Você está na página 1de 227

DIREITO CIVIL

PESSOA NATURAL (ART. 1º AO 39 DO CÓDIGO CIVIL)


PERSONALIDADE JURÍDICA

• Atributo de todas as pessoas


• Personalidade x capacidade de direito (gozo) x capacidade de fato (exercício)
• Pessoa natural (ou física) + pessoa jurídica + ente despersonalizado = sujeito de direitos
• Para Paulo Lôbo, sujeito de direitos é gênero no qual se incluem as pessoas e os entes
despersonalizados: “Pessoa é o sujeito de direito dotado de capacidade plena ou ilimitada
na ordem civil. Os entes não personificados são sujeitos de direito dotados de capacidade
jurídica limitada à sua proteção ou à consecução de seus fins” (p. 92).
PERSONALIDADE JURÍDICA

• Entes despersonalizados e excepcional capacidade postulatória e de direito


• Condomínio é ente despersonalizado, mas pode adquirir unidade imobiliária (art. 63, §3º
da Lei 4.591/64).
• Condomínio é ente despersonalizado, por isso não tem honra objetiva e não sofre dano
moral (STJ)
• Súmula 525-STJ: A Câmara de vereadores não possui personalidade jurídica,
apenas personalidade judiciária, somente podendo demandar em juízo para
defender os seus direitos institucionais.
PESSOA NATURAL

• Capacidade de direito (genérica, gozo): “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na


ordem civil” (art. 1º)
• Capacidade de fato (exercício): absolutamente incapaz, relativamente incapaz e capaz
• Legitimidade, legitimação ou capacidade específica
PESSOA NATURAL – INÍCIO DA PERSONALIDADE

• “A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo,
desde a concepção, os direitos do nascituro” (art. 2º)
• Teorias sobre o início da personalidade: (a) natalista; (b) concepcionista; (c)
personalidade condicional do nascituro
PESSOA NATURAL – NASCITURO

• Nascituro teria personalidade formal (direitos de personalidade do nascituro), mas personalidade


material (direitos patrimoniais) condicionada ao nascimento com vida (Maria Helena Diniz)
• O Ministro Relator afirmou expressamente que, em sua opinião, “o ordenamento jurídico
como um todo — e não apenas o Código Civil de 2002 — alinhou-se mais à teoria
concepcionista para a construção da situação jurídica do nascituro, conclusão
enfaticamente sufragada pela majoritária doutrina contemporânea”.
STJ. 4ª Turma. REsp 1415727-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 4/9/2014
(Info 547)
• Distinção entre embrião, nascituro e prole eventual
PESSOA NATURAL – NASCITURO

• Direitos do nascituro (Pablo e Pamplona):

a) Titular de direitos personalíssimos


b) Pode receber doação
c) Pode ser beneficiado por legado e herança
d) Objeto do crime de aborto
e) Direito à realização do DNA
f) Alimentos gravídicos (direito da genitora ou do nascituro? Paulo Lôbo defende ser da genitora)
PESSOA NATURAL – NASCITURO

• É cabível indenização do DPVAT por morte do feto em acidente de trânsito


• É cabível indenização por danos morais ao nascituro pela morte do seu pai, mesmo antes
do seu nascimento. No entanto, o valor será inferior ao devido ao filho vivo, que
conheceu o genito.
CAPACIDADE DE FATO (EXERCÍCIO)

• Teoria das incapacidades


• Só é absolutamente incapaz o menor de 16 anos
• Pessoa com deficiência não é mais incapaz
INCAPACIDADE ABSOLUTA

• “São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os


menores de 16 (dezesseis) anos” (art. 3º)
INCAPACIDADE RELATIVA

• Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos ou à maneira de os exercer: 


(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

• I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;


• II - os ébrios habituais e os viciados em tóxico; (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) 
(Vigência)
• III - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade; 
(Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)

• IV - os pródigos.
• Parágrafo único.  A capacidade dos indígenas será regulada por legislação especial.
CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
(LEI 13.146)
• Art. 6º A deficiência não afeta a plena capacidade civil da pessoa, inclusive para:
• I - casar-se e constituir união estável;
• II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
• III - exercer o direito de decidir sobre o número de filhos e de ter acesso a informações adequadas
sobre reprodução e planejamento familiar;
• IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterilização compulsória;
• V - exercer o direito à família e à convivência familiar e comunitária; e
• VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e à adoção, como adotante ou adotando, em
igualdade de oportunidades com as demais pessoas.
CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
(LEI 13.146)
• Art. 84 (...)
• § 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva extraordinária, proporcional
às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o menor tempo possível.
• Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de natureza patrimonial e negocial.
• § 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade, ao matrimônio, à
privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.
• § 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as razões e motivações de sua
definição, preservados os interesses do curatelado.
• § 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o juiz deve dar preferência a
pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou comunitária com o curatelado
CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
(LEI 13.146)
• Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada é o processo pelo qual a pessoa
com deficiência elege pelo menos 2 (duas) pessoas idôneas, com as quais
mantenha vínculos e que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na
tomada de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos e
informações necessários para que possa exercer sua capacidade.
CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
(LEI 13.146)
• Depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), que alterou os arts. 3º e 4º do Código Civil, não é mais possível declarar
como absolutamente incapaz o maior de 16 anos que, em razão de enfermidade permanente, encontra-se inapto para gerir sua pessoa e
administrar seus bens de modo voluntário e consciente.
A Lei nº 13.146/2015 teve por objetivo assegurar e promover a inclusão social das pessoas com deficiência física ou psíquica e garantir o
exercício de sua capacidade em igualdade de condições com as demais pessoas.
A partir da entrada em vigor da referida lei, só podem ser considerados absolutamente incapazes os menores de 16 anos, ou seja,o critério
passou a ser apenas etário, tendo sido eliminadas as hipóteses de deficiência mental ou intelectual anteriormente previstas no Código Civil.
O instituto da curatela pode ser excepcionalmente aplicado às pessoas com deficiência, ainda que agora sejam consideradas relativamente
capazes, devendo, contudo, ser proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso concreto (art. 84, § 3º, da Lei nº
13.146/2015).
STJ. 3ª Turma. REsp 1927423/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

• Cuidado: a lei é clara quanto à capacidade das pessoas com deficiência (Pablo Stolze). Mas o entendimento do STJ – já cobrado em prova –
é de que a situação poderia se enquadrar no art. 4º, inc. III (incapacidade relativa)
CAPACIDADE DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
(LEI 13.146)
• São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015, que
determinam que as escolas privadas ofereçam atendimento educacional
adequado e inclusivo às pessoas com deficiência sem que possam cobrar
valores adicionais de qualquer natureza em suas mensalidades, anuidades e
matrículas para cumprimento dessa obrigação.
STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
9/6/2016 (Info 829).
EMANCIPAÇÃO

• Art. 5 o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da
vida civil.
• Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
• I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
• II - pelo casamento;
• III - pelo exercício de emprego público efetivo;
• IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
• V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o
menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
EMANCIPAÇÃO

• VOLUNTÁRIA
• JUDICIAL
• LEGAL
EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL: MORTE

- Ausência
- Morte presumida
- Comoriência
- Art. 8 o Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo
averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão
simultaneamente mortos.
EXTINÇÃO DA PESSOA NATURAL: MORTE

• Art. 6 o A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
• Art. 7 o Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
• I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
• II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após
o término da guerra.
• Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois
de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
AUSÊNCIA – CURADORIA DOS BENS DO
AUSENTE
•Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba
administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.
•Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou
continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.
•Art. 24. O juiz, que nomear o curador, fixar-lhe-á os poderes e obrigações, conforme as circunstâncias, observando, no que for aplicável, o disposto
a respeito dos tutores e curadores.
•Art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será
o seu legítimo curador.
•§ 1 o Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os
iniba de exercer o cargo.
•§ 2 o Entre os descendentes, os mais próximos precedem os mais remotos.
•§ 3 o Na falta das pessoas mencionadas, compete ao juiz a escolha do curador.
AUSÊNCIA – SUCESSÃO PROVISÓRIA

•Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
•Art. 27. Para o efeito previsto no artigo anterior, somente se consideram interessados:
•I - o cônjuge não separado judicialmente;
•II - os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
•III - os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte;
•IV - os credores de obrigações vencidas e não pagas.
•Art. 28. A sentença que determinar a abertura da sucessão provisória só produzirá efeito cento e oitenta dias depois de publicada pela imprensa; mas, logo
que passe em julgado, proceder-se-á à abertura do testamento, se houver, e ao inventário e partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido.
•§ 1 o Findo o prazo a que se refere o art. 26, e não havendo interessados na sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo
competente.
•§ 2 o Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a
sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
AUSÊNCIA – SUCESSÃO PROVISÓRIA

•Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis ou
em títulos garantidos pela União.
•Art. 30. Os herdeiros, para se imitirem na posse dos bens do ausente, darão garantias da restituição deles, mediante penhores ou hipotecas equivalentes
aos quinhões respectivos.
•§ 1 o Aquele que tiver direito à posse provisória, mas não puder prestar a garantia exigida neste artigo, será excluído, mantendo-se os bens que lhe deviam
caber sob a administração do curador, ou de outro herdeiro designado pelo juiz, e que preste essa garantia.
•§ 2 o Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na
posse dos bens do ausente.
• Art. 31. Os imóveis do ausente só se poderão alienar, não sendo por desapropriação, ou hipotecar, quando o ordene o juiz, para lhes evitar a ruína.
• Art. 32. Empossados nos bens, os sucessores provisórios ficarão representando ativa e passivamente o ausente, de modo que contra eles correrão as ações pendentes e
as que de futuro àquele forem movidas.
AUSÊNCIA – SUCESSÃO PROVISÓRIA

• Art. 33. O descendente, ascendente ou cônjuge que for sucessor provisório do ausente, fará seus todos os frutos e rendimentos dos bens que a
este couberem; os outros sucessores, porém, deverão capitalizar metade desses frutos e rendimentos, segundo o disposto no art. 29, de acordo
com o representante do Ministério Público, e prestar anualmente contas ao juiz competente.
• Parágrafo único. Se o ausente aparecer, e ficar provado que a ausência foi voluntária e injustificada, perderá ele, em favor do sucessor, sua parte
nos frutos e rendimentos.
• Art. 34. O excluído, segundo o art. 30, da posse provisória poderá, justificando falta de meios, requerer lhe seja entregue metade dos
rendimentos do quinhão que lhe tocaria.
• Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor
dos herdeiros, que o eram àquele tempo.
• Art. 36. Se o ausente aparecer, ou se lhe provar a existência, depois de estabelecida a posse provisória, cessarão para logo as vantagens dos
sucessores nela imitidos, ficando, todavia, obrigados a tomar as medidas assecuratórias precisas, até a entrega dos bens a seu dono.
AUSÊNCIA – SUCESSÃO DEFINITIVA

• Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os
interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
• Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de
cinco datam as últimas notícias dele.
• Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes
ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu
lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.
• Parágrafo único. Se, nos dez anos a que se refere este artigo, o ausente não regressar, e nenhum interessado promover a
sucessão definitiva, os bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se localizados nas
respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da União, quando situados em território federal.
NOÇÕES DE REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS
NATURAIS
• Art. 9 o Serão registrados em registro público:
• I - os nascimentos, casamentos e óbitos;
• II - a emancipação por outorga dos pais ou por sentença do juiz;
• III - a interdição por incapacidade absoluta ou relativa;
• IV - a sentença declaratória de ausência e de morte presumida.
• Art. 10. Far-se-á averbação em registro público:
• I - das sentenças que decretarem a nulidade ou anulação do casamento, o divórcio, a separação judicial e o
restabelecimento da sociedade conjugal;
• II - dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação;
DIREITOS DA PERSONALIDADE

- Direitos humanos x direitos fundamentais x direitos de personalidade

- Dois aspectos da personalidade:


a) Subjetivo (capacidade de ser titular de direitos e obrigações)
b) Objetivo (“conjunto de características e atributos da pessoa humana, considerada como objeto de
proteção por parte do ordenamento jurídico” (Tepedino))

- A problemática da ponderação e a insuficiência do Código Civil para tratar da matéria


CARACATERÍSTICAS DOS DIREITOS DA
PERSONALIDADE
- Extrapatrimonialidade
- Generalidade
- Caráter absoluto (erga omnes)
- Não taxatividade (elasticidade)
- Imprescritibilidade (prevalece que a reparação civil pelos danos prescreve (exceções: dano ambiental,
STF RE 654833; indenização por danos decorrentes de perseguição política com violação de direitos
fundamentais durante o regime civil-militar ditatorial – STJ, s. 647); em sentido contrário: Maria Helena
Diniz)
- Inalienabilidade, indisponibilidade e intransmissibilidade
AUTOLIMITAÇÃO DOS DIREITOS DA
PERSONALIDADE
- Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
- Crítica: norma distante da realidade
- Enunciado 4 da I Jornada de Direito Civil: “O exercício dos direitos da personalidade
pode sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”.
TUTELA DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE

• Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e
reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
• Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida
prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou
colateral até o quarto grau.
DIREITO AO CORPO

• Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
• Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma
estabelecida em lei especial.
• Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no
todo ou em parte, para depois da morte.
• Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
• Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
intervenção cirúrgica.
DIREITO AO CORPO

• A disposição do próprio corpo é limitada para evitar “mercado humano”


• Cirurgia de transgenitalização - a exigência médica para a disposição do próprio corpo é
criticada por Schreiber: “A supervalorização do parâmetro médico pode estimular uma
abordagem desfavorável de certas questões (...). Sob um manto aparentemente benéfico,
porque supera histórica resistência jurisprudencial à mudança de sexo, essa abordagem
presta um desserviço evidente ao converter o debate – jurídico e ético – em torno da
identidade de gênero em uma discussão puramente técnica, que reduz toda a imensa
questão da autodeterminação corporal a um ‘tratamento’ de enfermidade ou doença”.
DIREITO À HONRA

- Não é possível pessoa jurídica de direito público pleitear, contra particular,


indenização por dano moral relacionado à violação da honra ou da imagem.
Exceção: se a credibilidade institucional for atingida por esquema criminoso
DIREITO À IMAGEM

• “Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou empresariais”
(súmula 403, STJ)
• Tal súmula não se aplica: para divulgação de fato histórico de repercussão social, representação da imagem de pessoa como coadjuvante em
documentário de obra biográfica
• O uso, por sociedade empresária, de imagem de pessoa física fotografada isoladamente em local público, em meio a cenário
destacado, configura dano moral mesmo que não tenha havido nenhuma conotação ofensiva ou vexaminosa na divulgação. O
dano moral é decorrente tão somente do fato de ter sido usada a imagem da pessoa sem a sua autorização.
• O uso não autorizado da imagem de atleta em cartaz de propaganda de evento esportivo, ainda que sem finalidade lucrativa ou
comercial, enseja reparação por danos morais, independentemente da comprovação de prejuízo.
A obrigação da reparação pelo uso não autorizado de imagem decorre da própria utilização indevida do direito personalíssimo.
Assim, a análise da existência de finalidade comercial ou econômica no uso é irrelevante.
O dano, por sua vez, conforme a jurisprudência do STJ, apresenta-se in re ipsa, sendo desnecessária, portanto, a demonstração
de prejuízo para a sua aferição.
DIREITO À IMAGEM

• O uso da imagem de torcedor inserido no contexto de uma torcida não induz a reparação
por danos morais quando não configurada a projeção, a identificação e a individualização
da pessoa nela representada
• Inexistência do direito à indenização em razão da divulgação, no jornal, de imagem do
cadáver morto em via pública
• Configura dano moral indenizável a divulgação não autorizada da imagem de
alguém em material impresso de propaganda político-eleitoral,
independentemente da comprovação de prejuízo.
DIREITO À IMAGEM

- Para o STJ, tratando-se de imagem de multidão, de pessoa famosa ou ocupante de cargo


público, deve ser ponderado se, dadas as circunstâncias do caso concreto, a exposição
da imagem é ofensiva à privacidade ou à intimidade do retratado, ou que poderia ensejar
algum dano patrimonial ou extrapatrimonial. Há, nessas hipóteses, em regra, presunção
de consentimento do uso da imagem, desde que preservada a vida privada.
Nesse sentido, não há violação ao direito à imagem no caso em que foi utilizada
fotografia de magistrado (pessoa ocupante de cargo público de notória importância
social) para ilustrar MATÉRIA JORNALÍSTICA pertinente, sem invasão da vida privada do
retratado.
DIREITO À IMAGEM

• Lucro de intervenção:
• “Determinada “farmácia de manipulação” utilizou o nome e a imagem da atriz Giovanna Antonelli, sem a sua autorização, em
propagandas de um remédio para emagrecer.
O STJ afirmou que, além da indenização por danos morais e materiais, a atriz também tinha direito à restituição de todos os benefícios
econômicos que a ré obteve na venda de seus produtos (restituição do “lucro da intervenção”).
Lucro da intervenção é uma vantagem patrimonial obtida indevidamente com base na exploração ou aproveitamento, de forma não
autorizada, de um direito alheio.
Dever de restituição do lucro da intervenção é o dever que o indivíduo possui de pagar aquilo que foi auferido mediante indevida
interferência nos direitos ou bens jurídicos de outra pessoa.
A obrigação de restituir o lucro da intervenção é baseada na vedação do enriquecimento sem causa (art. 884 do CC).
A ação de enriquecimento sem causa é subsidiária. Apesar disso, nada impede que a pessoa prejudicada ingresse com ação cumulando
os pedidos de reparação dos danos (responsabilidade civil) e de restituição do indevidamente auferido (lucro da intervenção).
Para a configuração do enriquecimento sem causa por intervenção, não se faz imprescindível a existência de deslocamento patrimonial,
com o empobrecimento do titular do direito violado, bastando a demonstração de que houve enriquecimento do interventor”
DIREITO À PRIVACIDADE

- Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado,
adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma.
• Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da
ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição
ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem
prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade,
ou se se destinarem a fins comerciais. 
• Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa
proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
DIREITO À PRIVACIDADE

- Excepcionalmente, é possível que o Judiciário determine o rompimento do vínculo estabelecido por sites de busca entre o
nome da pessoa, utilizado como critério exclusivo de busca, e a notícia desabonadora apontada nos resultados
- Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar evidenciado de maneira flagrante é irrelevante
para a configuração dos danos morais
- “É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas literárias ou audiovisuais,
sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso
de pessoas falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus direitos foram violados pela
publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não apenas por meio de indenização pecuniária, como
também por outras formas, tais como a publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de
resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
DIREITO À PRIVACIDADE

• Direito ao esquecimento: já foi admitido pelo STJ, mas o STF não acatou a tese: É incompatível
com a Constituição a ideia de um direito ao esquecimento, assim entendido como o
poder de obstar, em razão da passagem do tempo, a divulgação de fatos ou dados
verídicos e licitamente obtidos e publicados em meios de comunicação social
analógicos ou digitais. Eventuais excessos ou abusos no exercício da liberdade de
expressão e de informação devem ser analisados caso a caso, a partir dos parâmetros
constitucionais – especialmente os relativos à proteção da honra, da imagem, da
privacidade e da personalidade em geral – e as expressas e específicas previsões legais
nos âmbitos penal e cível. STF. Plenário. RE 1010606/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado
em 11/2/2021 (Repercussão Geral – Tema 786) (Info 1005).
DIREITOS DE PERSONALIDADE - NOME

• Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
• Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.
• Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
• Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao
nome.
DIREITOS DE PERSONALIDADE - NOME

• Princípio da imutabilidade relativa do nome


• Art. 56. O interessado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, poderá,
pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde que não
prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada
pela imprensa.                   (Renumerado do art. 57, pela Lei nº 6.216, de 1975).
• Art. 57.  A alteração posterior de nome, somente por exceção e motivadamente, após
audiência do Ministério Público, será permitida por sentença do juiz a que estiver sujeito o
registro, arquivando-se o mandado e publicando-se a alteração pela imprensa, ressalvada a
hipótese do art. 110 desta Lei.               (Redação dada pela Lei nº 12.100, de 2009).
NOME: CAPÍTULO XVII DAS NESCGJ/SP

• 33. O Oficial deverá evitar os registros suscetíveis de expor a ridículo seus portadores, e, se houver insistência do
interessado, submeter o caso ao Juiz Corregedor Permanente, independente da cobrança de quaisquer emolumentos.630
33.1. Os Oficiais de Registro Civil poderão orientar os pais acerca da conveniência de acrescer mais de um sobrenome
ao prenome dos filhos, a fim de se evitar prejuízos à pessoa em razão da homonímia. 631 33.2. Poderão ser adotados
sobrenomes do pai, da mãe ou de ambos, em qualquer ordem, permitida intercalação. 632 33.3. No caso de gêmeos, o
Oficial deverá declarar no assento especial de cada um a ordem do nascimento. Os gêmeos que tiverem prenome igual
deverão ser inscritos com duplo prenome ou nome completo diverso, de modo que possam distinguir-se.633 33.4. A
mesma regra será aplicada aos irmãos a que se pretende dar o mesmo prenome.634 34. A mudança de nome, após o
decurso do prazo de um ano da maioridade civil, está sujeita à apreciação judicial, arquivando-se o mandado ou
procedimento extrajudicial, e publicando-se a alteração pela imprensa. 635 34.1. Entende-se como publicação pela
imprensa aquela feita da própria sentença, nela devendo ser mencionados o nome constante do registro e aquele que
passa a ser adotado por força da decisão.636
DIREITOS DE PERSONALIDADE - NOME

• 35. O registrado, no primeiro ano após ter atingido a maioridade civil e independentemente de justo motivo, nos termos do art. 56 da Lei
6.015/73, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, requerer a alteração de seu nome em seu registro de nascimento perante o Oficial
de Registro Civil das Pessoas Naturais detentor do assento ou aquele que melhor convier ao requerente, sendo que neste último caso deverá
ser encaminhado ao oficial competente, às expensas do requerente, por meio da Central de Informações do Registro Civil (CRC), sem a
necessidade de audiência do Ministério Público e autorização do Juiz Corregedor Permanente. 63 36. Os prenomes são definitivos e somente
serão admitidas retificações e alterações nos seguintes casos: 642 a) evidente erro gráfico; b) alteração imotivada do art. 56 da Lei 6.015/73;
c) alteração de nome de pessoa transgênero; d) exposição de seus portadores ao ridículo, e) substituições ou acréscimos de apelidos públicos
notórios; e f) alterações em razão de proteção à testemunha. 36.1. Será imprescindível decisão judicial nos casos das letras “d”, “e” e “f” do
item 36. 64 Nos casos de diagnóstico de Anomalias de Diferenciação Sexual – ADS em recém-nascidos, o Registrador deverá lançar no
registro de nascimento o sexo como ignorado, conforme constatação médica lançada na Declaração de Nascido Vivo – DNV. 37.1.1. O
declarante do registro poderá escolher prenome neutro, masculino ou feminino. 37.1.2. Enquanto o registrado for menor, qualquer um dos
representantes legais poderá requerer ao registrador a averbação do sexo que predominou, apresentando para tanto laudo firmado por médico
com a indicação da inscrição no Conselho Regional de Medicina. Nesta averbação poderá também ser alterado o prenome, para adequá-lo ao
sexo do registrado.
DIREITOS DE PERSONALIDADE – NOME –
JURISPRUDÊNCIA
• O mero desejo pessoal não é motivo justificável para a alteração do prenome
• É admissível a exclusão de prenome da criança na hipótese em que o pai informou, perante o cartório de registro civil, nome diferente
daquele que havia sido consensualmente escolhido pelos genitores
• É admissível o retorno ao nome de solteiro do cônjuge ainda na constância do vínculo conjugal
• É possível a retificação do registro civil para acréscimo do segundo patronímico do marido ao nome da mulher durante a convivência
matrimonial
• É permitido incluir ao seu nome o sobrenome do outro, ainda que após a data da celebração do casamento. Vale ressaltar, no entanto, que
esse acréscimo terá que ser feito por intermédio da ação de retificação de registros públicos, nos termos dos arts. 57 e 109 da Lei de
Registros Públicos (Lei nº 6.015/1973). Assim, não será possível a alteração pela via administrativa, mas somente em juízo.
• Possibilidade de voltar o nome de solteira após a morte do marido
• Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de transgenitalização e mesmo sem autorização
judicial
DIREITOS DE PERSONALIDADE – NOME –
JURISPRUDÊNCIA
• É possível a alteração de registro civil após aquisição de dupla cidadania para não sofrer
transtornos no outro país, desde que não cause prejuízo a terceiros
• É direito subjetivo da pessoa retificar seu patronímico no registro de nascimento de seus
filhos após divórcio.
• O direito da pessoa de portar um nome que não lhe remeta às angústias decorrentes do abandono
paterno e, especialmente, corresponda à sua realidade familiar, sobrepõe-se ao interesse público de
imutabilidade do nome, já excepcionado pela própria Lei de Registros Públicos.
• É possível alterar o registro de nascimento para nele fazer constar o nome de solteira da
genitora, excluindo o patronímico do ex-padrasto.
PESSOA JURÍDICA

• Ente jurídico invisível com capacidade jurídica: distinção com entes despersonalizados

• Teorias: realidade (teoria do órgão – presentação) x ficção

• Pressupostos (Elias, Costa-Neto) vontade humana, previsão legal, licitude do objeto

• Elementos (Paulo Lôbo): capacidade jurídica autônoma; autonomia patrimonial; limitação de responsabilidade;
reconhecimento estatal
PESSOA JURÍDICA

• Espécies: direito público e direito privado

• Espécies de direito privado (obs. Eireli foi extinta):


1. Sociedade (visa ao lucro)
2. Fundação (universalidade de bens afetados. Obs. fundação autárquica é pessoa jurídica de direito público)
3. Associação
4. Partido político
5. Entidade religiosa
PESSOA JURÍDICA

• Universalidade de pessoas x universalidade de bens – dicotomia superada com Eireli e


sociedades unipessoais?

• Início da pessoa jurídica: contrato social (ou estatuto social) + registro (RCPJ, OAB ou Junta)

• Partidos políticos e sindicatos: registro posterior no TSE e no Ministério


PESSOA JURÍDICA

• Formalidades: escritura pública para os atos constitutivos?

• Necessidade de autorização estatal?


PESSOA JURÍDICA

• Desconsideração da personalidade jurídica: teoria maior (CC/02) x teoria menor (CDC,


responsabilidade ambiental, responsabilidade trabalhista)

• Desvio de finalidade x confusão patrimonial

• Aspectos processuais: incidente, necessidade de citação, suspensão dos autos, impossibilidade


de determinação de ofício, resolve-se por decisão interlocutória
PESSOA JURÍDICA

• Extinção da pessoa jurídica


• Três etapas:
1) Dissolução em sentido estrito (averba-se no registro)
2) Liquidação/partilha
3) Cancelamento (averba-se no registro)
PESSOA JURÍDICA

• Extinção da pessoa jurídica


• Três etapas:
1) Dissolução em sentido estrito (averba-se no registro)
2) Liquidação/partilha
3) Cancelamento (averba-se no registro)
PESSOA JURÍDICA - ASSOCIAÇÃO

• Reunião de pessoas sem fins econômicos (pode haver atividade lucrativa, mas sem
distribuição de lucros)
• Igualdade entre associados da mesma categoria
• Vedação de arbitrariedades (exclusão por justa causa com ampla defesa)
• Qualidade de associado, em regra, não é transmissível
• Assembleia-geral: destituição e alteração do estatuto
PESSOA JURÍDICA - ASSOCIAÇÃO

• Direito da minoria (1/5) de convocar assembleia


• Destino da sobra patrimonial: não pode ser repartida entre os associados (exceto até o valor das
contribuições, se houver previsão estatutária ou deliberação – controvérsia)
• Associação pode indeferir o ingresso de alguém; não, porém, sua saída (inclusive se houver
contribuição pendente)
• Obs. Lei 14.193/21 permitiu que associação que exerça atividade futebolística seja considerada
empresária e registrada na Junta Comercial (crítica: perde o caráter associativo, pois visa ao lucro)
PESSOA JURÍDICA - FUNDAÇÃO

• Patrimônio afetado a uma finalidade prevista no estatuto (universitas bonorum – universalidade de bens x universitas personarum –
universalidade de pessoas)
• Fiscalização pelo MP
• Rol taxativo? Elias e Costa-Neto: sim, com possibilidade de interpretação extensiva
• 4 etapas de criação:
1. Dotação ou instituição (escritura pública ou testamento)
2. Elaboração do estatuto (pelo instituidor ou pessoa indicada pelo prazo por ele assinado, ou 180 dias; transcorrido o prazo, MP
elabora)
3. Aprovação do estatuto (pelo MP, com recurso ao Judiciário)
4. Registro (registra-se o estatuto)
PESSOA JURÍDICA - FUNDAÇÃO

• Alteração do estatuto: 2/3, mantido o fim social, que é imutável, e aprovação do MP


• Extinção: prazo de existência expirou ou objeto se tornou ilícito, impossível ou inútil
(procedimento judicial)
• Destinação do patrimônio: outra fundação, salvo disposição diversa no estatuto
PESSOA JURÍDICA – ENTIDADE RELIGIOSA

• Aplicam-se as regras previstas para a associação, observadas algumas particularidades


PESSOA JURÍDICA – DANOS MORAIS

• Em regra, a pessoa jurídica de direito privado pode sofrer danos morais (ou
institucionais); a de direito público, não (embora haja controvérsia, com decisão do STJ
em sentido contrário)
AULA 3 – 17/05/22

• DOMICÍLIO (art. 70/78 – Ainda no Livro I da Parte Geral: Das Pessoas: Título I – Naturais; Título II –
Jurídicas; Título III - Domicílio)

• BENS (art. 79/103 – Livro II da Parte Geral)

• TEORIA DOS FATOS JURÍDICOS (arts. 104/232 - Livro III da Parte Geral, que engloba negócio
jurídico (Título I), atos jurídicos lícitos (Título II), atos ilícitos (Título III), prescrição e decadência
(Título IV), prova (Título V))
DOMICÍLIO – CONCEITO E IMPORTÂNCIA

• “O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo
definitivo.” (art. 70) – é a sede jurídica da pessoa, com dois elementos: objetivo e subjetivo
• Na moradia (habitação) e na residência, não há ânimo definitivo: a primeira é mais precária
(p. ex., hospedagem durante as férias) do que a segunda (que é temporária, mas não precária)
• Normalmente, a lei dá importância somente ao domicílio (embora haja exceção): fixação de
competência; fixação de legislação aplicável (art. 7º, LINDB)
DOMICÍLIO - PRINCÍPIOS

• Cogência domiciliar (ou indeclinabilidade) e teoria do domicílio aparente


“Ter-se-á por domicílio da pessoa natural, que não tenha residência habitual, o lugar onde
for encontrada.” (art. 73)

• Pluralidade domiciliar
“Se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde, alternadamente, viva,
considerar-se-á domicílio seu qualquer delas.” (art. 71)
DOMICÍLIO – ESPÉCIES

• Voluntário
- Geral: escolha do indivíduo quanto à sua residência com ânimo definitivo
- Especial: “Nos contratos escritos, poderão os contratantes especificar domicílio onde se exercitem e cumpram os direitos e obrigações
deles resultantes.” (art. 78) – No Direito do Consumidor, entende-se ser nula a cláusula de eleição de foro quando dificultar o acesso à
justiça

• Legal

“Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor público, o militar, o marítimo e o preso. Parágrafo único. O domicílio do
incapaz é o do seu representante ou assistente; o do servidor público, o lugar em que exercer permanentemente suas funções;
o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente
subordinado; o do marítimo, onde o navio estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir a sentença.” (art. 76)
DOMICÍLIO - ESPÉCIES

• Profissional (não confundir o domicílio profissional com o domicílio legal)


“É também domicílio da pessoa natural, quanto às relações concernentes à profissão, o
lugar onde esta é exercida.
Parágrafo único. Se a pessoa exercitar profissão em lugares diversos, cada um deles
constituirá domicílio para as relações que lhe corresponderem.” (art. 72)
DOMICÍLIO – ANÁLISE CRÍTICA

“Impõe-se uma abordagem do domicílio que não se limite à sua identificação para fins de
cumprimento de direitos patrimoniais de terceiros, mas que também o eleve a centro de
proteção substancial da pessoa humana, em suas garantias fundamentais (...). Entendido este
direito não apenas como uma proteção em face da interferência de terceiros, mas, sobretudo,
como uma garantia de acesso à moradia, sua efetivação esbarra em obstáculos de ordem
normativa, material e social” (Anderson Schreiber)
Deve-se observar a inviolabilidade de domicílio (que, na verdade, abrange mesmo a própria
hospedagem) – importantíssimo para o processo penal – e a EC 26/2000, que previu o direito
à moradia como direito humano fundamental.
BENS E COISAS

• Silvio Rodrigues: coisa é gênero, que abarca todos os entes com exceção do ser humano; o
bem é a coisa apropriável pelo homem com valor econômico (espécie de coisa, portanto).
• Clóvis Bevilaqua: coisa em sentido amplo abarca todos os entes com exceção do ser
humano; o bem é a coisa apropriável pelo homem com valor econômico (espécie de coisa,
portanto); a coisa em sentido estrito é o bem corpóreo.
• Código Civil utiliza os conceitos indistintamente. Para Anderson Schreiber, são sinônimos,
mas reconhece que, na prática, a expressão coisa é mais usada quando se trata de objetos de
direitos reais (direito das coisas).
BENS E COISAS

• Animais
“São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação
econômico-social.” (art. 82)
• Seres sencientes:
- Possível fixação de “direito de visitas” com fundamento no vínculo afetivo (STJ, Resp 1713167, 4ª Turma, j. 09/10/18)
- Impossibilidade de a convenção de condomínio vedar animais de estimação que não ameacem a incolumidade e a tranquilidade dos
condôminos (STJ, Resp 1783076,3ª Turma, j. 24/05/19)
- Objeto material de crime ambiental

“Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:      
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos,
multa e proibição da guarda.” (art. 32 da Lei 9.605/98) 
PATRIMÔNIO

• “Patrimônio pode ser entendido como o conjunto de todos os bens (ativos) e


passivos (dívidas) de uma pessoa. Trata-se de uma universalidade de direito” (Elias,
Costa-Neto)
• Teoria clássica: cada pessoa possui um único patrimônio, que é “projeção econômica
da personalidade civil”
• Teoria moderna ou realista: é possível, em casos previstos em lei, um patrimônio de
afetação. Exemplos: patrimônio mínimo (bens impenhoráveis), fundos de
investimento imobiliário
BENS – CLASSIFICAÇÃO

“A análise estática, por meio de infindáveis classificações em abstrato (bens móveis e imóveis,
corpóreos e incorpóreos, fungíveis e infungíveis etc.), vem perdendo espaço para propostas
centradas sobre o papel que tais bens desempenham na relação jurídica (...). Impõe-se, em
síntese, uma análise funcional dos bens jurídicos (...). Assim, mais importante que classificar um
bem como móvel ou imóvel, corpóreo (...), torna-se identificar, por exemplo, os bens
essenciais” (Anderson Schreiber).
Cita a proposta de Teresa Negreiros para distinguir os bens desde o paradigma da
essencialidade: essenciais, úteis ou supérfluos.
Relevância do tema: estatuto do patrimônio mínimo (Fachin)
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – MÓVEIS E IMÓVEIS

• Importância da distinção entre bens móveis e imóveis:


- Registro x tradição (arts. 1.226 e 1.227)
- Escritura pública
- Incidência do ITBI somente para transferência onerosa de bens imóveis
- Prazos de usucapião diferenciados
- Outorga conjugal para alienação de imóveis
- Penhor x hipoteca
Obs. Cuidado com navios e aeronaves, que são móveis, mas podem ser hipotecados (art. 1.473, inc. VI, VII)
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – MÓVEIS E IMÓVEIS

• Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou
artificialmente.
- O artigo trata das construções, plantações, benfeitorias
- Não são considerados imóveis por acessão intelectual as pertenças (o que
era possível no CC/16)
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – MÓVEIS E IMÓVEIS

• Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:


I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;
II - o direito à sucessão aberta.
• Art. 81. Não perdem o caráter de imóveis:
I - as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem
removidas para outro local;
II - os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – MÓVEIS E IMÓVEIS

• Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem
alteração da substância ou da destinação econômico-social.
• Art. 83. Consideram-se móveis para os efeitos legais:

I - as energias que tenham valor econômico;


II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes;
III - os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações.
• Art. 84. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam
sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição de algum prédio.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – FUNGÍVEIS E
CONSUMÍVEIS
• Deve-se analisar a função socioeconômica do bem
“São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e
quantidade.” (art. 85)
“São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria
substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.” (art. 86)
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – DIVISÍVEIS E
INDIVISÍVEIS
• Deve-se analisar a função socioeconômica do bem

• Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua
substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam.
• Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se indivisíveis por
determinação da lei ou por vontade das partes.
Exemplo de bem indivisível por determinação legal: imóvel de tamanho
correspondente à fração mínima de parcelamento ou ao módulo rural (exceção:
programas sociais de habitação, usucapião)
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – SINGULARES E
COLETIVOS
• Art. 90. Constitui universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. Parágrafo único. Os bens que
formam essa universalidade podem ser objeto de relações jurídicas próprias.
Exemplo: biblioteca
• Art. 91. Constitui universalidade de direito o complexo de relações jurídicas, de uma
pessoa, dotadas de valor econômico.
Exemplo: herança. Obs.: não há necessidade de que existam vários bens singulares. A
herança é uma universalidade de direito ainda que seja composta somente de um bem.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• Bens principais x bens acessórios – acessório segue o principal (princípio da gravitação
jurídica)

• Art. 92. Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente; acessório,
aquele cuja existência supõe a do principal.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• Pertença não é bem acessório por expressa previsão legal:

“São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo
duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro.” (art. 93)
“Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se
o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso.” (art. 94)
“O equipamento de monitoramento acoplado em caminhão é qualificado como pertença e pode
ser retirado pelo devedor fiduciante que o colocou.” (STJ, Informativo n. 629 de 2018)
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• Frutos x produtos: ambos resultam da coisa principal. Os frutos, no entanto, são
periódicos e não afetam a substância da coisa (p. ex., frutos de uma árvore); os produtos
são mais limitados, pois a afetam (p. ex., minérios)
• Observar que o CDC se importa somente com uma classificação binária: produtos (com
conceito diferente do produto para o CC) e serviços
• Art. 95. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser
objeto de negócio jurídico.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• “Benfeitorias são melhoramentos ou beneficiamentos que agregam valor ou utilidade à
coisa principal. Todas as coisas podem ser objeto de benfeitorias.” (Paulo Lôbo)
• Benfeitorias não se confundem com construções e plantações, que têm regramento
próprio e são consideradas formas de aquisição da propriedade imóvel por acessão (art.
1.248, inc. V)
• Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao
bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• “Benfeitorias são melhoramentos ou beneficiamentos que agregam valor ou utilidade à
coisa principal. Todas as coisas podem ser objeto de benfeitorias.” (Paulo Lôbo)
• Benfeitorias não se confundem com construções e plantações, que têm regramento próprio e
são consideradas formas de aquisição da propriedade imóvel por acessão (art. 1.248, inc. V)
• Art. 97. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao
bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor.
• Importância do tema: possuidor (locatário, ocupante, devedor fiduciante etc.) promove
benfeitorias em propriedade alheia.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento
da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis.
• Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as benfeitorias necessárias; não lhe
assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.
• Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo
da evicção ainda existirem.
• Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor de má-fé, tem o direito
de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.
CLASSIFICAÇÃO DOS BENS – RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS
• Art. 96. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias.

§ 1 o São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem
mais agradável ou sejam de elevado valor.

§ 2 o São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem.

§ 3 o São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore.
FATOS JURÍDICOS

Ordinário
Fato jurídico
(stricto sensu)
Extraordinário

Ato jurídico
Fato jurídico (stricto sensu)
(lato sensu)
Ato jurídico Negócio
(lato sensu) jurídico

Ato-fato
Ato ilícito
jurídico
FATOS JURÍDICOS

• Fato jurídico lato sensu se diferencia do fato natural, pois há nele alguma relevância para
o direito
• Fato jurídico stricto sensu é o que, embora relevante para o direito, não foi causado por
ação humana. Pode ser ordinário (chuva, morte) ou extraordinário (terremoto,
tempestade). O extraordinário é relevante para a análise do caso fortuito e da força maior
FATOS JURÍDICOS

• Ato jurídico lato sensu é qualquer ação humana voluntária, praticada com discernimento, com reflexos no direito.
• Ato jurídico stricto sensu é a ação humana voluntária, praticada com discernimento, que tem como finalidade
criar, alterar ou extinguir uma relação jurídica, cujos efeitos estão previstos expressamente na lei. Por exemplo:
reconhecimento de paternidade.
• Negócio jurídico é a ação humana voluntária, praticada com discernimento, que tem como finalidade criar, alterar
ou extinguir uma relação jurídica, cujos efeitos serão delimitados pela vontade, de acordo com o princípio da
autonomia privada. Por exemplo: contrato, testamento
• Ato jurídico ilícito é o que está em desconformidade com o direito. É, no entanto, jurídico, por ter consequências
jurídicas.
FATOS JURÍDICOS

• Ato-fato jurídico: “é qualquer conduta humana para a qual o Direito não reputa significante a vontade humana por
força de lei, de costumes ou de princípios. Há uma conduta humana (daí se falar em ‘ato’), mas o direito desconsidera
a presença de discernimento para o ato, como se o indivíduo estivesse agindo pelo seu instinto natural, pela natureza
(daí se falar em ‘fato’) (...). O que importa no ato-fato é o resultado obtido, e não elemento volitivo” (Elias, Costa-
Neto).
• Exemplos: ocupação (apropriação de coisa abandonada ou de ninguém), compra e venda de um gibi por uma criança,
dever de indenizar por ato lícito (dever de indenizar terceiros que não foram responsáveis pela legítima defesa)
• Importante: por ser desnecessária a análise da vontade, não se declara a invalidade de um ato-fato jurídico. A teoria das
invalidades e das incapacidades aplica-se somente aos atos jurídicos em sentido estrito e aos negócios jurídicos
07/06/22
ATO JURÍDICO

Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que
couber, as disposições do Título anterior.

Aos atos-fatos jurídicos não se aplicam as teorias das incapacidades e invalidades


NEGÓCIO JURÍDICO – DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:


I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

• Existência (crítica quanto à relevância do conceito de negócio jurídico inexistente)


• Validade (nulidade ou anulabilidade)
• Eficácia (termo, condição, encargo)
NEGÓCIO JURÍDICO – DISPOSIÇÕES GERAIS

EXISTÊNCIA: SUJEITO, OBJETO, CONSENTIMENTO, FORMA

VALIDADE: CAPACIDADE/LEGITIMIDADE; OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL E


DETERMINÁVEL; CONSENTIMENTO VÁLIDO; FORMA PRESCRITA OU NÃO
DEFESA EM LEI

EFICÁCIA: DECORRE DO NEGÓCIO VÁLIDO E EFICAZ, SALVO EXCEÇÕES


NEGÓCIO JURÍDICO – DISPOSIÇÕES GERAIS

• Elementos essenciais: gerais (declaração de vontade livre) e especiais (preço na compra e


venda)
• Elementos naturais: decorrem da natureza do negócio jurídico e não precisam constar do
contrato (por exemplo, transferência da coisa no contrato de compra e venda)
• Elementos acidentais (termo, condição, encargo)
NEGÓCIO JURÍDICO – DISPOSIÇÕES GERAIS

• Teoria da declaração x teoria da vontade x teoria da pressuposição

• Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada
do que ao sentido literal da linguagem.
NEGÓCIO JURÍDICO –
CAPACIDADE/LEGITIMIDADE
• Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em
benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for
indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
NEGÓCIO JURÍDICO – OBJETO

• Art. 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for
relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
NEGÓCIO JURÍDICO – CONSENTIMENTO

• Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva
mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
NEGÓCIO JURÍDICO – FORMA

• Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão
quando a lei expressamente a exigir.
• Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo
vigente no País.
• Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento
público, este é da substância do ato.
NEGÓCIO JURÍDICO – INTEGRAÇÃO E
INTERPRETAÇÃO
• Integração (ausência de cláusulas) x interpretação
• Integração: normas cogentes x dispositivas
• Regras de interpretação:
• Contra preferentem - IV
• Vontade presumível - V
• Confirmação posterior - I
• Boa-fé e bons costumes – II e III
• Primazia da intenção - 112
NEGÓCIO JURÍDICO – INTERPRETAÇÃO

• Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
• Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
• § 1º  A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da
racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• § 2º  As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas
daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

• Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.


NEGÓCIO JURÍDICO – INTERPRETAÇÃO

• Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa.
• Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.
• Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
• § 1º  A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade
econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
• § 2º  As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)

• Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.


AULA 6 – NEGÓCIOS JURÍDICOS
(CONTINUAÇÃO) E PRESCRIÇÃO
Thiago Pedro Pagliuca dos Santos (@thiagopagliucas)
• Juiz de Direito (TJ/SP – 2018-atual)
• Doutor em Direito Penal (USP - 2020)
• Doutorando em Direito Civil (PUC/SP – 2022-atual)
• Mestre em Direito Penal (USP - 2015)
• Especialista em Direito de Família e em Direito Registral (2022)
• Ex-Defensor Público do Rio Grande do Sul (2012-2013)
• Ex-Defensor Público de São Paulo (2013-2018)
• Ex-Professor da Faculdade de Direito de São Bernardo (2021)
AULA 6 – NEGÓCIOS JURÍDICOS
(CONTINUAÇÃO) E PRESCRIÇÃO
• A Parte Geral do Código Civil é dividida em alguns livros:

• I – Das pessoas; II – Dos bens; III – Dos fatos jurídicos.

• O último livro é dividido em 5 títulos:

• I – Do negócio jurídico;

• II – Dos atos jurídicos lícitos

• III – Dos atos ilícitos;

• IV – Da prescrição e da decadência;

• V – Da prova.
AULA 6

• TÍTULO II
Dos Atos Jurídicos Lícitos

• Art. 185. Aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no que couber, as disposições do Título anterior.
• TÍTULO III
Dos Atos Ilícitos

• Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.
• Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes.
• Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
• I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
• II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
• Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.
AULA 6 – NEGÓCIOS JURÍDICOS

Livro III (Dos fatos Jurídicos) – Título I (Do Negócio Jurídico)

• Disposições gerais (art. 104 a 114) – aula passada

• Da representação (art. 115 a 120)

• Da condição, do termo e do encargo (art. 121 a 137)

• Dos defeitos do negócio jurídico (art. 138 a 165)

• Da invalidade do negócio jurídico (art. 166 a 184)


REPRESENTAÇÃO

• A manifestação de vontade do representante vincula o representado nos limites da lei ou do


negócio jurídico (art. 116)

• A representação pode ser legal ou voluntária (art. 115).

• “Contrato consigo mesmo”: é anulável, se não o permitir a lei ou o negócio jurídico

• Negócio jurídico celebrado pelo representante em conflito de interesse com o representado: é


anulável em 180 dias, se o terceiro contratante devesse conhecer a situação (art. 119)
CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO – ELEMENTOS
ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO
• Elementos acidentais do negócio jurídico são cláusulas geralmente voluntárias
(decorrem da vontade das partes, não da lei) e acessórias (pressupõem o negócio jurídico
principal).
• É necessário que os elementos acidentais respeitem a forma do negócio jurídico principal.
Assim, seria nulo o encargo inserido em instrumento particular se a doação de imóvel
superior a 30 salários mínimos se deu por escritura pública.
NEGÓCIO JURÍDICO – ELEMENTOS ACIDENTAIS

Negócio jurídico puro é o que não possui nenhum dos seguintes elementos acidentais do negócio jurídico:
• Condição: evento futuro e incerto
• Termo: evento futuro e certo (ainda que de prazo indeterminado)
• Encargo: ônus

Quanto aos efeitos, o termo e a condição podem ser:


• Resolutivo (final ou ad quem) – o negócio jurídico tem eficácia desde logo; com o advento do termo ou da condição, ele
deixa de ter eficácia.
• Suspensivo (inicial ou a quo) – o negócio jurídico tem eficácia diferida para a data do advento do termo ou da condição.
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO

• Expectativa de direito: o ordenamento jurídico brasileiro – com algumas exceções (por exemplo, para
proteger a pessoa de boa-fé na fase pré-contratual) – não resguarda mera expectativa de direito. Lei posterior
pode atingi-la. Condutas de terceiro podem frustrar essa expectativa de direito. P. ex.: o herdeiro tem a
expectativa de receber parte da herança de seus pais, que, no entanto, podem frustrar essa expectativa se
resolverem utilizar todo seu patrimônio em viagens.
• Direito eventual: já há um direito, embora não possa ser exercido: “Ao titular do direito eventual, nos casos
de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-lo” (art. 130, CC).
• Direito adquirido: “Direitos sujeitos a termo suspensivo são direitos atuais, e não direitos eventuais, pois já
foram adquiridos pelo seu titular, embora o seu exercício esteja sobrestado” (COSTA-NETO e OLIVEIRA)
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO

NORMAS SOBRE CONDIÇÃO SUSPENSIVA E RESOLUTIVA


• Conceito: Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.
• Manipulação da condição e tu quoque: Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos
jurídicos, a condição cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem
desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição maliciosamente
levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO

CONDIÇÕES DEFESAS/PROIBIDAS
- ILÍCITA
- PRIVA O NEGÓCIO JURÍDICO DE SEUS EFEITOS
- PURAMENTE POTESTATIVA (SI VOLUERO) – não confundir com condição
meramente (ou simplesmente) potestativa
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO

CONDIÇÕES DEFESAS/PROIBIDAS
• Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as
condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma
das partes.
• Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:
• I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;
• II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;
• III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.
• Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO POTESTATIVA

“3. O art. 122 do CC/02 (correspondente ao art. 115 do CC/16) proíbe as condições puramente potestativas, assim compreendidas
como aquelas que sujeitam a eficácia do negócio jurídico ao puro arbítrio de uma das partes, comprometendo a seriedade do acordo e
depondo contra a boa-fé objetiva.
4. No caso, a estipulação assinalada mais se assemelha a termo incerto ou indeterminado do que, propriamente, a condição potestativa.
5. E mesmo admitindo tratar-se de condição, seria de rigor verificar quem ela beneficiava (credor e devedor), não havendo falar, por isso,
em falta de seriedade na proposta ou risco à estabilidade das relações jurídicas.
6. Ademais, foi estatuída em consideração a uma circunstância fática alheia à vontade das partes: o resultado de uma determinada
ação judicial (usucapião), havendo, assim, interesse juridicamente relevante a justificar sua estipulação.
7. Desse modo a condição não seria inútil ou inconveniente e, em consequência, pode ser considerada válida, até mesmo para efeito de
impedir a fluência do prazo prescricional.
8. Recurso especial provido com determinação de retorno dos autos à origem para prosseguir no julgamento dos recursos de apelação.
(REsp n. 1.990.221/SC, relator Ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 3/5/2022, DJe de 13/5/2022.)
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO SUSPENSIVA

• Art. 125. “Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva,


enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa.”
- A própria lei indica que não há direito adquirido, mas direito eventual.
• Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer
quanto àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela
forem incompatíveis.
- A própria lei deixa claro que não se trata de mera expectativa de direito.
NEGÓCIO JURÍDICO – CONDIÇÃO RESOLUTIVA

• Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio
jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.
• Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a
que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua
realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados,
desde que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos ditames de
boa-fé.
NEGÓCIO JURÍDICO – ELEMENTOS ACIDENTAIS

• O termo, ao contrário da condição, suspende somente o exercício, mas não a aquisição do


direito. Pode-se falar aqui, portanto, em direito adquirido: “Art. 131. O termo inicial
suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.”
• Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos,
excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.
• Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições relativas à
condição suspensiva e resolutiva.
NEGÓCIO JURÍDICO – ELEMENTOS ACIDENTAIS

• ENCARGO: modo ou ônus imposto com uma liberalidade.


• Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.
• Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o
motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
• O beneficiário pode ser obrigado a cumprir o encargo? Há divergência, mas prevalece
que sim.
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO X
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
• “Vícios do negócio jurídico” é expressão genérica, que abrange, além dos “defeitos do
negócio jurídico”, outras espécies de invalidade (como a simulação)
• O Código Civil menciona expressamente seis institutos que caracterizam “defeitos do
negócio jurídico”.
• São causas de anulabilidade (e não nulidade!) do negócio jurídico.
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO X
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO
• Simulação não é tratada como defeito do negócio jurídico, mas como causa de
nulidade.
• Outra divisão doutrinária: vícios de consentimento (invalidade decorre de vício no
elemento vontade) x vícios sociais (invalidade decorre da violação à função social)
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO X
INVALIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO

• Erro (o erro decorre de falsa percepção do indivíduo, sem participação do outro contratante)
• Dolo (é um “erro qualificado” em razão de ação ou omissão do outro contratante ou de terceiro, com
aquiescência deste)
• Coação (coação moral afeta a vontade – vício de consentimento; coação física afasta a própria vontade)
• Estado de perigo (premente necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua família + onerosidade excessiva +
dolo de aproveitamento)
• Lesão (premente necessidade ou inexperiência + prestação manifestamente desproporcional)
• Fraude contra credores (consilium fraudis + eventus damni)
ERRO

• Deve ser substancial (essencial) para anular o negócio jurídico


• Em regra, é erro de fato. Porém, é admissível a anulação quando “sendo de direito e não
implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico”
• O erro não anula o negócio se a outra parte concordar em executar o negócio conforme a
vontade real.
DOLO

• Admite-se o dolo por omissão: “Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou
qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado” (art.
147).
• Admite-se a anulação do negócio jurídico se o dolo for de terceiro, “se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter
conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a
quem ludibriou” (art. 148).
• O dolo do representante (legal ou convencional) prejudica o representado, mas com uma distinção: “O dolo do representante legal de
uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for
do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos”.
• Ninguém pode alegar a própria torpeza: “Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o
negócio, ou reclamar indenização” (art. 150)
COAÇÃO

• A coação física (vis absoluta) torna o negócio jurídico inexistente; a coação moral (vis compulsiva)
somente o anula.
• O temor reverencial não caracteriza coação.
• É possível anular um negócio jurídico por coação, ainda que o fundado temor de dano iminente e
considerável diga respeito à pessoa que não pertence à família do paciente (art. 151)
• É possível anular um negócio jurídico por coação de terceiro, desde que a parte a que aproveite
tivesse ou devesse ter conhecimento; caso contrário, o negócio subsiste, mas o autor da coação
responde por perdas e danos (art. 155)
ESTADO DE PERIGO – EXIGE DOLO DE
APROVEITAMENTO

• Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de


salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte,
assume obrigação excessivamente onerosa. EX. PESSOA AFOGADA CONTRATA
TRANSPORTE DE BARCO.
• Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz
decidirá segundo as circunstâncias.
LESÃO – NÃO EXIGE DOLO DE
APROVEITAMENTO

• Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. EX. PESSOA GANHA UM CARRO
VALIOSO E O VENDE IMEDIATAMENTE POR UM PREÇO VIL.
• § 1 o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio
jurídico.
• § 2 o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida
concordar com a redução do proveito.

• Aplica-se o §2º ao estado de perigo? Doutrina diverge.


FRAUDE CONTRA CREDORES

• Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles
reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus
direitos.
• Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser
conhecida do outro contratante.

• Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de
credores.

• De acordo com a lei, o negócio jurídico é anulável. Há julgados, no entanto, que o consideram ineficaz somente
para a parte prejudicada.
• Não se confunde com fraude à execução, que pressupõe a existência de processo.
SIMULAÇÃO

• Não é defeito do negócio jurídico, mas vício social que causa sua nulidade.

• Simulação absoluta x simulação relativa

• Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

• § 1 o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

• I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;

• II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

• III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

• § 2 o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
INVALIDADE: NULIDADE X ANULABILIDADE

• O critério de distinção entre uma e outra refere-se ao interesse (público ou particular), não ao prejuízo (tal como
no processo civil)
• Nulidade tem eficácia ex tunc. Na anulabilidade, doutrina diverge. Prevalece que o efeito também é ex tunc.
• Negócio anulável pode ser convalidado (por vontade ou decurso do tempo); negócio nulo, não. Cuidado: não há
prescrição ou decadência para se reconhecer a nulidade, mas a pretensão decorrente da situação pode prescrever.
• Negócio anulável não pode ser anulado de ofício; negócio nulo, sim.
• Não há “anulabilidade virtual”. É necessária previsão legal expressa.
• Cuidado: “Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”
(súmula 381, STJ).
NULIDADE

• Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:


• I - celebrado por pessoa absolutamente incapaz;
• II - for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
• III - o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;
• IV - não revestir a forma prescrita em lei;
• V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade;
• VI - tiver por objetivo fraudar lei imperativa;
• VII - a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. (nulidade textual x
nulidade virtual)
NULIDADE

• Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado,
ou pelo Ministério Público, quando lhe couber intervir.
• Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio
jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda
que a requerimento das partes.
• Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo
decurso do tempo.
• Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que
visavam as partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.
ANULABILIDADE

• Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico:
• I - por incapacidade relativa do agente;
• II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra
credores.
• Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de terceiro.
ANULABILIDADE

• Art. 177. A anulabilidade não tem efeito antes de julgada por sentença, nem se pronuncia de ofício; só os interessados
a podem alegar, e aproveita exclusivamente aos que a alegarem, salvo o caso de solidariedade ou indivisibilidade.
• Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio jurídico, contado:
• I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
• II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
• III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
• Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este
de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
• Art. 180. O menor, entre dezesseis e dezoito anos, não pode, para eximir-se de uma obrigação, invocar a sua idade se
dolosamente a ocultou quando inquirido pela outra parte, ou se, no ato de obrigar-se, declarou-se maior.
INVALIDADE E PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO
DOS NEGÓCIOS JURÍDICO
• O negócio anulável pode ser convalidado; o negócio nulo, não. Ainda assim, é possível
preservar a vontade das partes em alguns casos.
• Conversão substancial: “Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os
requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir supor
que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade”. Exemplo: instrumento
particular de compra e venda convertido em promessa de compra e venda.
INVALIDADE E PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO
DOS NEGÓCIOS JURÍDICO
• Conversão formal: “Art. 183. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico
sempre que este puder provar-se por outro meio”. Ex.: a irregularidade de um título de crédito
não afeta o negócio jurídico subjacente a ele, que poderá, inclusive, ser provado por esse
instrumento viciado.
• Redução do negócio jurídico: “Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial
de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da
obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da
obrigação principal”. Já entendeu o STJ que a nulidade do contrato de agiotagem somente
torna inválidos os juros; não, porém, a obrigação principal de devolver o valor emprestado.
NOÇÕES BÁSICAS DE PRESCRIÇÃO E
DECADÊNCIA
• Direito subjetivo (pretensão): poder jurídico de exigir uma prestação de alguém. Ex.
direito de exigir o pagamento de uma dívida de R$100.000,00.
• Direito potestativo: poder jurídico de interferir na esfera jurídica de terceiro
independentemente de sua vontade. Não há dever de prestação por parte do terceiro, mas
simples estado de sujeição. Ex. direito de se divorciar.
NOÇÕES BÁSICAS DE PRESCRIÇÃO E
DECADÊNCIA
• A prescrição é a extinção da pretensão após o decurso do prazo previsto em lei. Se não houver prazo
expresso, 10 anos. Há poucos casos de imprescritibilidade (dano ambiental, violação a direitos humanos
durante a ditadura civil-militar, danos ao erário provocados por ações dolosas de improbidade). Apesar da
divergência doutrinária, de acordo com a lei, a prescrição extingue a pretensão (não o direito ou a ação).
• A decadência é a extinção do direito potestativo após o decurso do prazo previsto em lei. Se não houver
prazo expresso, o direito potestativo pode ser exercido a qualquer tempo
• Prescrição extintiva x prescrição aquisitiva?
• Teoria da actio nata e o termo inicial da prescrição: STJ costuma utilizá-la. Risco à segurança jurídica?
Julgado recente sobre o termo inicial da ação de petição de herança não a aplicou.
NOÇÕES BÁSICAS DE PRESCRIÇÃO E
DECADÊNCIA
• AGNELO AMORIM:
Ações perpétuas – natureza declaratória; direito potestativo sem prazo decadencial
Prescrição – ações condenatórias (busca-se a condenação do réu a cumprir uma prestação)
Decadência – ações constitutivas com prazo decadencial previsto em lei
PRESCRIÇÃO

• Art. 191. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita,
sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando
se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição.
• Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.
• Art. 193. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem
aproveita.
PRESCRIÇÃO – CAUSAS IMPEDITIVAS E
SUSPENSIVAS
• Art. 197. Não corre a prescrição:
• I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
• II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
• III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
curatela.
PRESCRIÇÃO – CAUSAS IMPEDITIVAS E
SUSPENSIVAS
• Art. 198. Também não corre a prescrição:
• I - contra os incapazes de que trata o art. 3 o ;
• II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos
Municípios;
• III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra.
PRESCRIÇÃO – CAUSAS IMPEDITIVAS E
SUSPENSIVAS
• Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:
• I - pendendo condição suspensiva;
• II - não estando vencido o prazo;
• III - pendendo ação de evicção.
PRESCRIÇÃO – CAUSAS IMPEDITIVAS E
SUSPENSIVAS
• Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não
correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.
• Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os
outros se a obrigação for indivisível.
PRESCRIÇÃO – CAUSAS INTERRUPTIVAS

• Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
• I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo
e na forma da lei processual;
• II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
• III - por protesto cambial;
• IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores;
• V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
• VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo
devedor.
PRESCRIÇÃO – CAUSAS INTERRUPTIVAS

• Cuidado: notificação extrajudicial não interrompe a prescrição


• Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto
nos arts. 397 e 398 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil)
• § 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que
proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.
PRESCRIÇÃO – PRAZO

• Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.
• Pretensão de reparação civil extracontratual: 3 anos; contratual: 10 anos; consumeirista: 5
anos.
• Teoria da actio nata
• Art. 206-A. A prescrição intercorrente observará o mesmo prazo de prescrição da pretensão,
observadas as causas de impedimento, de suspensão e de interrupção da prescrição
previstas neste Código e observado o disposto no 
art. 921 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).   
(Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)
DECADÊNCIA

• Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.
• Art. 208. Aplica-se à decadência o disposto nos arts. 195 e 198, inciso I.
• Art. 209. É nula a renúncia à decadência fixada em lei.
• Art. 210. Deve o juiz, de ofício, conhecer da decadência, quando estabelecida por lei.
• Art. 211. Se a decadência for convencional, a parte a quem aproveita pode alegá-la em
qualquer grau de jurisdição, mas o juiz não pode suprir a alegação.
UNIÃO ESTÁVEL (AULAS 1 E 2)

Thiago Pedro Pagliuca dos Santos


• Doutor em Direito Penal (USP)
• Doutorando em Direito Civil (PUC/SP)
• Mestre em Direito Penal (USP)
• Especialista em Direito de Família e em Direito Registral
• Juiz de Direito (TJ/SP)
• Ex-Defensor Público (DPE/RS e DPE/SP)
• Ex-Professor da Faculdade de Direito de São Bernardo
UNIÃO ESTÁVEL - HISTÓRICO

• Súmula 380 do Supremo Tribunal Federal, editada em 12/05/1964: “Comprovada a existência de sociedade de fato
entre os concubinos, é cabível a sua dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço
comum.”
• Concubinato: puro e impuro (espúrio)
• Concubinato impuro: adulterino e incestuoso
• Art. 226, §3º da Constituição Federal: “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o
homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”
• Lei 8.971/94: prazo de 5 anos (exceto se houver filhos), direito de meação (desde que se trate de bem adquirido com
esforço comum do casal) e direito sucessório
UNIÃO ESTÁVEL - LEI 9.278/96

• Não há necessidade de prazo mínimo;


• Direito de meação “em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação contrária em contrato
escrito” (art. 5º);
• Contratualização da relação;
• Direito de habitação;
• Possibilidade de conversão em casamento diretamente no RCPN;
• Competência da vara de família
UNIÃO ESTÁVEL – CÓDIGO CIVIL DE 2002 –
ARTS. 1.723 A 1.727

• (a) reconhecem “como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família”;

• (b) impedem a configuração da união estável caso os companheiros ostentem impedimento matrimonial (constituindo-se, nesse caso, o chamado
“concubinato”, outrora denominado “concubinato impuro”), abrindo, no entanto, importante exceção, ao permitir que a pessoa casada com terceiro pode
contrair união estável se estiver separada de fato ou judicialmente;

• (c) destacam que as causas suspensivas do casamento não impedem a caracterização da união estável;

• (d) preveem os “deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos”;

• (e) esclarecem que, salvo a existência de contrato escrito, aplica-se aos conviventes o regime da comunhão parcial de bens;

• (f) permitem a conversão da união estável em casamento “mediante pedido dos companheiros ao juiz”.
UNIÃO ESTÁVEL – CÓDIGO CIVIL DE 2002 –
OUTROS DISPOSITIVOS QUE MENCIONAM UE

• Art. 1.790: ordem de sucessão hereditária (inconstitucional)


• art. 1.562: possibilidade de se utilizar da tutela cautelar de separação de corpos também na dissolução da relação
convivencial;
• art. 1.584: trata do pedido de guarda formulado em ação de dissolução de união estável;
• art. 1.595: equipara o companheiro ao cônjuge no que diz respeito ao parentesco civil por afinidade;
• arts. 1.631, 1.632 e 1.636: dissociam a relação conjugal (ou convivencial) da relação de parentesco existente entre pais
e filhos;
• art. 1.708: estabelece como causa extintiva do dever de alimentos o casamento, a união estável ou mesmo o
concubinato do credor.
UNIÃO ESTÁVEL – CÓDIGO CIVIL DE 2002

Não foram tratados no CC/02:


• Competência da vara de família
• Direito real de habitação

Prevalece o entendimento, no entanto, de que a Lei n. 9.278/96 ainda vigora nesses aspectos.
UNIÃO ESTÁVEL – LEI DE REGISTROS PÚBLICOS
– ATUALIZADA PELA LEI N. 14.382/22
• Conversão da união estável em casamento diretamente no RCPN, independentemente de
autorização judicial (art. 70-A)
• Inclusão de sobrenome de companheiro e retorno ao nome de solteiro mediante averbação da
extinção da união estável no registro (art. 57, §§2º e 3º-A)
• Possibilidade de se registrar a união estável e o distrato no Livro E do RCPN (art. 94-A)
• Possibilidade de constituição da união estável de pessoa separada de fato, mas impossibilidade do
registro (art. 94-A, §1º)
UNIÃO ESTÁVEL

• Estado civil: “o estado civil compreende o conjunto das qualidades constitutivas que afetam diretamente o
indivíduo na sociedade e na família” (Marcelo Rodrigues)
• “Assim, em que pese a união estável não ser considerada pela doutrina majoritária como estado civil familiar, ela
tem repercussão e produz efeitos no estado da pessoa natural, sendo tratada pelos tribunais como efetivo estado
civil” (SALAROLI e CAMARGO NETO: 2020, p. 23).
• Com o reconhecimento da união estável pelo constituinte originário e pelo sistema jurídico pátrio, a
jurisprudência tem admitido sua equiparação ao casamento quanto a todos os efeitos jurídicos, pessoais e
patrimoniais, e mesmo no que concerne à modificação do estado civil de solteira. A propósito: REsp 1.516.599/PR,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 2/10/2017; REsp 1.617.636/DF, Rel. Ministro Marco Aurélio
Bellizze, Terceira Turma, DJe 3/9/2019)” (2ª Turma, RMS 59709 / RS, Rel. Herman Benjamin, j. 19/05/2020).
UNIÃO ESTÁVEL - ELEMENTOS

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona elencam como elementos essenciais da união estável:
• Publicidade (não pode ser secreto)
• Continuidade (inexistência de longas interrupções)
• Estabilidade (consequência da própria continuidade)
• Objetivo de constituição de família (distinção entre namoro x noivado x união estável)

Como elementos acidentais, destacam o tempo, a prole e a coabitação


UNIÃO ESTÁVEL - ELEMENTOS

• Quanto ao objetivo de constituir família, entende Anderson Schreiber que se trata de “elemento
especialmente ambíguo. O que se está a dizer, ao fim e ao cabo, é que se considera como família a
convivência estabelecida com o objetivo de constituir família. Uma flagrante tautologia”
(SCHREIBER: 2021, p. 980).
• “A vida em comum sob o mesmo teto, more uxorio, não é indispensável à caracterização do
concubinato.” (Súmula 382, STF)
• Tempo: a análise é casuística. O Superior Tribunal de Justiça já decidiu, por exemplo, que uma
relação de 2 meses, ainda que com coabitação, não configurava união estável (4ª Turma, REsp
1761887/MS, Rel. Luis Felipe Salomão, j. 24/09/2019).
UNIÃO ESTÁVEL – “CONTRATO DE NAMORO”

Ato-fato ou negócio jurídico?


• Zeno Veloso: possibilidade
• Maria Berenice Dias: inexistência
• Tartuce: invalidade (fraude à lei imperativa)
UNIÃO ESTÁVEL – “CONTRATO DE NAMORO”

• TJ/SP (Francisco Loureiro): “Evidente que a situação fática de união estável, apoiada em prova
robusta, prevaleceria diante da escritura de namoro. Dizendo de outro modo, a união estável é
situação de fato a que a lei atribui efeitos jurídicos por norma cogente. Não resta dúvida, porém,
que a lavratura de escritura na qual reconhecem as partes que seu relacionamento não passou de
namoro qualificado conspira de modo sólido contra a pretensão da autora” (TJ/SP, 1ª Câmara de
Direito Privado, Apelação n. 1025010-68.2020.8.26.0506, Rel. Francisco Loureiro, j. 06/08/2021).
• Possibilidade de contrato escrito com cláusula de regime de separação de bens?
UNIÃO ESTÁVEL – “CONTRATO DE NAMORO”

• TJ/SP (Francisco Loureiro): “Evidente que a situação fática de união estável, apoiada em prova
robusta, prevaleceria diante da escritura de namoro. Dizendo de outro modo, a união estável é
situação de fato a que a lei atribui efeitos jurídicos por norma cogente. Não resta dúvida, porém,
que a lavratura de escritura na qual reconhecem as partes que seu relacionamento não passou de
namoro qualificado conspira de modo sólido contra a pretensão da autora” (TJ/SP, 1ª Câmara de
Direito Privado, Apelação n. 1025010-68.2020.8.26.0506, Rel. Francisco Loureiro, j. 06/08/2021).
• Possibilidade de contrato escrito com cláusula de regime de separação de bens?
UNIÃO ESTÁVEL – CONTRATO DE CONVIVÊNCIA

• Os companheiros podem celebrar contrato escrito – por instrumento público ou particular – para
reger suas relações patrimoniais. É equivalente ao pacto antenupcial, mas com liberdade de
formas. Sua aplicabilidade não pode ser retroativa (STJ).
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

• Anderson Schreiber explica que “a ideia de exclusividade afetiva que caracteriza o modelo matrimonial
encontra nítida inspiração no modelo proprietário como ius excludendi omnes alio (direito de excluir
todos os demais do uso da coisa), não configurando opção necessária para a convivência familiar”
(SCHREIBER: 2021, p. 983).

• Princípio monogâmico: STF, STJ, CNJ (proibição de tabeliães lavrarem escrituras de relações poliafetivas)

• Problema: como decidir quem deve ser priorizado – em relação à meação ou direitos sucessórios –
numa união informal poliafetiva?
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

“Concubinato impuro”

O artigo 1.521 do Código Civil dispõe: “Não podem casar: I - os ascendentes com os descendentes,
seja o parentesco natural ou civil; II - os afins em linha reta; III - o adotante com quem foi cônjuge
do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e
demais colaterais, até o terceiro grau inclusive; V - o adotado com o filho do adotante; VI - as
pessoas casadas; VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de
homicídio contra o seu consorte.”
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

• Casado separado de fato: pode constituir união estável; só não pode registrá-la (exceto se
reconhecida judicialmente)
• Cuidado: alguns dispositivos do CC concedem certos direitos, deveres e prerrogativas ao cônjuge
separado de fato por menos de 2 anos (artigos 25 e 1.830) e 5 anos (artigos 1.642, inciso V, e 1.801,
inciso III). A interpretação não pode violar direitos dos companheiros
• Aplica-se o regime de separação obrigatória de bens aos companheiros se um deles for casado mas
separado de fato? Para o STJ, sim
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

• “É incompatível com a Constituição Federal o reconhecimento de direitos previdenciários (pensão por morte) à pessoa
que manteve, durante longo período e com aparência familiar, união com outra casada, porquanto o concubinato não se
equipara, para fins de proteção estatal, às uniões afetivas resultantes do casamento e da união estável” (Tribunal Pleno,
RE 883.168/SC, Rel. Dias Toffoli, j. 03/08/21, Tema 526).

• Ao proteger a família monogâmica e a própria esposa traída (que foi vítima de ilícito civil praticado pelo marido, que
violou o dever de fidelidade do casamento), o Supremo Tribunal Federal, em consequência, prejudica terceiro de boa-fé,
isto é, a concubina que não sabia da existência do casamento (ou da união estável dita principal, por ser mais antiga).

• Solução apontada pela doutrina: “união estável putativa”, semelhante ao “casamento putativo”
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

• O artigo 550 do Código Civil dispõe: “A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada pelo outro
cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal.” Discute-se se a
doação do companheiro infiel ao seu cúmplice também poderia ser anulada.
• Artigo 793 do Código Civil: “É válida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o
segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.”
• “Diante da orientação do STF, no mesmo precedente, no sentido de que "subsistem em nosso ordenamento jurídico
constitucional os ideais monogâmicos, para o reconhecimento do casamento e da união estável, sendo, inclusive,
previsto como deveres aos cônjuges, com substrato no regime monogâmico, a exigência de fidelidade recíproca
durante o pacto nupcial (art. 1.566, I, do Código Civil)", é inválida, à luz do disposto no art. 793 do Código Civil de
2002, a indicação de concubino como beneficiário de seguro de vida instituído por segurado casado e não separado de
fato ou judicialmente na época do óbito” (4ª Turma, Rel. Maria Isabel Gallotti, Resp n. 1391954/RJ, j. 27/04/2022).
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

• “ALEGADA UNIÃO ESTÁVEL PARALELA AO CASAMENTO. PARTILHA NO FORMATO DE TRIAÇÃO. INADMISSIBILIDADE.


RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL QUE PRESSUPÕE AUSÊNCIA DE IMPEDIMENTO AO CASAMENTO OU SEPARAÇÃO DE
FATO (...).

• 5- Na hipótese em exame, há a particularidade de que a relação que se pretende seja reconhecida como união estável teve início anteriormente ao
casamento do pretenso convivente com terceira pessoa e prosseguiu por 25 anos, já na constância desse matrimônio.

• 6- No período compreendido entre o início da relação e a celebração do matrimônio entre o convivente e terceira pessoa, não há óbice para que seja
reconhecida a existência da união estável, cuja partilha, por se tratar de união iniciada e dissolvida antes da Lei nº 9.278/96, deverá observar a
existência de prova do esforço direto e indireto na aquisição do patrimônio amealhado, nos termos da Súmula 380/STF e de precedente desta Corte.

• 7- No que se refere ao período posterior à celebração do matrimônio, aquela união estável se transmudou juridicamente em um concubinato impuro,
mantido entre as partes por 25 anos, na constância da qual adveio prole e que era de ciência inequívoca de todos os envolvidos, de modo que há a
equiparação à sociedade de fato e a repercussão patrimonial dessa sociedade deve ser solvida pelo direito obrigacional, de modo que também nesse
período haverá a possibilidade de partilha desde que haja a prova do esforço comum na construção patrimonial, nos termos da Súmula 380/STF.”
(continua)
UNIÃO ESTÁVEL E MONOGAMIA

“16) Em se tratando de relação concubinária, é relevante diferenciar as hipóteses de concubinato puro, impuro e desleal. A esse
respeito, há precedente desta Corte que bem explica todas essas espécies: “O concubinato puro seria aquele que se apresentaria
como a união entre o homem e a mulher com intuito de formação de uma família de fato, sem qualquer interferência na família de
direito. Para tanto, nesta espécie, os concubinos poderiam ser solteiros, separados judicialmente, divorciados ou viúvos. Já o
concubinato impuro seria aquele realizado contra um casamento pré-existente de um dos concubinos ou em relação incestuosa. E,
por fim, o concubinato desleal se efetivaria em concorrência com outro concubinato puro”. (REsp 1.628.701/BA, 3ª Turma,
DJe 17/11/2017).

(...)

Trata-se de um cenário bastante singular porque, examinando-se os precedentes desta Corte sobre a matéria, percebe-se que todos
eles foram firmados a partir da premissa de que o casamento era pré-existente ao outro relacionamento” (STJ, 3ª Turma, Resp
1916031, Rel. Nancy Andrighi, j. 03/05/2022)
UNIÃO ESTÁVEL E PESSOAS ABSOLUTAMENTE
INCAPAZES
• Para Paulo Lôbo, as regras de invalidade referentes ao casamento não se aplicam à união estável justamente pela
natureza de ato-fato jurídico deste instituto, que se constitui independentemente da voluntária manifestação de vontade
dos interessados (LÔBO: 2021, p. 175).

• Outros autores, porém, defendem que reconhecer a união estável de pessoas menores de 16 anos seria uma burla ao
sistema legalmente previsto, que abomina relações afetivas e sexuais precoces.

• A deficiência não leva à incapacidade; pessoas com deficiência física ou mental podem casar; portanto podem
constituir união estável (EPD).

PAREI AQUI
UNIÃO ESTÁVEL ENTRE PESSOAS DO MESMO
SEXO
• ADI 4.277-DF, j. 05/05/2011, Rel. Ministro Carlos Ayres Britto

• “A referência constitucional à dualidade básica homem/mulher, no §3º do seu art. 226, deve-se ao centrado intuito de não se perder a menor oportunidade para
favorecer relações jurídicas horizontais ou sem hierarquia no âmbito das sociedades domésticas. Reforço normativo a um mais eficiente combate à renitência patriarcal
dos costumes brasileiros. Impossibilidade de uso da letra da Constituição para ressuscitar o art. 175 da Carta de 1967/1969. Não há como fazer rolar a cabeça do art.
226 no patíbulo do seu parágrafo terceiro. Dispositivo que, ao utilizar da terminologia “entidade familiar”, não pretendeu diferenciá-la da “família”. Inexistência de
hierarquia ou diferença de qualidade jurídica entre as duas formas de constituição de um novo e autonomizado núcleo doméstico. Emprego do fraseado “entidade
familiar” como sinônimo perfeito de família. A Constituição não interdita a formação de família por pessoas do mesmo sexo. Consagração do juízo de que não se
proíbe nada a ninguém senão em face de um direito ou de proteção de um legítimo interesse de outrem, ou de toda a sociedade, o que não se dá na hipótese sub judice.
Inexistência do direito dos indivíduos heteroafetivos à sua não-equiparação jurídica com os indivíduos homoafetivos. Aplicabilidade do §2º do art. 5º da Constituição
Federal, a evidenciar que outros direitos e garantias, não expressamente listados na Constituição, emergem ‘do regime e dos princípios por ela adotados’”.

• Conforme fica claro da ementa, não se negou o limite semântico da expressão “homem e mulher”, prevista na Constituição Federal de 1988. Apenas deixou-se claro
que a relação estável entre homem e mulher, com previsão constitucional expressa, é somente uma das inúmeras entidades familiares existentes.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO

• Sempre que o legislador deixa de nominar a união estável frente a prerrogativas concedidas ao casamento,
outorgando-lhe tratamento diferenciado, deve tal omissão ser tida por inexistente, ineficaz e inconstitucional.
Do mesmo modo, em todo texto em que é citado o cônjuge é necessário ler-se cônjuge ou companheiro” (Maria
Berenice Dias: 2011, p. 171).
• Enunciado n. 641 da VIII Jornada de Direito Civil (Tartuce, Schreiber): “a decisão do Supremo Tribunal Federal
que declarou a inconstitucionalidade do art. 1.790 do Código Civil não importa equiparação absoluta entre o
casamento e a união estável. Estendem-se à união estável apenas as regras aplicáveis ao casamento que tenham
por fundamento a solidariedade familiar. Por outro lado, é constitucional a distinção entre os regimes, quando
baseada na solenidade do ato jurídico que funda o casamento, ausente na união estável.”
• Direitos decorrentes da união estável não incidem se prejudicarem terceiros de boa-fé
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: DEVERES

• Artigo 1.566 do Código Civil: “São deveres de ambos os cônjuges: I - fidelidade recíproca; II -
vida em comum, no domicílio conjugal; III - mútua assistência; IV - sustento, guarda e educação
dos filhos; V - respeito e consideração mútuos.”

•Artigo 1.724 do Código Civil: “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos
deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.”
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: RELAÇÃO DE
PARENTALIDADE
•Art. 1.595 do Código Civil: “cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade”.

•Enteado não é filho (prevalece o entendimento de que não pode solicitar alimentos); pode vir a ser,
porém, se ocorrer adoção unilateral ou reconhecimento de paternidade socioafetiva.

•“A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento
do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios”
(Tema 622, Tribunal Pleno, Recurso Extraordinário n. 898060, Rel. Luiz Fux, j. 21/09/2016).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: RELAÇÃO DE
PARENTALIDADE
• A depender do grau de afetividade, o enteado pode se enquadrar em 4 situações.

• Simples enteado, sem nome do padrasto/madrasta.

• Enteado que adota o sobrenome do padrasto/madrasta: “O enteado ou a enteada, se houver motivo justificável, poderá requerer
ao oficial de registro civil que, nos registros de nascimento e de casamento, seja averbado o nome de família de seu padrasto ou de
sua madrasta, desde que haja expressa concordância destes, sem prejuízo de seus sobrenomes de família” (art. 57, §8º, LRP).

• Enteado que é adotado unilateralmente pelo padrasto, desde que não haja genitor registrado (e não destituído do poder familiar)

• Enteado que é reconhecido como filho socioafetivo, sendo possível a manutenção da multiparentalidade.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: PRESUNÇÃO
PATER EST
•Art. 1.597 do Código Civil: “Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I -
nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II -
nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação
judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga,
mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial
heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.”
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: PRESUNÇÃO
PATER EST
• V - Na espécie, o companheiro da mãe da menor faleceu 239 (duzentos e trinta e nove) dias antes ao seu
nascimento. Portanto, dentro da esfera de proteção conferida pelo inciso II do art. 1.597, do Código Civil, que
presume concebidos na constância do casamento os filhos nascidos nos trezentos dias subsequentes, entre outras
hipóteses, em razão de sua morte.

• VI - Dessa forma, em homenagem ao texto constitucional (art. 226, §3º) e ao Código Civil (art. 1.723), que
conferiram ao instituto da união estável a natureza de entidade familiar, aplica-se as disposições contidas no
artigo 1.597, do Código Civil, ao regime de união estável.

(3ª Turma, REsp 1194059 / SP, Rel. Massami Uyeda, j. 06/11/2012)


UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: PRESUNÇÃO
PATER EST
•Um julgado que trata de caso distinto para compreender melhor a importância da presunção:

I - O direito de reconhecer voluntariamente a prole é personalíssimo e, portanto, intransmissível aos herdeiros,


não existindo no direito positivo pátrio norma que atribua efeitos jurídicos ao ato pelo qual aqueles reconhecem
a condição de irmão, se o pai não o fez em vida. II - Falecido o suposto genitor sem manifestação expressa
acerca da existência de filho extra matrimonium, a pretensão de inclusão do seu nome no registro de nascimento
poderá ser deduzida apenas na via judicial, por meio de ação investigatória de paternidade. Recurso não
conhecido." (REsp 832.330/PR, Rel. Min. Castro Filho, DJe de 02/04/2007).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: ALIMENTOS

• Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que
necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de
sua educação.

• § 1 o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa
obrigada.

• § 2 o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de
culpa de quem os pleiteia.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGIME DE
BENS
•“Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às relações
patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão parcial de bens” (artigo 1.725).

•Anderson Schreiber defende que “a aplicação das regras da comunhão parcial se dá por
analogia, não se submetendo a união estável, tecnicamente, a um regime de bens (...). Deve-se
garantir a justa repartição do patrimônio, e não lançar sobre a união estável amarras formais
concebidas para a realidade matrimonial” (SCHREIBER: 2021, p. 982).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGIME DE
BENS
• Eficácia retroativa do pacto convivencial?

• De acordo com Farias, Rosenvald e Braga Netto (2022, p. 1263), “não se vê qualquer óbice para que as partes,
expressamente, venham a conferir eficácia retro-operante ao contrato de convivência, fazendo com que suas previsões
atinjam situações passadas, respeitados, por óbvio, os interesses de terceiros.”

• No entanto, para o Superior Tribunal de Justiça, o contrato de convivência tem efeitos somente prospectivos, isto é, não
retroage. Nesse sentido: “Conforme entendimento desta Corte, a eleição do regime de bens da união estável por contrato
escrito é dotada de efetividade ex nunc, sendo inválidas cláusulas que estabeleçam a retroatividade dos efeitos patrimoniais
do pacto. Precedentes” (4ª Turma, AgInt no AREsp 1631112 / MT, Rel. Antonio Carlos Ferreira, j. 26/10/2021).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGIME DE
BENS
“Significa dizer, pois, que esse simples instrumento particular, independentemente de qualquer espécie de publicidade e registro, terá eficácia e
vinculará as partes e, mais do que isso, será relevante para definir questões interna corporis da união estável, como a sua data de início, a indicação
sobre quais bens deverão ou não ser partilhados, a existência de prole concebida na constância do vínculo e a sucessão, dentre outras. 9) A existência de
contrato escrito na forma de um simples instrumento particular e de conhecimento limitado aos contratantes, todavia, é verdadeiramente incapaz de
projetar efeitos para fora da relação jurídica mantida pelos conviventes, em especial em relação a terceiros porventura credores de um deles (...). 12)
Não se pode olvidar que é bastante discutível se essas espécies de registro, por si sós, seriam suficientes para conferir oponibilidade erga omnes quanto
ao regime de bens da união estável, seja porque o próprio art. 5º do Provimento nº 37 do CNJ estabelece que “o registro de união estável decorrente de
escritura pública de reconhecimento ou extinção produzirá efeitos patrimoniais entre os companheiros, não prejudicando terceiros que não tiverem
participado da escritura pública”, seja porque o registro de instrumento particular poderia, em tese, ser realizado em cartórios de quaisquer localidades,
o que dificultaria sobremaneira a pesquisa a ser empreendida pelo terceiro. 13) De todo modo, essa questão, que deverá ser objeto de reflexão e exame
oportunamente e em processo que a discuta em caráter principal, não se mostra determinante para a resolução da hipótese em exame” (3ª Turma, REsp
1988228 / PR, Rel. Nancy Andrighi, j. 07/06/2022).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGIME DE
BENS
•Separação obrigatória de bens?

•Tartuce: o artigo 1.723, §2º, do Código Civil esclarece que as causas suspensivas do casamento
não impedem a caracterização da união estável: “Como decorrência lógica dessa premissa legal, as
causas suspensivas do casamento não impõem o regime da separação obrigatória de bens à união
estável”

•STJ: aplica-se.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGIME DE
BENS
“1. Esta Corte assentou seu entendimento de que aplica-se à união estável a mesma regra de obrigatoriedade do regime de
separação de bens incidente ao casamento. Precedentes.

2. O STJ tem orientação consolidada de que é obrigatório o regime da separação de bens no casamento do maior de setenta (70)
anos de idade, nos termos do artigo 1.641, II, do Código Civil. Precedentes.

3. "A ratio legis foi a de proteger o idoso e seus herdeiros necessários dos casamentos realizados por interesse estritamente
econômico, evitando que este seja o principal fator a mover o consorte para o enlace" (REsp 1.689.152/SC, Rel. Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 24/10/2017, DJe 22/11/2017)” (STJ, 4ª Turma, Rel. Marco Buzzi, j. 23/05/2022).

Cuidado: STF vai analisar a constitucionalidade do art. 1.641, II, CC.


UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGIME DE
BENS
• Súmula 377, STF: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na
constância do casamento”.

• STJ: deve-se comprovar o esforço comum dos companheiros.


UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: RESTRIÇÃO À
CONTRATAÇÃO DE SOCIEDADE
• De acordo com o artigo 977 do Código Civil: “Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si
ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da
separação obrigatória.”

• Divergência doutrinária: (a) norma restritiva de direito (não se aplica à união estável); (b)
fundamentos também valem para a união estável; logo a norma se aplica a esse instituto.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: OUTORGA
CONVIVENCIAL
• “São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, n. 1), ou à maneira de os exercer: (...) II – As mulheres casadas,
enquanto subsistir a sociedade conjugal.” (art. 6º, CC/16)

• Lei 4.121/62 (Estatuto da Mulher Casada): concedeu capacidade civil plena; afastou restrições de exercer profissão e
aceitar mandato sem autorização do marido. Surgiram, porém, hipóteses de outorga marital (eram ainda diversas para o
homem e a mulher).

• CC/02 previu hipóteses de outorga conjugal idênticas, em respeito à isonomia constitucional entre homens e
mulheres: art. 1.648, CC.

• Lembrar da distinção: capacidade de direito x capacidade de fato x legitimação


UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: OUTORGA
CONVIVENCIAL
• Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:

• I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;

• II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;

• III - prestar fiança ou aval;

• IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.

• Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou estabelecerem economia separada.

• Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.

• Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a
anulação, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal.

• Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou particular, autenticado.

• Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem consentimento, ou sem suprimento do juiz, só poderá ser demandada pelo cônjuge a
quem cabia concedê-la, ou por seus herdeiros.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: OUTORGA
CONVIVENCIAL
• Rosenvald e Farias: desnecessidade, pois é necessário proteger terceiro de boa-fé

• Paulo Lôbo: Entende que “a má-fé do companheiro não pode ser presumida, nem pode o direito do credor prevalecer sobre o direito de constituir união
estável, que tem fundamento constitucional” (LÔBO: 2021, p. 182).

• Citando diversos julgados do Superior Tribunal de Justiça, defendem Carlos Elias e João Costa-Neto que “a vênia conjugal do art. 1.647 do CC deve ser
aplicada também para casos de união estável (caso em que se falará em vênia convivencial) se esta for conhecida de terceiros e tiver sido lançada no
Registro Público (...). Embora os julgados do STJ tenham se referido ao Registro de Imóveis para a publicidade, também se admite o registro no Registro
Civil das Pessoas Naturais por força do Provimento n. 37/2014-CN/CNJ.” Os autores observam, ainda, que há inconsistência da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça sobre o tema, que decidiu pela ausência de necessidade da outorga convivencial nos casos de fiança, mas pela sua imprescindibilidade
quando da alienação de imóveis. Ressaltam, porém, que “a solução jurídica tem de ser igual para casos de fiança ou de venda de imóvel” e destacam que
“a tendência é o STJ admitir essa extensão nas hipóteses em que a união estável tiver sido registrada no Cartório em que ela for efetivamente conhecida
pela outra parte, conforme julgados mais recentes de ambas as turmas de Direito Privado do STJ” (OLIVEIRA e COSTA-NETO: 2022, p. 1248-1249).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: OUTORGA
CONVIVENCIAL
•  Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo
quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
• § 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
• I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens;
• II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
• III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
• IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os
cônjuges.
• § 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de
composse ou de ato por ambos praticado.
• § 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO:
EMANCIPAÇÃO
• Farias, Rosenvald e Braga Netto (2022, p. 1256-1257) explicam que a solução adotada pelo Código
Civil, de não ampliar aos companheiros o efeito pessoal da emancipação, é equivocada: “Com
efeito, não parece razoável privar o companheiro menor de idade da emancipação. Isso porque se
a união estável é entidade familiar, merecedora de especial proteção do Estado, não há sentido em
restringir a proteção do companheiro menor de idade. Sobre o tema, inclusive, já há precedentes
jurisprudenciais reconhecendo a emancipação decorrente de união convivencial (TJ/GO, Ac. 1ª
Câm. Cív., Ap. Cív. 57266-01/188 – Comarca de Quirinópolis, Rel. Des. Ney Teles de Paula, j.
9.10.2001, DJGO 12.11.2001).”
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: PRESCRIÇÃO

• O artigo 197 do Código Civil dispõe que não corre prescrição entre cônjuges na constância da
sociedade conjugal. A doutrina entende que essa norma se aplica igualmente a companheiros
(FARIAS; ROSENVALD e BRAGA NETTO: 2022, p. 1257).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: DIREITOS
SUCESSÓRIOS
•o Supremo Tribunal Federal firmou a seguinte tese em repercussão geral: “No sistema
constitucional vigente, é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e
companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no art. 1.829 do
CC/2002” (RE 878.694/MG, Rel. Luís Roberto Barroso).

•Em embargos de declaração no RE 878.694, a Suprema Corte negou provimento ao recurso,


deixando claro que a decisão proferida não abordou a polêmica questão sobre ser ou não o
companheiro herdeiro necessário, mas se limitou a tratar da ordem de sucessão hereditária.
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: DIREITOS
SUCESSÓRIOS
•Superior Tribunal de Justiça já estendeu ao companheiro supérstite o direito real de habitação,
previsto expressamente no artigo 1.830 do Código Civil ao cônjuge (STJ, 4ª Turma, AgInt no REsp
1757984/DF, Rel. Antonio Carlos Ferreira, j. 30/08/19).
UNIÃO ESTÁVEL X CASAMENTO: REGISTRO

• Casamento: obrigatório (o casamento se comprova pela certidão)

•União estável: facultativo (a união estável se comprova por qualquer meio)


RETROSPECTIVA DE JURISPRUDÊNCIA DE
DIREITO CIVIL (DIREITO DE FAMÍLIA)
Thiago Pedro Pagliuca dos Santos (Instagram: @thiagopagliucas)
• Juiz de Direito (TJ/SP – 2018-atual)
• Doutor em Direito Penal (USP - 2020)
• Doutorando em Direito Civil (PUC/SP – 2022-atual)
• Mestre em Direito Penal (USP - 2015)
• Especialista em Direito de Família e em Direito Registral (2022)
• Ex-Defensor Público do Rio Grande do Sul (2012-2013)
• Ex-Defensor Público de São Paulo (2013-2018)
• Ex-Professor da Faculdade de Direito de São Bernardo (2021)
AULA 6 – RETROSPECTIVA DE JURISPRUDÊNCIA
DE DIREITO CIVIL (DIREITO DE FAMÍLIA)
PARTE I: CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL
1. CONCUBINATO NÃO SE EQUIPARA À UNIÃO
ESTÁVEL

1. Nos termos do Tema 526/STF, é incompatível com a Constituição Federal o reconhecimento de


direitos previdenciários (pensão por morte) à pessoa que manteve, durante longo período e com
aparência familiar, união com outra casada, porquanto o concubinato não se equipara, para fins
de proteção estatal, às uniões afetivas resultantes do casamento e da união estável. (AgInt no
RE nos EDcl no AgRg no Ag 1.424.071-RO, Rel. Min. Jorge Mussi, Corte Especial, por
unanimidade, julgado em 07/06/2022, DJe 09/06/2022)
2. Obs. É possível o reconhecimento da união estável de pessoa casada, se estiver separada (de fato
ou de direito)
2. A SÚMULA 377 PODE SER AFASTADA PELAS
PARTES PARA ESTIPULAR REGIME MAIS
PROTETIVO
• No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento
(Súmula 377, STF).

• No casamento ou na união estável regidos pelo regime da separação obrigatória de bens, é


possível que os nubentes/companheiros, em exercício da autonomia privada, estipulando o que
melhor lhes aprouver em relação aos bens futuros, pactuem cláusula mais protetiva ao regime
legal, com o afastamento da Súmula n. 377 do STF, impedindo a comunhão dos aquestos.
REsp 1.922.347-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
07/12/2021, Dje 01/02/2022.
2. A SÚMULA 377 PODE SER AFASTADA PELAS
PARTES PARA ESTIPULAR REGIME MAIS
PROTETIVO
• É bem de ver que, com essa interpretação, o casal ou os companheiros não estão substituindo o regime de bens
de separação obrigatória pelo de separação convencional, o que é vedado pela norma (CC, art. 1.641, II), aliás
cogente e imperativa. O que se reconhece é tão somente a possibilidade de os cônjuges/companheiros
estipularem, no pacto antenupcial, cláusula mais protetiva ao seu enlace, afastando a mitigação decorrente da
Súmula n. 377 do STF. Isto é, "o casal não se casa por separação convencional de bens após fazer o pacto. Casa-
se por separação obrigatória com pacto antenupcial de separação de bens" (SIMÃO, José Fernando. Ob.cit). Isso
é fundamental, seja em razão da nulidade por violação a norma de ordem pública, uma vez que o pacto
antenupcial não pode ser contrário à voluntas legislatoris, seja em virtude das consequências advindas de tal
posicionamento, haja vista que as disposições sobre o regime de bens poderão repercutir em diversos outros
momentos, como, por exemplo, no direito sucessório.
3. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA SE APLICA À
UNIÃO ESTÁVEL
• Súmula n. 655, STJ: Aplica-se à união estável contraída por septuagenário o regime da separação
obrigatória de bens, comunicando-se os adquiridos na constância, quando comprovado o esforço comum.
(Segunda Seção. Aprovada em 09/11/2022).

• O STF reconheceu a repercussão geral do assunto para verificar a compatibilidade do regime de separação
obrigatória do septuagenário com a CF.

• A comprovação do esforço comum é exigida pelo STJ (embora alguns tribunais presumam o esforço comum)

• No ano de 2016, o STJ, excepcionando a regra legal que impõe o regime da separação obrigatória, afastou "a obrigatoriedade
do regime de separação de bens quando o matrimônio é precedido de longo relacionamento em união estável, iniciado quando
os cônjuges não tinham restrição legal à escolha do regime de bens, visto que não há que se falar na necessidade de proteção do
idoso em relação a relacionamentos fugazes por interesse exclusivamente econômico" (REsp 1318281/PE, Rel. Ministra Maria
Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgado em 01/12/2016, DJe 07/12/2016).
3. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA SE APLICA À
UNIÃO ESTÁVEL
• “Tem-se, assim, que a adoção da compreensão de que o esforço comum deve ser presumido (por ser a regra) conduz à ineficácia
do regime da separação obrigatória (ou legal) de bens, pois, para afastar a presunção, deverá o interessado fazer prova negativa,
comprovar que o ex-cônjuge ou ex-companheiro em nada contribuiu para a aquisição onerosa de determinado bem, conquanto
tenha sido a coisa adquirida na constância da união. Torna, portanto, praticamente impossível a separação dos aquestos.

• Por sua vez, o entendimento de que a comunhão dos bens adquiridos pode ocorrer, desde que comprovado o esforço comum,
parece mais consentânea com o sistema legal de regime de bens do casamento, recentemente confirmado no Código Civil de
2002, pois prestigia a eficácia do regime de separação legal de bens. Caberá ao interessado comprovar que teve efetiva e
relevante (ainda que não financeira) participação no esforço para aquisição onerosa de determinado bem a ser partilhado com a
dissolução da união (prova positiva).”

• “Se se aplicasse essa presunção de esforço comum para sexagenários que, aos invés de se casar formalmente, optassem por
estabelecer uma relação informal, estar-se-ia conferindo maiores direitos àqueles que se unem informalmente após a idade legal,
60 (sessenta) anos no Código anterior e 70 (setenta) anos no Código atual, do que àqueles que, na mesma época, com a mesma
idade, decidissem se casar, aos quais a Lei impõe a separação obrigatória”.
4. NEGÓCIO JURÍDICO SIMULADO É NULO

• O reconhecimento de simulação na compra e venda de imóvel em detrimento da partilha de


bens do casal gera nulidade do negócio e garante o direito à meação a ex-cônjuge. REsp
1.969.648-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 18/10/2022,
DJe 21/10/2022.

• “A revaloração da prova ou de dados explicitamente admitidos e delineados no decisório recorrido,


quando suficientes para a solução da lide, não implica reexame do conjunto fático-probatório, mas
apenas seu correto enquadramento jurídico”.

• Simulação pode ser conhecida de ofício, é causa de nulidade absoluta.

• O negócio dissimulado subsiste.


5. VALOR DE PLANO ABERTO DE PREVIDÊNCIA
INTEGRA O PATRIMÔNIO COMUM
• Os valores depositados em planos abertos de previdência privada durante a vida em comum
do casal, integram o patrimônio comum e devem ser partilhados. REsp 1.545.217-PR, Rel.
Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, por maioria,
julgado em 07/12/2021.

• No caso de planos mantidos em entidades abertas, o titular escolhe a quantia a ser destinada ao
fundo de previdência privada, a periodicidade de sua contribuição, e tem assegurado, pelo art. 27 da
Lei Complementar n. 109/2001 (inserido em Seção intitulada "Dos Planos de Benefícios de
Entidades Abertas"), o direito a resgate total ou parcial dos recursos.
5. VALOR DE PLANO ABERTO DE PREVIDÊNCIA
INTEGRA O PATRIMÔNIO COMUM
• Portanto, as reservas financeiras aportadas durante a sociedade conjugal, em entidades abertas de
previdência privada, constituem patrimônio que pode ser resgatado, vencida a carência contratual,
e, portanto, deve ser partilhado de acordo com as regras do regime de bens, assim como o seriam
tais valores se depositadas em outro tipo de aplicação financeira, como contas bancárias e
cadernetas de poupança.

• Assim, a importância em dinheiro, depositada em instituição bancária, ou investida nas diversas


espécies de aplicações financeiras disponíveis no mercado, oriunda dos proventos do trabalho -
única fonte de renda na maioria dos casais brasileiros - sobejante do custeio das despesas cotidianas
da família, integra o patrimônio do casal, do mesmo modo como ocorre quando esse numerário é
convertido em bens móveis, imóveis ou direitos.
6. É POSSÍVEL A PENHORA DE BEM DE FAMÍLIA
PARA PAGAR DÉBITO DO CONDÔMINO
• A obrigação do coproprietário de pagar alugueres de imóvel que este utiliza com exclusividade, como moradia por sua
família, em favor do outro configura-se como propter rem afastando, assim, a impenhorabilidade do bem de família. REsp
1.888.863-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por maioria, julgado em
10/05/2022, DJe 20/05/2022.

• A posse exclusiva (uso e fruição), por um dos coproprietários, é fonte de obrigação indenizatória aos demais coproprietários, porque
fundada no direito real de propriedade.

• Ademais, determina, no art. 1319, que “cada condômino responde aos outros pelos frutos que percebeu da coisa e pelo dano que lhe
causou”.

• Destaca-se o inciso IV, do art. 3º, da Lei supracitada, que indica as obrigações oriundas de cobrança de impostos, predial ou
territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar.

• É indevido, portanto, utilizar-se da Lei n. 8.009/1990 para prejudicar o direito de condôminos que compartilham dos mesmos
direitos e deveres sobre o bem condominial.
7. O BEM INALIENÁVEL NÃO É PARTILHÁVEL

• Nas hipóteses em que encerrada a convivência more uxorio, mas ainda não decretado o
divórcio, o bem gravado com cláusula de inalienabilidade temporária não integra o
patrimônio partilhável. Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 24/05/2022, DJe 31/05/2022.

• Assim, demonstrada a real existência da separação de fato, imperiosa se torna a aplicação analógica
da regra da separação judicial ou extrajudicial prevista no art. 1.576 do CC/2002, motivo pelo qual
um dos seus efeitos é exatamente o fim da eficácia do regime de bens.
7. O BEM INALIENÁVEL NÃO É PARTILHÁVEL

• Dessa forma, considerar como termo final do regime de bens a data da sentença de divórcio poderia
gerar situações inusitadas e injustas, já que, durante o lapso temporal compreendido entre o fim da
sociedade conjugal e a sentença de divórcio, um dos cônjuges poderia adquirir outros bens com
recursos próprios ou até mesmo com o esforço comum de um novo companheiro, mas que seriam
incluídos na partilha de bens do relacionamento extinto.

• Deve-se ressaltar que o Código Civil elegeu como princípios basilares a socialidade, a
operabilidade e a eticidade, abandonando a visão excessivamente patrimonialista e individualista da
lei civil anterior, mas que não podem ser utilizados para fundamentar a derrotabilidade da norma e
justificar situações contra legem.
8. O CÔNJUGE EMPRESÁRIO DEVE OBTER
OUTORGA CONJUGAL PARA PRESTAR FIANÇA
• É necessária a exigência geral de outorga do cônjuge para prestar fiança, sendo indiferente o fato de o
fiador prestá-la na condição de comerciante ou empresário, considerando a necessidade de proteção da
segurança econômica familiar. REsp 1.525.638-SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, por
unanimidade, julgado em 14/06/2022.

• Sabe-se que a necessidade de outorga conjugal para o contrato de fiança, exceto no regime de separação
convencional de bens, é estabelecida como exigência geral pelo art. 1.647, III, do CC/2002. A questão a ser
apreciada é se, pela dicção do art. 1.642, I, do mesmo diploma legal, o cônjuge, quando no exercício de
atividade profissional ou empresarial, está dispensado da autorização do outro cônjuge.

• Malgrado constitua embaraço ao dinamismo próprio das relações comerciais e empresariais, a exigência da
outorga leva em consideração a finalidade de proteção e manutenção do patrimônio comum, exceto se
houver anuência do outro cônjuge.
8. O CÔNJUGE EMPRESÁRIO DEVE OBTER
OUTORGA CONJUGAL PARA PRESTAR FIANÇA
• A disciplina jurídica da sanção pela ausência de outorga no atual Código Civil opera no plano da validade
do negócio jurídico, tornando anulável o contrato de fiança firmado sem anuência do outro cônjuge.
Somente em casos excepcionais é que a solução referida cede espaço para a acomodação de outros
princípios e valores também resguardados pela legislação, como, por exemplo, no caso em que o cônjuge
contratante tenha silenciado sobre sua condição de casado, circunstância em que, em observância à boa-fé
do credor da obrigação, considera-se apenas ineficaz em relação ao outro cônjuge a fiança prestada
(AgRg no REsp 1.507.413/SP, Rel. Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe 01/09/2015).

• Conclui-se pela incidência da Súmula 332 do STJ, editada na vigência do Código Civil de 2002, a qual
estabelece que "a fiança prestada sem autorização de um dos cônjuges implica a ineficácia total da
garantia". Dessa forma, independentemente da qualidade de que se reveste o fiador, a legislação de
regência exige a outorga conjugal, sob pena de nulidade do negócio jurídico.
8. O CÔNJUGE EMPRESÁRIO DEVE OBTER
OUTORGA CONJUGAL PARA PRESTAR FIANÇA
• O art. 1.642, I, prevê que tanto o marido quanto a mulher podem praticar todos os atos de
disposição e de administração necessários ao desempenho de sua profissão, exceto alienar ou gravar
de ônus real os bens imóveis. Isso permitiria concluir, à primeira vista, que, se no exercício
profissional ou empresarial, o cônjuge poderia prestar fiança independentemente da outorga
conjugal, porquanto o dispositivo referido apenas excetua as hipóteses de alienar ou de gravar de
ônus reais os imóveis. Contudo, a interpretação sistemática do instituto da fiança e de seus efeitos,
bem como da finalidade da exigência legal de outorga conjugal em casos tais, conduz
inexoravelmente à conclusão em sentido diverso. Nesse ponto, não se pode olvidar que o mesmo
art. 1.642 em seu inciso IV, prevê que tanto o marido quanto a mulher podem demandar a rescisão –
ou, mais propriamente, a anulação - dos contratos de fiança e doação, assim como a invalidação do
aval, realizados pelo outro cônjuge com infração do disposto nos incisos III e IV do art. 1.647.
9. É POSSÍVEL A USUCAPIÃO DE BEM COMUM

• Dissolvida a sociedade conjugal, o bem imóvel comum do casal rege-se pelas regras relativas ao
condomínio, ainda que não realizada a partilha de bens, possuindo legitimidade para usucapir
em nome próprio o condômino que exerça a posse por si mesmo, sem nenhuma oposição dos
demais coproprietários. REsp 1.840.561-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 03/05/2022, DJe 17/05/2022.

• Não é demasiado lembrar que a dissolução da sociedade conjugal (através da separação ou do


divórcio) cessa o estado de mancomunhão dos bens comuns e, enquanto não partilhado o imóvel, "a
propriedade do casal sobre o bem rege-se pelo instituto do condomínio, aplicando-se a regra contida
no art. 1319 do CC, segundo a qual cada condômino responde ao outro pelos frutos que percebeu da
coisa" (REsp 1.375.271/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 21/9/2017, DJe
2/10/2017).
10. O DIREITO DE HABITAÇÃO NÃO PODE
PREJUDICAR CONDÔMINOS
• 10. Tem direito ao recebimento de aluguéis a parte que, sem vínculo de parentalidade com a
cônjuge supérstite, possuía imóvel em copropriedade com o de cujus. REsp 1.830.080-SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 26/04/2022, DJe
29/04/2022.

• “A copropriedade anterior à abertura da sucessão impede o reconhecimento do direito real de


habitação, visto que de titularidade comum a terceiros estranhos à relação sucessória que ampararia o
pretendido direito " (EREsp 1.520.294/SP, Rel. Ministra Maria Isabel Gallotti, Segunda Seção, DJe
02/09/2020).

• Da mesma forma, segundo a doutrina, "o direito de habitação só existe sobre bem que pertence, em
sua integralidade, ao de cujus. A existência de coproprietários impede o uso pelo sobrevivente".
11. MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
NÃO DEVE ALUGUEIS AO AGRESSOR
• Incabível o arbitramento de aluguel em desfavor da coproprietária vítima de violência doméstica, que, em razão de
medida protetiva de urgência decretada judicialmente, detém o uso e gozo exclusivo do imóvel de cotitularidade do
agressor. REsp 1.966.556-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 08/02/2022.

• (...) constituiria proteção insuficiente aos direitos constitucionais da dignidade humana e da igualdade, além de ir contra um dos
objetivos fundamentais do Estado brasileiro de promoção do bem de todos sem preconceito de sexo, sobretudo porque serviria
de desestímulo a que a mulher buscasse o amparo do Estado para rechaçar a violência contra ela praticada, como assegura a
Constituição Federal em seu art. 226, § 8º, a revelar a desproporcionalidade da pretensão indenizatória em tais casos.

• Ao ensejo, registre-se que a interpretação conforme a constituição de lei ou ato normativo, atribuindo ou excluindo determinado
sentido entre as interpretações possíveis em alguns casos, não viola a cláusula de reserva de plenário, consoante já assentado
pelo Supremo Tribunal Federal no RE 572.497 AgR/RS, Rel. Min. Eros Grau, DJ 11/11/2008, e no RE 460.971, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, DJ 30/3/2007 (ambos reproduzindo o entendimento delineado no RE 184.093/SP, Rel. Moreira Alves,
publicado em 29/4/1997).
12. A DISTRIBUIÇÃO DO ÔNUS DA PROVA DEVE
CONSIDERAR A FACILIDADE EM SUA PRODUÇÃO
• A atribuição dinâmica do ônus probatório acerca da realização de acessões/benfeitorias em imóvel de propriedade do
cônjuge varão, objeto de eventual partilha em ação de divórcio, pode afastar a presunção do art. 1.253 do Código Civil
de 2002. Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 29/03/2022, DJe
31/03/2022.

• Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário (art.
1.253); “As benfeitorias em bens particulares de cada cônjuge (art. 1.660, inc. IV).

• Para dar concretude ao princípio da persuasão racional do juiz, insculpido no art. 371 do CPC/2015, aliado aos postulados de
boa-fé, de cooperação, de lealdade e de paridade de armas previstos no novo diploma processual civil (arts. 5º, 6º, 7º, 77, I e
II, e 378 do CPC/2015), com vistas a proporcionar uma decisão de mérito justa e efetiva, que foi introduzida a faculdade de o
juiz, no exercício dos poderes instrutórios que lhe competem (art. 370 do CPC/2015), atribuir o ônus da prova de modo
diverso entre os sujeitos do processo quando diante de situações peculiares (art. 371, § 1º, do CPC/2015). A
instrumentalização dessa faculdade foi denominada pela doutrina processual teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova
ou teoria da carga dinâmica do ônus da prova.
13. CASAMENTO NUNCUPATIVO É VÁLIDO AINDA
QUE ULTRAPASSADO O PRAZO DE 10 DIAS
• Para formalização do casamento nuncupativo, é admissível a flexibilização do prazo de 10
dias para as testemunhas comparecerem perante a autoridade judicial. Processo sob segredo
judicial, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 22/03/2022.

• Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da
autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença
de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até segundo
grau.

• Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais
próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração
14. RENÚNCIA A DIREITO DEVE SER
INTERPRETADA RESTRITIVAMENTE
• Sob a égide do CPC/1973, inexiste incompatibilidade lógica entre o acordo efetuado quanto à
pretensão principal de separação conjugal e o prosseguimento do feito quanto às pretensões
conexas. Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por unanimidade,
julgado em 15/03/2022.

• Destaca-se que, enquanto instrumento de declaração ou renúncia a direitos, a transação deve ser
interpretada de forma restritiva, o que vai ao encontro, aliás, do vetor hermenêutico
consubstanciado no artigo 114 do Código Civil, in verbis: os negócios jurídicos benéficos e a
renúncia interpretam-se estritamente.
AULA 6 – RETROSPECTIVA DE JURISPRUDÊNCIA
DE DIREITO CIVIL (DIREITO DE FAMÍLIA)
PARTE II: FILIAÇÃO
15. É POSSÍVEL A ADOÇÃO POR MÃE BIOLÓGICA
DESTITUÍDA DO PODER FAMILIAR
• O pedido de nova adoção formulado pela mãe biológica, em relação à filha adotada por outrem, anteriormente, na
infância, não se afigura juridicamente impossível. Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta
Turma, por unanimidade, julgado em 11/10/2022, DJe 24/10/2022.

• Cabe ressaltar que o argumento de que a adoção é irrevogável, consoante a antiga redação do art. 48 do ECA (atual art.
39, § 1º), não conduz à conclusão de que o pedido é juridicamente impossível. Isso, porque a finalidade da
irrevogabilidade da adoção é proteger os interesses do menor adotado, em se tratando de criança e adolescente.

• Com efeito, o escopo da norma é vedar a revogação da filiação adotiva a fim de evitar que os adotantes simplesmente
"arrependam-se" da adoção efetivada, por quaisquer motivos, e "devolvam" a criança ou adolescente adotado, sendo a
irrevogabilidade uma medida de proteção, estatuída em favor dos interesses do menor adotado.

• Quando o adotado, ao atingir a maioridade, deseja constituir novo vínculo de filiação e concorda com nova adoção, não
faz sentido a proteção legal
16. RECONHECIMENTO DE FRATERNIDADE POST
MORTEM
• Inexiste qualquer vedação legal ao reconhecimento da fraternidade/irmandade socioafetiva, ainda que
post mortem, pois a declaração da existência de relação de parentesco de segundo grau na linha colateral
é admissível no ordenamento jurídico pátrio, merecendo a apreciação do Poder Judiciário. Processo sob
segredo de justiça, Rel. Min. Marco Buzzi, Quarta Turma, por maioria, julgado em 04/10/2022.

• É possível, assim, compreender que a socioafetividade tenha assento tanto na relação paterno-filial quanto no
âmbito das relações mantidas entre irmãos, associada a outros critérios de determinação de parentesco
(presuntivo ou biológico), ou mesmo de forma individual/autônoma. (...).

• No âmbito das relações de parentesco, a ideia de posse de estado traduz-se em comportamentos reiterados,
hábeis a constituírem situações jurídicas passíveis de tutela. Assim, além da própria aparência e
reconhecimento social, o vínculo constituído qualifica a real dimensão da relação familiar/parentesco, erigida
sobre a socioafetividade, a qual não pode ser ignorada pelo sistema jurídico.
17. É POSSÍVEL A EXUMAÇÃO DE RESTOS MORTAIS
EM AÇÃO DE PATERNIDADE POST MORTEM
• É legal a ordem judicial de exumação de restos mortais do de cujus, a fim de subsidiar exame de DNA para
averiguação de vínculo de paternidade, diante de tentativas frustradas de realizar-se o exame em parentes vivos
do investigado, bem como de completa impossibilidade de elucidação dos fatos por intermédio de outros meios
de prova. Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 04/10/2022.

• Providência probatória inserida no âmbito das faculdades instrutórias do juiz, nos termos do art. 130, do CPC/1973
(atual art. 370, do CPC/2015), segundo o qual, "caberá ao juiz, de ofício ou a requerimento da parte, determinar as
provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias".

• De toda forma, a encerrar antigas divergências jurisprudenciais e doutrinárias, recentemente foi promulgada e
publicada a Lei n. 14.138/2021, que acrescentou o §2º ao art. 2º-A, da Lei n. 8.560/1992, possibilitando a realização do
exame de DNA nos parentes do falecido, gerando a sua recusa a presunção relativa do vínculo biológico, a ser
apreciada em conjunto com outras provas.
18. O PEDIDO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
NÃO PRESSUPÕE A ANULAÇÃO DO REGISTRO CIVIL
• Independentemente do desfecho da ação anulatória de registro civil, não há que se falar em
impossibilidade jurídica de pedido investigatório de paternidade. Processo sob segredo judicial,
Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 21/06/2022, DJe
23/06/2022.
AULA 6 – RETROSPECTIVA DE JURISPRUDÊNCIA
DE DIREITO CIVIL (DIREITO DE FAMÍLIA)
PARTE III: SUCESSÕES
19. TERMO INICIAL DA AÇÃO DE PETIÇÃO DE
HERANÇA É A MORTE
• O prazo prescricional para propor ação de petição de herança conta-se da abertura da
sucessão. (Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Segunda Seção, por
maioria, julgado em 26/10/2022)

• A ausência de prévia propositura de ação de investigação de paternidade, imprescritível, e de seu


julgamento definitivo não constitui óbice para o ajuizamento de ação de petição de herança e para o
início da contagem do prazo prescricional. A definição da paternidade e da afronta ao direito
hereditário, na verdade, apenas interfere na procedência da ação de petição de herança
20. NO ARROLAMENTO SUMÁRIO, O RECOLHIMENTO DO
ITCMD NÃO PRECISA SER PRÉVIO

•No arrolamento sumário, a homologação da partilha ou da adjudicação, bem como a


expedição do formal de partilha e da carta de adjudicação, não se condicionam ao
prévio recolhimento do imposto de transmissão causa mortis, devendo ser
comprovado, todavia, o pagamento dos tributos relativos aos bens do espólio e às suas
rendas, a teor dos arts. 659, § 2º, do CPC/2015 e 192 do CTN. (REsp 1.896.526-DF, Rel.
Min. Regina Helena Costa, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em 26/10/2022, DJe
28/10/2022. (Tema 1074))
•O art. 659, § 2º, do CPC/2015, com o escopo de resgatar a essência simplificada do
arrolamento sumário, remeteu para fora da partilha amigável as questões relativas ao
ITCMD, cometendo à esfera administrativa fiscal o lançamento e a cobrança do tributo.
21. O ESPÓLIO NÃO DEVE ARCAR COM
HONORÁRIOS DE ADVOGADO DE HERDEIRO
• Havendo conflito de interesses entre os herdeiros, as despesas de verba honorária do
advogado constituído pelo inventariante não devem ser suportadas pelo espólio. AgInt no
AREsp 1.924.962-CE, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em
08/08/2022, DJe 12/08/2022.
22. O ATO INFRACIONAL EQUIPARA-SE A CRIME
PARA FINS DE INDIGNIDADE
• É juridicamente possível o pedido de exclusão do herdeiro em virtude da prática de ato
infracional análogo ao homicídio, doloso e consumado, contra os pais, à luz da regra do art.
1.814, I, do CC/2002. REsp 1.938.984-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 15/02/2022, DJe 18/02/2022.

• O herdeiro que seja autor, coautor ou partícipe de ato infracional análogo ao homicídio doloso
praticado contra os ascendentes fica excluído da sucessão. REsp 1.943.848-PR, Rel. Min. Nancy
Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 15/02/2022, DJe 18/02/2022.
22. O ATO INFRACIONAL EQUIPARA-SE A CRIME
PARA FINS DE INDIGNIDADE
• Na esteira da majoritária doutrina, o rol do art. 1.814 do CC/2002, que prevê as hipóteses
autorizadoras de exclusão de herdeiros ou legatários da sucessão, é taxativo, razão pela qual se
conclui não ser admissível a criação de hipóteses não previstas no dispositivo legal por intermédio
da analogia ou da interpretação extensiva.

• Contudo, o fato do rol ser taxativo não induz à necessidade de interpretação literal de seu conteúdo
e alcance, uma vez que a taxatividade do rol é compatível com as interpretações lógica, histórico-
evolutiva, sistemática, teleológica e sociológica das hipóteses taxativamente listadas.
AULA 6 – RETROSPECTIVA DE JURISPRUDÊNCIA
DE DIREITO CIVIL (DIREITO DE FAMÍLIA)
PARTE IV: PRISÃO CIVIL
23. A PRISÃO CIVIL É MEDIDA EXCEPCIONAL

• Na cobrança de obrigação alimentar, é cabível a cumulação das medidas executivas de coerção pessoal e
de expropriação no âmbito do mesmo procedimento executivo, desde que não haja prejuízo ao devedor
nem ocorra qualquer tumulto processual. Processo sob segredo judicial, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 09/08/2022.

• A prisão civil do devedor de alimentos pode ser excepcionalmente afastada, quando a técnica de coerção
não se mostrar a mais adequada e eficaz para obrigá-lo a cumprir suas obrigações. RHC 160.368-SP,
Rel. Min. Moura Ribeiro, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 05/04/2022, DJe 18/04/2022.

• É admissível a cumulação, em um mesmo processo, de cumprimento de sentença de obrigação de pagar


alimentos atuais, sob a técnica da prisão civil, e alimentos pretéritos, sob a técnica da penhora e da
expropriação. (Informativo 756, Processo sob segredo de justiça, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma,
por unanimidade, julgado em 18/10/2022, DJe 21/10/2022)

Você também pode gostar