Você está na página 1de 5

[Modelo do Livro – Fundamentos do Direito Civil 2: Obrigações, Gustavo Tepedino]

Introdução ao Direito das Obrigações


Conceito das Obrigações
Em conceito amplo, uma Obrigação pode ser definida como um dever jurídico. Porém, em
sentido estrito, esse conceito é afunilado, e a Obrigação é determinada como um dever jurídico
específico, o da Prestação. Assim:
Obrigação – dever jurídico, atrelado a uma relação jurídica, que estabelece que o devedor deve
pagar uma prestação ao credor, esse que por sua vez possui o direito à cobrá-la.
As Obrigações tem sua origem em três fontes distintas: o ato ilícito, o negócio jurídico e a lei.
Além dessas fontes, há um questionamento no direito atual, acerca de novos fatos passíveis de
terem suas Obrigações reconhecidas como legítimas, vinculantes e exigíveis, ainda que não
tenham como fundamento nenhuma das fontes pré-estabelecidas [situações-fato]. Essas situações
de fato podem ser interpretadas como atividades capazes de assumir a posição de fonte
obrigacional, ainda que não tenham, em seu amago, um ato negocial que funcione como fonte
construtiva.

Elementos das Obrigações


Os elementos da relação jurídica Obrigacional são:

→ Subjetivo: os titulares do centro de interesse (Credor e Devedor)


No polo do Credor, situa-se o titular do direito à prestação, sendo então o sujeito Ativo da
relação obrigacional. No polo do Devedor, situa-se a pessoa sobre a qual recai o dever de
prestar, sendo então o sujeito Passivo da relação obrigacional. Ainda que o termo passivo e
ativo sejam usados para exemplificar os polos das relações, sua posição estática com relação
aos sujeitos da relação obrigacional diminui a complexidade da mesma, visto que, para que se
alcance os interesses compartilhados, é necessária uma colaboração mútua, e não o “agir” de
um lado e o “receber” de outro. Dessa forma, percebe-se que a denominação de credor ou
devedor depende da prestação analisada dentro da relação obrigacional
Tanto o credor quanto o devedor tendem a ocupar os dois polos do vínculo jurídico
(Duplicidade), representando assim a necessidade pelo cumprimento mútuo de prestações
para que a relação se efetive por completo, ainda que sejam obrigações isoladas. Assim, com
a movimentação de ambos os lados, há a prática de um conjunto de atos/atividades que
objetivam um fim econômico ou social. [EX: em um contrato de Compra e Venda, há a
atuação de um sujeito como credor do pagamento (deve receber o valor da coisa) e devedor
da coisa (deve entregar a coisa), enquanto há um sujeito como devedor do pagamento (deve
realizar o pagamento) e credor da coisa (deve receber a coisa)]
Ainda que o princípio da Duplicidade promova uma explicação acerca das relações
obrigacionais e seu vínculo mútuo e alternável entre os sujeitos, existem situações em que
não há uma prestação efetiva para um dos polos da relação, mas sim um dever originário do
princípio da Boa-fé Objetiva, que garante assim o bom funcionamento da relação.
*Boa-fé: pode ser Objetiva, comportamento que não lesione o direito de terceiro, ou Subjetiva, sua
consciência acerca dos direitos do terceiro o fazem agir de forma a não lesioná-los, atuando assim de
maneira diligente em conformidade com o Direito (práticas usuais do negócio).

Além disso, atualmente, são reconhecidas relações em que existe a ausência de sujeitos [EX:
doação em favor de nascituro], ou relações em que existem múltiplos sujeitos em um ou
ambos os polos das relações [EX: contrato de conta corrente conjunta]. O princípio da
Duplicidade, portanto, se baseia primordialmente na existência de dois polos, com dois
interesses expostos à tutela do meio jurídico
Em consonância com a Duplicidade, outra característica do elemento subjetivo é a
capacidade determina-lo, em algum ponto da relação obrigacional, ainda que não na origem
da relação (Determinabilidade). O sujeito não precisa ser determinado de início na relação
obrigacional, mas deve ser determinável, para que a prestação consiga ser cumprida, quando
necessário.
A terceira característica da relação obrigacional é a possibilidade de que o sujeito tem de se
afastar da relação, transferindo sua titularidade ou simplesmente renunciando a ela, sem que,
com isso, haja a extinção da obrigação (Mutabilidade). Dessa forma, há a possibilidade, na
relação obrigacional, que um dos sujeitos transfira a sua posição jurídica para outro sujeito,
confirmando assim o caráter não essencial do sujeito da relação obrigacional, sendo então
possível uma transferência sem alteração nas qualidades fundamentais da obrigação.
*Terceiro: quem não é parte da relação obrigacional (nem credor, nem devedor). Pode vir a integrar a
relação obrigacional, diretamente ou indiretamente, com a repercussão sobre seus interesses.

→ Objetivo: objeto da obrigação (Prestação)


A Prestação consiste em ação ou omissão do devedor exigível pelo credor.
Nos requisitos da prestação, encontramos a característica da Possibilidade, essa que
determina que a prestação deve ser fisicamente alcançável, e aquela que não se enquadrar
nessa possibilidade material inviabiliza a obrigação, essa então sendo determinada como nula.
Além de fisicamente alcançável, a prestação deve ser juridicamente possível, havendo a
anulação de qualquer obrigação que tenha como prestação algo vedado por lei. Pode-se
também, haver aquelas prestações relativamente impossíveis, impossibilidade concreta ou
subjetiva, essas que, em tese, são possíveis, mas acabam sendo impossibilitadas por uma
particularidade do devedor.
Outro requisito da prestação é a sua característica de Determinabilidade. A prestação, para
que se considere uma obrigação, precisa ser de alguma forma determinável, ainda que não se
indique clara e diretamente a prestação, ao menos deve haver a indicação do gênero,
quantidade ou um critério identificador. Assim, quando a prestação é determinada de início
ele é dada como certa/determinada, porém se a prestação for somente determinável, ela será
dada como genérica/indeterminada.
O Terceiro requisito da prestação é a sua Patrimonialidade. Esse requisito, garante a
possibilidade da precificação da prestação, ainda que essa não se estabeleça de forma
monetária, deve haver uma forma de determinação do valor patrimonial da prestação.
Quando a obrigação é baseada na tutela de interesses extrapatrimoniais, o não cumprimento
da prestação não será passível de patrimonialidade, sendo então avaliado o dano gerado, esse
sim sofrendo com a avaliação econômica da indenização devida. Ainda que haja a
“precificação” do dano, essa conversão patrimonial não é advinda propriamente do dever
original, mas sim da avaliação dos prejuízos sofridos.

→ Vínculo Jurídico
O Vínculo Jurídico é o terceiro e último elemento essencial da obrigação, sendo então o elo
de ligação entre o credor e o devedor. Essa conexão se estabelece em torno da prestação,
havendo então o comprometimento da realização de uma em favor de outra, além de instituir
os deveres jurídicos anexos da relação jurídica, a Obrigação.
O Vínculo Jurídico pode ser dissecado em dois aspectos, o Schuld, esse que exprime o dever
que o sujeito tem de efetuar o Débito, e o Haftung, esse que corresponde, por sua vez, a
faculdade que tem o credor de exigir a efetuação do débito, possuindo esse de aparatos
jurídicos para coagir o cumprimento.

Obrigações Naturais
Relação Obrigacional que é somente caracterizada pelo débito do devedor, sem existir a
faculdade da cobrança por parte do credor. [EX: dívida em que o prazo já prescreveu.]
Ainda que não haja a capacidade de exigibilidade por parte do credor, o devedor, caso opte
por pagar a dívida, não tem o direito de exigir restituição ou alegar que o pagamento foi indevido.
Dessa forma, afirma-se que as Obrigações Naturais somente invocam a proteção da ordem
jurídica, após a sua extinção, com o pagamento.

Direito das Obrigações e Direitos Reais


Direitos Obrigacionais/de Crédito/Pessoais – direitos que surgem através de uma relação
obrigacional entre devedor e credor. Direito Subjetivo Obrigacional do Credor de cobrar a dívida
do devedor, se apresentando a partir do comportamento do devedor. É um direito relativo, visto
que vincula somente os participantes daquela relação obrigacional. [EX: A comprou um carro de B
por 50k. A efetuou o pagamento à B, porém B não entregou o carro. A, então, tem o direito de
cobrar B a entrega do bem.]
Direitos Reais – direito geral. Direito Subjetivo Real sobre a coisa, que se apresenta de forma
imediata e direta. É um dever que atribui a seu detentor o poder sobre a coisa, sem depender do
comportamento de uma segunda parte, restando à toda coletividade o dever de abstenção e
respeito. [EX: A é dono de um terreno. A, então, tem o direito da posse sobre aquele terreno, além
do direito ao respeito de sua propriedade.]
A distinção tradicional feita entre o Direito Obrigacional e o Direito Real é:

 Quanto ao Exercício: Obrigacional, vínculo direto entre o Credor e o Devedor, o credor


tendo então um vínculo indireto com o Bem Jurídico X Real, vínculo direto entre o
Credor e o Bem Jurídico, tendo assim liberdade total com esse.
 Quanto ao Objeto: Obrigacional, objeto direito é o Comportamento do Devedor,
enquanto o objeto indireto é o Bem Jurídico X Real, objeto direto é o Bem Jurídico
 Dever Contraposto: Obrigacional, possui um dever Específico, a Obrigação X Real,
possui um dever Geral, a Abstenção
 Sujeito Passivo: Obrigacional, sujeito passivo é o Devedor X Real, sujeito passivo é
indeterminado
 Oponibilidade: Obrigacional, é oponível inter partes, somente entre as partes
envolvidas na relação jurídica, o credor podendo exigir do devedor X Real, é oponível
erga omnes, em geral, o titular do direito real pode exigir de todos

Já a distinção moderna entre o Direito Obrigacional e o Real questiona a divisão tradicional,


afirmando que a separação deveria estabelecer Direitos Patrimoniais, Reais + Obrigacional, e
Direitos Existenciais.
Além da discordância na divisão dos direitos, a doutrina atual afirma que não somente os
integrantes das relações obrigacionais devem respeitá-las, mas os terceiros devem também.
Assim, percebe-se o crescente movimento jurídico em busca da proteção do crédito, em face da
coletividade.
*Teoria da Tutela Externa do Crédito: o terceiro deve respeitar as relações obrigacionais. Aquele que
atentar contra uma relação obrigacional contratual, será por ela responsável.

Obrigações Propter Rem e Ônus Reais


Obrigações Propter Rem – obrigação real que surge a partir de um direito real que “ascendeu” o
dever de prestação exigível de seu titular. A Obrigação Propter Rem, então, nasce em decorrência
da Titularidade de um Direito Real, havendo então o surgimento de um direito Obrigacional à
partir de um Real. [EX: obrigação de pagar o IPVA surge a partir da titularização/aquisição de
propriedade de um veículo.]
A obrigação Propter Rem, por se encontrar em um limiar de conflito da doutrina, possui sua
natureza atribuída por três teses distintas, a que afirma sua natureza Real, aquela que afirma sua
natureza Obrigacional e ainda aquela que defende sua natureza Mista. Dessa forma, em geral,
essa obrigação é vista como uma figura intermediária entre as Relações Obrigacionais e Reais.
As características principais dessa Obrigação são seu caráter originário de um Direito Real, sua
incorporação imediata à esfera patrimonial do titular, como verdadeira e própria obrigação, e
sua transferência de titular juntamente com a transferência de seu direito real originário. A lei,
para garantir o direito do credor, afirma que o novo titular responde pela obrigação anteriormente
pertencendo ao antigo titular, ainda que não seja sua, e esse novo titular pode,
consequentemente, cobrar o antigo por qualquer obrigação anterior que tenha tido que arcar
com. [Agrav Int no Rest 1575549]
Ônus Reais – obrigação com eficácia real. A eficácia real é atribuída a ela graças a sua vinculação
com um registro público, dessa forma o Ônus acompanha o bem para quem quer que se torne o
proprietário do mesmo. Essa obrigação, então, deixa de ser oponível somente às partes,
englobando terceiros da relação. [EX: X compra um apartamento de Z, que o alugava para A. X ao
se tornar titular desse bem, passa a ter que arcar com o contrato de locação com o inquilino
anterior, já que esse inquilino tem seu contrato vinculado com a escritura do apartamento.]
Os Ônus Reais também são vistos como uma figura intermediária entre as Relações
Obrigacionais e Reais.

Você também pode gostar