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ROTEIRO – AULA

TEORIA DO INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES – MORA - parte 2

1. INADIMPLEMENTO RELATIVO – MORA

Configura a chamada MORA.

Ocorre a mora, espécie de inadimplemento relativo, quando o pagamento não


é feito no tempo, lugar e forma convencionados. A mora não traduz o
inadimplemento total da obrigação.

Espécies de mora:

1) Mora do credor (mora accipiendi ou credendi);

2) Mora do devedor (mora solvendi ou debendi).

Em uma mesma relação obrigacional, pode haver, concomitantemente, mora do


credor e mora do devedor. Segundo WASHINGTON MONTEIRO e MARIA HELENA DINIZ,
havendo mora do credor e do devedor, deverá o juiz, na medida do possível,
compensá-las proporcionalmente, ficando tudo como está – solução
doutrinária.

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1.1. Mora do CREDOR (mora accipiendi ou credendi)

Requisitos da mora do credor

Conforme o art. 394 do CC considera-se em mora o credor que NÃO quiser


receber o pagamento no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção
estabelecer.

Art. 394. Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento


e o credor que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei
ou a convenção estabelecer.

Alguns autores, como SÍLVIO RODRIGUES, afirmam que a mora do credor não só
existe como independe do aditamento da culpa. Ou seja, SÍLVIO RODRIGUES diz
que a mora do credor é OBJETIVA, não se perquirindo o elemento anímico,
isto é, a intenção do credor. PABLO filia-se a essa corrente.

Efeitos da mora do credor

O art. 400 do CC trata dos efeitos da mora do credor, in verbis:

Art. 400. A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à


responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir

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as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela
estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o
dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

Temos então os seguintes efeitos:

Efeito1- O devedor se isenta do ônus da conservação da coisa, exceto quando


tenha agido com dolo. Exemplo: O credor se recusa a receber o touro. As
despesas ficam à custa do credor, mas não pode o devedor agir com dolo,
como por exemplo, deixar de alimentar o animal ou largá-lo pela rua todo
podre.

Efeito2- Cabe ao credor a obrigação de ressarcir as despesas feitas pelo


devedor para a conservação da coisa.

Efeito3- O credor deve aceitar o cumprimento da obrigação pelo valor que


for mais favorável ao devedor, se tiver havido oscilação do valor entre a
data pactuada para o pagamento e a data efetiva do pagamento. Exemplo:
devedor tem obrigação de dar um animal pelo preço de 10.000. Se no dia da
efetivação do pagamento o mesmo animal estiver cotado em 15.000, será esse
o valor que o credor deverá pagar.

1.2. Mora do DEVEDOR (mora solvendi ou debendi)

Súmula do STJ em contratos bancários:

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STJ Súmula 379: Nos contratos bancários não regidos por legislação
específica, os juros de mora poderão ser fixados em até 1% ao mês.
(REsp. 402.483)

A mora do devedor, em linhas gerais, traduz o retardamento culposo no


cumprimento da obrigação.

Requisitos da mora do devedor (Baseada na doutrina de CLÓVIS BEVILÁQUA)

1-Existência de uma dívida líquida e certa

2-Vencimento da dívida (ou seja, a sua exigibilidade).

Nas dívidas com termo de vencimento pré-estabelecido, o não pagamento


tempestivo configura automaticamente a mora, independentemente de
interpelação do devedor. Aplica-se aqui a regra dies interpellat pro homine
(o dia interpela pelo homem). Neste caso, fala-se que a mora é ex re (caput
do art. 397).

Art. 397. O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu


termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.

Todavia, caso o credor necessite constituir em mora o devedor (quando não


há termo), interpelando-o (judicial ou extrajudicialmente), a mora será ex
persona (art. 397, parágrafo único).

Art. 397, Parágrafo único. Não havendo termo, a mora se constitui


mediante interpelação judicial ou extrajudicial.

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Vale lembrar que em alguns casos, mesmo havendo prazo pré-estabelecido, a
notificação é imprescindível para constituição em mora do devedor. Exemplo:
busca e apreensão de bem alienado fiduciariamente.

OBS: Orlando Gomes fala em “MORA IRREGULAR" ou “PRESUMIDA”, que ocorre no


caso do art. 398.

Art. 398. Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o


devedor em mora, desde que o praticou.

Culpa do devedor: art. 396

Art. 396. Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre
este em mora.

Sem culpa ou dolo do devedor, não há que se falar na ocorrência de mora.


Ao contrário da mora do credor, que se configura independentemente da
existência de culpa (conforme parte da doutrina).

Viabilidade do cumprimento tardio da obrigação

Conforme a previsão do parágrafo único do art. 395 do CC, se a prestação,


objetivamente considerada, em virtude da mora, não for mais do interesse
do credor, deixa-se de falar em mora e passa a ser caso de inadimplemento
absoluto da obrigação, resolvendo-se em perdas e danos.
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Na forma do parágrafo único do art. 395, à luz do enunciado 162 da 3ª
Jornada de Direito Civil, se a prestação, objetivamente considerada, não
for mais de interesse do credor, não há falar em simples mora, mas sim em
inadimplemento absoluto da obrigação, resolvendo-se em perdas e danos.

Art. 395, Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar


inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação das
perdas e danos.

JDC 162 – Art. 395: A inutilidade da prestação que autoriza a recusa


da prestação por parte do credor deverá ser aferida objetivamente,
consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do sinalagma, e não de
acordo com o mero interesse subjetivo do credor.

“Sinalagma”: Dependência recíproca das obrigações num contrato.

Exemplo clássico de devedor em mora cuja obrigação cumprida posteriormente


é inútil: Buffet que chegou após a formatura.

Efeitos da mora do devedor

Efeito1- A responsabilidade civil do devedor pelos prejuízos causados ao


credor em virtude da mora (art. 395, caput).

Art. 395. Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa,
mais juros, atualização dos valores monetários segundo índices
oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

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Efeito2- A responsabilidade civil do devedor pela integridade da coisa
devida, em outras palavras, perpetuatio obligacionis (art. 399)

Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação,


embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior,
se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa,
ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente
desempenhada.

Conforme o supracitado artigo, o devedor em mora responde pela integridade


da coisa devida, mesmo que sobrevenha dano sobre ela decorrente de caso
fortuito ou força maior. Excepcionalmente, poderá se liberar desde ônus se
comprovar: a) que a mora ocorreu sem sua culpa; b) que o caso fortuito ou
a força maior provocaria igualmente o dano na coisa devida mesmo se a
obrigação tivesse sido cumprida no prazo estabelecido.

2. PERDAS E DANOS

Significa indenizar aquele que experimentou um prejuízo, um déficit no seu


patrimônio material ou moral por força de um comportamento ilícito de um
transgressor da norma. Traduz o prejuízo material ou moral, causado por uma
parte a outra, em razão do descumprimento a obrigação. As perdas e danos
em geral, além da prova do dano, exigem o reconhecimento de culpa do
devedor.

Não se confunde com “pagamento do equivalente”. Isto porque esta diz


respeito à restituição de valores adiantados ou já pagos, é o
restabelecimento do status quo ante. Enquanto as perdas e danos, como já
mencionado, se refere ao prejuízo que a parte sofreu em virtude do
descumprimento.

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Para ser considerado indenizável, o dano deve ter os seguintes requisitos:

1) Efetividade ou certeza: não se indeniza danos hipotéticos.

2) Subsistência: se já foi reparado não há o que reparar.

3) Lesão a um interesse juridicamente tutelado (material ou moral)

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas


e danos devidas ao credor abrangem, além do que ele efetivamente perdeu
(dano emergente), o que razoavelmente deixou de lucrar (lucro
cessante). Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de DOLO do devedor,
as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros
cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto
na lei processual.

Não incluem danos indiretos. Pode incluir dano em ricochete (será visto a
seguir – responsabilidade civil).

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro,


serão pagas com atualização monetária segundo índices oficiais
regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de
advogado, sem prejuízo da pena convencional. Parágrafo único. Provado
que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena
convencional, pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

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Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

Por que o art. 405 trata que os juros correm da citação? Segundo Rizzardo,
com lastro em Pontes de Miranda, a interpretação não pode ser isolada. Esse
artigo seria específico para casos de ações que não se fundam no
inadimplemento. Se for caso de inadimplência, decorre da constituição em
mora ex re ou ex persona.

ATENÇÃO! Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo
incompetente, induz litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em
mora o devedor, ressalvado o disposto nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406,
de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).

Os arts. 240, caput, do Novo CPC e 405 do CC contêm a mesma regra: a citação
constitui o devedor em mora. Ocorre, entretanto, que essa regra encontra
uma série de exceções no Código Civil, diploma que apropriadamente trata
do tema, conforme o próprio art. 240, caput, do Novo CPC reconhece, ao
fazer a ressalva de não ser a citação que constitui o devedor em mora nas
hipóteses previstas pelos arts. 397 e 398 do CC.

Dessa forma, o devedor será constituído de pleno direito em mora na data


do vencimento de obrigação positiva e líquida (art. 397, caput, do CC). Na
hipótese de obrigação sem termo certo, além da citação, também a
interpelação judicial ou extrajudicial será apta a constituir o devedor em
mora (art. 397, parágrafo único, do CC). Nas obrigações provenientes de ato
ilícito, considera-se em mora o devedor desde o momento em que praticou o
ato (art. 398 do CC). Registre-se posicionamento pacificado do Superior
Tribunal de justiça de que, tratando-se de ato ilícito contratual, somente

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com a citação é constituído o devedor em mora (Súmula 54 do STJ: “Os juros
moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade
extracontratual).

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