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2) Consignação em depósito – arts. 841º a 846º do Código Civil e art. 916º e segs. do
NCPC
Como afirma Antunes Varela (“Das Obrigações em Geral”, II, 194), se após a
consignação em depósito pelo devedor, o credor suporta o risco (da perda ou
deterioração da coisa depositada) e perde o direito a receber juros de mora (o
que tem justificação legal, desde logo, para os casos de mora do credor), também
é verdade que a consolidação destes (e de outros) efeitos, ligada como está à
extinção retroactiva da obrigação, só se compreende em termos daquele último
preceito) com a aceitação do credor ou com a declaração judicial de validade da
consignação (em função dos fundamentos legais e do objecto mediato da
prestação) ”.
Compensação
Esta compensação legal dos créditos ou das dívidas é renunciável (cfr. o art.
853.°, 2), não se processando automaticamente mas mediante declaração
unilateral receptícia de vontade não condicionada nem feita a termo (art.
848.°).
a) Ser o seu crédito exigível judicialmente e não proceder contra ele excepção, peremptória ou
dilatória, de direito material;
b) Terem as duas obrigações por objecto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade.
2. Se as duas dívidas não forem de igual montante, pode dar-se a compensação na parte
correspondente.
Todavia, circunstâncias há, que obstam à compensação, como resulta do art. 853º do Código
Civil.
***
No Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11.1.2010 – Proc. 2226/07 –
7TJVNF.P1.S1, - Relator Sebastião Póvoas – in www.dgis.pt, pode ler-se:
“A novação, nos termos em que está regulada entre nós, não é mais do que
um acordo que conduz à extinção da obrigação existente, surgindo uma nova
obrigação que toma o lugar da primeira.
[…] Por aplicação do disposto nos arts. 861.° e 862.° a novação conduz, em
princípio, à extinção dos acessórios (maxime, garantias) …que acompanhavam a
obrigação existente (pode mesmo haver um obstáculo à novação no caso do
credor querer subordinar a nova obrigação à manutenção de uma garantia de
terceiro, não querendo este continuar a prestá-la), impedindo também a
invocação pelo novo devedor dos meios de defesa (por ex., uma excepção de
não cumprimento ou a invocação da prescrição extintiva) que eram relevantes
perante a obrigação existente…”.
Como observa Antunes Varela (Obra citada, pág. 231), é evidente que a
fixação da vontade das partes a esse respeito reveste o maior interesse, “pois a
substituição da obrigação pressupõe, em regra, a eliminação das garantias e
dos acessórios da dívida extinta, ao passo que na simples modificação da
obrigação se mantêm todos os elementos que não foram alterados.
Assim sendo, deve ter-se por adquirido, como anotam Pires de Lima e
Antunes Varela (Código Civil Anotado, Vol. II, 3ª ed., pág. 149) que, “para que
haja novação, objectiva ou subjectiva, é necessário que uma obrigação nova
venha substituir a antiga; e só é nova a obrigação quando haja uma alteração
substancial nos seus elementos constitutivos.
Não basta, por isso, que se altere, por exemplo, a data do cumprimento, se
aumente ou reduza a taxa de juro, se majore ou reduza o preço, ou se dê por
finda uma garantia, etc. É preciso que seja outra a obrigação e não seja apenas
modificada ou alterada a obrigação existente”.
Remissão
Confusão
A confusão, que opera ope legis, não parece ser figura privativa dos
direitos de crédito pois pode ocorrer uma situação semelhante…no âmbito dos
direitos reais de gozo ou de garantia (por ex., o usufrutuário adquire a nua-propriedade, o
superficiário adquire a propriedade do solo ou o retentor adquire a propriedade do bem retido).
A confusão, apesar de extinguir o crédito e os seus acessórios (por ex., se
António deve a Bernardo, sendo fiador Camilo, a sucessão de António a Bernardo
põe termo à fiança (…), não prejudica, contudo, os direitos de terceiros (…)
(tendo em conta a redacção do art. 1089.°, o art. 871.°,1, não pode servir,
contudo, de fundamento à manutenção do subarrendamento apesar do
arrendatário se ter tornado proprietário).
Menezes Leitão, in Direito das Obrigações, vol. II, 2011, págs. 232 a 235.
2. Pressupostos da confusão
Regime da confusão
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Sumário:
I - A abertura de conta – negócio jurídico complexo e duradouro – opera como acto nuclear comum dos
diversos actos bancários, sejam eventuais, como o depósito bancário, ou necessários, como a conta
corrente.
II - O depósito bancário é o contrato pelo qual uma pessoa (depositante) entrega certa quantia em
dinheiro a um banco o qual dela poderá dispor como coisa própria, mediante retribuição (juros),
obrigando-se o depositário a restituí-la, mediante solicitação e de acordo com as condições estabelecidas.
III - Resultando provado que L celebrou com o banco-réu um contrato de abertura de conta
bancária e um contrato de depósito bancário, ficando aquela titular exclusiva dessa conta, é
inoponível ao banco a relação da autora com a referida L, quanto à titularidade de determinada verba
depositada na conta, que representava o seu saldo em determinada data.
IV - Não sendo o acordo fiduciário oponível ao banqueiro, não viola qualquer um dos requisitos da
compensação a retenção, pelo banco, de tal saldo, pelo valor de uma dívida que L tinha para com aquele.
VI - A compensação – forma de extinção de duas obrigações, pela dispensa de ambas de realizar as suas
prestações ou pela dedução a uma das prestações da prestação devida pela outra parte – pode ser legal
ou convencional.
VII - A compensação voluntária ou convencional apenas está vedada quando se trate de créditos
impenhoráveis ou de créditos cuja compensação envolva prejuízo para os direitos de outrem.
VIII - Configura uma compensação convencional a declaração, assinada pela autora M, pela titular da
conta L e pelo banco na qual as primeiras declaram “que, com a restituição do valor de € 27.894,80, nada
mais temos a receber ou a exigir do Banco, seja a que título for. A referida importância € 27.894,80 deverá
ser entregue a M (…). E declaramos ter recebido do Banco… a importância de € 27.894.80 em numerário,
nada mais tendo dele a haver ou a exigir, seja a que título for, relacionado com a compensação efectuada
na conta nº X, em nome de L, conforme acordado”.
IX - Não age em abuso do direito e contrariamente aos ditames da boa fé o banco que procedeu à
compensação sem saber que a quantia depositada era pertença de terceiro o saldo.
Sumário:
1. A “compensação” é uma forma de extinção das obrigações em que, no lugar do cumprimento, como
sub-rogado dela, o devedor opõe o crédito que tem sobre o credor; quando o devedor é também credor
do seu credor opera-se a circunstância jurídico-substantiva da “compensação”, através deste fenómeno
jurídico se consentindo que o devedor se desonere do seu débito a expensas deste seu consubstanciado
crédito.
2. A iliquidez não impede a compensação (artigo 847º, n.º 3, do Civil); e a compensação torna-se efectiva
mediante declaração de uma das partes à outra (art.º 848, n.º 1, do Civil).
Sumário:
I - A oposição à execução – nos termos do arts. 714.º, n.º 1, al. g) e 816.º do CPC, na redacção anterior ao
DL 226/2008, de 20-11 – baseada em título extrajudicial, pode ser fundada em facto extintivo da
obrigação, como o seja a compensação.
III - No âmbito da oposição à execução (i) só pode ser invocada a título de excepção peremptória – e não
de reconvenção, por esta ser inadmissível em processo executivo – e (ii) só pode ser compensado por
outro que também já tenha força executiva, ou seja, que seja judicialmente exigível, pois o processo
executivo não comporta a definição do contra crédito.
IV - A exigibilidade de um crédito só ocorre quando ele é reconhecido judicialmente, o que não sucede
quando, sendo invocado em oposição à execução intentada em tribunal português, o mesmo se encontra
a ser discutido – nos termos do art. 23.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 44/2001, de 22-12 – no Tribunal
de Comércio de Paris, a coberto de pacto privativo de jurisdição firmado pelas partes, constituindo, por
conseguinte matéria excluída da competência, em razão de nacionalidade, daquele tribunal (português).
Sumário:
Nº do Documento: SJ200607110023427
Data do Acórdão: 11-07-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Sumário: 1. A fase declarativa dos embargos de executado, estruturalmente extrínseca à acção executiva, configura-
se como contra execução, destinada à declaração da sua extinção, sob o fundamento de inexistência da
obrigação exequenda ou do título executivo ou de verificação da sua ineficácia.
2. Os embargos de executado não comportam reconvenção nem a invocação pelo embargante, no confronto
do embargado, da compensação por via da afirmação de um direito indemnizatório derivado de
responsabilidade civil contratual.
3. Não há, para efeitos de caso julgado material, identidade de pedidos nos embargos e na acção
declarativa, ambos fundados em incumprimento contratual, se nos primeiros se pediu a compensação e a
extinção do crédito exequendo e, na última, a condenação no pagamento de indemnização e que se operasse
a compensação em relação àquele crédito.
4. A sentença homologatória do acto de desistência do pedido formulado nos embargos só produz efeitos de
caso julgado formal, naquele procedimento, não se estendendo à acção declarativa.
Nº do Documento: SJ200601310037671
Data do Acórdão: 31-01-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Sumário: - Cabe, em princípio, às partes a indicação precisa dos montantes peticionados e só em casos excepcionais é
que se pode deixar para averiguação do tribunal a tarefa de determinação do valor das obrigações;
- em caso de compensação de créditos, o A. tem direito a juros a partir da citação, nos termos do nº 1 do
art. 805º do C. Civil, já não sobre a totalidade da importância inicialmente reclamada, mas apenas sobre o
valor encontrado pela diferença dos mesmos.
Nº do Documento: SJ200609120019811
Data do Acórdão: 12-09-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Sumário: 1. A incerteza sobre a pessoa a quem a prestação pode ser efectuada só legitima o recurso à consignação em
depósito, como resulta do art. 841º nº 1 al. a) do C.Civil, quando for objectiva e não depender da culpa
(negligência ou inépcia) do devedor.
2. Para os fins contidos no nº 2 do art. 16º do Dec. - Lei nº 522/85 de 31 de Dezembro, não pode
considerar-se que a actuação do Fundo de Garantia Automóvel, ao ser citado para diversas acções e
verificar ou ter possibilidade de verificar que o capital seguro se encontrava a esgotar, em virtude das
aludidas acções intentadas por diversos lesados, sem nada ter vindo invocar nos autos, tenha sido isenta de
má fé, naquele preciso sentido de ter agido com negligência, um vulgo "deixar andar" que não se pode
repercutir nos legítimos interesses desses lesados.
3. Sendo a boa fé um princípio de actuação geral, pode ser, no que concerne à problemática contratual,
dividida em dois postulados essenciais: a tutela da confiança e a primazia da materialidade subjacente.
4. Quanto a esta última, consiste em avaliar as condutas não apenas pela conformidade com os comandos
jurídicos, mas também de acordo com as consequências materiais para efeitos de adequada tutela dos
valores em jogo.
5. A boa fé constitui um princípio geral de Direito cuja aplicação no Direito das Obrigações se reconduz à
imposição de comportamentos às partes, em ordem a possibilitar o adequado funcionamento do vínculo
obrigacional, em termos de pleno aproveitamento da prestação, e evitar a ocorrência de danos para as
mesmas partes.
Nº do Documento: SJ
Data do Acórdão: 02-07-2015
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Sumário :
I - A exigibilidade do crédito para efeito de compensação – art. 847.º, n.º 1,
al. a), do CC – não significa que o crédito (passivo) do compensante, no
momento de ser invocado, tenha de estar já definido judicialmente: do que
se trata é de saber se tal crédito existe na esfera jurídica do compensante e
preenche os requisitos legais “não proceder contra ele excepção,
peremptória ou dilatória, de direito material e terem as duas obrigações por
objecto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade”.