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Monitoria de Direito Civil II

Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil

P R O F. D R A . A N A PA U L A B A G A I O L O M O R A E S B A R B O S A
M O N I TO R A : J Ú L I A S I LVA L U C H E S I
TELEFONE: (16) 99327-4301, E-MAIL:JULIALUCHESI0@GMAIL.COM
Modalidades de Obrigações no Código Civil:
Obrigação Plural
Obrigação objetivamente plural: é uma obrigação composta, que tem uma complexidade objetiva
(multiplicidade de objetos), ou seja, é formada por duas ou mais prestações.
A) obrigações cumulativas;
B) obrigações alternativas.

Obrigação subjetivamente plural: é uma obrigação composta, que tem uma complexidade subjetiva, ou
seja, é formada por uma pluralidade de sujeitos, seja no polo passivo, seja no polo ativo ou em ambos os
polos.
A) obrigações fracionárias / divisíveis - REGRA;
B) obrigações indivisíveis - EXCEÇÃO;
C ) obrigações solidárias - EXCEÇÃO.
Obrigação Simples (obrigação mínima)
A obrigação Simples é minimalista por essência. Há apenas uma prestação e há uma singularidade de sujeitos.
É aquela que destina-se a produzir um único efeito;
Libera o devedor quando cumprir a prestação a que se obrigara. Ou seja, quando o devedor realiza a prestação
ocorre a liberação do devedor pelo adimplemento;
Prestação positiva (dar, fazer) ou negativa (não fazer);
Segundo o art. 313 do CC – princípio fundamental do direito obrigação “credor não é obrigado a aceitar coisa
diversa”
Credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.
Obs. Caso o credor queira receber prestação diversa da que lhe é devida, pode, mas se configurará na modalidade
de pagamento indireto denominada de dação em pagamento.
Obs.2: Caso haja um consenso entre credor e devedor para modificar o objeto da obrigação, configurará pagamento
indireto na modalidade de novação objetiva.
Obrigação Objetivamente Plural
A) Obrigação Cumulativa / Conjuntiva
Flávio Tartuce traduz “obrigação pela qual o sujeito passivo deve cumprir todas as prestações previstas,
sob pena de inadimplemento total ou parcial” (2018, p. 69).
Em síntese, o devedor deve realizar todas as prestações para que haja o adimplemento (somente se exonera
quando realizar as duas ou mais prestações de forma conjunta). Caso ele não realize todas estará diante de
inadimplemento total (não cumpre nenhuma prestação) ou parcial (cumpre parcialmente a prestação).
Caracteres:
a) partícula aditiva “e” – é uma obrigação composta de duas ou mais prestações, com a presença da partícula
“e”;
b) relação obrigacional múltipla (mesma causa ou mesmo título) ;
c) aplica-se o Regime Geral das Obrigações;
d) art. 314 do CC – o credor não poderá ser obrigado a receber e nem o devedor a pagar por partes se assim
não convencionou (Princípio da Integralidade ou identidade física da prestação).
Exemplos – Obrigação Cumulativa
Ex.1: o devedor se compromete a construir a casa e a pintá-la. Caso o devedor apenas construa a
casa, haverá inadimplemento obrigacional.
Ex.2: Mário foi contratado por Júlia para preparar a terra e plantar 100 pés de café (obrigação
cumulativa numa prestação de fazer). Júlia, então, só ficará satisfeita quando Mário realizar as
duas prestações de forma conjunta.
Ex.3.: Art. 23 da Lei de Locação. Trata-se de obrigações que o locatário deve atender.
Obrigação Objetivamente Plural
B) Obrigação Alternativa / Disjuntiva (art. 252 a 256 do CC)
Para Ambroise Colin e Henry Capitant “aquela que constrange o devedor a uma, somente, de duas ou mais
prestações previstas, e que se extingue pela execução de uma ou outra” (AZEVEDO, 2011, p. 56)
Em síntese, esse modelo obrigacional tem como nota característica o cumprimento de apenas uma das variadas
prestações que podem existir naquela situação (apesar da pluralidade das prestações, essas se excluem no
pressuposto de que apenas uma delas deve ser realizada).
- Notas importantes:
a) partícula alternativa “ou” – cumprimento de apenas uma das prestações já libera o devedor;
b) caracteres: dualidade ou multiplicidade de prestações heterogêneas (prestações diferentes) / exoneração do
devedor pela satisfação de uma única prestação;
Ex. de duas ou mais prestações de dar: X deve entregar uma casa ou um apartamento ou um carro;
Ex. de duas ou mais prestações de fazer: X deve pintar a casa ou reformar a garagem ou trocar o portão.
Ex. de uma obrigação de dar ou uma obrigação de fazer: X deve plantar 1000 pés de café ou entregar 10 sacas
de café.
Continuação – Obrigação Alternativa
c) Concentração da prestação na obrigação alternativa (art. 252, caput do CC): “Nas
obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.”
Há liberdade contratual para estipular a quem caberá o direito de escolha do débito na obrigação
alternativa, de modo que, se nada se estipular, a escolha será direito do devedor.
§ 3º No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4º Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz
a escolha se não houver acordo entre as partes”
Em síntese, a escolha, em regra geral, cabe ao devedor, mas também pode ser feito pelo credor,
por terceira pessoa, por um grupo de pessoas ou até mesmo pelo juiz.
Continuação – Obrigação Alternativa
Aspecto referente à prestação em parte (art. 252, §1º): Não pode o devedor obrigar o credor a receber
parte em uma prestação e parte em outra.
Exemplo: Gaio se comprometeu a entregar para Justiniano 20 sacas de café ou R$ 20.000,00. Com isso,
Gaio não pode entregar 10 sacas de café e R$ 10.000,00, porque o que foi convencionado entre as partes é
que haja a entrega de R$ 20.000,00 ou de 20 sacas de café.
“Jus variandi” na escolha de prestação sucessiva (art. 252, § 2º do C.C.): se se tratar de prestações
periódicas ou reiteradas, a escolha efetuada em determinado tempo não privará o titular do direito da
possibilidade de optar por prestação diversa no período seguinte.
Ex. Ficou estabelecido que, em todo dia 10, sendo 4 prestações, Gaio deverá entregar para Justiniano 20
sacas de café ou R$ 20.000,00. Por se tratar de obrigação de trato sucessivo o legislador autoriza que em
cada período o devedor, caso for de sua escolha, que ele faça a faculdade de opção. Ou seja, na 1ª parcela
Gaio pode entregar R$ 20.000,00; na 2ª prestação R$ 20.000,00; na 3ª prestação entregar 20 sacas de café;
na 4ª prestação entregar 20 sacas de café – em cada período ele exerceu a faculdade de substituição.
Consequências da inexequibilidade (impossibilidade) das prestações
Hipótese A – impossibilidade de uma das prestações sem culpa do devedor, subsiste a remanescente – concentração da
prestação / redução do objeto obrigacional (art. 253 do CC)
Ex. Tem-se duas prestações e 1 delas se torna impossível de ser realizada (redução do objeto obrigacional). Prestação de
entregar o carro X ou o carro Y, mas antes da escolha o carro X pereceu. Sobrou o carro Y.
Hipótese B – impossibilidade de todas as prestações com culpa do devedor e escolha do devedor – a última que se
impossibilitou + perdas e danos (art. 254 do CC)
Devedor terá que arcar com a última que se impossibilitou + perdas e danos.
Hipótese C – impossibilidade de uma das prestações por culpa do devedor e escolha do credor – prestação subsistente ou da
prestação que se perdeu + perdas e danos (art. 255, 1 a parte do CC)
Prestação subsistente (carro Y + perdas e danos) ou valor do carro X + perdas e danos
Hipótese D – impossibilidade de todas as prestações por culpa do devedor e escolha do credor – valor de qualquer das
prestações + perdas e danos (art. 255, 2 a parte do CC)
Hipótese E – todas se impossibilitaram sem culpa do devedor – extingue-se a obrigação (art. 256 do CC) – volta-se ao status
quo ante, ou seja, as partes voltam ao estado em que encontravam anteriormente.
Obrigação Facultativa – Obrigação Simples
Obrigação Facultativa não é uma obrigação objetivamente plural, é uma obrigação simples.
Trata-se de uma obrigação simples, em que há apenas uma prestação e singularidade de sujeitos.
É devida uma única prestação, ficando, porém, facultado ao devedor, e só a ele, exonerar-se mediante o
cumprimento de prestação diversa e predeterminada. É a obrigação com faculdade de substituição.
Na obrigação facultativa, o objeto da prestação é determinado: o devedor não deve outra coisa e o credor
também não pode exigir outra coisa. Mas o devedor pode pagar coisa diversa daquela que constituiu
objeto da dívida.
Ex. Em um contrato de compra e venda Júlia tem que entregar um carro (com todas as especificidades)
para Gabriel. Nesse contrato foi estabelecido uma cláusula que outorga, caso seja conveniente e
oportuno para a devedora (Júlia), que ele possa substituir esse objeto (carro) pelo valor de R$ 10.000,00.
Júlia, no dia do adimplemento, pode entregar o carro ou o valor de R$ 10.000,00, pois ela exerce a
faculdade de substituição. (Possibilidade conferida ao devedor de substituir o objeto inicialmente
prestado, por outro, de caráter subsidiário e já especificado).
Continuação da Obrigação Facultativa
Origem: convenção (das partes, ou manifestação de vontade das partes) ou disposição legal.

- Avaliar a conveniência e oportunidade para que o devedor exerça a faculdade de substituição.

Obrigação alternativa sui generis – a faculdade de substituição não é objeto da obrigação, logo, o credor não pode exigi-la; já o
devedor pode optar por ela se isso for de sua vontade, não podendo ser coagido pelo credor.

Obrigação alternativa e obrigação facultativa – são distintas

Efeitos:

- O credor só pode pedir a coisa propriamente devida, pois a faculdade de substituição é única do devedor. O credor não pode exigir.

- A obrigação nula transforma-se em obrigação sem objeto, porque não pode ser exigida a prestação facultativa.

- Perecendo a coisa devida, fica o devedor inteiramente desonerado

Perecimento sem culpa do devedor: status quo ante – as partes voltam ao estado em que se encontravam anteriormente. O devedor só
poderá exercer a faculdade de substituição se for conveniente e oportuno para ele. Como a coisa pereceu sem culpa do devedor as partes
voltam ao estado que se encontravam anteriormente, sendo que o credor não pode exigir a outra prestação.

Perecimento com culpa do devedor: o devedor entregará o equivalente + perdas e danos, porque não há uma substituição.
Distinção da obrigação alternativa e obrigação facultativa
Exercícios
1) Nas obrigações alternativas, na falta de estipulação pelos contratantes, caberá
ao devedor a escolha da prestação.

Essa assertiva está:


A) Correta
B) Incorreta
Resposta exercício 1
Alternativa A, correta
Fundamento: Art. 252, caput, do CC: “Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se
outra coisa não se estipulou.”
Exercício 2
Nas obrigações alternativas, regulamentadas pelo Código Civil, estabelece que a escolha cabe ao
devedor, se outra coisa não se estipulou. Nesse contexto, assinale a alternativa incorreta.

Alternativas

A) Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
B) No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação.
C) Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção não poderá ser
exercida em cada período.
D) Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz
a escolha se não houver acordo entre as partes.
Resposta exercício 2
Incorreta é a letra C
A) Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
Art. 252, § 1º - Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
B) No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por
este assinado para a deliberação.
Art. 252, § 3º - No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo
por este assinado para a deliberação.
C) Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção não poderá ser exercida em cada
período.
Art. 252, § 2º - Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada
período.
D) Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não
houver acordo entre as partes.
Art. 252, § 4º - Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se
não houver acordo entre as partes.
Exercício 3
Reinaldo compromete-se com Joaquim a construir-lhe uma piscina e uma área de
lazer em sua residência, liberando-se do vínculo somente quando realizar as duas
prestações.
Trata-se de obrigação:
A) Cumulativa/conjuntiva
B) Facultativa
C) Alternativa/disjuntiva
Resposta exercício 3
A, cumulativa (partícula aditiva “e”)
Exercício 4
João e Maria firmaram contrato de compra e venda, nos moldes do Código Civil. Ficou estipulado, em uma
das cláusulas do referido contrato, que João pagará a dívida perante Maria, mediante a entrega de R$
400.000,00 ou um apartamento devidamente cientificado nesse valor. Assim, tem-se que:

Alternativas
A) se todas as prestações estipuladas em contrato vierem a se tornar impossíveis, mesmo com culpa do
devedor, extinguir-se-á a obrigação.
B) a categoria das obrigações plurais ou compostas é formada pelas obrigações cumulativas, facultativas e
alternativas, no caso do exemplo acima, tem-se um exemplo típico da modalidade das obrigações
facultativas.
C) de acordo com o exemplo acima, sendo este uma obrigação alternativa, de acordo com o ordenamento
civil atual, em se tratando da escolha do objeto, esta cabe ao credor, Maria, ou ao sujeito ativo da
prestação, se outra coisa não se estipulou.
D) de acordo com o exemplo acima, sendo este uma obrigação alternativa, de acordo com o ordenamento
civil atual, em se tratando da escolha do objeto, cabe a João promover a escolha, se outra coisa não se
estipulou.
Resposta exercício 4
Resposta: D, Artigo 252, do CC: "Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor se
outra coisa não se estipulou".
Exercício 5
Em um contrato de compra e venda Júlia tem que entregar uma moto (com todas as
especificidades) para Mariana. Nesse contrato foi estabelecido uma cláusula que outorga, caso
seja conveniente e oportuno para a devedora (Júlia), que ela possa substituir esse objeto (moto)
pelo valor de R$ 20.000,00.
Júlia, no dia do adimplemento, pode entregar o carro ou o valor de R$ 20.000,00, pois ela exerce
a faculdade de substituição. Possibilidade conferida a Júlia de substituir o objeto inicialmente
prestado, por outro, de caráter subsidiário e já especificado.
Trata-se de obrigação:
A) Cumulativa/conjuntiva
B) Facultativa
C) Alternativa/disjuntiva
Resposta exercício 5
B, facultativa (vide anotações no material sobre a obrigação facultativa).
Obrigação Subjetivamente Plural
A) Obrigações Fracionárias / Divisíveis – art. 257 do CC
Para Álvaro Villaça a obrigação é divisível “quando o objeto de prestação (coisa ou fato), devido pelo devedor ao credor é suscetível de
cumprir-se, fracionadamente.”
É aquela cuja prestação é suscetível de cumprimento parcial, sem prejuízo de sua substância e de seu valor.
O objeto da prestação é divisível (dar/fazer).
Não pode haver impedimento de ordem física, legal, convencional ou econômica para seu fracionamento.
Presunção legal (art. 257 do C.C.): se houver multiplicidade de devedores ou de credores em obrigação divisível, haverá presunção
legal, juris tantum (relativa), de que a obrigação está dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos forem os credores ou
devedores.
Art. 257: “Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”
Obs.: dessa presunção decorre o princípio do “concursu partes fiunt”, em que as partes se satisfazem pelo concurso, pela fração,
divisão. Ou seja, havendo concurso de mais participantes numa mesma obrigação, nenhum credor poderá pedir senão a sua parte,
nenhum devedor está obrigado senão pela sua parte material, ou intelectual, conforme o caso.
Ex. Três devedores da obrigação divisível de entregar 120 sacas de café para um único credor, aplicando-se a presunção relativa de
divisão igualitária, cada devedor deverá entregar 40 sacas.
Ex.2: 1 devedor e 2 credores, e ficou estabelecido que o devedor deveria entregar R$ 50.000,00. Se o devedor pagar a integralidade a
apenas 1 dos credores, ele não se exonera, porque ele pagou errado, deveria ter entregue metade para um credor e metade para o outro.
Consequências da pluralidade de sujeitos nas obrigações divisíveis:
a) direito de exigir a fração no crédito (credor) – cada credor só pode exigir a sua quota parte;
b) dever de pagar a quota parte (devedor) – cada devedor só tem a obrigação de pagar a sua quota
parte;
c) solver integralmente não implica em desoneração – pagou errado;
d) constituir em mora o credor que se recusar a receber – pluralidade de credores e um deles se
recusa a receber a prestação. Estaremos diante da mora do credor;
e) insolvência de um dos devedores – caso um dos devedores se torne insolvente, não prejudicará
os demais.
Obs. A obrigação divisível está presente nas obrigações de dar, obrigações pecuniárias, obrigação
genérica (obrigação de dar coisa incerta) e na obrigação de fazer de natureza fungível.
Obrigação Subjetivamente Plural
B) Obrigações Indivisíveis– art. 258 a 263 do CC
É aquela cuja prestação, tendo por objeto coisa ou fato não suscetível de divisão, só pode ser
cumprida por inteiro por sua natureza, por motivo de ordem econômica ou dada a razão
determinante do negócio jurídico, não comportam sua cisão em várias obrigações parceladas
distintas, pois, uma vez cumprida parcialmente a prestação, o credor não obtém nenhuma
utilidade ou obtém a que não representa a parte exata da que resultaria do adimplemento integral.
Ex. (indivisibilidade pela natureza): entrega de um animal.
Ex.2 (indivisibilidade por motivo de ordem econômica): dar uma pedra preciosa.
Ex.3 (indivisibilidade em razão de negócio jurídico): reforma de um prédio por vários
empreiteiros, em que o dono da obra convenciona sua exigência por inteiro de qualquer deles.
O Art. 258 estabelece que “A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma
coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica,
ou dada a razão determinante do negócio jurídico”.
Obrigação indivisível e pluralidade de devedores
(art. 259 do CC)
Se houver vários devedores, sendo a obrigação indivisível, cada um deles será obrigado pelo
débito todo, nenhum deles poderá solvê-la por parte.
O devedor que pagar a dívida sub-rogar-se-á no direito do credor em relação aos demais
coobrigados, podendo cobrar de cada um deles as quota-partes correspondentes e as garantias
reais ou fidejussórias relativas à obrigação principal.
Obs.: esta sub-rogação é legal ou automática.
Ex.: se A, B e C se obrigam a entregar a D uma escultura avaliada em R$ 18.000,00, tal entrega
deverá ser feita por qualquer deles, podendo o credor reclamá-la tanto de um quanto de outro. Se
por exemplo, A adimplir a obrigação, sub-roga-se nos direitos de D, podendo cobrar de B e C as
quota-partes que lhes cabem (B e C devem entregar a A o valor de R$ 6.000,000).
Multiplicidade de credores e indivisibilidade da prestação
(art. 260 do CC)
Se tiver obrigação indivisível com pluralidade de credores, cada um deles poderá exigir, judicial ou extrajudicialmente, o débito
inteiro, mas o devedor só se desobrigará pagando:
o A todos conjuntamente; ou
o A um deles, dando este, caução de ratificação dos outros credores. Não havendo essa garantia, o devedor deverá, após
constituídos, os credores, em mora, promover o depósito judicial da coisa devida.
Obs.: em relação a exigência de que o pagamento deve ser feito a todos os credores ou a um deles, se este der caução, outra não
poderia ser a solução legal, porque a obrigação indivisível não é solidária; logo, o pagamento feito a um credor não exonera o
devedor da obrigação perante os demais.
Ex.: se A é devedor de uma obrigação indivisível e tem que entregar uma vaca avaliada no valor de R$ 15.000,00 aos B, C e D;
para solver a dívida, ou A paga a B, C e D, conjuntamente, ou paga, por exemplo, somente a C, se este der caução de ratificação dos
outros credores (relação externa – indivisível).
Na relação interna, o credor C passa a ser o devedor e tem que pagar aos credores B e D a quota parte deles, que seria de R$
5.000,00 para cada um.
•Direito dos cocredores receber a parte cabível (art. 261 do C.C.): cada cocredor, sendo indivisível a obrigação, terá direito de
exigir em dinheiro daquele que receber a prestação por inteiro, a parte que lhe caiba no total.
Remissão da dívida por um dos credores
(art. 262 do CC)
Remissão é o perdão. Quando se dá a remissão tem-se a liberação graciosa do devedor pelo credor.
Na remissão, o credor voluntariamente abre mão de seus direitos creditórios, com o objetivo de extinguir a relação jurídica
obrigacional, mas é importante que o devedor dê o seu consentimento, que pode ser feito de forma expressa ou tácita. E, por
se tratar de um negócio jurídico personalíssimo, esse consentimento dado pela pessoa do devedor; não pode prejudicar
terceiros.
A remissão do débito por parte de um dos credores não atingirá o direito dos demais, pois a dívida não se extinguirá em
relação aos outros; apenas o vínculo obrigacional sofrerá uma diminuição em sua extensão, uma vez que se desconta em
dinheiro a quota parte do remitente.
Ex.: se A deve entregar uma joia de R$ 90.000,00 a B, C e D, tendo B remetido o débito, C e D exigirão a joia, mas deverão
indenizar A, em dinheiro (R$ 30.000,00), da parte que B o perdoou.
Devedor, no caso, teve o direito de exigir a torna, o troco, ou seja, quando ele realizou a prestação o credor descontou a quota
parte do credor remitente.
Obs.: de acordo com o parágrafo único do art. 262 do C.C. a transação, a novação, a compensação e confusão em relação ao
um dos credores não operam a extinção do débito para com os outros cocredores, que só a poderão exigir descontada a quota
parte daquele.
Perda da qualidade da indivisibilidade
(art. 263 do CC)
Art.263: “Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.
§ 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por
partes iguais.
§ 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos”.
a) conversão da obrigação indivisível em perdas e danos (equivalente + perdas e danos);
b) analisar a culpa de todos (se a culpa for de todos – todos respondem pelo equivalente + perdas e danos);
c) analisar a culpa de um dos devedores (se a culpa for de um – todos respondem pelo equivalente, mas
somente o culpado responde pelo equivalente + perdas e danos).
Enunciado 540 da VI JDC “Havendo perecimento do objeto da prestação indivisível por culpa de apenas
um dos devedores, todos respondem, de maneira divisível, pelo equivalente e só o culpado, pelas
perdas e danos”
Exercícios
1) A, B e C, devedores de D (credor), comprometeram a entregar 180 sacas de café a D, no dia
17/05/2021. Porém, no dia referido, o devedor A pagou a D a integralidade da prestação, ou seja,
as 180 sacas de café.
Diante do exposto, diz-se que a situação narrada é:
A) Correta
B) Errada
Resposta exercício 1
B) Errada, tendo em vista que por ser uma obrigação divisível, cada um dos devedores deveria
entregar 60 sacas de café, não podendo um deles entregar a integralidade.
Exercício 2
A obrigação é indivisível quando:

I. A prestação tem por objeto uma coisa não suscetível de divisão, por sua natureza.
II. A prestação tem por objeto um fato não suscetível de divisão, por motivo de ordem econômica.
III. A prestação tem por objeto uma coisa não suscetível de divisão, dada a razão determinante do negócio
jurídico.

Após analisar as afirmações acima, marque a alternativa correspondente.


A) A alternativa II é a única correta.
B) As alternativas I e III são as únicas corretas.
C) Estão incorretas as alternativas I, II e III.
D) Estão corretas as alternativas I, II e III.
Resposta exercício 2
D - Estão corretas as alternativas I, II e III.
Segundo o artigo 258, A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou
um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a
razão determinante do negócio jurídico.
Exercício 3
Acerca dos direitos das obrigações, assinale a alternativa correta.
A) Quando se tratar de coisa incerta deverá ser indicada, ao menos, pelo gênero e
pela qualidade.
B) Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, com culpa do devedor, lhe torne
impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.
C) Nas obrigações alternativas, a escolha caberá ao credor, se outra coisa não se
estipulou.
D) Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.
Resposta exercício 3
Alternativa D
a) ERRADO: Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
b) ERRADO: Art. 250. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do
devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar.
c) ERRADO: Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa
não se estipulou.
d) CERTO: Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e
danos.
Exercício 4
Dentre as modalidades de obrigações previstas no Código Civil, estão as obrigações
divisíveis e indivisíveis. No tocante a esta modalidade, é CORRETO afirmar que:

A) Não perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e


danos.
B) Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será
obrigado pela dívida toda.
C) O devedor que paga a dívida, sub-roga-se no direito de devedor em relação aos
outros coobrigados.
D) Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação ficará extinta para com os
outros.
Resposta exercício 4
Alternativa: B
a)ERRADA. art. 263/CC: Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas
e danos.

b)VERDADEIRA. art. 259/CC

c)ERRADA. ART. 259,§ único/CC: O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do
credor em relação aos demais coobrigados.

d)ERRADA. art.262/CC: Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficara extinta para


com os outros; mas estes só a poderão exigir, descontada a quota do credor remitente.

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