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DIREITO CIVIL II

ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO

◦ Que elementos compõem a relação jurídica obrigacional?


◦ Nas relações obrigacionais mais simplificadas, o sujeito passivo (devedor)
obriga-se a cumprir uma prestação patrimonial de dar , fazer ou não fazer
(objeto da obrigação), em benefício do sujeito ativo (credor).

◦ Existem relações jurídicas complexas, nas quais cada parte é,


simultaneamente, credora e devedora uma da outra.
◦ Ex.: contrato de compra e venda.
◦ 1. Elemento Subjetivo: Sujeitos da Relação Obrigacional

◦ O credor, sujeito ativo da relação obrigacional, é o titular do direito de


crédito, ou seja, é o detentor do poder de exigir , em caso de inadimplemento,
o cumprimento coercitivo (judicial) da prestação pactuada.

◦ O devedor é o sujeito passivo da relação jurídica obrigacional, é a parte a


quem incumbe o dever de efetuar a prestação.
◦ Para que se possa reconhecer a existência jurídica da obrigação, os sujeitos
da relação — credor e devedor —, que tanto podem ser pessoas físicas como
jurídicas, devem ser determinados, ou, ao menos, determináveis.

◦ Ex. de indeterminabili​dade subjetiva ativa da obrigação: um devedor assina


um cheque ao portador, não sabendo quem irá recebê-lo no banco; promessa
de recompensa feita ao público.

◦ Ex. de indeterminabilidade subjetiva passiva da relação obrigacional: a taxa


condominial ou a taxa condominial ou o Imposto Predial Territorial Urbano
◦ Sempre que a indeterminabilidade do credor ou do devedor participar do
destino natural dos direitos oriundos da relação, ou seja, for da própria
essência da obrigação examinada — a exemplo da decorrente de título
ao portador ou da obrigação propter rem, estaremos diante do que se
convencionou chamar de obrigação ambulatória.
◦ Se as qualidades de credor e devedor fundirem-se, operar-se-á a extinção
da obrigação por meio da confusão.

◦ Art. 381 do CC/2002. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma


pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor.
◦ Na relação obrigacional, podem concorrer figuras secundárias ou
coadjuvantes, como os representantes e os núncios.

◦ Representantes, legais (pais, tutores, curadores) ou voluntários (mandatários),


agem em nome e no interesse de qualquer dos sujeitos da relação obrigacional
(credor ou devedor). Manifestam, portanto, declaração de vontade por conta
do representado, vinculando-os, na forma da legislação em vigor.

◦ Núncios são meros transmissores da vontade do declarante. Atuam como


simples mensageiros da vontade de outrem, sem interferirem efetivamente na
relação jurídica.
◦ 2. Elemento Objetivo: a Prestação

◦ A obrigação possui dois tipos de objeto:

◦ a) objeto direto ou imediato;


◦ b) objeto indireto ou mediato.
◦ O objeto imediato da obrigação (e, por consequência, do direito de
crédito) é a própria atividade positiva (ação) ou negativa (omissão) do
devedor, satisfativa do interesse do credor. Tecnicamente, esta atividade
denomina-se prestação, que terá sempre conteúdo patrimonial.
◦ As prestações, que constituem o objeto direto da obrigação, poderão ser:
◦ A prestação para ser validamente considerada objeto direto da obrigação,
deverá ser: lícita, possível e determinada (ou determinável).

◦ O objeto indireto ou mediato da obrigação trata-se, no caso, do objeto


da própria prestação de dar, fazer ou não fazer, ou seja, do próprio bem
da vida posto em circulação jurídica. É a coisa, em si considerada, de
interesse do credor.
◦ A patrimonialidade é indispensável para a sua caracterização?
◦ Orlando Gomes:
◦ “a patrimonialidade da prestação, objetivamente considerada, é
imprescindível à sua caracterização, pois, do contrário, e segundo
Colagrosso, não seria possível atuar a coação jurídica, predisposta na lei,
para o caso de inadimplemento”
◦ Maria Helena Diniz:
◦ A prestação deverá “patrimonial, pois é imprescindível que seja
suscetível de estimação econômica, sob pena de não constituir uma
obrigação jurídica, uma vez que, se for despida de valor pecuniário,
inexiste possibilidade de avaliação dos danos”
◦ Não se pode reconhecer como válidas as relações obrigacionais que
tenham por objeto tais direitos personalíssimos (ex.: honra, imagem,
liberdade).

◦ Prestações há que não são economicamente mensuráveis, embora


constituam, inequivocamente, objeto de uma obrigação. Ex.: alguém se
obrigar , por meio de um contrato, a não ligar o seu aparelho de som,
para não prejudicar o seu vizinho.
◦ A prestação, no caso, não é marcada pela economicidade, e, nem por
isso, se nega a existência de uma relação obrigacional. A prestação, de
per si, não tem um conteúdo econômico, mas a disciplina, no caso do
inadimplemento, deverá tê-lo, seja na tutela específica, seja na even​tual
apuração das perdas e danos.
◦ Em geral, as prestações devem ser patrimonialmente apreciáveis,
embora, em algumas situações, esta característica possa não existir.

◦ Sílvio de Salvo Venosa:


◦ “Embora a maioria das obrigações possua conteúdo imediatamente
patrimonial, como comprar e vender, alugar, doar etc., há prestações em
que esse conteúdo não é facilmente perceptível ou mesmo não existe”
◦ 2.1 Características da prestação

◦ A prestação — objeto direto ou imediato da relação obrigacional —


compreende o conjunto de ações, comissivas (positivas) ou omissivas
(negativas), empreendidas pelo devedor para a satisfação do crédito.

◦ Assim, quando dá ao credor a quantia devida, ou realiza a obra


prometida, o devedor está cumprindo a sua prestação, ou, em outras
palavras, adimplindo a obrigação pactuada.
◦ A prestação poderá também ser negativa.

◦ Neste caso, o devedor obriga-se a não realizar determinada atividade,


sob pena de se tornar inadimplente. Dessa forma, a sua prestação
consiste em uma abstenção juridicamente relevante, um não fazer em
benefício do credor.
◦ Classificação das prestações, considerando o modo de atuação do
devedor:
◦ Antunes Varela:
◦ “tendo principalmente em vista as obrigações com prestação de coisas,
os autores costumam distinguir entre o objeto imediato e o objeto
mediato da obrigação. O primeiro consiste na atividade devida (na
entrega da coisa, na cedência dela, na sua restituição etc.); o segundo, na
própria coisa, em si mesma considerada, ou seja, no objeto da prestação”
◦ O objeto indireto ou mediato da obrigação é o próprio bem da vida posto
em circulação jurídica.

◦ Ex.: no caso da obrigação imposta ao mutuário (aquele que tomou um


empréstimo), o seu objeto direto ou imediato é a prestação (a sua
atividade de dar); ao passo que o objeto indireto ou mediato da
obrigação pactuada é o próprio bem da vida que se pretende obter , a
utilidade material que se vai transferir (o dinheiro).
◦ A prestação para ser validamente considerada objeto direto da obrigação,
deverá ser: lícita, possível e determinada (ou determinável).
◦ 2.1.1 Licitude

◦ A licitude da prestação implica o respeito aos limites impostos pelo direito e pela
moral. Ninguém defenderá, por exemplo, a validade de uma prestação que imponha
ao devedor cometer um crime (matar alguém, roubar...) ou realizar favores de ordem
sexual.

◦ Tais prestações, ilícitas, repugnariam a consciência jurídica e o padrão de moralidade


média observado e exigido pela sociedade.
◦ Diferença entre a prestação juridicamente impossível e a prestação
ilícita: a primeira é aquela simplesmente não admitida pela lei; a
segunda, por sua vez, além de não ser admitida, constitui ato punível.
◦ 2.1.2 Possibilidade

◦ A prestação, para que seja considerada viável, deverá ser física e juridicamente
possível.

◦ A prestação é considerada fisicamente impossível quando é irrealizável,


segundo as leis da natureza.
◦ Ex.: obrigar-se a pavimentar o solo da lua
◦ A impossibilidade jurídica é conceito que, quanto aos seus efeitos
práticos, confunde-se com a própria ilicitude da prestação.

◦ A prestação juridicamente impossível é vedada pelo ordenamento


jurídico, a exemplo da hipótese em que o devedor se obriga a alienar um
bem público de uso comum do povo, ou transferir a herança de pessoa
viva.
◦ Para se considerar inválida (nula) toda a obrigação, a prestação deverá
ser inteiramente irrealizável, por quem quer que seja.

◦ Se a impossibilidade for parcial, o credor poderá (a seu critério) aceitar o


cumprimento parcial da obrigação, inclusive por terceiro (se não for
personalís​sima), a expensas do devedor
◦ A impossibilidade, a depender do momento de sua ocorrência, poderá
ser:

◦ a) originária;
◦ b) superveniente.
◦ 2.1.3 Determinabilidade

◦ Toda prestação, para valer e ser realizável, deverá conter elementos mínimos
de identificação e individualização. Afinal, ninguém poderá obrigar-se a
“prestar alguma coisa...”.

◦ Por isso, diz-se que a prestação, além de lícita e possível, deverá ser
determinada, ou, ao menos, determinável.
◦ A prestação determinada é aquela já especificada, certa, individualizada.
Ex.: “obrigo-me a transferir a propriedade de uma casa, situada na Rua
Oliveiras, s/n, cuja área total é de 100 metros quadrados...”.

◦ Note-se que, neste caso, houve inteira descrição da prestação que se


pretende realizar . Cuida-se, portanto, consoante veremos adiante, de
obrigação de dar coisa certa.
◦ A prestação determinável é aquela ainda não especificada, mas que contém
elementos mínimos de individualização.

◦ É objeto das chamadas obrigações genéricas.

◦ Para que haja o seu cumprimento, no momento de realizá-la, o devedor ou o


credor deverá especificar o objeto da obrigação, convertendo-a em prestação
certa e determinada.
◦ Quando o sujeito se obriga a dar coisa incerta (obrigação genérica) — duas
sacas de café, por exemplo, sem especificar a qualidade (tipo A ou B) —, no
momento de cumprir a obrigação, o devedor ou o credor (a depender do
contrato ou da própria lei) deverá especificar a prestação, individualizando-a.

◦ Esta operação de certificação da coisa, por meio da qual se especifica a


prestação, convertendo a obrigação genérica em determinada, denomina-se
“concentração do débito” ou “concentração da prestação devida”
◦ A indeterminabilidade será sempre relativa, uma vez que, no momento
do pagamento, deverá cessar , sob pena de se frustrar a finalidade da
própria obrigação.
◦ 2.2 Principais Modalidades de Prestações

◦ a) prestações de fato (próprio ou de terceiro);


◦ b) prestações de coisa (atual e futura);
◦ c) prestações instantâneas e contínuas.
◦ Prestações de fato: consistem na atividade do próprio devedor, voltada
à satisfação do crédito.

◦ Tal modalidade de prestação poderá ser positiva, quando o devedor se


obriga a realizar uma ação comissiva (a execução de um serviço médico
ou de advocacia), ou negativa, quando o devedor se obriga a não atuar , a
abster-se de determinado comportamento (não construir acima de
determinada altura).
◦ Ex. de prestação de fato de terceiro: João, casado, obriga-se a vender
certo prédio a José, prometendo que a sua mulher dará o consentimento
necessário à validade da venda

◦ A prestação de fato de terceiro somente é possível se a obrigação não for


personalíssima (intuitu personae).
◦ Prestações de coisa: consistem na atividade de dar (transferindo-se a
propriedade da coisa), entregar (transferindo-se a posse ou a detenção da
coisa) ou restituir (quando o credor recupera a posse ou a detenção da
coisa entregue ao devedor).
◦ A distinção entre as prestações de fato e de coisa nem sempre é fácil de ser
realizada.

◦ Ex.: Na empreitada mista em que o empreiteiro obriga-se a empregar seus


materiais (prestação de dar) e a realizar a obra (prestação de fazer), as duas
formas de atividade do devedor encontram-se interpenetradas, não podendo o
intérprete reduzir a hipótese a apenas uma das categorias. Se a empreitada,
todavia, for unicamente de lavor , participando o empreiteiro apenas com a sua
atividade, estar-se-á diante de uma simples prestação de fato.
◦ As prestações poderão ser instantâneas e contínuas.

◦ As instantâneas são as que se realizam em um só ato, como a obrigação de


pagar determinado valor à vista.

◦ As contínuas realizam-se ao longo do tempo, a exemplo da obrigação de não


construir acima de determinada altura, ou em prestações periódicas, como no
pagamento parcelado ou a prazo.​

◦ Nada impede, outrossim, que a prestação instantânea tenha a sua exigibilidade


protraída para momento futuro, hipótese em que há prestação diferida.
◦ 3. Elemento Ideal: o Vínculo Jurídico entre Credor e Devedor

◦ Elemento espiritual ou abstrato da obrigação, consistente no vínculo jurídico que une


o credor ao devedor.

◦ A obrigação só poderá ser compreendida, em todos os seus aspectos, se a


considerarmos como uma verdadeira relação pessoal — originada de um fato jurídico
(fonte) —, por meio da qual fica o devedor obrigado (vinculado) a cumprir uma
prestação patrimonial de interesse do credor.
◦ O fato jurídico, fonte da obrigação, por sua vez, não deverá integrar este
elemento ideal, uma vez que, por imperativo de precedência lógica, é
anterior à relação jurídica obrigacional. Aliás, a obrigação é a própria
consequência jurídica do fato, com ele não se confundindo.

◦ Assim, o contrato de compra e venda, por exemplo, é o fato jurídico


determinante do vínculo obrigacional existente entre credor e devedor .
É, portanto, a causa genética da obrigação em si.

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