Estados estrangeiros com os quais o Brasil mantém
relação no plano internacional, contado o prazo da data de publicação oficial.

LINDB, art. 1º: “Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o país quarenta e cinco dias depois de oficialmente
publicada.

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CF, art. 1º, III: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III – a dignidade da pessoa humana”
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CF, art. 3º, I: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa
e solidária;”
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CF, art. 5º, caput: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...)”

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§ 1º Nos Estados, estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, se inicia três meses depois de
oficialmente publicada.
§ 2º (Revogado pela Lei nº 12.036, de 2009).
§ 3º Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto, destinada a correção, o prazo deste artigo e dos
parágrafos anteriores começará a correr da nova publicação.
§ 4º As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.”

4.2. Fim da vigência

A principal forma de retirada de vigência de uma norma jurídica é por meio da sua revogação por outra norma jurídica,
conforme dispõe o art. 2º da LINDB.

LINDB, art. 2º: “Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.”

Classificações da revogação:

a) Quanto à extensão (amplitude)

a.1) Revogação total (ab-rogação) → Ex.: revogação total do CC/1916, conforme prevê o art. 2.045 do CC/20029.

a.2) Revogação parcial (derrogação) → Ex.: Código Comercial de 1850 (art. 2.045, CC/2002).

b) Quanto ao modo

b.1) Revogação expressa: é taxativamente prevista na lei posterior (Ex.: art. 2.045, CC/02).

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CC, art. 2.045: “Revogam-se a Lei n o 3.071, de 1 o de janeiro de 1916 - Código Civil e a Parte Primeira do Código Comercial,
Lei n o 556, de 25 de junho de 1850.”

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b.2) Revogação tácita (art. 2º, §1º da LINDB): ocorre quando a lei nova trata da mesma matéria da lei anterior ou quando há
incompatibilidade entre a lei posterior e a anterior.
Ex.: Revogação tácita e parcial da Lei nº 4.591/64 na matéria de condomínio edilício.

O art. 2º da LINDB trata dos aspectos relacionados à vigência das leis. Há, no entanto, uma polêmica sobre a contraposição
deste artigo com o disposto no art. 9º da Lei Complementar nº 95/98, que, segundo alguns, impediria a revogação tácita.
Não obstante, tem prevalecido o entendimento de que a revogação tácita é sim possível.

LINDB, art. 2º, §1º: “ Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue.
§ 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule
inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.”

LC 95/98, art. 9º: “Quando necessária a cláusula de revogação, esta deverá indicar expressamente as leis ou disposições legais
revogadas.”

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

Obs. 1: Interpretação do art. 2º, §2º, LINDB.

LINDB, art. 2º, §2º: “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica
a lei anterior.”

A lei com sentido complementar não revoga ou modifica as disposições anteriores sobre o mesmo tema.

Ex.: a Lei 11.804/2008 (Lei dos alimentos para a grávida e para o nascituro) não revogou nem alterou as regras do Código Civil
de 2002 sobre alimentos.

Obs. 2: Repristinação (art. 2º, §3º, LINDB).

LINDB, art. 2º, §3º: “Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.”

Ocorre quando a norma revogada volta a valer com a revogação da sua norma revogadora. Em regra, ela não é admitida no
Direito Brasileiro.

Esquema exemplificativo:

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Norma B revoga a Norma C revoga a
norma A norma B
Norma A Norma B Norma C

Se a norma C revoga a norma B, a qual, por sua vez, havia revogado a norma A, esta última não volta a produzir efeitos,
SALVO se houver repristinação legal ou diante de declaração de inconstitucionalidade da norma revogadora (efeito
repristinatório).

➢ Ver o REsp. 517.789/Alagoas.

EMENTA: “CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA PATRONAL. EMPRESA AGROINDUSTRIAL. INCONSTITUCIONALIDADE. EFEITO


REPRISTINATÓRIO. LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. 1. A declaração de inconstitucionalidade em tese, ao excluir do
ordenamento positivo a manifestação estatal inválida, conduz à restauração de eficácia das leis e das normas afetadas pelo
ato declarado inconstitucional. 2. Sendo nula e, portanto, desprovida de eficácia jurídica a lei inconstitucional, decorre daí
que a decisão declaratória da inconstitucionalidade produz efeitos repristinatórios. 3. O chamado efeito repristinatório da
declaração de inconstitucionalidade não se confunde com a repristinação prevista no artigo 2º, § 3º, da LICC, sobretudo
porque, no primeiro caso, sequer há revogação no plano jurídico. 4. Recurso especial a que se nega provimento.” (STJ - REsp
517.789/AL. Relator Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA. T2 - SEGUNDA TURMA. Julgado em 08/06/2004. DJ 13/06/2005).

Obs. 3: Retroatividade da norma jurídica

A norma jurídica, em regra, tem vigência para o futuro. Logo, a irretroatividade é REGRA e a retroatividade é EXCEÇÃO.
Para que a retroatividade seja possível, são necessários dois requisitos principais:
(i) deve haver permissão legal; e
(ii) não pode prejudicar o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.

CF, art. 5º, XXXVI: “A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”

LINDB, art. 6º: “A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada. § 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. § 2º

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Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer, como aquêles cujo comêço
do exercício tenha têrmo pré-fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. § 3º Chama-se coisa
julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso.”

Esquema:

➢ Direito adquirido: é o direito incorporado ao patrimônio da pessoa, inclusive porque já é exercido (Gabba).

➢ Ato jurídico perfeito: é toda manifestação de vontade lícita e consolidada.

➢ Coisa julgada: é toda decisão judicial da qual não cabe mais recurso.

Questão: Essa proteção é absoluta? - NÃO


A proteção a esses institutos não é absoluta, sendo possível utilizar a técnica da ponderação (art. 489, §2º, CPC).

Ex.1: Relativização da coisa julgada nas ações investigatórias de paternidade julgadas improcedentes quando não existia
exame de DNA no Brasil. O STF e o STJ admitem a relativização para estes casos.

EMENTA: “RECURSO EXTRAORDINÁRIO. DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CONSTITUCIONAL. REPERCUSSÃO GERAL


RECONHECIDA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE DECLARADA EXTINTA, COM FUNDAMENTO EM COISA JULGADA,
EM RAZÃO DA EXISTÊNCIA DE ANTERIOR DEMANDA EM QUE NÃO FOI POSSÍVEL A REALIZAÇÃO DE EXAME DE DNA, POR SER
O AUTOR BENEFICÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA E POR NÃO TER O ESTADO PROVIDENCIADO A SUA REALIZAÇÃO.
REPROPOSITURA DA AÇÃO. POSSIBILIDADE, EM RESPEITO À PREVALÊNCIA DO DIREITO FUNDAMENTAL À BUSCA DA

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IDENTIDADE GENÉTICA DO SER, COMO EMANAÇÃO DE SEU DIREITO DE PERSONALIDADE” (STF, RE 363.889/DF, Rel. Min. Dias
Toffoli, J. 02/06/2011)

“PROCESSO CIVIL. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE. REPETIÇÃO DE AÇÃO ANTERIORMENTE AJUIZADA, QUE TEVE SEU
PEDIDO JULGADO IMPROCEDENTE POR FALTA DE PROVAS. COISA JULGADA. MITIGAÇÃO. DOUTRINA. PRECEDENTES. DIREITO
DE FAMÍLIA. EVOLUÇÃO. RECURSO ACOLHIDO” (STJ, Resp 226.436/PR, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, P. 04/02/2002,
J. 28/06/2001).

RETROATIVIDADE MOTIVADA OU RETROATIVIDADE MÁXIMA


Ex 2.: Um preceito de ordem pública pode retroagir, conforme previsão do art. 2.035, parágrafo único, CC/2002.
✓ É chamada de retroatividade motivada (Maria Helena Diniz) ou de retroatividade máxima (Paul Roubier).
CC, art. 2.035, §único: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos
por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos.”

Ex:redução da multa de 20% para 2%, em questões condominiais, é preceito de ordem pública - STJ

ANTINOMIAS JURÍDICAS

A antinomia é a presença de duas normas conflitantes, válidas e emanadas de autoridade competente,


sem que se possa dizer qual delas merecerá aplicação em determinado caso concreto (lacunas de colisão).

Para reconhecer uma antinomia jurídica, é necessário verificar a contradição, total ou parcial, entre duas ou
mais normas, ambas emanadas por autoridades competentes e no mesmo âmbito jurídico, de forma a gerar
nos sujeitos e operadores de Direito uma posição "insustentável pela ausência ou inconsistência de critérios
aptos a permitir-lhes uma saída nos quadros de um ordenamento dado.

Em suma, regras são consideradas juridicamente antinômicas quando são:

(i) jurídicas, (ii) vigentes, (iii) contidas em um mesmo ordenamento, (iv) legítimas e (v) contraditórias.

Critérios para a resolução de Antinomias Aparentes


É importante, primeiramente, notar que raramente alguma lista de critérios a serem observados para
resolver antinomia entre duas normas terá consenso absoluto da comunidade jurídica. Diversos autores
criar doutrinas para a definição de critérios, separados por ordem de importância.

a) Critério Cronológico: trata-se da prevalência da norma posterior, em caso de antinomia entre duas
normas criadas ou vigoradas em dois momentos cronológicos distintos. Designa-se a este princípio o
termo em latim "lex posterior derogat legi priori", ou seja, lei posterior derroga leis anteriores.

b) Critério Hierárquico: consiste na preferência dada, em caso de antinomia, a uma norma portadora
de status hierarquicamente superior ao seu par antinômico. Diversos exemplos são citáveis dentro do
ordenamento brasileiro, como conflitos entre dispositivos constitucionais (hierarquicamente superiores)
e leis ordinárias (hierarquicamente inferiores) ou entre leis ordinárias (hierarquicamente superiores) e
decretos (hierarquicamente inferiores). Nomeia-se este princípio no latim "lex superior derogat legi
inferiori", ou lei superior derroga leis inferiores.

c) Critério Específico: baseia-se na supremacia relativa a uma antinomia da normas mais específica ao caso em
uestão. Desta forma, no caso da existência de duas normas incoerentes uma com a outra, verifica-se se ao dispor
sobre o objeto conflituoso, uma delas possui caráter mais específico, em oposição a um caráter mais genérico.
Diferente dos outros critérios, este possui certo grau de subjetividade, pois se em muitos casos é possível detectar
facilmente o par "genérico/específico", em número significativo esta diferença se encontra difusa e difícil de localizar.
Denomina-se também "lex specialis derogat legi generali", ou lei especial derroga leis genéricas.

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