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Direito das Obrigações – Prof.

Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Direito das Obrigaçoes


Faculdade de Direito da UFBA, 2016.2

Docente: Maurício Requião (maurequiao@gmail.com)

Discente: Vida Vasconcelos

Conteúdo: 1- Introdução; 2- Classificação das Obrigações; 3- Transmissão; 4- Adimplemento e Extinção da Obrigação


e 5- Inadimplemento.

Referências Bibliográficas: Manuais - Cristiano Chaves e Nelson Rosenval; Caio Mário da Silva Pereira (conceituação e
definição).

Avaliação: 1ª Dissertativa (caso concreto): 19/01/17 e 2ª Objetiva: 16/03.

Livros Complementares: A Obrigação como Processo (Clóvis do Couto e Silva), Direito das Obrigações (Fernando
Noronha), Normas de Textura Aberta e Interpretação: uma Análise no Adimplemento das Obrigações (Maurício
Requião).

Introdução

1. Definição de Obrigações

 Definição Clássica

A Obrigação é uma relação jurídica.

Isso implica, portanto, que ela é efeito de um fato jurídico. Ou seja, a obrigação já é algo no plano da eficácia,
decorrente de um fato que já ocorreu. Fato este que pode ser um contrato, um negócio jurídico, mas não só isso.
Além disso, ela depende de dois sujeitos para existir, criando efeitos jurídicos na esfera de ambos.

A obrigação é uma relação jurídica que se dá entre, pelo menos, dois sujeitos, um credor e um devedor.
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Os sujeitos são os primeiros elementos da relação obrigacional. Toda obrigação tem que ter pelo menos um credor e
um devedor e estes sujeitos, obrigatoriamente, têm que ser pessoas distintas. Credor (sujeito ativo) e devedor
(sujeito passivo).

Existem situações ainda em que os sujeitos estão interagindo, mas não existem obrigações entre eles (Ex: Faculdades
Particulares: o professor é contratado pela entidade e existem obrigações recíprocas, o aluno é contratante e tem
relações de obrigação com a Faculdade. Contudo, não existe diretamente uma relação jurídica do Professor com o
Aluno. Ex: Quando você quer fazer uma cirurgia e o plano de saúde não autoriza, você entra com uma ação contra o
plano e não com o hospital. Isto porque não existe uma relação obrigacional a priori do hospital com o paciente. O
hospital é contratado do plano de saúde e o paciente é o contratante do plano.).

Existe ainda outra questão levantada entre credores e devedores: Para o sujeito ser credor ou devedor de uma
obrigação ele precisa ser capaz? Não, porque a obrigação é uma relação jurídica que está dentro do plano da
eficácia, enquanto que a capacidade é analisada dentro do plano da validade. Ou seja, a obrigação é algo posterior.

A obrigação é uma relação jurídica que se dá entre, pelo menos, dois sujeitos, um credor e um devedor, tendo o
último que cumprir certa prestação em favor do primeiro.

Nessa parte tem-se o segundo elemento da relação obrigacional que é a prestação. Toda obrigação envolve
necessariamente uma prestação que é a conduta que o devedor tem que realizar em favor do credor. Objeto é
sinônimo de prestação, conduto o objeto da prestação seria o “objeto do objeto”. Ex: Digamos que eu vendi para
alguém um celular. Surge então para mim uma obrigação de dar; a obrigação é entregar o celular. A prestação é
entregar o celular (a prestação é sempre uma conduta). O celular é o objeto da prestação, o objeto do objeto. O
objeto, assim como o negócio jurídico, precisa ser lícito, possível e determinável. Boa parte dos autores costuma
dizer que a obrigação tem necessariamente um conteúdo patrimonial. Contudo, nem todo inadimplemento da
obrigação tem por obrigação o pagamento de uma indenização.

A obrigação é uma relação jurídica que se dá entre, pelo menos, dois sujeitos, um credor e um devedor, tendo o
último que cumprir certa prestação em favor do primeiro, sendo que se não fizer poderá ser responsabilizado.

Nesse ponto cria-se o vínculo jurídico que é o elemento material da obrigação. Atualmente se trabalha com base na
teoria dualista, na qual se reconhece que nesse vínculo está inserido tanto o elemento do dever e quanto o da
responsabilidade.

Aula: 29/11

Obrigação é um vocábulo que tem um significado jurídico, mas é uma palavra que tem também, no dia a dia, o seu
uso. O sentido jurídico de obrigação é parecido com o sentido comum. Porém o sentido técnico se aplica a certa
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gama de situações e o sentido não técnico se aplica a outra gama. É dizer, nem tudo que as pessoas falam “fulano
está obrigado a fazer isso” significa uma obrigação jurídica em sentido formal.

Ex: as pessoas que seguem uma religião X, toda religião tem uma obrigação, que caso seja descumprida caberá uma
sanção social. Contudo, se você fizer aquilo que a religião diz que não pode, juridicamente falando a consequência
daquilo é zero.

Quando vai se dar a formação do fato jurídico é necessário que exista ali um suporte fático hipotético descrevendo a
conduta, mas essas condutas não integram o mundo jurídico e por isso não geram uma obrigação jurídica.

Existem aquelas coisas que estão no direito, mas não constituem obrigações.

Por fim, se usa a obrigação para o sentido mais restrito, a saber sentido de crédito e débito.

Embora a obrigação esteja no desfecho que se tem que cumprir com a conduta independentemente da sua vontade;
muitas vezes, as obrigações surgem a partir de fatos que envolveram a vontade do próprio sujeito que se vê
obrigado.

Ex.: um contrato de compra e venda, você se obriga, a partir daquele momento, a pagar aquele dinheiro. Ou seja, de
certa forma, você usa a sua liberdade para limitar a sua própria liberdade. A liberdade plena só é recuperada após o
cumprimento do contrato.

A questão da cooperação: no mundo em que vivemos, por mais que as pessoas possam pensar em agir
egoisticamente (perseguir o seu próprio interesse), não vivemos sós. Ou seja, mesmo essas pessoas precisam das
outras o tempo todo e elas cooperam o tempo todo. Isso desmistifica a impressão de credor e devedor como
necessários antagonistas. Teremos situações mais conturbadas que realmente existirá uma má relação entre credor
e devedor, mas via de regra isso não ocorrerá. (Ex: a pessoa que fornece salgado para cantina, a relação entre o
fornecedor e quem recebe o produto na primeira vez era uma e na centésima vez que é feita muda, relações
negociais, quando as partes agem de modo adequado, geram um grau maior de confiança. Há uma vantagem
mútua.) Claro que essa amizade entre credor e devedor é muito mais fácil quando se está em relações negociais,
pois em relações de responsabilidade civil, o devedor enxerga a situação como prejuízo e o credor enxerga, muitas
vezes, como vingança. A questão da confiança é interessante para todos, pois se as pessoas cumprem os contratos e
as relações vão ficando tranquilas, os próprios contratos ficam menos complexos. Isso porque você não fica se
preocupando em sanar as possíveis brechas que a outra parte pode utilizar para te lesar.

 Definição de Obrigação
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A primeira definição de obrigação tem uma ideia que se fixa mais em dois pontos: 1. A formação da obrigação e 2. O
cumprimento da obrigação. Ela não se preocupa muito com o que acontece antes, durante e depois o cumprimento
da obrigação. A definição clássica de obrigação é uma definição estática. Contudo, para analisar o próprio
cumprimento da obrigação não da para analisar só dessa maneira. A obrigação é uma série de atos encadeados que
se dirigem para o adimplemento.

A visão dinâmica de obrigação/obrigação como processo: traz a ideia de que, como a obrigação não é só formação e
adimplemento, na verdade, na obrigação, têm-se outros deveres que tem que ser cumpridos, para além da
prestação principal. Quando você enxerga que a obrigação, para ser cumprida, envolve outros fatores, você começa
a ver como tem, ao longo de toda a vida da obrigação, diversos deveres que tem que ser cumpridos para que se
possa dizer que houve o adimplemento.

 A obrigação dinâmica envolve:

I. Dever principal/ primário: prestação central da obrigação.

II. Deveres secundários: deveres diretamente relacionados ao dever principal, consequência direta. Ex: em
um contrato diz que se você não pagar no dia X, haverá uma multa; caso você pague um dia depois você
pagará a multa, sendo isso um dever secundário.

III. Deveres anexos/ deveres de conduta/ fiduciários: o ponto mais interessante deles é justamente que eles
são deveres que integram a obrigação, independentemente das vontades das partes. Ou seja, mesmo
em uma obrigação negocial que se formou de um acordo de vontade entre os sujeitos, mesmo que os
sujeitos nada tenham falado desses deveres, ainda sim, esses deveres serão aplicados. A doutrina
costuma apontar que eles são consequência da boa fé objetiva.

*Boa-Fé: No direito, quando falamos de boa fé, existem dois sentidos (objetiva e subjetiva). O princípio da boa fé é a
boa fé objetiva. Sendo esta definida como um padrão ideal de conduta. Já o outro sentido é a chamada boa fé
subjetiva e a sua ideia se relaciona com questões como intencionalidade, conhecimento acerca de determinadas
questões. Trata-se de uma questão fática e não uma questão principiológica. Ao falar da boa fé como princípio se
supera a definição de boa fé subjetiva e ao falar que alguém age de má-fé trata-se, obrigatoriamente, da visão
subjetiva. A questão da intencionalidade na boa fé objetiva fica superada, porque não basta o sujeito querer agir
corretamente, ele não ter o conhecimento de alguma coisa e acabar gerando prejuízos para a outra parte.
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Partindo dessa premissa de do padrão de conduta ideal é que se começa a pensar em deveres anexos. Se existe um
padrão, existe certo agir que é obrigatório ao sujeito. Se ele não agir assim, ele estará saindo de um caminho que é o
correto, independente da parte contrária.

 Os deveres anexos servem para mostrar que independem da vontade das partes e que os deveres entre os
sujeitos surgem mesmo antes do surgimento da obrigação. Se subdividem em:
1. Informação: Cada uma das partes deve fornecer as informações adequadas para o devido
cumprimento daquela obrigação. Ex: Black Friday: uma pessoa foi comprar um notebook e pediu XI
especificações, então o vendedor mostra 3 notebooks que atendem as especificações, um deles é o
mais barato. Então a pessoa escolhe o mais barato e compra, até a escolha do comprador não existia
contrato algum, apenas as negociações preliminares. Ao comprar e chegar em casa, o comprador
percebe que o notebook não tinha uma das especificações ditas por ele. Contudo, o vendedor agiu de
boa-fé, pois ele acreditava conter todas as especificações. Porém, o fato do vendedor não saber é
irrelevante para a situação, vez que o contrato somente surgiu nesses termos por conta da falsa
informação passada. Portanto, percebe-se que os deveres anexos surgem antes da formação do
contrato e que a boa-fé é independente a essa parte. Ressalta-se que se o sujeito age de má-fé não se
cumpre a exigência de boa-fé, mas se ele age de boa-fé isso é irrelevante para o cumprimento da
informação.

2. Cuidado: existem várias situações interessantes. Por exemplo: quando você sai de noite e vai para uma
festa, entra no lugar despreocupadamente, bebe despreocupadamente, mas quando você entra você
nunca para, salvo exceções, para perguntar se está tudo em dia com o corpo de bombeiros.
Normalmente parte-se do pressuposto de que está tudo em ordem e por isso não se pergunta, trata-se
de um padrão ideal de conduta. Por isso, estando no contrato ou não, é óbvio ser um dever anexo que
exige cumprimento.

3. Assistência: envolve o sujeito ter condutas que permitam o adequado cumprimento da obrigação.
Envolve a ação de um determinado sujeito. Ex.: você vai para uma concessionária comprar um carro e
compra o modelo x. É permitido que a montadora, no outro dia, diga que o modelo X não será mais
produzido. Contudo, ela não pode deixar de produzir as peças de reposição do carro. Isso porque ao
comprar o carro, você irá usá-lo por alguns anos e não até a primeira peça quebrar. A obrigação inicial
era compra e venda do automóvel, mas mesmo sendo cumprida a prestação principal, ainda existem
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deveres anexos da compradora. Isso porque o carro é um bem durável e para isso a montadora precisa
continuar fornecendo as peças.

4. Lealdade: envolve o sujeito não ter condutas que impactem negativamente no cumprimento da
obrigação. Trata-se de um dever de omissão do sujeito/ inação/ não ter certa conduta. Ex.: o Habbis
trabalha com franquia e tem um curso para abri-la e ao final você paga. Um sujeito fez o curso e no
final desistiu de abrir a franquia. Um tempo depois abre um empreendimento chamado Hib’s que
vendia esfirra e os mesmos produtos. Claro que esse sujeito descumpre com o dever de lealdade.
Houve uma ação judicial do habib’s não só pela questão da marca, como também pelo
descumprimento do dever anexo de lealdade. No dever anexo de lealdade, por vezes, nem surge a
obrigação principal, mas ainda sim persiste o dever.

Quando observamos a existência desses deveres anexos fica claro como não dá para pensar a obrigação
simplesmente como o momento da formação e o momento do adimplemento. Isso porque, até antes de se formar
as partes já devem estar agindo uma com a outra de maneira adequada e, mesmo depois que já houve o
adimplemento, as partes ainda estão vinculadas aos deveres anexos.

Isso modifica totalmente a ideia de obrigação. Modifica inclusive a ideia de adimplemento, isso porque existem
casos em que o sujeito cumpre com a obrigação principal e ainda sim está inadimplente. O descumprimento dos
deveres anexos é tão relevante quanto o descumprimento da prestação principal para o inadimplemento.

Aula: 01/12/16

2. Normas de Textura Aberta e Obrigações


O termo “norma de textura aberta” se relaciona com a estrutura da norma. A norma pode ser mais aberta ou mais
fechada. Em uma placa de trânsito com um E cruzado nas duas direções não se permite o diálogo: não há exceções
ou dúvidas – está colocado pura e simplesmente que não pode estacionar. É uma norma fechada.

Por outro lado, outras normas são pensadas de uma maneira que terminam abrindo espaço para que seu conteúdo
seja mais preenchido, ou para que ela tenha maior capacidade de adaptação ao caso concreto. Seria o caso de abrir
exceções para certas /vedações em caso de urgência. A norma não explica o que é caso de urgência, porque isso é
algo a ser verificado durante o caso concreto.

Uma crítica feita às normas abertas é que, muitas vezes deixa-se a decisão a critério do juiz, o que seria um problema
humano e não normativo.
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Nesse tipo de norma há uma parte central em que claramente as coisas se aplicam. A própria descrição do que é
algo vai variar de pessoa para pessoa. A dificuldade reside em situações que as definições ficariam “no meio” (Ex.: o
que é uma pessoa alta – sabemos que um homem com 1,6m é baixo e um homem com 1,9m é alto, contudo não
existe uma certeza sobre o ponto em que o homem passa a ser considerado alto).

Esse tipo de norma, portando, traz mais responsabilidade para o juiz. Não é uma licença para escolher de qualquer
forma. Na hora da decisão o juiz não tem nenhum grau de arbitrariedade. As normas abertas facilitariam o agir
inadequado dos juízes.

Contudo, a interpretação entra nesse ponto. Dworking fala que cada decisão dada a um juiz deve ser tomada como
se fosse um novo capítulo, uma nova página, de um longo romance que vem sendo escrito por todos os outros. Ou
seja, essa nova página escrita pelo juiz precisa ter coerência com o que já vinha sendo escrito. Isso implica que as
mudanças que vierem a ocorrer tem um ônus argumentativo muito maior. O juiz, ao aplicar uma cláusula geral ou
um conceito indeterminado, precisa analisar as decisões anteriores tomadas pelos outros juízes e também o que é
dito pela doutrina.

A doutrina também tem uma parte da culpa dos juízes agirem assim. Isso porque, muitas delas, atualmente, são
“papagaios” da jurisprudência. Quando o STF decide o papel da doutrina é analisar a decisão, mostrando porque ela
está coerente ou incoerente.

2.1. Conceitos Indeterminados


A ideia de conceito indeterminado é justamente de que são palavras ou expressões contidas na norma que tem um
grau de vagueza mais elevado. Por exemplo: quando você pega na parte de lugar do pagamento, o art. 324:
“ocorrendo motivo grave para que não se efetue o pagamento determinado, poderá o devedor fazer em outro,
querendo ou não o credor”, o artigo não determina o que é motivo grave. Isso precisará ser verificado no caso
concreto.

Esse conceito indeterminado se encontra no plano semântico, da linguagem. Isso porque, nesse caso, existe uma
vagueza na expressão. Deixa-se a norma para ser preenchida diante do caso concreto.

2.2. Cláusulas Gerais


As cláusulas gerais se encontram no plano da técnica legislativa. Ou seja, qual foi a técnica/modo que o legislador
utilizou para poder criar aquela norma.

A ideia de exclusão não faz sentido, pois cada uma dessas normas se encontra em planos distintos. Trata-se de
técnicas diversas que se complementam.
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Na ideia de cláusula geral você termina tendo uma norma que, não somente costuma ser dotada de vagueza na
descrição do suporte fático, mas também é uma norma que, no que toca as consequências, também traz certo grau
de abertura. Ou seja, não é só o suporte fático.

Ex.: Art. 421 CC – “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.”. Ela
não diz o que é função social, mas também não diz qual a consequência de caso a função social não fosse exercida.
Em civil II , quando a lei traz a punição, mas não diz qual a punição, a consequência será a nulidade. Contudo, nesse
caso, isso não se aplica vez que a ideia é proteger a função social e, portanto, nem sempre, para proteger a função
social, a melhor consequência é a nulidade. Muitas vezes, é melhor manter o contrato como algo válido, mas
modifica-lo. Há uma margem de manobra quanto qual vai ser a consequência.

2.3. Princípios
Trata-se do plano do tipo-normativo. A norma, no entendimento de Requião, pode ser de dois tipos: princípio ou
regra. Desse modo, têm-se várias construções doutrinárias entre regras e princípios. V.g. Quando você tem um
conflito entre regras, ele se dá no plano da validade normativa. Ou seja, eu não posso ter no ordenamento, ao
mesmo tempo e validamente, uma regra que diz que é proibido fazer X e outra regra que diga que você é obrigado a
fazer X. Nesse caso, ou uma norma será inválida e sairá do ordenamento, ou, em alguns casos, uma norma vira
exceção da outra: “você não pode fazer X, exceto em tal situação”. Já quando se fala em princípios, os conflitos que
surgem na sua aplicação são no plano da eficácia. Isso porque dizer que a autonomia é um princípio importante ao
Direito Civil e dizer que a Boa-fé objetiva é importante ao direito civil, não existe problema, vez que não há nenhum
conflito entre essas normas. Só que, diante do caso concreto é possível que aja um choque: pode ser que eu agindo
com minha autonomia, viole algo protegido pela função social. Ou seja, o conteúdo dessas normas não é
incompatível, mas no caso concreto existe choque. Para solucionar esses casos deve-se buscar a solução mais justa,
que seria aquela que, no caso concreto, tem mais peso dentro do ordenamento (jurisprudência e doutrina).

Princípios relacionados ao Direito das Obrigações:

2.3.1. Autonomia Privada


A ideia de autonomia é uma ideia básica quando se pensa numa obrigação negocial. Isso porque, ao falar de uma
obrigação negocial, para surgir essa obrigação, tem que ter havido, em algum momento, um ato de vontade. Essa
ideia de autonomia é derivada de outro princípio ainda mais amplo que é a Liberdade, contudo, este último é algo
muito amplo. Ao falar da autonomia privada trata-se da possibilidade de realização de negócios jurídicos. Os livros
trazem ainda a expressão Autonomia da Vontade. Normalmente na doutrina, costuma-se trabalhar a Autonomia da
Vontade para tratar de uma ideia de autonomia desregrada, típica do liberalismo clássico. Enquanto que a ideia de
Autonomia Privada é utilizada no sentido contemporâneo, na qual a autonomia tem um regramento.
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Essa Autonomia Privada é uma das bases da obrigação negocial. Se o sujeito está obrigado por força de um contrato
é porque em algum momento houve o uso de autonomia para o cumprimento daquela obrigação.

2.3.2. Boa Fé Objetiva

É a “prima-irmã” da Dignidade da Pessoa Humana. Ou seja, é muito ampla, e se uma coisa serve para tudo, ela
acaba não servindo para nada. Isso porque, quando se utiliza esse princípio para qualquer coisa, ele acaba perdendo
a densidade.

A Boa Fé Objetiva pode ser definida como um padrão ideal de conduta. Ex.: As obrigações devem estar de acordo
com a Boa Fé Objetiva. Isso significa que as obrigações devem observar o padrão ideal para que se tenha o
cumprimento dessa obrigação.

Trata-se de uma análise comportamental.

Mas, mesmo que o sujeito haja de boa-fé é possível que o comportamento não esteja de acordo com a obrigação
(vg. dever anexo de informação).

Judith Martins Costa aponta que a boa-fé teria três funções:

1. Função Supletiva: criação dos deveres jurídicos. Trata-se da boa-fé objetiva criando deveres anexos.
2. Função Corretiva: quando a Boa-fé atua coibindo o abuso de direitos. Seria nessa função que se daria a
retirada de cláusulas abusivas no contrato.
3. Função Interpretativa: a boa-fé objetiva poderia atuar como cânone hermenêutico-integrativo. A ideia de
que se numa obrigação há dúvidas quanto a sua interpretação, deve-se interpretar do modo que mais se
adeque ao que seria a boa-fé objetiva (padrão ideal de conduta).

A boa-fé não trabalha contra a autonomia, ela trabalha com a autonomia. Isso porque a boa-fé é chamada a atuar
em conflito com a autonomia quando, via de regra, vê-se que quem teve autonomia na criação da obrigação foi só
uma das partes.

2.3.3. Função Social


Quando falamos em função social a primeira coisa que pensamos é sobre a função social da propriedade.

A função social no campo obrigacional o que se tem em mente é justamente a superação do interesse egoístico da
obrigação. Ou seja, por um lado pode-se pensar na função social dentro do contrato (inter-partes) como também a
função social para além do contrato, que ela está ali para atender interesses além das partes. V.g. em uma situação
hipotética onde os donos dos postos de combustível acertassem os preços dos produtos, para eles esse contrato
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seria muito bom, pois já garantiria uma margem mínima de lucro, mas seria uma obrigação assumida entre eles
feriria uma função social, pois traria prejuízos para comunidade externa e configuraria a formação de cartel.

Aula: 06/12/16

3. Fonte das Obrigações


Quando se fala de fontes, refere-se a origem de algo. A fonte das obrigações quer dizer que iremos tratar de onde
surgem as obrigações. No caso das fontes, como boa parte da doutrina ainda apresenta esse assunto, é algo muito
similar ao modo trabalhado no direito romano, com acréscimo do código napoleônico.

3.1. Direito Romano


No inicio do direito romano havia uma classificação bipartida: contrato (mais ou menos a ideia do nosso contrato
hoje, mas era somente um dos modos pelos quais o acordo poderia ser feito) e delitum (não é exatamente hoje a
ideia que temos de delito, pois não se tratava de qualquer situação de ilicitude). O que se importa notar é que se
tinha a possibilidade de sujeito das obrigações pelo consenso (contrato), como você tem também a possibilidade de
surgimento de uma obrigação a partir de uma situação conflituosa.

Os romanos começam a verificar que existia toda uma série de outras situações em que existiam obrigações, mas
não se classificavam nem como contrato nem como delito. Ex.: a gestão de negócios- quando uma pessoa sem
autorização da outra pratica certos atos de interesse da outra (ver uma conta do outro pra vencer e pagar com o
direito do outro). Isso faz com que surge entre o gestor e o terceiro, diversas relações obrigacionais, mas não teve ai
nenhum acordo de vontades, pois a pessoa age de modo unilateral, mas ainda sim surgem ali obrigações. Ao
constatar isso, os romanos criaram uma terceira categoria, que não durou muito, mas era chamada de “Variac
Causarum Figura”. Essa classificação não tinha um critério de definição claro.

No final do direito romano se termina com a classificação quadripartida. Inicialmente tinham-se a ideia do contrato e
do delito. Então os romanos criam figuras assimiladas aos contratos e aos delitos: quase contrato e quase delito.

Ao explicar o contrato percebe-se que o ponto central é justamente a ideia que ali existia um ato de vontade. O
quase contrato também é um ato de vontade, mas esse ato não é suficiente para ser chamado de contrato, como
por exemplo, o gestão de negócio. A ideia de delito e quase delito era a distinção que hoje temos de doloso e
culposo. Ou seja, o quase delito é uma atitude ilícita, mas sem vontade.

3.2. Direito Francês

A classificação romana perdura e só acaba tendo uma nova classificação por ocasião da realização do Código
Napoleônico. O que se muda nessa classificação das fontes é justamente o acréscimo de mais uma categoria, ou
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seja, se mantém o vindo do direito romano e se acrescenta mais uma categoria de fontes: a lei. A lei seria a fonte
direta das obrigações, pois se chegou a uma conclusão, que existem situações em que a classificação quadripartida
não englobaria. Ex.: a situação dos alimentos – nesses casos a responsabilidade decorria pelo fato da lei determinar
que naquela situação haveria a obrigação de pagar.

Toda obrigação só é devida porque a lei permite que ela seja devida.

3.3. Direito Brasileiro


Essa classificação é, ainda hoje, repetida pela doutrina. Isso porque, nenhum dos códigos (16 e 02) tratou de
classificar as fontes das obrigações.

É muito comum encontrar as classificações anteriores com outras nomenclaturas. Ex.: contratos, atos unilaterais, ato
ilícito e a lei; os atos de vontade (contrato e quase contrato) e a lei. Essas classificações apresentadas merecem
críticas, porque, segundo Fernando Noronha, a lei não é fonte. Requião concorda. A lei não seria fonte, pois o fato
de existir uma lei por si só não gera uma obrigação para alguém; para existir a obrigação é necessário a
concretização do suporte fático. Ou seja, a existência da lei por si só (suporte fático abstrato) não faz com que nasça
obrigação nenhuma, é necessário que concretamente aconteça um fato que se enquadre no descrito em lei.
Noronha ainda afirma que a fonte das obrigações são os fatos jurídicos. Isso tem toda a coerência com a definição
inicial de obrigação – obrigação é uma relação jurídica (para acontecer qualquer obrigação é necessário que ocorra
um fato). Ele leva em conta qual o conjunto normativo que irá regulamentar cada situação obrigacional, então diz
que a classificação pode ser da seguinte maneira: obrigações negociais, obrigações derivadas da responsabilidade
civil e obrigações que se relacionem com o enriquecimento sem causa. Porque, quando ele fala de obrigações
negociais abrange qualquer situação obrigacional que o fato de origem tenha na sua formação a vontade –
autonomia privada: abrange a noção de contratos, gestão de negócios, etc – há um ato de vontade no inicio
direcionado a produção de certo efeito. Quando ele fala de obrigações relacionadas a responsabilidade civil traz um
acréscimo útil porque no primeiro momento as obrigações abrangem a ideia dos atos ilícitos, porque uma das
consequências do ato ilícito é a indenização e ai surge a obrigação, mas existem também outras situações em que há
o dever de indenizar só que sem atos ilícitos, vez que há tipos de fatos jurídicos que são lícitos e geram o dever de
indenizar: ato fato indenizativo (art. 188). Existe dentre os atos unilaterais a categoria do enriquecimento sem
causa, essa ultima categoria traz uma ideia de que no direito, para que o sujeito possa ter um ganho patrimonial,
deve existir uma causa (razão jurídica) que justifique esse ganho, nesse enriquecimento sem causa, para a pessoa
que o teve, surge a obrigação de devolver a quem de direito aquele ganho que ela teve sem causa. Mas esse
enriquecimento é colocado no código com aplicação subsidiária. Isso porque somente será aplicado quando não for
a situação encaixada em uma das outras situações que o código traz.
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4. Direito das Obrigações x Direito das Coisas


Ambos os direitos regulam todo o direito patrimonial no direito civil. Porém tratam do patrimônio em tempos
distintos. O direito obrigacional trata do momento em que o bem sai do patrimônio de um e ingressa no patrimônio
do outro. Já o direito das coisas regula situações mais estáticas, quando já se tem a propriedade.

4.1. Distinções

Quanto ao Objeto
O objeto da relação obrigacional sempre é uma prestação. Já o objeto do direito das obrigações é o estudo dessas
relações jurídicas. Já no direito das coisas o objeto é o domínio do sujeito sobre as coisas, que não se resume a
propriedade. No objeto do direito das coisas você vê também a posse, que é colocada fora dos direitos reais, até
porque a posse pode estar em uma situação sem credor e sem proprietário.

Quanto ao Sujeito

A obrigação é uma relação jurídica e, como tal, preciso de, pelo menos, 2 sujeitos: um credor e um devedor. Já,
quando falamos do direito das coisas, nota-se que a situação não se configura da mesma maneira. Ex: eu sou
proprietário desse CC e para isso não preciso de mais ninguém. Então o direito das coisas não tem a mesma
configuração de se pensar sempre em relação jurídica, porque, muitas vezes, para Requião, o que se tem é uma
situação jurídica e não uma relação jurídica. Quando se tem uma situação jurídica pode-se ter uma configuração
existindo somente um sujeito. Ex: o proprietário enquanto sujeito ativo e do outro lado teria toda a coletividade
enquanto sujeito passivo dessa relação jurídica de propriedade – isso é sem sentido, pensar em estabelecer uma
relação dessas. Porém isso surge com a ideia de que os outros teriam o dever de abstenção (não se pode violar a
propriedade alheia), mas isso não configura uma relação jurídica no sentido técnico.

Os direitos reais são disponíveis erga omnies – disponível para todos, mas isso não implica necessariamente em
relação jurídica obrigatória.

Quanto ao Exercício
Está-se diante de um quadro obrigacional, nota-se que, para o credor poder exercer seu direito, ele precisa do outro.
O direito enquanto credor somente irá se realizar se o devedor prestar a conduta a que ele havia se obrigado. Já no
direito das coisas o quadro não é esse. Isso porque eu sou proprietário independentemente da ação do outro, então
eu não preciso da conduta de um terceiro para o exercício do meu direito.

Nota-se que, normalmente, na situação obrigacional o exercício do direito gera extinção do direito. Ex.: se você me
deve 100 reais e eu te cobro 100 reais e você me paga 100 reais, no momento que você me paga você não me deve
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
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mais nada. Já no direito das coisas o exercício não extingue. Ex.: o uso capião – um dos pressupostos para ocorrer é
que o proprietário não use o bem.

Quanto a Duração
O direito obrigacional, embora não sempre, tem um caráter iminentemente transitório, porque o comum é que a
obrigação nasça para ser cumprida e, em sendo, ela se extingue. Enquanto que as situações reguladas pelo direito
das coisas tendem a se perpetuar no tempo.

4.2. Pontos de Contato


Muitas vezes, no dia a dia, há uma sucessão de regramentos. Ex.: eu sou dono desse código civil, isso trará alguns
regramentos ditados pelo direito das coisas, ai eu vou e celebro um contrato de compra e venda que será regulado
pelo direito das obrigações e, para cumprir realizarei uma tradição, regulada pelo direito das coisas, extinguindo o
direito das obrigações.

Há, ao mesmo tempo, regulamentações que são em parte pertinente ao direito das coisas e em parte relacionadas
ao direito das obrigações.

Obrigações “Propter Rem”


Obrigação em razão da coisa. Aqui temos um caso em que surge uma obrigação, mas ela surge por conta de uma
situação prévia que é regulamentada pelo direito das coisas. Ex.: propriedade. Situação em que surge uma obrigação
porque anteriormente o sujeito era proprietário de um determinado bem, ou seja, eu só virei parte de uma
obrigação porque sou dono de uma coisa. Ex.: um sujeito que tem que pagar taxa de condomínio por ser dono de
um apartamento localizado dentro do condomínio – uma responsabilidade que surge em virtude da condição de
dono.

Essa obrigação terá um regramento diferenciado. Isso porque vemos na obrigação um caráter de pessoalidade, mas
nesse caso, a obrigação está vinculada, não tanto ao sujeito, mas sim a coisa, que é algo mais característico do
direito das coisas, de modo que nessa obrigação, se eu vendo o meu apartamento com débito condominial e alguém
passa a ser o novo proprietário desse novo apartamento, quem passa a ser o devedor dessa obrigação é o novo
proprietário. Caso o locatário seja inadimplente o condomínio entrará com uma ação contra o proprietário e não
contra o locatário, pois não há como transferir essa obrigação que está necessariamente vinculada ao dono do bem.

*Ônus reais: tem efeitos muito parecidos com a obrigação propter rem.

Obrigações com Eficácia Real


Aqui temos uma lógica inversa: por força de uma situação obrigacional, gera-se um efeito de direito real. Ex.:
situação de quando se tem um contrato de locação e este gera para o locatário, o direito de preferência na compra.
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Esse direito de preferência é um direito real, tanto que se o locador vender para um terceiro sem comunicar ao
locatário, o locatário pode ir atrás do terceiro (tem a possibilidade de reaver o imóvel).

Trata-se de uma situação híbrida: um direito real que somente surge por conta de uma relação obrigacional.

Direitos Reais de Garantia


São direitos reais, mas só surgem como sendo uma consequência de uma relação obrigacional. Temos três situações:

1. Penhor: o bem que se constitui o penhor é um bem empenhado. O penhor é um direito real de garantia,
enquanto a penhora é um direito na fase de execução. O penhor é a situação em que se entrega
determinado bem para que ele fique de garantia para o cumprimento de determinada obrigação. Já a
penhora ocorre no caso de descumprimento da obrigação, onde o executor analisa os bens do devedor que
podem ser vendidos para sanar a obrigação.
2. Hipoteca: funciona de modo parecido com o penhor, tendo o mesmo efeito de colocar certo bem como
garantia. Mas a hipoteca é utilizada para bens imóveis, não só para eles, sendo um ato registral. Ou seja, não
se entrega o bem, você faz um registro no cartório de imóveis dizendo que em caso de descumprimento ele
será vendido.
3. Anticrese: pouco utilizada, pois é a que traz menor prejuízo para o devedor e mais trabalho para o credor. A
anticrese é sobre bem imóvel e ocorre se houver inadimplemento da obrigação. Nesse caso não há a perda
do imóvel, acontece que o credor poderá, durante determinado período, administrar o bem, para poder
retirar os frutos desse bem e receber o que lhe era devido.

Aula: 13/12/2016

Classificação das Obrigações

1. Quanto ao Objeto

Dar, Fazer e Não Fazer


É um critério quanto a própria natureza da prestação. Esse é um dos critérios mais antigo e mais universalmente
aceito, quase toda legislação vai se dedicar a sua diferenciação. Quando trato de uma obrigação de DAR significa
uma obrigação que envolve a entrega de uma coisa. A obrigação de fazer, assim como a de dar, também é uma
ação. Mas esta envolve uma prestação de conduta. A obrigação de não-fazer, ao contrário das anteriores, o
cumprimento envolve uma inação. O sujeito se obriga a não ter determinada conduta.
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Alguns autores não gostam dessa classificação, pois para eles não teria uma distinção precisa entre dar e fazer. Ex.:
uma pessoa compra um tecido e entrega para costureira fazer uma roupa. Essa obrigação da costureira é de fazer ou
de dar? Ela tem que entregar o vestido, mas para entrega-lo primeiro ela tem que fazer.

Tem algumas situações em que se têm casos de dar e fazer. Normalmente, em uma classificação binária, classifica-se
como obrigação de fazer, pois a entregar (dar) é mera consequência. Agora, nesses casos, se a costureira fez o
vestido e entregou, ninguém no universo prático ira se importar se é uma obrigação de dar ou de fazer. Isso terá
uma importância prática maior em caso de inadimplemento, ai nesses casos você terá que verificar o que é que foi
inadimplido. Porque se eu entreguei o tecido e a costureira não fez o vestido, eu entrarei com uma ação com
descumprimento da obrigação de fazer. Já se eu entreguei o tecido, ela fez o vestido, mas não me entregou, eu
entrarei com uma ação judicial por descumprimento da obrigação de dar.

Simples, Cumulativa e Alternativa


Esse segundo critério leva em conta a quantidade de prestações. Simples é uma única prestação a ser cumprida.
Cumulativa, por incrível que pareça, está mais próxima do funcionamento da simples do que da alternativa. Isso
porque é uma obrigação em que existem várias prestações e para que haja o adimplemento todas tem que ser
cumpridas. Já a alternativa você também tem, quando na formação da obrigação, uma pluralidade de prestações,
mas estas se colocam como possibilidades para o adimplemento.

*Obrigação facultativa

Divisível e Indivisível
Ainda quanto à prestação, temos as obrigações divisíveis e indivisíveis, onde o critério é a divisibilidade da prestação.
Nota-se que não é divisibilidade da coisa/ dos bens. A divisibilidade dos bens não se relaciona com a divisibilidade da
prestação, embora ao entregar um bem indivisível sua prestação será indivisível.

Alguns autores classificam essa divisão como sendo quanto aos sujeitos. Isso está completamente errado, pois em
regra, com um credor e um devedor, o pagamento é em um único ato. Já se eu tenho 2 devedores o modo de
pagamento muda. Então, alguns autores levados por isso dizem que a obrigação é quanto ao sujeito. Mas não é. Ter
mais sujeitos deixa mais clara a obrigação, mas a divisibilidade decorre da prestação. Ex.: se eu devo 1000 reais eu
posso parar 500 hoje e 500 amanhã.
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Vida Catarina Silva Vasconcelos

2. Quanto aos Sujeitos

Única e Múltipla
Essa classificação leva em conta a quantidade de sujeitos envolvidos em uma obrigação. A obrigação única envolve 1
sujeito em cada polo, um credor e um devedor. Caso haja mais de um credor ou mais de um devedor, a classificação
é múltipla.

Solidária
Toda obrigação solidária é uma obrigação múltipla, mas o inverso nem sempre é verdadeiro. A relação entre os
sujeitos dessa obrigação foi criada de uma maneira diferente do que geralmente acontece. Ex.: se em uma obrigação
eu tenho vários devedores, cada um deles será devedor da sua parte. Mas quando eu tenho uma obrigação solidária,
seja entre os credores (ativa), ou passiva (entre os devedores) o modo que se configura essa relação é diferente. Isso
porque se eu tenho credores solidários, cada credor será credor do todo, podendo cobrar a totalidade da obrigação.

Na classificação indivisível, se eu tenho vários devedores, não tem como o devedor pagar só a parte dele, pois ou eu
pago o todo ou não paga nada. Por vezes isso se confunde com a solidária, mas a diferença está no fundamento. Na
indivisível está pagando tudo ou cobrando tudo, porque devido a natureza indivisível da prestação, não há outro
modo de pagar que não seja o todo. Mas ele não será devedor ou credor do todo, ao contrário do que acontece na
solidária, pois nessa cada credor ou devedor terá o direito de pagar ou cobrar o todo.

3. Quanto ao Conteúdo do Adimplemento

Meio e Resultado
Em toda obrigação se quer alcançar alguma coisa. Em uma obrigação de meio o que se verifica para ver se a
obrigação foi cumprida não é se o resultado final foi cumprido, porque nela você também tem um fim pretendido,
mas o adimplemento desta não se relaciona com o alcance do resultado. Nessa obrigação o que se verifica é se o
devedor teve as condutas adequadas para alcançar o resultado em questão. Então o que importa é verificar se ele
agiu como deveria agir para alcançar o que queria. Na obrigação de meio o resultado ser alcançado ou não escapa do
devedor (não depende única e exclusivamente dele). Na obrigação de resultado, o sujeito só esta adimplente se
alcançar o resultado pretendido.

Ex.: uma situação em que você contrata um advogado para lhe defender em uma ação judicial. O advogado estuda,
peticiona dentro do prazo, mas no final a ação é julgada contra você. Nesse caso o advogado age dentro do
esperado, mas o resultado não é alcançado.

Caso de discussão: caso da cirurgia estética embelezadora. Há uma discussão se essa cirurgia geraria uma obrigação
de meio ou de resultado. Para Requião é uma obrigação de meio, porque na cirurgia estética, assim como em
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
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qualquer outra cirurgia, continua tendo o fator de aleatoriedade que escapa do que é o procedimento do médico. O
fato de ter sido mal feita, o médico responde, mas não responderá pelos fatos que estão além do alcance do médico.

4. Quanto à Eficácia

Simples, Condicional, Modal e A Termo


A obrigação costuma ter exigibilidade imediata. Então, se eu não tiver nada modificando essa obrigação, no
momento em que ela for criada, ela já pode ser exigida (chamada de simples). Condicional é quando está vinculada a
uma condição. A termo quando está vinculada a um termo. Ou quando está vinculada um modo ou encargo, que
será modal.

Mais comum são as obrigações serem simples ou a termo. A obrigações a termo são os boletos bancários, por
exemplo – evento futuro e certo.

5. Reciprocamente Consideradas

Principais e Acessórias
Uma obrigação principal existe em si mesma. Enquanto que uma obrigação acessória está vinculada a obrigação
principal. Ex.: a finança e a obrigação do fiador somente tem sentido por existir a obrigação principal – contrato de
aluguel. Em regra, se a obrigação acessória se extingue isso não afeta a obrigação principal, mas o oposto não é, em
regra, verdade.

6. Quanto à Exigibilidade

Civis e Naturais
A obrigação civil é a obrigação jurídica, regular. O vinculo jurídico se divide em duas partes: dever e
responsabilidade, então se eu falo de uma obrigação jurídica, esse sujeito tanto está obrigado a cumpri-la quanto
será responsabilizado caso não o faça. Nas obrigações naturais, não há o elemento dever, nem o elemento
responsabilidade. Contudo, por vezes, o ordenamento utiliza a categoria da obrigação natural. Nesses casos o
ordenamento reconhece a obrigação natural juridicamente, mas não confere ali o elemento da responsabilidade. Ou
seja, embora se reconheça juridicamente o resultado, caso ele não adimpla com sua obrigação natural, o credor
nada poderá fazer. Ex.: dívida de jogo e aposta – se você fizer uma aposta com alguém e você perde, o ordenamento
reconhece que existe uma dívida (ele reconhecerá o pagamento como pagamento e não como uma doação), mas se
ele não o fizer o ordenamento não o obriga e o credor não pode entrar com meios judiciais.

A dívida prescrita também se enquadra como uma obrigação natural. Quando há uma prescrição não se extingue a
obrigação, mas o credor deixa de poder exigir.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

7. Quanto à Liquidez

Líquidas e Ilíquidas
A ideia é que, quando falo que uma obrigação é líquida isso significa que eu não preciso de nenhum outro evento
para se chegar ao conteúdo dessa prestação. Enquanto que na obrigação ilíquida há a necessidade de um evento
para se chegar ao conteúdo da prestação. Ex.: uma situação em que uma pessoa foi atropelada pela outra e a culpa
foi de quem atropelou, ai o sujeito atropelado resolve entrar com uma ação judicial contra quem o atropelou, ai ele
vai em sua inicial e diz que quer que o sujeito que o atropelou seja condenado a pagar 20 mil pela cirurgia (líquida), 3
mil pelos remédios (líquida), 5 mil pela terapia (líquida), bem como qualquer outra despesa que se venha a ter por
conta da cirurgia (ilíquida). No caso em questão, o sujeito não irá liquidar porque a ação pode ter sido julgada e o
tratamento ainda não foi concluído.

Casos para classificar:


1. Um sujeito se obrigou a entregar um notebook para outro.

Obrigação de dar (entregar uma coisa), simples – única prestação, indivisível porque o bem é indivisível; única em
relação aos sujeitos – um em casa polo; quanto ao conteúdo: resultado, interessa o cumprimento da obrigação;
eficácia simples, pois tem exigibilidade imediata; obrigação principal- não tem existência dependente de outra;
obrigação civil, juridicamente exigível; obrigação liquida –valor determinado.

2. Foi feita uma aposta entre um sujeito e dois outros, na qual quem perdesse se obrigaria a vestir a camisa do
outro time.

Obrigação de fazer – realizar uma ação; simples – única prestação; múltipla – mais de um sujeito em um dos polos; é
não solidária, quanto ao conteúdo interessa o resultado que seria o cumprimento da aposta; eficácia condicionada
ao resultado da aposta; obrigação principal; obrigação natural, pois não há meios para a cobrança judicial; obrigação
líquida.

3. Uma pessoa contratou um advogado para lhe elaborar um contrato e lhe representar em uma ação judicial.

Obrigação de fazer – prestar condutas; cumulativa, pois existem prestações para que haja o adimplemento; única
em relação aos sujeitos; quanto ao conteúdo interessa: contrato – resultado e ação: o meio que seria a elaboração
correta; eficácia - diferida; obrigações acessórias; civis e ilíquidas – porque os atos são incertos.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

8. Obrigação de Dar Coisa Certa

8.1. Noções Gerais


Na obrigação da coisa certa, a coisa já se encontra concretamente individualizada. Ou seja, você já sabe exatamente
qual a coisa que deve ser entregue. Enquanto que na obrigação da coisa incerta, a coisa se encontra determinada
somente pelo gênero e quantidade. Quando você trabalha com a ideia de coisa certa a coisa já se encontra
perfeitamente individualizada, enquanto que sendo coisa incerta não há uma especificação total.

Só dá para falar em perda e deterioração na obrigação da coisa certa, porque incerta, se se perdeu é possível se
substituir.

Em uma obrigação da coisa certa, em regra, os acessórios acompanham o principal. O CC-02 pela ideia da diretriz da
operabilidade, aproveitou o que se tinha do CC-16. A ressalva feita por Requião, é que no CC-16 se tinha a figura
acessória e não tinha a figura da pertença, que seguem esquemas de gravitação jurídica opostos (acessório
acompanha o principal e pertença não). Acontece que o art. 233 é uma repetição da redação de 16, só que como em
16 não tinha pertença, tudo que não era principal, era pertença. Porém hoje, o universo do que é acessório é muito
pequeno.

8.2. Espécies
Dentro de uma obrigação de dar coisa certa, temos uma subdivisão:

1. Obrigação de Dar Coisa Certa Propriamente Dita

O sujeito que é o devedor na relação obrigacional é o dono da coisa. No ato de entrega ele também realiza o ato que
envolve a transmissão da propriedade.

2. Obrigação de Restituir

O dono normalmente é o credor, certamente não é o devedor. O devedor está na posse da coisa, mas a coisa não é
dessa pessoa, e ela irá devolver para alguém, que muitas vezes é o dono.

A regra sobre quando o bem se perde, ou gera acréscimos, dependem diretamente de quem é o dono.

O código traz uma regra para cada coisa.

Uma pessoa é dona de uma coisa, essa coisa se destrói sem que exista a culpa de ninguém. O prejuízo fica com o
próprio dono da coisa: “Res Perit Domino” – a coisa perece ao próprio dono. Essa é a primeira coisa a se verificar:
quem é o dono. Existe outro fator que interfere: se a coisa se perdeu ou se deteriorou por culpa de alguém, o
prejuízo é arcado por esse alguém.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

8.3. Perda e Deterioração


 Perda

Art. 234 – perda da coisa na propriamente dita:

Sem culpa: se eu havia me obrigado a entregar um celular para alguém e antes de entregar o ladrão leva, a minha
obrigação de entregar o celular se extingue. Quando eu falo de perda é qualquer coisa que gere a destruição da
coisa. A obrigação se extingue por ausência de culpa. Em um contrato, caso a pessoa já tenha pago, tenho a
obrigação de devolver o dinheiro.

Com culpa: se ao contrário, eu não vou entregar o celular, porque em um excesso de raiva joguei o celular na
parede. Nesse caso, tem que pagar o equivalente mais perdas e danos (prejuízo que isso causou para o credor)

Art. 238 e 239 – perda de restituir

Sem culpa: (238) o credor sofre a perda e a obrigação é resolvida, ressalvando os direitos até o dia da perda. Ex.: se
eu emprestei meu celular e durante o empréstimo, alguém rouba o celular que eu emprestei, o devedor (a pessoa
que teria que devolver) não tem que devolver mais nada, porque como o celular é meu quem tem que suportar a
perda, já que não houve culpa, é o dono. Para Requião não haveria problema de contratualmente modificar essa
regra. Caso tenha sido uma locação, por exemplo, a pessoa fica com o carro 5 dias e passado o 5º dia o carro foi
roubado, ela não teria que me dar um carro novo, mas o aluguel desses 5 dias ela continuaria obrigada a me pagar,
porque os meus direitos sobre a coisa estariam ressalvados até o dia que ela se perdeu.

Com culpa: (239) mesma coisa da propriamente dita: equivalente mais perdas e danos.

 Deterioração

Já a deterioração é uma situação em que a coisa sofreu um dano, mas que não foi um dano suficiente para destruir a
coisa.

Art. 235 e 236 – Propriamente Dita

Sem culpa: quem fica com o prejuízo é o dono, já que não houve culpa. Eu vendi o celular, mas antes de entregá-lo
alguém pegou o celular e deixou cair, nesse caso surgem duas possibilidades: possibilidade de resolver a obrigação,
porque afinal de contas tinha comprado um celular sem danos, pode ser que o celular quebrado eu não queira; ou
como a coisa não se destruiu ele pode aceitar a coisa no estado em que se encontra, abatendo o preço que se
perdeu.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Com culpa: segue a mesma lógica das perdas e danos. São duas soluções possíveis: exigir o equivalente + perdas e
danos ou aceitar a coisa como se encontra + perdas e danos.

Art. 240 – deterioração de restituir

Na obrigação de restituir parece que há um problema de redação do código. Quando o código fala da solução para
a deterioração com culpa (art. 239). Mas é logico que se eu sou o dono da coisa e a coisa está com outra pessoa e a
coisa sofre um dano, a única opção não pode ser o equivalente + perdas e danos, é necessário haver a opção de eu
querer receber a coisa + perdas e danos. Então seria muito melhor que esse artigo se referisse ao 236. Então,
embora o código remeta ao artigo antecedente, parece a Requião que essa é uma das soluções possíveis, já que eu
também posso reivindicar a coisa.

8.4. Melhoramentos Acrescidos e Frutos

Trata-se da situação inversa

Melhorias e Acréscimos

Art. 237 – Propriamente Dita

Nota-se que assim como quando a coisa sofria um dano e diminuía de valor quem ficava com o prejuízo era o dono,
da mesma forma, se houve um melhoramento ou um acrescido, nada mais justo que quem fique com a vantagem
seja o dono (devedor). Só que, por outro lado, o credor não é obrigado a aceitar esse acréscimo do preço, pois
anteriormente já houve um acordo com o valor X.

Frutos

Regra Geral: quem pode colher o fruto é quem está com o direito da posse, ou seja, os atuais são dos donos e os
futuros do próximo dono.

Art. 241 e 242 - De Restituir

Ocorre um acréscimo enquanto quem está com a coisa não é o dono. Aqui entra a questão da “culpa”. Ou seja, teve
o melhoramento, isso foi algo independentemente da ação do devedor, ou isso aconteceu porque o devedor
entregou trabalho e dispêndio? O raciocínio é parecido com aquele que verifica se houve ou não culpa.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Quando houve o empenho (“culpa”) para a melhoria do bem: A lógica sempre é proteger o possuidor de boa-fé e
punir o possuidor de má-fé. O possuidor de boa-fé na verdade pode exigir indenização por qualquer tipo de
benfeitoria, só que com o regramento diferente: as necessárias e úteis ele realmente pode exigir, e o possuidor de
boa-fé ainda goza do direito de retenção, ou seja, enquanto não for pagar os gatos das benfeitorias, ele pode se
negar a devolver os bens. Já o possuidor de má-fé somente tem direito a indenização das benfeitorias necessárias e
não goza de direito de retenção.

Quanto aos frutos, o de boa fé aplica-se a regra geral. Já o de má-fé ele responde perante o credor proprietário por
todos os frutos, ainda que ele não o perceba. Porque o fato de ele está na posse de má-fé impede a pessoa que
estaria no direito de receber a coisa.

9. Obrigação de Dar Coisa Incerta


Ao contrário do que se da na obrigação de dar coisa certa, a coisa ainda não está determinada em concreto,
determinada de modo que ela seja distinguível de outra de mesma espécie. O que temos é apenas a determinação
de gênero e quantidade. Notando também que o fato de termos uma obrigação de dar coisa incerta teremos efeitos
diversos principalmente nos casos de perda e deterioração, porque se a coisa é incerta, não está concretamente
determinada, em regra geral não terei como falar em perda da coisa, porque, vg, se é uma cadeira, como a ideia de
uma cadeira irá se perder.

Essa obrigação tem um caráter de transitoriedade, porque, por exemplo, eu devo um celular, em algum momento,
tenho que pegar o celular para entregar e cumprir a obrigação, então esse ato de escolha (ato pelo qual se
individualiza a coisa), essa obrigação deixa de ser de dar coisa incerta e passa a ser de coisa certa. A partir dessa
parte vou fazer com que aquela obrigação passe a poder sofrer efeito de perda, de deterioração e melhoramento.

Se antes da escolha o objeto seja roubado não existe efeito de perda ou deterioração, porque não existia um objeto
determinado. Então, o devedor nessas situações suporta um ônus maior do que na obrigação de dar coisa certa, pois
não há nada que o livre da obrigação.

Individualizações abstratas não fazem o que deixe de ser coisa incerta e vire coisa certa, por exemplo: uma obrigação
de entregar um CC é uma coisa incerta, uma obrigação de entregar um CC da Saraiva continua sendo coisa incerta,
uma obrigação de entregar um CC da Saraiva de edição de 2016 é uma obrigação de coisa incerta...

9.1. Escolha
Na parte da escolha existem diversos pontos importantes para se discutir. Existem questões que não são colocadas
no código. O Código traz a afirmação de que em regra, na obrigação de coisa incerta, a escolha caberá ao devedor;
então é o devedor que terá o direito de individualizar a coisa para poder entregar o objeto. O CC também traz uma
determinação de que critérios o devedor deverá observar para realizar essa escolha. Art. 244 – o código determina
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que, embora a escolha caiba ao devedor, ele deve escolher dentro do que seria um padrão médio da coisa; ou seja,
ele é proibido de entregar a pior das coisas e não é obrigado a entregar a melhor das coisas. Essa questão da
qualidade da coisa só tem mais sentido quando falamos de coisas naturais, porque livros, v.g., são todos iguais, mas
se vendo uma laranja ou um boi, há uma maior variação de qualidade.

Esse artigo 244, para Requião, traz um regramento para o devedor, mas se na criação da obrigação se determinou
que no cumprimento dela quem terá o dever de escolher é o credor e não o devedor, então, nesse caso, o credor
também estará obrigado a escolher no meio termo? Até pela questão dos usos e costumes, parece, para Requião,
que esse regramento não se aplica para o credor. Isso porque, quando o devedor permite que o credor escolha a
coisa, ele já parte do pressuposto que o credor escolherá o objeto de melhor qualidade. Mas vale ressaltar que nada
impede que se fixe um limite ao credor.

Outra coisa interessante que o código não trata é que a regulamentação do CC não trabalha muito com o universo
de escolha, ele parte da ideia de um universo total. Ou seja, quando eu me obrigo a entregar 200 laranjas, me parece
que o meio termo da laranja, deve ser analisado considerando todas as laranjas possíveis. Então, normalmente, até
para se pensar a ideia de boa-fé objetiva, quando se faz esse acordo, se faz pensando que o sujeito realizará a
escolha tendo em conta o meio termo do universo geral, mas pode ser que a obrigação tenha sido criada levando
em conta um universo específico e, para Requião, se assim foi feito, o meio termo também deverá ser resultado
desse universo específico.

9.2. Perdas e Deterioração


Quando trabalhamos a obrigação enquanto sendo da coisa incerta, enquanto ela se mantiver como sendo de coisa
incerta, não há como se falar de perda e nem de deterioração. Só que em determinado momento essa obrigação
deixa de se guiar pelas regras de dar coisa incerta e passa a se guiar pelas regras de dar coisa certa, mais
precisamente quando é cientificado da escolha o credor. Não há mudança unicamente a partir de quando acontece a
escolha, mas sim quando o credor é cientificado da escolha.

Enquanto não acontece a escolha não tenho como falar de perda e nem de deterioração, pois o gênero não perece e
uma coisa se perdendo seria sempre possível encontrar outra coisa para substituir. Contudo, existem as coisas em
que o próprio gênero é limitado. Ex.: três ultimas garrafas de vinho que existem no mundo daquela safra, ai eu
vendo uma dessas garrafas, em tese, enquanto eu não escolho uma e cientifico o credor daquela escolha, eu jamais
poderia alegar perda ou deterioração, mas a adega foi destruída, então não poderei entregar. Nesse caso é uma
situação que é ilógica aplicar a mesma regra, pois o fundamento deixou de existir, já que o gênero perece. Também
não há sentindo o cumprimento dessa regra se o gênero perece de modo tão substancial que o ônus que eu teria
para cumprir a obrigação seria muito maior. Ex.: além das três garrafas há uma na Europa, com outra pessoa. Eu não
seria obrigado a conseguir essa quarta garrafa, a obrigação se extinguiria.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
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Vida Catarina Silva Vasconcelos

O que é cientificar da escolha o credor? Essa ideia pode ser interpretada de duas maneiras diferentes. Uma primeira
possibilidade é pensar o sentido de cientificar como sendo mero ato de comunicação do devedor para com o credor,
ou seja, no momento que o devedor avisasse ao credor que ele já escolheu, passaria essa obrigação a se guiar pela
regra de dar a coisa certa. Mas, para Requião, essa não é a melhor interpretação. Isso porque, por exemplo, tinha
uma cadela de raça e ela pariu 4 filhotes que eu irei vender por R$ 600,00; Gabriel quer comprar e eu escolho um
aviso a Gabriel. Chego para Amanda e vendo mais um para ela por R$ 1000,00 e digo que já escolhi o filhote. Nesse
exemplo eu simplesmente avisei para os credores que eu já realizei o ato de escolha, mas eles ainda não viram os
filhotes. Mas a cadela devorou todos os filhotes e só sobreviveu 1, que foi, por óbvio o de Amanda. Então é uma
situação de cientificação que não traz nenhuma segurança para o credor. Então, para Requião, essa cientificação
deve dar consciência ao credor com elementos suficientes para que ele possa identificar a coisa certa.

Essa é uma obrigação que gira basicamente em torno da escolha.

10. Obrigação Pecuniária


Essa obrigação não tem uma seção específica para tratar de sua regulamentação, embora em alguns momentos do
código se termina tendo regras específicas para obrigação pecuniária. Essa obrigação, dentro das obrigações de dar,
termina sendo a mais fácil, pois é a que envolve a entrega do dinheiro. Alguns autores tentam classificar essa
obrigação pecuniária, colocando-a como subgênero de coisa certa, o que não tem nenhum sentido, e alguns autores
colocam como subgênero de coisa incerta, que Requião entende, mas não concorda. Ex: 10 cadeiras – R$10,00, mas
são prestações completamente distintas. Até porque na obrigação da coisa incerta o estudo gira em torno da
escolha, e na obrigação pecuniária a coisa é completamente irrelevante. A nota de R$10,00 suja ou limpa compram a
mesma coisa. A coisa é mero suporte para o valor.

A obrigação pecuniária tem uma característica autônoma, porque o seu regramento é muito diferente. O simples
fato de a gente não se importar com a coisa torna a obrigação completamente diferente.

Outro fato de tratar a obrigação pecuniária como autônoma é que o CPC categoriza os tipos de execução de acordo
com o tipo de obrigação quanto a natureza da prestação: execução para entrega de coisa certa, incerta, etc.

11. Obrigação de Fazer

11.1. Noções Gerais


Na obrigação de fazer o cumprimento da obrigação envolve uma conduta que é uma ação, porém, ao contrário do
que acontece na obrigação de dar, essa conduta não é entregar algo, mas sim praticar certo ato. Ex.: contratar um
advogado para lhe representar numa ação judicial. Boa parte das prestações de serviço se enquadram em uma
obrigação de fazer, mas não só. A prestação não envolve a entrega de uma coisa, envolve tão somente a realização
de uma conduta que envolva uma ação.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

11.2. Espécies
Quando vamos trabalhar com essa obrigação um ponto que costuma-se distinguir é entre as obrigações de fazer
fungíveis e as obrigações de fazer infungíveis/ personalíssimas/ intuito persona.

A diferença é que quando falamos de obrigação de fazer fungível, o que importa para analisar o adimplemento
dessa prestação é tão somente se a ação foi realizada.

Em outros casos, a obrigação de fazer é criada, mas entra também como elemento da prestação e, portanto, um
elemento necessário para dizer se houve ou não adimplemento é a figura de quem é que irá realizar a prestação.
Nesse caso não basta que a ação se realize, para afirmar que houve adimplemento é necessário que a prestação seja
realizada por um sujeito específico, trata-se de uma obrigação de fazer personalíssima. Ex.: você contrata um sujeito
renomado para fazer uma cirurgia e chega no dia ele resolve não fazer e pede para que o assistente o faça, mesmo
que o assistente faça perfeitamente a cirurgia, a obrigação não foi cumprida. Então, quando a pessoa se preocupa
em criar a obrigação como sendo personalíssima é porque existe um conteúdo em que é importante que quem
realize é aquele sujeito. O modo como foi criada a obrigação termina deixando claro que há um fator de necessidade
de cumprimento da prestação por aquele sujeito.

Existem situações “cinzentas”. Ex.: congresso de Direito – quando você se inscreve existe uma grade pronta, porém,
muitas vezes há uma substituição. Nesse caso é personalíssimo ou não? Ex.: um show do metálica e eu compro o
ingresso do show, nesse caso se o metálica não for tratasse de um descumprimento, porque é uma situação
personalíssima, mas e no caso de um festival? Nesses casos, para Requião, precisar substituir um ou outro não se
configura o inadimplemento do contrato, ainda mais se não houver culpa. Contudo, existem pessoas que mesmo em
congressos, ou festivais, são as atrações principais e, por isso, são complicadas de serem substituídas.

11.3. Descumprimento
Essa questão de personalíssima e fungível termina ganhando grande importância quando acontece o
inadimplemento, pois se foi cumprido não interessa se for fungível ou infungível, mas quando ocorre o
descumprimento passa a ter uma importância maior.

Quando há culpa e se vai buscar a responsabilização do devedor, passa a ser ter muita importância em saber se a
obrigação era fungível ou não. Isso porque, a obrigação fungível pode ser cumprida por qualquer pessoa, de modo
que nessa obrigação o leque de opções no caso de inadimplemento do devedor é maior do que o leque que se
apresenta na obrigação infungível, vez que na infungível ou aquele sujeito cumpre ou ninguém mais cumpre. Ex.: se
Requião se obriga a dar uma palestra e depois decide que não irá mais aquela palestra, ninguém poderá o obrigar a
fazê-la. Por esse pensamento inicial é que o Art. 247 diz que incorre na obrigação de indenizar por perdas e danos o
devedor que recusa a prestação a ele só imposta, ou só por ele exequível. Agora, embora não tenha no Código, mas
terminamos tendo processualmente mecanismos que podem permitir ou gerar uma tentativa de fazer com que o
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

sujeito que tinha uma obrigação infungível, cumpra sua obrigação. Ex.: plano de saúde: enquanto você quer fazer
consulta e exame de sangue está tudo bem, mas quando se tem câncer, necessidade de uma cirurgia, etc, existirá
algo que o plano não cobre. A obrigação do plano para comigo é uma obrigação de fazer – ele autoriza os
procedimentos. Muitas vezes as pessoas que estão com esse problema entram com uma ação judicial alegando
periculum in mora e fumaça do bom direito. A ordem que o juiz expede é autorize o procedimento e, junto a isso, faz
uso das “astreintes” que é a ideia da multa diária. Nesse caso então, o plano de saúde prefere autorizar o
procedimento a pagar a multa.

Já quando se trata de uma obrigação de fazer fungível, temos a possibilidade de perdas e danos, só que temos outra
possibilidade mais clara também, pois se é uma obrigação fungível significa que ela pode ser cumprida por qualquer
pessoa, de modo que para se conseguir o que o credor queria existe a possibilidade de mandar um terceiro fazer à
custa do devedor, desde que haja uma ação judicial. Embora, temos uma exceção que autoriza o credor a mandar
fazer por um terceiro ainda que não haja ação judicial, uma autotutela, art. 249 – casos de urgência. Agora, muito
possivelmente, mesmo nesses casos eu teria que entrar com uma ação judicial mesmo que posteriormente, vez que
se o devedor não quis cumprir sua obrigação ele também se negará a pagar o terceiro.

12. Obrigação de Não Fazer

12.1. Noções Gerais


Trata-se de uma inação, de não realizar algo. Existem muitas situações do dia a dia que envolvem obrigações de não
fazer, por exemplo, cláusulas confidenciais dos contratos, contratos de exclusividade – você tem que usar o produto
de determinada empresa (obrigação de fazer) e tem que não usar os produtos das outras empresas (obrigação de
não fazer); cláusula de não concorrência – a pessoa se obriga a não abrir um negócio do mesmo tipo.

12.2. Descumprimento
A resolução das obrigações de não fazer segue a mesma lógica das obrigações de fazer. Se a obrigação de não fazer é
descumprida sem culpa do devedor, a solução é a mesma de sempre: extinguisse a obrigação. Já quando o sujeito
descumpre culposamente iremos nos deparar com questões parecidas, pois se o sujeito fez o que era pra não fazer,
mas dá para se desfazer você irá tentar que seja desfeito aquilo que não era pra ele fazer. Agora, existem situações
que não tem como desfazer. Ex.: sexta de noite Amanda está em casa estudando obrigações e Paula liga para ela
falando que está na festa e diz que ficou com X e pede segredo. Amanda então liga para Vida e conta, mas pede para
não contar mais para ninguém. Nesse caso não há como descontar. O mesmo ocorre com a cláusula de
confidencialidade. Nesses casos a solução é perdas e danos. Vale ressaltar que o fato de poder desfazer não
implicará em perda da possibilidade de pedir perdas e danos, mas claro que o valor será menor.

Existe também o artigo 251 no qual se autoriza que o credor obrigue a desfazer em caso de urgência.
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Vida Catarina Silva Vasconcelos

13. Obrigações Alternativas

13.1. Noções Gerais


Aqui trata-se da quantidade de prestações. O código no inicio não se preocupou em distinguir as prestações
cumulativas e simples. Mas na alternativa existem mais regulamentações, vez que desde o seu surgimento há
opções de prestações para o seu adimplemento. Quando há uma obrigação alternativa há pelo menos duas
prestações que se colocam como possibilidades de adimplemento. Ex.: o sujeito se obrigou a cumprir com a
prestação A ou com a prestação B e no momento que ele cumpre qualquer uma das duas a obrigação acabou.

Embora o código não regulamente, Requião acha que é bem possível ter uma obrigação que traga elementos tanto
da cumulativa quanto da alternativa, v.g. você ter que cumprir com duas de três obrigações.

13.2. Escolha
Na obrigação alternativa temos uma regulamentação sobre a escolha, pois se eu tenho duas ou mais prestações
como possibilidade de adimplemento em algum momento alguém terá de escolher como será adimplida.

Aqui se difere da obrigação de dar coisa incerta em que o sujeito escolhe o objeto do objeto (coisa), aqui o sujeito irá
escolher a prestação da obrigação (objeto). Aqui na obrigação alternativa não tem sentido de discutir o meio termo,
pois enquanto prestação ambas as alternativas terão o mesmo valor. Aqui, assim como acontece na obrigação de
coisa incerta, em regra, a escolha caberá ao devedor.

Na obrigação alternativa o legislador se ocupou em regulamentar mais essa escolha, tanto em relação a própria
prestação quanto em relação aos sujeitos que eventualmente façam essa escolha. No que toca a prestação ele
tratou no artigo 252, § 1º a impossibilidade de cumprir parte de uma prestação e parte de outra, isso porque isso
seria uma terceira prestação que não está colocada como possibilidade de adimplemento. Ex> pagar 100 sacos de
arroz ou 100 sacos de feijão, pagar 50 de cada não cumpre a prestação. No artigo 252, §2º o legislador fala das
obrigações periódicas, o código determinou que nesses casos, a cada momento que eu for adimplir, estará renovado
o direito de escolha. Ex.: no primeiro ano o feijão estava caro, então eu paguei com arroz, mas no segundo ano o
feijão estava mais barato então eu pago com ele. Agora, aqui eu falo de uma obrigação com prestação periódica, não
estou falando de uma situação em que a pessoa me permita pagar fracionado – pagar 100 sacas de feijão em 5
vezes.

O artigo 252, § 3ªe 4ª trata da escolha em relação ao sujeito. No paragrafo §3º trata-se da pluralidade de optantes –
não havendo acordo unanime entre eles, decidirá o juiz prazo para a deliberação, ou seja, a escolha entre os
optantes deve ser unanime e isso tem coerência com o §1º, pois se eu tiver dois optantes e cada um escolher uma
coisa cada um cumprirá apenas metade da parte. O juiz somente deverá escolher se mesmo determinado um prazo,
os optantes não chegarem a um acordo.
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Ainda sobre escolha, o §4 regulamenta a situação de quando o direito de escolha foi conferido a um terceiro, ou
seja, credor e devedor quando criaram uma obrigação decidiram que quem iria escolher o cumprimento da
obrigação seria um terceiro. Quando o terceiro aceita escolher assume uma obrigação de fazer. O que o código
regulamenta são as situações em que o terceiro se nega a escolher ou não pode escolher, nesses casos caberá ao juiz
a escolha se não houver acordo entre as partes.

13.3. Descumprimento
A questão da impossibilidade da prestação na obrigação alternativa é bem interessante. Isso porque há pelo menos
duas prestações, então a impossibilidade de uma irá gerar ainda desdobramentos diferentes. A lógica aqui é a
mesma que viemos trabalhando até então. Se ambas se impossibilitarem sem culpa a obrigação se extingue. Se se
impossibilitar somente uma, sem culpa, automaticamente a obrigação irá se concentrar na outra. Então, se é sem
culpa não tem muita importância de quem é o direito de escolha.

Porém, nos casos em que há culpa, passa a ter importância quem é que tinha o direito de escolha. O artigo 254 trata
desse tema ao dizer que havendo culpa do devedor uma prestação fica impossibilitada e em seguida a outra
também, ficará ele obrigado a pagar a prestação restante, ficando ainda a possibilidade de perdas e danos. Se as
duas escolhas se impossibilitarem concomitantemente caberá ao devedor escolher por qual das duas irá indenizar.
Mas quando a escolha é do credor e se impossibilita uma das prestações por culpa do devedor, restará ao credor
escolher entre o cumprimento da prestação restante ou indenização da outra que se impossibilitou. Se ambas as
prestações se impossibilitarem com culpa, caberá ao credor escolher qual das duas será indenizado.

Existe ainda a situação em que o devedor escolhe, se impossibilita a primeira prestação por culpa dele, mas depois
se impossibilita a segunda sem culpa. Nesse caso há duas perguntas: tem que indenizar? Para Requião sim, pois gera
certo incômodo pensar que o devedor que foi culpado sairá ileso. Para o credor não é razoável fazer com que o
devedor que de alguma forma foi culpado, não arque com o exercício da sua culpa. Para resolver é necessário
analisar se houve culpa no descumprimento da obrigação como um todo e não somente da prestação. A segunda
pergunta é, no caso de indenização, qual seria a escolhida? A primeira, a ultima ou qualquer uma das duas? Para
Requião se deve indenizar a última, pois para poder indenizar tivemos que entrar num consenso afirmando que
houve culpa no descumprimento da obrigação, por analogia, nos casos de impossibilidade sucessiva a regra do
código é de indenizar a última.

Na Obrigação Facultativa sempre é o devedor que terá a opção de, ao invés de cumprir aquilo que ele está obrigado,
desempenhar uma conduta que igualmente o libere.

Art. 1234: parte de descoberta- quando você encontra algo que não é seu você tem que devolver para o dono.
Quando se devolve para o dono, por outro lado, surge para o dono uma obrigação para com quem lhe devolveu a
coisa. Esse artigo trata exatamente dessa obrigação – aquele que restituir a coisa achada terá direito a indenização e
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mais 5% do valor da coisa, se o dono não preferir abandoná-la. O abandono, nesse caso, não é um débito, é uma
faculdade. Se abandonar a coisa não é um dever, então o credor não pode exigir que ele abandone a coisa. O sujeito
tem a possibilidade de se liberar da obrigação com uma conduta diferente.

14. Obrigações Indivisíveis

14.1. Noções Gerais


Trata-se de um assunto que leva em conta as prestações como critério classificatório.

A obrigação ser divisível ou indivisível impacta no desenvolvimento dessa obrigação. Os impactos são mais sentidos
quando se tem mais de um credor ou mais de um devedor, pois o artigo 314 do CC diz que, ainda que seja divisível a
obrigação, em regra o paramento se dará em um único ato.

A divisibilidade ou indivisibilidade é da prestação, não é necessariamente da coisa, embora se eu tenho uma coisa
indivisível, eu não tenho como criar uma obrigação divisível – se eu me obrigo a entregar para alguém um código
civil (algo indivisível), necessariamente minha obrigação será indivisível. Mas mesmo tendo coisas divisíveis eu posso
criar uma obrigação indivisível: art. 258 – pode ser pela vontade dos contratantes, uma obrigação que seria divisível,
se torne indivisível. Também podemos ter uma situação em que uma obrigação seja indivisível porque embora a
coisa factualmente não seja, mas a lei determina que seja. Além disso, a indivisibilidade pode decorrer de ordem
econômica. Ex.: um diamante – se eu fraciono o diamante não é como eu fracionar o código civil, pois se eu fraciono
o código eu tenho um livro estragado, se eu fraciono um diamante, eu tenho diamantes (continua sendo diamante),
só que quando eu fraciono o diamante, as frações dele, somadas tem um valor inferior ao que teria ele antes de ser
fracionado pela questão do quilate. A questão da divisibilidade ultrapassa meramente a questão da natureza da
coisa ou do fato em si. Podemos ter diversos outros fatores que façam com que algo que, em origem, seria
fracionado, na obrigação seja considerado como sendo indivisível.

14.2. Adimplemento
Quando a obrigação é divisível o 257 traz uma simples solução – se eu tenho uma obrigação divisível, nós vamos
considerar que existem ali tantas obrigações quantos sejam os credores ou devedores. Então, se eu tenho, por
exemplo, uma obrigação que seja de pagar 600 reais e tenho A e B como devedores de C, eu na verdade vou
entender que seria uma obrigação de A para com C de pagar R$ 300 e outra obrigação de B para com C de pagar R$
300 e irei analisar como obrigações separadas – se A paga para C a obrigação se extinguiu, e se B for inadimplente, A
não tem mais nada a ver com isso. Ou seja, um não tem nada a ver com o adimplemento do outro. A presunção é de
que essa divisão seja em partes iguais (prorrata).

Na obrigação indivisível existe um problema maior, pois os devedores e credores estão ligados entre si. Se eu tenho
dois devedores ou mais numa obrigação indivisível, não tem mais como cada devedor pagar sua parte, ou ele paga o
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todo ou paga nada, não tem como também o credor exigir de um devedor somente a sua parte. Se eu tenho uma
situação de pluralidade de devedores numa obrigação indivisível o credor poderá exigir o cumprimento da prestação
inteiro de qualquer dos devedores, pois, afinal de contas, ele não tem como exigir só a parte de um deles. O devedor
que estaria pagando a prestação inteira não a deve integralmente, mas, pela estrutura da prestação ele não teria
como dividir. Mas esse devedor pagou o dele e o do outro devedor e por isso há o regramento do § único do art. 259
– em direito a ideia de sub-rogação está sempre ligada a uma ideia de substituição, então se eu tenho uma
obrigação indivisível que envolve o cumprimento de certa prestação, C pode exigir a prestação tanto para A quanto
para B, só que no momento que A paga, C não tem mais nada para exigir, mas nesse caso será uma das hipóteses em
que acontece o pagamento, mas este não extingue a obrigação, pois quando fala que vai se sub-rogar A que pagou
sai da posição de devedor e passa a ocupar a posição de credor, só que agora o que é devido é metade da prestação.

Existe a situação também da pluralidade de credores na obrigação indivisível. Cada credor pode exigir o todo, porque
só tem como exigir o todo, mas é credor apenas da sua parte. Isso gera um problema, pois embora cada credor
possa exigir o todo, por ele não ser credor do todo, o devedor quando for pagar tem que observar alguns
procedimentos. Embora qualquer credor possa exigir o todo, o devedor tem que observar como ele irá realizar o
pagamento.

(Prova) As opções dos devedores estão no artigo 260: ou ele paga a todos os credores conjuntamente, ou então
paga somente a um dos credores desde que se apresente o chamado Calção de Ratificação (documento firmado pela
outra credora autorizando a um credor receber a prestação sozinho). Então, embora qualquer um dos credores
possa exigir a prestação por inteiro, o devedor somente pode pagar a obrigação dessas duas maneiras.

O credor que receber o pagamento tem direito de receber o pagamento, ficando entretanto obrigado a pagar aos
demais credores o valor correspondente a sua cota.

14.3. Extinção
Trata de diversas hipóteses envolvendo a extinção parcial de uma obrigação indivisível. A extinção parcial só vai
afetar uma fração ideal do que é devido, mas ela não irá ter o condão de mudar a prestação devida.

Art. 262 – se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros, mas estes só
poderão exigir descontada a cota do credor remitente.

Sempre que houver uma extinção parcial, o outro credor vai continuar podendo exigir a prestação, já que ela é
indivisível, só que agora, terá que, em contrapartida, terá que pagar o valor que se extinguiu ao devedor.
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14.4. Inadimplemento
O inadimplemento segue as regras gerais. O inadimplemento pode ser absoluto ou relativo. No relativo a prestação
devida ainda será paga. Já no inadimplemento absoluto a prestação não foi cumprida nem será. Quando acontece o
inadimplemento absoluto a prestação deixou de ser possível.

Se uma obrigação indivisível fosse resolver em perdas e danos ela continuaria sendo indivisível? Não, pois obrigação
indivisível que irá se converter em perdas e danos perde a qualidade de indivisível, pois agora será pago um valor
pecuniário.

Art. 263 – §1º se houver culpa de vários devedores todos responderão em partes iguais, mas como já deixou de ser
indivisível, cada um responderá pela sua parte.

§2º - se for de um só a culpa ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos – a obrigação
se impossibilita por culpa de um dos vários devedores dessa obrigação indivisível, pelas perdas e danos, só responde
o culpado. Mas pelo equivalente TODOS respondem, cada um dentro da sua parte.

Se o outro devedor contribuiu para comprar o objeto, então primeiro paga-se ao credor e depois o outro devedor
passa a ser seu devedor.

15. Solidariedade Ativa

Noções Gerais de Solidariedade


Art. 264 – traz uma definição do que acontece na obrigação solidária: na obrigação solidária se eu tenho uma
solidariedade ativa, cada um dos credores terá direito de exigir a prestação por inteiro, assim como na solidariedade
passiva, cada um dos devedores estará obrigado a pagar a prestação por inteiro. Em qualquer dos casos a prestação
continua sendo só uma. Ex: A deve R$ 600,00 a B,C, e D, nesse caso todos podem cobrar a A e ao pagar a um deles,
está extinta a obrigação. Trata-se de uma obrigação com uma prestação, mas ao invés do credor poder cobrar
apenas sua parte, qualquer credor pode exigir o crédito inteiramente, igualmente ocorre com os devedores.

É comum haver confusão com a obrigação indivisível, mas o fundamento é diferente. Na indivisível o credor pode
exigir o todo pela circunstância da obrigação, tanto que quando a obrigação se resolve em perdas e danos ela perde
o caráter de indivisível. Tanto que embora o credor possa cobrar o todo, o devedor quando vai pagar, não deve
pagar somente a um credor o todo, ele deve juntar os dois ou precisa que o credor apresente o calção de ratificação.
Já na solidária isso não acontece, pois qualquer dos credores é credor do todo. O todo não é pago por
impossibilidade de fracionar a parte, mas sim por possibilidade da obrigação.

Fica claro também que a solidariedade é uma situação, pra quem está na obrigação, bem mais complicada, porque
por um lado qualquer credor pode cobrar a parte, por outro lado se você é devedor solidário, você pode ter que
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sozinho pagar a obrigação por inteiro. Justamente por isso o CC determina que não existe presunção de
solidariedade, ela precisa ser prevista na lei ou expressa pela vontade das partes.

Há uma discussão na doutrina sobre se entre cada um dos sujeitos (credor e devedores) existe um único vínculo
jurídico ou se é uma pluralidade de vínculos. Para Requião há uma pluralidade de vínculos, ou seja, o vínculo entre
cada um dos sujeitos é independente. Isso se reforça por força do disposto no art. 266 – a obrigação solidária pode
ser configurada de maneira diferente para cada um dos sujeitos – o prazo para A pagar é dia 10 e o prazo pra B pagar
é dia 11, ou A pode pagar em Salvador e B em Camaçari.

15.1. Adimplemento
É uma obrigação incomum, muito em conta pela crise de confiança que vivemos. Isto porque outra pessoa poderá
cobrar a parte dela e também a parte que seria sua. Na relação solidária existe a relação externa – credor/devedor e
também a relação interna entre os credores ou entre os devedores.

Existe uma situação de solidariedade ativa que é comum: marido e mulher – conta conjunta. Não importa quanto
cada um tenha depositado na conta, ambos são correntistas na conta conjunta e, por isso, podem sacar o valor total.

Na solidariedade ativa qualquer um dos credores pode exigir do devedor o todo e quanto o oposto também é
verdade, pois o devedor pode pagar a qualquer um dos credores, sem limitação necessária. Caso o pagamento seja
parcial, vai abatendo da dívida.

15.2. Falecimento do Credor


Há um regramento no código para esse caso. Digamos que A deve R$ a B, C e D. B faleceu e deixou dois herdeiros E e
F, o código determina que, em razão do falecimento do credor solidário, é claro que os herdeiros herdam o crédito,
porém eles não serão credores solidários, cada um poderá exigir somente a parcela correspondente ao seu quinhão
hereditário. Art. 270. Nos casos de obrigação indivisível o código faz uma ressalva a possibilidade de recebimento do
quinhão hereditário. Mas isso é desnecessário, pois se a obrigação for indivisível ninguém pode exigir se não for o
todo. De modo que se o devedor A for pagar pra E ou pra F ele precisa exigir a calção de ratificação ou reunir E ou F
com os demais credores para depois pagar.

15.3. Inadimplemento
Na obrigação indivisível quando a obrigação iria se resolver em perdas e danos ela perdia o caráter de indivisível. Isso
ocorria porque a prestação não iria mais ser cumprida.

Art. 271 - Se a prestação solidária se impossibilitar e for se resolver em perdas e danos ela continua sendo solidária,
pois ela não se relaciona com a prestação e sim com os sujeitos. Se o credor receber o pagamento de tudo, o
devedor não deve mais nada, e esse credor passa a ser devedor dos outros credores.
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15.4. Remissão
Se B quiser perdoar, ele pode fazer do todo, pois ele é credor da dívida toda. Mas, caso ele perdoe toda a dívida A
passa a não dever mais nada e B passa a dever a parte de C e de D.

15.5. Exceções Pessoais


Exceção sempre vai funcionar como meio de defesa, só que no direito, a exceção é um meio de defesa em que você
não nega a existência do direito do outro, você na verdade coloca um óbice ao exercício daquele direito.

A exceção pessoal é oponível somente a um sujeito. O devedor, nesse caso, tem uma exceção a somente um dos
credores. Se existe uma exceção pessoal a um credor, o devedor não poderá impor sua exceção a todos os outros
credores.

Ex.: B deve R$ 300,00 para A, então, quando A for pagar a B, pagará somente R$ 300,00 e B teria que completar o
restante de C e D. Agora, se C quem cobra a A, A terá que pagar o valor integralmente, mesmo B lhe devendo.

15.6. Coisa Julgada


Art. 274 - O julgamento contrário de um dos credores solidários, não impede aos demais. Se um credor solidário
entra sozinho com uma ação e perde, isso não impe os outros credores de ingressarem com uma ação. O julgamento
favorável, entretanto, aproveita-se.

16. Solidariedade Passiva

16.1. Adimplemento
Nesse caso, qualquer devedor pode ser obrigado a pagar o todo, só que, a prestação continua sendo uma só, então
se o devedor paga o todo a qualquer dos credores, no momento que ele fez esse pagamento, ele não deve mais
nada.

A, B e C são devedores solidários de R$ 600,00 a D, que é o credor. No momento que A paga tudo, a dívida está
encerrada. Porém, no momento que A paga integralmente a dívida, D deixa de ser credor e A assume seu lugar, mas
agora de uma dívida de R$ 400,00. Ou seja, A pode exigir de cada um dos codevedores a parcela que lhes são
devidas.

Art. 275 - No caso da Remissão, de D perdoar A, ele poderá cobrar de B ou de C somente R$ 400,00, ou seja, o valor
total subtraído da parcela que era de A.

Art. 282 - O credor pode renunciar a solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Se D
renunciar a solidariedade em relação a A, A não deixa de ser devedor, ele deixa de ser devedor solidário, isso
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significa que A ainda deve R$ 200,00, mas não mais como devedor solidário. Mas o efeito para B e C é o mesmo da
remissão ou da renuncia.

16.2. Falecimento do Devedor


Na ativa, quando o credor morria os herdeiros continuavam sendo credores, mas cada um somente poderia cobrar o
seu quinhão hereditário. Aqui, de inicio é igual – se A falece e deixa dois herdeiros E e F, eles serão devedores, mas
não serão devedores solidários.

Há uma diferença que não afeta o credor e sim os devedores. Supomos que A faleceu e D preferiu cobrar de um dos
outros devedores, então B pagou. Quando B paga ele poderá cobrar a restituição dos outros devedores, ele cobraria
R$ 200,00 de C e o mesmo de A, caso estivesse vivo. Mas ao cobrar os herdeiros B pode cobrar individualmente R$
100,00 para cada herdeiro, ou B pode reunir os herdeiros e cobrar conjuntamente deles o valor total. Mas eles não
se tornam solidários em relação a B, porque não existe a possibilidade de B cobrar o valor total de qualquer dos
herdeiros individualmente.

16.3. Agravamento da Obrigação


Os vínculos entre cada um dos solidários e o do polo oposto são independentes, de modo que mesmo depois da
obrigação já ter sido firmada, é possível que um desses devedores faça um acordo com o credor sem consultar os
demais, acordo esse que torne mais gravoso o cumprimento da obrigação.

O código diz que se o acordo tornar mais gravoso o cumprimento da obrigação e foi feito sem a participação dos
demais, ele valerá somente entre as partes que o realizaram.

A extensão do prazo pode produzir efeitos para todos, vez que não traz prejuízos.

16.4. Inadimplemento
O legislador não seguiu a mesma logica para a aplicação de perdas e danos e de juros.

Art. 279 – Perdas e Danos: paga por perdas e danos o culpado, mas o valor em si (o equivalente) todos pagam. A
solidariedade não se relaciona com a prestação, então o fato da prestação se impossibilitar, o equivalente continua
podendo ser cobrado de qualquer um dos devedores.

Art.280– os juros podem ser cobrados de qualquer devedor, culpado ou não, só que, no fim das contas, depois que
alguém pagar isso, se quem pagou foi o devedor não culpado, ele poderá exigir do culpado a reintegração daquilo
que pagou.

16.5. Exceções Pessoais


Exatamente igual ao da ativa, só que nesse caso os devedores não podem alegar exceções pessoais de outro
devedor.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

16.6. Rateio da Parcela do Insolvente


Pode acontecer que um dos devedores seja insolvente, ou seja, no seu patrimônio tenha mais passivo do que ativo.

Digamos que D resolveu cobrar de C e C paga o total. C agora está com o prejuízo de R$ 600,00, só que R$ 200,00
são dele mesmo. Ele então cobra de B e B paga, mas quando ele cobra de A, A é insolvente. Se não houvesse essa
regra no código, C suportaria sozinho o prejuízo da insolvência de A e sem nenhuma razão. Então, se determinou no
artigo 283 que a parcela do insolvente será dividia entre todos os devedores solidários, participando até mesmo,
aquele devedor que eventualmente tenha sido excluído da solidariedade.

16.7. Dívida de Interesse Exclusivo


Normalmente partimos da presunção que a dívida é dividida de maneira pro-rata, mas por vezes temos situações de
que, embora se tenha devedores solidários, aquela dívida é de interesse exclusivo de um devedor. Ex.: a figura do
fiador – eu devo mil reais e Fernanda é minha fiadora, caso eu não pague e Fernanda paga o valor total, ela então
poderá cobrar de mim o valor total que ela pagou.

1. Dois sujeitos fizeram uma aposta, no valor de dois mil reais, quanto à capacidade de um deles conseguir
realizar determinada escalada sem qualquer uso de equipamento. Acordaram ainda que, se viesse o alpinista
a se acidentar, as despesas com o tratamento ficariam por conta do outro sujeito, independentemente de
ser concluída a escalada. O alpinista conseguiu concluir a escalada, porém se acidentou gravemente, não se
sabendo ainda a extensão dos seus danos. O outro sujeito, procurado pelo alpinista, disse que não vai pagar
nada. Apontando as classificações pertinentes, explique como se resolve o caso (limite de linhas:12).

A aposta configura uma obrigação natural, por isso não é exigível judicialmente. Então a obrigação se resolve sem
que o devedor pague as despesas.

Barema: reconhecer que a aposta é uma obrigação natural; por consequência, não poderia o pagamento da aposta
ser exigido judicialmente; a obrigação de pagar os danos é obrigação condicional vinculada a evento futuro e incerto
que aconteceu, portanto ele deverá pagar os danos decorrentes do acidente, ademais ainda será necessária a
liquidação de tal obrigação antes do seu adimplemento.

2. Fixou-se uma obrigação solidária passiva com quatro devedores (A, B, C e D), no valor total de oito mil reais.
Antes do vencimento A faleceu deixando dois herdeiros. O credor, após o vencimento, exigiu integralmente
a prestação de B, que a cumpriu. Sabendo que C é insolvente, explique os desdobramentos que se darão a
partir do adimplemento realizado por B (limite de linhas: 10).

Na obrigação solidária passiva o credor pode cobrar a dívida de todos os devedores, sendo a prestação única. Como
B adimpliu a prestação, então o credor originário deixa de participar da obrigação e B assume o lugar de credor, mas
de uma parcela de R$ 6.000 a ser cobrada dos outros devedores. Como A faleceu quem assume sua prestação são
seus herdeiros, mas a assume como devedores simples e não solidários, pagando o valor de R$ 1000,00 cada um.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Como C é insolvente, a parcela restante deve ser dividida entre todos os devedores solidários, participando até
mesmo, aquele devedor que eventualmente tenha sido excluído da solidariedade, no caso, participam B, D e os
herdeiros de A.

BAREMA: B se subrroga e poderia cobrar dos demais devedores o correspondete a fração de cada um que se
presume pro-rata, portanto de R$ 2000,00. Os herdeiros do falecido respondem como devedores, mas não como
devedores solidários. B tem a opção de reunir os herdeiros e trata-los conjuntamente como se eles fossem A. A
parcela de C, insolvente será ratiada entre todos os devedores.

Transmissão das Obrigações

1. Cessão de Crédito

1.1. Noções Gerais


Envolve uma transmissão da obrigação no polo ativo. Temo uma situação em que inicialmente quanto a formação da
obrigação temos um credor, só que antes do adimplemento da obrigação, esse credor transmite para outra pessoa a
titularidade do crédito. A obrigação continua a mesma, a única coisa que muda é a titularidade do credor. Nessa
situação o devedor é chamado de cedido, o credor originário é chamado de cedente e o novo credor é chamado de
cessionário. Tem-se um negocio jurídico que acontece entre o cedente e o cessionário e que vai transmitir o crédito
com todos os acessórios, ou seja, a obrigação é transmitida nos exatos termos que ela havia sido fixada.

Nota-se que na cessão de crédito, o cedido, o devedor não tem necessariamente nenhuma participação. Se eu sou
credor e quero ceder meu crédito para alguém, em regra o devedor não tem nada a ver com isso. Essa ideia de
transmissão é algo que só é possível nos ordenamentos contemporâneos como o nosso, porque, na Roma antiga,
por exemplo, o inadimplemento gerava consequências de ordem pessoal e não meramente patrimonial.

Existe no código algumas situações de limitação a cessão de crédito.

Art. 286 – O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a convenção
com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do
instrumento da obrigação.

Temos 3 situações que podem fazer com que o crédito não possa ser cedido. No primeiro caso seria a questão da
própria natureza da obrigação, ou seja, há determinados créditos que pela própria finalidade para qual eles foram
constituídos, não há sentido que aquilo seja transformado em crédito de cessão, ex.: crédito de alimentos. Há ainda
os casos de determinação legal expressa, quando a lei diz que o crédito não pode ser cedido, ex.: contratos –
herança de pessoa viva; e por fim, a convenção com o devedor:
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Art. 298 – O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da
penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o
credor os direitos de terceiro.

Eu tenho uma obrigação em que A deve pra B, e outra situação em que B deve pra C, como B não pagou para C, na
ação de execução da dívida A passa a ter que pagar a C, por determinação judicial, desde que seja notificado. O
último caso é por força de vontade das partes, nesse caso o artigo 286 traz uma ressalva: se a cláusula proibitiva não
estiver no instrumento da obrigação, ela não produzirá efeitos em relação aos terceiros de boa fé. Por isso que no
próprio instrumento que se criar o crédito deve vir expresso também que o crédito não pode ser cedido.

1.2. Eficácia em relação a terceiros


Quando falamos de cessão de crédito tratamos de um negócio jurídico que envolve um cedente e um cessionário.

*Atenção: a validade afeta o negócio, ela não é relativa a A, B ou C. O que é relativo é a eficácia.

Nesse tópico discute-se o que deve ser feito para que a cessão de crédito tenha eficácia em relação a terceiros
(pessoas que não são parte da relação obrigacional).

Art. 288 - É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-se mediante instrumento
público, ou instrumento particular revestido das solenidades do § 1o do art. 654.

Ou própria transmissão já se faz por instrumento público – cartório de títulos e documentos, ou por instrumento
particular revestido dos requisitos do art. 654§1º. Requião critica essa possibilidade porque o que o artigo fala é
incompleto, pois falta a necessidade de registro, ou seja, não adianta as partes realizarem a transmissão de acordo
com o artigo supracitado, mas não darem ciência as pessoas. Para ele há uma necessidade de publicidade, o que não
significa que todos irão saber, mas significa que a todos se conferiu a possibilidade de tomar conhecimento daquilo.

Ainda sobre a eficácia em relação a terceiros o crédito fala do crédito hipotecário. Nesse caso o credor também
poderá averbar no cartório de registro de imóveis a existência daquela cessão.

1.3. Eficácia em relação ao devedor


Aqui o que se exige é a notificação do devedor. O devedor não precisa aceita-la, ele somente precisa ser avisado. Se
não acontecer a notificação do devedor e chegar o dia do adimplemento da obrigação, então ele pagará ao cedente,
pois ele não sabe que existiu a cessão de crédito e está desobrigado na prestação. Somente haverá responsabilidade
para o devedor cedido a partir do momento que ele é notificado, pois nesse caso, se ele é notificado e ainda sim
paga ao cedente, então o cessionário pode exigir que ele pague novamente.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Na cessão de crédito, por força do fato que o devedor não tem escolha quanto a ocorrência ou não da cessão, o que
se determinou foi que quando o devedor é notificado ele pode opor ao cessionário as exceções pessoais que ele, por
ventura, tivesse também em relação ao cedente. Passado esse momento, ele não pode mais fazê-la.

Por isso que, embora a cessão de crédito seja entre cedente e cessionário, muitas vezes prefere-se chamar o cedido
e fazer a cessão com os três presentes, para que depois o cessionário não seja surpreendido com uma exceção
pessoal.

Existe um regramento no código para o devedor saber se portar no caso de múltiplas cessões. A cessão de crédito
não significa que o credor cedente sairá necessariamente da obrigação, ele pode ceder metade para o cessionário.
Assim como, o cedente pode colocar mais de um cessionário na obrigação.

Há o caso de múltiplas cessões do mesmo crédito, nesse caso, há um regramento tanto para que o cessionário tenha
ele a preferência de cobrar, como também traz o regramento de a quem é que o devedor deve pagar para se liberar.
Esses regramentos estão nos arts. 291 e 292.

Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a tradição do título do
crédito cedido.

Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo, ou
que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta, com o título de cessão, o da
obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.

Uma primeira coisa a se observar é que, em acontecendo a cessão de crédito, o ideal é que o cessionário exija que
lhe seja entregue também o documento que dá origem ao crédito. Ou seja, que se faça a cessão, mas que também o
cedente entregue o título ao cessionário, porque ai o cessionário que apresentar o título da obrigação terá
preferência da cobrança. No caso de uma cessão parcial, o ideal é fazer a cessão em cartório e providenciar de
imediato a notificação do cedido.

1.4. Responsabilidade do cedente


Essa cessão de crédito tanto pode ser a título gratuito, quando pode ser a título oneroso, em troca de alguma
contraprestação.

Por que eu trocaria um crédito de 1.000,00 na mão de uma pessoa, pelo mesmo valor na mão de outra?

A motivação para a cessão é a seguinte: o comum é que o cedente não vá receber do cessionário o valor do crédito,
ele vai receber do cessionário um valor menor do crédito. A vantagem do cedente é que ele receberá o dinheiro
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

antes do que seria se mantivesse o crédito. Outra coisa é que na cessão de crédito, se depois o devedor for
insolvente, quem arcará com pelo prejuízo é o cessionário. O cessionário, por sua vez, possui a vantagem do lucro.

O crédito vai trabalhar com dois pontos relativos à responsabilidade do cedente. Primeiro, pela existência do crédito
no momento em que é cedido.

Art. 295 - Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao cessionário
pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título
gratuito, se tiver procedido de má-fé.

A cessão de crédito tanto pode ser a título gratuito quanto pode ser a titulo oneroso. Posso transmitir o crédito a
título de nada, ou para sanar uma prestação (título gratuito). No caso de uma cessão a título oneroso pode-se
pensar porque o cessionário iria querer realizar a cessão. Nesse caso a justificativa é que o comum e que o cedente
não irá receber do cessionário o valor do crédito, ele irá receber do cessionário o valor menor do crédito. Muitas
vezes essa cessão acontece antes do vencimento, além disso, se o devedor for insolvente quem fica com prejuízo é o
cessionário, então o cedente se livra do inadimplemento. A vantagem do cessionário é o lucro.

Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor.

Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele
recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito
com a cobrança.

O art. 296 diz que pode haver um acordo para determinar que o cedente vai ser responsável também pela
insolvência. O art. 297 diz que o cedente, responsável pela insolvência do devedor, não responde por mais daquilo
que ele cedeu.

2. Assunção de dívidas
2.1. Noções gerais
Enquanto na cessão de crédito quem muda é o credor, aqui quem muda é o devedor. No outro caso, o devedor não
participava da cessão, porque de qualquer forma ele teria que pagar. Já na assunção de dívida, como quem muda é o
devedor, de início já fica claro que a situação é diferente. Aqui, muda de figura porque quando você pensa nas suas
próprias coisas, você empresta para algumas pessoas e para outras não. Ou seja, para o credor, faz toda a diferença
quem é seu devedor.

Para que tenhamos mudança do devedor, é necessário que haja expressamente a concordância do credor. Será
estabelecido um prazo para que o credor aceite ou não a mudança. Se o prazo vencer e o credor não se responder,
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

se mantiver em silêncio, isso significa uma NÃO aceitação. Existe uma única situação em que o silêncio vai significar
anuência, que está no art. 303 do CC.

Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito garantido; se o credor,
notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á dado o assentimento.

Na prática, é muito mais comum essa negociação ser feita na própria compra do imóvel.

Outra coisa a se chamar atenção é que é preciso lembrar que se está falando de transmissão da obrigação, não
estamos falando ainda sobre pagamento. São coisas completamente, não se confunde a ideia do sujeito assumir a
dívida, com o sujeito pagar. É bastante óbvio que essa assunção de dívida, pura e simples, normalmente vai ter uma
motivação de ordem pessoal, pois não é comum que uma pessoa queira assumir a dívida de outra. Muitas vezes
trata-se de uma situação de relações de ordem pessoal, ou então negociais.

2.2. Espécies
Para poder acontecer a assunção de dívidas precisa da autorização do credor, mas para ela acontecer, ela não
precisa, necessariamente, da autorização do devedor. Eis que surgem as espécies de assunção. Veja por quê:

1. Assunção de dívida por delegação: o devedor e o terceiro fazem um acordo e procura o credor para que ele
autorize. Essa assunção se chama assunção de dívida por delegação.

2. Assunção de dívida por expromissão: além desta, embora o código não traga com clareza, tem-se a
assunção de dívida em que o terceiro procura diretamente o credor, sem a participação do devedor
primitivo. Esse caso se chama assunção de dívida por expromissão.

3. Assunção de dívida liberatória: a gente tem a ideia de que, ocorrendo a assunção, o devedor primitivo está
liberado, pois, se o sujeito passou a ser o novo devedor, nada mais se pode exigir do devedor originário. Essa
é a regra geral; quando assim o for, tem-se a assunção de dívida liberatória.

4. Assunção de dívida cumulativa: Contudo, nada impede que se faça um acordo para ingresso do novo
devedor, mas que seu ingresso não significa a liberação do devedor primitivo. Quando assim o for,
chamamos de assunção de dívida cumulativa.

*Obs: uma assunção de dívida parcial, não significa que ela, necessariamente, seja cumulativa, vez que a parte que o
devedor assumiu, liberou o devedor primitivo daquela parte da dívida. Só dizemos que é cumulativa se o sujeito
entrou para dever e isso não diminuiu o débito do devedor primário.

2.3. Garantias
Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida,
as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Se o devedor for inadimplente, o credor poderá acioná-lo e, pelo seu patrimônio, poderá receber. Então diz-se que a
garantia geral é o patrimônio do devedor, enquanto que a garantia especial é aquela que foi criada especificamente
para garantir aquela obrigação. Portanto, na assunção de dívida, as garantias funcionam de modo diferente da
cessão de crédito. Entra um novo devedor, mas a não ser que o devedor primitivo concorde, aquelas garantias que
existiam inicialmente não estarão mais previstas, até porque elas afetam diretamente o patrimônio do devedor; não
há exatamente um prejuízo do credor, pois a última palavra se assunção aconteceu, ou não, é dele. O ideal é que,
sendo uma garantia prestada por terceiro, não basta que o devedor dê sua anuência, o adequado é de que seja
necessária, também, a anuência desse terceiro.

Ainda sobre a garantia, o código traz a hipótese da assunção ser eliminada. É o caso em que houve coação, por
exemplo.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as
garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação.

Exemplo: eu tinha prestado a garantia que era a hipoteca do meu apartamento e Fernanda era fiadora. Contudo,
Gabriel assume a dívida por minha coação. Se Gabriel quiser anular a assunção, eu volto à condição de devedor e
Fernanda só volta a ser fiadora se ela tiver conhecimento do vício da coação. Se acontecer a anulação, portanto,
quem é devedor primitivo volta a ser e as garantias que ele tinha prestado também voltam automaticamente. As
garantias prestadas por terceiro, normalmente, não retornam. Só retornam se esse terceiro tinha conhecimento do
vício. Nesse caso, haverá uma nova garantia geral, pois haverá um novo devedor e um novo patrimônio.

2.4. Exceções pessoais:


Art. 302: O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor primitivo.

3. Cessão de contrato
Não tem nenhuma regulamentação expressa no código. Até então, se vinha trabalhando com a transmissão de
obrigações. Aqui, trabalha-se com algo mais amplo. A ideia aqui é de transmissão de uma posição que o sujeito
ocupa no contrato. Ele não vai ceder apenas o débito, ou o crédito. Ele vai ceder a posição que ele ocupa no
contrato, com todas as consequências provenientes disso. Quando se fala em cessão de contrato, vai surgir um
outro comprador, que vai passar a ocupar a posição de comprador primitivo. Ele então estará aderindo a todas
aquelas causas que inicialmente haviam sido pensadas no momento da compra e venda. Aqui, também se pode
fazer uma cessão contratual parcial, não necessariamente a entrada do comprador vai implicar na saída do outro,
podem ficar dois compradores. Tanto os requisitos para isso acontecer, como as consequências, utilizarão as regras
de assunção de dívidas.

a. Para acontecer essa cessão de posição contratual, é necessária a anuência do credor? Sim, pois o credor
precisa saber quem é seu devedor.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Vamos supor que existe um fiador para cada um dos polos. Foi feita a cessão de contrato e nada se falou sobre as
garantias. Assim:

b. Se mantêm os dois fiadores, não se mantém nenhum, só o vendedor ou só o do comprador? Só o do


devedor, pois, entrar um novo comprador em relação ao preço é, de certa forma, uma assunção de dívida e
assunção de dívida, em regra, as garantias não se mantém. Olhando pelo outro lado da cessão, não se
mantém as garantias, pois se trada de uma assunção de crédito.

Adimplemento
1. De quem Deve Pagar

1.1. Devedor
Numa obrigação ou você é parte, ou você é terceiro, isso na verdade se dá em qualquer relação jurídica. E partes são
devedor e credor, todos os outros são terceiros.

Quando o devedor paga se extingue a obrigação do seu débito.

1.2. Terceiro Interessado


A ideia de terceiro é de um sujeito que não é parte de uma relação jurídica. Só que sendo terceiro, ele pode ser
interessado ou pode ser não interessado. Isso quer dizer interesse jurídico. A ideia de interesse jurídico passa pelo
seguinte: embora aquele sujeito não seja parte da obrigação, essa obrigação pode gerar efeitos jurídicos pra ele?
Caso gere ele é um terceiro interessado, v.g. o caso do fiador.

Terceiros interessados não se dão apenas em situações de garantia, existem casos, por exemplo, os casos de
sublocação – A loca salas empresarias pra B, que por sua vez subloca pra C,D e E. Caso B esteja inadimplente, os
terceiros podem pagar para evitar um despejo eventual.

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios
conducentes à exoneração do devedor.

Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo
oposição deste.

O terceiro interessado tem o mesmo direito de pagar, ou mesmo direito de se liberar da dívida, que tem o devedor.
O caput fala que ele pode utilizar os mesmos meios de pagamento.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

1.3. Terceiro não interessado


Casos em que o terceiro que paga não sofre nenhuma consequência jurídica em caso de inadimplemento do
devedor.

Existem duas formas de pagamento:

1ª Não pode ter oposição do devedor e, além disso, tem que pagar em nome a conta do devedor. O entendimento é
que quando o sujeito não é interessado e paga em nome a conta do devedor ele está realizando um ato de
liberalidade. Ou seja, ele irá pagar e depois não poderá exigir nada do devedor.

Art. 305 – O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do
que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.

Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

2ª Terá direito a reembolso quando o terceiro pagar em seu próprio nome, mas não se sub-roga. Quando este
terceiro paga ele tem direito a um reembolso, ou seja, a obrigação inicial se extingue e nasce uma nova obrigação. O
terceiro nesse caso não pode exigir o reembolso antes do vencimento da primeira obrigação. Caso não houvesse
essa ressalva poderiam ocorrer situações estranhas. Ex.: tenho uma dívida que vence em 30 de novembro e então
um terceiro não interessado paga, nesse caso surge uma nova obrigação – em regra as obrigações tem exigibilidade
imediata, mas há uma ressalva aqui que essa somente pode ser exigida após o vencimento da anterior. Nesse
segundo caso, não há necessidade de concordância do devedor.

Art. 306 – O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a reembolsar
aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Quando o terceiro paga sem comunicar ao devedor, ou ele comunica ao devedor e mesmo em caso de discordância
do devedor, o terceiro paga. Se nesses casos o devedor tinha um meio de não pagar para o credor, então ele será
liberado do pagamento ao terceiro. Ex.: uma dívida prescrita.

Art. 307 – Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por quem
possa alienar o objeto em que ele consistiu.

Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé,
a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Trata de um pagamento que envolva transferência de propriedade e que seja feito por alguém que não é o dono da
coisa. É um artigo que só se aplica a obrigação de dar, e, além disso, é um artigo que embora esteja na parte de
obrigações, tem muito mais relação com o direito das coisas.

A preocupação é com a transferência da propriedade e não com o pagamento da obrigação. O ato de pagamento
envolve também uma análise de legitimidade de quem paga, porque, por exemplo, se eu devo um CC para alguém e
você sabe que eu o devo, você não pode pegar o meu CC e entregar para a pessoa que eu devo, pois sendo o CC
minha propriedade, somente eu posso aliená-lo. Então se quem paga a obrigação é alguém que não tinha o poder de
alienar a coisa, esse pagamento se tornará ineficaz.

O §Único trouxe uma exceção – se se tratar de um bem fungível e o credor tiver recebido isso de boa fé e
consumido, nesse caso não vai se exigir a restituição porque perderia a própria lógica. O credor normalmente tem
que devolver a coisa, mas no final ele receberá a mesma coisa de volta, então nesse caso não se aplica a regra do
caput porque seria contraproducente.

2. Daqueles a quem se deve pagar

2.1. Credor
O mais comum e esperado é o que o pagamento seja feito ao credor. Pode-se pagar para o credor ou para um
representante do credor, desde que esse representante tenha poderes especiais de receber e dar quitação. Existem
algumas situações em que excepcionalmente não se deverá pagar ao credor.

Art. 310 – Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em
benefício dele efetivamente reverteu.

O problema não é capacidade para receber o pagamento, o problema é a capacidade para dar quitação – ato jurídico
strictu sensu. O ponto é quando o devedor sabe que o credor é incapaz e ainda sim paga para ele. O código diz que
esse pagamento só será liberatório do devedor se ele reverter em proveito do credor. Ou seja, se se comprovar que
esse pagamento alcançou o efeito que se esperava dele.

Ex.: um pai tem que pagar alimentos para o filho, ele deve depositar na conta da mãe mensalmente. Num dado mês,
ao invés de depositar na conta da mãe, ele chega e da o dinheiro para o filho. Caso o filho gaste todo o dinheiro no
cinema. Porém esse pai terá que pagar de novo, porque essa não era a finalidade desse pagamento. Se o menino, ao
contrário, pagar a escola, o pagamento poderá valer.

Art. 312 – Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão constranger o devedor a
pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Se o devedor na situação em que foi feita a penhora, não foi notificado da penhora do credito, ele está liberado.
Ex.:Requião deve para Fernanda, e Fernanda deve para Amanda. Amanda penhora os bens de Fernanda e inclusive a
dívida de Requião. Caso Requião não tenha sido notificado, ele está liberado. Caso, porém, ele tenha sido notificado,
ele deverá também pagar a Amanda e depois pode entrar com uma ação de restituição contra Fernanda.

Art. 308 – O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de
por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

O pagamento tem muito a ver com a eficácia. Há uma discussão de reverter em proveito. O credor pode ratificar o
pagamento. Além disso, o pagamento também pode ser liberatório se o credor notificar. Quitar é um dever do
credor quando o pagamento acontece, mas se ele quer desconsiderar alguns aspectos do pagamento e liberar o
devedor, isso não rompe a obrigação. A única pessoa que poderia ser prejudicada com isso seria o credor, mas se ele
próprio está liberando, então não tem como ninguém se opor.

2.2. Credor Putativo


Se relaciona com a questão da representação. Envolve a teoria da aparência, ou seja, aos olhos do devedor, parece
que aquela pessoa é a quem que se deveria pagar, porque implicitamente se trás também uma ideia de boa-fé.
Trata-se da boa-fé somada a uma situação objetiva que é razoável que ele acredita que deve pagar.

Em direito, a ideia de putativo é de que o sujeito, mediante uma análise, parece ocupar uma posição que na verdade
não é. O credor putativo é o sujeito que, em uma análise regular, parece ser o credor, porém, não é. Aqui, o
ordenamento tinha que fazer uma opção. Trata-se de um caso em que o devedor paga a alguém que não é o credor,
mas é uma situação em que tudo leva a crer que aquele sujeito é o credor. Então o legislador tinha a opção de
tutelar o interesse do credor, fazendo o devedor pagar novamente, ou tutelar a confiabilidade da movimentação
jurídica, e isto foi o que aconteceu.

Art. 309 – O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor.

Se o devedor de boa fé paga o credor putativo ele está liberado, mesmo que depois se comprove que ele não era o
credor. Nesse caso o credor verdadeiro poderá entrar com uma ação contra o credor putativo, por enriquecimento
sem causa.

Nota-se que a boa-fé ou má-fé do credor putativo é irrelevante, porque pode ser que o credor putativo acredite que
é credor, ou que ele saiba que não é credor. O que importa é que ele parece ser credor e o devedor acredita nisso.

2.3. Portador da Quitação


Trata-se de uma situação parecida em termos de pressupostos, porque é a situação de um pagamento feito ao
portador da quitação.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Art. 311 – Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as circunstâncias
contrariarem a presunção daí resultante.

A quitação é justamente o documento emitido pelo credor que prova que o devedor pagou. Libera o devedor. A
presunção que o CC criou é que se uma pessoa está portando a quitação, documento que libera o devedor,
presume-se então, que ele está autorizado a receber o pagamento.

Há um elemento objetivo (portar a quitação) e há um elemento subjetivo (o devedor acreditar que esse sujeito está
autorizado a receber o pagamento).

3. Objeto do Pagamento

3.1. Identidade
Art. 313 – O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa.

O art. 313 determina que o credor não está obrigado a receber prestação diversa da devida, ainda que mais valiosa.
Não é uma questão do valor da prestação, mas da identidade. É óbvio que o credor também não pode obrigar o
devedor a entregar nenhuma outra prestação, ainda que seja menos valioso. Qualquer modificação na prestação
devida só pode acontecer havendo acordo entre as partes, não pode ser unilateral.

3.2. Indivisibilidade
Art. 314 - Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem
o credor a pagar por partes, se assim não se ajustou.

Trata-se da indivisibilidade do objeto no pagamento. A regra geral para o pagamento é o pagamento da prestação de
uma única vez, pouco importando que esta prestação seja divisível. Mesmo que se trate de uma obrigação divisível,
a regra geral é de que o pagamento deve se dar em um único ato. Somente haverá exceções se as partes acordarem
ou se a lei determinar o contrário. Isso não afasta a característica da prestação ser divisível ou indivisível, pois o
artigo tem mais sentido quando estamos diante de uma obrigação divisível, porque no indivisível não seria
necessário nenhuma norma para determinação do pagamento.

3.3. Nominalismo
Art. 315 – As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente, e pelo valor nominal, salvo o
disposto nos artigos subsequentes.

O pagamento das obrigações pecuniárias deve se guiar pelo valor nominal, ou seja, se eu firmo com você uma
obrigação de pagar R$ 200,00 daqui a um ano, nesta data o valor a ser pago não será corrigido. Quando se cria uma
obrigação pecuniária, a ideia é que ela seja paga exatamente no valor que ela foi firmada.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Esse nominalismo é mais favorável ao devedor, pois a tendência é sempre de desvalorização da moeda. Ela tem uma
finalidade de ordem púbica de evitar incerteza, ao firmar um valor pré-determinado.

 Cláusula de Escala Móvel

Art. 316 – é lícito condicional o aumento progressivo de prestações sucessivas.

Essa questão de nominalismo, se não houvesse nenhuma possibilidade de modificação do valor, isso poderia tornar
inviável situações contratuais com o pagamento de longo prazo. Por isso, o código traz uma possibilidade, em
algumas obrigações, de haver uma cláusula que permita o reajuste dos valores devidos.

A ideia do artigo é que se eu tenho um contrato que o devedor deverá pagar diversas prestações ao longo do tempo,
as partes podem, no momento que pactuam a obrigação, determinar uma cláusula que servirá como indicie para
realizar o reajuste da prestação devida. Essa situação é comum no contrato de locação imobiliária.

3.4. Curso Forçado da Moeda


Art. 315 – deverá ser pago em moeda corrente

Art. 318 – São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a
diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial.

Essa é uma norma que tem uma questão privada envolvida, no sentido de que cria um regramento que faz com que
o sujeito saiba que qualquer obrigação pecuniária que ele tiver será paga em real. Mas é um tipo de norma que tem
também um caráter de ordem pública, porque quando você determina o curso forçado da moeda (a obrigação só
poderá ser paga na moeda corrente) você realiza uma proteção da moeda. Essa norma é protetiva da moeda
nacional.

É por isso que a norma não afirma que é nulo o pagamento com moeda estrangeira, mas sim as convenções de
pagamento com moeda estrangeira. Contudo, essa vedação alcança somente o ato de pagar ou alcança a própria
convenção, como está explicado no texto? Alguns autores entendem que essa norma na verdade impede até mesmo
a convenção de pagamento em moeda estrangeira, ou seja, o impedimento é que não se pode fazer um acordo
dizendo que o valor devido é de X em moeda estrangeira, ainda que seja pago em real. Outros autores afirmam que
não há problema que o acordo seja feito em moeda estrangeira, contanto que o pagamento seja em real.

Existem algumas exceções para isso, como no caso de exportação e importação.

3.5. Revisão da Obrigação


Art. 317 – Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e
o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação.
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Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Art. 478 – Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à
data da citação.

Quase sempre são discussões envolvendo obrigações pecuniárias.

A vinculação das partes é aquilo que foi acertado. Isso é razoável pela segurança das relações. Só que, se verificou
que, por vezes, aconteciam, entre o momento que a obrigação foi criada e o momento do seu adimplemento,
eventos que nenhuma das partes tinha como prever, ou seja, algo excepcional que por vezes afetava o equilíbrio da
obrigação. Esses eventos causavam uma ruptura na razoabilidade de previsão, por isso foram criadas normas
permitindo que nesses casos se dê uma possibilidade de revisão/ reajuste do que é devido naquela obrigação.

Existem várias teorias sobre isso:

1) Teoria da Imprevisão: desproporção posterior


2) Teoria da Onerosidade Excessiva: desproporção do valor que é devido
3) Teoria da Base Objetiva: a obrigação é criada dentro de uma base de probabilidade e quando há um
rompimento é necessária uma revisão.

Tratam-se de fundamentos diferentes que chegam a mesma conclusão: em tendo havido uma ruptura que causou
uma desproporção do que era devido no pacto e o que é devido no final, isso enseja uma revisão.

O artigo 317 traz para o nosso sistema tanto a questão da imprevisibilidade quanto a questão da desproporção.
Tanto motivo imprevisível, quando desproporção manifesta são conceitos indeterminados. A análise do que é
imprevisível é algo a ser feito caso a caso.

O STJ tem sido restritivo nessa afirmação. Para Requião essa é uma posição correta, é necessário que seja algo muito
bem regulamentado para evitar que isso vire causa para que a pessoa que fez um mau negócio queira muda-lo. Nas
decisões do STJ é muito comum ver esse tipo de alegação nos casos de compra e venda de safra, por parte do
agricultor. V.g.: o agricultor faz um acordo dizendo que daqui a X meses ele irá vender N sacas por R$ Z cada saca,
mas quando chega o momento de o negócio alcançar a eficácia, aquele produto está valendo duas vezes mais, ai
entra com uma ação pretendendo fazer com que o comprador pague a mais, e invariavelmente o agricultor perde,
porque são casos que os motivos apresentados não são classificados como imprevisível.

A desproporção manifesta é mais fácil de provar do que a imprevisibilidade, mas não há uma predeterminação.
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Vida Catarina Silva Vasconcelos

3.6. Despesas
Art. 325 – Presumem-se a cargo do devedor as despesas com o pagamento e a quitação; se ocorrer aumento por fato
do credor, suportará este a despesa acrescida.

A regra geral, de natureza supletiva (se as partes convencionarem em contrário o que vale é o convencionado), é que
as despesas ficarão a cargo do devedor. A única ressalva feita é que se ocorrer aumento nessa despesa por um fato
imputável ao credor, então esse aumento quem vai arcar é o credor e não o devedor.

3.7. Pesos e Medidas


Art. 326- Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que
aceitaram os do lugar da execução.

A regra geral é considerar a unidade de medida do local do cumprimento da obrigação. Raramente existe utilidade
para isso, porque aqui utilizamos um único sistema (quilo e metro).

4. Prova do Pagamento
A questão de realizar a prova do pagamento é tão importante quanto realizar o próprio pagamento. Isso porque
caso não haja um comprovante do pagamento e o credor agir de má-fé e exigir um novo pagamento, ele poderá
fazer.

4.1. Quitação
O meio máximo de prova do pagamento é a quitação, sendo um documento emitido pelo credor, comprovando que
o devedor pagou. A quitação é um direito do devedor, tanto que se o credor não quiser ou não puder dar a quitação,
o devedor tem o direito de reter o pagamento, pois não há como se pensar em obrigar o devedor a pagar em uma
circunstância que não há meios de prova do seu pagamento.

A quitação é um ato jurídico strictu senso, sendo necessário que o credor seja capaz para emiti-la.

Normalmente quando o credor se recusa a emitir a quitação é porque se tem um conflito entre credor e devedor
sobre o que é o pagamento devido (casos que envolvam juros, vg.).

O indicado não é que o devedor fique inerte, em caso de ausência de quitação.

A quitação é um documento que tem alguns requisitos formais pré-determinados em lei:

Art. 320 - A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a espécie da
dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do
credor, ou do seu representante.
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Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

Parágrafo único. Ainda sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos ou das
circunstâncias resultar haver sido paga a dívida.

Num ato jurídico, quando existem requisitos de forma, e a forma não é cumprida a consequência é de invalidade,
ato nulo. Existiria um problema enorme aqui, porque quitações são emitidas todos os dias por pessoas que não tem
consciência dos requisitos e por isso, pretender fazer que essas obrigações fossem nulas, isso seria absurdo e
incompatível com a realidade. Até porque é um caso interessante, pois trata-se de uma nulidade que beneficia quem
gerou, porque quem emite a quitação é o credor e sendo ela nula, o credor poderia exigir novamente. Por isso é que
embora o artigo 320 trata requisitos formais da quitação, o § único do mesmo artigo relativiza a obrigatoriedade
desses requisitos.

A quitação poderá ser válida mesmo em faltando algum ou alguns dos requisitos legais.

4.2. Presunções de Pagamento


O normal é que em tendo havido o pagamento seja emitido a quitação e ela seja usada como prova de pagamento.
Porém existem alguns casos no CC que foram criadas presunções de pagamento, ou seja, temos situações em que,
mesmo sem termos a quitação quanto aquilo, a presunção será de pagamento. Trata-se de uma presunção relativa,
ou seja, admite prova em contrário, o que se inverte é o ônus probatório.

São três situações:

Art. 322. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em
contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores.

Art. 323. Sendo a quitação do capital sem reserva dos juros, estes presumem-se pagos.

Art. 324. A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento.

1) Art. 322 – Quando acontece o pagamento em cotas periódicas, ou seja, quando o sujeito terá que pagar
diversas prestações ao longo do tempo. O código diz que a quitação da última estabelece a presunção de
estarem solvidas as anteriores, até que se prove o contrário. Última nesse caso diz respeito a quitação mais
recente. Se o credor dá a quitação, sem ressalvas de ainda haver débitos de prestações anteriores, faz-se
presumir que as últimas estão pagas.
2) Art. 323 – Capital e Juros. Sendo a quitação sem reservas de juros, estes se presumem pagos. A quitação do
capital faz presumir que os juros também já se encontram pagos.
3) Art. 324 - Devolução do Título. Se existe um título (cheque...) e eu devolvo ao devedor, a presunção é de
adimplemento. Esse é o único dos três que traz prazo decadencial de 60 dias para que a presunção deixe de
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ser relativa e passe a ser absoluta. Se o credor perder o título, o devedor pode exigir um comprovante do
credor afirmando que perdeu o título (inutilizando o título), ou uma quitação do credor.

5. Lugar do Pagamento
5.1. Quesível x Portável
Em regra, o pagamento da obrigação deverá se dar no município do devedor. Quando isso ocorre fala-se em
obrigação quesível.

Já quando, ao contrário, se convencione que a obrigação deverá ser paga no município do credor se chama de
obrigação portável.

Essa questão traz um dado óbvio (onde pagar) e traz outro dado correlacionado com esse: se chega no dia do
pagamento e ninguém procurar ninguém, é isso que irá determinar quem está inadimplente. Se a obrigação é
quesível, nessa hipótese, o inadimplente é o credor, mas se for portável o inadimplente é o devedor.

Pode ainda, haver a convenção das partes, para que o pagamento se dê num local que não seja nem o domicílio do
credor, nem do devedor. Quando é assim, pode surgir uma dúvida na seguinte situação: se ninguém for cumprir a
obrigação, significa que ninguém está inadimplente ou que os dois estão inadimplentes? Porque na verdade,
nenhum dos dois cumpriu com a obrigação. Mas, por outro lado, você pode argumentar que o sujeito tenha
cometido o ilícito não pode imputar ao outro a mesma conduta (venire). O único problema de pensar que os dois
estão em mora é que há consequências da mora do credor e do devedor que são incompatíveis e não tem como ser
aplicadas ao mesmo tempo.

O código traz uma norma que quando se tratar em pagamento relativo a um imóvel, o local do pagamento, será o
local do imóvel.

5.2. Motivo Grave


O código traz duas situações que possibilitam a mudança do local do pagamento. O primeiro caso está descrito no
artigo 329:

Art. 329. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor
fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor.

Havia sido pactuado certo local pra pagar, ai ocorre um motivo grave (conceito indeterminado) que impede que o
pagamento ocorra no local que foi pactuado. Nessas circunstancias, independente do acordo do credor, o devedor
poderá pagar em qualquer local. O código buscou equilibrar isso da seguinte maneira: em regra, se o sujeito pagar
fora do local ele está inadimplente, o artigo permite o devedor pagar em local diverso sem ficar inadimplente, mas
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embora ele não fique inadimplente, o código diz que o pagamento deverá ser feito sem prejuízo para o credor. Ou
seja, quem arca com o prejuízo do pagamento em local diverso, caso ele ocorra, é o devedor.

5.3. Pagamento reiterado em local diverso


Outra situação que trata de mudança de local de pagamento é esta. Nessa obrigação, necessariamente, precisa-se
falar em uma obrigação que tem diversos momentos de pagamento no tempo.

Art. 330 – O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato.

Tem-se aqui um conceito indeterminado de reiterado. Genericamente fala-se em venire. A redação do artigo fala em
renuncia, renuncia é ato, mas a interpretação da doutrina ignora isso, e trabalha com a ideia de venire – suprecio
surrecio: o credor tinha direito de cobrar no local e não o faz.

Para configuração de reiteração, Requião aponta critérios:

1) Proporção do número de parcelas paga em outro local e o número total de parcelas


2) Ausência de interrupção dos pagamentos

Mesmo se houver pagamentos sendo feitos de modo reiterado em locais diversos, mas a cada um desses
pagamentos o credor deixar claro que aquilo é mero ato de liberalidade daquele momento e que ele não está
obrigado a receber naquele local, não se poderá exercer o previsto no artigo.

6. Tempo do Pagamento
É importante para saber até que momento o devedor deve realizar o adimplemento da obrigação. Em regra, as
obrigações tem exigibilidade imediata, ou seja, no momento que é criada deve ser cumprida e o vencimento da
obrigação normalmente vai coincidir com o surgimento da obrigação e só não será assim se houver um fator
modificador.

6.1. Vencimento
A questão de quando é o vencimento pode ser modificada por questões como o termo e a condição.

 Condição:

Art. 332 – As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova
de que deste teve ciência o devedor.

Em se tratando de uma obrigação condicional, o devedor não está nem mesmo ainda obrigado, assim como o
credor, ele ainda não tem o direito a aquele crédito, ele tem uma expectativa, pois a condição pode se realizar ou
não. Quando ocorrer a condição a obrigação passa a ser exigível, mas só assim será se o devedor tomar ciência de
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que o evento aconteceu. Então, o devedor somente está com a obrigação exigível a partir do momento que ele toma
conhecimento da ocorrência da condição.

 Termo:

A simples ocorrência do termo gera a exigibilidade. O termo é determinado por um vencimento e a partir daquele
momento a obrigação é exigível. Antes do vencimento, a obrigação não é exigível e o devedor não está
inadimplente; no dia do termo, o devedor ainda não estará inadimplente, mas a obrigação já é exigível (o credor
pode cobrar, se ele cobrar antes, pratica ato ilícito); após o vencimento, a obrigação é exigível e o devedor está
inadimplente.

O termo pode ser fixado de duas formas:

1) Termo em favor do devedor: aquele termo é o limite até quando se pode pagar, ou seja, o vencimento é dia
10/03, então posso pagar qualquer dia antes, até o dia 10.
2) Termo neutro: o vencimento é quando deve pagar, o momento em que o pagamento deve acontecer. Não
pode ser nem antes nem depois.

6.2. Cobrança Antecipada


O código regulamenta as situações que permitem a cobrança antecipada da obrigação.

Art. 333. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou
marcado neste Código:

I - no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores;

II - se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por outro credor;

III - se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussórias, ou reais, e o devedor,


intimado, se negar a reforçá-las.

Parágrafo único. Nos casos deste artigo, se houver, no débito, solidariedade passiva, não se reputará vencido
quanto aos outros devedores solventes.

Há uma discussão na doutrina se o artigo trata de cobrança antecipada ou de vencimento antecipado. Caso a
cobrança seja antecipada, diz-se que antes do vencimento pode-se cobrar a obrigação, mas não se pode cobrar
juros, perdas e danos... Se o vencimento for antecipado, não havendo pagamento imediato, todas as consequências
do adimplemento podem ser cobradas do devedor. Para Requião, trata-se de cobrança antecipada.
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São situações que geram para o credor uma maior insegurança quanto a possibilidade de se ele esperar o
vencimento para receber o que é devido.

Inciso

I – aqui está declarado judicialmente que aquele devedor não tem como pagar tudo que deve para todos, então se o
credor esperasse o vencimento, a chance de ele receber quando o vencimento se der, é mínima.

II – inadimplemento do devedor: se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por


outro credor. Aqui o credor poderá também cobrar antecipadamente.

III – única das três, que não se relaciona com o inadimplemento do devedor, se relaciona só com garantias e por isso
tem um tratamento diferente. Existia uma garantia e ela deixa de existir, mas não por ato do devedor, só que nesse
caso, como não é algo que se relaciona com inadimplemento do devedor, ele tem como impedir a cobrança
antecipada, se ele substituir a garantia.

7. Imputação do Pagamento

7.1. Noções Gerais


Para poder ser necessária a imputação do pagamento, é necessário um quadro em que o mesmo sujeito deva a
outro duas ou mais obrigações e as prestações dessas obrigações já sejam livres, fungíveis e exigíveis (já tem que
estar vencidas). Nesse quadro, pode ser que o devedor faça um pagamento que seja parcial, ou seja, paga, mas o
que ele paga não dá para cobrir tudo aquilo que ele deve. Imputar o pagamento é indicar o que foi pago nessas
circunstâncias, vg. se o devedor dar R$ 900,00 diz-se que R$ 300,00 de uma prestação e R$ 600 de outra.

7.2. Ordem Legal


Para poder cogitar imputação do pagamento, tem que ser uma situação em que o credor admita pagamento
fracionado, se o credor não aceitar, não tem nem o que se dividir. Não ocorrera esse problema se as parcelas forem
em valores iguais – deve R$ 200,00 de uma e R$ 200,00 de outra e paga R$ 200,00.

De inicio, o primeiro sujeito que tem direito de realizar a imputação do pagamento é o devedor (art. 352):

Art. 352. A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a
qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos.

O devedor quando paga tem o direito de escolher qual das obrigações está pagando e sua quantia. Mas pode ser
que o devedor seja omisso, pague e não indique o que estão pagando. Caso isso ocorra, o credor, quando for emitir
a quitação, ele pode realizar a imputação do pagamento. Sendo que o devedor não é obrigado a aceitar a imputação
do credor, ao receber a quitação o devedor pode insurgir contra isso.
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Pode ser que o devedor pague não diga nada, que o credor emita a quitação e também não diga nada. Nesse caso,
vamos para as regras que se encontram no artigo 355:

Art. 355 – Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se
fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo
tempo, a imputação far-se-á na mais onerosa.

Se ninguém fez a imputação, irá se verificar dentre as dívidas qual primeiro se tornou líquida e vencida. Caso todas
tenham se tornado líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação se fará na mais onerosa - para Requião mais
onerosa não significa necessariamente a de maior valor, mas sim aquela que, se não for paga, traz o maior prejuízo
para o devedor.

7.3. Capital e Juros


Essas regras foram de obrigações diferentes, mas podemos ter situações que surge uma imputação dentro de uma
mesma obrigação. Existe o valor principal e havendo o inadimplemento aplicar-se-á juros.

Se houver um pagamento insuficiente para quitar o capital e os juros, o credor tem o direito de fazer que o
pagamento seja imputado primeiro aos juros e depois no capital.

8. Dação em Pagamento

8.1. Noções Gerais


Nem devedor nem credor, pode, unilateralmente, exigir coisa diferente do acertado na prestação. Porém, não há
nenhum impedimento para que devedor e credor entrem em acordo para que, ao invés de cumprir a obrigação com
a prestação devida, essa obrigação seja cumprida com prestação diferente. Quando isso ocorre, teremos uma dação
em pagamento. A ideia aqui é que a prestação era uma e passa a ser outra. Não necessariamente precisa ser uma
obrigação de dar.

Nota-se que quando eu faço uma dação em pagamento, eu não preciso dizer quanto vale a minha prestação inicial.
Se o credor aceitar a troca da prestação inicial por outra, pouco importa se os valores das prestações são iguais,
somente importa o fato de o credor aceitar.

8.2. Preço Determinado


Existem situações específicas em que o código regrará especificamente.

Se o que se vai dar em pagamento é uma coisa e se determinou o preço dela – devo para X R$ 30,00, porém não
tenho esse dinheiro e, em lugar, dou um CC e vamos avaliar esse CC como se ele tivesse o preço de R$ 30,00.
Assemelha-se a um contrato de compra e venda, por isso, essa dação se guiará pelas regras desse tipo de contrato.
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Vida Catarina Silva Vasconcelos

8.3. Título de Credito


Tenho um título de crédito e devo para X uma obrigação, por não ter como cumprir com a obrigação, acordo com X
para o pagamento ser feito com o título. Nesse caso, a dação se guiará por cessão de crédito.

8.4. Evicção
Uma das garantias legalmente previstas para o contrato é a da evicção. Trata-se da garantia do direito sobre a coisa.
Ocorre quando: eu te vendi um determinado bem e aparece um terceiro falando que o bem é dele, então, eu perco
o bem para o terceiro. Se o credor sofrer a evicção da coisa dada em pagamento, você irá reestabelecer a obrigação,
como se o pagamento não houvesse ocorrido. Quem arca com o vício da evicção é o devedor, perde-se a quitação.

9. Pagamento em consignação
9.1. Noções gerais
Como já vimos, o normal é que o pagamento seja realizado ao credor para a dívida em questão, mas podemos ter
situações em que o credor se recuse a fazer o pagamento, ou não dar a quitação. Ou seja, é possível que o devedor
seja impossibilitado de realizar o pagamento. Assim, quando há algum óbice de pagamento do devedor, ele pode
realizar esse pagamento em consignação. A consignação consiste em um depósito; algo que não estará sendo pago
diretamente ao credor, mas em favor do credor. Estando de acordo com as formalidades, o depósito consignado
representa uma forma legítima de pagamento. Só se pode falar em pagamento em consignação nas obrigações de
dar. Trata-se de uma regulamentação de direito material, posto que é um ato de adimplemento e, portanto, não é
direito processual.

9.2. Causas
Para que se possa realizar esse pagamento, devem estar presentes algumas causas ditadas pelo CC, que autorizam
que o devedor faça o pagamento por consignação. Na maioria das vezes, quem ingressa com o pagamento por
consignação é o devedor, mas existem casos em que o credor o faz.

Esse pagamento tanto pode ser judicial, como pode ser bancário, embora o rol de coisas que podem ser bancários
por depósito bancário é infinitamente menor do que o rol abarcado pelo depósito judicial.

Art. 335. A consignação tem lugar:

I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma;

II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos;

III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de
acesso perigoso ou difícil;

IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento;


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V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento.

A consignação tem lugar:

I – Se o credor não puder ou, sem justa causa, se recusa a receber ou dar quitação (impossibilidade de receber e
impossibilidade de dar quitação);

Ex: credor incapaz de quitar.

Ex2: credor recusa o pagamento porque há um litígio, o credor acredita que não é aquele valor devido.

II – Se o credor não for, nem mandar receber a coisa, no tempo e condição devidos. *Inciso que nos remete à
obrigação quesível.

III – Se o credor for: incapaz de receber; desconhecido (Ex: situação de sessão de crédito); declarado ausente (só
pode ter sentido quando o juiz, ao nomear o curador, não conferir a ele poderes para receber pelo ausente); residir
em lugar incerto ou de acesso perigoso/difícil (só tem sentido em obrigação portável e se tais circunstâncias não
forem objeto do conhecimento do devedor no momento da feitura do contrato – caso o devedor já soubesse e
interpusesse ação para pagamento consignado, verifica-se um venire contra factum proprium).

IV – Se mais de uma pessoa se apresentar como credor. Ex: situações de múltiplas cessões de crédito; falecimento do
credor e várias pessoas se apresentando como herdeiro. Ou seja, situações me que há mais de um sujeito alegando
ser o devedor.

Art. 345 - Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se pretendem mutuamente excluir, poderá
qualquer deles requerer a consignação.

Há também situações em que o credor possa ter a iniciativa de entrar com a ação de pagamento consignado, nos
casos em que haja a possibilidade do devedor pagar a alguém e alegar que se tratava de um credor putativo.

9.3. Procedimento
Quando você ingressar com a ação, o juiz vai determinar um prazo para que o sujeito realize o depósito. Contudo,
em alguns casos, existe a necessidade de se determinar um procedimento anterior. Isso ocorre nos casos em que há
o direito de escolha, nas obrigações de dar coisa incerta ou na obrigação alternativa em que ambas prestações sejam
de dar e a escolha seja do credor. Então, antes, o credor deverá ser intimado para escolher. Se o credor se
manifestar a favor da realização do depósito, o juiz declarará a ação procedente. Se o credor se manifestar de modo
contrário, ele deverá impugnar o valor e o juiz analisará a impugnação. Se o juiz julgar improcedente, quem irá arcar
com os custos do depósito será o devedor. Existe a possibilidade de o devedor, a qualquer momento, pretender
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realizar o levantamento do depósito (pegar de volta). Mas esse levantamento é difícil de acontecer, uma vez que,
normalmente, é o próprio devedor que entra com a ação.

Causas de levantamento do depósito:

1ª Houve o depósito, mas o credor ainda não se manifestou na ação: o devedor pode livremente realizar o
levantamento da coisa depositada.

2ª Já houve a manifestação do credor, seja aceitando ou recusando o depósito, mas ainda não houve sentença: para
levantar o depósito, o devedor precisa da autorização do credor. Não precisa da autorização de eventuais credores
ou codevedores. A autorização só é necessária do credor, mas se o credor autorizar sem ter anuência dos outros
devedores ou fiadores, nesse caso, os outros devedores ou fiadores ficarão livres da obrigação, ele só pode cobrar
do devedor que depositou e levantou o depósito.

3ª Quando a ação já foi julgada procedente: nesse caso, há a necessidade não só do credor, mas dos codevedores e
do fiador.

10. Pagamento com sub-rogação


10.1. Noções gerais
São situações em que um sujeito paga e, excepcionalmente, o pagamento não extingue a obrigação e ele passa da
posição de devedor para a de credor.

10.2. Espécies

Art. 346. A sub-rogação opera-se, de pleno direito, em favor:

I - do credor que paga a dívida do devedor comum;

II - do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecário, bem como do terceiro que efetiva o
pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel;

III - do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte.

Art. 347. A sub-rogação é convencional:

I - quando o credor recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os seus direitos;

II - quando terceira pessoa empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob a condição expressa
de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito.

Existem algumas situações que geram esse pagamento, elas estão divididas em:

a. Pagamento por sub-rogação legal: a sub-rogação opera-se de pleno direito: se o sujeito pagou numa das
hipóteses legalmente previstas, automaticamente, ele se sub-roga.
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b. Pagamento por sub-rogação convencional: situações em que a lei regulamenta dizendo que para acontecer a
sub-rogação nesses casos, é necessário que o sujeito (normalmente, o credor) autorize a sub-rogação. Há a
necessidade de um ato de vontade de alguém determinando que essa sub-rogação irá acontecer.

*O devedor somente se sub-roga somente em relação ao que ele pagou.

São causas de sub-rogação:

I – do credor que recebe o pagamento de terceiro e expressamente lhe transfere todos os direitos (usa as mesmas
regras da cessão de crédito);

*quando o credor quer ter um controle patrimonial sob o devedor. Ex: a obrigação que A tem com B não tem
garantia, mas a obrigação que A tem com C, tem uma hipoteca de garantia. Então, para ter o controle da hipoteca, B
preenche a causa do inciso I.

II – do adquirente do imóvel hipotecado que paga ao credor hipotecário (uma obrigação que é garantida pela
hipoteca do imóvel, então o adquirente desse imóvel paga ao credor hipotecário e, automaticamente, sub-roga-se
aos direitos do credor – aqui, o interesse na sub-rogação está mais claro) ou (...)

III – (mais comum) do terceiro interessado que paga a dívida pela qual era ou é interessado, ou podia ser obrigado
de alguma maneira. Normalmente, essa pessoa é o fiador.

*A sub-rogação não extingue a obrigação! A obrigação permanece sendo a mesma.

São causas de sub-rogação convencional:

I – Parecido com a cessão de crédito (guia-se pelas mesmas regras);

II – Quando terceira pessoa empresta ao devedor quantia (...)

Uma pessoa tinha uma dívida, então ela vai e pega emprestado um valor com a finalidade de quitar a dívida, mas
esse empréstimo é feito com a condição de que quem emprestou se sub-rogue à condição de credor.

III – Eventualmente, o pagamento por consignação pode ser parcial, você se sub-roga somente da quantia paga e o
credor originário permanece credor da quantia remanescente. Acontece que não há quantia suficiente nos bens do
devedor para pagar ambos credores. Assim, o credor originário tem prioridade.

11. Remissão
11.1. Noções gerais
Existem algumas causas de extinção direta da obrigação (sem que tenha acontecido o pagamento), a primeira delas
é a remissão. A remissão é o perdão da dívida, mas o que sempre é importante chamar atenção é que a remissão
não é um ato que depende só do credor. Da leitura do art. 385, isso fica claro.
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Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

Nota-se que é necessário não apenas que credor queira perdoar, mas que o devedor aceite o perdão. Além disso,
essa remissão não pode prejudicar direito de terceiro.

11.2. Devolução do título x Devolução do objeto empenhado

Art. 386. A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova desoneração do
devedor e seus co-obrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor capaz de adquirir.

Art. 387. A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não a
extinção da dívida.

Não se pode confundir devolução do título da obrigação, com devolução do objeto empenhado. Quando ocorre a
remissão, ocorre a devolução do título da obrigação. Já o penhor é uma garantia da obrigação; se eu entrego meu
celular como penhor e, em um dado momento, a credora resolve devolver o objeto empenhado: isso significa
simplesmente que ela abriu mão da garantia, mas se manteve o débito.

11.3. Solidariedade
Art. 388 - A remissão concedida a um dos co-devedores extingue a dívida na parte a ele correspondente; de modo
que, ainda reservando o credor a solidariedade contra os outros, já lhes não pode cobrar o débito sem dedução
da parte reprimida.

A dívida é uma só; se eu realizo o perdão da dívida em relação a um só devedor, o restante da dívida eu continuo
podendo exigir do restante dos devedores, que continuam sendo meus devedores solidários. O perdão afeta
somente aquele devedor e a parte dele.

12. Novação

12.1. Aspectos Gerais

Art. 360. Dá-se a novação:

I - quando o devedor contrai com o credor nova dívida para extinguir e substituir a anterior;

II - quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este quite com o credor;

III - quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o devedor quite com
este.

Art. 361. Não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira.
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Art. 362. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento
deste.

Art. 363. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o primeiro,
salvo se este obteve por má-fé a substituição.

Art. 364. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em
contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em
garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação.

Art. 365. Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que
contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros devedores solidários
ficam por esse fato exonerados.

Art. 366. Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal.

Art. 367. Salvo as obrigações simplesmente anuláveis, não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou
extintas.

É uma forma de extinção da obrigação considerada não satisfatória. Nesse caso, não há uma satisfação imediata do
crédito. É uma forma de extinguir a obrigação pela qual as partes criam uma nova obrigação para extinguir a
anterior. Na novação se tem a criação de uma nova obrigação para extinguir uma obrigação preexistente.

12.2. Requisitos
1. Obrigação Preexistente Válida: para doutrina não pode ser natural, pois estas não são juridicamente
exigíveis; mas podem ser anuláveis, ou seja, podem possuir vícios, o CC traz (art. 367) uma ressalva que não
pode ser obrigação nula, nem pode ser alvo de novação a obrigação que já tenha sido cumprida, por ordem
lógica;
2. Acordo entre as partes para criar a novação - deve estar de acordo com o art. 104;
3. Animus novandi – vontade de criar uma nova obrigação e extinguir a antiga

12.3. Espécies:
 Objetiva
A nova obrigação criada tem uma mudança no núcleo substancial, no objeto da prestação – posso ter uma
obrigação de dar coisa certa e substituir por uma obrigação de fazer.
 Subjetiva
O que se modifica são os sujeitos que compõem tanto o polo passivo quanto ativo.
Pode ser ativa: quando se substitui o credor da obrigação;
Pode ser passiva: quando há uma modificação do devedor. Pode ser por expromissão: quando o novo
devedor procura o credor e ele mesmo acorda uma nova obrigação, sem que o devedor originário saiba.
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Pode ser também por delegação: quando o próprio devedor originário indica ao credor que outra pessoa é o
devedor.

12.4. Efeitos
Como se cria uma nova obrigação, o débito da obrigação primária é extinto. Há uma desobrigação da consequência
da mora. As obrigações acessórias se extinguem também, mas não há nenhum impedimento para que as acessórias
continuem por meio de acordo entre as partes.

No caso de obrigações solidárias (art. 365), a novação feita por um dos devedores ou credores, libera os outros
devedores solidários.

Caso da insolvência – em caso de uma novação subjetiva passiva, o credor não pode cobrar a dívida do devedor
anterior.

Na novação se tem uma obrigação e se cria uma nova obrigação que tem por efeito extinguir a anterior. Existe a
possibilidade também de ser realizada a dação em pagamento, porém nesse caso acontece na mesma obrigação,
enquanto a novação sempre é uma nova obrigação que extingue a anterior.

A vantagem que se tem na novação é que o prazo prescricional se renova inteiramente.

13. Compensação

13.1. Aspectos Gerais

Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações
extinguem-se, até onde se compensarem.

Art. 369. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis.

Art. 370. Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas prestações, não se compensarão,
verificando-se que diferem na qualidade, quando especificada no contrato.

Art. 371. O devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe dever; mas o fiador pode compensar
sua dívida com a de seu credor ao afiançado.

Art. 372. Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação.

Art. 373. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:

I - se provier de esbulho, furto ou roubo;

II - se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos;

III - se uma for de coisa não suscetível de penhora.


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Art. 374. (Revogado pela Lei nº 10.677, de 22.5.2003)

Art. 375. Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de renúncia
prévia de uma delas.

Art. 376. Obrigando-se por terceiro uma pessoa, não pode compensar essa dívida com a que o credor dele lhe
dever.

Art. 377. O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos, não pode
opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao cedente. Se, porém, a cessão lhe não
tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário compensação do crédito que antes tinha contra o cedente.

Art. 378. Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem dedução
das despesas necessárias à operação.

Art. 379. Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no compensá-las,
as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento.

Art. 380. Não se admite a compensação em prejuízo de direito de terceiro. O devedor que se torne credor do seu
credor, depois de penhorado o crédito deste, não pode opor ao exeqüente a compensação, de que contra o próprio
credor disporia.

É um modo extintivo satisfatório da obrigação, porque temos a liquidação do crédito de modo imediato. Ocorre
quando duas pessoas são reciprocamente credoras e devedoras umas das outras, há obrigações distintas que em
cada situação teremos uma pessoa figurando um polo da obrigação. Então, as partes podem compensar os débitos
de forma total ou de forma parcial.

As vantagens da compensação: evita-se a dupla quitação – faz-se apenas uma quitação; é mais eficaz para liberar as
partes porque se simplifica as obrigações.

13.2. Espécies
 Convencional
Resulta da autonomia das partes.
 Legal
Aquela que está prevista no art. 369. Opera-se automaticamente, desde que cumprido os requisitos,
independente de manifestação negativa das partes.
 Judicial
Ocorre quando o próprio juiz liquidar o crédito.

13.3. Requisitos
1. Liquidez do débito;
2. Fungibilidade: só é possível de compensação os bens móveis e fungíveis e na mesma espécie, quantidade e
qualidade. Por isso a maioria da compensação é de obrigação pecuniária;
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3. Exigibilidade do débito: o débito se torna exigível em razão do seu vencimento, termo, condição – o código
diz (art. 372) que mesmo a obrigação tendo passado do seu vencimento ainda sim existe a possibilidade de
compensação. Fala-se em exigibilidade, porque não se mostra razoável a cobrança de uma obrigação já
prescrita.
4. Reciprocidade das partes

13.4. Situações Específicas


Caso do fiador: A é devedor de B e C é fiador de A, então, nessa situação, o fiador pode compensar as dívidas do seu
afiançado com o credor.

Caso de um terceiro: (art. 376) A deve para B, B deve para C. Se C fizer um acordo com A e nesse acordo C se obriga
a pagar para B o que A deve, esse acordo não permite C fazer compensação com a obrigação preexiste com B,
porque não se preenche o requisito de reciprocidade de credores e devedores. Cessão de crédito: acontece
independentemente da vontade do devedor, enquanto o devedor não for notificado, a cessão não possui efeitos
para ele e quando for notificado ele pode opor as exceções que tinha em relação ao credor. Se a cessão ocorre sem
notificação do devedor, ou no momento da notificação o devedor (B) pode exigir sua dívida do novo credor C.
Existisse uma obrigação de A para com B e C entra como credor, no lugar de A (cessão de crédito) e em outra
obrigação B devia para A, existe sim a possibilidade de compensação de dívidas.

13.5. Limites
Art. 373.

A diferença de causa das dívidas não impede a compensação, exceto se provier esbulho, furto ou roubo (ilicitude); se
uma se originar de comodato, depósito ou alimentos, ou se uma for de coisa não suscetível de penhora.

14. Confusão

Art. 381. Extingue-se a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e
devedor.

Art. 382. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela.

Art. 383. A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a
concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a solidariedade.

Art. 384. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior.

14.1. Aspectos Gerais


Considerada uma causa extintiva satisfatória. Na confusão tem a mesma parte como credora e como devedora da
mesma obrigação. Para ter uma obrigação tem que ter um polo passivo e um polo ativo, com pessoas distintas
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ocupando estes polos, então a mesma pessoa não pode ser credora e devedora ao mesmo tempo. Essa confusão
pode ocorrer devido a sucessão, cessão de crédito...

14.2. Requisitos
1. É necessário identificar a mesma pessoa nos dois polos
2. Reunião efetiva do patrimônio: não pode ser expectativa
3. Unidade da obrigação: tem que ser o mesmo tipo de obrigação.
4. Pode ser total ou parcial

14.3. Efeitos
1. Extinção da obrigação;
2. As obrigações acessórias são extintas, salvo se houver uma confusão parcial;
3. No caso de obrigações solidárias, a confusão somente afeta a pessoa que passou a ocupar os dois polos, não
atinge a obrigação inteira.

Inadimplemento
Não temos no código uma sessão de inadimplemento absoluto, ao contrário da mora, por exemplo.

A doutrina hoje costuma trabalhar com três categorias de inadimplemento: absoluto, relativo ou mora e a chamada
violação positiva. Quando estamos nos referindo a uma situação de inadimplemento absoluto isso significa que a
obrigação não foi e não será mais cumprida. Isso pode acontecer por situações diversas, seja por impossibilidade
fática, seja por conta de ter havido a perda do interesse do credor naquela prestação. Pode ser também que,
faticamente falando, ainda fosse possível cumprir aquela obrigação, só que, por um atraso no pagamento, vg., o
credor não tem mais interesse daquilo (você vai fazer uma festa de aniversário hoje e contrata 100 salgados, o
contratado, porém não consegue entregar no dia, então para você credor, não há mais interesse na obrigação). Se
eu falo de inadimplemento significa dizer situações culposas, num primeiro momento. Nos casos em que o credor
não tem mais interesse na prestação, trata-se de um divisor entre inadimplemento absoluto e relativo. Isso porque
na mora, você tem uma situação de inadimplemento que não é definitiva, porque nela, ou já aconteceu o
pagamento, mas há algum problema com ele (fora do lugar ou da forma), ou ainda não aconteceu o pagamento, mas
pode acontecer. Então, para ser mora (inadimplemento relativo) ou para ser absoluto, o que faz com que seja um ou
outro é a análise de se ainda há interesse do credor naquela prestação.

Essas categorias de inadimplemento são fluidas, ou seja, você não tem necessariamente uma fixação de uma
categoria no caso concreto que impeça de mudar para outra. A mora pode virar inadimplemento absoluto. Na mora,
o processo judicial gira em torno do recebimento da prestação mais as consequências do inadimplemento. Já no
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inadimplemento absoluto o processo judicial gira em torno de indenização. É incomum que uma obrigação
pecuniária seja exemplo de inadimplemento absoluto, geralmente é relativo.

Além do inadimplemento absoluto e do relativo, temos também uma terceira situação que é a chamada violação
positiva. É algo criado inicialmente como contraponto as duas outras formas de inadimplemento, porque há um
entendimento que a mora é só pagar fora do tempo, e partindo desse pressuposto, tanto a mora quanto
inadimplemento absoluto poderiam ter sido chamadas de inadimplemento negativo. Só que começou a se notar que
existiam situações de inadimplemento em que a prestação tinha sido cumprida, ou seja, o cumprimento da
obrigação não significa efetivamente o cumprimento da obrigação principal. Em nosso ordenamento fica um pouco
esvaziado o que poderia ser violação positiva, pois a mora abrange situações que poderiam ser classificadas como
violações positivas: pagamento fora do lugar e da forma. Ou seja, semanticamente essas duas formas de mora
poderiam ser configuradas como violações positivas, mas não são. Aqui, violação positiva trata do descumprimento
dos deveres anexos. Pode ser chamada de violação positiva do contrato.

Atenção: não confundir inadimplemento absoluto ou relativo com inadimplemento total ou parcial, pois estes
últimos são uma análise quantitativa.

1. Inadimplemento Absoluto

1.1. Noções Gerais


É importante trabalhar as consequências desse inadimplemento.

Art. 389 – Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Esse artigo traz, de início, a consequência do inadimplemento com culpa – responde por perdas e danos, juros,
atualização monetária do valor e honorários de advogados. Nesse caso a obrigação não vai ser cumprida, então as
perdas e danos tem uma função substitutiva da prestação. Parte da doutrina faz uma distinção justamente para falar
que quando se fala em perdas e danos, é dizer que se trata de uma parcela substitutiva da prestação, por isso que
quando você vai para mora, no art. 395, tem-se praticamente a reprodução do art. 389, porém não se fala em
perdas e danos, e sim que deve o devedor responder pelos prejuízos. Isso porque, como se trará de inadimplemento
relativo, o sujeito ainda irá cumprir a obrigação. Mas a verdade é que, no dia a dia, normalmente não se tem o rigor
técnico de distinguir perdas e danos dos prejuízos causados, fala-se em perdas e danos para as duas situações.

O patrimônio do devedor é a garantia geral da obrigação. Justamente vinculado a isso é que temos a redação do art.
391.

Art. 391 – Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor.
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A ideia de inadimplemento aqui reforça a característica do patrimônio do devedor como sendo a garantia do credor
para o pagamento. Porém quando se fala que todos os bens do devedor respondem, isso é necessário ser visto de
maneira sistemática, vez que existem bens impenhoráveis. Então, respondem todos os bens do devedor que possam
responder/ dentro do que for possível.

1.2. Contratos Benéficos x Contratos Onerosos


O código traz um tratamento diferente se o que deu origem aquela obrigação foi um contrato oneroso ou benéfico/
gratuito. Isso passa pela análise do contrato. Se o contrato gera vantagem patrimonial para ambos os contratantes
ele é oneroso, se, porém, ele gera vantagem patrimonial para um dos contratantes ele é benéfico – ex. compra e
venda x doação, respectivamente.

O legislador considerou que não seria justo trata o devedor do mesmo modo em ambos os contratos. Pois, afinal das
contas, num contrato oneroso, eu sou devedor, mas também sou credor; ao contrário da doação. Então, o legislador
não considerou que seria justo tratar o devedor de um contrato benéfico, da mesma maneira do devedor de um
contrato oneroso. O grau de responsabilidade do sujeito participante do contrato oneroso é maior do que o do
devedor que participa de um contrato benéfico, justamente para se estimular essa liberalidade.

Art. 392 – Nos contratos benéficos, responde por simples culpa o contratante, a quem o contrato aproveite, e por
dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma das partes por culpa, salvo as
exceções previstas em lei.

Quando é contrato oneroso, as partes respondem por simples culpa (em qualquer grau); mas quando é o contrato
benéfico, o legislador resolveu dar uma proteção maior ao sujeito que não tem nenhuma vantagem naquele
contrato, de modo que ele somente responde pelo inadimplemento se agir dolosamente. Ex: eu vendi um CC para
Fernanda, só que ele caiu na água e estragou, assim eu respondo por isso, porque fui negligente; porém, se eu fosse
doar esse mesmo código e acontecesse esse evento, eu não responderia, por ausência de dolo.

Existem três situações possíveis de responsabilidade civil: 1) análise da culpa – com culpa responde, sem culpa não
responde; 2) situações em que a responsabilidade é menor – só responde se agiu com dolo; 3) responsabilidade civil
objetiva – culpado ou não, a pessoa que causou o dano responde.

1.3. Caso Fortuito e Força Maior

Art. 393 – O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível
evitar ou impedir.
Direito das Obrigações – Prof. Maurício Requião
Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
Vida Catarina Silva Vasconcelos

O caput diz o que acontece e o § único define. Pelo menos, na parte geral das obrigações, a definição/ distinção de
caso fortuito e força maior é irrelevante, pois seja qualquer um deles a consequência é a mesma que é a do caput.

Caso fortuito trabalha com a ideia de imprevisibilidade e força maior trabalha com a ideia de inevitabilidade (algo
que não se tem como escapar).

Uma distinção que tem aparecido com frequência nos tribunais é a de fortuito interno e fortuito externo. Só se
afasta a responsabilidade para alguns casos, principalmente quando se tem responsabilidade objetiva, quando se
trata de fortuito externo. A diferenciação deles passa pela análise de que se aquele elemento é um risco normal
daquela atividade ou é um risco externo àquela atividade. Ex.: o caso do roubo dos funcionários do correio – é um
rico fortuito externo. Diferente é o assalto a uma empresa de segurança para transferência de valores – nesse caso é
um risco inerente a atividade que ela desempenha (fortuito interno) e não pode ser afastado.

Caso fortuito e força maior são excludentes de responsabilidade – nesse evento que normalmente seja ensejador de
responsabilidade civil, há algo que o faça ser tratado de outra maneira? . O que difere de excludente de ilicitude (art.
188)- discute se determinada conduta que é ilícita será jurisdicizadas de maneira lícita.

Do código de 16 para o de 02 houve um aumento muito grande das situações de responsabilidade civil objetiva, ou
seja, situações em que o sujeito responde independentemente de culpa. As excludentes de responsabilidade afetam
o nexo causal – o que gerou o dano não foi a conduta do sujeito, foi um evento alheio, não relacionado. Quando
você está num quadro de responsabilidade civil subjetiva o primeiro ponto que se discute é a culpa. Na situação de
responsabilidade civil objetiva, essa discussão é impossível, porque não se analisa a culpa, há a necessidade de
provar que não foi ele quem causou o dano. No CC 02 as situações de responsabilidade civil objetiva são maiores,
por isso a importância de se discutir caso fortuito e força maior.

O normal é que em acontecendo caso fortuito ou força maior, não haja responsabilidade. Mas, como o caput,
também deixa claro, pode haver contratualmente uma responsabilização mesmo havendo esses casos. Agora, com a
existência dessa previsão contratual, é necessário também analisar as condições em que essa clausula foi realizada.

2. Mora

2.1. Noções Gerais


Art. 394 – Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser recebê-lo no
tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer.

Existem dois pontos importantes. Primeiro é importante perceber que a mora não se relaciona somente com o
pagamento fora do tempo; o pagamento fora do lugar ou forma também se relaciona com mora. Além disso, se
introduz uma noção de inadimplemento do credor, a mora pode ser, portanto do credor ou do devedor. Ex.: se eu
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tenho uma obrigação que é pagável em certo local e no dia do pagamento o credor não vai ao local receber, o
pagamento não acontecerá, mas quem está em mora é o credor e não o devedor. As consequências para cada tipo
de mora são diferentes.

A mora tende a ter um caráter de transitoriedade, porque, ou ela se converte no pagamento, ou então pode se
converter em inadimplemento absoluto com a substituição da prestação por perdas e danos.

2.2. Mora “ex re” e “ex persona”


Existem algumas obrigações que são criadas de uma forma em que já se tem preciso o vencimento e, além disso, a
lei não exige nenhuma conduta por parte do credor, para que o devedor tenha que pagar, além do vencimento. Ex.:
boleto – independentemente de qualquer interpelação, o devedor, na data do vencimento, já tem que realizar o
pagamento, caso não o faça, ele já estará em mora. Trata-se nesse caso da mora “ex re”

Existem outras situações que a constituição da mora depende de um ato do credor. Ex.: você me pede um livro
emprestado, mas não se convenciona um prazo para a devolução. Então, até que eu vá até você e lhe interpele,
pedindo a devolução, você não está em mora. Para se constituir a mora é necessário, portanto, a interpelação da
outra parte. Essa é a mora “ex persona”.

2.3. Mora do devedor x Mora do criador


Não tem como, por uma questão de ordem lógica, a mora do credor gerar os mesmos efeitos que a mora do
devedor, porque, afinal de contas, um deixou de pagar e o outro deixou de receber.

 Mora do devedor

Art. 395 – Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos valores
monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

Parágrafo único. Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a
satisfação das perdas e danos.

É um clone do art. 389, traz exatamente as mesmas questões de indenização, com a diferença que o art.389 fala em
perdas e danos, e o art. 395 fala no dever de indenizar os prejuízos resultantes da mora.

Art. 399 - O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de
caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano
sobreviria ainda quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.

O devedor, geralmente é inadimplente, quando é culpado e, na ausência de culpa, a obrigação se resolve. Mas
quando o devedor está em mora ele já está inadimplente, e o que se quis foi não permitir mais a sua liberação em
virtude de caso fortuito ou força maior. Porque se ele tivesse cumprido com a prestação no momento adequado, a
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coisa não teria perecido com ele, por conta disso, estando o devedor em mora, se a coisa se perder durante essa
mora em virtude de caso fortuito ou força maior, em regra o devedor irá responder. Somente não irá responder se
ele provar que o dano sobreviria ainda que ele tivesse entregado a obrigação.

 Mora do credor

Art. 400 – A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da coisa, obriga o
credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e sujeita-o a recebê-la pela estimação mais favorável ao
devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da sua efetivação.

São três consequências. A primeira é o inverso da prevista no art. 399, se quando o devedor está em mora, ele
responde por culpa e em caso fortuito e de foça maior, por outro lado, quando o credor está em mora, o devedor só
responde pela impossibilidade da prestação se ele agir dolosamente. A segunda consequência é o fato de que,
embora ele esteja só respondendo em virtude do dolo, isso significa que ele não pode abandonar a coisa, de modo
que o credor é quem arca com o custo que o devedor tenha para a manutenção da coisa durante a mora do credor.
A terceira pode ser a mais estranha, se houver variação do preço da coisa durante a mora, o credor fica obrigado a
pagar ao devedor o preço mais favorável da coisa durante essa avaliação.

2.4. Purgação da Mora


Purgar a mora é dar fim a mora. Esse fim se dá com o cumprimento das obrigações.

Art. 401 – Purga-se a mora:

I - por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos decorrentes do dia da
oferta;

II - por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos da mora até a
mesma data.

Consequências do Pagamento
1. Arras ou Sinal

1.1. Noções Gerais


Embora estarem na parte de inadimplemento, com ele não se relaciona. Quando se vai celebrar um contrato, por
vezes uma das partes paga um valor ou um sinal que demonstrará a intenção daquele sujeito em dar
prosseguimento ao contrato em questão. Tem uma finalidade de dar uma força maior ao contrato, do que em se
relacionar com inadimplemento. Tem uma função de garantia, logo no início.
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Além disso, as arras podem ser consideradas como início de pagamento, vez que, havendo prosseguimento do
contrato, elas são convertidas em pagamento. Essa regra vale quando as arras são da mesma natureza do que é
devido. Ex.: se eu dei meu carro como arras, o normal pelo código é que concluído o contrato, aquilo que eu dei
como arras será devolvido.

Se essas arras foram entregues, mas o contrato não vai adiante, seja por conta de quem deu ou de quem recebeu as
arras (tanto faz, pois vincula os dois), ai sim essas arras vão atuar de modo indenizatório, se relacionando já com a
situação do inadimplemento. Digamos que a pessoa que pagou as arras é que não leva o contrato adiante, acontece
que essa pessoa perde as arras. Se, ao contrário, quem não leva o contrato adiante é a pessoa que recebeu, ela será
obrigada a devolver as arras mais o equivalente, para que o prejuízo vincule as partes da mesma maneira.

Art. 418 – Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a
inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução
mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
honorários de advogado.

1.2. Espécies
A diferença é o direito de arrependimento que existe nas penitenciárias e não existe nas confirmatórias.

 Confirmatórias

Não existe o direito de arrependimento, por isso, o art. 418 fala que a parte pode considerar resolvido o contrato,
mas não é só isso.

Art. 419 – A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras como
taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras
como o mínimo da indenização.

Quando é confirmatória, o fato de não ser cumprido o contrato implica em inadimplemento, sendo que, por isso, a
outra parte poderá tomar todas as medidas normalmente tomadas no inadimplemento. As arras funcionarão como
o mínimo da indenização. Fala-se de indenização suplementar e mínimo da indenização, porque essas arras já vão
ser computadas das perdas e danos. Ex.: tinha-se mil reais como arras confirmatórias, o contrato foi descumprido e
gerou um prejuízo, provado pela parte, de três mil reais. Isso não significa que a parte vai receber mil reais arras
mais três de danos, porque as arras já contam como perdas e danos, então, provado o prejuízo, ele receberá mil de
arras e dois mil de perdas e danos.

 Penitenciárias
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Faculdade de Direito, UFBA, 2016.2.
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Art. 420 – Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras ou
sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e
quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito a indenização
suplementar.

Quando eu tenho arras penitenciais isso significa que as partes, embora tenham fixado as arras, fixaram também o
direito de arrependimento. O que significa que qualquer uma das partes está autorizada a desistir unilateralmente
do contrato, desde que devolva as arras e/ou seu equivalente. Para Requião, isso não configura inadimplemento,
pois a sua previsibilidade consta em contrato.

2. Juros
2.1. Noções Gerais
No código civil somente tem 2 artigos que pouco dizem:

Art. 406. Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou
quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

Traz uma referência de qual seria a taxa de juros

Art. 407. Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão assim
às dívidas em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja fixado o valor pecuniário
por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes.

Diz que os juros são devidos, independente de requerimentos.

Os juros são uma remuneração de um sujeito para o outro, seja pelo uso do capital alheio, seja pelo impedimento do
sujeito de ter acesso ao capital que deveria. Juros significam acréscimos e não correção monetária, juros não é
atualização de valor, eles trazem acréscimos no que e devido.

2.2. Espécies
Existem várias possibilidades.

 Juros Convencionais e Juros Legais

Os juros convencionais são convencionados a partir de acordo de vontade entre os sujeitos e os juros legais vêm
legalmente fixados. Isso não significa que os juros convencionais possam ser fixados sem observar os juros legais. Ou
seja, mesmo quando as partes contratam se deve obedecer ao limite legal.
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 Juros Compensatórios e Juros Moratórios

É comum as pessoas fazerem associação de juros com inadimplemento, mas isso não é uma verdade absoluta. Pode
ter juros que não se relacionem com inadimplemento. Ex.: empréstimo no banco – mesmo adimplente você paga o
juros por usar o capital do banco. Nesse caso, são os juros compensatórios.

Já os juros que se relacionam com o inadimplemento de qualquer tipo, são os juros moratórios.

 Juros Simples e Juros Compostos

Em regra juros não geram novos juros. O que gera juros é o capital. Quando se tem juros simples o valor dos juros
não vai integralizar automaticamente o capital para efeito de cálculos de novos juros. Os juros só se integralizam ao
capital depois de um ano.

Já quando se trata de juros compostos aquele valor dos juros é automaticamente integralizado ao capital para efeito
de calculo de novos juros.

2.3. Taxa de Juros


Art. 406

Existe uma norma supletiva no código tributário nacional que estabelece, na ausência de previsão, 1% ao mês. Além
disso, temos o decreto 22626/33 que é conhecido como “Lei da Usura”, que também diz que o valor máximo que se
pode cobrar como juros é 1% ao mês.

Então, emprestar dinheiro a juros é legal, mas somente se a taxa cobrada for de 1% ao mês.

O banco, todavia, não respeita essa taxa. Isso porque o STF tem uma súmula nº 596 afirmando que os padrões e
limites estabelecidos pelo decreto 22626 não se aplicam as instituições financeiras público ou privadas. Quem irá
determinar a taxa de juros para essas instituições é o Banco Central.

Taxa de juros também é política pública, por isso, pensando no nosso ordenamento, não há outra solução. Por
exemplo, se o governo quer conter a inflação, uma tática á aumentar a taxa de juros.

Na análise de juros três coisas devem ser observadas: 1) se a taxa de juros está dentro do limite máximo permitido;
2) se o cálculo das taxas de juros foi feito de modo correto; 3) se o dever anexo de informação foi efetivamente
prestado – muitas vezes quando esses juros são pactuados, não é dada ao sujeito a informação adequada.
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3. Perdas e Danos

3.1. Noções Gerais

Art. 402. Salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e danos devidas ao credor abrangem,
além do que ele efetivamente perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar.

Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos
e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

Art. 404. As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorários de advogado,
sem prejuízo da pena convencional.

Parágrafo único. Provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional, pode
o juiz conceder ao credor indenização suplementar.

Art. 405. Contam-se os juros de mora desde a citação inicial.

As perdas e danos vinculam com a ideia de inadimplemento. Quando se fala de perdas e danos deve-se focar em
inadimplemento absoluto. Embora, tenha situações que o sujeito indenizará sem culpa, assim como haverá
situações que ele indenizará somente com culpa, normalmente, em obrigações, a indenização se relaciona com a
culpa. Em regra, a ideia de direito civil é reparar o dano. Para o direito civil, normalmente não tem importância o
grau de culpa. Se eu agi com culpa grave, culpa leve ou dolo, na maior parte das situações isso não é um fator
determinante ou principal para saber quanto é que vai ser arbitrado como sendo o valor para se pagar a perdas e
danos. O que importa aqui é ver qual o prejuízo que aquilo causou.

3.2. Danos Emergentes x Lucros Cessantes


No código as perdas e danos são divididos em duas categorias distintas. O modo como as perdas e danos é pensado
é um modo vinculado a aspectos patrimoniais, e não a aspectos extrapatrimoniais. Importante destacar que o
inadimplemento da obrigação não gera somente dano patrimonial, ele pode gerar também dano extrapatrimonial
(dano moral).

Atenção: o simples descumprimento da obrigação não enseja dano extrapatrimonial. Isso, por si só, enseja dano
patrimonial.

Art. 402 –
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Ideia de danos emergentes e lucros cessantes. O que ele efetivamente perdeu são os danos emergentes e o que ele
efetivamente deixou de ganhar são os lucros cessantes. Quando se fala de danos emergentes, trata-se do que o
sujeito efetivamente perdeu. Então, via de regra, o cálculo e a prova são mais simples. No lucro cessante, por sua
vez, não há como saber exatamente quanto seria o ganho do sujeito. Envolve um juízo de probabilidade.

Ex.: quando um sujeito bate num taxi – por um lado terá o dano emergente, do concerto, por outro lado terá o lucro
cessante do tempo que o carro ficou parado concertando.

Importante destacar que quem alega o dano deve provar, não pode ser indenizado aquele que não provou seu dano.

3.3. Perda de uma chance


A perda de uma chance não se relaciona necessariamente com dano patrimonial. Pode existir casos relacionados
com dano patrimonial ou com dano extrapatrimonial. No dano emergente, como já vimos, você indeniza a
diminuição do patrimônio do sujeito, no lucro cessante, indeniza-se aquilo que ele deixou de ganhar. Na perda de
uma chance você indeniza o fato de existir uma chance de alguma coisa, e esta chance ter sido perdida por força da
conduta de outro. Se aproxima mais do dano emergente, porque você indeniza algo que já existia no patrimônio,
mas não era concreto, era uma possibilidade.

Pode-se falar tanto numa perspectiva de dano material como numa perspectiva de dano extrapatrimonial. Boa parte
do surgimento disso foi em situações extrapatrimoniais, na ideia de perda de uma chance de cura – pessoa com
enfermidade e é passado um tratamento que não é o melhor possível, então a pessoa piora; as famílias entravam
com uma ação de perda da possibilidade de cura, pois a chance da pessoa se curar era maior com o outro
tratamento. Mas, pode ser também na esfera patrimonial – show do milhão: uma mulher da Bahia foi para o show
do milhão e chegou na pergunta do milhão e disse que não queria responder e ficou com R$ 500.000,00; depois ela
entrou com uma ação alegando o fato de que o programa não dar uma pergunta com possibilidade de resposta, fez
com que ela perdesse uma chance de ganhar. O tribunal deferiu o pedido e impôs o pagamento dos outros R$
500.000,00. Para Requião essa não foi a melhor solução, porque a perda de uma chance não indica a perda de um
acerto em concreto. O STJ decidiu a indenização de ¼ do valor que seria a possibilidade de acerto.

Para evitar o regresso ao infinito, há a necessidade de uma causa direta e imediata, as concausas que rompem o
nexo de causalidade não geram direito de indenização.

Art. 404 –

Na obrigação pecuniária é possível haver o pagamento de perdas e danos? Antigamente existia uma correte que
defendia apenas o cabimento de juros. O art. 405 veio para dizer que cabe, desde que comprovado que os juros não
são suficientes para cobrir os danos
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Art. 405 –

Os juros relativos ao inadimplemento irão se contar a partir da citação inicial.

3.4. Outros danos


A questão do que é indenizável é uma questão de discussão infinita.

4. Cláusula Penal

4.1. Noções Gerais


O fato que dispara a cláusula penal é aquele mesmo que enseja as perdas e danos, é dizer, inadimplemento. Ocorre
que as perdas e danos não precisam ser acordados entre as partes (ex legis).

Quando falamos em cláusula penal, por seu turno, as partes resolvem, no momento da obrigação ou posteriormente
com um adendo contratual, firmar uma cláusula prevendo o pagamento, normalmente em pecúnia de algum valor.

Para o sujeito receber perdas e danos ele tem que provar esse prejuízo. O funcionamento da cláusula penal é
diferente, funcionando como uma pré-liquidação do que seria a condenação por perdas e danos, ou seja, se viera a
acontecer o inadimplemento, automaticamente é devida a cláusula penal, não fazendo-se necessário comprovação
de prejuízo, haja vista que se trata de um prejuízo presumido pelas partes no momento em que pactuaram o
contrato. A cláusula penal está vinculada tão somente a comprovação do inadimplemento.

4.2. Espécies
 Compensatória

É aquela que e fixada para situações de inadimplemento absoluto, então ela só vai ter eficácia acontecendo
inadimplemento absoluto, se tenho cláusula penal compensatória e o inadimplemento é relativo, ela não se aplica.
Isso implica normalmente que essa cláusula se dará em situações que comportariam perdas e danos. Logo ela vai
servir como uma espécie de pré-liquidação das perdas e danos, assim, via de regra, nesses casos, quando tenho
cláusula penal, não cabe perdas e danos.

Nada impede, no entanto, que a cláusula penal seja fixada como mínimo de indenização, não sendo o limite dela.
Pode-se pactuar afirmando que sendo constituídas provas de que o dano foi maior, pode-se completar o valor do
dano mediante o pagamento de perdas e danos. Quando se permite a cumulatividade não significa dizer que ele vai
ganhar a cláusula penal mais perdas e danos completos, o que é ocorre é que vai se abater das perdas e danos o
valor da cláusula penal.

 Moratória
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São duas situações diferentes: a primeira envolve a mora, inadimplemento relativo; e a segunda é quando se cria
uma cláusula penal vinculada ao descumprimento de alguma cláusula específica do contrato.

4.3. Limites
Até quanto eu posso fixar essa cláusula penal? E como eu posso cobrar essa cláusula numa obrigação divisível ou
indivisível?

No código temos dois artigos que tratam do limite do valor da cláusula penal:

Art. 412 – O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.

O valor máximo da cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal. Mas, ainda sim, se trata de um limite
muito excessivo, se pensar, por exemplo, de uma cláusula penal moratória. Esse primeiro limite, vinculando o valor
máximo da cláusula penal ao valor da prestação principal, foi pensado para a cláusula penal compensatória. Ao falar
da cláusula penal moratória, os valores costumam ser muito mais baixos.

Art. 413 – A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido cumprida em
parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio.

Situações que permitem a redução do valor da cláusula penal. Uma primeira possibilidade de diminuição da cláusula
penal é por demanda judicial quando a obrigação for descumprida em parte. Na segunda parte, o juiz deverá
penalizar, se levando em conta o caso, o valor se configure excessivo.

Art. 415 –

Na obrigação divisível, se eu tenho uma cláusula penal, ela também será aplicada de modo divisível. Ex.: cláusula de
mil reais e quatro devedores, sendo que 3 cumpriram e 1 não cumpriu, somente poderá exigir R$ 250,00 e do
devedor que não cumpriu.

Art. 414 –

Na obrigação indivisível, por sua vez, quando há uma cláusula penal e houve inadimplemento, é necessário verificar
quais os devedores que tiveram culpa neste inadimplemento. Se eu tive um culpado e outros não culpados, a parte
contrária tem a possibilidade de: ou exigir a cláusula penal integralmente do culpado e se resolve a situação, ou, ele
tem a opção de cobrar a quota de cada um da cláusula penal, culpado ou não e depois, os não culpados que
pagaram terão ação regressiva contra o devedor culpado.

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