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AULA 3

CAPACIDADE E ESTATUTO DA
PESSOA COM DEFICIÊNCIA
Agenda
• Relevância do Estatuto da Pessoa com Deficiência
• Plena capacidade da pessoa com deficiência
• Deficiência qualificada pela curatela
• Reflexões e decisões judiciais sobre a curatela
• Aspectos atuais da tomada de decisão apoiada
Relevância do Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD)

i. Reformulação da teoria das incapacidades proporcionando a análise de cada caso


concreto.
ii. Estabelece a distinção entre a capacidade negocial e a capacidade de consentir
(MARTINS-COSTA, 2009, p. 302).
iii. Prestigia os direitos existenciais, com reconhecimento da pessoa como norte do
diploma legal alinhado à Constituição Federal (teoria personalista presente no art. 1.º,
III da CF – princípio da dignidade humana).
Relevância do Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD)

iv. Dá efetividade. Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
(CDPD), primeiro tratado de direitos humanos aprovado pelo Congresso Nacional – promover,
proteger e assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades
fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade
inerente.
v. Reconhecimento de que toda pessoa com deficiência é dotada de capacidade para os atos
da vida civil.
vi. Por isso, a curatela (art. 3.º da Lei 13.416/2015) é medida extraordinária admissível apenas
quando as circunstâncias do caso exigirem – razoabilidade, proporcionalidade quanto à
extensão e tempo da medida, uma vez demonstrada a deficiência qualificada, que se distingue
da situação da pessoa com deficiência (ROSENVALD, 2015, p. 741-742).
A relevância do Estatuto da Pessoa com Deficiência

Lei 13.416/2015
Art. 114. A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil) , passa a vigorar com as seguintes alterações:
“Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos.
I – (Revogado);
II – (Revogado);
III – (Revogado).” (NR)
“Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer:
I – os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos
II – os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
III – aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
IV – os pródigos
Parágrafo único. A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.”
A deficiência, seja qual for sua característica, não afeta a plena capacidade
civil da pessoa

Art. 6.º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:

I – casar-se e constituir união estável;


II – exercer direitos sexuais e reprodutivos;
III – exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
reprodução e planejamento familiar;
IV – conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
V – exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
VI – exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas.
Quem é o destinatário da EPD?

Art. 2.º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições
com as demais pessoas.
Constatação da deficiência

§ 1.º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial, realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar e considerará:
I – os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II – os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III – a limitação no desempenho de atividades; e
IV – a restrição de participação.
§ 2.º O Poder Executivo criará instrumentos para avaliação da deficiência.
Efeitos da intervenção qualitativa do EPD

• Não mais se rotula como incapaz ou relativamente capaz a pessoa com deficiência.

• A pessoa que possui uma insuficiência psíquica ou intelectual deve ter sua condição
avaliada para confirmar sua impossibilidade de conformar ou exprimir sua vontade:
ausência de consciência de si e do meio social, que revele a insuficiência do sistema de
decisão apoiada, sendo necessária a escolha de um curador, o que não implica
suprimir a possibilidade do curatelado exercer direitos existenciais inerentes ao
interesse do próprio curatelado (liberdade sexual, vida familiar, intimidade).

• “Doravante, o ser humano com deficiência não será uma pessoa absolutamente
incapaz, mesmo se submetida à curatela. É desproporcional e desumano atrelar a
curatela à incapacidade absoluta” (ROSENVALD, 2015, p. 742).
Podemos encontrar exemplos da nova sistemática do EPD, CDPD, CC
para a pessoa com deficiência e a deficiência qualificada (curatela)?

Pessoas com deficiência Deficiência qualificada (deficiência


Física, mental, sensorial de longo prazo psíquica acentuada que impede a
ou permanente expressão consciente da vontade)

• Capacidade plena (art. 6º do EPD) • Depende da avalição multiprofissional e


interdisciplinar em ação judicial para
• Expressamente ressaltam a plenitude do constatar a causa permanente.
consentimento para o ato matrimonial – direito
existencial (art. 23 do CDPD, e art. 6º, I, do EPD).
• Incapacidade relativa (arts. 4º, III, e
1.767, do CC).
Podemos encontrar exemplos da nova sistemática do EPD, CDPD, CC
para a pessoa com deficiência e a deficiência qualificada (curatela)?

Pessoas com deficiência Deficiência qualificada


• Em linha semelhante ao estabelecido na legislação especial, o
§ 2º do art. 1.550 do CC, possibilidade de a pessoa com
• Art. 1.777. As pessoas referidas no inciso I
deficiência mental ou intelectual em idade núbil contrair do art. 1.767 receberão todo o apoio
matrimônio, “expressando sua vontade diretamente ou por necessário para ter preservado o direito à
seu responsável ou curador” – para alguns doutrinadores há
aqui o equívoco de retirar o direito personalíssimo e
convivência familiar e comunitária, sendo
existencial do consentimento da pessoa atribuindo ao curador evitado o seu recolhimento em
(melhor seria considerar a presença do curador apenas para estabelecimento que os afaste desse convívio.
revisão ou controle).

• Podem requerer procedimento de decisão apoiada, caso • Estão sujeitos à curatela (que deverá ser
sintam necessidade para exercícios de determinados atos graduada, considerando a condição de cada
(negociais), mantendo-se a condição de igualdade em
relação aos demais (art. 84, § 2º, do EPD).
pessoa e que poderá ser revisada e levantada,
conforme a evolução da pessoa).
Quanto à submissão à intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a
institucionalização forçada (EPD)

Pessoas com deficiência Deficiência qualificada


• Art. 11. A pessoa com deficiência não poderá ser obrigada
a se submeter a intervenção clínica ou cirúrgica, a • Art. 11. [...] Parágrafo único. O consentimento da pessoa
tratamento ou a institucionalização forçada. com deficiência em situação de curatela poderá ser
suprido, na forma da lei.
• Art. 12. O consentimento prévio, livre e esclarecido da
pessoa com deficiência é indispensável para a realização • Art. 12. […] § 1.º Em caso de pessoa com deficiência em
de tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa situação de curatela, deve ser assegurada sua participação,
científica. no maior grau possível, para a obtenção de
consentimento.
Quanto à submissão à intervenção clínica ou cirúrgica, a tratamento ou a
institucionalização forçada (EPD)

Em qualquer circunstância (a pessoa com deficiência e a pessoa com deficiência


qualificada), aplica-se a restrição do art. 12. § 2.º, do EPD – A pesquisa científica
envolvendo pessoa com deficiência em situação de tutela ou de curatela deve ser
realizada, em caráter excepcional, apenas quando houver indícios de benefício direto
para sua saúde ou para a saúde de outras pessoas com deficiência e desde que não haja
outra opção de pesquisa de eficácia comparável com participantes não tutelados ou
curatelados.
Portanto, a nova sistemática das capacidades deve considerar que:

1.º) pessoa com deficiência é capaz e deve ser respeitada em sua autonomia para agir pessoalmente nas decisões
de vida e nos atos da vida civil.

2.º) decisão apoiada – a pessoa com deficiência poderá solicitar assistência, na forma de tomada de decisão
apoiada, o que não interfere em sua capacidade de exercício.

3.º) curatela – limitada a deficiência qualificada, quando a pessoa não possa autogovernar seus interesses, sendo
necessária a interdição, de forma proporcional, modulada, segundo a realidade da pessoa e com respeito à
autonomia dos seus direitos de caráter existencial. Por isso, em regra, sua extensão será relacionada apenas à
capacidade negocial, ainda que possa haver exceções. Em qualquer circunstância, a incapacidade será tratada
como relativa e poderá ser revista, segundo a evolução da pessoa.
Tomada de decisão apoiada, art. 116 do EPD –
inserção do art. 1.783-A no CC

• A tomada de decisão apoiada é um processo voluntário.


• O próprio interessado (pessoa com deficiência) indica ao menos duas pessoas idôneas,
com as quais mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e as informações
necessários para que possa exercer sua capacidade.
• A tomada de decisão apoiada não interfere na capacidade plena da pessoa com deficiência.
• É uma forma de estimular autodeterminação e capacidade de agir beneficiária do apoio,
sem que sofra o estigma social da curatela (ROSENVALD, 2015, p. 755).
Tomada de decisão apoiada, art. 116 do EPD –
inserção do art. 1.783-A no CC

• Permanece a capacidade do exercício de fato, todavia, em atos específicos, solicitará


da intervenção dos apoiadores para a perfeição do ato (assinando o instrumento). Trata-
se, portanto, de questão de legitimidade para os atos específicos indicados no apoio.

• Visa beneficiar pessoas com deficiência física, sensorial e psíquica (ex. cegueira e
surdez permanentes, tetraplegia, pessoas acometidas por AVC, enfermidade ou acidente
que acarretem vulnerabilidades capazes de dificultar a dinamicidade do negócio
jurídico).
Como ocorre o procedimento da tomada de decisão apoiada?

Art. 1.783-A no CC
• § 1.º Para formular pedido de tomada de decisão apoiada, a pessoa com deficiência e os apoiadores devem apresentar
termo em que constem os limites do apoio a ser oferecido e os compromissos dos apoiadores, inclusive o prazo de
vigência do acordo e o respeito à vontade, aos direitos e aos interesses da pessoa que devem apoiar.
É importante que o instrumento (público ou particular) detalhe as qualidades da pessoa, o objetivo, a extensão dos atos
que estão contemplados na tomada de decisão apoiada.

• § 2.º O pedido de tomada de decisão apoiada será requerido pela pessoa a ser apoiada, com indicação expressa das
pessoas aptas a prestarem o apoio previsto no caput deste artigo.

• § 3.º Antes de se pronunciar sobre o pedido de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe
multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe
prestarão apoio.

• § 4.º A decisão tomada por pessoa apoiada terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restrições, desde que esteja
inserida nos limites do apoio acordado.
Como ocorre o procedimento da tomada de decisão apoiada?

Art. 1.783-A no CC
• § 5.º Terceiro com quem a pessoa apoiada mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores contra-assinem o contrato ou
acordo, especificando, por escrito, sua função em relação ao apoiado.
• § 6.º Em caso de negócio jurídico que possa trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de opiniões entre a pessoa apoiada e
um dos apoiadores, deverá o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
• § 7.º Se o apoiador agir com negligência, exercer pressão indevida ou não adimplir as obrigações assumidas, poderá a pessoa
apoiada ou qualquer pessoa apresentar denúncia ao Ministério Público ou ao juiz.
• § 8.º Se procedente a denúncia, o juiz destituirá o apoiador e nomeará, ouvida a pessoa apoiada e se for de seu interesse, outra pessoa
para prestação de apoio.
• § 9.º A pessoa apoiada pode, a qualquer tempo, solicitar o término de acordo firmado em processo de tomada de decisão apoiada .
• § 10. O apoiador pode solicitar ao juiz a exclusão de sua participação do processo de tomada de decisão apoiada, sendo seu
desligamento condicionado à manifestação do juiz sobre a matéria.
• § 11. Aplicam-se à tomada de decisão apoiada, no que couber, as disposições referentes à prestação de contas na curatela.
Aspectos complementares da decisão apoiada

• Publicidade: recomendação de alguns doutrinadores para que a decisão seja averbada na certidão de
nascimento da pessoa no no Registro Civil de Pessoas Naturais. Objetivo - proteção ao terceiro de boa-
fé.
• A tomada de decisão apoiada visa, sobretudo, apoio em tomadas de decisão para atos patrimoniais e
negociais, todavia a pessoa com deficiência poderá ampliar a extensão para incluir, por exemplo,
decisões relacionadas à saúde.
• A decisão apoiada não se confunde com os institutos da curatela e tutela, pois não se trata de
proteger a pessoa limitada em sua capacidade de fato ou de exercício ou impossibilitada de autogoverno.
• A capacidade é plena, o próprio interessado pode solicitar o término do acordo realizado para a tomada
de decisão apoiada. O Estatuto da Pessoa com Deficiência permite tanto a resilição unilateral (como
poder potestativo) quanto a denúncia motivada (negligência, sem necessidade de que prejuízo).
REFLEXÕES SOBRE A TUTELA E CURATELA A PARTIR DA COMPREENSÃO
DOS TRIBUNAIS

• Não obstante a possibilidade de aplicação de normas da curatela, no que for cabível, os dois
institutos não se confundem.

Por essa razão, conforme se extrai da interpretação sistemática dos §§ 1º, 2º e 3º do art. 1.783-A,
a tomada de decisão apoiada exige requerimento da pessoa com deficiência, que detém a
legitimidade exclusiva para pleitear a implementação da medida, não sendo possível a sua
instituição de ofício pelo juiz (STJ, 3ª Turma, REsp 1.795.395/MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, j.
04.05.2021, DJe 06.05.2021).
Procedimento voluntário, caráter não litigioso
Agravo de instrumento. Ação de tomada de decisão apoiada com pretensão de curadoria. Decisão que indeferiu
a antecipação de tutela para decretação da medida de apoio em favor do requerido. Insurgência recursal dos
requerentes. Não acolhimento. Tomada de decisão apoiada. Antecipação de tutela. Não provimento. Necessidade de
adequação do rito processual. Demanda proposta de maneira contenciosa. Irregularidade formal. Art. 1.783-A
do Código Civil. Lavratura de termo exclusivamente após a oitiva pessoal do apoiado e do Ministério Público.
Inteligência do § 3º do citado artigo. Pretensão incongruente com o procedimento eleito pelos requerentes. Emenda
da inicial determinada de ofício. Recurso conhecido e não provido com determinação, de ofício, de readequação do
procedimento judicial para a pretensão exarada. 1. A incongruência procedimental impõe dúvida sobre a
pretensão de curatela ou efetivamente a tomada de decisão apoiada, pelo que o recurso não merece
provimento (TJPR, 11ª C. Cível, 0038982-33.2021.8.16.0000/Ipiranga, Rel. Des. Lenice Bodstein, j. 04.11.2021).
Curatela
• Inclui apenas a incapacidade relativa quando demonstrada a deficiência qualificada:
aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade
(art. 4º, III, do CC).

“[…] o legislador optou por localizar a incapacidade no conjunto de circunstâncias que


evidenciem a impossibilidade real e duradoura da pessoa querer e entender – e que,
portanto, justifiquem a curatela –, sem que o ser humano, em toda a sua
complexidade, seja reduzido ao âmbito clínico de um impedimento psíquico ou
intelectual” (ROSENVALD, 2015, p. 744).
Curatela
• O deslocamento da hipótese da deficiência mental qualificada para a incapacidade
relativa, mediante previa avaliação multidisciplinar e multiprofissional, permite que a curatela
seja proporcional, limitada a aspectos patrimoniais e econômicos. Ficam resguardados os
aspectos existenciais da pessoa, tais como a intimidade, a vida familiar, sexual, educação etc.

EPD
“Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de
natureza patrimonial e negocial.
§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao
matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.”
Limites – aspectos negociais (econômicos) habitualmente

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INTERDIÇÃO. LEI N.º 13.146, DE 2015. APLICABILIDADE.
CURATELA. LIMITAÇÃO AOS ATOS DE NATUREZA NEGOCIAL E PATRIMONIAL. RECURSO
PROVIDO.
1. A Lei 13.146, de 2015, Estatuto da Pessoa com Deficiência, alterou a definição de pessoas incapazes, limitou a
curatela aos atos de natureza negocial e patrimonial e criou a tomada de decisão apoiada para proteger as pessoas
em situação de vulnerabilidade.
2. Assim, torna-se de rigor restringir a curatela às questões de cunho negocial e patrimonial, sobretudo quando há
elementos indicativos de que a medida se revela adequada e suficiente para salvaguardar os interesses do incapaz.
3. Apelação cível conhecida e provida para limitar a curatela aos atos de cunho negocial e patrimonial (TJMG, 2.ª
Câmara Cível, Apelação Cível 1.0000.20.602262-6/001, Rel. Des. Caetano Levi Lopes, j. 18.05.2021, publicação
da súmula em 19.05.2021). Grifou-se
O transtorno mental transitório ou mesmo a constatação de transtorno mental não é por
si só deficiência qualificada
Trecho de ementa: RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL. CITAÇÃO EM NOME
DE INCAPAZ. INCAPACIDADE DECLARADA POSTERIORMENTE. NULIDADE NÃO RECONHECIDA. INTERVENÇÃO
DO MP. NULIDADE. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DO PREJUÍZO. ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA.
LEI N. 13.146/2015. DISSOCIAÇÃO ENTRE TRANSTORNO MENTAL E INCAPACIDADE.
…. 8. Nos termos do novel Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei n. 13.146 de 2015, pessoa com deficiência é a que possui
impedimento de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial (art. 2º), não devendo ser mais tecnicamente
considerada civilmente incapaz, na medida em que a deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa (conforme os arts. 6º e
84).
9. A partir do novo regramento, observa-se uma dissociação necessária e absoluta entre o transtorno mental e o reconhecimento da
incapacidade, ou seja, a definição automática de que a pessoa portadora de debilidade mental, de qualquer natureza, implicaria a
constatação da limitação de sua capacidade civil deixou de existir.
10. Recurso especial a que se nega provimento (STJ, REsp 1.694.984/MS, 4ª Turma, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 14.11.2017,
DJe 1º.02.2018). (Grifou-se)
Referências

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DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 29. ed. São Paulo:
Saraiva, 2012. v. 1.
GOMES, Orlando. Introdução ao direito civil. Coordenador e atualizador Edvaldo Brito; atualizadora
Reginalda Paranhos de Brito. 22. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: parte geral. 20. ed. São Paulo : SaraivaJur,
2022.
LOTUFO, Renan. Código Civil comentado: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2004. v. 1.
MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus; CORREIA, Atalá; CAPUCHO, Fábio Jun. Direitos da
personalidade: a contribuição de Silmara J. A. Chinellato. Barueri: Manole, 2019.
Referências
MARTINS-COSTA, Judith; MÖLLER, Letícia Ludwig (org.). Bioética e responsabilidade. Rio de Janeiro:
Forense, 2009.
MARTINS-COSTA, Judith. Capacidade de consentir e esterilização de mulheres. In: MARTINS-COSTA,
Judith; MÖLLER, Letícia Ludwig (org.). Bioética e responsabilidade. Rio de Janeiro: Forense, 2009.
MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da validade. 15. ed. São Paulo: Saraiva
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PASSARELLI, Francesco Santoro. Teoria geral do direito civil. Tradução Manoel Alarcão. Coimbra:
Atlântida, 1967.
ROSENVALD, Nelson. Curatela. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (org.). Tratado de direito das famílias.
Belo Horizonte: IDFAM, 2015.
TARTUCE, Flávio. Direito civil: lei de introdução e parte geral. Rio de Janeiro: Forense, 2021.
TEPEDINO, Gustavo; OLIVA, Milena Donato. Teoria geral do direito civil. 2. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2021.

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