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1.

ª Avaliação de Direito Penal I

01. Como regra, a lei penal brasileira aplica-se aos fatos ocorridos em território nacional. Isso
porque o Código Penal adotou, em seu artigo 5º, caput, o princípio da territorialidade
temperada ou mitigada. Todavia, existem algumas situações nas quais a lei penal brasileira
será aplicada a fatos havidos no estrangeiro, ou seja, em locais submetidos à soberania externa
ou mesmo em territórios em que país algum exerce seu poder soberano, como é o caso da
Antártida. A isso, dá-se o nome de extraterritorialidade. Para sanar tais dúvidas, o Código
Penal estipulou regramento próprio, e a doutrina pátria previu princípios aplicáveis à
extraterritorialidade. Tendo como parâmetro esses fundamentos, assinale a alternativa correta.

A) Os crimes que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-se a reprimir, se cometidos no


estrangeiro, podem se sujeitar à lei penal brasileira, ainda que o agente seja absolvido ou
condenado no território distinto do nacional, pois se trata de extraterritorialidade
incondicionada.

B) Pelo princípio real, da proteção ou da defesa, ficam sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro, os crimes contra a vida ou a honra do Presidente da República,
tratando-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada.

C) Os crimes praticados contra a administração pública, qualquer que seja o sujeito ativo,
ficam sujeitos à lei penal brasileira caso praticados no estrangeiro, independentemente de
qualquer condição, Incidindo o princípio da defesa ou real ou da proteção.

D) Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro, os crimes de genocídio,


quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil. Trata-se de aplicação do princípio da
justiça universal ou cosmopolita e hipótese de extraterritorialidade incondicionada.

E) Configura hipótese de extraterritorialidade condicionada crime ocorrido no estrangeiro, em


navios e em aeronaves de natureza pública ou privada, aplicando-se o princípio da
representação ou da bandeira.

02. O Superior Tribunal de Justiça entende que o princípio da consunção incide quando:

A) Apesar de desígnios autônomos, for um dos crimes conexo com o delito final visado pelo
agente, ainda que ofendidos bens jurídicos distintos;

B) For um dos crimes progressão para a preparação, execução ou mero exaurimento do delito
final visado pelo agente, ainda que ofendidos bens jurídicos distintos;

C) For um dos crimes progressão para a preparação, execução ou mero exaurimento do delito
final visado pelo agente, desde que não ofendidos bens jurídicos distintos;

D) For um dos crimes meio necessário ou usual para a preparação, execução ou mero
exaurimento do delito final visado pelo agente, ainda que ofendidos bens jurídicos distintos;

E) For um dos crimes meio necessário ou usual para a preparação, execução ou mero
exaurimento do delito final visado pelo agente, desde que não ofendidos bens jurídicos
distintos.
03. Tendo por fundamento que o Princípio da Intervenção Mínima nos ensina que o Direito
Penal somente deve intervir nos casos de ataques muito graves aos bens jurídicos mais
importantes e que a interferência do Direito Penal só se dará quando os demais ramos do
Direito se mostrarem, comprovadamente, incapazes de proteger aqueles bens relevantes na
vida do indivíduo e da própria sociedade, haveria um conflito entre o Princípio da Intervenção
Mínima e o Princípio da Insignificância? Fundamente sua resposta.

O Supremo Tribunal Federal expõe que o princípio da insignificância, da fragmentariedade e


da intervenção mínima, devem ser estudados de forma vinculada, havendo auxílio entre os
princípios expostos, sem a existência de conflagrações. O princípio da insignificância, ou
bagatela, apresenta-se como a possibilidade de afastamento ou exclusão de determinada
tipicidade penal acerca de uma infração, por demonstrar-se uma ação tão ínfima. Logo,
existem requisitos, provenientes do Supremo Tribunal Federal, para a sua aplicação : mínima
ofensividade da conduta, considerável redução da reprovabilidade do comportamento,
inexpressiva lesão jurídica provocada e ausência de periculosidade social. Já o princípio da
intervenção mínima apresenta a necessidade da intervenção do Direito Penal apenas em casos
graves de ataque aos bens jurídicos, onde outros ramos do Direito não são suficientes. Dessa
forma, um exemplo a ser citado seria um adolescente despretensiosamente furtar uma bala de
valor insignificante, o caso concreto possui as características elencadas pelo STF, o que
tornaria o caso desproporcional a uma imputação de pena.

04. Diferencie: a) normas penais incriminadoras; b) normas penais permissivas; c) normas


penais explicativas; d) normas penais em branco.

A) Normas penais incriminadoras informam o que é considerado infração penal, juntamente


com a sua criação, e impõe uma pena proporcional ao delito, proibindo ou impondo condutas.
Logo, diferentemente das normas penais incriminadoras, existem as normas penais não-
incriminadoras, as quais não criam crimes nem cominam penas, apenas estabelecem
interpretações e aplicações da norma penal, tornando lícitas determinadas condutas,
afastando/excluindo a culpabilidade do agente (isenção de pena), esclarecendo conceitos e
fornecendo princípios gerais para a aplicação da lei penal. Assim, as normas penais não
incriminadoras são subdivididas da seguinte forma:

B) Normas penais permissivas: Podem ser justificantes ou exculpantes. Quando justificantes,


afastam a ilegalidade/antijuridicidade do caso, justificando o réu de forma a livrá-lo (Ex: art.
25 do CP) . Quando exculpantes, eliminam a culpabilidade do agente, isentando o réu da pena
(Ex: art. 26, caput, CP).

C) Normas penais explicativas são normas que não impõe penas, apenas esclarecem conceitos
(Ex: art. 327, CP).

D) Normas penais em branco são normas das quais necessitam de complementação para a
compreensão do seu preceito primário, sem este complemento torna-se impossível a sua
aplicação. Assim, a norma penal em branco pode ser homogênea ou heterogênea: será
homogênea quando o complemento advém da mesma fonte legislativa que editou a norma, e
será heterogênea quando provém de fonte diversa. Por conseguinte, pode-se citar a norma
penal em branco ao avesso, a qual estaria em omissão de um preceito secundário (como a lei
de genocídio, por exemplo).
Um exemplo geral de norma penal em branco, poderia ser o artigo 28 da Lei de Drogas, o
qual é complementado pela Portaria da ANVISA.
05. Explique os Princípios da Irretroatividade e da Ultratividade da lei penal. Ainda sobre o
mesmo tema, discorra sobre como se dá a retroatividade em normas penais em branco.

O princípio da irretroatividade da lei, expressa que a lei nunca irá retroagir, salvo em
benefício do réu. Já o princípio da ultratividade da lei permite que, mesmo que a lei seja
revogada, os fatos que aconteceram durante a sua vigência, sejam aplicados. De um modo
geral, aplica-se a atividade da lei, que ocorre quando os fatos ocorridos durante o período de
vigência desta lei são postos em prática, entretanto, também há a extra-atividade da lei,
utilizada em casos que a lei irá ser aplicada mesmo a fatos que ocorreram antes que ela
entrasse em vigor, ou até mesmo quando já estivesse revogada.
Assim, quanto a norma penal em branco, considerando o seu essencial complemento e a sua
possível revogação, a sua retroatividade estaria condicionada ao contexto em que o seu
complemento encontrava-se no momento em que vigorava. Ou seja, mesmo que o
complemento da norma seja revogado, mas esteve em vigor (seja em razão excepcional ou
temporária), não é possível que haja efeitos retroativos, mesmo em benefício do réu.

06. Para evitar a dupla punição por fato único, a doutrina e a jurisprudência admitem
determinados princípios que foram elencados para resolver conflito de normas penais
aparentemente aplicáveis à mesma hipótese. Com relação a esses princípios, assinale a
alternativa correta.

A) São princípios do conflito aparente de normas: especialidade, subsidiariedade, consunção e


alteridade.

B) São requisitos do conflito aparente de normas: pluralidade de condutas, relevância causal


das condutas, liame subjetivo e identidade de crime, como regra para todos os envolvidos.

C) O conflito aparente de normas é também conhecido pela doutrina como conflito de leis
penais no tempo.

D) O princípio da consunção pode ser aplicado exemplificativamente para hipóteses de crime


progressivo, progressão criminosa, antefato impunível e pós-fato impunível.

E) Para ser reconhecido o princípio da consunção, é indispensável que o crime-fim tenha uma
pena maior ou mais severa do que aquela prevista para o crime-meio, conforme decidido pelo
Superior Tribunal de Justiça.

07. É possível haver combinação de leis penais para beneficiar o réu? Fundamente sua
resposta.

Não há essa possibilidade. Caso houvesse uma combinação de leis penais, estaria sendo criada
uma lei híbrida (lei na qual uma parte da norma é processual e a outra é nitidamente penal,
como o artigo 366 do CPP), o que não é admitido no ordenamento jurídico brasileiro, decisão
consolidada pelo Supremo Tribunal Federal. Assim, o Direito Penal brasileiro apenas admite
a retroatividade da lei para beneficiar o réu. Logo, existem casos que há a possibilidade de
mais de uma norma ser aplicada, nessa situação o juiz calcula a pena separadamente para cada
ato infracionário e, no final, opta pela mais favorável ao réu.
08. À luz do que dispõe a parte geral do Código Penal Brasileiro (Decreto-lei nº 2.848/1940),
assinale a alternativa correta.

A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas


consequências, pode ser homologada no Brasil, para obrigar o condenado à reparação do
dano, a restituições e a outros efeitos civis e, ainda, sujeitá-lo à medida de segurança.

A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas


consequências, pode ser homologada no Brasil, para, dentre outras hipóteses, sujeitar o
condenado ao cumprimento de penas restritivas de direitos.

A pena cumprida no estrangeiro é computada na pena imposta no Brasil pelo mesmo crime,
quando diversas, ou é atenuada, quando idênticas.

Considera-se praticado o crime no lugar onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

O Código Penal, quanto a essa regra, adotou a teoria do resultado.

A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as


circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência, salvo se
vier norma posterior mais benéfica, tendo em vista o princípio da retroatividade da norma
penal em benefício do réu.

09. Assinale a alternativa CORRETA, de acordo com o Código Penal.

Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em


parte, sendo de todo irrelevante onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro os crimes que, por tratado ou
convenção, o Brasil se obrigou a reprimir, de modo que o agente é punido segundo a lei
brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.
Como regra, aplica-se a lei brasileira ao crime cometido no território nacional, desde que não
previsto de forma diversa em convenções, tratados e regras de direito internacional.
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais e civis da sentença condenatória.
No que diz respeito ao tempo do crime, o Código Penal adotou a teoria da ubiquidade.

10. O princípio da legalidade possui quatro funções fundamentais, que se desdobram em


outros princípios, quais sejam: a) Proibir a retroatividade da lei penal (nullum crimen nulla
poena sine lege praevia); b) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes (nullum
crlmen nulla poena sine lege scripta); c) Proibir o emprego de analogia para criar crimes,
fundamentar ou agravar penas (nullum crimen nulla poena sine lege stricta) e; d) Proibir
incriminações vagas e indeterminadas (nullum crimen nulla poena sine lege certa). Explique
cada uma dessas vertentes do Princípio da Legalidade.

A) Proibir a retroatividade da lei penal: Em geral, a lei penal não retroage, salvo para
beneficiar o réu. Caso houvesse a livre retroatividade da lei penal, seria instaurado diversos
percalços no ordenamento jurídico brasileiro, a ordem social estaria comprometida, já que
poderia atingir até mesmo um direito já adquirido anteriormente, a coisa julgada, o que seria
completamente incompatível com a Constituição Federal de 1988.
B) Proibir a criação de crimes e penas pelos costumes: Tanto o costume, como a lei, são
fontes do Direito. Entretanto, o costume, por si só, não possui capacidade para criar infrações
penais, como ocorre com a lei, já que são facilmente mutáveis, variam de acordo com a
evolução histórica de cada local. Assim, não é permitido que outra fonte do direito que não
seja a lei exerça funções penais.

C) Proibir o emprego da analogia para criar crimes, fundamentar ou agravar penas: Ao


intérprete cabe somente o papel de expandir a interpretação posta na lei, buscando
similaridades. O uso de analogias para prejudicar o réu (in mala partem), como criar crimes
inexistentes na lei penal, fundamentando e agravando penas, é proibido.

D) Proibir incriminações vagas a indeterminadas: Incriminações vagas e indeterminadas


criam uma violação de direitos, o que é incompatível com o princípio da dignidade humana.
Essa função do princípio da legalidade tenta impossibilitar que o intérprete estabeleça ideias
ambíguas e imprecisas , o que é bastante comum em cenários de instabilidade política e
social, sendo algo existente desde a idade média e o surgimento de um Estado de Direito.

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