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DIREITO CIVIL

PARTE GERAL

Prof. Cláudio José Reis


aula 4 • 22.03.2023
Verificação de
aprendizagem
QUESTÃO RESPOSTA

2
1 B
E
GABARITO
3 C
4 D
O que significa Constitucionalização do Direito Civil?
5 E
A Constitucionalização do Direito Civil é uma doutrina
6 D desenvolvida na Itália e encampada no Brasil pelos
7 D professores Gustavo Tepedino e Maria Celina Bodin de
8 C Moraes. O movimento compreende o Direito Civil como
9 A efetivamente subordinado à Constituição Federal em
contraposição ao juízo clássico de separação absoluta
10 B entre regras civilistas e normas constitucionais. A
11 C Constitucionalização do Direito Civil tem como principais
12 B implicações (1) a positivação, isto é, tornar escritas regras
do Direito Civil no texto da Constituição Federal; (2) a
13 B
eficácia horizontal dos direitos fundamentais, com a sua
14 A aplicação imediata nas relações jurídico-privadas; e (3) a
despatrimonialização e repersonalização do Direito Civil,
que contempla o conceito de dignidade da pessoa humana.
Sujeitos da
relação jurídica
Relação Jurídica
Relação jurídica é a relação regulada pelo Direito. Ela é formada por
pessoas, que são o objeto do nosso estudo.
Vínculo jurídico = Requisito material (relação social) + requisito formal (juridicamente relevante)

•No vínculo jurídico uma parte será:


• Sujeito ativo: titular do direito, credor da obrigação.
• Sujeito passivo: titular do dever, relação de sujeição, devedor da
obrigação.
Pessoa Natural
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos
e deveres na ordem civil
• Todos os seres humanos, desde o seu
nascimento, são pessoas naturais.
• Toda pessoa natural tem personalidade
jurídica ou personalidade civil.
• Toda pessoa natural poderá titularizar
direitos e obrigações no ordenamento
jurídico.
Nascimento com vida

Quando começa
a personalidade
civil?
Desde a concepção, mas condicionada ao nascimento com vida

A partir de que momento o


ordenamento jurídico
brasileiro considera o ser
humano como detentor de
direitos e obrigações?
Desde a concepção
Art. 2º A personalidade
civil da pessoa começa do
nascimento com vida; mas
a lei põe a salvo, desde a
concepção, os direitos do
nascituro.
Argumentos que fundamentam a
Teoria Concepcionista
• É possível o reconhecimento de paternidade do nascituro (art. 1.609,
parágrafo único, CC).

• O nascituro tem legitimidade para herdar (art. 1.798, CC).

• É possível a nomeação de curador ao nascituro (art. 1.779, CC).


• Exemplo: Mulher grávida que, por algum motivo, foi interditada. Neste caso, nomeia-
se curador ao nascituro.

• O nascituro pode ser donatário (art. 542, CC).

• Lei nº 11.804/08: Lei de alimentos gravídicos.


Capacidade Civil
Capacidade Civil (plena) = capacidade de direito + capacidade de fato

• A capacidade de direito é a capacidade genérica, que toda pessoa tem de


adquirir direitos e obrigações e que somente será perdida* com a morte.

• Já a capacidade de fato é a aptidão para, pessoalmente, praticar ou exercer


os atos da vida civil.

Toda pessoa tem a capacidade de direito, mas não necessariamente toda


pessoa possui a capacidade de fato.

Quem possui as duas espécies de capacidade terá a capacidade civil plena.


Incapacidade
A falta da capacidade de fato
Não confundir!
• A capacidade da pessoa é diferente da legitimação da pessoa.
• A legitimação da pessoa envolve uma capacidade especial para que ela pratique
determinado ato ou negócio jurídico, isto é, são os requisitos especiais que a lei
exige de determinas pessoas em determinadas situações.
• CC, art. 496: “É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros
descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido”.
• CC, art. 497: “Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública:
[...] pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua
guarda ou administração”.
• CC, art. 1.647: Vênia conjugal (hipóteses em que é necessária a anuência do cônjuge para
suprir a legitimação).
•CC, art. 1.521, inciso IV: Casamento entre irmãos maiores e capazes.
Incapacidade
Conceito: incapacidade é a restrição legal à prática
pessoal dos atos da vida civil.
A capacidade é a regra. A incapacidade é a exceção.
A teoria das incapacidades existe para a proteção dos
incapazes.
Incapacidade
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os
menores de 16 (dezesseis) anos.

Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:

I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;

II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (alcoolistas e dependentes químicos)

III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua
vontade;

IV - os pródigos. (pessoas que dilapidam o próprio patrimônio descontroladamente)

Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
Incapacidade
A teoria das incapacidades
foi modificada pelo
Estatuto da Pessoa com
Deficiência, a Lei nº
13.146/2015.
A pessoa com deficiência
não é mais considerada
incapaz em nosso
ordenamento jurídico.
Suprimentos da incapacidade
Representação (absolutamente incapazes)

• Responde pelos atos dos absolutamente incapazes.

• Se não representados, nulidade do ato jurídico.

Assistência (relativamente incapazes)

• O incapaz pode praticar os atos da vida civil, desde que assistidos.

• Se não assistidos, anulabilidade do ato jurídico.


Fim da incapacidade
O fim da incapacidade se dá quando cessam os motivos que as
causaram.
• Maioridade
• Quando a pessoa completa 18 anos.

• Emancipação
• Antecipação da capacidade de fato antes dos 18 anos
• Não antecipa a maioridade.
• Pode ser voluntária, judicial ou legal
• Caráter irrevogável
Fim da incapacidade
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada
à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento
público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o
tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego,
desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia
própria.
Extinção da Personalidade Jurídica
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva.
Morte real: morte encefálica → há um corpo sem viabilidade, cujas funções vitais
cessaram (prova da materialidade)
Morte presumida (não há prova da materialidade):
• Com decretação da ausência (arts. 22 e 23 do Código Civil).
• Sem decretação de ausência: hipóteses em que se presume a morte, devido à
situação que a pessoa se encontrava (art. 7º do Código Civil).
Morte presumida com decretação da
ausência (arts. 22 e 23 do Código Civil)
Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela
haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a
quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de
qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência,
e nomear-lhe-á curador.

Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador,


quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa
exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem
insuficientes.
Morte presumida sem decretação de
ausência (art. 7º do Código Civil)
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de
ausência:

I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de


vida;

II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for


encontrado até dois anos após o término da guerra.

Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos,


somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e
averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Comoriência
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se
podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros,
presumir-se-ão simultaneamente mortos.

A comoriência é a presunção de simultaneidade de mortes entre duas ou


mais pessoas, que sejam herdeiras ou beneficiárias entre si. Trata-se de
presunção relativa (iuris tantum), ou seja, admite prova em sentido contrário.
◦ Exemplos de herdeiros entre si: pais e filhos; marido e mulher.
◦ Exemplo de beneficiários entre si: “A” faz um contrato de seguro de vida que
beneficia “B” e “B” faz outro contrato de seguro de vida que beneficia “A”.
Individualização da Pessoa Natural
Os principais elementos individualizadores da pessoa natural são:

• Nome

• Estado

• Domicílio
Modos de individualização da pessoa
NOME
O nome é o sinal que representa a pessoa perante o meio social e é
composto por:
• prenome (simples ou composto)
• sobrenome ou patronímico ou nome de família (indica a origem familiar)
• partícula (do, da, de, dos, e)
• agnome (Júnior, Filho, Neto, Sobrinho, Filha, Neta, Sobrinha)
Modos de individualização da pessoa
Conceito: O nome designa a pessoa, individualizando-a na sociedade e indicando a sua procedência familiar.

CC, art. 16: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.”

A Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73) sofreu várias alterações recentemente (2022).
◦ Nomes suscetíveis de expor ao ridículo (art. 55, §1º da LRP)
◦ Necessidade de acrescer sobrenomes (art. 55, §2º da LRP)
◦ Princípio da Imutabilidade do nome: em regra, o nome é imutável. Entretanto, com a Lei 14.382/2022, a alteração do nome foi bastante facilitada.
◦ Após atingida a maioridade civil, via requerimento extrajudicial imotivado. Não há mais o prazo decadencial de 1 (um) ano. Somente poderá ocorrer uma vez (novas alterações somente via judicial).

Existem, ainda, outras exceções previstas na lei ou jurisprudência:


◦ Quando o nome da pessoa a expõe ao ridículo ou a situações vexatórias (art. 17 do CC).
◦ Após o casamento, os nubentes podem acrescentar o sobrenome do outro, independentemente de autorização judicial (art. 1.565, § 1º, do CC).
◦ Quando efetivada a adoção (Lei nº 12.010/2009).
◦ Quando o estrangeiro adquire a cidadania brasileira (Lei nº 13.445/2017).
◦ A jurisprudência prevê, ainda, diversas outras hipóteses em que é permitida a mudança do nome, tais como: viuvez; abandono afetivo;
transexualidade, independentemente cirurgia.
Modos de individualização da pessoa
Pseudônimo: Termo utilizado em atividades profissionais lícitas (exemplo: Didi)

Apelido: Termo por meio do qual é notoriamente conhecido (exemplos: Pelé; Lula)
Modos de individualização da pessoa
ESTADO
O estado individualiza a pessoa a partir de alguns aspectos:
• individual ou físico (modo de ser quanto à idade, sexo, cor, altura, saúde...)
• familiar (situação relacionada ao matrimônio e ao parentesco)
• político (posição na sociedade política)
Caracteres do estado:
- indivisibilidade (uno, indivisível e regulado por normas de ordem pública);
- indisponibilidade (fora do comércio, inalienável e irrenunciável);
- imprescritibilidade (não se perde ou se adquire pelo decurso do tempo).
Modos de individualização da pessoa
DOMICÍLIO
O domicílio é a sede jurídica da pessoa, ou seja, o local onde responde por suas
obrigações.

O domicílio pode ser definido como o local onde a pessoa natural estabelece a sua
residência com ânimo definitivo.

Já a residência é o local em que a pessoa física é encontrada com habitualidade.

A morada, por sua vez, que é o lugar onde ela se estabelece temporariamente.
Domicílio
Se a pessoa tem várias residências, vivendo
alternadamente entre elas, com ânimo definitivo, será
considerado seu domicílio qualquer uma delas.
No entanto, se a pessoa não tem residência habitual, será
considerado seu domicílio qualquer local em que for
encontrada (andarilhos, artistas circenses, ciganos etc).
Domicílio
TIPOS DE DOMICÍLIO

Domicílio profissional: Local onde a pessoa exerce sua profissão. O domicílio profissional só é domicílio para as questões ligadas ao trabalho
que a pessoa exerce.

Domicílio voluntário: É o domicílio geral, fixado por simples manifestação de vontade da parte. Logo, é escolhido livremente.

Domicílio legal: É aquele que decorre diretamente da lei, estando disposto nos arts. 76 e 77 do Código Civil:

Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso.

Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer
permanentemente suas funções; o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.

Art. 77. O agente diplomático do Brasil, que, citado no estrangeiro, alegar extraterritorialidade sem designar onde tem, no país, o seu
domicílio, poderá ser demandado no Distrito Federal ou no último ponto do território brasileiro onde o teve.

Domicílio por eleição: É aquele estipulado pelas próprias partes, preferencialmente por meio de um contrato, conforme art. 78 do Código Civil

Art. 78. Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações
deles resultantes.
Domicílio
DOMICÍLIO DA PESSOA JURÍDICA

Obs. 1: Se a pessoa jurídica tem estabelecimento em vários locais diferentes, cada local será considerado
domicílio para os atos neles praticados.

Obs. 2: Se a administração ou diretoria da pessoa jurídica for no estrangeiro, o domicílio será em cada
agência (lugar do estabelecimento situado no Brasil) para seus respectivos atos.

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