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OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS
arts. 264 a 285, CC

As obrigações solidárias interessam muito ao mundo jurídico, particularmente ao direito


obrigacional e contratual, eis que tem grande relevância prática.

O seu estudo interessa e somente é pertinente quando houver pluralidade de credores e/ou de
devedores (obrigação composta subjetiva ativa, obrigação composta subjetiva passiva e obrigação
composta subjetiva mista, esta última com vários credores e vários devedores ao mesmo tempo).
Dessa forma, na obrigação solidária ativa, qualquer um dos credores pode exigir a obrigação por
inteiro. Na obrigação solidária passiva, a dívida pode ser paga por qualquer um dos devedores1.
(Flávio Tartuce).

Existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma pluralidade de credores,


cada um com direito à dívida toda (solidariedade ativa), ou uma pluralidade de devedores, cada um
obrigado à dívida por inteiro (solidariedade passiva). (P.Stolze) (art. 264 do CC).

Caracteriza-se a obrigação solidária pela multiplicidade de credores e/ou devedores, tendo


cada credor direito à totalidade da prestação, como se fosse credor único, ou estando cada devedor
obrigado pela dívida toda, como se fosse o único devedor. (CRG)

Observe-se que existe unidade objetiva da obrigação (o objeto é único), embora concorram
mais de um credor ou devedor, cada um deles com direito ou obrigado, respectivamente, a toda
dívida. (P.Stolze)

O art. 265 do CC enuncia que a solidariedade não se presume, resultando da lei ou da


vontade das partes. Assim a solidariedade contratual não pode ser presumida, devendo resultar da
lei (solidariedade legal) ou da vontade expressa das partes (solidariedade convencional ou
voluntária).

Outra característica básica das obrigações solidárias é a possibilidade de haver modalidade


diferente para um ou alguns dos codevedores ou cocredores, conforme expresso no art. 266 do CC:
podendo a obrigação solidária ser pura e simples para um dos cocredores ou codevedores, e
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente para outro.

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Interessante anotar que fiador e devedor principal não são, em regra, devedores solidários. Isso porque o fiador tem
a seu favor o benefício de ordem previsto no art. 827 do CC, pelo qual pode exigir que primeiro sejam demandados os
bens do devedor principal, caso de locatário, por exemplo. Entretanto, é possível que o fiador fique vinculado como
principal ou de devedor solidário, se assim convencionar (art. 828, II, CC). Outra questão prática a respeito de
solidariedade passiva envolve as contas bancárias conjuntas. Deve ser esclarecido que estas somente serão solidárias
se houver previsão nesse sentido, outra hipóteses de solidariedade convencional, o que não alcança terceiros
estranhos à relação jurídica. (Flávio Tartuce)
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Assim:

a) Obrigação solidária pura ou simples – é aquela que não contém condição, termo ou
encargo;
b) Obrigação solidária condicional – é aquela cujos efeitos estão subordinados a um evento
futuro e incerto (condição);
c) Obrigação solidária a termo – é aquela cujos efeitos estão condicionados a um evento
futuro e certo (termo).

A obrigação solidária poder ser pura em relação a uma parte e condicional ou a termo em
relação à outra, seja o sujeito credor ou devedor, sem que isso comprometa a própria solidariedade.
Peculiaridades relacionadas a cada credor ou devedor podem autorizar a distinção de tratamento,
sem que as razões determinantes de solidariedade sejam abaladas.
Com efeito, não é incompatível com a natureza jurídica a possibilidade de estipulá-la
como condicional ou a prazo para um dos cocredores ou codevedores, e pura e simples para outo.
Assim , o codevedor condicional não pode ser demandado senão depois da ocorrência do evento
futuro e incerto, e o devedor solidário puro e simples somente poderá reclamar o reembolso do
codevedor condicional se ocorrer a condição.
O lugar e o tempo do pagamento podem ser idênticos para todos os interessados.
Todavia, se forem diferentes, essa circunstância não afetará a teoria da solidariedade.
Até mesmo quanto à causa da obrigação pode a solidariedade ser distinta para os
coobrigados. Ex.: para um dos devedores pode advir de culpa contratual e para outro, de culpa
extracontratual. É o que ocorre na colisão de um ônibus com outro veículo, o ferimento de um dos
passageiros, que poderá demandar, por esse fato, solidariamente, a empresa transportadora por
inadimplemento contatual (contrato de adesão) e o dono do veículo que colidiu com o ônibus, com
fundamento em responsabilidade extracontratual.
Quando várias pessoas contraem uma dívida solidariamente, é perante o credor que são
devedoras, respondendo cada uma pela integralidade. Entre elas (devedoras solidárias) a dívida se
divide, tornando-se cada uma devedora somente quanto à parte que lhe coube, na repartição do
empréstimo. Se dividiram entre si a quantia ou a coisa emprestada, ainda que cada uma seja
devedora do total para com o credor, cada uma só será devedora, para com as outras, de sua quota
parte, seja a divisão feita por igual ou desigualmente.
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Distinção entre obrigações solidárias e obrigações indivisíveis

A solidariedade assemelha-se à indivisibilidade por um único aspecto em ambos os casos, o


credor pode exigir de um só dos devedores o pagamento da totalidade do objeto devido.

Diferem, no entanto, por diversas razões. O traço distintivo mais expressivo, contudo, reside
no fato de que a solidariedade se caracteriza por sua feição subjetiva. Ela advém da lei ou do
contrato, mas recai sobre as próprias pessoas. A indivisibilidade, por outro, lado, tem índole
objetiva: resulta da natureza da coisa, que constitui objeto da prestação.

A função prática da solidariedade consiste em reforçar o direito do credor, em parte como


garantia, em parte como favorecimento da satisfação do crédito. A indivisibilidade, ao contrário,
destina-se a tornar possível a realização unitária da obrigação.

Assim, apresenta-se algumas distinções práticas:

a) Cada devedor solidário pode ser compelido a pagar, sozinho, a dívida inteira por ser
devedor do todo; nas obrigações indivisíveis o codevedor só deve a sua quota parte,
salvo se o objeto da prestação for indivisível, porque é impossível fracioná-lo.
b) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos (CC, art.
263); na solidariedade, entretanto, tal não ocorre. Mesmo que a obrigação venha a se
converter em perdas e danos, continuará indivisível seu objeto no sentido de que não se
dividirá entre todos os devedores, ou todos os credores, porque a solidariedade decorre
da lei ou da vontade das partes e independe da indivisibilidade ou indivisibilidade do
objeto.
c) A causa da solidariedade é o título e a da indivisibilidade e, normalmente a natureza da
obrigação (do objeto);
d) A solidariedade cessa com a morte dos devedores, enquanto a indivisibilidade subsiste
enquanto a prestação suportar; (art. 270)

SOLIDARIEDADE ATIVA

Exemplo de solidariedade ATIVA:

Ana, Bia e Caio são credores de Dudu. Nos termos do contrato, o devedor deverá pagar a
quantia de R$ 30.000,00, havendo sido estipulada a solidariedade ativa entre os credores de relação
obrigacional. Assim, qualquer dos três credores poderá exigir a dívida toda do devedor, ficando
aquele que recebeu o pagamento obrigado a entregar aos demais as suas quotas-partes respectivas.
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Todavia, se o devedor pagar a qualquer dos credores, exonera-se. Nada impede que dois dos
credores, ou até mesmo todos os três, cobrem integralmente a obrigação pactuada.

Outro exemplo prático é a conta bancária conjunta que permite que cada correntista saque
todo o dinheiro depositado. Qualquer dos titulares pode movimentar livremente a referida conta,
conjunta ou separadamente. Cada correntista credor pode, individualmente, sacar todo o numerário
depositado, sem que o banco, devedor na condição de depositário, possa recursar-se a permitir o
levantamento, exigindo a participação de todos.

Verifica-se que o efeito principal da solidariedade ativa é que qualquer um dos credores
(denominados cocredores) pode exigir do devedor, ou dos devedores, o cumprimento da obrigação
por inteiro, como se fosse um só credor (art. 267 do CC).

A solidariedade ativa pode ter sua origem legal, como ocorre com os locadores no caso de
locação de imóvel urbano (art. 2º da Lei 8.245/1991). Mas na maioria das vezes, haverá
solidariedade ativa convencional, sendo constituída por força de um contrato celebrado entre as
partes obrigacionais. De qualquer forma, é imperioso deixar claro que a solidariedade ativa
raramente acontece na prática.

De qualquer forma, havendo solidariedade ativa, o devedor comum pode pagar a qualquer
um dos credores antes mesmo da propositura de ação judicial para cobrança do valor da obrigação
(art. 268 CC).

Características da solidariedade ativa

1 – Cada um dos credores solidários tem o direito a exigir do devedor o cumprimento integral da
obrigação, conforme dispõe o art. 267 do CC.

Isso significa que o devedor demandado (ação judicial) por apenas um dos credores solidários não
pode pretender pagar o credor demandante apenas a quantia equivalente à sua quota parte, mas sim
pagar-lhe por inteiro.

Neste mesmo sentido, o devedor acionado na justiça por apenas um dos credores solidários não
pode opor exceção de divisão e pretender pagar por partes (apresentar defesa com fundamento de
que somente pode pagar a parte cabível ao credor demandante).

2 - Por esta razão, preceitua o art. 268 do CC que “enquanto alguns dos credores solidários não
demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar”.

Em outras palavras, enquanto não houver cobrança judicial, o devedor poderá pagar a qualquer dos
credores à sua escolha. O direito de escolha termina quando um dos credores solidários ajuizar a
ação judicial de cobrança. Neste caso deverá pagar àquele que ajuizou a ação.
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O devedor, sendo acionado por apenas um dos credores solidários obriga-se necessariamente a
pagar ao primeiro dos credores que reclamar a solução da dívida. Se a outro efetuar o pagamento
(após o ajuizamento da ação) estará pagando mal e poderá pagar outra vez.

3 - A propósito da cobrança feita exclusivamente por um dos credores e se este o receber, a


obrigação extinguirá para o devedor (art. 269, CC) e o credor solidário que tiver recebido a dívida
toda responderá (pagará) aos outros a parte que lhes caiba (art. 272, CC). A mesma solução ocorre
se um dos credores perdoar a dívida toda, deverá pagar aos outros.

4 - Caso um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a
exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a
obrigação for indivisível. (art. 270 do CC).

Neste caso, com o falecimento de um dos credores solidários, a solidariedade não transmite aos
herdeiros, significando que os herdeiros do credor falecido não poderão exigir a totalidade do
crédito, mas sim apenas a respectiva parte da herança, ou seja, a a quota no crédito do falecido e
deixado como herança.

Essa regra não se aplica se a obrigação for indivisível. A indivisibilidade é a qualidade real da
obrigação, por não ser esta suscetível de partilha, passando aos herdeiros a relação obrigacional com
essa qualidade, fazendo com que cada um destes seja credor do total.

5 - Outra regra digna de nota está no artigo 271 do CC, que diferentemente das obrigações
indivisíveis, nas obrigações solidárias, “convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste,
para todos os efeitos, a solidariedade”.

Veja, as obrigações indivisíveis perdem a qualidade de indivisibilidade e se transformam em


divisíveis quando convertidas em perdas e danos, por ter-se alterado a natureza do objeto da
prestação, sabido que a soma em dinheiro em que se convertem é divisível.

Todavia, nas obrigações solidárias, caso convertidas em perdas e danos, a unidade da prestação não
é comprometida. Liquidada a obrigação e fixado o valor de perdas em danos em dinheiro, cada
credor tem o direito de exigir o total, tendo em vista a solidariedade que permanece.

6 – o art. 273 do CC prescreve: “A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções
pessoais oponíveis aos outros”

Exceção é a palavra técnica que tem hoje o significado de defesa, contrastando com a ação, que é
ataque. Melhor seria que o legislador tivesse utilizado a palavra “defesa”, mais apropriada, visto
que o vocábulo “exceção” tem significado específico previsto na lei processual. CRG

De acordo com o art. 273 do CC, se um devedor está sendo cobrado em ação judicial por um dos
credores solidários e este for plenamente capaz, o demandado devedor não pode em sua defesa
alegar incapacidade, defeito na representação ou assistência de outro credor solidário que não é
autor da ação. Esta exceção (defesa) é pessoal, só pode ser oposta (apresentada) contra aquele que
padece do defeito.

Outro exemplo prático: se apenas um dos credores atuou dolosamente, de má-fé quando da
celebração do contrato, estando todos os demais credores solidários de boa-fé, a exceção (matéria
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de defesa de dolo) não poderá ser oposta contra todos. Não pode a exceção prejudicar os credores
de boa fé.

SOLIDARIEDADE PASSIVA

Exemplo de solidariedade PASSIVA:

O que identifica a obrigação solidária passiva é o fato de o credor ter o direito de exigir e
receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum (art. 275 do CC).
Pelo mesmo comando legal, se o pagamento ocorrer de forma parcial, todos os demais devedores
continuam obrigados solidariamente pelo resto do valor devido.

O principal efeito decorrente da obrigação solidária passiva é que o credor (ou os credores)
pode (ou podem) cobrar o cumprimento da obrigação de qualquer um dos devedores como se todos
fossem um só devedor. Nesta modalidade, há uma opção de o credor cobrar um, vários ou todos os
devedores, de acordo com sua vontade (opção de demanda).

Pode o credor, todavia, se quiser exigir parte do débito de cada um dos devedores
separadamente. Mas cada um dos devedores solidários está obrigado à prestação na sua
integralidade, como se houvesse contraído sozinho a obrigação inteira.

Ada, Belo e Cris são devedores de Dina. Nos termos do contrato, os devedores encontram-se
coobrigados solidariamente a pagar ao credor a quantia de 30.000,00. Assim, o credor poderá exigir
de qualquer dos três devedores toda soma devida, e não apenas um terço de cada um. Nada impede
que o credor demande dois dos devedores, ou, até mesmo, todos os três, conjuntamente. Observe
que o devedor que pagou toda a dívida terá ação regressiva contra os demais coobrigados, para
haver a quota-parte de cada um.

Se a obrigação fosse apenas fracionária (divisível), sem a característica da solidariedade, o


credor somente poderia exigir de cada devedor a sua respectiva quota-parte (R$ 10.000,00).
Todavia, se foi estipulada a solidariedade, o credor poderá escolher o devedor que irá pagar o valor
total, ou pode exigir que os três concorram com sua parte, ou que apenas dois efetuem o pagamento.

Outro exemplo de ordem prática diz respeito às seguradoras do consórcio do seguro DPVAT
que são solidariamente responsáveis pelo pagamento das indenizações securitárias, podendo o
beneficiário reclamar de qualquer uma delas o que lhe é devido. Assim, caso uma das seguradoras
efetue o pagamento a menor, o credor pode acionar qualquer outra seguradora integrante do grupo
para receber a complementação da indenização securitária, ainda que o pagamento administrativo
feito a menor tenha sido efetuado por seguradora diversa.
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Importa repetir que a solidariedade no direito positivo brasileiro não se presume nunca,
resultando expressamente da lei ou da vontade das partes (contrato) (art. 265 do CC).

Assim, não havendo norma legal ou estipulação negocial expressa que estabeleça a
solidariedade, o juiz não poderá presumi-la da simples análise das circunstâncias negociais: se três
devedores se obrigarem a pagar R$ 30.000,00, inexistindo determinação legal ou estipulação
contratual a respeito da solidariedade, cada um deles estará obrigado a pagar apenas a sua quota-
parte (10.000,00).

Entretanto, se o contrato estabelecer a solidariedade passiva, o credor poderá cobrar de


qualquer dos devedores os R$ 30.000,00. Veja que neste caso a solidariedade resultará da vontade
das partes.

Pode ocorrer que a solidariedade passiva resulte da lei. É o que acontece com os pais,
tutores, curadores, donos de hotéis, que são solidariamente responsáveis pelos causadores do dano
pelos filhos, tutelados, curatelados, hóspedes, nos termos dos art. 932 e 942, parágrafo único do CC.

Características da solidariedade passiva

1 – O principal efeito da solidariedade passiva consiste no direito que confere ao credor de exigir de
qualquer dos devedores o cumprimento integral da prestação (art. 275, CC). Trata-se de uma
faculdade e não um dever ou de um ônus, pois pode exigir o cumprimento de todos os devedores
solidários ou só de um alguns deles ou de qualquer deles uma parte apenas da dívida ou de toda
dívida.

Se o pagamento for integral, operar-se á a extinção da relação obrigacional, exonerando-se todos os


codevedores. Se, porém for parcial e efetuado por um dos devedores, os outros ficarão liberados até
a concorrência da importância paga, permanecendo solidariamente devedores do remanescente.

A exigência e o recebimento parcial da dívida comum das mãos de algum ou de alguns dos
devedores não liberam os demais do vínculo de solidariedade pelo restante, como consta
expressamente da segunda parte do art. 275, CC.

O fato de acionar apenas um dos devedores solidários não implica em renúncia do direito do credor,
podendo acionar os outros, se houver crédito remanescente.

2 – De acordo com o art. 276 do CC, se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiro,
divide-se o débito e cada um só responde pela quota respectiva de sua parte na herança. Essa
solução não se aplica se a obrigação for indivisível. Todavia, por ficção legal, os herdeiros reunidos
são considerados como um só devedor solidário, em relação aos demais codevedores.
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Verifica-se que a morte de um dos devedores solidários não rompe a solidariedade, que continua a
onerar os demais codevedores.

3- O art. 277 do CC trata das consequências do pagamento parcial do débito solidário e da remissão
obtida por um dos devedores. Assim o pagamento parcial naturalmente reduz o crédito. Sendo
assim, o credor só pode cobrar do devedor que pagou, ou dos outros devedores, apenas o saldo
remanescente.

Essa redução da prestação afeta a relação jurídica externa entre credor e devedores. A regra legal
pretende impedir o enriquecimento indevido do credor, que ocorreria se ainda lhe fosse permitido
cobrar a dívida inteira.

A remissão ou perdão total dado pelo credor a um dos devedores solidários não extingue a
solidariedade em relação aos codevedores, acarretando tão somente a redução da dívida, em
proporção ao valor remitido. Dessa forma, o credor só estará legitimado a exigir dos demais
devedores o seu crédito se fizer a dedução da parte daquele a quem beneficiou, ou seja: os
codevedores não contemplados pelo perdão só poderão ser demandados com abatimento da quota
relativa ao devedor perdoado, não pela totalidade da dívida.

4 – O art. 282 do CC autoriza a renúncia da solidariedade. Considerando que a solidariedade


constitui um benefício instituído em favor do credor, pode ele abrir mão, ainda que se trate de
vínculo resultante da lei.

Quando a renúncia é efetivada em prol de todos os coobrigados denomina-se absoluta. Neste caso,
não haverá solidariedade passiva, pois cada coobrigado passará a dever pro rata (sua quota parte da
dívida) isto, é responder somente por sua quota parte.

A renúncia operada em proveito de um, ou de apenas alguns devedores solidários, intitula-se


relativa. Ocorre quando o credor dispensa da solidariedade somente um ou outro devedor,
conservando-a, todavia, quanto aos demais. Assim procedendo, o credor divide a obrigação em duas
partes: uma pela qual responde o devedor favorecido, correspondente somente à sua quota; e a
outra, a que se acham solidariamente sujeitos os outros.

A renúncia ao benefício da solidariedade distingue-se da remissão da dívida (perdão). Com efeito, o


credor que apenas renuncia a solidariedade continua sendo credor, embora sem a vantagem de
poder reclamar de um dos devedores a prestação por inteiro, ao passo que aquele que remite o
débito abre mão de seu crédito, liberando o devedor da obrigação.
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Impossibilidade a Obrigação

O artigo 279 do CC disciplina as consequências do descumprimento da obrigação quanto se


impossibilita a prestação por culpa de um dos devedores solidários:

Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para


todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado”.

Assim, quando a prestação se torna impossível, faz-se necessário apurar se a impossibilidade


decorreu ou não da culpa do devedor. Cabe ao devedor inadimplente provar a impossibilidade do
cumprimento da prestação decorreu de caso fortuito ou de força maior, se quiser se exonerar.
Ambos os casos constituem excludentes da responsabilidade civil.

O artigo transcrito acima trata da impossibilidade da prestação contraída por codevedores


solidários, sendo um deles culpado. A solução apresentada no texto legal é que todos os
codevedores são responsáveis perante o credor pelo equivalente em dinheiro. O culpado, porém, e
só ele, responde por perdas e danos.

Com efeito, tratando-se de culpa pessoal, não pode a sanção civil ultrapassar a pessoa do
próprio negligente ou imprudente, considerando-se que ninguém pode ser responsabilizado por
culpa alheia. Desse modo, somente o culpado arcará com o ônus das perdas e danos.

Outra regra disposta no art. 280 do CC diz respeito aos juros moratórios decorrentes do
inadimplemento da obrigação, que são devidos a partir da constituição em mora, ou seja, do
vencimento da obrigação.

Assim diz o art. 280 do CC: “Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que
a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação
acrescida”.

Os juros são acessórios da obrigação principal – prestação – de maneira que a solidariedade


a eles se estende. Se o valor dos juros decorrente da conduta culposa de um ou de alguns dos
devedores solidários que a provocou, caberá a este ou estes indenizar os devedores não culpados,
pelo valor dos juros, ou seja, a obrigação acrescida.

Meios de defesa dos devedores (em ação judicial)

Meios de defesa são os fundamentos pelos quais o demandado pode repelir a pretensão do
credor, alegando que o direito que este invoca nunca existiu validamente ou tendo existido, já se
extinguiu, ou ainda não existe.
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O artigo 281 do CC fala em exceções, que no sentido técnico legal, são as defesas
propriamente ditas que o devedor solidário, acionado em processo judicial, pode alegar em
contrário à pretensão do credor. É na linguagem técnica, a contestação do réu à ação do autor.

O mesmo dispositivo apresenta as exceções comuns (que aproveitam a todos os devedores) e


as exceções pessoais (que dizem respeito a apenas um dos devedores e que podem ser opostas por
cada um deles).

Aquelas exceções comuns, que aproveitam a todos os devedores podem ser apresentadas por
apenas um deles e aproveitam a todos. Ex.: nulidade do negócio jurídico; não implemento de
condição suspensiva ou não esgotamento do termo; inadimplemento da obrigação do credor, nos
contratos bilaterais; pagamento; impossibilidade da prestação decorrente de caso fortuito ou força
maior; remissão; prescrição.

Exemplo de exceções pessoais: remissão subjetiva (perdão) concedida a um dos


codevedores; renúncia da solidariedade feita pelo credor em favor de um ou de alguns dos
devedores.

Renúncia do credor à solidariedade em favor de um devedor

A solidariedade é instrumento de garantia do credor, que, consequentemente dele pode abrir


mão. A renúncia pode referir-se a um, alguns ou todos os devedores, pois não acarreta nenhum
prejuízo à situação dos outros devedores.

O art. 282 do CC permite o credor em cuja obrigação tenha mais de um devedor solidário,
renunciar à solidariedade em favor de um ou alguns devedores, subsistindo a solidariedade daqueles
que não foram beneficiados com a renúncia.

Observe que os devedores não contemplados com a renúncia continuam obrigados pela
integralidade da dívida, o que não altera a situação em que se encontravam, pois, continuam
autorizados a cobrar a quota-parte do que foi liberado da solidariedade.

O devedor contemplado com a dispensa passará a responder perante o credor apenas com
sua quota parte da dívida, liberando-se da obrigação de cumprir a totalidade da prestação. Esse é o
único efeito da renúncia.

Relações dos codevedores entre eles

A solidariedade existe apenas nas relações entre devedores e credor. Extinta a dívida, o que
surge é um complexo de relações entre os próprios codevedores. Nessa nova fase tudo o que
importa é a apuração ou o rateio da responsabilidade entre os próprios codevedores, pois entre eles
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a obrigação é divisível. Resta tão somente partilhar entre todos a quota atribuída a cada um no
débito extinto, conforme dispõe o art. 283 do CC.

Desse modo, a obrigação é solidária apenas na relação externa entre os devedores e o credor.
Quem paga a dívida toda ao credor, solve a sua parte e adianta a quota dos demais devedores (seus
consortes). Por essa razão, faz jus ao reembolso, pela via regressiva.

No caso de haver algum devedor insolvente, sua quota parte é partilhada entre os demais
codevedores.

O estado de insolvência de um dos codevedores solidários impede o procedimento do rateio


de forma igualitária, determinado o acréscimo da responsabilidade dos codevedores para cobrir o
desfalque daí resultante.

O art. 284 do CC acrescenta ainda que mesmo o devedor que tenha sido exonerado da
solidariedade pelo credor entra no rateio da quota parte do devedor insolvente. Este artigo tem por
objetivo evidenciar a obrigação do devedor dispensado da solidariedade de participar do prejuízo
causado pela insolvência de um dos devedores. Nos termo do artigo 278 do CC, a exoneração da
solidariedade não pode agravar a situação dos demais devedores.

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