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PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL

1 – PRINCÍPIO DA LEGALIDADE: insculpido no art. 5º, XXXIX, da


CF, e no art. 1º do CP é o mais importante princípio do Direito Penal, haja vista que
coíbe o poder estatal da tomada de condutas arbitrárias, limitando-o aos preceitos legais.

O referido princípio está intimamente ligado ao Estado de Direito, vez que


determina que só haverá crime se houver uma previsão legal anterior, assim como, só
será aplicada pena se previamente prevista.

Assim, não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia
cominação legal.

Podemos afirmar, deste modo, que o Princípio da Legalidade cumpre quatro


funções:

a) Proibir a retroatividade da lei penal;

b) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes;

c) Proibir o emprego de analogia para criar crimes, fundamentar ou


agravar penas; e

d) Proibir incriminações vagas e indeterminadas.

Legalidade formal e material

Legalidade formal está ligada ao processo legislativo. Devem ser cumpridas


as formalidades instituídas na CF para a criação de lei penais.

Legalidade material está ligada a vigência e validade da norma penal. Em


um Estado Constitucional de Direito as leis devem estar conforme os preceitos
constitucionais.

Assim, diz que a lei vigente é aquela que cumpridas às formalidades para
sua criação, e passado o tempo de vacatio legis surti seus efeitos legais.

Já a lei pode ou não ser válida, independente de sua vigência. Caso a lei seja
inconstitucional não será válida embora possa estar vigente.

Desse modo, podemos ter uma lei vigente, mas não válida, cabendo assim,
uma possível declaração de inconstitucionalidade.

Diferença entre o Princípio da Legalidade e o da Reserva Legal


Alguns autores diferenciam estes dois princípios. Assim podemos entender
que ao nos referirmos ao Princípio da Reserva Legal, estamos nos referindo que
somente a união é competente para legislar sobre a lei penal, criando condutas
incriminadoras e culminando penas, e, assim mesmo, por meio de lei ordinária ou
complementar.

2 - PRINCÍPIO CULPABILIDADE: diz respeito a um juízo de valor (ou


desvalor) da conduta praticada, é o juízo de reprovabilidade, de censura sobre a conduta
típica e ilícita praticada.

Deve se analisado sobre três aspectos:

a) Culpabilidade como elemento integrante do conceito analítico de crime;

b) Como princípio medidor da pena; e

c) Como princípio impedidor da responsabilidade penal objetiva (sem culpa).

3 – PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE: tal princípio faz com


que se “faça um juízo de ponderação sobre a relação existente entre o bem que é
lesionado (...) (gravidade do fato) e o bem de que alguém pode ser privado (gravidade
da pena)”. Alberto Silva Franco.

- Dupla função:

a) Orientar o legislador no estabelecimento do quantum da pena em abstrato


para um tipo penal;

b) nortear o aplicador do direito em relação a quantidade de pena a ser


aplicada no caso concreto.

4 – PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA/ULTIMA RATIO:

- 02 perspectivas:

a) escolha dos bens jurídicos a serem protegidos pelo direito penal;

b) a retirada de tipos penais incriminadores do ordenamento jurídico-


penal (descriminalização), o que não se confunde com despenalização.

5 - PRINCÍPIO LESIVIDADE: somente condutas graves, intoleráveis e


transcendentais.

Limita a atuação do Estado para incriminar condutas:

a) Apenas de atitude interna;

b) que não excede o âmbito do próprio autor (intranscedentes);


c) de simples estados ou condições existenciais – direito penal do fato e do autor;

d) condutas desviadas que não afetem qualquer bem jurídico de terceiros –


moral/imoral.

6 – PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL:

- Dupla função:

a) afastar do âmbito da proteção penal condutas que sejam consideradas


adequadas pela sociedade.

b) nortear o legislador na escolha das condutas que deverão ser incriminadas


pelo direito penal, assim como retirar de nosso ordenamento jurídico-penal condutas
aceitas pela sociedade.

7 – PRINCÍPIO DA FRAGMENTARIEDADE: corolário dos princípios


da intervenção mínima, da lesividade e da adequação social. Somente alguns bens
jurídicos deverão receber a proteção do direito penal.

8 – PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL: Inciso XLV do


art. 5º da CF.

Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a


obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
bens ser, nos termos da lei, estendidos aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido.

9 – PRINCÍPIO DA LIMITAÇÃO DAS PENAS: Inciso XLVII do art. 5º


CF. Este princípio está intimamente ligado ao princípio da dignidade humana.

Não haverá penas:

a) morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) perpétua;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento; e

e) cruéis.

10 - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICANCIA

TRANCAMENTO. AÇÃO PENAL. HC. APLICAÇÃO. PRINCÍPIO DA


INSIGNIFICÂNCIA. Trata-se, no caso, do furto de um “Disco de Ouro”, de
propriedade de renomado músico brasileiro, recebido em homenagem à marca de 100
mil cópias vendidas. Apesar de não existir nos autos qualquer laudo que ateste o valor
da coisa subtraída, a atitude do paciente revela reprovabilidade suficiente para que não
seja aplicado o princípio da insignificância, haja vista a infungibilidade do bem. Para
aplicar o referido princípio, são necessários a mínima ofensividade da conduta do
agente, nenhuma periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade
do comportamento e a inexpressividade da ordem jurídica provocada. Assim, a Turma
denegou a ordem. Precedentes citados: HC 146.656-SC, DJe 1º/2/2010; HC 145.963-
MG, DJe 15/3/2010, e HC 83.027-PE, DJe 1º/12/2008. HC 190.002-MG, Rel. Min. Og
Fernandes, julgado em 3/2/2011.

O julgado em comento tem por objeto o princípio da insignificância. O


instituto, que é amplamente divulgado em nossa doutrina pelo Professor Luiz Flávio
Gomes, foi apontado primeiramente por Claus Roxin. De acordo com este mandamento
de otimização, o Direito penal não deve se ocupar de bagatelas, ou seja, de condutas que
não apresentem relevância material, ofendendo minimamente o bem jurídico tutelado.
Traduz a fragmentariedade e a intervenção mínima do Estado na espera penal.

Trata-se de princípio que afasta a tipicidade material do delito


(consubstanciada na teoria constitucionalista), desde que verificados alguns requisitos,
quais sejam:

a) mínima ofensividade da conduta do agente;

b) nenhuma periculosidade social da ação;

c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;

d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Na jurisprudência pátria não se discute mais sua aceitação. Tanto


no STF quanto no STJ e nas instâncias inferiores, o princípio é amplamente aceito.

PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA. FERRAGENS. O paciente, auxiliado por dois


menores, subtraiu para si ferragens de uma construção civil no valor de R$ 100. Esse
contexto permite a aplicação do princípio da insignificância, quanto mais se já
consolidado, na jurisprudência, que condições pessoais desfavoráveis, maus
antecedentes, reincidência e ações penais em curso não impedem a aplicação desse
princípio. Precedentes citados do STF: HC 84.412-SP, DJ 19/11/2004; do STJ: HC
124.185-MG, DJe 16/11/2009; HC 83.143-DF, DJ 1º/10/2007, e HC 126.176-RS, DJe
8/9/2009. HC 163.004-MG, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 5/8/2010.

Aquele segundo entendimento, por sua vez, já foi considerado no STF.


Veja–se o que se fixou no informativo 610 – julgamento do HC 101998/MG, de
relatoria do Min. Dias Toffoli.
Princípio da insignificância e furto. A 1ª Turma, ao afastar a aplicação do princípio da
insignificância, denegou habeas corpus a condenado por furto de 9 barras de chocolate
de um supermercado avaliadas em R$ 45,00. Reputou-se que, em razão da reincidência
específica do paciente em delitos contra o patrimônio, inclusive uma constante prática
de pequenos delitos, não estariam presentes os requisitos autorizadores para o
reconhecimento desse postulado. Salientou-se, no ponto, a divergência de entendimento
entre os órgãos fracionários da Corte, haja vista que a 2ª Turma admite a aplicação do
princípio da insignificância, mesmo para o agente que pratica o delito reiteradamente.
Precedente citado: HC 96202/RS (DJe de 28.5.2010). HC 101998/MG, rel. Min. Dias
Toffoli, 23.11.2010. (HC-101998)

Para a Sexta Turma do Tribunal da Cidadania (STJ), o fato de o bem ser


infungível, ou seja, não poder ser restituído ao seu proprietário por outro de mesma
espécie, qualidade e quantidade faz da conduta reprovável o bastante para não ser
excluída sua tipicidade e material.

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