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Extinção da Punibilidade
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII - pelo casamento do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes, definidos nos
Capítulos I, II e III do Título VI da Parte Especial deste Código;(Revogado pela Lei nº 11.106,
de 2005)
VIII - pelo casamento da vítima com terceiro, nos crimes referidos no inciso anterior, se
cometidos sem violência real ou grave ameaça e desde que a ofendida não requeira o
prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal no prazo de 60 (sessenta) dias a contar
da celebração;(Revogado pela Lei nº 11.106, de 2005)
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
Introdução
Com criação da norma penal, o Estado passa a ostentar o direito de punir em abstrato ou “jus
puniendi” em abstrato, por meio do qual exige de todos que abstenham de praticar a ação ou
omissão definida no preceito primário do tipo penal.
Quando a infração penal é praticada, surge para o Estado o direito de punir em concreto
ou “jus puniendi” em concreto. Através dele, o Estado exige do infrator que se sujeite à
sanção prevista no preceito secundário do tipo penal.
A punibilidade não é requisito do crime, mas sua consequência jurídica. Nesse sentido:
TACrimSP, 613.785, RT, 663:314-5.
Os requisitos do crime, sob o aspecto formal, são o fato típico e a antijuridicidade. A
culpabilidade constitui pressuposto da pena. A prática de um fato típico e ilícito, sendo
culpável o sujeito, faz surgir a punibilidade.
Nesse contexto, nto que surge a punibilidade, entendida como a possibilidade jurídica da
aplicação da sanção penal. Observe-se, contudo, que o direito de punir concreto não é auto-
executável, tratando-se de verdadeiro direito de coação indireta, uma vez que sua satisfação
depende da utilização de um processo penal – “nulla poena sine judicio”.
Causas extintivas da punibilidade
O conteúdo do art. 107 do CP não é taxativo, mas exemplificativo. Isto porque causas
extintivas da punibilidade que extrapolam o rol desse dispositivo legal.
Como exemplo, note:
a) art. 82 CP: o término do período de prova do sursis, sem motivo para revogação do
benefício, faz com que o juiz decrete a extinção da punibilidade;
b) art. 90 CP: o término do período de prova do livramento condicional, sem motivo para
revogação do privilégio, opera a extinção da punibilidade;
c) art. 7º, § 2º, “d”, CP: se o agente cumpriu pena no estrangeiro pelo crime lá cometido,
opera-se a extinção da punibilidade em relação à pretensão punitiva do Estado brasileiro;
d) art. 312, § 3º, 1ª parte, CP: a reparação do dano no peculato culposo, antes da sentença
final irrecorrível, extingue a punibilidade;
e) art. 236 CP, em decorrência da morte da vítima;
f) pagamento da contribuição previdenciária antes do início da ação fiscal – artigo 168 – A, p.
2º, CP;
g) art. 520 CPP: a desistência da queixa nos crimes contra a honra, formulada em audiência
judicial;
h) art. 59, parágrafo único, LCP: aquisição de renda superveniente na contravenção penal de
vadiagem;
i) art. 34, Lei nº 9.249/95: pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios,
antes do recebimento da denúncia;
j) art. 89, § 5º, Lei nº 9.099/95: decurso do prazo de suspensão condicional do processo sem
revogação;
k) art. 171, § 2º, VI, e Súmula 554, STF: ressarcimento do dano antes do recebimento da
denúncia no crime de estelionato mediante emissão de cheque sem provisão de fundos.
O momento de ocorrência, em regra, pode se dar antes da sentença final ou depois da
sentença condenatória irrecorrível. Cumpre salientar que determinadas causas fazem
desaparecer o direito de punir do Estado, impedindo-o de iniciar ou prosseguir com a
persecução penal.
Estão previstas no art. 107 CP as hipóteses de extinção da punibilidade, mas ainda há outras
causas de extinção de punibilidade previstas em outros artigos do próprio Código Penal, em
leis específicas e também na Constituição Federal, conforme supracitado.
Segundo o artigo 107, do Código Penal, extingue-se a punibilidade:
i) pela morte do agente;
ii) pela anistia, graça e indulto;
iii) pela retroatividade da lei que não considera mais o fato como criminoso;
iv) pela prescrição, decadência ou perempção;
v) pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
vi) pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
Hipóteses de extinção da punibilidade
Breves considerações
Os três institutos contemplam situações de “clemência soberana” em que o Estado, por razão
de Política Criminal, abdica de seu “jus puniendi”, em nome de uma pacificação social.
Há diferenças entre eles: a anistia se refere a fatos e depende de lei de competência do
Congresso Nacional (art. 21, XVII, e artigo 48, VII, CF); a graça e o indulto, por sua vez, se
referem a pessoas, e têm como instrumento normativo o decreto presidencial (art. 84, XII,
CF), delegável a Ministros de Estado, ao Procurador- Geral da República ou ao Advogado-
Geral da União (art. 84, parágrafo único, CF).
Todos os três institutos são insuscetíveis de anistia, graça e indulto os crimes hediondos e
assemelhados – tráfico ilícito de entorpecentes, terrorismo e tortura (art. 5º, XLIII, CF e art.
2º, da Lei nº 8.072/90).
A Lei nº 9.455/97, ao dispor sobre o crime de tortura, veda a anistia e a graça, embora silente
sobre o indulto. Apesar disso, entende-se que também o crime de tortura é insuscetível de
indulto, por força da interpretação sistemática conferida ao art. 5º, XLIII, da CF.
É indiferente, de outra parte, a natureza da ação penal para fins de admitir a anistia, graça ou
indulto. Incidem, portanto, em crimes de ação pública e de ação privada.
Lembre-se que, na última hipótese, o “jus puniendi” continua sendo estatal, pois o ofendido
somente recebe o “jus persequendi in judicio” – direito de ajuizar a ação.
DECADÊNCIA
Decadência é a perda do direito de ação privada ou do direito de representação, em razão de
não ter sido exercido dentro do prazo legalmente previsto. A decadência fulmina o direito de
agir, atinge diretamente o “jus persequendi”.
Com efeito, inadmissível seria que o direito de queixa ou de representação subsistisse
indefinidamente. Estipula-se, de conseguinte, determinado prazo decadencial – fatal e
improrrogável – e, com o seu término, há a extinção da punibilidade (art. 107, IV, CP).
De acordo com o art. 103 CP, o ofendido ou o seu representante legal decai do direito de
queixa ou de representação, salvo disposição em sentido contrário, se não o exerce dentro do
prazo de seis meses, contado do dia em que veio, a saber, quem é o autor do crime, ou na
hipótese de ação privada subsidiária da pública (art. 100, § 3º, CP) di dia em que se esgota o
prazo para o oferecimento da denúncia (art. 38 CPP).
Todavia, sendo a vítima menor de dezoito anos o oferecimento de queixa/representação
caberá ao seu representante legal; se maior de 18 anos a vítima, porém, o oferecimento de
queixa ou representação lhe compete de modo exclusivo na hipótese
Na hipótese de delito praticado em coautoria, o prazo decadencial tem início a partir do
conhecimento do primeiro autor.
Em se tratando de crime continuado, o prazo decadencial é contado separadamente para cada
fato delituoso em caso de crime habitual, inicia-se a contagem do prazo a partir do último ato
praticado conhecido pelo ofendido; por fim, na hipótese de cr4ime permanente da decadência
atinge tão-somente os fatos perpetrados antes do prazo de seis meses.
Perempção
A Perempção consiste na perda do direito de ação pela inércia a do querelante. Assim, após o
início da ação penal privada a inatividade do querelante presume a desistência quanto ao seu
prosseguimento. O âmbito de aplicação dessa causa extintiva de punibilidade circunscreve-se
à ação penal exclusivamente privada (art. 107, IV, CP), já que na ação penal privada
subsidiária da pública conferem-se ao Ministério Pública possibilidade de, a qualquer tempo,
retomá-la como parte principal, no caso de negligência do querelante (art. 29 CPP).
As hipóteses de perempção da ação estão dispostas no art. 60 do CPP:
De semelhante, também será considerada perempta a ação penal com a morte do querelante
nas hipóteses da ação penal com a morte do querelante na hipótese de ação penal privada
personalíssima - art. 236 CP.
Perdão do Ofendido
É facultado ao querelante, no curso da ação penal privada, perdoar o querelado, extinguindo-
se assim a punibilidade do delito (art. 107, V, CP). De conseguinte, o perdão do ofendido, nos
crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta o prosseguimento da ação (art.
105 CP).
Cinge-se o perdão do ofendido aos delitos persequíveis através de ação penal exclusivamente
privada, já que nos casos de ação penal privada subsidiária incumbirá ao Ministério Público
retomar a ação penal como parte principal.
O perdão do ofendido não se confunde com a renúncia daquela ao exercício do direito de
queixa. Isso porque o perdão opera na fase processual, enquanto a renúncia limita-se à fase
pré-processual.
Demais disso, o perdão é ato bilateral, somente produzindo efeitos se aceito – expressa ou
tacitamente – pelo querelado (ou por procurador com poderes especiais – art. 55CPP). Logo,
se o querelado o recusa, não produz efeito algum (art. 106, III, CP).
Poderão aceitar o perdão o próprio querelado ou o seu represente legal, sendo aquele maior
de dezoito e menor de vinte de um anos, mas o perdão aceito por um, havendo oposição do
outro, não produzirá efeito (arts. 52 e 54, CPP).
O mesmo se aplica à concessão do perdão, na hipótese de querelante entre dezoito e vinte e
um anos de idade. Cumpre salientar, no entanto, que diante da equiparação do marco etário
(18 anos) da responsabilidade civil á penal, não há mais razão para a representação no que
tange ao menor de vinte e um anos de idade quanto ao aceite (querelado), como na
concessão (querelante) do perdão. De outro lado, se o querelado for mentalmente enfermo ou
retardado mental e não tiver represente legal, ou colidirem os interesses deste com os do
querelado, a aceitação do perdão caberá ao curador que o juiz lhe nomear. (art. 53 CPP).
O perdão do ofendido poderá ser processual – quando concedido em juízo –
ou extraprocessual – se concedido fora dos autos do processo, em declaração assinada pelo
ofendido, por ser representante legal ou procurador com poderes especiais (arts. 50 e 56
CPP); expresso ou tácito – resultante da prática de ato incompatível com a vontade de
prosseguir na ação (art. 106, § 1º, CP; e art. 57, CPP).
A aceitação do perdão fora do processo constará de declaração assinada pelo querelado, por
seu representante legal ou procurador com poderes especiais (art. 59 CPP). Aceito o perdão, o
juiz julgará extinta a punibilidade (art. 58, parágrafo único, CPP).
Por fim, convém consignar que o perdão, processual ou extraprocessual, expresso ou tácito,
quando concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita e se concedido por um dos
ofendidos, não prejudica o direito dos outros (art. 106, I e II, CP). É possível a concessão do
perdão pelo ofendido a qualquer tempo, dede que não haja sentença condenatória transitada
em julgado (art. 106, § 2º, CP).