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1 Direito das Obrigações

1. Conceito de obrigação

a) Conceito tradicional ou estático de obrigação - relação jurídica pessoal e transitória,


que confere ao credor o direito de exigir do devedor o cumprimento de determinada
prestação.
 estático - enxerga apenas o dever nuclear da obrigação

b) Conceito moderno ou dinâmico de obrigação - Clóvis do Couto e Silva - a obrigação é


vista como um processo, uma série de atos, uma série de deveres, exigíveis do credor e
do devedor para que seus interesses sejam satisfeitos.
 princípio da boa-fé objetiva - Impõe o dever de bom comportamento aos
contratantes em todas as fases contratuais.
 agir com lealdade, probidade, retidão, ética, dever de informar, dever de segurança
etc.
 prestação - dever jurídico nuclear - decorre da vontade das partes
 deveres da boa-fé objetiva - deveres anexos, satelitários, secundários, fiduciários.
(são impostos a ambas as partes), são impostos por lei

VIOLAÇÃO DO CONTRATO

i. Violação negativa do contrato

 Violação negativa do contrato = inadimplemento obrigacional.


 o devedor não cumpriu o dever jurídico nuclear
 PODE SER inadimplemento relativo ou absoluto, por comportamento culposo ou fortuito

ii. Violação positiva do contrato

 cumprimento do dever jurídico nuclear + descumprimento de deveres anexos.


 Quais serão as consequências da violação positiva do contrato?
 aplicar o artigo 422, que trata da boa-fé - cláusula geral - o legislador não diz o que
é o instituto e não diz o que ocorre em caso de sua violação. o juiz deve aplicar a
melhor solução no caso concreto

2. Estrutura da obrigação (elementos da obrigação)


2.1. Elementos subjetivos da obrigação
são os sujeitos da obrigação.
• Sujeito ativo: é o credor da obrigação
• Sujeito passivo: é o devedor da obrigação – pode ser qualquer pessoa (capaz, incapaz,
nascituros, PJ, etc).
É válida uma obrigação em que não se sabe quem é o credor ou quem é o devedor no momento
da sua formação?
Há indeterminabilidade subjetiva. será válida desde que essa situação seja temporária e cesse no
momento do cumprimento da obrigação. (ex – pgto de recompensa).

2.2. Elemento objetivo


O elemento objetivo é a prestação que será cumprida pelo devedor. É o dever jurídico nuclear.
A prestação pode ser de:
i. Dar – positiva - envolvem uma ação.
ii. Fazer – positiva - envolvem uma ação.
iii. Não fazer – negativa - consiste em uma omissão

A obrigação precisa ter conteúdo econômico para que seja uma obrigação civil?
 doutrina clássica – sim
 doutrina mais avançada – não precisa – devolver uma carta, fazer referência bibliográfica.

2.3. Elemento imaterial/virtual/espiritual

 é o vínculo formado entre as partes

a) Teoria monista ou unitária - teoria clássica, a mais antiga. há um vínculo entre credor e
devedor – débito.

 Débito é o dever jurídico de cumprir espontaneamente a obrigação.


 responsabilidade civil é estudada como elemento da parte - existe de forma paralela à
obrigação - consequência do descumprimento.
b) Teoria dualista ou binária

 reconhece dois vínculos entre credor e devedor


 Débito/schuld.: é o dever jurídico de cumprir espontaneamente uma prestação (de
dar, fazer ou não fazer)
 Responsabilidade civil / haftung: é a consequência jurídica e patrimonial do
descumprimento do débito. - é a possibilidade de coercitivamente exigir o
cumprimento da prestação devida (dar, fazer ou não fazer) e/ou a reparação de
danos.
Descumprido o schuld, surge o haftung
Qual é a relação entre a prescrição e a responsabilidade?
O poder que se tem de exigir de outrem o cumprimento de obrigação e/ou reparação de danos se
chama pretensão.
A prescrição põe fim à pretensão. - Prescrição fulmina a responsabilidade civil - altera a natureza
da obrigação civil, que deixa de ser civil, e passa a ser uma obrigação natural.
A decadência põe fim ao direito potestativo.

1. Classificação das obrigações quanto à sua natureza


três tipos – civil, natural e moral.
a) Obrigação civil
 A obrigação civil é aquela que gera duplo vínculo entre o credor e o devedor. Há schuld
(débito) e há haftung (responsabilidade civil).
 pode ser cobrada em juízo

b) Obrigação natural
 gera débito, mas não gera responsabilidade civil. Há schuld, mas não há haftung.
 não pode ser cobrada em juízo.
 A pessoa deve, tem obrigação de pagar – mas não pode ser cobrada em juízo.
Se o devedor pagar a obrigação prescrita, ele pode querer receber o dinheiro de volta?
 Não - Quem paga espontaneamente não tem direito à repetição do indébito - fenômeno da
soluti retentio (a retenção do que foi solvido).
 Não cabe ação de repetição de indébito. Indébito é aquilo que não é débito, aquilo que não
é devido, e no caso aqui tem débito.
Nenhuma dívida de jogo pode ser cobrada em juízo? Qual é a orientação do STJ sobre o tema?
STJ - se a dívida de jogo está relacionada a um jogo regulamentado por lei, pelo Estado,
ela caracteriza uma obrigação civil. Ou seja, ela pode ser cobrada em juízo.
Já o débito referente a jogo do bicho, por não ser regulamentado, não ser autorizado por lei, será
considerado obrigação natural.

c) Obrigação moral
 fruto de nossa consciência - não gera débito nem responsabilidade.
 A obrigação moral não tem débito. Pode-se pedir de volta o que já se pagou?
Se a obrigação moral for cumprida espontaneamente, não poderá ser cobrada de volta,
pois o seu cumprimento caracteriza um ato de liberalidade (doação).
Em regra, as doações são irrevogáveis.
Mas há duas exceções. As doações são revogáveis quando há:
i. descumprimento do encargo
ii. ingratidão

2. Classificação das obrigações de acordo com a prestação


2.1. Obrigação de dar

 o devedor assume o compromisso de entregar uma coisa certa ou incerta.


 A obrigação de dar transfere a propriedade da coisa? A obrigação de dar gera direito real?
 Nunca!!!! – contratos são fontes de obrigações. Brasil adota a doutrina do titulo e modo
- a transferência da propriedade (ou a constituição de direitos reais) são sempre atos
complexos. Isso significa que é preciso o título e o modo.
O título é o aquisitivo (contrato de compra e venda, de permuta etc.). O título gera apenas
direito obrigacional.
O modo:
i. se o bem for imóvel, é o registro no cartório de imóveis
ii. se o bem for móvel, é a tradição

2.1.1. Obrigação de dar coisa certa

 o objeto está completamente individualizado, determinado.

Principais regras sobre a obrigação de dar coisa certa

 a) Coisa diversa - “Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da
que lhe é devida, ainda que mais valiosa.”
E se o comprador aceitar A MAIS VALIOSA OU DE NATUREZA DISTINTA? ocorrerá a
dação em pagamento

 b) Princípio da gravitação jurídica/Princípio da acessoriedade - O acessório segue a


sorte do bem principal (acessorium sequitur principale). A existência do bem acessório
está vinculada à do principal
 A regra vale no silêncio do contrato. Ela tem aplicação supletiva.
 Exceções ao princípio da gravitação jurídica:
i. Quando houver disposição em sentido contrário no contrato – obrigação contratual
ii. Pertenças - são bens acessórios que, em regra, não seguem a sorte do bem
principal. Se destinam ao aformoseamento de outro bem. Eles não constituem parte
integrante do bem principal

Há exceções à exceção das pertenças (isto é, casos em que o acessório


acompanhará o principal):
I. Disposição em sentido contrário - a venda na modalidade “porteira fechada”
II. Natureza do negócio – Quando a natureza do negócio dá a entender que as
pertenças estão incluídas no negócio, elas não serão excluídas

 Primeiro se paga o preço ou se entrega a coisa? paga o preço - “Art. 491. Não
sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de
receber o preço. É possível convencionar em sentido contrário
c) Cômodos obrigacionais - Entre a formação do contrato e o momento do cumprimento, a
coisa é transformada. gera uma valorização.

 O melhoramento é um cômodo qualitativo.


 O acréscimo é um cômodo quantitativo.
 O devedor da coisa poderá exigir do credor a complementação do preço, em atenção ao
princípio da equivalência das prestações.
 E se o credor não quiser pagar? O credor não pode ser constrangido/executado para pagar
a diferença. As partes retornarão ao status quo ante.
Para que haja um cômodo obrigacional, é preciso que a coisa tenha se transformado. Não há
simples valorização ou desvalorização do preço de mercado da coisa, ou alta ou baixa do dólar. A
coisa mudou.

d) Responsabilidade pela perda da coisa

 significar tanto a destruição total da coisa ou o desaparecimento da coisa

1. Perda fortuita antes da tradição ou pendente uma condição suspensiva


 o devedor não teve culpa
 Antes da tradição ou pendente uma condição suspensiva, o bem ainda pertence ao
devedor.
 obrigação será considerada extinta e o devedor não terá o dever de reparar danos,
não tem responsabilidade civil
 res perit domino. A coisa perece para o dono
 as partes retornam ao status quo ante.

2. Perda culposa antes da tradição ou pendente uma condição suspensiva


 Considera-se a culpa lato sensu - abrange negligência, imprudência, imperícia ou dolo.
 o devedor indenizará o credor pelo equivalente + as perdas e danos.
 Equivalente é o valor atual do bem. É quanto a coisa valia naquele momento.

e) Responsabilidade pela deterioração da coisa - destruição parcial da coisa. Não há perda


total.
i. Deterioração fortuita - o devedor não teve culpa pela deterioração da coisa.

 o credor pode escolher:


1. Receber a coisa (com direito a abatimento proporcional no preço)
2. Resolver a obrigação (sem direito a indenização por perdas e danos)

O credor não é obrigado a receber uma coisa deteriorada.


Uma vez que a perda é fortuita, e não culposa, o credor não tem direito a receber indenização por
perdas e danos.

ii. Deterioração culposa -

 o credor pode escolher:


1. Receber a coisa (com direito a abatimento proporcional no preço e indenização por
perdas e danos)
2. Resolver a obrigação (exigindo o equivalente mais indenização por perdas e danos)
Perdas e danos incluem danos materiais, morais e estéticos. Atualmente a compreensão de
perdas e danos é ampla. Os danos devem ter sido efetivamente sofridos para que sejam
indenizados.

2.1.2. Obrigação de restituir coisa certa


CONCEITO É aquela em que o devedor assume o compromisso de devolver coisa que não lhe
pertence. são contratos em que há a transferência da posse da coisa, mas não da propriedade.
Ao final do contrato, a pessoa tem o dever de devolver a coisa para o credor, que é o proprietário.
é uma subespécie da obrigação de dar coisa certa – REGRAS DA obrigação de dar coisa certa
são aplicadas subsidiariamente, salvo as disposições em sentido contrário.
Principais regras da obrigação de restituir coisa certa
a) Cômodos obrigacionais - são os acréscimos qualitativos ou quantitativos sobre a coisa. A coisa
melhorou ou aumentou.
Se o acréscimo ocorreu sem despesa ou trabalho do devedor - ele não terá direito a indenização
pelo cômodo obrigacional.
Se o acréscimo ocorreu com despesa ou trabalho do devedor, o Código Civil determina que
sejam observadas as regras referentes a indenização por benfeitorias
Se o devedor agiu de má-fé: só tem direito a indenização pelas benfeitorias necessárias, sem
direito de retenção
Se o devedor agiu de boa-fé: tem direito a indenização e retenção pelas benfeitorias necessárias
e úteis, e a levantamento das benfeitorias voluptuárias A benfeitoria necessária visa à
preservação da coisa. A benfeitoria útil gera um aumento no uso da coisa.
b) Responsabilidade pela perda da coisa - Para verificar de quem é a responsabilidade, deve ser
observado se o comportamento do devedor foi culposo ou se houve perda fortuita.
i. Perda fortuita – não houve culpa- não há indenização – res perit dominus.
se estiver diante de um contrato oneroso, o credor poderá cobrar o valor proporcional ao uso da
coisa até o momento da perda.
Se for um empréstimo gratuito não deve pagar nada. Se for um comodato, o devedor nada
pagará. O comodato é gratuito.
ii. Perda culposa - o credor poderá cobrar o equivalente mais a indenização por perdas e danos.
c) Responsabilidade pela deterioração da coisa
Há destruição parcial da coisa. Deve-se observar se ela foi fortuita ou culposa.
i. Deterioração fortuita - o credor receberá a coisa de volta no estado em que se encontrar. Ele
não tem outra opção. Ele também não tem direito a indenização porque não houve culpa.
O credor não pode recusar o recebimento da coisa.
ii. Deterioração culposa - o credor só teria direito ao equivalente e a indenização por perdas e
danos
Mas, de acordo com a doutrina, se a deterioração for culposa, o credor pode escolher:
1. Ser indenizado pelo equivalente mais as perdas e danos (isso está na lei)
2. Receber a coisa com direito a indenização pelas perdas e danos (isso não está na lei, mas é
dito pela doutrina porque é algo óbvio)

2.1.3. Obrigação de dar coisa incerta


Conceito - É aquela em que o objeto é determinável, ainda será individualizado, em um momento
posterior à celebração do contrato.
autores afirmam que a obrigação de dar coisa incerta é aquela que tem a indicação do gênero e
da quantidade, e falta a qualidade. Mas esse é apenas um exemplo de obrigação de dar coisa
incerta, e não esgota o seu significado.
É possível ter uma obrigação em que há indicação de gênero, qualidade e quantidade, e a coisa
ainda será tratada como coisa incerta. Exemplo: alguém está devendo um automóvel da melhor
qualidade.
O que define a obrigação de dar coisa incerta é a necessidade de escolha, de individualização -
Para que o objeto seja determinável, há indicação de, no mínimo, gênero e quantidade. Pode
faltar a indicação da qualidade – SOB PENA DE NULIDADE.
“Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.”
Se há obrigação de dar coisa incerta e uma coisa é roubada, a obrigação não é extinta e o
devedor tem responsabilidade civil.
Principais regras da obrigação de dar coisa incerta
a) Concentração - é a escolha, a individualização do objeto. No silêncio do contrato, quem
escolhe é o devedor.
A escolha está vinculada ao princípio do meio-termo ou da qualidade média - o devedor está
proibido de entregar o objeto da pior qualidade, mas não está obrigado a entregar o objeto da
melhor qualidade.
E se a escolha competir ao credor? há entendimento doutrinário (Simão) no sentido de que não
se aplica o princípio do meio-termo ou da qualidade média. Por sua vez, Flávio Tartuce entende
que deve ser aplicado o princípio.
O Professor entende que é justo que, se o princípio limita a escolha do devedor por força de lei,
ele também limite a escolha do credor. Assim, o credor ficaria proibido de escolher o objeto da
melhor qualidade, mas não estaria obrigado a receber o da pior qualidade.
b) Responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa incerta
De acordo com a doutrina, há as obrigações em que há um gênero limitado e as obrigações em
que há um gênero ilimitado.
Exemplos de obrigação de dar coisa incerta de gênero ilimitado: entregar um automóvel. Há
muitos automóveis no mundo. Entregar uma garrafa de vinho.
Quando o gênero for ilimitado, aplica-se a regra genus nunquam perit (o gênero nunca perece).
Isso significa que o devedor não poderá alegar a perda ou deterioração da coisa antes da
concentração para se furtar do cumprimento da obrigação. Nem mesmo a existência de caso
fortuito ou de força maior afastam a obrigação.
quando há escolha ou concentração (pelo devedor ou pelo credor) e ela não é contestada pela
outra parte, há uma transformação PARA obrigação de dar coisa certa
A obrigação de dar coisa incerta é transitória.
Só há concentração quando ela é comunicada e aceita. Se a outra parte não reclama, ela está de
acordo com a concentração. VIROU obrigação de entregar coisa certa.
Se o gênero da coisa for limitado, há uma obrigação quase genérica.
• Obrigação genérica é a obrigação de dar coisa incerta.
• Obrigação quase genérica é o meio termo, no qual há dificuldade de se dizer se a coisa é certa
ou incerta.
Exemplo de obrigação quase genérica: o devedor se compromete a entregar “um dos seus
automóveis” ou “um vinho da sua adega”.
Se houver a perda de um objeto, a obrigação não será extinta, devendo ser cumprida. Exemplo:
se um carro foi roubado, entrega-se o outro.
Se houver a perda de todos os objetos, o que acontece? Exemplo: todos os carros são roubados,
ou todos os vinhos são furtados. Nesse caso, a obrigação será extinta
É preciso avaliar se houve culpa do devedor.
Se a perda de todo o gênero ocorreu com culpa do devedor, ele responderá pelas perdas e
danos. - Exemplos: o devedor ateou fogo em todos os seus carros, ou deu uma festa na qual
serviu todos os seus vinhos.
Se a perda de todo o gênero ocorreu sem culpa do devedor, não há responsabilidade civil.
Se o devedor agiu com culpa e deve indenizar o credor, qual é o valor dos danos? Deve-se usar
um valor mediano dos bens (nem o valor do melhor carro, nem o valor do pior carro), conforme
construção doutrinária. Essa norma não consta do Código Civil.

2.2. Obrigação de fazer


é uma obrigação positiva - caracteriza uma ação
conceito - é aquela em que o devedor assume o compromisso de desenvolver uma atividade
física ou intelectual, fungível ou infungível, que não seja a entrega de um objeto. É um conceito
por exclusão.
Exemplo: André contratou o famoso artista Pierre para pintar um retrato seu. Pierre deveria pintar
o quadro e entregar até um determinado dia. Pierre não entregou o retrato na data. Há obrigação
de dar ou de fazer?
Há as duas. Por mais que na origem, no contrato, houvesse 2 obrigações, de fazer e de dar, é
possível que sejam aplicadas apenas as regras sobre a obrigação de dar, se o quadro foi pintado
e não foi entregue.
2.2.1. Obrigação de fazer fungível / IMPESSOAL
Fungível é substituível.
Obrigação de fazer fungível ou impessoal é aquela que outra pessoa pode realizar no lugar do
devedor. Pode ser um terceiro, e às vezes até mesmo o credor
Há 2 contratos que geram dúvidas o contrato de empreitada e o contrato de prestação de
serviços.
A obrigação de fazer fungível está presente no contrato de empreitada ou no contrato de
prestação de serviços? Qual deles é fungível e qual é infungível?
O contrato de empreitada é em regra fungível. Excepcionalmente, pode ser infungível. Salvo
disposição em contrário, o empreiteiro pode subempreitar.
O contrato de prestação de serviços é em regra infungível. Excepcionalmente, pode ser fungível.

2.2.2. Obrigação de fazer infungível / PESSOAL


CONCEITO - é aquela insubstituível. Também é chamada de obrigação personalíssima, intuitu
personae ou pessoal. contratada em atenção a determinadas qualidades, características,
atributos do devedor.
consequências da morte - No contrato personalíssimo, a morte de qualquer das partes provoca a
extinção do contrato, que tem um nome especial: cessação do contrato.
O que é a cessação do contrato? É a extinção do contrato pela morte. Os herdeiros devem
cumprir o contrato nos limites da força da herança, mas podem optar por cumprir o contrato, se
for interessante para eles.
Atenção: na obrigação personalíssima, o credor não pode ser forçado a aceitar o cumprimento da
obrigação por terceiro
Se o credor aceitar o cumprimento da obrigação por terceiro, depois não poderá cobrar
abatimento proporcional no preço. Por quê? Porque a obrigação infungível foi convertida em
obrigação fungível.
Por que ela se converteu? Porque o credor aceitou que terceiro cumprisse a obrigação.
Há alguma exceção? Sim. Se em razão de uma situação de urgência ou emergência o credor foi
forçado a aceitar o cumprimento da prestação por terceiro, depois poderá reclamar indenização/
abatimento proporcional no preço.

Responsabilidade civil pelo descumprimento da obrigação de fazer fungível ou infungível


Se o inadimplemento for fortuito (sem culpa) a obrigação será extinta. Não há responsabilidade
civil.
Se o inadimplemento for culposo, a obrigação será extinta. Há responsabilidade civil - dever de
indenizar perdas e danos.
Em ambos os casos a obrigação é extinta. Não há como fazer a banda certa cantar na festa do
casamento se ela não está lá.
2.3. Obrigação de não fazer
é a única espécie de obrigação negativa - consiste em uma omissão
conceito - é aquela em que o devedor assume um compromisso de se abster da prática de
determinado ato.
pode ter origem legal ou contratual. O mais comum é a obrigação legal, quando há interpretação
a contrário sensu do artigo 186 do Código Civil, segundo a qual não se deve causar dano a
outrem (neminem laedere).
Descumprimento da obrigação de não fazer
Se não há cláusulas contratuais sobre as consequências do descumprimento da obrigação de
não fazer, como se resolve a questão?
A doutrina fala em obrigação de não fazer transeunte e obrigação de não fazer permanente.
Obrigação de não fazer transeunte é aquela que é instantânea. é irreversível. Ela não deixa um
resultado concreto que possa ser desfeito.
qual é a consequência? Se o devedor agiu sem culpa, não há indenização. Se o devedor agiu
com culpa, o credor tem direito a indenização.
Obrigação de não fazer permanente é aquela é reversível. Ela pode ser desfeita. Se o devedor
agiu sem culpa, o credor não pode forçar o desfazimento. (Isso não é pacífico, mas polêmico. E
não está no Código Civil, sendo uma construção doutrinária.)
Se o devedor agiu com culpa, o credor pode forçar o desfazimento e obter indenização por
perdas e danos
“Permanente” diz respeito ao fato de que o resultado se prolonga no tempo (não é passageiro,
transeunte) e pode ser desfeito.
“Permanente” não significa que a coisa não pode ser desfeita. Pelo contrário, a obrigação de não
fazer permanente pode ser desfeita, ao passo que a obrigação de não fazer transeunte não pode
ser desfeita.

3. Classificação da obrigação de acordo com os seus elementos


A obrigação tem:
i. Elementos subjetivos, que são os sujeitos da obrigação, credor e devedor
ii. Elementos objetivos, que correspondem ao conteúdo, à prestação
iii. Elemento imaterial
Quando se classifica a obrigação segundo esses elementos, como elas se chamam?
a) Obrigação simples/mínima - é aquela que apresenta todos os seus elementos no singular.
Um credor, um devedor, uma prestação.
b) Obrigação plural/composta/complexa - apresenta um ou alguns de seus elementos no
plural.
A obrigação plural pode ter todos os elementos no plural. Pode haver pluralidade de credores, de
devedores e de prestações.
Exemplo: André deve entregar a João um automóvel e uma moto.
Embora haja apenas um credor e um devedor, há duas prestações.
Outro exemplo: André celebrou um contrato de compra e venda com João. André é o comprador
e João é o vendedor. Pelo contrato de compra e venda, André deve pagar R$ 50 mil a João e
João deve entregar um automóvel a André. Esse exemplo é de obrigação simples ou complexa?
A imensa maioria dos alunos afirma que é uma obrigação complexa, o que está errado. É uma
obrigação simples.
No exemplo anterior, vimos apenas um corte do contrato, e não o contrato completo.
O exemplo mostra um contrato bilateral, também chamado de sinalagmático, que gera obrigações
para ambos os contratantes.
Há uma relação jurídica complexa, mas não uma obrigação complexa. Há pluralidade de
obrigações, mas não dos elementos da obrigação.
Na obrigação complexa há pluralidade de elementos da obrigação. Na relação jurídica complexa
há pluralidade de obrigações.
A obrigação no exemplo dado, de compra e venda do carro, é uma obrigação simples.
Só é possível analisar se a obrigação é simples ou complexa se separarmos as duas
obrigações:
1. André deve entregar a João R$ 50 mil – há um credor, um devedor, uma prestação: a
obrigação é simples
2. João deve entregar a André um carro –há um credor, um devedor, uma prestação: a
obrigação é simples
Trata-se de uma relação jurídica complexa formada por duas obrigações simples.

4. Obrigações plurais/complexas/compostas objetivas


Conceito - são aquelas nas quais há uma pluralidade de prestações.
Exemplo: André deve entregar a João mais de uma prestação.
Há três tipos de obrigações plurais objetivas:
4.1. Obrigação cumulativa/conjuntiva – x e y
Conceito - é aquela em que ambas as prestações são devidas e ambas devem ser cumpridas.
Há o termo aditivo “e”.
Exemplo: André deve entregar o automóvel e a moto para João.
Se o devedor deseja entregar apenas uma das prestações, o credor é obrigado a recebê-la? O
credor não pode ser forçado a receber apenas uma das prestações. O adimplemento parcial pode
ser considerado por ele como inadimplemento total.
O credor pode aceitar o adimplemento parcial se quiser. Mas ele não pode ser forçado a aceitar.
A obrigação cumulativa é invenção da doutrina.

4.2. Obrigação alternativa/disjuntiva – x ou y


Conceito - é aquela em que ambas as prestações são devidas, mas apenas uma delas deverá
ser cumprida. Há o termo alternativo “ou”.
Exemplo: André deve entregar um automóvel ou uma moto a João.
O perigo é confundir a obrigação alternativa com a obrigação facultativa.
A obrigação alternativa é a única prevista no CC
É perigoso achar que na obrigação alternativa apenas uma prestação é devida. Ambas as
prestações são devidas.
O “ser devido” é uma característica que surge na formação do negócio jurídico e diz respeito ao
plano da existência. O “mas apenas uma prestação deve ser cumprida” é referente à execução do
contrato e diz respeito ao plano da eficácia, conforme ensina Pontes de Miranda.
Se apenas uma prestação será cumprida, há um problema. Quem escolhe qual prestação será
cumprida?
É preciso que seja feita a concentração. Não é a mesma escolha que ocorre na obrigação de dar
coisa incerta, mas há concentração na obrigação alternativa também. A escolha cabe ao devedor.

Concentração
No silêncio do negócio jurídico, a escolha competirá ao devedor.
“Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se
estipulou.”
Uma vez realizada a concentração (a escolha), a obrigação plural se transforma e passa a ser
uma obrigação simples.
A concentração é um ato irrevogável e muda a natureza da obrigação. Realizada a concentração,
a obrigação plural se transforma em uma obrigação simples.
Na obrigação de dar coisa incerta, quando realizada a escolha, se ela não for contestada, a
obrigação se transforma em obrigação de dar coisa certa.
A concentração transforma a obrigação. A escolha na obrigação de dar coisa incerta transforma a
obrigação em obrigação de dar coisa certa. A escolha na obrigação alternativa transforma a
obrigação em simples.
Após a concentração, não há mais obrigação alternativa, e são seguidas as regras da obrigação
simples.
A concentração (escolha) pode ser:
i. Escolha in solutione - A escolha in solutione é feita pelo devedor, que é quem solve. Solver é
pagar. é a regra.
Se o devedor falecer antes de realizar a concentração, ela passará aos seus herdeiros.
Se o devedor não realizar a escolha dentro do prazo (pode ser o prazo previsto no contrato,
previsto na lei, determinado pelo juiz), a escolha passa a ser do credor. Deixa de ser uma escolha
in solutione e passa a ser uma escolha in petitione.
ii. Escolha in petitione - é aquela realizada pelo credor, que é quem pede, quem cobra. é uma
exceção.
Se a escolha competir ao credor e ele falecer antes da concentração, a escolha será realizada
pelos seus herdeiros.
Se o credor não realizar a escolha no prazo (prazo previsto no contrato, previsto na lei ou
determinado pelo juiz), a escolha passa a ser do devedor.
Mas a escolha não vai e volta várias vezes entre credor e devedor. Se isso acontece, ninguém
está interessado em cumprir a obrigação ou em cobrá-la. A inversão pode ser feita apenas uma
vez, do credor para o devedor, ou do devedor para o credor.
Principais regras da obrigação alternativa
a) Fracionamento do pagamento - Em regra, o devedor não pode forçar o credor a receber
parte de uma prestação e parte da outra prestação.
Há duas exceções:
i. o credor pode aceitar o fracionamento do pagamento, recebendo 0,5kg de arroz e 0,5kg de
feijão
ii. quando houver prestações periódicas: é a hipótese em que o devedor deve cumprir a
obrigação alternativa a cada período de tempo. A cada período de tempo pode ser escolhida
uma nova prestação
Exemplo: o devedor deve entregar a prestação de arroz ou feijão mensalmente. A cada mês
ele pode escolher entregar uma prestação. Em um mês ele pode escolher entregar arroz e no
mês seguinte ele pode escolher entregar feijão.
Alguns autores chamam isso de balanceamento da concentração.
“§ 2º Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser
exercida em cada período.”
b) Princípio do meio-termo/da qualidade média - Em regra, o princípio do meio-termo ou da
qualidade média não é aplicável às obrigações alternativas.
Assim, o devedor pode entregar tanto o Fusca, quanto o Jetta, quanto a Ferrari. Essa escolha
na obrigação alternativa é livre.
Excepcionalmente, haverá incidência do princípio do meio-termo ou da qualidade média caso
o conteúdo da obrigação alternativa revele obrigação de dar coisa incerta. No fundo, o
princípio do meio-termo não se aplica às obrigações alternativas, mas sim às obrigações de
dar coisa incerta. O princípio só incide quando se mistura as duas classificações distintas.

4.3. Obrigação facultativa/de faculdade alternativa


• Obrigação cumulativa: André tem que entregar a João a caneta e o copo de água
• Obrigação alternativa: André tem que entregar a João a caneta ou o copo de água
Na obrigação alternativa, não há diferença entre a caneta e o copo de água, porque ambos
são devidos.
• Obrigação facultativa: André tem que entregar a João um copo de água, mas reservou-se o
direito de entregar uma caneta
Na obrigação facultativa, a caneta é uma carta na manga do devedor, que ele pode usar para
entregar ao invés do copo de água.
Obrigação facultativa é a aquela em que apenas uma das prestações é devida. A outra
prestação é facultativa e não pode ser exigida pelo credor.
A principal diferença entre a obrigação alternativa e a obrigação facultativa é que, na
obrigação alternativa, o devedor está obrigado a entregar uma das coisas, e se uma delas é
roubada, o credor pode cobrar a outra. Se é roubada a caneta, o credor pode cobrar o copo de
água. Se é roubado o copo de água, o credor pode cobrar a caneta.
Na obrigação facultativa, a única obrigação que pode ser cobrada é a devida. Se a caneta foi
roubada, o credor pode cobrar o copo de água. Mas se o copo de água foi roubado, a caneta
não pode ser exigida, porque ela é uma carta na manga do devedor. Ela é uma faculdade.
A obrigação alternativa não faz distinção jurídica entre as prestações. A obrigação facultativa
distingue entre as prestações.
A Professora Giselda Hironaka defende que a obrigação facultativa, na verdade, é uma
obrigação simples, porque apenas uma das prestações é devida. A outra é uma faculdade, e
não um dever jurídico.
• Entregar o copo d’água: a entrega é devida – é um dever jurídico
• Entregar o copo de água: a entrega é uma faculdade – há um direito

5. Obrigações plurais/complexas/compostas subjetivas

conceito - é aquela que tem pluralidade de prestações, como estudamos (obrigação


cumulativa, alternativa e facultativa).
Obrigação plural subjetiva é aquela que tem pluralidade de sujeitos. Pode ser pluralidade dos
sujeitos ativos (credores) ou passivos (devedores).
Exemplo: A é credor de B e C pela quantia de R$ 100 mil. A ajuíza ação contra C. Quanto ele
pode cobrar de C?
A pode cobrar apenas R$ 50 mil de C, porque o enunciado não afirmou que os devedores são
solidários. B e C são codevedores, mas não se disse que há solidariedade legal ou contratual.
Acreditar que há solidariedade nas obrigações é sempre a confusão feita pelos alunos,
quando há pluralidade de credores ou de devedores. A regra é que não haja solidariedade.

5.1. Obrigação não solidária


A obrigação não solidária é a regra porque a solidariedade nunca se presume. A solidariedade
resulta da lei ou da vontade das partes.
A solidariedade não resulta da determinação do juiz (embora muitos juízes criem solidariedade
de forma indevida). O juiz só deve reconhecer a solidariedade quando ela estiver prevista na
lei ou no contrato. Ela nunca será presumida.
Se não há nenhum elemento que indica que a solidariedade está presente, presume-se que
não há solidariedade.
Quando a obrigação é não solidária, deve ser observado se a prestação é divisível ou não.
a) Prestação divisível
Se a prestação é divisível, aplica-se a regra concursu partes fiunt: a prestação deverá ser
dividida de acordo com a quantidade de credores e/ou de devedores.
Cada credor/devedor poderá cobrar/ser cobrado apenas da sua quota-parte.

b) Prestação indivisível
A prestação indivisível não pode ser fracionada.
Tipos de indivisibilidade
Há três tipos de indivisibilidade:
i. Indivisibilidade natural
Na indivisibilidade natural, a coisa não pode ser fracionada, para não perder
consideravelmente o seu valor, não perder a sua utilidade ou não alterar a sua substância.
“Art. 258. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato
não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a
razão determinante do negócio jurídico.”
ii. Indivisibilidade convencional
A indivisibilidade convencional pode ser convencionada em contrato de compra e venda, em
uma doação etc. Pode-se instituir cláusula de indivisibilidade sobre a herança em um
testamento, por exemplo. O pai afirma que a fazenda será de ambos os filhos e a grava com
cláusula de indivisibilidade. Há o limite temporal de 5 anos.
Quando os irmãos convencionam entre si, podem renovar a indivisibilidade sucessivas vezes.
Quando o doador doou algo, o donatário pode renovar a indivisibilidade. O herdeiro também
pode renovar a indivisibilidade.
iii. Indivisibilidade legal
A indivisibilidade legal é aquela imposta por lei.
Exemplo: há uma fração mínima em cada cidade sobre o que pode ser um lote urbano. Cada
cidade tem sua lei.
Se não tiver lei, aplica-se a metragem mínima de 125m2 segundo a Lei do Parcelamento do
Solo Urbano
“Art. 4º Os loteamentos deverão atender, pelo menos, aos seguintes requisitos:(...)
II - os lotes terão área mínima de 125m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e
frente mínima de 5 (cinco) metros, salvo quando o loteamento se destinar a
urbanização específica ou edificação de conjuntos habitacionais de interesse social,
previamente aprovados pelos órgãos públicos competentes”
Também há uma metragem mínima na área rural, determinada por padrões estabelecidos
pelo INCRA. Outro exemplo de indivisibilidade legal: as servidões (o direito real de fruição
sobre coisa alheia) são inalienáveis por força de lei.
“Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e subsistem, no caso de divisão dos
imóveis, em benefício de cada uma das porções do prédio dominante, e continuam a
gravar cada uma das do prédio serviente, salvo se, por natureza, ou destino, só se
aplicarem a certa parte de um ou de outro.”
A obrigação indivisível mais cobrada em provas é aquela decorrente da indivisibilidade natural.
Como se dá a solução da obrigação se a prestação for indivisível?
Cada credor/devedor poderá cobrar/ser cobrado da totalidade da prestação.
Exemplo de pluralidade de devedores: A é credor de B e de C por um touro reprodutor. A
ajuíza ação contra C.
Quanto A pode cobrar? A totalidade. Não se pode matar o touro reprodutor para entregá-lo.
O devedor que for obrigado a cumprir sozinho a prestação terá direito de regresso em face
dos demais devedores. Assim, C tem direito de regresso em face de B.
Se o touro custou R$ 1 milhão para C, C pode cobrar de B o valor de R$ 500 mil.
Se o touro já era de B e de C e já estava na fazenda de C, e C o entregou para A, C arcou
sozinho com a obrigação?
Não. Tanto B quanto C cumpriram a obrigação, porque o touro era da propriedade de ambos.
Nesse caso, não há direito de regresso.
Outro exemplo: se A é credor de B e C por dois touros, a prestação é divisível, embora os
bens sejam indivisíveis (porque se dividir o touro ele irá morrer, e não terá mais valor). Nesse
caso, A pode cobrar de C um touro, e de B um touro.
Exemplo de pluralidade de credores: X e Y são os credores de Z por um touro. Y ajuíza ação
contra Z. Quanto Y pode cobrar? A totalidade. Pode cobrar um touro. Assim, Y tem a
obrigação de indenizar X.
No exemplo inverso, em que há pluralidade de credores, se apenas um dos credores receber
a totalidade da prestação, ele depois deverá indenizar os demais credores proporcionalmente.
Se o touro valia R$ 1 milhão, Y deve indenizar X em R$ 500 mil.

Perda da prestação indivisível


a) Perda fortuita - a obrigação é extinta. Se havia a obrigação de dar coisa certa e a coisa foi
perdida fortuitamente, não há o dever de indenizar, mas de devolver o valor adiantado,
segundo a regra res perit domino.

b) Perda culposa - a obrigação é convertida em perdas e danos.


Quando a obrigação é convertida em perdas e danos, ela sofre uma mutação: ela era uma
obrigação indivisível e passa a ser uma obrigação divisível.

5.2. Obrigação solidária


A obrigação solidária é sempre a exceção.
A obrigação solidária decorre:

i. Da vontade das partes - Quando a solidariedade decorrer da vontade das partes, o


enunciado da questão de prova afirma expressamente que os credores ou os devedores
são solidários.

ii. Da lei - A lei estabelece a solidariedade em determinados contratos. Exs


• entre locadores totalidade do débito de C.
• entre locatários
• entre fiadores- Há solidariedade legal entre fiadores (e não entre fiadores e locatários). O
fiador é o responsável subsidiário pelo aluguel, com relação ao locatário.

O fiador é responsável solidário juntamente com os demais fiadores.


*Cuidado: entre locatários e fiadores a responsabilidade é subsidiária, como regra.
A responsabilidade é subsidiária, e não “responsabilidade não solidária”. Estamos
estudando a obrigação solidária e a obrigação não solidária.
Obrigação não é o mesmo que responsabilidade.
• O oposto da obrigação solidária é a obrigação não solidária
• O oposto de responsabilidade solidária não é “responsabilidade não solidária”, mas
responsabilidade subsidiária
O descumprimento de uma obrigação solidária conduz à responsabilidade solidária? Sim, porque
a responsabilidade é um elemento da obrigação.
Mas o fiador é um exemplo de pessoa que não tem débito (schuld), e tem apenas
responsabilidade (haftung).
Fiadores não têm obrigação civil. Apenas os locatários têm obrigação civil. O locatário tem o
débito e a responsabilidade.
Nos contratos de locação, na praxe de mercado, é comum colocar o fiador como principal
devedor do contrato, para estabelecer a sua responsabilidade solidária com o locatário.
A princípio, segundo a lei, em primeiro lugar são cobrados os locatários, e em segundo lugar são
cobrados os fiadores, que são responsáveis subsidiários.
É preciso cobrar em primeiro lugar todos os locatários, e não somente alguns deles. Apenas
depois disso é possível cobrar os fiadores. Os fiadores têm benefício de ordem.
Isso não é bom para o credor, motivo pelo qual a prática de mercado é incluir os fiadores como
devedores solidários.
Quando o fiador assume responsabilidade solidária, ele continua a ser apenas fiador. Ele
continua a ter apenas responsabilidade, e não débito, mas ele tem responsabilidade sem
benefício de ordem.
5.2.1. Obrigação solidária ativa
Obrigação solidária ativa é aquela que ocorre entre credores.
Na obrigação solidária ativa, qualquer um dos credores pode cobrar sozinho a totalidade da
prestação.
Perda culposa da prestação e conversão em perdas e danos. Há uma questão que é muito
cobrada em concursos públicos: o que acontece se a coisa se perder (exemplo, o touro morreu
de fome, de forma culposa) e a obrigação se converter em perdas e danos?
Como estudamos, na obrigação não solidária indivisível, há uma mutação da obrigação, que
deixa de ser indivisível, passa a ser divisível, e o credor pode cobrar apenas a sua quota-parte.
Na obrigação solidária ativa, em caso de perda culposa da prestação e sua conversão em perdas
e danos, a obrigação solidária não terá sua natureza alterada. Ela era uma obrigação solidária e
continua a ser solidária.
Qualquer um dos credores ainda pode cobrar sozinho a totalidade da prestação.
Exemplo: A e B são credores solidários de C por um touro reprodutor. B pode cobrar a totalidade
da prestação de C. Após a celebração do contrato, antes da entrega do touro reprodutor, o touro
morreu de fome, por culpa do devedor. A prestação foi convertida em perdas e danos, no valor de
R$ 1 milhão. B continua podendo cobrar a totalidade da prestação de C, no valor de R$ 1 milhão.
Se B receber a prestação sozinho, ele tem o dever de indenizar o credor A. A tem direito de
regresso com relação a B. Essa indenização e esse direito de regresso existem tanto na
obrigação não solidária indivisível como na obrigação solidária ativa. Aquele que recebeu a mais
tem sempre o dever de indenizar proporcionalmente os demais credores. Ele deve repassar o que
excede a sua quota-parte.
Da mesma forma, quando há pluralidade de devedores, tanto na obrigação não solidária
indivisível quanto na obrigação solidária passiva, aquele que arcar sozinho com o pagamento da
prestação para o credor tem direito de regresso contra os demais.
Assim, o direito de indenizar, por parte dos devedores, e o direito de regresso, por parte dos
credores, independe de solidariedade.

5.2.2. Obrigação solidária passiva


Obrigação solidária passiva é aquela que ocorre entre devedores.
Na obrigação solidária passiva, qualquer um dos devedores pode ser cobrado sozinho da
totalidade da prestação.
“Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou
totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores
continuam obrigados solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor
contra um ou alguns dos devedores.”
Importa se a prestação é divisível ou indivisível?
Não. Isso vale tanto para a obrigação solidária ativa quanto passiva.
Exemplo: A é credor de B, C e D, que são devedores solidários pela dívida de R$ 90 mil. A ajuíza
ação contra D.
Quanto A pode cobrar? A totalidade do débito, de R$ 90 mil.
Prestações em quantia são sempre obrigações divisíveis.
Há uma pegadinha nessa matéria. Se houver uma alternativa de prova que afirma “Nas
obrigações solidárias, em qualquer hipótese, é irrelevante o fato de a prestação ser divisível ou
indivisível”, essa alternativa está certa ou errada?
Errada.
Essa regra é quase absoluta, tanto na solidariedade ativa quanto na solidariedade passiva. Mas
há uma exceção.
A irrelevância da divisibilidade ou indivisibilidade da prestação é a regra nas obrigações
solidárias, tanto ativas quanto passivas. A exceção ocorre em caso de morte. Pode ser tanto a
morte do credor solidário quanto a morte do devedor solidário.
Exemplo: A é credor de B, C e D, que são devedores solidários pela quantia de R$ 900 mil. D
morre e deixa como filhos D1 e D2. D1 e D2 podem ser cobrados pela dívida de R$ 900 mil?
Não. Eles só vão responder pela quota-parte dentro das forças da herança.
B e C continuam a ser solidários entre si, ao passo que D1 e D2 não são devedores solidários.
E se a prestação for indivisível?
Exemplo: a prestação é um touro reprodutor. Nesse caso, D1 e D2 podem ser cobrados da
totalidade da prestação, dentro das forças da herança.
Por que eles podem ser cobrados da totalidade se não são devedores solidários?
Porque a prestação é indivisível.
“Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será
obrigado a pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a
obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em
relação aos demais devedores.”
Se a prestação for indivisível, eles só podem ser cobrados de sua quota-parte dentro das forças
da herança.
O que ocorre se há solidariedade ativa?
A mesma coisa. Exemplo de solidariedade ativa e prestação divisível: B, C e D são credores
solidários de A pela quantia de R$ 900 mil. O credor D morre e deixa os filhos D1 e D2. O que D1
e D2 podem cobrar de A? A sua quota-parte, de R$ 300 mil.
Exemplo de solidariedade ativa e prestação indivisível: B, C e D são credores solidários de A por
um touro reprodutor. O credor D morre e deixa os filhos D1 e D2. O que D1 e D2 podem cobrar
de A? Podem cobrar o touro reprodutor, porque a prestação é indivisível.
“Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá
direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se
a obrigação for indivisível.”
Há autores que afirmam que nas obrigações solidárias nunca importa se a prestação é divisível
ou indivisível, porque se alguém morreu, a obrigação só deixou de ser solidária para seus
herdeiros (e não para as partes do negócio jurídico). Há certa lógica nisso.
Mas para fins de concursos públicos é melhor pensar que, em regra, a divisibilidade ou a
indivisibilidade da prestação é irrelevante nas obrigações solidárias. Como exceção, em caso de
morte de credor ou devedor solidário, é preciso observar se a prestação é divisível ou indivisível.

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