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2.

DIREITO CIVIL – TRANSMISSAO DAS OBRIGACOES

Cessão de crédito –

1. Conceito - é o negócio jurídico pelo qual uma pessoa transfere a totalidade


ou parte de um crédito a outra pessoa, independentemente do consentimento
do devedor.

natureza contratual - é um negócio jurídico bilateral celebrado entre o cedente


e o cessionário

a título gratuito ou oneroso.

Qual é a diferença entre alienação, disposição, cessão, compra e venda e


doação?
A palavra mais ampla é disposição. A disposição é o gênero. As espécies de
disposição são:

i. alienação - é a disposição de coisa corpórea, que podem ser tocadas.

A alienação pode ser gratuita ou onerosa. A compra e venda é onerosa. A


doação é gratuita.

ii. cessão - é mais apropriada à disposição de coisa incorpórea.

O herdeiro cede direitos hereditários, e não os vende. O autor cede direitos


autorais. O jogador de futebol faz uma cessão de uso de sua imagem para uma
propaganda. Faz-se cessão de crédito. Alguém toca no crédito? Não. Toca-se
no dinheiro, mas não no crédito.

Crédito e débito são direitos e deveres, que têm existência abstrata, são
intangíveis, são incorpóreos.

Quem são as partes da cessão de crédito?

i. Credor originário – Cedente


ii. Devedor – Cedido
iii. Novo credor (para quem o credor originário cede o crédito) –
Cessionário
A cessão de crédito é um negócio bilateral, e não trilateral. é entre o cedente e
o cessionário. O cedido não é parte - negócio é realizado independentemente
do consentimento do devedor, apesar dele ter que pagar ao cessionário.

Se as partes quiserem, o devedor pode fazer parte do contrato de cessão de


crédito, o que é comum. Mas isso não é necessário.

2. Espécies de cessão de crédito

a) Cessão de crédito convencional - decorre de um contrato entre as partes,


da manifestação de vontade dos contratantes.

b) Cessão de crédito legal - é aquela imposta por força de lei. As partes não
precisam manifestar a sua vontade.

c) Cessão de crédito judicial - é aquela determinada por decisão judicial. não


decorre de acordo de vontade entre as partes, o juiz determina a cessão do
crédito.

3. Validade da cessão de crédito – requisitos

3.1.Sujeitos da cessão de crédito - são o cedente e o cessionário. Eles


devem ter plena capacidade civil. Se um deles for incapaz, é possível que seja
representado ou assistido. Mas em algumas situações o Código Civil pode
exigir a autorização judicial

Há situações em que a lei estabelece legitimidade negativa - quando proíbe a


prática do ato. Neste caso a cessão do crédito é proibida.

Exemplo - o cedente não pode ser um tutelado se o cessionário é o seu tutor.


Nem mesmo com autorização judicial - negócio jurídico nulo.

Em toda legitimidade negativa há um conflito de interesses. Há uma situação


grave que viola a ordem pública e ofende a moralidade.

3.2.Objeto da cessão de crédito - Em regra, todo e qualquer crédito pode ser


objeto de cessão

Pode ser cedida a totalidade ou parte de um crédito. crédito atual ou futuro.


crédito consensual (ou pacífico) ou litigioso. Até mesmo a cessão de crédito de
precatório é possível.

Exceções - Quando o crédito não pode ser objeto de cessão?

a) Quando houver proibição na lei - Exemplo: um crédito já penhorado -


perdeu o poder de disposição da coisa. Ex. pacta corvina – cessão de herança
de quem ainda não morreu.

b) Quando a natureza da obrigação não admite a cessão Exemplo:


obrigações personalíssimas/intuitu personae, o crédito trabalhista, o crédito
alimentar.

A princípio não se pode ceder crédito trabalhista e alimentar, mas há exceções.

É possível ceder um crédito vencido? Sim. Não se pode ceder o crédito que
vencerá no futuro.

3.3. Forma da cessão de crédito – em regra, é um negócio jurídico não


solene e informal. A princípio não se exige forma escrita ou escritura pública.

Exceções
a) A solenidade será exigida quando a escritura pública for um requisito
de validade do contrato-base
b) Cessão de crédito hereditário - exige escritura pública - “Art. 1.793. O
direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha o co-herdeiro,
pode ser objeto de cessão por escritura pública.

4. Eficácia da cessão de crédito

4.1. Eficácia perante o cedido - O cedido é o devedor, que não é parte da


cessão de crédito.

Embora seu consentimento não seja um requisito de validade, deverá ser


notificado, judicialmente ou extrajudicialmente, para que tenha conhecimento,
ciência do negócio.

Código Civil de 1916 - notificação do cedido - requisito de validade

Código Civil de 2002 - notificação do cedido - requisito de eficácia - “Art. 290. A


cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a
este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou
particular, se declarou ciente da cessão feita.

Para que é feita a notificação? i. Para pagar a pessoa correta e ii. Para que
possa opor exceções

Que tipo de exceção o cedido pode opor ao cessionário?

a) O cedido pode opor as exceções pessoais que ele tem contra o próprio
cessionário

b) O cedido pode opor as exceções pessoais que ele tinha contra o cedente
quando teve ciência da cessão

Qual é o prazo legal para que o cedido avise o cessionário sobre a exceção /
defesa?

Não há. A lei não estabelece prazo para que o cedido (o devedor) oponha a
sua exceção ao cessionário (o novo credor) - de acordo com a doutrina, o
cedido deve apresentar a exceção imediatamente após ter ciência da cessão
do crédito, sob pena de não poder fazê-lo posteriormente – sob pena de
violação do princípio da boa-fé objetiva – ocorre supressio.
4.2. Eficácia perante o cedente – não deu

4.3. Eficácia perante terceiros - possibilidade de a cessão de crédito produzir


efeitos erga omnes. A cessão de crédito será protegida de eventuais credores
do cedente e do cessionário.

Se a cessão de crédito é feita antes que o cedente deva para outras pessoas,
não há fraude contra credores

Como se prova quando o crédito foi cedido? Para que produza efeitos perante
terceiros, ela deverá ser celebrada por meio de escritura pública. ou por
instrumento particular com as solenidades do artigo 654, § 1º do Código Civil. A
solenidade é o registro do documento no Cartório de Registro de Títulos e
Documentos.

A publicidade do registro ou da escritura pública garantirá a autenticidade de


data – logo da certeza de que não houve fraude.

os credores futuros não conseguirão penhorar o crédito, mas não tem efeitos
contra credores pretéritos.

5. Classificação da cessão de crédito quanto à onerosidade

5.1. Cessão de crédito onerosa - o cessionário remunerará o cedente pelo


crédito.

o cedente tem responsabilidade pela existência do crédito ao tempo em que o


cedeu, não tem responsabilidade pela solvência do devedor (o cedido). Essa é
a regra. As partes podem dispor de forma diversa.

5.2. Cessão de crédito gratuita - Não há remuneração.

o cedente não tem responsabilidade pela existência nem pela solvência do


crédito. Essa é a regra. As partes podem dispor em sentido contrário.
6. Classificação da cessão de crédito quanto à responsabilidade do
cedente

6.1. Cessão pro soluto ou in veritas nominis - o cedente não tem


responsabilidade pelo cumprimento da obrigação, isto é, pela solvência do
devedor.

~e a regra na cessão gratuita ou onerosa.

No silêncio do contrato, a cessão de crédito (tanto a gratuita quanto a onerosa)


presume-se pro soluto.

6.2. Cessão pro solvendo ou in bonitas nominis - o cedente assume


expressamente a responsabilidade pelo pagamento da dívida, pela solvência
do débito.

ocorre em caráter excepcional e depende de disposição expressa pactuada


pelas partes.

Assunção de dívida ou cessão de débito

1. Conceito - é o negócio jurídico (da espécie contrato) em que o devedor de


uma obrigação (o cedente) transfere a sua dívida a um terceiro (o cessionário
ou assuntor), com o consentimento do credor (o cedido)

2. Validade da assunção de dívida - requisitos de existência e validade (art.


104, CC) +

a) Validade do negócio jurídico transmitido - analisar se a dívida cedida teve


origem em um negócio jurídico válido.

Se o negócio jurídico originário não for válido, a assunção de dívida também


não será válida.

b) Consentimento expresso do credor - O credor é o cedido. Na cessão de


débito o negócio jurídico só pode ser realizado com o consentimento do cedido.

c) Solvência do cessionário - O cessionário é o terceiro para quem se


transfere a dívida. deve ser solvente.
A solvência do cessionário deve estar presente quando é celebrado o negócio
transmissivo - Se o cessionário passa a ter dificuldades financeiras depois e
não consegue pagar, isso não afeta a validade da assunção de dívida.

Se o cessionário já era insolvente no momento da transmissão da dívida e o


cedido (o credor) ignorava tal situação, o cedente (o devedor originário)
continuará responsável pelo cumprimento da obrigação, isto é, pelo pagamento
da dívida.

3. Objeto da assunção de dívida - pode ter como objeto qualquer tipo de


obrigação: pode ser dívida presente, futura, litigiosa, certa, principal ou
acessória.

também é aplicável o princípio da gravitação jurídica (ou princípio da


acessoriedade) - a cessão abrange o principal mais os acessórios da dívida,
como juros, multam etc

4. Classificação da assunção de dívida quanto aos efeitos

4.1. Assunção liberatória - é aquela que exonera o devedor primitivo (o


cedente) de responsabilidade pelo cumprimento da obrigação. É a verdadeira
assunção de dívida.

O devedor primitivo fica livre da dívida, cumpridos todos os requisitos.

4.2. Assunção cumulativa - é aquela em que o devedor primitivo (o cedente)


continua responsável pelo cumprimento da obrigação.

Isso é uma falsa assunção de dívida, porque nesse caso há uma ampliação do
polo passivo da obrigação.

5. Classificação da assunção de dívida quanto aos meios ou formas de


substituição

5.1. Assunção de dívida por expromissão - é aquela realizada através de um


negócio jurídico bilateral entre o credor (o cedido) e o novo devedor (o
cessionário).
O devedor originário não precisa participar

5.2. Assunção de dívida por delegação - é realizada com a participação do


devedor originário (o cedente). Neste caso, há um negócio jurídico trilateral, do
qual participam o cedente, o cessionário e o cedido

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