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Cumprimento – Não cumprimento das obrigações

Para lá do cumprimento a lei prevê outras causas de extinção das


obrigações:

1) Dação em cumprimento – arts. 837º a 840º do Código Civil

2) Consignação em depósito – arts. 841º a 846º do Código Civil e art. 916º e segs. do
NCPC

3) Compensação – arts. 847º a 856º

4) Novação – arts. 857º a 862º

5) Remissão – arts. 863 a 867º

6) Confusão – 868º a 873º

Abordaremos o essencial das causas extintivas, seguindo o ensino do Professor Brandão


Proença, in “Lições de Cumprimento e Não Cumprimento das Obrigações”, Coimbra Editora, 1ª edição,
Setembro -2011, pág. 24 e segs.

Acerca da Dação em cumprimento (“pro soluto”) e dação em função do


cumprimento (“pro solvendo”), o ilustre civilista escreve:

“Como se retira do disposto no art. 837° do Código Civil a dação em


cumprimento, no seu sentido mais rigoroso, consiste na prestação pelo devedor
(ou por terceiro), com concordância, expressa ou tácita, do credor , de uma
“coisa” diferente da devida… […].

Na medida em que a dação em cumprimento tem por objecto a realização


de uma prestação apta a extinguir (a “pagar”) imediatamente a obrigação
inicial, não parece possível que as partes possam fazer surgir uma espécie de
dação novativa ou uma novação configurada como dação em cumprimento.

Tendo, todavia, em conta a abertura propiciada pelo nº2 do art. 840.°, a


relevância da autonomia privada e a circunstância do legislador exigir que a
novação objectiva seja expressão de uma vontade expressa, não vemos razões
para não aceitar, no acordo extintivo, o diferimento da entrega do bem cuja
propriedade já foi transmitida ao credor, a cedência de um crédito do devedor ou
mesmo, a assunção pelo devedor da obrigação (assumida in solutum) de pagar
uma dívida do seu credor.

O decisivo será sempre podermos considerar a obrigação assumida não


com um sentido novo, autónomo, substitutivo da primitiva obrigação (novandi
causa), mas inserida num acordo que visa, apesar de tudo, a imediata extinção
da obrigação existente.

“[…] A dação em função do cumprimento tem uma configuração diferente


da dação em cumprimento na medida em que, apesar de se inserir num mesmo
processo de negociação do crédito, de pressupor também uma aceitação do
credor e de consistir numa prestação diversa da devida (aliud pro alio), não tem
um efeito directamente extintivo mas visa possibilitar ao credor a satisfação
total ou parcial do seu crédito (cfr. o art. 840.°, 1).

Efectivamente, o credor, com a coisa entregue ou o crédito cedido


(presente ou futuro), irá procurar, através da venda e da cobrança, saldar o
montante do seu crédito pecuniário.

Trata-se, assim, segundo Pessoa Jorge (…), Cunha de Sá (…), e Menezes


Cordeiro (…), de uma “dação condicional”, devendo o credor prestar contas e
podendo responder por negligência na execução do que a doutrina dominante
(…) apelida de mandato conferido no interesse de ambas as partes.

Pese uma diversidade de pressupostos, há, assim, uma forma


procedimental semelhante ao acordo de cessão de bens aos credores (cfr. o art.
831.°), já que, nesta figura, o devedor também procura uma idêntica finalidade de
liquidação e de pagamento dos créditos.

Dada alguma proximidade com a dação pro soluto, é, neste contexto,


verdadeiramente importante fazer uma completa interpretação da vontade das
partes no sentido de saber se a dívida ficou ou não imediatamente extinta com
o acto substitutivo do devedor (…).

Perante a dúvida que pode suscitar, em particular, o caso da cedência de


um crédito (…) ou assunção de uma dívida (seja esta dívida uma nova obrigação,
seja uma dívida do credor para com terceiro), o art. 840.°,nº2 (…), estabelece
duas presunções relativas de que esses actos envolvem uma dação pro
solvendo.
É por isso que, sendo o cheque um mero meio de pagamento (subordinado
à boa cobrança), e não o pagamento, a entrega desse título, incorporando um
crédito cambiário, configura, em regra, uma dação pro solvendo…

A extinção da obrigação originária subjacente ao título cambiário só


ocorrerá se e quando o cheque for pago ou descontado…a circunstância de a
dívida cambiária prescrever não impede que o cheque possa valer como
reconhecimento unilateral de uma obrigação, aplicando-se o disposto no art.
458.°.

Se o crédito cedido, apesar de existente, pertencer a um devedor


insolvente não há extinção da dívida, cabendo ao devedor-cedente, não
exonerado, proceder a essa extinção, dado que, ao ceder o crédito pro solvendo,
como que garantiu o chamado nomen bonum.”

“A dação em cumprimento (datio in solutum) é uma das formas por que se


podem extinguir as obrigações e que, como ensina Antunes Varela em “Das
Obrigações em geral”, vol. II, 6ª ed., pág. 169, "consiste na realização
de uma prestação diferente da que é devida, com o fim
de, mediante acordo do credor, extinguir imediatamente
a obrigação (art. 837º) ".

Esta dação em cumprimento distingue-se da dação em função do


cumprimento, da dação pro solvendo, em que a prestação realizada, diferente
da devida, não tem como fim a extinção da obrigação, mas apenas o de
facilitar o seu cumprimento (cf. art. 840º do Código Civil e A. Varela, ob. cit.,
vol. II, pág. 172) ”.

“A diferença essencial entre a dação em cumprimento e a dação em função do


cumprimento consubstancia-se essencialmente na circunstância de, nesta última, o
devedor pretender facilitar ao credor a realização do seu direito de crédito,
realizando uma prestação diversa da devida, tendente a esse fim, e, na
primeira, o devedor pretender extinguir imediatamente a sua obrigação por
via de prestação diversa da devida.”

Consignação em depósito – Brandão Proença, obra citada.

“…Não podendo um devedor cumprir por mora do credor … (em rigor,


assente em motivo injustificado ou justificado) ou quando, sem culpa sua, não
possa cumprir por razões atinentes à pessoa do mesmo credor (incapacidade e
ausência de representante legal, ausência do local do cumprimento,
desconhecimento em cessão de crédito), o art. 841.°, numa filosofia de
favorecimento, dá ao devedor, ciente da sua obrigação e contra ou sem vontade
do credor, a possibilidade exoneratória através de um processo especial (arts.
916° e ss. do NCódigo de Processo Civil) de consignação em depósito da “coisa
devida”…

…Este meio extintivo está materialmente limitado às prestações de coisa


certa e às dívidas pecuniárias, tendo, apenas, uma eficácia definitiva (extintiva)
depois da confirmação, por sentença transitada, da “validade ” (…) da
consignação.

Quer isto dizer, que a libertação não ser imposta unilateralmente ao


credor, que a oposição deste não é, de todo, relevante, e que, até à verificação
de um daqueles dois momentos o devedor pode revogar (…) a consignação…

Tendo o nosso legislador, no art. 842.°, desfeito a dúvida de saber se um


terceiro podia ou não tomar a iniciativa da consignação… (e daí que também
tenha legitimidade para a revogação), também parece certo que, em rigor, o
momento da extinção da obrigação será o correspondente à data do depósito,
tendo em conta a eficácia retroactiva da aceitação pelo credor ou da
regularidade da consignação confirmada por decisão transitada (cfr. o art. 846.°
e uma redacção que parece apontar mais para um efeito ficcional).

Como afirma Antunes Varela (“Das Obrigações em Geral”, II, 194), se após a
consignação em depósito pelo devedor, o credor suporta o risco (da perda ou
deterioração da coisa depositada) e perde o direito a receber juros de mora (o
que tem justificação legal, desde logo, para os casos de mora do credor), também
é verdade que a consolidação destes (e de outros) efeitos, ligada como está à
extinção retroactiva da obrigação, só se compreende em termos daquele último
preceito) com a aceitação do credor ou com a declaração judicial de validade da
consignação (em função dos fundamentos legais e do objecto mediato da
prestação) ”.

O art. 841º do Código Civil estabelece:


“1. O devedor pode livrar-se da obrigação mediante o depósito da coisa devida, nos casos
seguintes:
a) Quando, sem culpa sua, não puder efectuar a prestação ou não puder fazê-lo com segurança,
por qualquer motivo relativo à pessoa do credor;
b) Quando o credor estiver em mora.
2. A consignação em depósito é facultativa”
A consignação em depósito, só é permitida ao devedor, nos casos do art.
841º do Código Civil, sendo que o facto de a não poder efectuar com
“segurança”, se refere à pessoa do credor; essa segurança não se refere à
existência objectiva do direito, mas, repete-se, à pessoa do credor.
O consignante tem de ter dúvidas sérias – não motivadas por culpa sua –
em relação a quem deve satisfazer a prestação (ao credor dela), muito embora
tenha que ter por certa a existência da obrigação.
“I – A consignação em depósito, enquanto causa de extinção de uma
obrigação, só é admissível se quem a requer não tiver dúvidas da existência da
mesma, ou seja, se apresente como efectivo devedor.

II – Havendo várias acções pendentes, umas já julgadas e outras por julgar,


onde se encontra controvertido não só o montante indemnizatório decorrente do
acidente de viação, mas igualmente a própria existência dessa obrigação de
indemnização, não é admissível o recurso à consignação em depósito por parte de
quem não se reconhece como devedor”- Ac. do Supremo Tribunal de Justiça, de 13.12.2000,
in CJ/STJ,III, 161.

Compensação

“Apesar de poder haver uma compensação judicial e uma compensação


convencional, resultante de um acordo cujo conteúdo pode prescindir, em parte,
dos requisitos exigidos para a compensação legal…é a esta que o Código Civil
unicamente se refere.
Existindo créditos e débitos recíprocos do mesmo ou de diferente
montante…de natureza fungível (o que comporta a presença de obrigações
genéricas) e homogéneas (“da mesma espécie e qualidade”) e, tipicamente, já
liquidados…pode, na hipótese mais linear, qualquer dos devedores, sob certos
pressupostos, potestativamente e com as excepções referidas no art. 853.°, ver
extinta, total ou parcialmente, a sua obrigação cfr. o art. 847.°)

Esta compensação legal dos créditos ou das dívidas é renunciável (cfr. o art.
853.°, 2), não se processando automaticamente mas mediante declaração
unilateral receptícia de vontade não condicionada nem feita a termo (art.
848.°).

…A figura tem a vantagem de ser um meio cómodo de “encontro de


contas”, evitando a complexidade do duplo pagamento…e tutelando o interesse
de um dos sujeitos em não ser confrontado com a insolvência alheia ou o
concurso de outros credores.
Nada impede que, para lá do compensante exprimir extrajudicialmente a
sua vontade extintiva, também o possa fazer judicialmente, desde logo com a
cobertura do disposto no art. 266.°, 2, c) do Código de Processo Civil (…).
[1. O réu pode, em reconvenção, deduzir pedidos contra o autor; c) Quando o réu pretende o
reconhecimento de um crédito, seja para obter a compensação seja para obter o pagamento do valor
em que o crédito invocado excede o do autor.]

Dada a importância da reciprocidade ou do cruzamento dos créditos ou


das dívidas, o art. 851.° complementa os pressupostos enunciados no art. 847.°,
exigindo como regra, a mesma identidade das partes no crédito principal e no
contra crédito.
O normativo começa por afirmar que o compensante tem de agir com a
intenção de extinguir a sua própria dívida e não a de uma terceira pessoa.

[…] Declarada a compensação opera retroactivamente à data da


chamada situação de compensabilidade…e como consequência do princípio
anterior, a circunstância do contra crédito, no momento da declaração
compensatória (da dívida correspondente ao crédito principal mas cuja prescrição
não foi invocada pelo devedor/compensante), estar sujeito à invocação da
prescrição, não é impedimento à compensação desde que a prescrição não
pudesse ser invocada à data da compensabilidade (cfr. o art. 850º).
Em terceiro lugar, é certo que a compensação pode prejudicar o interesse
dos credores das partes com dívidas e créditos cruzados. Contudo, o legislador,
no art. 853.°, 2, protege, até certo ponto, esse interesse ao negar a
compensação desde que os direitos de terceiros, constituídos antes da data da
compensabilidade, possam ficar prejudicados […].”
“A compensação é exactamente o meio de o devedor se livrar da obrigação,
por extinção simultânea do crédito equivalente de que disponha sobre o seu credor.
Logo que se verifiquem determinados requisitos, a lei prescinde do acordo de
ambos os interessados, para admitir a extinção das dívidas compensáveis, por
simples imposição de um deles ao outro.
Diz-se, quando assim é, que as dívidas (ou os créditos) se extinguem por
compensação legal (unilateral).” – “Das Obrigações em Geral”, II Volume, pág.195, 5ª edição,
Professor Antunes Varela.

A compensação, a que vulgarmente se chama “acerto de contas”, é


um dos meios de extinção das obrigações, que se torna efectiva através
da declaração de uma das partes à outra – art. 848º, nº1, do Código
Civil – feita judicial ou extrajudicialmente – arts. 217º e 224º do Código
Civil e 261º do Código de Processo Civil – (cfr. art. 854º do Código Civil).
O art. 847º do Código Civil define os requisitos da compensação, do seguinte modo.
“1. Quando duas pessoas sejam reciprocamente credor e devedor, qualquer delas pode livrar-se
da sua obrigação por meio de compensação com a obrigação do seu credor, verificados os
seguintes requisitos:

a) Ser o seu crédito exigível judicialmente e não proceder contra ele excepção, peremptória ou
dilatória, de direito material;

b) Terem as duas obrigações por objecto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade.

2. Se as duas dívidas não forem de igual montante, pode dar-se a compensação na parte
correspondente.

3. A iliquidez da dívida não impede a compensação.”

Todavia, circunstâncias há, que obstam à compensação, como resulta do art. 853º do Código
Civil.

A razão de ser da proibição de compensação de créditos provenientes


de facto ilícito doloso – art. 853º, nº1 a) do Código Civil é de ordem moral , por
se considerar injusto que o autor de facto ilícito intencional possa colher disso
vantagem, impondo ao seu credor o pagamento indirecto à custa de um acto que
a lei reputa censurável.

***
No Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 11.1.2010 – Proc. 2226/07 –
7TJVNF.P1.S1, - Relator Sebastião Póvoas – in www.dgis.pt, pode ler-se:

“ […] Na previsão do artigo 847.º do Código Civil, a compensação mais


não é do que uma forma de extinção das obrigações, quando o devedor
também dispõe de um crédito sobre o seu credor.
Ou seja, quando ambos são, reciprocamente, credor e devedor, operando-
se, então, o que, em linguagem coloquial, se chama “encontro de contas” pois o
compensante, quando demandado ou interpelado para cumprir, exonera-se do seu
débito através da realização do seu crédito.
A lei considera de equidade não obrigar a cumprir quem também é credor do
seu credor (também, e aqui aderindo ao argumento do Prof. Almeida Costa, que
claramente reflecte a situação destes autos, porque o compensante podia correr “o risco de
não ver o seu crédito inteiramente satisfeito, caso se desse, entretanto, a insolvência da contraparte”,
apud “Direito das Obrigações”, 6.ª ed., 965), cfr. o Prof. Vaz Serra,
“Compensação”, BMJ, 31-13 e ss.).
Alertando para a ausência de uma definição legal, o Prof. Menezes Cordeiro
– “Direito das Obrigações”, 2001, 2.º, 219 – nota 99 – lança mão do conceito do
Código Civil Italiano a fixar que “quando duas pessoas estão obrigadas uma para
com a outra, os dois débitos extinguem-se pela quantidade correspondente...”
(artigo 1241.º).
Não nos parece que tal seja substancialmente diferente do nosso artigo 847.º
que, mantendo a mesma definição, logo nele incorpora os requisitos.
Trata-se, tão-somente de uma diferente técnica legislativa. Na sua essência,
está a economia de meios jurídicos não obrigando por força de uma fonte
obrigacional a uma prestação que teria, mais tarde, de ser repetida, por força de
outra obrigação.
O legislador substantivo contempla a compensação legal que não é
automática (por não operar “ope legis”) mas sempre potestativa (tem de haver
declaração de vontade, ou pedido, para compensar, como resulta do n.º 1 do artigo
848.º do Código Civil).
E esse pedido (declaração de vontade) – ponto a que só nos referiremos
muito superficialmente por transcender o cerne da economia desta deliberação –
terá de ser formulado como cruzado (via reconvencional) se o crédito for superior
ao do autor e implicar a condenação deste na diferença ou como excepção
(peremptória) se o contra crédito for de montante inferior e apenas servir para
reduzir, ou impedir, os efeitos do primeiro. (cfr., “inter alia”, os Acórdãos do Supremo
Tribunal de Justiça de 20 de Julho de 1976 – BMJ, 259-223; de 8 de Fevereiro de 1977 – BMJ, 264-134;
e de 28 de Maio de 2009 – 09B676; e, na doutrina, Prof. Vaz Serra, RLJ, 110.º, 254 e 3630-323); Profs.
Pires de Lima e Antunes Varela in “Código Civil Anotado”, 3.ª ed., II, 140, embora considerando que, na
segunda hipótese, se trata de defesa “sui generis, de natureza mista, híbrida ou heterogénea.”).
Aproximamo-nos, agora, dos requisitos elencados no n.º 1 do citado artigo
847.º do Código Civil (exigibilidade judicial do contra crédito sem que contra
ele proceda excepção peremptória ou dilatória, de direito material; terem as
duas obrigações por objecto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade )
sendo que terão de perfilar-se, a montante, os pressupostos da validade do crédito
principal e da reciprocidade creditícia.
Por razão deste último (n.º 1 do artigo 851.º) a compensação “só pode
abranger a dívida do declarante e não a de terceiro ainda que aquele possa
efectivar a prestação deste” e (n.º 2) o declarante “só pode utilizar para a
compensação créditos que sejam seus” e “contra o seu credor”.
Dos requisitos do n.º 1 do artigo 847.º densifica-se, por só aqui relevar,
(irrelevando o da homogeneidade) o primeiro consistente na validade e
exigibilidade do contra crédito.
O crédito passivo não pode ser obrigação natural, por ter de ser exigível
judicialmente, o que só acontece nas obrigações civis (artigo 402.º do Código
Civil) e não pode ser vincendo por ter de ser “exigível”, o que significa a
possibilidade da sua realização coactiva (cfr., também, “Das Obrigações em
Geral”, 7.ª ed., II, 204, do Prof. Antunes Varela), “situação em que se encontra a
prestação já vencida”, como refere o Prof. Pessoa Jorge, in “Lições de Direito das
Obrigações”, 1966-284, e que o Prof. Menezes Cordeiro apoda de “exigibilidade
em sentido forte” (ob. vol. cit. 222).
Finalmente, e para além dos créditos do Estado ou de outras pessoas
colectivas públicas – princípio que pode ser excepcionado – e créditos
impenhoráveis, salvo se da mesma natureza, o n.º1 do artigo 853.º do Código
Civil impede a extinção por compensação dos créditos provenientes de factos
ilícitos dolosos (alínea a) do mesmo preceito).
Quanto a este ponto o facto ilícito tanto pode resultar de conduta
integradora de responsabilidade aquiliana como de responsabilidade
contratual.
Aquele pressuposto da responsabilidade civil é idêntico para os dois tipos
de responsabilidade (obrigacional ou extra obrigacional) e parece-nos ser também
esta a conclusão do Prof. A. Varela (“Das Obrigações em Geral”, ed. vol. cit. 209,
ponderando o exemplo que cita) sendo que a excepção do n.º 1, a) do artigo 853.º
não releva se ambos os créditos tiverem a mesma génese. (cfr., neste sentido, o
Prof. Almeida Costa, ob. cit., 970 – nota; embora, em sentido oposto, e com “non
distinguo”, opinem os Profs. Pires de Lima e Antunes Varela, ob. cit. II, 145).
Sempre, porém, a existência do crédito compensável não pode ser só
apurada (podendo, apenas, ser liquidada) no âmbito do juízo de compensação.
Aí terá de surgir não como mera expectativa mas com autêntica
exigibilidade, sob pena de se ir enxertar numa acção pendente (a pretexto de
reconvenção) outra que com ela não tenha conexão (cfr. o Prof. Anselmo de
Castro, in “Direito Processual Civil Declaratório”, I, 172, e Acórdão do Supremo
Tribunal de Justiça de 8 de Outubro de 1998 – P.º 643/98, seguido pelo Acórdão de
21 de Novembro de 2002 – 02B2634 – também acolhido pelo Acórdão deste
Supremo Tribunal de Justiça de 14 de Dezembro de 2006 – 06 A3861).” – (destaque e
sublinhados nossos)

Novação – Professor Brandão Proença, obra citada, pág. 38

“A novação, nos termos em que está regulada entre nós, não é mais do que
um acordo que conduz à extinção da obrigação existente, surgindo uma nova
obrigação que toma o lugar da primeira.

A novação diz-se objectiva (cfr. o art. 857.°) quando, mantendo-se os


sujeitos, ficam vinculados a uma obrigação de objecto, causa ou tipo diferente
(por ex., António devia 10.000 € a Bernardo e convencionam extinguir essa dívida,
passando essa quantia a integrar o objecto de um mútuo ou António devia
entregar a Bernardo um quadro e convencionam que Bernardo deverá entregar
um livro antigo (…) e diz-se subjectiva activa ou passiva (cfr. o art. 858.°) quando,
mudando, respectivamente, a pessoa do credor e do devedor, surge uma nova
obrigação que liga o novo credor ao antigo devedor (não se trata, naturalmente,
de uma cessão do crédito porque, desde logo, o devedor faz parte do acordo
novatório e a obrigação não é a mesma) ou o novo devedor ao antigo credor (a
vinculação de um novo devedor, a pedido do antigo ou fruto de acordo com o
credor, conduz à exoneração do antigo).
É por estas diversas possibilidades que PH. Malinvaud (…) considera a
novação “comme une sorte de “joker” juridique.”
Para que exista verdadeira novação é necessário, como diz Antunes Varela
que a alteração “atinja os elementos essenciais da relação obrigacional (o
objecto, a causa, os sujeitos)”, sob pena de ocorrer apenas um mero acordo
modificativo de cláusulas acessórias do negócio (por ex., lugar e tempo do
cumprimento, cessação de garantias, eliminação de cláusula resolutiva ou
compromissória) ou uma simples transmissão do crédito, da dívida ou da posição
contratual.
Dado o impacto que o acordo novatório traz à relação existente, o
legislador (art. 859.°) exige que as partes manifestem expressamente essa
vontade.
[…] Por razões de certeza jurídica, não é, pois, possível presumir essa
vontade (de novar), tendo, na dúvida, de concluir-se por uma mera alteração da
parte acessória do contrato, por uma dação em cumprimento ou em função do
pagamento (pensemos na entrega de uma letra reformada ao credor.
(Como é afirmado no Ac. do Supremo Tribunal de Justiça, de 16.6.2009 (FONSECA RAMOS), in
www.dgis.pt a reforma de uma letra não implica, por si só, a novação da primitiva obrigação
cambiária…), por uma cessão de créditos ou uma assunção de dívida.

Não podendo dizer-se, em rigor, que o surgimento da nova obrigação sirva


para cumprir a existente, também é certo que aquela só surge porque esta
última se extingue.

É esta inseparabilidade (…) entre as duas obrigações que explica os casos de


“ineficácia” da novação descritos no art. 860.° e nos permite afirmar que a nova
obrigação só pode existir se a antiga existir e for válida (…) e que a obrigação
antiga só se extingue pela criação da nova.

[…] Por aplicação do disposto nos arts. 861.° e 862.° a novação conduz, em
princípio, à extinção dos acessórios (maxime, garantias) …que acompanhavam a
obrigação existente (pode mesmo haver um obstáculo à novação no caso do
credor querer subordinar a nova obrigação à manutenção de uma garantia de
terceiro, não querendo este continuar a prestá-la), impedindo também a
invocação pelo novo devedor dos meios de defesa (por ex., uma excepção de
não cumprimento ou a invocação da prescrição extintiva) que eram relevantes
perante a obrigação existente…”.

No Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 31.3.2009 – Relator Azevedo Ramos - 08A3353


“Dá-se a novação objectiva quando o devedor contrai
– in www.dgis.pt, pode ler-se
perante o credor uma nova obrigação em substituição da antiga – art. 857º do
Código Civil.
A novação consiste “na convenção pela qual as partes extinguem uma
obrigação, mediante a criação de uma nova obrigação em lugar dela” (Antunes
Varela, Das Obrigações em Geral, Vol. II, 5ª ed, pág. 229).

Essencial para haver novação, é que os interessados queiram


realmente extinguir a obrigação primitiva por meio de contracção
de uma nova obrigação.
Se a ideia das partes é a de manter a obrigação, alterando
apenas um ou alguns dos seus elementos, não há novação, mas
simples modificação ou alteração da obrigação.

Como observa Antunes Varela (Obra citada, pág. 231), é evidente que a
fixação da vontade das partes a esse respeito reveste o maior interesse, “pois a
substituição da obrigação pressupõe, em regra, a eliminação das garantias e
dos acessórios da dívida extinta, ao passo que na simples modificação da
obrigação se mantêm todos os elementos que não foram alterados.

Se a alteração resultante da convenção das partes se reflecte apenas em


elementos acessórios da relação creditória (prorrogação, encurtamento,
aditamento ou supressão dum prazo; mudança do lugar de cumprimento,
estipulação, modificação ou supressão de juros, agravamento ou atenuação da
cláusula penal, etc.), nenhumas dúvidas se levantarão, em regra, acerca da
persistência da obrigação e da manutenção dos seus elementos não alterados.

Quando, pelo contrário, a alteração convencionada atinja os elementos


essenciais da relação obrigacional (o objecto, a causa, os
sujeitos), o seu sentido pode já ser radicalmente distinto”.

Assim sendo, deve ter-se por adquirido, como anotam Pires de Lima e
Antunes Varela (Código Civil Anotado, Vol. II, 3ª ed., pág. 149) que, “para que
haja novação, objectiva ou subjectiva, é necessário que uma obrigação nova
venha substituir a antiga; e só é nova a obrigação quando haja uma alteração
substancial nos seus elementos constitutivos.
Não basta, por isso, que se altere, por exemplo, a data do cumprimento, se
aumente ou reduza a taxa de juro, se majore ou reduza o preço, ou se dê por
finda uma garantia, etc. É preciso que seja outra a obrigação e não seja apenas
modificada ou alterada a obrigação existente”.

A vontade de contrair a nova obrigação, em substituição da antiga, deve


ser expressamente manifestada – art. 859º do Código Civil.

Não havendo, portanto, declaração expressa de que se pretende novar


(animus novandi), a obrigação primitiva não se extingue, sendo apenas
modificado ou transmitido o crédito ou a dívida para terceiro.

É expressa a declaração quando feita por palavras, escrito ou qualquer outro


meio directo de manifestação de vontade, nos termos do art. 217, nº1, do Código
Civil.”

Remissão

A remissão é, na sua hipótese mais simples, o acordo pelo qual o credor


liberta, total ou parcialmente, o devedor da sua obrigação e não meramente do
seu cumprimento…

…A necessidade de o devedor ter que manifestar o seu assentimento à


vontade abdicativa do credor (art. 863. °, 1) é um requisito a que certa doutrina
coloca reservas (maxime, sendo a remissão gratuita).

Não se trata, pois, de uma renúncia unilateral do credor ao cumprimento


do devedor, mas de um contrato cujo objecto visa extinguir a dívida por
aceitação da vontade do credor.

Apesar de tudo, não é errado dizermos que a remissão da obrigação integra


o campo amplo da chamada renúncia abdicativa…, ou seja, tem conexão com as
manifestações de vontade (unilaterais ou não) dos titulares de certos direitos
(maxime, de créditos reais de gozo ou de garantia) na sua pretensão extintiva.

Essa renúncia, lato/sensu, teorizada excelentemente por Pereira Coelho (A


renúncia abdicativa no direito civil (algumas notas tendentes à definição do novo regime), Coimbra, 1995 )
engloba, a título de exemplo, o abandono de coisas móveis, a renúncia
abdicativa a direitos reais menores…a renúncia liberatória (a encargos reais) e a
renúncia ao exercício de direitos potestativos…
Nos termos do art. 866.°, 1, a remissão conferida ao devedor principal
aproveita a terceiros (efeito extintivo sobre as garantias da dívida principal) e
tem ainda impacto sobre uma existente relação solidária e sobre uma relação
plural indivisível.

No primeiro caso, tratando-se de solidariedade passiva, se a remissão in


personam tem um efeito libertador (externo e interno) para o exonerado e para
os co-devedores.

Quanto às obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores, o n.°1 do


art. 865.°, ao remeter para o disposto no art. 536.°, confere ao credor o direito de
exigir a prestação dos outros obrigados sem o libertar, contudo, do dever de lhes
entregar “o valor da parte que cabia ao devedor ou devedores exonerados” – autor e
obra citada, págs. 41 a 43 (excertos)

Confusão

“…Seguindo a definição constante do art. 868.° trata-se da extinção do


crédito e da dívida ou da relação obrigacional qua tale pela reunião na mesma
pessoa das qualidades de credor e devedor (…).

O desaparecimento físico ou jurídico (como na fusão societária) de um dos


sujeitos da relação obrigacional faz desaparecer naturalmente a própria relação já
que ninguém pode dever a si mesmo (por ex., António deve 500 € a Bernardo e,
posteriormente, Bernardo morre, sucedendo-lhe António ou António deve 500 €
a Bernardo e, posteriormente, António morre, sucedendo-lhe Bernardo ou
António é credor de Bernardo e cede-lhe o crédito (…) ou António, arrendatário
ou promitente-comprador, sucede a Bernardo na qualidade de proprietário do
imóvel arrendado ou prometido-vender; já não haverá confusão, por força do
disposto nos arts. 872.° e 2074.°, 1, no caso de António ser devedor de Bernardo,
vindo este a falecer e tendo António aceite a herança de Bernardo a benefício de
inventário).

Se, neste último caso, a necessidade de proteger o património/herança


impede a confusão, já nas outras situações, como sustenta Antunes Varela (…), “a
função instrumental típica do direito de crédito deixa… de ter cabimento” ou,
segundo as palavras de Cunha de Sá (…) “a obrigação perde simultaneamente
essência e existência”.

A confusão, que opera ope legis, não parece ser figura privativa dos
direitos de crédito pois pode ocorrer uma situação semelhante…no âmbito dos
direitos reais de gozo ou de garantia (por ex., o usufrutuário adquire a nua-propriedade, o
superficiário adquire a propriedade do solo ou o retentor adquire a propriedade do bem retido).
A confusão, apesar de extinguir o crédito e os seus acessórios (por ex., se
António deve a Bernardo, sendo fiador Camilo, a sucessão de António a Bernardo
põe termo à fiança (…), não prejudica, contudo, os direitos de terceiros (…)
(tendo em conta a redacção do art. 1089.°, o art. 871.°,1, não pode servir,
contudo, de fundamento à manutenção do subarrendamento apesar do
arrendatário se ter tornado proprietário).

O n.°2 do art. 871.° concretiza esse princípio relativamente a terceiros que


sejam usufrutuários ou titulares de um penhor sobre o crédito […]”

Menezes Leitão, in Direito das Obrigações, vol. II, 2011, págs. 232 a 235.

2. Pressupostos da confusão

A confusão tem os seguintes pressupostos:

a) Reunião da mesma pessoa das qualidades de credor e devedor;

b) Não pertença do crédito e da dívida a patrimónios separados;

c) Inexistência de prejuízo para os direitos de terceiro.

O primeiro pressuposto da confusão é a reunião, na mesma pessoa, das


qualidades de credor e devedor, o que naturalmente ocorrerá ou em virtude da
aquisição por uma das partes da posição que a outra ocupava no crédito ou no
débito (o credor vem a suceder no débito ou o devedor a adquirir o crédito) ou
em virtude da aquisição conjunta por um terceiro das posições que ambas as
partes ocupavam na obrigação (o terceiro adquire o crédito e vem a assumir
também o débito).

O segundo pressuposto da confusão é o de que não se verifique a


pertença do crédito e da dívida a patrimónios separados, uma vez que nesse
caso o art. 872º determina a não verificação da confusão.

Efectivamente, a separação de patrimónios tem por consequência a


impossibilidade de verificação da confusão, uma vez que esta, a ocorrer, poria em
causa essa mesma separação, ao fazer desaparecer valores activos de um
património em benefício da extinção de responsabilidades de outro património.

Por esse motivo, se, por exemplo, a confusão se verificar em


consequência de o devedor adquirir o crédito por herança , continua ele a
responder pela sua obrigação até à liquidação e partilha (art. 2074, nº 1), altura
em que se extingue a separação de patrimónios.

O terceiro pressuposto da confusão é o de que não haja prejuízo para os


direitos de terceiro (art. 871º, nº1).

Efectivamente, conforme se referiu, a confusão justifica-se, por não haver


necessidade jurídica de manter a obrigação, como instrumento de colaboração
inter-subjectiva, a partir do momento em que se verifica a reunião das posições
de credor e devedor.

No entanto, se o vínculo obrigacional se encontrar igualmente a funcionar


em benefício de terceiro (como na hipótese da existência de usufruto ou penhor
sobre o crédito), esse vínculo subsiste, na justa medida em que o justifique o
interesse do usufrutuário ou do credor pignoratício - (art. 871, nº2).

Regime da confusão

Conforme se referiu, a confusão vem a produzir a extinção da obrigação,


uma vez que não se justifica manter a adstrição à realização da prestação a partir
do momento em que as qualidades de credor e devedor consistem na mesma
pessoa.

A extinção da obrigação por confusão vem provocar a extinção de todos


os acessórios do crédito (sinal, cláusula penal, obrigação de juros), bem como de
todas as garantias que asseguravam o seu cumprimento, designadamente a
fiança (art. 651º), a consignação de rendimentos (art. 664º), o penhor (art. 677º),
a hipoteca (art. 730º a)), o privilégio (art. 752º) e o direito de retenção (art. 761º),
quer essas garantias sejam prestadas pelo devedor, quer por
terceiro.

A lei admite, porém, a hipótese de a confusão se desfazer, determinando


que neste caso renasce a obrigação com os seus acessórios , mesmo em relação a
terceiro, quando o facto que a destrói seja anterior à própria confusão (art. 873°,
n° 1).

Relativamente às garantias prestadas por terceiros, no entanto, e por


razões de tutela da confiança destes, a extinção destas garantias mantém-se no
caso de a confusão se desfizer por causa imputável ao credor, salvo se o
responsável pela garantia conhecia o vício, na data em que teve notícia da
confusão - (art.873°, n° 2).
À semelhança do que sucede na remissão, é necessário, no entanto,
acautelar quais as consequências da confusão, no caso de se verificar uma
situação de pluralidade de partes na relação obrigacional, as quais naturalmente
também variarão consoante o regime específico de pluralidade aplicável.

Assim, se o regime aplicável for o da conjunção ou parciariedade, o que


sucede é que se extinguem as fracções da obrigação em relação às quais ocorreu
a confusão, não sendo afectada a obrigação quanto aos seus restantes sujeitos.

Se o regime aplicável for o da solidariedade passiva, e vêm a ser


reunidas na mesma pessoa as qualidades de devedor solidário e credor, a
obrigação deste extingue-se nessa parte da dívida, ficando nesse âmbito os
restantes devedores exonerados, os quais continuam, porém, a responder
solidariamente pela restante obrigação (art. 869°, n° 1).

Se o regime aplicável for o da solidariedade activa, e se reunirem as


posições de devedor e credor solidário, o devedor fica exonerado, mas apenas na
parte relativa a esse credor (art. 869°, n° 2).

Se, porém, se tratar de uma obrigação plural indivisível com vários


devedores, a reunião na mesma pessoa da posição de credor e de co-devedor
implica que este só possa exigir a prestação dos restantes co-devedores se lhes
entregar o valor da parte da posição que adquiriu - (arts. 870º, nº1 e 536º).

Da mesma forma, tratando-se de uma obrigação plural indivisível com


vários credores, se ocorrer a reunião na mesma pessoa da qualidade de devedor
e co-titular do crédito, este não fica exonerado perante os restantes credores,
mas estes só podem exigir-lhe a prestação se lhe entregarem o valor da parte que
competia àquele credor (arts. 870º,nº2 e 865º, nº2) ”.

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Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 2/11.1TVPRT.P1.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Relator: GRANJA DA FONSECA
Descritores: CONTA BANCÁRIA
DEPÓSITO BANCÁRIO
COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS
PRESSUPOSTOS
RENÚNCIA
DECLARAÇÃO TÁCITA
EFICÁCIA EXTERNA DAS OBRIGAÇÕES
ABUSO DE DIREITO
BOA FÉ

Data do Acórdão: 24-10-2013


Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA
Área Temática:
DIREITO CIVIL - RELAÇÕES JURÍDICAS / FACTOS JURÍDICOS / NEGÓCIO JURÍDICO / DECLARAÇÃO
NEGOCIAL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / CAUSAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES ALÉM
CUMPRIMENTO/ COMPENSAÇÃO.
Doutrina:
- Almeida e Costa, Direito das Obrigações, 5ª edição, p. 949.
- António Menezes Cordeiro, Da Compensação no Direito Civil e no Direito Bancário, Almedina 2003, pp.
188, 248, nota 559; Direito das Obrigações, II Volume, 2ª edição, p. 221; Manual de Direito Bancário, 2ª
edição, Almedina, 2001, pp. 489, 501, 510; Manual de Direito Bancário, 4ª edição, p. 554, nota 1349.
- Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, Volume II, 7ª edição, pp. 227/228.
- Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Volume II, pp. 199, 208.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 217.º, 218.º, 847.º, 853.º, N.º2.

Sumário:

I - A abertura de conta – negócio jurídico complexo e duradouro – opera como acto nuclear comum dos
diversos actos bancários, sejam eventuais, como o depósito bancário, ou necessários, como a conta
corrente.

II - O depósito bancário é o contrato pelo qual uma pessoa (depositante) entrega certa quantia em
dinheiro a um banco o qual dela poderá dispor como coisa própria, mediante retribuição (juros),
obrigando-se o depositário a restituí-la, mediante solicitação e de acordo com as condições estabelecidas.

III - Resultando provado que L celebrou com o banco-réu um contrato de abertura de conta
bancária e um contrato de depósito bancário, ficando aquela titular exclusiva dessa conta, é
inoponível ao banco a relação da autora com a referida L, quanto à titularidade de determinada verba
depositada na conta, que representava o seu saldo em determinada data.

IV - Não sendo o acordo fiduciário oponível ao banqueiro, não viola qualquer um dos requisitos da
compensação a retenção, pelo banco, de tal saldo, pelo valor de uma dívida que L tinha para com aquele.

V - O contrato de conta bancária não envolve uma renúncia tácita à compensação.

VI - A compensação – forma de extinção de duas obrigações, pela dispensa de ambas de realizar as suas
prestações ou pela dedução a uma das prestações da prestação devida pela outra parte – pode ser legal
ou convencional.

VII - A compensação voluntária ou convencional apenas está vedada quando se trate de créditos
impenhoráveis ou de créditos cuja compensação envolva prejuízo para os direitos de outrem.

VIII - Configura uma compensação convencional a declaração, assinada pela autora M, pela titular da
conta L e pelo banco na qual as primeiras declaram “que, com a restituição do valor de € 27.894,80, nada
mais temos a receber ou a exigir do Banco, seja a que título for. A referida importância € 27.894,80 deverá
ser entregue a M (…). E declaramos ter recebido do Banco… a importância de € 27.894.80 em numerário,
nada mais tendo dele a haver ou a exigir, seja a que título for, relacionado com a compensação efectuada
na conta nº X, em nome de L, conforme acordado”.

IX - Não age em abuso do direito e contrariamente aos ditames da boa fé o banco que procedeu à
compensação sem saber que a quantia depositada era pertença de terceiro o saldo.

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 5478/06.6TVLSB.L1.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Relator: SILVA GONÇALVES
Descritores: COMPENSAÇÃO
DECLARAÇÃO RECETÍCIA
ILIQUIDEZ
ABUSO DE DIREITO

Data do Acórdão: 12-09-2013


Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: NEGADA A REVISTA
Área Temática:
DIREITO CIVIL - FACTOS JURÍDICOS / NEGÓCIO JURÍDICO - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / CAUSAS DE
EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES ALÉM DO CUMPRIMENTO.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL - PROCESSO / INSTÂNCIA.
Doutrina:
- Almeida Costa, Obrigações, 4.º, p.774.
- Anselmo de Castro, A Acção Executiva Singular, p.60.
- Antunes Varela, Direito das Obrigações, I, p. 514 /516; II, pp. 213, 223.
- Castro Mendes, Acção Executiva, p.15.
- Menezes Cordeiro, Obrigações, 2.º, p. 211.
- Pires de Lima e A. Varela, Código Civil Anotado, II Volume, p.130.
- Rui Alarcão, Confirmações, p.180.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 224.º, 234.º, 837.º, 847.º, N.º3, 848.º, N.º1, 854.º.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 261.º, 722.º, N.º2, 729.º.
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
-DE 18.01.2007, WWW.DGSI.PT.

Sumário:
1. A “compensação” é uma forma de extinção das obrigações em que, no lugar do cumprimento, como
sub-rogado dela, o devedor opõe o crédito que tem sobre o credor; quando o devedor é também credor
do seu credor opera-se a circunstância jurídico-substantiva da “compensação”, através deste fenómeno
jurídico se consentindo que o devedor se desonere do seu débito a expensas deste seu consubstanciado
crédito.

2. A iliquidez não impede a compensação (artigo 847º, n.º 3, do Civil); e a compensação torna-se efectiva
mediante declaração de uma das partes à outra (art.º 848, n.º 1, do Civil).

3. Todavia, a compensação só pode operar-se no caso de o autor da compensação comprovar a


exigibilidade do seu crédito; e um crédito só se torna exigível quando está judicialmente reconhecido,
desiderato este que pode ocorrer na fase declarativa do litígio.

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 4867/08.6TBOER-A.L1.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Relator: GRANJA DA FONSECA
Descritores: EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA
OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO
RECONVENÇÃO
INADMISSIBILIDADE
COMPENSAÇÃO
REQUISITOS
EXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO
OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA
REGULAMENTO (CE) 44/2001
COMPETÊNCIA CONVENCIONAL
COMPETÊNCIA INTERNACIONAL

Data do Acórdão: 14-03-2013


Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA
Área Temática:
DIREITO CIVIL - DIREITO DAS OBRIGAÇÕES / CAUSAS DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES.
DIREITO PROCESSUAL CIVIL - ACÇÃO EXECUTIVA / TÍTULO EXECUTIVO - RECURSOS.
Doutrina:
- Antunes Varela, Das Obrigações em Geral, Volume II, p. 197.
- José Lebre de Freitas, A Acção Executiva (Depois da Reforma), 4ª edição, pp. 178/179.
- Menezes Leitão, Direito das Obrigações, Volume II, 6ª edição, p. 200.
- Miguel Teixeira de Sousa e Dário Moura Vicente, Comentário à Convenção de Bruxelas, Lex, Lisboa
1994, página 118.
- Vaz Serra, Compensação, BMJ n.º 31, p. 137.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 847.º, N.ºS 2 E 3, 848.º.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (CPC): - ARTIGOS 46º, N.º 1, ALÍNEA C), 714.º, N.º1, AL. G), 721.º-A, N.º1 AL.
C), 814º, N.º 1, ALÍNEA G), 816.º.
Legislação Comunitária:
REGULAMENTO (CE) N.º 44/2001, DE 22-12
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃOS DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
-DE 22/06/2006, REVISTA N.º 610/06 – 2ª SECÇÃO;
-DE 14/12/2006, REVISTA N.º 3861/06 – 6ª SECÇÃO;
-DE 18/01/2007, REVISTA 4519/06 – 2ª SECÇÃO;
-DE 29/03/2007, REVISTA N.º 558/07;
-DE 28/06/2007, REVISTA 2607/06 – 7ª SECÇÃO;
-DE 19/11/2009, REVISTA 4400/05.1TVLSB.L1.S1;
-DE 26/04/2012, REVISTA N.º 289/10.7TBPTB.G1.S1 – 7ª SECÇÃO.
Jurisprudência Internacional:
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA COMUNIDADE EUROPEIA, ACÓRDÃO DE 4/07/1985, NO ÂMBITO DO
PROCESSO A.S. – AUTOTEILE GMBH VERSUS PIERRE MALHE

Sumário:

I - A oposição à execução – nos termos do arts. 714.º, n.º 1, al. g) e 816.º do CPC, na redacção anterior ao
DL 226/2008, de 20-11 – baseada em título extrajudicial, pode ser fundada em facto extintivo da
obrigação, como o seja a compensação.

II - A declaração de compensação é um negócio jurídico unilateral, que reveste a natureza de um direito


potestativo extintivo, tem lugar quando o devedor que seja credor do seu próprio credor se libere da
dívida à custa do seu crédito.

III - No âmbito da oposição à execução (i) só pode ser invocada a título de excepção peremptória – e não
de reconvenção, por esta ser inadmissível em processo executivo – e (ii) só pode ser compensado por
outro que também já tenha força executiva, ou seja, que seja judicialmente exigível, pois o processo
executivo não comporta a definição do contra crédito.

IV - A exigibilidade de um crédito só ocorre quando ele é reconhecido judicialmente, o que não sucede
quando, sendo invocado em oposição à execução intentada em tribunal português, o mesmo se encontra
a ser discutido – nos termos do art. 23.º, n.º 1, do Regulamento (CE) n.º 44/2001, de 22-12 – no Tribunal
de Comércio de Paris, a coberto de pacto privativo de jurisdição firmado pelas partes, constituindo, por
conseguinte matéria excluída da competência, em razão de nacionalidade, daquele tribunal (português).

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 289/10.7TBPTB.G1.S1
Nº Convencional: 7ª SECÇÃO
Relator: MARIA DOS PRAZERES PIZARRO BELEZA
Descritores: OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO
CASO JULGADO MATERIAL
CASO JULGADO FORMAL
INTERPRETAÇÃO DAS SENTENÇAS
COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS
RECONVENÇÃO
NULIDADE DE ACÓRDÃO

Data do Acórdão: 26-04-2012


Votação: MAIORIA COM * VOT VENC
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA
Legislação Nacional:
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL, ARTIGOS 274º, 661º, 668º, 671º, 673º, 677º, 716º, 814º, 817º
Jurisprudência Nacional: ACÓRDÃOS SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA, EM WWW.DGSI.PT, DE:

– 11 DE JULHO DE 2006, PROC. 06B2342


– 19 DE FEVEREIRO DE 2009, PROC. Nº 09B0081
– 25 DE JUNHO DE 2009, PROC. Nº 351/09.9YFLSB
– 29 DE ABRIL DE 2010, PROC. N 102/2001.L1.S1
– 8 DE JUNHO DE 2010, PROC. Nº 25.163/05.5YLSB.L1.S1
– 3 DE FEVEREIRO DE 2011, PROC. Nº 190-A/1999.E1.S1
– 16 DE FEVEREIRO DE 2012, PROC. Nº 286/07.0TVLSB.L1.S1)

Sumário:

1. A função da oposição à execução limita o âmbito de actuação do executado/oponente, não permitindo


o exercício de direitos que extravasem o objectivo da extinção, total ou parcial, da execução, e que
pressuporiam que a execução pudesse desempenhar a função de reconvenção.
2. A reconvenção não é admissível em processo executivo.
3.A procedência da oposição apenas pode ter como efeito a extinção, total ou parcial, da execução.
4.Admitida a invocação de compensação, por parte do executado/oponente, mediante a alegação da
titularidade de um crédito de valor superior ao crédito do exequente, o tribunal não pode, nem condenar
o exequente no pagamento do excesso, nem declarar o direito do executado a esse excesso.
5. O executado/oponente também não pode pedir essa condenação ou essa declaração.
6. A determinação do âmbito de caso julgado, formal ou material, de uma sentença, pressupõe a
respectiva interpretação.
7. Para o efeito, não basta considerar a parte decisória, cumprindo tomar em conta a fundamentação, o
contexto, os antecedentes da sentença e os demais elementos que se revelem pertinentes, sempre
garantindo que o sentido apurado tem a devida tradução no texto.
8. Concluindo que o sentido de uma sentença, proferida numa oposição em que o executado/oponente
invocou a compensação com base num crédito de valor superior ao crédito exequendo, que condena no
reconhecimento do crédito do executado/oponente, vale apenas no âmbito em que opera a
compensação, não se coloca o problema de saber se o caso julgado formado pela sentença abrange ou
não a declaração do contra crédito, quanto ao respectivo excesso

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 06B2342
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: SALVADOR DA COSTA
Descritores: EXECUÇÃO
LIVRANÇA
EMBARGOS DE EXECUTADO
FALTA DE TÍTULO
COMPENSAÇÃO
DESISTÊNCIA DO PEDIDO
HOMOLOGAÇÃO
CASO JULGADO FORMAL
CASO JULGADO MATERIAL

Nº do Documento: SJ200607110023427
Data do Acórdão: 11-07-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: CONCEDIDA A REVISTA.

Sumário: 1. A fase declarativa dos embargos de executado, estruturalmente extrínseca à acção executiva, configura-
se como contra execução, destinada à declaração da sua extinção, sob o fundamento de inexistência da
obrigação exequenda ou do título executivo ou de verificação da sua ineficácia.
2. Os embargos de executado não comportam reconvenção nem a invocação pelo embargante, no confronto
do embargado, da compensação por via da afirmação de um direito indemnizatório derivado de
responsabilidade civil contratual.
3. Não há, para efeitos de caso julgado material, identidade de pedidos nos embargos e na acção
declarativa, ambos fundados em incumprimento contratual, se nos primeiros se pediu a compensação e a
extinção do crédito exequendo e, na última, a condenação no pagamento de indemnização e que se operasse
a compensação em relação àquele crédito.
4. A sentença homologatória do acto de desistência do pedido formulado nos embargos só produz efeitos de
caso julgado formal, naquele procedimento, não se estendendo à acção declarativa.

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 05A3767
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: URBANO DIAS
Descritores: LIQUIDAÇÃO
COMPENSAÇÃO

Nº do Documento: SJ200601310037671
Data do Acórdão: 31-01-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: CONCEDIDA A REVISTA.

Sumário: - Cabe, em princípio, às partes a indicação precisa dos montantes peticionados e só em casos excepcionais é
que se pode deixar para averiguação do tribunal a tarefa de determinação do valor das obrigações;
- em caso de compensação de créditos, o A. tem direito a juros a partir da citação, nos termos do nº 1 do
art. 805º do C. Civil, já não sobre a totalidade da importância inicialmente reclamada, mas apenas sobre o
valor encontrado pela diferença dos mesmos.

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 06A1981
Nº Convencional: JSTJ000
Relator: BORGES SOEIRO
Descritores: CONSIGNAÇÃO EM DEPÓSITO
BOA-FÉ

Nº do Documento: SJ200609120019811
Data do Acórdão: 12-09-2006
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA.


Decisão: CONCEDIDA A REVISTA.

Sumário: 1. A incerteza sobre a pessoa a quem a prestação pode ser efectuada só legitima o recurso à consignação em
depósito, como resulta do art. 841º nº 1 al. a) do C.Civil, quando for objectiva e não depender da culpa
(negligência ou inépcia) do devedor.
2. Para os fins contidos no nº 2 do art. 16º do Dec. - Lei nº 522/85 de 31 de Dezembro, não pode
considerar-se que a actuação do Fundo de Garantia Automóvel, ao ser citado para diversas acções e
verificar ou ter possibilidade de verificar que o capital seguro se encontrava a esgotar, em virtude das
aludidas acções intentadas por diversos lesados, sem nada ter vindo invocar nos autos, tenha sido isenta de
má fé, naquele preciso sentido de ter agido com negligência, um vulgo "deixar andar" que não se pode
repercutir nos legítimos interesses desses lesados.
3. Sendo a boa fé um princípio de actuação geral, pode ser, no que concerne à problemática contratual,
dividida em dois postulados essenciais: a tutela da confiança e a primazia da materialidade subjacente.
4. Quanto a esta última, consiste em avaliar as condutas não apenas pela conformidade com os comandos
jurídicos, mas também de acordo com as consequências materiais para efeitos de adequada tutela dos
valores em jogo.
5. A boa fé constitui um princípio geral de Direito cuja aplicação no Direito das Obrigações se reconduz à
imposição de comportamentos às partes, em ordem a possibilitar o adequado funcionamento do vínculo
obrigacional, em termos de pleno aproveitamento da prestação, e evitar a ocorrência de danos para as
mesmas partes.

Acórdão do Supremo Tribunal de


Justiça
Processo: 91832/12.3YIPRT-A.C1.S1
Nº Convencional: 6ª SECÇÃO
Relator: FONSECA RAMOS
Descritores: COMPENSAÇÃO DE CRÉDITOS
REQUISITOS
EXIGIBILIDADE
RESOLUÇÃO DO CONTRATO
INDEMNIZAÇÃO
CRÉDITO HIPOTÉTICO

Nº do Documento: SJ
Data do Acórdão: 02-07-2015
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1

Meio Processual: REVISTA


Decisão: NEGADA A REVISTA
Área Temática:
DIREITO CIVIL - RELAÇÕES JURÍDICAS / FACTOS JURÍDICOS / NEGÓCIO JURÍDICO - DIREITO
DAS OBRIGAÇÕES / FONTES DAS OBRIGAÇÕES / CONTRATOS / CAUSAS DE EXTINÇÃO DAS
OBRIGAÇÕES / COMPENSAÇÃO.
Doutrina:
- Antunes Varela, in “Das Obrigações em Geral”, II Volume, 5.ª edição, pp. 195, 208.
- J. Baptista Machado, “Pressupostos da Resolução por Incumprimento”, in Estudos em
Homenagem ao Prof. J.J. Teixeira Ribeiro – II Jurídica, pp. 348/349.
- Menezes Cordeiro, Da Compensação no Direito Civil e no Direito Bancário, 2003, pp. 113 a
115.
Legislação Nacional:
CÓDIGO CIVIL (CC): - ARTIGOS 217.º, 224.º,432.º, 433.º, 434.º, N.º1, 847.º, N.º 1, ALS. A) E
B), 848.º, N.º1, 854.º.
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL (NCPC): - ARTIGO 266.º, N.º2, AL. C).
Jurisprudência Nacional:
ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA:
-DE 25.1.1998, IN BMJ, 477- 460.

Sumário :
I - A exigibilidade do crédito para efeito de compensação – art. 847.º, n.º 1,
al. a), do CC – não significa que o crédito (passivo) do compensante, no
momento de ser invocado, tenha de estar já definido judicialmente: do que
se trata é de saber se tal crédito existe na esfera jurídica do compensante e
preenche os requisitos legais “não proceder contra ele excepção,
peremptória ou dilatória, de direito material e terem as duas obrigações por
objecto coisas fungíveis da mesma espécie e qualidade”.

II - Realidade distinta da exigibilidade judicial do crédito, imposta pelo art.


847.º, n.º 1, al. a), do CC, é o respectivo reconhecimento judicial, não
obstante só possa operar a compensação caso ambos os créditos venham a
ser reconhecidos na acção judicial em que se discutem.

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