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TEORIA GERAL DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

1. Definição de obrigação
Obrigação lato sensu é sinônimo de dever, seja jurídico ou não.
Os deveres jurídicos, por seu turno, comportam duas espécies: Deveres não patrimoniais,
que jamais se traduzem em dinheiro, como o dever de fidelidade entre os cônjuges. Deveres
patrimoniais, que podem ser traduzidos em dinheiro, ainda que sua motivação não seja meramente
patrimonial. Assim temos que pagar empréstimo, indenizar a honra violada etc.
Obrigação stricto sensu é sinônimo de dever jurídico patrimonial.
A esses deveres patrimoniais chamamos obrigações, objeto de estudo do Direito das
Obrigações.
Muitas são as definições de obrigações, mas pode-se perceber três elementos essenciais: o
sujeito, o objeto e o vínculo jurídico, apesar de alguns autores não se referirem exatamente a
vínculo jurídico. Detectamos, todavia, algumas expressões utilizadas em seu lugar, tais como
“relação jurídica”, ou seja, vínculo que liga sujeitos de direito a seu objeto; “vínculo jurídico”, que,
em sentido estrito, é a ligação entre credor e devedor, pela qual aquele tem direito de ação contra
este; “vínculo jurídico”, em sentido lato, que é o mesmo que relação jurídica; “situação jurídica”,
que vem a ser um complexo de direitos e deveres em que pessoas se encontram vinculadas, situação
jurídica esta que denota a existência do vínculo; e, por fim, “necessidade jurídica”, ou seja,
imperiosidade do devedor em cumprir seu dever. Quando uma obrigação é contraída, torna-se
imperiosa.
A partir dessas várias definições, e indo além delas, podemos dizer que obrigação é situação
dinâmica consistente em relação jurídica em cooperação entre credor e devedor, ficando este
adstrito, basicamente, a cumprir prestação de caráter patrimonial em favor daquele, que poderá
exigir judicialmente seu cumprimento.
É fundamental destacar o caráter dinâmico das obrigações, que consistem em relações que se
movimentam, que se transformam no tempo e no espaço. Sem essa visão das obrigações como
fenômeno dinâmico, é impossível, por exemplo, se falar em função social das obrigações,
principalmente dos contratos, fontes de obrigações por excelência. Credor e devedor não são partes
contrárias, mas partes solidárias no mesmo processo obrigacional. Inclusive se ao mesmo tempo
duas pessoas forem credor e devedor institui o Código Civil:
Art. 368. Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor
uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se
compensarem.
2. Essência das obrigações
A essência das obrigações encontrar-se no direito do credor de exigir prestação do devedor.
Como por exemplo o descrito no artigo 234 do Código Civil.
Art. 234. Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem
culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição
suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda
resultar de culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais
perdas e danos.

Ocorre que duas situações podem surgir:


1.ª) o devedor paga normalmente;
2.ª) o devedor não paga, e o credor tem que ingressar na Justiça.
Tradicionalmente, sempre se falou em apenas um vínculo, de caráter pessoal e coercitivo.
Pessoal, porque se traduzia no poder do credor sobre uma pessoa, o devedor, sendo seu objeto um
comportamento do devedor, que deve realizar uma prestação em favor do credor. Coercitivo, porque
jurídico, não apenas moral ou social. Esta é a teoria monista tradicional.
A teoria monista, que enxerga um só vínculo entre credor e devedor, divide-se em duas
correntes: uma clássica, a personalista; e a outra objetivista, antepondo-se à clássica.
O precursor da corrente personalista foi Savigny, em sua obra, Obligationenrecht, de 1851.
Segundo ele, o direito de crédito consistia no domínio sobre uma pessoa; não sobre esta pessoa em
sua totalidade (o que daria lugar à supressão da personalidade), mas sobre determinadas atividades
suas, que devem considerar-se separadas de sua liberdade e submetidas à vontade do credor. Essas
atividades seriam tendentes à satisfação do crédito. Já para a corrente objetivista, a essência da
obrigação consiste no poder do credor sobre o patrimônio do devedor, não sobre sua pessoa, como
queria a corrente personalista.
No Direito Germânico, fez repousar a essência da obrigação na responsabilidade, que seria o
fato de o devedor ser responsável, com seu patrimônio, pela realização da prestação obrigacional. O
débito não faz parte da essência do vínculo creditício, por consistir em dever pessoal. Seria o dever
de pagar, relativo à pessoa do devedor, e não a seu patrimônio. A responsabilidade diz respeito ao
patrimônio do devedor. O débito diz respeito à pessoa do devedor. É, pois, a responsabilidade que
integra a essência de uma obrigação.
Porém a teoria dualista defende a existência de dois vínculos, de duas relações distintas, uma
de débito e outra de responsabilidade.
1º) Débito sem responsabilidade, como é o caso de dívida prescrita, ou de dívida de jogo, em que a
obrigação não é exigível, não respondendo por ela o devedor. Há, portanto, apenas relação de
débito;
Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não obrigam a pagamento;
mas não se pode recobrar a quantia, que voluntariamente se pagou,
salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito.

2.º) Débito sem responsabilidade própria, como, por exemplo, o devedor que apresenta fiador. Ora,
o débito é do devedor, mas caso este não pague, quem responderá é o fiador. A relação de
responsabilidade vinculará, assim, duas pessoas distintas da relação de débito;
3.º) Responsabilidade sem débito, em que podemos tomar o mesmo exemplo da fiança. Ora, o
fiador poderá vir a responder por dívida que não é sua. Ou seja, responde sem dever. Tanto é assim
que, uma vez que pague a obrigação, poderá regressar contra o devedor, por ser este, afinal, quem
realmente deve. Mais uma vez, vê-se que as duas relações, de débito e de responsabilidade,
possuem sujeitos próprios e distintos;
4.º) Responsabilidade sem débito atual. Aqui também nos servirá o exemplo da fiança. O fiador,
num primeiro momento, como vimos, tem apenas a responsabilidade, mas não o dever de pagar.
Este é do devedor. Daí falarmos em responsabilidade sem débito. O débito, próprio do devedor, só
trará repercussão para o fiador caso aquele não pague. Pode-se, pois, afirmar que, num primeiro
momento, dependendo do ângulo que enfoquemos, o fiador terá responsabilidade sem débito, ou
responsabilidade sem débito atual, tanto faz. Vejamos o artigo 835 do Código Civil:
Art. 835. O fiador poderá exonerar-se da fiança que tiver assinado sem
limitação de tempo, sempre que lhe convier, ficando obrigado por
todos os efeitos da fiança, durante sessenta dias após a notificação do
credor.

Na teoria dualista débito e responsabilidade não se confundiam, constituindo dois vínculos,


duas relações obrigacionais, sendo a relação de responsabilidade garantia da relação de débito.
Na França, Mazeaud et Mazeaud adotaram a teria dualista, afirmando que não só se
distinguem a relação de débito e a de responsabilidade, como haveria ainda uma terceira, a actio, ou
seja, o constrangimento judicial.
Por fim, tanto a teoria monista quanto a dualista foram sintetizadas em uma teoria eclética,
sobretudo a partir do pensamento de Ferrara, para quem débito e responsabilidade são conceitos
distintos, mas integrantes do mesmo vínculo, da mesma relação obrigacional. Não há duas relações,
dois vínculos, um de débito e outro de responsabilidade. O vínculo obrigacional é uma moeda de
duas faces: débito e responsabilidade.
Vemos, assim, as três teorias, a monista, a dualista e a eclética, cada uma com suas correntes,
mas todas, a seu modo, buscando desvendar a essência das obrigações.
A partir dessa visão das obrigações como processo dinâmico, a discussão acerca da essência
das obrigações ganha novo caráter. Por exemplo, não se deve entender débito e responsabilidade
como elementos de algo estático, que não se movimenta.
Numa relação obrigacional, quem se via, hoje, na posição exclusiva de credor, amanhã, pode
tornar-se inesperadamente devedor por força de circunstância nova; em consequência, transforma-se
a própria geografia do débito e da responsabilidade.

3. Estrutura das obrigações


O primeiro elemento componente da estrutura obrigacional seriam os sujeitos. Um sujeito
ativo, o outro, passivo, credor e devedor, respectivamente.
Outro elemento estrutural é o objeto da obrigação, ou seja, a prestação devida pelo sujeito passivo.
Há, inclusive, prestações negativas, em que o devedor fica adstrito a não fazer algo. Visto,
assim, o objeto das obrigações, podemos dividi-lo em três categorias: prestações que geram
obrigação de dar e prestações que geram obrigação de fazer. Cumpre não confundir o objeto da
obrigação, que é uma prestação, com o objeto da própria prestação, que é a coisa devida.
O terceiro elemento é o vínculo jurídico, ou seja, é o elo entre credor, devedor e objeto.
Portanto, a estrutura de uma obrigação compõe-se de sujeitos, objeto e vínculo jurídico, que se
encontram dinamicamente em movimento.

4. Ideia e posição do Direito das Obrigações perante o Direito Civil


Diz-se ser o Direito das Obrigações ramo do Direito Civil. Essa a teoria tradicional. Há,
porém, quem lhe seja contrário. Para Planiol, por exemplo, o Direito Civil é que é ramo do Direito
das Obrigações, por não se poder entender o Direito, de um modo geral, sem obrigações. O Direito
das Obrigações seria gênero, tendo como espécie o Direito Civil.
Alguns autores ainda defendem que Direito das Obrigações é dotado de imutabilidade e
uniformidade, não variando no tempo e no espaço. É Lei Natural. Já outros, defendem que as
obrigações são variáveis.
Seja ramo do Direito Civil ou vice-versa, fato é que é de essencial importância para a
unificação do Direito Privado por ter natureza abstrata, que o torna apto a constituir Direito
uniforme e internacional; por sua ductibilidade, prestando-se às mais variadas manifestações de
vontade; por sua capacidade de se adaptar às evoluções sociais; e por sua tendência ao alargamento,
servindo a vários ramos do Direito.

5. Conteúdo da prestação obrigacional


Segundo a doutrina que sempre vigorou, todo ato, para ser objeto de obrigação, deve ser
conversível em dinheiro. É impossível obrigação cujo objeto seja prestação meramente moral,
inconversível em dinheiro.
Em outras palavras, o interesse pode ser moral, mas não a prestação. Pois, uma vez que seja
indenizável, adquire caráter patrimonial, caso contrário, nem se poderia falar em compensação de
danos morais.
Embora o conteúdo das relações obrigacionais seja econômico, fala-se em nossos dias da
despatrimonialização das obrigações. A despatrimonialização do Direito das Obrigações passa pelo
fenômeno da constitucionalização do Direito Civil. Onde, tratando-se especificamente do Direito
das Obrigações, pode-se dizer que o capital, o econômico, que é o conteúdo das relações de crédito,
deve ser instrumentalizado para promover a dignidade humana.
Quando se diz que o econômico deve ser instrumentalizado para promover a dignidade
humana, quer-se dizer que, dentre outras práticas, as partes contratantes, por exemplo, devem agir
com lealdade e honestidade, boa práxis empresarial, entre outros.

6. Fontes das obrigações


Teorias modernas refutam a ideia de quase contrato e quase delito. Vejamos algumas delas:
A primeira é a teoria de Perozzi, segundo a qual são duas as fontes: o contrato (por força do
indivíduo, de sua consciência) e a lei (força social, pensamento universal).
A segunda é a de Josserand, que divide as fontes em atos jurídicos, que são os contratos e
atos unilaterais, como a promessa de recompensa, os atos ilícitos, o enriquecimento sem causa e a
lei.
Serpa Lopes critica que os atos unilaterais sejam fonte de obrigação, porque a manifestação
de vontade somente cria vínculo obrigacional (característica essencial das obrigações), quando
encontra outra vontade que a ela adere e fórmula contrato (convenção). É o caso da promessa de
recompensa. Quando uma pessoa cumpre tarefa para a qual se prometeu recompensa, adere à
vontade do promitente, formando, dessarte, contrato.
O Código Civil divide as fontes em contratos, atos unilaterais de vontade (promessa de
recompensa, gestão de negócio, pagamento indevido e demais atos unilaterais geradores de
enriquecimento sem causa) e atos ilícitos.
Contudo, em contraposição, pode-se afirmar que a fonte de uma obrigação não será a
vontade, mas um fato derivado da necessidade, movida pela vontade.
Ocorre que o fato oriundo da necessidade, mesmo após ser praticado, de nada valeria sem o
beneplácito do ordenamento jurídico da lei. Dessarte, a obrigação nasce de um fato sobre o qual
incide a norma jurídica.
Esse fato pode ser um contrato (que combina necessidade e vontade), pode ser um ato
unilateral de vontade (que também combina necessidade e vontade), um fato lesivo ou um fato
gerador de enriquecimento ilícito, como o pagamento indevido e a gestão de negócio (que não
combinam necessidade e vontade).
Em resumo, as fontes das obrigações se resumem sempre a um fato, normalmente ato
humano, sobre o qual incide a norma jurídica.

7. Escorço histórico
O Direito entre os romanos, pelo menos primitivamente, era a de força. Assim, a primeira
manifestação jurídica romana foi o ius in re, os direitos de propriedade de que dispunha o dominus
sobre a coisa. Essa ideia foi transferida para o Direito das Obrigações, sujeitando o devedor
inadimplente ao credor, como se fora coisa. A vingança era a sanção pelo inadimplemento. Assim,
descumprida a obrigação, o devedor ficava submetido à manus iniectio, isto é, ao poder direto do
credor, e, por se converter em coisa, seu corpo passava a objeto da propriedade do credor, podendo
inclusive matar.
A execução começa a perder seu caráter pessoal com a Lex Poetelia Papiria, provavelmente
de 312 ou 326 a.C. Essa lei aboliu a pena capital e todos os meios vexatórios e cruéis a que podia
ser sujeitado o devedor.
Segundo a Lex Poetelia, o credor pedia ao magistrado a addictio debitoris, ou seja, o direito
de levar o devedor preso até a satisfação do crédito.
A Lex Poetelia Papiria tinha um inconveniente, porém. Não permitia que o devedor se
defendesse por si mesmo. Acionado o devedor, tinha ele que apresentar um vindex para defendê-lo.
Somente alguns anos depois da edição desta que se promulgou uma outra lei, a Lex Vallia, já no
século II a.C.,49 cujo objetivo foi o de permitir ao devedor, em alguns casos, defender-se por si
mesmo, sem a interferência do vindex.
No segundo século a.C., um pretor de nome Rutílio instituiu a bonorum venditio. O credor
apresentava-se perante o magistrado, pedindo-lhe que o pusesse na posse dos bens do devedor. A
esse pedido se denominava postulatio.
O devedor podia recuperar seu patrimônio, satisfazendo o direito dos credores ou
invalidando-o. Caso contrário, passado todo prazo, procedia-se à bonorum venditio. Onde,
arrecadava-se e vendia-se todo o patrimônio do devedor, ainda que fosse apenas uma pequena
dívida.
Com o passar dos tempos, a bonorum venditio universal foi sendo substituída pela bonorum
distractio, pela qual se vendiam apenas os bens suficientes para o pagamento dos credores. No
Direito Justinianeu (527 a 565 d.C.) já não há qualquer rastro da bonorum venditio.
Por fim, um procedimento que, estranhamente, só aparece no fim do Alto Império (27 a.C. a 284
d.C.) é o da execução específica ou in natura, quando se tratasse de obrigação de dar ou restituir
coisa certa. No Direito anterior, o objeto da execução era sempre a condenação, que era
necessariamente pecuniária. Assim, nas obrigações de dar ou restituir coisa certa, a execução era
sempre por perdas e danos. Foi apenas no fim do Alto Império que se introduziu, com certeza, a
execução específica.
Como vimos, ao longo da história, a execução foi deixando de ser pessoal, para tornar-se, na
modernidade, patrimonial. E, a ingerência do Estado nas obrigações particulares foi deixando de ser
radical, a intervenção estatal que não se basear no interesse público, na proteção e na promoção da
dignidade humana, será arbitrária e, portanto, ilegítima.
Por fim, é importante lembrar que, por força da constitucionalização do Direito Civil e das
Obrigações, houve uma despatrimonialização das relações creditícias. Isso implica dizer, como
visto supra, que o capital, o econômico, que é o conteúdo das relações de crédito, deve ser
instrumentalizado para promover a dignidade humana.

8. Principiologia do Direito das Obrigações


Princípios informadores são normas gerais e fundantes que fornecem os pilares de
determinado ramo do pensamento científico ou do ordenamento jurídico.
A principiologia do Direito das Obrigações é, na verdade e basicamente, a principiologia das fontes,
ou seja, dos contratos e atos unilaterais, dos atos ilícitos. De todo modo, a doutrina teve que adaptar
os princípios clássicos aos novos tempos, criando uma nova principiologia para o Direito das
Obrigações.
Principiologia clássica do Direito das Obrigações
A principiologia clássica partia do pressuposto de que as obrigações tinham por fontes a
vontade e a lei. A vontade era dogmatizada. Entendia-se a vontade como um fenômeno da liberdade
de agir.
Princípio da autonomia da vontade
É o mais importante princípio. É ele que faculta às pessoas total liberdade para contrair
obrigações. É o princípio que protege os indivíduos da ingerência ilegítima do Estado. Funda-se na
vontade livre, na liberdade de agir. Os contratos, os atos unilaterais são vistos como fenômenos da
vontade e não como fenômenos econômico-sociais.
Essa liberdade contratual está prevista no Código Civil no artigo 421 que dispõe:
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites
da função social do contrato.
Da mesma forma, existe previsão do princípio em questão também no artigo 425 do Código
Civil, onde menciona que:
Art. 425. É lícitos às partes estipular contratos atípicos, observadas as
normas gerais fixadas neste Código

O princípio da autonomia da vontade se desdobra em dois outros princípios: da


obrigatoriedade do vínculo e do consensualismo. O primeiro diz respeito aos contratos e às
declarações unilaterais de vontade, se aplica este princípio aos contratos realizados de acordo com a
lei. O segundo se estende também às obrigações oriundas de declarações unilaterais, como a
promessa de recompensa, desde que este consenso esteja conforme à Lei, será válido, e nenhuma
formalidade além dele será exigida.
Por este princípio para o aperfeiçoamento do contrato basta pura e simplesmente o acordo de
vontades, o consentimento. Afastando-se assim, do apego ao formalismo e ao simbolismo para se
considerar formado o contrato.
É certo que este pensamento vai de encontro ao que determina o artigo 107 do Código Civil,
quando determina que, a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, desde
que a lei não exija expressamente.
Princípio da supremacia da ordem pública
Esse princípio pós-moderno, diz respeito ao dever de se observar primeiro o interesse da
sociedade em uma eventual colisão com o interesse individual.
O atual Código Civil, além do já disposto no artigo 17 da Lei de Introdução, traz essa ideia no
parágrafo único do artigo 2.035, vejamos:
Art. 2.035, parágrafo único. Nenhuma convenção prevalecerá se
contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por
este Código para assegurar a função social da propriedade e dos
contratos.

A doutrina considera de ordem pública, dentre outras, as normas que instituem a organização
da família (casamento, filiação, separação, adoção, etc), as que estabelecem ordem de vocação
hereditária e a sucessão testamentária, como também, as leis sobre o estado e capacidade das
pessoas, etc.
Princípio da relatividade dos efeitos do contrato
Entende-se que, os efeitos do contrato só se produzem exclusivamente entre as partes, isto é,
entre aqueles que manifestaram a sua vontade, não aproveitando nem prejudicando terceiros. Há
obrigações que de forma reflexa estendem seus efeitos a terceiros inegavelmente, como por
exemplo, na estipulação em favor de terceiro (CC, arts. 436 a 438), a situação de ser herdeiro
universal de um contratante (CC, art. 1.792), convenções coletivas de trabalho e o fideicomisso
constituído por ato inter vivos.
Princípio da justiça das relações obrigacionais
Nesse princípio Não se questionava da vulnerabilidade ou da hipossuficiência de uma das
partes. A justiça era, pois, vista de uma ótica estritamente formal.
Princípio do neminem laedere
Princípio segundo o qual se deve viver honestamente, dando a cada um o que é seu por
direito e, ao contrair obrigações, bem como ao executá-las não se deve lesar a ninguém.
Princípio do enriquecimento sem causa
Enriquecimento ilícito ou sem causa, também denominado enriquecimento indevido, ou
locupletamento, é, de modo geral, todo aumento patrimonial que ocorre sem causa jurídica, mas
também tudo o que se deixa de perder sem causa legítima.
Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de
outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a
atualização dos valores monetários (Código Civil).

Princípio da reparação integral


Segundo o princípio da reparação integral, sempre que alguém sofrer um dano injusto,
provocado por outrem, terá direito à reparação integral dos prejuízos.
Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou
causar prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano. A verificação da culpa e a avaliação da
responsabilidade regulam-se pelo disposto neste Código, arts. 1.518 a 1.532 e 1,537 a 1.553.
Princípio da aparência
Aplica-se à hipótese dos autos a teoria da aparência, cuja manifestação pode ser
exemplificada pelo disposto no artigo 309 do Código Civil de 2002, o qual afirma que o pagamento
feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda que provado depois que não era credor.
Princípio da eticidade
Este princípio pressupõe conduta ética do sujeito que integra a relação jurídica. Como preve
o Código Civil no seu artigo 113.
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração

Princípio da operabilidade
O princípio importa dizer que as normas de Direito Civil, incluindo, evidentemente, o
Direito Obrigacional, devem ser operacionais, ou seja, devem ter aplicabilidade prática. Se uma
norma é tão abstrata, a ponto de ser impossível operacionalizá-la, será norma inútil e sem
legitimidade material.
Princípio da socialidade
O princípio da socialidade, por fim, guarda estreita relação com o princípio da eticidade. o
princípio da socialidade objetiva afastar a visão individualista, egoística e privatística do Código
Civil de 1916, tornando as relações obrigacionais, antes de mais nada, relações em cooperação
solidária.
Art. 1228 - O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da
coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha.
§ 1° - O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com
as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.

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