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Teoria geral das

obrigações
Introdução

Consoante às lições do professor Carlos Roberto Gonçalves, podemos conceituar o direito


obrigacional com sendo:

O vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do devedor
(sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma relação de
natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório, cujo objeto consiste numa
prestação economicamente aferível.
Obrigação natural e civil

■ Civis: as que encontram respaldo no direito positivo, podendo seu


cumprimento ser exigido pelo credor, por meio de ação.

■ Naturais: as inexigíveis judicialmente. Nessa modalidade, o credor não


tem o direito de exigir a prestação, e o devedor não está obrigado a pagar.
Obrigação natural e civil

• (A) Lourival Nóvoa se compromete a levar sua irmã ao casamento dela, às 17 horas de uma sexta feira. Ocorre que
ele muito cansado, pega no sono só acordando às 21 horas daquele dia. A irmã dele mora em local de diDcil acesso e
só consegue chegar na Igreja às 20h00 quando o padre já não podia mais realizar seu casamento. Entendendo a
situação ele reagenda para o dia seguinte. Ela fica chateada com o irmão, principalmente porque havia marcado uma
festa para o dia seguinte, ficando muito corrido a festa e o casamento no mesmo dia.

• (B) Victor Russo produtor de laPcínios fará o transporte de produtos perecíveis para abastecer o mercado de
Rogério Penna. Ele deveria sair na segunda feira conforme se comprometeu, pois são dois dias de viagem e Rogério
está quase sem produtos para vender. Na quarta feira é o dia em que mais vende em seu mercado. Ocorre que Victor
Russo resolveu sair só na quarta feira, pois na terça marcou compromisso caseiro.

Diante dos casos (A) e (B): (i) Que 2pos de responsabilidade podem ser encontradas: natural ou civil? (ii) Quais as
consequências nos dois casos para Lourival e Victor? (iii) Existe relação jurídica em algum dos dois casos?
Fontes Obrigacionais

Lei: isso porque da Contrato: é a fonte Atos ilícitos: Atos unilaterais: Títulos de crédito:
lei pode surgir a principal do direito pra=cado um ato são as denominadas de onde surgem as
obrigação. Como no obrigacional. ilícito (art. 186 e 187 declarações obrigações
caso dos Direitos de do CC/02) que unilaterais de cambiais.
Vizinhança. venha a causar vontade, como é o
dano a alguém, caso da promessa
nasce a obrigação de recompensa.
de indenizar a
ví=ma do dano (art.
927 do CC/02).
Relação jurídica obrigacional

01 02 03
Elemento Elemento objetivo Elemento
subje-vo (credor ou material imaterial ou
e devedor); (prestação); vínculo jurídico
(vínculo entre
credor e devedor).
Elemento subjetivo

O sujeito ativo é o credor da


O sujeito passivo da relação
obrigação, aquele em favor de
obrigacional é o devedor, a
quem o devedor prometeu
pessoa sobre a qual recai o dever
determinada prestação. Tem ele,
de cumprir a prestação
como titular daquela, o direito
convencionada.
de exigir o cumprimento desta.
Elemento objetivo ou material
lícito;

possível;

Prestação determinado ou determinável; e

economicamente apreciável.
Vínculo jurídico da relação obrigacional (elemento abstrato)

Vínculo jurídico da relação obrigacional é o liame


existente entre o sujeito a@vo e o sujeito passivo
e que confere ao primeiro o direito de exigir do
segundo o cumprimento da prestação.

Nasce das diversas fontes que serão


estudadas no item seguinte, quais sejam,
os contratos, as declarações unilaterais da
vontade e os atos ilícitos.
Responsabilidade • Hoje impera a responsabilidade
patrimonial do devedor, o qual não
patrimonial do irá mais responder com seu próprio
corpo pelo inadimplemento, mas com
devedor seu próprio patrimônio.
Atos
unilaterais
• Nas declarações unilaterais de
vontade, a obrigação nasce de
uma simples declaração de uma
única parte. Essa declaração, uma
vez emitida, torna plenamente
exigível aquilo que foi declarado.
Ao chegar ao conhecimento
daquele em que foi direcionada a
obrigação, se o sujeito cumpriu,
terá direito ao que foi emitido.
ATOS UNILATERAIS

promessa de gestão de enriquecimento pagamento


recompensa; negócios; sem causa. indevido;
Promessa de
recompensa

O art. 854 DO CC/02 aduz: A pessoa que cumpriu a tarefa,


“aquele que, por anúncios ainda que não tivesse movida
públicos, se comprometer a pelo interesse da promessa de
recompensar, ou graBficar, a recompensa, poderá exigir a
quem preencha certa condição, recompensa (art. 855 do CC/02).
ou desempenhe certo serviço,
contrai obrigação de cumprir o
promeBdo.”
Promessa de
recompensa
Requisitos
Publicidade: jornais, revistas, cartazes, internet, outro meio.

Especificação da condição a ser preenchida ou do serviço a ser


executado: ter determinada característica ou fazer determinada coisa;

Indicação da recompensa ou gratificação a ser paga: valor ou outra


coisa que o promitente queira dar em troca da condição ou serviço
Objeto da Promessa

Uma • Exemplo: oferece-se um produto


voltado ao público feminino da
característica terceira idade

• Exemplo: encontrar um cachorro


Uma tarefa perdido

Uma • Exemplo: compeIção esporIva


competição
Objeto da recompensa
A recompensa pode ser uma quantia em dinheiro.
• Exemplo: pago mil reais para quem achar meu cachorro perdido.

Uma coisa/objeto
• Exemplo: um clube faz uma competição esportiva e o prêmio
será um troféu
Obrigação de fazer ou não fazer
• Exemplo: clínica estéPca faz uma promoção e o ganhador levará
um pacote de serviços estéPcos gratuitos.
Art. 104. A validade do
negócio jurídico requer:
Validade I - agente capaz;
do
negócio II - objeto lícito, possível,
determinado ou determinável;
jurídico
III - forma prescrita ou não
defesa em lei.
Revogação da proposta

Art. 856. Antes de prestado o serviço ou


preenchida a condição, pode o promitente revogar
a promessa, contanto que o faça com a mesma
publicidade; se houver assinado prazo à execução
da tarefa, entender-se-á que renuncia o arbítrio de
retirar, durante ele, a oferta.
Parágrafo único. O candidato de boa-fé, que houver
feito despesas, terá direito a reembolso.
Candidatos ao prêmio
Art. 857. Se o ato contemplado na promessa for praticado por mais de
um indivíduo, terá direito à recompensa o que primeiro o executou.

Art. 858. Sendo simultânea a execução, a cada um tocará quinhão igual


na recompensa; se esta não for divisível, conferir-se-á por sorteio, e o
que obtiver a coisa dará ao outro o valor de seu quinhão.

Art. 859. Nos concursos que se abrirem com promessa pública de


recompensa, é condição essencial, para valerem, a fixação de um prazo,
observadas também as disposições dos parágrafos seguintes.
§1º A decisão da pessoa nomeada, nos anúncios, como juiz, obriga os
interessados.
§2º Em falta de pessoa designada para julgar o mérito dos trabalhos que
se apresentarem, entender-se-á que o promitente se reservou essa
função.
§3º Se os trabalhos tiverem mérito igual, proceder-se-á de acordo com
os arts. 857 e 858.
Estudo de caso

A Secretaria de Cultura do governo do DF prometeu recompensa para quem prestasse


informações que levassem à localização de um quadro furtado de um museu público, e
três pessoas, em momentos distintos, prestaram informações fidedignas que conduziram
à apreensão da referida obra de arte. Nessa situação, como deve agir a Secretaria de
Cultura do governo do DF ?
Exercício de fixação

IDECAN - 2022 - Analista Judiciário (TJ PI)/Judiciária/Oficial de Justiça e Avaliador

Um adolescente encontrou um gato na rua que estava desaparecido e cujo dono havia divulgado nos
postes das redondezas uma recompensa a quem o achasse.

O jovem devolveu o animal ao dono e, por conseguinte, a recompensa


A) é inexigível em razão de tratar-se de menor incapaz.
B) é indevida pois o anúncio informal não é documento hábil para constituir a obrigação de recompensa.
C) é devida, uma vez que se trata de ato jurídico bilateral na forma de contrato informal.
D) deve ser honrada, pois o anúncio público obriga o dono do animal a cumprir o prometido.
E) é inexigível, pois decorre de ato jurídico unilateral em que apenas a vontade de uma das partes é fonte
da obrigação.
Gestão de negócios
Art. 861. Aquele que, sem
autorização do interessado,
intervém na gestão de negócio
alheio, dirigi-lo-á segundo o
interesse e a vontade presumível
de seu dono, ficando responsável
a este e às pessoas com que tratar.
Gestão de negócios
Desconhecimento da gestão do
dono do negócio – o dono do Espontaneidade da intervenção
negócio/coisa não pode saber Negócio alheio – o negócio a ser
– o terceiro que não é dono tem
cuidado tem que ser de outrem,
que o terceiro está cuidando do que ir cuidar do negócio de livre
e não de propriedade daquele
que é seu. Se soubesse, e espontânea vontade, sem
caracterizar-se-ia outro instituto que vai geri-lo.
ninguém mandar.
jurídico (mandato).

Atuação no interesse do dono –


a pessoa que vai gerir tem que Utilidade da gestão – as Propósito de obrigar o dono do
praPcar todos os atos que atividades que a pessoa praticar negócio – não é uma doação de
acredita sinceramente ser têm que ser úteis, o mínimo serviços, a gestão conta com a
interesse do dono do negócio, e necessário para conservação do posterior obrigação do dono do
não beneficiando a si e negócio. negócio a ressarcir gastos.
prejudicando o proprietário.
Gestão de negócios
Em regra, o gestor só será responsabilizado se Jver agido com culpa, conforme a
responsabilidade subjeJva do art. 866 do CC/02.

Se o gestor se fizer substituir por outrem, responderá pelas faltas do substituto.

Se a gestão for conjunta, prestada por várias pessoas ao mesmo tempo, existe
responsabilidade solidária entre todos os gestores, consagrada no art. 867,
parágrafo único, do CC/02.
Gestão de negócios
Quando o dono do negócio retorna, há duas opções:
• concordar e ratificar a gestão, convertendo a atuação do vizinho em
mandato, devendo ressarcir o gestor por todas as despesas
necessárias e úteis pela sua atuação. Essa ratificação retroage ao dia
do começa da gestão, tendo efeito ex tunc (art. 873 do CC/02);
• desaprovar a atuação do gestor, situação na qual poderá pleitear
perdas e danos, ainda que se trate de operações arriscadas no caso
fortuito ou força maior, mesmo que o dono costumasse fazê-las, ou
quando preterir interesse deste em proveito de interesses seus.
Enriquecimento
sem causa

Segundo o art. 884 do CC/02,


aquele que, sem justa causa, se
enriquecer à custa de outrem,
será obrigado a restituir o
indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores
monetários.
Pagamento
indevido
• O pagamento indevido é o pagamento sem o débito.

• Segundo o art. 876 do CC/02, todo aquele que recebeu o


que lhe não era devido fica obrigado a restituir.

• Portanto, o pagamento indevido, que é um ato


unilateral, faz nascer a obrigação de restituir.

• Pagamento indevido é espécie do gênero enriquecimento


sem causa.

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