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ESTRUTURA DA OBRIGAÇÃO
1. NOÇÕES GERAIS
Entendida a obrigação, em sentido mais abrangente, como a relação jurídica pessoal por
meio da qual uma parte (devedora) fica obrigada a cumprir, espontânea ou coativamente, uma
prestação patrimonial em proveito da outra (credora), faz-se necessário analisar a sua constituição
estrutural.
Posto isso, entendemos que a relação obrigacional é composta por três elementos
fundamentais:
a) subjetivo ou pessoal:
- sujeito ativo (credor)
- sujeito passivo (devedor)
Graficamente teríamos:
Vínculo Jurídico
PRESTAÇÃO
(DAR, FAZER OU NÃO FAZER)
Assim, nas relações obrigacionais mais simplificadas, o sujeito passivo (devedor) obriga-
se a cumprir uma prestação patrimonial de dar, fazer ou não fazer (objeto da obrigação), em
benefício do sujeito ativo (credor).
Note-se, outrossim, a existência de relações jurídicas complexas, nas quais cada parte é,
simultaneamente, credora e devedora uma da outra. É o caso da obrigação decorrente do contrato de
compra e venda: o vendedor é credor do preço e devedor da coisa; ao passo que o comprador é
credor da coisa e devedor do preço.
“A prestação consiste, em regra, numa atividade, ou numa ação do devedor (entregar uma
coisa, realizar uma obra, dar uma consulta, patrocinar alguém numa causa, transportar
alguns móveis, transmitir um crédito, dar certos números de lições etc.). Mas também
pode consistir numa abstenção, permissão ou omissão (obrigação de não abrir
estabelecimentos de certo ramo de comércio na mesma rua ou na mesma localidade;
obrigação de não usar a coisa recebida em depósito; obrigações de não fazer escavações
que provoquem o desmoronamento do prédio vizinho)”.
Posto isso, já se pode observar que as prestações, que constituem o objeto direto da
obrigação, poderão ser:
coisa certa
- de fazer
Dentre as prestações de dar coisa certa, poderíamos referir aquela pactuada para a entrega
de determinado veículo (um caminhão, por exemplo),por força de um contrato de compra e venda.
Já a prestação de dar coisa incerta, por sua vez, existirá quando o sujeito se obriga a alienar
determinada quantidade de café, sem especificar a sua qualidade. Quando do cumprimento da
obrigação, por óbvio, esta prestação, por meio de uma operação determinada concentração do
débito, que consistirá na escolha da qualidade do produto, converter-se-á em prestação de dar coisa
certa, viabilizando o seu adimplemento.
A prestação de fazer, por sua vez, se refere a uma prestação de conduta comissiva, como,
por exemplo, pintar um quadro ou cantar uma ária italiana em apresentação pública.
As prestações de não fazer que consistem, em abstenções juridicamente relevantes.
Assim, quando, por força de um contrato, uma parte se obriga perante o seu vizinho a não realizar
determinada obra em seu quintal ou um ex-empregado se obriga a não manter vínculo empregatício
com outra empresa concorrente da ex-empregadora (cláusulade não concorrência), estaremos diante
de uma prestação de fato negativa.
Vale mencionar, ainda, que a prestação, consoante veremos em momento oportuno, para
ser validamente considerada objeto direto da obrigação, deverá ser: lícita, possível e determinada
(ou determinável).
Lícito (CC/16, art. 82 c/c art. 145;
NVCC, art. 104 c/c 166, II);
O fato jurídico, fonte da obrigação, por sua vez, não deverá integrar este elemento ideal,
uma vez que, por imperativo de precedência lógica, é anterior à relação jurídica obrigacional. Aliás,
a obrigação é a própria consequência jurídica do fato, com ele não se confundindo. Assim, o
contrato de compra e venda, por exemplo, é o fato jurídico determinante do vínculo obrigacional
existente entre credor e devedor. É, portanto, a causa genética da obrigação em si.
5. FONTES DAS OBRIGAÇÕES
O Código Civil francês adotou a classificação romana, inserindo, todavia, por força do
pensamento de Pothier, uma quinta causa: a lei. Também o Código Civil italiano sofreu a influência
romanista.
Em verdade, a despeito de não se poder deixar de reconhecer o fecundo esforço dos juristas
romanos, o fato é que esta classificação quadripartida é lacunosa e não atende à complexa e
multifária cadeia de relações obrigacionais das sociedades contemporâneas.
Ademais, a noção de “quase contrato” é de difícil percepção, não explicando bem
determinadas situações em que concorre apenas uma declaração de vontade para formar a
obrigação.
Por tudo isso, a classificação romana já não agrada tanto aos juristas contemporâneos.
Dentre as fontes mediatas, merece especial referência, pela considerável importância e larga
aplicação prática, o contrato — fonte negocial mais relevante para o Direito das Obrigações.
De fato, desde quando o homem abandonou o seu estado mais primitivo, o contrato, filho
dileto da autonomia privada, passou a ser o mais relevante instrumento jurídico de circulação de
riquezas econômicas.
Manifestação primordial da propriedade, marcou o desenvolvimento político dos povos.
Por meio dele, substitui-se a força bruta pelo consenso, de modo a permitir que um grupo
pudesse adquirir — inicialmente pela simples troca, mais tarde pelo dinheiro — bens de outro.
Há também os negócios de natureza unilateral (formados por manifestação de uma só
vontade), como o testamento e a promessa de recompensa (declaração unilateral de vontade), que
também são fonte de obrigações.
No que diz respeito aos atos jurídicos não negociais, sejam atos materiais ou participações, o
simples comportamento humano produz efeitos na órbita do direito, sendo capaz de gerar
obrigações perante terceiros, com características singulares.
Finalmente, temos o ato ilícito, cujo conceito já tivemos oportunidade de desenvolver: “Neste
último caso, estaremos diante de uma categoria própria, denominada ato ilícito, conceito difundido
pelo Código Civil Alemão, consistente no comportamento humano voluntário, contrário ao direito,
e causador de prejuízo de ordem material ou moral”.
Assim, quando o sujeito, guiando o seu veículo, excede o limite de velocidade e atropela
alguém, concretiza o comando normativo previsto no art. 186 do CC-02 :
“Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” ,
de forma que o agente (devedor) ficará pessoalmente vinculado à vítima (credor), até que
cumpra a sua obrigação de indenizar.
No estudo do ato ilícito, destaca-se o abuso de direito, considerado também fonte de
obrigações, e que mereceu especial referência no Código Civil de 2002, consoante se depreende da
leitura de seu art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes”.
Analisando este artigo, conclui-se não ser imprescindível, para o reconhecimento da teoria
do abuso de direito, que o agente tenha a intenção de prejudicar terceiro, bastando, segundo a
dicção legal, que exceda manifestament os limites impostos pela finalidade econômica ou social,
pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Assim, desde que haja o abuso, o agente ficará obrigado a indenizar a pessoa prejudicada.
Muitos exemplos poderiam ser apontados, a exemplo da negativa injustificada de contratar, após o
aceitante efetuar gastos nesse sentido; no Direito das Coisas, o abuso do direito de propriedade
causando danos a vizinhos etc.. Todos esses fatos traduzem abuso de direito e determinarão a
obrigação de o causador do dano (devedor) indenizar o prejudicado (credor).
Por isso, é fonte de obrigações.
Concluindo: