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PERSONALIDADE
ANDREA ZANETTI
Agenda
• Pessoa
• Personalidade jurídica
• Personalidade jurídica e capacidade
• Início da personalidade jurídica
• A proteção do nascituro
• Qual a tutela jurídica para o embrião não
implantado?
Pessoa no contexto jurídico
“PESSOA”
• Tradicionalmente, aponta-se como “pessoa” não apenas a pessoa natural (ser humano), mas
também a pessoa jurídica ou moral formada pelo agrupamento humano em torno de um interesse
comum (MONTEIRO, 2012, p. 72).
Deveres jurídicos
• Cumprir determinações da norma jurídica
Pretensão (Windscheid)
• direito subjetivo: exigir uma ação ou abstenção de outrem.
Pessoa natural ou física:
Três princípios fundamentais (AMARAL, 2017, p. 322):
(a) todo ser humano é pessoa, pelo simples fato de existir, e por isso é capaz de direitos e deveres na ordem
civil (CC, art. 1º);
(b) todos têm a mesma personalidade porque todos têm a mesma aptidão para a titularidade de relações
jurídicas; e
O conceito de personalidade jurídica está vinculado à pessoa, é um atributo do jurídico, que reconhece seu
papel social como sujeito de direitos e obrigações. A pessoa no contexto jurídico é a potencialidade de
desempenhar funções: cônjuge, filho, credor, devedor, avalista, inventariante, tutelado, curadora,
representante (AMARAL, 2017, p. 320).
Personalidade jurídica e Capacidade jurídica
Art. 2.º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção,
os direitos do nascituro. (Início)
Art. 3.º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
1. Teoria natalista, na linha apresentada (Caio Mário da Silva Pereira, Silvio Rodrigues, Arnoldo Wald): não há
reconhecimento da personalidade ao nascituro, nem se admite que seja sujeito de direito.
2. Teoria da personalidade condicional (Washington de Barros Monteiro): a Lei não pode ignorar o nascituro, a
personalidade jurídica está sob condição suspensiva, ou seja, o nascimento com vida. O feto tem expectativa de vida
humana (MONTEIRO, 2012, p. 76).
3. Teoria concepcionista (Teixeira de Freitas, Francisco Amaral e Silmara Chinelato e Almeida): há a presença de
personalidade desde a concepção, pois há tutela jurídica dos interesses do nascituro, existem direitos que lhe são
assegurados.
Visão e discussão no regime jurídico
italiano (apontamentos da doutrina)
•O ordenamento reconhece o nascituro como titular de interesses merecedores de tutela. A
personalidade provisória torna-se definitiva a partir do nascimento com vida (BIANCA, 1976, p.
203).
• “O sujeito não é elemento essencial para a existência da situação, podendo existir interesses –
e, portanto, situações – que são tutelados pelo ordenamento apesar de não terem ainda um titular.” O
exemplo dado pelo autor é exatamente o caso de doação a nascituro. Aqui existe um interesse
tutelado, mas não há o sujeito do interesse (PERLINGIERI, 1999, p. 106.)
A proteção do nascituro
O Código Civil tutela a vida intrauterina (nascituro):
Correspondência com as normas constitucionais: art 1º da CF e art. 5º, caput, da CF
(TJPR - 10ª C.Cível - 0006215-41.2012.8.16.0069 - Cianorte - Rel.: DESEMBARGADOR DOMINGOS THADEU RIBEIRO DA
FONSECA - J. 14.02.2019)
Destaque para a teoria concepcionista - situação jurídica do nascituro
2. Entre outros, registram-se como indicativos de que o direito brasileiro confere ao nascituro a condição de pessoa, titular de direitos:
exegese sistemática dos arts. 1º, 2º, 6º e 45, caput, do Código Civil; direito do nascituro de receber doação, herança e de ser
curatelado (arts. 542, 1.779 e 1.798 do Código Civil); a especial proteção conferida à gestante, assegurando-se-lhe atendimento
pré-natal (art. 8º do ECA, o qual, ao fim e ao cabo, visa a garantir o direito à vida e à saúde do nascituro); alimentos gravídicos, cuja
titularidade é, na verdade, do nascituro e não da mãe (Lei n. 11.804/2008); no direito penal a condição de pessoa viva do nascituro -
embora não nascida - é afirmada sem a menor cerimônia, pois o crime de aborto (arts. 124 a 127 do CP) sempre esteve alocado no título
referente a "crimes contra a pessoa" e especificamente no capítulo "dos crimes contra a vida" - tutela da vida humana em formação, a
chamada vida intrauterina (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de direito penal, volume II. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 62-63;
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 8 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 658)
3. As teorias mais restritivas dos direitos do nascituro - natalista e da personalidade condicional - fincam raízes na ordem
jurídica superada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Código Civil de 2002. O paradigma no qual foram edificadas
transitava, essencialmente, dentro da órbita dos direitos patrimoniais. Porém, atualmente isso não mais se sustenta. Reconhecem-
se, corriqueiramente, amplos catálogos de direitos não patrimoniais ou de bens imateriais da pessoa - como a honra, o nome,
imagem, integridade moral e psíquica, entre outros.
(STJ, REsp n. 1.415.727/SC, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 4/9/2014, DJe de 29/9/2014.)
CONTINUAÇÃO….
4. Ademais, hoje, mesmo que se adote qualquer das outras duas teorias restritivas, há de se reconhecer a
titularidade de direitos da personalidade a garantir ao nascituro expectativas de direitos, ou mesmo direitos
condicionados ao nascimento, só faz sentido se lhe for garantido também o direito de nascer, o direito à vida,
que é direito pressuposto a todos os demais.
5. Portanto, é procedente o pedido de indenização referente ao seguro DPVAT, com base no que dispõe o art. 3º da
Lei n. 6.194/1974.
Se o preceito legal garante indenização por morte, o aborto causado pelo acidente subsume-se à perfeição ao
comando normativo, haja vista que outra coisa não ocorreu, senão a morte do nascituro, ou o perecimento de
uma vida intrauterina.
6. Recurso especial provido.
(STJ, REsp n. 1.415.727/SC, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 4/9/2014, DJe de
29/9/2014.)
Origem: 1º Câmara do Tribunal de Justiça do Estado do Acre (2017/0015756-6) – responsabilidade objetiva do
Estado pela morte de nascitura.
• Dever do ofensor ao pagamento de despesas do funeral e alimentos aos genitores vulneráveis (condição de
baixa renda) pela duração provável da vida da vítima (nascituro) na forma do art. 948, CC .
Art. 948, CC. No caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir outras reparações:
I - no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família;
II - na prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os devia, levando-se em conta a duração provável da vida
da vítima.
Cf. STJ, EDcl no AgInt no REsp nº 1.653.692/AC, relatora Ministra Regina Helena Costa, Primeira Turma, julgado em
8/6/2021, DJe de 11/6/2021.)
E QUAL A TUTELA PARA O EMBRIÃO NÃO IMPLANTADO?
Como já afirmei, nascituro é aquele que está por nascer, já concebido. No terceiro milênio, a quarta era dos direitos,
caracterizada pelos avanços da Biomedicina, da Genética e das Telecomunicações, a dúvida é se o conceito pode se
estender ao nascituro concebido in vitro, isto é, fora do ventre materno (....)
No meu modo de ver, o conceito amplo de “nascituro – o que há de nascer – pode abarcar tanto o implantado como
o embrião pré-implantatório. Como é possível conferir-se herança e doação até à prole eventual – prole não gerada
e que talvez nem o seja – pode-se também conferi-las ao embrião pré-implantatório, bastando que seja identificado,
o que se dá pela identificação dos doadores dos gametas. (CHINELLATO, 2007, p. 90)
Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de
embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as
seguintes condições:
I - sejam embriões inviáveis; ou
II - sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já
congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de
congelamento.
§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.
Obs. § 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde - devem submeter seus projetos à apreciação e aprovação
dos respectivos comitês de ética em pesquisa e § 3o É vedada a comercialização do material biológico
Trecho da ementa
(…) Mutismo constitucional hermeneuticamente significante de transpasse de poder normativo para a legislação ordinária. A
potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la, infraconstitucionalmente,
contra tentativas levianas ou frívolas de obstar sua natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se
confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não existir pessoa
humana embrionária, mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de Biossegurança ( "in vitro"
apenas) não é uma vida a caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as
primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de vida autônoma e
irrepetível. O Direito infraconstitucional protege por modo variado cada etapa do desenvolvimento biológico do ser
humano. Os momentos da vida humana anteriores ao nascimento devem ser objeto de proteção pelo direito comum. O
embrião pré-implanto é um bem a ser protegido, mas não uma pessoa no sentido biográfico a que se refere a
Constituição. (STF, ADI 3510, Tribunal Pleno, Relator Ayres Britto, j. 29/05/2008, publicação 28/05/2008)
Reflexões
• Como fica a tutela dos embriões não
implantados diante do divórcio do casal?
• Há a necessidade de criação de um Estatuto do
Embrião?
Reflexões
“[...] a utilização da engenharia genética para produzir bebês sob encomenda
deve sofrer certa moderação para que se evite o uso descontrolado da vida
humana incipiente, evitando-se que o progresso da biomedicina represente
um episódio da erosão de nossas sensibilidades humanas [...];
AMARAL, Francisco. Direito civil: introdução. 9. ed. rev., modif. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2017.
BIANCA, C. Massimo. Diritto civile, I. Milano: Giuffrè, 1976.
CHINELLATO, Silmara Juny de Abreu. A pessoa natural na quarta era dos direitos: o nascituro e o embrião pré-
implantatório. Revista Brasileira de Direito Comparado, Instituto de Direito Comparado Luso-Brasileiro ,n. 32, p. 81-
129, 2007.
DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. v. 1.
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. Coordenador e atualizador Edvaldo Brito; atualizadora Reginalda Paranhos
de Brito. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 20. ed. São Paulo : SaraivaJur, 2022.
Referências
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MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus; CORREIA, Atalá; CAPUCHO, Fábio Jun. Direitos da personalidade: a
contribuição de Silmara J. A. Chinellato. Barueri: Manole, 2019.
MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: parte geral. 44. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
MOREIRA ALVES, José Carlos. Direito Romano, Rio de Janeiro: Forense, 5ª ed. Vol. 1, 1983
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: introdução ao direito civil constitucional. Tradução Maria Cristina De Cicco.
Rio de Janeiro: Renovar, 1999.
ROSENVALD, Nelson. Os embriões de Sofia Vergara. 22 dez. 2006. Disponível em
https://ibdfam.org.br/artigos/1185/Os+embri%C3%B5es+de+Sofia+Vergara. Acesso em: 1º out. 2020.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Milena Donato. Teoria geral do direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021.