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INDEMNIZAÇÃO

Definição

Reparação do prejuízo de uma pessoa, em razão da inexecução ou da deficiente


execução de uma obrigação ou da violação de um direito absoluto. Como regra, a
obrigação de indemnizar pressupõe a culpa do agente e consoante a sua graduação ou
gravidade, determinará, de algum modo, a medida da obrigação de indemnizar. A
título excecional, também é indemnizável o dano provindo da prática de uma acto
lícito ou realizado sem culpa.

O artigo 562.º do Código Civil estabelece um princípio geral quanto à obrigação de


indemnizar: “quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação
que existiria, se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação”.

Trata-se do dever de repor a situação anterior à lesão.

A indemnização por forma diferente da reposição natural, como seja em dinheiro, tem
um carácter excecional – o artigo 566.º do Código Civil é muito claro ao estabelecer
que “a indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a reconstituição natural não
seja possível, não repare integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para
do devedor”. Embora tenha esse carácter excecional, é sabido que a indemnização em
dinheiro é a forma mais habitual de indemnizar.

É, também, um princípio fundamental da obrigação de indemnização, que esta só


existe em relação aos danos que o lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse
a lesão – artigo 563.º do Código Civil.

A indemnização abrange não só os prejuízos causados pela lesão, mas também os


benefícios não obtidos em consequência dessa lesão, ou sejam, os chamados lucros
cessantes – artigo 564.º do Código Civil.

Modalidades de indemnização

Artigo 566.º - (Indemnização em dinheiro)

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1. A indemnização é fixada em dinheiro, sempre que a reconstituição natural não
seja possível, não repare integralmente os danos ou seja excessivamente onerosa para
o devedor.

2. Sem prejuízo do preceituado noutras disposições, a indemnização em dinheiro


tem como medida a diferença entre a situação patrimonial do lesado, na data mais
recente que puder ser atendida pelo tribunal, e a que teria nessa data se não
existissem danos.

3. Se não puder ser averiguado o valor exacto dos danos, o tribunal julgará
equitativamente dentro dos limites que tiver por provados.

1. Responsabilidade solidária

Havendo pluralidade de devedores, o credor pode cobrar o total da dívida de todos ou


apenas do que achar que tem mais probabilidade de quitá-la. A dívida não precisa ser
cobrada em partes iguais para cada um.

Definição:

A responsabilidade solidária ocorre quando dois ou mais sujeitos de Direito, pessoas


singulares ou pessoas coletivas, estão obrigados, por lei ou por contrato, a pagar uma
dívida (obrigação ou débito) e o credor pode exigir a totalidade do valor desta de
qualquer um dos devedores; por sua vez, o cumprimento integral por parte de
qualquer um dos devedores exonera todos os outros da obrigação perante o credor.

Por exemplo:

Abel tem um crédito sobre Bento e Carlos no valor de 2000,00Mts, tendo sido
convencionado entre todos o regime da responsabilidade solidária. Ora, Bento tem um
património elevado e Carlos tem um património reduzido.

Em caso de incumprimento, Abel pode intentar uma ação judicial apenas contra Bento
ou contra Bento e Carlos a exigir a totalidade do valor em dívida (2000,00Mts). Se
Bento pagar a totalidade da dívida, tanto Bento como Carlos ficam liberados da dívida
para com Abel.

Relações externas e relações internas:

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A responsabilidade solidária desencadeia efeitos:

– nas relações externas, que são aquelas que se estabelecem entre o credor e os
devedores solidários; e

– nas relações internas, que são as relações dos devedores solidários entre si.

Notas:

– doravante, todas as disposições legais indicadas sem menção expressa da respetiva


fonte pertencem ao Código Civil, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 47344/66, de 25 de
novembro, com as alterações subsequentes.

– sobre esta matéria consultar, em especial, Mário Júlio de Almeida Costa, Direito das
Obrigações, 12ª edição, Almedina, Coimbra, 2009, págs. 661 e 662; 666 a 676.

2.1) Relações externas – dos devedores perante o credor:

Cada um dos condevedores fica obrigado a pagar a totalidade da dívida (cfr. art. 512.º,
n.º 1, 1ª parte). Pelo que o credor pode intentar uma ação judicial para a cobrança
coerciva de dívidas, declarativa ou executiva:

– quer contra todos os devedores,

– quer apenas contra algum ou alguns deles à sua escolha, por exemplo, o devedor
que tiver um património mais elevado (cfr. art. 519.º).

O devedor solidário que seja demandado não goza do benefício da divisão (cfr. art.
518.º). Ver o exemplo que se deu em cima no ponto 1.

Se algum ou alguns dos condevedores realizarem integralmente a prestação objeto da


obrigação (dívida ou débito) todos os outros devedores solidários ficam liberados
perante o credor (cfr. arts. 512.º, n.º 1, 1ª parte e 523.º).

2.2) Relações internas (dos devedores entre si) direito de regresso:

2.2.1) Direito de regresso:

O devedor que satisfizer o direito do credor, total ou parcialmente, mas em ambos os


casos, para além da parte que lhe competir, tem direito de regresso contra cada um

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dos condevedores (os outros devedores da obrigação solidária), na quota-parte da
dívida que a estes compete (cfr. art. 524.º).

No exemplo que se deu atrás (no ponto 1): Bento pagou a Abel a totalidade da dívida
no valor de 2000,00€ e tanto Bento como Carlos beneficiaram, em partes iguais, desse
crédito (cfr. art. 516.º). Assim, Bento tem direito de regresso contra Carlos no valor de
1000,00€.

2.2.2) Presume-se que os devedores comparticipam na dívida em partes iguais:

Ao nível interno cada um dos devedores responde apenas pela sua quota-parte de
prestação (cfr. art. 524.º). Nas relações internas presume-se que os devedores
solidários comparticipam em partes iguais na dívida, salvo se da relação jurídica entre
eles existente resultar:

– que são diferentes as suas partes;

– que um só deles deve suportar o encargo da dívida; ou ainda,

– que um só deles obtém o benefício do crédito (art. 516.º) (sobre esta questão ver em
baixo ponto 2.2.4.).

Por exemplo, se forem dois devedores solidários presume-se que a quota-parte de


cada um na dívida é de 50%; se forem três, a quota-parte de cada um na dívida é de
33,3%, e assim sucessivamente. Sobre esta matéria, com mais detalhes e exemplos,
ver o nosso artigo: direito de regresso.

2.2.3) Insolvência de um dos devedores – a sua quota-parte é dividida por todos:

Se um dos devedores solidários for declarado insolvente ou não puder por outro
motivo cumprir a prestação a que está adstrito, a sua quota-parte da dívida é repartida
proporcionalmente entre todos os demais, incluindo o devedor solidário que seja
credor do direito de regresso (art. 526.º).

2.2.4) Solidariedade imperfeita:

Em geral:

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A solidariedade imperfeita ocorre quando algum ou alguns devedores solidários têm
responsabilidade externa, ficando obrigados a pagar a dívida perante o(s) credor(es),
mas são irresponsáveis nas relações internas. É o que acontece, por exemplo, nos
casos em que um sujeito tem uma simples intervenção de favor, de simples garante,
destinada a permitir que outro sujeito obtenha crédito.

Regime:

Assim, nestes casos:

– se o devedor (ou devedores) solidário que teve uma simples intervenção de favor, de
mero garante, pagou a totalidade da dívida perante o credor, pode exigir, a título de
direito de regresso, do outro devedor que obteve em exclusivo o benefício do crédito,
a totalidade do valor que pagou;

– se, ao invés, quem procedeu ao pagamento da totalidade da dívida perante o credor


da sociedade foi o devedor solidário que obteve, em exclusivo, o benefício do crédito,
este não terá qualquer direito de regresso contra o devedor que desempenhou a
função de garante.

Solidariedade imperfeita vs responsabilidade subsidiária sem o benefício de excussão


prévia:

A responsabilidade solidária imperfeita aproxima-se bastante da responsabilidade


subsidiária nos casos em que o responsável subsidiário não goze, não tenha invocado
ou tenha renunciado ao benefício de excussão prévia.

Têm responsabilidade solidária imperfeita, nomeadamente:

– os sócios de indústria nas sociedades em nome coletivo, e

– os sócios comanditados nas sociedades em comandita simples e nas sociedades em


comandita por ações que, em qualquer caso, sejam sócios de indústria (nas sociedades
em comandita só os sócios comanditados é que podem ser sócios de indústria) (cfr.
arts. 178.º, n.º 2, 465.º, n.º 1, 2ª parte e 468.º do Código das Sociedades Comerciais
[3]).

3) É uma modalidade de responsabilidade por obrigações plurais:

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As obrigações (dívidas ou débitos) plurais são aquelas que têm dois ou mais
devedores; ou seja, são aquelas cuja prestação (em dinheiro, suscetível de avaliação
em dinheiro ou não suscetível de avaliação em dinheiro, mas que corresponda a um
interesse do credor digno de tutela legal [cfr. arts. 397.º e 398.º]), deve ser realizada
por dois ou mais sujeitos de Direito, pessoas singulares ou pessoas coletivas.

Ora, a responsabilidade solidária é uma modalidade de responsabilidade por


obrigações plurais. Para além desta, são também modalidades de responsabilidade por
obrigações plurais:

– a responsabilidade subsidiária e

– a responsabilidade conjunta.

4) Responsabilidade subsidiária vs responsabilidade solidária:

A principal diferença entre os dois regimes é a de que:

a) na responsabilidade solidária todos os devedores respondem em primeira linha: o


credor pode exigir a totalidade da dívida de qualquer um dos devedores à sua escolha;
ao passo que,

b) na responsabilidade subsidiária, o devedor principal responde em primeira linha e o


responsável subsidiário responde em segunda linha; o responsável subsidiário
(invocando o benefício da excussão prévia) só responde pela dívida quando tiverem
sido previamente excutidos ou esgotados todos os bens do património do devedor
principal.

Para mais diferenças entre os dois regimes ver o nosso artigo: diferença entre a
responsabilidade solidária e subsidiária.

5) Solidariedade legal vs solidariedade contratual:

A responsabilidade solidária pode ser emergente:

– da Lei (solidariedade legal); ou,

– da vontade das partes, através de estipulação ou cláusula contratual (solidariedade


contratual ou convencional) (cfr. art. 513.º).

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6) Alguns casos de solidariedade legal:

A Lei prevê muitos casos de responsabilidade solidária (solidariedade legal), como, por
exemplo:

6.1) Gerentes ou administradores atingidos pela reversão fiscal:

Em caso de incumprimento de dívidas fiscais por parte da sociedade, havendo


insuficiência do património desta para fazer face ao respetivo pagamento por via
coerciva (execução: apreensão, penhora e venda executiva), o processo de execução
fiscal pendente contra a sociedade reverte contra os respetivos gerentes ou
administradores, de Direito ou de facto.

Trata-se de uma responsabilidade pessoal, ilimitada e subsidiária em relação à


sociedade; porém, caso a gerência ou administração seja plural (isto é, se existirem
dois ou mais gerentes ou administradores), a responsabilidade é solidária entre todos
aqueles que forem visados pela reversão fiscal.

Artigo 509.º - (Danos causados por instalações de energia eléctrica ou gás)

1. Aquele que tiver a direcção efectiva de instalação destinada à condução ou


entrega da energia eléctrica ou do gás, e utilizar essa instalação no seu interesse,
responde tanto pelo prejuízo que derive da condução ou entrega da electricidade ou
do gás, como pelos danos resultantes da própria instalação, excepto se ao tempo do
acidente esta, estiver de acordo com as regras técnicas em vigor e em perfeito estado
de conservação.

2. Não obrigam a reparação os danos devidos a causa de força maior; considera-se


de força maior toda a causa exterior independente do funcionamento e utilização da
coisa.

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