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INTENSIVO I

Flávio Tartuce
Direito Civil
Aula 02

ROTEIRO DE AULA

Parte Geral do Código Civil de 2002

O Código Civil é dividido em: Parte Geral e Parte Especial.

A Parte Geral do CC/2002 é estruturada da seguinte forma:

✓ Pessoas naturais e pessoas jurídicas; sujeito do direito


✓ Bens; objeto do direito
✓ Teoria Geral do Negócio Jurídico;
✓ Prescrição e Decadência; e
✓ Provas do negócio jurídico (não serão analisadas nesta disciplina, mas sim em Direito Processual Civil).

A Parte Especial do CC/2002 é estruturada da seguinte forma:

✓ Teoria geral das Obrigações;


✓ Contratos em Espécie;
✓ Direito de Empresa;
✓ Responsabilidade Civil;
✓ Direito das Coisas;

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✓ Direito de Família; e
✓ Direito das Sucessões.

Parte Geral do Código Civil de 2002

1. Pessoa Natural

1.1. Conceitos iniciais


Nas provas de Direito Civil, os alunos devem evitar a expressão “pessoa física”. É aconselhável utilizar “pessoa natural”
ou “pessoa humana” (art. 1º, III, CF1). Também não é adequado utilizar o termo “homem”.

O Código Civil, em seu art. 1º2, dispõe que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
A capacidade mencionada neste artigo é a capacidade de direito ou de gozo, que se refere àquela necessária para ser
sujeito de direitos e deveres na ordem civil.
✓ Todas as pessoas têm essa capacidade, sem distinção.
✓ Se é pessoa humana, automaticamente, a pessoa tem capacidade de direito ou de gozo.
- capacidade de direito e gozo (personalidade jurídica) não se confunde com a capacidade de fato ou de exercício (capacidade de exercer direitos civis)

Há ainda a capacidade de fato ou de exercício, que é aquela para exercer direitos. Algumas pessoas não têm essa
capacidade (incapazes dos artigos 3º e 4º3do CC).
Lembrando que os artigos 3º e 4º do CC foram alterados recentemente pelo Estatuto das Pessoas com Deficiência.

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CF, art. 1º, III: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana;”
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CC, art. 1o: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”
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CC, art. 3o: “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis)
anos.
CC, art. 4o : “São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que,
por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos.”

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➢ O professor Flávio Tartuce apresenta a seguinte fórmula:

Capacidade de direito/gozo (para ser sujeito de direitos e deveres na ordem civil)


+
Capacidade de fato/exercício (para exercer os direitos na órbita civil)
=
Capacidade civil plena

Conceitos correlatos à capacidade

a) Legitimação - ex: casamento; outorga conjugal (vender imóvel no art 1647,I;ss); adoção

Legitimação é uma capacidade especial para determinado ato ou negócio jurídico.


Um exemplo de legitimação é a necessidade de outorga conjugal, que pode ser de dois tipos:
I – Uxória: da esposa;
II – Marital: do marido.
Essa outorga conjugal é exigida para alguns atos que estão no art. 1647, CC4; art. 1.648, CC5; e art. 1.649 do CC.

Obs.: Geralmente, o desrespeito à legitimação acarreta uma sanção. Assim, se não houver suprimento judicial, o art.
1.649, CC6, prevê que a falta de outorga gera a anulabilidade do ato praticado. Ressaltando que a anulabilidade é também
chamada de nulidade relativa.

b) Legitimidade

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CC, art. 1.647. “Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no
regime da separação absoluta: I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca
desses bens ou direitos; III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos
que possam integrar futura meação. (...)”
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CC, art. 1.648: “Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem
motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.”
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CC, art. 1.649. “A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato
praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado.”

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É a capacidade processual, ou seja, é a capacidade específica para o processo (art. 17, CPC7/2015).

Cuidado: a própria lei utiliza as expressões “legitimação” e “legitimidade” como sinônimas, mas há distinção entre elas.
Ex: no art. 12, parágrafo único, CC8, o legislador usou o termo “legitimação” (material), quando o correto seria
“legitimidade” (processual).

c) Personalidade
essência
Personalidade é a soma de caracteres ou aptidões da pessoa, ou seja, representa quem ela é para si e para a sociedade.
Este conceito é do autor italiano Adriano de Cupis. - Maria Helena Diniz

Questão: Como diferenciar a capacidade da personalidade?


✓ A capacidade é a medida da personalidade (quantum). Assim, ela é apenas um dos aspectos da personalidade.
✓ Personalidade é a essência da personalidade (quid).
*pessoa
Essa distinção é feita pela professora Silmara Chinellato.

Sobre o início da personalidade, há o art. 2º, CC, o qual é bastante polêmico e diz que “a personalidade civil da pessoa
começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.”
✓ Nascituro é aquele que foi concebido, mas ainda não nasceu. O nascituro tem vida intrauterina.
✓ O embrião possui vida extrauterina. - crioconservado

A respeito da situação jurídica do nascituro, há três correntes doutrinárias:


✓ Teoria natalista: para tal teoria, o nascituro não é pessoa humana, pois a personalidade começa do nascimento
com vida. Os autores Silvio Rodrigues, Caio Mário da Silva Pereira e Santiago Dantas, todos civilistas clássicos já
falecidos, defendiam esta teoria. Além destes, Silvio Venosa e Anderson Schreiber também adotam esta teoria.
✓ Teoria da personalidade condicional: na opinião do professor Flávio Tartuce, essa teoria equivale à teoria
natalista. Segundo ela, o nascituro só é considerado pessoa humana se nascer com vida. Os defensores dessa
teoria são Washington de Barros Monteiro, Serpa Lopes e Arnaldo Rizzardo.
✓ Teoria concepcionista: o nascituro é pessoa humana, pois tem direitos da personalidade desde a concepção. Essa
teoria é defendida pela professora Silmara Chinellato, Maria Helena Diniz, Álvaro Villaça, Pablo Stolze, Rodolfo
Pamplona, Cristiano Chaves, Nelson Rosenvald e Flávio Tartuce.

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CPC, art. 17. “Para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade.”
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CC, art. 12 “(...)Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo
- legitimidade equívoco do legislador
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.”

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A teoria concepcionista prevalece no âmbito doutrinário. Inclusive, o Enunciado 19, aprovado na I Jornada de Direito Civil,
também adotou esta teoria.

Na jurisprudência (STJ), qual teoria prevalece?


Há um argumento de que o STF, ao julgar o caso de aborto de feto anencéfalo e ao julgar a possibilidade de utilização de
célula-tronco embrionária, ele se valeu da teoria natalista. O professor afirma que isso não é verdadeiro, pois essa foi a
posição adotada pelo relator do caso (Ministro Ayres Brito) e não pelo STF. Outros julgadores, entretanto, adotaram a
teoria concepcionista nesse mesmo julgamento.
A teoria concepcionista prevalece na atual composição do STJ.
Exemplo 1: O STJ afirma que cabe dano moral pela morte do pai do nascituro ocorrida antes de seu nascimento (REsp
399.028/SP).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. DANOS MORAIS. MORTE. ATROPELAMENTO. COMPOSIÇÃO FÉRREA. AÇÃO AJUIZADA 23
ANOS APÓS O EVENTO. PRESCRIÇÃO INEXISTENTE. INFLUÊNCIA NA QUANTIFICAÇÃO DO QUANTUM. PRECEDENTES DA
TURMA. NASCITURO. DIREITO AOS DANOS MORAIS. DOUTRINA. ATENUAÇÃO. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA.
POSSIBILIDADE. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. I - Nos termos da orientação da Turma, o direito à indenização
por dano moral não desaparece com o decurso de tempo (desde que não transcorrido o lapso prescricional), mas é
fato a ser considerado na fixação do quantum. II - O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai,
mas a circunstância de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum. III - Recomenda-se que o
valor do dano moral seja fixado desde logo, inclusive nesta instância, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando
inconvenientes e retardamento da solução jurisdicional” (STJ - REsp: 399028 SP 2001/0147319-0, Relator: Ministro
SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data de Julgamento: 26/02/2002, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ
15.04.2002 p. 232 RSTJ vol. 161 p. 395 RT vol. 803 p. 193)

Mais recentemente, há o AgRg no AgRg no AREsp 150297 – DF.


EMENTA: “AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MATERIAIS E
MORAIS. NASCITURO. PERDA DO PAI. 1.- Não há falar em omissão, contradição ou obscuridade no acórdão recorrido,
que apreciou todas as questões que lhe foram submetidas de forma fundamentada, ainda que de modo contrário aos
interesses da Recorrente. 2.- "O nascituro também tem direito aos danos morais pela morte do pai, mas a circunstância
de não tê-lo conhecido em vida tem influência na fixação do quantum" (REsp 399.028/SP, Rel. Min. SÁLVIO DE

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Enunciado 1 da I Jornada de Direito Civil: “A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que
concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.”

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FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ 15.4.2002). 3.- "A jurisprudência desta Corte é disposta no sentido de que o benefício
previdenciário é diverso e independente da indenização por danos materiais ou morais, porquanto, ambos têm origens
distintas. Este, pelo direito comum; aquele, assegurado pela Previdência; A indenização por ato ilícito é autônoma em
relação a qualquer benefício previdenciário que a vítima receba"(AgRg no AgRg no REsp 1.292.983/AL, Rel. Min.
HUMBERTO MARTINS, DJe 7.3.2012). 4.- "Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a constituição de
capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação financeira do
demandado" (Súmula 313/STJ). 5.- "A apreciação do quantitativo em que autor e réu saíram vencidos na demanda,
bem como a verificação da existência de sucumbência mínima ou recíproca, encontram inequívoco óbice na Súmula
7/STJ, por revolver matéria eminentemente fática" (AgRg nos EDcl no REsp 757.825/RS, Rel. Min. DENISE ARRUDA, DJe
2.4.2009). 6.- O recurso não trouxe nenhum argumento capaz de modificar a conclusão do julgado, a qual se mantém
por seus próprios fundamentos. 7.- Agravo Regimental improvido.” (STJ - AgRg no AgRg no AREsp: 150297 DF
2012/0041902-2, Relator: Ministro SIDNEI BENETI, Data de Julgamento: 19/02/2013, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: DJe 07/05/2013).

Exemplo 2: Um caso recente, julgado pela atual composição do STJ, é o de Rafinha Bastos (Programa CQC) x Wanessa
Camargo e outros (REsp. 1.487.089/SP). Neste caso, foi fixada uma indenização em benefício da Wanessa Camargo e
uma indenização em benefício do nascituro. Trata-se de um julgado que adota a teoria concepcionista.

EMENTA: “RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - COMENTÁRIO REALIZADO POR
APRESENTADOR DE PROGRAMA TELEVISIVO, EM RAZÃO DE ENTREVISTA CONCEDIDA POR CANTORA EM MOMENTO
ANTECEDENTE - INSTÂNCIAS ORDINÁRIAS QUE AFIRMARAM A OCORRÊNCIA DE ATO ILÍCITO ANTE A AGRESSIVIDADE DAS
PALAVRAS UTILIZADAS E, COM FUNDAMENTO NO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, DETERMINARAM A
RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL DO RÉU PELOS DANOS MORAIS SUPORTADOS PELOS AUTORES, APLICANDO VERBA
INDENIZATÓRIA NO MONTANTE DE R$ 150.000,00 (CENTO E CINQUENTA MIL REAIS). IRRESIGNAÇÃO DO RÉU. Hipótese:
A controvérsia cinge-se a aferir a existência ou não de dano moral indenizável em razão do conteúdo de frase pronunciada
em programa humorístico veiculado na televisão aberta. 1. Revela-se inviável o pleito de concessão de efeito suspensivo
ao recurso especial, ante a inadequação da via eleita, pois, nos termos da jurisprudência desta Corte, tal pedido deve ser
formulado de forma apartada, ou seja, mediante ação cautelar (artigo 288 do RISTJ), não se admitindo sua inserção nas
razões do apelo extremo. Precedentes. 2. Quanto à apontada violação do art. 535, inciso II, do CPC, aplicável à hipótese
o óbice da súmula 284/STF, porquanto das razões recursais não é possível extrair qual o objeto de irresignação do
recorrente, uma vez que apenas alegou, genericamente, a ocorrência de omissão no julgado quanto aos dispositivos
apontados, sem especificação das teses que supostamente deveriam ter sido analisadas pelo acórdão recorrido. 3.
Inaplicável, ao caso, o óbice sumular nº 7/STJ, porquanto incontroverso o teor do comentário tecido pelo recorrente e,
estando a controvérsia afeta exclusivamente à ponderação/valoração jurídica acerca da potencialidade ofensiva dos fatos

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tidos como certos e inquestionáveis, expressamente delineados pelas instâncias ordinárias, descabida a incidência do
referido enunciado sumular. Precedentes. 4. Quanto à tese de responsabilização civil do réu pelo comentário tecido,
aplicável o óbice da súmula 320 desta Corte Superior, pois o fato de o voto vencido ter apreciado a questão à luz dos
dispositivos legais apontados como violados não é suficiente para satisfazer o requisito do prequestionamento.
Precedentes do STJ. 5. Apesar de em dados e específicos momentos ter o Tribunal a quo, implicitamente se referido a
questões existentes no ordenamento legal infraconstitucional, é certa a índole eminentemente constitucional dos
fundamentos adotados pelo acórdão recorrido, não tendo o recorrente interposto o regular recurso extraordinário, a
atrair o óbice da súmula 126 desta Corte Superior. Precedentes. 6. No que tange ao pedido subsidiário de redução do
quantum indenizatório fixado pela Corte local em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) para cada um dos autores,
totalizando a quantia de R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais), ponto sobre o qual, implicitamente, houve o
prequestionamento de dispositivo de lei federal, haja vista que nos termos do artigo 944 do Código Civil "a indenização
mede-se pela extensão do dano" - não merece acolhida a irresignação ante a aplicação do óbice da súmula 7/STJ. O
Tribunal local analisou detidamente a conduta do ofensor, as consequências do seu comentário, a carga ofensiva do
discurso, o abalo moral sofrido pelos autores e, de forma proporcional e razoável, o valor da indenização a ser custeada
pelo réu para aplacar o sofrimento, a angústia e a comoção imposta aos ofendidos. Para modificar as conclusões
consignadas no acórdão impugnado e concluir estar exagerado o quantum indenizatório como quer a parte recorrente,
seria necessária a incursão no conjunto fático-probatório das provas e nos elementos de convicção dos autos, o que é
vedado em sede de recurso especial (Súmula nº 7 do STJ). 7. Recurso especial conhecido em parte e, na extensão,
desprovido.” (STJ - REsp: 1.487.089 – SP (2014/0199523-6), Relator: Ministro Marco Buzzi- QUARTA TURMA, julgado em
23/06/2015. DJe 28/10/2015).

Exemplo 3: O STJ tem posição consolidada de que cabe indenização por seguro DPVAT em virtude da morte do nascituro
(REsp 1.120.676/SC de 2011 – Terceira Turma; e REsp 1.415.727/SC de 2014 – Segunda Turma):

EMENTA: “SEGURO DPVAT. MORTE. NASCITURO. Trata-se de REsp em que se busca definir se a perda do feto, isto é, a
morte do nascituro, em razão de acidente de trânsito, gera ou não aos genitores dele o direito à percepção da indenização
decorrente do seguro obrigatório de danos pessoais causados por veículos automotores de via terrestre (DPVAT). Para o
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, voto vencedor, o conceito de dano-morte como modalidade de danos pessoais não se
restringe ao óbito da pessoa natural, dotada de personalidade jurídica, mas alcança, igualmente, a pessoa já formada,
plenamente apta à vida extrauterina, embora ainda não nascida, que, por uma fatalidade, teve sua existência abreviada
em acidente automobilístico, tal como ocorreu no caso. Assim, considerou que sonegar o direito à cobertura pelo seguro
obrigatório de danos pessoais consubstanciados no fato ‘morte do nascituro’ entoaria, ao fim e ao cabo, especialmente
aos pais já combalidos com a incomensurável perda, a sua não existência, malogrando-se o respeito e a dignidade que o

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ordenamento deve reconhecer, e reconhece inclusive, àquele que ainda não nascera (art. 7º da Lei n. 8.069/1990,
Estatuto da Criança e do Adolescente). Consignou não haver espaço para diferenciar o filho nascido daquele plenamente
formado, mas ainda no útero da mãe, para fins da pretendida indenização ou mesmo daquele que, por força do acidente,
acabe tendo seu nascimento antecipado e chegue a falecer minutos após o parto. Desse modo, a pretensa compensação
advinda da indenização securitária estaria voltada a aliviar a dor, talvez não na mesma magnitude, mas muito semelhante
à sofrida pelos pais diante da perda de um filho, o que, ainda assim, sempre se mostra quase impossível de determinar.
Por fim, asseverou que, na hipótese, inexistindo dúvida de quem eram os ascendentes (pais) da vítima do acidente, devem
eles figurar como os beneficiários da indenização, e não como seus herdeiros. Diante dessas razões, entre outras, a Turma,
ao prosseguir o julgamento, por maioria, deu provimento ao recurso. Cumpre registrar que, para o Min. Relator (vencido),
o nascituro não titulariza direitos disponíveis/patrimoniais e não detém capacidade sucessória. Na verdade, sobre os
direitos patrimoniais, ele possui mera expectativa de direitos, que somente se concretizam (é dizer, incorporam-se em
seu patrimônio jurídico) na hipótese de ele nascer com vida. Dessarte, se esse é o sistema vigente, mostra-se difícil ou
mesmo impossível conjecturar a figura dos herdeiros do natimorto, tal como propõem os ora recorrentes.” Precedente
citado: REsp 931.556-RS, DJe 5/8/2008. (REsp 1.120.676-SC, Rel. originário Min. Massami Uyeda, Rel. para acórdão Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 7/12/2010 - DJe: 04/02/2011).

EMENTA: “DIREITO CIVIL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. ABORTO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO. DPVAT.
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO. ENQUADRAMENTO JURÍDICO DO NASCITURO. ART. 2º DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. EXEGESE
SISTEMÁTICA. ORDENAMENTO JURÍDICO QUE ACENTUA A CONDIÇÃO DE PESSOA DO NASCITURO. VIDA INTRAUTERINA.
PERECIMENTO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. ART. 3º, INCISO I, DA LEI N. 6.194/1974. INCIDÊNCIA. 1. A despeito da literalidade
do art. 2º do Código Civil – que condiciona a aquisição de personalidade jurídica ao nascimento –, o ordenamento
jurídico pátrio aponta sinais de que não há essa indissolúvel vinculação entre o nascimento com vida e o conceito de
pessoa, de personalidade jurídica e de titularização de direitos, como pode aparentar a leitura mais simplificada da lei. 2.
Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular
de direitos: exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º, e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação,
herança e de ser curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante,
assegurando-se-lhe atendimento pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à
saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008);
no direito penal a condição de pessoa viva do nascituro – embora não nascida – é afirmada sem a menor cerimônia, pois
o crime de aborto (arts. 124 a 127) sempre esteve alocado no título referente a "crimes contra a pessoa" e
especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" – tutela da vida humana em formação, a chamada vida intrauterina
(MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63; NUCCI, Guilherme
de Souza. Manual de direito penal. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 658). 3. As teorias mais restritivas dos
direitos do nascituro – natalista e da personalidade condicional – fincam raízes na ordem jurídica superada pela

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Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas transitava,
essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-
se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa – como a honra,
o nome, imagem, integridade moral e psíquica, entre outros. 4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras
duas teorias restritivas, há de se reconhecer a titularidade de direitos da personalidade ao nascituro, dos quais o direito
à vida é o mais importante. Garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos condicionados ao
nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida, que é direito pressuposto a
todos os demais. 5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe
o art. 3º da Lei n. 6.194/1974. Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-
se à perfeição ao comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o
perecimento de uma vida intrauterina. 6. Recurso especial provido.” (REsp 1.415.727-SC (2013/0360491-3), Rel. Min. Luis
Felipe Salomão- Segunda Turma - Julgado em 04/09/2014, DJe 29/09/2014).

➢ Ver notícia disponível neste link: “Jurisprudência reconhece direitos e limites à proteção jurídica do nascituro”

1.2. Teoria das incapacidades. Os incapazes no CC/2002 (arts. 3º e 4º10, alterados pela Lei 13.146/2015 – Estatuto da
Pessoa com Deficiência).

➢ Considerações sobre o Estatuto das Pessoas com Deficiência


O Estatuto das Pessoas com Deficiência regulamenta a Convenção de Nova Iorque, que é um tratado internacional de
direitos humanos. Tal tratado tem força de Emenda à Constituição, conforme art. 5º, § 3º, CF11.
O professor ressalta que o referido dispositivo legal foi incluído pela Emenda Constitucional nº 45 de 2004 e, portanto, as
convenções internacionais sobre direitos humanos anteriores a ele têm natureza supralegal.

São premissas fundamentais do Estatuto das Pessoas com Deficiência (art. 4º, Lei 13.146/2015):

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CC, art. 3o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis)
anos.
CC, art. 4o “São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores
de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que, por causa transitória ou permanente,
não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos.”

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CF, art. 5º, § 3º “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa
do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
emendas constitucionais.”

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✓ Igualdade.
✓ Inclusão com autonomia.
✓ Vedação da discriminação.

Lei 13.146/2015, art. 4o: “Toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas
e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
§ 1o Considera-se discriminação em razão da deficiência toda forma de distinção, restrição ou exclusão, por ação ou
omissão, que tenha o propósito ou o efeito de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento ou o exercício dos direitos
e das liberdades fundamentais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de adaptações razoáveis e de fornecimento
de tecnologias assistivas.
§ 2o A pessoa com deficiência não está obrigada à fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa”

Substituição: Antes, para as pessoas com deficiência, existia a premissa da dignidade-vulnerabilidade. Tal premissa foi
substituída pela dignidade-igualdade. - premissa da dignidade-igualdade

✓ A pessoa com deficiência, a partir da entrada em vigor do Estatuto das Pessoas com Deficiência, passou a ser, em
regra, plenamente capaz.

Para os atos existenciais familiares, sempre haverá capacidade civil plena (art. 6º, Lei 13.146/201512).
Ex: contrair casamento, união estável, praticar atos reprodutivos, adotar e exercer o planejamento familiar.

✓ As eventuais restrições somente atingem os atos patrimoniais (artigos 84 e 85, EPD - Lei 13.146/2015).

Lei 13.146/2015, art. 84: “A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em
igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1o Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela, conforme a lei.
§ 2o É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de decisão apoiada.

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Lei 13.146/2015, art. 6o- : “A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para: I - casar-se e
constituir união estável; II - exercer direitos sexuais e reprodutivos; III - exercer o direito de decidir sobre o número de
filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre reprodução e planejamento familiar; IV - conservar sua fertilidade,
sendo vedada a esterilização compulsória; V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e VI -
exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade de oportunidades
com as demais pessoas.”

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§ 3o A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional às
necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.
§ 4o Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua administração ao juiz, apresentando o balanço do
respectivo ano.”

Lei 13.146/2015, art. 85: “A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e
negocial.
§ 1o A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à privacidade, à
educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
§ 2o A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua definição,
preservados os interesses do curatelado.
§ 3o No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a pessoa que
tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado.”
A tomada de decisão apoiada é um procedimento judicial em que a própria pessoa com deficiência, por sua iniciativa,
indica apoiadores (ao menos dois) para auxiliá-la.”

✓ Antes da curatela, cabe a tomada de decisão apoiada, que é a regra (art. 1.783-A, CC13).
✓ A tomada de decisão apoiada é um processo judicial por meio do qual a pessoa com deficiência elege, pelo menos,
duas pessoas que possam lhe prestar apoio nos atos negociais. - escolha de 2 pessoas;
- judicial;
✓ A iniciativa da tomada de decisão apoiada é da própria pessoa com deficiência. - de iniciativa própria

Somente em casos excepcionais, caberá alguma restrição para atos patrimoniais, que é sempre parcial.
Qual é a medida dessa restrição? Há um conflito entre o CPC/2015 e o EPD.
✓ O EPD traz a Ação de Instituição de Curatela Parcial (artigos 84 e 85, Lei 13.146/2015).
✓ O CPC traz a Ação de Interdição Relativa (art. 747/758, CPC).
O professor ressalta que, pelo direito posto, o que cabe é a Ação de Interdição Relativa. Entretanto, há uma grande crítica
em relação à expressão “interdição”, porque ela seria politicamente incorreta.

CPC, art. 747: “A interdição pode ser promovida:

13
CC, art. 1.783-A, caput: “A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos
2 (duas) pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e informações necessários para que possa
exercer sua capacidade. (...)”

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I - pelo cônjuge ou companheiro;
II - pelos parentes ou tutores;
III - pelo representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando;
IV - pelo Ministério Público.
Parágrafo único. A legitimidade deverá ser comprovada por documentação que acompanhe a petição inicial.”

➢ Análise dos artigos 3º e 4º, CC14


Antes do Estatuto das Pessoas com Deficiência – EPD
Art. 3º- Absolutamente incapazes Art. 4º - Relativamente incapazes
I- Menores de 16 anos (impúberes). I- Maiores de 16 anos e menores de 18 anos (púberes).
II- Enfermos e deficientes mentais sem II- Ébrios habituais, viciados em tóxicos e pessoas com
discernimento. discernimento reduzido.
III- Pessoas que, por causa transitória ou definitiva, III- Excepcionais sem desenvolvimento completo.
não puderem exprimir vontade.
IV- Pródigos

Depois do Estatuto das Pessoas com Deficiência – EPD


Art. 3º- Absolutamente incapazes Art. 4º - Relativamente incapazes
“Caput” - Menores de 16 anos (impúberes). *1 I- Maiores de 16 anos e menores de 18 anos (púberes). *2
- critério etário automatico de incapacidade relativa sem ação de interdição
(Obs.: Não existem maiores de idade que sejam
absolutamente incapazes).
I- Revogado. II- Ébrios habituais e viciados em tóxicos. *3
II- Revogado. III- Pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não
puderem exprimir vontade. *4
III- Revogado. IV- Pródigos *5

14
CC, art. 3o. “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis)
anos. I - (Revogado); II - (Revogado); III - (Revogado).”
Art. 4o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; III - aqueles que,
por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.”

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✓ Os absolutamente incapazes devem ser representados (representação), sob pena de nulidade absoluta do ato
praticado (art. 166, I, CC15).
✓ Os relativamente incapazes devem ser assistidos (assistência), sob pena de nulidade relativa do ato praticado (art.
171, I, CC16). - anulabilidade

*1- Art. 3º, “caput”: Há um critério etário de incapacidade absoluta, o que independe de ação específica - Não há
interdição de menor de idade. - critério etário de aplicação automática
Cuidado! Os menores de 16 anos podem praticar atos de menor complexidade, desde que demonstrem discernimento
para tanto (Enunciado 138, III Jornada de Direito Civil 17 – Ato-fato jurídico). Teoria do Ato - fato jurídico
Exemplo: menor impúbere comprando lanche na cantina da escola.

*2- Art.4º, I: Há um critério etário de incapacidade relativa, sem ação de interdição.


Os menores púberes (entre 16 a 18 anos) podem praticar atos até mais complexos, por previsão legal.
Exemplos: podem se casar (há autorização especial – art. 1.517, CC), reconhecer filho, fazer testamento (art. 1.860, CC),
Incapacidade Relativa ( menor púbere):
ser testemunhas (art. 228,I, CC), aceitar mandato extrajudicial (“ad negotia”).
- casamento com autorização 1.517;
✓ Em alguns casos, ocorrerá a emancipação do menor de idade (art. 5º, CC18). - testamento ;
- mandato extrajudicial (ad negotia);
- ser testemunha 228,I;
- reconhecimento de filiação 1.860;
- emancipação 5º.
Observações sobre a emancipação:

15
CC, art. 166, I: “É nulo o negócio jurídico quando: I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz; (...)”
16
CC, art. 171. “Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: I - por incapacidade relativa
do agente; (...)”
17
Enunciado 138, III JDC, “A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º é juridicamente
relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante
para tanto.”
18
CC, art. 5o. “A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos
da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na
falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público
efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela
existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.”

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✓ Com a emancipação, ocorre a antecipação dos efeitos da maioridade para data anterior aos 18 anos, para efeitos
civis.
✓ Cuidado! O menor emancipado continua sendo menor, mas passa a ser um menor capaz (apenas para efeitos
civis).

Modalidades de emancipação:
✓ Voluntária: feita por concessão dos pais (escritura pública), tendo o menor 16 anos completos. Não precisa de
homologação judicial.
✓ Judicial: é realizada por sentença do juiz, tendo o menor 16 anos completos. Exemplo: um dos pais quer emancipar
o filho e o outro não. Neste caso, se houver judicialização, o juiz pode suprir a vontade do genitor.
✓ Legal: decorre da norma jurídica. Ocorre em quatro hipóteses:
1º) Matrimonial: decorre do casamento do menor.
o Observação: prevalece o entendimento de que a união estável não emancipa.
2º) Exercício de emprego público efetivo;
3º) Colação de grau em ensino superior;
4º) Estabelecimento civil/empresarial do menor ou havendo relação de emprego. Nestes casos, o menor deve ter
16 anos completos e economia própria. É chamada de emancipação profissional ou laboral.

Em regra, a emancipação é irrevogável. Exceção: hipótese de invalidade do casamento.


✓ Observação: Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona defendem que a revogação da emancipação se efetiva tanto no
casamento nulo quanto no casamento anulável.

*3 – Art. 4º, II: Ébrios habituais (viciados em álcool) e toxicômanos (viciados em tóxicos).
Nestes casos, há necessidade de uma ação de interdição relativa com laudo médico, pois a incapacidade não se presume
quanto aos maiores.
A sentença deve apontar quais atos podem ou não podem ser praticados pelo indivíduo.

*4 - Art. 4º, III: Não há mais menção aos excepcionais. Pessoas portadoras da Síndrome de Down, em regra, são capazes.
O art. 4º, III dispõe que são relativamente incapazes as pessoas que, por causa transitória ou definitiva, não puderem
exprimir vontade (antiga previsão do art. 3º, III, CC).

Grande problema do EPD:


Pessoas em coma profundo e pessoas em estado vegetativo são relativamente incapazes.

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Há o PL 757/201519que visa a corrigir este erro.

Atenção! O cego, o surdo e o senil, em regra, são capazes. Se, entretanto, essas pessoas não conseguirem exprimir suas
vontades, poderão se enquadrar como relativamente incapazes, desde que a incapacidade relativa seja reconhecida em
ação própria (curatela parcial ou ação de interdição relativa).

*5 - Art. 4º, IV – Pródigo: é a pessoa que gasta o patrimônio de maneira destemperada, o que pode reduzi-lo à insolvência
ou à penúria. Exemplo: viciado em jogo.
✓ Art. 1.782, CC20: Trata da interdição relativa do pródigo. Refere-se somente aos atos de disposição direta de bens.
Ex: vender, doar, emprestar, hipotecar, transigir etc.

✓ O pródigo pode se casar livremente.


✓ Qual é, em regra, o regime de bens? Em regra, o regime de casamento do pródigo é o da comunhão parcial de
bens, e não o da separação obrigatória, pois ele não consta nos casos do art. 1.641, CC21.

✓ Para fazer pacto antenupcial, há necessidade de assistência? Há duas correntes sobre o tema:
1º) Sim. Esta é a corrente majoritária, encabeçada pelo professor Carlos Roberto Gonçalves, o qual defende que
a celebração do pacto é tida como ato de “alienar” (especialmente, se a comunhão de bens é universal).
2º) Não. José Fernando Simão defende que não há previsão do pacto antenupcial no art. 1.782, CC.

✓ No caso de testamento, predomina o entendimento de que o pródigo pode testar, pois é ato “post mortem” e o
art. 1.782 do CC trata apenas de atos inter vivos.

Observações finais sobre a teoria das incapacidades:

19
PL 757/2015 , Ementa: “Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), a Lei nº 13.146, de 6 de julho de
2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), e a Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), para
dispor sobre a igualdade civil e o apoio às pessoas sem pleno discernimento ou que não puderem exprimir sua vontade,
os limites da curatela, os efeitos e o procedimento da tomada de decisão apoiada.”
20
CC, art. 1.782. “A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar,
hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração.”
21
CC, art. 1.641. “É obrigatório o regime da separação de bens no casamento: I - das pessoas que o contraírem com
inobservância das causas suspensivas da celebração do casamento; II – da pessoa maior de 70 (setenta) anos; III - de
todos os que dependerem, para casar, de suprimento judicial.”

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1ª) O ausente era absolutamente incapaz no CC/1916. Entretanto, o mesmo não ocorre no CC/2002, que considera tal
situação como morte presumida.
A ausência é uma morte presumida que ocorre após três fases:
✓ Curadoria de bens do ausente;
✓ Sucessão provisória; e
✓ Sucessão definitiva.
Ausente é aquele que desapareceu sem deixar notícias (local incerto e não sabido).
2ª) Os indígenas, índios ou silvícolas não são relativamente incapazes pelo CC/2002.
O CC/2002 prevê, em seu art.4º, § único22, que a situação dos indígenas será regulada por lei especial. Tal lei existe e é o
Estatuto do Índio (Lei 6.001/1973).

1.3. Direitos da personalidade. Análise civil-constitucional (artigos 11 a 21 do CC)


Conceito: os direitos da personalidade são aqueles inerentes à pessoa humana e à sua dignidade.

Observação: a expressão “inerentes” decorre da adoção da teoria dos direitos inatos ou originários da pessoa humana
(Limongi França, Bittar e Maria Helena Diniz).

Questão: E a pessoa jurídica? Ela tem direitos da personalidade?


Prevalece o entendimento de que ela possui direitos da personalidade por equiparação legal (CC, art. 5223). Por isso, a
pessoa jurídica pode sofrer dano moral (S. 227 STJ24).

Os direitos da personalidade são associados a cinco ícones principais:


• Vida/Integridade físico-psíquica.
• Honra (subjetiva e objetiva25).
• Nome.
• Imagem (imagem-retrato: fisionomia; e imagem-atributo: repercussão social).
• Intimidade, vida privada e segredo.
✓ A pessoa jurídica tem direito ao nome, à honra objetiva, à imagem (retrato e atributo) e ao segredo.

22
CC, art. 4º (...) “Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.”
23
CC, art. 52. “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade”
24
Súmula 227, STJ. “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.”
25
A honra é classificada em duas modalidades:
Honra subjetiva - autoestima (o que o sujeito pensa de si); e
Honra objetiva - reputação social (o que os outros pensam da pessoa).

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Observação : a pessoa jurídica só sofre dano moral quanto à honra objetiva, e não quanto à honra subjetiva.

Questão: Os direitos da personalidade previstos no Código Civil de 2002 estão em rol taxativo (“numerus clausus”) ou
exemplificativo (“numerus apertus”)? Estão em rol exemplificativo, conforme Enunciado n. 274 – IV Jornada de Direito
Civil.
Enunciado 274, IV JDC: “Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são
expressões da cláusula geral de tutela da pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade
da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica
da ponderação.

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