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Teoria Geral do Direito Civil – Stela Barbas

Bilateralidade atributiva - um direito corresponde a um dever e um dever


corresponde a um direito

12/10

- Art.º 66 do Código Civil (pessoas singulares).

- Correlatividade:
Direito corresponde a um dever
Dever corresponde a um direito

- Numa relação jurídica há dois sujeitos

Por exemplo: alguém vende um imóvel

um tem o direito de recebê-lo outro tem o dever de recebê-lo

- Os sujeitos da relação jurídica são as pessoas (art.º 66 do C.C).

Pessoas

Singulares Coletivas Associações


(art.º 66-156, C.C) (art.º 157-201 A) Sociedades
Fundações (têm interesse altruístico)

Solidariedade social

Teoria I – Sujeito, objeto, facto e garantia.

- A pessoa jurídica tem personalidade jurídica.


- A personalidade jurídica é a suscetibilidade/faculdade/idoneidade de ser titular de
relações jurídicas.
- A pessoa humana tem capacidade jurídica (art.º 67 do C.C).

Personalidade jurídica vs. Capacidade jurídica


Qualitativo (qualidade inerente ao ser humano) Quantitativo

- Um menor não tem capacidade de exercício (critério quantitativo – aumenta a


quantidade de direitos e deveres).
- Um menor tem personalidade jurídica, porém não tem capacidade
jurídica/capacidade de exercício – só quando atinge a maioridade ou for emancipado
pelo casamento (art.º 122, 123, 130 e 132 do C.C).

- É um critério quantitativo porque aos 18 anos os direitos aumentam, passa a agir por
si mesmo os seus direitos.

- Interditos e inabilitados (maior acompanhado)


- Por exemplo: um indivíduo tem 18 anos mas é inabilidade, precisa de um
acompanhante (representante) para assegurar a sua capacidade jurídica.
- Anacleto tem uma anomalia psíquica gravíssima, tem personalidade jurídica,
mas tem incapacidade jurídica.

Poder-dever ou Poder-funcional

É exercido no interesse da pessoa a que respeita e não de quem o exerce.


Os pais têm um poder ilimitado/têm uma responsabilidade, sempre
respeitando os interesses do menor. O ser humano não é uma coisa para se ter poder
sobre ele, mas sim tem-se a responsabilidade sobre a mesma (art.º 1877 do C.C).

14/10

Princípios gerais do direito civil:

- O reconhecimento da pessoa e dos direitos da personalidade (art.º 66 do CC)


- Autonomia privada

Pessoas Singulares

Coletivas

Genoma

1 – Reconhecimento da pessoa e dos direitos da personalidade


De acordo com o direito civil, a pessoa é uma pessoa jurídica com nascimento
completo e com vida (no código civil) anterior ao de Visconde de Seabra de 1867 dizia
‘’nascimento completo, com vida e com figura humana’’.
O Código anterior era de 1867 ao código de visconde de Seabra.

A morte vai cessar a personalidade jurídica (art.º 68 do CC).


Segundo os utilitaristas, se for útil tem personalidade jurídica, se não é útil não tem
personalidade jurídica.

Em sentido amplo, abrange o nascituro (Art.º 66, n.º 2) concebido e nascituro não
concebido. Art.º 952
Nascimento não concebido é conhecido por concepturo (não nasceu nem sequer está e
concebido, mas presume-se que venha a nascer de pessoa determinada). Art.º 1855
do CC
No direito civil português permite chamar à sucessão (art.º 2033 do CC) uma pessoa
nascida ou concebida.

2 – Autonomia privada ou autonomia da vontade


Poder de autorregular, auto disciplinar as relações jurídicas dentro dos limites de lei.

19/10

(Continuação dos princípios gerais do direito civil):

3 – Boa-fé

4 – Responsabilidade civil

5 – Conceção de personalidade jurídica às pessoas coletivas


- Está diretamente ligado ao primeiro princípio, reconhecimento da pessoa.
- O direito reconhece uma personalidade jurídica do ser humano.
- Enquanto na pessoa jurídica, se deva limitar a constatar uma personalidade, na
pessoa coletiva é necessário um conjunto de pressupostos.
- Ente de facto que quer passar a ente de direito. Por exemplo: o Anacleto quer fazer
uma fundação a favor de x, não é qualquer fundação que o direito vai reconhecer
personalidade jurídica (temos aquele ente de facto), temos de ter determinados
pressupostos (ente de direito). A fundação tem de reunir todo um conjunto de
requisitos para deixar de ser ente de facto e passar a ser ente de direito, ou seja, para
o direito lhe conceder personalidade jurídica.

6 – Propriedade privada

7 – Relevância jurídica da família


- Art.º 1576 do C.C (Fontes das relações jurídicas familiares): casamento, parentesco,
afinidade e adoção.

- Art.º 1577 do C.C (Noção de casamento).


1. Tem limites. Quem é A, quem é B? A lei afirma existirem impedimentos
matrimoniais (por exemplo, caso de serem irmãos).
2. Princípio da autonomia privada.
3. Primo direito é parente 4º grau da linha colateral e irmão é parente 2º grau da
linha colateral.

- Art.º 1578 do C.C (Noção de parentesco).

- Art.º 1584 do C.C (Noção de afinidade).


1. A e B são dois sujeitos da relação jurídica que têm afinidade através do
contrato de casamento.

- Art.º 1586 do C.C (Noção de adoção).

Princípio da autonomia da vontade articulado com a segurança jurídica da família


 Casamento:
1. Comunhão geral de bens há uma comunicabilidade de património, isto é,
património comum entre A e B.
2. Contudo, se A ou B tiver filhos de um casamento anterior ou de relação
conjugal, quando celebra contrato de casamento com outra pessoa, não pode
estipular regime de comunhão geral de bens.
3. Comunhão de adquiridos temos o património de cada um, e depois o de
ambos. Tudo o que foi adquirido no ato do casamento. Há bens que ficam
próprios e outros que integram o espaço comum.
4. Se A e B estão casados em regime de comunhão de adquiridos e morre o pai de
A, a herança pertence a A, não integra o espaço comum. Se alguém fizer uma
doação a A, também é o mesmo que recebe.
5. O regime de comunhão de adquiridos aplica-se se as partes nada
determinarem (convenção nupcial – acordo prévio ao contrato de casamento).
6. No regime de separação de bens existe uma maior autonomia contratual. Há
um conjunto de atos/negócios jurídicos que podem ser praticados sem o
consentimento do outro cônjuge.
7. Se A casou com B em virtude vai ter limites à sua autonomia da vontade. Terá
restrições à sua capacidade/legitimidade.
8. A casa com B, a partir deste momento, de acordo com a lei e com o regime de
bens, há todo um conjunto de bens e negócios jurídicos para os quais ele não
tem legitimidade para decidir sozinho.

 Parentesco:
1. Por exemplo, o João tem dois filhos – fonte de relação é parentesco.
2. Art.º 1578 do C.C.
3. Pai e filho – linha reta.
4. Irmãos – linha colateral (não descendem um do outro, mas descendem ambos
de um progenitor comum).

Família por casamento, por parentesco, por afinidade ou por adoção.


Nunca por ser os dois, ou é parente ou é afim.

A tem um filho (B) e um neto (C). Estamos perante um fenómeno jurídico.


A sucessão é o chamamento de uma ou mais pessoas (no caso do exemplo, é chamado
B porque tem prioridade na hierarquia dos sucessíveis sobre C). São todos parentes, B
é parente de 1º grau.

8 – Fenómeno sucessório
- O fenómeno sucessório em Portugal é definido nos termos do art.º 2024 do C.C pela
entrega de bens.
- Requisitos para ser sucessório:
1. Estar vivo ao tempo da abertura da sucessão.
2. B morre em 2020 e A morre em 2021 (B é filho de A). C, como neto, vai herdar
os bens, porque como já não tem pai, é herdeiro com prioridade. Uma vez que
é descendente, é chamado à sucessão, e B não reúne os requisitos (estar vivo
ao tempo da abertura da sucessão) então C ocupa a posição jurídica de autor
da sucessão.

21/10

(Continuação dos princípios gerais do direito civil):

Princípio da boa-fé
- Pode ter um sentido objetivo e subjetivo. Quando falamos em sentido objetivo,
estamos a falar como critério normativo (art.º 227, 236, 239 e 334 do C.C).
- Sentido subjetivo – tem em consideração a situação de quem julga e se está a atuar
em conformidade com o direito (art.º 243, nº 2; 291, 612, 1260 do C.C).

Princípio da responsabilidade civil


- De uma maneira geral, há uma necessidade de colocar a pessoa que sofreu a lesão (o
ofendido) na situação que estava se não tivesse havido a lesão. Pode fazê-lo de duas
formas:
1. Através de uma reconstituição natural (restauração natural).
2. Através de uma restituição por equivalente, conhecida por indemnização.
(O ideal é a reconstituição natural, no entanto, pode não ser possível).

Princípio da propriedade privada


- Direito real máximo – direito de usar, fruir e dispor. Por vezes, o proprietário pode
usufruir, isto é, pode utilizar, pode dispor, mas não pode vender a propriedade.
- Facto jurídico – ato natural ou humano que produz efeitos jurídicos (por exemplo: a
morte é um facto jurídico).
- A garantia vai dar o tom de juridicidade à relação jurídica, é dada pela ordem jurídica
e vai protegê-la.

Texto de José de Oliveira Ascensão, Direito Civil, Teoria Geral, Volume I, as pessoas,
os bens, Coimbra Editora Edição 2000, página 34.
‘’Qual o âmbito desta disciplina?
A resposta parece simples. É o âmbito do Direito Civil como se refere na própria
designação. Far-se-ia uma teoria geral de um ramo do direito...
Mas não é assim tão fácil. O Direito Civil não é só um ramo ao lado de outros ramos,
continua a ser o núcleo de todo o direito...
O Direito Civil dá a ossatura básica de todo o ramo do direito privado.
Os princípios do Direito Civil são os princípios disponíveis para todos esses ramos, que
se aplicam enquanto não forem afastados.
As grandes noções comuns são generalizadas a todo o direito privado...
Mas não cabe ao Direito Civil analisar os institutos próprios de cada ramo, mesmo
quando eles apresentam desvios ao regime geral.’’

- Destacar os pontos principais (princípios fundamentais).


- Direito Civil, Direito Geral, institutos.
- Fazer uma síntese, usar apenas referências.

(Caso prático)

Neste texto, o autor realça o facto de o Direito Civil servir de base a todos os
ramos do Direito, integrando os princípios necessários ao estudo do Direito Privado.
O Direito Civil estuda as relações jurídicas (nelas estão sempre presentes o
direito e o dever de algo) que são constituídas por quatros elementos essenciais: o
sujeito, o objeto, o facto e a garantia.
Os princípios gerais do Direito Civil devem ter valor imperativo para que um
melhor e correto funcionamento de todas as relações jurídicas seja possível.
De entre os princípios que são essenciais para o direito privado, temos a
autonomia privada, boa-fé, responsabilidade civil e conceção da personalidade jurídica
às pessoas coletivas (está interligada com o 1º princípio do direito civil).

26/10

1º princípio – Reconhecimento da pessoa e direitos de personalidade

Pessoas singulares (art.º 66 do C.C) – ‘’Começo da personalidade’’.

Nascituro – abrange o nascituro concebido e não concebido (art.º 66, n.º 2 do C.C).

Conseturo – não nasceu nem está concebido. Não tem personalidade jurídica.

Art.º 952 do C.C – Doações e nascituros. Pode fazer-se doações a nascituros


concebidos ou não concebidos, ou seja, existe uma contradição ao art.º 66, n.º 2 do
C.C (os direitos que a lei concede aos nascituros depende do seu nascimento).

Direitos acéfalos – são direitos sem cabeça (sem sujeito).

Outros autores falam de estados de vinculação de certos bens, outros dizem que o
sujeito está obnubilado (escondido), isto é, obnubilação do sujeito.
Para a relação jurídica ser perfeita tem de ter dois sujeitos, então alguns autores
afirmam que são casos excecionais, relações jurídicas imperfeitas.

Art.º 2033 do C.C – Princípios gerais da capacidade sucessória. A pessoa concebida,


apesar de não ser nascida, também é pessoa.

Art.º 1855 do C.C – Perfilhação de nascituro. Perfilhar traduz-se na possibilidade de


reconhecer um filho fora do nascimento.

A capacidade jurídica são critérios quantitativos e a personalidade jurídica são


critérios qualitativos.

Capacidade de gozo – é uma medida de direitos e vinculações de que uma pessoa


pode ser titular e a que pode estar adstrita.

Capacidade exercício – é uma medida de direitos e vinculações de que uma pessoa


pode exercer e cumprir por si pessoal e livremente.

Art.º 122 do C.C – Menores. Ex: Anacleto tem 14 anos, ele não tem capacidade jurídica
nos termos do art.º 122 do C.C, porque para ter capacidade, ele tem de ter 18 anos. Se
é menor, de acordo com o art.º 123 do C.C, ‘’carece de capacidade jurídica para o
exercício de direito’’. Se temos uma incapacidade, tem de ser suprida ou suprimida
pelo poder paternal, nos termos do art.º 124 do C.C e art.º 1877 do C.C,
respetivamente. Um menor está obrigatoriamente sujeito a tutela se os pais tiverem
falecido – art.º 124, 1921 e 1927 do C.C.

Ex: um menor pratica um ato que não tinha capacidade para tal, esse ato pode ser
anulado, de acordo com o art.º 125 do C.C (Anulabilidade dos atos dos menores).
Contudo, existem exceções – art.º 127 do C.C (Exceções à incapacidade dos menores).

28/10

Legitimidade
Anulabilidade e
Prazos

- Art.º 287 do C.C (Anulabilidade).


- Art.º 125, n.º 1 do C.C (Anulabilidade dos atos dos menores).
- Art.º 285 do C.C (Disposição geral) – aplica-se na falta de regime especial.

Art.º 125 do C.C:


Existem situações em que o progenitor é que tem legitimidade, é ele que exerce o
poder paternal.
De acordo com o n.º 1, alínea a), ‘’(...) nunca depois de o menor atingir a maioridade’’.
Maiores acompanhados – art.º 138 e seguintes do C.C.

Regime de interdição e inabilitação (códigos antigos) foram substituídos.

Remissão do art.º 142 para o art.º 131 do C.C.

Incapacidades de exercício estatuídas pelo Código Civil

- Menoridade
- Interdição Maior
- Emancipação Acompanhado
- Incapacidade/ilegitimidade conjugal

Na incapacidade/ilegitimidade conjugal, a proteção visa o outro cônjuge e a família.

Art.º 1682-A do C.C (Alienação ou oneração de imóveis e de estabelecimento


comercial).
Art.º 1682 do C.C (Alienação ou oneração de móveis).

04/11

Pedro Pais de Vasconcelos, Manual de Teoria do Direito Civil, 5ª ed, página 10:
‘’O direito civil constitui o cerne fundamental do direito privado. Constituem o
conteúdo fundamental do direito civil, desde logo, as realidades extrajurídicas e pré-
jurídicas sem as quais o próprio direito não existiria... são elas as pessoas, os bens e as
ações... são os pontos de partida do direito.
As pessoas, desde logo, com prioridade sobre tudo o mais, porque todo o direito existe
em função e por causa das pessoas, e não tem se quer razão de ser fora delas e sem
elas porque todo o direito é criado pelas pessoas e para as pessoas... também as ações
constituem pontos de partida para o direito. As pessoas não são inertes e atuam na
sociedade. As ações são as atuações humanas que se dirigem a alcançar uma
finalidade. Se as pessoas fossem inertes, não haveria contacto social e, portanto, não
haveria direito. Finalmente, os bens são o terceiro ponto de partida do direito... as
pessoas raramente se satisfazem com o que têm e criam sempre novas necessidades...
uma sociedade duradouramente saciada é uma utopia, por isso, os bens aptos a
satisfazer as necessidades e a apetência das pessoas são causa de contacto social e
fonte de conflitos.
Para além das pessoas, das ações e dos bens como pontos de partida do direito, o
direito civil enquadra ainda no seu âmbito institutos, figuras e processos de exercício
jurídico que são comuns a todos os seus sub-ramos especiais’’.

Numa primeira fase, o autor refere que o direito civil é de extrema importância para o
direito privado. O direito civil trata maioritariamente de realidades extrajurídicas e pré-
jurídicas – pessoas, bens e ações.
Em seguida, é dito que todo o direito existe em função e por causa das pessoas
(pessoa é uma pessoa jurídica com nascimento completo e com vida), visto que o
direito é criado pelas pessoas e para as mesmas. O direito só existe porque as pessoas
atuam na sociedade, as suas ações têm uma finalidade. Existe um problema, visto que
os bens – que são o terceiro ponto de partido do direito – são limitados, face às
necessidades ilimitadas das pessoas. A procura de bens para satisfazer as necessidades
insaciáveis das pessoas resulta em contacto social e conflitos.

09/11

Incapacidade conjugal/ilegitimidade conjugal – este regime jurídico prende-se com o


direito da família.

Na falta de regime especial, vamos aplicar as regras que são comuns à generalidade.

Não posso vender um certo bem sem consentimento (matéria de Direito da Família,
ter em conta na mesma).

Carvalho Fernandes, Manual Teoria Geral do Direito Civil I, edição 2001, pág. 197:
‘’A tutela jurídica do nascituro enquanto ser vivo não pode ser questionada, além de se
dever ter como consagrada no sistema jurídico português.
Aponta, desde logo, nesse sentido o art.º 24 da CRP, ao afirmar sem distinções a
inviolabilidade da vida humana...
Problema diverso é o de saber se o nascituro é pessoa jurídica. Contrapõem-se aqui
várias respostas doutrinais, havendo quem sustente não existir personalidade antes do
nascimento (nota de rodapé: Manuel de Andrade, Teoria Geral Vol. I, pág. 35). Quem
identifique um fenómeno de retroação da personalidade ao momento da constituição
do direito (nota de rodapé: Dias Marques, Código Civil anotado, pág. 23). Existe quem
defenda uma personalidade parcial (nota de rodapé: Capelo de Sousa, Direito geral de
personalidade, pág. 362). E quem afirma haver personalidade desde a conceção (nota
de rodapé: Oliveira Ascensão, Teoria Geral Vol. I, pág. 43 e seguintes; Leite de Campos,
Lições de direito de personalidade, Coimbra, 1992; Stella Neves Barbas, Direito ao
património genético, Almedina, Coimbra, 1998, pág. 71 e seguintes)’’.

De acordo com Carvalho Fernandes, a tutela jurídica do nascituro enquanto ser vivo
não pode ser questionada. Contudo, existem questões relativamente ao nascituro, se é
ou não pessoa jurídica e, segundo o art.º 66, n.º 2 do Código Civil, ‘’a personalidade
jurídica adquire-se no momento do nascimento completo e com vida’’. Manual de
Andrade identifica um fenómeno de retroação da personalidade ao momento da
constituição do direito; Dias Marques afirma que não existe personalidade antes do
nascimento; Capelo de Sousa defende a existência de uma personalidade parcial;
Tanto Leite de Campos como Stella Neves Barbas defendem a ideia de existir
personalidade desde a conceção. Verificamos a uma divergência doutrinal, sendo a
última resposta acompanhada pelo C.C.

11/11
Relevância jurídica da família – um dos principais princípios fundamentais.

Se A se casa com B em comunhão de adquiridos ou comunhão de bens, se A quer


vender algo não pode sem o consentimento de B.
Caso Prático
Edilma nasceu em Gouveia em 6 de dezembro de 2004. Em agosto de 2021, Edilma
doou a Márcia, sua amiga, todos os seus livros de banda desenhada. Em outubro de
2021, Edilma ofereceu a Felisberto, seu vizinho, um relógio de ouro que o avô lhe tinha
oferecido dias antes do falecimento. No final de outubro de 2021, a mãe de Edilma
tomou conhecimento dos atos que a filha andava a praticar. É possível exigir a
restituição dos referidos objetos? Em caso afirmativo, quem o pode fazer e em que
termos?

O art.º 948 do Código Civil dispõe que têm capacidade para fazer doações todos os que
podem contratar e dispor dos seus bens. Tendo em conta o art.º 127, n.º 1, a) do
Código Civil, são excecionalmente válidos os atos de administração ou disposição de
bens que o maior de dezasseis anos haja adquirido por seu trabalho, deste modo,
Edilma pode doar os seus livros de banda desenhada se tiver adquirido os mesmos por
seu trabalho, contudo não pode doar o relógio de ouro que lhe foi dado pelo seu avô.
Edilma tem 16 anos, deste modo e de acordo com o art.º 122 do Código Civil, ela é
menor de idade. De acordo com o art.º 66 do Código Civil, Edilma tem personalidade
jurídica, contudo, carece de capacidade para o exercício de direitos por ser menor de
idade – art.º 123 do Código Civil. A mãe de Edilma tomou conhecimento dos atos que a
filha andava a praticar dentro dos prazos impostos pelo art.º 125 do Código Civil, pelo
que é possível exigir a restituição do relógio, mas da banda desenhada não (se tiver
sido adquirida pelo trabalho da menor). Quem pode fazê-lo é ‘’progenitor que exerça o
poder paternal, do tutor ou do administrador de bens, desde que a ação seja proposta
no prazo de um ano a contar do conhecimento que o requerente haja tido do negócio
impugnado, mas nunca depois de o menor atingir a maioridade’’, segundo o art.º 125,
n.º 1 do Código Civil.

Primeiro, estamos perante um menor.


Enquadrar o sujeito (Edilma) na relação jurídica.
Afastar a hipótese de emancipação.

16/11

Legislação sobre os Direitos da Criança


Interpretação da lei

Art.º 8 – Constituição de advogado


1 - ...
2 – É obrigatória a nomeação de advogado à criança, quando os seus interesses e os
dos seus pais, representante legal ou de quem tenha o guarda de facto, sejam
conflituantes, e ainda quando a criança com maturidade adequada o solicitar ao
tribunal.

Interpretação da Lei – exemplo


Art.º 18 do RGPTC:
i) Obrigatoriedade
i) Quando
i) Os seus interesses
i) Os dos pais
ii) Ou representante legal
iii) Ou quem tenha a guarda de facto sejam conflituantes
ii) E ainda (significa ou)
i) A criança
i) Com maturidade
ii) Adequada
iii) O solicite
iv) Ao tribunal

A interpretação à luz das outras leis: o art.º 8 da CRP

1 – Aplicáveis quando não existe legislação específica:


 O Código Civil:
o sempre que não exista uma norma aplica-se o regime o CC;
 A CRP (art.º 8) – lei internacional e comunitária tem prevalência sobre a lei
nacional
o A Declaração Universal dos Direitos das Crianças – UNICEF
(20/11/1959);
o Convenção Europeia sobre o Exército dos Direitos das Crianças (Entrada
em vigor na ordem internacional: 01/07/2000;
o NOTA: mas estas disposições podem ser revogadas a qualquer
momento, mas de contrário valem e prevalecem sobre a lei
portuguesa à luz do Direito Internacional e Comunitário, em todas as
áreas do Direito (...)

18/11 – Revisões.

23/11

Direitos subjetivos? É problemático a nível da doutrina saber se este direito pode ser
objeto de outro direito.
Há soluções morais que configuram os direitos sobre direitos (art.º 1463 do Código
Civil – usufruto de rendas vitalícias; art.º 1464 do Código Civil – usufruto de capitais
postos a juro; art.º 688, n.º 1, alínea c) – direito de superfície).
Modos de ser ou bens da própria personalidade
O legislador constitucional dirige na CRP o direito à identidade pessoal e à identidade
genética. A identidade pessoal é mais ampla e genética é parte integrante da nossa
identidade pessoal (art.º 26 da CRP).
O ser humano é um misto de carga genética e de sociabilidade.
O ser humano é único, indivisível e irrepetível.
Características da coisa (art.º 202 do Código Civil):
 Existência autónoma ou separada;
 Possibilidade de apropriação exclusiva por alguém;
 Aptidão para satisfazer interesses ou necessidades humanas.

Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria Geral de Direito Civil, ed. 2005, pág. 213:
‘’Ao direito cabe um papel importante na regulação e na disciplina da atribuição e da
circulação dos bens... No subtítulo das coisas, o Código Civil... logo no n.º 1 do art.º 202
enuncia uma definição de coisa que é tradicional, mas cujo valor percetivo e qualidade
teórica são acentuadamente pobres... por outro lado, esta definição só acentua o
caráter objetivo das coisas, o que alarga excessivamente o seu conceito. Ao definir as
coisas como tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas faz coincidir o
conceito de coisa com o objeto de relações jurídicas...’’.

30/11

Mota Pinto, Teoria Geral de Direito Civil, ed. 2005, p. 227-228. Comente o seguinte
texto:

‘’As enumerações das incapacidades de exercício estabelecidas pelo novo Código Civil
resultam:
a) Da menoridade;
b) Da interdição;
c) Das inabilitações;
d) Do casamento (incapacidades conjugais);
e) Da incapacidade natural acidental, consistindo no não entendimento, por
qualquer causa, do sentido da declaração negociada ou na falta de livre
exercício da vontade (art.º 257).
O interesse determinante das incapacidades é o interesse do próprio incapaz...
É comum afirmar-se que uma certa espécie de incapacidade – as incapacidades
conjugais – visa tutelar os interesses de outras pessoas. Têm elas em vista salvaguardar
os interesses do outro cônjuge e os interesses gerais da família’’.

O autor faz referências às ‘’incapacidades de exercício’’, pelo que não devemos


confundir com personalidade jurídica. De acordo com o art.º 66 do Código Civil, a
personalidade jurídica adquire-se no momento do nascimento completo e com vida e
a pessoa humana tem capacidade jurídica (art.º 67 do Código Civil). Um menor tem
personalidade jurídica, porém não tem capacidade jurídica/capacidade de exercício
(apenas quando atinge a maioridade ou for emancipado pelo casamento – art.º 122,
123, 130 e 132 do Código Civil). Assim, a capacidade de exercício é uma medida de
direitos e vinculações de que uma pessoa pode exercer e cumprir por si pessoal e
livremente.
Ter em conta que duas das alíneas [c) e e)] foram revogadas e substituídas por um
regime jurídico novo – maior acompanhado. Atualmente, as incapacidades de exercício
estatuídas pelo Código Civil resultam da menoridade, interdição e emancipação (maior
acompanhado), incapacidade/ilegitimidade conjugal.
Por último, o autor faz referência às incapacidades/ilegitimidades conjugais que visam
os interesses de outras pessoas. Na incapacidade/ilegitimidade conjugal, a proteção
visa o outro cônjuge e a família.

02/12

Desafios em torno da personalidade jurídica  articulação com a persona.

A personalidade jurídica é a suscetibilidade de ser titular de relações jurídicas.

Tutela da personalidade jurídica – questões relacionadas à entidade pessoal e


genética.

Art.º 42 da CRP – Direito à investigação.


Art.º 26 da CRP – Direito à identidade pessoal e genética do ser humano. Este artigo
distingue a identidade pessoal e a identidade genética, sendo a pessoal mais ampla.
Cada sujeito da relação jurídica é único, indivisível e irrepetível.
Num raciocínio analógico, a identidade pessoal é mais ampla e a identidade genética é
uma das componentes da pessoa.
A identidade pessoal não se reduz à identidade genética, a pessoa é fruto da sua
identidade genética, mas também do ambiente onde se encontra inserido.

Questões relativamente a clonagem – seja ela de pessoas, animais, etc.

Exemplo: se hoje quiséssemos clonar o Anacleto, precisávamos de clonar todo o


ambiente em que estava inserido.

Genoma humano – conjunto de genes nucleares responsáveis pela nossa identidade


genética.

DECLARAÇÃO UNIVERSAL SOBRE O GENOMA HUMANO E OS DIREITOS HUMANOS


(https://gddc.ministeriopublico.pt/sites/default/files/decl-genomadh.pdf):

 A pessoa humana não pode ser discriminada em função das suas características
genéticas.
 Genoma foi considerado património comum da Humanidade.

14/12
Mota Pinto, Teoria Geral de direito civil, p.96 e 97:
‘’O Direito civil vigente, modelado segundo determinados princípios, não está dotado
de uma validade eterna e universal, à semelhança do direito natural. Nem sequer os
seus princípios fundamentais se podem pretender com segurança válidos para todos
os ordenamentos jurídicos e em todas as épocas... Tratando-se de princípios básicos
do direito civil, aceites e desenvolvidos pelas normas, dando-lhes um sentido e
assimulando-lhes uma função naturalmente que encontraram guarida na
Constituição... podemos considerar – e este elenco pretende apenas pôr em relevo os
princípios fundamentais – oito ideias, princípios ou instituições...
Cada um destes oitos princípios ou ideias que apresentamos numa proposta (não a
única possível, obviamente) de caracterização substancial do nosso direito civil
exprime uma realidade jurídica específica’’.

15/12

Manual Teoria Geral de Direito Civil, Pedro Pais Vasconcelos, 2005, Almedina, p.68:
‘’No seu art.º 26, a Constituição da República prevê, como direito fundamental, um
direito à identidade pessoal. É um direito de personalidade, porque orientar
funcionalmente à tutela da dignidade humana, através da defesa daquilo que garante
a infugibilidade, a indivisibilidade e a irrepetibilidade de cada uma das pessoas
humanas.
Toda a pessoa tem o direito à sua individuação, como pessoa única com uma dignidade
própria...
A identidade pessoal inclui também a identidade genética, e o património genético,
que assumem recentemente uma imensa importância perante os riscos nascentes de
manipulação genética1. O direito à identidade, ao património genético, e mesmo à
integridade genética, proscrevem a duplicação da pessoa pela clonagem integral, a
ocultação da paternidade biológica e ofensas possíveis que incidam sobre o genoma
humano’’.

O art.º 26 da Constituição da República Portuguesa ‘’Outros direitos pessoais’’,


reconhece no n.º 1 ‘’os direitos à identidade pessoal, ao desenvolvimento da
personalidade’’, etc. Pedro Pais Vasconcelos refere que o direito à identidade pessoal é
um direito de personalidade porque ‘’orientar funcionalmente à tutela da dignidade
humana, através da defesa daquilo que garante a infugibilidade, a indivisibilidade e a
irrepetibilidade de cada uma das pessoas humanas’’, isto é, protege o indivíduo de
qualquer ofensa à sua personalidade física ou moral. De acordo com o direito civil, a
pessoa é uma pessoa jurídica com nascimento completo e com vida (art.º 66 do Código
Civil) e a morte vai cessar a personalidade jurídica (art.º 68 do Código Civil).
Como refere o autor, ‘’toda a pessoa tem direito à sua individuação, como pessoa
única com uma dignidade própria’’, visto que somos individuais, distinguimos das
outras pessoas. Segundo o n.º 3 do art.º 26 da CRP, ‘’a lei garantirá a dignidade pessoal
e a identidade genética do ser humano, nomeadamente na criação, desenvolvimento e

1
Paulo Otero, Personalidade e identidade pessoal e genética do ser humano, Almedina, Coimbra, 1999;
Cláudia Martins Alves, Direito à identidade genética, Relatório de mestrado, FDL, 2002, p. 7; Stela Neves
Barbas, Direito ao património genético, Almedina, Coimbra, 1998.
utilização das tecnologias e na experimentação científica’’. O direito à identidade, ao
património genética e à integridade genética não podem existir em simultâneo com a
duplicação da pessoa pela clonagem integral, a ocultação da paternidade biológica e
ofensas possíveis que incidam sobre o genoma humano (conjunto de genes nucleares
responsáveis pela nossa identidade genética).

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