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Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque
26 de Novembro de 2020
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 06
Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 5
1097228
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 06
1.7.1 - Breves comentários sobre alguns crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade (Lei n.° 13.869/2019): ...... 40
1.7.2 - Possibilidade ou não de oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal aos casos de maus tratos a cães e
gatos. .............................................................................................................................................................................. 48
1.13.1 - Duplicata............................................................................................................................................................ 70
49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e
15 questões discursivas.
Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Ambiental Monique Gonçalves
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
ecj@estrategiaconcursos.com.br
Boa leitura!
A suspensão de execução é definida como ato político do Senado Federal, veiculado através da resolução de
que trata o art. 52, inc. X, da Constituição Federal, que confere efeitos erga omnes à decisão definitiva do
Supremo Tribunal Federal sobre a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal, estadual ou
municipal em face da Constituição federal.
Dentro dessa perspectiva, o escopo da suspensão de execução é converter eficácia inter partes em eficácia
erga omnes da declaração incidental de inconstitucionalidade, sem infringência ao limite subjetivo da coisa
julgada, pois “enquanto não suspensa, pelo Senado Federal, a decisão do Supremo Tribunal Federal, como
as decisões judiciais não constituem precedentes obrigatórios, os outros juízes e tribunais podem reputar o
ato como constitucional, embora sujeitos à revisão daquele. Porém, em suspenso o texto, a lei ou ato
normativo, pelo Senado Federal, perde eficácia, deixa de ter executoriedade” (MELLO, Oswaldo Aranha
Bandeira de. Teoria das Constituições Rígidas. 2ª ed. São Paulo: José Bushatsky, 1980, p. 212).
Pelo poder de polícia, a Administração Pública irá restringir o exercício de direitos individuais, com o intuito
de beneficiar toda a coletividade. “De um lado, o cidadão quer exercer plenamente os seus direitos; de outro,
a Administração tem por incumbência condicionar o exercício daqueles direitos ao bem-estar coletivo, e ela
o faz usando de seu poder de polícia”
Este poder é fundamentado pelo Princípio da Supremacia do Interesse Público sobre o Privado.
Nos termos do art. 78 do Código de Tributário Nacional (CTN), considera-se poder de polícia atividade da
administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos
direitos individuais ou coletivos.
De acordo com o mesmo diploma legal (CTN), o poder de polícia é fato gerador das TAXAS.
A expressão poder de polícia pode ser entendida em dois sentidos, um amplo e outro estrito.
O segundo refere-se às “intervenções, quer gerais e abstratas, como os regulamentos, quer concretas e
específicas do Poder Executivo, destinadas a alcançar o mesmo fim de prevenir e obstar ao desenvolvimento
de atividades particulares contrastantes com os interesses sociais” . Portanto, abrange atos do Poder
Executivo apenas.
A polícia administrativa atua no âmbito administrativo, de maneira que se pode dizer ser o ilícito
administrativo. Diferente, a polícia judiciária atua quando o ilícito é penal. Ademais, aquela se rege pelo
direito administrativo, incidindo sobre bens, direitos ou atividades. Esta, por sua vez, rege-se pelo direito
processual penal, incidindo sobre pessoas.
Ainda, a polícia administrativa é exercida por vários órgãos da administração pública, como os vários órgãos
de fiscalização (os que atuam nas áreas da saúde, educação, trabalho e previdência). Diferente, a polícia
judiciária é privativa de corporações especializadas, isto é, típico da polícia civil e da polícia militar.
A polícia judiciária, por sua vez, possui caráter eminentemente repressivo, uma vez que se destina à
responsabilizar penalmente o indivíduo. Contudo, eventualmente, a polícia judiciária pode atuar de forma
preventiva, no intuito de ver evitada a prática de delitos.
Características
O Poder de Polícia possui DICA: o poder de polícia é Discricionário, como regra. É dotado de Imperatividade
ou Coercibilidade. Além de ter Autoexecutoriedade.
Perceba que, em regra, o poder de polícia possuirá uma discricionariedade, ou seja, certa margem de
liberdade de apreciação; haverá uma análise de oportunidade e conveniência nas escolhas do administrador
público. O ato da Autorização é o ato do poder de polícia discricionário.
Contudo, haverá momentos em que o poder de polícia poderá se concretizar de forma vinculada. Em outras
palavras, a lei prevê todos os requisitos necessários para a prática do ato, motivo pelo qual, caso o
administrado comprove os requisitos, a Administração é obrigada a praticar o ato.
A imperatividade ou coercibilidade é o atributo pelo qual o ato de polícia se impõe a terceiros, de forma
unilateral, independentemente de sua concordância. É o atributo que permite ao Poder Público impor
obrigações às pessoas. É chamado de “poder extroverso”. Contudo, haverá momentos em que os atos de
polícia não serão imperativos, pois dependerão da aceitação do particular. Nesse caso, configuram-se os atos
de consentimento, como as licenças, autorizações e permissões.
A autoexecutoriedade é o atributo pelo qual o ato administrativo ocorrerá sem a autorização do Poder
Judiciário. Em outras palavras, o ato administrativo PRESCINDE (não precisa) da autorização do Poder
Judiciário. Contudo, observe que a autoexecutoriedade não está presente em todos os atos de polícia. Pode-
se dar como exemplo a cobrança de multa.
OBS:
2) Contudo, de outro lado, a autoexecutoriedade de certos atos de poder de polícia é limitada, não
sendo possível que a administração, por exemplo, condicione a liberação de veículo retido por
transporte irregular de passageiros ao pagamento de multa anteriormente imposta.
3) Diante do risco à saúde da população, as mercadorias com prazo de validade expirado poderão ser
imediatamente apreendidas, mesmo antes da abertura de processo administrativo e sem prévio
contraditório do proprietário do estabelecimento.
O poder de polícia originário é aquele pertencente as pessoas políticas da federação, ou seja, pertencentes
à Administração Pública Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). “Trata-se aqui do poder de
polícia originário, que alcança, em sentido amplo, as leis e os atos administrativos provenientes de tais
pessoas”.
O poder de polícia derivado consiste no poder delegado às entidades da administração pública indireta
(Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista). Contudo, cumpre observar
que é indispensável, para a validade da delegação, que ela seja feita por meio de lei formal, isto é, expedida
pelo Poder Legislativo.
Atente-se que Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista, bem como a Fundação Pública de Direito
Privado exercem o poder de polícia simplesmente na modalidade fiscalizatória. Não cabe a estas entidades
exercer o poder de polícia na modalidade de criação das normas restritivas.
3º) O poder de polícia há de se restringir à pratica de atos fiscalizatórios, quando se tratar de pessoa jurídica
de direito privado.
É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
1) STF - poder de polícia é indelegável a pessoas jurídicas privadas. (tese que hoje deve ser relida com o novo
julgamento. Trata-se de PJ de DP que não integram a AP)
2) STJ – Bloco de Polícia – Também trata-se de julgado que deve ser reinterpretado. Aplica-se o
entendimento fixado pelo STJ, nesse julgamento, apenas para pessoas jurídicas de direito privado não
integrantes da Administração Pública. A essas pessoas, continua sendo possível apenas a delegação das
atividades materiais do Poder de Polícia, como os atos de consentimentos e a fiscalização.
3) STF - É constitucional a delegação do poder de polícia, por meio de lei, a pessoas jurídicas de direito privado
integrantes da Administração Pública indireta de capital social majoritariamente público que prestem
exclusivamente serviço público de atuação própria do Estado e em regime não concorrencial.
Para entendermos a recente Tese de Repercussão Geral fixada pelo STF, é preciso entender as decisões do
STF acerca das Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista
CR/88 – Estabelece o Regime de Direito Privado, parcialmente derrogado por normas de Direito Público –
art. 173, da CR/88
STF diferencia as EP e SEM prestadoras de serviço público e exploradoras de atividade econômica. De acordo
com o STF:
Trata-se da “autarquização das empresas estatais prestadoras de serviço públicos” ou “ feições autárquicas”
(Gustavo Binenbojm)
Ex: as sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e
de natureza não concorrencial submetem-se ao regime de precatório.
Conforme será visto, o STF afastou todos esses argumentos no que tange à Pessoas Jurídicas de Direito
Privado integrantes da Administração Pública, cujo capital social seja majoritariamente (ou integralmente)
público, que preste serviço público de natureza não-concorrencial. Vejamos:
[...] tem-se como possível o exercício de uma função de Estado (poder de polícia) por uma pessoa
jurídica integrante da Administração Pública indireta prestadora de serviço público.
[...] vale lembrar que nem todos os servidores estatutários possuem estabilidade. Os ocupantes
de cargos em comissão não possuem tal garantia, sendo, inclusive, demissíveis ad nutum . Além
deles, os servidores em estágio probatório também não contam com a estabilidade até o término
do período de prova. Todavia, essas peculiaridades não deslegitimam a prática atos derivados do
poder de polícia.
as estatais prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado não exploram atividade
econômica em regime de concorrência. A razão é óbvia: a atuação típica do Estado não se dirige
precipuamente ao lucro. É dizer, se a entidade exerce função pública típica, a obtenção de lucro
não é o seu fim principal.
Cumpre ressaltar a única fase do ciclo de polícia que, por sua natureza, é absolutamente indelegável: a
ordem de polícia, ou seja, a função legislativa. Os atos de consentimento, de fiscalização e de aplicação de
sanções podem ser delegados a estatais que, à luz do entendimento desta Corte, possam ter um regime
jurídico próximo daquele aplicável à Fazenda Pública.
I. Concorrência;
III. Convite;
IV. Concurso;
V. Leilão.
Concorrência
a) Conceito: Concorrência, nos termos do art. 22, § 1º, é a modalidade de licitação entre quaisquer
interessados que, na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem possuir os requisitos mínimos de
qualificação previstos no edital;
2. Compra ou alienação de imóveis de qualquer valor, salvo os imóveis cuja aquisição seja derivada de
procedimentos judiciais ou dação em pagamento, no qual também é admitido o Leilão;
De acordo com o art. 15, § 1º da Lei de Licitações, o registro de preços será precedido de ampla pesquisa de
mercado. Ademais, os preços registrados serão publicados trimestralmente para orientação da
Administração, na imprensa oficial.
Importante observar, ainda, o previsto no § 4º do mesmo dispositivo legal que legisla que a Administração
não tem a obrigação de contratar com os interessados que esteja com os seus preços registrados, podendo
utilizar de outros meios. O que estes possuem é preferência na contratação em igualdade de condições, caso
a Administração resolva contratar.
Qualquer cidadão é parte legítima para impugnar preço constante do quadro geral em razão de
incompatibilidade desse com o preço vigente no mercado.
Nas compras deverão ser observadas, ainda a especificação completa do bem a ser adquirido sem indicação
de marca; a definição das unidades e das quantidades a serem adquiridas em função do consumo e utilização
prováveis, cuja estimativa será obtida, sempre que possível, mediante adequadas técnicas quantitativas de
estimação e as condições de guarda e armazenamento que não permitam a deterioração do material.
Por fim, de acordo com o § 3º, III do art.15, o registro de preço terá validade não superior a 1 ano.
7. Para compras e serviços que não sejam de engenharia, com valor acima de R$ 1.430.000,00.
No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores mencionados acima quando formado por
até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número.
Esses dois últimos cabimentos fazem da Concorrência a modalidade de licitação ser considerada aquela mais
adequada a contratações de grande vulto financeiro.
c. Comentários relevantes
Nos termos do art. 18, da Lei nº 8.666/93, na concorrência para a venda de bens imóveis, a fase de habilitação
limitar-se-á à comprovação do recolhimento de quantia correspondente a 5% (cinco por cento) da avaliação.
Nesse sentido, o STJ estabelece que na concorrência para a venda de bens imóveis, é vedada, à
Administração Pública, a fixação de caução em valor diverso do estabelecido no art. 18 da Lei n. 8.666/1993.
Tomada de Preço
a) Conceito: Tomada de Preço, segundo o art. 22, § 2º, é a modalidade de licitação entre interessados
devidamente cadastrados ou que atenderem a todas as condições exigidas para cadastramento até o 3º dia
anterior à data do recebimento das propostas.
b) Cabimento:
2) Para compras e serviços que não sejam de engenharia, com valor até R$ 1.430.000,00.
No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores mencionados acima quando formado por
até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número.
Diante do cabimento da Tomada de Preço, pode-se afirmar que essa modalidade, comparativamente à
Concorrência, envolve menor quantidade de dinheiro, motivo pelo qual se destina a contratações de vulto
médio.
c) Participantes:
1) Licitantes cadastrados;
2) Licitantes não cadastrados, desde que cadastrados até o 3º dia anterior à data marcada para o
recebimento das propostas.
d) Registros Cadastrais
De acordo com o conceito de Tomada de Preço, os licitantes devem ser, como regra, previamente registrados
nos órgãos públicos.
O registro cadastral deve ocorrer em órgãos que realizem licitações frequentemente, de maneira, que serão
válidos por, no máximo, 1 ano. Isso de acordo com o art. 34 da Lei nº 8.666/93.
Por fim, outros órgãos públicos poderão utilizar-se do registro cadastral feito por um órgão, nos termos do
art. 34, § 2º da Lei Geral de Licitações.
Convite
a) Conceito: Convite, nos termos do art. 22, § 3º, é a modalidade de licitação entre interessados do ramo
pertinente ao seu objeto, cadastrados ou não, escolhidos e convidados em número mínimo de três pela
unidade administrativa, a qual afixará, em local apropriado, cópia do instrumento convocatório e o estenderá
aos demais cadastrados que deverão manifestar seu interesse em até 24 horas.
b) Cabimento:
2) Para compras e serviços que não sejam de engenharia, com valor até R$ 176.000,00.
No caso de consórcios públicos, aplicar-se-á o dobro dos valores mencionados acima quando formado por
até 3 (três) entes da Federação, e o triplo, quando formado por maior número.
De acordo com o cabimento dessa modalidade, veja que o convite se destina a contratações de menor vulto
financeiro.
O Convite é a modalidade de licitação que não possui edital. Há, na verdade, a chamada carta-convite.
Perceba que esta carta-convite é remetida a, no mínimo, três interessados que pertencem ao ramo do objeto
licitado. Esses interessados são livremente escolhidos pelo administrador público.
a) Participantes:
2) Licitante não convidado, que deve ser cadastrado e deve manifestar sua vontade de participar com
antecedência de 24 horas da apresentação das propostas.
Entenda que o licitante convidado não precisa ser cadastrado. Contudo, o licitante não convidado deve ser
cadastrado e manifestar a intenção de participar do certamente com antecedência de 24 horas da
apresentação das propostas.
A lei exige apenas o convite a 3 pessoas. Entretanto é pacifico na jurisprudência (TCU e Tribunais superiores)
o entendimento de que não basta convidar 3 pessoas; é imprescindível que apareçam 3 propostas válidas.
Nesse sentido, a Súmula 248 TCU afirma que não se obtendo o número legal mínimo de três propostas aptas
à seleção, na licitação sob a modalidade Convite, impõe-se a repetição do ato, com a convocação de outros
possíveis interessados ressalvados as hipóteses previstas no parágrafo 7º, do art. 22, da Lei nº 8.666/1993.
Para que o licitante não convidado participe, a Lei nº 8.666/93 exigiu que o administrador público afixasse,
em local adequado, cópia da carta-convite.
Há, ainda, que ser observado duas situações relevantes acerca dessa modalidade.
A primeira delas está prevista no art. 22, § 7º, isto é, é o desinteresse dos convidados ou à limitação do
mercado. Essas situações podem ocasionar a presença de um número menor que 3 interessados. “se isso
ocorrer, a lei considera válido realizar o confronto entre apenas duas propostas, ou, se uma só for
apresentada, celebrar diretamente o contrato”. De acordo com o dispositivo legal, a administração deve
justificar essa situação, sob pena de ter que repetir o convite.
A segunda situação que merece ser analisada está legislada no art. 22, § 6º. Essa situação é a existência, no
mercado, de mais de três interessados para o objeto do contrato. Em outras palavras, quis a lei que,
realizando novo convite para objeto idêntico ou assemelhado, é obrigatório o convite a, no mínimo, mais um
interessado, enquanto houver cadastrados não convidados nas últimas licitações.
Concurso
a) Conceito: Concurso, segundo o art. 22, § 4º, é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados para
escolha de trabalho técnico, científico ou artístico, mediante prêmios ou remuneração aos vencedores.
b) Cabimento:
Quando a Administração realiza um concurso, ela não tem como objetivo contratar ninguém. Na verdade,
tem o objetivo, apenas, de selecionar um projeto intelectual e a seu autor fornecer um prêmio ou alguma
remuneração. Cumprida esta situação, a licitação se encerra.
Perceba que a remuneração somente será paga ao autor se este ceder os direitos patrimoniais de seu
trabalho à Administração Pública, nos termos do art. 111, da Lei nº 8.666/93.
Nos termos do art. 51, § 5º, da Lei nº 8.666/93, haverá uma comissão especial para julgar as propostas, que
será integrada por pessoas de reputação ilibada e reconhecido conhecimento da matéria em exame,
servidores públicos ou não.
Leilão
a) Conceito: Leilão, de acordo com o art. 22, § 5º, é a modalidade de licitação entre quaisquer interessados
para a venda de bens móveis inservíveis para a Administração ou produtos legalmente apreendidos ou
penhorados, ou para a alienação de bens imóveis, cuja aquisição tenha se dado por procedimento judicial
ou dação em pagamento.
b) Cabimento:
II) Alienação de bens imóveis que a AP tenha recebido em razão de dação em pagamento ou procedimento
judicial
III) Para a venda de bens móveis avaliados, isolada ou globalmente, em quantia não superior R$ 1.430.000,00
(um milhão, quatrocentos e trinta mil reais), a Administração poderá permitir o leilão.
Por meio dessa modalidade, o licitante terá o direito de compra caso ofereça o MAIOR LANCE.
Noutros termos, ser dotado de personalidade jurídica significa a concessão, pelo ordenamento jurídico, de
autorização genérica à prática de atos não vedados1.
A lição acima colacionada, ao apontar o delineamento geral da personalidade civil, perpassa pelos chamados
entes despersonalizados, tipologia jurídica aplicável àqueles que, embora possuam existência no plano fático,
carecem de juridicização quando intentam expressar-se no plano do direito.
Assim, compreende-se que os entes despersonalizados não são dotados de autonomia e se confundem, de
resto, com aquele que intenta o exercício de atos na vida civil – seja pessoa jurídica, seja física. Atuam,
apenas, no exercício de atos inerentes à sua existência ou na hipótese de autorização expressa do
ordenamento jurídico.
1
Com exceção de determinados entes, como os públicos, cujo princípio da legalidade assume a feição administrativa, pelo que
apenas se permite a atuação nos limites da lei: a ausência de autorização expressa equivale à vedação.
2
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral - Volume 1. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016.
Embora haja doutrinadores que capitulam os nascituros como entes despersonalizados, a massiva academia
elenca, apenas, entidades não humanas como as despersonalizadas. Vejamos as suas categorias.
Por primeiro, tem-se o espólio. Com o falecimento da pessoa natural, seus bens constituirão universalidade
jurídica e se transmitirão automaticamente aos sucessores, ante a aplicação do princípio da saisine,
dependendo, entretanto, a efetiva alteração da titularidade, do procedimento de inventário (ou
adjudicação). Assim, a fim de se regerem a administração e a transmissão dos bens, o espólio terá a aptidão
de demandar e ser demandado, defendendo-se de credores e postulando a reunião de bens com pretensão
resistida. O espólio é representado pelo inventariante.
A família é, também, ente despersonalizado. É constituída por meio do casamento, da união estável, de
entidade monoparental ou de qualquer outra origem (atipicidade da tipologia de família). É considerada a
base da sociedade (art. 226 da CF) e não é dotada de legitimidade para demandar ou ser demandada.
A massa falida consiste no acervo patrimonial deixado pela entidade com falência decretada e é considerada
ente despersonalizado. Assim como o espólio, possibilita-se à massa a aptidão de demandar e ser
demandada no plano processual, sendo representada pelo administrador judicial. Ainda, há a prerrogativa
de efetuar contratações necessárias à salvaguarda do acervo, a exemplo do seguro.
Distinta da sociedade de fato é a irregular, a qual possui ato constitutivo, porém não registrado. É
considerada, pelo Código Civil, sociedade em comum (art. 986).
Por fim, o condomínio edilício, consistente no espaço de utilização coletiva com comunhão dominial,
geralmente nas dependências internas de fruição comum em unidades habitacionais ou comerciais
aglutinadas.
Pelo interesse mútuo na administração do espaço comum, por parte de proprietários e de locatários, o
ordenamento jurídico prevê a possibilidade de o condomínio demandar e ser demandado, inclusive quanto
à responsabilização civil.
Para Ulhoa,
A administração desses interesses comuns é feita por um sujeito de direito despersonificado não
humano, chamado condomínio edilício ou de edificação. Ele está autorizado a praticar os atos de
contratação de empregados, aquisição de material de limpeza, proceder ao rateio das despesas
condominiais etc. Além disso, o condomínio pode ser responsabilizado por atos culposos ou
dolosos dos empregados, titularizar crédito perante o condômino inadimplente e ser devedor
dos tributos incidentes sobre as áreas comuns e das taxas não discriminadas por unidade
Há, entretanto, divergência quanto à (des)personalização do condomínio. Isso porque, ante a amplitude da
atuação do condomínio do campo social, bem como em decorrência de sua inscrição em cadastro nacional
de pessoas jurídicas, parcela doutrinária arrola o edilício como ente com personalidade jurídica.
Por este motivo, o enunciado 90, com a modificação do 246, ambos de Jornada de Direito Civil, prevê que
deve ser reconhecida personalidade jurídica ao condomínio edilício.
O nexo de causalidade consiste na relação de causa e efeito entre a conduta culposa – em sentido amplo, a
englobar o dolo – e o dano suportado por alguém.
No âmbito da responsabilidade civil, o nexo causal será deflagrado pela ação culposa, quando subjetiva a
responsabilidade, e pela atividade de risco desempenhada pelo agente, na responsabilidade objetiva.
Com efeito, três são as principais teorias que buscam significar o nexo de causalidade: a teoria da
equivalência das condições (ou do histórico dos antecedentes ou teoria da conditio sine qua non); a teoria
da causalidade adequada; e a teoria do dano direto e imediato (ou teoria da interrupção do nexo).
3
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral - Volume 1. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016. p. 103/104.
a) Teoria da equivalência das condições (conditio sine qua non ou histórico dos antecedentes)
A teoria da equivalência das condições, em parcas palavras, compreende que todos os fatos relativos ao
evento danoso geram a responsabilidade civil. Não há, portanto, diferenciação entre os antecedentes do
resultado danoso – tudo aquilo que concorre para o evento é considerado causa. Daí a nomenclatura
“equivalência de condições” – “todos os fatores causais se equivalem, caso tenham relação com o
resultado”4.
Exemplificando-se a teoria, imagine um sujeito que saca uma arma de fogo e dispara contra seu desafeto –
aqui, não apenas o disparo seria considerado causa do evento danoso, mas também a compra da arma, a
sua fabricação, a aquisição do ferro etc., o que permitiria uma investigação infinita e a responsabilização de
inúmeros agentes.
Assim, considerando sua amplitude (por considerar uma infinidade de concausas como contribuidoras do
evento danoso, imputaria o dever de reparar a, igualmente, uma infinidade de agentes), a aplicação dessa
teoria no direito civil brasileiro não foi adotada.
Pela teoria da causalidade adequada, somente o fato relevante e suficiente ao evento danoso gera a
responsabilidade civil, devendo a indenização ser adequada aos fatos que a envolvem, mormente nas
hipóteses de concorrência de causas.
Diferentemente da teoria da conditio sine qua non, aqui, não se pode considerar causa toda e qualquer
condição que tenha contribuído para o resultado, mas apenas o “antecedente abstratamente idôneo à
produção do efeito danoso”5; para esta teoria, causa é o “antecedente, não só o necessário, mas, também,
adequado à produção do resultado”6.
Assim,
se alguém retém ilicitamente uma pessoa que se apressava para tomar certo avião, e teve, afinal,
de pegar um outro, que caiu e provocou a morte de todos os passageiros, enquanto o primeiro
chegou sem incidente ao aeroporto de destino, não se poderá considerar a retenção ilícita do
indivíduo como uma causa (jurídica) do dano ocorrido, porque, em abstrato, não era adequada
4
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1418.
5
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1420.
6
Idem.
a produzir tal efeito, embora se possa asseverar que este (nas condições que se verificou) não se
teria dado se não fora o ilícito7.
Afirma-se que é a teoria adotada nos artigos 944 e 945 do Código Civil.
c) Teoria do dano direto e imediato (ou teoria da interrupção do nexo, ou teoria da causalidade direta ou
imediata, ou teoria da causalidade necessária)
Para esta teoria, causa é apenas o antecedente fático que, ligado por um vínculo de necessariedade ao
resultado danoso, determinasse este último como uma consequência sua, direta e imediata8. Com efeito,
somente devem ser reparados os danos que decorrem como efeitos necessários da conduta. Havendo
violação do direito por parte do credor ou de terceiro, exsurgirá interrupção do nexo causal, com a
consequente irresponsabilidade do suposto agente.
a causa relativamente independente é aquela que (...) torna remoto o nexo de causalidade
anterior, importando aqui não a distância temporal entre a causa originária e o efeito, mas sim o
novo vínculo de necessariedade estabelecido entre a causa superveniente e o resultado danoso.
A causa anterior deixou de ser considerada, menos por ser remota e mais pela interposição de
outra causa, responsável pela produção do efeito, estabelecendo-se outro nexo de causalidade9.
Exemplificando:
Caio é ferido por Tício (lesão corporal), em uma discussão após a final do campeonato de futebol.
Caio, então, é socorrido por seu amigo Pedro, que dirige, velozmente, para o hospital da cidade.
No trajeto, o veículo capota e Caio falece. Ora, pela morte da vítima, apenas poderá responder
Pedro se não for reconhecida alguma excludente em seu favor. Tício, por sua vez, não
responderia pelo evento fatídico, uma vez que o seu comportamento determinou, como efeito
direto e imediato, apenas a lesão corporal. Note-se, portanto, que a interrupção do nexo causal
por uma causa superveniente, ainda que relativamente independente da cadeia dos
acontecimentos (capotagem do veículo) impede que se estabeleça o elo entre o resultado morte
e o primeiro agente Tício, que não poderá ser responsabilizado10.
7
CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p. 51.
8
Ibidem, p. 1422.
9
TEPEDINO, Gustavo. Notas sobre o Nexo de Causalidade. Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro: Padma, ano 2, v. 6.
jun. 2001. p. 10.
10
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1423.
O Código Civil adota a teoria da causalidade direta ou imediata no artigo 403: Ainda que a inexecução resulte
de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela
direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.
É necessário enfatizar que não há consenso doutrinário quanto à teoria adotada pelo Código Civil. Parcela
da doutrina defende que se adotou a teoria da causalidade adequada (como Cavalieri Filho); grande parte,
contudo, defende a adoção da teoria da causalidade direta ou imediata, justamente pela literalidade do
dispositivo acima citado (Carlos Roberto Gonçalves, Tepedino, Pablo Stolze Gagliano e Roberto Pamplona
Filho)11.
A jurisprudência, doutra banda, por vezes adota a causalidade adequada e por outras, a teoria da interrupção
do nexo causal – contudo, os Tribunais exigem sempre a causalidade necessária ao efeito danoso para o
estabelecimento da responsabilidade civil12.
O parentesco “é a relação que vincula entre si pessoas que descendem umas das outras, ou de autor comum,
que aproxima cada um dos cônjuges dos parentes do outro (afinidade), ou que se estabelece por ficção
jurídica na adoção”13.
A conceituação de parentesco não se confunde, todavia, com a de família. Esta se caracteriza pelo “conjunto
de pessoas unidas por vínculos jurídicos, sendo a família formada pelos laços conjugais ou de união estável
e envolve os pais e filhos”; o parentesco “representa o vínculo jurídico existente entre pessoas originadas da
consanguinidade, da afinidade ou da adoção”14. Nesse sentido, Paulo Lôbo, citado por Pablo Stolze Gagliano
e Roberto Pamplona, reconhece que “para o direito, o parentesco não se confunde com família, ainda que
seja nela que radique suas principais interferências (...)” 15.
Em síntese, três são as espécies de parentesco admitidas no ordenamento jurídico brasileiro, que se dividem
em parentesco natural (ou consanguíneo), civil (ou jurídico) e por afinidade (entre cônjuges ou companheiros
e seus parentes).
a) Parentesco natural
11
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto, Manual de Direito Civil. Volume único. 2020. p. 1423.
12
Idem.
13
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 10 ed. Editora Forense: Rio de Janeiro, 2020. p. 861.
14
Idem, p. 862.
15
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2069.
O parentesco natural é aquele que tem como origem a consanguinidade, isto é, “a união produzida pelo
mesmo sangue”16. Aqui, o vínculo do parentesco é estabelecido por linhas – série de pessoas provindas por
filiação de um antepassado –, que se dividem em reta ou colateral.
Chama-se linha descendente a série de graus ou gerações que unem o tronco comum com seus
filhos, netos e demais descendentes (...), e se chama linha ascendente a série de graus ou
gerações que ligam o tronco com seu pai, avô ou outros ascendentes (...). Já na linha colateral,
os graus se contam igualmente por gerações, remontando desde a pessoa cujo parentesco se
quer comprovar até o autor comum, e deste até o outro parente (...).
(...) Linha significa a vinculação de uma pessoa a um tronco ancestral comum, de forma sucessiva
e não interrompida, e parentesco em linha reta é o que estabelece entre as pessoas que estão
umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes17.
O artigo 1.591 do Código Civil estabelece que são parentes em linha reta as pessoas que estão umas para
com as outras na relação de ascendentes e descendentes18. Já o artigo 1.592 classifica como parentes em
linha colateral ou transversal, até quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem
uma da outra – e não se estende para além do quarto grau (a lei presume que, depois desse grau, o
afastamento já é suficiente para espaçar sentimentos mais próximos de solidariedade e afeição recíprocas,
não fornecendo bases para se estabelecerem relações de direito19.
Note-se, contudo, como bem delineado por Gagliano e Pamplona Filho (2020, p. 2071)20, que ainda que o
parentesco natural remeta à consanguinidade, é importante observar que nos casos de adoção – típico
exemplo de parentesco civil (e que será analisado em breve) –, equipara-se o tratamento conferido ao filho
biológico ao filho adotivo. E este entendimento fundamenta-se, pois, no princípio da afetividade – pilar
estrutural do conceito de família.
O artigo 1.595 do Código Civil estabelece: cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo
vínculo da afinidade. Trata-se, assim, de um vínculo fictício, que se assemelha aos casos das relações de
sangue – segundo Pontes de Miranda, “por ser, caracteristicamente, laço entre o homem e os parentes da
mulher, ou entre a mulher e os parentes do homem, a afinidade não vai além dessas pessoas, nem as faz
16
BEVILÁQUA, Clóvis. P. 2071.
17
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 10 ed. Editora Forense: Rio de Janeiro, 2020. p. 866.
18
Na linha ascendente, há parentesco subindo da pessoa para os seus ascendentes, pais, avós, bisavós etc., enquanto na linha reta
descendente tem-se seus filhos, netos, bisnetos e assim por diante. Em linha reta, não há limite de grau.
19
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 10 ed. Editora Forense: Rio de Janeiro, 2020. p. 867.
20
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2071.
afins entre si”21 – abarque-se, nesta explicação, os companheiros. É, como sintetizado por Pablo Stolze, uma
consequência lógica de uma relação de afeto22.
A afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro. Em linha
reta, portanto, restringe-se ao genro e à nora, ao sogro e à sogra, ao enteado e à enteada, à madrasta e ao
padrasto; em linha transversal, ao cunhado e à cunhada (e, neste caso, o parentesco por afinidade não vai
além do segundo grau). Também, não há contagem de graus de parentesco entre os afins, uma vez que não
descendem uns dos outros e inexiste um tronco comum.
Outrossim, segundo o parágrafo 2º do artigo 1.595 do CC/2002, o parentesco na linha reta por afinidade não
se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável23. Na linha colateral, entretanto, não existe
esse impedimento, pois a afinidade cessa com a dissolução da entidade familiar.
Pela literalidade do artigo 1.593, “o parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consaguinidade ou
outra origem”. Exemplo típico de parentesco civil é a adoção, que se trata de um “ato jurídico em sentido
estrito, de natureza complexa, excepcional, irrevogável e personalíssimo, que firma a relação paterno ou
materno-filial com o adotando, em perspectiva constitucional isonômica em face da filiação biológica” 24.
Durante anos em nossa sociedade, a filiação era classificada segundo a união legítima ou não legítima dos
pais (ou seja, se a prole foi constituída pelo casamento ou fora dele).
Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, adotou-se um posicionamento mais inclusivo, de modo
a inadmitir qualquer forma de discriminação quanto à filiação. Nesse sentido, adota-se o princípio da
isonomia entre os filhos, que busca estabelecer “completa igualdade entre todas as antigas classes sociais
de perfilhação, trazendo a prole para um único e idêntico degrau de tratamento (...)”25.
21
MIRANDA, Pontes de apud MADALENO, Rolf. In: Direito da família. 2020, p. 868.
22
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2073.
23
O inciso II do artigo 1.521 do Código Civil proíbe, a qualquer tempo, por impedimento absoluto, o casamento dos afins em linha
reta, mesmo depois de extinta a entidade familiar (CC, art. 1.595, § 2º), estando impedidos de casarem o sogro com a nora, a sogra
com o genro e o padrasto com a enteada e vice-versa.
24
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Roberto. Manual de Direito Civil. Volume único. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 2085.
25
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 2020. P. 885.
socioafetividade ganhou amplo espaço como espécie de filiação (e modalidade de parentesco civil, portanto)
no ordenamento jurídico brasileiro – e advém, pois, da outra origem, insculpida no art. 1.593, já transcrito.
Com efeito, a filiação socioafetiva “resulta na posse de estado de filho, sendo considerada modalidade de
parentesco civil de outra origem, com fundamento no artigo 1.593 do Código Civil. Nesse caso, deve-se
analisar “se o filho é tratado como tal pelo pai e pela mãe, se apresenta-se como membro da família e se é
reconhecido como tal pela opinião pública”27. Observados esses aspectos, caracteriza-se a socioafetividade,
que produzirá todos os efeitos patrimoniais e pessoais inerentes à filiação, gerando parentesco socioafetivo
para todos os fins de direito, nos limites da vida civil28.
O desenvolvimento válido e regular do processo permite que o bem da vida litigado receba a definição
jurisdicional. A determinação da parte vencedora, entretanto, exige mais do que a regularidade
procedimental: as alegações deduzidas deverão se embasar em elementos probatórios que amparem a
pretensão.
A busca da verdade processualmente possível perpassa pela atribuição de cargas probatórias às partes, para
que embasem as alegações veiculadas – sejam petitórias, sejam defensivas. Essa determinação (a quem será
incumbida a carga) é o objeto da distribuição do ônus da prova.
26
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2010. p. 366.
27
A filiação no ordenamento jurídico brasileiro. Disponível em: https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-152/a-filiacao-no-
ordenamento-juridico-brasileiro-com-enfoque-no-vinculo-
socioafetivo/#:~:text=No%20Direito%20Brasileiro%20admite%20tr%C3%AAs,civil%20ou%20o%20vinculo%20socioafetivo.
Acesso em 20 de novembro de 2020.
28
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. São Paulo: Revista Dos Tribunais, 2010. p. 368.
Interessante distinção doutrinária acerca do tema refere-se ao ônus da prova como regra de julgamento
(objetivo) e como regra de instrução (subjetivo).
O ônus da prova atuará como regra de julgamento (objetivo) quando o juiz, no deslinde do processo, verificar
que a carência da prova produzida é insuficiente à determinação da parte vencedora. Neste caso, deverá ser
identificado o litigante a quem se atribuiu o ônus da prova como regra de instrução (subjetivo) e, assim, a
carência probatória militará contra ele. Trata-se de decorrência lógica da impossibilidade de o juiz se furtar
ao julgamento da lide (vedação do non liquet).
Do ponto de vista objetivo, elas são regras de julgamento, dirigidas ao juiz da causa, que devem
orientá-lo ao proferir sentença, na hipótese de os fatos não terem ficado suficientemente
esclarecidos. Não devem ser utilizadas em qualquer circunstância, mas apenas na de terem sido
esgotadas as possibilidades de elucidação dos fatos controvertidos. Ao aplicá-las, o juiz imporá
àquele que tinha o ônus de provar as consequências negativas da insuficiência ou falta de provas.
Como decorrência do aspecto objetivo, deflui o subjetivo. A lei, ao estabelecer quem sofrerá as
consequências negativas decorrentes da falta de provas, norteará os litigantes a respeito daquilo
que compete a cada um deles demonstrar. Quando o art. 373 estabelece que cumpre ao autor a
prova dos fatos constitutivos de seu direito, diz, ao mesmo tempo, ao juiz e ao autor, quem
sofrerá as consequências negativas da falta de prova desses fatos. O juiz as aplicará ao proferir o
julgamento; e o autor se orientará, no curso do processo, sobretudo na fase instrutória, com a
consciência de que cabe a ele essa prova. Os aspectos objetivo e subjetivo do ônus da prova são
indissociáveis: ao indicar como o juiz deverá se orientar no julgamento, em caso de falta de
provas, a lei também indica como cada uma das partes deve comportar-se a respeito da
instrução. Os ônus da prova, conquanto regras de julgamento, interessam diretamente às partes,
que sofrerão as consequências negativas ou positivas da sua distribuição29.
No STJ, nota-se a vedação à distribuição do ônus da prova como regra de julgamento, em decorrência da
potencial violação à ampla defesa e ao contraditório. Assim, deve haver a explicitação do ônus da prova por
ocasião do despacho saneador (art. 357, III). Veja-se:
29
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva: São Paulo, 2020. p. 756/757.
EDcl no AgInt no AREsp: 1169963 ES 2017/0223121-8, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
Data de Julgamento: 21/03/2019, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 27/03/2019)
Dispõe o Código de Processo Civil, em seu art. 373 que: o ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao
fato constitutivo de seu direito; II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo
do direito do autor.
É esta, pois, a regra básica de distribuição da carga probatória: a prova da alegação cabe a quem a faz. Assim,
ao autor incumbe o fato constitutivo da sua pretensão, ao passo que o demandado arcará com o fato que
evidencia a resistência à pretensão, por impedir, modificar ou extinguir o direito do autor.
Trata-se, a referida regra, da distribuição estática do ônus da prova. Isso porque o Código tipifica a
distribuição e fixa, assim, esta sistemática como a regra geral.
Entretanto, a Codificação de 2015 estabeleceu as chamadas cargas processuais dinâmicas; isto é, alterou a
sistemática estanque, para que, em casos específicos, haja variedade distributiva no âmbito da prova.
Essa a ratio do art. 373, em seu § 1º: nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades da causa
relacionadas à impossibilidade ou à excessiva dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo
diverso, desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que deverá dar à parte a oportunidade de se
desincumbir do ônus que lhe foi atribuído. Por isso, nos casos em que a lei determinar, ou quando houver
dificuldade ou impossibilidade à parte que originariamente estaria incumbida de produzir a prova (regra
estática), pelas peculiaridades da ação, ou mesmo acaso haja maior facilidade probatória à parte adversa,
competirá ao juízo a inversão do ônus da prova, com a abertura de oportunidade àquele que recebe a carga
de se desincumbir do ônus.
A inversão legal do ônus da prova é verificada, no geral, nas hipóteses em que há presunção de assimetria
na relação jurídica, como no caso do consumidor. No Código de Defesa do consumidor, citem-se, como
exemplos de inversão legal, os seguintes casos: é ônus do fornecedor provar que não colocou o produto no
mercado, que ele não é defeituoso ou que houve culpa exclusiva do consumidor ou de terceiros pelos danos
gerados; é ônus do fornecedor provar que o serviço não é defeituoso ou que há culpa exclusiva do
consumidor ou de terceiro nos danos gerados; e é ônus do fornecedor provar a veracidade e correção da
informação ou comunicação publicitária que patrocina.
A linha protetiva também ilumina as demandas ambientais, conforme a súmula 618 do STJ: a inversão do
ônus da prova aplica-se às ações de degradação ambiental.
Na redistribuição judicial, consagra-se a regra de equidade pela qual a parte que reúne a melhor condição
para produzir a prova é a que deverá arcar com o encargo. O sistema, na incidência do referido parágrafo,
passa a ser flexível.
Ainda sobre a distribuição dinâmica, vale ressaltar que a decisão que a estipula pode gerar situação em que
a desincumbência do encargo pela parte seja impossível ou excessivamente difícil (§ 2º). Exemplo de prova
impossível – ou excessivamente difícil – é a convenção de prova negativa genérica.
A par da regra estática e da distribuição dinâmica judicial, há, ainda, a possibilidade de distribuição diversa
do ônus da prova, que pode ocorrer por convenção das partes. Neste caso, a convenção processual típica,
que pode ocorrer antes ou depois de aforada a demanda, é vedada quando recair sobre direito indisponível
da parte; ou tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito (§ 3º).
Trata-se de instrumento processual que se destina à antecipação da produção de determinada prova. Sua
natureza jurídica é de ação autônoma, com essência preparatória ou mesmo incidental, desenvolvida em
procedimento de jurisdição voluntária – a litigiosidade meritória é vedada por disposição legal (art. 382, §
4º, do CPC).
Vale ressaltar que o modelo adotado pelo Código Adjetivo atual é amplo no que toca ao fundamento da
produção prematura. Isto é, não se fundamenta, apenas, na cautela, como, também, na viabilização de
autocomposição ou mesmo no interesse no ajuizamento de demanda de cognição exauriente.
Art. 381. A produção antecipada da prova será admitida nos casos em que:
I - haja fundado receio de que venha a tornar-se impossível ou muito difícil a verificação de certos
fatos na pendência da ação;
II - a prova a ser produzida seja suscetível de viabilizar a autocomposição ou outro meio adequado
de solução de conflito;
III - o prévio conhecimento dos fatos possa justificar ou evitar o ajuizamento de ação.
Há, ainda, a quarta hipótese de cabimento, prevista no § 1º do dispositivo: o arrolamento de bens observará
o disposto nesta Seção quando tiver por finalidade apenas a realização de documentação e não a prática de
atos de apreensão.
Com isso, nota-se que o inciso I idealiza a ideia de urgência, ao passo que os demais incisos podem, ou não,
conviver com a urgência, mas a transcendem para elementos outros de interesse do jurisdicionado –
inclusive na pacificação social, expressado pela possibilidade de se evitar o ajuizamento de ação.
Desta forma, perde a ação de produção de provas a necessariedade da demonstração do periculum in mora.
Quanto à competência, a ação será ajuizada no foro em que a prova deva ser produzida ou no domicílio do
réu. Em qualquer caso, a produção antecipada da prova não previne a competência do juízo para a ação que
venha a ser proposta (§ 3º).
Ainda, em interessante (e muito cobrada em provas) exceção à cognição federal para temas afetos à União
e suas entidades, dispõe o Código que o juízo estadual tem competência para produção antecipada de prova
requerida em face da União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal se, na localidade, não
houver vara federal (§ 4º).
O objeto da demanda não encontra restrições legais, respeitadas as hipóteses de cabimento. Assim, poderão
ser antecipados, a título de exemplo, o depoimento pessoal da parte, a prova testemunhal, a prova pericial,
a inspeção judicial, dentre outras.
A ação de produção de provas se iniciará por petição em que o autor (que poderá ser o réu da demanda de
conhecimento, quando incidental) indicará a justificativa (interesse) no meio utilizado. Também haverá a
indicação precisa dos fatos sobre os quais a prova recairá.
Aforada a demanda, o juiz deverá proceder ao início da produção de provas, se for o caso, e citar os
interessados, para que se cientifiquem e acompanhem a produção. Se não houver litigiosidade (isto é, sem
caráter contencioso), o Código dispensa a comunicação.
Havendo, porém, a citação, os interessados poderão requerer a produção de qualquer prova no mesmo
procedimento, desde que relacionada ao mesmo fato, salvo se a sua produção conjunta acarretar excessiva
demora (art. 382, § 3º). A cumulação de meios de prova constitui interessante solução legal que preza pela
efetividade da jurisdição, já que, em processo iniciado por uma parte, poderá haver a produção de provas
correlatas pelos demais interessados, em um único procedimento.
Como já destacado, não há liberdade dialética no procedimento. Dispõe o Código que neste procedimento,
não se admitirá defesa ou recurso, salvo contra decisão que indeferir totalmente a produção da prova
pleiteada pelo requerente originário (§ 4º). Deve-se assimilar a exceção ao meio recursivo, já que sua
incidência em provas é reiterada.
No que toca à teoria da cognição, tem-se que o juiz se absterá de pronunciar a ocorrência ou a inocorrência
do fato cuja prova se refere, tampouco acerca das consequências jurídicas do fato em si. É, pois, repercussão
direta da inexistência de litigiosidade da demanda – embora a prova possa se destinar a processo
contencioso, futuro ou em curso.
Ao final do processo, produzida e homologada a prova, os autos permanecerão em cartório por um mês.
Neste período, os interessados poderão tomar cópias e certidões sobre o seu conteúdo. Findo o prazo, serão
os autos encaminhados ao autor e aos interessados que hajam postulado a produção de provas distintas da
que inicialmente justificou o ajuizamento da demanda.
Por fim, saliente-se que não há prazo para o ajuizamento da ação principal, na qual a prova produzida
antecipadamente poderá ser ajuizada.
Não há bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e ativa, uma vez que estão previstos em tipos
penais distintos e autônomos, são independentes e a comprovação de um deles não pressupõe a do outro.
(STJ)
O crime de corrupção passiva é previsto no art. 317 do Código Penal, e consiste em solicitar ou receber, para
si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão
dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.
Surge a dúvida, no entanto, quanto à necessidade da existência de um corruptor para que se configure o
crime do art. 317.
A corrupção ativa é crime, previsto no art. 333 do Código Penal (Oferecer ou prometer vantagem indevida a
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício). Pode-se, no entanto,
afirmar que é condição indispensável para a existência da prática do crime de corrupção passiva pelo
funcionário público?
No mesmo sentido:
O Tribunal a quo absolveu os acusados, em razão da atipicidade da conduta, por entender que o
crime de corrupção passiva, na modalidade receber vantagem indevida, é delito bilateral, que
exige corruptor (particular) e corrompido (funcionário público) e, no presente caso, não há o
corruptor. Ocorre que a jurisprudência desta Corte Superior é no sentido de que eventual
bilateralidade das condutas de corrupção passiva e ativa é apenas fático-jurídica, não se
estendendo ao plano processual, visto que a investigação de cada fato terá o seu curso, com os
percalços inerentes a cada procedimento, sendo que para a condenação do autor de corrupção
passiva é desnecessária a identificação ou mesmo a condenação do corruptor ativo (AgRg no
REsp 1613927/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma, julgado em
20/09/2016, DJe 30/09/2016).
Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior – CP, art. 63.
c) Impede a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos quando houver reincidência
em crime doloso (art. 44, II, CP).
d) Impede a substituição da pena privativa de liberdade por pena de multa (art. 60, §2o, CP).
e) Impede a concessão de sursis quando por crime doloso (art. 77, I, CP).
f) Aumenta o prazo de cumprimento de pena para obtenção do livramento condicional (art. 83, II, CP).
g) Impede o livramento condicional nos crimes previstos na Lei de Crimes Hediondos, quando se tratar de
reincidência específica (art. 83, V, CP).
j) Revoga o sursis, obrigatoriamente, em caso de condenação em crime doloso (art. 81, I, CP), e
facultativamente, no caso de condenação, por crime culposo ou contravenção, a pena privativa de liberdade
ou restritiva de direitos (art. 81, §1o, CP). k) Revoga o livramento condicional, obrigatoriamente, em caso de
condenação a pena privativa de liberdade (art. 86 CP), e facultativamente, no caso de condenação por crime
ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade (art. 87 CP). l) Revoga a reabilitação quando o
agente for condenado a pena que não seja de multa (art. 95 CP).
m) Impede a incidência de algumas causas de diminuição de pena (arts. 155, §1o; e171, §1o, CP).
n) obriga o agente a iniciar o cumprimento da pena de reclusão em regime fechado (art. 33, §2o, “b” CP).
o) obriga o agente a iniciar o cumprimento da pena de detenção em regime semiaberto (art. 33, 2a parte,
§2o, “c”, CP).
No que toca à fração de aumento pela reincidência, o Código Penal não estabelece limites mínimo e máximo
de aumento ou diminuição da pena em razão de circunstâncias agravantes ou atenuantes, cabendo ao
magistrado fixar o patamar necessário dentro de parâmetros razoáveis e proporcionais. Nesse contexto,
predomina no STJ o entendimento de que o aumento da pena em patamar superior a 1/6, em virtude da
incidência de circunstância agravante, demanda fundamentação concreta e específica para justificar o
incremento em maior extensão.
Referido julgamento assentou-se na premissa de que o réu, mesmo ostentando condenação anterior por
delito idêntico, não merece maior reprovabilidade na sua conduta, haja vista que, após a reforma da Parte
Geral do Código Penal, operada em 11/7/1984, não há mais distinção entre os efeitos da reincidência
genérica e específica, sendo inadmissível que o aplicador da lei assim o proceda, sob pena de ofensa aos
princípios da legalidade e da proporcionalidade.
No julgamento do HC 617.049/SP (Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 17/11/2020),
alinhado à jurisprudência que se firmou no STJ, concluiu-se que a reincidência específica, justamente por não
possuir maior desvalor no confronto com a atenuante da confissão espontânea, também não pode ensejar
maior incremento da pena quando incidir, de forma isolada, na segunda fase da dosimetria.
De início, pontua-se que considerar que a embriaguez ao volante, de per si, já configuraria a existência de
dolo eventual equivale admitir que todo e qualquer indivíduo que venha a conduzir veículo automotor em
via pública com a capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool responderá por
homicídio doloso, ao causar, por violação a regra de trânsito, a morte de alguém.
Não se descura que a embriaguez ao volante é circunstância negativa que deve contribuir para a análise do
elemento anímico que move o agente. Todavia, não é a melhor solução estabelecer-se, como premissa
aplicável a qualquer caso relativo a delito viário, no qual o condutor esteja sob efeito de bebida alcóolica,
que a presença do dolo eventual é o elemento subjetivo ínsito ao comportamento, a ponto de determinar
que o agente seja submetido a Júri Popular mesmo que não se indiquem quaisquer outras circunstâncias que
confiram lastro à ilação de que o acusado anuiu ao resultado lesivo.
Diferente seria a conclusão se, por exemplo, estivesse o condutor do automóvel dirigindo em velocidade
muito acima do permitido, ou fazendo, propopitalmente, zigue-zague na pista, ou fazendo sucessivas
ultrapassagens perigosas, ou desrespeitando semáforos com sinal vermelho, postando seu veículo em rota
de colisão com os demais apenas para assustá-los, ou passando por outros automóveis "tirando fino" e
freando logo em seguida etc. Enfim, situações que permitissem ao menos suscitar a possível presença de um
estado anímico compatível com o de quem anui com o resultado morte. Assim, não se afigura razoável
atribuir a mesma reprovação a quem ingere uma dose de bebida alcoólica e em seguida dirige em veículo
automotor, comparativamente àquele que, após embriagar-se completamente, conduz automóvel na via.
Neste sentido, o STJ firmou a interpretação de que a embriaguez do agente condutor do automóvel, por si
só, não pode servir de premissa bastante para a afirmação do dolo eventual em acidente de trânsito com
resultado morte. (REsp 1.689.173-SC)
O Tribunal do Júri tem assento constitucional, conforme artigo 5º, XXXVIII. Dado o seu posicionamento
topográfico, possível perceber que se trata de direito e garantia fundamental, e, inclusive, gravado como
cláusula pétrea.
Dessa ilação é possível extrair importantes conclusões, sendo a principal delas, o fato de que o Tribunal, com
a conformação que lhe deu o constituinte de 1988, é direito fundamental e não pode ser suprimido, ou ter
a sua estrutura alterada, com a finalidade de modificar aquela matriz.
Assim, a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a competência mínima para
julgamento dos crimes dolosos contra a vida constituem alicerce estrutural do júri, sobre o qual é edificado
o procedimento previsto no Digesto Processual Penal.
O tema júri contem tantas particularidades, que seria suficiente à redação de várias rodadas, porém nesta
falaremos em especial da soberania dos veredictos.
O procedimento do júri compreende duas fases. A primeira, sumário da culpa, funciona como um filtro, a
fim de avaliar a pertinência da acusação formulada pelo Ministério Público, para, em sendo o caso, submeter
o acusado a julgamento em plenário, sendo esta a segunda fase, juízo da causa.
Ultrapassada a primeira fase, juiz e serventia trabalham juntos para a preparação do processo para
julgamento: despacha processo, intima testemunhas, sorteia jurados, pauta julgamento etc.
Assim o faz, mediante impulso (as partes apresentam o rol de testemunha e requerem diligências, na forma
do artigo 422, do CPP) e acompanhamento das partes (as partes acompanham, por exemplo, a elaboração
da lista e o sorteio de jurados), incluindo o Ministério Público, que assume, no júri, um protagonismo ímpar
dentro do processo penal.
Uma vez em plenário, o feito é instruído, as partes debatem, e, ao final, o feito é submetido ao escrutínio
dos jurados, que respondem individualmente (os jurados são mantidos incomunicáveis) aos questionamento
formulados pelo magistrado de modo objetivo (os quesitos), com a colocação de cédulas opacas contendo
as palavras SIM ou NÃO em urnas. Com o veredicto em mãos, o juiz profere decisão, guiando-se pelo que foi
deliberado pelos jurados.
A quesitação é feita de acordo com a ordem proposta pelo artigo 483, do CPP, assim sintetizado:
a) materialidade:
No dia X fora efetuados disparos de arma de fogo, que alvejaram a vítima Mévio?
b) autoria:
O réu Tício agiu impelido por relevante valor social, consistente em matar a vítima Mévio, por ser ela a
traidora da pátria?
A partir das diretrizes propostas pelos jurados, o juiz profere a sua decisão e fixa a pena, levando em
consideração, por exemplo, as qualificadoras, causas de diminuição etc reconhecidas pelos jurados, e aos
quais fica adstrito o magistrado.
Nota-se que os jurados são chamados a decidir questões de fato (se o crime aconteceu, se o réu é o autor
do crime, se houve emprego de veneno etc), enquanto que o juiz delibera sobre questões técnicas
(reconhecida a qualificadora, a pena sai do patamar de 6 a 20 anos, para 12 a 30 anos etc).
Frise-se que, mesmo que os jurados reconheçam em seu veredicto algo absurdo, não pode o juiz
simplesmente ignorar essa decisão, por entendê-la manifestamente contrária à prova dos autos.
a) marido mata a esposa, com que ele coabita. Essa circunstância atrai indubitavelmente a incidência do
inciso VI, do §2º, do artigo 121, do CP (feminicídio), mas há de ser quesitada. Se os jurados, a despeito da
objetividade do quesito, afastarem-no, não há como o juiz valorá-lo ao fazer a dosagem da pena.
b) inimputabilidade. Embora se trate de uma avaliação técnica e mesmo existindo um laudo psiquiátrico,
elaborado por médico oficial em incidente de sanidade mental, a circunstância há que ser quesitada. Se os
jurados a desconsiderarem, não podendo o juiz ignorar essa decisão.
Tudo isso é reflexo da soberania dos veredictos. O que é decidido pelos jurados não pode ser alterado, pelo
magistrado.
Significa que isso ficará insindicável? Óbvio que não. A decisão poderá ser questionada, por meio de recurso
de apelação, que caso provido submeterá o réu a novo julgamento, por outro conselho de sentença.
§ 3oSe a apelação se fundar no no III, d, deste artigo, e o tribunal ad quem se convencer de que
a decisão dos jurados é manifestamente contrária à prova dos autos, dar-lhe-á provimento para
sujeitar o réu a novo julgamento; não se admite, porém, pelo mesmo motivo, segunda apelação.
Sublinhe-se que o Tribunal não pode simplesmente incluir ou decotar uma qualificadora, pois nesse caso
estaria atacando essa soberania.
Uma vez reconhecido pelo Tribunal, em recurso de apelação, que a qualificadora do meio cruel
foi indevidamente reconhecida pelo Tribunal do Júri, competia-lhe determinar a realização de
novo julgamento, pois não lhe é franqueado decotar da condenação a referida qualificadora, em
respeito à soberania dos veredictos (Precedentes).
(AgRg no REsp 1657757/MT, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA,
julgado em 14/05/2019, DJe 24/05/2019)
(REsp 1577374/RS, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
28/06/2016, DJe 01/08/2016)
Viola o princípio da soberania dos veredictos a anulação parcial de decisão proferida pelo
Conselho de Sentença acerca da qualificadora sem submissão do réu a novo júri.
Importante frisar, ainda, que os limites do julgamento são postos na decisão de pronúncia ou no acórdão
que a substitui, não podendo ser discutido em plenário nenhuma circunstância que não tenha sido albergada
nessa deliberação judicial. É o que se extrai da locução “reconhecidas na pronúncia ou em decisões
posteriores que julgam admissível a acusação”, condida no inciso V, do artigo 483, do CPP.
Outro registro importante é no que diz respeito à revisão criminal. Trata-se, a revisão, de ação autônoma de
impugnação, prevista nos artigos 621 e seguintes, do CPP. Ela é admitida, dentre outras, quando a sentença
condenatória foi contrária à evidência dos autos.
Em casos que tais, o Tribunal, ao apreciar a ação proposta, pode tocar a soberania dos veredictos, a fim de
corrigir eventual injustiça.
Mire no fato de que a revisão somente é admitida pro reo, não podendo, pois, piorar a situação do acusado,
sendo lícito que o Tribunal altere o julgado, pois não pode um equívoco se perpetuar no tempo.
A soberania do veredicto do Tribunal do Júri não impede a desconstituição da decisão por meio
de revisão criminal.
[ARE 674.151, rel. min. Celso de Mello, dec. monocrática, j. 15-10-2013, DJE de 18- 10-2013.]
A cadeia de custódia da prova (evidence chain of custody) se trata de mecanismo que visa garantir a
autenticidade das evidências coletadas e examinadas, assegurando que elas correspondam ao caso
investigado, a fim de evitar qualquer tipo de adulteração30. O que se busca, por meio da cadeia de custódia,
é manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de crimes, para
rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento até o descarte.
Nas palavras de Renato Brasileiro de Lima31, “funciona, pois, como a documentação formal de um
procedimento destinado a manter e documentar a história cronológica de uma evidência, evitando-se, assim,
eventuais interferências internas e externas capazes de colocar em dúvida o resultado da atividade
probatória. (...) A cadeia de custódia tem início no exato momento em que a evidência é apreendida e se
encerra tão somente com o fim do processo penal. Visa assegurar a idoneidade dos objetos e bens
apreendidos, de modo a evitar qualquer tipo de dúvida quanto à sua origem e caminho percorrido durante
a investigação criminal e subsequente processo criminal”.
Em decorrência das diversas mudanças trazidas pelo Pacote Anticrime, o tema foi incluído expressamente
no Código de Processo Penal por meio de alguns dispositivos legais (artigos 158-A a 158-F), que tratam
especialmente das regras técnicas relacionadas ao tratamento dos vestígios, suprindo, assim, a lacuna legal
que havia sobre a matéria.
30
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm,
2019.
31
LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único. 7ª edição, rev., ampl. e atual. Salvador: Ed. JusPodivm,
2019.
Também foram inseridas disposições acerca do lugar para onde deve ser encaminhado o vestígio (central de
custódia), ressaltando-se a proibição legal de interferência na cena do crime antes que haja a sua liberação
por parte do perito, tipificando tal conduta como fraude processual.
Por fim, os novos artigos também disciplinaram que os vestígios devem ser acondicionados com lacres e
numeração individualizada, para garantir sua inviolabilidade e idoneidade.
Geraldo Prado32 menciona 2 princípios que fundamentam a cadeia de custódia da prova: o da “mesmidade”
e o da “desconfiança.
Em relação ao princípio da “mesmidade”, o doutrinador aduz, citando Urazán Bautista, que a “cadeia de
custódia fundamenta-se no princípio universal de “autenticidade da prova”, definido como “lei da
mesmidade”, isto é, o princípio pelo qual se determina que o “mesmo” que se encontrou na cena do crime
é o “mesmo” que se está utilizando para tomar a decisão judicial”. Ou seja, entende-se por “mesmidade” a
garantia de que a prova valorada é exatamente e integralmente aquela que foi colhida, correspondendo,
portanto, “à mesma”.
Por outro lado, de acordo com o princípio da “desconfiança”, o elemento de prova (documento, DNA, áudio,
etc.) deve ser submetido a um procedimento de “acreditação”, a fim de demonstrar que tal objeto
corresponde àquilo que a parte alega ser, sem estar revestido de um valor probatório a priori, uma vez que
não há uma confiança preestabelecida, de modo que o mero objeto ou documento, em si mesmo, não seria
uma informação relevante o suficiente.
Quanto às consequências da quebra da cadeia de custódia (break on the chain of custody), importante
destacar que, em que pese tenham sido inseridos os dispositivos anteriormente mencionados ao Código de
Processo Penal, a lei ainda foi silente quanto aos efeitos da não preservação da cadeia de custódia, ou seja,
não há indicação do momento processual apropriado para o exame da regularidade ou irregularidade da
cadeia de custódia, nem mesmo há explicitação quanto às consequências de sua quebra33.
De acordo com uma primeira corrente (constituída por autores como Renato Brasileiro de Lima, Geraldo
Prado e Aury Lopes Júnior), tal violação resultaria na ilicitude da prova e, consequentemente, na sua
32
A cadeia de custódia da prova no processo penal. São Paulo: Marcial Pons, 2019.
33
MATIDA, Jainaina. A cadeia de custódia é condição necessária para a redução dos riscos de condenações de inocentes. Disponível
em: https://ibccrim.org.br/publicacoes/edicoes/51/441. Acesso em: 11.11.2020
inadmissibilidade e exclusão dos autos, assim como das demais provas dela decorrentes (provas ilícitas por
derivação), conforme artigo 157, caput e § 1º do CPP.
Por outro lado, de acordo com uma segunda corrente (adotada por Deltan M. Dallagnol, Juliana de Azevedo
Santa Rosa Câmara e Gustavo Badaró), a violação da cadeia de custódia ensejaria apenas uma atribuição de
menor peso (ou valor) à prova, não havendo que se falar em ilicitude da prova e sua exclusão dos autos. Em
síntese, de acordo com esse posicionamento, a quebra da cadeia de custódia deve ser resolvida no âmbito
da valoração da prova.
Sobre o assunto, importante destacar que a 6ª Turma do STJ, no julgamento do caso envolvendo a “Operação
Negócio da China” (HC nº 160.662/RJ), decidiu pela ilicitude das provas produzidas nas interceptações
telefônica e telemática, tendo em vista a ausência de salvaguarda da integralidade no material colhido na
investigação (quebra da cadeia de custódia), determinando seu desentranhamento dos autos, bem como de
eventual prova ilícita por derivação.
Mais recentemente, após o tema ter sido inserido no Código de Processo Penal, o STJ já se pronunciou,
tecendo considerações relevantes sobre a matéria. Veja-se:
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO QUALIFICADO (ART. 121, § 2º, I, CP). NULIDADES. [...] ILEGALIDADE
DO LAUDO PERICIAL. EXAME REALIZADO EM CORPO QUE NÃO SERIA DA VÍTIMA. QUEBRA DA
CADEIA DE CUSTÓDIA. DIVERGÊNCIAS NA COR DA PELE E TEMPO DE MORTE. NECESSIDADE DE
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. ORDEM DENEGADA. (...) 2. Com relação à ilegalidade
referente à cadeia de custódia do material genético enviado para exame de DNA, tem-se que,
apesar de o ofício ter sido elaborado de maneira concisa, sem indicação de número do pacote,
não restou comprovada a quebra da cadeia de custódia, uma vez que a simples concisão do
ofício e a ausência de indicação do número do pacote não são suficientes para reconhecer a
ilegalidade. [...].
(AgRg no REsp 1837921/RS, Rel. Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, QUINTA TURMA, julgado em
22/09/2020, DJe 30/09/2020)
1.7.1 - Breves comentários sobre alguns crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade
(Lei n.° 13.869/2019):
Nesta oportunidade faremos uma breve análise de alguns crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade.
Fica a dica: a Lei é nova, poucos casos chegaram aos Tribunais (muito menos STJ ou STF) para que fosse
formada jurisprudência sobre algum tema polêmico. Assim, para o concurso público, leia a Lei Seca. Leia o
tipo penal e suas classificações (sujeito ativo, passivo, objetividade jurídica etc.). Não é o objetivo deste
escrito se aprofundar em cada um dos tipos. A ideia é simplesmente fazer com que você, concurseiro(a)
estrategista, leia o artigo que prevê a conduta criminosa e se atente para algum aspecto interessante sobre,
num breve comentário.
Lembramos que na Rodada n.º 05 traçamos considerações gerais sobre a Lei, tornando possível o estudo
sequenciado da matéria. Agora, avancemos às figuras típicas:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo razoável,
deixar de:
O caput do artigo contém como núcleo do tipo o verbo “decretar” em sentido amplo devendo também ser
compreendido como “determinar”, “ordenar”, “decidir”. Nesse sentido, o sujeito ativo desse crime não é
apenas a autoridade judiciária, mas também pode ser cometido por todo funcionário público que possa
determinar medida privativa de liberdade individual, como um Delegado de Polícia, Policiais Militares ou
Civis e até mesmo um Oficial de Justiça. Ainda, por “medida de privação de liberdade” entende-se tanto
prisões cautelares, prisão definitiva e até mesmo a prisão civil. O momento consumativo desse delito ocorre
no momento da determinação, independentemente da efetiva privação da liberdade da vítima
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 50/51).
Já o parágrafo único do dispositivo traz a figura equiparada, que somente pode ser praticada pela autoridade
judiciária. Nesse caso “em se tratando de crime omissivo próprio, não admitirá a figura do conatus”
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 51).
Salienta-se que no caso do ordenamento de apreensão ou não relaxamento da apreensão ilegal de menor
de idade, os crimes pelos quais o agente responderá seriam aqueles previstos no art. 230 e 234, do Estatuto
da Criança e do Adolescente34, respectivamente.
Esse tipo penal surgiu por força do episódio ocorrido na Operação Lava Jato, quando da condução coercitiva
do ex-presidente da República que, mesmo não tendo sido notificado anteriormente para o ato processual,
teve a medida extrema de condução coercitiva decretada contra si.
34 Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou
inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos. Parágrafo único. Incide na mesma
pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais. [...] Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa,
de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: Pena - detenção de seis
meses a dois anos.
O Código de Processo Penal prevê variadas possibilidades de condução coercitiva, em seus artigos 201, §1º
(vítima)35, 260 (acusado)36, 218 (testemunha)37 e 278 (perito)38. Contudo, o tipo penal em estudo pune a
atitude do agente público legitimado a decretar a condução coercitiva apenas de testemunha ou investigado
e em duas situações específicas: quando a medida for manifestamente descabida e quando não tenha havido
prévia intimação de comparecimento ao juízo.
Com relação ao sujeito ativo do crime, tem-se que no caso de ausência de intimação prévia para o
comparecimento em juízo, esse somente pode ser praticado pela autoridade judicial. Já na possibilidade de
a condução coercitiva ocorrer mesmo sendo manifestamente descabida, o crime poderá ser praticado não
apenas por juízes, mas também por qualquer outra autoridade que possa determinar a condução. A título
de exemplo cita-se: autoridade policial, membros da comissão parlamentar de inquéritos e os membros do
Ministério Público (nesse último caso deverão ser observadas as previsões da Lei n.º 8.625/93, notadamente
em seu art. 26, inc. I, alínea “a”39).
Frisa-se que a consumação do delito ocorre com a decretação da condução coercitiva, não sendo necessária
a sua efetivação.
35 Art. 201. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu
autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. § 1o Se, intimado para esse fim, deixar de comparecer sem motivo
justo, o ofendido poderá ser conduzido à presença da autoridade.
36 Art. 260. Se o acusado não atender à intimação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato que, sem ele, não possa ser
realizado, a autoridade poderá mandar conduzi-lo à sua presença. Parágrafo único. O mandado conterá, além da ordem de condução, os requisitos
mencionados no art.352, no que Ihe for aplicável.
37
Art. 218. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial
a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública.
38
Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.
39
Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público poderá: I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos
pertinentes e, para instruí-los: a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado,
requisitar condução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressalvadas as prerrogativas previstas em lei;
III – deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada
pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
O tipo penal agora analisado divide-se na conduta típica e figuras equiparadas. A conduta típica prevista no
caput só pode ser praticada pela autoridade policial, sendo que o prazo legal mencionado na norma está
previsto no art. 306 do Código de Processo Penal:
Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa por
ele indicada.
§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao juiz
competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de seu
advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2o No mesmo prazo, será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das testemunhas.
Ou seja, a norma do art. 10 da Lei de Abuso de Autoridade é norma penal em branco de caráter homogêneo
e heterovitelina, que encontra seu complemento no artigo acima transcrito.
Importante asseverar que, no caso de autoridade policial comunicar uma prisão em flagrante a um juiz
sabidamente incompetente, restará configurado o delito em estudo (PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p.
55).
O parágrafo único do dispositivo apresenta um rol de condutas equiparadas a do caput. No caso dos incisos
I, II e III, o sujeito passivo será a autoridade responsável pela prisão; e na hipótese do inciso IV, “poderá ser
praticado por qualquer autoridade que seja responsável pela custódia do preso ou internado, considerando
que o inciso também se refere à hipótese em que há medida de segurança detentiva” (PONTOCARRERO e
FERREIRA, 2020, p. 55).
Frisa-se que as condutas previstas nos incisos I e II se consumarão quando da omissão dos agentes mesmo
já tendo oportunidade de realizar as condutas. O crime do inciso III trata-se de crime a prazo, que somente
se consumará depois de transcorridas as 24 horas de prisão. Por fim, o delito do inciso IV se consumará
quando esgotar o prazo da prisão temporária, medida de segurança ou internação e mesmo com o prazo
exaurido, as medidas perdurarem. Nesse caso, o crime continuará se consumando por todo o tempo que
durar a ilegalidade com a manutenção das medidas.
Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua
capacidade de resistência, a:
Pena – detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à
violência.
Trata-se de regra especial e deve prevalecer sobre a regra geral prevista no art. 14640 do Código Penal, que
prevê o delito de constrangimento ilegal.
O delito em comento pode ser praticado por qualquer autoridade (definidas no art. 2º da Lei de Abuso de
Autoridade41) que tenha ascendência sobre o preso, sendo que a consumação do delito ocorre no momento
em que um dos resultados dispostos nos incisos do artigo tenha se efetivado.
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério,
ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:
II – de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a
presença de seu patrono.
Para a configuração do delito o mal prometido deve ser a prisão, tendo sua consumação efetivada quando a
vítima realiza a conduta a que foi constrangida. Assim, na hipótese de a vítima não realizar a ação a que foi
constrangida, por circunstâncias alheias à vontade do agente, restará configurada a tentativa delitiva.
40
Art. 146 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.
41
Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território,
compreendendo, mas não se limitando a: I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas; II - membros do Poder
Legislativo; III - membros do Poder Executivo; IV - membros do Poder Judiciário; V - membros do Ministério Público; VI - membros
dos tribunais ou conselhos de contas. Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de
investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.
Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua captura
ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em sede de
procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou atribui a si
mesmo falsa identidade, cargo ou função.
A obrigatoriedade da identificação está prevista no art. 5º, inciso LXIV, da Constituição Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […]
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por seu
interrogatório policial;
Os crimes previstos no caput e no parágrafo único podem ser praticados na forma omissiva (“deixar de
identificar-se”) ou na forma comissiva (“identificar-se falsamente”). Nessa última forma (comissiva) temos
norma especial paralela ao delito de falsa identidade (art. 307, do CP42), tendo a norma especial lugar no
caso concreto.
O sujeito ativo das condutas descritas no caput será o agente público que atuar diretamente na prisão,
captura ou detenção da vítima do abuso. Já com relação ao parágrafo único, o sujeito ativo será aquele
que realizar o interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, e deixar de
identificar-se ao preso ou atribuir a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.
A consumação da infração na forma omissiva dar-se-á quando, na primeira oportunidade, o agente deixar
de se identificar. E na forma comissiva, a consumação ocorre quando o agente identifica-se falsamente
para a vítima.
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo
se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar
declarações:
42
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar
dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.
O sujeito ativo desse crime é a autoridade policial, visto que é ela o agente público competente para realizar
o interrogatório policial. O núcleo do tipo é o verbo “submeter” o preso a interrogatório policial durante o
repouso noturno, salvo no caso de prisão em flagrante. Aqui, importante esclarecer que “período de repouso
noturno”43 é elemento normativo do tipo, estabelecendo o marco temporal em que não pode ser realizado
interrogatório policial (SOUZA, 2020, p. 2248).
Como se vê pela leitura do texto legal, no caso de haver o consentimento do preso acerca do interrogatório
durante o período noturno, tem-se uma excludente da tipicidade, desde que o preso esteja devidamente
assistido. Nesse caso, parte da doutrina entende que a assistência devida “diz respeito à presença do
causídico para aquele que manifestou vontade de ter o profissional a seu lado para instruí-lo”
(PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 63).
O crime previsto no caput do artigo poderá ser cometido por qualquer agente público que seja responsável
pela custódia do preso. Já a figura equiparada disposta no parágrafo único somente poderá ser praticada por
Magistrado (Magistrado competente na primeira parte do texto e Magistrado incompetente na segunda
parte da previsão legal).
Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu advogado:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado de
entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo razoável,
antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se durante a
audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência.
43
"Repouso noturno. Entendemos dever ser aplicado o critério objetivo trazido pelo artigo 22, inciso III, da própria nova Lei de
Abuso, que pune o cumprimento de mandado de busca e apreeensão domiciliar após as 21 horas e antes das 5 horas. Trazendo
a Lei n.º 13.869/19, critérios próprios para definição do que é noite, não se faz necessário lançar mão do artigo 212 do Código
de Processo Civil, que dispõe que os atos processuais serão realizados em dias úteis, das 6 às 20 horas, tampouco do critério que
a doutrina e jurisprudência vêm adotando para fixação do período de "repouso noturno" a que alude o artigo 155, §1º, do Código
Penal" (PONTOCARRERO e FERREIRA, 2020, p. 63, negritamos).
O sujeito ativo da conduta do caput é o agente público que tem o dever de garantir a realização da entrevista
reservada, o sujeito ativo do parágrafo único é o Magistrado que impede o ato.
Enquanto a previsão do caput dispõe sobre o impedimento da entrevista sem justa causa, o parágrafo único
apresenta outro elemento normativo do tipo, de maneira que estará configurado o delito quando o
magistrado impedir a entrevista “por prazo razoável”. Aqui, “devem ser levadas em conta para tanto as
circunstâncias ligadas ao caso concreto, como sua complexidade, número de infrações, atividade processual
necessária para o caso, conduta das partes interessadas e a própria estrutura administrativa colocada à
disposição da autoridade judiciária” (SOUZA, 2020, p. 2254).
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou adolescente
na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).
Essa disposição legal encampa a garantia constitucional prevista no art. 5º, inciso XLVIII, da Constituição
Federal:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […]
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
a idade e o sexo do apenado;
Bem como as disposições legais que determinam a separação dos presos previstas no art. 82, §1º da Lei de
Execuções Penais44 e no art. 123 do Estatuto da Criança e do Adolescente45.
O sujeito ativo do crime pode ser qualquer agente responsável pela separação dos presos, tais como o juiz
da execução, juiz da infância e juventude, diretor de estabelecimento prisional ou unidade de internação,
carcereiros e agentes prisionais.
44
Art. 82. Os estabelecimentos penais destinam-se ao condenado, ao submetido à medida de segurança, ao preso provisório e ao
egresso. § 1° A mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, serão recolhidos a estabelecimento próprio e adequado à sua
condição pessoal. [...]
45
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao
abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Parágrafo único. Durante o
período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
No caso de a manutenção de presos de sexos diferentes na mesma cela ou espaço causar intenso sofrimento
físico ou mental, poderá configurar o crime de tortura previsto no art. 1º, §1º da Lei de Tortura 46.
Por fim, salienta-se que a prisão de pessoas LGBT’s deverá ocorrer dentro dos parâmetros da Resolução
Conjunta 1, de 15 de abril de 2014, editada pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e pelo
Conselho Nacional de Combate a Discriminação, que prevê que “a prisão do travesti deverá ser feita
mediante seu recolhimento em cela feminina. Se o caso for de preso ou presa transexual deverá ser recolhido
ou recolhida na cela que diga respeito ao seu gênero, a não ser que opte em permanecer na cela
correspondente ao seu sexo anatômico” (SOUZA, 2020, p. 2256).
1.7.2 - Possibilidade ou não de oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal aos casos
de maus tratos a cães e gatos.
A Lei n.º 14.064/2020, batizada como “Lei Sansão”47, alterou o art. 32 da Lei n.º 9.605/98, que agora possui
a seguinte redação:
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos:
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda
que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo
será de reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda. (Incluído pela Lei nº
14.064, de 2020)
46
Art. 1º Constitui crime de tortura: [...] § 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança
a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante de medida legal.
47
"Como é tradição do legislador penal brasileiro, o recrudescimento das penas do crime de maustratos a animais é fruto de
movimento social reativo a fatos recentes que ganharam repercussão nacional, revelando forte anseio social por uma reprimenda
mais rigorosa para atos de violência contra animais. Na própria justificativa do PL nº 1.095/19, apresentado em fevereiro de 2019,
encontra-se a expressa referência a um fato específico que gerou grande comoção social (“caso Manchinha”). A aprovação do PL
seguiu a mesma linha e foi especialmente impulsionada por um novo crime ocorrido em Minas Gerais, em que o cão Sansão teve
suas duas patas traseiras decepadas, mediante o emprego de uma foice. Não coincidentemente, a nova lei foi batizada de Lei
Sansão". Disponível em:
<http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/Boletim%20CAOCRIM%20114.pdf>.
A norma instituiu a figura qualificada de maus tratos em atenção à espécie biológica do animal maltratado
(cães e gatos), prevendo pena de reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda, ou seja,
deixou de constituir crime de menor potencial ofensivo.
Tem-se que o legislador elevou o patamar da reprimenda a fim de obstar o cabimento dos benefícios
despenalizadores da Lei n.º 9.099/95, como a Suspensão Condicional do Processo, e facilitar o cabimento da
prisão preventiva. Ainda, retirou da autoridade policial a possibilidade de arbitrar fiança em caso de prisão
em flagrante delito.
Diante desse cenário, cumpre-nos questionar, é cabível o oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal?
Veja-se que o artigo 28-A, do Código de Processo Penal, prevê a benesse com a seguinte redação (alteração
promovida pelo Pacote Anticrime):
Com base na pena cominada para o delito de maus-tratos de cães e gatos (art. 32§1º-A), seria cabível o
oferecimento de Acordo de Não Persecução Penal. Porém, discussão parece haver com relação à violência
empregada para o cometimento do delito. Neste ponto, importante se faz a transcrição dos robustos
argumentos elencados pela Promotora de Justiça Monique Gonçalves48 no sentido do não cabimento de
ANPP no caso em análise:
Por fim, não há como se admitir, em relação à nova figura qualificada, o cabimento do acordo de
não persecução penal – ANPP, em razão da natureza do delito e da sua manifesta contrariedade
ao espírito da Lei nº 14.064/2020, que buscou justamente impedir a aplicação de medidas
despenalizadoras, tornando mais severa a persecução penal e a reprimenda.
Com efeito, nos termos do art. 28-A do CPP, o ANPP direciona-se para infrações penais cometidas
sem violência e exige, dentre outros requisitos, que, no caso específico, a medida se revele
necessária e suficiente para a reprovação e prevenção do crime. O instrumento alinha-se ao
escopo de valorização dos instrumentos de autocomposição, nos termos estabelecidos na
Resolução CNMP nº 118/2014, entendendo-se que o modelo de justiça penal negociada pode
contribuir para a projeção social da cultura de pacificação, da redução da litigiosidade e do
estímulo às soluções consensuais, liberando a estrutura da persecução penal para os casos de
maior gravidade e relevância social.
48
Disponível em: http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/Boletim%20CAOCRIM%20114.pdf.
De mais a mais, verifica-se que as razões que nortearam o legislador a proibir, de forma absoluta,
o benefício do ANPP para crimes com violência ou grave ameaça, encontram-se presentes na
prática de violência contra seres sencientes.
Lado outro, há quem justifique a possibilidade do oferecimento de ANPP diante da lacuna legal, visto que o
legislador não especificou o impedimento da benesse no caso de violência contra animais, de maneira que
somente a violência contra a pessoa é que desautorizaria o oferecimento do Acordo. Neste sentido entende-
se que a Lei Penal deveria trazer previsão expressa com relação à eventual impossibilidade. A exemplo disso
cita-se o caso do descabimento da fiança nas hipóteses dos artigos 323 e 324, do Código de Processo Penal49.
Pelo cabimento da proposta de acordo de não persecução penal o Promotor de Justiça Rafael Schewz
argumenta que50:
Além dessa interpretação sistemática, a interpretação literal evidencia que a violência referida
pelo artigo 28-A do CPP envolve somente a pessoa. Esse último artigo legal admite o ANPP
quando o agente confessa a prática de infração penal “sem violência ou grave ameaça”. O
posicionamento que aumenta o âmbito de incidência da “violência” para abranger outros seres
além do homem, notadamente os sencientes, deve ampliar também o âmbito da grave ameaça.
Chegará assim à inóspita conclusão de que a grave ameaça contra um cão também impede o
ANPP. Todavia, como se identifica uma grave ameaça irrogada por um homem contra um animal?
Sustenta-se, em leitura própria, que, como os vocábulos “violência” e “grave ameaça” vêm
elencados em sequência, intercalados por uma conjunção alternativa (“ou”), o âmbito de
incidência deles deve ser exatamente o mesmo. E porque não há que se cogitar em grave ameaça
contra o animal, mas apenas contra o homem, conclui-se que a violência referida no artigo 28-A
do CPP é apenas aquela praticada contra o homem.
Ambos os posicionamentos apresentam argumentos justificáveis e plausíveis. O tema ainda não foi objeto
de apreciação judicial, pois a alteração é recente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
49
Art. 323. Não será concedida fiança: I - nos crimes de racismo; II - nos crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, terrorismo e nos definidos como crimes hediondos; III - nos crimes cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra
a ordem constitucional e o Estado Democrático; Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: I - aos que, no mesmo processo,
tiverem quebrado fiança anteriormente concedida ou infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se referem os
arts. 327 e 328 deste Código; II - em caso de prisão civil ou militar; III – (revogado); IV - quando presentes os motivos que autorizam
a decretação da prisão preventiva (art. 312).
50
Disponível em: <https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/11/23/crime-de-maus-tratos-contra-caes-e-gatos-
anpp-e-proibicao-da-guarda/>.
CUNHA, Rogério Sanches et al. Leis Penais Especiais: comentadas/Coordenadores Rogério Sanches Cunha,
Ronaldo Batista Pinto, Renne de Ó Souza – 3. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo e PONTOCARRERO, Cláudia Barros. Leis Penais Extravagantes – Teoria,
jurisprudência e questões comentadas. 5. ed. Rev., atual. e ampl. - Salvador: Ed. Juspovm, 2020.
GONÇALVES, Monique Mosca. 2-Tema: A TUTELA PENAL DOS ANIMAIS NO CONTEXTO DA NOVA LEI N.º
14.064/2020. Disponível em:
http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/Criminal/Boletim_Semanal/Boletim%20CAOCRIM%20114.pdf
.
KURKOWSKI, Rafael Schewz. Crime de maus tratos contra cães e gatos: ANPP e proibição da guarda.
Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2020/11/23/crime-de-maus-tratos-
contra-caes-e-gatos-anpp-e-proibicao-da-guarda/.
Os sistemas eleitorais são definidos como “técnicas e procedimentos pelos quais os eleitores expressam em
votos sua preferência por um candidato ou partido político, a qual será traduzida em mandatos” (SILVA,
Virgílio Afonso da. Sistemas Eleitorais: tipos, efeitos jurídico-políticos e aplicação ao caso brasileiro. São
Paulo: Malheiros, 1999, p. 36).
O sistema eleitoral majoritário é direcionado para cargos de Prefeito de Município, Governador de Estado
ou do Distrito Federal, Presidente e Senador da República, nos quais a representação popular é conferida
ao(s) candidato(s) mais votado(s), uma vez obtida a maioria relativa ou simples dos votos válidos, nas eleições
de que tratam os arts. 29, inc. II, initio, e 46, caput, ou maioria absoluta ou qualificada dos votos válidos, em
primeiro ou segundo turno, se houver, nas eleições sobre os quais versam os arts. 28, caput, 29, inc. II, in
fine, 32, § 2º, e 77, § 2º, da Constituição Federal.
“Consulta. Eleições. Partidos políticos. Coligação. Apoio a candidato. É vedada coligação apenas
para as eleições proporcionais. Admite-se a participação de partido somente no pleito
proporcional, na hipótese de não ter registrado candidato as eleições majoritárias. O partido que
registro apenas candidatos as eleições proporcionais não pode apoiar candidato as eleições
majoritárias, lançado por outro partido” (TSE, AC nº 19.576, Rel. Min. Nilson Vital Naves, J.
30.05.1996, DJU 01º.07.1996).z
O sistema eleitoral proporcional é dirigido para cargos de Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado
Distrital e Vereador, nos quais a representação popular é distribuída em razão da força eleitoral dos partidos
políticos ou coligações partidárias, quantificada pela divisão do número de votos válidos pelo de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral (quociente eleitoral), prosseguida pela divisão número de votos
válidos dados sob a mesma legenda partidária ou coligação de legendas pelo quociente eleitoral (quociente
partidário), de modo que eleitos são tantos candidatos registrados por um partido político ou coligação
quanto o quociente partidário indicar, na ordem da votação nominal que cada um tenha recebido nas
eleições reguladas nos arts. 27, § 1º, 29, inc. I, 32, § 3º, e 45, caput, da Constituição da República.
“Representação. Art. 41-A da Lei nº 9.504/97. Candidato a vereador não eleito. Sentença.
Procedência. Recurso eleitoral. Pedido. Desistência. Tribunal Regional Eleitoral. Impossibilidade.
Matéria de ordem pública. Peculiaridades. Processo eleitoral. Interesse público. Quociente
eleitoral. Alteração (...). A decisão regional que indefere o pedido de desistência formulado
naquela instância e que modifica a sentença para julgar improcedente representação,
provocando a alteração do quociente eleitoral e da composição de Câmara Municipal, resulta em
evidente prejuízo jurídico direto a candidato que perde a vaga a que fazia jus, constituindo-se
terceiro prejudicado, nos termos do art. 499 do Código de Processo Civil. Manifestado o
inconformismo do candidato representado no que se refere à decisão de primeira instância, que
o condenou por captação ilícita de sufrágio, não se pode aceitar que, no Tribunal Regional
Eleitoral, venha ele pretender a desistência desse recurso, em face do interesse público existente
na demanda e do nítido interesse de sua agremiação quanto ao julgamento do apelo, em que
eventual provimento poderia resultar na alteração do quociente eleitoral e favorecer candidato
da mesma legenda. O bem maior a ser tutelado pela Justiça Eleitoral é a vontade popular, e não
a de um único cidadão. Não pode a eleição para vereador ser decidida em função de uma questão
processual, não sendo tal circunstância condizente com o autêntico regime democrático (...). A
hipótese versa sobre pleito regido pelo sistema de representação proporcional, em que o voto
em determinado concorrente implica sempre o voto em determinada legenda partidária,
estando evidenciado, na espécie, o interesse jurídico na decisão oriundo do referido feito” (TSE,
AC nº 25.094, Rel. Min. Carlos Eduardo Bastos, J. 16.6.2005, DJU 7.10.2005).
Por último, o sistema eleitoral misto é dirimido pelo art. 38, nº 3, da Constituição alemã, bem como art. 52
da Constituição mexicana, nos quais há a combinação entre a representação majoritária e a representação
proporcional, sem olvidar que o art. 148, parágrafo único, da Constituição da República Federativa do Brasil,
com a redação que lhe foi atribuída pela Emenda Constitucional nº 22/82, prescrevia que “os Deputados
Federais, Deputados Estaduais, Deputados Distritais seriam eleitos pelo sistema distrital misto, majoritário e
proporcional, nos termos que a lei estabelecesse”.
Introdução: O ECA (Lei 8.069/90) rege-se pela doutrina da proteção integral, segundo a qual crianças e
adolescentes têm os mesmos direitos que os adultos e outros mais, especiais, em razão do fato de serem
pessoas em estágio peculiar de desenvolvimento. Trata-se da incorporação em definitivo a Doutrina das
Nações Unidas de Proteção Integral à Criança, que foi adotado no Brasil pela primeira vez em 1988, de forma
implícita, na Constituição Cidadã. O Estatuto da Criança e do Adolescente estrutura-se em dois livros, ou em
duas partes: uma Parte Geral (art.1° a 85) e uma Parte Especial (art. 86 a 258).
Disposições preliminares do ECA: na esteira da nova ordem constitucional e em consonância com os textos
internacionais que tratam da matéria, houve o rompimento em definitivo com a doutrina da situação
irregular (que regia o Código de Menores – Lei 697, de 10.10.79), e foi estabelecida como diretriz básica a
doutrina da proteção integral. Essa proteção se fundamenta no princípio do melhor interesse da criança.
Trata-se da chamada regra de ouro do Direito da Criança e Adolescente, que considera superiores os seus
interesses porque a família, a sociedade e o Estado, todos são compelidos a proteger os infantes.
O ECA foi o responsável por conceituar a criança e o adolescente. É verdade que a Convenção sobre os
Direitos da Criança, não faz tal separação (reconhecendo apenas o sujeito “criança”, como sendo todo ser
humano menor de 18 anos). Porém, a solução adotada pela legislação especial tutelar brasileira foi diversa,
estabelecendo que criança é aquela pessoa que tem até 12 anos incompletos, e adolescente, aquele que
tem entre 12 anos (completos) e 18 anos incompletos. Ademais, A Lei n. 13.257/2016 – Marco Legal da
Primeira Infância – definiu como integrantes da primeira infância aqueles que possuírem até seis anos
completos ou estiverem em seus primeiros 72 meses de vida.
Conceito de criança, adolescente, jovem e idoso. Utilização do critério biopsicológico. Aplicação do Estatuto
da Criança e do Adolescente.
Primeira infância: primeiros seis anos ECA e Lei nº 13.257/2016. Marco Legal
completos ou 72 meses de vida da criança. da Primeira Infância.
Aplicação excepcional do Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 2º, parágrafo único, do Estatuto) àqueles
que têm entre 18 e 21 anos de idade:
a) aplicação e execução de medidas socioeducativas para agentes que, ao tempo da ação ou da omissão,
eram adolescentes. Súmula 605 do STJ: “A superveniência da maioridade penal não interfere na apuração
de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso, inclusive na liberdade assistida,
enquanto não atingida a idade de 21 anos”.
Art. 3º. Na aplicação e interpretação desta Lei, serão considerados os fins sociais a que ela se
destina e, especialmente, as condições peculiares da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento, às quais o Estado, a família e a sociedade devem assegurar a fruição dos
direitos fundamentais com absoluta prioridade. Parágrafo único. A aplicação desta Lei é
facultativa para as vítimas e testemunhas de violência entre 18 (dezoito) e 21 (vinte e um) anos,
conforme disposto no parágrafo único do art. 2º da Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente).
É válido lembrar que se considera completada a maioridade no primeiro instante do dia em que o
adolescente completar dezoito anos. Da mesma forma, a adolescência se inicia a zero hora do dia em que a
criança completa doze anos, não importando, em qualquer dos casos, a hora em que se deu o nascimento
do indivíduo.
No artigo 3° do ECA há o elenco dos direitos assegurados aos sujeitos indicados no art. 2° (crianças e
adolescentes), extraindo-se três princípios: a) crianças e adolescentes gozam de todos os direitos
fundamentais assegurados a toda pessoa humana; b) eles têm direito, além disso, à proteção integral que é
a eles é atribuída pelo Estatuto; c) a eles são garantidos também todos os instrumentos necessários para
assegurar seu desenvolvimento físico, mental, moral e espiritual, em condições de liberdade e dignidade.
O artigo 6º faz referência à interpretação do ECA, e repete praticamente o contido no art. 5º da Lei de
Introdução ao Direito Brasileiro, com um alerta para o intérprete e aplicador do Direito, no sentido de se
levar em consideração os “direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do
adolescente como pessoas em desenvolvimento”, sobretudo no atinente à convivência familiar, à proteção
da criança e adolescente e das medidas socioeducativas.
A Constituição Federal adotou um sistema especial de proteção dos direitos fundamentais de crianças e
adolescentes, explicitados nos artigos 226/228, sendo dever da família, da sociedade, da comunidade e do
Poder Público zelar, com absoluta prioridade, pela sua efetivação.
A Constituição Federal representou um verdadeiro divisor de águas, pois substituiu a ultrapassada Doutrina
da Situação Irregular pela Doutrina da Proteção Integral. Houve, portanto, uma mudança de paradigma
amparada no texto constitucional e, este, por sua vez, em textos internacionais de proteção aos direitos da
criança, representados pela Doutrina das Nações Unidas de Direitos da Criança. Estabeleceu-se um
rompimento com os procedimentos anteriores, com a introdução no sistema dos conceitos jurídicos de
criança e adolescente em substituição à expressão menor, superando-se o paradigma de incapacidade para
o reconhecimento das crianças e adolescentes como sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento
(art. 6º do ECA).
De acordo com a Doutrina da Situação Irregular havia duas infâncias no Brasil: uma relativa aos menores,
pessoas em situação irregular, e outra relativa a crianças e adolescentes, a quem os direitos eram
assegurados.
Com a Doutrina da Proteção Integral, foi concebida uma única infância, no sentido de que todas as crianças
e adolescentes são tidos como sujeitos de direitos, pessoas em peculiar condição de desenvolvimento, em
uma perspectiva de proteção voltada à garantia dos direitos humanos.
A proteção à infância, no seu sentido lato, é direito social amparado pelo art. 6º da Constituição Federal.
A Constituição atribuiu à infância e a juventude um momento especial na vida do ser humano e, por isso,
conferiu-lhe no seu artigo 227 uma proteção jurídica específica, assegurando: o status de pessoas em
situação peculiar de desenvolvimento, a titularidade de direitos fundamentais e determinou ao Estado que
estes direitos sociais fossem promovidos por meio de políticas públicas.
Tratamento constitucional:
a) A Constituição estabelece ser de competência exclusiva da União legislar sobre normas de direito civil
(art. 22, I, ECA), e de competência concorrente entre esta e os Estados para legislar sobre a proteção à
infância e juventude (art. 24, XV). Pois bem. Em dispositivos de natureza penal (atos infracionais) e de
natureza civil (tutela, guarda, adoção, poder familiar etc), a competência da União é privativa.
b) Não obstante, em razão do permissivo contido no parágrafo único do art. 22, poderá a União, por
meio de lei complementar, autorizar os Estados a legislar sobre essas questões.
c) De outro lado, tem-se a competência concorrente da União e dos Estados para legislar sobre proteção
à infância e à juventude.
d) Muito embora se curve à legislação federal e a estadual a respeito, ao Município compete papel de
suplementar a proteção à infância e juventude, como, por exemplo, tratar do funcionamento dos Conselhos
Tutelares, sem, é claro, colidir com as regras dos artigos 134 e seguintes do ECA.
Prioridade Absoluta
O artigo 227 da CF afirma o princípio da prioridade absoluta dos direitos da criança, do adolescente e do
jovem, tendo como destinatários da norma a família, a sociedade e o Estado. Pretende, pois, que a família
se responsabilize pela manutenção da integridade física e psíquica; a sociedade pela convivência coletiva
harmônica; e o Estado pelo constante incentivo à criação de políticas públicas. Trata-se de uma
responsabilidade que, para ser realizada, necessita de uma integração, de um conjunto devidamente
articulado de políticas públicas.
Essa competência difusa, que responsabiliza uma diversidade de agentes pela promoção da política de
atendimento à criança e ao adolescente, tem por objetivo ampliar o próprio alcance da proteção dos direitos
infanto-juvenis.
Dentro da estrutura chamada ordem social, está englobada a chamada Seguridade Social, esta compreendida
como um conjunto integrado de ações de iniciativas dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a
assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. E a assistência social, que será
prestada independentemente de contribuição à seguridade social, tem, dentre os seus objetivos, a proteção
e amparo à criança e ao adolescente, cabendo a coordenação e as normas gerais à esfera federal e a
coordenação e a execução dos respectivos programas às esferas estadual e municipal. E o ECA é uma dessas
normas gerais, pelo qual estabelece uma política de atendimento.
Essa política de atendimento deve ser, segundo o art. 204 da CF, descentralizada política e
administrativamente (sendo dever dos Estados, Municípios e das entidades não governamentais de
assistência social a coordenação e execução destes programas).
Também impõe a participação popular, por meio de organizações representativas, para formulação de
políticas públicas em todos os níveis. Já o § 1º do artigo 227 determina que o Estado promova, admitida a
participação da sociedade civil, programas de assistência integral à saúde da criança e do adolescente.
A Constituição também faz menção à assistência integral à saúde da criança e do adolescente, estabelecendo
que parte dos recursos públicos destinados à saúde será dirigida à assistência materno-juvenil, cabendo-lhe,
ainda, a criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência
física, sensorial ou mental.
O artigo 228 da CF estabelece a garantia da inimputabilidade aos menores de dezoito anos, assegurando ao
adolescente o direito de ser submetido a uma lei especial, que prevê um juízo diferenciado e a aplicação de
medidas socioeducativas. Há quem sustente que não se trata de cláusula pétrea (e, por isso, seria
modificável).
- Ação socioeducativa: a prática do ilícito praticado por adolescente será apurada por meio da ação
socioeducativa, que somente poderá ser iniciada pelo Ministério Público.
- As medidas socioeducativas somente poderão ser aplicadas na ação socioeducativa, havendo competência
exclusiva da autoridade judiciária.
De acordo com o Estatuto da Criança e do adolescente, o ato infracional é a conduta praticada por criança
ou por adolescente, prevista na lei como crime ou contravenção penal.
Criança=> pode praticar ato infracional, mas não estará sujeita à medida socioeducativa. Não haverá
processo para a apuração de ato infracional e, estando em situação de risco, poderá ser submetida às
medidas protetivas.
A criança e o adolescente fazem jus à proteção especial decorrente de sua situação de pessoa em
desenvolvimento. Esta proteção especial abrangerá os seguintes aspectos:
I - idade mínima de quatorze anos para admissão ao trabalho, observado o disposto no art. 7º,
XXXIII: a idade mínima para o trabalho é de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir
dos catorze anos. O trabalho realizado por pessoa que tenha idade inferior a esta é denominado
de trabalho infantil, que é combatido por todo o Sistema de Justiça.
VI - estímulo do Poder Público, através de assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, nos
termos da lei, ao acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente órfão ou
abandonado;
Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou
pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída para fazer face ao custo
de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa
realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel
beneficiado.
Assim, o valor a ser cobrado possui dois limites: a) a despesa total gasta pelo Poder Público ao realizar a obra;
b) a valorização que beneficiou cada um dos imóveis isoladamente considerados.
A segunda condicionante repousa na circunstância de que a contribuição de melhoria pode ser instituída
para neutralizar os efeitos positivos da obra pública sobre o patrimônio do contribuinte – mantendo, assim,
o capital que existia antes da obra ser realizada – mas não pode ser usada para produzir um decréscimo no
seu valor.
Portanto, a base econômica da contribuição de melhoria deve observar esses dois limites: a) não pode ser
superior ao custo global da obra; b) não pode superar a valorização individual de cada imóvel.
Na prática, a existência dessas balizas dificulta a recuperação integral do valor gasto pelo Estado.
Imaginemos, por exemplo, que a obra tenha custado R$ 1.000.000,00, e que foram beneficiados por ela 25
imóveis, que tiveram valorização individual de R$ 20.000,00. Nesse caso, em razão da segunda
condicionante, o poder público poderia arrecadar apenas a quantia de R$ 500.000,00 (R$ 20.000,00 x 25).
Não há no Brasil um Código de Processo Coletivo. A tarefa de defesa dos direitos coletivos fica a cargo do
microssistema processual coletivo. No caso do CPC, este foi tímido em relação ao processo coletivo,
deixando-o a cargo ainda do microssistema processual coletivo, a teor do art. 318 do CPC. O artigo que
tratava da conversão de ações individuais em coletivas foi vetado pela Presidente da República.
[...] não se pode passar ao largo da crítica de que o atual Código de Processo Civil perdeu uma
grande oportunidade de avançar no tema. Abordou-o de forma muito tímida, possivelmente em
razão de um outro projeto de lei que pretendia, à época, disciplinar especificamente os processos
coletivos. Houve apenas algumas referências pontuais sobre o processo coletivo. Hugo Nigro
Mazzilli critica esta omissão deliberada, ao ponderar que décadas de utilização das ações
coletivas se passaram, não havendo razão para que o legislador, ao elaborar um novo CPC, não
adentrasse no tema. Assim, como anota Mazzilli “Dizer que o processo coletivo merece tutela à
parte porque tem peculiaridades seria o mesmo que dizer que os procedimentos especiais
também o deveriam, e assim a ação monitória, ou a suspensão dos processos coletivos ou
individuais, ou o incidente de resolução de demandas repetitivas, ou a conversão de ação
individual em coletiva, ou a prática eletrônica de atos processuais – tudo isso igualmente deveria
ter sido deixado para a legislação extravagante...” (Interesses e Direitos Difusos e Coletivos.
Henrique da Rosa Ziesemer;. Juspodivm. 2020. p. 70/71)
Com efeito, em que pesem as críticas apresentadas, o CPC inovou com o tema ao prever o incidente de
resoluções de demandas repetitivas, além do fato de se integrar ao microssistema processual coletivo,
complementando as demais leis sobre o tema.
A autocomposição vem ganhando destaque no direito brasileiro, nos últimos anos, principalmente em razão
do exponencial aumento da judicialização de questões cotidianas. Como o direito busca, em última instância,
a pacificação social, a autocomposição passou a figurar como meio legítimo de alcançar essa pacificação de
forma célere.
No campo constitucional, a Emenda Constitucional 45 (de 2004), que tratou da reforma do Poder Judiciário,
acrescentou o inciso LXXVIII ao art. 5º e, como consequência, consagrou a razoável duração dos processos
como garantia individual (a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação).
A doutrina costuma tratar a autocomposição como gênero, do qual são espécies a mediação (intervenção de
terceira pessoa, imparcial, que estimulará a solução do conflito sem sobre ele emitir juízo de valor), a
negociação (diálogo mantido pelas partes sem intervenção de terceiros) e a conciliação (intervenção do
órgão julgador buscando a solução do litígio, inclusive com apresentação de prós e contras sobre os direitos
discutidos).
O dever do Estado em promover a solução consensual dos conflitos, inclusive mediante estímulo por parte
do Ministério Público, ficou expressamente previsto no art. 3, § 3º, do Código de Processo Civil de 2015.
Aliás, o atual código de Processo Civil tratou da solução consensual de conflitos e da autocomposição em
pelo menos 20 dispositivos: art. 3º, §§ 2º e 3º; art. 139, V; art. 154, VI e parágrafo único; art. 165; art. 166, §
3º; art. 174; art. 190; art. 221, parágrafo único; art. 303, III; art. 308, § 4º; art. 334, §§ 4º, 5º e 11; art. 335, I;
art. 359; art. 381, II; art. 471, II; art. 515, II, III e § 2º; art. 694; art. 696; art. 725, VIII; e art. 932, I.
Quanto à participação do Ministério Público como agente estimulador da autocomposição, uma das
legislações pioneiras a tratar do tema foi a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/95), que, com a redação dada
ao § 6º do art. 5º no ano de 1990, expressamente previu que “os órgãos públicos legitimados poderão tomar
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante cominações,
que terá eficácia de título executivo extrajudicial”. Vale dizer, o MP exerce importante papel no processo
coletivo, podendo-se valer dos meios autocompositivos, inclusive no processo coletivo. Não há vedação para
que atue desta forma. Ainda, há que se ressaltar a Resolução 118/2014 do Conselho Nacional do Ministério
Público, que trada das ferramentas de autocomposição, como a negociação, conciliação e mediação. É de se
mencionar a crescente onda legislativa que trata de justiça negociada, onde se pode citar o acordo de não
persecução cível, com previsão no §1º do art. 17 da lei 8.429/92, em recente reforma legislativa, elevando a
autocomposição para a o campo da improbidade administrativa, sendo o Ministério Público legitimado para
celebração do referido acordo.
A PNMA tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida,
buscando a concretização dos fins estabelecidos no art. 23, VI (proteção do meio ambiente e combate à
corrupção) e VII (preservação das florestas, da fauna e da flora), da CR, no exercício da competência material
comum entre os entes federativos.
Embora de forma não coincidente, o dispositivo traduz alguns dos importantes princípios do Direito
Ambiental, como o princípio do controle, o princípio do desenvolvimento sustentável, o princípio do
poluidor-pagador, o princípio da prevenção e o princípio da educação ambiental, disciplinados na forma de
objetivos (fins abstratos). Em complemento, o art. 4º apresenta os objetivos específicos da PNMA (fins
concretos):
VI - à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e
disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à
vida;
a) Meio ambiente: é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e
biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Trata-se de conceito restrito à
concepção de meio ambiente natural e que apresenta fundamentação biocêntrica ao reconhecer o valor
da “vida em todas as suas formas”51. De forma mais ampla, a Resolução CONAMA 306/2002 ampliou o
conceito para abranger os aspectos social, cultural e urbanístico, que também integram a noção de meio
ambiente. Assim, apesar da restrição do conceito legal, a doutrina classifica o meio ambiente como: (1)
natural, compreendendo os elementos naturais, como a fauna e a flora (art. 225 da CR); (2) artificial,
abrangendo o espaço urbano e os equipamentos públicos (art. 182/183 da CR); (3) cultural, referindo-se ao
patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico e turístico (art. 215 e 216 da CR), e (4) do trabalho,
nos termos do art. 7º, XXII e 200, VIII, da CR.
Atenção! Trata-se de dispositivo muito cobrado em fases objetivas de concursos do Ministério Público.
d) poluidor: a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente,
por atividade causadora de degradação ambiental. Veja que o conceito de poluidor aproxima os conceitos
de poluição ambiental e degradação da qualidade ambiental. A condição de poluidor aplica-se à pessoa física
ou jurídica, de direito público ou privado e pode decorrer de degradação ambiental provocada de forma
direta ou indireta. O poluidor indireto constitui um conceito jurídico indeterminado, que apresenta
divergência doutrinária e jurisprudencial na sua delimitação. Compreende-se, neste caso, que a atividade do
poluidor indireto não é a causa do dano ambiental, mas para ele contribui (já que cria condições para o
evento poluidor e, portanto, para o dano). E é nessa contribuição que se verifica o nexo de causalidade entre
o poluidor indireto e o dano ambiental – elemento indispensável para a responsabilização civil do poluidor
direto e também do indireto. A grande discussão sobre a extensão da figura do poluidor indireto refere-se
ao tipo de contribuição que enseja a responsabilidade civil ambiental nesta modalidade. Para parte da
doutrina, só se configura o poluidor indireto (contribuição de alguém para o dano causado diretamente por
outrem), quando presente o dever de segurança (garante de terceiro) atribuído legalmente para evitar o
dano (Talden Farias). O STJ já decidiu neste sentido: não se revela razoável afirmar também que a
51
Em sentido contrário, entendendo que o dispositivo apresenta caráter estritamente antropocêntrico, THOMÉ, Romeu. Manual
de Direito Ambiental. 9º ed. Salvador: Editora Juspodivum, 2019, p. 198
responsabilização das recorrentes seria resultado lógico de eventual comportamento omissivo de sua parte,
pois este, como consabido, só se verifica nas hipóteses em que o agente (suposto poluidor), tendo o dever de
impedir a degradação, deixa mesmo assim de fazê-lo, beneficiando-se, ainda que de forma indireta, do
comportamento de terceiro diretamente responsável pelo dano causado ao meio ambiente (STJ - REsp:
1596081 PR 2016/0108822-1, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento:
25/10/2017, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 22/11/2017). O exemplo mais comum de
poluidor indireto refere-se à responsabilidade do Estado por omissão no dever de controle e fiscalização,
contribuindo, de forma indireta, para a ocorrência do dano ambiental. De acordo com o STJ, contudo, o
Estado responde, objetiva e solidariamente por omissão no cumprimento do dever de fiscalizar as atividades
lesivas, mas essa responsabilidade é de execução subsidiária. Ou seja, o Poder Público, apesar de condenado
solidariamente pelos danos causados pelo particular que desempenhou a atividade degradadora, somente
será chamado a responder, como poluidor indireto, na fase de execução do julgado, quando o degradador
original – devedor principal, poluidor direto – não tiver condições de cumprir as obrigações impostas52.
Em relação ao nexo de causalidade e o poluidor indireto, o STJ adota compreensão ampla: para o fim de
apuração do nexo de causalidade no dano ambiental, equiparam-se quem faz, quem não faz quando deveria
fazer, quem deixa fazer, quem não se importa que façam, quem financia para que façam, e quem se beneficia
quando outros fazem (STJ, 2ª Turma, REsp 650.728/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 23/10/2007, DJe
02/12/2009).
A doutrina diverge, também, sobre a aplicabilidade da inversão do ônus da prova para o poluidor indireto,
já que a Súmula 618 do STJ fala em “ações de degradação ambiental”. Prevalece o entendimento no sentido
de que a inversão do ônus da prova aplica-se tanto ao poluidor direto como ao indireto.
52
STJ – 2ª T. – REsp n. 1.071.741/SP – j. 24.03.2009 – rel. Min. Herman Benjamin.
53
MIRRA, Álvaro Luiz. Responsabilidade civil ambiental e a jurisprudência do STJ. In: Cadernos Jurídicos, São Paulo, ano 20, nº
48, Março-Abril/2019, p. 56/57.
A estrutura do SISNAMA abrange os órgãos e entidades de todos os entes federativos responsáveis pela
proteção e melhoria da qualidade ambiental, disciplinada da seguinte forma:
II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade
de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio
ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões
compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida. Os
limites da competência normativa do CONAMA são objeto de controvérsia na doutrina e na jurisprudência.
Discute-se sobre a legalidade das disposições normativas do CONAMA para regulamentar situações não
abrangidas pela lei formal. O STJ já decidiu que a competência normativa do CONAMA deve observância ao
princípio da legalidade. Neste sentido:
(...) 5. O Código Florestal, no art. 3º, dá ao Poder Público (por meio de Decreto ou Resolução do
Conama ou dos colegiados estaduais e municipais) a possibilidade de ampliar a proteção aos
ecossistemas frágeis. 6. Possui o CONAMA autorização legal para editar resoluções que visem à
proteção do meio ambiente e dos recursos naturais, inclusive mediante a fixação de parâmetros,
definições e limites de Áreas de Preservação Permanente. 7. A Resolução n. 303/02 do CONAMA
não está substancialmente apartada da Resolução n. 04/85 do CONAMA, que lhe antecedeu e
que é vigente à época dos fatos. Ambas consideram a restinga como espécie de acidente
geográfico, encoberto por vegetação característica. Destarte, não há extrapolação de
competência regulamentar do CONAMA em sua Resolução n. 303/02 no que se refere à definição
de restinga, porquanto está de acordo com o definido na Lei n. 4.771/65 e nos estritos limites ali
delineados. (...) (STJ - RE nos EDcl no REsp: 1462208 SC 2014/0149502-0, Relator: Ministra
LAURITA VAZ, Data de Publicação: DJ 13/10/2015)
Os §§1º e 2º, dispõem sobre a competência normativa supletiva dos Estados e Municípios.
II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis
conseqüências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais,
estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para
apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou
atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas
patrimônio nacional.
Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente
do Conama.
III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar,
coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais
fixadas para o meio ambiente. Trata-se, hoje, do Ministério do Meio Ambiente - MMA.
IV - órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis -
IBAMA e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, com a
finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio
ambiente, de acordo com as respectivas competências.
Atenção! Não confundir as atribuições do CONAMA e do IBAMA. O CONAMA tem essencialmente a função
normativa, enquanto o IBAMA e o ICMBio têm funções executivas.
V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos
e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;
VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas
atividades, nas suas respectivas jurisdições;
Neste sentido, o art. 9º elenca os seguintes instrumentos administrativos preventivos da Política Nacional
do Meio Ambiente:
III - a avaliação de impactos ambientais: refere-se a todos os estudos relativos aos aspectos
ambientais analisados no âmbito de procedimentos ambientais (gênero), comumente referidos
também como Avaliação de Impacto Ambiental – AIA, prevista no Princípio 17 da Declaração do
Rio/1992, que assim dispõe: o emprego de avaliação de impacto ambiental, em qualidade de
instrumento nacional, a atividades propostas que potencialmente produzam um impacto
negativo sobre o meio ambiente, e que estejam sujeitas à decisão de uma autoridade nacional
competente. Encontra-se conceituado, também, na Resolução CONAMA 237/97, como estudos
ambientais, entendidos como todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
VII - o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente: é expressão dos princípios do
acesso à informação ambiental. No âmbito da repartição de competências, encontra-se
disciplinado na LC 140/11 (art. 7º, VIII, 8º, VII e VIII e 9º, VII e VIII).
VIII - o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental: são dois
tipos de cadastros técnicos federais previstos nesta lei – o cadastro referente ás atividades e
instrumentos de defesa ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que
se dedicam a consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e
comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades
efetiva ou potencialmente poluidoras (cadastro positivo) e o cadastro de atividades
potencialmente poluidoras ou utilizadoras de recursos naturais, ara registro obrigatório de
pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à
extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao
meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora (cadastro negativo).
Ambos foram instituídos pela LPNMA sob a administração do IBAMA (art. 17). O objetivo é de
controle e de publicidade das informações constantes nos referidos cadastros, dada a sua
relevância ambiental.
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais;
XIII - instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental
e outros: trata-se de instrumento de concretização do modelo de Economia Verde que decorre
dos princípios do desenvolvimento sustentável e do poluidor-pagador, especialmente na sua
vertente do protetor-recebedor.
5. SERVIDÃO ADMINISTRATIVA
• A servidão ambiental não se aplica às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal mínima
exigida (§2º)
• A restrição ao uso ou à exploração da vegetação da área sob servidão ambiental deve ser, no mínimo,
a mesma estabelecida para a Reserva Legal (§3º)
• O instrumento de instituição da servidão ambiental deve ser averbado na matrícula do imóvel (§4º)
• É vedada, durante o prazo de vigência da servidão ambiental, a alteração da destinação da área, nos
casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de desmembramento ou de retificação dos limites
do imóvel (§6º). É pe
• A servidão ambiental pode ser onerosa ou gratuita, temporária ou perpétua (art. 9º-B, caput). Se for
temporária, o prazo mínimo é de 15 (quinze) anos (§1º)
• A servidão ambiental perpétua equivale, para fins creditícios, tributários e de acesso aos recursos de
fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN, definida no art. 21 da Lei
no 9.985, de 18 de julho de 2000.
• O detentor da servidão ambiental poderá aliená-la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente,
por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor de outro proprietário ou de entidade
pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social (§3º). Neste caso, o contrato
deve ser averbado na matrícula do imóvel (art. 9º-C, caput). O proprietário do imóvel serviente terá
como deveres mínimos (§2º): 1. manter a área sob servidão ambiental; 2. prestar contas ao detentor
da servidão ambiental sobre as condições dos recursos naturais ou artificiais; 3. permitir a inspeção
e a fiscalização da área pelo detentor da servidão ambiental; 4. defender a posse da área serviente,
por todos os meios em direito admitidos. Já o detentor da servidão ambiental tem como obrigação
(§3º): 1. documentar as características ambientais da propriedade; 2. monitorar periodicamente a
propriedade para verificar se a servidão ambiental está sendo mantida; 3. prestar informações
necessárias a quaisquer interessados na aquisição ou aos sucessores da propriedade; 4. manter
relatórios e arquivos atualizados com as atividades da área objeto da servidão; 5. defender
judicialmente a servidão ambiental.
Além da servidão ambiental, a LPNMA disciplina outros incentivos governamentais para a proteção
ambiental. São eles:
1.13.1 - Duplicata
Entende-se duplicata como um título de crédito criado pelo direito brasileiro e prevista inicialmente no art.
219 do Código Comercial, mas utilizado efetivamente a partir da Lei nº 5.474/68, que a dividiu em duas
espécies: (a) duplicata mercantil e (b) duplicata de serviços.
Trata-se de título de crédito emitido para representar uma compra e venda mercantil ou uma prestação de
serviços, regida pela Lei nº. nº. 5.474/1968. Nela, o aceite é obrigatório, dispensando a assinatura do
devedor.
A Lei nº. 5.474/1968, em seu artigo 1º, estabelece que todo empresário que realiza uma venda, com prazo
não inferior a 30 dias, deverá extrair uma fatura e apresentá-la ao devedor. A fatura é um documento
emitido pelo vendedor, relacionando as mercadorias vendidas, discriminando-as, indicando sua quantidade
e o respectivo valor.
A duplicata pode, então, ser definida como uma ordem de pagamento emitida pelo empresário
com o escopo de documentar o crédito oriundo de uma operação de compra e venda mercantil
ou prestação de serviços.
Os requisitos da duplicata são encontrados no artigo 2º, § 1º, da Lei nº. 5.474/1968. A duplicata é título de
crédito de aceite obrigatório, o que significa que o comprador da mercadoria – sacado – não poderá deixar
de aceitar o título.
1. Partes
Na duplicata, a princípio, o credor (sacador) dá uma ordem ao devedor para que o devedor (sacado) pague
o valor devido a ele mesmo (tomador/beneficiário), ou seja, é uma estrutura similar à de uma letra de
câmbio, mas o sacador e o beneficiário são a mesma pessoa.
A duplicata é um título de crédito causal, visto que há uma estreita vinculação ao negócio jurídico que lhe
deu origem (compra e venda ou uma prestação de serviços). Em razão desse vínculo expresso, o
tomador/beneficiário da duplicata tem conhecimento da causa subjacente ao saque do título e, por isso,
pode ser afetado por esse negócio jurídico.
Entretanto, se a duplicata circulou por conta de endosso, o novo credor (endossatário) já não é
mais aquele (sacador) que participou do negócio jurídico que deu origem à cártula, ou seja, o
novo credor (endossatário) não é o sacador da duplicata. Nessa situação, exigir que o credor de
boa-fé verifique o negócio jurídico seria contradizer a proteção da aparência e a celeridade
inerente aos negócios empresariais.
Cabe dizer que a circulação da duplicata não impede que o sacado (devedor) comprove a existência de vícios
formais da cártula (ex.: falta de causa subjacente para extração da duplicata), notadamente quando não há
aceite nem prova da concretização da compra e venda mercantil ou prestação de serviços.
3. Legislação aplicável
A duplicata possui uma lei própria: Lei nº 5.474/68. No entanto, essa legislação possui poucos dispositivos,
não sendo suficiente para disciplinar integralmente a matéria. Em razão disso, a própria Lei nº 5.474/68, em
seu art. 25, determina que devem ser aplicados à duplicata e à triplicata, no que couber, os dispositivos da
legislação sobre emissão, circulação e pagamento das letras de câmbio.
A duplicata é um título emitido pelo credor original (sacador) para documentar o crédito oriundo de uma
operação de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços, tendo o seguinte procedimento:
O art. 2º, § 1º, da Lei nº 5.474/68 enumera os requisitos essenciais para que o documento seja considerado
uma duplicata:
Número de ordem
Número da fatura
Requisitos Essenciais da Duplicata
Praça de pagamento
Cláusula à ordem
Assinatura do emitente
5. Aceite
Não se exige para a existência e validade da duplicata a assinatura do comprador (aceite). De qualquer
modo, realizada a compra e venda mercantil (ou a prestação de serviços), emite-se a fatura e, em seguida,
extrai-se a duplicata, devendo o sacador (vendedor/prestador de serviços), por si ou por intermediários,
apresentar/remeter a duplicata ao comprador (sacado) para que ele a assine, ou seja, dê o aceite.
Apresentada ou remetida a duplicata, o comprador (sacado) deve assiná-la e devolvê-la no prazo de 10 (dez)
dias, ou apresentar as razões pelas quais não vai assiná-la, no mesmo prazo (art. 7º da Lei nº 5.474/68).
No entanto, como a duplicata é extraída de uma fatura que, por sua vez, decorre de um contrato, o
comprador (sacado), mesmo que não aceite a cártula, permanece como devedor da relação contratual.
E essa declaração cambial segue regras muito parecidas às da letra de câmbio, com as seguintes
peculiaridades: (a) obrigatoriedade do aceite; (b) recusa do aceite; (c) existência de formas diferentes de
prestar o aceite.
O aceite poderá ser recusado, no caso de problemas na execução do contrato, cujo crédito é documentado
pelo título.
A Lei nº 5.474/68 admite algumas formas especiais de aceite, vejamos cada uma delas:
O aceite lançado em separado à duplicata não possui nenhuma eficácia cambiária, mas o documento que o
contém poderá servir como prova da existência do vínculo contratual subjacente ao título, amparando
eventual ação monitória ou ordinária (art. 16 da Lei nº 5.474/68).
6. Endosso
Conforme pontuado, nas duplicatas, a existência da cláusula à ordem é requisito essencial (art. 2º, § 1º, da
Lei nº 5.474/68), sendo, por conseguinte, sempre possível o endosso da duplicata.
“Ao efetuar o endosso, o proprietário (sacador) do título perde a titularidade dos direitos nele
mencionados, mas continua vinculado ao título na condição de coobrigado, respondendo
solidariamente para com o portador do título. Vale dizer, quem endossa transfere o título, mas
garante o seu pagamento e a sua aceitação. Como asseverado, o endossante não promete o
pagamento, ele garante a aceitação e o pagamento do título, ou seja, a obrigação assumida pelo
endossante é uma obrigação indireta ou secundária. Tal obrigação só poderá ser exigida se
houver uma prova solene do descumprimento da obrigação de pagar por parte de quem deveria
ser o devedor direto, ou uma prova solene da falta ou recusa de aceite que denotará a
inviabilidade do cumprimento por quem deveria ser o devedor principal.” (Marlon Tomazette)
Ressalto que o regime jurídico do endosso na duplicata é o mesmo regime da letra de câmbio, inclusive
admitindo-se o endosso-mandato e o endosso-caução.
7. Aval
Em síntese, aval é o ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) se compromete a pagar título de crédito,
nas mesmas condições que um devedor desse título (avalizado).
Quanto à pessoa do avalizado, sua identificação é livre, cabendo ao avalista fazê-lo. Na falta de indicação
(aval em branco), considera-se avalizado aquele cujo nome esteja acima do aval, ou, se não houver nenhum,
reputa-se como avalizado o comprador/sacado (art. 12 da Lei nº 5.474/68).
8. Vencimento
O vencimento deverá ser escrito no título de crédito, sob pena de invalidade do documento como duplicata.
Ao contrário do que ocorre na letra de câmbio, a duplicata admite a prorrogação do vencimento, isto é, o
credor poderá tornar a obrigação exigível apenas em data posterior àquela inicialmente combinada.
No entanto, a prorrogação deverá ser feita no próprio título, ou em uma declaração em separado,
assinada pelo credor (vendedor ou endossatário) ou por seu representante com poderes
especiais (Lei n. 5.474/68 – art. 11).
Por outro lado, embora seja autorizada a prorrogação do vencimento por um ato unilateral do credor, os
devedores indiretos (endossantes e avalistas) só se manterão responsáveis se manifestarem expressamente
a sua concordância com tal prorrogação (art. 11, parágrafo único, da Lei nº 5.474/68).
Por fim, no que tange ao vencimento antecipado, este poderá ocorrer nas mesmas hipóteses da letra de
câmbio, tendo em vista a determinação da aplicação supletiva das regras inerentes a esse título (Lei n.
5.474/68 – art. 25).
9. Pagamento
Vencida a duplicata, o título deverá ser pago. E, tratando-se de obrigação quesível, o pagamento deve ser
buscado por iniciativa do credor.
Embora a iniciativa caiba ao credor, a Lei nº 5.474/68 admite o pagamento antecipado do título pelo sacado
(art. 9º), ao contrário do regime geral das obrigações, inclusive das cambiais. Nessa situação, o sacado
(devedor) deverá procurar o credor da obrigação e efetuar o pagamento antecipado, não cabendo a este
negar tal possibilidade.
Aliás, pela aplicação do regime das letras de câmbio às duplicatas, o pagamento parcial não poderá ser
recusado pelo credor (art. 39 da LUG).
De qualquer modo, a prova do pagamento é feita por meio de um recibo escrito no próprio título ou mesmo
fora dele (art. 9º, § 1º, da Lei nº 5.474/76), excepcionando-se o princípio da literalidade.
Admite-se que sejam feitas deduções referentes a créditos a favor do devedor (sacado)
resultantes de devolução de mercadorias, diferenças de preço, enganos, verificados pagamentos
por conta e outros motivos assemelhados, desde que devidamente autorizados (art. 10 da Lei nº
5.474/76).
10. Protesto
O protesto é sempre um meio de prova, mas, na duplicata, poderá ser um meio de prova de fatos distintos:
(i) falta de pagamento; (ii) falta de aceite ou; (iii) falta de devolução (art. 13 da Lei nº 5.474/68).
11. Triplicata
Conforme já destacado, a duplicata é passível de remessa para aceite e, por isso, está sujeita a riscos maiores
de perda ou mesmo de destruição, do que outros títulos.
Para proteger o credor de tais riscos, a legislação admite a extração de uma segunda via da duplicata,
denominada triplicata (art. 23 da Lei nº 5.474/68), emitida pelo sacador que possuirá os mesmos requisitos
e formalidades da duplicata.
No entanto, não existe uma sanção para o descumprimento de tal regra e, por isso, se interpreta que não se
trata efetivamente de uma obrigação.
E, pelo texto da lei, tal opção poderá ser exercida nos casos de extravio e destruição do título, isto é, quando
o título se perde.
Cabe dizer que a triplicata poderá ser extraída no caso de retenção da duplicata enviada para aceite,
conforme entende o Superior Tribunal de Justiça.
A Lei 11.101/2005 rege a empresa em crise e oferece, para uma primeira classificação, três distintos
institutos: a recuperação judicial de empresas, a recuperação extrajudicial e a falência, conforme preconiza
o seu art. 1º!
O questionamento que se faz, de início, é sobre qual instituto utilizar e em que momento. A resposta vem
da análise de viabilidade da empresa que perfaz a capacidade de oferecimento de alguma resposta positiva
para sua salvação. Caso a empresa tenha condições de ser reerguida, a solução é o instituto da recuperação
de empresas; já na inviabilidade, a falência é o único caminho a seguir.
Por outro lado, as instituições financeiras, sociedades operadoras de planos de saúde, sociedades
seguradoras e de capitalização estão relativamente excluídas, pois, muito embora tenham previsão de
processo de liquidação na forma extrajudicial, há possibilidade de processo de falência nas leis especiais que
as regem.
Absolutamente excluídas:
→ Sociedades simples
Relativamente excluídas: → Empresas públicas
Aplicável: → Instituições financeiras → Sociedades de economia
→ Sociedades operadoras de mista
→ Empresário
planos de saúde → Cooperativas de crédito
→ Sociedades empresárias
→ Sociedades seguradoras e de → Consórcios
capitalização
→ Entidades de previdência
privada e outras entidades
legalmente equiparadas
Destaca-se que as obrigações a título gratuito e as despesas que os credores fizerem para tomar parte na
recuperação judicial ou na falência não são exigíveis do devedor, salvo as custas judiciais decorrentes de
litígio com o devedor, conforme art. 5º.
Importante considerar o disposto no art. 6º, da Lei 11.101/2005, de que a decretação da falência ou o
deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as
ações e execuções perante o devedor, inclusive aquelas decorrentes de credores particulares do sócio
solidário. O lapso prescricional voltará a fluir do trânsito em julgado da sentença de encerramento da
falência ou da recuperação judicial. As ações que demandem quantias ilíquidas, aquelas de natureza
trabalhista e as execuções de natureza fiscal não são atingidas.
Ao ser decretada a falência ou o deferimento da recuperação judicial, o prazo prescricional será suspenso,
nos termos do art. 6º!
A competência para a propositura das ações de recuperação judicial e falência, bem como para a
homologação da recuperação extrajudicial, é do juízo do principal estabelecimento do devedor, entendido
como aquele em que se encontra centralizado o maior volume de negócios da empresa, mesmo que se tenha
estabelecido de outra forma, consensual ou contratualmente.
4. Órgãos falimentares
São órgãos da falência as instituições designadas na lei para atuarem diretamente no Processo Falimentar,
cada uma dentro de suas respectivas competências. São elas o juiz de Direito, o Ministério Público, o
Administrador Judicial, a Assembleia Geral e o Comitê Geral:
❖ Juiz de Direito: e a autoridade judiciária designada para presidir o processo de falência, exercendo
função judicante e administrativa, responsabilizando-se por atos de interesses da massa, tais como
a nomeação e destituição do administrador judicial, assim como a fixação de sua remuneração e de
seus auxiliares; a escolha da modalidade de alienação do ativo; julgamento das contas do
administrador judicial e encerramento da falência.
❖ Ministério Público: é denominado curador de massas: atua no processo como fiscal da lei, buscando
sempre o cumprimento de seu papel constitucional na defesa do interesse público. Sua atuação é
obrigatória no processo (art. 99, XIII da LRF). Além do mais, poderá pedir explicações ao falido e
deverá se manifestar na prestação de contas do Administrador Judicial (art. 154 da LRF).
❖ Administrador Judicial: é responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação
judicial, e que, cumpre destacar, não poderá ser substituído sem autorização do juiz. Não se confunde
com administrador societário (arts. 1.060 e 46, CC), com quem não se confunde, razão pela qual fiscal
ou responsável não pode ser considerado sucessor tributário, relativamente a débitos fiscais ou
responsável por atos públicos realizados sob o fundamento da despersonalização da pessoa jurídica.
Poderá ser pessoa física ou jurídica. Sua função é indelegável e, após sua nomeação, assinará termo
de compromisso nos termos do art. 33.
São impedidos de serem nomeados como Administrador Judicial: quem foi destituído no cargo nos últimos
5 anos; se deixou de prestar contas em outro processo ou que tenha relação de parentesco, amigo ou inimigo
do devedor.
Deve, também, proceder com a arrecadação dos livros, documentos e bens do falido, a fim de proceder ao
inventário da massa, onde constarão os livros obrigatórios e auxiliares, os bens da massa (inclusive aqueles
em posse de terceiros) e os bens de terceiros que estejam em posse do falido.
Cabe o destaque de que os bens do falido poderão ser alienados antecipadamente, para os credores ou para
terceiros, visando o melhor resultado para a massa falida.
A lei contém extensa relação de deveres e atribuições do Administrador, enumerados no art. 22, III, LFR e
alíneas, cuja leitura nunca sobra.
O juiz fixará o valor da remuneração do Administrador Judicial de acordo com a capacidade de pagamento
do devedor; o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados pelo mercado, sem exceder 5% do
valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência, art.
24, LFR. Quem deve pagar a verba honorária do administrador é o devedor, conforme preconiza o art. 25,
LFR.
É possível, ademais, que o devedor, qualquer credor ou o Ministério Público, requeiram ao Juiz a substituição
do Administrador Judicial ou dos membros do Comitê de Credores nomeados em desobediência aos
preceitos da lei.
❖ Assembleia Geral de Credores: órgão deliberativo de decisão colegiada, que tomará decisões que
influenciarão no resultado da falência. É composta de titulares de créditos derivados da relação de
trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho, dos titulares de crédito com garantia real,
titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral e subordinados,
art. 41, LFR.
Ficam de fora apenas a Fazenda Pública, titular dos créditos fiscais, assim como os credores por multas
contratuais e penas pecuniárias decorrentes de infração as leis penais ou administrativas, a que se refere
o art. 83, VII, LFR.
Poderá ser reunida em assembleia geral ordinária (convocadas para deliberação de matérias que se inserem
na regularidade do desenvolvimento de certo mister) ou extraordinária (convocadas porque alguma
matéria, questão ou circunstância especial exige conhecimento, deliberação e aprovação).
❖ Comitê Geral de Credores: é uma comissão fiscalizadora, que integra os órgãos da falência e da
recuperação judicial, não necessário. Será constituído por deliberação de qualquer das classes de
credores na Assembléia Geral e será composto de: um representante indicado pela classe de
credores trabalhistas (com 2 suplentes); um indicado pela classe de credores com direitos reais de
garantia ou privilégios especiais (com 2 suplentes) e um indicado pela classe de credores
quirografários e com privilégios gerais (com 2 suplentes).
Sua existência somente se justifica nas empresas com grande complexidade organizacional. Assim, caberá
aos credores decidir pela conveniência ou não de sua instalação. As decisões do Comitê de Credores são
tomadas por maioria e, no caso de impasse, será resolvido pelo Administrador Judicial, ou, na
incompatibilidade, pelo Juiz.
Na possibilidade de não existir Comitê de Credores, suas atribuições passam ao Administrador Judicial, ou
até o Juiz, em caso de incompatibilidade daquele, art. 28, LFR.
A Instituição é submetida aos princípios explícitos da unidade, já que o Ministério Público constitui um todo
orgânico, com idênticos fundamentos, direção e finalidade; indivisibilidade, posto que há a possibilidade de
substituição de um membro do Ministério Público por outro, sem que haja vinculação de opinião, no mesmo
processo, e independência funcional, visto que não há hierarquia funcional, conquanto exista hierarquia
administrativa, entre os membros do Ministério Público, que não estão vinculados às recomendações dos
Órgãos de Administração Superior em matérias relacionadas ao desempenho de suas atribuições, como
também não podem ser responsabilizados pelos atos que praticarem no exercício de suas funções, na forma
do art. 127, § 1º, da Constituição Federal (MÉDICE, Sérgio de Oliveira. O Princípio da Independência
Funcional. Justitia, nº 60, 1999, p. 733).
A Instituição é sujeita ao princípio implícito do promotor natural, resumido como predeterminação em lei do
órgão de execução do Ministério Público para oficiar em certo processo, inafastável por ato discricionário
imputado ao Procurador-Geral, nos termos dos arts. 5o, inc. LIII, 127, § 2o, e 128, § 5o, inc. I, ”b”, todos da
Constituição da República.
De um lado, o promotor natural é antecedido pela lotação por titularidade no órgão de execução e
inamovibilidade do membro do Ministério Público, na medida em que a falta de atribuição importa nulidade
absoluta do processo.
De outro lado, o promotor natural é sucedido pela limitação do poder hierárquico do Procurador-Geral à
independência funcional dos membros do Ministério Público, de maneira que as avocações, delegações,
designações e remoções são restritas às hipóteses previstas em lei.
O promotor natural é revestido de dois aspectos, por via de consequência: um é correlato ao direito subjetivo
da pessoa, natural ou jurídica, que figura como parte no processo que reclama a intervenção ministerial, à
atuação do membro do Ministério Público lotado no órgão com atribuição predeterminada em lei, enquanto
que outro é correlativo ao direito subjetivo público do membro do Ministério Público de oficiar nos processos
incluídos no âmbito de atribuição do órgão que titulariza (PENTEADO, Jaques de Camargo. O Princípio do
Promotor Natural. Justitia, nº 60, 1999, p. 971).
Por último, Paulo Cezar Pinheiro Carneiro adverte que “o princípio do promotor natural pressupõe que cada
órgão da instituição tenha, por um lado, as suas atribuições fixadas em lei e, por outro, que o agente, que
ocupa legalmente o cargo correspondente ao seu órgão de atuação, seja aquele que irá oficiar no processo
correspondente, salvo as exceções previstas em lei, vedado em qualquer hipótese, o exercício das funções
por pessoas estranhas ao quadro funcional do Parquet” (CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O Ministério
Público no Processo Civil e Penal: promotor natural, atribuição e conflito. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999,
p. 51).
O CDC se insere no microssistema processual coletivo, possuindo regra de competência específica em seu
art. 93. Prevê o CDC que: “Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa
a justiça local: I - no foro do lugar onde ocorreu ou deva ocorrer o dano, quando de âmbito local; II - no foro
da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se
as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente”.
Existe crítica da doutrina em relação a este artigo, em virtude da ausência de critérios objetivos de
delimitação, local, nacional ou regional.
A competência é territorial, portanto, relativa, visando a facilitar o acesso à justiça do consumidor. Isto ocorre
porque o Código de Defesa do Consumidor é um estatuto protetivo e objetiva facilitar a defesa de seus
direitos. A regra de competência do CDC é mais abrangente do que a regra geral da lei da ação civil pública,
prevendo mais situações. Não obstante tais regras estejam no CDC, podem ser aplicadas a outras situações
referentes a direitos difusos e coletivos.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:
Vamos lá!
Comentários
O controle de constitucionalidade pela via de exceção, concreto ou incidental pode ser suscitado também
em processo executivo e processo cautelar (alternativas A e E), por pessoa que não seja estranha à relação
jurídica processual (alternativa B), perante órgão do Poder Judiciário (alternativa D).
A inconstitucionalidade pode ser arguida pelo demandante, demandado, terceiro interveniente e Ministério
Público, não devendo ser olvidada a possibilidade de juízo ou tribunal proceder à declaração de
inconstitucionalidade ex officio, razão pela qual deve ser assinalada a alternativa C.
“Concurso público. Ressalva. Nomeação para cargo em comissão. Décimos da diferença entre
remuneração do cargo de que seja titular o servidor e do cargo em função ocupado.
Inconstitucionalidade. A Constituição Federal prevê, em seu art. 37, II, in fine, a ressalva à
possibilidade de ‘nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação’, como
exceção à exigência de concurso público. Inconstitucional o permissivo constitucional estadual
apenas na parte em que permite a incorporação ‘a qualquer título’ de décimos da diferença entre
a remuneração do cargo de que seja titular e a do cargo ou função que venha a exercer. A
generalização ofende o princípio democrático que rege o acesso aos cargos públicos. Ao Supremo
Tribunal Federal, como guardião maior da Constituição, incumbe declarar a inconstitucionalidade
de lei, sempre que esta se verificar, ainda que ex officio, em razão do controle difuso,
independente de pedido expresso da parte. O Ministério Público atuou, no caso concreto. Não
há vício de procedimento sustentado. Embargos da Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo e do Estado de São Paulo acolhidos em parte, para limitar
a declaração de inconstitucionalidade dos art. 133 da Constituição e 19 do se ADCT, tão só, à
expressão, ‘a qualquer título’, constante do primeiro dispositivo. Rejeitados, os do servidor, por
não demonstrada a existência da alegada omissão e por seu manifesto propósito infringente”
(STF, RE nº 219.934, Rel. Min. Ellen Gracie, J. 13.10.2004, DJU 26.11.2004).
Questão 2. O princípio da reserva de plenário sobre o qual versa o art. 97 da Carta Magna tem exceção no:
a) Art. 102, inc. I, “a”, da Constituição da República.
b) Art. 949, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
c) Art. 52, inc. X, da Constituição da República.
d) Art. 28, parágrafo único, da Lei no 9.868/99.
e) Art. 102, § 2o, da Constituição da República.
Comentários
O princípio da reserva de plenário sobre o qual versa o art. 97 da Carta Magna tem exceção no art. 949,
parágrafo único, do Código de Processo Civil, segundo o qual os órgãos fracionários dos tribunais não devem
submeter ao plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já houver
pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.
Questão 3. Em conformidade com os votos proferidos pelos Ministros Gilmar Ferreira Mendes e Eros
Roberto Grau, nos autos da Reclamação no 4.335/AC, em que se discute a releitura, ou não, do papel do
Senado Federal, a decisão prolatada pelo Supremo Tribunal Federal:
a) Quando o Supremo Tribunal Federal conhecesse em abstrato do caso concreto, produziria efeito erga
omnes.
b) Produziria efeito inter partes, a partir da suspensão de execução.
c) Quando o Senado Federal procedesse à suspensão de execução, produziria efeito erga omnes.
d) Produziria efeito inter partes, até a suspensão de execução.
e) Quando o Supremo Tribunal Federal conhecesse de recurso extraordinário interposto contra acórdão que
tivesse negado vigência a lei ou ato normativo federal ou estadual, produziria efeito erga omnes.
Comentários
De acordo com os votos prolatados pelos Ministros Gilmar Ferreira Mendes e Eros Roberto Grau, no
julgamento da Reclamação no 4.335/AC, a norma veiculada pelo art. 52, inc. X, da Constituição da República
é objeto de mutação constitucional, de forma a possibilitar que as declarações de inconstitucionalidade do
Plenário do Supremo Tribunal Federal, em sede de controle concreto, quando a validade de lei ou ato
normativo houver sido discutida em tese, sejam recobertas de efeito erga omnes e vinculante, limitando-se
o Senado Federal a publicar a decisão no Diário do Congresso Nacional.
Comentários
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é fixada no sentido de que a modulação da eficácia temporal
da decisão de inconstitucionalidade também é aplicável ao controle de constitucionalidade incidental, razão
pela qual a alternativa E está correta.
Comentários
O controle concreto-incidental, no Direito Positivo brasileiro, pode ser realizado em habeas corpus e
mandado de segurança (alternativa A), sujeitando-se ao efeito vinculante de ação direta de
inconstitucionalidade (alternativa B), de ofício por todo e qualquer juiz (alternativa C), contra lei municipal,
estadual, distrital ou federal em face da Constituição da República (alternativa E).
De outro giro, controle de constitucionalidade incidental brasileiro pode ser realizado em recurso especial
de que trata a alternativa D.
c) Superiores
d) Subalternos
Comentários
Gabarito: A
• Órgãos Independentes
São aqueles originários da Constituição e representativos dos três Poderes do Estado, sem qualquer
subordinação hierárquica ou funcional, e sujeitos apenas aos controles constitucionais de um sobre o outro.
Estão nessa classificação as Casas Legislativas, a Chefia do Executivo e os Tribunais. Hoje, a doutrina mais
moderna classifica o Ministério Público e o Tribunal de Contas como órgãos independentes.
• Órgãos Autônomos
São os órgãos de cúpula da Administração, subordinados diretamente à chefia dos órgãos independentes;
possuem autonomia administrativa, financeira e técnica. Observe, contudo, que não exercem suas
atribuições de forma independente, de maneira que estão subordinados aos órgãos independentes.
• Órgãos Superiores
São órgãos de direção, controle e comando, mas sujeitos à subordinação e ao controle hierárquico de uma
chefia; não possuem autonomia financeira e administrativa, possuindo apenas autonomia técnica.
• Órgãos Subalternos
São aqueles órgãos de mera execução, como, por exemplo, as seções de material, de portaria, zeladoria.
d) O ex-dirigente da agência reguladora ficará impedido para o exercício de atividades ou de prestar qualquer
serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de quatro meses, contados da exoneração
ou do término do seu mandato..
Comentários
Gabarito: D
Letra A – Correta - O Art. 6º da Lei nº 9986/00 estabelecem que o mandato dos membros do Conselho Diretor
ou da Diretoria Colegiada das agências reguladoras será de 5 (cinco) anos, vedada a recondução, ressalvada
a hipótese de vacância antes do período final.
Letra B – Correta - o art. 9º da mesma Lei estabeleceu os casos em que o dirigente perderá o mandato, quais
seja: 1) Renúncia; 2) Condenação Judicial Transitada em julgado, ou 3) Processo Administrativo disciplinar e
4) por infringência de quaisquer das vedações impostas aos dirigentes. .
A legislação, dessa forma, proíbe a exoneração ad nutum, ou seja, por livre vontade do administrador
público.
Letra C – Correta – Informativo 759: É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de
determinada agência reguladora somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela
Assembleia Legislativa. Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes
de agência reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da Assembleia
Legislativa, sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa previsão viola o princípio da separação
dos poderes (at. 2º da CF/88). STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2014 (Info
759 – Fonte: Dizer o Direito).
Letra D – INCORRETA - Este período se refere ao lapso temporal em que o dirigente da agência reguladora
ficará afastado de atuar no mercado regulado por ele.
De acordo com o art. 8º da Lei nº 9986/00, o ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de
prestar qualquer serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de seis meses, contados
da exoneração ou do término do seu mandato.
Durante o impedimento, o ex-dirigente ficará vinculado à agência, fazendo jus a remuneração compensatória
equivalente à do cargo de direção que exerceu e aos benefícios a ele inerentes.
Aplica-se o período de quarentena ao ex-dirigente exonerado a pedido, se este já tiver cumprido pelo menos
seis meses do seu mandato.
Incorre na prática de crime de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-dirigente que
violar o impedimento, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, administrativas e civis.
Na hipótese de o ex-dirigente ser servidor público, poderá ele optar pelo recebimento da remuneração
compensatória, ou pelo retorno ao desempenho das funções de seu cargo efetivo ou emprego público, desde
que não haja conflito de interesse.
Questão 3. O consórcio público (Lei n° 11.107/2005) pode ser considerado como uma das formas que pode
tomar a Administração Indireta, servindo à conjugação de interesses e à organização da ação entre
diferentes entes da federação. A esse respeito, é correto afirmar que:
a) a União somente participará de consórcios públicos em que também façam parte todos os Estados em
cujos territórios estejam situados os Municípios consorciados.
b) o consórcio público adquirirá personalidade jurídica de direito público, no caso de constituir associação
pública, após registro no cartório de pessoas jurídicas do território de todos os entes que o componham.
c) os entes consorciados somente entregarão recursos ao consórcio público mediante contrato de
investimento, o qual deverá prever prazo de vigência mínima de 5 (cinco) anos.
d) os agentes públicos incumbidos da gestão de consórcio responderão pessoalmente pelas obrigações
contraídas pelo consórcio público.
Comentários
Gabarito: A
A resposta é letra A, afinal trata-se da literalidade do art.1º §2º da Lei 11.107/04. A letra B está errada, pois
o consórcio pessoa jurídica de direito público não necessita de registro no cartório de pessoas jurídicas. Basta
a edição de lei.
A letra C está errada, uma vez que os entes consorciados entregarão recursos ao consórcio público mediante
contrato de rateio.
A letra D está equivocada, haja vista o art. 10, parágrafo único da Lei 11.107/04, que afirma que os agentes
públicos incumbidos da gestão de consórcio não responderão pessoalmente pelas obrigações contraídas
pelo consórcio público, mas responderão pelos atos praticados em desconformidade com a lei ou com as
disposições dos respectivos estatutos.
Comentários
Gabarito: A
Item II – Errado – Trata-se da redação do art. 37, §13, incluído pela EC nº 103/2019. O servidor público titular
de cargo efetivo poderá ser readaptado para exercício de cargo cujas atribuições e responsabilidades sejam
compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, enquanto permanecer
nesta condição, desde que possua a habilitação e o nível de escolaridade exigidos para o cargo de destino,
mantida a remuneração do cargo de origem.
Item III – Correto – Trata-se da redação do art. 40, §18, incluído pela EC nº 103/2019.
Questão 5. Um bem imóvel, que foi adquirido pela administração pública em decorrência de procedimento
judicial, deverá ser alienado.
Segundo a doutrina majoritária, a respeito da permissão de serviço público, é correto afirmar:
a) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa jurídica, formalizada por
contrato de adesão, a título precário, sendo dispensada a licitação.
b) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa de direito privado,
mediante licitação, e ao pagamento de tarifa diretamente pelo usuário ao prestador.
c) é a delegação de ato administrativo precário, unilateral, discricionário e que tem como função consentir
com o uso de um bem público ou viabilizar a prática de uma atividade por um particular.
d) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, por contrato de adesão, a título precário e mediante licitação.
e) é a delegação da prestação de serviços públicos feita pelo poder público à pessoa física ou jurídica que
demonstre capacidade para seu desempenho, formalizada por contrato de gestão, a título precário e
mediante licitação.
Comentários
Gabarito: D
1. Conceito
De acordo com o art. 2º, IV da Lei de concessões, considera-se permissão de serviço público a delegação, a
título precário, mediante licitação, da prestação de serviços públicos, feita pelo poder concedente à pessoa
física ou jurídica que demonstre capacidade para seu desempenho, por sua conta e risco.
2. Natureza Jurídica
Com o advento da CR/88 e da Lei nº 8.987/95, as permissões de serviço público passaram a ter natureza
jurídica contratual, de contrato de adesão.
Antes a CR/88 e a Lei nº 8.987/95 terem firmado posição de que a permissão também possuiria natureza de
contrato administrativo, pouco há de se diferenciar entre a concessão e a permissão de serviço público.
Analisando o texto legal, pode-se dizer que há apenas duas diferenças entre os institutos.
A primeira diferença reside no sujeito que pode ser um concessionário ou permissionário. De acordo com o
Art. 2º, II e III da Lei nº 8.987/95, a concessão poderá ser celebrada com um consórcio de empresas ou com
uma pessoa jurídica. Por sua vez, o art. 2º IV da mesma lei, estabelece que a permissão poderá ser celebrada
com uma pessoa jurídica ou uma pessoa física.
A segunda diferença está na precariedade que a permissão possui e a concessão não. Contudo, observe que
essa precariedade é discutida doutrinariamente. Segundo vários doutrinadores , não há que se falar em
precariedade da permissão, exatamente por ser considerada contrato administrativo.
Ademais, há de se falar que todas as regras aplicáveis à concessão serão aplicáveis à permissão, nos termos
do art. 40, parágrafo único da Lei de concessões.
e) Para que se admita a exclusão de qualquer associado, faz-se necessária a prévia instauração de
procedimento judicial a assegurar direito de resposta e de recurso pela parte a ser prejudicada, sob pena de
ofensa às garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação,
a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou
ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto, dada a regra da intransmissibilidade da qualidade de
associado, na forma do artigo 56 do Código Civil.
A alternativa B é verdadeira, porque dispõe o artigo 55 do Código Civil que os associados devem ter direitos
iguais, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais.
A alternativa C é falsa porque a forma de gestão administrativa deve estar contida no estatuto da associação,
sob pena de nulidade, não se tratando sua declaração de mera faculdade, tal como ocorre no âmbito da
instituição das fundações, conforme intelecção do artigo 54, VII, do Código Civil.
A alternativa D é falsa, porque, dissolvida a associação, o remanescente do seu patrimônio líquido, depois
de deduzidas, se for o caso, as quotas ou frações ideais, será destinado à entidade de fins não econômicos
designada no estatuto, ou, omisso este, por deliberação dos associados, à instituição municipal, estadual ou
federal, de fins idênticos ou semelhantes. Não obstante, por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por
deliberação dos associados, podem estes, antes da referida destinação, receber em restituição, atualizado o
respectivo valor, as contribuições que tiverem prestado ao patrimônio da associação, com fulcro no artigo
61, “caput” e §1º, do Código Civil.
A alternativa E é falsa, porque a exclusão do associado só é admissível havendo justa casa, assim reconhecida
em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto, conforme
o artigo 57 do Código Civil. Não há qualquer exigência de que tal procedimento seja judicial.
Questão 2. Quanto ao contrato de promessa de compra e venda, no âmbito da lei que dispõe sobre o
parcelamento do solo urbano (Lei 6.766/79), marque a alternativa errada:
a) O compromisso de compra e venda de lote urbano, ainda que realizado por instrumento particular,
constitui título para o registro de sua propriedade, desde que acompanhado da prova de quitação.
b) Dado o caráter preliminar da celebração de compromisso de compra e venda, é admissível a sua
retratação, independentemente de registro e de direito real oponível a terceiros dele decorrente.
c) Somente por decisão judicial, prova de rescisão do contrato ou requerimento conjunto das partes
contratantes pode o registro do compromisso de compra e venda ser cancelado.
d) A transmissão da propriedade loteada não prejudica o compromisso de compra e venda firmado entre o
antigo proprietário e terceiros, em todas as suas cláusulas, sendo nula qualquer disposição em contrário.
e) O descumprimento da conclusão do contrato de promessa de venda por aquele que se obrigou enseja ao
credor a possibilidade de notificar o devedor para outorga do contrato ou oferecimento de impugnação no
prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de proceder-se ao registro de pré-contrato.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque os compromissos de compra e venda, os quais podem ser feitos por
escritura pública ou instrumento particular, valerão como título para o registro da propriedade do lote
adquirido, quando acompanhados da respectiva prova de quitação, na forma dos artigos 26, “caput” e §6º,
da Lei 6.766/79.
A alternativa B é falsa, porque são irretratáveis os compromissos de compra e venda, cessões e promessas
de cessão, os que atribuam direito a adjudicação compulsória e, estando registrados, confiram direito real
oponível a terceiros, consoante o artigo 25 da Lei 6.766/79.
A alternativa C é verdadeira, porque, nos exatos termos do artigo 36 da Lei 6.766/79, o registro do
compromisso, cessão ou promessa de cessão só poderá ser cancelado por decisão judicial, a requerimento
conjunto das partes contratantes ou quando houver rescisão comprovada do contrato.
A alternativa D é verdadeira, porque aquele que adquirir a propriedade loteada mediante ato inter vivos, ou
por sucessão causa mortis, sucederá o transmitente em todos os seus direitos e obrigações, ficando obrigado
a respeitar os compromissos de compra e venda ou as promessas de cessão, em todas as suas cláusulas,
sendo nula qualquer disposição em contrário, ressalvado o direito do herdeiro ou legatário de renunciar à
herança ou ao legado. É o que prevê o artigo 29 da Lei 6.766/79.
A alternativa E é verdadeira, porque se aquele que se obrigou a concluir contrato de promessa de venda ou
de cessão não cumprir a obrigação, o credor poderá notificar o devedor para outorga do contrato ou
oferecimento de impugnação no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena de proceder-se ao registro de pré-
contrato, passando as relações entre as partes a serem regidas pelo contrato-padrão, com fulcro no artigo
27, “caput”, da Lei 6.766/79.
Questão 3. Considere a seguinte situação hipotética: Pedro, acamado em razão de uma enfermidade
incurável e sabedor da mínima possibilidade de sobrevivência, resolveu dispor em testamento todo o seu
patrimônio em favor de sua curadora Joana. Passados alguns meses, em razão do agravamento de sua
doença, Pedro faleceu, deixando para trás, como únicos familiares, seu irmão Alberto e seus sobrinhos
Cíntia e José, cada qual filho de outros irmãos de Pedro que há muito tinham falecido. Com base nesta
situação, assinale a alternativa correta:
a) É ilícita a disposição testamentária que conferiu a Joana a integralidade do patrimônio de Pedro, uma vez
que não respeitada a legítima, em evidente prejuízo aos familiares sobreviventes a quem ela pertence.
b) Caso inexistente o testamento, caberia a Alberto a totalidade do patrimônio deixado pelo de cujus, não se
atribuindo qualquer fração a Cíntia e José, uma vez que, na classe dos colaterais, os mais próximos excluem
os mais remotos.
c) Na falta do testamento e da presença de Alberto, ficaria a sucessão restrita aos sobrinhos do falecido,
podendo José herdar apenas a metade do que herdar Cíntia, se constatado que seus pais eram,
respectivamente, irmãos unilaterais e bilaterais do de cujus.
d) Ainda que não houvesse o testamento, não poderiam Cíntia e José concorrer à herança, por não haver
direito de representação na linha descendente ou transversal.
e) Não possuirão direito à herança os familiares sobreviventes de Pedro, mesmo que desconsiderada a
disposição testamentária, dado que, por não se qualificarem como herdeiros necessários, a eles não se
defere a sucessão legítima.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque não há, no presente caso, herdeiros necessários, e, por conseguinte, a
intangibilidade a metade da herança designada legítima, podendo Pedro, tal como fez, dispor livremente em
testamento o seu patrimônio. Aliás, preceitua o artigo 1.850 do Código Civil que para excluir da sucessão os
herdeiros colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio sem os contemplar.
A alternativa B é falsa, porque, caso não existisse o testamento, ficaria a sucessão voltada aos familiares
sobreviventes de Pedro, os quais se qualificam como herdeiros colaterais. E, na classe dos colaterais, os mais
próximos excluem os mais remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos,
conforme intelecção do artigo 1.840 do Código Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque, na falta de irmãos, herdarão os filhos destes, e, se concorrem filhos de
irmãos bilaterais com filhos de irmãos unilaterais, cada um destes herdará a metade do que herdar cada um
daqueles, nos moldes do artigo 1.843, §2º, do Código Civil.
A alternativa D é falsa, porque, na linha transversal, somente se dá o direito de representação em favor dos
filhos de irmãos do falecido, quando com irmãos deste concorrerem, tal como no caso concreto, com base
no artigo 1.853 do Código Civil.
A alternativa E é falsa, porque a despeito de não se qualificarem como herdeiros necessários (art. 1.845 do
CC), inserem-se os colaterais no rol da ordem de vocação hereditária, consoante dispõe o artigo 1.829 do
Código Civil.
Questão 4. Em matéria de alimentos, pode-se afirmar que são características fundamentais, exceto:
a) A irrenunciabilidade, a qual, contudo, pode ser afastada em se tratando de alimentos pretéritos, devidos
e não pagos, segundo entendimento exarado pelo Superior Tribunal de Justiça.
b) A imprescritibilidade, a qual não compreende o exercício da pretensão de cobrança de prestações
alimentícias fixadas e inadimplidas, mas diz respeito tão somente ao direito propriamente dito.
c) A economicidade, que, compreendida no âmago da capacidade do alimentante, impõe a fixação dos
alimentos em valor que lhe enseje menor ônus.
d) A incompensabilidade, segundo a qual eventuais valores pagos de forma diversa da estipulada em juízo
são considerados, em regra geral, como mera liberalidade, salvo aceitação de forma alternativa de solver os
alimentos.
e) A transmissibilidade da obrigação de prestá-los, mas não de seu direito a recebê-los.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque é irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707
do Código Civil). O credor pode, contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso
porque a irrenunciabilidade atinge o direito, e não o seu exercício. STJ. 3ª Turma. REsp 1529532-DF, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/06/2020 (Info 673).
A alternativa B é verdadeira, pois o que é imprescritível é o direito aos alimentos em si, por envolver estado
da pessoa e a sua dignidade, o que não se confunde com a pretensão de cobrança de prestações alimentícias
fixadas em sentença ou em ato voluntário, que deve ser exercida no prazo prescricional de 02 (dois) anos, a
partir da data em que se vencerem, na forma do artigo 206, §2º, do Código Civil.
A alternativa C é falsa, porque não há que se falar em economicidade na fixação das prestações alimentícias,
de modo que o deve ser visado, precipuamente, não é a afetação mínima do patrimônio do alimentante ou
a estipulação dos alimentos no menor valor possível, mas sim a necessidade do alimentado, conjugada com
a capacidade daquele, conforme o caso concreto.
A alternativa D é verdadeira, porque, na linha do artigo 1.707 do Código Civil, pode o credor não exercer,
porém lhe é vedado renunciar o direito a alimentos, sendo o respectivo crédito insuscetível de cessão,
compensação ou penhora. “(...) Vale ressaltar que a regra geral é a incompensabilidade da dívida alimentar
(art. 1.707 do CC) e eventual compensação deve ser analisada caso a caso, devendo-se examinar se houve o
consentimento, ainda que tácito, do credor, e se o pagamento in natura foi destinado, efetivamente, ao
atendimento de necessidade essencial do alimentado e não se configurou como mera liberalidade do
alimentante. STJ. 3ª Turma. REsp 1501992-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 20/03/2018
(Info 624)”.
A alternativa E é falsa, porque o direito ao recebimento de alimentos é personalíssimo e, como tal, apenas
pertine ao alimentado, mesmo porque associados ao estado da pessoa e à sua dignidade. Lado outro, a
obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma dos artigos 1.700 e 1.694
do Código Civil.
Questão 5. Considerando as classificações doutrinárias das diversas espécies de fato jurídico em sentido
amplo, assinale a alternativa incorreta:
a) Trata-se o ato jurídico em sentido estrito de mera manifestação de vontade, despida de viés negocial, isto
é, cujos efeitos jurídicos não são escolhidos pelos agentes, mas decorrem, naturalmente, de previsão legal.
b) Diferencia-se o negócio jurídico do ato jurídico em sentido estrito pela existência, no âmbito daquele, de
uma declaração de vontade do agente com liberdade de determinação dos seus respectivos efeitos jurídicos,
para além de um mero comportamento humano movido por uma vontade genérica.
c) No âmbito do ato-fato jurídico, entende-se totalmente irrelevante o elemento psíquico, isto é, a vontade
humana do agente para a sua caracterização.
d) Os fatos jurídicos em sentido estrito, ordinários ou extraordinários, correspondem a eventos naturais e,
como tais, dissociados de qualquer intervenção humana.
e) A categorização do ato ilícito escapa do gênero fato jurídico em sentido amplo, porquanto gera
consequências de ordem contrária ao previsto em lei, carecendo, pois, de validade para produção de efeitos
na órbita jurídica.
Comentários
Para melhor compreensão do tema, vale a citação de lição dada por doutrinadores civilistas brasileiros, em
síntese do tema abordado:
“A noção de fato jurídico, entendido como o evento concretizador da hipótese contida na norma, comporta,
em seu campo de abrangência, não apenas os acontecimentos naturais (fatos jurídicos em sentido estrito),
mas também as ações humanas lícitas ou ilícitas (ato jurídico em sentido amplo, que se subdivide em negócio
jurídico e em ato jurídico stricto sensu; e ato ilícito, respectivamente), bem como aqueles fatos em que,
embora haja atuação humana, esta é desprovida de manifestação de vontade, mas mesmo assim produz
efeitos jurídicos (ato-fato jurídico).” (Stolze, Pablo ; Pamplona Filho, Rodolfo; Manual de direito civil – volume
único – 4. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2020, 1.808 p).
Fato é que, a despeito de controvérsias sobre a catalogação do ato ilícito como espécie autônoma ou como
subespécie do ato jurídico em sentido amplo, não se pode descarta-lo do campo geral da temática do fato
jurídico em sentido amplo, porquanto produz efeitos na ordem jurídica, ainda que indesejáveis. Portanto, a
alternativa E é falsa.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque cabe à parte requerer o depoimento pessoal da outra parte, a fim de que esta
seja interrogada na audiência de instrução e julgamento, sem prejuízo do poder do juiz de ordená-lo de
ofício, com base no artigo 385, “caput”, do Código de Processo Civil.
A alternativa B é falsa, porque se a parte, pessoalmente intimada para prestar depoimento pessoal e
advertida da pena de confesso, não comparecer, ou, mesmo comparecendo, se recusar a depor, o juiz
aplicar-lhe-á a pena, conforme o artigo 385, §1º, do Código de Processo Civil.
A alternativa C é falsa, porque a parte não é obrigada a depor sobre fatos acerca dos quais não possa
responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de seu companheiro ou de parente em grau sucessível, nos
termos do artigo 388, III, do Código de Processo Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque as hipóteses que desobrigam a parte de depor sobre determinados
fatos, contidas no artigo 388 do Código de Processo Civil, não se aplicam às ações de estado e de família, na
forma do parágrafo único do mesmo dispositivo legal.
A alternativa E é falsa, porque a parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo
servir-se de escritos anteriormente preparados, permitindo-lhe o juiz, todavia, a consulta a notas breves,
desde que objetivem completar esclarecimentos, nos moldes do artigo 387 do Código de Processo Civil.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque incumbe ao inventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz,
fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento dos bens do espólio, consoante o artigo
619, IV, do Código de Processo Civil.
A alternativa B é falsa, porque continuará o espólio na posse do administrador provisório até que o
inventariante preste o compromisso, e não até a data de sua nomeação, de acordo com o artigo 613 do
Código de Processo Civil.
A alternativa C é falsa, porque o juiz poderá, em decisão fundamentada, deferir antecipadamente a qualquer
dos herdeiros o exercício dos direitos de usar e de fruir de determinado bem, com a condição de que, ao
término do inventário, tal bem integre a cota desse herdeiro, cabendo a este, desde o deferimento, todos os
ônus e bônus decorrentes do exercício daqueles direitos, nos exatos termos do artigo 647, parágrafo único,
do Código de Processo Civil.
A alternativa D é falsa, porque o credor de dívida líquida e certa, ainda não vencida, pode requerer
habilitação no inventário. Concordando as partes, o juiz, ao julgar habilitado o crédito, mandará que se faça
separação de bens para o futuro do pagamento. É o que dispõe o artigo 644 do Código de Processo Civil.
A alternativa E é verdadeira, a partilha, mesmo depois de transitada em julgado a sentença, pode ser
emendada nos mesmos autos do inventário, convindo todas as partes, quando tenha havido erro de fato na
descrição dos bens, podendo o juiz, de ofício ou a requerimento da parte, a qualquer tempo, corrigir as
inexatidões materiais, conforme o artigo 656 do Código de Processo Civil.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque “a notificação prévia dos ocupantes não é documento essencial à propositura
da ação possessória”. STJ. 4ª Turma. REsp 1263164-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/11/2016 (Info
594).
A alternativa B é falsa, porque a característica da fungibilidade cinge-se às ações possessórias e não se aplica,
entre elas, a ação petitória. Consigna o artigo 554, “caput”, do Código de Processo Civil, que a propositura
de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção
legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados.
A alternativa C é falsa, porque não obsta à manutenção ou à reintegração de posse a alegação de propriedade
ou de outro direito sobre a coisa, conforme o artigo 557, parágrafo único, do Código de Processo Civil.
A alternativa D é verdadeira, porque “particulares podem ajuizar ação possessória para resguardar o livre
exercício do uso de via municipal (bem público de uso comum do povo) instituída como servidão de
passagem.
Ex: a empresa começou a construir uma indústria e a obra está invadindo a via de acesso (rua) que liga a
avenida principal à uma comunidade de moradores locais. Os moradores possuem legitimidade para ajuizar
ação de reintegração de posse contra a empresa alegando que a rua que está sendo invadida representa
uma servidão de passagem”. STJ. 3ª Turma. REsp 1582176-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
20/9/2016 (Info 590).
A alternativa E é falsa, porque, segundo o artigo 73, §2º, do Código de Processo Civil, nas ações possessórias,
a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato
por ambos praticado, em caso, pois, de litisconsórcio necessário, e não de mera outorga do outro cônjuge.
Comentários
Gabarito: C
II A interpretação da norma penal, conforme o seu alcance, pode classificada como extensiva ou restritiva. A
assertiva faz menção à primeira.
III Somente a lei pode revogar outra lei. Não existe costume abolicionista e, enquanto determinada lei estiver
em vigor, terá plena eficácia. Esta corrente prevalece, sobretudo, por disposição expressa da Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro, que dispõe, no seu art. 2º: “Não se destinando à vigência
temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue”. Nessa linha intelectiva, a título de
exemplo, não se pode alegar que a venda de CDs e DVDs piratas permite a sobreposição do costume à norma,
revogando o artigo 184, §2º, do CP, que incrimina a violação de direitos autorais. Nesse sentido, inclusive,
têm decidido o STF e o STJ.
IV A interpretação teleológica concentra suas preocupações no fim a que a norma se dirige; e não à vontade
do legislador.
V A analogia é forma de integração da norma penal que se vale da lei, ou de princípio, para alcançar-lhe o
real significado.
Questão 2. Sujeito do crime é o agente da conduta descrita no preceito primário da norma penal
incriminadora; e, como tal, aquele sobre o qual recairá a pena em caso de condenação. A vítima, por sua
vez, é qualquer pessoa física ou jurídica, que sofre com o resultado de um crime. A propósito dos sujeitos
do crime, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I Qualquer pessoa física capaz e com 18 anos completos pode ser sujeito ativo de crime.
II A pessoa jurídica pode figurar como sujeito ativo de qualquer crime descrito no Código Penal ou em
legislação extravagante.
III Para os tribunais superiores, a Constituição Federal não condiciona a responsabilização penal da pessoa
jurídica por crimes ambientais à simultânea persecução penal da pessoa física.
IV Somente se admite a responsabilização penal das pessoas jurídicas nos crimes ambientais definidos na Lei
nº 9.605/98.
V Pode figurar como sujeito passivo de um crime qualquer pessoa física ou jurídica, ou mesmo ente
indeterminado, destituído de personalidade jurídica.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está incorreta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: B
I O legislador adotou o critério biológico para a definição da imputabilidade penal (CP, Art. 27).
II De acordo com a orientação dominante – na qual se incluem o STF e o STJ – a Constituição Federal admite
a possibilidade de a pessoa jurídica figurar como sujeito ativo do crime ambiental. A Lei nº 9.605/98, ao
dispor sobre a punição da pessoa jurídica, estabelece que a responsabilização civil, administrativa e penal
tem lugar em decorrência de atos ordenados pelo representante legal ou contratual no interesse ou
benefício da entidade.
III Com base numa das correntes sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica, tanto a pessoa física
quanto a pessoa jurídica praticam crimes (ambientais), podendo ambas ser responsabilizadas administrativa,
tributária, civil e penalmente. A pessoa jurídica, no entanto, só poderia ser responsabilizada quando
houvesse intervenção de uma pessoa física que atuasse em nome e em benefício do ente moral, conforme
dispõe o art. 3º da Lei 9.605/98, o que implicava, segundo se sustentou no início, a necessidade de dupla
imputação. Esta particularidade chegou a ser adotada pelo STJ (RMS 37.293/SP, DJe 09/05/2013), mas o STF
decidiu em sentido diverso, concluindo que a responsabilização penal da pessoa jurídica independe da
pessoa física. Argumentou-se que a obrigatoriedade de dupla imputação caracterizaria afronta ao art. 225,
§ 3º, da Constituição Federal, pois condicionaria a punição da pessoa jurídica à condenação simultânea da
pessoa física (RE 548.181/PR, DJe 19/06/2013). E, seguindo a mesma tendência, o STJ tem decidido que a
imputação criminal pode recair exclusivamente na pessoa jurídica (RMS 39.173/BA, DJe 13/08/2015).
V A exemplo dos crimes contra a incolumidade pública e a saúde pública, pode figurar como sujeito passivo
do crime ente indeterminado, destituído de personalidade jurídica.
Questão 3. Para Welzel, a culpabilidade é a reprovabilidade de decisão da vontade, sendo uma qualidade
valorativa negativa da vontade de ação, e não a vontade em si mesma. O autor aponta a incorreção de
doutrinas segundo as quais a culpabilidade tem caráter subjetivo, porquanto um estado anímico pode ser
portador de uma culpabilidade maior ou menor, mas não pode ser uma culpabilidade maior ou menor. A
respeito da culpabilidade, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I- De acordo com a teoria da culpabilidade adotada pelo Código Penal, todo erro que recai sobre uma causa
de justificação configura erro de proibição.
II- Para a teoria da coculpabilidade, a sociedade é corresponsável pela prática do delito por ter deixado de
oferecer ao agente as condições sociais necessárias para uma vida digna, o que fez com que ele fosse
compelido à prática do delito, havendo um determinismo social.
III – A definição trazida no preceito da questão diz respeito à teoria normativa pura, ou finalista.
IV - Em relação à estrutura analítica do crime, o juízo da culpabilidade avalia a reprovabilidade da conduta.
V - São elementos da culpabilidade, tanto para a teoria normativa quanto a limitada, a imputabilidade, a
consciência potencial da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições I, IV e V;
c) Estão corretas apenas as proposições III, IV e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas duas das proposições estão corretas.
Comentários
Gabarito: C
I O Código Penal adotou a teoria limitada da culpabilidade; e, neste contexto, somente o erro que recai sobre
a existência de causa de justificação inexistente, ou sobre a extensão de causa existente, importa no
reconhecimento de erro de proibição indireto. Quando o erro recai sobre os pressupostos fáticos de causa
de justificação, se está diante do erro de tipo permissivo.
II Todo sujeito age numa circunstância dada e com um âmbito de autodeterminação também dado. Em sua
própria personalidade há uma contribuição para esse âmbito de autodeterminação, posto que a sociedade
– por melhor organizada que seja – nunca tem a possibilidade de brindar a todos os homens com as mesmas
oportunidades. Em consequência, há sujeitos que têm um menor âmbito de autodeterminação,
condicionado desta maneira por causas sociais.
III A Teoria normativa pura da culpabilidade (ou extremada da culpabilidade) - inspirada no finalismo de
HANS WELZEL, é responsável pela migração do dolo e da culpa para o fato típico.
IV A culpabilidade, no finalismo, é o juízo de reprovação social que incide sobre conduta típica e ilícita.
V Tanto para a teoria normativa pura (extremada) quanto para a teoria limitada da culpabilidade,
imputabilidade, potencial ou real consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa, constituem
elementos da culpabilidade.
Questão 4. A respeito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O agente que, com a intenção de obter vantagem pecuniária, explodir um caixa eletrônico situado em um
posto de combustível, responderá criminalmente por furto qualificado em concurso formal impróprio com o
crime de explosão majorada.
II Agente que impõe à vítima, como garantia de dívida, a exigência ou o recebimento de documento que
pode dar causa a procedimento criminal contra esta ou terceiro, responde pelo delito de extorsão indireta.
III O crime de receptação dolosa imprópria independe da boa-fé do terceiro no recebimento da coisa ilícita
para efeito de responsabilização penal deste.
IV O agente que, com o objetivo de ter a posse de um carro, abordou a vítima, que dirigia devagar na saída
de um estacionamento, e a colocou, com violência, dentro do porta-malas, horas depois liberando-a em local
ermo, comete o crime de roubo majorado, pelo agente ter mantido a vítima em seu poder, restringindo-lhe
a liberdade. (CP, Art. 157, §2º, V)
V Constatada a utilização de arma de fogo desmuniciada na perpetração de delito de roubo, não se aplica a
circunstância majorante relacionada ao emprego de arma de fogo.
a) Estão corretas todas as assertivas
b) Está correta apenas 1 das assertivas
c) Estão corretas 2 assertivas
d) Estão corretas 3 assertivas
e) Estão incorretas todas as assertivas
Comentários
Gabarito: D
I A situação descrita encontra adequação típica no art. 155, § 4º-A, do Código Penal. Cuida-se de furto
qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum.
II Extorsão indireta: CP, Art. 160 - Exigir ou receber, como garantia de dívida, abusando da situação de
alguém, documento que pode dar causa a procedimento criminal contra a vítima ou contra terceiro: Pena -
reclusão, de um a três anos, e multa.
III Na receptação imprópria, o agente não é propriamente o receptador, mas aquele que incute no terceiro
a ideia de adquirir, receber ou ocultar o bem. O terceiro deve agir de boa-fé, pois, do contrário, estará agindo
como receptador próprio (primeira parte do caput), e aquele que o influenciou responderá como partícipe.
(Rogério Sanches)
IV CP, Art. 157, § 2º: A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até metade: (...) V - se o agente mantém a vítima
em seu poder, restringindo sua liberdade.
V Para o STJ, não incide a majorante se a arma estiver desmuniciada, por falta de potencialidade lesiva. 5ª
Turma (HC 376.263/DF, 21/11/2016); e 6ª Turma (HC 338338 / SP – 18/02/2016).
Comentários
Gabarito: B
I CP, Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for
reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes (Inciso I);
II CP, Art. 83, III, com a redação que lhe fora dada pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19)
III CP, Art. 83, IV - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade
igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano
causado pela infração.
V CP, Art. 84: “As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do livramento”.
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Gabarito: alternativa E
Os dados alusivos a interceptação telefônica para elucidar certa prática delituosa podem ser aproveitados
em persecução criminal diversa, ainda que realizada em outra unidade da Federação. Trata-se de aplicação
do princípio da serendipidade ou do encontro fortuito de provas.
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Gabarito: alternativa E
Nem mesmo a circunstância de os corréus serem advogados – atuando em causa própria – afasta a regra do
art. 191 do Código de Processo Penal.
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Gabarito: alternativa B
Por mais graves e reprováveis que sejam as condutas supostamente perpetradas, isso não justifica, por si só,
a decretação da prisão cautelar. É necessário que se demonstrem dados concretos que justifiquem a prisão,
que constitui medida excepcional.
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GABARITO: alternativa C
a) INCORRETA: O início da alternativa está correto, tendo em vista as previsões dos artigos 103 e 104 do ECA.
Porém, com relação a idade mencionada na segunda parte da alternativa, a informação está errada,
conforme prevê o art. 83, caput, do ECA:
Art. 83. Nenhuma criança ou adolescente menor de 16 (dezesseis) anos poderá viajar para fora
da comarca onde reside desacompanhado dos pais ou dos responsáveis sem expressa
autorização judicial. […]
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas
nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data
do fato.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui,
publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na
forma do caput deste artigo.
c) CORRETA: Súmula 500, STJ: “A configuração do crime do art. 244-B do ECA independe da prova da efetiva
corrupção do menor, por se tratar de delito formal”.
- Não se trata de crime próprio, tendo em vista que qualquer pessoa do povo pode realizar
prisão/apreensão em flagrante;
- O menor de idade, por ser inimputável, não comete crime, mas sim ato infracional (“Art.
103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”, do
ECA); e
- O adolescente não será preso, mas sim apreendido em flagrante de ato infracional (“Art. 106.
Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por
ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente”, do ECA).
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do Conselho Tutelar ou
representante do Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei.
Questão 2. Com base nas Súmulas dos Tribunais Superiores, considere as afirmações a seguir:
I. É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado da incidência das suas
disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da Lei n. 6.368/1976, sendo
vedada a combinação de leis.
II. O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração pública.
III. A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n. 11.343/2006) configura-se com a prova
da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a transposição de fronteiras.
IV. A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do término do período de prova
enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena.
É correto o que se afirma em:
a) I, II, III, e IV.
b) I, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, III e IV, apenas.
e) I e II, apenas.
Comentários
GABARITO: alternativa A
I. CORRETA: Súmula 201, STJ: “É cabível a aplicação retroativa da Lei n. 11.343/2006, desde que o resultado
da incidência das suas disposições, na íntegra, seja mais favorável ao réu do que o advindo da aplicação da
Lei n. 6.368/1976, sendo vedada a combinação de leis”. (Súmula 501, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
23/10/2013, DJe 28/10/2013)
II. CORRETA: Súmula 599, STJ: “O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a administração
pública”. (Súmula 599, CORTE ESPECIAL, julgado em 20/11/2017, DJe 27/11/2017)
III. CORRETA: Súmula 607, STJ: “A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da Lei n.
11.343/2006) configura-se com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras”. (Súmula 607, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 11/04/2018, DJe 17/04/2018)
IV. CORRETA: Súmula 617, STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional antes do
término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral cumprimento da pena”. (Súmula
617, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/09/2018, DJe 01/10/2018)
Questão 3. Nos crimes de "Lavagem" ou Ocultação de Bens, Direitos e Valores, previstos na Lei de Lavagem
de Dinheiro (Lei n.º 9.613/98) incorre nas mesmas penas (reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e multa)
quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou valores provenientes de infração penal,
importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.
Comentários
GABARITO: CERTO
Conforme prevê o art. 1º, §1º, inciso III, da Lei n.º 9.613/98:
§ 1o Incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a utilização de bens, direitos ou
valores provenientes de infração penal: […]
III – importa ou exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros.
Comentários
Os titulares dos cargos de Deputado Federal, Deputado Estadual, Deputado Distrital e Vereador são eleitos
pelo sistema proporcional, de acordo com os arts. 27, § 1º, 29, inc. I, 32, § 3º, e 45, caput, da Constituição
Federal.
Considerando a norma veiculada pelo art. 46, caput, da Constituição da República, o titular do cargo de
Senador não é eleito pelo sistema proporcional, motivo pelo qual a alternativa A está correta.
Comentários
O art. 81, §§ 1º e 2º, da Constituição Federal prescreve que o Presidente da República pode ser eleito pelo
Congresso Nacional, de forma indireta, na hipótese de vacância dos cargos de Presidente e Vice-Presidente
da República, nos dois últimos anos de mandato, para completar o período de seus antecessores.
Questão 3. As eleições para Presidente da República, para Governadores e para Prefeitos de Municípios
com mais de 200 mil eleitores obedecerão:
a) Ao sistema da representação proporcional.
b) Aos sistemas da representação proporcional, da representação proporcional e majoritário,
respectivamente.
c) Aos sistemas majoritário, da representação proporcional e da representação proporcional,
respectivamente.
d) Aos sistemas majoritário, majoritário e da representação proporcional, respectivamente.
e) Ao sistema majoritário absoluto.
Comentários
As eleições para Presidente da República, para Governadores e para Prefeitos de Municípios com mais de
200 mil eleitores obedecerão ao sistema majoritário absoluto a que se referem os arts. 28, caput, 29, inc. II,
in fine, 32, § 2º, e 77, § 2º, da Constituição da República.
Comentários
Alternativa correta: letra “A”. Vide o Art. 3, “a”, da Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU: “3.Os
Estados Partes buscarão promover o estabelecimento de leis, procedimentos, autoridades e instituições
específicas para as crianças de quem se alegue ter infringido as leis penais ou que sejam acusadas ou
declaradas culpadas de tê-las infringido, e em particular: a) o estabelecimento de uma idade mínima antes
da qual se presumirá que a criança não tem capacidade para infringir as leis penais”.
Comentários
Comentários
a) Assertiva errada. A transação é uma causa extintiva do crédito, conforme determina o artigo 156, inciso
III.
b) Assertiva errada. A peça conhecida como exceção de pré-executividade é fruto de uma criação doutrinária
e jurisprudencial. E a sua oposição, por si só, não suspende a exigibilidade do crédito tributário.
c) Assertiva errada. Ainda que a reclamação e o recurso administrativo sejam instrumentos hábeis a
suspender o crédito tributário, é inconstitucional a exigência de depósito prévio para sua admissibilidade,
em conformidade com a súmula vinculante n. 21.
pagamento de tributos, não podem ser opostas à Fazenda Pública, para modificar a definição legal do sujeito
passivo das obrigações tributárias correspondentes.
III) Sujeito passivo da obrigação acessória é a pessoa obrigada às prestações que constituam o seu objeto.
a) Apenas a “”III” está incorreta
b) Apenas a “II” está incorreta
c) Apenas a “I” está incorreta
d) As assertivas “II” e “III” estão incorretas
e) As assertivas “I” e “III” estão incorretas
Comentários
I) Assertiva incorreta. Art. 121, parágrafo único, inciso II do CTN. O sujeito passivo da obrigação principal diz-
se responsável, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador
Questão 3. A respeito das garantias e privilégios do Crédito Tributário, julgue os itens abaixo.
I) O crédito tributário prefere a qualquer outro, seja qual for sua natureza ou o tempo de sua constituição,
ressalvados os créditos decorrentes da legislação do trabalho ou do acidente de trabalho.
II) A cobrança judicial do crédito tributário sujeita-se a concurso de credores ou habilitação em falência,
recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento.
III) São pagos preferencialmente a quaisquer créditos habilitados em inventário ou arrolamento, ou a outros
encargos do monte, os créditos tributários vencidos ou vincendos, a cargo do de cujus ou de seu espólio,
exigíveis no decurso do processo de inventário ou arrolamento.
a) Apenas a “”III” está correta
Comentários
II) Assertiva incorreta. Art. 187 do CTN. A cobrança judicial do crédito tributário não é sujeita a concurso de
credores ou habilitação em falência, recuperação judicial, concordata, inventário ou arrolamento.
Comentários
A resposta para a questão está no art. 318 do CPC: “Art. 318. Aplica-se a todas as causas o procedimento
comum, salvo disposição em contrário deste Código ou de lei. Parágrafo único. O procedimento comum
aplica-se subsidiariamente aos demais procedimentos especiais e ao processo de execução.” Assim, o artigo
em apreço consagra o princípio da especialidade, abrindo espaço para as leis especiais, que interagem e
dialogam entre si dentro do microssistema processual coletivo. A Constituição Federal nada menciona sobre
o processo coletivo, mas apenas faz aportes genéricos.
d) A sentença que, apreciando o fundamento de direito do pedido, julgar a lide manifestamente temerária,
condenará o autor ao pagamento do décuplo das custas.
e) Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo, poderá ser negada
certidão ou informação necessárias ao ajuizamento da ação popular.
Comentários
A assertiva ‘b’ está errada porque troca a expressão cidadão por pessoa, sendo cidadão um conceito político
jurídico. Assim, se encontra em desacordo com o art. 1º, caput, da Lei 4.717/65: “Art. 1º Qualquer cidadão
será parte legítima para pleitear a anulação ou a declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio da
União...”
As demais estão de acordo com os dispositivos seguintes, todos da lei da ação popular:
A- Art. 5º Conforme a origem do ato impugnado, é competente para conhecer da ação, processá-la e julgá-
la o juiz que, de acordo com a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que interessem à
União, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município.
C- Art. 1º § 4º Para instruir a inicial, o cidadão poderá requerer às entidades, a que se refere este artigo, as
certidões e informações que julgar necessárias, bastando para isso indicar a finalidade das mesmas.
D- Art. 13. A sentença que, apreciando o fundamento de direito do pedido, julgar a lide manifestamente
temerária, condenará o autor ao pagamento do décuplo das custas.
E- Art. 1º § 6º Somente nos casos em que o interesse público, devidamente justificado, impuser sigilo, poderá
ser negada certidão ou informação.
Questão 3. Em relação a ação popular, são anuláveis os atos lesivos ao patrimônio das entidades
mencionadas no artigo primeiro, nos casos de:
a) Incompetência.
b) vício de forma.
c) Desvio de finalidade.
d) Ineficiência administrativa.
e) inexistência dos motivos.
Comentários
Os atos mencionados nos nas assertivas ‘a, ‘b’ e ‘c’ e ‘e’ constituem nulidade e não anulabilidade, na forma
do art. 2º da LAP. A assertiva ‘d’ é enquadrada no art. 3º e possui caráter residual. A ineficiência, a depender
do caso concreto, pode levar à anulação do ato administrativo.
Art. 2º São nulos os atos lesivos ao patrimônio das entidades mencionadas no artigo anterior, nos casos de:
a) incompetência; b) vício de forma; c) ilegalidade do objeto; d) inexistência dos motivos; e) desvio de
finalidade.
Comentários
Alternativa A: CORRETA
O art. 9º, XII, da Lei prevê como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente o Cadastro Técnico
Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
O art. 17, por sua vez, determina a instituição, sob a administração do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, do Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de
Defesa Ambiental, para registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a consultoria
técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e
instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras (inciso I).
Alternativa B: INCORRETA
A assertiva é falsa, uma vez que a competência descrita é do CONAMA, nos termos do art. 6º, II, da Lei
6.938/81.
O IBAMA, por sua vez, é órgão executor da Política Nacional do Meio Ambiente, ao lado do Instituto Chico
Mendes, com a finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes governamentais fixadas para
o meio ambiente, de acordo com as respectivas competências (art. 6º, IV, da Lei 6.938/81)
Alternativa C: CORRETA
Alternativa D: CORRETA
Alternativa E: CORRETA
Gabarito: B
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Atenção sobre os dispositivos da servidão ambiental – matéria muito cobrada em fases objetivas de
concursos do Ministério Público (p. ex: MPSP/2019, MPPB/2018, MPRR/2017, MPSC/2016, dentre outros).
Alternativa A: INCORRETA
A servidão ambiental pode ser temporária ou perpétua. Quando for perpétua, ela equivalerá, para fins
creditícios, tributários e de acesso aos recursos de fundos públicos, à Reserva Particular do Patrimônio
Natural – RPPN (art. 21 da Lei nº 9985/00 – LSNUC).
A servidão ambiental temporária, por sua vez, terá o prazo mínimo de 15 (quinze) anos.
Alternativa B: INCORRETA
A assertiva é falsa, uma vez que o art. 9º-A, §6º proíbe, durante o prazo de vigência da servidão ambiental,
a alteração da destinação da área, nos casos de transmissão do imóvel a qualquer título, de
desmembramento ou de retificação dos limites do imóvel.
Alternativa C: INCORRETA
XII - o Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais. (Incluído pela Lei nº 7.804, de 1989)
Como se nota, a servidão ambiental não é o único instrumento econômico previsto expressamente na Lei
6938/81, já que o inciso XIII elenca também a concessão florestal e o seguro ambiental. O dispositivo foi
incluído pela Lei 11.284/06, que dispõe sobre a gestão das florestas públicas para a produção sustentável.
Recorde-se, ainda, que existem outros instrumentos econômicos previstos na legislação ambiental, a
exemplo da Cota de Reserva Ambiental – CRA prevista na Lei 12.651/12 – Código Florestal (art. 44).
Alternativa D: CORRETA
A assertiva corresponde ao conteúdo do art. 9º-A, caput, que dispõe que o proprietário ou possuidor de
imóvel, pessoa natural ou jurídica, pode, por instrumento público ou particular ou por termo administrativo
firmado perante órgão integrante do Sisnama, limitar o uso de toda a sua propriedade ou de parte dela para
preservar, conservar ou recuperar os recursos ambientais existentes, instituindo servidão ambiental.
Alternativa E: INCORRETA
A assertiva é falsa, uma vez que o art. 9º-B, §3º, dispõe que o detentor da servidão ambiental poderá aliená-
la, cedê-la ou transferi-la, total ou parcialmente, por prazo determinado ou em caráter definitivo, em favor
de outro proprietário ou de entidade pública ou privada que tenha a conservação ambiental como fim social.
Gabarito: D
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Gabarito: Certa.
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Gabarito: C.
O vencimento deverá ser escrito no título de crédito, sob pena de invalidade do documento como duplicata.
Ao contrário do que ocorre na letra de câmbio, a duplicata admite a prorrogação do vencimento, isto é, o
credor poderá tornar a obrigação exigível apenas em data posterior àquela inicialmente combinada.
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Gabarito: C
Questão 4. Ao ser decretada a falência ou o deferimento da recuperação judicial, o prazo prescricional das
ações e execuções será suspenso.
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Gabarito: Verdadeira.
Comentários
A autonomia administrativa de que trata o art. 127, § 2º, da Constituição da República, segundo o qual o
Ministério Público dispõe de autonomia em relação aos demais órgãos da Administração Pública, é
considerada como garantia, e não princípio institucional.
Questão 2. Qual é o organismo responsável pela solução do conflito de atribuição entre órgãos do
Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual?
a) Supremo Tribunal Federal.
b) Superior Tribunal de Justiça.
c) Procuradoria-Geral da República.
d) Conselho Nacional do Ministério Público.
e) Conselho Nacional de Justiça.
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A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firmada no sentido de que o conflito de atribuição entre
órgãos do Ministério Público Federal e do Ministério Público Estadual deve ser resolvido pelo Conselho
Nacional do Ministério Público.
Público para, nos termos do artigo 130-A, incs. I e II, da Constituição Federal, dirimir o conflito de
atribuições” (STF, Pet nº 5.091, Rel. Min. Alexandre de Moraes, J. 16.06.2020, DJU 06.08.2020).
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De acordo com o princípio da independência funcional e, em especial, a regra do 181 do Código de Processo
Civil, os membros do Ministério Público respondem pelos danos que causarem a terceiros em caso de dolo
ou fraude.
Comentários
A incorreta é a letra “E”, pois não encontra respaldo no Código de Defesa do Consumidor. As práticas
abusivas estão previstas no art. 39 do CDC, de modo que letra E está errado pois, segundo a lei, seria, sem
justa causa. Se a causa é justa é de acordo com o direito e, portanto, não é abusivas. As demais estão
previstas nos incisos II, III, IX e XII.
Questão 2. Assinale a alternativa que esteja em desacordo com o entendimento do STJ sobre direito do
Consumidor:
a) Na ação consumerista, o Ministério Público faz jus à inversão do ônus da prova, independentemente
daqueles que figurem como autores ou réus da demanda.
b) A ausência de comunicação acerca da disponibilização/comercialização de informações pessoais do
consumidor em bancos de dados configura dano moral presumido.
c) O clube de turismo e a rede conveniada de hotéis são responsáveis solidariamente pelo padrão de
atendimento e pela qualidade dos serviços prestados, em razão da indissociabilidade entre as obrigações de
fazer assumidas pela empresa e pelo hotel credenciado.
d) Não se admite responsabilidade subjetiva do fornecedor de produtos e serviços quando se tratar de
direitos difusos, em razão da indivisibilidade do objeto.
e) A pretensão indenizatória do consumidor de receber ressarcimento por prejuízos decorrentes de vício no
imóvel se submente ao prazo prescricional previsto no Código Civil.
Comentários
A única que está em desacordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é a letra D, pois a regra
é a responsabilidade objetiva, mesmo em se tratando de direitos difusos, não havendo relação de causa e
efeito com a indivisibilidade do objeto tutelado. Todas as demais alternativas foram extraídas da
recentíssima edição 160 do Jurisprudência em Teses do STJ. No caso da letra E, trata-se do art. 205 do Código
Civil. No caso da letra B, trata-se de dano moral in re ipsa.
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
Vamos lá!
Comentários
A utilização da ação civil pública como instrumento de controle de constitucionalidade concreto não é
uníssona na doutrina.
Gilmar Ferreira Mendes salienta a impossibilidade de a ação civil pública ser utilizada como instrumento de
controle de constitucionalidade difuso, ao argumento de que o processo instaurado em decorrência do
exercício da ação civil pública, sob o aspecto prático, seria assemelhado ao processo deflagrado pela ação
direta de inconstitucionalidade, porquanto o objeto imediato da arguição de inconstitucionalidade não seria
a tutela do direito difuso, coletivo ou individual homogêneo que, no caso concreto, teria sido lesado ou
ameaçado de lesão, mas seria a aferição, em tese, da constitucionalidade da lei ou do ato normativo versado
na ação civil pública.
Luís Roberto Barroso sustenta a possibilidade de a ação civil pública ser utilizada como instrumento de
controle de constitucionalidade incidental, tendo em vista que o exercício da ação civil pública dá ensejo à
instauração de processo subjetivo, dado que há partes individualizadas, tendo o demandante proposto a
ação em face do demandado, com o objetivo de proteger direito difuso, coletivo ou individual homogêneo,
e não de processo objetivo, eis que não há partes individualizadas, não tendo o requerente proposto a ação
em face da norma, sem o objetivo de proteger a ordem jurídica.
“A Excelsa Corte tem reconhecido a legitimidade da utilização da ação civil pública como
instrumento idôneo de fiscalização incidental de constitucionalidade, pela via difusa, de
quaisquer leis ou atos do Poder Público, mesmo quando contestados em face da Constituição da
República, desde que, nesse processo coletivo, a controvérsia constitucional, longe de identificar-
se como objeto único da demanda, qualifica-se como simples questão prejudicial, indispensável
à resolução do litígio” (STF, Rcl nº 212, Rel. Min. Celso de Mello, J. 24.11.2000, DJU 01º.12.2000).
Comentários
Considerando a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, de acordo com a qual a ação direta de
inconstitucionalidade interventiva ensejaria a instauração de processo subjetivo, posto que haveria litígio
entre a União e o Estado ou Distrito Federal, o “controle concentrado concreto” seria embasado nos arts.
34, inc. VII, e 36, inc. III, initio, da Constituição da República, forte na argumentação de que a ação direta de
inconstitucionalidade interventiva “faz instaurar, entre o poder central e as coletividades autônomas
periféricas, um litígio constitucional, cuja finalidade precípua consiste em dar solução jurisdicional ao conflito
federativo. Impõe-se ao Supremo Tribunal Federal, no âmbito desse procedimento especial, o dever de
compor tal situação de conflito e de litigiosidade constitucional entre a União e o Estado-membro”.
Nesse diapasão, “a existência de litígio constitucional entre a União e o Estado-membro acha-se subjacente
ao instituto da ação direta interventiva, cuja configuração jurídico-processual qualifica-o como notável
instrumento de composição de conflitos federativos, destinado a restaurar a ordem constitucional vulnerada
e a fazer cessar situações de lesão ou de ofensa a um dos princípios constitucionais sensíveis. O ajuizamento
da ação interventiva supõe formal provocação do Procurador-Geral da República, a quem se deferiu a
titularidade exclusiva do seu exercício, para efeito de instauração deste processo subjetivo” (MELLO FILHO,
José Celso de. Voto. Revista Trimestral de Jurisprudência, no 160, 1996, p. 3).
Comentários
Parcelamento - Refere-se ao objeto a ser licitado e representa a sua divisão no maior número de parcelas
possíveis que forem viáveis técnica e economicamente, com vistas à ampliação da competitividade (Divisão
em grupos ou lotes) - Art. 23, §1º, da Lei n. 8.666/1993. (Ex: Presídios)
Súmula 247 TCU - É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos
editais das licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto
seja divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia
de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que, embora
não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da totalidade do
objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo as exigências de
habilitação adequar-se a essa divisibilidade.
Fracionamento - Constitui irregularidade e caracteriza-se pela divisão de despesa com o objetivo de utilizar
modalidade de licitação inferior à recomendada à totalidade do objeto ou para indevidamente justificar a
contratação direta. (dano in re ipsa)
Comentários
A autorização de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado a título
precário, que visa atender interesse predominantemente privado.
É um ato unilateral afinal há exteriorização da vontade apenas do Poder Público. É discricionário porque
haverá a valoração sobre a conveniência e a oportunidade na concessão do ato. Trata-se de ato precário
porque a administração pode revogar a autorização se sobrevierem razões para tanto e não haverá direito
de indenização.
A autorização, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
autorização seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.
Ex.: Fechamento de ruas para comemorações; utilização de uma área para estacionamento.
Por sua vez, a permissão de uso de bem público é um ato administrativo unilateral, discricionário, praticado
a título precário, atendendo ao mesmo tempo interesses público e privado.
A permissão e a autorização de uso são institutos semelhantes. O que diferencia um e outro é o interesse
em jogo. Na permissão de uso há uma igualdade dos interesses público e privado.
A permissão, como regra, não deve ser conferida com prazo determinado. Contudo, é possível que a
permissão seja praticada por prazo certo. Quando assim for praticada, a autorização perde o caráter de
precariedade e sua revogação ensejará o direito de indenização.
O ato de permissão é um ato personalíssimo ou intuito personae, razão pela qual sua transferência a
terceiros só se legitima quando houver consentimento da entidade que conferiu a permissão. Dessa forma,
o que há, na verdade, é a prática de um novo ato administrativo.
Com relação à Licitação, a permissão de uso pode ensejar que esta aconteça, quando houver mais de um
interessado na utilização do bem, evitando-se, assim, favorecimentos ou preterições ilegítimas. Todavia, em
alguns casos a licitação será inexigível, como, por exemplo, a permissão de uso de calçada em frente a um
bar.
Ex.: Feiras de artesanatos em praças públicas; vestiários públicos, mesas e cadeiras em calçadas; bancas de
jornal.
Por fim, a concessão de uso de bem público não é ato administrativo. Na verdade, está-se diante de um
contrato administrativo. Portanto, a concessão possui o caráter da bilateralidade.
A concessão de uso deve ser realizada para atividades de maior vulto, no qual o concessionário “assume
obrigações perante terceiros e encargos financeiros elevados, que somente se justificam se ele for
beneficiado com a fixação de prazos mais prolongados, que assegurem um mínimo de estabilidade no
exercício da atividade”
Comentários
A base da pessoa natural ou jurídica é o centro de suas relações jurídicas. Para a sua definição, importa que
se realize a distinção entre domicílio e residência, em compasso com a tipologia definida pelo Código Civil.
A codificação prevê, em seu art. 70, que o domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua
residência com ânimo definitivo.
Fácil divisar que, para o Direito Civil, o domicílio é o plus da residência. Isso porque se define a residência
como sendo o local em que a pessoa habita permanentemente, excluídas habitações eventuais, como hotéis
e congêneres, considerados mera morada.
A seu turno, por domicílio entende-se a residência em que o indivíduo estabelece a sua moradia habitual e,
além disso, estabelece a o centro de suas atividades cívicas. Exige, portanto, o preenchimento de duplo
requisito: o objetivo, consistente na ocupação de determinado, e o subjetivo, pelo qual se tem o ânimo
definitivo.
Na hipótese de a pessoa reunir diversas residências, domicílio será a localidade em que houver a centralidade
das respectivas relações jurídicas.
E, se a pessoa detiver pluralidade de residências sem que se permita definir a centralidade negocial, aplicar-
se-á o art. 71: ainda, determina que se, porém, a pessoa natural tiver diversas residências, onde,
alternadamente, viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer delas, em casos de pluralidade de domicílios.
Não há, pois, na legislação civil, regra precisa de definição de domicílio unitário, afora as hipóteses em que
circunstâncias objetivas ou subjetivas determinem localidade fixa do domicílio.
As pessoas são, em princípio, inteiramente livres para decidir o lugar em que fixarão o domicílio,
e, por isso, o elemento mais relevante para identificá-lo é a intenção por elas manifestada. Exceto
nas hipóteses de domicílio necessário, o lugar declarado como tal pela pessoa serve de domicílio.
Ademais, querendo, a pessoa pode mudar seu domicílio, a qualquer tempo, bastando para isso
que transfira a residência com a intenção manifesta de mudá-la (CC, art. 74).
Comentários
O nome individualiza a pessoa no contexto social e insere-se no núcleo da dignidade inerente. Trata-se de
direito personalíssimo e é tema afeto aos direitos da personalidade, pelo que a sua tutela se rege peça
primazia da tutela inibitória – ataca a ameaça a lesão, de modo a evitar o dano –, sem prejuízo da tutela
ressarcitória e de remoção do ilícito, além da reintegratória.
54
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Parte Geral - Volume 1. Revista dos Tribunais: São Paulo, 2016.
O nome individual também é conhecido como prenome. Pode ser simples ou composto, hipótese em que
haverá a aglutinação de duplo designativo.
O sobrenome, que é chamado, ainda, de patronímico ou de nome de família, denota a ascendência familiar
do indivíduo. Perpetua a linhagem na pessoa e pode reclamar a proteção coletiva, como no caso de se utilizar
indevidamente do patronímico para irrogar ofensas a determinado clã familiar.
A seu turno, o agnome é elemento eventual e se materializa com expressões como “Júnior”, “Filho” e afins.
O nome da pessoa natural possui como características o caráter absoluto, com efeitos erga omnes;
obrigatório, como imposição registral; indisponível; imprescritível; inalienável; incessível; inexpropriável;
irrenunciável, salvo as hipóteses de desmembramento de parte do nome; e intransmissível.
Comentários
Tal técnica, contudo, não deve ser empregada de maneira indiscriminada, sob pena de se deturpar o fim a
que se destina e de servir como artifício de desvio das normas legais-processuais, mas se submete à
verificação da presença cumulativa dos seguintes requisitos: existência de vínculo hierárquico entre a
autoridade que prestou informações e a que ordenou a prática do ato impugnado; manifestação a respeito
do mérito nas informações prestadas; e ausência de modificação de competência estabelecida na
Constituição Federal, na forma da súmula 628 do Superior Tribunal de Justiça.
Dessa forma, para que se fale na possibilidade de aplicação da teoria da encampação, é mister que haja uma
relação de hierarquia entre a autoridade equivocadamente apontada e a verdadeira coatora, bem como que
aquela haja se manifestado sobre o mérito do ato impugnado e que esta alteração não enseje a necessidade
de mudança da competência do juízo ou órgão estabelecido pela Constituição Federal para a apreciação do
remédio constitucional, isto é, que o juízo perante o qual fora impetrado o mandado de segurança seja
igualmente competente para analisa-lo, em relação a quaisquer das autoridades em jogo (STJ. 1ª Seção.
Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018).
de família. No caso do patrimônio do condenado por sentença transitada em julgado ser formado
exclusivamente por um único imóvel, poderá ser este levado à execução para indenizar a vítima?
Comentários
A Lei 8.009/90 institui a impenhorabilidade do bem de família como instrumento de tutela do direito
fundamental à moradia da família e, portanto, indispensável à composição de um mínimo existencial para
uma vida digna. Nesse sentido, veja-se o que dispõe o art. 1o da referida lei dispõe:
Art. 1º. O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra
natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
A impenhorabilidade do bem de família, de fato, reflete o princípio da dignidade da pessoa humana o qual
constitui um dos principais fundamentos da Constituição Federal de 1988 e que também possui diversas
outras emanações e desdobramentos.
No entanto, mesmo esse importantíssimo instituto possui limites de aplicações. A depender das
circunstâncias, a própria Lei 8.009/90 prevê exceções à regra da impenhorabilidade. Assim, o art. 3o, VI, da
mencionada lei dispõe que não é possível opor a impenhorabilidade quando o bem em questão for adquirido
como produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória:
Nessas hipóteses, no cotejo entre os bens jurídicos envolvidos, o legislador preferiu defender o ofendido por
conduta criminosa ao autor da ofensa, conforme nota a doutrina: “essas exceções significam que a Lei do
Bem de Família teve a intenção de balancear valores, privilegiando o valor moradia, mas ressalvando que o
bem de família será penhorável em benefício dos credores por alimentos, ou por verbas devidas aos
trabalhadores da própria residência, ou por garantia real constituída pelo devedor residente no imóvel etc"
(DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. Vol. 4. 2. ed. São Paulo: Malheiros, p.
358).
Sobre efeitos da condenação penal sobre o âmbito cível, é fato que a sentença penal condenatória produz
também efeitos extrapenais, tanto genéricos quanto específicos. Os efeitos genéricos são decorrem
automaticamente da sentença, sem necessidade de abordagem direta pelo juiz. Entre esses efeitos genérica,
encontra-se a obrigação de reparar o dano causado, tal como previsto no art. 91, I, do Código Penal.
Dessa maneira, é inegável que, para a incidência da exceção prevista no art. 3o, VI, da Lei 8.009/90, faz-se
necessária a presença de sentença penal condenatória transitada em julgado, por não ser possível a
interpretação extensiva nessas hipóteses. Portanto, ainda que o patrimônio do condenado por sentença
transitada em julgado seja formado exclusivamente por um único imóvel, o imóvel de família, poderá ser
este levado à execução para indenizar a vítima.
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos A apresentação clara e escorreita do conhecimento, por
microestruturais meio da linguagem adequada e da coerência das ideias,
(coerência, clareza, é elemento importante que será considerado para a
10%
ortografia, propriedade composição da nota.
vocabular e raciocínio
jurídico)
Impenhorabilidade do
A Lei 8.009/90 institui a impenhorabilidade do bem de
bem de família família como instrumento de tutela do direito
fundamental à moradia da família e, portanto, 20%
indispensável à composição de um mínimo existencial
para uma vida digna.
Exceções à No entanto, mesmo esse importantíssimo instituto
impenhorabilidade do possui limites de aplicações. A depender das
bem de família circunstâncias, a própria Lei 8.009/90 prevê exceções à
regra da impenhorabilidade. Assim, o art. 3o, VI, da
20%
mencionada lei dispõe que não é possível opor a
impenhorabilidade quando o bem em questão for
adquirido como produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória.
Efeitos extrapenais da Sobre efeitos da condenação penal sobre o âmbito cível,
condenação penal é fato que a sentença penal condenatória produz
também efeitos extrapenais, tanto genéricos quanto
específicos. Os efeitos genéricos são decorrem
automaticamente da sentença, sem necessidade de 20%
abordagem direta pelo juiz. Entre esses efeitos genérica,
encontra-se a obrigação de reparar o dano causado, tal
como previsto no art. 91, I, do Código Penal.
Comentários
a) Na situação vertente, o crime em tese cometido por Pedro, foi o previsto no artigo 28, da Lei 11.343/06.
Assim, há que se aplicar o artigo 48, da Lei de Drogas, que verbera o seguinte:
Art. 48. O procedimento relativo aos processos por crimes definidos neste Título rege-se pelo
disposto neste Capítulo, aplicando-se, subsidiariamente, as disposições do Código de Processo
Penal e da Lei de Execução Penal.
§ 1º O agente de qualquer das condutas previstas no art. 28 desta Lei, salvo se houver concurso
com os crimes previstos nos arts. 33 a 37 desta Lei, será processado e julgado na forma dos arts.
60 e seguintes da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispõe sobre os Juizados Especiais
Criminais.
§ 2º Tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se imporá prisão em flagrante,
devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente ou, na falta deste,
assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e
providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.
§ 5º Para os fins do disposto no art. 76 da Lei nº 9.099, de 1995, que dispõe sobre os Juizados
Especiais Criminais, o Ministério Público poderá propor a aplicação imediata de pena prevista no
art. 28 desta Lei, a ser especificada na proposta.
Assim, com fundamento no artigo 48, §2º, supra, não há que se impor prisão em flagrante.
Uma observação importante é que, na forma do artigo 69, da Lei 9.099/95, essa vedação ao flagrante
estende-se a todas as infrações de menor potencial ofensivo.
b) Apesar de previsto na Lei 11.343/06, que traz rito próprio para processo e julgamento das infrações ali
previstas, o artigo 28 trata de infração de menor potencial ofensivo, o que se infere pelo fato de que não se
comina pena privativa de liberdade, atraindo, pois, a incidência do procedimento sumaríssimo, conforme
anela o §1º, do artigo 48, da Lei 11.343/06.
c) Sim. O benefício da suspensão condicional do processo, conquanto previsto na Lei 9.099/95, não se aplica
exclusivamente às infrações de menor potencial ofensivo, afinal o critério para a sua incidência é exatamente
o patamar mínimo de pena (igual ou inferior a 1 ano, na forma do artigo 89, da Lei 9.099/95). Possível, por
exemplo, que se ofereça o benefício da suspensão condicional do processo ao crime de furto, que tem pena
máxima de 4 anos e segue procedimento diverso do sumaríssimo.
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Mas foi superada pelo STF e STJ, que agora admitem a aplicação do princípio da insignificância:
(…) 2. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça apontava que os crimes previstos nos
arts.12, 14 e 16 da Lei n.º 10.826/2003 são de perigo abstrato, sendo desnecessário perquirir
sobre a lesividade concreta da conduta, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a
incolumidade física e sim a segurança pública e a paz social, colocadas em risco com o porte de
munição, ainda que desacompanhada da arma de fogo ou munição. 3. Esta Corte passou a
acompanhar a nova diretriz jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal que admite a incidência
do princípio da insignificância na hipótese da posse de pequena quantidade de munição,
desacompanhada de armamento hábil a deflagrá-la. 4. para que exista, de fato, a possibilidade
de incidência do princípio da insignificância, deve-se aferir se a situação concreta trazida nos
autos autoriza sua incidência. (STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 119.662/PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas,
julgado em 20/02/2020).
(…) A Sexta Turma desta Casa, alinhando-se ao Supremo Tribunal Federal, passou a admitir a
aplicação do princípio da insignificância aos crimes previstos na Lei n.º 10.826/2003,
esclarecendo que a ínfima quantidade de munição apreendida, aliada a ausência de artefato
bélico apto ao disparo, evidencia a inexistência de riscos à incolumidade pública. (…) (STJ. 6ª
Turma. AgRg do REsp 1869961/SC, Rel. Min. Antônio Saldanha Palheiro, julgado em 19/05/2020).
b) A Lei n.º 13.870/2019 promoveu uma pequena alteração no Estatuto do Desarmamento, incluindo o §5º,
no art. 5º, do Estatuto, esclarecendo o conceito de residência ou domicílio aos residentes em área rural para
fins da previsão daquele artigo, confira-se:
Art. 5º O certificado de Registro de Arma de Fogo, com validade em todo o território nacional,
autoriza o seu proprietário a manter a arma de fogo exclusivamente no interior de sua residência
ou domicílio, ou dependência desses, ou, ainda, no seu local de trabalho, desde que seja ele o
titular ou o responsável legal pelo estabelecimento ou empresa.
[…]
§5º Aos residentes em área rural, para os fins do disposto no caput deste artigo, considera-se
residência ou domicílio toda a extensão do respectivo imóvel rural. (Incluído pela Lei nº 13.870, de
2019)
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Determina-se o quociente eleitoral dividindo-se o número de votos válidos apurados pelo de lugares a
preencher em cada circunscrição eleitoral, desprezada a fração se igual ou inferior a meio, equivalente a um,
se superior, em conformidade com o art. 106, caput, do Código Eleitoral. Não deve ser olvidado que, de
acordo com o art. 5º da Lei nº 9.504/97, nas eleições proporcionais, contam-se como votos válidos apenas
os votos dados aos candidatos regularmente inscritos e às legendas partidárias.
Por sua vez, determina-se para cada partido ou coligação o quociente partidário, dividindo-se pelo quociente
eleitoral o número de votos válidos dados sob a mesma legenda ou coligação de legendas, desprezada a
fração, em consonância com o art. 107 do Código Eleitoral, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº
7.454/85.
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O caput do artigo 148 da Constituição dispõe que “a União, mediante lei complementar, poderá instituir
empréstimos compulsórios”.
Aqui, já encontramos dois pressupostos constitucionais: Apenas a União pode instituir empréstimos
compulsórios e apenas pode fazê-lo por meio de lei complementar, cujo quórum de aprovação é maior do
que o de uma lei ordinária.
A calamidade pública, por sua vez, caracteriza-se por catástrofes provocadas por agentes da natureza ou por
outros eventos de caráter socioeconômico que coloquem em perigo o equilíbrio do organismo social.55
O conceito de guerra externa ou sua iminência é bastante intuitivo, dizendo respeito a um conflito armado
– ou sua iminência - entre o Brasil e outro país.
O inciso II do artigo 148 traz outras hipóteses em que a Constituição autoriza a instituição de um empréstimo
compulsório:
Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios:
55 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 57-58
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“A década de 1990 foi muito profícua em termos de legislação. Apesar de ter iniciado com forte turbulência
política, por conta de uma renúncia presidencial, após um período também turbulento em um regime de
governo não democrático, muitas das principais leis que hoje utilizamos foram produzidas neste período.
Destas, podem ser destacadas a Lei 8.069/90, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei
8.137/90, a Lei de crimes contra a ordem tributária e relações de consumo, Lei 8.072/90, ou Lei de crimes
hediondos, além do presente diploma, conhecido amplamente como Código de Defesa do Consumidor.”
(Ziesemer. Interesses e Direitos Difusos e Coletivos. Juspodivm, 2018, p. 295)
LC 75/93 - MPU
Lei 4.717/65 - AP
LC 80/94 - LODP
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A independência funcional, indivisibilidade e unidade são consideradas como princípios institucionais, à luz
do art. 127, § 1º.
Em outro sentido, a autonomia funcional, autonomia administrativa e autonomia financeira são definidas
como garantias institucionais, a teor do art. 127, § 2º, ambos da Constituição da República.