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Professora: Fernanda Santos Sampaio Santoro

Direito Civil II

OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

 Obrigações Divisíveis
As obrigações divisíveis são aquelas que admitem o cumprimento fracionado ou
parcial da prestação.
ART 257 CC “havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação
divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os
credores ou devedores”
Assim, se a obrigação é de dar 100 sacas de café e tiver quatro devedores, todos
terão que dar 25 sacas.

 Obrigações Indivisíveis
As obrigações indivisíveis, por sua vez, só podem ser cumpridas por inteiro.
ART. 258 CC “A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma
coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem
econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico”
A indivisibilidade poderá ser:
a) Natural ou material: quando decorre da própria natureza da prestação, ex:
entrega de um touro reprodutor;
b) Legal ou jurídica: quando decorre de norma legal ex: terreno de uma casa em
determinado bairro.
c) Convencional: quando decorre da vontade das partes, ex: contrato.

CARACTERIZAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS


As obrigações solidárias são obrigações complexas, pois apresentam mais de um
sujeito no pólo ativo e/ou no pólo passiva da relação obrigacional.
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O Código Civil, em linhas gerais, delimita alguns traços marcantes das obrigações
solidárias a partir do artigo 264, denominando essas delimitações de “disposições
gerais”.

Segundo o artigo 264, a solidariedade ocorre quando a obrigação se encontra


enfeixada num todo, podendo cada um dos vários credores exigir a totalidade da
prestação, ou devendo cada um dos vários devedores pagar a dívida integral. Podemos
mencionar como características da obrigação solidária (explicada no artigo 266): 1)
pluralidade das partes; 2) unidade da prestação; e 3) multiplicidade de vínculos.

FONTE DA SOLIDARIEDADE

Segundo o artigo 265, a fonte da solidariedade parte da premissa que a


solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. A fonte, portanto,
se divide em:
1) solidariedade convencional e
2) solidariedade legal.

Na solidariedade convencional, temos a predominância da vontade estabelecida


pelas partes em dado acordo como é o caso do contrato de fiança, no qual o fiador
renuncia ao benefício de ordem (artigo 827, parágrafo único, do CC) e anui com a
estipulação da cláusula de solidariedade, resta, assim, caracterizada a modalidade de
solidariedade convencional (artigo 829).

A solidariedade legal será indicada na própria norma. É aquela que deriva da


vontade do legislador. Temos como exemplos: a solidariedade entre os comodatários
em relação ao comodante (artigo 585); a solidariedade entre os autores cúmplices do
ato ilícito (artigo 942); e a solidariedade na relação locatícia, no mesmo imóvel predial
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urbano, quando existir mais de um locador ou mais de um locatário (artigo 2º, da Lei
8.245/91).

O artigo 18 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) dispõe sobre um importante


caso acerca da responsabilidade solidária, a saber: quando ocorrer vício do produto
tanto o fornecedor como o produtor responderão pelos prejuízos suportados pelo
consumidor.

“Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis


respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem
impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor,
assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das
partes viciadas.”

No âmbito da responsabilidade civil, o proprietário do veículo responde


solidariamente com o condutor, pela reparação dos danos causados em virtude de
acidente de trânsito, situação que faz amoldar a espécie às peculiaridades da
denominada responsabilidade pelo fato da coisa, consubstanciada no dever geral de
vigiar aquilo que lhe pertence, impedindo que o bem caia em mão de terceiro, e este,
fazendo mau uso dele, ocasione danos a outrem.1
1
O Superior Tribunal de Justiça consolidou Jurisprudência nesse sentido, in verbis: "AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. ACIDENTE DE TRÂNSITO. PRESCRIÇÃO. NÃO
OCORRÊNCIA. TERMO A QUO. PROPOSITURA DA AÇÃO. MATÉRIA SUBMETIDA AO RITO DOS
REPETITIVOS.INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 106/STJ. PROPRIETÁRIO DO VEÍCULO. LEGITIMIDADE PASSIVA.
CONFIGURADA. CULPA CONCORRENTE. PRETENSÃO DE REEXAME DE FATOS E PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADO. 1.
Segundo o Fls. _____ Apelação Cível 20170110165798APC Código de
Verificação :2019ACOZYN69WPBXWZICT51FPE9 GABINETE DO DESEMBARGADOR ROBERTO FREITAS 8
entendimento consolidado no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, em sede de recurso repetitivo, é a propositura
da demanda, e não a citação, que interrompe a prescrição. 2. Nos termos do Enunciado n.º 106 da Súmula do STJ,
proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da
justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência. 3. O proprietário do veículo responde
objetiva e solidariamente pelos danos decorrentes de acidente de trânsito causado por culpa do condutor. 4. O
recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos
autos, a teor do que dispõe a Súmula n.º 7 do STJ. 5. A verificação da ocorrência de culpa exclusiva da vítima ou
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DISTINÇÃO ENTRE A OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA E A OBRIGAÇÃO SUBSIDIÁRIA

Nas obrigações solidárias concorrem vários credores, vários devedores ou vários


credores e devedores ao mesmo tempo, sendo que cada credor terá o direito de exigir e
cada devedor terá o dever de prestar, inteiramente, o objeto da prestação. Importa
apresentarmos, neste ponto, um breve quadro das diferenças existentes entre as
obrigações solidária e subsidiária.

Subsidiária é a responsabilidade assumida entre dois ou mais sujeitos obedecendo a


certa ordem como é a responsabilidade dos sócios no que tange às obrigações da
sociedade empresarial, na forma do artigo 1.024 do Código Civil. Isso significa dizer que
a responsabilidade pelas dívidas da sociedade só surgirá quando o patrimônio da
mesma for atingido, portanto, a responsabilidade do sócio é considerada indireta,
eventual.

Neste sentido, podemos afirmar que a palavra subsidiária se refere a alguma coisa
que se coloca em reforço de outra coisa. Como ensinam Pablo Stolze Gagliano e
Rodolfo Pamplona Filho (2009, p. 78), na responsabilidade subsidiária, um sujeito tem a
dívida originária e o outro a responsabilidade por essa dívida. Assim, não sendo
possível executar o efetivo devedor, quando ocorrer o inadimplemento da obrigação,
podem ser executados os demais sujeitos envolvidos na relação obrigacional.

culpa concorrente demanda a revisão de provas. Incidência da Súmula n.º 7/STJ. 6. A divergência entre julgados do
mesmo Tribunal não enseja recurso especial (Súmula n.º 13/STJ). 7. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO." (AgRg
no REsp 1561894/ES, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/03/2016,
DJe 11/03/2016)
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AS SOLIDARIEDADES ATIVA, PASSIVA E MISTA

A solidariedade ativa se dá quando, havendo vários credores, cada um tem direito de


exigir do devedor comum o cumprimento da prestação por inteiro, na forma do artigo
267 do CC. Exemplo mais comentado, na doutrina, a respeito dessa solidariedade é o
contrato de cofres de segurança ou a solidariedade nos contratos de conta corrente com
instituições financeiras.

Pode o devedor pagar a quaisquer credores, na forma do artigo 268. No entanto,


após ação judicial, isto é, após a “demanda”, como preceitua o Código, só poderá o
devedor pagar ao credor que ajuizou a ação.

O artigo 269 trata do pagamento parcial, segundo o qual se paga parcialmente a


dívida, extinguindo a mesma só até este valor, mas permanecendo a solidariedade para
o valor restante.

A solidariedade passiva ocorre quando, havendo vários devedores, o credor tem o


direito de exigir e de receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente,
a dívida comum.

Assim, cada devedor é obrigado a pagar apenas parte da dívida, mas, em virtude da
solidariedade, pode ser constrangido a oferecer toda a prestação. Exemplo dessa
situação pode ser encontrada no artigo 7º, parágrafo único, do CDC e no artigo 8º do
CDC.

Cabe advertir que o artigo 275 do Código Civil já anuncia a possibilidade de


ocorrência da solidariedade parcial, isto é, aquela que acontece quando um dos co-
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devedores não tem condição, quando acionado, de pagar inteiramente a dívida. Neste
caso, o credor poderá aceitar o fracionamento da dívida. No entanto, permanecerá a
solidariedade perante os demais.

Da análise do artigo 275 podemos concluir que, ainda que o legislador tenha
idealizado a unidade objetiva, possibilitou também a sua flexibilidade, já que aceitou a
distinção para o caso de pagamento parcial em relação aos vários sujeitos abarcados na
relação jurídica.

A solidariedade mista é aquele que apresenta ao mesmo tempo a combinação dos


efeitos da solidariedade ativa e da solidariedade passiva na mesma relação
obrigacional. Tal solidariedade não encontra previsão expressa no CC, mas por força do
princípio da autonomia da vontade a mesma pode ser criada pelas partes interessadas.

Diferenças entre solidariedade e indivisibilidade

SOLIDARIEDADE INDIVISIBILIDADE

Cada devedor solidário pode ser compelido a O devedor só deve a sua quota-parte. Pode
pagar sozinho a dívida inteira, por ser devedor ser compelido ao pagamento da totalidade do
do todo objeto somente porque é impossível fracioná-
lo
Mesmo que a obrigação venha a se converter Perde a qualidade de indivisível a obrigação
em perdas e danos, continuará indivisível o que se resolver em perdas e danos.
seu objeto no sentido de que não se dividirá
entre todos os devedores ou todos os
credores, porque a solidariedade decorre da
lei ou da vontade das partes e independe da
divisibilidade ou indivisibilidade do objeto.
Caracteriza-se por sua feição subjetiva. Tem índole objetiva: resulta da natureza da
Advém da lei ou do contrato, mas recai sobre coisa, que constitui objeto da prestação.
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as próprias pessoas.

“Existe apenas uma maneira de começar a construir seu


sonho: pare de falar e comece a fazer” –
Walter Elias Disney

Excelente Final de semana!

Fontes bibliográficas utilizadas:

GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: obrigações. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v 2.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2010. v. 2.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva,
2010, v.

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