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Monitoria de Direito Civil II

Direito das Obrigações e Responsabilidade


Civil

PROF. DRA. FABIANA MARIA MARTINS GOMES DE CASTRO


MONITORA: JÚLIA SILVA LUCHESI
TELEFONE (16) 99327-4301, E-MAIL:JULIALUCHESI0@GMAIL.COM
OBRIGAÇÕES E RESPONSABILIDADE CIVIL
“O Direito das obrigações é o campo mais democrático do Direito Privado” Renan Lotufo
• Obrigações é um dever jurídico originário.
• Diz-se que é o campo mais democrático do direito privado devido a autonomia da vontade, que permite
às pessoas estabelecerem relações jurídicas das mais variadas formas possíveis, porém, não pode ferir o
ordenamento jurídico.
• A obrigação é um vínculo que se estabelece entre dois polos, sendo eles a obrigação e o dever /
possibilidade de exigir determinada conduta. Ademais, o objeto da obrigação é a prestação, de dar, fazer
ou não fazer algo.
“Responsabilidade vem do vocábulo respondere – é a obrigação de alguém de assumir as
consequências de sua atividade”
• A responsabilidade civil é um dever jurídico derivado, sucessivo, ou seja, necessita da preexistência de
uma obrigação.
• Toda obrigação, quando não cumprida, leva a um responsabilidade.
Conceito de Direito das Obrigações
Orlando Gomes o direito das obrigações “disciplina, precisamente, as relações travadas entre
pessoas para a satisfação de interesses” (2000, p. 02)
• As relações travadas entre pessoas são relações intersubjetivas.
• Aqui, para a satisfação de interesses o credor tem que ter a satisfação da prestação (credor tem
uma posição de superioridade) e o devedor tem que realizar a prestação.
Maria Helena Diniz o direito das obrigações “consiste num complexo de normas que regem as
relações jurídicas de ordem patrimonial, que tem por objeto prestações de um sujeito em
proveito de outro” (2010, p. 03)
❖ As prestações são as de dar, fazer ou não fazer algo.
❖ O direito obrigacional é dotado de patrimonialidade porque o que garante o adimplemento da
obrigação é o patrimônio do devedor.
RELAÇÃO JURÍDICA OBRIGACIONAL (RJO)

Pergunta-se: toda responsabilidade nasce de uma obrigação? SIM, visto que a responsabilidade é um dever
jurídico derivado, sucessivo e a obrigação é um dever jurídico originário.
Toda responsabilidade pressupõe uma obrigação, mas nem toda obrigação leva a uma responsabilidade
(visto que só surge a responsabilidade caso não seja realizada a obrigação).
Importância dos direitos obrigacionais na atualidade (DINIZ,
2010)
a) intervenção na vida econômica – não é possível a circulação da moeda sem o direito
obrigacional;
b) equilíbrio nas relações entre devedor e credor (credor está numa posição superior
pois, pode, no exercício de sua autonomia, perdoar, receber coisa diversa). O devedor
não tem essa mesma flexibilidade, mas existem forma de justificação da não realização
de um pagamento;
c) constitui a base não só do direito civil, mas de todo o direito;
d) Carlos Roberto Gonçalves (2006, p. 4) cita o pensamento de Louis Josserand “a
teoria das obrigações está na base, não somente do direito civil, mas de todo o direito,
não sendo de modo algum exagerado afirmar que o conceito obrigacional constitui a
armadura e o substractum do direito, e mesmo, de um modo mais geral, de todas as
ciências sociais”.
Natureza dos direitos creditórios
O direito das obrigações trata dos direitos pessoais, ou seja, do vínculo jurídico entre sujeito ativo (credor) e passivo
(devedor), em razão do qual o primeiro pode exigir do segundo uma prestação.
a) direito relativos uma vez que se dirigem contra pessoas determinadas, vinculando sujeito ativo (credor) e sujeito passivo
(devedor) e não são oponíveis erga omnes , pois a prestação apenas poderá ser exigida do devedor.
• Direito relativo significa dizer que vincula as pessoas de forma determinada.
• Oponível erga omnes significa dizer que a relação jurídica real pode se dirigir a qualquer pessoa que indistintamente detenha
a coisa. MAS, neste caso, só pode atingir as pessoas envolvidas, isto é, somente os dois polos.
b) direitos de uma prestação positiva (dar, fazer) ou negativa (não fazer).
c) patrimonialidade/pecuniaridade do objeto é ínsita em toda obrigação (conteúdo econômico ou ser suscetível de
avaliação econômica).
• Toda obrigação tem um valor econômico, visto que o que garante o adimplemento da obrigação é o patrimônio do devedor.
• Conteúdo econômico ser suscetível de avaliação econômica : perecimento do objeto sem culpa do devedor. As parte voltam
ao status quo ante, ou seja, ao estado em que se encontravam anteriormente. Já, no caso do perecimento com culpa do
devedor, dar-se-á o valor equivalente + perdas e danos.
Conceito de obrigação
Maria Helena Diniz apresenta o conceito de Washington de Barros “a obrigação é
a relação jurídica, de caráter transitório (não é perpétua), estabelecida entre
devedor e credor (relação de superioridade) e cujo objeto consiste numa
prestação pessoal econômica (pessoal pois só o devedor pode realizar), positiva
ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento
através de seu patrimônio”. (2010, p. 29)
- Infere-se: princípios da eticidade (relação de cooperação entre redor e
devedor, na qual cada um faz sua parte, coopera para que a prestação seja
realizada) e socialidade (função social, como nos contratos) / bem comum
(direitos da personalidade e dignidade da pessoa humana).
Conceito de obrigação
Orlando Gomes pondera (2000, p. 06):
- Dever jurídico: é a necessidade que corre a todo indivíduo de observar as ordens ou comandos do ordenamento
jurídico, sob pena de incorrer numa sanção.
- Sujeição: é a necessidade de suportar as consequências jurídicas do exercício regular de um direito potestativo.
• Direito potestativo é o direito que não admite contestação, não depende de outra pessoa.
• Na sujeição não há sanção.
- Ônus jurídico: é a necessidade de agir de certo modo para tutela de interesse próprio.
• Ônus significa encargo, ou seja, algo que a pessoa deve realizar para tutelar interesse próprio.
Podemos afirmar que dever jurídico, sujeição, ônus jurídico são sinônimos de obrigação?
RESPOSTA: Não, pois na sujeição não há o dever de prestar, não se pode exigir nada do outro. Já, no caso do ônus
jurídico não há o dever de prestar pois o encargo ou a vantagem não é exigido por lei e só se torna exigível se o onerado
aceitar através de sua manifestação de vontade.
Ademais, no caso do dever jurídico, também não pode ser considerado sinônimo de obrigação visto que toda obrigação é
um dever jurídico, mas nem todo dever jurídico (gênero) é uma obrigação (espécie).
Relação Jurídica Obrigacional
Elemento pessoal ou subjetivo (bipolaridade)
sujeitos individuados – determinados (direitos relativas – atingem pessoa determinas).
determinado ou indeterminação momentânea
Pode ocorrer a RJO com indeterminação momentânea de sujeitos? É possível , mas não é possível a
constituição de RJO com indeterminação dos sujeitos de forma absoluta.
Não se admite a indeterminação dos sujeitos de forma absoluta porque se trata de direitos relativos, ou
seja, que se dirige a pessoas determinadas.
Exemplos de indeterminação momentânea de sujeitos: promessa de recompensa, contrato com pessoa a
declarar, taxa de condomínio.
pessoa natural ou pessoa jurídica ou por entes despersonalizados (exemplo: condomínio):
a) sujeito ativo (credor)
b) sujeito passivo (devedor)
Elemento material (objetivo)
❖ objeto imediato ou direto – prestação (positiva ou negativa);
Prestação positiva (dar, fazer). Exemplos de prestações de dar: compra e venda, permuta, comodato (bens infungíveis), mútuo
(bens fungíveis) . Exemplos de prestações de fazer: prestações de serviço.
Prestação negativa (não fazer). Exemplo: não impedir a servidão de passagem.
❖ objeto mediato ou indireto – bem da vida (bem móvel, imóvel ou semovente, conduta, abstenção);
❖ prestação:
- patrimonialidade (suscetível de conversão econômica) – inadimplemento.
- colaboração devida (satisfação dos interesses do credor – credor e devedor devem fazer a sua parte).
- relatividade (direitos relativos – se dirigem a pessoas determinadas).
- autônoma (direito obrigacional – tutela específica).
- Licitude (art. 104 do CC).
- possibilidade (art. 104 do CC).
- determinabilidade (art. 104 do CC).
Elemento abstrato ou espiritual (vínculo jurídico)
O vínculo jurídico nasce de uma causa genérica, ou seja, fonte. As fontes do direito obrigacional
são: lei, negócio jurídico, abuso de direito e título de crédito.
❑liame ou vínculo entre o credor e devedor (ligação entre o credor e devedor).
❑ elementos do vínculo jurídico:
- dever de prestar (Schuld ou debitum) – dever jurídico principal de forma espontânea.
- responsabilidade (Haftung ou obligatio) – consequência em caso de descumprimento da
obrigação / cria a pretensão (direito de exigir de forma forçada a tutela genérica, que são as perdas
e danos, e a tutela específica, que é a entrega da coisa).
Elemento abstrato ou espiritual (vínculo jurídico)
- Teorias (monista / dualista / eclética) – (DINIZ, 2010, p. 36/39)

Monista: na obrigação uma só relação jurídica vincula credor e devedor, cujo objeto é a prestação. Essa teoria contempla apenas o dever de
prestar, pois a responsabilidade (obligatio) está inserida no dever de prestar e apenas se apresenta quando não há o cumprimento voluntário
da prestação. Ou seja, a sua essência é meramente processual.

Dualista/binária: relação obrigacional contém dois vínculos (debitum e obligatio) – relega ao plano secundário o debitum e ressalta a
importância da obligatio. Essa teoria traz a ideia de que o vínculo jurídico contém dois vínculos (o debitum e a obliglatio), todavia, ressalta
a importância da obligatio e esquece que o adimplemento é a regra e o inadimplemento a exceção, bem como as hipóteses em que há dever
de prestar sem responsabilidade e responsabilidade sem o dever de prestar. (TEORIA ADOTADA PELO DIREITO BRASILEIRO)

Eclética: debitum e obligatio são essenciais – dever primário e correlato direito de exigir. Aqui, aceita a ideia de 2 vínculos e enaltece esses
dois vínculos. Ou seja, para essa teoria, o mesmo fato gerador do debitum cria ou produz a responsabilidade e a responsabilidade do devedor
leva a sujeição e a responsabilidade do credor leva a garantia.
Obrigação X Responsabilidade
• Importante:
- debitum (schuld) – obrigação – dever jurídico originário
- obligatio – responsabilidade – dever jurídico sucessório /derivado
• Para Sérgio Cavalieri Filho “a obrigação é sempre um dever jurídico originário; responsabilidade
é um dever jurídico sucessivo (ou derivado), consequente à violação do primeiro” (2005, p.
24-25)
• Art. 389 do CC dispõe que “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos,
mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e
honorários de advogado”
CONSEQUÊNCIAS DO INADIMPLEMENTO: perdas e danos, juros, atualização monetária,
honorários advocatícios.
Princípio da responsabilidade patrimonial do devedor
❖ Art. 789 do CPC estabelece a responsabilidade patrimonial (bens presentes e
futuros, menos os impenhoráveis) do devedor “O devedor responde com todos
os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações,
salvo as restrições estabelecidas em lei”.
❖ Súmula Vinculante 25 do STF “É ilícita a prisão civil de depositário infiel,
qualquer que seja a modalidade de depósito” (DJe 23/12/2009)
O depósito é uma figura contratual em que o indivíduo fica responsável por
guardar algo para outra pessoa. No caso do depositário infiel, o indivíduo que
ficou responsável pela guarda de um bem que não lhe pertence e deixou que este
bem desaparecesse ou fosse roubado.
❖ Art. 833 do CPC apresenta o rol de bens impenhoráveis.
Fontes do Direito Obrigacional
o Carlos Roberto Gonçalves (2006, p. 30-36): lei (normas positivas do
ordenamento jurídico), vontade humana (contrato, declaração unilateral de
vontade, ato ilícito).
❖Maria Helena Diniz (2010, p. 41-45): lei, ato jurídico strictu senso
(comportamento voluntário e consciente que gera efeitos jurídicos
pré-determinados pela lei), negócio jurídico bilateral e unilateral, ato ilícito.
Flávio Tartuce (2014, p. 21-37): lei, contratos, atos ilícitos e abuso de direito,
atos unilaterais e títulos de crédito.
Distinção entre Direitos Reais e
Direitos Obrigacionais
O direito obrigacional consiste num vínculo jurídico pelo qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação.
Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação.
Já o direito real pode ser definido como o poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos. Seus
elementos essenciais são: o sujeito ativo, a coisa e o poder do sujeito ativo sobre a coisa, chamado de domínio.

O ordenamento jurídico brasileiro quanto à distinção entre direitos reais e obrigacionais adota a teoria realista, ou seja, ainda que ambos
sejam espécies de direitos patrimoniais não é possível unifica-los, pois há distinções principiológicas.
Categoria Jurídica Híbrida
Certas situações especiais podem exigir a reunião dos direitos obrigacionais aos direitos reais. É
oque ocorre com as obrigações propter rem, ônus reais e as obrigações de eficácia real; que são
figuras híbridas ou ambíguas, constituindo, na aparência, um misto de obrigação e direito real.
• A categoria híbrida traduz situação que não se encaixa nos direitos reais (porque tem prestação
vinculada a um direito real) e nem nos obrigacionais (pode ser abandonada, não é direito
relativo).
OBRIGAÇÃO PROPTER REM: Para Maria Helena Diniz (2010, p. 13) é a obrigação que
"recai sobre a pessoa por força de determinado direito real, permitindo sua liberação pelo
abandono da coisa.
Obrigação propter rem nasce com o direito real e com ele se extingue.
Obrigação propter rem (obrigatória, mista, reipersecutória ou simbiótica)
Situação jurídica – recai sobre a pessoa por força de um direito real (ius ad rem – direito por causa ou advindos
da coisa) .
Recai sobre a pessoa: pela incidência de ônus reais (como impostos, seguro obrigatório); pela necessidade de
conservação da coisa (condomínio, servidão de passagem, conservação de dívida).
❖ Natureza jurídica – caráter misto, tais como a prestação e coisa (tertim genius – terceiro gênero).
❖ Origem (nasce em razão de um direito real) / transmissibilidade (automática. Independe da vontade das partes) /
tipicidade / exoneração (pelo abandono liberatório ou renúncia liberatória do direito real).
❖ Indeterminação momentânea do sujeito (opera-se via indireta a substituição do titular passivo).
❖ Identificação: se para transmitir a prestação depende da vontade da pessoa é obrigação comum e não propter rem;
se for possível o abandono é obrigação propter rem e não obrigação comum.
❖ Prestação positiva (dar, fazer) e negativa (não fazer). Na obrigação propter rem o obrigado responde com seu
patrimônio.
❖ Caracteres: vinculação ao direito real; possibilidade de exoneração; transmissibilidade automática.
❖Exemplos de obrigação propter rem: Art. 1. 336 do CC, Art. 1.315, Art. 1.380 do CC, Art. 1.381 do CC, Art.
1.382, Art. 1383, Art. 1.280.
OBS.: fornecimento de água e luz NÃO constitui obrigação propter rem, porque tem um SA, SP, prestação
positiva, vínculo jurídico e sinalagma (reciprocidade).
Modalidades de Obrigações no Código Civil:
Obrigação Plural
Obrigação subjetivamente plural: é uma obrigação composta, que tem uma complexidade
subjetiva, ou seja, é formada por uma pluralidade de sujeitos, seja no polo passivo, seja no polo
ativo ou em ambos os polos.
A) obrigações fracionárias / divisíveis - REGRA;
B) obrigações indivisíveis - EXCEÇÃO;
C ) obrigações solidárias - EXCEÇÃO.
Obrigação Subjetivamente Plural
A) Obrigações Fracionárias / Divisíveis – art. 257 do CC
Para Álvaro Villaça a obrigação é divisível “quando o objeto de prestação (coisa ou fato), devido pelo devedor ao credor é
suscetível de cumprir-se, fracionadamente.”
É aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância e de seu valor.
O objeto da prestação é divisível (dar/fazer).
Não pode haver impedimento de ordem física, legal, convencional ou econômica para seu fracionamento.
Presunção legal (art. 257 do C.C.): se houver multiplicidade de devedores ou de credores em obrigação divisível, haverá
presunção legal, juris tantum (relativa), de que a obrigação está dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos
forem os credores ou devedores.
Art.257: “Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas
obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”
Obs.: dessa presunção decorre o princípio do “concursu partes fiunt”, em que as partes se satisfazem pelo concurso, pela
fração, divisão. Ou seja, havendo concurso de mais participantes numa mesma obrigação, nenhum credor poderá pedir senão
a sua parte, nenhum devedor está obrigado senão pela sua parte material, ou intelectual, conforme o caso.
Ex. Três devedores da obrigação divisível de entregar 120 sacas de café para um único credor, aplicando-se a presunção
relativa de divisão igualitária, cada devedor deverá entregar 40 sacas.
Ex.2: 1 devedor e 2 credores, e ficou estabelecido que o devedor deveria entregar R$ 50.000,00. Se o devedor pagar a
integralidade a apenas 1 dos credores, ele não se exonera, porque ele pagou errado, deveria ter entregue metade para um
credor e metade para o outro.
Consequências da pluralidade de sujeitos nas
obrigações divisíveis:
a) direito de exigir a fração no crédito (credor) – cada credor só pode exigir a sua quota parte;
b) dever de pagar a quota parte (devedor) – cada devedor só tem a obrigação de pagar a sua quota
parte;
c) solver integralmente não implica em desoneração – pagou errado;
d) constituir em mora o credor que se recusar a receber – pluralidade de credores e um deles se
recusa a receber a prestação. Estaremos diante da mora do credor;
e) insolvência de um dos devedores – caso um dos devedores se torne insolvente, não prejudicará
os demais.
Obs. A obrigação divisível está presente nas obrigações de dar, obrigações pecuniárias, obrigação
genérica (obrigação de dar coisa incerta) e na obrigação de fazer de natureza fungível.
Obrigação Subjetivamente Plural
B) Obrigações Indivisíveis– art. 258 a 263 do CC
É aquela cuja prestação, tendo por objeto coisa ou fato não suscetível de divisão, só pode ser
cumprida por inteiro por sua natureza, por motivo de ordem econômica ou dada a razão
determinante do negócio jurídico, não comportam sua cisão em várias obrigações parceladas
distintas, pois, uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma
utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral.
Ex. (indivisibilidade pela natureza): entrega de um animal.
Ex.2 (indivisibilidade por motivo de ordem econômica): dar uma pedra preciosa.
Ex.3 (indivisibilidade em razão de negócio jurídico): reforma de um prédio por vários
empreiteiros, em que o dono da obra convenciona sua exigência por inteiro de qualquer deles.
O Art. 258 estabelece que “A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma
coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica,
ou dada a razão determinante do negócio jurídico”.
Obrigação indivisível e pluralidade de devedores
(art. 259 do CC)
Se houver vários devedores, sendo a obrigação indivisível, cada um deles será obrigado pelo
débito todo, nenhum deles poderá solvê-la por parte.
O devedor que pagar a dívida sub-rogar-se-á no direito do credor em relação aos demais
coobrigados, podendo cobrar de cada um deles as quota-partes correspondentes e as garantias
reais ou fidejussórias relativas à obrigação principal.
Obs.: esta sub-rogação é legal ou automática.
Ex.: se A, B e C se obrigam a entregar a D uma escultura avaliada em R$ 18.000,00, tal entrega
deverá ser feita por qualquer deles, podendo o credor reclamá-la tanto de um quanto de outro. Se
por exemplo, A adimplir a obrigação, sub-roga-se nos direitos de D, podendo cobrar de B e C as
quota-partes que lhe cabem (B e C devem entregar a A o valor de R$ 6.000,000).
Multiplicidade de credores e indivisibilidade da
prestação (art. 260 do CC)
Se tiver obrigação indivisível com pluralidade de credores, cada um deles poderá exigir, judicial ou
extrajudicialmente, o débito inteiro, mas o devedor só se desobrigará pagando:
o A todos conjuntamente; ou
o A um deles, dando este, caução de ratificação dos outros credores. Não havendo essa garantia, o devedor deverá,
após constituídos, os credores, em mora, promover o depósito judicial da coisa devida.
Obs.: em relação a exigência de que o pagamento deve ser feito a todos os credores ou a um deles, se este der
caução, outra não poderia ser a solução legal, porque a obrigação indivisível não é solidária; logo, o pagamento
feito a um credor não exonera o devedor da obrigação perante os demais.
Ex.: se A é devedor de uma obrigação indivisível e tem que entregar uma vaca avaliada no valor de R$ 15.000,00
aos B, C e D; para solver a dívida, ou A paga a B, C e D, conjuntamente, ou paga, por exemplo, somente a C, se este
der caução de ratificação dos outros credores (relação externa – indivisível).
Na relação interna, o credor C passa a ser o devedor e tem que pagar aos credores B e D a quota parte deles, que
seria de R$ 5.000,00 para cada um.
•Direito dos cocredores receber a parte cabível (art. 261 do C.C.): cada cocredor, sendo indivisível a obrigação,
terá direito de exigir em dinheiro daquele que receber a prestação por inteiro, a parte que lhe caiba no total.
Remissão da dívida por um dos credores
(art. 262 do CC)
Remissão é o perdão. Quando se dá a remissão tem-se a liberação graciosa do devedor pelo credor.
Na remissão, o credor voluntariamente abre mão de seus direitos creditórios, com o objetivo de extinguir a relação
jurídica obrigacional, mas é importante que o devedor dê o seu consentimento, que pode ser feito de forma expressa
ou tácita. E, por se tratar de um negócio jurídico personalíssimo, esse consentimento dado pela pessoa do devedor
não pode prejudicar terceiros.
A remissão do débito por parte de um dos credores não atingirá o direito dos demais, pois a dívida não se
extinguirá em relação aos outros; apenas o vínculo obrigacional sofrerá uma diminuição em sua extensão, uma vez
que se desconta em dinheiro a quota parte do remitente.
Ex.: se A deve entregar uma joia de R$ 90.000,00 a B, C e D, tendo B remetido o débito, C e D exigirão a joia, mas
deverão indenizar A, em dinheiro (R$ 30.000,00), da parte que B o perdoou.
Devedor, no caso, teve o direito de exigir a torna, o troco, ou seja, quando ele realizou a prestação o credor
descontou a quota parte do credor remitente.
Obs.: de acordo com o parágrafo único do art. 262 do C.C. a transação, a novação, a compensação e confusão em
relação ao um dos credores não operam a extinção do débito para com os outros cocredores, que só a poderão
exigir descontada a quota parte daquele.
Perda da qualidade da indivisibilidade
(art. 263 do CC)
Art.263: “Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.
§ 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por
partes iguais.
§ 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos”.
a) conversão da obrigação indivisível em perdas e danos (equivalente + perdas e danos);
b) analisar a culpa de todos (se a culpa for de todos – todos respondem pelo equivalente + perdas e
danos);
c) analisar a culpa de um dos devedores (se a culpa for de um – todos respondem pelo equivalente, mas
somente o culpado responde pelo equivalente + perdas e danos).
Enunciado 540 da VI JDC “Havendo perecimento do objeto da prestação indivisível por culpa de
apenas um dos devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado,
pelas perdas e danos”
Obrigação Subjetivamente Plural
Obrigação solidária – art. 264 ao art. 285 do CC
De acordo o art. 264 do C.C., obrigação solidária é aquela em que, havendo multiplicidade de credores e/ou
devedores, cada credor terá direito à totalidade da prestação, como se fosse o único credor, ou cada devedor estará
obrigado pelo débito todo, como se fosse o único devedor.
O pagamento do débito a um dos credores exonera o devedor da cobrança dos demais. Se um dos devedores pagar
a dívida ao credor, ter-se -á a quitação dos outros.
Obs.: o credor, que vir a receber, deverá entregar a parte cabível aos cocredores, e o devedor, que solver o débito,
deverá exigir dos outros as suas partes. Há, portanto, uma unidade da prestação e pluralidade de sujeitos.
- Compatível com qualquer gênero de obrigação. (Exceção: obrigação solidária não é compatível com a
obrigação simples, pois ela é formada por singularidade de sujeitos e uma única prestação);
- Solidariedade em sua condição de norma-princípio – princípio constitucional da solidariedade – dignidade da
pessoa humana – lealdade e boa-fé
- Solidariedade em sua condição de norma-regra (regra específica direcionada a RJO quando estiverem
presentes SA, SP, objeto, vínculo jurídico, transitoriedade, relatividade e sinalagma)
Em síntese, no âmbito do Direito Obrigacional, a solidariedade é uma norma-regra.
A obrigação solidária não se presume, decorre da Lei ou da vontade das partes, ou mesmo por convenção
contratual.
Espécies de Obrigação Solidária
A) Solidariedade ativa (multiplicidade de credores);
B) Solidariedade passiva (multiplicidade de devedores);
C) Solidariedade mista ou recíproca (multiplicidade de credores e devedores).

•Via de regra, a solidariedade legal é 99% na modalidade de solidariedade passiva.


•Solidariedade ativa, normalmente, se dá na forma contratual.
Princípios da Obrigação Solidária
1) Princípio da não presunção da solidariedade – art. 265 do CC (tese da excepcionalidade – tutela do
devedor: o que garante o adimplemento da obrigação é o patrimônio do devedor) – mesma causa ou
fundamento jurídico
Art.265: “A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes”.
Nosso Direito não admite a solidariedade presumida, ela só resulta da lei ou da vontade das partes.
2) Princípio da variabilidade do modo de ser - art. 266 do CC - (rol exemplificativo)
Art.266: “A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro”.
Estipular uma obrigação como condicional, ou a prazo, para um dos cocredores ou codevedores, e pura e
simples para outro, ou, ainda pagável em local diverso para outro, desde que estabelecido no título
originário, não é incompatível natureza jurídica da obrigação solidária.
Obs.: de acordo com o enunciado n.347 do C.J.F., o rol do art. 266 do C.C., não é taxativo, é
exemplificativo, ou seja, a solidariedade admite outras disposições de conteúdo particular além do rol
previsto no art. 266, como por exemplo, a questão da cláusula penal, incidência de mora e garantia.
Regras atinentes à solidariedade ativa
art. 267 ao art. 274 do CC
Solidariedade ativa é a relação jurídica entre vários credores de uma obrigação, em que cada credor tem o direito de exigir do
devedor a realização da prestação por inteiro, e o devedor se exonera do vínculo obrigacional pagando o débito a qualquer um
dos cocredores.
Art.267: “Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro”
Prevenção judicial (art. 268 do C.C.): enquanto qualquer um dos credores solidários não demandarem o devedor, a qualquer
deles poderá este pagar, sem que o credor escolhido possa recusar-se a receber o pagamento da prestação.
Porém, como qualquer credor solidário pode acionar o devedor pela totalidade do débito, uma vez iniciada a demanda
ter-se-á a prevenção judicial: o devedor, então, apenas se liberará pagando a dívida por inteiro ao credor que o acionou, não
lhe sendo mais lícito escolher o credor solidário para realização da prestação.
Art.268: “Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este
pagar”.
Ex.: Justiniano, Papiniano e Ulpiano são credores de Gaio (devedor). Gaio deve entregar o montante de R$ 9.000,00. Até que
haja o ajuizamento de qualquer ação judicial, Gaio pode pagar a quantia para qualquer um dos credores.
Supõe-se que Justiniano ajuizou ação cobrando Gaio (prevenção judicial), então Gaio deverá pagar a Justiniano.
A partir do momento em que houver a prevenção judicial somente aquele que postulou em juízo poderá receber o
pagamento.
Efeito do pagamento feito a um dos credores solidários
(art. 269 do CC)
Art.269: “O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi
pago”. Traz a regra de que qualquer um dos credores pode receber o pagamento, não só na sua
integralidade, mas de forma parcial.
O pagamento feito a um dos credores solidários, pelo devedor ou por terceiro, extinguirá inteiramente o
débito, se for suficiente para tanto, ou até o montante que foi pago.
Obs.: o pagamento direto ou indireto produzirá o efeito de liberação total ou parcial da dívida, pois se o
credor tem o direito de liberar o devedor ao receber-lhe o pagamento, passando a devida quitação, tê-lo-á
da mesma forma, no entendimento de Maria Helena Diniz quando perdoar, inovar ou compensar o débito.
Obs.2: se o devedor pagou apenas uma parcela do débito a um dos cocredores, a solidariedade
permanecerá e qualquer um dos credores poderá exigir dele o restante da dívida, deduzindo a parcela já
paga.
Ex.: Justiniano, Papiniano e Ulpiano são credores de Gaio (devedor), no valor de R$ 9.000,00. Gaio
entrega o montante de R$ 3.000,00 para Justiniano, entrega R$ 2.000,00 para Papiniano e entrega R$
4.000,00 para Ulpiano. Ulpiano terá o direito de reter R$ 3.000,00 e terá que pagar R$ 1.000,00 para
Papiniano.
Refração do crédito – falecimento de um dos credores solidários
(art. 270 do C.C)
Art.270: “Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a
exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível”.
Os herdeiros do credor falecido só poderão reclamar o respectivo quinhão hereditário, ou seja, a parte no
crédito solidário cabível ao de cujus, e não a totalidade do crédito.
Quando houver o falecimento de um dos credores solidários ter-se-á a refração no crédito: há um
resfriamento na RJO solidária, porque o falecimento de um dos credores dá a cada um dos herdeiros o
direito de exigir somente a sua quota parte.
Ex.: A, B e C são credores solidários de D, que lhes deve R$ 60.000,00. Com o óbito de A, seus herdeiros
A1 e A2 apenas poderão reclamar da cota do crédito do de cujus (R$ 20.000,00) a metade relativa ao
quinhão hereditário de cada um (R$ 10.000,00).
Obs. Morte de um dos cocredores e objeto indivisível (objeto deve ser entregue na sua integralidade
a um dos credores)
A (devedor) tem que entregar um touro reprodutor a B, C e D (credores). Porém, D morre, deixando dois
herdeiros D1 e D2. Qualquer dos herdeiros (D1 e D2) estão autorizados a receber a integralidade da
prestação e não a sua quota parte, pois se trata de objeto indivisível.
Conversão da prestação em perdas e danos
(art. 271 do CC)
Convertida a prestação em perdas e danos, em razão de inadimplemento da
obrigação, não alterará a solidariedade que subsistirá para todos os efeitos até
mesmo no que concerne aos juros e às demais obrigações acessórias que,
porventura, houver.
Art.271: “Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os
efeitos, a solidariedade”.
Ocorre a manutenção da solidariedade ativa mesmo quando houver perdas e
danos.
Remissão – art. 272 do CC – princípio da continuidade
dos interesses
Art.272: “O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros
pela parte que lhes caiba”.
A solidariedade ativa acarreta consequências jurídicas nas relações internas, isto é, entre credores
solidários, já que o credor que tiver perdoado a dívida ou recebido o pagamento responderá aos
outros pela parte que lhes caiba.
Extinta a obrigação por pagamento, novação, remissão, compensação ou transação, o cocredor
favorecido será responsável pelas quotas-partes dos demais, que terão, por sua vez, direito de
regresso, isto é, de exigir do credor que recebeu a prestação a entrega do que lhes competir.
Ex.: se A, B e C forem credores solidários de D (devedor) da quantia de R$ 600.000,00, sendo
que B vem a perdoá-lo da dívida. A e C poderão, então, exigir de B, que concedeu a D a remissão
total dos débitos, as quotas que fariam jus. Assim, B deverá pagar a A R$ 200.000,00 e a C R$
200.000,00. A ação regressiva visa, portanto, garantir aos demais credores a percepção de suas
quotas.
Oposição de exceções pessoais (art. 273 do C.C.)
Art.273: “A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos
outros”.
•Exceção comum a todos (aproveitam a todos): o devedor poderá opor exceções comum a todos (ex.: nulidade
negocial; extinção da obrigação; impossibilidade prestação; prescrição etc.) visto que poderá ser alegada a
qualquer dos credores solidários.
Em síntese, a exceção comum pode ser alegada por qualquer um e se estende a todos que estão presentes na
RJO.
•Exceções ou defesas pessoais (aproveita somente a quem alega): o devedor não poderá alegar contra um
dos credores solidários exceções ou defesas pessoais (incapacidade, vício de consentimento etc.) que sejam
oponíveis aos demais. Pois ante o fato de a exceção pessoal ser suscetível de ser contraposta somente a um
dos credores solidários, visto ser alusiva apenas àquele credor solidário. A defesa apresentada contra um
credor, que agiu, por exemplo, com dolo, não poderá prejudicar os outros, nem alterar o vínculo devedor
com os demais credores solidários, visto ser alusiva apenas àquele credor solidário.
Ex.: se A (cocredor) usar de artifícios maliciosos na celebração do contrato, enganando D (devedor),
estando B e C (cocredores) de boa-fé, a alegação daquele dolo pelo devedor (D) não poderá ser oposta
contra eles (B e C). Logo, tal alegação não prejudicará aqueles cocredores (B e C) de boa-fé, alheios ao dolo
de A (cocredor).
Em síntese, a exceção pessoal não aproveita aos demais credores, somente àquele credor.
Efeitos do julgamento em caso de solidariedade ativa
(art. 274 do CC)
Art.274: “O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento
favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a
qualquer deles”.
•Decisão contrária: havendo decisão contrária a um dos credores solidários, qualquer que seja o motivo
(acolhimento exceção pessoal ou comum), esta não irá atingir os demais.
Em síntese, decisão desfavorável na exceção pessoal – direcionado somente àquele cocredor em específico.
•Decisão favorável: agora, sendo aquele julgamento favorável, proposta a ação por um dos cocredores ou pelo
devedor comum, aproveitará a todos, os cocredores, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha
direito de invocar, em relação a qualquer cocredor.
Logo, se o devedor comum somente opôs ao credor solidário, réu (vencedor da demanda e único beneficiário) a
exceção que lhe era pessoal, nada obsta a que, em momento oportuno, venha a opor, em relação aos demais
credores não participantes da demanda, as respectivas exceções pessoais, pois, em relação àqueles que atuou na
demanda, o devedor nada mais poderá opor.
Em síntese, se a decisão for favorável na exceção pessoal – estende-se a todos.
Regras atinentes à solidariedade passiva
art. 275 ao art. 285 do CC
Solidariedade passiva é a relação obrigacional, decorrente de lei ou da vontade das partes, com
multiplicidade de devedores, sendo que cada um responderá pelo cumprimento da prestação como se
fosse o único devedor.
Art.275: “O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou
totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam
obrigados solidariamente pelo resto.
Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um
ou alguns dos devedores”.
Renúncia é um ato abdicativo, ou seja, é um ato unilateral (com apenas a pessoa que renuncia), não
afastando, portanto, a solidariedade.
Se o credor renunciar a solidariedade em favor de qualquer um dos codevedores não significa que houve
a extinção da solidariedade. A solidariedade subsiste.
Eventual propositura de ação contra um dos codevedores não significa que houve renúncia a
solidariedade (art. 130 do CPC).
Continuação da solidariedade passiva
Direitos do credor: na obrigação solidária o credor tem o direito de:
•Escolher o codevedor que desejar para pagar o débito. O que não impede, de cobrar os demais, se o
primeiro não saldar a dívida.
•Exigir total ou parcialmente a dívida, embora ao devedor não seja lícito realizar a prestação em parte, se
assim não foi convencionado.
Obs.: se for cobrada de um dos codevedores, parte da prestação, não se extinguirá a solidariedade, uma
vez que os demais devedores continuarão solidariamente obrigados pelo restante do débito.
-Enunciado 348 da IV JDC “O pagamento parcial não implica, por si só, renúncia à solidariedade, a qual
deve derivar dos termos expressos da quitação ou, inequivocamente, das circunstâncias do recebimento
da prestação pelo credor.”
•Acionar qualquer devedor solidário: o credor pode acionar qualquer dos devedores solidários à sua
escolha, sem que com isso fique impedido de acionar os outros. Se o credor escolher um codevedor para
solver o débito, e este não efetuar o pagamento, poderá agir contra os demais, conjunta ou
individualmente.
Morte de um dos devedores solidários (art. 276)
Art.276: “Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a
pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível;
mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores”.
No caso de morte um dos devedores solidários, a solidariedade continua para os demais codevedores e os
herdeiros do falecido responderão pelos débitos desde que não ultrapassem a força da herança.
Com o falecimento do devedor solidário, dividir-se-á a dívida, se divisível, apenas em relação a cada um
dos herdeiros, pois cada qual responderá só pela quota respectiva, correspondente ao seu quinhão
hereditário, salvo se a obrigação for indivisível, hipótese em que, se o credor demandar, os herdeiros
serão considerados, por ficção legal, como um só devedor solidário relativamente aos outros codevedores
solidários.
Ex.: A, B e C são devedores solidários de R$ 60.000,00 de D. C morre, deixando como herdeiros C1 e
C2, sendo que cada um deles só será obrigado a pagar a D a quantia de R$ 10,000,00 (metade da quota de
C). Mas se a dívida for de entregar uma casa, o credor poderá, ante sua individualização, exigir a
prestação por inteiro, mas a responsabilidade dos herdeiros unidos não poderá ser superior à herança
recebida.
Efeito do pagamento parcial realizado por devedor
solidário (art. 277)
Art.277: “O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele
obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia
paga ou relevada”.
Se um dos devedores solidários efetuar o pagamento parcial, este e os demais
continuam solidariamente responsáveis pelo restante.
Ex.: A é credor dos devedores solidários B, C e D, da quantia de R$ 30.000,00;
tendo recebido apenas de B a quantia de R$ 10.000,00, poderá cobrar dos
codevedores os outros R$ 20.000,00.
Remissão da dívida obtida por um dos devedores
solidários (art. 277)
O perdão dado pelo credor a um dos devedores solidários não tem o poder de
apagar a solidariedade dos demais codevedores, que permaneceram solidários,
tendo-se apenas a redução da dívida proporcionalmente à concorrência da
importância relevada.
Ex.: W é credor dos devedores solidários X, Y e Z, da quantia de R$ 30.000,00;
se X tem sua dívida perdoada por W; Y e Z continuam sendo codevedores
solidários, mas agora da quantia de R$ 20.000,00 (pois foi descontada a parte
proporcional relativa ao débito de X).
Porém, se W der a remissão total a X, ele será perdoado na integralidade e se
estenderá aos demais.
Estipulação de condição ou de obrigação adicional
(art. 278)
Art.278: “Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre
um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros
sem consentimento destes”.
Princípio da relatividade dos efeitos contratuais, ou seja, se for para
beneficiar, não necessita de anuência dos demais; mas, se for para agravar,
necessita de anuência dos demais.
Cláusula, condição ou obrigação adicional avençada entre credor e um dos
devedores solidários, não poderá agravar a posição dos demais, sem anuência
destes. Como esses atos alteram a relação obrigacional, prejudicando os
codevedores, apenas poderão obrigar aquele que os estipulou sem anuência dos
demais.
Impossibilidade de prestação por culpa de um dos
codevedores solidários (art. 279)
Art.279: “Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores
solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas
e danos só responde o culpado”.
Se por culpa de um dos devedores solidários, a prestação tornar-se inexequível, a
solidariedade não se extinguirá, visto que o credor poderá reclamar de qualquer
dos devedores, ou de todos conjuntamente, o equivalente em dinheiro, embora só
possa exigir do culpado as perdas e danos que sofreu com a impossibilidade da
prestação.
Ex.: A, B e C, são devedores solidários de D, a quem deverão entregar um
automóvel, que por imprudência de A é destruído em uma colisão. Os três
devedores continuam solidários no pagamento do equivalente àquele carro, mas
somente A deverá pagar pelas perdas e danos sofridos por D.
Responsabilidade pelos juros moratórios (art. 280)
Art.280: “Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido
proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida”.
Como os juros de mora constituem acessório da obrigação principal, todos os codevedores
deverão responder por eles, mesmo que a ação tenha sido movida somente contra um, em razão
do atraso no pagamento. Mas se a mora ocorreu por culpa de um dos codevedores, esse
responderá pelo aumento da dívida perante os demais.
Mora - significa que houve um atraso; há um inadimplemento, mas a prestação ainda é útil para o
credor.
Na obrigação solidária passiva, como o pagamento pode ser feito por qualquer um dos
codevedores, então todos respondem pelos juros moratórios.
Oposição de exceções (defesas), art. 281 do CC
Art.281: “O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as
comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro codevedor”.
O devedor solidário que for demandado poderá opor ao credor exceções pessoais e as comuns a
todos, não lhe aproveitando, porém, as pessoais a outro codevedor.
•Pessoais: as exceções pessoais peculiares a cada codevedor só poderão ser deduzidas pelo
próprio interessado.
Ex.: vício de consentimento, crédito de um dos devedores contra o credor, confusão,
incapacidade jurídica etc.
•Comuns: as exceções comuns ou objetivas aproveitam a todos os codevedores.
Ex.: relativas à licitude do objeto, à impossibilidade física ou jurídica da prestação, à exceção
do contrato não cumprido pelo credor, ao pagamento do débito, à extinção ou nulidade da
obrigação etc.
Renúncia da solidariedade (parcial ou total) (art. 282)
Art.282: “O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de
todos os devedores.
Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá
a dos demais”.
O credor poderá renunciar à solidariedade em favor de um ou de todos os devedores.
Obs.: a renúncia não requer forma especial, devendo seguir a adotada para a
constituição da obrigação solidária. Se a solidariedade for legal, a renúncia poderá ser
verbal, escrita ou até mesmo tácita.
Enunciado 351 da IV JDC “A renúncia à solidariedade em favor de determinado
devedor afasta a hipótese de seu chamamento ao processo.”
A renúncia pode ser parcial ou total:
Parcial: com a renúncia à solidariedade quanto a apenas um dos devedores solidários, o credor só poderá
cobrar do beneficiado a sua quota parte da dívida; permanecendo a solidariedade quanto aos demais
devedores, abatida do débito a parte correspondente aos beneficiados da renúncia (enunciado 349 do
C.J.F).
Ex.: A, B e C são devedores de D pela quantia de R$ 30.000,00. D renuncia a solidariedade em favor de
A; logo B e C responderão solidariamente por R$ 20.000,00, pois é abatido a quota de A (R$ 10.000,00)
do valor total da dívida (R$ 30.000,00). Assim, os R$ 10.000,00 restantes só poderão ser reclamados de
A.
Obs.: na renúncia parcial a exoneração não é da dívida e sim da solidariedade, logo o devedor
beneficiado continua sendo devedor, mas agora de uma obrigação simples.
Na renúncia o devedor fica obrigado somente a sua quota parte. Caso haja algum devedor insolvente,
aquele que foi exonerado também contribui.
Total: se a renúncia for total ou absoluta a obrigação solidária passiva é extinta; passando cada devedor a
responder tão somente pela sua quota parte.
Direito de regresso (art. 283)
Art.283: “O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos
co-devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver,
presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os codevedores”.
O codevedor que saldou a dívida por inteiro terá o direito de reclamar, mediante ação regressiva,
de cada um dos coobrigados a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a parte do insolvente,
se houver.
Obs.: devedor insolvente é aquele com patrimônio insuficiente para saldar suas dívidas.
Presunção juris tantum (relativa) da igualdade das partes dos codevedores (art. 283): nas
dívidas solidárias, presume-se que as partes de todos os codevedores são iguais.
Rateio da parte do insolvente (art. 284)
Art.284: “No caso de rateio entre os codevedores, contribuirão também os exonerados (renúncia)
da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente”.
Havendo codevedor insolvente na obrigação solidária passiva, sua parte deverá ser paga pelos
demais codevedores, incluindo-se no rateio os exonerados da solidariedade pelo credor. Assim, é
direito dos codevedores repartir entre todos, a quota do insolvente, incluído o devedor liberado
pela renúncia do credor à solidariedade.
Obs.: o devedor desonerado tem responsabilidade, visto que o credor o exonerou da solidariedade
e não do pagamento do débito.
Obs.2: de acordo com o enunciado 350 do C.J.F., a renúncia a solidariedade diferencia-se da
remissão, em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que
tange ao rateio da quota do eventual codevedor insolvente
Exemplificando
Contrato estabelecido entres os devedores e o credor, para que entregassem o valor de R$
160.00,00.

SP
SP
Justiniano – renúncia (paga R$
Paulo – tem que
40.000,00; sua quota parte)
SA pagar a
Ulpiano – remissão (R$ SA
Gaio Papiniano R$
40.000,00; libera-se do vínculo) Papiniano
40.000,00.
Papiniano paga os R$
Porém, Paulo é
80.000,00
insolvente
Paulo – insolvente

Como Paulo é insolvente, a quota parte dele (R$ 40.000,00) será dividida entre Justiniano e Papiniano.
Então, Justiniano pagará R$ 20.000, 000 a Papiniano. Papiniano ficará desfalcado em R$ 20.000,00.
Obs. Ulpiano, como foi perdoado, fica liberado no que tange ao rateio do devedor insolvente.
Impossibilidade de direito de regresso (art. 285)
Art.285: “Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda
ela para com aquele que pagar”.
O codevedor a quem a dívida solidária interessar exclusivamente responderá sozinho por toda ela para
com aquele que a solveu.
Ex.: no caso de fiança, o credor poderá acionar qualquer dos fiadores; mas, uma vez paga o débito, o
solvens terá o direito de reembolsar-se integralmente do afiançado.
O fiador responde de forma SUBSIDIÁRIA, porque ele tem o direito a não renunciar o benefício de
ordem (Benefício de ordem é um dos direitos previstos nos efeitos da fiança em que o fiador
demandado pelo pagamento da dívida, até a contestação da lide, pode exigir que sejam primeiro
excutidos os bens do devedor).
Se o fiador renunciar o benefício de ordem no contrato de locação, ele responde de forma SOLIDÁRIA.
Ex.: Gaio, locador; Justiniano, locatário e Paulo, fiador. Caso Justiniano não pague, Paulo paga os R$
12.000,00. Paulo pagou como fiador de Justiniano, portanto, interessa somente para Justiniano pagar a
Paulo os R$ 12.000,00.
ADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
Introdução: o principal efeito das obrigações é gerar para o credor o direito de exigir do devedor o cumprimento
da prestação, e para este o dever de prestar.
Com isso, os efeitos decorrentes das obrigações são:
- extinção da obrigação, liberando o devedor (o vínculo deixa de existir a partir do momento em que o devedor
satisfaz a prestação, satisfaz o interesse do credor);
- consequências do inadimplemento da obrigação (meios pelos quais o credor poderá obter aquilo que lhe é
devido): perdas e danos, juros, atualização monetária e honorários advocatícios.
As obrigações nascem para serem cumpridas, mas, no exato momento em que se cumprem, extinguem-se. Sendo
que a principal forma de extinção das obrigações ocorre pelo pagamento direto, o qual é seu meio normal de
extinção, por meio deste tem se a liberação total do devedor em relação ao vínculo obrigacional.
Além do pagamento direto, há ainda algumas regras especiais de pagamento e formas de pagamento indireto (ex.:
consignação em pagamento, dação em pagamento, etc.); por meio das quais, como será visto, a obrigação pode ser
extinta sem que haja o pagamento propriamente dito.
As obrigações podem se extinguir também por meios anormais, isto é, sem pagamento, como no caso de
impossibilidade de execução sem culpa do devedor, da nulidade ou anulação, da novação, etc.
Meios de solver a obrigação
a) extinção pelo modo direto (forma normal) – execução voluntária, espontânea, no tempo, na
forma e no lugar previamente estabelecido.
b) extinção pelo modo indireto (forma especial) – quando um ou alguns dos elementos da
teoria do pagamento direto não forem observados. Exemplos: consignação em pagamento, dação
em pagamento, sub-rogação, novação, compensação, confusão, remissão, transação e
compromisso.
c) extinção da obrigação sem pagamento – prescrição, em que tem-se o debitum (dever de
prestar), mas não tem a oblitatio (responsabilidade), então pode não ocorrer o pagamento.
Também ocorre a extinção da obrigação sem pagamento no caso da impossibilidade da prestação
com culpa ou sem culpa do devedor, além do implemento de condição resolutiva.
d) execução forçada em razão de sentença judicial – caso em que a pessoa não tem patrimônio
e o credor busca execução de forma forçada, coercitiva, no patrimônio do devedor, para que
encontre algo que possa substituir o adimplemento da prestação.
Teoria do Pagamento (extinção pelo modo direito)
- É a execução voluntária e exata da prestação, por parte do devedor ao credor, da prestação
devida no tempo, forma e lugar previstos no título constitutivo (DINIZ, 2010, p. 222)
O C.C. dá o nome de pagamento à realização voluntária da prestação debitória, tanto quando
procede do devedor como quando provém de terceiro, interessado ou não na extinção da
obrigação.
Embora a palavra pagamento seja mais usada para indicar a solução em dinheiro de alguma
dívida, o legislador a empregou no sentido técnico jurídico de execução de qualquer espécie de
obrigação. Assim, por exemplo, paga a obrigação o escultor que entrega a estátua que fora
encomendada; ou o mandatário quando realiza o ato jurídico que se incumbiu. Portanto,
pagamento significa cumprimento ou adimplemento da obrigação.
Obs. Não se pode confundir adimplemento com pagamento
Adimplemento (gênero) – execução satisfatória da obrigação, ou seja, é chamada de solução,
adimplemento em si, resolução, implemento, cumprimento. O adimplemento é no sentido lato
sensu (pagamento direto, indireto).
Pagamento (espécie) – execução voluntária e exata da prestação, por parte do devedor ao
credor, da prestação devida, no tempo, na forma e no lugar previamente estabelecido.
Elementos do pagamento
a) subjetivos (solvens / accipiens)
•Solvens: é aquele que deve solver a obrigação. É quem deve pagar (devedor/
terceiro interessado ou não interessado) ;
•Accipiens: a quem deve pagar (credor / representante do credor).
b) objetivos (objeto e prova do pagamento) – a exoneração se dá pela prova do
pagamento.
c) lugar do pagamento (portable – domicílio do credor ou querable – domicílio
do devedor).
d) tempo do pagamento (vencimento – momento em que a obrigação deve ser
satisfeita).
Princípios estruturantes da teoria do pagamento
(extinção pelo modo direto)
1) Princípio da especificidade – art. 313 do CC
Esse principio traz a ideia de que o credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é
devida, ainda que mais valiosa. Mas, se o credor aceitar receber prestação diversa da que lhe é
devida, estará diante da dação em pagamento (modalidade de pagamento indireto).
2) Princípio da boa-fé objetiva
Esse princípio traz a ideia de que tanto o credor quanto o devedor devem agir com lealdade,
lisura, de forma proba, respeitando os elementos éticos e de boa-fé que permeiam a RJO. A boa-fé
deve estar presente na fase pré-contratual, contratual e pós-contratual.
Continuação dos princípios estruturantes da teoria do
pagamento
3) Princípio da integralidade ou identidade física da prestação – art. 314 do CC: Ainda que a obrigação tenha
por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se
assim não se ajustou. (Credor tem o direito de receber a integralidade da prestação).
3 Exceções ao princípio da integralidade ou identidade física da prestação
a) Moratória legal ou parcelamento compulsório – art. 916 do CPC. Na fase de execução é possível desrespeitar
o princípio da integralidade física, porque nesta hipótese o devedor pode fazer um depósito no valor de 30% da
execução (credor vai receber de forma parcelada e não na sua integralidade, pois recebe 30% e o restante pode ser
parcelado em até 6 vezes).
b) Pagamento instruído por um título de crédito – normalmente, feito por nota promissória ou cheque, em que é
possível que alguém pague aquela prestação de forma parcelada, desde que haja anotação no verso do título.
c) Adimplemento substancial – caso haja certa quantia do pagamento feito pelo devedor, é possível que haja o
constrangimento do credor em receber o restante de uma forma parcelada.
4) Princípio do nominalismo – art. 315 do CC: As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em
moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes.
Elemento Subjetivo
Quem deve pagar (solvens) – art. 304 ao art. 307 do CC
1) Devedor: como regra geral, o solvens será o devedor, pois é o principal interessado na solução da dívida; porém,
outras pessoas também podem pagá-la.
2) Terceiro interessado: de acordo com o art. 304 do C.C. qualquer interessado na dívida pode pagá-la, podendo usar,
havendo oposição do credor, dos meios conducentes à exoneração do devedor.
Art. 304: “Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios
conducentes à exoneração do devedor.
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição
deste”.
Interessado é aquele que tem interesse jurídico na extinção da dívida, isto é, quem está vinculado ao contrato (ex.: fiador,
o solidariamente obrigado, o herdeiro, o sublocatário, etc.), que pode ter seu patrimônio afetado caso não ocorra o
pagamento, e, portanto, tem o direito de efetua-lo.
Caso o pagamento seja efetuado por um terceiro interessado, este sub-roga-se, de pleno direito, nos direitos do credor
(art. 346). A sub-rogação transfere todos os direitos, ações, privilégios e garantias do credor primitivo. Se recusando em
receber o pagamento oferecido pelo devedor ou outro terceiro interessado lhes dá o direito de promover a consignação.
Obs.: deve-se tomar cuidado com o fato de que interesse jurídico não se confunde com interesse afetivo; dessa forma,
por exemplo, um pai que paga a dívida do filho por intuito afetivo, não pode ser considerado terceiro interessado,
devendo ser considerado um terceiro não interessado, e, portanto, não se sub-roga nos direitos do credor.
Obs.2: A princípio somente o terceiro interessado tem direito à sub-rogação legal, mas nada impede a sub-rogação
convencional, em que as partes podem convencionar, por exemplo, que o terceiro não interessado se sub-rogue.
Elemento Subjetivo
Quem deve pagar (solvens) – art. 304 ao art. 307 do CC
3) Terceiro não interessado: de acordo com o parágrafo único do art. 304 do C.C., cabe igual direito, ao
terceiro não interessado, de pagar a dívida em nome do devedor, salvo oposição deste.
Obs.: estes realizam o pagamento não por interesse jurídico, mas por outras espécies de interesses, como o
moral ou o afetivo, por exemplo. Sendo assim, o terceiro não interessado não está vinculado a RJO, pois na
verdade tem um sentimento de solidariedade com o próximo. Exemplos: caso em que um amigo paga a
dívida do outro; mãe ou pai de um filho que acabam adimplindo certas obrigações por ele assumidas.
Obs. 2: O terceiro não interessado não responde com seu patrimônio, visto que não faz parte da RJO.
O terceiro não interessado pode realizar o pagamento de duas formas:
Segundo o art. 305 do C.C. o terceiro não interessado que paga a dívida do devedor, em seu próprio nome,
tem o direito de reembolsar-se do que pagou, mas diferentemente do que ocorre em relação ao pagamento
realizado pelo terceiro interessado, aquele não sub-roga-se nos direitos do credor. Agora, se o pagamento é
feito em nome e em conta do devedor, não terá direito a nada, pois é como se fizesse uma doação.
Art. 305: “O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do
que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento”.
Elemento Subjetivo
Quem deve pagar (solvens) – art. 304 ao art. 307 do CC
Diferença entre reembolso e sub-rogação pessoal
Sub-rogação: se dá na hipótese em que há uma substituição. Sub-rogação legal,
aquele que pagou, terceiro interessado, ele substitui o novo credor em todos os
direitos, garantias e obrigações e dispensa a prova quanto a existência da dívida,
visto que ele é um terceiro interessado e a dívida já estava constituída.
Reembolso: não há substituição automática e o terceiro não interessado que paga
em nome próprio tem o direito de ser restituído no valor que ele desembolsou.
Nesta hipótese é preciso provar a existência da dívida e o respectivo pagamento,
através da quitação.
Elemento Subjetivo
Quem deve pagar (solvens) – art. 304 ao art. 307 do CC
Oposição do devedor ao pagamento por parte de terceiro – art. 306 do CC
De acordo com o art. 306 do C.C., caso o terceiro não interessado realize o pagamento com oposição ou
desconhecimento do devedor, e este tivesse meios para ilidir a ação, o devedor não ficará obrigado a
reembolsar aquele que pagou.
Art. 306: “O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a
reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação”.
Aqui, se o terceiro não interessado realizar o pagamento sem o conhecimento do devedor primitivo, ou
contra a vontade ou com oposição deste, admite-se nessa hipótese, afastar o direito de reembolso, caso o
devedor primitivo tivesse meios para afastar tal ação.
Exemplo: Justiniano (devedor), tinha que pagar o valor de R$ 10.000,00 para Gaio (credor). Ulpiano,
amigo de Justiniano, sensibilizado com a situação econômica do seu amigo, resolve ajudá-lo a pagar o
valor de R$ 10.000,00. Então, Ulpiano procura Gaio e paga os R$ 10.000,00 sem o consentimento de
Justiniano. Nesta hipótese será afastado o direito de reembolso de Ulpiano, pois Justiniano tinha
meios para elidir, afastar eventual cobrança (poderia alegar compensação, exceção de contrato não
cumprido).
Elemento Subjetivo
Quem deve pagar (solvens) – art. 304 ao art. 307 do CC
Pagamento / transmissão de propriedade – art. 307 do CC
Segundo o art. 307 do C.C., somente terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade quando feito por quem possa
alienar o bem em que ele constituiu; assim, somente se o solvens for titular de um direito real, será possível o pagamento.
Art. 307: “Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem possa alienar o objeto em que
ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu,
ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la”.
Ainda, segundo o parágrafo único desse artigo, se a parte der em pagamento coisa fungível de terceiro, não será possível que este
reclame do credor que a recebeu de boa-fé e a consumiu. Assim, se for entregue coisa de terceiro, o mesmo deverá demandar o devedor
se a coisa já tiver sido consumida mesmo de boa-fé; mas se ainda não houve o consumo, o terceiro poderá demandar o accipiens.
Exemplo: Justiniano (SP) entregou 10 sacas de café para Gaio (SA). Na verdade, as sacas de café eram de Paulo.
Avaliar a boa-fé ou má-fé do adquirente:
1ª hipótese: Se Gaio recebeu de boa-fé as 10 sacas de café e já consumiu – ação de Paulo deverá ser proposta contra Justiniano;
2ª hipótese: Se Gaio recebeu as 10 sacas de café, mas ainda não consumiu – eventual ação de Paulo poderá ser proposta contra Gaio
(ele está de boa-fé mas ainda não consumiu, então poderá restituir as 10 sacas de café ao proprietário);
3ª hipótese: Se Gaio e Justiniano estavam de má-fé – ambos respondem de forma solidária pelo equivalente + perdas e danos.
Teoria do Pagamento (extinção pelo modo direito)
Elemento Subjetivo
A quem se deve pagar (accipiens) – art. 308 ao art. 312 do CC
Credor: dispõe o art. 308 que o pagamento deve ser feito ao credor, mas também o pagamento pode ser
feito ao seu representante, que tem poderes para recebe-lo, sob pena de valer só depois de ser ratificado
pelo credor, ou havendo prova de reversão em seu proveito.
Obs.: todavia, credor não é somente aquele em cujo favor se constituiu originariamente o crédito; sendo
também o herdeiro, o cessionário, o sub-rogado nos direitos creditórios, etc. Essencial é que o pagamento
deve ser feito a quem seja o credor no momento do cumprimento, denominado credor atual.
Obs2.: sendo a obrigação solidária ou indivisível, qualquer dos cocredores está autorizado a recebe-la.
Art. 308: “O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer
depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito”.
Enunciado 425 da V JDC: O pagamento repercute no plano da eficácia, e não no plano da validade
como preveem os arts. 308, 309 e 310 do Código Civil.
Quem de direto representa o credor: representante legal, judicial, convencional.
Obs.: caso o pagamento não seja feito ao representante legal, convencional, judicial, é necessário que o
credor ratifique, confirme que o pagamento se reverteu em seu benefício, pois se ele não fizer isso, não
será pagamento válido.
Elemento Subjetivo
A quem se deve pagar (accipiens) – art. 308 ao art. 312 do CC
Pagamento efetuado ao representante do credor: a lei equipara o pagamento realizado na pessoa do credor, o efetuado ao
seu representante, considerando-o também válido.
Existem 3 espécies de representante do credor:
Legal: é o que decorre da lei, ex.: pais, tutores e curadores;
Judicial: é o nomeado pelo juiz, ex.: inventariante, síndico da falência, etc.;
Convencional: é o que recebe mandato outorgado pelo credor, com poderes especiais para receber e dar quitação.
Obs.: no caso da representação legal ou judicial, a prestação só pode ser efetuada, em princípio, ao representante; já na
representação convencional é válida tanto a prestação efetuada ao representante como a diretamente entregue ao credor.
Segundo o art. 311 do C.C. deve ser considerado como autorizado a receber o pagamento aquele que está munido do
documento representativo da quitação (recibo), salvo se as circunstâncias afastarem a presunção desse mandato tácito. Tais
circunstâncias serão apreciadas pelo juiz, em cada caso concreto, com base no critério do homem médio.
Obs.: em princípio, quem se apresenta com um recibo firmado por terceiro goza da presunção de possuir autorização para
receber; essa presunção será reforçada se o portador da quitação for empregado da empresa credora. Mas, por exemplo, se, ao
contrário, trata-se de desconhecido que por seus aspectos mais parece um ladrão, não deve o devedor efetuar o pagamento,
pois as circunstâncias o aconselham a verificar a autenticidade do mandato presumido (ou tácito). Efetuando o pagamento sem
a devida cautela, paga mal, e “quem paga mal, paga duas vezes”.
Art. 311: “Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias contrariarem a
presunção daí resultante”.
Elemento Subjetivo
A quem se deve pagar (accipiens) – art. 308 ao art. 312 do CC
Pagamento efetuado ao credor incapaz: segundo o art. 310 do C.C. não vale o pagamento, cientemente feito ao credor
incapaz de dar quitação, se o devedor não provar a reversão do valor pago em seu benefício. Nesses casos o devedor
deverá realizar o pagamento novamente.
Obs.: se o solvens tinha ciência da incapacidade, o cumprimento é inválido, tendo o devedor que pagar novamente, ou
provar que o pagamento reverteu, em todo ou em parte, em favor do incapaz. Mas se o solvens desconhecia, sem culpa, a
incapacidade do credor, o cumprimento será válido, ainda que independentemente de comprovação de que trouxe o
proveito ao verdadeiro credor. O ato terá validade se se provar erro escusável do devedor, por supor estar tratando com
pessoa capaz, ou dolo do credor, por ocultar maliciosamente sua idade.
Art. 310: “Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício
dele efetivamente reverteu”.
Então:
a) Pagamento feito a pessoa absolutamente incapaz – nulidade absoluta;
b) Pagamento feito a pessoa relativamente incapaz – nulidade relativa (devedor deve provar que o pagamento se reverteu
em benefício do credor, que houve vantagem econômica, que houve aumento patrimonial ao credor).
Ou seja, caso o pagamento seja feito ao credor incapaz de dar a quitação, o pagamento não terá eficácia, a não ser
que se prove que houve benefício ao credor.
Elemento Subjetivo
A quem se deve pagar (accipiens) – art. 308 ao art. 312 do CC
Pagamento efetuado ao credor putativo: o art. 309 do C.C., determina que será válido o pagamento feito ao credor putativo (aquele que aos
olhos de todos se apresenta como verdadeiro credor, mas não é) desde que haja boa-fé do devedor.
Obs.: essa é uma das principais aplicações da teoria da aparência, que procura valorizar a verdade real, em detrimento da verdade formal.
Obs.2: ao verdadeiro credor, que não recebeu o pagamento, resta somente voltar-se contra o credor putativo, que recebeu indevidamente, pois o
solvens nada mais deve.
Para que haja a configuração de credor putativo e que o pagamento seja considerado eficaz, é necessário a presença de dois requisitos: a
boa-fé subjetiva e a escusabilidade ou reconhecibilidade de seu erro (erro escusável ou engano desculpável).
a) Boa-fé subjetiva: leva em consideração o estado psicológico da pessoa. No caso do credor putativo, o devedor, fundado no estado de ignorância
desculpável, acredita que aquela pessoa que se apresenta para ele é o verdadeiro credor (devedor julga que aquela pessoa do credor é titular de um
direito, quando na verdade não é).
b) Escusabilidade ou reconhecibilidade de seu erro (erro desculpável ou engano desculpável): devedor agiu de forma cautelosa e por isso seu erro é
perdoável, porque qualquer pessoa que estivesse na mesma situação seria induzida a erro.
Art. 309: “O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor”.
Exs. de credor putativo:
Ex.1: herdeiro aparente em que o único herdeiro conhecido de uma pessoa abonada, que veio a falecer, é o seu sobrinho, o pagamento feito a ele de
boa-fé é valido, mesmo que se apure posteriormente que no testamento havia outra pessoa nomeada como herdeiro testamentário.
Ex.2: o caso em que um locatário efetua o seu pagamento na imobiliária X, há certo tempo, mas o locador rompe o contrato de representação com
essa imobiliária e contrata a imobiliária Y. O locatário não é avisado e continua fazendo os pagamentos na imobiliária anterior, sendo notificado da
troca 6 meses após. Os pagamentos desses 6 meses devem ser reputados válidos cabendo ao locador acionar a imobiliária X e não o locatário.
Elemento Subjetivo
A quem se deve pagar (accipiens) – art. 308 ao art. 312 do CC
Pagamento efetuado ao credor impedido legalmente de receber – credor cujo crédito foi penhorado ou
impugnado por terceiro: estatui o art. 312 do C.C. que se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da
penhora feita sobre o crédito ou da impugnação oposta por terceiro, não deverá ser tido como válido o
pagamento em relação a este terceiro. Podendo o terceiro constranger o devedor a pagar novamente,
ressalvando o direito de regresso do devedor em face do credor.
Art. 312: “Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o
devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor”.
Então, caso o devedor realize o pagamento ao credor impedido legalmente de receber, será considerado
ineficaz porque o devedor foi notificado, informado de que ele não deveria realizar o pagamento para aquele
credor, e mesmo assim ele realizou.
Exemplo:
Paulo, devedor, tem que entregar a Justiniano, credor, o valor de R$ 200.000,00. Porém, Paulo é intimado de
que o crédito de Justiniano foi penhorado, e mesmo assim realiza o pagamento para Justiniano. Justiniano, em
razão de estar impedido de receber, constrangerá Paulo a pagar novamente, sendo que depois que Paulo pagar
novamente terá que acionar o Justiniano de uma forma regressiva, para exigir o reembolso do que ele pagou.
Elemento Objetivo
Prestação – art. 313 ao 318 do CC
a) prestação – objeto da obrigação (modo devido, pontualmente no lugar determinado).
Princípios norteadores:
Princípio da especificidade: segundo 313 do C.C. pode o credor se negar a receber o que não foi pactuado, mesmo
sendo a coisa mais valiosa.
Art. 313: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”.
Obs. Caso queira receber prestação diversa da que lhe é devida, pode, mas será pagamento indireto, na modalidade de
dação em pagamento.
Princípio da integralidade ou identidade física da prestação: prescreve o art. 314 do C.C. que mesmo sendo o objeto
da obrigação uma prestação divisível, não pode ser o credor obrigado a receber, nem o devedor a pagar em partes, salvo
se houver previsão expressa no contrato.
Art. 314: “Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o
devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou”.
Princípio do nominalismo: nos termos do art. 315 do C.C., as dívidas em dinheiro só podem ser pagas em moeda
nacional corrente e pelo seu valor nominal. Os pagamentos realizados fora da moeda nacional vigente são pagamentos
nulos.
Art. 315: “As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o
disposto nos artigos subsequentes”.
Exceções ao princípio do nominalismo
Impossibilidade de pagamento em ouro ou moeda internacional: dispõe o art. 318 do C.C. que são nulas as
convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor
desta e o da moeda nacional (correção monetária baseada em moeda estrangeira), com algumas exceções previstas
em leis.
Art. 318: “São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a
diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial”.
Obs.: de acordo com o art. 2º do Decreto lei 857/1969, são exceções:
◦ contratos referentes à importação e exportação de mercadorias;
◦ contratos de financiamento ou prestação de garantias relativos às operações de exportação de bens de
produção nacional, vendidos a crédito para o exterior;
◦ contratos de compra e venda de câmbio em geral;
◦ empréstimos e quaisquer outras obrigações cujo devedor seja residente e domiciliado no exterior, excetuados
os contratos de locação de imóveis situados no Brasil.
◦ Contratos que tenham por objeto a cessão, transferência, delegação, assunção ou modificação das obrigações
referidas no item anterior, ainda que ambas as partes contratantes sejam pessoas residentes e domiciliadas no
país.
Obs.: além das contidas nesse decreto lei, há outras exceções legais.
Elemento Objetivo
Prestação – art. 313 ao 318 do CC
Cláusula de atualização monetária: prevê o art. 316 do C.C. que é lícito convencionar o
aumento progressivo de prestações sucessivas. O que é feito mediante índice previamente
escolhido, utilizando-se as partes, para tanto, da aludida escala móvel.
Art. 316: “É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas”.
Atualização monetária se dá em razão da desvalorização da moeda e a necessidade de se
recompor as partes que estão no contrato.
Exemplo: contrato de locação, em que permite a atualização monetária desde que haja uma
obrigação de trato sucessivo dentro da periodicidade de 1 ano.
Obs.: de acordo com o art. 2º da lei 10.191/2001, “é admitida estipulação de correção monetária
ou de reajuste por índices de preços gerais, setoriais ou que reflitam a variação dos custos de
produção ou dos insumos utilizados nos contratos de prazo de duração igual ou superior a um
ano”, e segundo o seu § 1º “é nula de pleno direito qualquer estipulação de reajuste ou correção
monetária de periodicidade inferior a um ano”.
Elemento Objetivo
Prestação – art. 313 ao 318 do CC
Correção dos contratos: segundo o art. 317 quando por motivos imprevisíveis, houver desproporção
manifesta entre o valor da prestação devida e do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a
pedido da parte, assegurando, quanto possível, o valor real da prestação.
O dispositivo consolida a revisão contratual por fato superveniente, diante de uma imprevisibilidade
somada a uma onerosidade excessiva.
Obs.: a revisão judicial tem o condão de reestabelecer o equilíbrio.
Art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação
devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure,
quanto possível, o valor real da prestação”.
Obs2.: os requisitos para a revisão contratual são:
◦ contrato bilateral e oneroso;
◦ comutativo (pois no contrato aleatório o risco é da essência do negócio);
◦ execução diferida ou continuada.
◦ presença de motivo imprevisível;
◦ presença de desproporção negocial.
Elemento Objetivo
Prova do pagamento – art. 319 ao art. 326 do CC
O pagamento exonera o credor, liberando-o do vínculo obrigacional, portanto, é importante que possa comprovar o
adimplemento. Por essa razão, realizando a prestação devida, o devedor tem o direito de exigir do credor a
quitação da dívida. Esta é a prova do pagamento.
A prova do pagamento se dá de duas formas: pela quitação ou posse do título (na posse do título a presunção é
relativa). Posto isso, o pagamento não se presume, ou seja, o devedor que paga tem o direito a quitação regular, e
pode reter o pagamento enquanto não lhe seja dada a quitação.
Art. 319: “O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja
dada”.
Quitação: prova de que houve o pagamento, e ele se exterioriza pelo recibo (instrumento comprobatório da
quitação). A quitação reconhece a realização da prestação e tem o efeito liberatório, pois com a quitação o devedor
está liberado do vínculo obrigacional com o credor.
Posse do título: devedor quando tem a posse do título, quando lhe é devolvido o título significa que houve o
pagamento. Posse do título é uma forma de quitação tácita, porque essa quitação se dá pela entrega do título, em
que a obrigação foi instrumentalizada (nota promissória, letra de câmbio, título ao portador), e se o devedor tiver
em mãos esse título significa que houve o pagamento (presunção relativa).
Elemento Objetivo
Prova do pagamento – art. 319 ao art. 326 do CC
Requisito formal da quitação e ausência de requisitos formais: os elementos da quitação estão previstos no art. 320 do C.C., os quais são:
✔valor expresso da obrigação;
✔especificidade da dívida;
✔identificação do devedor ou de quem paga no seu lugar;
✔tempo e lugar de pagamento;
✔assinatura do credor ou seu representante, dando quitação total ou parcial.
O mesmo dispositivo recomenda a elaboração de um instrumento particular, visando maior segurança jurídica, o que não é obrigatório, como se pode
perceber pela própria redação do artigo que utiliza o termo “poderá”.
Na verdade, nenhum desses requisitos são obrigatórios pelo princípio da liberdade das formas, tal princípio ainda é reforçado pelo parágrafo único desse
mesmo artigo, segundo o qual, ainda que não estejam presentes tais requisitos, valerá a quitação, se de seus termos e circunstâncias a dívida tiver sido paga.
Devendo o aplicador do direito analisar se o pagamento foi realizado de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
Art. 320: “A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem
por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante.
Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das circunstâncias resultar haver sido paga a
dívida”.
De acordo com o parágrafo único, então, pode-se dizer que a ausência de qualquer um desses requisitos mantém a validade, se for possível provar
posteriormente que o pagamento efetivamente se deu.
Elemento Objetivo
Prova do pagamento – art. 319 ao art. 326 do CC
Enunciado 18 da I jornada de Direito Civil: “é válida a quitação que é dada por meio
eletrônico”.
Perda do título particular: de acordo com art. 321 do C.C., os débitos cuja quitação consista na
devolução do título, uma vez perdido este, poderá o devedor exigir, retendo o pagamento, uma
declaração do credor que inutilize o título desaparecido. O intuito desse artigo é proteger o
devedor para que ele não seja cobrado futuramente.
Art. 321: “Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o
devedor exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido”.
Caso o credor tenha perdido o título ou o título tenha sido extraviado não há a possibilidade se
sua devolução. Nesta situação, o devedor pode exigir do credor uma declaração de extravio do
título, porque essa declaração vai conter a quitação do débito, ou seja, vai indicar todas as
informações referentes àquela RJO e também tem por objetivo a inutilização do título.
▪Devedor pode reter o pagamento caso o credor se negue a entregar essa declaração.
Elemento Objetivo
Prova do pagamento – art. 319 ao art. 326 do CC
Pagamento em cotas periódicas: preceitua o art. 322 que “quando o pagamento for em quotas
periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário, a presunção de estarem solvidas as
anteriores”. Essa regra assenta-se na ideia de que não é natural o credor concordar em receber a última
prestação sem haver recebido as anteriores. Tal presunção é relativa, pois admite prova em contrário.
Art. 322: “Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em
contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores”.
- Até que se prove o contrário, o pagamento da última parcela significa que as anteriores estão pagas
(presunção relativa).
- Esse artigo traz uma norma de ordem privada. Para que não haja essa presunção de que a última
estabelece que as anteriores foram pagas recomenda-se que o credor possa colocar as seguintes dizeres:
“o pagamento da última não implica às anteriores”, então não se terá a compreensão de que o pagamento
da última faz com que as anteriores já estejam pagas.
Obs.: não sendo constada declaração de que a quitação da última não presume a das anteriores, a
presunção poderá ser elidida pelos meios de prova em geral.
Elemento Objetivo
Prova do pagamento – art. 319 ao art. 326 do CC
Quitação de capital sem reserva de juros: outra presunção relativa trazida pelo C.C. no art. 323, é a de
que: sendo a quitação do capital sem reserva de juros, estes presumem-se pagos.
Tal presunção decorre do fato de os juros serem considerados bens acessórios e, portanto, se aplica a
regra de que o acessório segue o principal. Mas como é um caso de presunção relativa, cabe prova ou
previsão contratual em contrário.
- Caso o credor dê uma quitação total, sem fazer essa reserva de juros, compreende-se que os juros já
estão ali indicados e há quitação de todo o valor.
- A presunção é relativa até que se prove ao contrário que os juros também já foram pagos, porque os
juros tem natureza acessória, que segue o bem principal.
Despesas com o pagamento e quitação: de acordo com art. 325 do C.C, as despesas presumem-se a
cargo do devedor, mas se houver aumento dessas por fato imputável ao credor, este deverá arcar com a
despesa acrescida.
Art. 325: “Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer
aumento por fato do credor, suportará este a despesa acrescida”.
▪Caso o credor exija algo além, essas despesas ficarão a seu cargo.
Elemento Objetivo
Prova do pagamento – art. 319 ao art. 326 do CC
Pagamento de prestação por peso ou medida: conforme o art. 326, se houver pagamento por
medida ou peso, deve-se entender, no silêncio das partes, que aceitaram os critérios do lugar da
execução da obrigação.
Ex.: deve se levar em conta o alqueire do local em que a obrigação deve ser executada, ou seja,
de onde estiver situado o imóvel rural; sendo que no estado de SP um alqueire corresponde a
27.225 m2 e em MG, por exemplo equivale a 48.400 m2.
Art. 326: “Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das
partes, que aceitaram os do lugar da execução”.
- O título constitutivo da RJO deve indicar qual o local a ser adotado quando o pagamento tiver
por prestação o peso ou a medida, porque sabe-se que esse peso ou medida tem diferença
dependendo da região do Estado brasileiro.
- No silêncio (se não for indicado o local de onde será considerado o peso ou a medida),
entende-se que será o peso ou a medida do local da execução, ou seja, do local onde o contrato foi
executado.
Teoria do Pagamento (extinção pelo modo direito)
Lugar do pagamento – art. 327 ao art. 330 do CC
Convenção das partes – princípio da liberdade de eleição, em que as partes convencionam, elegem o local
a ser realizado o pagamento.
Como regra geral, será estipulado o domicílio onde as obrigações deverão ser cumpridas, determinando
também, de forma implícita, a competência do juízo onde a ação será proposta (foro), em caso de
inadimplemento da obrigação.
Quanto ao lugar do pagamento, a obrigação pode ser:
Quérable ou quesível: o pagamento deve ocorrer no domicílio do devedor. De acordo com o art. 327, há
uma presunção relativa de que o pagamento é quesível, uma vez que o sujeito passivo deve ser procurado
pelo credor em seu domicílio para efetuar o pagamento, salvo se as partes convencionarem diversamente,
ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Obs.: não havendo contratação específica quanto ao local do cumprimento da obrigação, esta será
considerada quesível.
Art. 327: “Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem
diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.
Parágrafo único. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles”.
Lugar do pagamento – art. 327 ao art. 330 do CC
Portable ou portável: é a que se estipula, pelo instrumento negocial ou pela natureza da obrigação, que o
local do pagamento será o domicílio do credor.
Obs.: também é chama de portável a obrigação cujo pagamento deva ocorrer no domicílio de terceiro.
Segundo o parágrafo único do art. 327 do C.C., tendo sido designados dois ou mais lugares para o
pagamento, caberá ao credor escolher entre eles.
Obs.: esta é uma das poucas vezes que a escolha cabe ao credor, e não ao devedor, na teoria geral das
obrigações.
Já o art. 328, estabelece que se o pagamento constituir na tradição de um bem imóvel, ou em prestações
relativas a ele, tal obrigação deverá ser executada no lugar onde o imóvel estiver situado.
Obs.: prestações relativas a imóveis devem ser entendidas como execução de serviços, reparações,
construções e etc., só realizáveis no imóvel, visto que pagamento é adimplemento de qualquer espécie de
obrigação, não abrangendo, porém a remuneração desses serviços, que pode ser realizada em bancos, por
exemplo, nem os alugueis, que podem ser pagos em outro lugar convencionado.
Art. 328: “Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel,
far-se-á no lugar onde situado o bem”.
Lugar do pagamento – art. 327 ao art. 330 do CC
Local diverso por motivo grave
Prevê o art. 329 que, “ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor
fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.” Tal regra mitiga a força obrigatória da convenção, o pacta sunt servanda. Este
dispositivo traz a expressão “motivo grave”, sem defini-la, devendo então o juiz analisar caso a caso.
Obs.: como exemplo de situações que podem ser consideradas como motivo grave podemos citar: greve no transporte
público, calamidade pública, enchente, manifestações de protestos, etc.
De acordo com art. 330 “o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato. A doutrina mais atualizada relaciona este preceito com o instituto da supressio (supressão por renúncia
tácita a um direito ou a uma posição jurídica, decorrente do seu não exercício ao longo do tempo).
Desse modo, ao tempo em que o credor perde um direito por essa supressão, surge um direito a favor do devedor, por meio da
surrectio ou surreição (surgimento), direito este que não existia juridicamente até então, mas que decorre da efetividade social,
de acordo com os costumes. Logo, há um direito agora de exigir o pagamento no local onde vem sendo realizado, ao revés do
indicado no pacto.
Ex.: “A” (locador) convenciona com “B”, seu locatário, que o aluguel será pago no domicílio do primeiro, sendo, portanto,
uma obrigação portável (domicílio do credor – locador), mas na prática o que acontece é que “A” vai todas as vezes receber
no domicílio de “B”. O fato de o pagamento ser reiteradamente feito no domicílio de “B”, faz com que “A” perca o direito de
receber o aluguel no seu domicílio.
Art. 330: “O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no
contrato”.
Tempo do pagamento – art. 331 ao art. 333 do CC
O vencimento é o momento em que a obrigação deve ser satisfeita, cabendo ao credor a faculdade
de cobrá-la. Esse vencimento, tempo ou data de pagamento, pode ser fixado pelas partes por força
do instrumento negocial. Sendo importante ressaltar, que o credor não pode exigir o
adimplemento antes do pagamento; e muito menos o devedor pagar, após a data prevista, sob
pena de caracterização da mora ou do inadimplemento absoluto.
Segundo o art. 331 do C.C., salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época
para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente, vigorando o princípio da satisfação
imediata. Devendo, portanto, a obrigação ser reputada instantânea.
Obs1.: o princípio da satisfação imediata pode ser abrandado pelo bom-senso, se este exige um
tempo razoável que permita ao devedor satisfazer sua prestação.
Obs2.: é importante ressaltar que, não havendo prazo avençado, é necessário que o devedor seja
informado do propósito do credor de receber, pois, nas obrigações sem estipulação de prazo para
o seu cumprimento, a mora do devedor só começa depois da interpelação judicial ou
extrajudicial.
Tempo do pagamento – art. 331 ao art. 333 do CC
Já o art. 332 do C.C., dispõe que as obrigações condicionais (aquelas subordinadas a um evento futuro e incerto) são cumpridas na data do
implemento ou ocorrência da condição, cabendo ao credor a prova de que o devedor teve ciência de tal fato.
Art. 332: “As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve
ciência o devedor”.
Outra importante regra é a do vencimento antecipado, prevista no art. 333 do C.C., segundo o qual pode o credor cobrar do devedor antes
do vencimento do prazo nos seguintes casos:
1. Falência do devedor, ou de concurso de credores;
Obs.: o vencimento antecipado da dívida nesse caso, permite ao credor habilitar o seu crédito e, assim, participar do rateio instaurado. Pois
se tivesse que aguardar o vencimento estipulado no contrato ou previsto na lei, poderá não encontrar mais nenhum bem no acervo do
devedor, que possa satisfazer o seu crédito.
2. Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;
Obs.: a penhora por terceiro, antes de vencida a dívida, do bem em garantia, constitui ameaça ao credor com garantia real, que corre o risco
de perde-la por desaparecimento do objeto, arrematado em hasta pública (leilão). Por essa razão a lei antecipa o vencimento da obrigação,
concedendo a este a possibilidade de concorrer com os demais credores.
3. Se cessarem, ou se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforça-las.
Porém, dispõe o parágrafo único do art. 333 do C.C. que nos casos de vencimento antecipado, se houver, no débito solidariedade passiva,
não se reputará vencido quanto aos outros devedores solventes. Na obrigação solidária não se pode plicar o vencimento antecipado se os
demais codevedores forem solventes.
INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
Conceito: o inadimplemento da obrigação consiste na falta de prestação devida ou no
descumprimento, voluntário ou involuntário, do dever jurídico por parte do devedor.
Modos de inadimplemento:
a) Absoluto: se a obrigação não for cumprida total ou parcialmente, e nem poderá vir a
ser cumprida.
b) Relativo: se a obrigação não for cumprida no tempo, forma e local devidos, mas
podendo ser cumprida com proveito para o credor, hipótese em que haverá mora.
Obs.: a diferença entre o inadimplemento absoluto e o relativo está na utilidade do
cumprimento da obrigação para o credor. No inadimplemento absoluto a prestação
não é mais útil ao credor, ao passo que no inadimplemento relativo a prestação ainda é
útil ao credor, embora tenha havido o atraso.
Inadimplemento das obrigações
Inexecução voluntária (art. 389 do C.C.): quando o devedor deixar de cumprir, dolosa ou culposamente
(culpa latu sensu), a prestação devida, sem que seja hipótese de caso fortuito ou força maior, deverá
responder pelas perdas e danos, juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos e honorários advocatícios.
Consequências do inadimplemento: perda e danos; juros, atualização monetária; e honorários
advocatícios.
Art. 389: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.
Obs.: os honorários têm cabimento, apenas, quando ocorrer a efetiva atuação profissional do advogado.
Tais honorários não são os de sucumbência (da parte que perdeu), mas os extrajudiciais, a serem pagos
por quem contratou advogado para defender seus direitos.
Obs.2: de acordo com o enunciado n. 548 do C.J.F., uma vez caracterizada a violação de um dever
contratual, ao devedor incumbe o ônus de demonstrar que o fato causador do dano não lhe pode ser
imputado. Há, portanto, em regra, uma presunção (relativa) de culpa do devedor pelo inadimplemento da
obrigação.
Inadimplemento das obrigações
Inexecução de obrigação de não fazer (art. 390 do C.C.): na obrigação negativa,
têm-se o inadimplemento a partir da data em que veio a executar, culposamente ato que
devia abster-se. Dessa data surgirão os efeitos decorrentes do descumprimento da
obrigação.
Art. 390: “Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia
em que executou o ato de que se devia abster”.
Responsabilidade patrimonial (art. 391 do C.C.): o credor tem como garantia do
adimplemento o patrimônio do devedor; assim a execução por inadimplemento vem
atingir todos os bens deste, com exceção dos impenhoráveis por lei (arts. 794 e 1.715
do C.C. e 833 do C.P.C.).
Art. 391: “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor”.
❖ Em síntese, o que garante o adimplemento é o patrimônio do devedor, salvo os bens
impenhoráveis.
Inadimplemento das obrigações
Responsabilidade nos contratos benéficos (art. 392 do C.C.): Nos contratos gratuitos ou benéficos, onde há apenas uma
parte que se beneficia pela prestação realizada pela outra (sem sinalagma), o contratante que se beneficia, recebendo a
vantagem do outro, responderá por simples culpa, e o contratante que efetua a prestação só responderá nas hipóteses de dolo.
Exemplos de contratos gratuitos: doação sem encargo, comodato.
Art. 392: “Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por dolo aquele
a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei”.
Nos contratos benéficos, por ter uma situação diferenciada, por ser um contrato em que uma das partes não terá que dar uma
contrapartida, não haverá uma reciprocidade, então o dever de reparar exige uma conduta culposa, dolosa daquele que assume
o dever de prestar.
Responsabilidade nos contratos onerosos (art. 392 do C.C.): Nos contratos onerosos, onde há sinalagma, prestação e
contraprestação, por ambos os lados da relação jurídica obrigacional (devedor e credor), a mera culpa (em sentido lato,
abrangendo, portanto, dolo, culpa mediante imprudência, negligência e imperícia), fará com que respondam os contratantes.
Nos contratos onerosos há uma reciprocidade, presença da sinalágma, ou seja, qualquer uma das partes contratantes responde
por culpa, visto que é um contrato oneroso.
Inadimplemento das obrigações
Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era
possível evitar ou impedir.
Exceções à irresponsabilidade por dano decorrente de força maior ou de caso fortuito:
a) Se as partes expressamente, convencionaram a responsabilidade do devedor pelo cumprimento da
obrigação, mesmo ocorrendo caso fortuito ou força maior;
b) Se o devedor estiver em mora (art. 399 do C.C.);
Art. 399: “O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade
resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de
culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada”.
Obs.: nesse caso só é afastada a responsabilidade do devedor, em mora, se provar que o dano ocorreria
mesmo que tivesse cumprido a obrigação pontualmente, ou demonstrar a isenção de culpa.
Inadimplemento absoluto
O inadimplemento absoluto traduz o total descumprimento da obrigação (inadimplemento absoluto resulta da completa impossibilidade
do cumprimento da prestação).
Art. 395, § único do CC “Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la (rejeitá-la), e exigir a satisfação
das perdas e danos”.
Espécies:
a) fato relativo ao objeto da prestação (obrigação de não fazer, obrigação de dar e restituir – perda ou deterioração do objeto prestacional,
obrigação de dar coisa incerta).
Aqui analisa-se o objeto prestacional e a partir disso vai se identificar se há ou não inadimplemento absoluto.
•Se houver o perecimento, perda total, o credor poderá pleitear as perdas e danos, em razão do perecimento com culpa do devedor.
•Se ocorrer a deterioração o credor pode pleitear o equivalente mais perdas e danos ou receber a coisa no estado em que se encontra mais
perdas e danos.
b) fato relativo ao interesse do credor (inutilidade da prestação)
Aqui vai se analisar se a prestação é útil ou inútil ao credor. Deve-se analisar a ausência de interesse do credor em receber a prestação,
porque a demora, a não realização da prestação no prazo convencionado pode tornar a prestação inútil ou inviável para o credor.
Obs.: NÃO BASTA UMA SIMPLES DIMINUIÇÃO DO INTERESSE DO CREDOR PELA PRESTAÇÃO. É PRECISO QUE OCORRA
A COMPLETA PERDA DA NECESSIDADE OU UTILIDDE DA COISA EM RAZÃO DO DESCUMPRIMENTO.
Hipóteses de incidência do inadimplemento absoluto
a) perda ou destruição da prestação – obrigação de dar e obrigação de restituir (perecimento
ou deterioração).
b) recusa do devedor em cumprir a prestação – obrigação de fazer (obrigações de fazer de
natureza infungível, ou seja, situações em que a prestação só poderia ser cumprida por aquele
devedor. Se o devedor se recusar a realizar a prestação a só ele exequível, responderá por perdas e
danos).
c) inutilidade da prestação para o credor.
d) obrigação de não fazer (só admite inadimplemento absoluto).
Enunciado 162 do CJF “A inutilidade da prestação que autoriza a recusa da prestação por parte
do credor deverá ser aferida objetivamente, consoante o princípio da boa-fé e a manutenção do
sinalagma, e não de acordo com o mero interesse subjetivo do credor.”
Enunciado 548 da CFJ “Caracterizada a violação contratual, incumbe ao devedor o ônus de
demonstrar que os fatos causador do dano não lhe pode ser imputado”
Inadimplemento Relativo – Mora (arts. 394 a 401 do CC)
Para Maria Helena Diniz a mora traduz “não só a inexecução culposa da obrigação, mas também a injusta
recusa de recebe-la no tempo, no lugar e na forma devidos”.
Art. 394 do CC “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não
quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.”
Mora ou inadimplemento relativo traduz o retardamento, ou seja, considera o cumprimento fora do lugar,
da forma e do tempo estabelecido (atraso qualificado, imperfeita satisfação ou simples retardamento da
realização da prestação).
O pressuposto básico do inadimplemento relativo é a viabilidade do cumprimento da prestação. A
prestação não foi cumprida no tempo, na forma e no local previamente estabelecido no título constitutivo,
mas ela ainda é útil para o credor.
Espécies de Mora:
a) mora do devedor – mora solvendi (não precisa ser só a pessoa do devedor, mas aquele que tem o
dever de realizar a prestação);
b) mora do credor – mora accipiens (mora daquele que tem o direito de exigir, receber a prestação);
c) mora decorrente de ato ilícito.
Mora do devedor - mora solvendi
Mora solvendi: configura-se a mora do devedor quando este não cumprir, por culpa sua, a prestação devida na forma, tempo e lugar
estipulados em disposição legal contratual.
Art. 395 do CC “Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores monetários segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”
Obs.: a mora está presente das obrigações positivas (dar e fazer); obrigação de não fazer é inadimplemento absoluto.
Espécies:
a) mora ex re ou automática (art. 397, caput do CC e art. 398 do CC) – é aquela que não depende de interpelação, não depende de
constituição de um prazo, porque a prestação já é positiva, líquida e tem um termo. Ela decorre da lei, se apresenta de pleno direito, resulta
do próprio descumprimento da obrigação.
Art. 397, caput do CC “O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito em mora o devedor.”
Art. 398 do CC “Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou.”
b) mora ex persona ou mora pendente (art. 397, par. ú do CC) – ocorre nas situações em que não há termo, não há um prazo para que a
obrigação seja cumprida, adimplida. Para a constituição em mora quando não há um termo é preciso que se dê um prazo.
Situações em que o devedor deve ser cientificado para que ele tenha conhecimento de que um prazo foi dado a ele. A partir do escoamento
deste prazo, ele será constituído em mora.
Art. 397, par. ú do CC “ Não havendo termo, a mora se constitui mediante interpelação judicial ou extrajudicial.”
Mora do devedor - mora solvendi
Requisitos
a) exigibilidade imediata da obrigação:
Tem-se uma dívida líquida, positiva e vencida (exigibidade imediata porque transcorreu o seu termo). A incidência
de mora se dá quando tem a exigibilidade da obrigação.
b) inexecução total ou parcial da obrigação por culpa do devedor:
Para a caracterização da mora ou do inadimplemento relativo exige-se a inexecução total ou parcial da obrigação
por culpa do devedor (não observância do tempo, da forma ou do local e ainda a conduta ou inexecução culposa do
devedor).
c) interpelação judicial ou extrajudicial do devedor, se a dívida não for a termo ou com data certa:
Quando se estiver diante de mora ex persona ou mora pendente, em que é preciso que haja uma interpelação
judicial ou extrajudicial, ou seja, notificação, para que seja possível constituir o devedor em mora. Há uma
necessidade de provocação do credor para que o devedor seja constituído em mora.
Art. 396 do CC “Não havendo fato ou omissão imputável ao devedor, não incorre este em mora.” – configuração
da mora (para que o devedor afaste a mora ele precisa provar, demonstrar, indicar, que o fato não é imputável a
ele).
Mora do devedor - mora solvendi
Efeitos
a) responsabilidade do devedor pelos prejuízos causados pela mora ao credor:
Princípio da perpetuação da obrigação: devedor em mora responde por todas as consequências oriundas
de seu atraso.
b) possibilidade do credor exigir a satisfação das perdas e danos, rejeitando a prestação, se devido à
mora ela se torna inútil:
Caso de inutilidade da prestação, em que há uma autorização para que o credor, caso haja essa resolução
contratual, que ele possa exigir as perdas e danos em razão da inutilidade da prestação, que será avaliada
de forma objetiva, segundo os critérios da boa-fé.
c) responsabilidade do devedor moroso pela impossibilidade da prestação, mesmo decorrente de
caso fortuito ou de força maior:
Em regra, quando se tem caso fortuito ou força maior, há o afastamento da responsabilidade. Mas, se essa
situação do fortuito ocorrer durante o período de mora, nessa situação, em razão do princípio da
perpetuação da obrigação, enquanto a mora persistir haverá a responsabilidade do devedor. Porém, nada
impede que o devedor demonstre a isenção de culpa, ou seja, que ele não estava em mora, ou que o dano
sobreviria quando a obrigação fosse cumprida, mesmo que ele não estivesse em mora.
Mora do devedor - mora solvendi
Purgação e cessação da mora
art. 401, I do CC “Purga-se a mora: I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do
dia da oferta”
Emenda da mora ou purgação da mora: fazer desaparecer o estado de atraso no cumprimento da obrigação. Significa que o devedor, com
uma atitude sua, voluntária, espontânea, faz desaparecer esse estado de atraso no cumprimento da obrigação).
É um ato espontâneo do sujeito obrigacional e que tem por objetivo remediar a situação que causou, buscando sempre que possível
reconduzir à situação de normalidade (mora é tanto do devedor quanto do credor; a mora pode ser purgada tanto pelo devedor quanto pelo
credor).
Caso tenha uma mora do devedor, ele responde por todas as penalidades pretéritas e por todos os danos produzidos (juros, cláusula penal, se
houver, até que haja essa purgação, ou seja, até que haja o comportamento que faz desaparecer o estado de mora). Os efeitos da purgação da
mora são ex nunc, ou seja, não retroagem.
Purgação ocorre com o objetivo de reconduzir a normalidade, porque o devedor oferece a prestação devida e ainda arca com os
prejuízos causados, sendo então a situação restaurada. Haverá o pagamento do principal com todos eventuais juros, atualização
monetária.
Cessação da mora: fato extintivo dos efeitos pretéritos ou futuros.
Há a participação da outra parte. A cessação da mora por uma conduta do devedor tem que ter a participação do credor.
Ex: novação, remissão, renúncia (há o desaparecimento da mora com a intenção do credor para liberar o devedor do atraso. Então, com essa
intervenção há o desaparecimento de todos os seus efeitos passados ou futuros).
Mora do credor - mora accipiens
Art. 394 do CC “Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que
não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.”
A mora do credor se dá quando o credor, de uma forma imotivada, se recusa a receber a prestação
devida ofertada pelo devedor. Ou seja, o devedor observou o tempo, a forma e o local, mas o
credor, de uma forma imotivada, se recusou a receber o pagamento.
A mora do credor se dá também na situação em que ele exige que o pagamento seja realizado de
uma forma diversa daquela que já foi ajustada.
Nessas duas situações o credor impõe um excessivo sacrifício ao devedor.
Requisitos
Exige que a oferta do devedor seja real (devedor deve entregar ao credor aquilo que ele
efetivamente se comprometeu a entregar ou fazer).
Recusa injustificada do credor em receber (se o credor não puder amparar a sua recusa ao
eventual retardamento da prestação em fatos objetivos e legítimos, essa recusa será injustificada).
Mora do credor - mora accipiens
Efeitos da mora – art. 400 do CC
Art. 400 do CC “ A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela
conservação da coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e
sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia
estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.
Os efeitos da mora do credor são:
•Libera o devedor da responsabilidade pela conservação da coisa (perda ou deterioração);
•A mora do credor obriga o ressarcimento das despesas empenhadas pelo devedor para a conservação da
coisa durante o período de mora;
•Se houver a variação do preço, o valor será aquele mais favorável ao devedor.
Purgação da mora (ato espontâneo do sujeito obrigacional).
Art. 401, II do CC “Purga-se a mora: II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento
e sujeitando-se aos efeitos da mora até a mesma data.”
Obs.: o ônus da prova quanto a essa recusa injustificada cabe ao credor.
Violação positiva do contrato
A violação positiva do contrato é uma espécie autônoma de inadimplemento, porque ela tem o adimplemento, mas esse adimplemento é
ruim, insatisfatório.
Há o cumprimento da obrigação principal, mas não foram observados os deveres secundários, anexos ou laterais da relação contratual
(deveres de proteção, cooperação, lealdade e solidariedade. Esses deveres anexos se ligam na obrigação principal por meio da boa-fé).
Há que ser observado o princípio da boa-fé objetiva – art. 422 do CC
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
boa-fé.
Enunciado 24 da JDC “Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação dos deveres anexos
constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa”.
A violação positiva do contrato afasta a análise de culpa (não identifica se houve imprudência, negligência ou imperícia). Basta que haja
a violação dos deveres anexos para incidir na violação positiva do contrato, ensejando assim o inadimplemento insatisfatório ou ruim.
Enunciado 363 da JDC “Os princípios da probidade e da confiança são de ordem pública, sendo obrigação da parte lesada apenas
demonstrar a existência da violação”.
Para que haja a caracterização da violação positiva do contrato basta que a parte demonstre a violação de um dos deveres anexos.
Exemplo de violação positiva do contrato: A FDF contrata uma empresa de publicidade e divulgação. A empresa de publicidade não
pode garantir que as pessoas vão querer, se interessar em estudar na FDF, mas tem que se utilizar de todos os meios necessários,
diligência, para fazer a publicidade. Ocorre que a empresa coloca 5 dos 10 outdoors em locais afastados e escuros (realizou a
publicidade, mas foi insatisfatória). Houve o adimplemento, mas não foi adequado.
RESPONSABILIDADE CIVIL - Observações iniciais
Segundo Sílvio Rodrigues (1979, p. 04) a responsabilidade civil é “a obrigação que pode incumbir uma pessoa de reparar o prejuízo causado a outra, por fato
próprio ou por fato de pessoas ou coisas que dela dependem.”

Primeiramente, há que se ressaltar que a responsabilidade civil é um dever jurídico derivado, sucessivo, pois decorre da violação de um dever anterior, de um
dever primário.

Para que ocorra a responsabilidade civil, o dever de indenizar, é preciso que o devedor não tenha cumprido a obrigação, tenha causado prejuízo a um terceiro.

A ideia central da responsabilidade civil é que ninguém deve lesar outrem e caso ocorra essa lesão é necessário que a vítima ou o ofendido seja reparado em todos
os seus prejuízos.

Em síntese, tem como ideia a necessidade de qualquer ação ou omissão que cause prejuízo a terceiro e o gere o dever de indenizar.

Objetivo: tornar a vítima indene, ou seja, a pessoa que sofreu o prejuízo tem que ter ele reparado, voltando ao estado em que se encontrava anteriormente – “status
quo ante”.

• A responsabilidade civil não busca exatamente o dinheiro, mas sim a compensação e a reparação do dano.

Existem 3 requisitos para que ocorra a responsabilidade civil / dever de reparar:

1º) conduta; 2º) dano; 3º) nexo de causalidade.

Responsabilidade objetiva: não necessita da comprovação de culpa.

Responsabilidade subjetiva: exige a comprovação de culpa (imprudência, negligência, imperícia).


A estrutura do dever de reparar no direito civil
brasileiro
Aspectos relevantes do dever do reparar
Código Civil francês: o Código Civil de 1916, experimentou importante influência do denominado
Código Napoleônico.
No campo da responsabilidade, alguns princípios de reparação civil podem ser ali identificados como, por
exemplo, a independência das instâncias (distinção entre responsabilidade criminal e civil), a distinção
entre a responsabilidade contratual e extracontratual, a ideia de culpa em abstrato, e a noção de culpa
como elemento imprescindível à caracterização do dever de indenizar.
•Traz a ideia de que não há responsabilidade civil sem culpa, sendo assim a responsabilidade subjetiva
(conduta + dano + nexo de causalidade + culpa).
Código Civil brasileiro de 1916: filiou-se à teoria subjetiva, que exige prova de culpa ou dolo do
causador do dano para que seja obrigado a repará-lo. Em alguns poucos casos presumia a culpa do
lesante.
Aqui já se falava sobre a responsabilidade civil objetiva, mas a regra era a responsabilidade civil
subjetiva. O ônus recaia sobre a vítima (necessidade de se comprovar a culpa recaia sobre a vítima).
A estrutura do dever de reparar no direito civil
brasileiro
Aspectos relevantes do dever do reparar
Decreto n. 2.681 de 07 de dezembro de 1912 regula a responsabilidade civil das estradas de ferro: a segunda
revolução industrial trouxe consequências jurídicas importantes. De acordo com a aclamada teoria do risco,
iniciaram-se os debates para a responsabilidade daqueles que realizaram determinadas atividades em relação à
coletividade.
Nesse sentido, o decreto-lei 2.681/1912 previa a culpa presumida no transporte ferroviário. Por analogia, tal
preceito legislativo foi incidindo a todos os tipos de transporte terrestre.
Tanto a doutrina quanto a jurisprudência passaram a entender que a responsabilidade do transportador não seria
subjetiva por culpa presumida, mas objetiva, ou seja, independente de culpa.
Observação: a responsabilidade objetiva não vem com a CF/88, mas sim com o Decreto nº 2.681/1912.
Responsabilidade civil por danos nucleares (lei nº 6.453/1977): de acordo tal lei, será exclusiva do operador da
instalação nuclear, nos termos da lei, independentemente da existência de culpa, a responsabilidade civil pela
reparação de dano nuclear causado por acidente nuclear (Responsabilidade objetiva).
Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (lei nº 6.938/1991): estabeleceu a responsabilidade objetiva dos
causadores de danos ao meio ambiente, consagrando o princípio do poluidor pagador.
A estrutura do dever de reparar no direito civil
brasileiro
Aspectos relevantes do dever do reparar
Constituição Federal de 1988: no direito comparado com a massificação dos contratos, a teoria do risco mergulhou de vez
no âmbito privado ao prever a responsabilidade civil objetiva dos prestadores de risco e fornecedores de produtos por danos
causados aos consumidores vulneráveis.
Em nosso país, o reconhecimento desses direitos ocorreu após o “milagre brasileiro” dos anos setenta, com a massificação
das atividades privadas e com o incremento do movimento consumerista e com a massificação das atividades privadas . A
C.F./88 trouxe em seu bojo todas essas tendências, tais como a defesa do consumidor como norma principiológica (art. 5º,
XXXII), a reparação de danos imateriais ou morais (art. 5º, V e X), etc.
Ainda sobre responsabilidade, a C.F. trouxe em seu art. 37, § 6º que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, causarem a terceiros, assegurado o
direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (O Estado responde de forma objetiva em relação a
terceiros).
Código de Defesa do Consumidor: em 1990 surge o C.D.C., passando a consagrar a responsabilidade civil sem culpa como
regra à defesa do consumidor. Com tal previsão, pode-se concluir que houve a perpetuação da responsabilidade sem culpa
também nas relações privadas do Direito Brasileiro.
A reponsabilidade objetiva representa um aspecto do acesso à justiça, tendo em vista a conjuntura de desequilíbrio percebida
nas situações por ela abrangidas. Com certeza, afastada a responsabilidade objetiva, muito difícil seria uma vitória judicial
em uma ação promovida por um consumidor contra uma grande empresa.
Obs.: como exceção à regra de responsabilidade objetiva do C.D.C, é importante ressaltar que a responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais que será apurada mediante a verificação de culpa.
A estrutura do dever de reparar no direito civil
brasileiro
Código Civil de 2002: o C.C./2002, passou a tratar especificamente da responsabilidade objetiva de forma geral no art. 927, parágrafo
único, segundo o qual, haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
•Regra no CC: responsabilidade subjetiva
•Responsabilidade objetiva: nos casos especificados e lei (CDC, danos nucleares, CF) e quando a atividade desenvolvida implicar em risco.
Risco é um conceito jurídico indeterminado, ou seja, depende da situação em concreto.
▪Fortuito interno: por ser inerente a própria atividade desenvolvida, o agente responde.
▪Fortuito externo: por não ser inerente a própria atividade desenvolvida, afasta a responsabilidade objetiva.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Art. 927, caput – responsabilidade subjetiva (conduta + dano + nexo de causalidade + culpa).
Art. 186, ato ilícito – responsabilidade subjetiva (conduta + dano + nexo de causalidade + culpa).
Art. 187, abuso de direito – responsabilidade objetiva (conduta + dano + nexo de causalidade).
Art. 927, § único – responsabilidade objetiva (conduta + dano + nexo de causalidade).
A estrutura do dever de reparar no direito civil
brasileiro
De quem é a responsabilidade (quem é o autor do dano, infrator)? Quando identifica-se quem é o causador do dano é
possível transferir o dano do ofensor para o ofendido, para que seja possível a reparação do dano, ou seja, tornar a vítima
indene. Há que se imputar a conduta geradora do dano ao infrator, para que seja possível reparar ou compensar o dano
sofrido pela vítima.
O que é responsabilidade civil?
Origem no verbo respondere - obrigação que a pessoa tem de assumir as consequências jurídicas de sua atividade
(responder por aquilo que foi realizado).
Ulpiano neminem laedere - proibição de ofender – ninguém deve lesar outrem, deve-se tutelar os interesses jurídicos.
Dever jurídico sucessivo ou derivado – ou seja, a violação de um dever jurídico originário causou dano a alguém,
gerando um dever jurídico sucessivo, que é o de reparar o dano. Em síntese, a responsabilidade civil é um dever jurídico
derivado ou sucessivo, que surge para recompor o dano decorrente de um dever originário.
Ideia chave – tutelar, proteger a vítima, tornar a vítima indene. Buscar meios para tutelar os interesses da vítima, para
que ela se torne indene, para ser ressarcida.
José Dias de Aguiar (1994, p. 1) ressalta que “toda manifestação da atividade humana traz em si o problema da
responsabilidade”- temos que conduzir nossa vida sem causar prejuízo a outras pessoas. Nossas condutas não devem
provocar dano a terceiros, mas vivemos em sociedade complexa, que há riscos, condutas que vão causar prejuízos a
alguém. Porém, o importante é que esses prejuízos sejam reparados ou compensados.
Princípios norteadores da Responsabilidade Civil
Princípio da dignidade da pessoa humana;
Princípio da solidariedade;
Princípio da prevenção;
Princípio da reparação integral.

Princípio da dignidade da pessoa humana


O princípio da dignidade da pessoa humana identifica o direito de autodeterminação de cada pessoa. Traduz o valor
a ser preservado e resguardado por todos, para que seja possível o desenvolvimento integral e de forma integrada da
pessoa.
Esse princípio envolve a liberdade do ser humano. É o “coração” do patrimônio jurídico e moral da pessoa humana.
Dimensão dúplice – protetiva e promocional
Incidência da responsabilidade – tensão entre a autonomia privada e princípio da boa fé objetiva – admitindo-se a
responsabilidade civil nos casos de abuso de direito – responsabilidade objetiva (art. 187 do CC); responsabilidade
pré e pós-contratual (art. 422 do CC) e tutela de terceiros alheios ao negócio jurídico – função social do contrato
(art. 421 do CC).
Princípios norteadores da Responsabilidade Civil
Princípio da solidariedade
O princípio da solidariedade busca colocar o foco na tutela do ofendido.
Alvino Lima “dentro de um sistema solidarista, que não enxerga o indivíduo justapostos e isolados, mas
um organismo de humanidade no qual todos os membros são solidários”.
Preconiza a ideia de que é o foco da responsabilidade civil é deslocado da sanção do ofensor para a tutela
do ofendido (proteger o ofendido).
•O foco da responsabilidade civil foi deslocado. Inicialmente, o foco da responsabilidade civil era a sanção
do ofensor. Hoje, o foco é a tutela do ofendido, ou seja, não haverá preocupação com a sanção que será
aplicada ao ofensor, mas sim com proporcionar meios para que a vítima seja tutelada e se torne indene.
Dano deve ser compensado, reparado pelo ofensor.
Causalidade normativa – a responsabilidade surge pelo apelo à necessidade de se conceder a reparação
independentemente da capacidade do ofendido provar o liame entre o fato do agente e a lesão.
•Apelo que se faz a necessidade de se conceder a reparação independentemente da capacidade do ofendido
provar o liame entre o fato do agente e a lesão. Situações em que a vítima é compensada, reparada em seu
prejuízo, mesmo que não se possa provar esse nexo de causalidade.
Princípios norteadores da Responsabilidade Civil
Princípio da prevenção
Cerne da responsabilidade civil contemporânea (evitar e mitigar o dano) – ideia de que o dano
deve ser evitado ou mitigado, dependendo da situação em concreto.
Do direito remediador ao direito proativo – caso o dano já tenha ocorrido, que se evite o seu
agravamento (duty to mitigate the own loss). Dano deve ser evitado, mas caso ele ocorra, deve-se
diminuir, evitar o seu agravamento.
Exemplo: um posto de gasolina adquiria a gasolina de uma distribuidora, por preço reduzido,
sendo estabelecido que o posto só compraria com essa distribuidora. Mas, o posto passou a
adquirir de outras distribuidoras e mesmo assim a distribuidora exigiu preço reduzido. A
distribuidora não pode pedir indenização, pois tem que evitar o agravamento.
As 3 funções basilares da responsabilidade civil são: punição, precaução e compensação.
Princípios norteadores da Responsabilidade Civil
Princípio da reparação integral
Repor o ofendido ao status quo ante – tem por objetivo repor a vítima ao estado anterior ao evento dano.
Recompor a vítima, ofendido, ao estado que se encontrava anteriormente.
Observação: caso haja impossibilidade de retornar a vítima ao estado que se encontrava anteriormente, há
transferência ao patrimônio do ofensor ou causador do dano. Essa transferência significa que o patrimônio do
devedor responde por aquela conduta danosa, responde pelo evento danoso. Busca-se no patrimônio do ofensor,
causador do dano, a reparação desses danos.
Raramente a indenização é capaz de preencher a totalidade dos danos sofridos pela vítima.
Art. 944 do CC – a indenização se mede pela extensão do dano – reparação pode ser (i) natural ou (ii) pecúnia em
atendimento ao art. 947 do CC “se o devedor não puder cumprir a prestação na espécie ajustada, substituir-se-á
pelo seu valor, em moeda corrente”.
Noção de justiça corretiva / comutativa – obrigação de indenizar os danos tem por objetivo proporcionar a
compensação. A indenização se mede pela extensão do dano.
Princípio da eticidade – um dos princípios estruturantes do CC (Miguel Reale): (i) reparação da totalidade do dano
(função compensatória); (ii) vedação do enriquecimento injustificado do lesado (função indenizatória) e (iii)
avaliação concreta dos prejuízos efetivamente sofridos (função concretizadora) – “todo o dano, mas não mais que o
dano”.
Classificação da Responsabilidade
Responsabilidade moral e Responsabilidade jurídica
Responsabilidade moral: resulta da violação de uma norma moral e atua no campo da consciência da própria pessoa.
Violação de norma moral, em que não há repercussão jurídica.
Responsabilidade jurídica: Resulta da violação de uma norma jurídica e tem consequente repercussão na ordem jurídica. Há
infração a uma norma jurídico penal ou norma jurídico civil e uma responsabilidade civil e criminal.
Responsabilidade civil e a Responsabilidade criminal – art. 935 do CC
Responsabilidade civil: aqui o agente ou infrator cometeu uma conduta danosa, levando ao dever de reparar ou na
restauração da situação anterior, ou quando não for possível converte-se no pagamento em dinheiro (pagamento de
indenização ou compensação).
A responsabilidade civil tem um caráter patrimonial, porque o patrimônio do devedor responde pela conduta danosa realizada
pelo causador do dano. A vítima ou prejudicado pode pleitear ou não uma reparação ou uma compensação dos danos sofridos.
Responsabilidade criminal: aqui o agente infringiu uma norma de direito público (penal) e essa responsabilidade é pessoal,
ou seja, é intransferível e o agente ou ofensor sofre a cominação de uma pena, que pode ser privativa de liberdade, restritiva
de direito ou multa (pecuniária).
A responsabilidade civil é independente da responsabilidade criminal.
Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou
sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.
Espécies de Responsabilidade Civil
Quanto ao fato gerador (o que gera a responsabilidade) – contratual e extracontratual
Contratual: aqui há a indenização de negócio jurídico bilateral ou unilateral preexistente. Já tem uma RJO
preexistente. Caso haja inexecução do negócio jurídico bilateral a consequência é que o devedor responde pelas
perdas e danos, juros, atualização monetária e honorários advocatícios, e ainda pelas exceções no caso fortuito e
força maior. O ônus da prova compete ao devedor. As parte precisam ser capazes.
Extracontratual: prática de um ilícito (pessoa capaz e incapaz). Fonte da responsabilidade é a lesão a um direito
sem que exista RJO preexistente. O ônus da prova é da vítima.
Quanto ao agente – direta ou indireta
Direta: a própria pessoa que responde. É aquela realizada por ato próprio.
Indireta: Ato de terceiro, com o qual o agente tem um vínculo legal de responsabilidade pessoal, animal ou de
objeto inanimado.
Quanto ao fundamento – objetiva ou subjetiva
Objetiva: dever de reparar em função de risco da atividade desenvolvida ou quando há determinação legal. Não há
necessidade de comprovação de culpa (art. 187- abuso de direito e art. 927, § único).
Subjetiva: dever de reparar reside na culpa do agente (art. 186 – ato ilícito e art. 927, caput).
A estrutura do dever de reparar no direito civil
brasileiro
Natureza jurídica: a doutrina sustenta que a natureza jurídica da responsabilidade será
sempre sancionadora. Tal natureza, de acordo com Maria Helena Diniz, independe de se
materializar como pena ou compensação em pecúnia. As indenizações fixadas à título de
reparação civil são sanções jurídicas, que decorrem do princípio neminem laedere (dever
de não lesar a ninguém).
A natureza sancionadora é no sentido de punir, reparar o dano.
Funções:
◦ Reparar: compensando o dano à vítima – recomposição ao estado que se encontrava
anteriormente;
◦ Punir: punindo o ofensor – essa indenização serve para punir, já que busca no
patrimônio do ofensor a reparação integral do dano;
◦ Educar: busca-se educar o ofensor, desmotivando novas condutas lesivas.
Elementos / Pressupostos do dever de reparar
Elementos / Pressupostos do dever de reparar
Conduta: comportamento humano marcado pela voluntariedade consciente. Não é possível falar
em responsabilização civil por fato da natureza, pois, ainda que este ocasione dano, não decorrerá
de uma conduta humana.
Tal conduta, conforme o art. 186, poderá ser comissiva (pois decorre de uma ação) ou omissiva
(pois decorre de uma omissão).
Obs.: A regra é que seja comissiva, já que para configuração da omissão é necessário que haja
dever jurídico de praticar determinado ato, bem como a prova de que a conduta não foi praticada.
Tanto na ação, quanto na omissão, a conduta deve ser voluntária. Pois, se não houver domínio
da vontade humana na conduta, não haverá de se falar em responsabilidade civil.
Elementos / Pressupostos do dever de reparar
Dano: é elemento indispensável para configuração da responsabilidade civil, ainda que seja presumido, como pode ocorrer na
responsabilidade contratual, na qual o inadimplemento ocasiona o dano.
Dano é a diminuição ou subtração de um bem jurídico tutelado, material ou imaterial, a merecer reparação integral, com
retorno ao status quo ante.
Por isto, é possível afirmar que a responsabilidade civil se guia pelo paradigma da reparação integral, também chamada de
princípio do imperador, medindo-se a reparação pela extensão do dano. Aplica-se a teoria alemã da diferença, pela qual,
verifica-se como estaria o patrimônio do lesado se o dano não acontecesse e compara-se como ele é atualmente, em função do
aludido dano, indenizando a diferença.
Obs.: o princípio da reparação integral, todavia, tem exceção, segundo o parágrafo único do art. 944, caso ocorra manifesta
desproporção entre a gravidade da culpa e o dano (leia-se: culpa mínima e dano máximo), o magistrado poderá reduzir
equitativamente, o valor da indenização.
É possível o pleito cumulado, ou de forma isolada, dos mais diversos danos, como por exemplo, de patrimonial e moral, moral
e estético, etc. A cumulação é livre, desde que comprovada a existência dos danos.
Requisitos do Dano: nem todo dano é indenizável, para que seja, far-se-ão necessários alguns requisitos essenciais e
cumulativos, os quais são:
Violação de um interesse juridicamente tutelado;
Certeza do dano; Obs.: o dano há de ser certo quanto a sua existência.
Atualidade do dano. Obs.: dano futuro não autoriza reparação cogente.
Modalidades de dano:
❖Dano patrimonial ou material: consiste na lesão aos bens e direitos economicamente apreciáveis de alguém.
Afeta o patrimônio do ofendido, é a regra.
O dano patrimonial se divide em:
Dano emergente ou positivo: é aquilo que efetivamente se perdeu. Sua mensuração é identificada pela diferença
(teoria da diferença) entre o patrimônio da vítima antes do ato ilícito e a após a conduta.
Ex.: indenização do valor correspondente ao conserto do carro após colisão.
Lucros cessantes ou dano negativo: aquilo que razoavelmente se deixou de ganhar.
Ex.: indenização ao taxista pelo período em que seu veículo ficou parado, em razão de colisão, devendo receber o
que deixou de ganhar no período em que seu carro estava arrumando.
Dano reflexo ou por ricochete: prejuízo que atinge de forma oblíqua (indireta ou ricochete) pessoa próxima à
vítima direta da conduta. É aquele em que a vítima sofre os efeitos do dano causado diretamente a outrem.
Ex.: direito de indenização das pessoas intimamente ligadas a vítima, em razão daquele evento danoso. Essa
terceira pessoa sofre de forma reflexa os efeitos experimentados pela vítima. Filho que ajuíza ação em face do
assassino de seu genitor em razão de ter perdido, com o falecimento do pai, os alimentos necessários à
subsistência.
Modalidades de dano:
❖Dano extrapatrimonial: é o prejuízo ou lesão a direitos tutelados desprovidos de valor econômico imediato, cujo
conteúdo não é pecuniário e nem comercialmente reduzível a dinheiro, a exemplo dos direitos da personalidade. Atinge a
pessoa do ofendido, lhe acarretando dor, sofrimento, tristeza, vexame e humilhação.
Enunciado 589 da JDC “A compensação pecuniária não é o único modo de reparar o dano extrapatrimonial, sendo
admitida a reparação in natura (status quo ante), na forma de retratação pública ou outro meio.”
Súmula 37 do STJ “são cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do mesmo fato”.
❖Dano estético: qualquer modificação duradoura ou permanente na aparência externa de uma pessoa, modificação esta
que lhe acarreta um ‘enfeiamento’ e lhe causa humilhações e desgostos, dando origem, portanto, a uma dor moral.
Obs.: é visto pelo STJ como modalidade autônoma em relação ao dano moral, tanto que está sumulado o entendimento
de possibilidade de cumulação do dano moral como o dano estético.
Súmula 387 do STJ “é lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano moral”.
❖Dano atado a perda de uma chance: a teoria da perda de uma chance nasceu com o escopo de buscar ressarcimento
naquelas situações em que a conduta do lesante retira da vítima uma oportunidade séria e real.
Ex.: a perda de prazo de um recurso judicial, a frustração da chance de progressão na carreira, da oportunidade de
emprego, de concorrer a um determinado valor, da cura de uma doença, etc.
Obs.: já existem indicativos no STJ acerca da possibilidade de dano moral pela perda da chance do advogado que não
apresenta contestação nos autos de um processo.
Modalidades de dano:
❖Dano patrimonial direto: aquele que causa imediatamente um prejuízo ao patrimônio da vítima /
causado à própria vítima do fato lesivo / prejuízo que for consequência imediata da lesão.
❖Dano patrimonial indireto: atinge interesses jurídicos extrapatrimoniais do lesado / experimentado por
terceiros em razão do mesmo evento / resulta da conexão do fato lesivo com um acontecimento distinto.
❖Dano in re ipsa: dano que dispensa dilação probatória, pois é presumido. Pois o dano moral indenizável
não pressupõe necessariamente a verificação de sentimentos humanos desagradáveis como dor ou
sofrimento.
Obs.: o fato é que a depender do caso concreto o STJ deliberará se o dano é presumido ou não.
Ex.: de acordo com a súmula 403 do STJ., independe de prova do prejuízo para efeito de indenização a
publicação não autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comercias. Isto porque há um
dano presumido, haja vista a finalidade comercial e a ausência de autorização.
❖Dano existencial: alteração prejudicial e involuntária da cotidianidade da pessoa – evento lesivo levou a
suprimir, modificar ou delegar a sua realização.
Todo e qualquer ato que abale a motivação da existência da pessoa (sonhos, convívio social com família,
amigos).
Modalidades de dano:
❖Dano à vida de relação ou dano hedonístico: toca a reparação de privação sofrida pela pessoa da
possibilidade de gozar prazeres da vida inerentes à idade, cultura ou meio social que vive. Aqui a pessoa é
tocada por privação sofrida por ela.
❖Dano biológico: lesão temporária ou permanente à integridade psicofísica da pessoa. Esse dano é
suscetível de valoração médica (laudo que indicará qual é o dano biológico sofrido pela pessoa).
❖Dano psíquico: resulta de transtornos mentais de ordem patológica decorrentes de diversas circunstâncias
– configura-se pela existência de lesão à integridade psicofísica. Transtornos, disfunções, traumas, fobias,
neuroses que a pessoa tem e que lhe causam lesões.
❖Nervous shock or psychiatric injury: choque nervoso relacionada a pessoa ou alguém próximo dela
quando presencia situação grave à sua vida ou integridade física. É uma espécie de dano biológico.
❖Dano futuro: virá acontecer, contudo deve ser reparado antes do acontecimento.
❖Dano moral coletivo: ofensa aos direitos da personalidade que atinge um determinado grupo de pessoas
determinadas ou determináveis.
❖Dano Social: Dano que afeta a sociedade e que está atrelado ao princípio adotado pelo CC, que valorizou
o coletivo em detrimento do particular.
Elementos / Pressupostos do dever de reparar
Nexo de Causalidade: constitui o elemento imaterial ou virtual da responsabilidade civil, constituindo a
relação de causa e efeito entre a conduta culposa ou o risco criado e dano suportado por alguém.
Causa é o elo que une a conduta ao dano, gerando a responsabilidade civil. Na busca de tal elo a doutrina
e jurisprudência construíram diversas teorias, sendo as principais:
❑Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non): segundo esta teoria, causa é tudo aquilo
que tenha concorrido para o resultado danoso. Há, portanto uma equivalência de todos os antecedentes
(condições) que contribuíram para o resultado, inexistindo clara diferença entre causa e condição.
Na análise da causa aplica-se a fórmula de eliminação hipotética, sendo causa todo o antecedente que,
caso eliminado, faria com que o resultado desaparecesse.
Em direito penal, foram criados mecanismos de redução de nexo, sendo tal teoria ainda adotada pelo C.P.
O direito civil, por outro lado, face ao inconveniente, achou por bem afastar a incidência desta teoria na
sua responsabilidade.
Continuação das teorias do nexo de causalidade
❑Teoria da causalidade adequada: para tal teoria, causa é apenas a condição apta, por si só, a causar o dano. Causa
é o antecedente não só necessário, mas também adequado à produção do resultado danoso.
Realiza-se um juízo não só de necessidade, mas também de adequação, fazendo distinção entre causa e condição.
Sendo causa, apenas aquela determinante para o resultado danoso, desconsiderando as demais condições.
Ex.: se João gerou atraso de Pedro para pegar um voo, e em virtude disto Pedro embarcou em avião diverso e veio
a ser vitimado em acidente, João não poderá ser responsabilizado pela morte, visto que sua conduta não fora
adequada à produção deste resultado.
Obs.: neste exemplo, seria apto a gerar responsabilidade caso se estivesse diante a teoria da equivalência das
condições, mas não é em um juízo de causalidade adequada.
A crítica que se faz na doutrina a tal teoria, é que esta teoria confere grande grau de discricionariedade ao julgado
na análise dos antecedentes.
❑Teoria do dano direto e imediato: também chamada de teoria da interrupção do nexo causal, ou causalidade
necessária. Para esta teoria, causa é apenas o antecedente fático, ligado por um vínculo de necessidade ao resultado
danoso, determine este último como consequência direta e imediata.
Ex.: A foi ferido de forma leve por B em jogo de futebol. Por conta disto, C tratou de conduzi-lo até o hospital.
Caso no curso da carona, por falta de atenção de C, haja um acidente e A venha à óbito, B não tem como ser
responsabilizado por isto. Decerto a desídia de C na conduta gerou uma interrupção do nexo causal, sendo
quebrada a relação de causalidade anterior, desprovida de uma relação direta e imediata com o dano,
inaugurando-se uma nova, esta sim diretamente e imediatamente ligada ao dano.
Nexo de Causalidade
❑Teoria adotada pelo Código Civil é a teoria do dano direto e imediato – art. 403 do CC
“Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos
efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei
processual.”
Aplica-se àquela conduta que tem uma ligação direta e imediata com o evento lesivo.
❑Teoria do resultado mais grave (the thin skull rule ou the egg-shell skull rule)
Regra do crânio fino – essa regra pode ser aplicada em sede de responsabilidade civil, em que
buscando indenizar a vítima e caso não seja suficiente a aplicação de qualquer uma das três
teorias, aplicar-se-á a regra do crânio fino, ou seja, se o agente do dano deu causa ao resultado
mais grave, ainda que não possa visualizar a responsabilidade, é possível indenizar a vítima.
Culpa – Responsabilidade Subjetiva
Aguiar Dias (2011, p. 149) é “a falta de diligência na observância da norma de conduta, isto é, o desprezo, por parte do agente, do esforço
necessário para observá-la, com resultado, não objetivado, mas previsível, desde que o agente se detivesse na consideração das
consequências eventuais de sua atitude”.
Em síntese, a culpa traduz a falta de diligência (cuidado) na observância de uma norma de conduta. Culpa é a ausência de atenção.
o Elementos da culpa:
a) voluntariedade do comportamento do agente – voluntariedade do próprio agente para que se reconheça a culpabilidade.
b) Previsibilidade – indica que se o prejuízo causado é proibido pelo ordenamento jurídico ele era previsível, porque se não for previsível
interfere no nexo de causalidade e afasta a responsabilidade.
c) violação de um dever de cuidado – algo implícito na culpa e intencional no dolo.
o Graus da culpa:
a) culpa grave (culpa consciente) – ocorre quando de uma forma dolosa houver negligência extrema do autor, não prevendo aquilo que é
previsível para o homem comum.
b) culpa leve – significa que a lesão pode ser evitada com uma atenção ordinária ou se a pessoa agir de forma diligente.
c) culpa levíssima – ação extraordinária ou um especial conhecimento, habilidade do agente.
d) negligência, imperícia e imprudência
Imprudência: conduta precipitada; Negligência: falta de atenção devida, omissão; Imperícia: falta de habilidade técnica.
Espécies de culpa
Responsabilidade Civil no Código Civil
Código Civil de 2002: o C.C./2002, passou a tratar especificamente da responsabilidade objetiva de forma geral
no art. 927, parágrafo único, segundo o qual, haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos
casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.
•Regra no CC: responsabilidade subjetiva
•Responsabilidade objetiva: nos casos especificados em lei (CDC, danos nucleares, CF) e quando a atividade
desenvolvida implicar em risco.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em
lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
Art. 927, caput – responsabilidade subjetiva (conduta + dano + nexo de causalidade + culpa).
Art. 186, ato ilícito – responsabilidade subjetiva (conduta + dano + nexo de causalidade + culpa).
Art. 187, abuso de direito – responsabilidade objetiva (conduta + dano + nexo de causalidade).
Art. 927, § único – responsabilidade objetiva (conduta + dano + nexo de causalidade).
Responsabilidade objetiva
Art. 927, parágrafo único do CC “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.”
Casos de responsabilidade objetiva
Quando a lei estabelecer – art. 927, § único, CC.
Quando se tratar de atividade de risco – art. 927, § único, CC.
Art. 187 – abuso de direito
Cláusula geral de responsabilidade objetiva – a atividade de risco é uma cláusula geral. Risco é a probabilidade
de dano ou probabilidade de prejuízo (potencialidade desse dano, previsibilidade de perda ou responsabilidade pelo
dano). Eventos incertos e futuros, inesperados, mas que podem trazer as perdas e danos.
Enunciado 38 da I JDC/CFJ “A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do
parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade.”
Ideia central: o dever de reparar, na responsabilidade objetiva, resta quando ficar configurada a conduta + dano +
nexo de causalidade, decorrente de lei ou quando implicar em risco da atividade.
HIPÓTESES DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA NO CÓDIGO CIVIL
❖Abuso de direito;
❖Responsabilidade objetiva indireta ou por atos de outrem (arts. 932 e 933 do CC);
❖Responsabilidade objetiva por fato ou guarda de animal (art. 936 do CC);
❖Responsabilidade objetiva por fato da coisa (arts. 937 e 938 do CC);
❖Responsabilidade objetiva em relação a dívidas (arts. 938, 940 e 941 do CC).
Responsabilidade objetiva por abuso de direito
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os
limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Segundo Maria Helena Diniz o abuso de direito é o "uso de um direito, poder ou coisa além do permitido ou
extrapolando as limitações jurídicas, lesando alguém, traz o dever de indenizar.”
Enunciado 37 da Jornada de Direito Civil "A responsabilidade civil decorrente do abuso do direito
independe de culpa e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico."
Responsabilidade civil do incapaz
Art. 928. O incapaz responde pelos prejuízos que causar, se as pessoas por ele responsáveis não tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem de meios suficientes.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser equitativa, não terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.

❖ Responsabilidade civil do incapaz é uma responsabilidade civil subsidiária, porque o incapaz só responde caso seus responsáveis não tenham a obrigação de fazê-lo ou não
dispuserem de meios suficientes.

❖ Aqui a responsabilidade é objetiva, afastando a ideia de culpa presumida. Presunção de culpa traz a ideia de que o pai, empregador, curador respondem em razão da existência
de culpa in vigilando, in eligendo ou in custodiendo.

Enunciado 451 da V JDC/CFJ “A responsabilidade civil por ato de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva ou independente de culpa, estando superado o modelo de
culpa presumida.”

Qual a diferença entre a responsabilidade objetiva e a culpa presumida? Quando se fala em responsabilidade objetiva há a inversão do ônus da prova e não há a
necessidade de se provar a culpa. Quando se fala em culpa presumida, caso o ofensor provasse a ausência de culpa (provasse que restava afastada a culpa in eligendo, in
custodiendo ou in vigilando, afastava-se a culpa, pois estava-se diante de um modelo em que havia a presunção de culpa, ou seja, afastando a culpa afastava-se a
responsabilidade). Em se tratando de responsabilidade objetiva é possível o ofensor alegar as excludentes do nexo de causalidade para afastar o direito de reparar. Então, não há
que se falar de culpa. Nesta hipótese de responsabilidade objetiva o ofensor pode provar a culpa ou fato exclusivo da vítima, a culpa ou fato exclusivo de terceiro, ou caso
fortuito e força maior. Por isso, não se pode confundir responsabilidade objetiva com a culpa presumida, e as hipóteses previstas no art. 932 são identificadas como modelo de
hipótese de responsabilidade objetiva, estando superada a presunção de culpa.

❖ Os responsáveis (genitores), em relação a terceiros, serão considerados como responsáveis solidários (terceiro pode exigir tanto de um quanto de outro). Eventual culpa
exclusiva de um deles há a possibilidade do direito de regresso.
Enunciado 450 da V JDC/CJF “Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é objetiva, e não por culpa presumida,
ambos os genitores, no exercício do poder familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam separados, ressalvado o direito de regresso em
caso de culpa exclusiva de um dos genitores.”

Ideia central - responsabilidade do incapaz é subsidiária e equitativa (responsabilidade objetiva, afastando a culpa) e os genitores são responsáveis solidariamente.
Responsabilidade objetiva indireta
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições;
III - o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que lhes
competir, ou em razão dele;
IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de
educação, pelos seus hóspedes, moradores e educandos;
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente quantia.
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos. Responsabilidade Objetiva.
Incisos I e II (Responsabilidade subsidiária).
Incisos III, IV e V (Responsabilidade solidária).
• Responsabilidade solidária – art. 942, § único, do CC. "São solidariamente responsáveis com os autores os
coautores e as pessoas designadas no art. 932."
• Ideia central – em todas as hipóteses há uma reponsabilidade objetiva, independentemente de culpa.
Responsabilidade objetiva por fato ou guarda de animal
Art. 936. O dono, ou detentor, do animal ressarcirá o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou força
maior.
❖ Proprietário/detentor; relação de preposição / guarda – responsabilidade objetiva indireta (guardião que
tem relação de confiança com o dono do animal).
Aqui basta que seja proprietário, detentor ou haja relação de proposição, guarda, para que haja a responsabilidade
objetiva (conduta + dano + nexo de causalidade).
• Animal subtraído – se for animal subtraído e não puder ser identificado quem é o dono não terá a quem imputar a
responsabilidade.
• Animal selvagem – animal selvagem é aquele que não é de ninguém, então não há como imputar a
responsabilidade.
•Animal na pista – identificar se ele tem dono ou não para que haja a imputação da respectiva responsabilidade.
❖ Excludente de responsabilidade – responsabilidade objetiva mitigada, porque admite-se as excludentes de
responsabilidade quando provar a culpa da vítima ou a força maior.
Neste caso, será necessário analisar a situação em concreto para ver se houve ou não a excludente de
responsabilidade.
❖ Ideia central – responsabilidade objetiva do dono ou detentor do animal, independentemente de culpa, mitigada,
pois admite as excludentes de responsabilidade (culpa da vítima ou força maior).
Responsabilidade objetiva por fato do edifício
Art. 937. O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem de sua ruína, se
esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.
❖Conceito jurídico indeterminado, mas que é possível na análise do caso concreto identificar se
esses reparos eram necessários e manifestos.
Se provier da falta de reparos: responsabilidade objetiva.
Se não provier da falta de reparos: afasta a responsabilidade objetiva.
❖Responsabilidade objetiva (conduta + dano + nexo de causalidade), independe da comprovação
de culpa.
❖Ideia central – responsabilidade objetiva que protege terceiros e não necessariamente os
vizinhos. Quando se tratar de vizinhos há que se aplicar o direito de vizinhança.
❖Enunciado 556 da Jornada de Direito Civil "A responsabilidade civil do dono do prédio ou
construção por sua ruína, tratada pelo art. 937 do CC, é objetiva."
Responsabilidade objetiva por fato de coisa caída ou atirada dos prédios
Art. 938. Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responde pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem
lançadas em lugar indevido.
❖ Responsabilidade objetiva effusis (líquidas) et dejectis (sólidas) – ou seja, o dever de indenizar em decorrência da
queda ou abandono de objetos do alto de edifícios tem nascedouro no Direito Romano, denominada então
responsabilidade effusis et dejectis.
❖Condomínio - Enunciado 557 da Jornada de Direito Civil "Nos termos do art. 938 do CC, se a coisa cair ou for lançada
de condomínio edilício, não sendo possível identificar de qual unidade, responderá o condomínio, assegurado o direito de
regresso."
Neste caso, há a incidência da teoria da causalidade alternativa, porque se não for possível identificar o autor do dano,
quem responde é o condomínio. Mas, depois, o condomínio tem o direito de regresso quando se identificar quem foi o
autor do dano.
❖ Ideia central – Quando se tratar de uma responsabilidade por coisas lançadas dos prédios, sejam elas líquidas ou sólidas,
haverá incidência da responsabilidade objetiva do habitante ou do condomínio. Caso o condomínio tenha reparado o
prejuízo causado, resguarda-se o direito de regresso.
Responsabilidade objetiva em relação a dívidas
Art. 939 do CC. O credor que demandar o devedor antes de vencida a dívida, fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a esperar o tempo que
faltava para o vencimento, a descontar os juros correspondentes, embora estipulados, e a pagar as custas em dobro.
❖Responsabilidade do demandante por dívida não vencida - O Código Civil autoriza hipóteses de vencimento antecipado da dívida.
Mas, quando houver situação diferente da prevista no Código Civil (que autoriza o vencimento antecipado da dívida), estaremos diante da hipótese de
demanda por dívida não vencida. Neste caso, haverá a incidência do art. 939 do Código Civil.
Aqui, tem-se a hipótese em que o credor demanda o devedor antes do vencimento da dívida, sem que haja um motivo justificado (sem que haja uma
autorização legal para o vencimento antecipado). Tem-se como consequência a necessidade do demandante (credor) aguardar o prazo de vencimento e,
ainda, descontar todos os juros e pagar as custas em dobro.
Art. 940. Aquele que demandar por dívida já paga, no todo ou em parte, sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que for devido, ficará
obrigado a pagar ao devedor, no primeiro caso, o dobro do que houver cobrado e, no segundo, o equivalente do que dele exigir, salvo se houver
prescrição.
❖Trata-se de hipótese de responsabilidade civil do demandante por demandar dívida já paga, no todo ou em parte.
1ª hipótese – trata do dever de reparar quando o demandante cobrar por dívida já paga no todo ou em parte. Nesta hipótese, o demandado terá direto ao
pagamento do dobro que for cobrado.
2ª hipótese – cobrança de um valor superior àquele que é efetivamente devido. Nesta situação, o demandante será condenado a pagar o equivalente ao que
foi exigido.
Art. 941. As penas previstas nos arts. 939 e 940 não se aplicarão quando o autor desistir da ação antes de contestada a lide, salvo ao réu o direito de
haver indenização por algum prejuízo que prove ter sofrido.
Caso o demandante desista da ação antes da contestação, não haverá a aplicação de nenhuma penalidade, salvo se o demandado conseguir provar ou tenha
ele sofrido algum prejuízo decorrente desta situação.
Excludentes de causalidade
As excludentes de causalidade são situações em que se exclui o nexo de causalidade, porque é uma causa
estranha à conduta do agente. Casos em que há impossibilidade superveniente do cumprimento da
obrigação não imputável ao agente ou ao devedor.
• Conduta exclusiva da vítima - o evento danoso é causado pura e exclusivamente por uma conduta da
própria vítima (se a conduta que causou o dano é da própria vítima, afasta-se o nexo de causalidade) /
culpa concorrente (se a conduta da vítima também contribuiu para o evento dano. Neste caso não há
excludente de causalidade, mas sim uma redução no valor da indenização)– art. 945 do CC;
• Fato de terceiro - pessoa totalmente estranha à relação jurídica, sem qualquer relação de confiança ou
de preposto, ela causa um prejuízo a vítima (excludente de causalidade) – art. 929 e art. 930 do CC;
• Caso fortuito e força maior.
Obs.: a princípio o caso fortuito e força maior afasta a responsabilidade, mas há exceções:
1) Se expressamente se responsabilizar, responde pelo caso fortuito e força maior.
2) No caso de fortuito interno, inerente a própria conduta.
3) Se estiver inadimplente, responde pela conservação da coisa.
Excludentes de responsabilidade civil – afasta o dever de reparar
❖ Ausência de conduta – não há o dever de reparar, porque um dos pressupostos para que haja o dever de reparar é a conduta (se a conduta
não existe não há que se falar em responsabilidade civil).

❖ Ausência de dano – não há o dever de reparar sem o respectivo dano, porque não é autorizado o dano hipotético (não aconteceu, não foi
verificado). O art. 403 que afasta o dano hipotético, porque a vítima deve provar a adequação do nexo de causalidade e do dano sofrido.

❖ Ausência de nexo de causalidade – afasta a responsabilidade civil porque um dos pressupostos do dever de reparar é o nexo de
causalidade, que nada mais é que o vínculo entre a conduta do agente e o dano.

❖ Ausência do nexo de imputação – a quem vai se atribuir o dever de reparar (se não tiver a quem atribuir, há excludente de
responsabilidade).

❖ Cláusula de isenção de responsabilidade ou de não indenizar – Cláusula de isenção (sede contratual e autoriza a exclusão ou a limitação
da responsabilidade civil). Cláusula de não indenizar tem seu fundamento na autonomia privada e a liberdade de contratar (ela está presente
somente na responsabilidade contratual, não se admite a responsabilidade extracontratual).

Observação: a cláusula de não indenizar sofre limitações (não pode ser colocada quando se tem normas de ordem pública, hipótese em que
o dolo ou a culpa podem ser prestigiados). A cláusula de não indenizar não pode estar presente nos contratos de transporte.

Súmula 161 do STF - Em contrato de transporte, é inoperante a cláusula de não indenizar.

❖ Prescrição – art. 206, §3º (prescrição no prazo de 3 anos. No CDC o prazo é de 5 anos).
Responsabilidade objetiva
Art. 927, parágrafo único do CC “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua
natureza, risco para os direitos de outrem.”
Casos de responsabilidade objetiva
Quando a lei estabelecer – art. 927, § único, CC.
Quando se tratar de atividade de risco – art. 927, § único, CC.
Art. 187 – abuso de direito / Enunciado 37 da Jornada de Direito Civil
Cláusula geral de responsabilidade objetiva – a atividade de risco é uma cláusula geral. Risco é a probabilidade
de dano ou probabilidade de prejuízo (potencialidade desse dano, previsibilidade de perda ou responsabilidade pelo
dano). Eventos incertos e futuros, inesperados, mas que podem trazer as perdas e danos.
Enunciado 38 da I JDC/CFJ “A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do
parágrafo único do art. 927 do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano causar a pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade.”
Ideia central: o dever de reparar, na responsabilidade objetiva, resta quando ficar configurada a conduta + dano +
nexo de causalidade, decorrente de lei ou quando implicar em risco da atividade.
Teoria do Risco
▪ Risco proveito – quem tem o bônus também tem o ônus, ou seja, se há o lucro, nasce também o encargo.
1ª teoria que busca justificar a responsabilidade objetiva. Responsável é aquele que tira proveito da
atividade danosa (se tira proveito também tem o encargo). Proveito é avaliado pelo lucro ou vantagem
econômica que o causador do dano obter, cabendo a vítima a prova desse proveito.
▪ Risco profissional – o dever de indenizar tem lugar sempre que fato prejudicial for decorrente da
atividade ou profissão. A responsabilidade decorre da atividade ou profissão exercida pelo ofensor.
Atividade ou profissão traz diminuição na sua produtividade ou capacidade, ou seja o dever de reparar os
danos decorrentes de acidente de trabalho, independentemente de culpa.
▪ Risco excepcional – reparação se dá sempre que o dano é consequência de um risco que espaca à
atividade e acaba criando um perigo, ou seja, o dever de indenizar surge como uma consequência de uma
situação excepcional, que foge do comum, mesmo que estranha ao trabalho que normalmente é
desenvolvido ou desempenhado.
▪ Risco criado – ADOTADO PELO CÓDIGO CIVIL – Há o dever de indenizar toda vez que a lei
determina ou quando a atividade implicar em risco.
▪ Risco integral – admite a responsabilidade mesmo quando ausente o nexo de causalidade. Sempre
haverá o dever de indenizar, ainda que se trate de um caso de exclusão de causalidade, porque afasta
qualquer hipótese de trabalho com as excludentes de responsabilidade civil – CÓDIGO CIVIL NÃO
ADOTA.

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