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Do pagamento.

O pagamento, consistente na realização da prestação devida na relação obrigacional, é o modo normal de extinção
da obrigação. 

A relação obrigacional serve a um certo programa, ao atingimento de um resultado, correspondente justamente ao


pagamento.

Ora, as partes negociam e entram em acordo justamente com vistas à obtenção de um resultado concreto, seja a
aquisição de bem ou de um serviço, seja a omissão intencional de uma das partes no caso das obrigações de não
fazer.

Assim, o objetivo principal de qualquer obrigação é que seja realizada da forma como acordada.

O pagamento é espécie de adimplemento obrigacional pela via direta, em que a obrigação se extingue com o
cumprimento da prestação almejado pelas partes. É o desempenho voluntário da obrigação, que extingue a
relação jurídica.

O pagamento abrange toda e qualquer espécie de obrigação. Assim, paga não só aquele que entrega dinheiro,
mas também aquele que presta um serviço, entrega um objeto ou mesmo que omite uma informação relevante.

O pagamento se restringe ao cumprimento voluntário da obrigação, não abrangendo, então, as hipóteses de


execução forçada desta. Destarte, na hipótese de o credor só vir a receber o imóvel adquirido após a execução de
sentença judicial condenatória não se pode dizer que houve efetivamente pagamento, pois não corroborado por
um ato voluntário do devedor.

Adimplemento obrigacional e pagamento não são sinônimos. Adimplemento obrigacional é gênero, do qual o
pagamento é uma de suas espécies. 

Enquanto o pagamento restringe-se ao cumprimento voluntário da exata prestação combinada entre as partes, o
adimplemento abrange todos os modos de extinção da obrigação, diretos e indiretos, como a remissão de dívida, a
compensação, a dação em pagamento, a novação etc.

Veja, nesse sentido, que o pagamento, embora, frise-se, consubstancie o principal meio de extinção das
obrigações, nem sempre acarreta essa extinção.

Basta lembrar dos deveres acessórios que surgem ao lado dos deveres obrigacionais principais por influência do
princípio da boa-fé objetiva. Assim, há uma série de deveres laterais ou acessórios cuja satisfação, ao lado da
obrigação principal, é também imprescindível para a satisfação do credor. 

Esses deveres podem vir expressos no próprio instrumento contratual (ex. dever de sigilo do contador contratado
para realizar a declaração de imposto de renda de uma determinada pessoa), decorrerem de previsão legal (ex. o
art. 32 do CDC impõe ao fornecedor e ao importador o dever de garantir a existência de peças e equipamentos de
reposição por um prazo razoável, de forma a permitir o conserto dos produtos comprados no país), ou mesmo,
como visto, do princípio da boa-fé objetiva (ex. dever de um prestador de serviço contratado por uma conhecida
marca de roupas de não vender os mesmos modelos, porém sem as etiquetas, para seus concorrentes – dever de
lealdade).

Ademais, existem casos em que, embora tenha havido pagamento, este não extingue a obrigação, mas apenas
gera uma substituição de partes, caso da sub-rogação. Como será visto ao longo desse semestre, em alguns
casos, é possível que terceiros realizem o pagamento no lugar do devedor e venham a se sub-rogar nos direitos
do credor, liberando o credor originário, mas mantendo-se a relação obrigacional intacta, com o terceiro
assumindo o lugar do credor originário. Ex. João paga a dívida que José tinha com Pedro. Pedro recebeu o que lhe
era devido, porém ainda permanece a relação obrigacional, sendo que João assume, agora, o polo do credor e
pode continuar a cobrar José.

Além disso, é preciso considerar as hipóteses em que ocorre a extinção da obrigação, porém sem o pagamento,
como no caso de ela se tornar impossível sem culpa do devedor, como já visto no semestre passado.

Todos esses exemplos servem para indicar que pagamento e adimplemento (ou cumprimento) são palavras que,
embora sejam utilizadas comumente como sinônimas, num sentido técnico-jurídico não se confundem. 

Por fim, deve-se ressaltar que, atualmente, a melhor concepção de adimplemento das obrigações é aquela
relacionada à ótica do credor. Ou seja, considera-se cumprida a obrigação quando satisfeitos os interesses do
credor.

Adotando-se esta perspectiva, percebe-se que a relação obrigacional não se limita apenas à prestação principal,
mas pode englobar outros interesses (como os deveres anexos já mencionados), sendo que o credor apenas
restará satisfeito quando todos forem preenchidos.

Nas palavras de Judith Martins-Costa (Comentários ao novo Código Civil, v. V, t. I, p. 66): “o adimplemento se
dará quando se realizar o conjunto dos interesses envolvidos na relação. E por conjunto de interesses envolvidos
na relação entende-se não apenas os vinculados direta ou indiretamente à prestação principal, mas também os
derivados dos demais deveres de conduta, de modo especial os vinculados à manutenção do estado pessoal e
patrimonial dos integrantes da relação, advindos do liame de confiança que toda relação envolve”.
Por fim, deve-se ressaltar que as obrigações geram efeitos entre as partes. Vinculam aos seus efeitos legais
apenas as partes e seus sucessores (que respondem apenas com a força da herança pelas obrigações do de
cujus).

As obrigações personalíssimas, como as obrigações de fazer infungíveis, em que a pessoa do devedor não pode
ser substituída por terceiro, por suas características peculiares, não se transmite aos sucessores. Por exemplo, a
obrigação de uma bailarina de dançar em certo espetáculo não se transmite aos seus herdeiros.

A promessa de fato de terceiro torna avalista o promitente, pois o terceiro só se vincula pela anuência e, se negá-
la, o promitente arcará com as consequências do inadimplemento.

Prometer fato de terceiro não é ato ilícito, mas o promitente se compromete a alcançar a vênia do terceiro –
obrigação de fazer, sob pena de arcar com as perdas e danos.

Princípios.
Princípios que regem o pagamento.

 Principio da boa-fé - Art.422 do código civil, aplica-se durante o desenvolvimento da


relação obrigacional, nas fases das tratativas e na pós-contratual. Visa um comportamento
correto, ético e cooperativo. Inclusive na fase de cumprimento das obrigações.
Ex:tem-se que aquele que se obriga a vender um rebanho, deve alimentá-lo e guarda-lo ao abrigo do ataque de
outros animeis silvestres até a efetiva entrega. Do mesmo modo, aquele que se obriga a pintar o teto de uma
casa, deve tomar as precauções necessárias para cobrir os pisos e os móveis, de forma a não os danificar. 

 Pontualidade- A prestação deve ser cumprida não só no prazo acordado, mas também de forma exata
e integral, conforme previsto, no lugar e no modo devidos. 

 Lembre-se que o credor não é obrigado a receber algo diverso daquilo combinado, ainda que mais valioso
(Art. 313. O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa.) e nem pode ser compelido a receber por partes a prestação (Art. 314. Ainda que a obrigação
tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar,
por partes, se assim não se ajustou.).
Destarte, só paga bem aquele que cumpre a prestação da maneira exata como vem prescrita na relação
obrigacional, no tempo, lugar e modo avençados.

Natureza jurídica do pagamento

1) Fato jurídico: para alguns autores, o pagamento poderia ser classificado como um fato jurídico, ou seja, um
acontecimento do mundo fenomênico relevante para o direito, no caso, algo que extinga uma obrigação. Crítica:
classificação muito ampla. Por óbvio, o pagamento, por implicar na extinção de uma relação jurídica, é um fato
jurídico, mas isso não é suficiente para uma classificação de sua natureza jurídica.

2) Ato jurídico em sentido amplo, da categoria dos atos lícitos: os fatos jurídicos dividem-se em fatos naturais
(decorrentes da natureza) e fatos humanos (ações humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem
direitos). Para parte dos autores, o pagamento enquadrar-se-ia nesta última categoria, também denominada de
ato jurídico em sentido amplo. Esta, por sua vez, subdivide-se em atos ilícitos (que, como vimos no semestre
passado, também são fontes das obrigações) e atos lícitos, onde o pagamento é enquadrado. 
Essa é a opinião que parece majoritária e é adotada, dentre outros, por Mário Julio de Almeida Costa, Antonio
Junqueira de Azevedo e Carlos Roberto Gonçalves, para quem “o pagamento tem natureza de um ato jurídico em
sentido amplo, da categoria dos atos lícitos, podendo ser ato jurídico stricto sensu ou negócio jurídico, bilateral ou
unilateral, conforme a natureza específica da prestação” (p. 261 da edição de 2019). 

3) Ato jurídico em sentido estrito: Outros doutrinadores entendem que o pagamento se enquadra exclusivamente
dentre os fatos jurídicos cujo suporte fático prevê uma exteriorização consciente da vontade que tenha por objeto
um resultado juridicamente protegido (ou não proibido) e possível. Parece ser essa a opinião de Caio Mário.

4) Contratual: alguns autores, como Roberto de Ruggiero, por sua vez, defenderam que o pagamento, por
envolver sempre uma intenção de solver uma obrigação (animus solvendi) teria natureza contratual, por
assemelhar-se a um contrato (acordo de vontades). Essa teoria traz o inconveniente de considerar que, como ato
de vontade, o pagamento só pode ser realizado por pessoas capazes. De fato, para a maior parte da doutrina, o
pagamento não pode ser analisado no plano da validade.

5) Ato voluntário não contratual (ou negócio jurídico unilateral): nem sempre a vontade de pagar deve ser
declarada e, muitas vezes, sequer é relevante juridicamente.
6) Ato de natureza variável: para Orlando Gomes, por exemplo, a natureza jurídica do pagamento depende da
qualidade da prestação e de quem o efetua sendo, portanto, variável.

7) Ato devido: alguns autores italianos, como Carnelutti e Betti, defenderam que o pagamento deveria ser
entendido como um ato vinculado e não livre, sendo irrelevante a pesquisa acerca da voluntariedade que o
ensejou.

8) Teoria da execução real da prestação: teoria alemã esposada, entre outros, por Larenz, defende que o
pagamento é uma atuação dirigida à produção de um determinado resultado visado pela prestação. Volta-se não
ao estudo das espécies de pagamento, mas à sua finalidade.

O estudo da natureza jurídica do pagamento tem impactos práticos, mas o que realmente importa extrair dessa
exposição do imbróglio doutrinário exposto acima é que se o pagamento, de acordo com a maior dos autores, não
se apresenta como um negócio jurídico, as regras básicas do art. 104 do CC acerca do plano da validade também
só se aplicam quando cabíveis. Ou seja, não é necessário que aquele que paga sempre seja capaz, por exemplo. 

Dos elementos do pagamento:

a) Vínculo obrigacional – capaz de justificar o pagamento, sob pena de ocorrer pagamento indevido, ato unilateral
que gera para o accipiens (aquele que recebe) a obrigação de restituir, já que a lei proíbe o enriquecimento ilícito.

b) Solvens  – é a expressão latina utilizada para se referir àquele que paga. Pode ser o próprio devedor (regra
geral), mas também pode ocorrer o pagamento por terceiros (como será visto abaixo), sendo estes igualmente
denominados de solvens. 

c) Accipiens – é a expressão latina utilizada para se referir àquele que recebe. Normalmente, é o próprio credor,
mas há tanto hipóteses em que o credor é proibido de receber o pagamento, quanto hipóteses em que o
pagamento realizado a terceiro será eficaz, conforme será estudado abaixo. Em todos esses casos, aquele que
recebe a prestação será denominado de accipiens.

De quem deve pagar:

Em regra, quem deve pagar é o devedor.

Não se tratando de obrigação personalíssima, contudo, prevê-se a possibilidade de pagamento por terceiro, nas
seguintes circunstâncias:

1. Terceiro interessado – é o terceiro que pode ser juridicamente responsabilizado pelo pagamento, e por isso tem
interesse na extinção do vínculo obrigacional pelo adimplemento.

Ex: do fiador, do sublocatário, do avalista, cuja obrigação em pagar não é meramente natural, mas civil.

Os efeitos da mora podem alcançar essas pessoas, de modo que elas têm interesse em pagar e o direito de
alcançar a quitação. A recusa do credor ensejaria a consignação em pagamento.

O pagamento por terceiro interessado leva à sub-rogação do solvens (o terceiro, que pagou) em todos os direitos
do credor. Trata-se de hipótese de sub-rogação legal, em que o terceiro no lugar de mero direito de reembolso
passa a ocupar o lugar do credor originário, para cobrar do devedor o que desembolsou com todos os acessórios
que privilegiavam o credor originário, como a garantia, a cláusula penal, os juros, as ações, os privilégios, as
garantias, etc.

Essa hipótese está prevista no caput do art. 304:

Art. 304. Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos
meios conducentes à exoneração do devedor.

A respeito do pagamento realizado por terceiro interessado, já decidiu o STJ que além de sub-rogar-se nos
direitos, garantias e privilégios do credor originário, correrá contra este terceiro também o mesmo prazo
prescricional previsto para o credor originário. Confira-se:

Dessa forma, ocorrendo a sub-rogação do fiador nos direitos do credor, em razão do pagamento da dívida
objeto de contrato de locação, permanecem todos os elementos da obrigação primitiva, inclusive o prazo
prescricional, modificando-se tão somente o sujeito ativo (credor), e, também, por óbvio, o termo inicial do
lapso prescricional, que, no caso, será a data do pagamento da dívida pelo fiador, e não de seu vencimento,
em decorrência do princípio da actio nata. Isso posto, aplica-se o prazo previsto no art. 206, § 3º, I, do
Código Civil, o qual dispõe ser de 3 (três) anos "a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou
rústicos", visto que esse dispositivo seria aplicável caso a ação tivesse sido proposta pelo locador contra os
locatários. (STJ. REsp 1.432.999-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, por unanimidade, j.
16/5/2017).

2. Terceiro não interessado – é a pessoa que, embora não possa ser responsabilizada em juízo pela prestação,
tem interesse moral em solvê-la. Trata-se de hipótese delineada no parágrafo único do art. 304:
Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor,
salvo oposição deste.

Nesse caso, o terceiro não tem interesse jurídico, daí ser um “não interessado”. É o pai, o noivo, a amiga, a tia,
pessoa que nunca poderá ser processada para cumprir a prestação assumida pelo devedor, mas que tem interesse
sentimental em livrá-lo do ônus o inadimplemento.

Há interesse das partes e da sociedade em que o pagamento seja efetuado. O inadimplemento resulta em ônus
para o devedor e causa insegurança à sociedade, sobrecarregando ainda o Judiciário, com mais uma demanda.

É por isso que, em regra, o credor não pode se opor ao pagamento realizado por terceiro não interessado. O
referido dispositivo, contudo, permite que o devedor originário se oponha ao pagamento realizado por terceiro.
Também neste caso, se o fizer por mero capricho, sem justo motivo para a oposição, a relação jurídica se extingue
pelo pagamento e o terceiro não interessado tem direito ao reembolso, caso pague em nome próprio.

O terceiro não interessado que paga em nome do devedor não tem direito de reembolso. Nesse caso houve o
animus donandi.

Caso pague em nome próprio, pode cobrar do devedor (sem direito a sub-rogação, pois a obrigação anterior se
extingue por completo, com todos os seus acessórios) o valor que desembolsou. O fundamento está no art. 305,
CC. Se pagar antes de vencida a dívida, o terceiro não interessado só terá direito ao reembolso no vencimento,
consoante parágrafo único do art. 305, CC.

Art. 305. O terceiro não interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a
reembolsar-se do que pagar; mas não se sub-roga nos direitos do credor.
Parágrafo único. Se pagar antes de vencida a dívida, só terá direito ao reembolso no vencimento.

O reembolso neste caso será pelo menor valor – se pagou menos e o credor aceitou, recebe o valor pago. Se
pagou mais que o valor originário da dívida, receberá somente o valor da dívida, que foi equivalente ao benefício
efetivo do devedor principal.

Ademais, caso o terceiro pague a dívida mesmo que o devedor originário tivesse meios para ilidir eventual ação do
credor (ex. alegação de prescrição, compensação, novação, etc), a oposição terá justo motivo e o devedor apenas
terá de reembolsar o terceiro da parte que venha a aproveitar, se houver.

Art. 306. O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga
a reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação.

Do pagamento efetuado mediante transmissão da propriedade:

Art. 307. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por
quem possa alienar o objeto em que ele consistiu.
Parágrafo único. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor
que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la.

Nem sempre o pagamento consiste na entrega de dinheiro, podendo ser realizado mediante a transferência de
propriedade de algum objeto. 

Neste caso, determina o Código Civil que o pagamento só terá eficácia se realizado por quem tinha capacidade e
legitimação para alienar. Assim, em regra, apenas o titular do bem é que pode transferir sua propriedade, sob
pena de configurar-se a venda a non domino.

Não obstante, caso realizada a entrega por quem não era, à época, titular do bem, esse pagamento poderá ser
convalidado caso o devedor venha a adquirir futuramente o dominío (art. 1.268, §1º). Destarte, em regra, não
posso vender um celular que não é meu. Essa venda é anulável, mas poderá ser convalidada caso, após a venda,
eu compre o celular de um terceiro para entregar ao comprador. 

Por fim, o parágrafo único do art. 307 abre uma exceção e considera eficaz o pagamento quando feito através da
dação com coisa de terceiro, mas fungível, consumível e entregue ao credor de boa-fé que, por erro escusável, a
recebe e consome. Aqui o pagamento é válido, ainda que o solvens (sem capacidade ou sem legitimação para dar
em pagamento tal objeto) tenha que responder perante o prejudicado (proprietário cuja coisa foi dada em
pagamento).

Daqueles a quem se deve pagar:

A regra geral é a de que o credor é o accipiens, quem deve receber o pagamento.

O credor, seu representante (legal ou convencional) ou seu sucessor inter vivos ou causa mortis deve ser o
accipiens, sob pena de o solvens ter pago mal e ter de pagar de novo(lembre da regra “quem paga mal, paga
duas vezes”) .

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só
valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.
São representantes legais o pai, o tutor e o curador,. São representantes judiciais aqueles nomeados pelo juiz,
como o síndico da massa falida e o inventariante em relação ao espólio.

São representantes convencionais os mandatários, que por contrato receberam poderes do credor, podendo ou
não portar a procuração, instrumento do mandato[1].

É representante convencional, ainda, o adjectus solutionis causa, ou adjectus solutionis gratia, pessoa designada
nominalmente no próprio título para receber o pagamento, em seu próprio benefício. O poder desse representante
não é revogável, como o do mandatário, e nem se extingue em função da morte do mandante, porque se trata de
uma estipulação em favor de terceiro, quando o beneficiado é como um cessionário do crédito e tem o direito de
receber em lugar do credor.

Também há o caso do mandato presumido por lei, quando o portador da quitação é presumivelmente (presunção
relativa) o mandatário do credor, que se apresenta para receber a dívida. O devedor precisa neste caso ser
diligente, pois a presunção é relativa e, se ficar provado que o erro foi grosseiro, pode ter que pagar duas vezes
(pagar outra vez, ao verdadeiro credor).

Art. 311. Considera-se autorizado a receber o pagamento o portador da quitação, salvo se as


circunstâncias contrariarem a presunção daí resultante.

Das exceções:
1. Pagamento feito ao credor e não válido:

1.1. Se o credor é incapaz, o pagamento deve ser feito a seu representante, ou em juízo. O pagamento ao incapaz
não vale, obrigando o devedor a novo pagamento, salvo se provar que o pagamento se reverteu em proveito do
incapaz (e será considerado eficaz o pagamento no limite desse benefício) ou se provar erro escusável, ou seja
quenão podia desconfiar da incapacidade do accipiens.

Art. 310. Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não
provar que em benefício dele efetivamente reverteu.

1.2. Se o credor está sendo executado e o devedor é intimado de penhora sobre o crédito para que não pague ao
credor originário, mas, sim, deposite a quantia em juízo,  o pagamento é ineficaz perante o terceiro exequente ou
embargante se realizado diretamente ao credor. Esses terceiros poderão, então, requerer novo pagamento (quem
paga mal, paga duas vezes) (art. 856, §§1º e 2º, CPC). A ideia desse dispositivo é preservar os direitos desses
credores e evitar a burla às garantias que lhes são outorgadas pelo ordenamento.

Art. 312. Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão
constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor.

1.3. Equipara-se à intimação acerca da penhora pendente sobre o crédito a impugnação feita por terceiro, seja por
meio de protesto, notificação ou interpelação (arts. 726 e ss, CPC). Assim, notificado o solvens acerca do litígio
envolvendo a percepção do crédito, o pagamento ao credor originário também se mostra ineficaz perante os
impugnantes, nos termos do art. 312 do CC.

2. Pagamento feito a terceiro que não o credor ou seu representante ou sucessor e válido:

2.1. Se o credor ratificar o pagamento: Feito o pagamento a um terceiro, este pode vir a ser considerado eficaz se
o accipiens ratificar a quitação. Neste caso, entende-se que oterceiro que recebe no lugar do credor atua como um
gestor de negócio, sendo que a ratificação retroage à data do pagamento, como se houvesse verdadeiramente um
contrato de mandato que autorizasse o terceiro a receber o pagamento. A diferença é que a gestão de negócio não
é contrato, é manifestação unilateral da vontade, com apenas um centro de interesse, em que o gestor age por
conta própria, mas produzindo todos os efeitos do ato (o pagamento extingue o vínculo obrigacional).

2.2. Quando o credor tira proveito do pagamento: o ônus de provar que o pagamento reverteu integralmente em
favor do credor originário é do solvens (que, em tese, pagou mal). O proveito do credor pode ser direto (ex. o
terceiro deposita o dinheiro na conta do credor) ou indireto (ex. pagamento realizado a credor do accipiens, que
abate esse valor da débito a ser cobrado daquele credor originário).

Art. 308. O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só
valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito.

2.3. Pagamento ao credor putativo: O credor putativo ou aparente é aquele que aos olhos de todos passa como
verdadeiro credor, mas, na verdade, não o é (teoria da aparência). Para que o pagamento ao credor putativo seja
considerado eficaz, é preciso que o devedor pague de boa-fé e que o erro seja escusável, pois se o solvens erra
grosseiramente, deverá pagar de novo, agora ao verdadeiro credor. Por exemplo: quando o pagamento é feito à
viúva do credor e o devedor não sabe que há filhos do credor; ou quando se paga a herdeiro que depois é excluído
por indignidade por fato desconhecido do solvens à época do pagamento.
Ao verdadeiro credor resta apenas o direito de reclamar do credor putativo a devolução do que este recebeu.

Art. 309. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era
credor.

O STJ já aplicou em seus julgados a teoria da aparência esposada no art. 309, CC. Confira-se:
Recurso especial. Civil. Seguro DPVAT. Indenização. Credor putativo. Teoria da aparência. 1. Pela
aplicação da teoria da aparência, é válido o pagamento realizado de boa-fé a credor putativo. 2. Para
que o erro no pagamento seja escusável, é necessária a existência de elementos suficientes para
induzir e convencer o devedor diligente de que o recebente é o verdadeiro credor. 3. É válido o
pagamento de indenização do DPVAT aos pais do de cujus quando se apresentam como únicos
herdeiros mediante a entrega dos documentos exigidos pela lei que dispõe sobre seguro obrigatório
de danos pessoais, hipótese em que o pagamento aos credores putativos ocorreu de boa-fé. 4.
Recurso especial conhecido e provido” (STJ, REsp 1.601.533/MG, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
3.a Turma, j. 14.06.2016, DJe 16.06.2016).

Agravo regimental. Agravo de instrumento. Obrigação securitária. Acordo. Pagamento ao falido.


Credor putativo. Artigo 309 do CC. Provimento. 1. No caso em apreço, a recorrente foi condenada ao
pagamento de seguro e entabulou acordo com a credora, cuja falência fora decretada anteriormente,
sem que tivesse conhecimento do fato nem se consignando eventual má-fé no acórdão recorrido. 2.
Inexistindo, pois, prova da má-fé e elemento que pudesse cientificar o devedor que o representante
da credora não mais detinha poderes de administração, é de se reputar válido o pagamento feito a
credor putativo. Inteligência do artigo 309 do Código Civil. 3. Agravo regimental provido” (STJ, AgRg
no Ag 1.225.463/SP, 4.a Turma, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j. 11.12.2012, DJe 19.12.2012).

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