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SUMÁRIO
1. DIREITO ADMINISTRATIVO..................................................................................14
2. DIREITO CIVIL..........................................................................................................34
3. DIREITO CONSTITUCIONAL.................................................................................36
3.1 ADVOCACIA PÚBLICA..........................................................................................36
3.11 EXPULSÃO.............................................................................................................69
3.15 LEGITIMIDADE.....................................................................................................74
Energia nuclear e competência legislativa dos entes federados - ADI 330/RS. . .93
CNJ e CNMP: competência do STF e art. 106 do RICNJ - Pet 4770 AgR/DF;
Rcl 33459 AgR/PE e ADI 4412/DF....................................................................103
3.23 PRECATÓRIO.......................................................................................................113
3.25 RECLAMAÇÃO....................................................................................................114
3.31 TRIBUTOS............................................................................................................121
CF, art. 7º, XXXIII: EC 20/1998 e idade mínima para o trabalho - ADI 2096/DF
.............................................................................................................................121
5. DIREITO ELEITORAL............................................................................................122
5.1 ELEIÇÃO................................................................................................................122
6. DIREITO FINANCEIRO..........................................................................................129
7. DIREITO PENAL......................................................................................................129
7.7 PENA.......................................................................................................................136
7.9 REINCIDÊNCIA.....................................................................................................138
8. DIREITO PREVIDENCIÁRIO................................................................................138
8.1 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS......................................................................138
9.7 LEGITIMIDADE.....................................................................................................144
9.9 RECLAMAÇÃO......................................................................................................145
9.10 RECURSOS...........................................................................................................146
10.1 EXECUÇÃO..........................................................................................................147
Reclamação: Tema 253 da repercussão geral, Metrô-DF e execução - Rcl 29637
AgR/DF...............................................................................................................147
11.1 RECURSOS...........................................................................................................148
12.3 COMPETÊNCIA...................................................................................................151
12.4.DOSIMETRIA DA PENA.....................................................................................153
12.8 NULIDADES.........................................................................................................163
Citação por edital (CPP, art. 366): suspensão do prazo prescricional e limitação
ao tempo da prescrição em abstrato (Tema 438 RG) - RE 600851/DF.............167
12.14 PROVA................................................................................................................171
13.2 CONTRIBUIÇÕES................................................................................................172
13.8 TRIBUTOS............................................................................................................179
ICMS: importação de gás natural e sujeito ativo - ACO 854/MS; ACO 1076/MS;
ACO 1093/MS.....................................................................................................182
Fundação pública com personalidade jurídica de direito privado e regime jurídico - ADI
4247/RJ
É constitucional a legislação estadual que determina que o regime jurídico celetista incide
sobre as relações de trabalho estabelecidas no âmbito de fundações públicas, com personalidade
jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de saúde (1).
A fundação pública, com personalidade jurídica de direito privado, é dotada de patrimônio e
receitas próprias, autonomia gerencial, orçamentária e financeira para o desempenho da atividade prevista
em lei [art. 1º da Lei Complementar (LC) 118/2007 do estado do Rio de Janeiro (2)]. Nessa configuração,
o Estado não toca serviço público na área da saúde. Ele se utiliza de pessoa interposta — de natureza
privada — que, então, adentra o mercado de trabalho e contrata.
Assim, havendo uma opção do legislador pelo regime jurídico de direito privado, é decorrência
lógica dessa opção que seja adotado para o pessoal das fundações autorizadas o regime celetista.
No caso, trata-se de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada em face da LC 118/2007, e do
art. 22 da Lei 5.164/2007 (3), ambas do estado do Rio de Janeiro, que dispõem sobre a criação de
fundações públicas, com personalidade jurídica de direito privado, destinadas à prestação de serviços de
saúde, observado o regime jurídico da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Com esse entendimento, o Plenário julgou improcedente o pedido formalizado. Os ministros Dias
Toffoli, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes, Rosa Weber, Luiz Fux e Ricardo
Lewandowski acompanharam o relator com ressalvas apenas para agregar fundamento específico acerca
da distinção entre fundação pública de direito público e fundação pública de direito privado, nos termos
do que decidido no RE 716.378, submetido à sistemática da repercussão geral.
ADI 4247/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em 3.11.2020. (INF 997)
(1) LC 75/1993: “Art. 227. Os membros do Ministério Público da União farão jus, ainda, às seguintes vantagens: (...) VIII –
auxílio-moradia, em caso de lotação em local cujas condições de moradia sejam particularmente difíceis ou onerosas, assim definido
em ato do Procurador-Geral da República;”
MS 26415/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
17.3.2020. (INF 970)
(1) CPC: “Art. 282. (...) § 2º Quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o
juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta.”
(2) Enunciado 4 da Súmula Vinculante: “Salvo nos casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado
como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.”
Rcl 37892 AgR/SP, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, julgamento
em 10.3.2020. (INF 969)
(1) Lei 11.816/1995: “Art. 3º O servidor público estadual à disposição do Tribunal de Contas em 30 de novembro de 1994
poderá requerer sua integração ao Quadro Especial de Pessoal do referido Tribunal, no prazo de 30 (trinta) dias contados da data da
publicação desta lei.”
(2) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”
ADI 1251/MG, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 6.8.2020. (INF 985)
(1) Lei 9.784/1999: “Art. 54. O direito da Administração de anular os atos administrativos de que decorram efeitos
favoráveis para os destinatários decai em cinco anos, contados da data em que foram praticados, salvo comprovada má-fé. § 1º No
caso de efeitos patrimoniais contínuos, o prazo de decadência contar-se-á da percepção do primeiro pagamento. § 2º Considera-se
exercício do direito de anular qualquer medida de autoridade administrativa que importe impugnação à validade do ato.”
(2) CF: “Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal de Contas da
União, ao qual compete: (...) III – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer título, na
administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público, excetuadas as nomeações para
cargo de provimento em comissão, bem como a das concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias
posteriores que não alterem o fundamento legal do ato concessório;”
(3) Decreto-lei 4.654/1942: “Art. 4º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes
e os princípios gerais de direito”.
(4) Decreto 20.910/1932: “Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer
direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da
data do ato ou fato do qual se originarem”.
Servidor aposentado pelo RGPS e reintegração sem concurso - ARE 1234192 AgR/PR e ARE
1250903 AgR/PR
A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravos regimentais em recursos extraordinários
com agravo para julgar improcedentes pedidos formulados por servidores públicos municipais, que,
depois de se aposentarem voluntariamente, pretendiam ser reintegrados aos mesmos cargos que
ocupavam anteriormente.
Trata-se de servidores ocupantes de cargos de provimento efetivo, que requereram aposentadoria
perante o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), pois o município não possui regime próprio de
previdência. Posteriormente, mediante ação judicial, postularam a aludida reintegração, ao fundamento de
que seria cabível a percepção simultânea de vencimentos de cargo público com proventos de
aposentadoria, pagos pelo Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
A Turma considerou inadmissível que o servidor efetivo, depois de aposentado regularmente, seja
reconduzido ao mesmo cargo sem a realização de concurso público, com o intuito de cumular
vencimentos e proventos de aposentadoria. Se o servidor é aposentado pelo RGPS, a vacância do cargo
respectivo não implica direito à reintegração ao mesmo cargo sem a realização de concurso.
Vencidos os ministros Marco Aurélio (relator) e Rosa Weber, que negaram provimento aos
agravos ao fundamento de que a matéria implicaria análise de legislação infraconstitucional.
ARE 1234192 AgR/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 16.6.2020. (INF 982)
ARE 1250903 AgR/PR, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 16.6.2020. (INF 982)
Critério de desempate em concurso público que beneficia aquele que já é servidor da unidade
federativa - ADI 5358/PA
TESE FIXADA
RESUMO
(1) CF: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.”
(2) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: I – os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em
lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma
prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”
(3) Precedente citado: ADI 3580, rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de 3.8.2015.
(4) Lei 5.810/1994 do Estado do Pará: “Art. 10. A aprovação em concurso público gera o direito à nomeação, respeitada a
ordem de classificação dos candidatos habilitados. § 1º Terá preferência para a ordem de classificação o candidato já pertencente ao
serviço público estadual e, persistindo a igualdade, aquele que contar com maior tempo de serviço público ao Estado. § 2º Se ocorrer
empate de candidatos não pertencentes ao serviço público do Estado, decidir-se-á em favor do mais idoso.”
ADI 5358/PA, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 27.11.2020 (INF 1000)
(1) Lei 12.448/2017: “Art. 6º. A prorrogação antecipada ocorrerá por meio da inclusão de investimentos não previstos no
instrumento contratual vigente, observado o disposto no art. 3º desta Lei. (...) § 2º. A prorrogação antecipada estará, ainda,
condicionada ao atendimento das seguintes exigências por parte do contratado: II – quanto à concessão ferroviária, a prestação de
serviço adequado, entendendo-se como tal o cumprimento, no período antecedente de 5 (cinco) anos, contado da data da proposta de
antecipação da prorrogação, das metas de produção e de segurança definidas no contrato, por 3 (três) anos, ou das metas de
segurança definidas no contrato, por 4 (quatro) anos.”
(2) Lei 12.448/2017: Art. 25. O órgão ou a entidade competente é autorizado a promover alterações nos contratos de
parceria no setor ferroviário a fim de solucionar questões operacionais e logísticas, inclusive por meio de prorrogações ou
relicitações da totalidade ou de parte dos empreendimentos contratados. § 1º O órgão ou a entidade competente poderá, de comum
acordo com os contratados, buscar soluções para todo o sistema e adotar medidas diferenciadas por contrato ou por trecho
ferroviário que considerem a reconfiguração de malhas, admitida a previsão de investimentos pelos contratados em malha própria ou
naquelas de interesse da administração pública. (...) § 3º Nos termos e prazos definidos em ato do Poder Executivo, as partes
promoverão a extinção dos contratos de arrendamento de bens vinculados aos contratos de parceria no setor ferroviário,
preservando-se as obrigações financeiras pagas e a pagar dos contratos de arrendamento extintos na equação econômico-financeira
dos contratos de parceria. § 4º Os bens operacionais e não operacionais relacionados aos contratos de arrendamento extintos serão
transferidos de forma não onerosa ao contratado e integrarão o contrato de parceria adaptado, com exceção dos bens imóveis, que
serão objeto de cessão de uso ao contratado, observado o disposto no § 2º deste artigo e sem prejuízo de outras obrigações. § 5º Ao
contratado caberá gerir, substituir, dispor ou desfazer-se dos bens móveis operacionais e não operacionais já transferidos ou que
venham a integrar os contratos de parceria nos termos do § 3º deste artigo, observadas as condições relativas à capacidade de
transporte e à qualidade dos serviços pactuadas contratualmente.”
(3) Lei 12.448/2017: “Art. 30. São a União e os entes da administração pública federal indireta, em conjunto ou
isoladamente, autorizados a compensar haveres e deveres de natureza não tributária, incluindo multas, com os respectivos
contratados, no âmbito dos contratos nos setores rodoviário e ferroviário. (...) § 2º Os valores apurados com base no caput deste
artigo poderão ser utilizados para o investimento, diretamente pelos respectivos concessionários e subconcessionários, em malha
própria ou naquelas de interesse da administração pública”.
(4) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) XXI – ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam
obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.”
(5) CF: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: (...) IV – a obrigação de manter
serviço adequado.”
(6) CF: “Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: I – o regime das empresas
concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as
condições de caducidade, fiscalização e rescisão da concessão ou permissão;”
(7) Lei 8.987/1995: “Art. 23. São cláusulas essenciais do contrato de concessão as relativas: (...) XII – às condições para
prorrogação do contrato;”
ADI 5991 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 20.2.2020. (INF 967)
1.6 PODERES ADMINISTRATIVOS
RE 633782/MG, rel. min. Luiz Fux, julgamento virtual finalizado em 23.10.2020. (INF 996)
(1) Lei 8.112/1990: “Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis
designados pela autoridade competente, observado o disposto no § 3º do art. 143, que indicará, dentre eles, o seu presidente, que
deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível de escolaridade igual ou superior ao do indiciado.”
RMS 32357/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 17.3.2020. (INF 970)
Covid-19 e responsabilização de agentes públicos - ADI 6421 MC/DF; ADI 6422 MC/DF;
ADI 6424 MC/DF; ADI 6425 MC/DF; ADI 6427 MC/DF; ADI 6428 MC/DF e ADI 6431
MC/DF
Parte 1 -
Parte 2 -
(1) MP 966/2020: “Art. 2º. Para fins do disposto nesta Medida Provisória, considera-se erro grosseiro o erro manifesto,
evidente e inescusável praticado com culpa grave, caracterizado por ação ou omissão com elevado grau de negligência, imprudência
ou imperícia.”
(2) MP 966/2020: “Art. 1º Os agentes públicos somente poderão ser responsabilizados nas esferas civil e administrativa se
agirem ou se omitirem com dolo ou erro grosseiro pela prática de atos relacionados, direta ou indiretamente, com as medidas de: I –
enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia da covid-19; e II – combate aos efeitos econômicos e sociais
decorrentes da pandemia da covid-19. § 1º A responsabilização pela opinião técnica não se estenderá de forma automática ao
decisor que a houver adotado como fundamento de decidir e somente se configurará: I – se estiverem presentes elementos
suficientes para o decisor aferir o dolo ou o erro grosseiro da opinião técnica; ou II – se houver conluio entre os agentes.”
ADI 6421 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
ADI 6422 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
ADI 6424 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
ADI 6425 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
ADI 6427 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
ADI 6428 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
ADI 6431 MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 20 e 21.5.2020. (INF 978)
Parte 1 -
Parte 2 -
Para que fique caracterizada a responsabilidade civil do Estado por danos decorrentes do comércio
de fogos de artifício, é necessário que exista a violação de um dever jurídico específico de agir, que
ocorrerá quando for concedida a licença para funcionamento sem as cautelas legais ou quando for de
conhecimento do poder público eventuais irregularidades praticadas pelo particular.
Com essa tese de repercussão geral (Tema 366), o Plenário, em conclusão de julgamento e por
maioria, negou provimento a recurso extraordinário interposto de acórdão em que o tribunal de origem
deu provimento a recurso de apelação por considerar ausente o nexo causal entre as falhas noticiadas na
prestação de serviços públicos e a explosão havida em loja de fogos de artifício (Informativos 917 e 918).
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes, no qual expôs que a Constituição Federal, no
art. 37, § 6º (1), adotou a responsabilidade objetiva do Estado pela teoria do risco administrativo, não pela
teoria do risco integral. Várias são as decisões do Supremo Tribunal Federal nesse sentido e a apontar a
impossibilidade de qualquer legislação, inclusive, ampliar isso e aceitar a teoria do risco integral.
A observância de requisitos mínimos, positivos e negativos, é necessária para a aplicação da
responsabilidade objetiva. Na situação dos autos, dois requisitos positivos exigíveis estão ausentes.
Inexiste conduta, comissiva ou omissiva, do poder público. Por conseguinte, o nexo causal não pode ser
aferido.
A abertura de comércio de fogos com pólvora não é possível sem a perícia da Polícia Civil, órgão
do Estado-membro. É ela que pode realizar a vistoria, não o município. Ademais, a legislação da
municipalidade estabelecia o procedimento e previa a inspeção. Exigia, no protocolo, a comprovação do
seu pedido e o recolhimento da taxa na Polícia Civil para dar sequência ao procedimento.
Entretanto, protocolada a pretensão, faltou a comprovação de ter sido feito requerimento na Polícia
Civil. Logo, o procedimento administrativo ficou parado. A atuação do poder público municipal foi a
esperada: aguardar a complementação dos documentos pelos requerentes. Nada seria exigível da
municipalidade.
A atividade praticada pelos comerciantes era clandestina. Eles precisavam da licença para
funcionar, o que só poderia ser concedido com prévia vistoria. Dessa maneira, os proprietários
começaram a comercializar sem autorização.
Inclusive, a má-fé dos proprietários do imóvel foi reconhecida em outro processo relacionado a
esta causa. Naqueles autos, o magistrado acentuou que, no local, funcionava verdadeiro depósito
clandestino de pólvora, armazenada em quantidade tal que se fazia supor uma fábrica clandestina. Assim,
existiu desvio na utilização do imóvel.
Percebe-se que, além da ausência de requisitos positivos, incide a culpa exclusiva dos
proprietários, porque não aguardaram a necessária licença e estocaram pólvora.
O ministro Roberto Barroso pontuou que a discordância é sobre o nexo de causalidade. A omissão
específica no comércio de fogos de artifício ocorrerá quando for concedida a licença para funcionamento
sem as cautelas legais ou forem de conhecimento do poder público eventuais irregularidades praticadas
pelo particular. O simples requerimento de licença de instalação ou o recolhimento da taxa de
funcionamento não são suficientes para caracterizar o dever específico de agir.
Segundo o ministro Gilmar Mendes, a questão resume-se à responsabilidade por fato ilícito
causado por terceiro, que instalou clandestinamente loja sem obedecer a legislação municipal, estadual e
federal.
O ministro Marco Aurélio sinalizou que a responsabilidade do Estado é objetiva, considerado ato
comissivo. A partir do momento em que se tem ato omissivo, a responsabilidade é subjetiva. Entendeu ser
o município diligente ao não expedir a licença e exigir a observância de requisitos normativos.
Vencidos os ministros Edson Fachin (relator), Luiz Fux, Cármen Lúcia, Celso de Mello e Dias
Toffoli, que deram parcial provimento ao recurso extraordinário, a fim de restaurar as conclusões da
sentença.
O relator compreendeu ser objetiva a responsabilidade civil atribuível ao Estado também no caso
de condutas omissivas. Necessário conjugar a dispensabilidade da comprovação de culpa do agente ou
falha no serviço público com a imposição à Administração de um dever legal de agir. Ponderou que o
município inverteu o procedimento regulamentar, deixou de realizar a vistoria prévia no prazo de 24
horas e permitiu a paralisação do processo administrativo. De igual modo, incorreu em violação de seu
dever de exercício do poder de polícia. Por sua omissão, possibilitou que o comércio funcionasse
clandestinamente e ali houvesse danos derivados de explosão.
O ministro Luiz Fux salientou que a responsabilidade municipal está em permitir que atividade de
alta periculosidade se realizasse em área próxima a residências. A ministra Cármen Lúcia enfatizou que o
município fora acionado; estava, portanto, ciente da instalação do que seria comércio de fogos de
artifício. Por sua vez, o ministro Celso de Mello destacou a ausência de causa excludente da
responsabilidade estatal.
(1) CF: “Art. 37. (...) § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos
responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o
responsável nos casos de dolo ou culpa.”
RE 136861/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 11.3.2020. (INF 969)
ADI 3133/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24.6.2020. (INF 983)
ADI 3143/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24.6.2020. (INF 983)
ADI 3184/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24.6.2020. (INF 983)
RESUMO:
RE 523086/MA, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF 1001)
(1) CF: “Art. 37. (...) V – as funções de confiança, exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de cargo efetivo, e os
cargos em comissão, a serem preenchidos por servidores de carreira nos casos, condições e percentuais mínimos previstos em lei,
destinam-se apenas às atribuições de direção, chefia e assessoramento;”
RE 719870/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
RESUMO:
É inconstitucional, por denotar sanção de caráter perpétuo, o parágrafo único do artigo 137
da Lei 8.112/1990 (1), o qual dispõe que não poderá retornar ao serviço público federal o servidor
que tiver sido demitido ou destituído do cargo em comissão por infringência do art. 132, I (crimes
contra a administração pública), IV (atos de improbidade), VIII (aplicação irregular de recursos
públicos), X (lesão aos cofres públicos) e XI (corrupção) (2), da referida lei.
O conteúdo da norma impugnada viola o art. 5º, XLVII, b, da Constituição Federal (CF) (3) ao
impor pena de caráter perpétuo.
É importante ressaltar que, embora a norma constitucional encontre-se estabelecida enquanto
garantia à aplicação de sanções penais, viável sua extensão às sanções administrativas, em razão do
vínculo existente entre essas duas esferas do poder sancionatório estatal.
Critério razoável para a delimitação constitucional da atividade punitiva é a impossibilidade da
imposição de sanções administrativas mais graves que as penas aplicadas pela prática de crimes, já que os
conceitos de subsidiariedade e da intervenção penal mínima corroboram a afirmação de que o ilícito
administrativo seria um minus em relação às infrações penais. É nesse sentido que se conclui que a norma
constante do art. 5º, XLVII, b, da CF também se aplica às sanções administrativas.
Essa conclusão se aplica até mesmo para os ilícitos administrativos que também se enquadram
como infrações penais, como ocorre com o art. 132, I, IV, VIII, X e XI, da Lei 8.112/1990, já que a
jurisprudência da Corte (4) tem entendido pela possibilidade de aplicação das mesmas regras penais a
esses ilícitos administrativos no que se refere, por exemplo, ao prazo de prescrição.
Em sentido semelhante, a Corte possui jurisprudência no sentido da impossibilidade de aplicação
da penalidade administrativa de inabilitação permanente para o exercício de cargos de administração ou
gerência de instituição financeira (5).
Com base no entendimento acima exposto, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido
formulado em ação direta (ADI) para declarar a inconstitucionalidade do parágrafo único do artigo 137 da
Lei 8.112/1990 e determinou a comunicação do teor da decisão ao Congresso Nacional, para que delibere,
se assim entender pertinente, sobre o prazo de proibição de retorno ao serviço público nas hipóteses do
art. 132, I, IV, VIII, X e XI, da Lei 8.112/1990.
(1) Lei 8.112/1990: “Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, por infringência do art. 117, incisos IX
e XI, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo de 5 (cinco) anos.
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão por
infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI.”
(2) Lei 8.112/1990: “Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: I - crime contra a administração pública; (...)
IV - improbidade administrativa; (...) VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; (...) X - lesão aos cofres públicos e
dilapidação do patrimônio nacional; XI - corrupção;”
(3) CF: “Art. 5º. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos
termos seguintes: (...) XLVII - não haverá penas: (...) b) de caráter perpétuo;”
(4) MS 23.242/SP, rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 10.4.2002; MS 24.013/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ de
1º.7.2005.
(5) RE 154.134/SP, rel. Min. Sydney Sanches, DJ de 29.10.1999.
ADI 2975/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020. (INF 1001)
(1) CF: “Art. 40. O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos terá caráter contributivo
e solidário, mediante contribuição do respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas, observados
critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. (...) § 8º É assegurado o reajustamento dos benefícios para preservar-lhes,
em caráter permanente, o valor real, conforme critérios estabelecidos em lei.”
(2) LC 432/2008: “Art. 45. No cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores titulares de cargo efetivo, salvo as
hipóteses de aposentadoria dos artigos 46, 48 e 51, será considerada a média aritmética simples das maiores remunerações,
utilizando como base para as contribuições do servidor aos regimes de previdência a que esteve vinculado, correspondente a 80%
(oitenta por cento) de todo o período contributivo desde a competência julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior
àquela competência. (...) § 12. Os proventos e outros direitos do Policial Civil do Estado Inativo e Pensionista serão calculados de
acordo com o disposto no artigo 91-A e seus parágrafos e artigo 30, inciso III e, revistos na mesma proporção e na mesma data,
sempre que se modificar a remuneração ou subsídio do Policial Civil da ativa.”
(3) LC 432/2008 do estado de Rondônia: “Art. 91-A. Os benefícios previdenciários da Categoria da Polícia Civil, de
aposentadoria e pensão por morte aos seus dependentes, dar-se-ão em conformidade com o disposto no inciso II, do § 4o do artigo
40, da Constituição Federal e o disposto na Lei Complementar Federal no 51, de 20 de dezembro de 1985. § 1º O Policial Civil do
Estado de Rondônia passará para a inatividade, voluntariamente, independente de idade mínima, com proventos integrais e
paritários ao da remuneração ou subsídio em que se der a aposentadoria, aos 30 (trinta) anos de contribuição, desde que conte com
20 (vinte) anos de tempo efetivo de serviço público de natureza estritamente policial, a exceção da aposentadoria por compulsória
que se dará aos 65 (sessenta e cinco) anos. (…) § 4º O Policial Civil do Estado de Rondônia fará jus a provento igual à remuneração
ou subsídio integral da classe imediatamente superior, ou remuneração normal acrescida de 20% (vinte por cento) para o Policial
Civil do Estado na última classe, nos últimos cinco anos que antecederam a passagem para a inatividade, considerando a data de seu
ingresso na Categoria da Polícia Civil e desde que: I – ao servidor da Categoria da Polícia Civil do Estado fazer opção formal na
Instituição Previdenciária pela contribuição sobre a respectiva verba de classe superior ou verbas transitórias, atendendo o prazo de
carência efetiva a ser cumprida, devendo ser comunicado a Coordenadoria Geral de Recursos Humanos – CGRH, para registro
funcional na pasta do servidor, sendo da obrigatoriedade do Instituto de Previdência do Estado de Rondônia – IPERON, o
entabulamento dos cálculos dos valores a ter a incidência do percentual previdenciário, conforme a opção do serventuário; e II – ao
Instituto de Previdência do Estado de Rondônia – IPERON incumbe a responsabilidade do cálculo do resíduo de contribuição
eventualmente devido e a ser custeado para cumprimento do interstício de 5 (cinco) anos de contribuição incidente sobre a classe
superior ou sobre as verbas de caráter transitório para possível reflexo nos proventos de inatividade. § 5º Os proventos da
aposentadoria de que trata este artigo terão, na data de sua concessão, o valor da totalidade da última remuneração ou subsídio do
cargo em que se der a aposentadoria e serão revistos na mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar a remuneração
ou subsídio dos servidores em atividade, considerando sempre a data de ingresso do servidor na Categoria da Polícia Civil em
virtude das variáveis regras de aposentação e da legislação em vigor. § 6º Serão estendidos aos aposentados quaisquer benefícios ou
vantagens posteriormente concedidos aos servidores em atividade, incluídos os casos de transformação ou reclassificação do cargo
ou da função em que se deu a aposentadoria aos servidores da Categoria da Polícia Civil que tenham paridade e extensão de
benefícios de acordo com a legislação em vigor.”
ADI 5039/RO, rel. Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 10.11.2020. (INF 998)
Parte 1 -
Parte 2 -
Sem previsão constitucionalmente adequada e instituída por lei, não é legítima a cláusula de edital
de concurso público que restrinja a participação de candidato pelo simples fato de responder a inquérito
ou a ação penal.
Com essa tese de repercussão geral (Tema 22), o Plenário, em conclusão de julgamento e por
maioria, negou provimento a recurso extraordinário em que se discutia a possibilidade de se restringir a
participação em concurso público de candidato que respondia a processo criminal (Informativo 825).
Na espécie, foi inadmitida a participação de soldado da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF)
— acusado pela suposta prática do delito de falso testemunho — em seleção para o Curso de Formação
de Cabos no Quadro de Praças Policiais e Militares Combatentes (QPPMC). O ato de exclusão do
candidato foi fundamentado no edital de convocação do referido processo seletivo, que vedaria a
participação de concorrente “denunciado por crime de natureza dolosa”. Em sede de mandado de
segurança, o magistrado de piso assegurou a matrícula e a frequência do soldado no Curso de Formação.
Posteriormente, a decisão foi mantida pelo tribunal a quo no acórdão ora recorrido.
Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso (relator), que assentou a necessidade de
ponderação entre bens jurídicos constitucionais para a solução da controvérsia posta.
Assim, a questão não poderia ser solucionada a partir de um tradicional raciocínio silogístico, ou
dos critérios usuais para resolução de antinomias — hierárquico, de especialidade e cronológico —, haja
vista a existência de normas de mesma hierarquia indicando soluções diferentes.
Nessas situações, o raciocínio deve percorrer três etapas: a) identificar as normas que postulam
incidência na hipótese; b) identificar os fatos relevantes ou os contornos fáticos gerais do problema; e c)
harmonizar as normas contrapostas, calibrando o peso de cada qual e restringindo-as no grau mínimo
indispensável, de modo a fazer prevalecer a solução mais adequada à luz de todo o sistema jurídico.
Na espécie, de um lado, destaca-se o princípio da presunção de inocência [Constituição Federal
(CF), art. 5º, LVII], reforçado pelos princípios da liberdade profissional (CF, art. 5º, XIII) e da ampla
acessibilidade aos cargos públicos (CF, art. 37, I). De outro lado, ressalta-se o princípio da moralidade
administrativa (CF, art. 37, caput).
O ministro Roberto Barroso apresentou duas regras para a ponderação dos valores em jogo e a
determinação objetiva de idoneidade moral, quando aplicável ao ingresso no serviço público mediante
concurso. A primeira, apta a estabelecer parâmetro pelo qual se pode recusar a alguém a inscrição em
concurso público, é a necessidade de condenação por órgão colegiado ou de condenação definitiva. Há
analogia com a Lei da “Ficha Limpa” (LC 135/2010), critério que já foi aplicado mesmo fora da seara
penal.
A segunda regra é a necessidade de relação de incompatibilidade entre a natureza do crime e as
atribuições do cargo. Nem toda condenação penal deve ter por consequência direta e imediata impedir
alguém de se candidatar a concurso público.
Entretanto, para concorrer a determinados cargos públicos, pela natureza deles, é possível, por
meio de lei, a exigência de qualificações mais restritas e rígidas ao candidato. Por exemplo, as carreiras
da magistratura, das funções essenciais à justiça — Ministério Público, Advocacia Pública e Defensoria
Pública — e da segurança pública.
O relator concluiu que a solução mediante o emprego dessas regras satisfaz o princípio da
razoabilidade ou proporcionalidade, visto que é: a) adequada, pois a restrição imposta se mostra idônea
para proteger a moralidade administrativa; b) não excessiva, uma vez que, após a condenação em segundo
grau, a probabilidade de manutenção da condenação é muito grande e a exigência de relação entre a
infração e as atribuições do cargo mitiga a restrição; e c) proporcional em sentido estrito, na medida em
que a atenuação do princípio da presunção de inocência é compensada pela contrapartida em boa
administração e idoneidade dos servidores públicos.
Para ele, a negativa de provimento ao recurso é reforçada pelo fato de ter havido a suspensão
condicional do processo. Não fosse o longo período entre o oferecimento da denúncia e a audiência de
suspensão condicional, provavelmente o processo criminal não estaria em curso no momento em que o
recorrido foi excluído do aludido curso.
Vencido o ministro Alexandre de Moraes, que deu provimento ao recurso para cassar a decisão do
tribunal a quo. A seu ver, o fato de se tratar de servidor público militar, submetido aos princípios da
hierarquia e da disciplina, demanda a análise diferenciada daquela cabível para a generalidade de
situações que envolvem concursos públicos. Além disso, não se cuida de vedação a acesso originário a
cargo público, e sim de procedimento interno de aferição de mérito funcional, de abrangência restrita,
porquanto envolve apenas o universo dos policiais militares da localidade.
O ministro salientou que a exigência de idoneidade moral, na carreira militar, é plenamente
legítima e consistente com o texto constitucional. O soldado deve acatamento integral da legislação que
fundamenta o organismo policial militar. Dessa maneira, o recorrido estava subordinado ao regulamento
interno de ascensão para cabo e, enquanto pendesse o processo, não poderia se inscrever no curso. Por
fim, afirmou a razoabilidade dessa previsão.
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais
e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;”
(2) CF: “Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados
na forma do art. 39, § 4º.”
ADI 6135/GO, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
ADI 6160/AP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
ADI 6161/AC, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
ADI 6169/MS, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
ADI 6177/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
ADI 6182/RO, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
RESUMO
É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a
cargos e carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação entre
servidores de Poderes e níveis federativos diferentes.
A norma impugnada, especialmente em seu § 1º, permite interpretação no sentido de que o
subsídio da carreira de procurador legislativo da assembleia legislativa estadual estaria atrelado, por um
mecanismo de vinculação automática, aos subsídios dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Há evidente inconstitucionalidade, por ofensa ao art. 37, X e XIII, da CF (1). A vedação cabal à
vinculação e à equiparação de vencimentos, consagrada constitucionalmente, alcança quaisquer espécies
remuneratórias.
Salienta-se que, em recente julgado (2), o STF rechaçou a hipótese de reajuste automático pela
vinculação de remuneração entre carreiras distintas. Além disso, a vinculação de vencimentos de agentes
públicos das esferas federal e estadual caracteriza afronta a autonomia federativa do estado-membro, que
detém a iniciativa de lei para dispor sobre a concessão de eventual reajuste dos subsídios dos aludidos
procuradores.
Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade em face do art. 1º, §§ 1º a 4º, da Lei 10.276/2015
do estado de Mato Grosso (3), que dispõe sobre a remuneração dos procuradores legislativos da
Assembleia Legislativa daquela unidade da Federação.
O Plenário não conheceu do pedido formulado quanto ao § 3º do art. 1º da Lei 10.276/2015 do
estado de Mato Grosso, porque constatado o exaurimento de sua eficácia ao tempo do ajuizamento da
ação. Na parte conhecida, julgou parcialmente procedente a pretensão deduzida para declarar a
inconstitucionalidade dos §§ 1º, 2º e 4º do art. 1º da referida lei, mantido o caput do artigo, uma vez que
apenas prevê a remuneração por subsídio.
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) X – a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente poderão ser fixados
ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data
e sem distinção de índices; (...) XIII – é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de
remuneração de pessoal do serviço público;”
(2) ADI 4898/AP, rel. min. Cármen Lúcia, DJe de 21.10.2019.
(3) Lei 10.276/2015 do estado de Mato Grosso: “Art. 1º Os cargos de provimento efetivo da carreira de Procurador
Legislativo da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso serão remunerados por subsídio, nos termos desta lei. § 1º O
subsídio do grau máximo da carreira de Procurador Legislativo da Assembleia Legislativa corresponderá a 90,25% (noventa inteiros
e vinte e cinco centésimos por cento) da remuneração dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, nos termos da parte final do
inciso XI do Art. 37 da Constituição da República e do § 3º do Art. 45-A da Constituição do Estado de Mato Grosso, escalonados
conforme as respectivas classes, sendo a diferença entre uma e outra de 5% (cinco por cento). § 2º A implementação financeira do
disposto no parágrafo anterior ocorrerá no mês de outubro de 2016. § 3º Até a concretização do disposto no § 1º, os efeitos
financeiros serão graduados da seguinte forma: I – no mês de maio de 2015, o subsídio dos Procuradores Legislativos de 1ª Classe
corresponderá a 75% (setenta e cinco por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal; II –
no mês de maio de 2015, o subsídio dos Procuradores Legislativos de 2ª Classe corresponderá a 55% (cinquenta e cinco por cento)
do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal; III – no mês de maio de 2015, o subsídio dos
Procuradores Legislativos de 3ª Classe corresponderá a 40% (quarenta por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal; IV – no mês de janeiro de 2016, o subsídio dos Procuradores Legislativos de 1ª Classe corresponderá a
85% (oitenta e cinco por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal; V – no mês de janeiro
de 2016, o subsídio dos Procuradores Legislativos de 2ª Classe corresponderá a 70% (setenta por cento) do subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal; VI – no mês de janeiro de 2016, o subsídio dos Procuradores Legislativos de
3ª Classe corresponderá a 60% (sessenta por cento) do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. §
4º Os subsídios fixados na forma do § 1º são concedidos integralmente por intermédio da presente lei, ocorrendo apenas o
diferimento dos efeitos financeiros na forma disposta no § 3º.”
ADI 6436/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 27.11.2020 (INF
1000)
A teor do disposto no art. 37, XIII, da Constituição Federal (CF) (1), é vedada a vinculação
remuneratória de seguimentos do serviço público.
Trata-se de ação do controle concentrado de constitucionalidade em face dos arts. 1º e 2º da Lei
4.983/1989 do estado do Maranhão, que estabelecem a isonomia de vencimentos entre diversas carreiras
jurídicas. No julgamento da ADI 304 — ocorrido antes do advento da Emenda Constitucional (EC)
19/1998 —, o Supremo Tribunal Federal, ao examinar a mesma lei, admitiu a equiparação remuneratória
apenas das carreiras de procurador de estado e de delegado de polícia, tendo em conta a redação então
vigente de dispositivos da CF. Nesta ADPF, a requerente argumentava, em suma, a não recepção dos
mencionados artigos pelo ordenamento jurídico constitucional posterior à EC 19/1998.
O Plenário julgou procedente pedido formalizado em arguição de descumprimento de preceito
fundamental para assentar não recepcionados, pela CF, os arts. 1º e 2º da Lei maranhense 4.983/1989.
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) XIII – é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito de remuneração de
pessoal do serviço público;”
ADPF 328/MA, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em 13.11.2020. (INF 999)
2. DIREITO CIVIL
2.1 PESSOAS JURÍDICAS
RESUMO:
ADI 4637/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF 1001)
O art. 927, parágrafo único, do Código Civil (CC) (1) é compatível com o art. 7º, XXVIII, da
Constituição Federal (CF) (2), sendo constitucional a responsabilização objetiva do empregador por danos
decorrentes de acidentes de trabalho nos casos especificados em lei ou quando a atividade normalmente
desenvolvida, por sua natureza, apresentar exposição habitual a risco especial, com potencialidade lesiva,
e implicar ao trabalhador ônus maior do que aos demais membros da coletividade.
Essa é a tese do Tema 932 da repercussão geral, fixada pelo Plenário, por maioria, ao negar
provimento a recurso extraordinário (Informativo 950).
Vencido o ministro Marco Aurélio.
(1) CC/2002: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
(2) CF/1988: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está
obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;”
3. DIREITO CONSTITUCIONAL
3.1 ADVOCACIA PÚBLICA
O Plenário, por maioria, deu parcial provimento a embargos de declaração em ação direta de
inconstitucionalidade a fim de, resguardada a validade dos atos já praticados: (i) incluir na declaração de
inconstitucionalidade, ao lado dos trechos anteriormente excluídos, também as expressões “apresentar
recursos em qualquer instância”, “comparecer às audiências e outros atos para defender os direitos do
órgão” e “promover medidas administrativas e judiciais para proteção dos bens e patrimônio do
DETRAN-ES”, dispostas no Anexo Único da Lei Complementar (LC) 734/2013 e no Anexo IV da LC
890/2018, ambas do estado do Espírito Santo (ES); (ii) esclarecer que a declaração de
inconstitucionalidade parcial dos aludidos anexos alcança as atribuições jurídicas consultivas do cargo de
Técnico Superior – Formação Direito do Departamento Estadual de Trânsito do Estado do Espírito Santo
(DETRAN-ES) privativas de procurador do estado, de modo a conferir interpretação conforme o art. 132
da Constituição Federal (CF) (1) às atribuições de “elaborar estudos de pareceres sobre questões jurídicas
que envolvam as atividades do DETRAN-ES; elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes
celebrados pela autarquia, com a emissão de parecer”, constantes dos referidos anexos, que devem ser
exercidas sob supervisão de procurador do estado do Espírito Santo.
Os embargos foram opostos da decisão em que o colegiado julgara parcialmente procedente o
pedido para declarar a inconstitucionalidade das seguintes expressões dos anexos adversados:
“representar em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da autarquia” e “bem como a prática
de todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as suas funções
profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados do Brasil – OAB”. Na
ocasião, a validade dos atos já praticados foi igualmente assentada (Informativo 927).
Na espécie, a embargante alegava ser devida a integração do acórdão recorrido, com o objetivo de
incluir a declaração de inconstitucionalidade de todas as atribuições de representação judicial e
consultoria jurídica exclusivas dos procuradores do estado.
Ao dar parcial provimento aos embargos, o Tribunal compreendeu que as atividades de
representação judicial e extrajudicial atribuídas ao cargo de Técnico Superior – Formação Direito do
DETRAN-ES não podem ser omitidas da declaração de inconstitucionalidade. No caso, as atribuições
jurídicas consultivas de seus ocupantes devem ser exercidas sob a supervisão de procurador do estado,
máxime por ser esta a interpretação que melhor prestigia o art. 132 da CF e a jurisprudência desta Corte.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que não conheceu dos segundos embargos declaratórios, por
entender não ser o caso de admiti-los.
(1) CF: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. Parágrafo único. Aos procuradores
referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os
órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.”
ADI 5109 ED-segundos/ES, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 4.6.2020. (INF 980)
Tese fixada:
Resumo:
O art. 114, III, da Constituição Federal (CF) (1) deve ser interpretado em conjunto com o
art. 114, I, da CF (2), de modo a excluir da competência da Justiça do Trabalho as causas
instauradas entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica relação estatutária ou
de caráter jurídico-administrativo.
No julgamento da ADI 3395, a Corte suspendeu toda e qualquer interpretação dada ao art. 114, I,
da CF que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a apreciação de causas instauradas entre o
Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica relação estatutária ou de caráter jurídico-
administrativo.
Assim, embora com a promulgação da EC 45/2004 tenha sido incluído nas atribuições
jurisdicionais da Justiça do Trabalho a competência para processar e julgar controvérsias pertinentes à
representação de entidades sindicais, entre sindicatos e empregados e ações entre sindicatos e
empregadores, o art. 114, III, da CF não pode ser interpretado de forma isolada, ao ser aplicado a
demandas que digam respeito à contribuição sindical de servidores estatutários.
O referido dispositivo, ao contrário, deve ser compreendido à luz da interpretação dada pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) ao art. 114, I, da CF e aos limites estabelecidos quanto à ampliação da
competência da Justiça do Trabalho, que não inclui as relações dos servidores públicos.
Com esses fundamentos, o Plenário, por unanimidade, deu provimento ao recurso extraordinário
(Tema 994 da repercussão geral) que impugnava acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas,
que decidira pela competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar demanda em que se buscava
o recolhimento e o repasse das contribuições sindicais dos servidores públicos daquela unidade
federativa.
(1) CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: (...) III - as ações sobre representação sindical, entre
sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;”
(2) CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho,
abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios;”
RE 1089282/AM, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF
1001)
Resumo:
(1) Pet 3240-Agr/DF, rel. orig. Min. Teori Zavascki, rel. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, DJe de 22.8.2018.
(2) EC 85/2012: “Art. 1º O inciso I do artigo 109 da Constituição Estadual passa a vigorar acrescido da alínea ‘h’ com a
seguinte redação: ‘Art. 109. (...) I - (...) h - nas ações que possam resultar na suspensão ou perda dos direitos políticos ou na perda da
função pública ou de mandato eletivo, aqueles que tenham foro no Tribunal de Justiça por prerrogativa de função, previsto nesta
Constituição; (...).’ (NR)”
ADI 4870/ES, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 14.12.2020 (INF 1002)
As receitas provenientes do adicional criado pelo art. 82, § 1º, do ADCT (1) não podem ser
computadas para efeito de cálculo da amortização da dívida do Estado. Os recursos devem, no entanto,
ser considerados para efeito de cálculo do montante mínimo destinado à saúde e à educação.
Com base nesse entendimento, o Plenário julgou parcialmente procedente pedido formulado em
ação cível originária para condenar a União a ressarcir os valores pagos a maior a título de amortização da
dívida pública nos exercícios de 2002, 2003 e 2004, mediante compensação da diferença com débitos
futuros.
No caso, Estado-membro ajuizou ação cível originária, com base no art. 102, I, f, da Constituição
Federal (CF) (2), objetivando a não inclusão dos valores destinados constitucionalmente ao Fundo
Estadual de Combate e Erradicação da Pobreza (FECEP) na apuração da Receita Líquida Real (RLR),
sobre a qual é computado o total da dívida pública do estado com a União. Pretendia, ainda, a exclusão
desses recursos do cálculo do montante mínimo destinado à saúde e à educação.
Inicialmente, o Tribunal afastou a alegação de inconstitucionalidade formal das normas ordinárias
definidoras da RLR (Resolução do Senado Federal 69/1995 e Lei 9.496/1997), por não constituir matéria
sujeita à reserva de lei complementar.
Relativamente à inconstitucionalidade material, reputou relevante a articulação do Estado-
membro, notando-se a necessidade de observância do fundo criado, cuja base maior é a Constituição
Federal. Frisou que, ante dificuldades gerais, é comum desvirtuarem-se receitas, deixando-se de atender
às finalidades discriminadas em textos normativos, até mesmo de índole constitucional. A partir da
tomada de empréstimo de parcelas a compor o FECEP, chega-se ao comprometimento do arrecadado,
tendo em conta a dívida pública do estado e os valores a serem despendidos com saúde.
(1) ADCT: “Art. 82. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios devem instituir Fundos de Combate á Pobreza, com os
recursos de que trata este artigo e outros que vierem a destinar, devendo os referidos Fundos ser geridos por entidades que contem
com a participação da sociedade civil. § 1º Para o financiamento dos Fundos Estaduais e Distrital, poderá ser criado adicional de até
dois pontos percentuais na alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços - ICMS, sobre os produtos e serviços
supérfluos e nas condições definidas na lei complementar de que trata o art. 155, § 2º, XII, da Constituição, não se aplicando, sobre
este percentual, o disposto no art. 158, IV, da Constituição.”
(2) CF: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I -
processar e julgar, originariamente: (...) f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre
uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;”
ACO 727/BA, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 13.2.2020. (INF 966)
É plausível a alegação de que a norma inscrita no art. 4º do Decreto 5.289/2004 (1), naquilo em
que dispensa a anuência do governador de estado no emprego da Força Nacional de Segurança Pública,
viole o princípio da autonomia estadual.
Trata-se de referendo de decisão que concedeu medida cautelar em ação cível originária para
ordenar à União que retire dos municípios de Prado e Mucuri o contingente da Força Nacional de
Segurança Pública mobilizado pela Portaria 493/2020. A citada Portaria, expedida pelo Ministro de
Estado da Justiça e Segurança Pública, autorizou o emprego da Força Nacional naquelas localidades, em
apoio ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, sem que houvesse formal e expressa
solicitação do governador do estado da Bahia.
Há plausibilidade jurídica do direito evocado, porque pesam legítimas dúvidas sobre a
constitucionalidade do art. 4º do Decreto 5.289/2004, que, alterado pelo Decreto 7.957/2013, estendeu o
conteúdo semântico da norma e criou uma regra adicional ampliadora do rol dos legitimados a requerer o
emprego da Força Nacional. A autorização unilateral do emprego da Força Nacional, parece, em juízo de
delibação, contrariar as normas de escalão superior das quais deveria retirar sua validade. Nesse sentido, o
art. 241 da Constituição Federal (CF) se refere expressamente à celebração de convênios de cooperação
ou consórcios públicos entre os entes federados para assegurar a continuidade de serviços públicos. Além
disso, com exceção das hipóteses de intervenção federal, previstas no art. 34 da CF, não se identificam
dispositivos hábeis a contornar a autonomia dos estados, em sua integridade administrativa e territorial,
sem que se obedeça à exigência de exteriorização de vontade apta a ser elemento de suporte de fato
jurídico. Em análise típica de controle de legalidade, a validade do art. 4º do Decreto 5.289/2004 deve ser
contrastada com a Lei 11.473/2007, que dispõe sobre cooperação federativa no âmbito da segurança
pública.
Presente, também, o requisito do perigo da demora. Em primeiro lugar, em razão da gravidade do
objeto em litígio, uma vez que o pacto federativo é essencial para o correto funcionamento das
instituições republicanas. A jurisprudência da Corte confere significativo peso argumentativo à autonomia
dos Estados-membros. Dessa forma, a mobilização de força de segurança pública em território estadual,
ressalvado ulterior juízo de mérito, implica grave ameaça ao equilíbrio da Federação. Em segundo lugar,
a citada gravidade é exacerbada por se tratar, justamente, de tópico referente à segurança pública. O
horizonte possível de emprego do uso da força apresenta risco que é da essência da própria atividade.
Existe fundado temor de que, ao final do curso natural do processo, o uso da violência monopolística do
Estado se revele, a um só tempo, ilegítimo e irreversível. Havendo vidas envolvidas, tanto da população
local quanto dos membros das forças de segurança, é razoável assumir que existe um risco elevado na
demora do julgado. Por fim, o objeto da demanda não ocorre em um vácuo histórico, mas durante a mais
severa crise sanitária dos últimos cem anos (decorrente da pandemia do Covid-19). Em razão disso, a
mobilização do contingente exógeno de forças de segurança inegavelmente apresenta riscos de
contaminação para a população local.
O Plenário, por maioria, referendou a decisão concessiva da cautelar. Vencido o ministro Roberto
Barroso.
(1) Decreto 5.289/2004: “Art. 4º A Força Nacional de Segurança Pública poderá ser empregada em qualquer parte do
território nacional, mediante solicitação expressa do respectivo Governador de Estado, do Distrito Federal ou de Ministro de
Estado.”
ACO 3427 Ref-MC/BA, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 24.9.2020. (INF 992)
(1) CF: “Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos,
admitida 1 (uma) recondução, sendo: (...) § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura: (...) V– rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de
tribunais julgados há menos de um ano;”
(2) Loman: “Art. 44 – A pena de censura será aplicada reservadamente, por escrito, no caso de reiterada negligência no
cumprimento dos deveres do cargo, ou no de procedimento incorreto, se a infração não justificar punição mais grave.”
MS 30364/PA, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 17.3.2020. (INF 970)
(1) Constituição do estado do Paraná: “Art. 46 – A Segurança Pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos
é exercida para a preservação da ordem pública e incolumidade das pessoas e do patrimônio, pelos seguintes órgãos: I – Polícia
Civil; II – Polícia Militar; III – Polícia Científica. Parágrafo único – O Corpo de Bombeiros é integrante da Polícia Militar”.
(2) Constituição do estado do Paraná: “Art. 50 – A Polícia Científica, com estrutura própria, incumbida das perícias de
criminalísticas e médico-legais, e de outras atividades técnicas congêneres, será dirigida por peritos de carreira da classe mais
elevada, na forma da lei”.
ADPF 347 TPI-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 18.3.2020. (INF 970)
(1) CF: “Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: I – de um terço, no mínimo, dos membros da
Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II – do Presidente da República; III – de mais da metade das Assembleias
Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. § 1º A
Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. § 2º A proposta
será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três
quintos dos votos dos respectivos membros. § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a
abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos Poderes; IV – os
direitos e garantias individuais. § 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser
objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.”
ADI 4887/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 10.11.2020. (INF 998)
ADI 4888/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 10.11.2020. (INF 998)
ADI 4889/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 10.11.2020. (INF 998)
(1) CPC: “Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas funções no processo: (...) III – quando nele
estiver postulando, como defensor público, advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer
parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive; (...) VIII – em que figure como parte cliente
do escritório de advocacia de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, mesmo que patrocinado por advogado de outro escritório; (...) § 3º O impedimento previsto no inciso III também se
verifica no caso de mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros advogado que
individualmente ostente a condição nele prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.”
ADI 6362/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2.9.2020. (INF 989)
(1) CF: “Art. 21. Compete à União: (...) XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e
outros aspectos institucionais; (...) Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) IV – águas, energia, informática,
telecomunicações e radiodifusão;”
ADI 5040/PI, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 3.11.2020. (INF 997)
Resumo:
É inconstitucional a determinação de afastamento automático de servidor público indiciado
em inquérito policial instaurado para apuração de crimes de lavagem ou ocultação de bens, direitos
e valores.
O afastamento do servidor, em caso de necessidade para a investigação ou instrução processual,
somente se justifica quando demonstrado nos autos o risco da continuidade do desempenho de suas
funções e a medida ser eficaz e proporcional à tutela da investigação e da própria Administração Pública,
circunstâncias a serem apreciadas pelo Poder Judiciário.
Reputa-se violado o princípio da proporcionalidade quando não se observar a necessidade concreta
da norma para tutelar o bem jurídico a que se destina, já que o afastamento do servidor pode ocorrer a
partir de representação da autoridade policial ou do Ministério Público, na forma de medida cautelar
diversa da prisão, conforme os arts. 282, § 2º, e 319, VI, ambos do Código de Processo Penal (CPP) (1).
Ademais, a presunção de inocência exige que a imposição de medidas coercitivas ou constritivas
aos direitos dos acusados, no decorrer de inquérito ou processo penal, seja amparada em requisitos
concretos que sustentam a fundamentação da decisão judicial impositiva, não se admitindo efeitos
cautelares automáticos ou desprovidos de fundamentação idônea.
Por fim, sendo o indiciamento ato dispensável para o ajuizamento de ação penal, a norma que
determina o afastamento automático de servidores públicos, por força da opinio delicti da autoridade
policial, quebra a isonomia entre acusados indiciados e não indiciados, ainda que denunciados nas
mesmas circunstâncias.
Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra o art. 17-D da Lei 9.613/1998,
com redação conferida pela Lei 12.683/2012 (2), que prevê o afastamento automático de servidor público
em decorrência do indiciamento policial em inquérito instaurado para apurar crimes de lavagem ou
ocultação de bens, direitos e valores.
Com base no entendimento exposto, o Plenário, por maioria, julgou procedente o pedido
formulado. Vencidos os ministros Edson Fachin (relator) e Cármen Lúcia e, em parte, o ministro Marco
Aurélio.
(1) CPP: “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (...) § 2º As
medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (...) Art. 319. São medidas cautelares
diversas da prisão: (...) VI – suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando
houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais;”
(2) Lei 9.613/1998: “Art. 17-D. Em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem prejuízo de
remuneração e demais direitos previstos em lei, até que o juiz competente autorize, em decisão fundamentada, o seu retorno.”
ADI 4911/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 20.11.2020 (INF 1000)
A entidade que não representa a totalidade de sua categoria profissional não possui
legitimidade ativa para ajuizamento de ações de controle concentrado de constitucionalidade.
A Constituição Federal (CF) estabelece, em seu art. 103, o rol de legitimados para a propositura de
ações de controle concentrado de constitucionalidade, dentre os quais estão as confederações sindicais e
entidades de classe [CF, art. 103, IX (1)].
O Supremo Tribunal Federal consolidou entendimento de que a legitimidade para o ajuizamento
das ações de controle concentrado de constitucionalidade por parte de confederações sindicais e entidades
de classe pressupõe: (a) a caracterização como entidade de classe ou sindical, decorrente da representação
de categoria empresarial ou profissional; (b) a abrangência ampla desse vínculo de representação,
exigindo-se que a entidade represente toda a respectiva categoria, e não apenas fração dela; (c) o caráter
nacional da representatividade, aferida pela demonstração da presença da entidade em pelo menos 9
(nove) estados brasileiros; e (d) a pertinência temática entre as finalidades institucionais da entidade e o
objeto da impugnação.
À vista disso, o Plenário, por maioria, conheceu do agravo regimental e negou-lhe provimento por
entender que a entidade não representa toda a respectiva categoria profissional e, dessa forma, carece de
legitimidade ativa para propositura da ação.
(1) CF: “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: (...) IX
– confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”
ADI 6465 AgR/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020.
(INF 995)
(1) LC 101/2000: “Art. 9º Se verificado, ao final de um bimestre, que a realização da receita poderá não comportar o
cumprimento das metas de resultado primário ou nominal estabelecidas no Anexo de Metas Fiscais, os Poderes e o Ministério
Público promoverão, por ato próprio e nos montantes necessários, nos trinta dias subsequentes, limitação de empenho e
movimentação financeira, segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias. (...) § 3º No caso de os Poderes
Legislativo e Judiciário e o Ministério Público não promoverem a limitação no prazo estabelecido no caput, é o Poder Executivo
autorizado a limitar os valores financeiros segundo os critérios fixados pela lei de diretrizes orçamentárias.”
(2) LC 101/2000: “Art. 56. As contas prestadas pelos Chefes do Poder Executivo incluirão, além das suas próprias, as dos
Presidentes dos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário e do Chefe do Ministério Público, referidos no art. 20, as quais
receberão parecer prévio, separadamente, do respectivo Tribunal de Contas.”
(3) LC 101/2000: “Art. 57. Os Tribunais de Contas emitirão parecer prévio conclusivo sobre as contas no prazo de sessenta
dias do recebimento, se outro não estiver estabelecido nas constituições estaduais ou nas leis orgânicas municipais.”
(4) LC 101/2000: “Art. 12. As previsões de receita observarão as normas técnicas e legais, considerarão os efeitos das
alterações na legislação, da variação do índice de preços, do crescimento econômico ou de qualquer outro fator relevante e serão
acompanhadas de demonstrativo de sua evolução nos últimos três anos, da projeção para os dois seguintes àquele a que se referirem,
e da metodologia de cálculo e premissas utilizadas. § 2º O montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser
superior ao das despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária.”
(5) LC 101/2000: “Art. 21. É nulo de pleno direito o ato que provoque aumento da despesa com pessoal e não atenda: II – o
limite legal de comprometimento aplicado às despesas com pessoal inativo.”
(6) LC 101/2000: “Art. 23. Se a despesa total com pessoal, do Poder ou órgão referido no art. 20, ultrapassar os limites
definidos no mesmo artigo, sem prejuízo das medidas previstas no art. 22, o percentual excedente terá de ser eliminado nos dois
quadrimestres seguintes, sendo pelo menos um terço no primeiro, adotando-se, entre outras, as providências previstas nos §§ 3º e 4º
do art. 169 da Constituição. § 1º No caso do inciso I do § 3º do art. 169 da Constituição, o objetivo poderá ser alcançado tanto pela
extinção de cargos e funções quanto pela redução dos valores a eles atribuídos. § 2º É facultada a redução temporária da jornada de
trabalho com adequação dos vencimentos à nova carga horária.”
ADI 2238/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 24.6.2020. (INF 983)
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) § 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.”
ADI 3738/ES, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em 3.11.2020. (INF 997)
Ultra-atividade das convenções e acordos coletivos de trabalho e CF/1988 - 2 - ADI 2200/DF
e ADI 2288/DF
O Plenário, em conclusão e por maioria, julgou prejudicadas, por perda superveniente de objeto,
ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas em face do art. 19 da Medida Provisória 1.950-62/2000,
convertida no art. 18 da Lei 10.192/2001, na parte em que revogou os §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei
8.542/1992 (1) (Informativo 848).
O Tribunal afirmou que a Lei 13.497/2017 (Lei da Reforma Trabalhista) alterou o § 3º do art. 614
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (2) e vedou expressamente a ultra-atividade das normas
coletivas no ordenamento jurídico brasileiro.
A nova lei, portanto, determinou um regime jurídico completamente diferente do previsto no § 1º
do art. 1º da Lei 8.542/1992, que estabelecia a ultra-atividade e era o objeto das ações diretas. Assim,
ainda que se declarasse a inconstitucionalidade da lei revogadora, a lei revogada não poderia voltar a ter
vigência, em razão de norma expressa que é taxativa quanto à impossibilidade da ultra-atividade.
Vencidos o ministro Edson Fachin, que julgou procedentes os pedidos formulados nas ações
diretas, para declarar a inconstitucionalidade do art. 18 da Lei 10.192/2001, e, em menor extensão, o
ministro Teori Zavascki.
Os ministros Roberto Barroso, Marco Aurélio e Cármen Lúcia (relatora) reajustaram os seus
respectivos votos.
(1) Lei 8.542/1992: “Art. 1º A política nacional de salários, respeitado o princípio da irredutibilidade, tem por fundamento
a livre negociação coletiva e reger-se-á pelas normas estabelecidas nesta lei. § 1º As cláusulas dos acordos, convenções ou contratos
coletivos de trabalho integram os contratos individuais de trabalho e somente poderão ser reduzidas ou suprimidas por posterior
acordo, convenção ou contrato coletivo de trabalho. § 2º As condições de trabalho, bem como as cláusulas salariais, inclusive os
aumentos reais, ganhos de produtividade do trabalho e pisos salariais proporcionais à extensão e à complexidade do trabalho, serão
fixados em contrato, convenção ou acordo coletivo de trabalho, laudo arbitral ou sentença normativa, observados, dentre outros
fatores, a produtividade e a lucratividade do setor ou da empresa.”
(2) CLT: “Art. 614 - Os Sindicatos convenentes ou as empresas acordantes promoverão, conjunta ou separadamente, dentro
de 8 (oito) dias da assinatura da Convenção ou Acordo, o depósito de uma via do mesmo, para fins de registro e arquivo, no
Departamento Nacional do Trabalho, em se tratando de instrumento de caráter nacional ou interestadual, ou nos órgãos regionais do
Ministério do Trabalho e Previdência Social, nos demais casos. (...) § 3º Não será permitido estipular duração de convenção coletiva
ou acordo coletivo de trabalho superior a dois anos, sendo vedada a ultratividade.”
ADI 2200/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 4.6.2020. (INF 980)
ADI 2288/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 4.6.2020. (INF 980)
A Primeira Turma, por maioria, indeferiu a ordem em habeas corpus impetrado em favor de
condenado pela prática do crime de roubo em concurso de agentes. No caso, o paciente, funcionário de
uma empresa, tinha a atribuição de movimentar quantias em dinheiro. O corréu, mediante grave ameaça,
simulando portar arma de fogo, exigiu a entrega dos valores que estavam em seu poder e no de outra
pessoa, na ocasião, e o paciente, fingindo ser vítima, previamente ajustado com o suposto assaltante,
entregou a quantia.
A defesa alegou nulidade processual, consistente em suposto desrespeito ao art. 402 do Código de
Processo Penal (CPP) (1), pois não teve a oportunidade de requerer diligências ao término da instrução.
Ademais, considerou inadequada a classificação jurídica dos fatos, que consubstanciariam estelionato e
não roubo.
A Turma, inicialmente, afastou a suposta nulidade. Afirmou que a falta de abertura de prazo, após
o encerramento da instrução, para manifestação das partes acerca do interesse na feitura de diligências
complementares constitui nulidade relativa, cujo reconhecimento pressupõe seja o inconformismo
veiculado em momento oportuno, ou seja, quando da apresentação de alegações finais. No caso, a defesa
deixou de se insurgir nas alegações finais e nas razões de apelação. Além disso, a impetração sequer
apontou quais diligências seriam requeridas.
Ademais, o enquadramento dos fatos no tipo penal alusivo ao roubo mostrou-se adequado. Trata-
se de crime complexo, cuja estrutura típica exige a realização da subtração patrimonial mediante violência
ou grave ameaça à pessoa.
O fato de o assalto envolver situação forjada entre o paciente e o corréu não viabiliza a ocorrência
de estelionato, pois a caracterização do roubo não pressupõe a efetiva intenção do agente de realizar o mal
prometido. Basta que a forma utilizada para a subtração da coisa alheia móvel seja revestida de aptidão a
causar fundado temor ao ofendido. Nesse sentido, a ameaça praticada pela simulação do porte de arma de
fogo constitui meio idôneo a aterrorizar.
Por sua vez, a circunstância de não ter o paciente feito grave ameaça contra a vítima não é
relevante, porquanto a vinculação subjetiva com o corréu, a configurar o concurso de agentes, legitima
sejam os fatos, em relação a ambos os acusados, enquadrados no tipo de penal de roubo, observado o art.
29 do Código Penal (CP) (2).
Vencido o ministro Luiz Fux, que deferiu a ordem.
(1) CPP/1941: “Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente e, a
seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução.”
(2) CP/1940: “Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de
sua culpabilidade.”
ADPF 384 Ref-MC/MG, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 6.8.2020. (INF 985)
(1) CF: “Art. 5º (...): XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;”
ADI 3005/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 1.7.2020. (INF 984)
(1) IN 308/1999 da CVM: “Art. 31 – O Auditor Independente — Pessoa Física e o Auditor Independente — Pessoa
Jurídica não podem prestar serviços para um mesmo cliente, por prazo superior a cinco anos consecutivos, contados a partir da data
desta Instrução, exigindo-se um intervalo mínimo de três anos para a sua recontratação.”
ADI 3033/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 10.11.2020. (INF 998)
Contrato de plano de saúde: ato jurídico perfeito e retroatividade da lei nova - RE 948634/RS
As disposições da Lei 9.656/1998, à luz do art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal (CF),
somente incidem sobre os contratos celebrados a partir de sua vigência, bem como sobre os
contratos que, firmados anteriormente, foram adaptados ao seu regime, sendo as respectivas
disposições inaplicáveis aos beneficiários que, exercendo sua autonomia de vontade, optaram por
manter os planos antigos inalterados.
Isso porque as relações jurídicas livremente pactuadas, com o uso da autonomia da vontade,
devem dar valor à segurança jurídica, conferindo-se estabilidade aos direitos subjetivos e, mais ainda,
conhecimento inequívoco das regras às quais todos estão vinculados, bem como a tão importante
previsibilidade das consequências de suas respectivas condutas. Nesses termos, dentro do debate sobre a
possibilidade de retroatividade da Lei 9.656/1998 a negócios jurídicos anteriores à sua vigência, serão
aplicáveis previsões constitucionais a preservar o ato jurídico perfeito, a segurança jurídica e, por sua
relevância, a autonomia da vontade e a liberdade de contratar.
Além disso, o entendimento que tem sido consolidado no Supremo Tribunal Federal (STF) ao
longo dos anos é contrário à possibilidade da retroatividade da lei nova, assegurando a máxima
efetividade da norma constitucional carreada pelo art. 5º, XXXVI, da CF, ressalvada a aplicação da
chamada retroatividade mínima, em situações excepcionais, a permitir sejam temperadas para o futuro
algumas relações jurídicas constituídas no passado. Desse modo, os contratos de planos de saúde
firmados antes do advento da Lei 9.656/1998 podem ser considerados atos jurídicos perfeitos, e, como
regra geral, estão blindados às mudanças supervenientes das regras vinculantes.
Ademais, nos termos do art. 35 da Lei 9.656/1998, assegurou-se, aos beneficiários dos contratos
celebrados anteriormente ao início de sua vigência, a possibilidade de opção pelas novas regras, tendo o
parágrafo 4° do mencionado dispositivo proibido que a migração fosse feita unilateralmente pela
operadora.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, ao apreciar o Tema 123 da repercussão
geral, deu provimento a recurso extraordinário para julgar improcedente o pedido inicial.
Parte 1 -
Parte 2 -
O Plenário, por maioria, não referendou medida cautelar concedida em ação direta de
inconstitucionalidade e manteve a eficácia da Medida Provisória 936/2020, que autoriza a redução da
jornada de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de trabalho por meio de acordos
individuais em razão da pandemia do novo coronavírus, independentemente de anuência sindical.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. Entendeu ser necessário definir se, durante o
estado de calamidade pública, o acordo de redução proporcional tanto da jornada de trabalho quanto do
salário, escrito entre empregado e empregador, é um ato jurídico perfeito e acabado; ou se a comunicação
ao sindicato, no prazo de dez dias, transfere à organização sindical a possibilidade, tal qual uma
verdadeira condição resolutiva, de corroborar o acordo individual, afastá-lo ou alterá-lo, mediante uma
negociação coletiva.
Anotou que, nos termos da medida provisória, uma vez assinado o acordo escrito de redução
proporcional de salário e de jornada de trabalho, há uma complementação por parte do Poder Público. Um
cálculo é feito à semelhança do seguro-desemprego. Assim, se o sindicato tiver o poder de alterar os
termos desse acordo, pode haver um descompasso entre essa alteração e o abono pago pelos cofres
públicos.
A medida provisória em análise tem o intuito de equilibrar as desigualdades sociais provocadas
pela pandemia, e deve ser interpretada de acordo com diversos vetores constitucionais: a dignidade da
pessoa humana, o trabalho, a livre iniciativa, o desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e
marginalização e a redução das desigualdades. Nesse sentido, a garantia de irredutibilidade salarial apenas
faz sentido se existir o direito ao trabalho em primeiro lugar.
A situação de pandemia vem trazendo de forma crescente efeitos econômicos e sociais, como o
desemprego e a falta de renda. Nesse contexto, a finalidade da medida provisória é a manutenção do
emprego. Diversas empresas, como consequência do panorama atual, provocaram demissões em massa, e
a medida provisória procura oferecer uma opção garantidora do trabalho, proporcional entre empregado e
empregador.
Salientou que a medida provisória é específica ao definir sua eficácia durante o estado de
calamidade (90 dias), período no qual o empregado terá a garantia de manutenção do seu emprego (um
total de 24,5 milhões de postos de trabalho), mesmo que com uma redução salarial proporcional à redução
de horas trabalhadas. Além disso, haverá complementação de renda por parte do Estado, no valor
estimado de 51,2 bilhões de reais.
Por outro lado, a medida provisória também permite a manutenção de diversas empresas, que
permanecerão com empregados durante o período e continuarão funcionando futuramente.
Ademais, o empregado tem a opção de não aceitar essa redução, juntamente como auxílio
emergencial proporcional. Nesse caso, se houver demissão, ele receberá o auxílio-desemprego.
Assim, a medida provisória não tem o objetivo simples de legalizar a redução salarial, mas sim de
estabelecer mecanismos emergenciais de preservação de emprego e de renda. Não se trata de conflito
entre empregado e empregador e da definição salarial como resultado desse embate, que é a situação
normal na qual se exige a participação sindical para equilibrar as forças.
A situação atual não exige conflito, mas convergência para a sobrevivência da empresa
(especialmente a micro e a pequena), do empregador e do empregado, com o auxílio do governo. Se não
houver pacto entre empregadores e empregados, o resultado da pandemia pode ser o dobro de
desempregados no país, situação inadmissível que gerará enorme conflito social.
Nesse quadro, possibilitar aos sindicatos que “referendem” os acordos traz três desfechos
possíveis: a discordância total, parcial, ou a concordância. E a última hipótese é a única que não afetará a
segurança jurídica e a boa-fé dos acordos.
Isso não significa, entretanto, que os sindicatos ficarão totalmente alheios a esses acordos. Nos
termos da medida provisória, eles serão comunicados, para verificar a necessidade de estender os termos
de determinado acordo a outros trabalhadores da categoria, ou para indicar a anulação dos acordos, se
houver algum vício. O que o texto legal não fez foi exigir a anuência sindical para que o acordo se torne
ato jurídico perfeito, o que diminuiria sensivelmente a eficácia da medida emergencial.
Vencidos os ministros Ricardo Lewandowski (relator), que deferiu a medida cautelar em parte, no
sentido de dar interpretação conforme à Constituição à medida provisória, de maneira a assentar que os
acordos deverão ser comunicados pelos empregadores ao respectivo sindicato no prazo de até dez dias,
para que este inicie a negociação coletiva se desejar; e os ministros Edson Fachin e Rosa Weber, que a
deferiram integralmente, para afastar o uso de acordo individual para dispor sobre as medidas tratadas no
texto impugnado.
ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgamento em 16 e 17.4.2020. (INF 973)
ODSs 3 e 16
Resumo:
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...).”
(2) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...) LXXII – conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento
de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;”
(3) Decreto Legislativo 395/2009: “Artigo 6º. Notificação. 1. Cada Estado Parte avaliará os eventos que ocorrerem dentro
de seu território, utilizando o instrumento de decisão do Anexo 2. Cada Estado Parte notificará a OMS, pelos mais eficientes meios
de comunicação disponíveis, por meio do Ponto Focal Nacional para o RSI, e dentro de 24 horas a contar da avaliação de
informações de saúde pública, sobre todos os eventos em seu território que possam se constituir numa emergência de saúde pública
de importância internacional, segundo o instrumento de decisão, bem como de qualquer medida de saúde implementada em resposta
a tal evento. Se a notificação recebida pela OMS envolver a competência da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), a
OMS notificará imediatamente essa Agência. 2. Após uma notificação, o Estado Parte continuará a comunicar à OMS as
informações de saúde pública de que dispõe sobre o evento notificado, de maneira oportuna, precisa e em nível suficiente de
detalhamento, incluindo, sempre que possível, definições de caso, resultados laboratoriais, fonte e tipo de risco, número de casos e
de óbitos, condições que afetam a propagação da doença; e as medidas de saúde empregadas, informando, quando necessário, as
dificuldades confrontadas e o apoio necessário para responder à possível emergência de saúde pública de importância internacional.
Artigo 7º. Compartilhamento de informações durante eventos sanitários inesperados ou incomuns. Caso um Estado Parte tiver
evidências de um evento de saúde pública inesperado ou incomum dentro de seu território, independentemente de sua origem ou
fonte, que possa constituir uma emergência de saúde pública de importância internacional, ele fornecerá todas as informações de
saúde pública relevantes à OMS. Nesse caso, aplicam-se na íntegra as disposições do Artigo 6º. (...) Artigo 19. Obrigações Gerais.
Além das demais obrigações previstas no presente Regulamento, os Estados Partes deverão: (...) (c) fornecer à OMS, na medida do
possível, quando solicitado em resposta a um possível risco à saúde pública específico, dados relevantes referentes a fontes de
infecção ou contaminação, inclusive vetores e reservatórios, em seus pontos de entrada, que possam resultar na propagação
internacional de doenças. (...) Artigo 44. Colaboração e assistência. 1. Os Estados Partes comprometem-se a colaborar entre SI na
medida do possível: (a) para a detecção e avaliação dos eventos contemplados neste Regulamento, bem como para a resposta aos
mesmos;”
ADPF 690 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em
20.11.2020 (INF 1000)
ADPF 691 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em
20.11.2020 (INF 1000)
ADPF 692 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em
20.11.2020 (INF 1000)
Parte 1 -
Parte 2 -
(1) MP 954/2020: “Art. 1º Esta Medida Provisória dispõe sobre o compartilhamento de dados por empresas de
telecomunicações prestadoras do Serviço Telefônico Fixo Comutado - STFC e do Serviço Móvel Pessoal - SMP com a Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Parágrafo único. O disposto nesta Medida Provisória se aplica durante a
situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), de que trata a Lei nº
13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Art. 2º As empresas de telecomunicação prestadoras do STFC e do SMP deverão disponibilizar à
Fundação IBGE, em meio eletrônico, a relação dos nomes, dos números de telefone e dos endereços de seus consumidores, pessoas
físicas ou jurídicas. § 1º Os dados de que trata o caput serão utilizados direta e exclusivamente pela Fundação IBGE para a produção
estatística oficial, com o objetivo de realizar entrevistas em caráter não presencial no âmbito de pesquisas domiciliares. § 2º Ato do
Presidente da Fundação IBGE, ouvida a Agência Nacional de Telecomunicações, disporá, no prazo de três dias, contado da data de
publicação desta Medida Provisória, sobre o procedimento para a disponibilização dos dados de que trata o caput. § 3º Os dados
deverão ser disponibilizados no prazo de: I – sete dias, contado da data de publicação do ato de que trata o § 2º; e II – quatorze dias,
contado da data da solicitação, para as solicitações subsequentes. Art. 3º Os dados compartilhados: I - terão caráter sigiloso; II –
serão usados exclusivamente para a finalidade prevista no § 1º do art. 2º; e III – não serão utilizados como objeto de certidão ou
meio de prova em processo administrativo, fiscal ou judicial, nos termos do disposto na Lei nº 5.534, de 14 de novembro de 1968. §
1º É vedado à Fundação IBGE disponibilizar os dados a que se refere o caput do art. 2º a quaisquer empresas públicas ou privadas
ou a órgãos ou entidades da administração pública direta ou indireta de quaisquer dos entes federativos. § 2º A Fundação IBGE
informará, em seu sítio eletrônico, as situações em que os dados referidos no caput do art. 2º foram utilizados e divulgará relatório
de impacto à proteção de dados pessoais, nos termos do disposto na Lei nº 13.709, de 14 de agosto de 2018. Art. 4º Superada a
situação de emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus (covid-19), nos termos do disposto
na Lei nº 13.979, de 2020, as informações compartilhadas na forma prevista no caput do art. 2º ou no art. 3º serão eliminadas das
bases de dados da Fundação IBGE. Parágrafo único. Na hipótese de necessidade de conclusão de produção estatística oficial, a
Fundação IBGE poderá utilizar os dados pelo prazo de trinta dias, contado do fim da situação de emergência de saúde pública de
importância internacional. Art. 5º Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.”
ADI 6387 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 6 e 7.5.2020. (INF 976)
ADI 6388 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 6 e 7.5.2020. (INF 976)
ADI 6389 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 6 e 7.5.2020. (INF 976)
ADI 6390 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 6 e 7.5.2020. (INF 976)
ADI 6393 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 6 e 7.5.2020. (INF 976)
Covid-19 e pedidos de acesso à informação - ADI 6347 MC-Ref/DF; ADI 6351 MC-Ref/DF e
ADI 6353 MC-Ref/DF
(1) Lei 13.979/2020: “Art. 6º-B. Serão atendidos prioritariamente os pedidos de acesso à informação, de que trata a Lei
12.527, de 2011, relacionados com medidas de enfrentamento da emergência de saúde pública de que trata esta Lei. § 1º Ficarão
suspensos os prazos de resposta a pedidos de acesso à informação nos órgãos ou nas entidades da administração pública cujos
servidores estejam sujeitos a regime de quarentena, teletrabalho ou equivalentes e que, necessariamente, dependam de: I – acesso
presencial de agentes públicos encarregados da resposta; ou II – agente público ou setor prioritariamente envolvido com as medidas
de enfrentamento da situação de emergência de que trata esta Lei. § 2º Os pedidos de acesso à informação pendentes de resposta
com fundamento no disposto no § 1º deverão ser reiterados no prazo de dez dias, contado da data em que for encerrado o prazo de
reconhecimento de calamidade pública a que se refere o Decreto Legislativo 6, de 20 de março de 2020. § 3º Não serão conhecidos
os recursos interpostos contra negativa de resposta a pedido de informação negados com fundamento no disposto no § 1º. § 4º
Durante a vigência desta Lei, o meio legítimo de apresentação de pedido de acesso a informações de que trata o art. 10 da Lei
12.527, de 2011, será exclusivamente o sistema disponível na internet. § 5º Fica suspenso o atendimento presencial a requerentes
relativos aos pedidos de acesso à informação de que trata a Lei 12.527, de 2011.”
(2) CF: “Art. 5º (...) XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou
de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado; (...) LXXII – conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de
informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter
público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; (...) Art. 37. A
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...)”
ADI 6347 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 30.4.2020. (INF 975)
ADI 6351 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 30.4.2020. (INF 975)
ADI 6353 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 30.4.2020. (INF 975)
Parte 1 -
Parte 2 -
ADPF 709 Ref-MC/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 3 e 5.8.2020. (INF 985)
Escusa de consciência por motivo de crença religiosa e fixação de horários alternativos para
realização de certame público ou para o exercício de deveres funcionais inerentes ao cargo
público - RE 611874/DF e ARE 1099099/SP
Parte 1 -
Parte 2 -
Tese fixada:
Nos termos do artigo 5º, VIII (1), da Constituição Federal é possível a realização de etapas de
concurso público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca
escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da
alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus
desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada (Tema
386).
Nos termos do artigo 5º, VIII, da Constituição Federal é possível à Administração Pública,
inclusive durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício
dos deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de
consciência por motivos de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não
se caracterize o desvirtuamento do exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à
Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada (Tema 1.021).
Resumo:
(1) CF: “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se
as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;”
(2) CF: “Art. 5º. (...) VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”
(3) CF: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I – estabelecer cultos religiosos ou
igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou
aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;”
RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento em 19.11,
25.11 e 26.11.2020 (INF 1000)
ARE 1099099/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 19.11, 25.11 e 26.11.2020 (INF 1000)
Parte 1 -
Parte 2 -
(1) RISTF: “Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, o Presidente instaurará inquérito,
se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição, ou delegará esta atribuição a outro Ministro.”
ADPF 572 MC/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 17 e 18.6.2020. (INF 982)
Leiloeiro e caução para o exercício da profissão - RE 1263641/RS
(1) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer;”
RE 1263641/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
Rcl 38782/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.11.2020. (INF 998)
Princípio da isonomia: pensão por morte e tratamento diferenciado entre homem e mulher -
RE 659424/RS
RE 659424/RS, rel. Min. Celso de Mello, julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
Sempre que for pago ao trabalhador com vínculo permanente, o adicional de riscos é devido, nos
mesmos termos, ao trabalhador portuário avulso. Com esse entendimento, o Plenário, em conclusão e por
maioria, ao apreciar o Tema 222 da repercussão geral, negou provimento a recurso extraordinário em que
discutida a possibilidade de estender aos trabalhadores portuários avulsos o adicional de riscos, previsto
no art. 14 da Lei 4.860/1965 (1) e pago aos trabalhadores portuários com vínculo permanente
(Informativos 923 e 924).
O colegiado entendeu que a regulação da atividade portuária por meio de legislação específica se
deu para garantir aos trabalhadores que prestam serviços nas instalações portuárias direitos inerentes ao
exercício de atividades notoriamente peculiares. Até 1990, havia, basicamente, duas formas de prestação
de trabalho na área portuária: os serviços de capatazia eram realizados por servidores públicos vinculados
às Companhias Docas; e as demais atividades, pelos trabalhadores avulsos.
A Constituição de 1988 trouxe importante regulação das relações de trabalho em geral e, no inciso
XXXIV do art. 7º, previu “igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício
permanente e o trabalhador avulso”. Constata-se que essa cláusula de isonomia se sagrou reforçada com o
advento da Lei 8.630/1993, quando novos atores sociais foram expressamente incorporados às relações
portuárias, entre os quais se destacam os órgãos gestores de mão de obra — entidades com finalidade
pública, sem fins lucrativos, cujo objetivo principal é centralizar e administrar a prestação de serviços nos
portos organizados do Brasil —; os operadores portuários; e os trabalhadores portuários, ainda
distinguidos entre contratados com vínculo permanente (servidores e empregados) e avulsos.
A mudança levada a efeito pela Lei 8.630/1993 não se restringiu à seara legislativa, uma vez que
inaugurou modelo regulatório das relações de trabalho no campo portuário muito diferente daquele
vigente até então, mas mantendo algumas normas do regime anterior. Prova disso são os arts. 75 e 76 da
Lei 8.630/1993. Apesar de terem revogado diversas normas esparsas, optaram por não revogar aquela que
previa o direito a adicional de riscos para os trabalhadores portuários. O argumento pela impossibilidade
de se estender o mencionado direito tem como fundamento interpretação equivocada de que o art. 19 da
Lei 4.860/1965 excluiria os trabalhadores avulsos do seu âmbito de incidência normativa.
Ademais, a leitura adequada da legislação a respeito, considerados os paradigmas constitucionais,
é a de que não calha como excludente o fato de os trabalhadores avulsos sujeitarem-se a regime
diferenciado daqueles com vínculo permanente. Implementadas as condições legais específicas, é devido
o adicional de riscos, previsto no art. 14 da Lei 4.860/1965, ao trabalhador portuário avulso.
A disposição constitucional tem nítido caráter protetivo da igualdade material. Se há o pagamento
do adicional de riscos como direito do trabalhador portuário com vínculo permanente que labora em
condições adversas, essa previsão também deve ser reconhecida aos trabalhadores portuários avulsos
submetidos às mesmas condições.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que deu provimento ao recurso.
(1) Lei 4.860/1965: “Art 14. A fim de remunerar os riscos relativos à insalubridade, periculosidade e outros porventura
existentes, fica instituído o ‘adicional de riscos’ de 40% (quarenta por cento) que incidirá sobre o valor do salário-hora ordinário do
período diurno e substituirá todos aqueles que, com sentido ou caráter idêntico, vinham sendo pagos.”
A absolvição do réu, ante resposta a quesito genérico de absolvição previsto no art. 483, § 2º,
do Código de Processo Penal [CPP (1)], independe de elementos probatórios ou de teses veiculadas
pela defesa, considerada a livre convicção dos jurados.
Em razão da norma constitucional que consagra a soberania dos veredictos, a sentença absolutória
de Tribunal do Júri, fundada no quesito genérico de absolvição, não implica nulidade da decisão a ensejar
apelação da acusação. Os jurados podem absolver o réu com base na livre convicção e
independentemente das teses veiculadas, considerados elementos não jurídicos e extraprocessuais.
No caso, o paciente foi pronunciado ante a prática de crime previsto no art. 121, § 2º, II, IV e VI,
combinado com o art. 14, II (tentativa de homicídio qualificado), do Código Penal (CP). Submetido a
julgamento, o Conselho de Sentença respondeu afirmativamente aos quesitos alusivos à materialidade e
autoria. Na sequência, indagados os jurados se absolviam o acusado, a resposta foi positiva, encerrando-
se a votação. Após, o tribunal de justiça proveu apelação interposta pelo Parquet para determinar a
realização de novo Júri, por considerar que a decisão absolutória foi contrária às provas do processo.
Com base nesse entendimento, a Primeira Turma, por maioria, deferiu a ordem de habeas corpus,
para reestabelecer decisão absolutória.
(1) CPP: “Art. 483. Os quesitos serão formulados na seguinte ordem, indagando sobre: I – a materialidade do fato; II – a
autoria ou participação; III – se o acusado deve ser absolvido; IV – se existe causa de diminuição de pena alegada pela defesa; V –
se existe circunstância qualificadora ou causa de aumento de pena reconhecidas na pronúncia ou em decisões posteriores que
julgaram admissível a acusação. (...) § 2o Respondidos afirmativamente por mais de 3 (três) jurados os quesitos relativos aos incisos
I e II do caput deste artigo será formulado quesito com a seguinte redação: O jurado absolve o acusado?”
(1) CTB: “Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor: Penas – detenção, de dois a quatro anos, e
suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. § 1º No homicídio culposo cometido
na direção de veículo automotor, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente: (...) IV - no exercício de sua profissão
ou atividade, estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.”
3.11 EXPULSÃO
O § 1º do art. 75 da Lei 6.815/1980 (1) não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988
(CF), sendo vedada a expulsão de estrangeiro cujo filho brasileiro foi reconhecido ou adotado
posteriormente ao fato ensejador do ato expulsório, uma vez comprovado estar a criança sob a guarda do
estrangeiro e deste depender economicamente.
Com essa tese de repercussão geral (Tema 373), o Plenário, em conclusão de julgamento, negou
provimento a recurso extraordinário interposto de acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) proferido
em sede de habeas corpus (Informativo 924).
Na decisão recorrida, o STJ assentou que a proibição de expulsão de estrangeiro quando tiver prole
brasileira objetiva proteger os interesses da criança à assistência material, à garantia dos direitos à
identidade, à convivência familiar e à assistência pelos pais.
A União sustentava que, coexistentes a proteção dos direitos da família e da criança e a defesa da
soberania e do território nacional, a Lei 6.815/1980 previa a impossibilidade de expulsão somente quando
a prole brasileira fosse anterior ao fato motivador da expulsão. Aludia ao poder discricionário, conferido
ao chefe do Poder Executivo pelo art. 66 do referido diploma legal (2), de expulsar estrangeiro com
conduta nociva aos interesses nacionais.
O colegiado, por maioria, rejeitou a preliminar de ilegitimidade da recorrente. Entendeu ser caso
de superação da preliminar ante a relevância da tese e o fato de estar-se em discussão não só o direito de
ir e vir do paciente, mas também prerrogativa do chefe do Poder Executivo. Ademais, esta seria a única
possibilidade de a União contestar a decisão do STJ e discutir a matéria.
Vencido, no ponto, o ministro Marco Aurélio (relator). O ministro salientou que a União não foi
parte na ação apreciada no STJ. Ademais, por ser o habeas corpus via impugnativa exclusiva da defesa,
descabe a sua utilização para tutela de interesse da acusação ou de terceiros.
No mérito, prevaleceu o voto do relator, segundo o qual o § 1º do art. 75 da Lei 6.815/1980 não foi
recepcionado pela CF, sendo vedada a expulsão, uma vez comprovado estar a criança sob a guarda do
estrangeiro e deste depender economicamente.
O ministro registrou a presença de valores constitucionais como a soberania nacional, com a
manutenção de estrangeiro no País, e a proteção à família, ante a existência de filho brasileiro.
Lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF), diversas vezes, decidiu no sentido de que a
existência de filhos nascidos após o fato criminoso não seria oponível à expulsão. No entanto, as questões
relativas aos requisitos para expulsão foram reiteradamente examinadas somente com fulcro na
interpretação isolada do art. 75 da Lei 6.815/1980.
Assim, compreendeu ser necessário aprofundar a evolução no tratamento da matéria, atentando
para a CF, que define a família como base da sociedade e estabelece o direito da criança à convivência
familiar [arts. 226, caput, e 227, caput, (3)].
Esclareceu que a CF de 1988 inaugurou nova quadra no tocante ao patamar e à intensidade da
tutela da família e da criança, assegurando-lhes cuidado especial, concretizado, pelo legislador, na edição
do Estatuto da Criança e do Adolescente. O sistema foi direcionado para a absoluta prioridade dos
menores e adolescentes, como pressuposto inafastável de sociedade livre, justa e solidária.
Por isso, é impróprio articular com a noção de interesse nacional inerente à expulsão de
estrangeiro quando essa atuação estatal alcança a situação da criança, sob os ângulos econômico e
psicossocial. O § 1º do art. 75 da Lei 6.815/1980 encerra a quebra da relação familiar, independentemente
da situação econômica do menor e dos vínculos socioafetivos desenvolvidos. A família, respaldo maior
da sociedade e da criança, é colocada em segundo plano, superada pelo interesse coletivo em retirar do
convívio nacional estrangeiro nocivo, embora muitas vezes ressocializado.
A seu ver, priva-se perpetuamente a criança do convívio familiar, da conformação da identidade.
Dificulta-se o acesso aos meios necessários à subsistência, haja vista os obstáculos que decorrem da
cobrança de pensão alimentícia de indivíduo domiciliado ou residente em outro País. Dessa maneira,
impõe-se à criança ruptura e desamparo, cujos efeitos repercutem nos mais diversos planos da existência,
em colisão não apenas com a proteção especial conferida a ela, mas também com o âmago do princípio da
proteção à dignidade da pessoa humana.
Além disso, o preceito da Lei 6.815/1980 afronta o princípio da isonomia, ao estabelecer
tratamento discriminatório entre filhos havidos antes e após o fato ensejador da expulsão.
O relator ressaltou que os prejuízos associados à expulsão de genitor independem da data do
nascimento ou da adoção, muito menos do marco aleatório representado pela prática da conduta
motivadora da expulsão. Se o interesse da criança deve ser priorizado, é de menor importância o
momento da adoção ou da concepção.
Esse entendimento não esvazia a soberania nacional. O estrangeiro continua obrigado a comprovar
ter filho brasileiro sob a própria guarda e dependente economicamente. Ou seja, exige-se do estrangeiro a
demonstração de vínculo qualificado com o País, apto a autorizar, dentro das balizas legais, a sua
permanência em território nacional.
Por fim, o ministro observou que a Lei 6.815/1980, regedora da espécie, foi suplantada pela nova
Lei de Migração (Lei 13.445/2017), que não repetiu o contido no preceito em debate.
(1) Lei 6.815/1980: “Art. 75. Não se procederá à expulsão: (...) § 1º Não constituem impedimento à expulsão a adoção ou o
reconhecimento de filho brasileiro supervenientes ao fato que o motivar.”
(2) Lei 6.815/1980: “Art. 66. Caberá exclusivamente ao Presidente da República resolver sobre a conveniência e a
oportunidade da expulsão ou de sua revogação. Parágrafo único. A medida expulsória ou a sua revogação far-se-á por decreto.”
(3) CF: “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. (...) Art. 227. É dever da família, da
sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.”
(1) Lei Complementar 101/2000: “Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da
qual decorra renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que
deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das
seguintes condições: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei
orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo próprio da lei de diretrizes
orçamentárias; II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do aumento de
receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 1º A
renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção em caráter não geral, alteração de
alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução discriminada de tributos ou contribuições, e outros benefícios que
correspondam a tratamento diferenciado. § 2º Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput
deste artigo decorrer da condição contida no inciso II, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as medidas referidas
no mencionado inciso. § 3º O disposto neste artigo não se aplica: I – às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I,
II, IV e V do art. 153 da Constituição, na forma do seu § 1º; II – ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos
respectivos custos de cobrança. (...) Art. 16. A criação, expansão ou aperfeiçoamento de ação governamental que acarrete aumento
da despesa será acompanhado de: I – estimativa do impacto orçamentário-financeiro no exercício em que deva entrar em vigor e nos
dois subsequentes; II – declaração do ordenador da despesa de que o aumento tem adequação orçamentária e financeira com a lei
orçamentária anual e compatibilidade com o plano plurianual e com a lei de diretrizes orçamentárias. § 1º Para os fins desta Lei
Complementar, considera-se: I – adequada com a lei orçamentária anual, a despesa objeto de dotação específica e suficiente, ou que
esteja abrangida por crédito genérico, de forma que somadas todas as despesas da mesma espécie, realizadas e a realizar, previstas
no programa de trabalho, não sejam ultrapassados os limites estabelecidos para o exercício; II – compatível com o plano plurianual e
a lei de diretrizes orçamentárias, a despesa que se conforme com as diretrizes, objetivos, prioridades e metas previstos nesses
instrumentos e não infrinja qualquer de suas disposições. § 2º A estimativa de que trata o inciso I do caput será acompanhada das
premissas e metodologia de cálculo utilizadas. § 3º Ressalva-se do disposto neste artigo a despesa considerada irrelevante, nos
termos em que dispuser a lei de diretrizes orçamentárias. § 4º As normas do caput constituem condição prévia para: I – empenho e
licitação de serviços, fornecimento de bens ou execução de obras; II – desapropriação de imóveis urbanos a que se refere o § 3º do
art. 182 da Constituição. (...) Art. 17. Considera-se obrigatória de caráter continuado a despesa corrente derivada de lei, medida
provisória ou ato administrativo normativo que fixem para o ente a obrigação legal de sua execução por um período superior a dois
exercícios. § 1º Os atos que criarem ou aumentarem despesa de que trata o caput deverão ser instruídos com a estimativa prevista
no inciso I do art. 16 e demonstrar a origem dos recursos para seu custeio. § 2º Para efeito do atendimento do § 1º, o ato será
acompanhado de comprovação de que a despesa criada ou aumentada não afetará as metas de resultados fiscais previstas no anexo
referido no § 1º do art. 4º, devendo seus efeitos financeiros, nos períodos seguintes, ser compensados pelo aumento permanente de
receita ou pela redução permanente de despesa. § 3º Para efeito do § 2º, considera-se aumento permanente de receita o proveniente
da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração ou criação de tributo ou contribuição. § 4º A comprovação
referida no § 2º, apresentada pelo proponente, conterá as premissas e metodologia de cálculo utilizadas, sem prejuízo do exame de
compatibilidade da despesa com as demais normas do plano plurianual e da lei de diretrizes orçamentárias. § 5º A despesa de que
trata este artigo não será executada antes da implementação das medidas referidas no § 2º, as quais integrarão o instrumento que a
criar ou aumentar. § 6º O disposto no § 1º não se aplica às despesas destinadas ao serviço da dívida nem ao reajustamento de
remuneração de pessoal de que trata o inciso X do art. 37 da Constituição. § 7º Considera-se aumento de despesa a prorrogação
daquela criada por prazo determinado. (...) Art. 24. Nenhum benefício ou serviço relativo à seguridade social poderá ser criado,
majorado ou estendido sem a indicação da fonte de custeio total, nos termos do § 5º do art. 195 da Constituição, atendidas ainda as
exigências do art. 17. § 1º É dispensada da compensação referida no art. 17 o aumento de despesa decorrente de: I – concessão de
benefício a quem satisfaça as condições de habilitação prevista na legislação pertinente; II – expansão quantitativa do atendimento e
dos serviços prestados; III –reajustamento de valor do benefício ou serviço, a fim de preservar o seu valor real. § 2º O disposto neste
artigo aplica-se a benefício ou serviço de saúde, previdência e assistência social, inclusive os destinados aos servidores públicos e
militares, ativos e inativos, e aos pensionistas.”
(2) Lei 13.898/2019: “Art. 114. As proposições legislativas e as suas emendas, conforme o art. 59 da Constituição, que,
direta ou indiretamente, importem ou autorizem diminuição de receita ou aumento de despesa da União, deverão estar
acompanhadas de estimativas desses efeitos no exercício em que entrarem em vigor e nos dois exercícios subsequentes, detalhando
a memória de cálculo respectiva e correspondente compensação para efeito de adequação orçamentária e financeira, e
compatibilidade com as disposições constitucionais e legais que regem a matéria.” (redação anterior à dada pela Lei 13.983/2020)
(3) Lei 13.898/2019: “Art. 114. (...) § 14. Considera-se atendida a compensação a que se refere o caput nas seguintes
situações: I – demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da Lei Orçamentária de
2020, na forma do disposto no art. 12 da Lei Complementar nº 101, de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal, e de que não afetará
as metas de resultados fiscais previstas no Anexo IV; ou II – estar acompanhada de medidas de compensação, no período
mencionado no caput, por meio do aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo,
majoração ou criação de tributo ou contribuição.”
(4) Lei Complementar 101/2000: “Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois
quadrimestres do seu mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha
parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito. Parágrafo único. Na
determinação da disponibilidade de caixa serão considerados os encargos e despesas compromissadas a pagar até o final do
exercício.”
(5) EC 106/2020: “Art. 3º Desde que não impliquem despesa permanente, as proposições legislativas e os atos do Poder
Executivo com propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas consequências sociais e econômicas, com vigência e efeitos
restritos à sua duração, ficam dispensados da observância das limitações legais quanto à criação, à expansão ou ao aperfeiçoamento
de ação governamental que acarrete aumento de despesa e à concessão ou à ampliação de incentivo ou benefício de natureza
tributária da qual decorra renúncia de receita. Parágrafo único. Durante a vigência da calamidade pública nacional de que trata o art.
1º desta Emenda Constitucional, não se aplica o disposto no § 3º do art. 195 da Constituição Federal.”
ADI 6357 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 13.5.2020. (INF 977)
A Primeira Turma, por maioria e em conclusão de julgamento, deu provimento a agravo interno e,
em voto médio, deu parcial provimento ao recurso extraordinário, a fim de declarar incompatível com a
Constituição Federal (CF) o entendimento de que o governador do estado deve autorizar a propositura de
ação de improbidade pela procuradoria. Determinou, ainda, o retorno dos autos ao juízo de origem, para
que prossiga o julgamento como entender de direito.
No acordão impugnado, o tribunal de origem compreendeu que procurador do estado de Sergipe
não pode ajuizar ação civil pública sem anuência do procurador-geral e autorização do governador
daquela unidade da Federação (Informativo 952).
Na Turma, prevaleceu o voto médio do ministro Roberto Barroso, que foi acompanhado pela
ministra Rosa Weber.
Em maior extensão, os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux deram provimento integral ao
agravo e ao recurso extraordinário. Entenderam que a restrição imposta pelo tribunal a quo não encontra
respaldo na lei orgânica da procuradoria-geral — Lei Complementar sergipana 27/1996 — e ofende o art.
132 da CF (1). Logo, não poderia ser exigida a autorização do governador, tampouco a anuência do
procurador-geral nas ações de improbidade.
Já o ministro Marco Aurélio (relator) negou provimento ao agravo regimental e ao recurso
extraordinário. A seu ver, os autos versam matéria estritamente legal. O relator sublinhou que o
pronunciamento atacado mediante recurso extraordinário envolveu a interpretação de legislação local.
(1) CF: “Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso
dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases,
exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. parágrafo único. Aos procuradores
referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os
órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.”
ARE 1165456 AgR/SE, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso,
julgamento em 1º.9.2020. (INF 989)
Tarifa bancária pela mera disponibilização de “cheque especial” - ADI 6407 MC-Ref /DF
Resumo:
(1) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”.
(2) CF: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) V – defesa do
consumidor (...) Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de
autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”.
(3) Resolução 4.765/2019, do Conselho Monetário Nacional (CMN): “Art. 2º. Admite-se a cobrança de tarifa pela
disponibilização de cheque especial ao cliente. § 1º. A cobrança da tarifa prevista no caput deve observar os seguintes limites
máximos: I – 0% (zero por cento), para limites de crédito de até R$ 500,00 (quinhentos reais); e II – 0,25% (vinte e cinco
centésimos por cento), para limites de crédito superiores a R$ 500,00 (quinhentos reais), calculados sobre o valor do limite que
exceder R$ 500,00 (quinhentos reais). § 2º. A cobrança da tarifa deve ser efetuada no máximo uma vez por mês. § 3º. A cobrança da
tarifa deve observar, no que couber, as disposições da Resolução nº 3.919, de 25 de novembro de 2010, não se admitindo a inclusão
do serviço de que trata o caput em pacote de serviços vinculados a contas de depósito à vista”.
ADI 6407 MC-Ref /DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 27.11.2020
(INF 1000)
3.15 LEGITIMIDADE
(1) CF: “Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade: I – o
Presidente da República; II – a Mesa do Senado Federal; III – a Mesa da Câmara dos Deputados; IV – a Mesa de Assembleia
Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; V – o Governador de Estado ou do Distrito Federal; VI – o Procurador-
Geral da República; VII – o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VIII – partido político com representação no
Congresso Nacional; IX – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.”
RE 1126828 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgamento
em 4.2.2020. (INF 965)
Resumo:
(1) CF: “Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações. § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos
ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;”
(2) CF: “Art. 225. (...) § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...) IV – exigir, na forma
da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio
de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e
substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;”
(3) Lei 12.305/2010: “Art. 6º São princípios da Política Nacional de Resíduos Sólidos: (...) XI – a razoabilidade e a
proporcionalidade;”
ADPF 747 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 27.11.2020 (INF
1000)
ADPF 748 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 27.11.2020 (INF
1000)
ADPF 749 MC-Ref/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 27.11.2020 (INF
1000)
ADI: medicamento, autorização por lei e ausência de registro sanitário - ADI 5501/DF
(1) CF: “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.”
ADI 5501/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em 23.10.2020. (INF 996)
ADI 4726/AP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em 10.11.2020. (INF 998)
ADPF 484/AP, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 4.6.2020. (INF 980)
ODS 8
Resumo:
(1) CF: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão
da empresa, conforme definido em lei;”
(2) Lei 10.101/2000: “Art. 5º A participação de que trata o art. 1º desta Lei, relativamente aos trabalhadores em empresas
estatais, observará diretrizes específicas fixadas pelo Poder Executivo. Parágrafo único. Consideram-se empresas estatais as
empresas públicas, sociedades de economia mista, suas subsidiárias e controladas e demais empresas em que a União, direta ou
indiretamente, detenha a maioria do capital social com direito a voto.”
ADI 5417/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF 1001)
O Plenário, por maioria, deferiu, em parte, pedido de medida cautelar em ação direta de
inconstitucionalidade a fim de conferir interpretação conforme à Constituição Federal (CF) ao parágrafo
único do art. 4º da Lei 9.883/1999 (1) para estabelecer que: a) os órgãos componentes do Sistema
Brasileiro de Inteligência (Sisbin) somente podem fornecer dados e conhecimentos específicos à Agência
Brasileira de Inteligência (Abin) quando comprovado o interesse público da medida, afastada qualquer
possibilidade de esses dados atenderem interesses pessoais ou privados; b) toda e qualquer decisão que
solicitar os dados deverá ser devidamente motivada para eventual controle de legalidade pelo Poder
Judiciário; c) mesmo quando presente o interesse público, os dados referentes a comunicações telefônicas
ou dados sujeitos à reserva de jurisdição não podem ser compartilhados na forma do dispositivo em razão
daquela limitação, decorrente do respeito aos direitos fundamentais; e d) nas hipóteses cabíveis de
fornecimento de informações e dados à Abin, é imprescindível procedimento formalmente instaurado e
existência de sistemas eletrônicos de segurança e registro de acesso, inclusive para efeito de
responsabilização, em caso de eventuais omissões, desvios ou abusos.
No pleito formulado, os autores fizeram referência ao § 1º do art. 2º e ao caput do art. 9º A, ambos
da Lei 9.883/1999 (2), bem assim ao § 3º do art. 1º da Estrutura Regimental da Abin (Anexo I) do
Decreto presidencial 10.445/2020 (3).
Prevaleceu o voto da Ministra Cármen Lúcia (relatora), no qual consignado ser objeto da ação o
parágrafo único do art. 4º da Lei 9.883/1999.
Rememorou que, ao longo dos quase vinte e um anos de sua vigência e aplicação, decretos
presidenciais sucederam-se, em cumprimento ao comando legal, sem maiores questionamentos sobre a
interpretação da norma.
Esclareceu que, na argumentação apresentada, os autores expõem as razões do pedido, a saber, o
advento do decreto, no qual alegam haver extensão interpretativa incluída e, assim, desbordamento
jurídico a contaminar a forma de a referida lei ser interpretada e aplicada.
Lembrou que o feito foi trazido a julgamento poucos dias após ajuizada a ação, em face da
urgência qualificada — vigência do decreto em 17.8.2020 —, anotada pelos autores e tida como razoável.
Observou que, no curso da ação, poderá ocorrer a regularização processual anteriormente determinada,
haja vista a ausência da outorga, na procuração de um dos partidos políticos autores, de poder para
postular sobre o decreto e da falta da assinatura, na petição inicial, dos advogados do outro partido, em
cuja procuração se faz referência ao decreto.
Depois de outros registros, a relatora explicitou ter levado em conta os dispositivos do decreto,
mencionados genericamente na peça inicial, somente para os fins de se comprovar a razoabilidade da
argumentação tecida e a necessidade de se afirmar a interpretação conforme à CF a ser aplicada ao
parágrafo único do art. 4º daquela lei.
Ao versar a respeito da inafastabilidade do interesse público como elemento legitimador do
desempenho administrativo, avaliou ser imprescindível que os dados e os conhecimentos específicos a
serem fornecidos estejam vinculados ao interesse público objetivamente comprovado e com motivação
específica.
Segundo a ministra, inteligência é atividade sensível e grave do Estado. Está posta na legislação
como sendo necessária nos termos por ela delineados. “Arapongagem” não é direito, é crime. Praticado
pelo Estado, é ilícito gravíssimo. Comete crime o agente que adotar prática de solicitação e obtenção de
dados e conhecimentos específicos sobre quem quer que seja fora dos estritos limites da legalidade.
Sopesou que o fornecimento de dados pelos órgãos componentes do Sistema Brasileiro de
Inteligência à Abin, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato presidencial, tem, conforme
norma legal expressa, a finalidade de integrá-los e tornar eficiente “a defesa das instituições e dos
interesses nacionais”. Somente dados e conhecimentos específicos relacionados a estas finalidades são
legalmente admitidas e compatibilizam-se com a CF. Qualquer outra interpretação é inválida.
Além disso, o fornecimento de elementos informativos, denominado compartilhamento de dados,
tem como único motivo legalmente admissível a defesa das instituições e dos interesses nacionais, reitere-
se, nos expressos moldes do sistema jurídico vigente. Compartilhamento de dados e conhecimentos
específicos que vise ao interesse privado do órgão ou de agente público não é juridicamente admitido,
caracterizando-se desvio de finalidade e abuso de direito.
De igual modo, é ato legítimo o fornecimento de informações entre órgãos públicos para a defesa
das instituições e dos interesses nacionais. Proibido é que se torne subterfúgio para atendimento ou
benefício de interesses particulares ou pessoais, especialmente daqueles que têm acesso aos dados,
desvirtuando-se competências constitucionalmente definidas e que não podem ser objeto de escolha
pessoal, menos ainda de atendimento a finalidade particular.
É atitude ditatorial, que contrasta com o Estado democrático de direito, o abuso da máquina estatal
para atendimento a objetivos pessoais, mais ainda quando sejam criminosos como são aqueles que se
voltam a obter dados sobre pessoas para a elas impor restrições inconstitucionais, agressões ilícitas,
medos e exposição de imagem. O direito, em sua efetivação normal e legítima, é uso e, em sua realização
anormal e ilegítima, é abuso.
Os mecanismos legais de compartilhamento de dados e informações, como o previsto no parágrafo
único, são postos para abrigar o interesse público, não para sustentar interesses privados no espaço
público. Qualquer ato de Estado que vise a atender interesse particular é inválido porque contraria o
sistema constitucional. Comprovado o descumprimento dos princípios constitucionais, há de ser
declarado ilegítimo pelo Poder Judiciário.
Quanto ao arguido desvio de finalidade na extensão das atribuições da Abin, a relatora registrou
não ser possibilitado pelo conteúdo da norma questionada. A sua implementação normativa infralegal é
que pode fazer vingar a semente desse vício.
Frisou que o ato administrativo precisa atender aos critérios legais para legitimar-se. O
administrador não pode ensejar consequências diversas das almejadas pelo legislador. Nos casos como o
presente, de matéria tão sensível, a finalidade nunca é discricionária no espaço público, é sempre
vinculada.
Aduziu que o parágrafo único do art. 4º compatibiliza-se com a CF com a interpretação que lhe
vem dos seus próprios termos e deixa resguardadas as competências dos demais órgãos dos Poderes da
República e, principalmente, dos direitos individuais intocáveis dos indivíduos.
Noutro passo, asseverou ser imprescindível que os atos administrativos, incluídos aqueles relativos
às atividades de inteligência, sejam motivados, para que haja a possibilidade de serem eventualmente
contrastados. A legitimidade dos atos da Administração Pública não pode ser averiguada pelos cidadãos e
pelo Poder Judiciário se não houver a comprovação de sua devida motivação.
Ademais, a obrigatoriedade de motivação dos atos administrativos está expressa no art. 50 da Lei
9.784/1999 (4), e deve ocorrer, entre outras hipóteses, sempre que os atos “neguem, limitem ou afetem
direitos ou interesses”. A natureza da atividade de inteligência, que eventualmente se desenvolve em
regime de sigilo ou de restrição de publicidade, não afasta essa exigência, especialmente se considerado
que esses atos podem importar acesso a dados e informações sensíveis dos cidadãos, e podem
comprometer ou limitar direitos fundamentais à privacidade e à intimidade.
Nesse contexto de potencial limitação de direitos fundamentais, deve-se exigir que as solicitações
pela Abin sejam acompanhadas de motivação demonstrativa da necessidade dos dados pretendidos e a
adequação da solicitação às finalidades legais. Isso é indispensável para que, se provocado, o Poder
Judiciário realize o controle de constitucionalidade e de legalidade, examinando sua conformidade aos
princípios da proporcionalidade e da razoabilidade e precipuamente garantindo os direitos fundamentais.
Acerca da cláusula de reserva de jurisdição, a ministra Cármen Lúcia assinalou que o ordenamento
jurídico nacional prevê situações nas quais se impõe a necessidade de análise e autorização prévia do
Poder Judiciário. Isso se dá, por exemplo, nos casos de ingresso na casa de alguém ou de interceptações
em dispositivos e dados telemáticos. A esse respeito, a CF estabeleceu ser essencial a intervenção e
autorização prévia do Estado-juiz, sem o que qualquer ação de autoridade estatal será ilegítima, ressalva
feita à situação de flagrante delito.
Dessa maneira, deve-se dar à norma interpretação a respeitar a reserva de jurisdição. O sistema
constitucional garante o direito à privacidade das pessoas, nele incluído o segredo dos dados e de
comunicações telemáticas e telefônicas, entendido, o último, como o não compartilhamento das
informações sem prévia autorização judicial.
Na sequência, igualmente em juízo de delibação, a relatora não vislumbrou plausibilidade no pleito
de que os órgãos integrantes de outros entes federados, de outros Poderes e do Ministério Público (MP)
fossem afastados da hipótese de aplicação do fornecimento previsto no parágrafo único. Atendidos os
requisitos legais e estabelecidos nesta decisão, eles poderão fornecer dados. Na lei impugnada, inclusive
há previsão de que podem compor o Sisbin mediante ajustes e convênios.
O ministro Dias Toffoli reforçou a importância de a Administração Pública trabalhar na
formalidade, com protocolos, até para possibilitar eventual responsabilização em casos de omissões e
abusos na defesa do Estado. Por seu turno, o ministro Luiz Fux participou que o princípio da segurança
dos dados possui destacada relevância na economia da informação.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que indeferiu a liminar pleiteada. A seu ver, o parágrafo único
do art. 4º prevê apenas um diálogo entre os órgãos de inteligência e não surge conflitante com o texto
constitucional. Além disso, o ministro não entreviu o risco, inexistente até hoje, de se manter hígido o
citado dispositivo. Sequer ambiguidade que pudesse merecer interpretação.
(1) Lei 9.883/1999: “Art. 4º À ABIN, além do que lhe prescreve o artigo anterior, compete: (...) Parágrafo único. Os órgãos
componentes do Sistema Brasileiro de Inteligência fornecerão à ABIN, nos termos e condições a serem aprovados mediante ato
presidencial, para fins de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados com a defesa das instituições e dos interesses
nacionais.”
(2) Lei 9.883/1999: “Art. 2º Os órgãos e entidades da Administração Pública Federal que, direta ou indiretamente, possam
produzir conhecimentos de interesse das atividades de inteligência, em especial aqueles responsáveis pela defesa externa, segurança
interna e relações exteriores, constituirão o Sistema Brasileiro de Inteligência, na forma de ato do Presidente da República. § 1º O
Sistema Brasileiro de Inteligência é responsável pelo processo de obtenção, análise e disseminação da informação necessária ao
processo decisório do Poder Executivo, bem como pela salvaguarda da informação contra o acesso de pessoas ou órgãos não
autorizados. (...) Art. 9º A – Quaisquer informações ou documentos sobre as atividades e assuntos de inteligência produzidos, em
curso ou sob a custódia da ABIN somente poderão ser fornecidos, às autoridades que tenham competência legal para solicitá-los,
pelo Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, observado o respectivo grau de sigilo conferido
com base na legislação em vigor, excluídos aqueles cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.”
(3) Decreto 10.445/2020: “Anexo I (...) Art. 1º A Agência Brasileira de Inteligência – Abin, órgão integrante do Gabinete
de Segurança Institucional da Presidência da República, criada pela Lei 9.883, de 7 de dezembro de 1999, é órgão central do
Sistema Brasileiro de Inteligência e tem por competência planejar, executar, coordenar, supervisionar e controlar as atividades de
inteligência do País, obedecidas a política e as diretrizes estabelecidas em legislação específica. (...) § 3º Os órgãos componentes do
Sistema Brasileiro de Inteligência fornecerão à Abin, sempre que solicitados, nos termos do disposto no Decreto 4.376, de 13 de
setembro de 2002, e na legislação correlata, para fins de integração, dados e conhecimentos específicos relacionados à defesa das
instituições e dos interesses nacionais.”
(4) Lei 9.784/1999: “Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos
jurídicos, quando: (...)”
ADI 6529 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 13.8.2020. (INF 986)
O afastamento de norma legal por órgão fracionário, de modo a revelar o esvaziamento da eficácia
do preceito, implica contrariedade à cláusula de reserva de plenário e ao Enunciado 10 da Súmula
Vinculante (1).
Com esse entendimento, a Primeira Turma negou provimento a agravo regimental interposto de
decisão monocrática que, ao prover recurso extraordinário, anulou o acórdão recorrido e determinou o
retorno dos autos ao tribunal de origem, a fim de que examine a apelação como entender de direito,
observado o art. 97 da Constituição Federal (CF) (2).
Na espécie, sem obedecer à cláusula de reserva de plenário, órgão fracionário de tribunal afastou a
incidência do artigo 272 do Decreto 2.637/1998, desobrigando a ora agravante de observar o quantitativo
de cigarros por embalagem definido pelo referido decreto, tendo-o como contrário ao princípio da livre
concorrência, versado no art. 170, IV, da CF (3).
O colegiado assinalou que a pretexto de interpretar, o órgão fracionário afastou a aplicação da
norma expressa, em desrespeito ao mencionado verbete.
(1) Enunciado 10 da Súmula Vinculante: “Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, artigo 97) a decisão de órgão
fracionário de Tribunal que embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público,
afasta sua incidência, no todo ou em parte.”
(2) CF: “Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial
poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.”
(3) CF: “Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) IV – livre
concorrência;”
RE 635088 AgR-segundo/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 4.2.2020. (INF 965)
Competência privativa da União e suspensão de obrigação financeira por lei estadual - ADI
6495/RJ
Resumo:
É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do
cumprimento de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos
consignados.
Isso porque a lei estadual, ao interferir em relações obrigacionais estabelecidas entre instituições
de crédito e tomadores de empréstimos, adentrou a competência privativa da União, prevista no art. 22, I,
da Constituição Federal (CF), para legislar sobre Direito Civil, além de ofender a competência privativa
da União, prevista no art. 22, VII, da CF, para legislar sobre política de crédito.
No sistema federativo equilibrado, não podem coexistir, em princípio, normas editadas em
distintos níveis político-administrativos, que disciplinem matérias semelhantes, sob pena de gerar
assimetria e desequilíbrio.
Aplicáveis, ao caso, os mesmos fundamentos adotados nos julgamentos das ADIs 6.475 MC-
Ref/MA (1) e 6.484/RN (2), de maneira a assentar que o estado do Rio de Janeiro não poderia substituir-
se à União para determinar a suspensão do cumprimento de obrigações financeiras, ainda que mediante
lei estadual e em período tão gravoso, como o do atual surto do novo coronavírus, que atinge a todos
indiscriminadamente.
Com base nesse entendimento, o Plenário julgou procedente a ação direta para declarar a
inconstitucionalidade da Lei 8.842/2020 e, por arrastamento, do Decreto 47.173/2020, ambos do estado
do Rio de Janeiro.
(1) ADI 6475 MC-Ref/MA, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 9/11/2020.
(2) ADI 6484/RN, rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 19/10/2020.
ADI 6495/RJ, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento virtual finalizado em 20.11.2020 (INF
1000)
O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta, para
declarar a inconstitucionalidade do trecho “e 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil —
Seção RJ” (OAB/RJ) constante do art. 110 da Lei Complementar (LC) 69/1990, com a redação dada pelo
art. 4º da LC 135/2009, ambas do Estado do Rio de Janeiro (1).
O Tribunal depreendeu da leitura do preceito haver caráter impositivo na participação de
representante da OAB/RJ na composição da Corregedoria Tributária do Controle Externo, órgão
colegiado composto por três membros, a serem escolhidos pelo governador.
Aduziu ser possível que chefe do Poder Executivo estadual convide, em consenso com a OAB,
representante desta para integrar órgão da Administração. Entretanto, embora a norma questionada atenda
a pleito da OAB/RJ, lei estadual não pode impor a presença de representante de autarquia federal em
órgão da Administração Pública local.
Vencidos os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes e Ricardo Lewandowski, que julgaram
a pretensão improcedente. Consideraram inexistir obrigatoriedade, e sim possibilidade de composição
híbrida do órgão por representante da OAB/RJ, por ela própria indicado. O ministro Alexandre de Moraes
reiterou, por fim, tratar-se de seccional, que faz parte da OAB, mas dentro dos limites do Estado-membro.
(1) LC fluminense 69/1990: “Art. 110. Integra a Corregedoria Tributária de Controle Externo num Colegiado composto por
3 (três) membros, sendo 1 (um) escolhido entre Fiscais de Rendas, ativos ou aposentados, 1 (um) entre Procuradores do Estado,
ativos ou aposentados e 1 (um) representante da Ordem dos Advogados do Brasil – Seção RJ, a serem escolhidos pelo Governador
do Estado, o qual nomeará o Corregedor-Chefe da Corregedoria Tributária de Controle Externo entre aqueles, sendo que as decisões
da Corregedoria sobre sindicância e processo administrativo disciplinar serão tomadas por maioria de votos dos membros presentes
do Colegiado.”
ADI 4579/RJ, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 13.2.2020. (INF 966)
(1) Lei 13.979/2020: “Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: (...) VII –
requisição de bens e serviços de pessoas naturais e jurídicas, hipótese em que será garantido o pagamento posterior de indenização
justa; e (...) § 7º As medidas previstas neste artigo poderão ser adotadas: (...) III – pelos gestores locais de saúde, nas hipóteses dos
incisos III, IV e VII do caput deste artigo.”
(2) CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) XII –
previdência social, proteção e defesa da saúde; (...) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.”
(3) CF: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II – cuidar da
saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;”
(4) CF: “Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.”
(5) CF: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:”
(6) CF: “Art. 5º (...) XXIII – a propriedade atenderá a sua função social; (...) XXV – no caso de iminente perigo público, a
autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano; (...)
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (...) III – função social da propriedade;”
(7) LINDB: “Art. 20. Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em valores jurídicos
abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da decisão. Parágrafo único. A motivação demonstrará a
necessidade e a adequação da medida imposta ou da invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa, inclusive
em face das possíveis alternativas.”
(8) Lei 13.979/2020: “Art. 3º (...) § 1º As medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em
evidências científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no tempo e no espaço ao
mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde pública.”
ADI 6362/DF, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2.9.2020. (INF 989)
O Plenário, por maioria, referendou medida cautelar em ação direta, deferida pelo ministro Marco
Aurélio (Relator), acrescida de interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei
13.979/2020, a fim de explicitar que, preservada a atribuição de cada esfera de governo, nos termos do
inciso I do art. 198 da Constituição Federal (CF) (1), o Presidente da República poderá dispor, mediante
decreto, sobre os serviços públicos e atividades essenciais.
A ação foi ajuizada em face da Medida Provisória 926/2020, que alterou o art. 3º, caput, incisos I,
II e VI, e parágrafos 8º, 9º, 10 e 11, da Lei federal 13.979/2020 (2).
O relator deferiu, em parte, a medida acauteladora, para tornar explícita, no campo pedagógico, a
competência concorrente.
Afirmou que o caput do art. 3º sinaliza a quadra vivenciada, ao referir-se ao enfrentamento da
emergência de saúde pública, de importância internacional, decorrente do coronavírus. Mais do que isso,
revela o endosso a atos de autoridades, no âmbito das respectivas competências, visando o isolamento, a
quarentena, a restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos de entrada e saída
do País, bem como locomoção interestadual e intermunicipal.
Sobre os dispositivos impugnados, frisou que o § 8º versa a preservação do exercício e
funcionamento dos serviços públicos e atividades essenciais; o § 9º atribui ao Presidente da República,
mediante decreto, a definição dos serviços e atividades enquadráveis, o § 10 prevê que somente poderão
ser adotadas as medidas em ato específico, em articulação prévia com o órgão regulador ou o poder
concedente ou autorizador; e, por último, o § 11 veda restrição à circulação de trabalhadores que possa
afetar o funcionamento de serviços púbicos e atividades essenciais.
Assinalou que, ante o quadro revelador de urgência e necessidade de disciplina, foi editada medida
provisória com a finalidade de mitigar-se a crise internacional que chegou ao Brasil. O art. 3º, caput,
remete às atribuições, das autoridades, quanto às medidas a serem implementadas.
Não vislumbrou transgressão a preceito da Constituição. Ressaltou que as providências não
afastam atos a serem praticados por estados, o Distrito Federal e municípios considerada a competência
concorrente na forma do art. 23, inciso II, da CF (3). E, por fim, rejeitou a alegação de necessidade de
reserva de lei complementar.
O Tribunal conferiu interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei 13.979/2020,
vencidos, quanto ao ponto, o ministro relator e o ministro Dias Toffoli.
A Corte enfatizou que a emergência internacional, reconhecida pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), não implica, nem menos autoriza, a outorga de discricionariedade sem controle ou sem
contrapesos típicos do estado de direito democrático. As regras constitucionais não servem apenas para
proteger a liberdade individual e, sim, também, para o exercício da racionalidade coletiva, isto é, da
capacidade de coordenar as ações de forma eficiente.
O estado de direito democrático garante também o direito de examinar as razões governamentais e
o direito da cidadania de criticá-las. Os agentes públicos agem melhor, mesmo durante as emergências,
quando são obrigados a justificar suas ações.
O exercício da competência constitucional para as ações na área da saúde deve seguir parâmetros
materiais a serem observados pelas autoridades políticas. Esses agentes públicos devem sempre justificar
as suas ações, e é à luz dessas ações que o controle dessas próprias ações pode ser exercido pelos demais
Poderes e, evidentemente, por toda sociedade.
Sublinhou que o pior erro na formulação das políticas públicas é a omissão, sobretudo a omissão
em relação às ações essenciais exigidas pelo art. 23 da CF.
É grave do ponto de vista constitucional, quer sob o manto de competência exclusiva ou privativa,
que sejam premiadas as inações do Governo Federal, impedindo que estados e municípios, no âmbito de
suas respectivas competências, implementem as políticas públicas essenciais. O Estado garantidor dos
direitos fundamentais não é apenas a União, mas também os estados-membros e os municípios.
Asseverou que o Congresso Nacional pode regular, de forma harmonizada e nacional, determinado
tema ou política pública. No entanto, no seu silêncio, na ausência de manifestação legislativa, quer por
iniciativa do Congresso Nacional, quer da chefia do Poder Executivo federal, não se pode tolher o
exercício da competência dos demais entes federativos na promoção dos direitos fundamentais.
Assentou que o caminho mais seguro para identificação do fundamento constitucional, no
exercício da competência dos entes federados, é o que se depreende da própria legislação. A Lei
8.080/1990, a chamada Lei do SUS - Sistema Único de Saúde, dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde e assegura esse direito por meio da municipalização dos
serviços. A diretriz constitucional da hierarquização, que está no caput do art. 198 da CF, não significou
e nem significa hierarquia entre os entes federados, mas comando único dentro de cada uma dessas
esferas respectivas de governo.
Entendeu ser necessário ler as normas da Lei 13.979/2020 como decorrendo da competência
própria da União para legislar sobre vigilância epidemiológica. Nos termos da Lei do SUS, o exercício
dessa competência da União não diminui a competência própria dos demais entes da Federação na
realização dos serviços de saúde; afinal de contas a diretriz constitucional é a municipalização desse
serviço.
O colegiado rejeitou a atribuição de interpretação conforme à Constituição ao art. 3º, VI, "b", da
Lei 13.979/2020, vencidos, no ponto, os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux. Para eles, desde que
a restrição excepcional e temporária de rodovia intermunicipal seja de interesse nacional, a competência é
da autoridade federal. Porém, isso não impede, eventualmente, que o governo estadual possa determinar
restrição excepcional entre rodovias estaduais e intermunicipais quando não afetar o interesse nacional,
mas sim o interesse local.
(1) CF: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um
sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de
governo;”
(2) Lei 13.979/2020: “Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: I – isolamento;
II – quarentena (...) VI - restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional
de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos de: a) entrada e saída do País; b) locomoção interestadual e
intermunicipal; (…) § 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão resguardar o exercício e o funcionamento de
serviços públicos e atividades essenciais. 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os serviços públicos e
atividades essenciais a que se referem o § 8º. § 10. As medidas a que se referem os incisos I, II e VI do caput, quando afetarem a
execução de serviços públicos e atividades essenciais, inclusive as reguladas, concedidas ou autorizadas, somente poderão ser
adotadas em ato específico e desde que em articulação prévia com o órgão regulador ou o Poder concedente ou autorizador. § 11. É
vedada a restrição à circulação de trabalhadores que possa afetar o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais,
definidas nos termos do disposto no § 9º, e cargas de qualquer espécie que possam acarretar desabastecimento de gêneros
necessários à população.”
(3) CF: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: (...) II - cuidar da
saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;”
ADI 6341 MC-Ref/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento em
15.4.2020. (INF 973)
(1) Lei 13.979/2020: “Art. 3º Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras, as seguintes medidas: (...) VI –
restrição excepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária,
por rodovias, portos ou aeroportos de: (...) b) locomoção interestadual e intermunicipal; (...) § 6º Ato conjunto dos Ministros de
Estado da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e da Infraestrutura disporá sobre a medida prevista no inciso VI do caput. (...) § 7º
As medidas previstas neste artigo poderão ser adotadas: (...) II – pelos gestores locais de saúde, desde que autorizados pelo
Ministério da Saúde, nas hipóteses dos incisos I, II, V, VI e VIII do caput deste artigo; ou (...)”
(2) Lei 13.979/2020: “Art. 3º (...) § 1º As medidas previstas neste artigo somente poderão ser determinadas com base em
evidências científicas e em análises sobre as informações estratégicas em saúde e deverão ser limitadas no tempo e no espaço ao
mínimo indispensável à promoção e à preservação da saúde pública.”
ADI 6343 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 6.5.2020. (INF 976)
(1) CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (...) V – produção e
consumo;”
ADI 5166/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 3.11.2020 (INF 997)
Resumo:
(1) Lei 4.117/1962: “Art. 4º Para os efeitos desta lei, constituem serviços de telecomunicações a transmissão, emissão ou
recepção de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza, por fio, rádio, eletricidade,
meios óticos ou qualquer outro processo eletromagnético. Telegrafia é o processo de telecomunicação destinado à transmissão de
escritos, pelo uso de um código de sinais. Telefonia é o processo de telecomunicação destinado à transmissão da palavra falada ou
de sons”.
(2) Lei 9.472/1997: “Art. 60. Serviço de telecomunicações é o conjunto de atividades que possibilita a oferta de
telecomunicação. § 1° Telecomunicação é a transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade, meios ópticos ou qualquer
outro processo eletromagnético, de símbolos, caracteres, sinais, escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza”.
(3) ADI 1.980/DF, rel. Min. Cezar Peluso, DJe de 7.8.2009.
(4) ADI 2.832/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de 20.6.2008.
ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 27.11.2020 (INF 1000)
Ao dispor sobre a partilha de competências estatais, a Constituição Federal (CF) outorgou à União,
em caráter privativo, a prerrogativa de legislar sobre “atividades nucleares de qualquer natureza” (CF, art.
22, XXVI) (1).
Não obstante a indiscutível repercussão ambiental da utilização da energia nuclear, a própria CF
excepcionou — dentre os diversos aspectos relacionados à competência comum partilhada entre ela e os
Estados-membros e o Distrito Federal referentes à proteção ao meio ambiente e ao combate à poluição —
a disciplina normativa pertinente às atividades e instalações nucleares, cuja regulamentação está inserida
no domínio legislativo privativo da União.
Com esse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a inconstitucionalidade dos arts. 256 e
257 da Constituição do Estado do Rio Grande do Sul (2).
(1) CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XXVI - atividades nucleares de qualquer natureza;”
(2) Constituição do Estado do Rio Grande do Sul: “Art. 256. A implantação, no Estado, de instalações industriais para a
produção de energia nuclear dependerá de consulta plebiscitária, bem como do atendimento às condições ambientais e urbanísticas
exigidas em lei estadual. Art. 257. É vedado, em todo o território estadual, o transporte e o depósito ou qualquer outra forma de
disposição de resíduos que tenham sua origem na utilização de energia nuclear e de resíduos tóxicos ou radioativos, quando
provenientes de outros Estados ou Países.”
ADI 330/RS, rel. Min. Celso de Mello, julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
(1) DL 204/1967: “Art 1º A exploração de loteria, como derrogação excepcional das normas do Direito Penal, constitui
serviço público exclusivo da União não suscetível de concessão e só será permitida nos termos do presente Decreto-lei. (...) Art 32.
Mantida a situação atual, na forma do disposto no presente Decreto-lei, não mais será permitida a criação de loterias estaduais. § 1º
As loterias estaduais atualmente existentes não poderão aumentar as suas emissões ficando limitadas às quantidades de bilhetes e
séries em vigor na data da publicação dêste Decreto-lei.”
(2) CF: “Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios
desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.”
(3) CF: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.”
(4) CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XX – sistemas de consórcios e sorteios;”
(5) Enunciado 2 da Súmula Vinculante/STF: “É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha
sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.”
ADPF 492/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30.9.2020. (INF 993)
ADPF 493/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30.9.2020. (INF 993)
ADI 4986/MT, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 30.9.2020. (INF 993)
ARE 649379/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 13.11.2020. (INF 999)
(1) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;”
(2) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...) X – são invioláveis a intimidade, a vida
privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação; (...) XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de
autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso
à autoridade competente; XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;”
ADPF 722 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 19 e 20.8.2020. (INF 987)
(1) Lei 11.274/2010 do Estado de São Paulo: “Artigo 1º – Na comercialização de produtos destinados ao consumo humano
ou animal, ou ainda utilizados na agricultura, é obrigatória a presença de informação visível para os consumidores a respeito de sua
origem e procedência quando for constatada a presença de organismo transgênico em proporção igual ou superior ao limite de 1%
(um por cento), com a seguinte classificação: ‘transgênico’. §1º – Nos produtos embalados ou vendados a granel, ou ainda in
natura, nos rótulos das embalagens ou dos recipientes em que estão contidos deverá constar, em destaque, no painel principal e em
conjunto com o símbolo definido pelo Ministério da Justiça (T), umas das seguintes expressões: I – ‘(nome do produto)
transgênico’; II – ‘contém (nome do ingrediente ou ingredientes) transgênico (s)’; III – ‘produto produzido a partir de (nome do
produto) transgênico’. § 2º – O consumidor deverá ser informado sobre a espécie doadora do gene no local reservado para a
identificação dos ingredientes. § 3º – A informação determinada no §1º deste artigo também deverá constar do documento fiscal, de
modo que essa informação acompanhe o produto ou ingrediente em todas as etapas da cadeia produtiva. Artigo 2º – Os
estabelecimentos que comercializem produtos transgênicos ficam obrigados a possuir local específico para exposição destes
produtos. Parágrafo único - Os produtos transgênicos não poderão ser expostos de forma a confundir os consumidores, em relação a
produtos semelhantes não-transgênicos. Artigo 3º – Na comercialização ou transporte de produtos transgênicos, bem como dos
produtos ou ingredientes deles derivados, deverá constar, em embalagem apropriada, informação aos consumidores a respeito de sua
procedência e origem e quanto à presença de organismo transgênico. Artigo 4º – Caberá ao Centro de Vigilância Sanitária, da
Secretaria de Saúde, fiscalizar os estabelecimentos e empresas que comercializem os produtos transgênicos. Artigo 5º – Caberá à
Coordenadoria da Defesa Agropecuária, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, fiscalizar as empresas que comercializem
sementes e produtos transgênicos, assim como o transporte dos mesmos, exigindo certificado de origem e permissão de trânsito.
Artigo 6º – Os produtores e fornecedores de sementes transgênicas devem manter, para efeito de fiscalização, pelo prazo de cinco
anos, as notas fiscais ou comprovantes de compra e venda das sementes transgênicas. Artigo 7º – Os estabelecimentos comerciais,
as empresas, os produtores e os fornecedores abrangidos por esta lei terão o prazo de 180 (cento e oitenta) dias para se adequarem a
seus dispositivos. Artigo 8º – Pela infração do disposto nesta lei, sem prejuízo das penalidades previstas no Código de Defesa do
Consumidor e na legislação vigente, caberá aos órgãos fiscalizadores estaduais, conforme a gravidade da infração, adotar as
seguintes penalidades: I – advertência; II – multa até o limite de 10.000 Unidades Fiscais do Estado de São Paulo – UFESP; III -
apreensão do produto; IV - suspensão da atividade; V - cancelamento da autorização para funcionamento em âmbito estadual.
Artigo 9º – As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias próprias. Artigo 10 – Esta lei
entra em vigor na data de sua publicação. Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, aos 16 de dezembro de 2010.”
(2) Lei 11.105/2005: “Art. 40. Os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que
contenham ou sejam produzidos a partir de OGM ou derivados deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, conforme
regulamento.”
(3) Decreto 5.591/2005: “Art. 91. Os alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo humano ou animal que
contenham ou sejam produzidos a partir de OGM e seus derivados deverão conter informação nesse sentido em seus rótulos, na
forma do decreto específico.”
(4) Decreto 4.680/2003: “Art. 2º. Na comercialização de alimentos e ingredientes alimentares destinados ao consumo
humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados, com presença acima do
limite de um por cento do produto, o consumidor deverá ser informado da natureza transgênica desse produto.”
(5) CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (…) V – produção e
consumo; (…) XII – previdência social, proteção e defesa da saúde; (…) § 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência
da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados. § 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência
legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.”
(6) CF: “Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: (…) V – produção e
consumo; (...) VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico; (...) § 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados.”
ADI 4619/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
O Plenário julgou improcedente pedido formulado em ação cível originária em que a União
requereu: (a) a anulação de títulos de domínio de terras supostamente expedidos irregularmente, de modo
a recair sobre patrimônio público federal; (b) a reintegração da posse da referida área; e (c) a anulação de
todos os atos oriundos dos respectivos títulos.
A controvérsia diz respeito a uma área localizada em bairro do Município de Iperó/SP. De acordo
com a inicial, a região é parte integrante de uma gleba maior, de propriedade da União, a qual, segundo
alegado, sempre teve a posse direta, ininterrupta e efetiva da área. A gleba em questão é importante sítio
histórico, explorado pela União desde o período colonial. A área em litígio, a seu turno, foi anexada à
gleba maior em 1872. O Estado de São Paulo promoveu o alegadamente irregular loteamento da
localidade em 1939. Ajuizou ação discriminatória da área no mesmo ano, que transitou em julgado em
1958, e os respectivos títulos de propriedade foram expedidos a particulares entre 1960 e 1965. A
presente ação anulatória foi, então, ajuizada pela União em 1968.
O colegiado ressaltou, de início, que a ação não é fundada em alegação de fraude, falsidade
documental ou má-fé, e sim no domínio. Trata-se de ação anulatória com caráter reivindicatório, lastreada
na alegada falta de citação da União na referida ação discriminatória.
No que se refere ao conceito de ação discriminatória, explicou que as terras devolutas pertencem
aos Estados-membros desde a Constituição de 1891, que delas excetuava apenas a porção do território
indispensável para a defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais.
Assim se mantiveram, seja por disposição expressa, seja por exclusão das terras tidas por
indispensáveis à União para a defesa de fronteiras, fortificações, construções militares, estradas de ferro
ou a seu desenvolvimento econômico e, nos termos da Constituição vigente, também por exclusão
daquelas indispensáveis à defesa das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas
em lei.
Tal conclusão pode ser extraída do texto das Constituições de 1934, 1937, 1946, 1967, EC 1 de
1969, como o são até hoje nos termos da Constituição Federal de 1988.
A ação discriminatória tem o rito previsto na Lei 6.383/1976, que revogou a Lei 3.081/1956. À
época do ajuizamento da ação discriminatória em debate, entretanto, o diploma vigente era o Decreto
6.473/1934, do estado de São Paulo.
O objetivo da ação discriminatória é o deslinde das terras do domínio público, isto é, demarcar,
apurar, esclarecer, separar as terras que estão integradas no domínio público. A ação discriminatória
concluirá pela demarcação, que é o meio pelo qual se põe termo a todas as dúvidas divisórias, quer entre
particulares, quer entre os poderes públicos. Portanto, é a ação pela qual o poder público faz apurar e
separar suas terras das terras que estão sob o domínio de terceiros, ou apura as zonas indispensáveis à
defesa do País.
A ação discriminatória contemplava um procedimento editalício por meio do qual eram
convocados ao processo os interessados em exibir os títulos de seu domínio particular, de maneira a
permitir a demarcação das terras, o estabelecimento de uma linha de separação entre devolutas e
particulares.
Isso porque as terras devolutas não têm divisas certas, nem no solo nem nos títulos, uma vez que
se estabilizaram no domínio público por exclusão e remanescência da ocupação e do domínio particular.
O papel do Estado, então, é o de manter as terras sob seu domínio para entregá-las aos cidadãos,
aos quais caberá povoá-las e torná-las produtivas. Cumpre-lhe, portanto, validar o domínio dos posseiros.
É importante garantir segurança jurídica aos ocupantes de imóveis no Brasil. A incerteza quanto ao
domínio pode provocar conflitos fundiários e desestimular investimentos. Como consequência, as áreas
litigiosas são geralmente as menos desenvolvidas no território nacional, em decorrência do permanente e
latente conflito fundiário entre particulares e Estado.
Feitas essas considerações, o Plenário analisou as preliminares suscitadas na ação anulatória.
A primeira delas diz respeito a óbice de natureza processual, consistente no efeito negativo da
coisa julgada formada na ação discriminatória. Sustentou-se que, como os títulos foram expedidos com
lastro naquela sentença, o ato somente poderia ser atacado por meio de ação rescisória.
No ponto, o colegiado entendeu que há dois argumentos que afastam a preliminar. O primeiro
deles é que a União não foi citada nominal ou pessoalmente na ação discriminatória, o que seria
obrigatório, por ser confinante da área. Assim, a coisa julgada não constitui obstáculo à presente ação. A
ausência de citação da União não invalida o processo discriminatório, apenas afasta quanto à própria
União a eficácia da sentença. O segundo argumento é que a decisão proferida na ação discriminatória tem
cunho declaratório, e não constitutivo. Portanto, não impede a nova ação, ajuizada por quem não foi parte
na anterior.
A segunda arguição preliminar diz respeito à possibilidade de a União anular as alienações, se
subsistem as decisões na ação discriminatória.
Quanto a essa questão, considerou-se que a sentença a ser proferida nos autos desta ação
anulatória, ao eventualmente reconhecer o domínio da União, poderá se contrapor àquela proferida na
ação discriminatória, da qual a União não fez parte, para fins de cancelamento no registro de imóveis.
A terceira preliminar se refere à alegada ilegitimidade passiva de uma das partes.
No ponto, verificou-se que a gleba de sua propriedade está localizada indiscutivelmente fora do
perímetro da área em litígio.
Ao apreciar o mérito, o Tribunal enfrentou a questão do domínio da União sobre parte da área em
análise. Quanto ao tópico, concluiu que a controvérsia é pontualmente irrelevante. Tenha ou não a ação
discriminatória abarcado esse perímetro, não há elementos de prova suficientes para delimitá-lo. Não é
evidente, portanto, o domínio prévio da União sobre a área específica, sequer a própria especificidade da
área discutida.
Ademais, anotou que a segunda questão de mérito diz respeito à alegação da União no sentido que
as terras são de sua propriedade desde 1872, por anexação. O estado de São Paulo, por sua vez, alega que
se trata de terras devolutas, e, por isso, passíveis de alienação a particulares.
Apesar de inexistente, à época, qualquer registro imobiliário no sentido de se cuidar de terras
devolutas, não se exigiria prova nesse sentido, pois a regra então vigente era no sentido da presunção da
natureza devoluta dessas terras.
Assim, o colegiado entendeu pertencer à União o ônus de provar que adquiriu as terras por meio
de compra ou anexação; que as terras lhe eram úteis; e a exata individuação para fins de saber se elas
coincidem com as áreas em relação às quais o estado de São Paulo expediu os títulos que se pretende
anular.
É possível concluir que a União adquiriu terras na região, mediante compra ou anexação.
Entretanto, não há provas de que essas terras tenham sido efetivamente úteis para o suposto fim original a
que se prestariam. Além disso, não há qualquer precisão na individuação dessas terras à época da
aquisição. A União não se desincumbiu de seu ônus probatório.
Por fim, ressaltou a importância da preservação da segurança jurídica sob o ângulo subjetivo.
Hoje, a área em questão constitui bairro povoado por muitas famílias, que ali fixaram residência há anos.
A área foi edificada e urbanizada ao longo do tempo, por pessoas que agiram de boa-fé.
ACO 158/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 12.3.2020. (INF 969)
O Plenário, por maioria, em conclusão de julgamento de ação direta ajuizada contra dispositivos
da Constituição do estado de Roraima, assentou o prejuízo da ação no que atine ao § 3º do art. 46, e,
quanto aos preceitos remanescentes, julgou parcialmente procedente a pretensão para declarar: (i) a
inconstitucionalidade parcial, com redução de texto, do inciso XVIII do art. 33, retirando o trecho
controvertido e permanecendo em vigor a parte em que se mantém a escolha de 2/3 (dois terços) dos
membros do Tribunal de Contas estadual pela Assembleia Legislativa; (ii) a inconstitucionalidade do
parágrafo único do art. 62; e (iii) a nulidade parcial, com redução de texto, do art. 103, excluindo a
expressão questionada. As disposições impugnadas versam sobre indicações de conselheiros do tribunal
de contas estadual e exigência de arguição e aprovação de certas autoridade pelo Poder Legislativo
regional antes de serem nomeadas pelo chefe do Poder Executivo (Informativo 919).
Na espécie, a ação foi proposta contra: (i) o trecho “e Sétima” do § 3º do art. 46; (ii) a primeira
parte do inciso XVIII do art. 33 (“antes da nomeação, arguir os Titulares da Defensoria Pública, da
Procuradoria-Geral do Estado, das Fundações Públicas, das Autarquias, os Presidentes das Empresas de
Economia Mista”); (iii) o parágrafo único do art. 62; (iv) e a expressão “após arguição pelo Poder
Legislativo” do art. 103, todos da Constituição roraimense, com redação dada ou incluída pela Emenda
Constitucional (EC) 7/1999 daquele estado. Em 2018, houve aditamento à inicial, a fim de que as mesmas
disposições, com as alterações havidas, passassem a ser objeto da ação.
De início, o colegiado lembrou que alguns dispositivos foram alterados por emendas
constitucionais posteriores ao ajuizamento do feito.
Ato contínuo, consignou a perda superveniente do objeto relativo à composição do tribunal de
contas. Isso porque o § 3º do art. 46 foi alterado pela EC 16/2005, que adequou a norma à Constituição
Federal (CF).
A esse respeito, o ministro Roberto Barroso explicitou caber ao governador escolher três
conselheiros do tribunal de contas do estado: um dentre os auditores e outro dentre os membros do
Ministério Público, alternadamente, e um terceiro a seu critério.
No mais, a Corte compreendeu ser vedado à legislação estadual submeter à aprovação prévia da
Assembleia Legislativa a nomeação de dirigentes das autarquias e das fundações públicas, de presidentes
das empresas de economia mista e assemelhados, de interventores de municípios, bem assim dos titulares
da Defensoria Pública e da Procuradoria-Geral do Estado.
Além de não ser possível submeter à arguição do Legislativo a nomeação de titulares de fundações
e autarquias, é ilegítima a intervenção parlamentar no processo de preenchimento da direção das
entidades privadas da Administração indireta dos estados. A escolha dos dirigentes dessas empresas é
matéria inserida no âmbito do regime estrutural de cada uma delas.
Relativamente aos interventores, considerou que a CF estabelece a análise do decreto de
intervenção para serem averiguadas as condições, hipóteses, extensão, legalidade, e não para o
Legislativo verificar, mesmo a posteriori, o nome do interventor. Tanto a intervenção federal nos estados
quanto a estadual nos municípios são atos do chefe do Poder Executivo. O interventor é de sua escolha e
confiança. Essa é a divisão entre o Executivo e o Legislativo no tema.
Logo, afronta a CF a inserção da necessidade de sabatina dos interventores de municípios na
Constituição estadual. Permitir a rejeição do nome de interventor resulta, na verdade, na escolha dele pela
Assembleia Legislativa, porquanto poderá recusar sucessivamente as indicações do governador até ser
chamado alguém de seu interesse. Ademais, se entender ser questão política, o Legislativo pode rejeitar a
intervenção, o que pode caracterizar crime de responsabilidade do chefe do Executivo.
No tocante a defensor público-geral do estado, asseverou a inconstitucionalidade da exigência de
prévia sabatina. A CF atribuiu à lei complementar a competência para prescrever normas gerais das
defensorias públicas dos estados (art. 134, § 1º). A LC 80/1994 adveio e preceituou a obrigatoriedade de
aprovação do titular da Defensoria Pública da União pela maioria absoluta do Senado Federal. Não
estipulou essa necessidade aos estados, porque seguiu o mesmo modelo dos ministérios públicos, a fim de
evitar a politização da defensoria.
Consignou a inconstitucionalidade da arguição pela Assembleia Legislativa do procurador-geral
do estado, por afetar a separação dos Poderes e interferir diretamente na estrutura hierárquica do Poder
Executivo. Ela transfere ao Legislativo o controle sobre agente público, que, conforme lei orgânica,
integra o gabinete do chefe do Executivo como secretário de governo.
O ministro Roberto Barroso aduziu caber a submissão ao Legislativo, em âmbito estadual, apenas
daquilo que consta do modelo constitucional federal, sob pena de afronta à reserva de administração,
corolário da separação dos Poderes e das competências privativas do chefe do Executivo de dirigir a
Administração Pública.
Ao excluir da sabatina prévia os dirigentes das autarquias, ressalvou a situação dos membros de
agências reguladoras, que são autarquias especiais. Pela legislação, os conselheiros, no modelo federal,
são submetidos à aprovação do Poder Legislativo.
Por sua vez, a ministra Cármen Lúcia acentuou que a pequena isenção de alguns à sabatina
também obedece ao princípio da reserva de administração.
Vencidos, em parte, os ministros Ricardo Lewandowski (relator) e Edson Fachin, que declararam a
inconstitucionalidade (i) das expressões “da Procuradoria-Geral do Estado” e “dos Presidentes das
Empresas de Economia Mista, órgãos equivalentes ou assemelhados”, contidas no inciso XVIII do art. 33;
e (ii) do texto “e da Procuradoria-Geral do Estado” constante do parágrafo único do art. 62, ambos da
Constituição roraimense. De um lado, consideraram inconstitucionais os dispositivos relativos à arguição
prévia das indicações para procurador-geral do estado e de dirigentes das sociedades de economia mista e
de órgão equivalentes ou assemelhados. Do outro, reputaram ser constitucional a prévia sabatina pela
Assembleia Legislativa das nomeações do Executivo para ocupar os cargos de direção das autarquias e
das fundações públicas, bem como dos interventores nos municípios e do defensor público-geral.
Vencido, em maior extensão, o ministro Marco Aurélio, que se reportou ao voto proferido quando
do exame da medida acauteladora. Assim, avaliou não caber a submissão ao Legislativo dos dirigentes
das empresas de economia mista e dos interventores. Depreendeu que, no entanto, seria possível submeter
a escolha de titulares de outros cargos, além das indicações ligadas a autarquias, fundações públicas,
defensoria e procuradoria do estado.
ADI 2167/RR, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 3.6.2020. (INF 980)
A Segunda Turma julgou improcedente reclamação ajuizada em face de decisão proferida por juiz
de Direito nos autos de processo em trâmite no juizado de violência doméstica e familiar contra a mulher,
em que foi determinada audiência de inquirição de testemunhas com o arrolamento de advogado que
atuara no mesmo processo como patrono de sua cliente.
O reclamante alegava desrespeito ao que decidido, pela Turma, no Inq 4.296 AgR.
No ponto, o colegiado esclareceu que o acórdão paradigma manteve decisão monocrática que
autorizava a intimação de advogado para sua oitiva como testemunha no processo, de modo que não há
incompatibilidade com a decisão reclamada.
Em seguida, a Turma, por empate, concedeu habeas corpus de ofício para reconhecer a
inadmissibilidade do testemunho do advogado no processo examinado, declarando a ilicitude do ato e
determinando o desentranhamento da prova considerada inadmissível.
Explicou que, no acórdão paradigma, afirmou-se que, em princípio, a intimação do advogado para
comparecer perante a autoridade não parece em desacordo com a lei, mas ele somente poderia optar por
depor se liberado do sigilo profissional pela cliente anteriormente defendida. Assim, como naquele
momento e nos limites daquela via, inexistia comprovação da manifestação da ex-cliente sobre a questão,
manteve-se a intimação para o depoimento. Ademais, ressaltou-se que eventual invalidade do depoimento
poderia ser apreciada no futuro.
Portanto, assentou-se que o advogado somente poderia optar por depor se liberado do sigilo
profissional por sua ex-cliente. Não foi a situação que envolveu a decisão reclamada, entretanto.
Salientou que, nos termos do art. 7º, XIX, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil
(EOAB), é direito do advogado recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou
deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando
autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional.
Ademais, o sigilo profissional do advogado, externo ou interno, tal qual o do médico, é ponto
central das normas deontológicas e legais que regulam a profissão.
Desse modo, ainda que se deva estruturar um processo penal efetivo, que tenha meios para
assegurar a investigação e a produção das provas de um modo a possibilitar uma decisão mais informada
possível, existem critérios de admissibilidade de provas que se embasam em premissas fundamentais para
proteção de direitos fundamentais e contenção de abusos.
Caracterizam-se, assim, regras legais de exclusão probatória fundadas em limites lógicos, políticos
e epistemológicos, que restringem de certa maneira a busca pela verdade e a reconstrução dos fatos
passados.
Diante desse quadro, embora o sigilo profissional possa acarretar a supressão de informações
potencialmente pertinentes ao caso, trata-se de premissa fundamental para o exercício efetivo do direito
de defesa, no que diz respeito à defesa técnica.
A relação entre cliente e advogado depende de confiança, para que o réu possa descrever todos os
fatos e elementos pertinentes sem medo de que isso possa ser posteriormente contra ele utilizado.
O sigilo profissional é um direito do indivíduo ao prestar informações ao advogado para o
exercício de sua representação perante os órgãos pertinentes. Desse modo, para que o testemunho possa
ser prestado pelo profissional, faz-se necessário o consentimento válido do interessado direto na
manutenção do segredo.
Portanto, o advogado não pode testemunhar sobre fatos de que tomou conhecimento em razão de
seu ofício, como para o exercício de sua atuação profissional a partir da narração apresentada pelo cliente
e eventuais documentos por ele entregues.
Frisou que, nos termos do art. 25 do EOAB, o sigilo profissional é inerente à profissão, impondo-
se o seu respeito, salvo grave ameaça ao direito à vida, à honra, ou quando o advogado se veja afrontado
pelo próprio cliente e, em defesa própria, tenha que revelar segredo, porém sempre restrito ao interesse da
causa.
Porém, da leitura do caso em exame, depreende-se que o advogado arrolado como testemunha teve
seus poderes como patrono da interessada expressamente revogados, vedando-se sua atuação no caso.
Além disso, requereu-se que devolvesse qualquer documento relacionado ao fato que a ele tivesse sido
entregue.
Evidente, portanto, que a cliente não liberou o advogado do dever de manter o segredo profissional
sobre as informações e documentos de que teve conhecimento em razão da atuação como defensor
técnico.
A ministra Cármen Lúcia e o ministro Edson Fachin não concederam a ordem de ofício.
Rcl 37235/RR. rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 18.2.2020. (INF 967)
CNJ e CNMP: competência do STF e art. 106 do RICNJ - Pet 4770 AgR/DF; Rcl 33459
AgR/PE e ADI 4412/DF
Parte 1 -
Parte 2 -
Tese fixada:
Nos termos do artigo 102, I, “r”, da Constituição Federal (CF) (1), é competência exclusiva
do Supremo Tribunal Federal (STF) processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas
contra decisões do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Conselho Nacional do Ministério
Público (CNMP) proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente,
previstas nos artigos 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF (2).
Resumo:
Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o
CNMP no exercício de suas atividades-fim.
A Constituição não discriminou quais ações contra o CNJ e contra o CNMP seriam da alçada do
STF, do que se extrai ter procurado fixar atribuição mais ampla para a análise de tais demandas. Essa
leitura é corroborada pelo fato de que, quando pretendeu restringir a competência do Tribunal apenas às
ações mandamentais, o constituinte o fez de forma expressa.
Porém, isso não significa que a Corte deva afirmar sua competência para conhecer toda e qualquer
ação ordinária contra atos daqueles conselhos constitucionais. A regra de competência deve ser
interpretada de acordo com os fins que justificaram sua edição. A competência se justifica sempre que
indagados atos de cunho finalístico, concernentes aos objetivos precípuos de sua criação, a fim de que a
posição e a proteção institucionais conferidas ao Conselho não sejam indevidamente desfiguradas.
A outorga da atribuição ao Supremo para processar e julgar ações contra os Conselhos é
mecanismo constitucional delineado pelo legislador com o objetivo de proteger e viabilizar a atuação
desses órgãos de controle. A realização da missão constitucional ficaria impossibilitada ou seriamente
comprometida se os atos por eles praticados estivessem sujeitos ao crivo de juízos de primeira instância.
Não raramente, a atuação do CNJ recai sobre questões locais delicadas e que mobilizam diversos
interesses. O distanciamento das instâncias de controle jurisdicional é elemento essencial para o
desempenho apropriado das funções. Ademais, o órgão de controle atua em questões de abrangência
nacional que demandam tratamento uniforme e ação coordenada. Por essa razão, não poderiam ser
adequadamente enfrentadas por juízos difusos. A submissão de atos do CNJ à análise de órgãos
jurisdicionais distintos do STF representaria a subordinação da atividade da instância fiscalizadora aos
órgãos e agentes públicos por ele fiscalizados, o que subverte o sistema de controle proposto
constitucionalmente. Deve ser mantida a higidez do sistema e preservada a hierarquia e a autoridade do
órgão de controle.
O CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas
decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se tratar
de hipótese de competência originária do STF.
A previsão do art. 106 do Regimento Interno do CNJ (RICNJ) (3) decorre do exercício legítimo de
poder normativo atribuído constitucionalmente ao órgão formulador da política judiciária nacional. A
aludida norma nada mais faz do que explicitar o alcance do art. 102, I, r, da CF, impedindo que decisões
proferidas ao arrepio das regras constitucionais de competência — portanto, flagrantemente nulas —
comprometam o bom desempenho das atribuições do CNJ. Permitir que decisões administrativas do CNJ
sejam afastadas liminarmente por órgãos absolutamente incompetentes implicaria, indiretamente, a
inviabilização do exercício de suas competências constitucionais.
Na espécie, cuida-se de exame conjunto de feitos relativos ao CNJ e ao CNMP. Na assentada,
houve alteração da jurisprudência do STF. Em suma, nos autos autuados como petição, trata-se de ação
ordinária que visa à desconstituição de decisão do CNJ na qual declarada a vacância de serventia de
registro de imóveis provida sem concurso público. O agravo foi interposto de pronunciamento em que
ministro do STF declinou da competência. No caso da reclamação, o ato decisório recorrido afirmou a
inexistência de usurpação de competência do STF para apreciar ação ordinária na qual pretendida a
declaração de nulidade de sanção disciplinar aplicada, pelo CNMP, a membro do Parquet. Já a ação
direta de inconstitucionalidade foi deduzida em face do art. 106 do RICNJ.
Em conclusão de julgamento conjunto, o Plenário, por maioria, deu provimento ao agravo
regimental em petição e reconheceu a competência do STF para processar e julgar a causa. Igualmente em
votação majoritária, deu provimento ao agravo em reclamação, assentando que compete ao STF processar
e julgar ação ajuizada em face da União para discutir ato praticado pelo CNMP a envolver processo
disciplinar. Do mesmo modo, julgou improcedente o pedido formulado na ação direta, declarando a
constitucionalidade do art. 106 do Regimento Interno do CNJ, na redação dada pela Emenda Regimental
1/2010. Por consequência, confirmou a medida cautelar anteriormente concedida, determinando a
remessa imediata ao STF de todas as ações ordinárias em trâmite na justiça federal que impugnem atos do
CNJ praticados no âmbito de suas competências constitucionais estabelecidas no art. 103-B, § 4º, da CF.
Em todos os feitos, ficaram vencidos a ministra Rosa Weber (relatora da reclamação) e o ministro Marco
Aurélio. Vencidos também o ministro Edson Fachin na reclamação e o ministro Nunes Marques na ação
do controle concentrado de constitucionalidade.
(1) CF: “Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I –
processar e julgar, originariamente: (...) r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do
Ministério Público;”
(2) CF: “Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos,
admitida 1 (uma) recondução, sendo: (...) § 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder
Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas
pelo Estatuto da Magistratura: I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura,
podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; II – zelar pela observância do
art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do
Poder Judiciário, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; III – receber e conhecer das reclamações contra
membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços
notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e
correicional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar
outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a
administração pública ou de abuso de autoridade; V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e
membros de tribunais julgados há menos de um ano; VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças
prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; VII – elaborar relatório anual, propondo as
providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar
mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão
legislativa. (...) Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente
da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma
recondução, sendo: (...) § 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira
do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo lhe: I – zelar pela autonomia funcional e
administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar
providências; II – zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos
administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los
ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos
Tribunais de Contas; III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos
Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo
avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção ou a disponibilidade e aplicar outras sanções administrativas,
assegurada ampla defesa; IV – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério
Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano; V – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar
necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no
art. 84, XI.”
(3) RICNJ: “Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no artigo anterior, o
imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal.”
Pet 4770 AgR/DF, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 18.11.2020 (INF 1000)
Rcl 33459 AgR/PE, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
18.11.2020 (INF 1000)
ADI 4412/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 18.11.2020 (INF 1000)
(1) MP 927/2020: “Art. 29. Os casos de contaminação pelo coronavírus (covid-19) não serão considerados ocupacionais,
exceto mediante comprovação do nexo causal. (...) Art. 31. Durante o período de cento e oitenta dias, contado da data de entrada
em vigor desta Medida Provisória, os Auditores Fiscais do Trabalho do Ministério da Economia atuarão de maneira orientadora,
exceto quanto às seguintes irregularidades: I – falta de registro de empregado, a partir de denúncias; II – situações de grave e
iminente risco, somente para as irregularidades imediatamente relacionadas à configuração da situação; III – ocorrência de acidente
de trabalho fatal apurado por meio de procedimento fiscal de análise de acidente, somente para as irregularidades imediatamente
relacionadas às causas do acidente; e IV – trabalho em condições análogas às de escravo ou trabalho infantil.”
ADI 6342 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
ADI 6344 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
ADI 6346 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
ADI 6348 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
ADI 6349 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
ADI 6352 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
ADI 6354 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 29.4.2020. (INF 975)
Prerrogativa de foro: defensor público e procurador de estado - ADI 6501 Ref-MC/PA; ADI
6508 Ref-MC/RO; ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-MC/AL
ODS 16
Resumo:
ADI 6501 Ref-MC/PA, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.11.2020
(INF 1000)
ADI 6508 Ref-MC/RO, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.11.2020
(INF 1000)
ADI 6515 Ref-MC/AM, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.11.2020
(INF 1000)
ADI 6516 Ref-MC/AL, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 20.11.2020
(INF 1000)
Partidos políticos: apoiamento de eleitores não filiados e limites para criação, fusão e
incorporação - ADI 5311/DF
Frisou que a liberdade na formação dos partidos há de se conformar ao respeito aos princípios
democráticos, competindo à Justiça Eleitoral a conferência dos pressupostos constitucionais legitimadores
desse processo, sem os quais o partido político, embora tecnicamente criado, não se legitima.
Reconheceu que o advento das normas impugnadas se justifica pela multiplicação de legendas que
não têm substrato de eleitores a legitimá-las e a inequívoca comprovação de formações sem partido com
força para atuar em cenários decisórios. As divulgadas “bancadas” são compostas por ideologias não
representadas por partidos, mas com força decisória inegável.
Observou que são formalizadas agremiações intituladas partidos políticos, e assim são
objetivamente, mas sem substrato eleitoral consistente e efetivo, que atuam como subpartidos ou
organismos de sustentação de outras pessoas partidárias, somando ou subtraindo votos para se chegar a
resultados eleitorais pouco claros ou até mesmo fraudadores da vontade dos eleitores.
Tais legendas habilitam-se a receber parcela do fundo partidário, disputam tempo de televisão, mas
não para difundir ideias e programas. Restringem-se a atuar como nomes sob os quais atuam em
deferência a outros interesses partidários. E, ainda mais grave, para obter vantagens particulares, em
especial para os dirigentes. Ao assinarem fichas de apoio à criação desses partidos, não poucas vezes os
eleitores sequer sabem da condição conivente, porque não valorizam a assinatura cidadã com a mesma
seriedade, compromisso e responsabilidade em que atuam como quando assinam documento financeiro.
A proliferação partidária que se tem atualmente no Brasil agrava-se com a mesma rapidez com que
avançam mecanismos tecnológicos, servis ao acesso e à coleta massiva de assinaturas para apoio a
criações de legendas, não se exigindo dos subscritores responsabilidade ou compromisso, sequer a certeza
de sua identidade.
A imperatividade de urgente legitimação dos partidos também decorre do acesso ao fundo
partidário, dinheiro público a que fazem jus as agremiações reconhecidas, porque registrados os estatutos
no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Salientou que hoje o sistema partidário é garantido por considerável soma de recursos públicos,
quando não de recursos obtidos de forma nada republicana.
Sublinhou que o direito à oposição partidária interna, a ser garantido aos filiados como corolário
da plena cidadania, há que ser exercido em benefício e segundo o ideário, o fortalecimento e o
cumprimento do programa do partido.
A limitação criada pela norma impugnada quanto ao apoio para a criação de novos partidos,
restrito aos cidadãos sem filiação partidária, assim, conforma-se com o regramento constitucional relativo
ao sistema representativo, garantindo-lhe maior coesão e coerência.
Também a exigência temporal para se levarem a efeito fusões e incorporações entre partidos,
assegura o atendimento do compromisso do cidadão com o que afirma como sua opção partidária,
evitando-se o estelionato eleitoral ou a reviravolta política contra o apoiamento dos eleitores então
filiados.
Ao estabelecer novas condições para a criação, fusão e incorporação de partidos políticos, as
normas eleitorais definiram discrímens a serem analisados sob o parâmetro da legitimidade
representativa, fundamento do modelo partidário.
Pontuou que, pela norma, se distinguem cidadãos filiados e não filiados para o exclusivo efeito de
conferência de legitimidade do apoio oferecido à criação de novos partidos políticos. O objetivo único é a
garantia de coesão, coerência e substância ao modelo representativo instrumentalizado pela atuação
partidária. Trata-se, portanto, de cidadãos distintos no exercício cívico livre quanto às opções políticas.
Constitucionalmente livres, não são civicamente irresponsáveis nem descomprometidos com as escolhas
formalizadas.
O descompromisso com a atuação política cobra caro em termos de política legítima e de
realização democrática e atinge todos na sociedade estatal. A disseminação de práticas antidemocráticas,
como a compra e venda de votos, o aluguel de cidadãos e de partidos inteiros e os indesejáveis efeitos de
band-wagon (saltar para a carruagem dos mais fortes) e de under-dog (optar pelos marginais), pode e
deve ser pronta e cuidadosamente combatida pelo legislador, sem prejuízo da autonomia partidária, a ser
garantida em benefício da legitimação da representação democrática e não para a sua anulação.
As normas impugnadas tendem a enfraquecer essa lógica mercantilista e nada republicana de se
adotar prática política.
A Constituição da República garante a liberdade para a criação, fusão, incorporação e extinção de
partidos políticos, a eles assegurando a autonomia. Mas não há liberdade absoluta. Também não se tem
autonomia sem limitação.
As normas legais impugnadas não afetam, reduzem ou condicionam a autonomia partidária,
porque o espaço de atuação livre dos partidos políticos conforma-se a normas jurídicas postas para a
definição das condições pelas quais se pode dar a criação, ou recriação por fusão ou incorporação, de
partido sem intervir no seu funcionamento interno.
Vencido o ministro Dias Toffoli, que julgou procedente o pedido.
(1) Lei 13.107/2015: “Art. 2º Os arts. 7º, 29 e 41-A da Lei no 9.096, de 19 de setembro de 1995, passam a vigorar com as
seguintes alterações: ‘Art. 7º (...) § 1º Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional,
considerando-se como tal aquele que comprove o apoiamento de eleitores não filiados a partido político, correspondente a, pelo
menos, 0,5% (cinco décimos por cento) dos votos dados na última eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os
votos em branco e os nulos, distribuídos por 1/3 (um terço), ou mais, dos Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo por cento)
do eleitorado que haja votado em cada um deles’ (...) ‘Art.29 (...) § 9º Somente será admitida a fusão ou incorporação de partidos
políticos que hajam obtido o registro definitivo do Tribunal Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 (cinco) anos’”.
ADI 5311/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 4.3.2020. (INF 968)
Resumo:
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais
e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos; (...) § 12. Para os
fins do disposto no inciso XI do caput deste artigo, fica facultado aos Estados e ao Distrito Federal fixar, em seu âmbito, mediante
emenda às respectivas Constituições e Lei Orgânica, como limite único, o subsídio mensal dos Desembargadores do respectivo
Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, não se aplicando o disposto neste parágrafo aos subsídios dos Deputados Estaduais e Distritais e dos Vereadores.”
(2) CF: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios: (...) V – o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por
cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão
fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não
podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por
cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos arts. 37, XI, e 39, §
4º;”
(3) Resolução CNJ 13/2006: “Art. 2º Nos órgãos do Poder Judiciário dos Estados, o teto remuneratório constitucional é o
valor do subsídio de Desembargador do Tribunal de Justiça, que não pode exceder a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco
centésimos por cento) do subsídio mensal de Ministro do Supremo Tribunal Federal.”
(4) Resolução CNJ 14/2006: “Art. 1º (...) Parágrafo único. Enquanto não editadas as leis estaduais referidas no art. 93,
inciso V, da Constituição Federal, o limite remuneratório dos magistrados e servidores dos Tribunais de Justiça corresponde a
90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) do teto remuneratório constitucional referido no caput, nos termos
do disposto no art. 8º da Emenda Constitucional 41/2003.”
(5) ADI 3.854 MC/DF, rel. Min. Cezar Peluso, Plenário, DJe de 29.6.2007.
ADI 3854/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020. (INF 1001)
ADI 4014/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020. (INF 1001)
A Segunda Turma, ante o empate na votação, deu provimento a agravo regimental para determinar
a devolução dos autos à Justiça Eleitoral.
No caso, a investigação em curso foi inicialmente instaurada no âmbito do Supremo Tribunal
Federal (STF), com o propósito de, a partir de dados revelados em acordo de colaboração premiada,
apurar possível realização de pagamentos indevidos a partidos políticos, objetivando propiciar maior
tempo de propaganda televisiva na campanha eleitoral de 2014 (Inq 4.432).
Na sequência, em razão de superveniente perda da prerrogativa de foro do investigado e de decisão
proferida no âmbito da PET 7.569, determinou-se a remessa dos autos do inquérito à Justiça Eleitoral, por
associarem-se os fatos com suposta prática de delito eleitoral. Em seguida, ao acolher manifestação do
Ministério Público Eleitoral (MPE), a autoridade reclamada ordenou o arquivamento do inquérito
instaurado em relação à suposta prática de crime eleitoral previsto no art. 350 do Código Eleitoral (CE),
por ausência de justa causa, e declinou da competência em favor da Justiça Federal, para processamento e
julgamento dos crimes comuns remanescentes.
Contra essa decisão, foi ajuizada a presente reclamação.
O ministro Edson Fachin (relator), ao negar seguimento à reclamação, por meio de decisão
monocrática, afirmou, em suma, que o superveniente arquivamento da investigação referente à infração
afeta aos interesses eleitorais, promovido a pedido do MPE e objeto da devida chancela pelo juízo
competente, acarreta legítima modificação processual apta, em tese, a repercutir na definição de
competência, sem que tal proceder, por si, constitua afronta à autoridade da decisão reclamada. A decisão
foi objeto de impugnação por agravo regimental.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes que, acompanhado do ministro Ricardo
Lewandowski, deu provimento ao agravo regimental.
Para o ministro, houve violação à autoridade da decisão do STF proferida nos autos do Inquérito
4.432, uma vez que as instâncias inferiores não observaram as diretrizes que resultaram na definição da
competência da Justiça Eleitoral para apuração e processamento dos fatos.
Ressaltou, ademais, que o MPE promoveu o arquivamento dos delitos previstos no art. 350 do CE
imediatamente após o recebimento dos autos, não tendo sequer empreendido qualquer diligência
investigativa para apurar os indícios de tais crimes.
Além disso, o Juízo Eleitoral arquivou o inquérito e remeteu os autos à Justiça Federal, mesmo
diante da expressa decisão dessa Corte que fixou sua competência para supervisão dos fatos. As
instâncias inferiores, portanto, ignoraram os termos da decisão reclamada, que assentou a competência da
Justiça Eleitoral para o processamento e a apuração dos fatos em questão.
Os ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia negaram provimento ao agravo regimental.
Rcl 34805 AgR/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
1º.9.2020. (INF 989)
Resumo:
A fixação de limite etário, máximo e mínimo, como requisito para o ingresso na carreira da
magistratura viola o disposto no artigo 93, I, da Constituição Federal (CF) (1).
Isso porque em assuntos diretamente relacionados à magistratura nacional, como as condições para
investidura no cargo, a disciplina da matéria deve ser versada pela CF ou pelo Estatuto da Magistratura
(LOMAN), não podendo lei ordinária federal inovar e prever norma de caráter restritivo ao ingresso na
magistratura que não encontra pertinência nos citados diplomas normativos. Os preceitos constitucionais
e as disposições da LOMAN não estabelecem a idade como requisito para o acesso ao cargo, de modo
que a ausência de previsão normativa nesse sentido não autoriza que os Estados-membros disciplinem a
matéria.
Cabe lembrar que a CF não exige idade mínima para o ingresso na magistratura, mas tão somente
o cumprimento do requisito de “três anos de atividade jurídica” ao bacharel em direito (CF, art. 93, I).
Ademais, o estabelecimento de um limite máximo de idade para investidura em cargo, cujas
atribuições são de natureza preponderantemente intelectual, contraria o entendimento sintetizado no
Enunciado da Súmula 683 do STF, no sentido de que restrições desse tipo somente se justificam em vista
de necessidade relacionada às atribuições do cargo, como ocorre em carreiras militares ou policiais.
Com esse entendimento, o Plenário, por maioria, julgou procedente pedido formulado em ação
direta de inconstitucionalidade e declarou a inconstitucionalidade do art. 52, V, da Lei 11.697/2008 (2),
que dispõe sobre a organização judiciária do Distrito Federal e Territórios, por estabelecer, como
requisito para o ingresso na carreira da magistratura, entre outras condições, que o candidato tenha entre
25 e 50 anos de idade, vencido o Ministro Marco Aurélio (Relator), que julgava parcialmente procedente
o pedido.
(1) CF: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios: I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de
provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no
mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação”.
(2) Lei 11.697/2008: “Art. 52. O ingresso na Carreira da Magistratura dar-se-á nos cargos de Juiz de Direito Substituto do
Distrito Federal ou de Juiz de Direito dos Territórios e dependerá de concurso de provas e títulos realizado pelo Tribunal de Justiça,
com a participação do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil do lugar em que se realizarem as provas, exigindo-se
dos candidatos que satisfaçam os seguintes requisitos: V – ter mais de 25 (vinte e cinco) e menos de 50 (cinquenta) anos de idade,
salvo quanto ao limite máximo, se for magistrado ou membro do Ministério Público”.
ADI 5329/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, rel. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
virtual finalizado em 14.12.2020 (INF 1002)
(1) Constituição do estado de São Paulo: “Art. 62 – O Presidente e o 1º Vice-Presidente do Tribunal de Justiça e o
Corregedor Geral da Justiça, eleitos, a cada biênio, pela totalidade dos Desembargadores, dentre os integrantes do órgão especial,
comporão o Conselho Superior da Magistratura.”
(2) LC 35/1979: “Art. 102 – Os Tribunais, pela maioria dos seus membros efetivos, por votação secreta, elegerão dentre
seus Juízes mais antigos, em número correspondente ao dos cargos de direção, os titulares destes, com mandato por dois anos,
proibida a reeleição. Quem tiver exercido quaisquer cargos de direção por quatro anos, ou o de Presidente, não figurará mais entre
os elegíveis, até que se esgotem todos os nomes, na ordem de antiguidade. É obrigatória a aceitação do cargo, salvo recusa
manifestada e aceita antes da eleição. Parágrafo único – O disposto neste artigo não se aplica ao Juiz eleito, para completar.”
(3) CF: “Art. 96. Compete privativamente: I – aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos
internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o
funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos.”
(4) CF: “Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira.”
ADI 3976/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 25.6.2020. (INF 983)
MS 32451/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 25.6.2020. (INF 983)
3.23 PRECATÓRIO
Durante o período previsto no § 1º do art. 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre
os precatórios que nele sejam pagos.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por maioria, deu provimento a embargos de
divergência para, reformando o acórdão embargado, dar provimento ao recurso extraordinário.
O colegiado afirmou que não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da
expedição do precatório e seu efetivo pagamento, desde que realizado no prazo estipulado
constitucionalmente. Esclareceu, ademais, que a tese foi enunciada no Verbete 17 da Súmula Vinculante
do Supremo Tribunal Federal (STF).
Vencidos os ministros Marco Aurélio, Edson Fachin e Rosa Weber que negaram provimento aos
embargos de divergência. O ministro Marco Aurélio pontuou que a Constituição é explícita ao revelar
que, muito embora se tenha o prazo dilatado de 18 meses para a liquidação do débito, esse débito deve ser
satisfeito tal como se contém, ou seja, atualizado, para não ser diminuído pelos efeitos da inflação, e
também acrescido dos juros da mora.
RE 594892 AgR-ED-EDv/RS, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 1.7.2020. (INF 984)
ADI 5599/DF, rel. min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 23.10.2020. (INF 996)
3.25 RECLAMAÇÃO
A Segunda Turma, por maioria, desproveu agravo regimental interposto contra decisão que negou
seguimento a reclamação em que se apontava desrespeito à autoridade da decisão proferida pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) na ADPF 130.
No caso, a reclamante alegava que o juízo reclamado, ao desautorizar entrevista jornalística com
custodiado, teria incorrido em censura prévia, em afronta aos arts. 5º, IX e XIV, e 220 da Constituição
Federal (CF) (1).
O colegiado apontou inexistir similitude entre o decidido no ato reclamado e o assentado pelo STF
na citada ADPF 130, e ressaltou a impossibilidade de se utilizar a reclamação como sucedâneo recursal
ou atalho processual.
Observou que o tribunal reclamado não se fundamentou em nenhum dispositivo da Lei de
Imprensa. Depreende-se do julgado que não houve restrição à liberdade de imprensa, nem qualquer
espécie de censura prévia ou de proibição de circulação de informações que configure ofensa ao
assentado pela corte na ADPF.
Com efeito, o juízo a quo, ao analisar a situação fática, destacou a importância da proteção das
investigações e da prevenção de possíveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio,
além da necessidade de proteção do próprio custodiado, cuja sanidade mental ainda era discutível.
Concluiu, diante dessas ponderações, que, pelo menos naquele momento, a realização da entrevista
pleiteada não seria adequada.
(1) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos
seguintes: (...) IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura
ou licença; (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício
profissional; (...) Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou
veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.”
(2) Lei 13.146/2015: “Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua capacidade legal em
igualdade de condições com as demais pessoas. (...) Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da
pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do
interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo
Civil.”
Rcl 32052 AgR/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.4.2020. (INF 973)
Conflito Federativo: corte de benefício do Bolsa Família e isonomia - ACO 3359 Ref-MC/DF
O Plenário referendou medida cautelar em ação cível originária para que a União disponibilize
dados que justifiquem a concentração de cortes de benefícios do Programa Bolsa Família na Região
Nordeste, bem assim que, em consonância com o art. 19, III, da Constituição Federal (CF) (1), dispense
aos inscritos nos estados autores tratamento isonômico em relação aos beneficiários dos demais entes da
Federação. Além disso, referendou medida para determinar a suspensão de cortes no Programa, enquanto
perdurar o estado de calamidade pública, e assentar que a liberação de recursos para novas inscrições seja
uniforme considerados os estados da Federação.
No caso, os autores ajuizaram ação cível originária, com pedido de tutela provisória, para que (a) a
União seja compelida a apresentar dados que justifiquem a concentração, na Região Nordeste, de cortes
de novos benefícios do Programa Bolsa Família, e (b) seja conferido tratamento isonômico aos entes da
Federação.
O ministro Marco Aurélio (relator), ao deferir a medida cautelar, reconheceu a competência do
Supremo Tribunal Federal (STF) para julgamento da ação, ante a presença da União e dos estados em
polos opostos da lide e, a par disso, de conflito apto a causar risco à estabilidade do pacto federativo.
Salientou que o Programa Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda, voltado a
famílias de todo o País, de modo a fazer frente a situação de pobreza e vulnerabilidade.
Observou que o benefício está previsto no art. 2º, I a IV, da Lei 10.836/2004 (2) e não apresenta
qualquer restrição atinente a região ou estado.
Destacou que não se valora a extrema pobreza conforme a unidade da Federação, devendo haver
isonomia no tratamento, tendo em conta o objetivo constitucional de erradicação da pobreza e redução
das desigualdades sociais, a teor dos arts. 3º, II e III (3), 19, III, 203 e 204 da CF, bem como da Lei
10.836/2004.
Para o ministro, não se pode conceber comportamento discriminatório da União em virtude do
local de residência de brasileiros em idêntica condição. A diferença numérica aludida pelos autores
sinaliza desequilíbrio tanto na concessão de novos benefícios quanto na liberação dos recursos para
aqueles já inscritos na Região Nordeste.
(1) CF: “Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: (...) III – criar distinções entre
brasileiros ou preferências entre si.”
(2) Lei 10.836/2004: “Art. 2º Constituem benefícios financeiros do Programa, observado o disposto em regulamento: I – o
benefício básico, destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de extrema pobreza; II – o benefício variável,
destinado a unidades familiares que se encontrem em situação de pobreza e extrema pobreza e que tenham em sua composição
gestantes, nutrizes, crianças entre 0 (zero) e 12 (doze) anos ou adolescentes até 15 (quinze) anos, sendo pago até o limite de 5
(cinco) benefícios por família; III – o benefício variável, vinculado ao adolescente, destinado a unidades familiares que se
encontrem em situação de pobreza ou extrema pobreza e que tenham em sua composição adolescentes com idade entre 16
(dezesseis) e 17 (dezessete) anos, sendo pago até o limite de 2 (dois) benefícios por família. IV – o benefício para superação da
extrema pobreza, no limite de um por família, destinado às unidades familiares beneficiárias do Programa Bolsa Família e que,
cumulativamente: a) tenham em sua composição crianças e adolescentes de 0 (zero) a 15 (quinze) anos de idade; e b) apresentem
soma da renda familiar mensal e dos benefícios financeiros previstos nos incisos I a III igual ou inferior a R$ 70,00 (setenta reais)
per capita.”
(3) CF: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) II – garantir o desenvolvimento
nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;”
ACO 3359 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 5.8.2020. (INF 985)
ADO 56/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
30.4.2020. (INF 975)
(1) CF: “Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos
Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais
Superiores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição. § 1º São de
iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...) II - disponham sobre: a) criação de cargos, funções ou empregos
públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;”
RE 626946/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) XX – depende de autorização legislativa, em cada caso, a criação de subsidiárias das entidades mencionadas no
inciso anterior, assim como a participação de qualquer delas em empresa privada;”
(2) Lei 9.478/1997: “Art. 64. Para o estrito cumprimento de atividades de seu objeto social que integrem a indústria do
petróleo, fica a PETROBRAS autorizada a constituir subsidiárias, as quais poderão associar-se, majoritária ou minoritariamente, a
outras empresas.”
Rcl 42576 MC/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 30.9 e 1º.10.2020. (INF 993)
Tese fixada:
Verbas estaduais não podem ser objeto de bloqueio, penhora e/ou sequestro para pagamento
de valores devidos em ações trabalhistas, ainda que as empresas reclamadas detenham créditos a
receber da administração pública estadual, em virtude do disposto no art. 167, VI e X, da CF, e do
princípio da separação de poderes (art. 2º da CF).
Resumo:
ADPF 485/AP, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF 1001)
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) XI – a remuneração e o subsídio dos ocupantes de cargos, funções e empregos públicos da administração direta,
autárquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
detentores de mandato eletivo e dos demais agentes políticos e os proventos, pensões ou outra espécie remuneratória, percebidos
cumulativamente ou não, incluídas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza, não poderão exceder o subsídio mensal, em
espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municípios, o subsídio do Prefeito, e nos
Estados e no Distrito Federal, o subsídio mensal do Governador no âmbito do Poder Executivo, o subsídio dos Deputados Estaduais
e Distritais no âmbito do Poder Legislativo e o subsídio dos Desembargadores do Tribunal de Justiça, limitado a noventa inteiros e
vinte e cinco centésimos por cento do subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, no âmbito do Poder
Judiciário, aplicável este limite aos membros do Ministério Público, aos Procuradores e aos Defensores Públicos;”
(1) CF: “Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e
pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. § 1º O controle externo da Câmara Municipal
será exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município ou dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municípios, onde houver.”
(2) CF: “Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle externo, e
pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. (...) § 4º É vedada a criação de Tribunais,
Conselhos ou órgãos de Contas Municipais.”
(3) CF: “Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização, composição e fiscalização
dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios”.
ADI 346/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.6.2020. (INF 980)
ADI 4776/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.6.2020. (INF 980)
3.31 TRIBUTOS
RE 570122/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento em
2.9.2020. (INF 989)
CF, art. 7º, XXXIII: EC 20/1998 e idade mínima para o trabalho - ADI 2096/DF
Resumo:
A norma fundada no art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal (CF) (1), na alteração que lhe
deu a Emenda Constitucional (EC) 20/1998, tem plena validade constitucional. Logo, é vedado
“qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de
quatorze anos”.
O texto constitucional atribui à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar, às crianças e
aos adolescentes, em atenção e respeito à sua peculiar condição de pessoa em desenvolvimento, as
condições materiais, afetivas, sociais e psicológicas necessárias ao acesso e à proteção ao direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária. Também lhes incumbe o dever de colocar a criança e o
adolescente a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão [CF, art. 227 (2)].
Atendendo às diretrizes de caráter protetivo fundadas no art. 227, a EC 20/1998 modificou os
critérios etários que definem a idade mínima para o regular início de atividades laborais. No desempenho
de seu poder reformador, o Congresso Nacional proibiu a exploração de natureza estritamente econômica
do trabalho infantil. As sequelas físicas, emocionais e sociais infligidas à criança e ao adolescente em
decorrência da exploração do trabalho infantil, justificam a proteção especial e prioritária destinada a esse
grupo vulnerável.
A temática referente ao trabalho infantil é objeto de diversos instrumentos convencionais no plano
internacional, notadamente a Convenção 138 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)
(Convenção sobre Idade Mínima de Admissão ao Emprego, 1973) e a Convenção 182 da OIT
(Convenção sobre a Proibição das Piores Formas de Trabalho Infantil, 1999), ambas formalmente
incorporadas ao direito positivo interno. Perante a Organização das Nações Unidas (ONU), o Brasil
assumiu o compromisso de erradicar todas as formas de trabalho infantil até 2025 [Meta 8.7 da Agenda
2030 para o Desenvolvimento Sustentável (3)].
A elevação da idade mínima para o trabalho do adolescente promovida pela EC 20/1998, além
estar em plena conformidade com os princípios e diretrizes que orientam a doutrina da proteção integral
— diretriz estruturante da CF de 1988 (art. 227) — acha-se, ainda, em harmonia com os objetivos e os
postulados fundamentais da República [CF, art. 3º, IV (4)] e com os princípios básicos extraídos da
ordem jurídica internacional.
Ademais, a cláusula que proíbe o retrocesso em matéria social traduz, no processo de sua
concretização, verdadeira dimensão negativa pertinente aos direitos sociais, impedindo, em consequência,
que os níveis de concretização dessas prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser reduzidos,
degradados ou suprimidos.
Trata-se, na espécie, de ação direta de inconstitucionalidade ajuizada contra a parte final do inciso
XXXIII do art. 7º da CF, na redação dada pela EC 20/1998. A confederação requerente buscava o
restabelecimento do texto anterior do dispositivo constitucional, que determinava a “proibição de trabalho
noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de quatorze
anos, salvo na condição de aprendiz”.
O Plenário julgou o pedido improcedente e confirmou a validade da norma questionada.
(1) CF: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição
social: (...) XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de
dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos;”
(2) CF: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.”
(3) Agenda 2030/ONU: “8.7 Tomar medidas imediatas e eficazes para erradicar o trabalho forçado, acabar com a
escravidão moderna e o tráfico de pessoas e assegurar a proibição e eliminação das piores formas de trabalho infantil, incluindo
recrutamento e utilização de crianças-soldado, e até 2025 acabar com o trabalho infantil em todas as suas formas”
(4) CF: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...) IV – promover o bem de todos,
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.”
ADI 2096/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento virtual em 9.10.2020. (INF 994)
5. DIREITO ELEITORAL
5.1 ELEIÇÃO
Resumo:
A ausência do título de eleitor no momento da votação não constitui, por si só, óbice ao
exercício do sufrágio.
O art. 91-A da Lei 9.504/1997, com a redação dada pela Lei 12.034/2009, e o art. 47, § 1º, da
Resolução 23.218/2010 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o objetivo de combater a fraude
eleitoral, determinaram, para o exercício do sufrágio, a apresentação concomitante do título eleitoral e de
documento oficial com foto.
Com o advento da biometria, no entanto, a discussão quanto à utilização de documentos de
identificação diversos da biometria perdeu força, mas não foi de todo esvaziada. Há situações em que os
eleitores serão identificados pelo modo tradicional, mediante apresentação de documento com foto: (a)
eleitores ainda não cadastrados biometricamente; (b) inviabilização na utilização da biometria no dia da
votação, por indisponibilidade momentânea ou ocasional do sistema ou impossibilidade de leitura das
informações datiloscópicas do eleitor (impressão digital); ou (c) para o eleitorado geral, em situações
excepcionais, como a que ocorre nas eleições municipais de 2020, ante o cenário deflagrado pela
pandemia da Covid-19.
A análise da questão, sob o prisma do princípio da proporcionalidade, revela que o documento
oficial com foto para identificação do eleitor é medida suficiente e adequada para garantir a autenticidade
do voto, sendo desnecessária a exigência do título. Embora se reconheça que as reformas legislativas
provocaram avanços significativos no sistema eleitoral, na hipótese vertente, o mecanismo imaginado
para frear as investidas fraudulentas criou óbice desnecessário ao exercício do voto pelo eleitor. Isso
porque, com a imposição da limitação, alguns eleitores, regularmente alistados, seriam alijados de
participar do processo eleitoral caso não estivessem portando o título eleitoral no dia da votação, com
eventuais reflexos na soberania popular e no próprio processo democrático.
Aplicável à hipótese, ademais, a “proibição do retrocesso”, uma vez que já conquistado pela
sociedade o direito à autenticidade do voto, mediante a identificação do eleitor pela biometria, bem assim,
de forma secundária, por documento com fotografia, a afastar qualquer entendimento segundo o qual a
ausência do título eleitoral, no momento da votação, impede o exercício do voto.
Com base nesse entendimento, o Plenário confirmou medida cautelar e julgou procedente pedido
formulado em ação direta para conferir interpretação conforme à Constituição aos arts. 91-A da Lei
9.504/1997 e 47, § 1º, da Resolução TSE 23.218/2010.
ADI 4467/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 19.10.2020. (INF 995)
É constitucional, à luz dos arts. 1º, I e parágrafo único, 5º, LIV, e 14, caput e § 9º, da Constituição
da República, o § 3º do art. 224 do Código Eleitoral, com a redação dada pela Lei 13.165/2015, no que
determina a realização automática de novas eleições, independentemente do número de votos anulados,
sempre que o candidato eleito, em pleito majoritário, for desclassificado, por indeferimento do registro de
sua candidatura, ou em virtude de cassação do diploma ou mandato.
Com base nesse entendimento, ao apreciar o Tema 986 da repercussão geral, o Plenário negou
provimento a recurso extraordinário em que se discutia a inconstitucionalidade parcial do aludido
dispositivo legal.
A Segunda Turma, por maioria e em conclusão de julgamento, negou provimento a dois agravos
regimentais interpostos de decisão que, em juízo de retratação, proveu recurso extraordinário com agravo,
para afastar declaração, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de inelegibilidade de candidato, porquanto
não mais subsistiria a premissa estruturante de rejeição das contas deste pelo Tribunal de Contas da União
(TCU).
Os agravantes sustentavam, em síntese, que o ato agravado não poderia ter restabelecido a
elegibilidade, pois, segundo a jurisprudência do TSE, a data de diplomação seria o termo final para se
conhecer de fato superveniente ao registro da candidatura que afaste inelegibilidade. Anotavam, ainda,
que o acórdão do TCU reconhecido como fato superveniente foi proferido em recurso de revisão julgado
em 11.9.2019.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes (relator).
De início, registrou a oscilação do posicionamento do TSE sobre a aludida matéria ao longo dos
anos. Com a ressalva de que o entendimento jurisprudencial não é absolutamente pacífico, avaliou que,
no caso concreto, a inconstitucionalidade da decisão do TSE, na realidade, parece dar-se não em razão da
limitação temporal da ocorrência do fato superveniente, mas da própria aplicação extensiva da alínea g do
inciso I do art. 1º da Lei Complementar (LC) 64/1990 (1).
Assinalou estar previsto, claramente, no dispositivo legal, que a rejeição de contas relativas ao
exercício de cargos ou funções públicas pelo candidato só atrai a inelegibilidade se da rejeição se
configurar ato doloso de improbidade administrativa. Depreendeu da análise detida dos autos que,
entretanto, essa caracterização não se faz presente na espécie.
A seu ver, o TSE realizou interpretação extensiva da cláusula de inelegibilidade para pressupor
que a simples afronta à Lei de Licitações (Lei 8.666/1993) implicaria a caracterização do ato doloso de
improbidade, o que se revela em desacordo com o texto constitucional e com a jurisprudência do
Supremo Tribunal Federal (STF).
Isso porque, ao se manifestar acerca do § 4º do art. 37 da Constituição Federal (CF) (2), o STF
procedeu à devida distinção entre ato meramente ilegal e ato ímprobo, exigindo para este uma
qualificação especial: lesar o erário ou, ainda, promover enriquecimento ilícito ou favorecimento contra
legem de terceiro. Nessa linha, estaria o que firmado no RE 976.566 (Tema 576 da repercussão geral).
Logo, o ato de improbidade administrativa não pode ser presumido pelo simples descumprimento
da Lei de Licitações. Deve ser comprovado o especial fim de agir do agente público a depender do tipo
enquadrado.
Segundo o ministro, parece ter havido presunção de que, ocorrida a ilegalidade na contratação
pública, o ato de improbidade administrativo doloso seria daí decorrente, sem se ater a elementos factuais,
a partir de mera construção exegética destituída de dados empíricos.
Não se coaduna com a jurisprudência do STF e o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça
a conclusão de que a ausência ou dispensa indevida de licitação é considerada irregularidade insanável
que configura ato doloso de improbidade administrativa, sendo conduta apta a atrair a inelegibilidade
previstas no art. 1º, I, g, da LC 64/1990.
O relator ressaltou que o fato de a ausência de licitação para a contratação de serviços de telefonia
haver sido objeto de ressalva pela Controladoria Geral da União, desde 2009, não configura argumento
suficiente para amparar que se trata de ato de improbidade administrativa doloso.
Reiterou que não se deve confundir ilegalidade ou incompetência com ato de improbidade
administrativa. Ausente o reconhecimento de dano e a clara existência de dolo, não subsiste a conclusão
extraída pelo TSE.
Ademais, o TCU, em sede de recurso de revisão, aprovou, com ressalva, as contas do recorrente e
afastou as multas a ele impostas. Embora a decisão superveniente reforce a inadequação da interpretação
dada pelo TSE ao caso, a bem da verdade, antes mesmo disso, já era incontroverso que a posição inicial
do TCU não firmava a ocorrência de ato doloso ou de dano ao erário apto a amparar a incidência da
aludida alínea. A decisão do TRE e a do TSE reconheceram essa circunstância, daí não há que se falar em
necessidade de revolvimento fático-probatório.
Em arremate, consignou que a decisão do TSE é originariamente acoimada de
inconstitucionalidade, não havendo que se falar também em limitação para ocorrência de fato
superveniente.
Vencido o ministro Edson Fachin, que proveu o agravo para negar seguimento ao recurso
extraordinário, em face de não ser cabível o recurso para simples reexame de prova e da impossibilidade
de, na sede eleita, rever interpretação de legislação infraconstitucional e seus requisitos. Verificou não ser
possível manter o ato agravado até porque não caracterizadas as ofensas constitucionais indicadas no
recurso extraordinário. O provimento de recurso extraordinário depende do reconhecimento, em primeiro
lugar, de repercussão geral da questão constitucional trazida, o que não ocorreu; ou, como segunda opção,
da existência de jurisprudência dominante em casos análogos, o que não parece ser a hipótese dos autos,
até por suas peculiaridades intrínsecas.
Noutro ponto, explicitou que o TCU julgou irregular as contas. O pronunciamento que se deu, em
processo de revisão, foi proferido mais de dez meses após a decisão do TSE e mais de oito meses depois
da diplomação dos candidatos eleitos. Sublinhou que a jurisprudência do TSE é no sentido de que a data
da diplomação é o termo final para se considerar e conhecer qualquer alteração fática ou jurídica
superveniente que se refira aos requisitos para o registro da candidatura. Igualmente, que cabe à Justiça
Eleitoral proceder ao enquadramento das irregularidades como insanáveis, ou não, e verificar se
constituem, ou não, ato doloso de improbidade administrativa.
(1) LC 64/1990: “Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: (...) g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício
de cargos ou funções públicas rejeitadas por irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por
decisão irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, para as eleições que
se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da
Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição;”
(2) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) § 4º Os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação penal
cabível.”
ARE 1197808 AgR-segundo e terceiro/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.3.2020.
(INF 968)
(1) Lei 13.165/2015: “Art. 4º A Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral , passa a vigorar com as seguintes
alterações: (...) “Art. 108. Estarão eleitos, entre os candidatos registrados por um partido ou coligação que tenham obtido votos em
número igual ou superior a 10% (dez por cento) do quociente eleitoral, tantos quantos o respectivo quociente partidário indicar, na
ordem da votação nominal que cada um tenha recebido. Parágrafo único. Os lugares não preenchidos em razão da exigência de
votação nominal mínima a que se refere o caput serão distribuídos de acordo com as regras do art. 109. ”
(2) CF: “Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) Parágrafo único. Todo o poder emana do
povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. ”
(3) CF: “Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em
cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal. ”
ADI 5920/DF, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 4.3.2020. (INF 968)
O Plenário, por maioria, referendou decisão que indeferiu pedido de medida cautelar, formulado
em ação direta de inconstitucionalidade, na qual se pleiteava a suspensão por trinta dias, a contar de 4 de
abril de 2020, do prazo previsto no art. 9º, caput, da Lei 9.504/1997 (Lei das Eleições) (1), bem como dos
prazos previstos no art. 1º, IV, V e VII, da Lei Complementar 64/1990 (2) e, por arrastamento, do art. 10,
caput e § 4º, da Resolução 23.609/2019 do Tribunal Superior Eleitoral, que dispõem sobre a escolha e o
registro de candidatos para as eleições, e das disposições correlatas da Resolução 23.606/2019 do
Tribunal Superior Eleitoral, relativa ao Calendário para as Eleições de 2020.
O autor alegava a necessidade da aludida suspensão dos prazos, a fim de garantir ao máximo a
possibilidade de participação dos cidadãos nos pleitos eleitorais. Sustentava que, embora os atos
normativos impugnados consubstanciem leis ainda constitucionais, estariam, em virtude do estado de
coisas produzido pelas medidas de enfrentamento da pandemia da Covid-19, em transição para a
inconstitucionalidade, por inviabilizarem, nas eleições de 2020, a plena prevalência do princípio
democrático e da soberania popular.
O Tribunal reputou ausentes, na hipótese, as circunstâncias excepcionais justificadoras da
suspensão da eficácia dos preceitos normativos impugnados.
Considerou inadequada a aplicação da técnica da lei ainda constitucional, conforme pretendido
pelo autor, para a solução da problemática sob análise. Em primeiro lugar, porque não demonstrado
satisfatoriamente que o parâmetro fático-social decorrente da implementação das medidas de
enfrentamento da pandemia da Covid-19 traduza, pelo menos até o momento, situação justificadora da
suspensão da vigência de direito cuja validade não é de outro modo questionada. No ponto, observou que,
ao imporem restrições a diversas atividades cotidianas, as medidas voltadas a implementar o chamado
distanciamento social provocam transtornos também a atividades de caráter político-partidário.
Entretanto, não é possível vislumbrar as supostas ofensas que os dispositivos normativos impugnados
ocasionam aos princípios democrático e da soberania popular. Em segundo lugar, a imediata suspensão
dos prazos previstos nos atos normativos impugnados teria como inadmissível consequência o
enfraquecimento das proteções contra o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na
Administração direta ou indireta. Isso aumentaria de modo desproporcional o risco para a normalidade e a
legitimidade das eleições [Constituição Federal (CF), art. 14, § 9º] e, consequentemente, produziria um
estado de coisas com potencial ainda maior de vulneração ao princípio democrático e à soberania popular.
Além disso, colocaria em risco a cláusula pétrea da periodicidade do sufrágio (CF, art. 60, § 4º, II) e, em
consequência, a soberania popular e o Estado Democrático de Direito (CF, art. 1º, parágrafo único).
Explicou que a tutela jurisdicional do pleito eleitoral tem como pressuposto a prevalência da
Constituição, que instituiu um Estado Democrático de Direito marcado pela independência e harmonia
entre os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Isso porque todos os Poderes da República têm a sua
origem e fundamento na CF, manifestação da soberania popular representada em momento histórico pela
Assembleia Nacional Constituinte e atualizada pelos procedimentos reveladores da manifestação do
Poder Constituinte derivado. Nesse contexto, as regras conformadoras dos ritos e procedimentos ínsitos à
democracia devem ser reverenciadas como o que são: garantias de existência perene do regime
democrático.
A ideia de democracia, particularmente, de democracia representativa, não pode ser tratada,
juridicamente, como conceito meramente abstrato, ideal vago ou simples retórica, sem densidade
semântica e normativa aptas a determinar, na vida prática da República, os modos de funcionamento do
Estado e de relacionamento entre as instituições e os poderes.
Prazos como o de desincompatibilização não são meras formalidades, mas visam a assegurar a
preponderância da isonomia, expressão que é do próprio princípio republicano, na disputa eleitoral. Sua
inobservância pode vulnerar a própria legitimidade do processo eleitoral, valor consagrado no art. 14, §
9º, da CF.
Ademais, a exigência da anterioridade da lei eleitoral (CF, art. 16) consubstancia marco temporal
objetivo que tem por escopo impedir mudanças abruptas na legislação eleitoral, como forma de assegurar
o devido processo legal eleitoral, o direito das minorias e a paridade de armas na disputa eleitoral.
Desdobramento do postulado da segurança jurídica, o princípio da anterioridade – ou da anualidade – da
lei eleitoral tem sido consistentemente prestigiado pelo Supremo Tribunal Federal, que já assentou a sua
extensão às decisões judiciais que impliquem alteração de jurisprudência.
Asseverou que, em face das medidas excepcionais de enfrentamento da pandemia da Covid-19, a
ideia de ampliar prazos eleitorais, com a antecedência buscada, pode ser tentadora. Não obstante, a
história constitucional recomenda que, especialmente em situações de crise, se busque, ao máximo, a
preservação dos procedimentos estabelecidos de expressão da vontade popular, das instituições
conformadoras da democracia, que, não obstante sua falibilidade, pode ser uma das poucas salvaguardas
da normalidade.
Ponderou que, obviamente, a inviabilidade de condições fáticas pode impor suspensão,
prorrogações, adiamentos. No ponto, entretanto, mencionou decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
em sessão administrativa de 19.3.2020, que rejeitou requerimento de prorrogação do prazo de filiação
partidária, tendo em vista a pandemia da Covid-19, e registrou, à unanimidade, a plena possibilidade de
os partidos adotarem meios outros para assegurar a filiação partidária.
Na ocasião, a ministra Rosa Weber (relatora), após reafirmar os fundamentos da decisão
denegatória da liminar sob referendo, apresentou outras considerações. Dentre elas, frisou não estar em
discussão o exame da lide pelo enfoque suscitado a título de atualização do pedido inicial. Após, ressaltou
que, de acordo com o último relatório semanal divulgado pelo Grupo de Trabalho constituído no TSE
para monitorar os impactos da pandemia da Covid-19, com vista às eleições municipais de 2020, foi
mantida a posição de que, à luz do calendário eleitoral vigente, a Justiça Eleitoral, até o presente
momento, tem condições materiais para a implementação das eleições no corrente ano. Acrescentou ter
sido, ainda, amplamente noticiado o consenso dos ministros daquela corte de que só em junho haverá
definição a respeito, a exigir, em qualquer hipótese, a atuação do Congresso Nacional, em se tratando de
datas e balizas fixadas na CF. Reafirmou que uma situação de crise não prescinde de uma permanente
reavaliação das estratégias jurídico-políticas mais efetivas para a preservação da incolumidade da ordem
constitucional.
Concluiu que o risco de fragilização do sistema democrático e do próprio Estado de direito
relacionado à perturbação dos prazos eleitorais, em decorrência do acolhimento da pretensão cautelar,
afigura-se como um risco, a toda evidência, manifestamente mais grave do que o prejuízo alegado em
razão da manutenção dos prazos nas circunstâncias atuais. No equacionamento da controvérsia, a
importância intrínseca do processo democrático e o valor sagrado do sufrágio não devem ser esquecidos.
Vencido o ministro Marco Aurélio que extinguiu a ação por julgá-la inadequada. Segundo o
ministro, a disciplina da matéria — adiamento de atos alusivos ao calendário eleitoral — cabe ao Poder
Legislativo.
(1) Lei 9.504/1997: “Art. 9º Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva
circunscrição pelo prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo.”
(2) Lei Complementar 64/1990: “Art. 1º São inelegíveis: (...) IV – para Prefeito e Vice-Prefeito: a) no que lhes for
aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, Governador e
Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para a desincompatibilização; b) os
membros do Ministério Público e Defensoria Pública em exercício na Comarca, nos 4 (quatro) meses anteriores ao pleito, sem
prejuízo dos vencimentos integrais; c) as autoridades policiais, civis ou militares, com exercício no Município, nos 4 (quatro) meses
anteriores ao pleito; V – para o Senado Federal: a) os inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República
especificados na alínea a do inciso II deste artigo e, no tocante às demais alíneas, quando se tratar de repartição pública, associação
ou empresa que opere no território do Estado, observados os mesmos prazos; b) em cada Estado e no Distrito Federal, os inelegíveis
para os cargos de Governador e Vice-Governador, nas mesmas condições estabelecidas, observados os mesmos prazos; (...) VII –
para a Câmara Municipal: a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os inelegíveis para o Senado Federal e para a
Câmara dos Deputados, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização; b) em cada Município, os inelegíveis
para os cargos de Prefeito e Vice-Prefeito, observado o prazo de 6 (seis) meses para a desincompatibilização.”
ADI 6359 Ref-MC/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 14.5.2020. (INF 977)
(1) Lei 13.488/2017: “Art. 3º A Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965 (Código Eleitoral), passa a vigorar com as seguintes
alterações: “Art. 109. (...) § 2º Poderão concorrer à distribuição dos lugares todos os partidos e coligações que participaram do
pleito.”
ADI 5947/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 4.3.2020. (INF 968)
O Plenário, por maioria, julgou parcialmente procedente pedido formulado em ação direta, para
declarar a inconstitucionalidade da expressão “número de lugares definido para o partido pelo cálculo do
quociente partidário do art. 107”, constante do inciso I do art. 109 do Código Eleitoral (CE) (1), com
redação dada pela Lei 13.165/2015, o qual estabelece nova sistemática de distribuição das chamadas
“sobras eleitorais”. Manteve, nesta parte, o critério de cálculo vigente antes da edição do referido diploma
legal.
O colegiado entendeu que o novo regramento desconsidera a distribuição eleitoral de cadeiras
baseada na proporcionalidade, prevista no art. 45 da Constituição Federal (CF) (2), que é intrínseca ao
sistema proporcional, em que as vagas são distribuídas aos partidos políticos de forma a refletir o
pluralismo político-ideológico presente na sociedade.
Esclareceu que um dado fixo é utilizado para os seguidos cálculos de atribuição das vagas
remanescentes, desprezando-se a aquisição de vagas nas operações anteriores. Dessa forma, o partido
político ou coligação que primeiro atingir a maior média e, consequentemente, receber a primeira vaga
remanescente, acabará por obter todas as vagas seguintes enquanto possuir candidato que atenda à
exigência de votação nominal mínima (pelo menos 10% do quociente eleitoral). Isso ocasionará uma
tendência à concentração, em uma única sigla ou coligação, das vagas remanescentes.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que julgou improcedente o pedido. Segundo o ministro, sem
prejuízo do princípio da proporcionalidade, fez-se uma opção normativa ao se beneficiar o partido de
melhor desempenho no certame, de início, na distribuição das sobras com uma cadeira, o que implica a
higidez do preceito.
(1) CE: “Art. 109. Os lugares não preenchidos com a aplicação dos quocientes partidários e em razão da exigência de
votação nominal mínima a que se refere o art. 108 serão distribuídos de acordo com as seguintes regras: I - dividir-se-á o número de
votos válidos atribuídos a cada partido ou coligação pelo número de lugares definido para o partido pelo cálculo do quociente
partidário do art. 107, mais um, cabendo ao partido ou coligação que apresentar a maior média um dos lugares a preencher, desde
que tenha candidato que atenda à exigência de votação nominal mínima;”
(2) CF: “Art. 45. A Câmara dos Deputados compõe-se de representantes do povo, eleitos, pelo sistema proporcional, em
cada Estado, em cada Território e no Distrito Federal.”
ADI 5420/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento em 4.3.2020. (INF 968)
6. DIREITO FINANCEIRO
6.1 LEI DE RESPONSABILIDADE FISCAL
COVID-19: limites da despesa total com pessoal e regime extraordinário fiscal e financeiro -
ADI 6394/AC
ODS 3
Resumo:
(1) EC 106/2020: “Art. 3º. Desde que não impliquem despesa permanente, as proposições legislativas e os atos do Poder
Executivo com propósito exclusivo de enfrentar a calamidade e suas consequências sociais e econômicas, com vigência e efeitos
restritos à sua duração, ficam dispensados da observância das limitações legais quanto à criação, à expansão ou ao aperfeiçoamento
de ação governamental que acarrete aumento de despesa e à concessão ou à ampliação de incentivo ou benefício de natureza
tributária da qual decorre renúncia de receita. Parágrafo único. Durante a vigência da calamidade pública nacional de que trata o art.
1º desta Emenda Constitucional, não se aplica o disposto no § 3º do art. 195 da Constituição Federal.”
(2) LRF: “Art. 22. A verificação do cumprimento dos limites estabelecidos nos arts. 19 e 20 será realizada ao final de cada
quadrimestre. Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco por cento) do limite, são vedados ao
Poder ou órgão referido no art. 20 que houver incorrido no excesso: I – concessão de vantagem, aumento, reajuste ou adequação de
remuneração a qualquer título, salvo os derivados de sentença judicial ou de determinação legal ou contratual, ressalvada a revisão
prevista no inciso X do art. 37 da Constituição; II – criação de cargo, emprego ou função; III – alteração de estrutura de carreira que
implique aumento de despesa; IV – provimento de cargo público, admissão ou contratação de pessoal a qualquer título, ressalvada a
reposição decorrente de aposentadoria ou falecimento de servidores das áreas de educação, saúde e segurança; V – contratação de
hora extra, salvo no caso do disposto no inciso II do § 6o do art. 57 da Constituição e as situações previstas na lei de diretrizes
orçamentárias.”
ADI 6394/AC, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento virtual finalizado em 20.11.2020 (INF
1000)
7. DIREITO PENAL
7.1 CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO
Crime de fuga e direito à não autoincriminação - ADC 35/DF
É constitucional o tipo penal que prevê o crime de fuga do local do acidente [Código de
Trânsito Brasileiro (CTB) art. 305] (1).
A evasão do local do acidente não constitui exercício do direito ao silêncio ou do princípio do
nemo tenetur se detegere. Essas garantias apenas limitam o Estado de impor a colaboração ativa do
condutor do veículo envolvido no acidente para produção de provas que o prejudique.
A escolha do legislador infraconstitucional está em consonância com o escopo da regra
convencional sobre trânsito de “aumentar a segurança nas rodovias mediante a adoção de regras
uniformes de trânsito”.
O conjunto de leis no sentido do recrudescimento das regras de conduta no trânsito decorre da
política criminal que visa acoimar a lamentável e alarmante situação que envolvem os acidentes de
trânsito e que resultam, invariavelmente, mortes e graves lesões. A identificação dos envolvidos constitui
fator imprescindível para consecução da finalidade da norma de regência.
Nessa dimensão, é concedido ao condutor uma série de direitos resultantes da autorização
conferida pelo Estado, mas que, a seu lado, obrigações são irrogadas e dentre elas, encontra-se a de
permanecer no local do acidente para que seja identificado. Ressalte-se que a permanência no local do
acidente não comporta ilação de confissão de autoria delitiva ou de responsabilidade pelo sinistro, mas
tão somente a sua identificação.
Com esse entendimento, o Plenário, por maioria, declarou a constitucionalidade do tipo penal
descrito no art. 305 do CTB e julgou procedente a ação declaratória.
(1) CTB: “Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à responsabilidade penal ou civil que
lhe possa ser atribuída: Penas – detenção, de seis meses a um ano, ou multa.”
ADC 35/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgamento virtual em
9.10.2020. (INF 994)
A Segunda Turma, ao concluir exame de ação penal, julgou parcialmente procedente denúncia
recebida em desfavor de um ex-deputado federal e um engenheiro civil, cujos fatos se referem à
concretização de acordo extrajudicial sobre a remuneração de serviços de praticagem entre empresas de
praticagem atuantes em certa zona portuária e a Petrobrás S/A.
No mérito, os réus foram: (i) condenados, em votação majoritária, pela prática do delito de
corrupção passiva, com incidência de causa de aumento apenas na reprimenda do ex-parlamentar; e (ii)
condenados, em votação unânime, pelo cometimento do delito de lavagem de dinheiro por dezenove
vezes. Ambos foram absolvidos, por unanimidade, das imputações remanescentes.
Na sequência, as penas e os respectivos regimes de cumprimento foram fixados, declarada a
extinção da punibilidade do engenheiro quanto ao delito de corrupção passiva, em razão do
reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva estatal.
Acerca de outros efeitos da condenação, a Turma, por maioria: (i) fixou valor mínimo
indenizatório para a reparação dos danos morais coletivos em quantia a ser adimplida de forma solidária
pelos sentenciados; e (ii) assentou o prejuízo do pedido de perda de mandato parlamentar. Ademais, por
unanimidade: (i) não acolheu a pretensão de danos materiais; (ii) decretou, em favor da União, a perda
dos bens, direitos e valores objeto da lavagem em relação a qual foram condenados, ressalvado o direito
do lesado ou de terceiro de boa-fé; (iii) decretou a interdição dos condenados para o exercício de cargo ou
função pública de qualquer natureza e de diretor, de membro de conselho de administração ou de gerência
das pessoas jurídicas referidas no art. 9º da Lei 9.613/1998, pelo dobro do tempo da pena privativa de
liberdade a eles aplicada; (iv) condenou-os ao pagamento das custas processuais e determinou a
expedição de guia de execução das reprimendas cominadas tão logo esgotada a análise das insurgências
cognoscíveis que venham a ser interpostas contra esta decisão.
Ao tratar do crime de corrupção passiva cometido pelo ex-deputado, o colegiado afirmou que o
tipo exige a demonstração de que o favorecimento negociado pelo agente público se encontre no rol das
atribuições previstas para a função que exerce. As circunstâncias fáticas verificadas permitem essa
conclusão no caso concreto.
Depois de refletir acerca do “presidencialismo de coalização”, compreendeu que se confere aos
parlamentares um espectro de poder para além da mera deliberação de atos legislativos, tanto que a
participação efetiva deles nas decisões de governo se dá com a indicação de quadros para o
preenchimento de cargos no Poder Executivo. Entretanto, há evidente “mercadejamento” da função
parlamentar quando o poder de indicar alguém para determinado cargo ou de dar sustentação política para
nele permanecer é exercido de forma desviada, voltado à percepção de vantagens indevidas.
A singela assertiva de que não compete ao parlamentar nomear ou exonerar alguém de cargos
públicos vinculados ao Poder Executivo desconsidera a organização do sistema presidencialista brasileiro.
Não fosse isso, deve-se ter em mente que a Constituição Federal (CF), expressamente, atribui aos
parlamentares funções que vão além da tomada de decisões voltadas à produção de atos legislativos.
Logo, é plenamente viável a configuração do delito de corrupção passiva quando a vantagem
indevida é solicitada, recebida ou aceita pelo agente público, em troca da manifestação da força política
que este detém para a condução ou sustentação de determinado agente em cargo que demanda tal apoio.
O exercício do mandato eletivo se faz de forma concomitante e indissociável à atividade partidária.
Esse contexto não encaminha à criminalização da atividade político-partidária, apenas responsabiliza os
atos de pessoas que, na condição de parlamentares, transbordam os limites do exercício legítimo da
representação popular.
Vencidos, no ponto, os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes, que desclassificaram a
infração para o crime de tráfico de influência. Para eles, a vantagem indevida teria sido recebida a
pretexto de influir em ato praticado por funcionário público.
O ministro Ricardo Lewandowski entendeu que as vantagens auferidas não estavam vinculadas a
ato de ofício ou a conjunto de atribuições inerentes ao cargo parlamentar. Noutro ponto, ainda admitiu a
coexistência da prática do delito de tráfico de influência e de lavagem de dinheiro pelo mesmo agente,
desde que se comprove a realização de dolos distintos para cada um deles.
Já, na compreensão do ministro Gilmar Mendes, os valores recebidos não estavam vinculados ao
exercício das funções de deputado federal. O fato determinante não foi o mandato ocupado, mas a relação
pessoal de suposta influência que possuía junto a determinado funcionário público e não teria a ver com a
manutenção do funcionário na empresa. Além disso, o ministro ponderou não caber a aplicação aos
titulares de mandatos eletivos do incremento de pena previsto em parágrafo próprio do preceito do delito
de corrupção passiva. Isso ocorre em virtude da impossibilidade do uso da interpretação extensiva. Viola
ainda a proibição de dupla punição pelo mesmo fato.
Em outro passo, a Turma não acolheu o pedido do Ministério Público quanto à fixação de danos
materiais. Considerou impassível de cognição na seara processual penal, pois os limites de conhecimento
definidos nos autos não se mostram adequados à mensuração do possível dano material advindo das
condutas dos imputados.
Assinalou que a prestação jurisdicional pode ficar eventualmente reservada ao juízo cível
competente, mediante instrumentos próprios de definição de responsabilidade civil.
Ao acolher a pretensão relativa aos danos coletivos, o colegiado entendeu que o ordenamento
jurídico também tutela, no âmbito da responsabilidade, o dano moral na esfera individual e na forma
coletiva, conforme o inciso X do art. 5º da Constituição Federal (CF) (1); o art. 186 do Código Civil
(CCv) (2); e, destacadamente, o inciso VIII do art. 1º da Lei 7.347/1985 (3).
Na tutela dos direitos coletivos em sentido amplo, a doutrina admite, de longa data, a configuração
da responsabilidade civil decorrente de dano moral coletivo com base na prática de ato ilícito. Considerou
ser nessa direção que o Poder Constituinte originário se postou à luz dos objetivos fundamentais
elencados no art. 3º (4) e declarados no preâmbulo da CF.
Por fim, avaliou estar presente o dever de indenizar nos termos do art. 927 do CCv (5).
O ministro Celso de Mello reputou ser legítima a condenação, especialmente ao se considerarem a
natureza e a finalidade resultantes do reconhecimento de que se revestem os danos morais coletivos cuja
metaindividualidade, caracterizada por sua índole difusa, atinge, de modo subjetivamente indeterminado,
uma gama extensa de pessoas, de grupos e de instituições.
Vencido, no ponto, o ministro Ricardo Lewandowski, que afastou a possibilidade de se processar a
condenação ao dano moral no próprio processo penal, no que foi acompanhado pelo ministro Gilmar
Mendes. Segundo o ministro Ricardo Lewandowski, o processo coletivo situa-se em outro âmbito, no
qual não se leva em consideração o direito do indivíduo, e sim os direitos coletivos de pessoas que
pertençam a determinado grupo ou ao público em geral. Na espécie, inexiste ambiente processual
adequado para a análise de dano moral coletivo, o que recomenda o exame da querela em ação autônoma.
Sobre a proposta de perda do mandato eletivo, a Turma julgou ter havido a perda do objeto.
Com o término da Legislatura 2015-2019, encerrou-se o mandato político do denunciado. A
despeito de ter reassumido o mandato de deputado federal na Legislatura 2019-2023, na qualidade de
suplente, não mais se encontra no exercício desse cargo parlamentar.
No particular, vencido o ministro Ricardo Lewandowski, que não considerou prejudicado o pedido
e se manifestou contra a perda do mandato, no que foi seguido pelo ministro Gilmar Mendes. O ministro
Ricardo Lewandowski aduziu, ademais, que, apesar de o réu ter se afastado na legislatura em curso, nada
impede que ele retorne a qualquer momento. A sua posição de deputado suplente persiste integralmente.
(1) CF: “Art. 5º (...) X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;”
(2) CCv: “Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
(3) Lei 7.347/1985: “Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (...) VIII – ao patrimônio público e social.”
(4) CF: “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre,
justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.”
(5) CCv: “Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo
único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
Ação penal privada: difamação, vídeo com conteúdo fraudulento e divulgação em rede social
de parlamentar - AP 1021/DF
A Primeira Turma julgou procedente pedido formulado em ação penal para condenar deputado
federal pela prática do crime de difamação agravada.
Cuida-se de ação penal privada promovida contra parlamentar em cujo perfil de rede social foi
publicado vídeo editado com cortes de trechos de discurso feito pelo autor, então deputado federal, a fim
de difamá-lo (Informativo 876).
Inicialmente, o colegiado assentou que as alegações de inépcia da inicial e de incidência da
imunidade parlamentar já tinham sido rejeitadas quando do recebimento da queixa-crime. Na espécie, não
se aplica a imunidade parlamentar, pois o ato não foi praticado in officio ou propter officium.
Reiterou que a liberdade de opinião e manifestação do parlamentar, ratione muneris, impõe
contornos à imunidade material, nos limites estritamente necessários à defesa do mandato contra o
arbítrio, à luz do princípio republicano que norteia a Constituição Federal (CF).
De igual modo, a veiculação dolosa de vídeo com conteúdo fraudulento, para fins difamatórios, a
conferir ampla divulgação pela rede social ao conteúdo sabidamente falso, não encontra abrigo na
imunidade parlamentar [CF, art. 53 (1)].
No mérito, foi assentada a comprovação da materialidade do delito. Laudo de perícia criminal de
instituto de criminalística da polícia civil concluiu que o vídeo foi editado e que o processo de edição
resultou na modificação da informação, conduzindo à compreensão diversa da realidade factual.
A Turma realçou que o conteúdo original da manifestação sofreu vários cortes, após os quais
passou a revelar conotação racista e preconceituosa. O fato de veicular trechos da fala do autor é elemento
especioso, ardil empregado com o intuito de conferir-lhe verossimilhança.
Além disso, o dano à honra do querelante foi certificado em juízo por depoimentos prestados.
Simultaneamente, há prova do impacto sobre a imagem do autor. A fraude revela nítido potencial de
enganar os cidadãos que a visualizaram e de produzir discursos de ódio contra a fala indevidamente
alterada, difamando o opositor político do réu.
Noutro passo, assinalou que a publicação em perfil de rede social é penalmente imputável ao
agente que, dolosamente, tem o intuito de difamar, injuriar ou caluniar terceiros, máxime quando
demonstrado o conhecimento da falsidade do conteúdo. A criminalização da veiculação de conteúdo com
essas finalidades não colide com o direito fundamental à liberdade de expressão.
Observou que o delito contra a honra é de ação múltipla, conglobando não apenas a criação do
conteúdo criminoso como também a sua postagem e a disponibilização de perfil em rede social com fim
de servir de plataforma à alavancagem da injúria, calúnia ou difamação. A autoria desses crimes
praticados por meio da internet demanda: (i) demonstração de que o réu é o titular de página, blogue ou
perfil pelo qual divulgado o material difamatório; (ii) demonstração do consentimento — prévio,
concomitante ou sucessivo — com a veiculação em seu perfil; (iii) demonstração de que o réu tinha
conhecimento do conteúdo fraudulento da postagem (animus injuriandi, caluniandi ou diffamandi).
A divulgação do conteúdo fraudado constitui etapa da execução do crime, a estabelecer a autoria
criminosa do divulgador, que não exclui a do programador visual ou do editor responsável pela execução
material da fraude, quando promovidas por outros agentes em coautoria. Na circunstância de um ajudante
postar vídeo fraudulento veiculador de difamação, a coautoria criminosa do titular do perfil somente é
afastada se ele desconhecer o uso de sua página para a divulgação e, portanto, não consentir com o
emprego de sua plataforma em rede social para alavancar a campanha difamatória.
Na situação dos autos, os testemunhos colhidos na instrução corroboram a autoria criminosa. O
referido vídeo foi postado no perfil do acusado, que admitiu tê-lo assistido e ter sido informado da
postagem quando foi disponibilizado em sua página na rede social. O réu sabia que o conteúdo não era
fidedigno à fala do querelante, porquanto se tratava de manifestação absolutamente contrária à proferida
em debate do qual ele próprio participara e cujo conteúdo era de seu inteiro conhecimento. Ainda assim, o
parlamentar-querelado manteve o conteúdo difamatório disponível em sua plataforma, que somente foi
retirado de circulação após decisão judicial. Ademais, o vídeo fraudulento elevou a popularidade do réu
na rede social utilizada, revelando número de visualizações superior à média de sua página, a evidenciar
seu ganho pessoal com a campanha difamatória.
Ao rechaçar tese defensiva da ausência de dolo de difamar, o colegiado anotou que as alegações
não se sustentam. A divulgação por mero animus narrandi se caracteriza quando há desconhecimento da
natureza fraudulenta. Na espécie, o réu detinha todas as informações necessárias para conhecer o
descompasso entre o discurso proferido e o divulgado no vídeo com adulterações aptas a inverter o
sentido da fala e conferir-lhe teor racista. Igualmente inverossímil a arguição de que os cortes realizados
tiveram finalidade exclusivamente técnica, com o objetivo de reduzir o vídeo ao tamanho limite do
suporte de mídia utilizado. Se essa fosse unicamente a intenção, os cortes não teriam deturpado a fala do
querelante. Outros trechos poderiam ter sido excluídos para atender ao propósito técnico.
Em sede de dosimetria, a Turma considerou presentes quatro circunstâncias judiciais negativas.
Cominou reprimenda de um ano de detenção, no regime inicial aberto, cumulada com pena de multa.
Diante de pressupostos legais, substituiu a pena privativa de liberdade por prestação pecuniária, na
forma do art. 45, § 1º, do Código Penal (CP) (2), consistente no pagamento de trinta salários mínimos à
vítima, fixado como montante mínimo para reparação dos danos causados pela infração.
Vencido o ministro Marco Aurélio quanto à fixação de regime aberto para cumprimento inicial da
reprimenda e à substituição da pena privativa de liberdade. Segundo o ministro, o regime aberto é
reservado a situações em que as circunstâncias judiciais do art. 59 do CP (3) são favoráveis ao acusado e
o relator apontou haver quatro situações contrárias ao réu. Além disso, o ministro compreendeu que o
inciso III do art. 44 do CP (4) afasta, considerado o objetivo da norma, a possibilidade de, ante
circunstâncias judiciais negativas, proceder-se à substituição da pena por restritiva de direitos.
(1) CF: “Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos.”
(2) CP: “Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior, proceder-se-á na forma deste e dos arts. 46, 47 e
48. § 1º A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada
com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e
sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se
coincidentes os beneficiários.”
(3) CP: “Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:”
(4) CP: “Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (...) III – a
culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias
indicarem que essa substituição seja suficiente.”
A Primeira Turma recebeu queixa-crime formulada contra parlamentar pela prática de crime de
difamação e injúria.
De acordo com a inicial, o parlamentar-querelado, em discurso proferido no Plenário da Câmara
dos Deputados e em reunião da Comissão de Constituição e Justiça e da Cidadania da mesma Casa, teria
desferido ofensas verbais a artistas, ao afirmar, dentre outras imputações, que eles teriam “assaltado” os
cofres públicos ao angariar recursos oriundos da Lei Rouanet (Lei 8.313/1991).
A Turma salientou que o fato de o parlamentar estar na Casa legislativa no momento em que
proferiu as declarações não afasta a possibilidade de cometimento de crimes contra a honra, nos casos em
que as ofensas são divulgadas pelo próprio parlamentar na Internet.
Afirmou que a inviolabilidade material somente abarca as declarações que apresentem nexo direto
e evidente com o exercício das funções parlamentares.
No caso concreto, embora aludindo à Lei Rouanet, o parlamentar nada acrescentou ao debate
público sobre a melhor forma de distribuição dos recursos destinados à cultura, limitando-se a proferir
palavras ofensivas à dignidade dos querelantes.
O Parlamento é o local por excelência para o livre mercado de ideias – não para o livre mercado de
ofensas. A liberdade de expressão política dos parlamentares, ainda que vigorosa, deve se manter nos
limites da civilidade. Ninguém pode se escudar na inviolabilidade parlamentar para, sem vinculação com
a função, agredir a dignidade alheia ou difundir discursos de ódio, violência e discriminação.
Vencido o ministro Alexandre de Moraes (relator), que rejeitou a queixa-crime e absolveu
sumariamente o querelado. Pontuou que as declarações do querelado foram proferidas na Casa legislativa,
circunstância que desautoriza a deflagração de qualquer medida judicial censória da conduta imputada ao
parlamentar, sendo indiferente indagar-se acerca do conteúdo da manifestação realizada.
PET 7174/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgamento em
10.3.2020. (INF 969)
(1) CP: “Art. 330 – Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena – detenção, de quinze dias a seis meses, e
multa.”
HC 169417/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 28.4.2020. (INF 975)
A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental para dar provimento a
recurso extraordinário e afastar o reconhecimento da prescrição da pretensão punitiva.
No caso, o acórdão recorrido reconheceu a extinção da punibilidade do réu em decorrência da
prescrição da pretensão punitiva, tendo como marco interruptivo somente a sentença condenatória. A
decisão foi fundada no entendimento de que o acórdão que confirma a condenação, mas majora ou reduz
a pena, não constitui novo marco interruptivo da prescrição.
O colegiado reafirmou entendimento de que o acórdão, mesmo o confirmatório da condenação,
interrompe o curso da prescrição. Ademais, reputou constitucional a matéria atinente ao poder do Estado
na persecução penal, à luz do devido processo legal.
Nesse sentido, o ministro Roberto Barroso salientou que o sistema penal é concebido para proteger
bens jurídicos constitucionalmente relevantes. Portanto, sua mínima efetividade tem fundamento na
Constituição Federal, de modo que a questão debatida nos autos tem natureza igualmente constitucional.
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que desproveu o agravo tendo em vista a natureza
infraconstitucional da controvérsia, uma vez que o tema é tratado no Código Penal.
RE 1241683 AgR/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 4.2.2020. (INF 965)
A Segunda Turma, em conclusão e por empate, deu provimento a agravo regimental em habeas
corpus e concedeu parcialmente a ordem para determinar ao juízo de origem que: a) proceda a nova
dosimetria da pena, para aplicar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 (1),
em patamar a ser fixado motivadamente; e b) analise a possibilidade de abrandamento do regime inicial
de cumprimento da pena e a substituição da reprimenda por medidas restritivas de direitos. Ademais,
concedeu a ordem, de ofício, para revogar a prisão para execução provisória da pena decretada em
desfavor da paciente, e para autorizar o juízo de origem a analisar a eventual necessidade de aplicação de
medidas cautelares diversas (Informativo 940).
No caso, a paciente foi condenada, em regime inicial fechado, pelos crimes previstos nos arts. 33
(tráfico de drogas) e 35 (associação ao tráfico) da Lei 11.343/2006. A impetração sustentou, em suma,
que: a) a paciente foi condenada, pela prática dos crimes de tráfico de drogas e associação ao tráfico, à
pena de oito anos de reclusão, em regime fechado; b) está ausente o animus associativo, de modo que não
pode ser configurado o crime de associação para o tráfico e deve ser aplicado o redutor previsto no art.
33, § 4º, da Lei 11.343/2006; c) o regime mais gravoso foi fixado com base unicamente na hediondez do
delito; d) a paciente possui um filho de nove anos de idade, o que enseja o cumprimento da pena em
prisão domiciliar, em homenagem ao princípio da proteção integral da criança, previsto no art. 227 da
Constituição Federal (CF) (2); e e) a paciente é primária e possui residência fixa e trabalho lícito.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes, que foi acompanhado pelo ministro Ricardo
Lewandowski. Anotou que a paciente foi condenada pelos delitos de tráfico de drogas e associação para o
tráfico juntamente com seu marido, em razão de terem sido encontrados entorpecentes em sua residência.
De acordo com a sentença condenatória, testemunhas apontaram que ela somente seguia as ordens
do marido, em uma relação de dependência. Ademais, a condenação, na medida em que não contemplou
o redutor previsto no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006, o fez somente em razão do delito de associação
para o tráfico, muito embora o cenário fosse de relação doméstica, em que a mulher é influenciada a
participar do tráfico. Não há, na hipótese, verdadeira organização criminosa.
A previsão da redução de pena contida no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 tem como
fundamento distinguir o traficante contumaz e profissional daquele iniciante na vida criminosa, bem
como do que se aventura na vida da traficância por motivos que, por vezes, confundem-se com a sua
própria sobrevivência e/ou de sua família. Assim, para legitimar a não aplicação do redutor é essencial
fundamentação corroborada em elementos capazes de afastar um dos requisitos legais, sob pena de
desrespeito ao princípio da individualização da pena e de fundamentação das decisões judiciais.
Nesse sentido, a habitualidade e o pertencimento a organizações criminosas deverão ser
comprovados, não valendo a simples presunção. Não havendo prova nesse sentido, o condenado fará jus à
redução de pena. Em outras palavras, militará em favor do réu a presunção de que é primário e de bons
antecedentes e de que não se dedica a atividades criminosas nem integra organização criminosa. O ônus
da prova, nesse caso, é do Ministério Público.
Assim, considerou preenchidas as condições da aplicação da redução de pena, por se estar diante
de ré primária, com bons antecedentes e sem indicação de pertencimento a organização criminosa.
O ministro Ricardo Lewandowski destacou, ainda, que ela é mãe de criança menor de 12 anos, que
depende de seus cuidados, o que levaria à aplicação do precedente fixado pela Turma no HC 143.641, por
não se tratar de crime praticado com violência ou grave ameaça, tampouco cometido contra seu filho ou
dependente.
O ministro Edson Fachin (relator) e a ministra Cármen Lúcia votaram pela negativa de provimento
ao agravo.
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15
(quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no §
1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes,
não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”
(2) CF: “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.”
HC 154694 AgR/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 4.2.2020. (INF 965)
7.7 PENA
(1) CP: “Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até
o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços.”
A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a recurso ordinário em habeas corpus para
absolver, com base no princípio da insignificância, paciente, que possui antecedentes criminais por crimes
patrimoniais, da acusação de furto de um carrinho de mão avaliado em R$ 20,00 (vinte reais).
Vencidos os ministros Marco Aurélio (relator) e Luiz Fux, que votaram pelo não provimento do
recurso por entenderem que o furto de objeto de pequeno valor está tipificado no § 2º do art. 155 do CP
(1), de modo que não caberia aplicação do princípio da insignificância ao caso.
(1) CP: “Art. 155 – Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: (...) § 2º Se o criminoso é primário, e é de
pequeno valor a coisa furtada, o juiz pode substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar
somente a pena de multa. ”
RHC 174784/MS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 11.2.2020. (INF 966)
A Segunda Turma negou provimento a agravo regimental interposto de decisão na qual concedida
a ordem em habeas corpus para determinar a absolvição do paciente.
Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas, uma garrafa pequena de refrigerante, duas
garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro de pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. Nas outras instâncias,
o princípio da insignificância não foi aplicado em razão da reincidência do paciente e do fato de o furto
ter sido cometido no período noturno.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes (relator) e foi mantida integralmente a decisão
agravada, que reconheceu a atipicidade da conduta em razão da insignificância. O ministro levou em
conta que o princípio da insignificância atua como verdadeira causa de exclusão da própria tipicidade.
Considerou equivocado afastar-lhe a incidência tão somente pelo fato de o recorrido possuir antecedentes
criminais.
Reputou mais coerente a linha de entendimento segundo a qual, para a aplicação do princípio da
bagatela, devem ser analisadas as circunstâncias objetivas em que se deu a prática delituosa e não os
atributos inerentes ao agente. Reincidência ou maus antecedentes não impedem, por si sós, a aplicação do
postulado da insignificância.
A despeito de restar patente a existência da tipicidade formal, não incide, na situação dos autos, a
material, que se traduz na lesividade efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado, sendo atípica a conduta
imputada.
Em uma leitura conjunta do princípio da ofensividade com o princípio da insignificância, estar-se-
á diante de uma conduta atípica quando a conduta não representar, pela irrisória ofensa ao bem jurídico
tutelado, um dano (nos crimes de dano), uma certeza de risco de dano (nos crimes de perigo concreto) ou,
ao menos, uma possibilidade de risco de dano (nos crimes de perigo abstrato), conquanto haja, de fato,
uma subsunção formal do comportamento ao tipo penal. Em verdade, não haverá crime quando o
comportamento não for suficiente para causar um dano, ou um perigo efetivo de dano, ao bem jurídico –
quando um dano, ou um risco de dano, ao bem jurídico não for possível diante da mínima ofensividade da
conduta.
O relator compreendeu também não ser razoável que o Direito Penal e todo o aparelho estatal
movimentem-se no sentido de atribuir relevância à hipótese em apreço. Destacou que sequer houve
prejuízo material, pois os objetos foram restituídos à vítima. Motivo a mais para a incidência do
postulado.
Noutro passo, reportou-se a precedentes da Turma segundo os quais furto qualificado ou majorado
não impede a possibilidade de aplicação do princípio da insignificância.
Além disso, assentou que as circunstâncias do caso demonstram a presença dos vetores traçados
pelo Supremo Tribunal Federal para configuração do mencionado princípio (HC 84.412).
HC 181389 AgR/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.4.2020. (INF 973)
7.9 REINCIDÊNCIA
A Primeira Turma negou provimento a agravo regimental interposto contra decisão que indeferiu a
ordem de habeas corpus impetrado em face de acórdão do Superior Tribunal de Justiça.
Nas razões do agravo regimental, a defesa insistiu na existência de ilegalidade no reconhecimento
da reincidência em desfavor da paciente. Alegou que a reincidência foi reconhecida com base em
informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos de tribunais — documentação precária e,
portanto, sem aptidão para comprovar o trânsito em julgado de condenações anteriores.
O colegiado considerou que, conforme jurisprudência da Corte, para fins de comprovação da
reincidência, é necessária documentação hábil que traduza o cometimento de novo crime depois de
transitar em julgado a sentença condenatória por crime anterior, mas não se exige, contudo, forma
específica para a comprovação [Código Penal (CP), art. 63] (1).
Nessa linha, não há ilegalidade no ato dito coator, no ponto em reconhecida a existência de
reincidência a partir do uso de informações processuais extraídas dos sítios eletrônicos de tribunais.
Ademais, a verossimilhança das informações que embasaram o reconhecimento da reincidência
não foi superada pela defesa, que apenas apontou ser precária a documentação que a lastreia. Ou seja, a
defesa repisa a inviabilidade da reincidência pela mera repulsa à forma pela qual essa agravante fora
reconhecida na origem, mas não traz prova pré-constituída apta a desconstituir seu conteúdo. Inviável,
dessa forma, concluir de forma diversa das instâncias ordinárias.
(1) CP: “Art. 63 – Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.”
HC 162548 AgR/SP, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 16.6.2020. (INF 982)
8. DIREITO PREVIDENCIÁRIO
8.1 BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS
Art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991: “desaposentação” e “reaposentação” - RE 381367 ED/RS e
RE 827833 ED/SC
(1) Lei 8.231/1991: “Art. 18. O Regime Geral de Previdência Social compreende as seguintes prestações, devidas inclusive
em razão de eventos decorrentes de acidente do trabalho, expressas em benefícios e serviços: (...) § 2º O aposentado pelo Regime
Geral de Previdência Social–RGPS que permanecer em atividade sujeita a este Regime, ou a ele retornar, não fará jus a prestação
alguma da Previdência Social em decorrência do exercício dessa atividade, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional,
quando empregado.”
RE 381367 ED/RS, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 6.2.2020. (INF 965)
RE 827833 ED/SC, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 6.2.2020. (INF 965)
9. DIREITO PROCESSUAL CIVIL
9.1 AÇÃO RESCISÓRIA
A ação rescisória não é sucedânea de embargos de declaração. Com base nesse entendimento, o
Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação rescisória ajuizada contra decisão
monocrática, que deu parcial provimento a recurso extraordinário do contribuinte para afastar a aplicação
do conceito de faturamento definido no art. 3º, § 1º, da Lei 9.718/1998.
No caso, alegava-se suposto erro de fato na decisão de mérito proferida no julgamento de recurso
extraordinário, por considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, consistente na petição do recorrente,
com expressa renúncia ao direito em que se fundava a ação e a eventuais recursos. Sustentava-se,
também, literal violação do art. 269, V, do Código de Processo Civil (CPC) de 1973, que prevê a extinção
do feito quando o autor renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação, e do art. 501 do mesmo diploma
legal, que dispõe sobre a possibilidade de o recorrente desistir do recurso, a qualquer tempo, sem a
anuência do recorrido ou dos litisconsortes.
O Tribunal rechaçou a alegada violação à literal disposição de lei, e, por maioria, a existência de
erro de fato.
Quanto ao erro de fato, o colegiado entendeu haver omissão, que deixou de ser sanada ante a
ausência de oposição de embargos de declaração. Afirmou não ser possível, na hipótese em que verificada
a ocorrência de omissão, que a parte deixe de embargar para, após o trânsito em julgado, pleitear por meio
de ação rescisória. Admitir o contrário poderia constituir precedente no sentido de que toda omissão
poderia ser caracterizada como erro de fato.
Verificou-se, ademais, não haver nos autos procuração com poderes específicos para a desistência
do recurso ou a renúncia ao direito em que se funda a ação.
Vencidos, parcialmente, os ministros Gilmar Mendes (relator) e Ricardo Lewandowski (revisor)
que, ao reconhecerem a existência de erro de fato, julgaram procedente, em parte, o pedido para rescindir
a decisão proferida no recurso extraordinário e, assim, homologaram a petição de renúncia ao direito em
que se fundava a ação e julgaram a demanda originária extinta com resolução de mérito.
AR 2107/SP, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 16.9.2020. (INF 991)
(1) CPC/2015: “Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da
demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de
quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com
representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. § 1º A intervenção de que trata o caput não implica
alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do
§ 3º. § 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae. § 3º O
amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas.”
ADI 3396 AgR/DF, rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 6.8.2020. (INF 985)
É constitucional norma que inclui, entre as incumbências dos oficiais de justiça, a tarefa de
“auxiliar os serviços de secretaria da vara, quando não estiverem realizando diligência.”
Não havendo, na norma atacada, transformação de cargos, alteração de funções nem ocupação de
carreira diversa, bem como evidenciada a aderência do dispositivo questionado às atividades atinentes aos
oficiais de justiça, não há falar em violação dos princípios da investidura, da legalidade e da moralidade,
e, em consequência, em ofensa aos artigos 37, caput e II (1), e 39, § 1º, I, II e III (2), da Constituição
Federal (CF).
A exigência de realização de novo concurso público por aqueles já nomeados em determinado
cargo, a teor do art. 37, II, da CF, tem lugar nos casos de alteração das funções do servidor, de modo a
configurar mudança no enquadramento de seu ofício, o que não ocorre no caso.
Por outro lado, deflui do preceito impugnado que o seu escopo é o aumento da celeridade e da
eficiência na prestação de serviços públicos, majorando sua qualidade no âmbito do Poder Judiciário,
mediante a distribuição de tarefas entre os servidores competentes. Além disso, dispõe o Código de
Processo Civil [CPC, arts. 154 (3) e 149 (4)] que a competência para a realização de atos auxiliares ao
juízo é intrínseca ao cargo de oficial de justiça, como evidencia a análise das suas atribuições, bem como
a natureza de auxiliar da Justiça desses servidores.
Com base nesse entendimento, o Plenário julgou improcedente ação direta de
inconstitucionalidade ajuizada em face do disposto no art. 94, VIII, da Lei Complementar 14/1991 do
estado do Maranhão, na redação dada pela Lei Complementar 68/2003.
(1) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte: (...) II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de
provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as
nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração;”
(2) CF: “Art. 39. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios instituirão conselho de política de administração e
remuneração de pessoal, integrado por servidores designados pelos respectivos Poderes. § 1º A fixação dos padrões de vencimento e
dos demais componentes do sistema remuneratório observará: I – a natureza, o grau de responsabilidade e a complexidade dos
cargos componentes de cada carreira; II – os requisitos para a investidura; III – as peculiaridades dos cargos.”
(3) CPC: “Art. 154. Incumbe ao oficial de justiça: I – fazer pessoalmente citações, prisões, penhoras, arrestos e demais
diligências próprias do seu ofício, sempre que possível na presença de 2 (duas) testemunhas, certificando no mandado o ocorrido,
com menção ao lugar, ao dia e à hora; II – executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III – entregar o mandado em
cartório após seu cumprimento; IV – auxiliar o juiz na manutenção da ordem; V – efetuar avaliações, quando for o caso; VI –
certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de
comunicação que lhe couber. Parágrafo único. Certificada a proposta de autocomposição prevista no inciso VI, o juiz ordenará a
intimação da parte contrária para manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sem prejuízo do andamento regular do processo,
entendendo-se o silêncio como recusa.”
(4) CPC: “Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de
organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o
tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias.”
ADI 4853/MA, rel. min. Rosa Weber, julgamento virtual finalizado em 3.11.2020. (INF 997)
(1) CF: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral,
agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”
(2) CF: “Art. 165. Leis de iniciativa do Poder Executivo estabelecerão: (...) § 9º Cabe à lei complementar: (...) II –
estabelecer normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e indireta bem como condições para a instituição e
funcionamento de fundos.”
(3) Lei 4.320/1964: “Art. 71. Constitui fundo especial o produto de receitas especificadas que por lei se vinculam à
realização de determinados objetivos ou serviços, facultada a adoção de normas peculiares de aplicação.”
(4) CF: “Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: (...) Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I – exercer, ainda que
em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;”
ADI 4981/RR, rel. Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 14.11.2020. (INF 999)
A Primeira Turma, por maioria, acolheu embargos de declaração, com efeitos infringentes, para
dar provimento a agravo regimental e julgar procedente reclamação, de forma que seja cassado o acórdão
impugnado, com determinação para que a autoridade reclamada observe o entendimento fixado no Tema
725 da repercussão geral (RE 958.252, rel. Min. Luiz Fux) e ADPF 324 (rel. Min. Roberto Barroso).
No caso, antes do trânsito em julgado, foram opostos embargos de declaração no qual se postulou
a aplicação da jurisprudência supervenientemente formada.
O colegiado entendeu que o novo Código de Processo Civil prevê a hipótese de cabimento de
embargos de declaração para reajustar a jurisprudência firmada em teses que o Supremo Tribunal Federal
e o Superior Tribunal de Justiça adotarem. Portanto, antes do trânsito em julgado é legítimo readequar o
julgado anterior para ajustá-lo à posição do Plenário.
Vencidos os ministros Rosa Weber (relatora) e Marco Aurélio, que rejeitaram os embargos de
declaração, tendo em conta que na época em que proferida a decisão embargada não havia
pronunciamento do Plenário em sede de repercussão geral sobre o tema.
Rcl 15724 AgR-ED/PR, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 5.5.2020. (INF 976)
A Primeira Turma, em conclusão e por maioria, negou provimento a agravo em que se discutia a
possibilidade de retenção dos honorários advocatícios contratuais do valor a ser recebido por município
em execução de complementação de verbas do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef) (Informativo 937).
Na espécie, a União foi condenada a pagar a município as diferenças devidas e não repassadas a
título de complementação da transferência de recursos do Fundef. Na execução, o município requereu o
pagamento dos valores devidos relativos às diferenças e aos honorários de advogados. A União opôs
embargos sob o argumento de excesso de execução e desvinculação das verbas. Os embargos foram
julgados improcedentes, e a União interpôs apelação.
O tribunal regional federal negou provimento ao apelo. No que se refere à alegação de vinculação
do precatório a crédito do Fundo destinado exclusivamente à educação, decidiu que em nada afeta a
exigibilidade da dívida, porquanto descabe vincular judicialmente o valor do precatório a uma finalidade
específica (gasto com educação). A União deve fiscalizar a utilização dos recursos pelos instrumentos de
controle dos quais usualmente se vale nas vias administrativas. Quanto à possibilidade de retenção dos
valores a serem percebidos pelo município a título de honorários contratuais, reputou ser direito do
advogado a retenção, se requerida, mediante a juntada do contrato e antes da expedição do requisitório,
com base no art. 22, § 4º, da Lei 8.906/1994 (1).
No recurso extraordinário, a União alegou que o acórdão recorrido ofende a Constituição Federal
(CF) e, em especial, o art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (2).
Prevaleceu o voto do ministro Marco Aurélio (relator) que reputou que a controvérsia está
circunscrita à análise da legislação infraconstitucional. Além disso, entendeu que o acolhimento das
razões recursais depende do reexame de fatos, o que é inviável em sede de recurso extraordinário.
Vencido os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux, que deram parcial provimento ao agravo
para decotar os valores destinados ao pagamento das despesas com os honorários do montante global da
execução.
O ministro Alexandre de Moraes considerou que os prefeitos não podem contratar advogados
mediante acordos de percentuais das verbas do Fundef para pagamento de honorários, visto que os
recursos não pertencem aos prefeitos e possuem destinação específica. Para o ministro, o desvio é
inadmissível. Rememorou que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ao apreciar a SL 1.186,
concedeu tutela de urgência para suspender o pagamento de honorários advocatícios com recursos do
Fundef.
(1) Lei 8.906/1994: “Art. 22. A prestação de serviço profissional assegura aos inscritos na OAB o direito aos honorários
convencionados, aos fixados por arbitramento judicial e aos de sucumbência. (...) § 4º Se o advogado fizer juntar aos autos o seu
contrato de honorários antes de expedir-se o mandado de levantamento ou precatório, o juiz deve determinar que lhe sejam pagos
diretamente, por dedução da quantia a ser recebida pelo constituinte, salvo se este provar que já os pagou.”
(2) ADCT: “Art. 60. Até o 14º (décimo quarto) ano a partir da promulgação desta Emenda Constitucional, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios destinarão parte dos recursos a que se refere o caput do art. 212 da Constituição Federal à
manutenção e desenvolvimento da educação básica e à remuneração condigna dos trabalhadores da educação, respeitadas as
seguintes disposições: (...)”
ARE 1107296 AgR/PE, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 11.2.2020. (INF 966)
9.7 LEGITIMIDADE
Os procuradores públicos têm capacidade postulatória para interpor recursos extraordinários contra
acórdãos proferidos em sede de ação de controle concentrado de constitucionalidade, nas hipóteses em
que o legitimado para a causa outorgue poderes aos subscritores das peças recursais. Com base nesse
entendimento, o Plenário deu provimento a embargos de divergência, para admitir recurso extraordinário.
No caso, embora a petição de recurso extraordinário não tenha sido subscrita por prefeito
municipal, mas somente por dois procuradores, sendo um deles o chefe da procuradoria do município, há,
nos autos, documento com manifestação inequívoca do chefe do Poder Executivo, conferindo poderes
específicos aos procuradores para instaurar o processo de controle normativo abstrato de
constitucionalidade, bem como para recorrer das decisões proferidas nos autos.
Vencidos os ministros Edson Fachin, Luiz Fux e Celso de Mello, que negaram provimento aos
embargos de divergência. Pontuaram que tanto para a propositura de ação quanto para a interposição de
recursos, é necessária a presença da assinatura do legitimado para a causa.
O Plenário, por maioria, deferiu pedidos de sustentação oral no julgamento de ação direta de
inconstitucionalidade deslocado do Plenário Virtual (PV) para o físico.
Na espécie, o julgamento se iniciou no PV. Após o voto do ministro Alexandre de Moraes
(relator), o ministro Edson Fachin pediu vista dos autos. Houve a publicação da ata de julgamento no
Diário da Justiça Eletrônico (DJE) e a devolução do processo em ambiente virtual. Posteriormente, o feito
foi retirado do julgamento virtual e encaminhado para o presencial, em face de pedido de destaque
formulado por ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Prevaleceu o voto do ministro Marco Aurélio, que resolveu questão preliminar quanto à
possibilidade de permitir, no caso, as sustentações orais. Consignou que o julgamento se reinicia com o
deslocamento para a sessão física. Aduziu ainda que, como regra do próprio STF, os advogados somente
têm acesso ao que deliberado na sessão virtual depois de prolatados todos os votos.
A ministra Cármen Lúcia frisou que, na Segunda Turma, também se procede dessa maneira, ou
seja, quando deslocado para o ambiente presencial por destaque, o julgamento recomeça. O ministro
Ricardo Lewandowski salientou que a sustentação oral se insere dentro do direito à ampla defesa
constitucionalmente garantido e é uma prerrogativa do advogado.
Vencidos os ministros Alexandre de Moraes (relator), Luiz Fux e Dias Toffoli, que indeferiram os
pedidos de sustentação oral, porque já proferido voto no PV. O relator sublinhou a existência de prazo
para o requerimento de sustentação oral. O ministro Dias Toffoli, por sua vez, asseverou que as partes
têm até 48 horas, antes do início da sessão, para formular pedido de destaque do julgamento virtual.
ADI 4735/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 6.2.2020. (INF 965)
9.9 RECLAMAÇÃO
Reclamação: sistemática da repercussão geral e julgamento de REsp pelo STJ - 3 - Rcl 24810
AgR/MG
A Primeira Turma, em conclusão e por maioria, deu provimento ao agravo regimental para negar
seguimento a reclamação em que se discutia se a decisão do presidente de tribunal regional federal (TRF),
que inadmitiu recurso extraordinário ao reputá-lo prejudicado em face do julgamento de recurso especial,
teria descumprido a autoridade da decisão proferida, por ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), no
AI 816.086 (Informativos 951 e 962).
No caso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), em agosto de 2010, deu provimento a recurso
especial (REsp) interposto pela Fazenda Nacional em desfavor dos contribuintes, ora reclamantes. Em
outubro de 2010, o referido AI foi provido pelo respectivo relator para admitir o recurso extraordinário
interposto pelos ora reclamantes e determinar a devolução dos autos ao tribunal de origem, a fim de que,
nele, fosse observado o disposto no art. 543-B e respectivos parágrafos do Código de Processo Civil
vigente à época (CPC/1973) (1). Na ocasião, o relator do AI indicou que a controvérsia jurídica versada
naquele feito coincidiria, em todos os seus aspectos, com a questão constitucional correspondente ao
Tema 311 da repercussão geral. A Fazenda interpôs agravo regimental contra esse ato decisório, o qual
não foi conhecido. Em agosto de 2015, o presidente do TRF, com fundamento no acórdão do STJ,
declarou o prejuízo do mencionado recurso extraordinário, por superveniente perda de objeto. Contra esse
pronunciamento, foi ajuizada a presente reclamação. Em decisão monocrática, o então relator julgou
procedente a reclamação para cassar a decisão reclamada e determinar que o presidente do TRF
encaminhasse os autos do recurso extraordinário interposto pelos reclamantes a órgão colegiado daquela
corte a fim de que procedesse como entendesse de direito, realizasse ou refutasse juízo de retratação.
Compreendeu estar evidenciado o desrespeito à decisão proferida no aludido AI 816.086, uma vez que a
autoridade reclamada deixou de observar a determinação de que fosse aplicada, ao caso, a sistemática da
repercussão geral. Contra a decisão de procedência da reclamação, a União interpôs o agravo regimental.
A Turma concluiu que, à época, os ora reclamantes não interpuseram o recurso adequado contra a
decisão do presidente do TRF, que inadmitiu o recurso extraordinário em razão de sua prejudicialidade.
Dessa forma, a decisão reclamada do presidente do TRF, prolatada em 28.8.2015, transitou em julgado
antes do ajuizamento da reclamação, ocorrido em 2.8.2016. Como o juízo de admissibilidade recursal
possui natureza declaratória — tem eficácia ex tunc —, impõe-se a aplicação do art. 988, § 5º, CPC/2015,
segundo o qual é inadmissível a reclamação proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada
[Enunciado 734 da Súmula do STF (2)]. Em outras palavras, a interposição do recurso inadequado na
origem não operou o efeito recursal obstativo, de sorte que a coisa julgada se consumou antes do
ajuizamento da reclamação.
Além disso, o ato do STF, no qual determinada a devolução dos autos ao Tribunal de origem, para
que fosse observado o disposto no art. 543-B do CPC/1973, seria desprovido de cunho decisório e
eventual equívoco do STF não repristinaria o acórdão substituído pela decisão do STJ.
Vencido o ministro Alexandre de Moraes. Para ele, a decisão reclamada, ao inadmitir o recurso
extraordinário, tornou sem efeito decisão anterior que havia admitido o RE.
(1) CPC/1973: “Art. 543-B. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a
análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto
neste artigo. § 1º Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao
Supremo Tribunal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte. § 2º Negada a existência de
repercussão geral, os recursos sobrestados considerar-se-ão automaticamente não admitidos. § 3º Julgado o mérito do recurso
extraordinário, os recursos sobrestados serão apreciados pelos Tribunais, Turmas de Uniformização ou Turmas Recursais, que
poderão declará-los prejudicados ou retratar-se. § 4º Mantida a decisão e admitido o recurso, poderá o Supremo Tribunal Federal,
nos termos do Regimento Interno, cassar ou reformar, liminarmente, o acórdão contrário à orientação firmada. § 5º O Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal disporá sobre as atribuições dos Ministros, das Turmas e de outros órgãos, na análise da
repercussão geral.”
(2) Enunciado 734 da Súmula do STF: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se
alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal.”
Rcl 24810 AgR/MG, rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 11.2.2020. (INF 966)
9.10 RECURSOS
A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental em recurso extraordinário
com agravo, para prover recurso extraordinário deduzido contra acórdão do Tribunal Superior do
Trabalho (TST), a fim de reconhecer a incompetência da Justiça do Trabalho e determinar a remessa dos
autos à Justiça comum.
Na decisão impugnada pelo agravo regimental em debate, a ministra Rosa Weber (relatora)
considerou que o acolhimento da pretensão do recorrente não prescindiria da análise da natureza da
contratação, se jurídico-administrativa ou celetista. Razão pela qual compreensão diversa do tribunal de
origem demandaria o exame do quadro fático delineado pelas instâncias ordinárias, procedimento vedado
em sede extraordinária, a teor do Enunciado 279 da Súmula do STF (1).
Prevaleceu o voto do ministro Roberto Barroso, que proveu o agravo regimental e reconheceu a
competência da Justiça comum.
Esclareceu tratar-se de ação que tramitou na Justiça do Trabalho, a discutir verbas trabalhistas de
servidor contratado por município, sem prévio concurso público, para exercer função de zelador.
Afirmou que, desde a primeira instância, foi arguida a incompetência da Justiça laboral para
apreciar o pleito de servidor contratado após o advento da Constituição Federal de 1988 (CF/1988) sem
aprovação em certame público.
O ministro ponderou inexistir necessidade de analisar provas, haja vista ser incontroverso nos
autos o estabelecimento, mediante ato normativo, de regime jurídico único para a contratação de
servidores pelo município.
Concluiu que a Turma possui condições de julgar o mérito. Conforme decisão proferida na ADI
3395, o Supremo Tribunal Federal (STF) reputou ser da Justiça comum a competência para julgar
conflitos entre município e servidor contratado depois da CF/1988, ainda que sem concurso público, pois,
uma vez vigente regime jurídico-administrativo, este disciplinará a absorção de pessoal pelo poder
público.
Logo, eventual nulidade do vínculo e as consequências daí oriundas devem ser apreciadas pela
Justiça comum, e não pela Justiça do Trabalho.
Por fim, reiterou estar em discussão o sentido e o alcance do art. 114, I, da CF (2) fixados em
decisão plenária na aludida ação direta de inconstitucionalidade.
O ministro Luiz Fux acentuou que a lei processual admite que sejam superados requisitos de
admissibilidade em função da primazia da questão de mérito.
Vencida a ministra Rosa Weber (relatora), que negou provimento ao agravo regimental, no que foi
acompanhada pelo ministro Marco Aurélio. A relatora manteve o ato agravado. Em reforço, reportou-se à
jurisprudência do STF segundo a qual, limitada a manifestação da origem à verificação dos pressupostos
de admissibilidade de recurso de revista, notadamente quanto à aplicação do Verbete 126 da Súmula do
TST (3), cabe o entendimento de que ausente repercussão geral da matéria relativa ao cabimento de
recursos da competência de outros Tribunais (ARE 1.189.584 AgR). Por seu turno, o ministro Marco
Aurélio salientou que a matéria de fundo não foi apreciada pelo TST.
(1) Enunciado 279/STF: “Para simples reexame de prova não cabe recurso extraordinário.”
(2) CF: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho,
abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios;”
(3) Enunciado 126/TST: “Incabível o recurso de revista ou de embargos (arts. 896 e 894, b, da CLT) para reexame de fatos
e provas.”
ARE 1179455 AgR/PI, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento
em 5.5.2020. (INF 976)
Reclamação: Tema 253 da repercussão geral, Metrô-DF e execução - Rcl 29637 AgR/DF
Em conclusão de julgamento, a Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental
para julgar improcedente reclamação deduzida pela Companhia do Metropolitano do Distrito Federal
(Metrô-DF), entendendo legítima a cobrança de dívida mediante fórmula que se fixa no pagamento
devido por qualquer entidade.
Na reclamação, o Metrô-DF sustentava que o ato reclamado não teria observado a autoridade de
pronunciamento do Supremo Tribunal Federal (STF) proferido, em sede de repercussão geral, no RE
599.628 (Tema 253) (1), bem como em outros julgados similares referentes à aplicação do rito da
Fazenda Pública a empresas públicas e sociedades de economia mista prestadoras de serviços públicos
essenciais e em regime de monopólio.
O colegiado não vislumbrou aderência entre a decisão reclamada e o entendimento fixado no
Tema 253 da repercussão geral.
O ministro Roberto Barroso salientou que o Metrô-DF é empresa pública, regida pelo direito
privado. A seu ver, embora preste serviço de utilidade pública, a empresa não presta serviço público
essencial em sentido típico ou de caráter monopolístico.
Ademais, o Distrito Federal está em atraso com seus precatórios desde 2004. Logo, a determinação
de que seja paga a dívida por precatório significa pura e simplesmente que o credor sofrerá calote
inequívoco ou, no mínimo, se essa ordem continuar, que irá aguardar pouco mais de dezesseis anos para
receber seu crédito. Considerou isso negação de justiça.
De acordo com o ministro Marco Aurélio, não é possível tomar de empréstimo o que decidido no
mencionado tema para estender-se às pessoas jurídicas de direito privado.
O ministro enfatizou que o Metrô-DF tem contabilidade própria e seu orçamento não é alcançado
pelo art. 100 da Constituição Federal (CF) (2). A empresa é concessionária de serviço público e, como as
concessionárias em geral, responde pelos débitos trabalhistas e pelos débitos comuns.
Por sua vez, a ministra Rosa Weber explicitou que a reclamação foi ajuizada na vigência do
Código de Processo Civil de 2015, que admite o cabimento para garantir a observância de acórdão
proferido em repercussão geral reconhecida, desde que esgotadas as instâncias ordinárias. Em atenção à
finalidade do sistema de repercussão geral, decisões do STF ressaltam a excepcionalidade do cabimento
da reclamação nessa hipótese.
Esclareceu que, além do esgotamento das instâncias, constitui pressuposto de cabimento a
demonstração de teratologia na decisão reclamada quanto à subsunção do caso individual, representado
pela controvérsia objeto do recurso extraordinário, à decisão proferida em repercussão geral.
Acentuou que, na espécie, a admissibilidade do recurso extraordinário interposto pelo Metrô-DF
foi negada, tendo em vista o reconhecimento, na decisão reclamada, do desenvolvimento de atividade
econômica com a exploração comercial de marcas, patentes, tecnologia e serviços técnicos
especializados, com a distribuição de dividendos, o que permite a penhora de seus bens.
Nesse contexto, em que expressamente registrada a distribuição de lucros entre os acionistas da
empresa, não está demonstrada a teratologia na aplicação do entendimento do STF. Não há como concluir
numa teratologia que permita a solução da controvérsia em reclamação, mesmo que se esteie em
descumprimento contrario sensu do tema.
Em reforço, o fato de a matéria estar em exame na ADPF 524 MC-Ref, com voto do relator
propondo a conversão em julgamento definitivo e o não referendo da liminar, que ele próprio deferira,
quanto ao Metrô-DF (Informativo 934).
Vencidos os ministros Luiz Fux (relator) e Alexandre de Moraes, que deram parcial provimento ao
agravo para arbitrar novo valor da causa e, consectariamente, readequar a condenação em honorários
sucumbenciais, assentada no ato agravado. Para eles, o Metrô-DF deve ser submetido ao regime de
execução pela via dos precatórios, pois presta serviço público de natureza essencial, atua de maneira
deficitária e é custeado pela Fazenda Pública, dentre outros motivos. O ministro Alexandre de Moraes
avaliou que o Metrô não tem concorrência, porque os sistemas modais se complementam e não
concorrem entre si.
(1) Tema 253 da repercussão geral: “Sociedades de economia mista que desenvolvem atividade econômica em regime
concorrencial não se beneficiam do regime de precatórios, previsto no art. 100 da Constituição da República.”
(2) CF: “Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude
de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos
respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este
fim.”
Rcl 29637 AgR/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
30.6.2020. (INF 984)
CLT, art. 896-A: recurso de revista, ausência de transcendência e repercussão geral - Rcl
36958 AgR/SP e Rcl 40652 AgR/DF
A Primeira Turma, por maioria, deu provimento a agravos regimentais para cassar as decisões
reclamadas e afastar a responsabilidade subsidiária da União.
As reclamações foram ajuizadas contra decisões do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que
negaram seguimento a Agravo de Instrumento em Recurso de Revista (AIRR) por “ausência de
transcendência” da controvérsia, motivo pelo qual determinaram a baixa imediata dos autos.
A reclamante alegava afronta ao que decidido pelo STF na ADC 16 e no RE 760.931 (Tema 246
da repercussão geral). Em suma, sustentava que o TST não poderia negar a transcendência a processo
cuja matéria de fundo tenha sido objeto de ação direta de constitucionalidade, de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida ou de enunciado da Súmula Vinculante. Aduzia que empecer os
recursos de revista, por reputar inexistente o mencionado instituto, caracterizaria usurpação de
competência do STF.
Nas decisões, ora agravadas, a ministra Rosa Weber (relatora) negou seguimento às reclamações,
uma vez que o Tribunal de origem assentara a responsabilidade subsidiária do ente público por culpa in
vigilando. Sublinhou que afastar tal conclusão exigiria a reabertura do debate fático-probatório,
procedimento inviável em sede de reclamação.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. O ministro observou que os autos versam
sobre a questão da responsabilidade solidária do ente público, matéria cuja repercussão geral foi
reconhecida e decidida pelo STF. Assinalou que o TST tem negado a transcendência da questão com base
no art. 896-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) (1), e, ao mesmo tempo, tem determinado o
imediato trânsito em julgado. Isso impede que a controvérsia chegue ao STF e possa vir à discussão.
A seu ver, a análise da transcendência se faz no campo jurídico e o TST não está a analisar
questões fáticas do Tribunal Regional do Trabalho. Ao examinar a matéria e barrar a transcendência,
aquele Tribunal está a impedir que o STF aprecie a mesma questão jurídica, já analisada anteriormente,
sobre a qual foi editada uma tese da necessidade de exame detalhado de haver ou não culpa.
Por seu turno, o ministro Roberto Barroso recordou o contexto em que se deram o julgamento da
ADC 16 e do RE 760.931. Ponderou existir resistência da Justiça do Trabalho relativamente à
interpretação dada pelo STF, pois automaticamente se considera que haja culpa in vigilando. Ademais, ao
negar a transcendência e a subida do feito, no fundo, o que se faz é impedir que a posição pacificada do
STF prevaleça nos casos.
Em arremate, acentuou ser medida de economia processual julgar o mérito pela aplicação da tese
firmada no STF.
Vencida a ministra Rosa Weber (relatora), que negou provimento aos agravos, haja vista o tribunal
de origem ter assentado a responsabilidade subsidiária do ente público por culpa in vigilando. Para a
relatora, a afirmação de culpa in vigilando não implica descumprimento do que decidido pelo STF.
Ademais, a decisão reclamada se limita a examinar o pressuposto extrínseco de admissibilidade recursal,
que é a existência ou não de transcendência.
(1) CLT: “Art. 896-A – O Tribunal Superior do Trabalho, no recurso de revista, examinará previamente se a causa oferece
transcendência com relação aos reflexos gerais de natureza econômica, política, social ou jurídica. § 1º São indicadores de
transcendência, entre outros: I – econômica, o elevado valor da causa; II – política, o desrespeito da instância recorrida à
jurisprudência sumulada do Tribunal Superior do Trabalho ou do Supremo Tribunal Federal; III – social, a postulação, por
reclamante-recorrente, de direito social constitucionalmente assegurado; IV – jurídica, a existência de questão nova em torno da
interpretação da legislação trabalhista. § 2º Poderá o relator, monocraticamente, denegar seguimento ao recurso de revista que não
demonstrar transcendência, cabendo agravo desta decisão para o colegiado. § 3º Em relação ao recurso que o relator considerou não
ter transcendência, o recorrente poderá realizar sustentação oral sobre a questão da transcendência, durante cinco minutos em sessão.
§ 4º Mantido o voto do relator quanto à não transcendência do recurso, será lavrado acórdão com fundamentação sucinta, que
constituirá decisão irrecorrível no âmbito do tribunal. § 5º É irrecorrível a decisão monocrática do relator que, em agravo de
instrumento em recurso de revista, considerar ausente a transcendência da matéria. § 6º O juízo de admissibilidade do recurso de
revista exercido pela Presidência dos Tribunais Regionais do Trabalho limita-se à análise dos pressupostos intrínsecos e extrínsecos
do apelo, não abrangendo o critério da transcendência das questões nele veiculadas.”
Rcl 36958 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 8.9.2020. (INF 990)
Rcl 40652 AgR/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 8.9.2020. (INF 990)
Não retroage a norma prevista no § 5º do art. 171 do Código Penal (CP) (1), incluída pela Lei
13.964/2019 (“Pacote Anticrime”), que passou a exigir a representação da vítima como condição de
procedibilidade para a instauração de ação penal, nas hipóteses em que o Ministério Público tiver
oferecido a denúncia antes da entrada em vigor do novo diploma legal.
A norma processual anteriormente vigente definia a ação penal para o delito de estelionato, em
regra, como pública incondicionada. Desse modo, nos casos em que já oferecida a denúncia, tem-se a
concretização de ato jurídico perfeito, o que obstaculiza a interrupção da ação penal.
Por outro lado, por tratar-se de “condição de procedibilidade da ação penal”, a aplicação da regra
prevista no § 5º do art. 171 do CP, com redação dada pela Lei 13.964/2019, será obrigatória em todas as
hipóteses em que ainda não tiver sido oferecida a denúncia pelo Parquet, independentemente do
momento da prática da infração penal, nos termos do art. 2º, do Código de Processo Penal (CPP) (2).
Entendimento diverso demandaria expressa previsão legal, pois se estaria transformando a “representação
da vítima”, clássica condição de procedibilidade, em verdadeira “condição de prosseguibilidade da ação
penal”, alterando sua tradicional natureza jurídica. A representação da vítima somente estaria dispensada
nas situações expressamente previstas no §5º do art. 171 do CP, uma vez que outros bens jurídicos
estariam afetados.
Trata-se, no caso, de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática de indeferimento
liminar de outro writ no Superior Tribunal de Justiça. Em face da singularidade da matéria, da sua
relevância, da multiplicidade de habeas corpus sobre o mesmo tema e da necessidade de sua definição, a
Primeira Turma superou a Súmula 691 para conhecer da impetração. Entretanto, ante a inexistência de
ilegalidade, constrangimento ilegal ou teratologia, indeferiu a ordem.
(1) CP: “Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: (...) § 5º Somente se procede mediante representação, salvo se a
vítima for: I – a Administração Pública, direta ou indireta; II – criança ou adolescente; III – pessoa com deficiência mental; ou IV –
maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz.”
(2) CPP: “Art. 2º A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a
vigência da lei anterior.”
A Segunda Turma, por maioria, deu provimento a agravo regimental em petição para permitir o
acesso dos requerentes ao conteúdo de colaboração premiada realizada por executivos da empresa
Odebrecht, no âmbito da “Operação Lava Jato”, em que foram citados. Determinou-se que o acesso deve
abranger somente documentos em que os agravantes são de fato mencionados (requisito positivo),
excluídos os atos investigativos e diligências que ainda se encontram em andamento e não foram
consubstanciados e relatados no inquérito ou na ação penal em trâmite (requisito negativo).
No caso, os termos do acordo celebrado entre os executivos da referida empresa e o Ministério
Público Federal (MPF) deram origem, por meio de cooperação jurídica internacional celebrada entre
Brasil e a República do Peru, a procedimento investigativo e, após, a ação penal, em razão da qual os
agravantes se encontram presos naquele país desde julho de 2017.
Os agravantes pretendiam, em suma, obter acesso integral aos termos dos colaboradores para
viabilizar, de forma plena e adequada, sua defesa nos procedimentos que tramitam em seu desfavor na
República do Peru.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes. Segundo o ministro, o MPF tem compartilhado, por
meio da cooperação jurídica internacional firmada com a República do Peru, elementos de prova colhidos
em acordos de colaboração premiada, celebrados no Brasil e relacionados diretamente aos agravantes, de
maneira possivelmente arbitrária e seletiva. Isso significa que elementos essenciais para a defesa dos
agravantes, no processo em trâmite na República do Peru, podem, eventualmente, e de acordo com as
informações prestadas pelos agravantes, não ter sido compartilhados pelo MPF, ofendendo, assim, os
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, já que a prova foi produzida originalmente
no Brasil.
Não se podendo afirmar com certeza se o Ministério Público do Peru recebeu do MPF todos os
elementos de prova relacionados aos agravantes, eventual pleito junto às autoridades peruanas poderia
restar totalmente ineficiente para que se pudesse exercer a defesa plena das acusações. Verifica-se, dessa
forma, um claro conflito de interesses entre os órgãos acusatórios e a defesa dos agravantes. Em caso de o
MPF ter compartilhado apenas os dados que eventualmente interessassem ao Ministério Público do Peru,
fica a defesa dos agravantes nitidamente prejudicada.
Nesses termos, a defesa dos agravantes não pode ficar à mercê de uma seleção arbitrária, por parte
do MPF, dos dados que devem ou não ser compartilhados, sob pena de grave vilipêndio dos princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Assinalou, ainda, que, além de estarem expressos na Constituição Federal (CF), os princípios do
contraditório e da ampla defesa, tanto em seu momento informativo quanto em seu momento reativo,
representam valores axiológicos que norteiam o sistema processual penal em âmbito americano e estão
previstos na Convenção Americana de Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário.
Tendo sido o conteúdo das delações que atingem os agravantes produzido no Brasil e tendo havido
uma possível seleção dos dados a serem compartilhados, entendeu cabível a aplicação do Enunciado 14
da Súmula Vinculante do STF (1). Quanto à aplicação do referido entendimento sumular no âmbito do
instituto da colaboração premiada, a Lei 12.850/2013 prevê, em seu art. 7º (2), o sigilo do acordo de
colaboração, como regra, até a denúncia, se estendendo aos atos de cooperação, especialmente às
declarações do cooperador. O sigilo dos atos de colaboração, no entanto, não é oponível ao delatado. Há
uma norma especial que regulamenta o acesso do defensor do delatado aos atos de colaboração (Lei
12.850/2013, art. 7º, § 2º). O dispositivo consagra o amplo acesso aos elementos de prova que digam
respeito ao exercício do direito de defesa, ressalvados os referentes a diligências em andamento.
Portanto, em um cotejo analítico entre o referido verbete sumular e a Lei 12.850/2013, o acesso
deve ser garantido caso estejam presentes dois requisitos: um positivo — o ato de colaboração deve
apontar a responsabilidade criminal do requerente; e outro negativo — o ato de colaboração não se deve
referir a diligência em andamento.
Vencidos o ministro Edson Fachin (relator), que negou provimento ao agravo regimental e
manteve a decisão monocrática, e, em menor extensão, a ministra Cármen Lúcia, que deferiu apenas
parcialmente o pedido.
(1) Enunciado 14 da Súmula Vinculante do STF: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”
(2) Lei 12.850/2013: “Art. 7º O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas
informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto. § 1º As informações pormenorizadas da colaboração serão
dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. § 2º O acesso aos autos
será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-
se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de
defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento. § 3º O acordo de
colaboração premiada e os depoimentos do colaborador serão mantidos em sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime,
sendo vedado ao magistrado decidir por sua publicidade em qualquer hipótese.”
Pet 7494 AgR/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
19.5.2020. (INF 978)
A Segunda Turma, em conclusão de julgamento, deu provimento a agravo regimental para julgar
parcialmente procedente reclamação a fim de assegurar ao delatado o acesso às declarações prestadas por
colaboradores que o incriminem, já documentadas e que não se refiram à diligência em andamento que
possa ser prejudicada.
Nesta assentada, o ministro Ricardo Lewandowski (relator) reajustou o voto anteriormente
proferido (Informativo 937).
Inicialmente, o colegiado conheceu da reclamação. Embora seja meio de obtenção de prova, a
colaboração premiada é fenômeno complexo a envolver diversos atos com naturezas jurídicas distintas.
Em conjunto com o acordo, há elementos de prova relevantes ao exercício do direito de defesa e do
contraditório.
Em seguida, registrou que o terceiro delatado por corréu, em termo de colaboração premiada, tem
direito de ter acesso aos trechos nos quais citado, com fundamento no Enunciado 14 da Súmula
Vinculante (1). À luz do referido verbete, o acesso deve ser franqueado caso estejam presentes dois
requisitos. Um, positivo: o ato de colaboração deve apontar a responsabilidade criminal do requerente
(Inq 3.983). Outro, negativo: o ato de colaboração não deve referir-se à diligência em andamento (Rcl
24.116).
Isso porque a leitura do § 2º do art. 7° da Lei 12.850/2013 determina que, antes mesmo da retirada
do sigilo, será assegurado ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova
que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial,
ressalvados os referentes às diligências em andamento.
Com efeito, a jurisprudência da Segunda Turma garante o acesso a todos os elementos de prova
documentados nos autos dos acordos de colaboração, incluídas as gravações audiovisuais dos atos de
colaboração de corréus, com o escopo de confrontá-los, e não para impugnar os termos dos acordos
propriamente ditos (Rcl 21.258 AgR).
(1) Enunciado 14 da Súmula Vinculante: “É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia
judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.”
Rcl 30742 AgR/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 4.2.2020. (INF 965)
12.3 COMPETÊNCIA
HC 181978 AgR/RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 10.11.2020. (INF 999)
(1) RISTF: “Art. 317. Ressalvadas as exceções previstas neste Regimento, caberá agravo regimental, no prazo de cinco
dias de decisão do Presidente do Tribunal, de Presidente de Turma ou do Relator, que causar prejuízo ao direito da parte. (...) § 4º
O agravo regimental não terá efeito suspensivo.”
Pet 7716 AgR/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 18.2.2020. (INF 967)
12.4.DOSIMETRIA DA PENA
A Primeira Turma deferiu habeas corpus para determinar a aplicação da causa de diminuição de
pena, prevista no § 4º do art. 33 da Lei 11.343/2006 (1), a paciente condenada pelo crime de tráfico de
drogas, não obstante a existência de outra ação penal, pela prática do mesmo delito, ainda não transitada
em julgado.
O colegiado entendeu, com base no decidido no julgamento do RE 591.054, submetido à
sistemática de repercussão geral (Tema 129), que a existência de inquéritos policiais e processos
criminais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus antecedentes para fins de
dosimetria da pena, de modo que o fato de a paciente ser ré em outra ação penal, ainda em curso, não
constitui fundamento idôneo para afastar a aplicação da causa de diminuição da pena.
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena — reclusão de 5 (cinco) a 15
(quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa. (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no §
1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes,
não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”
Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º, da Lei 11.343/2006 (Lei de
Drogas) com base em condenações não alcançadas pela preclusão maior.
Com esse entendimento, a Primeira Turma deferiu a ordem em habeas corpus para que o juízo
implemente a aludida causa de diminuição.
O colegiado salientou que, na dosimetria, situações processuais sem o trânsito em julgado foram
consideradas como maus antecedentes.
(1) Lei 11.343/2006: “Art. 33. (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e no § 1º deste artigo, as penas poderão ser
reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas
nem integre organização criminosa.”
Falta grave no curso da execução penal e necessidade de trânsito em julgado (Tema 758 RG)
- RE 776823/RS
Tese fixada:
O reconhecimento de falta grave consistente na prática de fato definido como crime doloso
no curso da execução penal dispensa o trânsito em julgado da condenação criminal no juízo do
conhecimento, desde que a apuração do ilícito disciplinar ocorra com observância do devido
processo legal, do contraditório e da ampla defesa, podendo a instrução em sede executiva ser
suprida por sentença criminal condenatória que verse sobre a materialidade, a autoria e as
circunstâncias do crime correspondente à falta grave.
Resumo:
(1) LEP: “Art. 48. Na execução das penas restritivas de direitos, o poder disciplinar será exercido pela autoridade
administrativa a que estiver sujeito o condenado. Parágrafo único. Nas faltas graves, a autoridade representará ao Juiz da execução
para os fins dos artigos 118, inciso I, 125, 127, 181, §§ 1º, letra d, e 2º desta Lei. (...) Art. 60. A autoridade administrativa poderá
decretar o isolamento preventivo do faltoso pelo prazo de até dez dias. A inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado, no
interesse da disciplina e da averiguação do fato, dependerá de despacho do juiz competente.”
RE 776823/RS, rel. Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF 1001)
(1) Lei 12.850/2013: “Art. 4º. O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois
terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente
com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: (...) § 16.
Nenhuma sentença condenatória será proferida com fundamento apenas nas declarações de agente colaborador.”
A Primeira Turma, por maioria, indeferiu a ordem de habeas corpus impetrado em favor de
vereadora, denunciada pela prática do delito de peculato, em razão de, na qualidade de presidente da
Câmara Municipal, ter contratado servidora pública para realização de serviço de faxina, prestado na casa
de seu irmão.
No caso, o Ministério Público solicitou a prisão preventiva da paciente. O tribunal de justiça
indeferiu o pedido, mas determinou as seguintes medidas alternativas: a) afastamento do cargo de
vereadora e da função de presidente da Câmara dos vereadores; b) comparecimento bimestral em juízo; c)
proibição de acesso e frequência à câmara municipal; d) proibição de manter contato com testemunhas; e)
proibição de ausentar-se do estado e do País, com a entrega de passaporte; e f) obrigação de manter
atualizado, no tribunal, o endereço.
Na impetração, a paciente alegou a desproporcionalidade das medidas. Sublinhou inobservados os
princípios da não culpabilidade e do devido processo legal. Aduziu o excesso de prazo das cautelares.
Preliminarmente, a Turma, por maioria, conheceu do writ. Reputou-se que, descumprida a medida
alternativa, é possível o estabelecimento da custódia, alcançando-se o direito de ir e vir. Vencidos, no
ponto, os ministros Luiz Fux e Rosa Weber, que não conheceram da impetração por entenderem que o
cabimento de habeas corpus diz respeito exclusivamente à liberdade de ir e vir, que não se confunde com
a liberdade de exercício de uma atividade profissional.
Quanto ao mérito, a Turma não vislumbrou ilegalidade nas medidas alternativas decretadas pelo
tribunal de justiça. Vencido o ministro Marco Aurélio, que deferiu a ordem para viabilizar o exercício do
cargo de vereadora pela paciente, com o consequente acesso às dependências da casa legislativa. O
ministro salientou que, sem a formação da culpa, a constrição perdura por mais de um ano.
HC 170735/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em
30.6.2020. (INF 984)
A Segunda Turma julgou prejudicado agravo regimental em habeas corpus no que atine ao
pedido de apresentação das alegações finais pelo paciente após o oferecimento pelos corréus, pois a
pretensão foi alcançada na Rcl 33.543. Ademais, por maioria, deu parcial provimento ao recurso a fim de
conceder a ordem para determinar o desentranhamento de termo de colaboração de corréu dos autos de
ação penal em que figura como acusado o ora paciente.
Ao se manifestar pelo conhecimento do writ, o ministro Ricardo Lewandowski reportou-se à
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF) segundo a qual, quando a liberdade de alguém estiver
direta ou indiretamente ameaçada, cabe habeas corpus ainda que para solucionar questões de natureza
processual.
De igual modo, o ministro Gilmar Mendes acrescentou que, se houver ilegalidade manifesta a ser
corrigida pelo STF, não se verifica óbice ao afastamento da incidência do Verbete 691 da Súmula do STF
(1).
Noutro passo, o colegiado indeferiu o pedido de suspensão do julgamento da ação penal até
pronunciamento final do Comitê de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).
Asseverou que, no caso concreto, não se revela indispensável ao desate da controvérsia o debate
acerca do caráter vinculante, ou não, das deliberações do aludido Comitê. Isso porque a decisão invocada
pela defesa agravante firmou-se no sentido da não concessão de medidas provisionais.
Esclareceu que o referido órgão não determinou a suspensão de ações penais instauradas em
desfavor do ora paciente. Ao relembrar que os Estados não devem adotar comportamento que frustre a
observância de Protocolo Facultativo, o Comitê da ONU não o fez acolhendo a pretensão do interessado.
Aquele órgão não reconheceu a prática de ato imputável ao Estado brasileiro que pudesse vulnerar a
ordem internacional e, ao exercer o juízo acerca da adequação das medidas provisionais, resolveu por sua
não concessão.
Além disso, se não cabe ao Estado-parte sindicar a concessão de medidas provisionais pelo órgão
internacional, como alegado na impetração, por razões similares, também não se atribuiria ao Juízo
nacional o reexame do não acolhimento do requerimento pelo Comitê.
No ponto, o ministro Ricardo Lewandowski ressalvou que a deliberação final de mérito, a qual
poderá ser julgada por aquela instância internacional, a depender do resultado proclamado, poderá
configurar medida capaz de impedir, frustrar ou anular o julgamento dos processos criminais movidos
contra o agravante.
Ao versar sobre o pleito de desentranhamento do mencionado acordo de colaboração premiada, a
Turma considerou demonstrado constrangimento ilegal imposto ao paciente e acolheu o pedido
formulado, com esteio no art. 157 do Código de Processo Penal (CPP), que impõe a exclusão de provas
ilícitas, assim entendidas aquelas obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
Registrou que, às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial e após o encerramento da
instrução processual, o então magistrado de piso ordenou o levantamento do sigilo e o translado, para os
autos do mencionado processo criminal, de parte dos depoimentos prestados por corréu em acordo de
colaboração premiada.
O ex-juiz aguardou mais de três meses da homologação da delação para, na semana do primeiro
turno, determinar, sem prévio requerimento do órgão acusatório, a efetiva juntada à ação penal.
O ministro Ricardo Lewandowski aduziu que, apesar de ter consignado a necessidade da medida
para instrução dos autos, o aludido magistrado assentou, de modo extravagante, que levaria em
consideração, quanto aos coacusados, apenas o depoimento prestado pelo corréu colaborador sob
contraditório naquele processo penal.
A seu ver, com essas e outras atitudes que haverão de ser verticalmente analisadas no âmbito do
HC 164.493, aquele juiz violou o sistema acusatório, bem como as garantias constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, além de influenciar de forma direta e relevante o resultado da disputa
eleitoral, conforme asseveram inúmeros analistas políticos, desvelando comportamento, no mínimo,
heterodoxo no julgamento dos processos criminais instaurados contra o paciente. A determinação da
juntada nesses moldes consubstancia, quando menos, inequívoca quebra da imparcialidade.
Sobre o art. 156 do CPP (2), rejeitou a possibilidade de se alegar que ele assegura ao magistrado
poderes instrutórios autônomos. Avaliou que a dicção do referido dispositivo, de duvidosa
constitucionalidade, está restrita às hipóteses específicas contempladas pelo legislador. De sorte que, por
corolário, descabe qualquer compreensão hermenêutica que amplie o sentido e o alcance do preceito,
especialmente para fins eleitorais, sob pena de violação do sistema constitucional acusatório.
Concluiu que a juntada de ofício após o encerramento da fase de instrução, com o intuito de,
aparentemente, gerar fato político, revela-se em descompasso com o ordenamento constitucional vigente.
Por seu turno, o ministro Gilmar Mendes chamou a atenção para as circunstâncias que permearam
a juntada nos autos do acordo de colaboração. Em primeiro lugar, ele foi juntado quando a fase de
instrução processual havia sido encerrada, a sugerir que os termos do acordo sequer estariam aptos a
fundamentar a prolação da sentença. Em segundo, aconteceu cerca de três meses após a decisão judicial
que o homologara. A seu ver, essa demora parece ter sido cuidadosamente planejada para gerar
verdadeiro fato político na semana que antecedia o primeiro turno das eleições presidenciais. Ato
contínuo à juntada foi determinado o imediato levantamento do sigilo, com clara finalidade de que fosse
dada publicidade às imputações dirigidas ao réu, sem que as circunstâncias narradas no ajuste fossem
relevantes para a ação penal em andamento. Em terceiro, o fato de a juntada e o levantamento do sigilo
terem ocorrido por iniciativa do próprio juiz, isto é, sem qualquer provocação do órgão acusatório.
Para o ministro, essas circunstâncias, quando examinadas de forma holística, são vetores
possivelmente indicativos da quebra da imparcialidade por parte do magistrado.
Sob o prisma da avaliação estrita da licitude, compreendeu estar claro que as circunstâncias não
deixam dúvidas de que o ato se encontra acoimado de grave e irreparável ilicitude.
Ainda que se pudesse invocar, em tese, a possibilidade jurídica da produção de provas de ofício
pelo julgador, com fundamento no art. 156 do CPP, na espécie, sequer seria possível falar
verdadeiramente em produção probatória, uma vez encerrada a instrução processual.
Dessa maneira, ponderou que a juntada do acordão não parece ter tido outro propósito a não ser o
de constranger e macular a posição jurídica do réu, hipótese a atrair a incidência do art. 157 do CPP, que
preleciona a inadmissibilidade das provas ilícitas.
Por fim, destacou que a ordenação ex officio do ato judicial impugnado quando associada às
características particularíssimas do caso concreto suscitam ainda preocupação com a eventual violação ao
princípio acusatório.
Vencido, no ponto, o ministro Edson Fachin (relator), que negou provimento ao agravo regimental.
Na percepção do relator, o CPP atribui ao juiz poderes instrutórios, ainda que de forma residual (art. 156).
Nada obstante, não se demonstra que a atividade processual teve como norte a inclinação por determinada
hipótese acusatória, mas, tão somente, possibilitar, em sede de sentença, o adequado enfrentamento da
matéria afeta à atividade colaborativa.
O ministro ressaltou ter sido expressamente afirmado pelo juiz singular que os elementos juntados
de ofício seriam empregados exclusivamente para fins de análise de eventual sanção premial. Logo, as
informações não teriam força demonstrativa e probatória apta a interferir na esfera jurídica do ora
paciente. De acordo com o aludido magistrado, não constituem inovação relevante em relação às
declarações previamente prestadas pelo corréu, a não configurar prejuízo à defesa. Circunstância que,
além de inviável dissenso, em sede de habeas corpus, não foi impugnada pela defesa.
Por último, enfatizou que a ação constitucional em apreço, sobretudo em hipóteses nas quais se
verifica supressão de instância, consubstancia garantia processual vocacionada exclusivamente à tutela do
direito de locomoção. Portanto, não se presta a tutelar a regularidade de atos processuais que não se
mostrem, sequer potencial e remotamente, aptos a interferir na liberdade ambulatorial do cidadão.
(1) Verbete 691/STF: “Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do
Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar.”
(2) CPP: “Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar,
mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.”
HC 163943 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 4.8.2020. (INF 985)
A Primeira Turma denegou habeas corpus em que se requeria a prisão domiciliar de condenada
pela prática de homicídio por decisão transitada em julgado, que tem filho com menos de doze anos de
idade.
Na espécie, a defesa sustentou a adequação da prisão domiciliar. Reportou-se ao HC 143.641, no
qual concedida a ordem em favor de todas as mulheres presas preventivamente que ostentem a condição
de gestantes, de puérperas ou de mães de crianças sob sua responsabilidade.
Prevaleceu o voto do ministro Marco Aurélio (relator), que reiterou a óptica veiculada ao indeferir
medida acauteladora. Nesse sentido, o disposto no art. 318 do Código de Processo Penal (CPP) (1) tem
aplicação em casos de prisão preventiva, sendo inadequado quando se trata de execução de título
condenatório alcançado pela preclusão maior.
O relator observou que, para ter-se a incidência do art. 117 da Lei 7.210/1984 [Lei de Execução
Penal (LEP)] (2) — cumprimento da sanção em regime domiciliar —, é indispensável o enquadramento
em uma das situações jurídicas nele contempladas. Apesar de comprovada a existência de filho menor, a
paciente foi condenada à pena de 26 anos em regime fechado. Portanto, não está atendido o requisito
primeiro de tratar-se de réu beneficiário de regime aberto.
(1) CPP: “Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: I – maior de 80
(oitenta) anos; II – extremamente debilitado por motivo de doença grave; III – imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; IV – gestante; V – mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos; VI – homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.”
(2) LEP: “Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando
se tratar de: I – condenado maior de 70 (setenta) anos; II – condenado acometido de doença grave; III – condenada com filho menor
ou deficiente físico ou mental; IV - condenada gestante.”
(1) CPP: “Art. 252. O juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: I – tiver funcionado seu cônjuge ou parente,
consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do Ministério
Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; II – ele próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido
como testemunha; III – tiver funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; IV –
ele próprio ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou
diretamente interessado no feito.”
(2) CPP: “Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I – ordenar,
mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida; II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a
realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.” (com redação dada e inclusão de texto pela Lei 11.690/2008)
(3) CF: “Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I – promover, privativamente, a ação penal pública, na
forma da lei;”
(4) CPP: “Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das partes: I – se for
amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a
processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; III – se ele, seu cônjuge, ou parente, consangüíneo, ou
afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; IV
– se tiver aconselhado qualquer das partes; V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; Vl – se for sócio,
acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.”
(5) CPP: “Art. 234. Se o juiz tiver notícia da existência de documento relativo a ponto relevante da acusação ou da defesa,
providenciará, independentemente de requerimento de qualquer das partes, para sua juntada aos autos, se possível. (...) Art. 502.
Findos aqueles prazos, serão os autos imediatamente conclusos, para sentença, ao juiz, que, dentro em cinco dias, poderá ordenar
diligências para sanar qualquer nulidade ou suprir falta que prejudique o esclarecimento da verdade. (Revogado pela Lei
11.719/2008) Parágrafo único. O juiz poderá determinar que se proceda, novamente, a interrogatório do réu ou a inquirição de
testemunhas e do ofendido, se não houver presidido a esses atos na instrução criminal. (Revogado pela Lei 11.719/2008)”
(6) CPP: “Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas, assim entendidas as
obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.”
RHC 144615 AgR/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento
em 25.8.2020. (INF 988)
Competência relativa dos juizados especiais para aplicação dos institutos da transação penal
e da composição dos danos civis na reunião de processos - ADI 5264/DF
Resumo:
Os Juizados Especiais Criminais são dotados de competência relativa para julgamento das
infrações penais de menor potencial ofensivo, razão pela qual se permite que essas infrações sejam
julgadas por outro juízo com vis atractiva para o crime de maior gravidade, pela conexão ou
continência, observados, quanto àqueles, os institutos despenalizadores, quando cabíveis.
O art. 98, I, da Constituição Federal (CF) (1) garantiu aos processos nos quais julgados infrações
penais de menor potencial ofensivo a observância de peculiaridades procedimentais e a incidência de
institutos despenalizadores. Entretanto, não há, na norma constitucional, determinação de exclusividade
dos Juizados Especiais Criminais para o julgamento dos crimes de menor potencial ofensivo.
A especialização dos Juizados Especiais Criminais tem como objetivo tornar o procedimento
célere e informal, bem como a possibilidade de se obter a transação penal e a composição dos danos, não
sendo definida a competência jurisdicional em razão do direito material tutelado.
Há no § 2º do art. 77 (2) e no parágrafo único do art. 66 (3) da Lei 9.099/1995 outras duas causas
modificativas da competência dos Juizados Especiais para o Juízo comum, a saber, a complexidade ou
circunstâncias da causa que dificultem a formulação oral da peça acusatória e o réu não ser encontrado
para a citação pessoal. Fosse absoluta a competência do Juizado Especial Criminal em razão da matéria,
aquelas previsões legais, não impugnadas por esta ação direta, ofenderiam o princípio do juiz natural, pois
permitiriam o julgamento por órgão materialmente incompetente.
Nesse sentido, os institutos despenalizadores dos juizados constituem garantias individuais do
acusado e devem ser asseguradas, independente do juízo em que tramitarem as infrações penais.
Assim, se praticada infração penal de menor potencial ofensivo em concurso com outra infração
penal comum e deslocada a competência para a Justiça comum ou Tribunal do Júri, não há óbice, senão
determinação constitucional, à aplicação dos institutos despenalizadores da transação penal e da
composição civil dos danos quanto à infração de menor potencial ofensivo, em respeito ao devido
processo legal. Ademais, não se deve somar à pena máxima da infração de menor potencial ofensivo com
a da infração conexa (de maior gravidade) para excluir a incidência da fase consensual e ser invocada
como fator impeditivo da transação penal ou composição civil dos danos.
Com base nesse entendimento, o Plenário, por unanimidade, julgou improcedente o pedido
formulado na ação direta de inconstitucionalidade e declarou a constitucionalidade dos arts. 1º e 2º da Lei
11.313/2006, nas alterações e acréscimos por eles promovidos no art. 60, caput e parágrafo único (4), da
Lei 9.099/1995 e no art. 2º, caput e parágrafo único (5), da Lei 10.259/2001.
(1) CF: “Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - juizados especiais, providos por
juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor
complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas
hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau;”
(2) Lei 9.099/1995: “Art. 77. Na ação penal de iniciativa pública, quando não houver aplicação de pena, pela ausência do
autor do fato, ou pela não ocorrência da hipótese prevista no art. 76 desta Lei, o Ministério Público oferecerá ao Juiz, de imediato,
denúncia oral, se não houver necessidade de diligências imprescindíveis. (...) § 2º Se a complexidade ou circunstâncias do caso não
permitirem a formulação da denúncia, o Ministério Público poderá requerer ao Juiz o encaminhamento das peças existentes, na
forma do parágrafo único do art. 66 desta Lei.”
(3) Lei 9.099/1995: “Art. 66. A citação será pessoal e far-se-á no próprio Juizado, sempre que possível, ou por mandado.
Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças existentes ao Juízo comum para adoção do
procedimento previsto em lei.”
(4) Lei 9.099/1995: “Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados e leigos, tem
competência para a conciliação, o julgamento e a execução das infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras
de conexão e continência. Parágrafo único. Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrentes da
aplicação das regras de conexão e continência, observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.”
(5) Lei 10.259/2001: “Art. 2o Compete ao Juizado Especial Federal Criminal processar e julgar os feitos de competência da
Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência. Parágrafo único.
Na reunião de processos, perante o juízo comum ou o tribunal do júri, decorrente da aplicação das regras de conexão e continência,
observar-se-ão os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.”
ADI 5264/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020. (INF 1001)
12.8 NULIDADES
A Primeira Turma, ante o empate na votação, concedeu a ordem de habeas corpus para assentar a
nulidade processual a partir da audiência de instrução e julgamento. Além disso, afastou a prisão
preventiva do paciente, por excesso de prazo, com extensão da medida aos demais corréus que se
encontram na mesma situação.
No caso, a defesa alegou nulidade processual por desrespeito ao art. 212 do Código de Processo
Penal (CPP) (1), por ter o juízo inquerido diretamente as testemunhas. A magistrada que presidia a
audiência reputou observados o contraditório e a ampla defesa, porque oportunizado aos defensores e ao
órgão acusador fazerem questionamentos e colocações no tocante aos depoimentos prestados.
Os ministros Marco Aurélio (relator) e Rosa Weber concederam a ordem. Consideraram que não
foi respeitada a aludida norma processual.
Por sua vez, os ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux concederam a ordem, em menor
extensão, para revogar a prisão preventiva em razão de o paciente ter cumprido mais da metade da pena
inicialmente imposta. Para eles, a alteração efetuada no art. 212 do CPP, ao permitir que as partes façam
diretamente perguntas às testemunhas, não retirou do juiz, como instrutor do processo, a possibilidade de
inquiri-las diretamente.
(1) CPP: “Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não admitindo o juiz aquelas que
puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida. (Redação dada pela
Lei nº 11.690, de 2008); Parágrafo único. Sobre os pontos não esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição.”
HC 164535 AgR/RJ, rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 17.3.2020. (INF 970)
Tem direito à substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar — desde que
observados os requisitos do art. 318 do Código de Processo Penal (CPP) (1) e não praticados crimes
mediante violência ou grave ameaça ou contra os próprios filhos ou dependentes — os pais, caso
sejam os únicos responsáveis pelos cuidados de menor de 12 anos ou de pessoa com deficiência, bem
como outras pessoas presas, que não sejam a mãe ou o pai, se forem imprescindíveis aos cuidados
especiais de pessoa menor de 6 anos ou com deficiência.
Em observância à proteção integral e à prioridade absoluta conferidas pela Constituição Federal de
1988 (CF) às crianças e às pessoas com deficiência, é cabível a substituição da prisão preventiva em
prisão domiciliar, nos casos dos incisos III e VI do art. 318 do CPP, quando o contexto familiar do
investigado ou réu demonstrar a sua importância para a criação, o suporte, o cuidado e o desenvolvimento
de criança ou pessoa com deficiência, bem como em decorrência das atuais circunstâncias de grave crise
na saúde pública nacional que geram riscos mais elevados às pessoas inseridas no sistema penitenciário,
em especial em razão da proliferação do Coronavírus (Covid-19) no Brasil.
Eventual recusa à substituição deve ser amplamente fundamentada pelo magistrado e só deve
ocorrer em casos graves, tais como a prática pelo acusado de crime com violência ou grave ameaça à
pessoa ou a prática de delitos contra sua própria prole.
Ressalte-se que o art. 318, VI, do CPP, prevê expressamente que, nos casos de presos do sexo
masculino, o juiz deverá substituir a prisão preventiva pela domiciliar caso ele seja o único responsável
pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos. Em se tratando de outras pessoas
presas que não sejam a mãe ou o pai, o inciso III estabelece que deverá o juiz substituir a prisão
preventiva pela domiciliar se o preso for imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6
(seis) anos de idade ou com deficiência.
Com base nesse entendimento, a Segunda Turma concedeu a ordem de habeas corpus coletivo.
(1) CPP: “Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for: I – maior de 80
(oitenta) anos; II – extremamente debilitado por motivo de doença grave; III – imprescindível aos cuidados especiais de pessoa
menor de 6 (seis) anos de idade ou com deficiência; IV – gestante; V – mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade
incompletos; VI – homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos.
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos estabelecidos neste artigo.”
Parte 1 -
Parte 2 -
Parte 3 -
A inobservância do prazo nonagesimal do art. 316 do Código de Processo Penal (CPP) (1)
não implica automática revogação da prisão preventiva, devendo o juízo competente ser instado a
reavaliar a legalidade e a atualidade de seus fundamentos.
O disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP insere-se em um sistema a ser interpretado
harmonicamente, sob pena de se produzirem incongruências deletérias à processualística e à efetividade
da ordem penal. A exegese que se impõe é a que, à luz do caput do artigo, extrai-se a regra de que, para a
revogação da prisão preventiva, o juiz deve fundamentar a decisão na insubsistência dos motivos que
determinaram sua decretação, e não no mero decurso de prazos processuais.
O Supremo Tribunal Federal (STF) rechaça interpretações que associam, automaticamente, o
excesso de prazo ao constrangimento ilegal da liberdade, tendo em vista: a) o critério de razoabilidade
concreta da duração do processo, aferido à luz da complexidade de cada caso, considerados os recursos
interpostos, a pluralidade de réus, crimes, testemunhas a serem ouvidas, provas periciais a serem
produzidas, etc.; e b) o dever de motivação das decisões judiciais [Constituição Federal (CF), art. 93, IX]
(2), que devem sempre se reportar às circunstâncias específicas dos casos concretos submetidos a
julgamento, e não apenas aos textos abstratos das leis.
À luz desta compreensão jurisprudencial, o disposto no art. 316, parágrafo único, do CPP não
conduz à revogação automática da prisão preventiva. Ao estabelecer que “Decretada a prisão preventiva,
deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal”, o dispositivo não
determina a revogação da prisão preventiva, mas a necessidade de fundamentá-la periodicamente.
Mais ainda: o parágrafo único do art. 316 não fala em prorrogação da prisão preventiva, não
determina a renovação do título cautelar. Apenas dispõe sobre a necessidade de revisão dos fundamentos
da sua manutenção. Logo, não se cuida de prazo prisional, mas prazo fixado para a prolação de decisão
judicial.
Portanto, a ilegalidade decorrente da falta de revisão a cada 90 dias não produz o efeito automático
da soltura, porquanto esta, à luz do caput do dispositivo, somente é possível mediante decisão
fundamentada do órgão julgador, no sentido da ausência dos motivos autorizadores da cautela, e não do
mero transcorrer do tempo.
No caso, trata-se de referendo de decisão do presidente do STF que, em sede de plantão judiciário,
após reconhecer a existência de risco de grave lesão à ordem e à segurança pública, concedeu a suspensão
de medida liminar proferida nos autos do HC 191.836/SP e determinou a imediata prisão do paciente. A
periculosidade do agente do writ em foco para a segurança pública resta evidente, ante a gravidade
concreta do crime (tráfico transnacional de mais de 4 toneladas de cocaína, mediante organização
criminosa violenta e que ultrapassa as fronteiras nacionais) e a própria condição de liderança de
organização criminosa de tráfico de drogas atribuída ao paciente, reconhecida nas condenações
antecedentes que somam 25 anos.
Com esse entendimento, o Plenário, por maioria, referendou a decisão em suspensão de liminar,
com a consequente confirmação da suspensão da decisão proferida nos autos do HC 191.836/SP até o
julgamento do writ pelo órgão colegiado competente, determinando-se a imediata prisão do paciente, nos
termos do voto do ministro Luiz Fux (presidente e relator), vencido o ministro Marco Aurélio, que
inadmitia a possibilidade de presidente cassar individualmente decisão de um integrante do STF. O
ministro Ricardo Lewandowski, preliminarmente, não conhecia da suspensão e, vencido, ratificou a
liminar.
(1) CPP: “Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se, no correr da
investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem
razões que a justifiquem. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da decisão revisar a necessidade de
sua manutenção a cada 90 (noventa) dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.”
(2) CF: “Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura,
observados os seguintes princípios: (...) IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas
todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus
advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o
interesse público à informação;”
SL 1395 MC Ref/SP, rel. min. Luiz Fux, julgamento em 14 e 15.10.2020. (INF 995)
Toda pessoa que sofra prisão em flagrante — qualquer que tenha sido a motivação ou a
natureza do ato criminoso, mesmo que se trate de delito hediondo — deve ser obrigatoriamente
conduzida, “sem demora”, à presença da autoridade judiciária competente, para que esta, ouvido o
custodiado “sobre as circunstâncias em que se realizou sua prisão” e examinados os aspectos de
legalidade formal e material do auto de prisão em flagrante, possa: (i) relaxar a prisão, se constatar
a ilegalidade do flagrante, (ii) conceder liberdade provisória, se estiverem ausentes as situações
referidas no art. 312 do Código de Processo Penal (CPP) (1) ou se incidirem, na espécie, quaisquer
das excludentes de ilicitude previstas no art. 23 do Código Penal (CP) (2), ou, ainda, (iii) converter o
flagrante em prisão preventiva, se presentes os requisitos dos arts. 312 e 313 (3) do CPP.
A audiência de custódia (ou de apresentação) constitui direito público subjetivo, de caráter
fundamental, assegurado por convenções internacionais de direitos humanos a que o Estado brasileiro
aderiu, já incorporadas ao direito positivo interno (Convenção Americana de Direitos Humanos e Pacto
Internacional sobre Direitos Civis e Políticos). Traduz prerrogativa não suprimível assegurada a qualquer
pessoa. Sua imprescindibilidade tem o beneplácito do magistério jurisprudencial (ADPF 347 MC) e do
ordenamento positivo doméstico [Lei 13.964/2019 e Resolução 213/2015 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ)].
A ausência da realização da audiência de custódia qualifica-se como causa geradora da ilegalidade
da própria prisão em flagrante, com o consequente relaxamento da privação cautelar da liberdade.
Ressalvada motivação idônea, o magistrado que deixar de promovê-la se sujeita à tríplice
responsabilidade [CPP, art. 310, § 3º (4)].
No contexto da audiência de custódia, é legítima a conversão da prisão em flagrante em
prisão preventiva somente se e quando houver pedido expresso e inequívoco por parte do
Ministério Público, da autoridade policial ou, se for o caso, do querelante ou do assistente do
Parquet.
A reforma introduzida pela Lei 13.964/2019 (“Lei Anticrime”) modificou a disciplina referente às
medidas de índole cautelar. Ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, §§ 2º e 4º, e do
art. 311 do CPP (5), a lei vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem prévio
requerimento. Foi suprimida a possibilidade de o magistrado ordenar, sponte sua, a imposição de prisão
preventiva. Assim, não é possível a decretação ex officio de prisão preventiva em qualquer situação (em
juízo ou no curso de investigação penal), inclusive no contexto de audiência de custódia. Tornou-se
inviável a conversão de ofício, mesmo na hipótese a que se refere o art. 310, II, do CPP (6).
Independentemente da gravidade em abstrato do crime, não se presume a configuração dos
pressupostos e dos fundamentos referidos no art. 312 do CPP, que hão de ser adequada e motivadamente
comprovados em cada situação ocorrente. Mostra-se inconcebível que se infira do auto de prisão em
flagrante, ato de natureza meramente descritiva, a existência de representação tácita ou implícita da
autoridade policial a fim de convertê-la em prisão preventiva.
Em matéria processual penal, inexiste, em nosso ordenamento jurídico, o poder geral de cautela
dos juízes, notadamente em tema de privação e/ou restrição da liberdade das pessoas. Consequentemente,
é vedada a adoção de provimento cautelares inominados ou atípicos — em detrimento de investigado,
acusado ou réu —, em face dos postulados constitucionais de tipicidade processual e da legalidade estrita.
Trata-se, na espécie, de habeas corpus impetrado contra decisão monocrática de ministro do
Superior Tribunal de Justiça que indeferiu o pedido cautelar lá formulado em sede de ação constitucional
de mesma natureza. No caso, magistrado de primeira instância afirmou não vislumbrar como realizar
audiência de custódia dos pacientes, haja vista a situação de pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
Além disso, registrou que a audiência seria realizada em momento oportuno e converteu de ofício as
prisões em flagrante em preventivas.
A Segunda Turma não conheceu da impetração, mas concedeu, de ofício, a ordem de habeas
corpus para invalidar, por ilegal, a conversão ex officio das prisões em flagrante dos ora pacientes em
prisões preventivas, confirmando, em consequência, o provimento cautelar anteriormente deferido.
(1) CPP: “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. § 1º A prisão preventiva também poderá ser decretada
em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, § 4º). § 2º A
decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos
ou contemporâneos que justifiquem a aplicação da medida adotada.”
(2) CP: “Art. 23 – Não há crime quando o agente pratica o fato: I – em estado de necessidade; II – em legítima defesa; III –
em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Parágrafo único – O agente, em qualquer das hipóteses
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.”
(3) CPP: “Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I – nos crimes
dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II – se tiver sido condenado por outro crime
doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal; III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente,
idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; § 1º Também será admitida
a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a
manutenção da medida. § 2º Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de antecipação de cumprimento
de pena ou como decorrência imediata de investigação criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia.”
(4) CPP: “Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e quatro) horas após a
realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia com a presença do acusado, seu advogado constituído ou
membro da Defensoria Pública e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente: (...) § 3º A
autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência de custódia no prazo estabelecido no caput deste
artigo responderá administrativa, civil e penalmente pela omissão.”
(5) CPP: “Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: (...) § 2º As
medidas cautelares serão decretadas pelo juiz a requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público. (...) § 4º No caso de descumprimento de
qualquer das obrigações impostas, o juiz, mediante requerimento do Ministério Público, de seu assistente ou do querelante, poderá
substituir a medida, impor outra em cumulação, ou, em último caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do parágrafo único do
art. 312 deste Código. (...) Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva
decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade
policial.”
(6) CPP: “Art. 310. (...) II – converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos constantes do
art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as medidas cautelares diversas da prisão; ou”
Citação por edital (CPP, art. 366): suspensão do prazo prescricional e limitação ao tempo da
prescrição em abstrato (Tema 438 RG) - RE 600851/DF
ODS 16
Tese fixada:
Resumo:
(1) CPP: “Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos o processo
e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso,
decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no art. 312.
(2) CP: “Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste
Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: I – em vinte anos, se o máximo
da pena é superior a doze; II – em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze; III – em doze
anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito; IV – em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois
anos e não excede a quatro; V – em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois; VI –
em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano. Parágrafo único – Aplicam-se às penas restritivas de direito os
mesmos prazos previstos para as privativas de liberdade.”
RE 600851/DF, rel. Min. Edson Fachin, julgamento virtual finalizado em 4.12.2020 (INF 1001)
Prisão preventiva e Pacote Anticrime - HC 179859 AgR/RS
A Segunda Turma, por maioria, negou provimento a agravo regimental em habeas corpus,
interposto de decisão em que concedida a ordem para revogar prisão preventiva decretada em desfavor da
paciente e, em substituição, impor medidas cautelares diversas da prisão, na forma do art. 319 do Código
de Processo Penal (CPP).
Na espécie, atribui-se à paciente a suposta prática dos delitos de lavagem ou ocultação de capitais
e de participação em organização criminosa.
Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes (relator), segundo o qual o Ministério Público
Federal não trouxe argumentos suficientes a infirmar a ato recorrido, visando apenas a rediscussão da
matéria resolvida em conformidade com jurisprudência desta Turma.
Preliminarmente, observou que a reforma legislativa operada pelo chamado Pacote Anticrime (Lei
13.964/2019) introduziu a revisão periódica dos fundamentos da prisão preventiva, por meio da alteração
do art. 316 do CPP. A redação atual prevê que o órgão emissor da decisão deverá revisar a necessidade de
sua manutenção a cada noventa dias, mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar ilegal
a prisão preventiva.
Isso significa que a manutenção da prisão preventiva exige a demonstração de fatos concretos e
atuais que a justifiquem. A existência desse substrato empírico mínimo, apto a lastrear a medida extrema,
deverá ser regularmente apreciado por meio de decisão fundamentada.
O relator destacou três pontos centrais da linha argumentativa sustentada: (i) a ausência do
elemento da contemporaneidade no decreto prisional; (ii) a ausência de elementos concretos que
justifiquem a prisão preventiva e a adequação das medidas cautelares diversas; e (iii) o estado de saúde da
ora agravada.
A seu ver, embora o Parquet sustente que o tribunal estadual teria demonstrado fundamentos
aptos a restabelecer a prisão da paciente, nenhum fato concreto e atual foi apresentado no decreto
prisional, tanto que se propôs a narrar novamente os fatos utilizados como base para a própria capitulação
dos crimes, que datam de 2012 a 2016, confundindo os fundamentos pertinentes ao mérito com os que
dizem respeito à necessidade da medida cautelar extrema, tal como fez aquele tribunal.
Diante de linha temporal apresentada, a paciente permaneceu em liberdade por período de quase
dois anos, sem que houvesse notícias de quaisquer prejuízos para a aplicação da lei penal ou para o
devido andamento da instrução criminal. Esse é um fundamento fático decisivo para que se mantenha o
ato impugnado, pois demonstra a desnecessidade da segregação cautelar. Uma nova decretação de prisão
preventiva, por meio da não manutenção do pronunciamento agravado, neste momento, representaria ato
incongruente com o atual panorama normativo do processo penal.
O ministro sublinhou a inexistência de fatos novos ou contemporâneos concretos, idôneos a
justificar a segregação cautelar da agravada. A questão da contemporaneidade foi enfatizada por recentes
alterações do CPP, trazidas pelo Pacote Anticrime. A esse respeito, tem-se o § 2º do art. 312 do CPP (1).
Em passo seguinte, ponderou que a segregação cautelar está fundamentada apenas em suposições e
ilações. Foi presumido que a prisão seria necessária para acautelar a ordem pública e desmantelar a
organização criminosa, pois a agravada alegadamente integraria núcleo funcional da empreitada ilícita.
Impende que a alegação abstrata ceda à demonstração concreta e firme que tais condições
realizam-se na espécie. Não basta a mera explicitação textual dos requisitos previstos.
Registrou que, com a redação dada ao art. 319 do CPP pela Lei 12.403/2011, o juiz passou a
dispor de medidas cautelares de natureza pessoal, diversas da prisão, a permitir a tutela do meio social e
também a servir, mesmo que cautelarmente, de resposta justa e proporcional ao mal supostamente
causado pelo acusado. Eventual perigo que a liberdade represente à ordem pública ou à aplicação da lei
penal pode ser mitigado por medidas cautelares menos gravosas do que a prisão.
Ao versar sobre o estado de saúde da paciente, o relator depreendeu dos autos que ela possui
problemas de saúde comprovados que demandam tratamento cirúrgico. Isso foi utilizado, inclusive, pelo
juiz de piso no embasamento da concessão de prisão domiciliar.
Por derradeiro, avaliou que a falta de capacidade do sistema prisional pátrio para tratar de forma
digna as patologias da paciente corrobora a tese de que as medidas impostas no ato agravado se mostram
mais adequadas do que o cárcere para acautelar a aplicação da lei penal e a instrução processual penal no
caso concreto.
Vencido o ministro Edson Fachin, que deu provimento ao agravo. Segundo ele, não há hipótese de
concessão da ordem. De igual modo, inexiste ilegalidade flagrante ou teratologia da determinação da
prisão cautelar. O ministro reputou assistir razão ao agravante. Inclusive, ao ressaltar que a ausência de
notícias da reiteração criminosa no interior da casa prisional no período em que segregada não elide ou
encurta a gravidade das infrações penais a ela atribuídas. Argumentou que a prisão domiciliar deferida à
acusada teve por escopo observar o fragilizado estado de saúde demonstrado anteriormente. Entretanto,
não há comprovação da subsistência dessa condição excepcional. Ao final, firmou que habeas corpus
não é sede para o reexame de fatos e provas.
(1) CPP: “Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício
suficiente de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado. (...) § 2º A decisão que decretar a prisão preventiva
deve ser motivada e fundamentada em receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que justifiquem a
aplicação da medida adotada.”
HC 179859 AgR/RS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3.3.2020. (INF 968)
A Segunda Turma, por maioria, concedeu a ordem em habeas corpus para trancar a ação penal
movida contra a paciente, denunciada pela suposta prática do delito de tráfico de entorpecentes, por
produzir e comercializar bolos contendo maconha.
No caso, a investigação foi deflagrada por denúncia anônima, que narrou a venda dos produtos em
uma universidade estadual. Meses depois, foi determinada medida de busca e apreensão na residência da
investigada e, em seguida, sua prisão.
A Turma registrou que inexistiram investigações complementares depois da denúncia anônima, e
que as medidas subsequentes se lastrearam unicamente em seu conteúdo, mesmo que decorridos sete
meses entre o boletim de ocorrência e o pedido de busca e apreensão.
A jurisprudência do STF é firme no sentido de que denúncias anônimas não podem embasar, por si
sós, medidas invasivas como interceptações telefônicas, buscas e apreensões, e devem ser
complementadas por diligências investigativas posteriores.
Se há notícia anônima de comércio de drogas ilícitas numa determinada casa, a polícia deve, antes
de representar pela expedição de mandado de busca e apreensão, proceder a diligências veladas no intuito
de reunir e documentar outras evidências que confirmem, indiciariamente, a notícia. Se confirmadas, com
base nesses novos elementos de informação o juiz deferirá o pedido; se não confirmadas, não será
possível violar o domicílio, sendo a expedição do mandado desautorizada pela ausência de justa causa. O
mandado expedido exclusivamente com apoio em denúncia anônima será abusivo.
Além disso, a decisão judicial que autorizou a busca e apreensão carece de fundamentação. Não
houve qualquer análise efetiva sobre a real necessidade da medida ou a consistência das informações
contidas na denúncia anônima. Há, apenas, remissão a esses elementos e enquadramento genérico na
norma processual.
É imperiosa para o juiz a demonstração, na motivação, de que a lei foi validamente aplicada no
caso submetido à sua apreciação. A legalidade de uma decisão não resulta da simples referência ao texto
legal, mas deve ser verificada concretamente pelo exame das razões pelas quais o juiz afirma ter aplicado
a lei, pois somente tal exame pode propiciar o efetivo controle daquela demonstração.
Vencido, em parte, o ministro Edson Fachin, que concedeu a ordem de ofício por fundamentos
distintos. Entendeu aplicável ao caso o princípio da insignificância, tendo e vista a primariedade da
paciente e a quantidade irrisória de droga encontrada na sua residência, inferior a 10 gramas.
(1) CPP: “Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta) dias,
proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta
ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.”
(2) Lei 8.038/1990: “Art. 7º. Recebida a denúncia ou a queixa, o relator designará dia e hora para o interrogatório,
mandando citar o acusado ou querelado e intimar o órgão do Ministério Público, bem como o querelante ou o assistente, se for o
caso.”
Tribunal do Júri: absolvição e decisão contrária à prova dos autos - 2 - RHC 170559/MT
A Primeira Turma, em conclusão e por maioria, negou provimento a recurso ordinário em habeas
corpus em que discutida a possibilidade de o Conselho de Sentença, após responder afirmativamente
quanto aos quesitos alusivos à materialidade e autoria do crime, responder também afirmativamente
quanto à possibilidade de absolvição do acusado (Informativo 962).
No caso, o recorrente foi pronunciado pela suposta prática do delito de homicídio qualificado
mediante paga ou promessa de recompensa, e o Tribunal do Júri o absolveu, embora tenha reconhecido a
materialidade e autoria do delito. Por isso, o Ministério Público apelou, sob o fundamento de a decisão ter
sido contraditória e contrária à prova dos autos. O recurso foi provido, determinando-se a realização de
novo Júri.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. Entendeu que o sistema processual garante a
possibilidade de recurso da decisão do Conselho de Sentença, tanto para a acusação quanto para a defesa,
em casos como esse, sem que haja vulneração à soberania do Tribunal do Júri. Isso não significa,
entretanto, que haja contrariedade à cláusula de que ninguém pode ser julgado mais de uma vez pelo
mesmo crime. Ainda que se forme um segundo Conselho de Sentença, o julgamento é um só, e termina
com o trânsito em julgado da decisão. Nesse sentido, o sistema processual possibilita que o segundo
Conselho de Sentença, este com poder absoluto, reveja, inclusive, equívocos realizados pelo primeiro. Se,
porventura, for mantido o resultado anterior, não haverá nova possibilidade de recurso.
Vencidos o ministro Marco Aurélio (relator) e Rosa Weber, que deram provimento ao recurso.
RHC 170559/MT, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes,
julgamento em 10.3.2020. (INF 969)
12.14 PROVA
(1) CP/1940: “Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena -
reclusão, de três a seis anos, e multa. § 1º — As penas aumentam-se de um terço: I — se o crime é cometido com intuito de obter
vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;”
(2) CPP/1941: “Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova
testemunhal poderá suprir-lhe a falta.”
(1) Lei 10.865/2004: “Art. 8º As contribuições serão calculadas mediante aplicação, sobre a base de cálculo de que trata o
art. 7º desta Lei, das alíquotas: I – 1,65% (um inteiro e, sessenta e cinco centésimos por cento), para o PIS/PASEP-Importação; e II
– 7,6% (sete inteiros e seis décimos por cento), para a COFINS-Importação. (...) § 9º Na importação de autopeças, relacionadas nos
Anexos I e II da Lei nº 10.485, de 3 de julho de 2002, exceto quando efetuada pela pessoa jurídica fabricante de máquinas e veículos
relacionados no art. 1º da referida Lei, as alíquotas são de: I – 2,3% (dois inteiros e três décimos por cento), para o PIS/PASEP-
Importação; e II – 10,8% (dez inteiros e oito décimos por cento), para a COFINS-Importação.”
(2) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de
salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem
vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; (...) § 9º As contribuições sociais previstas no inciso I do caput deste
artigo poderão ter alíquotas diferenciadas em razão da atividade econômica, da utilização intensiva de mão de obra, do porte da
empresa ou da condição estrutural do mercado de trabalho, sendo também autorizada a adoção de bases de cálculo diferenciadas
apenas no caso das alíneas ‘b’ e ‘c’ do inciso I do caput.”
RE 633345/ES, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento virtual finalizado em 3.11.2020. (INF 997)
13.2 CONTRIBUIÇÕES
Tese fixada:
Resumo:
A constitucionalidade da flexibilização do princípio da legalidade tributária deve ser
verificada de acordo com cada espécie tributária e à luz do caso concreto.
Não há ampla e irrestrita liberdade para o legislador realizar diálogo com o regulamento no tocante
aos aspectos da regra matriz de incidência tributária. A possibilidade de haver a flexibilização do
princípio deve ser interpretada com temperamento, de outra maneira, haverá sério risco de sua
banalização.
Exige-se maior presença do legislador no tratamento de tributo que possua alto grau de
coatividade, como é a exação cujo pagamento não decorra de benefício imediato conferido ao
contribuinte. A característica da retributividade imediata reduz o grau de coatividade dos tributos: o
patrimônio afetado do contribuinte acabará sendo, de alguma forma, compensado imediatamente.
Já os processos em debate tratam da contribuição ao PIS/Pasep e da Cofins, cujos pagamentos não
decorrem de benefício imediato concedido ao próprio contribuinte, pessoa jurídica. Essas contribuições
possuem traço característico da vinculação à finalidade de custeio da seguridade social. Portanto, detêm
alta carga de coatividade. Conservando suas naturezas tributárias, elas se aproximam dos impostos.
Extrai-se do texto constitucional que a simples previsão em lei do valor máximo do tributo não é
suficiente para autorizar a flexibilização da legalidade tributária em relação à alíquota de imposto. Assim,
para a flexibilização da legalidade tributária relativa às alíquotas das contribuições questionadas, é preciso
o estabelecimento em lei, em sentido estrito, de condições e do valor máximo das exações. Além disso, é
imprescindível que haja uma carga de função extrafiscal a ser desenvolvida pelo regulamento, de modo a
justificar a manipulação das alíquotas pelo Poder Executivo. Ressalta-se que a atividade estatal subjacente
à função extrafiscal costumeiramente depende de apreensão de variados aspectos da realidade fenomênica
pela Administração, que tem natural proximidade com os fatos.
As normas editadas pelo Poder Executivo que majorem alíquotas da contribuição para
PIS/Pasep e a Cofins devem observar a anterioridade nonagesimal (CF, art. 150, III, “c”) (2).
Se a lei que, mesmo de forma indireta, eleva a carga tributária do contribuinte é obrigada a
observar a regra constitucional, tenha ou não função extrafiscal, também o regulamento deve respeitá-la.
Contudo, não se aplica a anterioridade geral (CF, art. 150, III, b) (3), porquanto afastada pelo texto
constitucional (CF, art. 195, § 6º) (4).
É constitucional a revogação pela Lei 10.865/2004 das normas legais que davam ao
contribuinte direito de apurar, no âmbito do sistema não cumulativo de cobrança da contribuição
ao PIS/Pasep e da Cofins, créditos em relação a despesas financeiras decorrente de empréstimos e
financiamentos.
Possível a revogação pelo legislador de norma legal a respeito da possibilidade de apuração de
determinados créditos dentro do sistema. O modelo legal, apesar de complexo e confuso, não atenta
contra o conteúdo mínimo da não cumulatividade (CF, art. 195, § 12) (5). Ao contrário do que dispôs para
o IPI e o ICMS, o texto constitucional não trouxe qual seria a técnica tributária à qual o legislador deveria
se ater no tratamento da não cumulatividade das contribuições sociais para a seguridade social incidentes
sobre receita ou faturamento. Ele tem ampla liberdade para tratar do modelo não cumulativo de cobrança
dessas contribuições.
Em julgamento conjunto, o Plenário, por maioria, negou provimento ao recurso extraordinário
paradigma do Tema 939 da repercussão geral. Igualmente em votação majoritária, julgou parcialmente
procedente o pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade para dar interpretação conforme à
Constituição aos §§ 8º e 9º do art. 5º da Lei 9.718/1998, incluídos pela Lei 11.727/2008, estabelecendo
que as normas editadas pelo Poder Executivo com base nesses parágrafos devem observar a anterioridade
nonagesimal prevista no art. 150, III, c, do texto constitucional. Em ambos os feitos, vencido o ministro
Marco Aurélio.
(1) Lei 10.865/2004: “Art. 27. O Poder Executivo poderá autorizar o desconto de crédito nos percentuais que estabelecer e
para os fins referidos no art. 3º das Leis nº s 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de 2003,
relativamente às despesas financeiras decorrentes de empréstimos e financiamentos, inclusive pagos ou creditados a residentes ou
domiciliados no exterior. (...) § 2º O Poder Executivo poderá, também, reduzir e restabelecer, até os percentuais de que tratam os
incisos I e II do caput do art. 8º desta Lei, as alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes sobre as receitas
financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao regime de não-cumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses que
fixar.”
(2) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: (...) c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei
que os instituiu ou aumentou, observado o disposto na alínea b;”
(3) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou;”
(4) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: (...) § 6º As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos noventa dias
da data da publicação da lei que as houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, ‘b’.”
(5) CF: “Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes
contribuições sociais: (...) § 12. A lei definirá os setores de atividade econômica para os quais as contribuições incidentes na forma
dos incisos I, b; e IV do caput, serão não-cumulativas.”
As contribuições devidas ao Sebrae, à Apex e à ABDI com fundamento na Lei 8.029/1990 foram
recepcionadas pela Emenda Constitucional (EC) 33/2001.
No recurso extraordinário (Tema 325 da repercussão geral) discutia-se, em suma, sobre a
constitucionalidade das contribuições destinadas ao Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas (Sebrae), à Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento (Apex) e à Agência
Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), incidentes sobre a folha de salários, após a EC 33/2001
(Informativo 991).
Entendeu-se que a alteração promovida pela EC 33/2001, no art. 149, § 2º, III (1) da Constituição
Federal (CF) não estabeleceu delimitação exaustiva das bases econômicas passíveis de tributação por toda
e qualquer contribuição social e de intervenção do domínio econômico (CIDE). A taxatividade pretendida
por uma interpretação meramente literal aplica-se tão somente, nos termos da EC 33/2001 e em conjunto
com o art. 177, § 4º, da CF, em relação às contribuições incidentes sobre a indústria do petróleo e seus
derivados. Porém, para as CIDEs e as contribuições em geral, entre as quais as contribuições ao Sebrae,
Apex e ABDI, a EC 33/2001 manteve a mera exemplificação, não esgotando todas as possibilidades
legislativas.
Portanto, a materialidade econômica para a incidência dessas contribuições não se esgota na
previsão de faturamento, receita bruta, valor da operação e valor aduaneiro (no caso de importação),
podendo comportar, também, a incidência sobre folha de salários. Por essa razão, o art. 149, § 2º, III, da
CF utiliza a expressão “poderão ter alíquotas”. Assim, garante a ideia de facultatividade a abranger tanto
as alíquotas quanto as bases de cálculo das contribuições sociais e das CIDEs. Ademais, a exposição de
motivos da EC 33/2001 demonstra que as alterações implementadas pretenderam apenas possibilitar a
cobrança da CIDE-combustíveis quando da importação de derivados do petróleo e do gás natural,
retirando obstáculos à tributação de insumos vindos do exterior.
Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, negou provimento ao recurso
extraordinário.
(1) CF: “Art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (...) III –
poderão ter alíquotas: a) ad valorem, tendo por base o faturamento, a receita bruta ou o valor da operação e, no caso de importação,
o valor aduaneiro; b) específica, tendo por base a unidade de medida adotada.”
RE 603624/SC, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgamento
em 23.9.2020. (INF 992)
Resumo:
(1) CTN: “Art. 185. Presume-se fraudulenta a alienação ou oneração de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo
em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa. Parágrafo único. O disposto
neste artigo não se aplica na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes ao total pagamento da
dívida inscrita.”
(2) No julgamento da ADI 5135/DF, rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 7.2.2018, foi fixada a seguinte tese: “O protesto das
certidões de dívida ativa constitui mecanismo constitucional e legítimo por não restringir de forma desproporcional quaisquer
direitos fundamentais garantidos aos contribuintes e, assim, não constituir sanção política”.
(3) Lei 10.522/2002: “Art. 20-B. Inscrito o crédito em dívida ativa da União, o devedor será notificado para, em até cinco
dias, efetuar o pagamento do valor atualizado monetariamente, acrescido de juros, multa e demais encargos nela indicados. (...) § 3°
Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá: I - comunicar a inscrição em dívida ativa aos
órgãos que operam bancos de dados e cadastros relativos a consumidores e aos serviços de proteção ao crédito e congêneres;”
(4) Lei 10.522/2002: “Art. 20-B. Inscrito o crédito em dívida ativa da União, o devedor será notificado para, em até cinco
dias, efetuar o pagamento do valor atualizado monetariamente, acrescido de juros, multa e demais encargos nela indicados. (...) § 3°
Não pago o débito no prazo fixado no caput deste artigo, a Fazenda Pública poderá: (...) II - averbar, inclusive por meio eletrônico,
a certidão de dívida ativa nos órgãos de registro de bens e direitos sujeitos a arresto ou penhora, tornando-os indisponíveis.”
ADI 5881/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
9.12.2020 (INF 1002)
ADI 5886/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
9.12.2020 (INF 1002)
ADI 5890/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
9.12.2020 (INF 1002)
ADI 5925/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
9.12.2020 (INF 1002)
ADI 5931/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
9.12.2020 (INF 1002)
ADI 5932/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
9.12.2020 (INF 1002)
A norma imunizante contida no inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal (CF) (1)
alcança as receitas decorrentes de operações indiretas de exportação caracterizadas por haver participação
negocial de sociedade exportadora intermediária.
Com essa tese de repercussão geral (Tema 674), o Plenário concluiu julgamento conjunto de
recurso extraordinário e de ação direta de inconstitucionalidade (ADI) nos quais se discutia o alcance da
mencionada imunidade, que preceitua não incidir contribuições sociais e de intervenção no domínio
econômico sobre as receitas decorrentes de exportação (Informativo 965).
O colegiado julgou procedente o pedido formulado na ADI, para declarar a inconstitucionalidade
do art. 170, §§ 1º e 2º, da Instrução Normativa (IN) da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB)
971/2009 (2). Além disso, deu provimento ao recurso extraordinário, a fim de reformar o acórdão
impugnado e conceder ordem mandamental, assentando a inviabilidade de exações baseadas nas
restrições presentes no art. 245, §§ 1º e 2º, da IN da Secretaria da Receita Previdenciária (SRP) 3/2005
(3), no tocante às exportações de açúcar e álcool realizadas por intermédio de sociedades comerciais
exportadoras.
Prevaleceram os votos dos ministros Alexandre de Moraes e Edson Fachin, relatores da ADI e do
recurso extraordinário, respectivamente.
Segundo o ministro Alexandre de Moraes, inexiste controvérsia a respeito da aplicação da aludida
imunidade sobre as receitas decorrentes de exportação direta, isto é, quando a produção é comercializada
diretamente com adquirente domiciliado no exterior. Discute-se apenas relativamente às receitas
decorrentes de exportação indireta, quando a produção é comercializada entre produtor e vendedor com
empresas constituídas e em funcionamento no Brasil que destinem os produtos à exportação. Para fins
didáticos, tais empresas podem ser ordenadas em duas categorias: (i) a primeira, composta por sociedades
comerciais regulamentadas pelo Decreto-Lei 1.248/1972, que possuem Certificado de Registro Especial,
chamadas habitualmente de trading companies; (ii) a segunda, formada com aquelas que não possuem o
referido certificado e são constituídas de acordo com o Código Civil (CCv).
O relator da ADI aduziu que a Administração Tributária dispensa o mesmo tratamento a ambas.
Atualmente, ao adquirirem produtos no mercado interno para posterior remessa ao exterior, essas
empresas já gozam de benefícios fiscais relacionados ao Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI); às
contribuições para o PIS/Pasep e a Cofins e ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
(ICMS).
Em seguida, asseverou que, em prestígio à garantia da máxima efetividade, a imunidade sobre as
receitas de exportação também deve ser aplicada à hipótese das exportações indiretas. Não se trata de dar
interpretação mais ampla e irrestrita para alargar o preceito. A regra da imunidade, diferentemente da
isenção, deve ser analisada do ponto de vista teleológico/finalístico do Sistema Tributário Nacional.
Dessa maneira, depreendeu que o escopo da imunidade contida no art. 149, § 2º, I, da CF é a
desoneração da carga tributária sobre transações comerciais que envolvam a venda para o exterior. É
evitar a indesejada exportação de tributos e permitir que os produtos nacionais se tornem mais
competitivos no exterior, contribuindo para a geração de divisas e o desenvolvimento nacional. Destacou
que a desoneração das atividades ligadas à exportação aparece como tendência explícita da CF, o que
pode ser comprovado por regras que disciplinam a imunidade do IPI e do ICMS. Considerada a finalidade
da norma imunizante, não há como simplesmente cindir as negociações realizadas no âmbito das
exportações indiretas, de modo a tributar as operações realizadas no mercado interno e imunizar
exclusivamente a posterior remessa ao exterior. Tributar a operação interna onera em verdade a
exportação inteira e fere inclusive a livre concorrência.
Não há razoabilidade em se excluir da imunidade a exportação indireta. A ideia da regra é permitir
o favorecimento para quem vai exportar. Impende levar em conta se a destinação final é a exportação.
Assim, o País lucra externamente, na balança comercial, e internamente, com a geração de renda e
emprego.
Por seu turno, o ministro Edson Fachin sublinhou que, em seu voto, analisou três tópicos para
responder à questão constitucional submetida à repercussão geral: (i) a desoneração da tributação na
cadeia produtiva exportadora; (ii) o regime jurídico da imunidade tributária; (iii) a exigibilidade de
contribuição previdenciária a ser paga pela agroindústria, definida na concepção ampla de produtor rural
(Lei 8.212/1991, art. 22A).
Nessa dimensão, a decisão retomou observações e ponderações sobre a dinâmica do comércio
internacional e sobre a aplicação do princípio do destino, realizadas nos julgamentos da ADO 25 e do RE
723.651, respectivamente.
O ministro Fachin realçou premissa segundo a qual a desoneração dos tributos que influa no preço
de bens e serviços deve estruturar-se, a princípio, em formato destinado à garantia do objeto, e não do
sujeito passivo da obrigação tributária. Irrelevante se promovida exportação direta ou indireta.
(1) CF: “art. 149. Compete exclusivamente à União instituir contribuições sociais, de intervenção no domínio econômico e
de interesse das categorias profissionais ou econômicas, como instrumento de sua atuação nas respectivas áreas, observado o
disposto nos arts. 146, III, e 150, I e III, e sem prejuízo do previsto no art. 195, § 6º, relativamente às contribuições a que alude o
dispositivo. (...) § 2º As contribuições sociais e de intervenção no domínio econômico de que trata o caput deste artigo: (...) I – não
incidirão sobre as receitas decorrentes de exportação;”
(2) IN RFB 971/2009: “Art. 170. Não incidem as contribuições sociais de que trata este Capítulo sobre as receitas
decorrentes de exportação de produtos, cuja comercialização ocorra a partir de 12 de dezembro de 2001, por força do disposto no
inciso I do § 2º do art. 149 da Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional nº 33, de 11 de dezembro de 2001. § 1º
Aplica-se o disposto neste artigo exclusivamente quando a produção é comercializada diretamente com adquirente domiciliado no
exterior. § 2º A receita decorrente de comercialização com empresa constituída e em funcionamento no País é considerada receita
proveniente do comércio interno e não de exportação, independentemente da destinação que esta dará ao produto.”
(3) IN SRP 3/2005: “Art. 245. Não incidem as contribuições sociais de que trata este Capítulo sobre as receitas decorrentes
de exportação de produtos, cuja comercialização ocorra a partir de 12 de dezembro de 2001, por força do disposto no inciso I do § 2º
do art. 149 da Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional nº 33, de 11 de dezembro de 2001. § 1º Aplica-se o
disposto neste artigo exclusivamente quando a produção é comercializada diretamente com adquirente domiciliado no exterior. § 2º
A receita decorrente de comercialização com empresa constituída e em funcionamento no País é considerada receita proveniente do
comércio interno e não de exportação, independentemente da destinação que esta dará ao produto.” (Revogada pela IN RFB
971/2009)
ADI 4735/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 12.2.2020. (INF 966)
RE 759244/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 12.2.2020. (INF 966)
(1) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) III – cobrar tributos: (...) b) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou; c) antes de decorridos noventa dias da data em que haja sido publicada a lei que os instituiu ou aumentou,
observado o disposto na alínea b”.
RE 1253706 AgR/RS, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 19.5.2020. (INF 978)
(1) Decreto CG/Refis 20/2001: “Art. 1º. Os arts. 1º e 3º a 7º da Resolução CG/Refis 9, de 12 de janeiro de 2001, passam a
vigorar com a seguinte redação: ‘Art. 1º A exclusão da pessoa jurídica optante pelo Programa de Recuperação Fiscal (Refis) ou pelo
parcelamento a ele alternativo será efetuada mediante ato do Comitê Gestor, observadas as disposições desta Resolução.’ ‘Art. 3º A
exclusão do Refis da pessoa jurídica optante será efetuada com base em: I – proposta da Secretaria Executiva do Comitê Gestor do
Refis: II – representação fundamentada de servidor de qualquer das unidades da Secretaria da Receita Federal (SRF), da
Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) ou do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Parágrafo único. A deliberação
ou a representação referidas no caput constituirão processo administrativo.’ ‘Art. 4º A representação de que trata o inciso II do art.
3º será apreciada no âmbito do órgão a que pertencer o servidor que a formular. § 1º A apreciação da representação e, quando for o
caso, a proposta de exclusão ao Comitê Gestor do Refis compete aos: I – Delegados da Receita Federal ou Inspetores de Inspetorias
da Receita Federal de classe ‘A’ do domicílio do optante, no âmbito da SRF; II – Procuradores-chefes ou Procuradores Seccionais,
no âmbito da PGFN; III – Chefes de Divisão ou de Serviço de Arrecadação ou Procuradores-chefes, no âmbito do INSS. § 2º O
disposto nos incisos I e III do § 1º deste artigo não se aplica às exclusões decorrentes de ordem judicial, e às representações
fundamentadas nos inciso V, VI, VII e IX do art. 2º desta Resolução. § 3º Os processos formalizados nas hipóteses a que se refere o
§ 2º deste artigo deverão ser encaminhados para apreciação e proposição da exclusão: I – às unidades da PGFN, no caso de
processos formalizados na SRF; II – às unidades da Procuradoria da Previdência Social, no caso de processos formalizados no
INSS.’ ‘Art. 5º O ato de exclusão será publicado no Diário Oficial da União, indicando o número do respectivo processo
administrativo. § 1º A identificação da pessoa jurídica excluída e o motivo da exclusão serão disponibilizados na Internet, nas
páginas da SRF, PGFN ou INSS, nos endereços (http://www.receita.fazenda.gov.br), (http://www.pgfn.fazenda.gov.br) ou
(http://www.mpas.gov.br). § 2º A pessoa jurídica poderá, no prazo de quinze dias, contado da data de publicação do respectivo ato,
manifestar-se quanto aos motivos que ensejaram a sua exclusão. § 3º A manifestação a que se refere o § 2º deste artigo será
apreciada, em instância única, pela autoridade competente para propor a exclusão, sem efeito suspensivo. § 4º A decisão favorável
ao sujeito passivo implica o restabelecimento do parcelamento a partir do mês subsequente ao de sua ciência.’ ‘Art. 6º As propostas
de exclusão, na hipótese do inciso II do art. 3º, serão encaminhadas ao Comitê Gestor por meio do sistema Refis, sem a necessidade
de anuência dos demais órgãos nem da movimentação do respectivo processo ao Comitê.’ ‘Art. 7º A exclusão por ordem judicial ou
por solicitação do optante aplicam-se os mesmos procedimentos da exclusão de ofício, dispensada a representação a que se refere o
inciso II do art. 3º.’”
(2) CF: “Art. 5º (...) LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;”
(3) CF: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também,
ao seguinte:”
RE 669196/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgamento virtual finalizado em 23.10.2020. (INF 996)
(1) CTN: “Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte,
respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I – os pais, pelos
tributos devidos por seus filhos menores; II – os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; III –
os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV – o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V
– o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; VI – os tabeliães, escrivães e demais
serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; VII – os
sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de
penalidades, às de caráter moratório. Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações
tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I – as pessoas
referidas no artigo anterior; II – os mandatários, prepostos e empregados; III – os diretores, gerentes ou representantes de pessoas
jurídicas de direito privado.”
ADI 4845/MT, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 13.2.2020. (INF 966)
13.8 TRIBUTOS
ADCT, art. 91: ICMS, omissão legislativa, prorrogação de prazo e acordo em âmbito
federativo - ADO 25 QO/DF
O Plenário, por maioria, referendou as decisões monocráticas que prorrogaram o prazo fixado no
julgamento do mérito de ação direta de inconstitucionalidade por omissão (ADO). De igual modo,
homologou o acordo firmado entre a União e os entes estaduais e distrital, com o seu encaminhamento ao
Congresso Nacional para as providências cabíveis.
Na espécie, trata-se de ADO julgada procedente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), para
declarar a mora do Congresso Nacional na edição da lei complementar prevista no art. 91 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) (1), incluído pela Emenda Constitucional (EC)
42/2003. Na oportunidade, a Corte fixou o prazo de doze meses para que fosse sanada a omissão e
deliberou que, na hipótese de transcorrer in albis o mencionado prazo, caberia ao Tribunal de Contas da
União (TCU) fixar o valor do montante total a ser transferido anualmente aos estados-membros e ao
Distrito Federal e calcular o valor das quotas a que cada um deles teria direito, considerando certos
critérios (Informativo 849).
Depois de a decisão transitar em julgado, a União requereu o desarquivamento da ADO e a
prorrogação do prazo por mais 24 meses. Subsidiariamente, pediu que a contagem se iniciasse da data da
publicação do inteiro teor do acórdão. O ministro Gilmar Mendes (relator) deferiu, em parte, o pleito da
União. Ad referendum do Plenário, prorrogou o prazo por doze meses a contar de 21.2.2019.
Posteriormente, alguns estados-membros manifestaram interesse em buscarem a composição
amigável do litígio. A União concordou com o pleito. Diante disso, o relator designou, excepcionalmente,
audiência de tentativa de conciliação. Ocorreram várias reuniões da Comissão Especial formada com o
intuito de apresentar proposta de solução do impasse. Houve nova audiência e deliberações diversas.
Sobreveio petição do estado do Pará, com a aquiescência da maioria dos governadores,
apresentada para deliberação quanto à necessidade de prorrogação do prazo. Instada a se manifestar, a
União não se opôs ao pedido. Ad referendum do Plenário, o prazo foi prorrogado por noventa dias a
contar de 21.2.2020.
Os trâmites finais culminaram nos termos do acordo submetido à homologação.
De início, o colegiado ratificou as decisões nas quais prorrogado o prazo, por seus próprios
fundamentos. Fatos supervenientes justificaram o abrandamento do termo fixado no julgamento de
mérito.
Ato contínuo, homologou o acordo transacionado no âmbito do STF, inédito no âmbito federativo.
Recordou ter sido assentada a mora do Poder Legislativo na edição de lei complementar que
recompensasse a perda de arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)
dos entes subnacionais com a exoneração das exportações.
A Corte registrou a inauguração, nesta ADO, do pensamento do possível no Federalismo
cooperativo, uma das facetas mais formidáveis da interpretação constitucional. Todos os atores do pacto
federativo foram chamados para tentarem solucionar o impasse entre as esferas federal, estadual e
distrital, que se prolongava desde a instituição da Lei Kandir (Lei Complementar 87/1996), com algumas
atuações pontuais produzidas pelas Leis Complementares 102/2000 e 115/2002 e com a EC 42/2003.
As unidades federativas foram conclamadas para que, na linha do pensamento do possível, se
dissipassem de suas certezas absolutas, interesses estratificados e compreendessem a oportunidade sob o
olhar do federalismo cooperativo, no afã de diminuir as tensões/diferenças e aproximar as convergências.
No acordo, chegou-se a um consenso mínimo quanto a valores e forma de pagamento, deu-se
quitação de eventuais dívidas pretéritas e futuras. Previu-se que a parcela constitucionalmente devida aos
municípios (25%) está reservada e que não serão devidos honorários advocatícios nas ações judiciais
extintas em decorrência dele. Nele, há cláusula resolutória e eleição de foro para dirimir eventuais
entraves que surjam em sua interpretação.
O Plenário sublinhou que as partes signatárias possuem capacidade para firmá-lo em nome das
respectivas unidades da Federação. O objeto é lícito e é revestido das formalidades legais para
homologação e encaminhamento ao Congresso Nacional, que deliberará sobre os termos de anteprojeto
de lei complementar, a ser encaminhado pela União, no prazo de até sessenta dias a contar desta data, nos
moldes da transação realizada.
Ademais, existem três cenários fático-jurídicos de previsibilidade: aprovação da Proposta de
Emenda Constitucional (PEC) 188/2019, encaminhada pelo governo federal, com revogação do art. 91 do
ADCT; aprovação da citada PEC, sem a revogação do art. 91 do ADCT; e situação durante a tramitação
da PEC no Congresso Nacional (item 4.3 da cláusula quarta do Termo de Acordo).
Por fim, o colegiado considerou equacionados e bem representados todos os interesses jurídicos no
aludido acordo, que põe termo à discussão político-jurídica. A Federação brasileira sai fortalecida e passa
a ter ótimo exemplo de cooperação institucional entre seus entes integrantes.
Vencido o ministro Marco Aurélio, que se limitou a assentar a mora do Congresso Nacional.
Reiterou que, em se tratando de mora de outro Poder, não cabe ao STF assinar prazo para que seja
afastada, sob pena de desgaste maior. Frisou que o TCU não pode, como também não pode o STF, se
substituir ao Congresso Nacional e fazer as vezes deste no que omisso quanto à edição de lei.
(1) ADCT: “Art. 91. A União entregará aos Estados e ao Distrito Federal o montante definido em lei complementar, de
acordo com critérios, prazos e condições nela determinados, podendo considerar as exportações para o exterior de produtos
primários e semi-elaborados, a relação entre as exportações e as importações, os créditos decorrentes de aquisições destinadas ao
ativo permanente e a efetiva manutenção e aproveitamento do crédito do imposto a que se refere o art. 155, § 2º, X, a. § 1º Do
montante de recursos que cabe a cada Estado, setenta e cinco por cento pertencem ao próprio Estado, e vinte e cinco por cento, aos
seus Municípios, distribuídos segundo os critérios a que se refere o art. 158, parágrafo único, da Constituição. § 2º A entrega de
recursos prevista neste artigo perdurará, conforme definido em lei complementar, até que o imposto a que se refere o art. 155, II,
tenha o produto de sua arrecadação destinado predominantemente, em proporção não inferior a oitenta por cento, ao Estado onde
ocorrer o consumo das mercadorias, bens ou serviços. § 3º Enquanto não for editada a lei complementar de que trata o caput, em
substituição ao sistema de entrega de recursos nele previsto, permanecerá vigente o sistema de entrega de recursos previsto no art.
31 e Anexo da Lei Complementar nº 87, de 13 de setembro de 1996, com a redação dada pela Lei Complementar nº 115, de 26 de
dezembro de 2002. § 4º Os Estados e o Distrito Federal deverão apresentar à União, nos termos das instruções baixadas pelo
Ministério da Fazenda, as informações relativas ao imposto de que trata o art. 155, II, declaradas pelos contribuintes que realizarem
operações ou prestações com destino ao exterior.”
ADO 25 QO/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 20.5.2020. (INF 978)
A Primeira Turma, por maioria, negou provimento a agravo interno em recurso extraordinário em
que se alegava a não incidência do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em
operações interestaduais com combustíveis, diante da imunidade prevista no art. 155, § 2º, X, b, da
Constituição Federal (CF) (1).
O colegiado entendeu incidirem, na hipótese, os Enunciados das Súmulas 279 e 280 do STF. Isso
porque o acórdão recorrido concluiu, com base no acervo probatório dos autos, que o estado reputou ser
fato gerador do imposto a aquisição interna da mercadoria “óleo básico”, ou seja, a aquisição desse óleo
dentro do estado, e não a operação interestadual de venda de lubrificantes. Além disso, a controvérsia não
foi decidida a partir da interpretação de dispositivos da Constituição, mas exclusivamente com apoio no
aludido acervo fático-probatório e na análise da legislação local (Resolução SEF 2900/1998).
Frisou, ademais, a inexistência, nos autos, de qualquer comprovação de eventual remessa
interestadual desse óleo básico adquirido no mercado interno e objeto da autuação, nem de recolhimento
do ICMS no estado de destino.
O ministro Alexandre de Moraes acompanhou o relator na conclusão, mas não na fundamentação.
De acordo com o ministro, é constitucional a análise do ciclo econômico, ou seja, a verificação se a
compra de óleo básico compõe, ou não, o ciclo econômico da produção de lubrificantes, para venda para
outro estado. É uma análise jurídica, porque senão não seria possível examinar se incide, ou não, durante
o ciclo de produção econômica, a imunidade constitucional. Considerou, entretanto, que, no caso, como
salientado pelo relator, não houve comprovação, nos autos do mandado de segurança impetrado pela
empresa recorrente, de que o óleo básico, pelo qual autuada, foi efetivamente utilizado na produção do
lubrificante vendido a outro estado.
Vencidos os ministros Luiz Fux e Marco Aurélio em diferentes extensões.
O ministro Luiz Fux proveu o agravo interno para conhecer do recurso extraordinário e reconhecer
a repercussão geral da questão nele discutida. Para ele, o que está em pauta é o debate acerca da
incidência de ICMS na atividade de comercialização de óleos lubrificantes, a partir da aquisição do óleo
básico como insumo para o produto final. A súmula 279 do STF não é aplicável aos casos de subsunção
da norma constitucional aos fatos incontroversos postos nos autos do processo. A aplicação, ou não, da
regra de imunidade do art. 155, § 2º, X da CF a determinadas operações não encerra discussão de matéria
infraconstitucional ou questão de aplicação de direito local. Sob o aspecto jurídico, cabe à Corte delimitar
o alcance da regra imunizante do art. 155, § 2º, X, b, da CF. Quanto aos aspectos políticos e sociais, a
imunidade constitucional do ICMS incidente nas operações que destinem a outros estados petróleo,
inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele derivados, e energia elétrica assenta-se em
uma premissa de justiça entre os entes federados, de modo a evitar um favorecimento desproporcional dos
estados-membros detentores desses recursos naturais em detrimento de outros, que seriam, naturalmente,
consumidores desses recursos. Em relação ao aspecto econômico, tem-se discussão acerca da existência
de limite para o exercício da competência tributária pelos entes da Federação.
Por sua vez, o ministro Marco Aurélio proveu o agravo para, julgando de imediato o recurso
extraordinário, reformar o acórdão proferido pelo tribunal de origem e assentar que não se tem como
dividir, considerado o preço final do produto, partes componentes desse produto para dizer-se da
incidência, relativamente a este ou aquele insumo, do ICMS. A seu ver, há incidência da projeção no
tempo da cobrança do produto, presente o princípio alusivo ao destino da mercadoria, como previsto a
alínea b do inciso X do parágrafo 2º do art. 155 da CF.
(1) CF: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II – operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior; (...) § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) X – não incidirá:
(...) b) sobre operações que destinem a outros Estados petróleo, inclusive lubrificantes, combustíveis líquidos e gasosos dele
derivados, e energia elétrica;”
RE 642564 AgR/RJ, rel. Min. Roberto Barroso, julgamento em 30.6.2020. (INF 984)
ICMS: importação de gás natural e sujeito ativo - ACO 854/MS; ACO 1076/MS; ACO
1093/MS
(1) CF: “Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: (...) II – operações relativas à
circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda que as
operações e as prestações se iniciem no exterior; § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) IX – incidirá
também: a) sobre a entrada de bem ou mercadoria importados do exterior por pessoa física ou jurídica, ainda que não seja
contribuinte habitual do imposto, qualquer que seja a sua finalidade, assim como sobre o serviço prestado no exterior, cabendo o
imposto ao Estado onde estiver situado o domicílio ou o estabelecimento do destinatário da mercadoria, bem ou serviço;”
(2) LC 87/1996: “Art. 11. O local da operação ou da prestação, para os efeitos da cobrança do imposto e definição do
estabelecimento responsável, é: I – tratando-se de mercadoria ou bem: (...) d) importado do exterior, o do estabelecimento onde
ocorrer a entrada física;”
(3) LC 87/1996: “Art. 20. Para a compensação a que se refere o artigo anterior, é assegurado ao sujeito passivo o direito de
creditar-se do imposto anteriormente cobrado em operações de que tenha resultado a entrada de mercadoria, real ou simbólica, no
estabelecimento, inclusive a destinada ao seu uso ou consumo ou ao ativo permanente, ou o recebimento de serviços de transporte
interestadual e intermunicipal ou de comunicação.”
ACO 854/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 22.10.2020. (INF 996)
ACO 1076/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 22.10.2020. (INF 996)
ACO 1093/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 22.10.2020. (INF 996)
(1) CF: “Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios: (...) § 7º A lei poderá atribuir a sujeito passivo de obrigação tributária a condição de responsável pelo
pagamento de imposto ou contribuição, cujo fato gerador deva ocorrer posteriormente, assegurada a imediata e preferencial
restituição da quantia paga, caso não se realize o fato gerador presumido.”
(2) Enunciado 280/STF: “Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.”
ARE 1184956 AgR/SP, rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 22.9.2020. (INF 992)