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Autor:
Alessandro Sanchez, Alex Fadel,
Bruno Betti, Edon José Rodarte
Filho, Flávio Milhomem, Guilherme
Carneiro de Rezende, Guilherme
Peña de Moraes, Henrique da
Rosa, Mateus Pontalti, Monique
Mosca Gonçalves, Ricardo
Torques, Ricardo Torques C.,
Equipe Materiais Carreiras
Jurídicas, Felipe Duque
15 de Outubro de 2020
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 03
Sumário
Considerações Iniciais ........................................................................................................................................ 5
1.2.1 - Conceito................................................................................................................................................................. 9
1.6.1 - Reformatio In Pejus Indireta e Reconhecimento da Hediondez do Delito no Tribunal do Júri ........................... 37
1097228
Alessandro Sanchez, Alex Fadel, Bruno Betti, Edon José Rodarte Filho, Flávio Milhomem, Guilherme Carneiro de Rezende, Guilh
Rodada 03
1.7.1 - O crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato análogo que cause perigo comum passou a
ser crime hediondo. Mas esqueceram do roubo nestas mesmas circunstâncias. Violação à proporcionalidade? ....... 44
1.8.1 - Definição.............................................................................................................................................................. 54
1.8.2 - Enumeração......................................................................................................................................................... 54
49 questões objetivas inéditas de nível superior de complexidade para você lapidar a sua
preparação; e
15 questões discursivas.
Com time exclusivo, você disporá de material de altíssimo nível para garantir pontos importantes na prova.
MATÉRIA PROFESSOR
Direito Constitucional Guilherme Peña de Moraes
Direito Administrativo Bruno Betti
Direito Civil Edon Rodarte
Direito Processual Civil Edon Rodarte
Direito Penal Flávio Milhomem
Direito Processual Penal Guilherme Rezende
Legislação Penal Especial Alex Fadel
Direito Eleitoral Guilherme Peña de Moraes
Direito da Criança e do Adolescente Luciano Rosatto
Direito Tributário Mateus Pontalti
Direitos Difusos e Coletivos Henrique da Rosa
Direito Ambiental Monique Gonçalves
Direito Empresarial Alessandro Sanchez
Legislação Institucional do MP Guilherme Peña de Moraes
Direito do Consumidor Henrique da Rosa
ecj@estrategiaconcursos.com.br
Boa leitura!
a) Superioridade hierárquica;
b) Caráter político;
c) Natureza da linguagem.
A superioridade hierárquica pode ser representada graficamente pela pirâmide de Kelsen. A Constituição
ocupa o ápice, o topo, o vértice de uma ordem jurídica, e nessa posição serve como fundamento comum de
validade de qualquer norma jurídica que o Estado vier a produzir. Esse fundamento de validade ora será
imediato ou direto, ora será mediato ou indireto.
A Constituição ocupa o epicentro da nova ordem jurídica, serve como foco irradiador de validade,
permeando as demais normas jurídicas que compõem essa ordem com seus valores, e a faz interpretá-las de
acordo com as premissas que a própria Constituição consubstancia.
Portanto, a Constituição não veicula qualquer norma jurídica, mas normas jurídicas com a maior hierarquia
possível dentro da ordem jurídica. A Constituição não só é superior, como também é suprema (supremacia
da Constituição).
A Constituição possui também um caráter político. Fala-se que o STF é um Tribunal político, e evidentemente
ele o é, pois interpreta a Constituição que tem esse caráter, de modo que essa característica impregna o seu
maior intérprete.
O caráter político significa que a Constituição pode exercer duplo papel: ora ela é um fator de legitimação,
ora é um fator de limitação, daí o seu caráter político. Portanto, a Constituição tem não somente um caráter
jurídico, como também dispõe de um caráter político.
No passado, a Constituição serviu como fator de legitimação do poder que a sociedade atribuiu ao Estado
(sentido sociedade-Estado). No presente, a Constituição serve como fator de limitação do poder do Estado
em relação à sociedade, da atuação do Estado em favor da sociedade (sentido Estado-sociedade).
Em razão disso, costuma-se afirmar que a atuação do Estado só será legítima se limitada por direitos
fundamentais previstos pela Constituição, ideia central do constitucionalismo. Os direitos limitam a atuação
do Estado e legitimam, portanto, a sua atividade em favor do campo social (por isso hoje fala-se primeiro em
direitos, e depois no Estado).
Por fim, em relação à natureza da linguagem, destaque-se que a linguagem constitucional tem características
peculiares. Assim, deve ser feita uma distinção entre grau de abertura e grau de densidade. A norma
constitucional costuma ter grau de abertura alto, e grau de densidade baixo; ou seja, é muito aberta e pouco
densa, diferentemente daquilo que em geral acontece com as normas jurídicas, que costumam ser pouco
abertas e muito densas.
Portanto, para tornar possível a aplicação da norma (abstrata que é) ao fato (concreto), o intérprete
concretiza valores constitucionais, assume uma posição de intermediador entre norma e fato, de
viabilizador da aplicação da norma jurídica. Somente a partir disso é que há a possibilidade de subsunção da
norma ao caso concreto.
Além disso, não deve ser olvidado que, quanto ao conteúdo específico, em regra, uma Constituição possui
duas matérias: divisão do poder político e direitos, garantias e remédios constitucionais. Em razão disso, a
Constituição costuma ter uma parte orgânica e uma parte dogmática, com a tendência progressiva, no Brasil,
de reforço da segunda em detrimento da primeira.
No entanto, relembre-se que Constituições analíticas trazem outras matérias, quase sempre com o intuito
de conferir a essas matérias um maior grau de estabilidade (o que se verifica quando a Constituição, além de
analítica, é também rígida).
nesta rodada para o nosso curso de membro do ministério público, vamos conversar um pouco sobre as
Agências Reguladoras.
Vamos dividir o Estudo dessa autarquia especial em dois focos. no primeiro, vamos passar nos
conhecimentos básicos, mas importantes das Agências.
No segundo momento, vamos ver situações bem específicas das Agências, inclusive com temas introduzidos
pela lei Nº 13.848, DE 25 DE JUNHO DE 2019, que alterou a lei nº 9.984/00. Por fim, para fecharmos com um
estudo mais leve, vamos estudar o poder hierárquico
Vamos lá!
1.2.1 - Conceito
Regulada pela Lei nº 9986/00, as Agências Reguladoras possuem natureza jurídica de Autarquia de regime
especial. O poder público entregou para as agências reguladoras a função regulatória. Contudo, esta função
não é de exclusividade das agências. Outras pessoas e órgãos podem realizar essa atividade.
Faz-se importante também a leitura da Lei nº 13.848/2019, que trouxe algumas alterações e inovações
acerca das agências reguladoras.
Observe que as agências reguladoras possuem natureza especial caracterizada pela ausência de tutela ou de
subordinação hierárquica, pela autonomia funcional, decisória, administrativa e financeira e pela investidura
a termo de seus dirigentes e estabilidade durante os mandatos, conforme afirma o art. 3º da Lei 13.848/19.
1.2.2 - Características
O Art. 6º da Lei nº 9986/00 estabelecem que o mandato dos membros do Conselho Diretor ou da Diretoria
Colegiada das agências reguladoras será de 5 (cinco) anos, vedada a recondução, ressalvada a hipótese de
vacância antes do período final.
Ademais, o art. 9º da mesma Lei estabeleceu os casos em que o dirigente perderá o mandato, quais seja: 1)
Renúncia; 2) Condenação Judicial Transitada em julgado, ou 3) Processo Administrativo disciplinar e 4) por
infringência de quaisquer das vedações impostas aos dirigentes. .
A legislação, dessa forma, proíbe a exoneração ad nutum, ou seja, por livre vontade do administrador
público.
ATENÇÃO 1: Informativo 759: É CONSTITUCIONAL lei estadual que prevê que os dirigentes de determinada
agência reguladora somente poderão ser nomeados após previamente aprovados pela Assembleia
Legislativa. Por outro lado, é INCONSTITUCIONAL a lei estadual que estabelece que os dirigentes de agência
reguladora somente poderão ser destituídos de seus cargos por decisão exclusiva da Assembleia Legislativa,
sem qualquer participação do Governador do Estado. Essa previsão viola o princípio da separação dos
poderes (at. 2º da CF/88). STF. Plenário. ADI 1949/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 17/9/2014 (Info 759
– Fonte: Dizer o Direito).
ATENÇÃO 2: SÚMULA Nº 25 - A NOMEAÇÃO A TERMO NÃO IMPEDE A LIVRE DEMISSÃO PELO PRESIDENTE
DA REPÚBLICA, DE OCUPANTE DE CARGO DIRIGENTE DE AUTARQUIA.
Muito embora exista a súmula nº 25, o STF entendeu constitucional a existência do mandato fixo. Portanto,
a referida súmula não se aplica.
Período de Quarentena
Este período se refere ao lapso temporal em que o dirigente da agência reguladora ficará afastado de atuar
no mercado regulado por ele.
De acordo com o art. 8º da Lei nº 9986/00, o ex-dirigente fica impedido para o exercício de atividades ou de
prestar qualquer serviço no setor regulado pela respectiva agência, por um período de seis meses, contados
da exoneração ou do término do seu mandato.
Durante o impedimento, o ex-dirigente ficará vinculado à agência, fazendo jus a remuneração compensatória
equivalente à do cargo de direção que exerceu e aos benefícios a ele inerentes.
Aplica-se o período de quarentena ao ex-dirigente exonerado a pedido, se este já tiver cumprido pelo menos
seis meses do seu mandato.
Incorre na prática de crime de advocacia administrativa, sujeitando-se às penas da lei, o ex-dirigente que
violar o impedimento, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, administrativas e civis.
Na hipótese de o ex-dirigente ser servidor público, poderá ele optar pelo recebimento da remuneração
compensatória, ou pelo retorno ao desempenho das funções de seu cargo efetivo ou emprego público, desde
que não haja conflito de interesse.
As agências reguladoras irão propiciar a realização de audiências públicas, a oitiva das pessoas envolvidas
pelas possíveis decisões tomadas por ela. Tudo isso serve para compensar o déficit de legitimidade das
agências reguladoras. Ocorre esse déficit em razão de seus dirigentes não terem sido votados para ocupar
os seus cargos.
As decisões proferidas pelas diretorias das agências ocorrem uma única e última instância. Dessa forma, há
um processo que possibilita a estabilidade no mercado. Veja, portanto, que não é um procedimento vertical,
ou seja, não há superiores hierárquicos para quem se possa recorrer.
Assim estabelece o Art. 7º da Lei 13.848/19, que afirma que o processo de decisão da agência reguladora
referente a regulação terá caráter colegiado. Observe que o §1º do art. 7º afirma que as deliberações serão
tomadas pela maioria absoluta.
De acordo com o art. 37 da Lei nº 9986/00, a aquisição de bens e a contratação de serviços pelas Agências
Reguladoras poderá se dar nas modalidades de consulta e pregão, observado o disposto nos arts. 55 a 58 da
Lei no 9.472, de 1997, e nos termos de regulamento próprio.
De acordo com o art. 54 da Lei nº 9472/97, lei que trata da ANATEL, a contratação de obras e serviços de
engenharia por esta agência serão contratados nos termos da Lei nº 8.666/93. Observe que esse dispositivo
legal trata de atividade meio da ANATEL.
Por sua vez, o art. 210 da referida Lei assegura que as concessões, permissões e autorizações de serviço de
telecomunicações e de radiodifusão (atividade fim) seguirão o procedimento licitatório estabelecido pela Lei
nº 9472/97. Dessa forma, não seguirá o estabelecido pela Lei nº 8.666/93.
Por fim, o art. 54, § único da mesma Lei estabelece que as obras e serviços que não sejam de engenharia
poderão ser contratados por meio de procedimento próprio, nas modalidades consulta e pregão.
De acordo com o STF, as agências reguladoras, por exercerem fiscalização e poder de polícia, não podem
possuir servidores celetistas.
Autonomia Decisória
De acordo com o art. 4º da Lei 13.848/19, a agência reguladora deverá observar, em suas atividades, a devida
adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior
àquela necessária ao atendimento do interesse público.
Eventuais conflitos existentes se desencadeiam e são solucionados dentro da própria agência. Dessa forma,
qualquer revisão a ser feita em suas decisões exaure-se no âmbito interno. Em outras palavras, há uma
dificuldade de aceitação de recursos hierárquicos impróprios de decisões das agências reguladoras
A existência de recursos hierárquicos somente será possível caso a lei instituidora da agência permitir. Se for
omissa nesse ponto, é porque não é admissível o recurso hierárquico.
OBS: Parecer 51 da AGU – De acordo com esse parecer, que possui força normativa, o Ministro de Estado
pode modificar a decisão de uma agência reguladora, seja de ofício ou por recurso hierárquico impróprio.
Contudo, isso só será possível se houver uma ilegalidade na conduta do dirigente ou se a decisão se afastasse
das políticas públicas do Estado.
Enunciado 25 do CJF: A ausência de tutela a que se refere o art. 3º, caput, da Lei 13.848/2019 impede a
interposição de recurso hierárquico impróprio contra decisões finais proferidas pela diretoria colegiada das
agências reguladoras, ressalvados os casos de previsão legal expressa e assegurada, em todo caso, a
apreciação judicial, em atenção ao disposto no art. 5º, XXXV, da Constituição Federal.
A partir daqui, vamos estudar os pontos mais profundos das Agências Reguladoras, bem como as
novidades legislativas.
Poder Regulatório
O poder regulatório das agências reguladoras abrange a atividade do fomento, do poder de polícia, assim
como a função adjudicatória (soluções de conflitos). De acordo com Carvalho Filho1, o poder regulatório
incidiria sobre dois setores: os serviços públicos (energia elétrica, água) e algumas atividades econômicas
privadas e relevância social (produção e comercialização de medicamentos).
Poder Regulatório é diferente de Poder Regulamentar. Este se refere a especificações feitas em situações
genéricas previstas em lei. Ademais, é de competência privativa do chefe do Poder Executivo, nos termos do
art. 84, IV da CR/88.
OBS: Poder Normativo Técnico – Deslegalização (deslegificação) – Por este poder, as agências reguladoras
recebem de suas leis instituidoras delegação para editar normas técnicas, de maneira a complementar a
legislação. Ocorre, na verdade, um fenômeno de uma matéria, que era tratada por lei, passar a ser tratada
por ato administrativo. A deslegalização é aceita pelo STF. Veja o exemplo:
LEI A estabelece uma altura mínima de 10 andares para a instalação de antenas. LEI B (posterior a lei A)
estabelece que a altura mínima será prevista em Resolução da ANATEL. A resolução, por sua vez, prevê a
altura mínima de 15 andares para instalar antenas. Nessa situação ocorreu a chamada deslegalização.
Violou a ordem pública por não caber ao Judiciário interferir na definição de tarifas. Além disso, entendeu
que impedir o reajuste ofenderia a ordem econômica, por não haver dotação orçamentária para custear as
vultosas despesas para manter o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos administrativos firmados
com as empresas concessionárias
Frise-se que a legalidade estrita pressupõe a legitimidade do ato administrativo praticado pelo Poder Público,
até prova definitiva em contrário – mormente nos casos em que houver, por parte da Fazenda estadual,
esclarecimento de que a metodologia adotada para fixação dos preços era técnica.
Segundo a doutrina Chenery – a qual reconheceu o caráter político da atuação da Administração Pública dos
Estados Unidos da América –, as cortes judiciais estão impedidas de adotarem fundamentos diversos
daqueles que o Poder Executivo abraçaria, notadamente nas questões técnicas e complexas, em que os
tribunais não têm a expertise para concluir se os critérios adotados pela Administração são corretos.
Teoria da Captura
A teoria da captura consiste em uma falha de governo, pela qual há a quebra da independência e da
autonomia das agências reguladoras, de modo que passam a favorecer os entes regulados, que são
1 CARVALHO FILHO, José Santos. Manual de Direito Administrativo. 26ª ed. rev. ampl. atual. São Paulo: Atlas, 2012, p. 479.
economicamente mais fortes. O que se quer dizer é que os entes regulados capturam as agências reguladoras
no intuito de proteger os seus interesses.
É possível que a captura ocorra também pelo próprio setor público, em razão de decisões políticas que
influenciam na atividade regulada, levando a quebra da independência e autonomia da agência reguladora.
O poder hierárquico é o poder de escalonar as funções entre seus órgãos, e agentes da mesma entidade. O
objetivo desse poder é organizar a função administrativa, de maneira a permitir a atuação isonômica e
hierarquizada dos agentes púbicos.
O poder hierárquico também possibilita, em razão da hierarquia formada, ordenar e rever a atuação dos
agentes de determinado órgão.
O poder estudado não tem o poder de punir nenhum servidor ou particular submetido ao vínculo
administrativo. Essa prerrogativa decorre do poder disciplinar.
OBS: No âmbito do Poder Judiciário e Legislativo, não existe hierarquia, no sentido de relação de
coordenação e subordinação, no que diz respeito às suas funções judicantes e às legislativas. Observe
que, em relação a esses poderes, a hierarquia acontece apenas na sua função administrativa.
I – Poder de Comando
O poder de comando, decorrente do poder hierárquico, consiste no comando em que os órgãos e agentes
superiores exercem sobre os de hierarquia inferior. Observe que o os órgãos e agentes de hierarquia inferior
possuem o dever de obediência em cumprir as determinações superiores, salvo de manifestamente ilegais.2
II – Poder de Fiscalização
2 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012. p. 96
Este poder consagra a possibilidade dos atos dos agentes públicos serem revistos por uma autoridade.
Observe que a revisão desses atos pode ocorrer por meio das anulações (ato ilegal) ou por revogação (atos
inoportunos ou inconvenientes), seja de ofício, seja mediante provocação dos interessados. Neste último
caso, tem-se os chamados recursos hierárquicos.3
O recurso hierárquico pode ser próprio ou impróprio. Aquele consiste na revisão do ato pela autoridade
hierarquicamente superior àquela que praticou o ato. Por sua vez, este consiste na revisão do ato por uma
autoridade que não é hierarquicamente superior ao agente emissor do ato. Na verdade, a autoridade que
irá rever o ato não se encontra na mesma estrutura funcional que o agente que praticou o ato.
Por sua vez, o poder de avocação é o inverso da delegação. Em outras palavras, na avocação o agente
hierarquicamente superior chama para si atribuições do agente hierarquicamente inferior.
Caso haja um conflito positivo, isto é, dois ou mais agentes que se acham competentes para a prática do ato,
ou um conflito negativo, ou seja, dois ou mais agentes que se acham incompetentes, a autoridade superior
tem a prerrogativa de estabelecer qual é o agente competente.
Quando da edição do Código Civil de 1916, a sociedade era essencialmente conservadora, patriarcal e
moralista, eis que apenas considerava-se entidade familiar legítima aquela advinda da união, por meio do
casamento, entre homem e mulher.
À época, conceitos à revelia da regra da família matrimonial não eram reconhecidos como entidade familiar,
a exemplo de mães ou de pais solteiros ou separados, de filhos havidos fora do casamento ou, ainda, a união
estável hetero ou homoafetiva, entre duas pessoas, com o intuito de constituir família.
3
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 25ª ed São Paulo: Atlas, 2012. p .96
Neste cenário, portanto, é que foi editado e promulgado o Código Civil de 1916, que protegeu e reconheceu
como entidade familiar somente o casamento entre homem e mulher.
No tocante ao instituto das sucessões, conferia-se aos cônjuges o direito de herança apenas na falta de
descendentes e de ascendentes do de cujus. No caso de concubinato (união estável), a concubina4 poderia,
apenas, ser herdeira testamentária se o testador não fosse casado (artigo 1.719, inciso III, do Código Civil de
19165).
Em virtude da natural evolução da sociedade, o concubinato (então assimilado à ideia união estável) passou
a ser paulatinamente admitido pela doutrina e pela jurisprudência, sendo que algumas modificações sobre
o tema foram observadas:
a) O Supremo Tribunal Federal editou a súmula 35, que conferiu o direito à indenização decorrente da morte
do concubino em acidente de trabalho ou de transporte, contanto que não houvesse entre os concubinos
impedimentos para o matrimônio6;
c) foi editada a súmula 380 do STF, que previa ao concubinato a possibilidade de dissolução judicial e partilha
do patrimônio adquirido pelo esforço comum, desde que comprovada a existência de sociedade de fato
entre homem e mulher (como se casados fossem)7;
d) a jurisprudência previa à concubina, ainda que não houvesse a aquisição de patrimônio pelo esforço em
comum, o direito de indenização “pelos serviços prestados”, ou seja, uma indenização pelos serviços
domésticos prestados, como uma remuneração pelo longo tempo em convívio 8;
e) os Tribunais pacificaram que com a morte do companheiro, depois de comprovada a sociedade de fato, o
sobrevivente pediria sua quota-parte nos bens e direitos adquiridos com sua cooperação física e moral.
4
O dispositivo se referia somente à pessoa do sexo feminino como concubina.
5
Art. 1.719. Não podem também ser nomeados herdeiros, nem legatários:
(...)
6
https://www.ibdfam.org.br/artigos/435/A+Sucess%C3%A3o+do+Companheiro+Sobrevivente. Acesso em: 10/10/2020.
7
Idem.
8
https://www.ibdfam.org.br/artigos/435/A+Sucess%C3%A3o+do+Companheiro+Sobrevivente
Como consequência de todas as mudanças vivenciadas pela sociedade e, igualmente, pelos recorrentes
entendimentos manifestados pela doutrina e jurisprudência majoritárias, a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 reconheceu a figura da união estável como entidade familiar:
(...)
§3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e mulher
como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.
Neste diapasão, foram criadas a Lei nº 8.971/1994 e a Lei nº 9.278/1996. A primeira conferiu ao companheiro
o direito a alimentos e à sucessão, enquanto a segunda, com o objetivo de regular o parágrafo 3º do artigo
226 da Constituição, previu ao companheiro o direito real de habitação em condições muito semelhantes às
dos cônjuges.
III - A abordagem da união estável pelo Código Civil de 2002 e a inconstitucionalidade do artigo 1.790
Em que pese ter sido a união estável elevada ao patamar de entidade familiar pelo Direito Brasileiro,
inúmeras diferenciações e desigualdades entre esta e o casamento continuaram a existir, de modo a fornecer
ao modelo tradicional de família maior proteção legal e legitimidade.
O Código Civil de 2002 não manteve a evolução sobre o tema e representou profundo retrocesso ao
estabelecer inúmeras divergências entre a união estável e o casamento, mormente ao dispor sobre a
sucessão dos companheiros e cônjuges.
Nessa ambiência, enquanto a figura do cônjuge passou a ser incluída no rol de herdeiros necessários, o artigo
1.790, que regulamentava a união estável, determinou em seu inciso III que o companheiro não
permaneceria com a totalidade da herança enquanto existissem colaterais (em não havendo descendentes
ou ascendentes), caso em que concorreria com estes e teria direito a apenas 1/3 da integralidade9. O direito
à herança inteira somente seria conferido ao companheiro quando não houvesse parentes sucessíveis. Da
mesma forma, o companheiro sobrevivente participaria na sucessão do de cujus tão somente quanto aos
bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável10.
9
https://ambitojuridico.com.br/edicoes/revista-128/a-diferenca-sucessoria-entre-conjuge-e-companheiro-a-luz-do-principio-
constitucional-da-igualdade-entre-as-entidades-familiares-e-da-dignidade-da-pessoa-humana/. Acesso em 10/10/2020.
10
Não integralizando o patrimônio adquirido a título gratuito e por fato eventual na constância da união estável, assim como os
bens particulares do falecido, adquiridos antes da união estável.
Além disso, pela literalidade dos incisos I e II o dispositivo também diferencia o tratamento conferido aos
filhos comuns ao casal e aqueles somente do autor da herança, fixando quotas diferentes para cada um, a
depender dos casos.
Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens
adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:
I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for
atribuída ao filho;
III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;
O avanço representado pelas Leis nº 8.971/94 e nº 9.278/96 foi ceifado pelo legislador, que também deixou
de abarcar o companheiro supérstite no direito real de habitação, mas conferiu tal proteção ao cônjuge.
Sobre o tema, a doutrina muito divergiu não apenas sobre a revogação ou manutenção das leis acima
mencionadas, como também pela inconstitucionalidade do artigo 1.790 do Código Civil, em virtude das
desvantagens conferidas ao companheiro quanto à sucessão.
A tese adotada pela corrente favorável à declaração de inconstitucionalidade do dispositivo afirmava que,
uma vez reconhecida a união estável como entidade familiar pela Constituição Federal, seria inadmissível
qualquer hierarquia entre esta e o casamento, o que feriria os princípios constitucionais da igualdade, da
dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade (quanto à modalidade de proibição à proteção
deficiente) e o princípio da vedação ao retrocesso11.
O tema foi, então, apreciado pelo Supremo Tribunal Federal, que em sede de recurso extraordinário
submetido à repercussão geral, fixou a tese: “No sistema constitucional vigente, é inconstitucional a
diferenciação de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os
casos, o regime estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil”12.
Com a declaração de inconstitucionalidade do artigo 1.790, o companheiro foi, enfim, alçado à condição de
herdeiro necessário.
11
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2017/06/info-864-stf.pdf. Acesso em: 10/10/2020.
12
STF. Plenário. RE 646721/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso e RE 878694/MG, Rel. Min. Roberto
Barroso, julgados em 10/5/2017
Sabe-se que o pensionamento alimentar se baseia na solidariedade familiar. Da família, enquanto base da
sociedade (art. 226 da Constituição Federal), dimana um plexo de direitos e de deveres amparado pela
solidariedade, do qual a assistência material é parte integrante.
Já tivemos oportunidade de analisar a temática em ocasiões passadas. Porém, tema de substancial relevância
e que demanda especial atenção é o pensionamento a pessoas maiores de idade. Deve-se, sempre, estar
alinhado ao perfil Constitucional do Ministério Público, pelo que os direitos individuais indisponíveis, como
no caso de pessoas adultas em estado de extrema necessidade, são tutelados pela Instituição – e,
obviamente, refletem em matérias com alta cobrança nos concursos à Carreira.
De ordinário, temos que os pais devem os alimentos aos filhos, enquanto menores. Ao atingir a idade de 18
anos, as hipóteses de manutenção da prestação são restritas e variam de fundamento: ora são previstas em
lei e ora em jurisprudência.
Por primeiro, saliente-se que a pessoa adulta deve prover suas necessidades por seu trabalho idôneo. A
capacidade de autossustento é presumida pelo ordenamento jurídico. Assim, o adulto deve empenhar-se à
sua mantença, independentemente de assistência familiar. O mero desemprego (ausência de ocupação
formal) não é idôneo à postulação de alimentos – nem tampouco para escusar-se o devedor dos alimentos
da obrigação de adimplir a prestação.
Ademais, frise-se que não há extinção automática do pensionamento com o simples atingimento da
maioridade. Confira-se:
A obrigação alimentar do pai em relação aos filhos não cessa automaticamente com o advento
da maioridade, a partir da qual subsiste o dever de assistência fundada no parentesco sanguíneo,
devendo ser dada a oportunidade ao alimentando de comprovar a impossibilidade de prover a
própria subsistência ou a necessidade da pensão por frequentar curso técnico ou universitário.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp n. 970461/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
27/2/2018.
O primeiro fato gerador da permanência da pensão alimentícia aos maiores de idade é o estudo. A instrução
formal é pilar da República e expressa a cidadania, porque liga-se ao desenvolvimento integral da pessoa e
ao progresso nacional. Por isso, os pais não se eximem do dever de prover o sustento da pessoa que
prossegue em seus estudos ao atingir a maioridade.
Por instrução formal, apta à permanência do pensionamento, convencionou-se que engloba não apenas a
formação superior, como também o curso técnico-profissional. Enquanto os filhos frequentarem os
respectivos estabelecimentos educacionais, serão pensionados pelos pais, a fim de garantir a permanência
Não há, entretanto, dever alimentar dos pais em relação àqueles que prosseguem em pós-graduação em
sentido amplo:
3. Porém, o estímulo à qualificação profissional dos filhos não pode ser imposto aos pais de forma
perene, sob pena de subverter o instituto da obrigação alimentar oriunda das relações de
parentesco, que tem por objetivo, tão só, preservar as condições mínimas de sobrevida do
alimentado.
(REsp 1218510/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 27/09/2011).
Observamos, de outro lado, que, com relação ao direito dos filhos maiores pedirem alimentos
aos pais, não é o poder familiar que o determina, mas a relação de parentesco, que predomina e
acarreta a responsabilidade alimentícia. Com relação aos filhos que atingem a maioridade, a ideia
que deve preponderar é que os alimentos cessam com ela. Entende-se, porém, que a pensão
poderá distender-se por mais algum tempo, até que o filho complete os estudos superiores ou
profissionalizantes, com idade razoável, e possa prover a própria subsistência.
Nesse sentido, o art. 1.694 do presente Código sublinha que os alimentos devem atender,
inclusive, às necessidades de educação. Tem-se entendido que, por aplicação do entendimento
fiscal quanto à dependência para o Imposto de renda, que o pensionamento deva ir até os 24
anos de idade13.
Sabe-se que se considera pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (Lei nº
13.146/15, art. 2º).
Entretanto, ao debruçar sobre a temática da pessoa incapaz que completa a maioridade, a jurisprudência
alinhou-se à presunção de necessidade, pelo que o ônus de demonstrar a ausência de dever alimentar é do
alimentante. Confira-se:
Mesmo que haja variações positivas nos rendimentos do alimentado - in casu, recebimento de
Benefício de Prestação Continuada - se o valor auferido não é suficiente para o suprimento das
necessidades básicas de filho com doença mental, mantém-se a obrigação alimentar.
(REsp 1642323/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 28/03/2017,
DJe 30/03/2017)
É bem verdade que o julgado acima refere-se apenas à doença mental. Entretanto, por identidade de razão,
o deficiente físico, se impossibilitado de prover a própria subsistência, tal qual o mental, terá a presunção ao
seu favor.
13
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito de Família. 12ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 381-382.
Pode-se concluir, portanto, que o direito à prestação alimentar ao maior incapaz não se extingue
automaticamente com o simples advento dos 18 anos; ao revés, será mantida e o ônus de demonstrar que,
por algum meio, o incapaz consegue prover a sua existência – e, assim, não mais necessita do pensionamento
– é do alimentante.
A dignidade da pessoa humana é conceito aberto e exige a interlocução com os meios de vida e com as
crenças de cada indivíduo – fatores sociais e pessoais. Não se pode formular uma categorização única do
referido postulado, pelo que o seu caráter personalíssimo é axioma a ser considerado na sua hermenêutica.
É neste espírito que o bem de família encontra amparo direto na dignidade da pessoa humana. A
patrimonialização do bem-estar humano é fenômeno indissociável da vida moderna. Não há dignidade se a
pessoa não reunir condições materiais mínimas – sem o que haverá a pecha da marginalização.
A ideia acima trabalhada alinha-se ao Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo, trabalhado, com maestria na
obra de Teori Zavascki, com denominação homônima.
Assim é que se pode afirmar ser o bem de família instrumento de proteção do mínimo existencial material
da pessoa humana. Por meio dele, tutela-se o substrato que o indivíduo necessita para a sua dignidade, de
modo a evitar que a insolvência civil lhe empurre à ruína e marginalize-o, a si e à sua família, em relação aos
quais dele dependam.
O ordenamento jurídico pátrio contempla a teoria dualista acerca do bem de família. Pode ele, pois, ser
instituído de forma legal (Lei nº 8.009/90) ou convencional (art. 1.711 e ss. do Código Civil).
Liga-se a proteção prioritariamente ao bem imóvel em que a pessoa resida, ou que lhe proporciona frutos
para que resida em outro imóvel que haja locado: é impenhorável o único imóvel residencial do devedor que
esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou a
moradia da sua família (súmula 486 do STJ).
O bem de família legal implica a impenhorabilidade do imóvel residencial próprio do casal, do indivíduo ou
da entidade familiar, o qual não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária
ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele
residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se
assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos,
inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados (art. 1º da Lei
8.009/90).
A pessoa que não seja proprietária de bem imóvel gozará de símile tutela em relação aos bens móveis
quitados que guarneçam a residência e que sejam da propriedade do locatário.
Destaque-se proteção legal conferida ao imóvel é norma de ordem pública, não passível de renúncia e
permissiva de cognição oficiosa pelo juízo.
O art. 2º, caput, da Lei nº 8.009/90 dispõe que se excluem da impenhorabilidade os veículos de transporte,
obras de arte e adornos suntuosos. Em uma visão sistêmica, pela exclusão dos veículos, pode-se sustentar
que a vaga de garagem não goza da proteção conferida ao imóvel. Neste sentido: a vaga de garagem que
possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora (súmula
449 do STJ).
A Lei também elenca outras hipóteses excludentes da proteção familiar. São elas:
V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar;
VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
Em compasso com a boa-fé, a aquisição maliciosa de imóvel, com a finalidade de blindagem patrimonial
ilícita, afastará a impenhorabilidade legal (art. 4º).
Ademais, na pluralidade de imóveis residenciais, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo
estipulação em contrário, por meio do bem de família convencional, regulamentado pelo Código Civil.
Vale ressaltar que o bem de família legal é retroativo e incide às penhoras realizadas antes de sua vigência
(súmula 205 do STJ).
A seu turno, o bem de família convencional se assenta no Código Civil, que prevê que podem os cônjuges, ou
a entidade familiar, mediante escritura pública ou testamento, destinar parte de seu patrimônio para instituir
bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição
(alta incidência em provas objetivas), mantidas as regras sobre a impenhorabilidade do imóvel residencial
estabelecida em lei especial (art. 1.711). Independentemente da forma de instituição (escritura pública,
doação – no caso de terceiro – ou testamento), sempre dependerá de registro.
O objeto do bem de família convencional é prédio residencial urbano ou rural, com suas pertenças e
acessórios, destinando-se em ambos os casos a domicílio familiar, e poderá abranger valores mobiliários
(frutos civis, a exemplo da locação), cuja renda será aplicada na conservação do imóvel e no sustento da
família. O valor da renda não poderá exceder o do prédio – pena de excussão do que sobejar.
A instituição do bem de família poderá ser realizada, ainda, por terceiro, por testamento ou doação. A
eficácia da instituição dependerá, entretanto, de aceitação expressa da entidade familiar ou de ambos os
cônjuges beneficiados.
No caso de execução pelas dívidas referidas, o saldo existente será aplicado em outro prédio, como bem de
família, ou em títulos da dívida pública, para sustento familiar, salvo se motivos relevantes aconselharem
outra solução, a critério do juiz.
Instituído – e registrado – o bem de família, a sua alienação exige autorização judicial, ouvido o Ministério
Público. É o que dispõe o art. 1.717 do Código Civil: o prédio e os valores mobiliários, constituídos como bem
da família, não podem ter destino diverso do domicílio familiar ou serem alienados sem o consentimento dos
interessados e seus representantes legais, ouvido o Ministério Público.
A administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, quando for o caso. O dissenso será
resolvido pelo juízo e, em caso de falecimento de ambos, ao filho mais velho competirá a administração,
salvo se menor, caso em que o tutor será o responsável.
Permite-se a alienação, desde que haja o consentimento dos interessados, ouvido o Ministério Público,
autorizado pelo juízo.
A extinção ou a sub-rogação do bem de família convencional será determinada pelo juízo, a requerimento,
ouvido o Parquet, quando impossível a manutenção do imóvel.
A dissolução do casamento não extingue o bem de família. Entretanto, extingue-se o bem de família com a
morte de ambos os cônjuges e a maioridade dos filhos, desde que não sujeitos a curatela (art. 1.722 do Código
Civil).
Por fim, saliente-se que a temática do bem de família, especialmente as hipóteses em que se relativiza a sua
proteção, possui vastidão de posicionamentos jurisprudenciais. Para a sua melhor compreensão, haja vista
a importância para as etapas do certame para a carreira do MP, apresenta-se compilado com os principais
entendimentos jurisprudenciais sobre a matéria.
O proprietário que aceita que seu bem de família sirva como garantia de um contrato de alienação
fiduciária em garantia não pode, posteriormente, alegar que esse ato de disposição foi ilegal: a proteção
legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia do devedor ao
privilégio, pois é princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada. A despeito disso, o bem
de família legal não gera inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique atos de disposição
dele, podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia. A utilização abusiva
do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto, não deve ser tolerada.
Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de família que exerce o direito em
desconformidade com o ordenamento jurídico. STJ. 4ª Turma. REsp 1595832-SC, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 29/10/2019 (Info 664).
Impenhorabilidade e dação do imóvel em garantia para locação comercial: não é penhorável o bem de
família do fiador no caso de contratos de locação comercial. Em outras palavras, não é possível a penhora de
bem de família do fiador em contexto de locação comercial. STF. 1ª Turma. RE 605709/SP, Rel. Min. Dias
Toffoli, red. p/ ac. Min. Rosa Weber, julgado em 12/6/2018 (Info 906).
Obs: se a garantia se referir a locação residencial, o imóvel se torna penhorável (súmula 549 do STJ).
Imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do seu valor econômico, da
proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 aos bens de família: o simples fato de o imóvel ser de luxo ou de
elevado valor, por si só, não afasta a proteção prevista na Lei nº 8.009/90. Assim, prevalece a proteção legal
ao bem de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode fazer uma releitura da lei a fim
de excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de elevado valor. STJ. 3ª Turma.
AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018. STJ. 3ª Turma. REsp
1.482.724/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/11/2017. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1669123/RS,
Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018. STJ. 4ª
Turma. AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.
Bem de família dado em garantia hipotecária: o bem de família é impenhorável quando for dado em
garantia real de dívida por um dos sócios da pessoa jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o
proveito se reverteu à entidade familiar. Por outro lado, o bem de família é penhorável quando os únicos
sócios da empresa devedora são os titulares do imóvel hipotecado, sendo ônus dos proprietários a
demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos. Assim, é possível a penhora de bem de
família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os únicos sócios da pessoa jurídica
devedora. STJ. 2ª Seção. EAREsp 848498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/04/2018 (Info 627).
Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do
direito de propriedade, violação da boa-fé objetiva e fraude à execução: a regra de impenhorabilidade do
bem de família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio da boa-fé objetiva, que,
além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as normas do sistema
jurídico pátrio. Assim, se ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados,
em evidente abuso de direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver,
tolerar e premiar a atuação dos devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva. STJ. 3ª Turma. REsp
1575243/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/03/2018. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 510970/SC,
Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado em 18/04/2018.
Penhora do bem de família para pagamento de dívidas de pensão decorrente de vínculo familiar ou de
indenização por ato ilícito: bem de família pode ser penhorado para pagar débitos relativos à pensão
alimentícia. Esses débitos de pensão alimentícia podem ser decorrentes de relações familiares, como também
os alimentos devidos em razão de obrigação de reparar danos (obrigação oriunda de ato ilícito). Assim, a
impenhorabilidade do bem de família não pode ser oposta pelo devedor ao credor de pensão alimentícia
decorrente de indenização por ato ilícito. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1619189/SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 25/10/2016.
Impenhorabilidade do único imóvel comercial do devedor que esteja alugado: STJ. 2ª Turma. REsp
1616475-PE, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 15/9/2016 (Info 591).
Impossibilidade de renúncia do bem de família, em razão do caráter público das normas que dispõem
sobre o instituto: STJ. 3ª Turma. AgRg nos EDcl no REsp 1463694/MS, Rel. Min. João Otávio de Noronha,
julgado em 06/08/2015.
Possibilidade de penhora do bem de família instituído de má-fé: STJ. 3ª Turma. REsp 1461301-MT, Rel.
Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/3/2015 (Info 558).
Impenhorabilidade do único imóvel do indivíduo, ainda que habitado por outro familiar: STJ. 2ª Seção.
EREsp 1216187-SC, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado em 14/5/2014 (Info 543).
Residência por uma única pessoa e proteção legal: Súmula 364 STJ - o conceito de impenhorabilidade de
bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas*.
O processo civil se presta à solução do litígio social, por meio do desenvolvimento válido e regular de atos
concatenados à solução de mérito da demanda. Assim, determina-se a pertinência subjetiva do bem da vida
e viabiliza-se a pacificação social.
Isto é, em uma ação de indenização por dano material, a sentença procedente – obrigação de pagar – pode
não ser cumprida espontaneamente pelo devedor. Neste caso, a pretensão seguirá resistida e o
cumprimento de sentença é o instrumento idôneo à cobrança judicial do quantum fixado.
Destaque-se que o cumprimento de sentença não se dá em processo autônomo: constitui mera fase
procedimental, subsequente ao conhecimento, no qual o provimento será fixado. Trata-se, pois, do processo
sincrético.
É no cumprimento de sentença que, após iniciado, haverá nova oportunidade do executado de apresentar
eventuais irresignações que porventura justifiquem o não cumprimento do provimento que lhe obrigara a
alguma prestação – ou não prestação, como nas obrigações de não fazer.
A insurgência do executado, em regra, deve ser apresentada por meio de impugnação ao cumprimento de
sentença, prevista no art. 525 do Código de Processo Civil:
Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo
de 15 (quinze) dias para que o executado, independentemente de penhora ou nova intimação,
apresente, nos próprios autos, sua impugnação.
II - ilegitimidade de parte;
14
Provimentos satisfativos não exigem qualquer providência para a sua concreção. É o exemplo da ação desconstitutiva de relação
jurídica: procedente, por si só, não mais há relação jurídica.
É consabido que o provimento jurisdicional deve alinhar-se ao ordenamento jurídico, sob pena de esvaziar a
sua eficácia.
A sentença que resolva o mérito processual e careça de execução, portanto, deve ser hígida à sua satisfação
coercitiva. Acaso detenha vícios, poderá haver a perda de sua exequibilidade, seja por meio da ação
rescisória, seja por meio da impugnação.
Assim é que o art. 525, § 2º, inciso III, segunda parte, prevê que a inexigibilidade do título é vício idôneo a
macular o cumprimento de sentença. Inexigível é o título que não possui um dos requisitos à excussão (art.
783 do CPC), sob o crivo do direito material.
E, pois, a inconstitucionalidade é matéria elegível pela codificação como hábil a tornar o título inexigível.
Aqui, vale delimitar a inconstitucionalidade apta a ser alegada em impugnação e aquela dedutível em ação
rescisória. Em linha de princípio, assente-se que a inconstitucionalidade posterior ao trânsito em julgado é
vício rescisório, ao passo que a anterior dá azo à impugnação. Não por outro motivo, a decisão do Supremo
Tribunal Federal referida no § 12 deve ser anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda; e se a
decisão referida no § 12 for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, caberá ação
rescisória, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal
(transcrição do art. 525).
Ao prever que se considera também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado
em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível
com a Constituição Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso, o legislador fixa
importante – e polêmico – dogma, qual seja: a decisão de inconstitucionalidade do STF, ainda que em
controle difuso, irradia efeitos erga omnes, ao menos no que toca à possibilidade de incidir no cumprimento
de sentença como matéria de impugnação.
A descrição ampla do dispositivo vem para esclarecer diversas dúvidas decorrentes da mais
acanhada redação do § 1º do art. 475-L do CPC de 1973. Chama a atenção, no particular, que
também as decisões proferidas pelo STF no controle difuso da constitucionalidade possam
ensejar a inexigibilidade da obrigação, a despeito de não terem, de acordo com o “modelo
constitucional”, efeitos vinculantes. E pior: independentemente de Resolução do Senado Federal
que retire a norma jurídica declarada inconstitucional por aquele método do ordenamento
jurídico. Esta específica previsão, destarte, é inconstitucional, por atritar com o § 2º do art. 102,
da CF e também com o inciso X de seu art. 52, respectivamente15.
Ademais, em prestígio à segurança jurídica, prevê o CPC que, no âmbito da decisão de inconstitucionalidade
que ocasiona a inexigibilidade do título, os efeitos da decisão do Supremo Tribunal Federal poderão ser
modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica.
A divergência, no ponto, é a atribuição para levar a efeito a modulação dos efeitos. Se, por um lado, há os
que defendam que compete ao juiz a referida incumbência, outro viés doutrinário sustenta que a modulação
é de competência exclusiva do órgão prolator da decisão – o STF.
O § 13 do art. 525 admite que, nos casos do § 12, os efeitos da decisão do STF sobre a
inconstitucionalidade sejam “modulados no tempo, em atenção à segurança jurídica”. A regra
para trazer algo de novo deve ser interpretada no sentido de que é o juízo que conhecerá e
julgará a impugnação que deverá fazer a modulação sempre que o STF, a despeito da expressa
autorização constante do art. 27 da Lei n. 9.868/1999, não a fizer. Quando menos, que o § 13
está a autorizar, expressamente, que o STF possa também modular os efeitos da
inconstitucionalidade no controle incidental de inconstitucionalidade, providência não alcançada
pelo precitado art. 27 da Lei n. 9.868/1999, restrita ao controle concentrado. Pode acontecer de
a modulação afastar do caso concreto a incidência da inconstitucionalidade reconhecida pelo
STF, justamente para preservar a segurança jurídica16.
15
SCARPINELLA, Cassio Bueno. Direito Processual Civil. Vol. Único. Pág. 862. Ed. Saraiva. 2019.
16
Idem. Ibidem.
O processo civil contemporâneo exige o ponto ótimo de efetividade e não compactua com a morosidade.
Almeja-se a solução agilizada do litígio, pelo que incumbe ao legislador a previsão de instrumentos aptos ao
alcance da celeridade processual.
As tutelas provisórias, antecipadas e cautelares, atendem ao ideal de efetividade processual ágil. Servem,
pois, à antecipação do provimento final ou ao acautelamento do objeto litigado, sempre em momento
anterior ao trânsito em julgado do provimento jurisdicional.
Previamente ao processo de conhecimento de cognição exauriente (as ações ordinárias), pode o autor
intentar uma tutela antecipada antecedente, com a postulação de provimento, em caráter precário (essência
das tutelas provisórias), que apenas seria obtido ao final do processo regular.
É o que prevê o art. 303 do CPC: nos casos em que a urgência for contemporânea à propositura da ação, a
petição inicial pode limitar-se ao requerimento da tutela antecipada e à indicação do pedido de tutela final,
com a exposição da lide, do direito que se busca realizar e do perigo de dano ou do risco ao resultado útil do
processo.
Pois bem.
O art. 304 prevê que a tutela antecipada, concedida nos termos do art. 303, torna-se estável se da decisão
que a conceder não for interposto o respectivo recurso.
Nota-se, portanto, que, seguido o rito da provisória em apreço, se da decisão concessiva o réu não apresentar
o devido recurso, o provimento se estabilizará.
No ponto, deve-se ter conhecimento de que há divergência no STJ acerca da abrangência do termo recurso.
É dizer, enquanto a 1ª Turma do sodalício compreende que apenas o agravo de instrumento é apto a afastar
a estabilidade (STJ. 1ª Turma. REsp 1797365-RS, Red. acórdão Min(a). Regina Helena Costa, julgado em
03/10/2019), a 3ª Turma compreende que, por recurso, deve-se entender qualquer meio de irresignação do
réu. Não se trata de exigência de recurso, na essência do termo; a mera apresentação de contestação já é
suficiente para ilidir os efeitos da estabilização (STJ. 3ª Turma. REsp 1760966-SP, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, julgado em 04/12/2018).
A estabilização consiste em característica até então estranha aos provimentos provisórios, que é,
justamente, a atenuação da precariedade – compreendida como a possibilidade de reversão a qualquer
tempo. Trata-se da consolidação de uma técnica monitória de contraditório eventual.
Isso porque, estável a decisão concedente da tutela antecipada antecedente, apenas será possível a sua
revisão por meio de ação própria que questione o teor da tutela concedida, nos termos do art. 304, § 2º.
Enquanto não intentada a ação e revertido o provimento, a medida conservará seus efeitos (§ 3º).
O prazo de ajuizamento da ação é de dois anos e tem como termo inicial a extinção do processo em que a
tutela antecipada antecedente fora deduzida – art. 304, § 1º.
Não bastasse, a legislação ainda estipulou prazo fatal para que a tutela seja revista: dois anos, findo o qual a
tutela aparenta não mais poder ser revista – isto é, será definitiva.
Entretanto, a doutrina não é maturada quanto à perpetuação do provimento. Neste sentido, a corrente que
defende a imutabilidade da decisão estabilizada após o prazo de dois anos pode ser ilustrada pelo enunciado
27 do ENFAM: não é cabível ação rescisória contra decisão estabilizada na forma do art. 304 do CPC/2015.
Porém, há segmento doutrinário que defende a possibilidade de ampliação sistêmica das hipóteses de
cabimento da ação rescisória, que passaria a não mais exigir, de maneira estanque, a coisa julgada como
pressuposto (abarcaria, também, a decisão estabilizada).
Em posicionamento que caminha para uma terceira corrente, Cassio Scarpinella diferencia a discussão dos
efeitos (limitada a dois anos após a estabilização) com a das razões da concessão da tutela, que se fulmina
apenas com a prescrição do direito material.
Assim, o prazo de dois anos referido no § 5º do art. 304 extingue o direito de os interessados
voltarem-se aos efeitos da tutela antecipada antecedente, revendo-os, reformando-os ou
invalidando-os. Por isso, trata-se de prazo decadencial, a fulminar aquele (e só aquele) direito. O
regime jurídico daquela demanda observará sua especificidade (procedimentos especiais) ou a
falta dela (procedimento comum), considerando que não há nenhuma regra específica a seu
respeito no art. 304.
Por fim, cabe anotar que há divergência acerca do cabimento da estabilização de decisões contrárias à
Fazenda Pública, já que, de regra, haveria a necessidade de remessa necessária à segunda instância – o que
17
SCARPINELLA, Cassio Bueno. Direito Processual Civil. Vol. Único. Págs. 493/494. Ed. Saraiva. 2019.
impediria a estabilização. Predomina, até o momento, que a remessa, no caso, não é necessária, já que se
trata de fenômeno apenas necessário aos casos aptos a gerar coisa julgada em detrimento da Fazenda
Pública. Ilustre-se este entendimento com a súmula 21 do TJMG: a Fazenda Pública se submete ao regime
de estabilização da tutela antecipada, por não se tratar de cognição exauriente sujeita a remessa necessária.
A teoria da imputação objetiva, desenvolvida por Roxin, trata, na verdade, de uma limitação à teoria da
conditio sine qua non (também conhecida como teoria dos equivalentes causais).
Apesar do nome, a aludida teoria não se confunde com a responsabilidade penal objetiva, pois a sua função
é, ao contrário, limitar a responsabilidade penal, evitando atribuição indevida e objetiva de um resultado
típico a alguém. Sua finalidade é, portanto, não imputar a conduta ao agente, sempre que se verificar que
houve a criação ou o incremento de um risco permitido ou tolerado pelo ordenamento jurídico.
Sob a ótica da teoria da imputação objetiva, o nexo causal não pode ser concebido, exclusivamente, de
acordo com a relação de causa e efeito, pois o Direito Penal não pode ser regido por uma lei da física. Assim,
além do elo naturalístico de causa e efeito, são necessários os seguintes requisitos: a criação de um risco
proibido e o resultado estar na mesma linha de desdobramento causal da conduta, ou seja, no seu âmbito
de risco.
Com a imputação objetiva, toda vez que o agente realizar um comportamento socialmente padronizado,
normal, socialmente adequado e esperado, desempenhando normalmente seu papel social, estará gerando
um risco permitido, não podendo ser considerado causador de nenhum resultado proibido.
1. Afirmar na denúncia que "a vítima foi jogada dentro da piscina por seus colegas, assim como
tantos outros que estavam presentes, ocasionando seu óbito" não atende satisfatoriamente aos
requisitos do art. 41 do Código de Processo Penal, uma vez que, segundo o referido dispositivo
legal, "A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas".
3. Por outro lado, narrando a denúncia que a vítima afogou-se em virtude da ingestão de
substâncias psicotrópicas, o que caracteriza uma autocolocação em risco, excludente da
responsabilidade criminal, ausente o nexo causal.
4. Ainda que se admita a existência de relação de causalidade entre a conduta dos acusados e a
morte da vítima, à luz da teoria da imputação objetiva, necessária é a demonstração da criação
pelos agentes de uma situação de risco não permitido, não-ocorrente, na hipótese, porquanto é
inviável exigir de uma Comissão de Formatura um rigor na fiscalização das substâncias ingeridas
por todos os participantes de uma festa.
6. Ordem concedida para trancar a ação penal, por atipicidade da conduta, em razão da ausência
de previsibilidade, de nexo de causalidade e de criação de um risco não permitido, em relação a
todos os denunciados, por força do disposto no art. 580 do Código de Processo Penal.
(HC 46.525/MT, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em 21/03/2006,
DJ 10/04/2006, p. 245)
Veja como o tema foi cobrado no concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás, em
2019:
(2019/MPE-GO/Promotor de Justiça)
A respeito da teoria da imputação objetiva, na concepção de Claus Roxin, assinale a alternativa incorreta:
A A teoria da imputação objetiva, em sua forma mais simplificada, aduz que um resultado causado pelo
agente só deve ser imputado como sua obra e preenche o tipo objetivo unicamente quando o
comportamento do autor cria um risco não permitido para o objeto da ação , quando o risco se realiza no
resultado concreto e este resultado se encontra dentro do alcance do tipo.
B Considere o seguinte exemplo : " A " deseja provocar a morte de " B " e , para isso , " A " o aconselha a
fazer uma viagem á Flórida , pois leu que lá , ultimamente , vários turistas têm sido assassinados . " A " planeja
que também " B " tenha esse destino . " B " , que nada ouviu sobre os casos de assassinato na Flórida , faz a
viagem de férias e de fato é vítima de um delito e homicídio . " A " deve responder pelo homicídio , pois sua
conduta acabou incentivando " B " a fazer a viagem , criando , assim , um risco não permitido ( no caso , criou
um perigo de morte juridicamente relevante ) .
C Ações que diminuam risco não são imputáveis ao tipo objetivo, apesar de serem causa do resultado em
sua forma concreta e de estarem abrangidas pela consciência do sujeito. Assim, quem convence o ladrão a
furtar não mil reais, mas somente cem reais, não é punível por participação no furto, pois sua conduta não
elevou, mas diminuiu o risco da lesão.
D Imagine a seguinte a hipótese: dois ciclistas passeiam um atrás do outro, no escuro, sem estarem com as
bicicletas iluminadas, por mera falta de atenção e descuido. Em virtude da inexistência de iluminação, o
ciclista que vai à frente colide com outro ciclista, que vinha na direção oposta, sofrendo este lesões corporais.
O resultado teria sido evitado, se o ciclista que vinha atrás tivesse ligado a iluminação de sua bicicleta. Diante
dessa situação, pode-se afirmar que o ciclista que vinha à frente deve responder por lesões corporais
culposas, pois criou um risco não o permitido ao dirigir sem iluminação, que acabou resultando na colisão.
O ciclista que vinha atrás, todavia, não responder· pelas lesões corporais culposas, já que este resultado não
está· abrangido pelo fim de proteção de norma de cuidado, afinal, a finalidade do dever de iluminação é
evitar colisões próprias, não de terceiros (colisões alheias).
Gabarito: Letra B
Qualifica o crime de homicídio utilizar o agente algum recurso que dificulte ou impossibilite a defesa da
vítima, exemplificando o Código alguns modos particularmente insidiosos de praticá-lo; cabendo, neste caso,
a interpretação analógica.
Todavia, tal qualificadora somente tem incidência nas hipóteses em que se verifica o dolo direto; no
homicídio onde o agente prevê o resultado e atua conscientemente para sua produção; tendo, neste caso,
o domínio de todas as elementares e circunstâncias que caracterizam a conduta como crime. No dolo
eventual, que se consubstancia naquele em que há representação do resultado pelo agente, e assentimento
ou indiferença em relação à sua produção, não se pode falar em aplicação de qualificadora pela surpresa.
Justifica-se a equiparação do dolo direto ao dolo eventual na legislação penal porque, arriscar-se
conscientemente a produzir um resultado, vale tanto quanto o querer; contudo, não para efeitos de
reconhecimento da aplicação da qualificadora prevista no §2º, IV, do Art. 121 do Código Penal.
1. Esta Corte e o Supremo Tribunal Federal pacificaram orientação no sentido de que não cabe
habeas corpus substitutivo de revisão criminal e de recurso legalmente previsto para a hipótese,
impondo-se o não conhecimento da impetração, salvo quando constatada a existência de
flagrante ilegalidade no ato judicial impugnado a justificar a concessão da ordem, de ofício.
2. Afirmar se o agente agiu com dolo eventual ou culpa consciente é tarefa que deve ser analisada
pelo Tribunal do Júri, juiz natural da causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da
denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório produzido no âmbito do devido processo
legal, o que impede a análise do elemento subjetivo de sua conduta por este Sodalício.
Precedentes.
3. "A pretensão de desclassificar o crime de homicídio doloso para a modalidade culposa esbarra
na necessidade de se aprofundar no exame do conjunto fático-probatório que deu ensejo à
condenação, o que é vedado na via estreita do habeas corpus." (AgRg no HC 356.380/MS, Rel.
Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, Sexta Turma, julgado em 8/8/2017, DJe de 16/8/2017).
4. Tem prevalecido, tanto no Supremo Tribunal Federal quanto neste Superior Tribunal de
Justiça, a tese de incompatibilidade entre o dolo eventual com o recurso que impossibilita a
defesa da vítima (surpresa), pois, tratando-se de crime no trânsito, com dolo eventual, não se
poderia concluir que tivesse o agente deliberadamente agido de surpresa, de maneira a dificultar
ou impossibilitar a defesa da vítima.
5. Também, "a qualificadora de natureza objetiva prevista no inciso III do § 2º do art. 121 do
Código Penal não se compatibiliza com a figura do dolo eventual, pois enquanto a qualificadora
sugere a ideia de premeditação, em que se exige do agente um empenho pessoal, por meio da
utilização de meio hábil, como forma de garantia do sucesso da execução, tem-se que o agente
que age movido pelo dolo eventual não atua de forma direcionada à obtenção de ofensa ao bem
jurídico tutelado, embora, com a sua conduta, assuma o risco de produzi-la." (HC n. 429.154/SC,
Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Sexta Turma, julgado em 27/11/2018, DJe de 6/12/2018)
7. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida, de ofício, para excluir da decisão de
pronúncia as qualificadoras previstas nos incisos III e IV do § 2º do artigo 121 do Código Penal,
bem como revogar a prisão preventiva do paciente, a fim de que seja colocado em liberdade,
salvo se por outro motivo estiver preso, mediante imposição de medidas cautelares diversas da
prisão à critério do Juízo de 1º Grau.
(HC 472.380/TO, Rel. Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em
07/05/2019, DJe 20/05/2019)
O tema foi cobrado no concurso para Promotor de Justiça do Ministério Público do Mato Grosso do Sul da
seguinte maneira:
(2013/MPE-MS/Promotor de Justiça)
É correto afirmar que, em se tratando de crime de trânsito, com resultado morte, cujo elemento subjetivo
tenha sido classificado como dolo eventual, em princípio não é possível incluir a qualificadora prevista no
artigo 121, § 2º, inciso IV, do Código Penal.
No crime de corrupção passiva, é indispensável haver nexo de causalidade entre a conduta do servidor e a
realização de ato funcional de sua competência?
O crime de corrupção passiva encontra previsão legal no art. 317 do Código Penal:
Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de
tal vantagem:
Em conformidade com a jurisprudência dos tribunais superiores, nem a literalidade do art. 317 do CP, nem
sua interpretação sistemática, nem a política criminal adotada pelo legislador parecem legitimar a ideia de
que a expressão "em razão dela", presente no tipo de corrupção passiva, deve ser lida no restrito sentido de
"ato que está dentro das competências formais do agente".
O âmbito de aplicação da expressão "em razão dela", contida no art. 317 do CP, não se esgota em atos ou
omissões que detenham relação direta e imediata com a competência funcional do agente. O crime de
corrupção passiva não exige nexo causal entre a oferta ou promessa de vantagem indevida e eventual ato
de ofício praticável pelo funcionário público. O nexo causal a ser reconhecido é entre a mencionada oferta
ou promessa e eventual facilidade ou suscetibilidade usufruível em razão da função pública exercida pelo
agente.
O crime de corrupção passiva consuma-se ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou
a aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente não se inserem nas
atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública, materialmente implicam alguma
forma de facilitação da prática da conduta almejada. (REsp 1745410/SP, Rel. Ministro SEBASTIÃO REIS
JÚNIOR, Rel. p/ Acórdão Ministra LAURITA VAZ, SEXTA TURMA, julgado em 02/10/2018, DJe 23/10/2018)
O Tribunal do Júri é um Órgão Especial do Poder Judiciário, com competência para processar e julgar os
crimes dolosos contra a vida. Tem previsão constitucional e possui sua sistemática própria, cujas decisões
são dotadas de soberania, e tomadas de maneira sigilosa, com base na íntima convicção dos jurados
(BRASILEIRO, 2019, p. 1372).
Tal instituição é formada por princípios constitucionais básicos, assegurados no artigo 5º, inciso XXXVIII, da
Constituição Federal, sendo eles: a plenitude de defesa, o sigilo das votações, a soberania dos veredictos e a
competência mínima para julgamentos dos crimes dolosos contra a vida.
Quanto à soberania dos veredictos, importante destacar que esse princípio que impede que um tribunal
composto por juízes togados reveja o posicionamento adotado pelo conselho de sentença, até mesmo para
que não haja supressão da competência de julgamento constitucionalmente prevista.
A primeira delas é a Revisão Criminal, ação autônoma de impugnação, que autoriza que um Tribunal reveja
a decisão dos jurados (desde que a nova decisão seja favorável ao réu), considerando que uma injustiça
decorrente de grave erro judiciário não pode se perpetuar.
RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. TRIBUNAL DO JÚRI.
CONDENAÇÃO. REVISÃO CRIMINAL. ABSOLVIÇÃO. POSSIBILIDADE. DIREITO DE LIBERDADE.
Além da hipótese acima mencionada, a soberania dos veredictos não impõe a irrecorribilidade da decisão,
sendo plenamente possível que um recurso de apelação seja provido, submetendo o acusado a um novo
julgamento perante o Tribunal do Júri, nos termos do art. 593, III, “d”, e §3º do CPP.
Nesse caso, o Tribunal não substituirá diretamente a decisão dos jurados (como ocorre na Revisão Criminal),
mas determinará que se proceda um novo julgamento perante o Tribunal do Júri, com a consequente
prolação de uma nova decisão, ante a anulação do primeiro julgamento.
Nesse sentido, tratando-se de recurso exclusivo da defesa, é sabido que, em atenção ao artigo 617, do Código
de Processo Penal, a situação do réu não pode piorar, ante a vedação da reformatio in pejus (neste caso,
indireta).
Mas em caso de manutenção da pena, poderia ser reconhecida, por exemplo, a hediondez de um crime
que anteriormente não o era?
É certo que a hediondez reconhecida pelo novo conselho deixa o réu em uma situação desfavorável e lhe
causa diversos prejuízos, sobretudo no que tange às questões atinentes à progressão de regime (trazidas
pela lei 8.072/90).
Em 2012, a 5ª Turma do STJ proferiu decisão no sentido de que prevalece o princípio da soberania dos
veredictos quando analisado em concorrência com a Garantia da Vedação à reformatio in pejus:
Entretanto, a jurisprudência do STJ evoluiu em outro sentido com o passar do tempo, reconhecendo que,
embora o Conselho de Sentença não esteja limitado ao julgamento anterior, podendo reconhecer
circunstâncias desfavoráveis ao réu, o Juiz, ao dosar a pena, estaria restrito ao “quantum” fixado
anteriormente. Nesse sentido, colacionam-se os julgados abaixo:
Todavia, no ano de 2016, ao apreciar o Habeas Corpus de nº 136.768, o Ministro Edson Fachin concedeu
ordem de ofício para o fim de assegurar que a condenação observasse, quantitativa e qualitativamente, os
limites do primeiro julgamento (primeiro conselho de sentença), determinando-se que, para todos os fins de
execução de pena, fosse reconhecida a ausência da hediondez do delito. Veja-se:
(...) A vedação da reformatio in pejus também atinge a modalidade indireta. Vale dizer, eventual
sentença condenatória, ainda que objeto de anulação, limita, quantitativa e qualitativamente,
eventual e futura resposta penal. (...) No caso em mesa, é irrelevante o fato de que, nas palavras
da autoridade apontada como coatora, “a sentença condenatória e o acórdão proferido no
julgamento da apelação nada dispuseram sobre o montante de pena a ser cumprido para
progressão de regime”, visto que os requisitos exigidos para fins de concessão de benefícios
executórios decorrem expressamente da lei. Assim sendo, a condenação por delito hediondo
ou equiparado, por si, produz gravame. Pondero que, na linha da jurisprudência da própria
autoridade coatora, o delito de homicídio qualificado-privilegiado não é considerado hediondo,
sendo que tal aspecto do primeiro julgamento não foi impugnado, a tempo e modo, pela
acusação. Assim, o segundo julgamento, implementado exclusivamente em decorrência de
recurso da defesa, não pode alcançar o robustecimento da resposta penal, análise que, como
dito, não se limita ao prisma quantitativo. Nessa medida, ao chancelar a condenação de crime
hediondo, contrariando julgamento anterior precluso sob a ótica da acusação, verificou-se, desde
logo, constrangimento ilegal. Não é necessário, nessa medida, a explicitação de critérios de
progressão de regime, cuja distinção, no que toca aos crimes hediondos e equiparados, é
expresso no art. 2°, §2°, da Lei 8.072/90. Evidente, portanto, a ocorrência de reformatio in pejus,
hipótese a legitimar a intervenção deste Tribunal. (...) (HC 136.768/SP, Ministro EDSON FACHIN,
julgado em 08/09/2016, DJe 15/09/2016)
De início, cumpre seja fixada a premissa no sentido de que o Ministério Público é o titular da opinio delicti,
incumbindo-lhe, pois, a análise dos autos do inquérito policial, para dar-lhe uma destinação, seja
promovendo o arquivamento, seja oferecendo denúncia.
Isso fica ainda mais claro após a edição do Pacote Anticrime, que promoveu profundas alterações no Código
de Processo Penal, reafirmando a adoção do sistema acusatório, conforme artigo 3º-A, com a sua novel
redação.
Pois bem.
Como de conhecimento geral, antes da reforma do CPP, o arquivamento era requerido pelo Ministério
Público ao Poder Judiciário, que exercia a função anômala de fiscal do princípio da obrigatoriedade (da ação
penal).
O caminho adotado pelo Parquet no exercício dessa importante função na seara criminal era escrutinado
pelo judiciário, que poderia tanto homologar o arquivamento, quanto dele discordar e remeter os autos ao
Procurador-Geral de Justiça. Pelo novo modelo, tudo ocorre interna corporis.
Passando pelo crivo do Judiciário, obviamente a providência adotada, nalgumas situações, ganhava os
contornos da coisa julgada, elemento salutar ao bom convívio social, para garantia da segurança jurídica.
O próprio artigo 18, do CPP, entretanto, contemplava situações em que se admitia a reabertura das
investigações, após o arquivamento do inquérito, conforme se vê abaixo:
Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela autoridade judiciária, por falta de
base para a denúncia, a autoridade policial poderá proceder a novas pesquisas, se de outras
provas tiver notícia.
Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do promotor de justiça, não
pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
Destarte, em caso de surgimento de novas provas, a investigação poderia ser retomada, desde de que não
sobreviesse qualquer causa extintiva da punibilidade, a exemplo da prescrição.
Foi o que ocorreu no célebre caso do menino Bernardo, no estado do Rio Grande do Sul, conforme se lê em:
http://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/caso-bernardo-boldrini/noticia/2015/07/antes-de-morrer-mae-
de-bernardo-registrou-ocorrencia-por-ameaca.html.
Entretanto, segundo posicionamento que se consolidou no âmbito da jurisprudência pátria, não é todo
arquivamento que se sujeita a essa sistemática, havendo situações em que ele produz os efeitos da coisa
julgada material, tornando indiscutível a questão.
Dito de outro modo, o arquivamento produz coisa julgada material se promovido com base na atipicidade
da conduta ou em causa extintiva da punibilidade, sendo certo que a mudança de opinião dos atores da
persecução não pode ensejar a reabertura das investigações.
Ocorre que, com o advento do Pacote Anticrime, a manifestação do representante do Ministério Público não
se submete mais ao crivo do Judiciário.
Não faz sentido, assim, a menos aparentemente, outorgar à decisão do Parquet, e exclusivamente dele, os
contornos da coisa julgada, que diz respeito aos pronunciamentos judiciais.
A propósito, foi editado pelo Grupo Nacional dos Coordenadores dos Centros de Apoio Criminal, o enunciado
9, com a seguinte redação:
A reflexão que se propõe diante dessa orientação é se a insindicabilidade judicial da decisão de arquivamento
deve, de fato, autorizar com que a deliberação tomada pelo membro do Ministério Público seja revisitada
sem qualquer parâmetro razoável.
Deixo vocês com esse questionamento, pois apenas o tempo dirá como a matéria será decidida pelos
Tribunais brasileiros, porém certo de que o caminho despendido com o raciocínio, recomenda, certamente,
a necessidade de que se estabeleçam contornos objetivos (como havia proposta a jurisprudência) para essa
revisão, sob pena de instabilidade das relações sociais.
Uma advertência necessária é que o dispositivo encontra-se com a eficácia suspensa sine die por força de
uma liminar concedida pelo Min. Fux, no bojo da ADI 6305, aplicando-se, enquanto não resolvida a querela,
as disposições do artigo 28, em sua redação originária.
1.7.1 - O crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou artefato análogo que
cause perigo comum passou a ser crime hediondo. Mas esqueceram do roubo nestas
mesmas circunstâncias. Violação à proporcionalidade?
O delito em estudo está previsto no §4º-A, do art. 155, do Código Penal, com a seguinte redação:
Furto
Furto qualificado
§ 4º-A A pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos e multa, se houver emprego de explosivo
ou de artefato análogo que cause perigo comum. (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
Antes de mais nada, importante se faz esclarecer os conceitos de 'explosivo' e 'artefato análogo'. Conforme
disposições do Anexo III, do Regulamento de Produtos Controlados (aprovado pelo Decreto n.º 10.030/19),
explosivo é o “tipo de matéria que, quando iniciada, sofre decomposição muito rápida, com grande liberação
de calor e desenvolvimento súbito de pressão”. Já o artefato análogo, “é o produto concebido com finalidade
diversa, porém idôneo a produzir efeitos semelhantes aos do explosivo, como, por exemplo, um botijão de
gás" (LIMA, p. 426).
Bem fixadas tais balizas, passamos a estudar pormenorizadamente o crime em comento. Inicialmente,
Renato Brasileiro nos explica que "a introdução dessa nova qualificadora ao crime de furto visa coibir prática
recorrente Brasil afora, consubstanciada na explosão de caixas eletrônicos para subtração do numerário
alocado no seu interior" (p. 426).
Insta salientar que a qualificadora em estudo é de natureza objetiva, visto que se refere ao meio de execução
utilizado na prática do crime de furto. Assim, admite-se a sua comunicabilidade no concurso de agentes,
conforme art. 30, do Código Penal. Ainda, com a leitura do texto legal, percebe-se que a tipificação do delito
depende da potencialidade do explosivo ou artefato análogo, de causar perigo comum, já que se trata
também de crime de perigo concreto (LIMA, p. 426).
Ademais, devemos nos atentar que, com a entrada em vigor do Pacote Anticrime, este delito foi inserido no
rol dos crimes hediondos, no art. 1º, inciso IX, da Lei n.º 8.072/90:
[…]
IX – furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo
comum (art. 155, § 4º-A). (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)
Pela primeira vez uma modalidade de furto é rotulada como crime hediondo. Antes não havia previsão,
justamente por não envolver violência ou grave ameaça à pessoa e também por tutelar, unicamente, o bem
jurídico do patrimônio da vítima (LIMA, p. 425).
O legislador entendeu por bem tornar hediondo o crime de furto qualificado pelo emprego de explosivo ou
artefato análogo que cause perigo comum, com base no critério de maior reprovabilidade da conduta do
agente que se utiliza desses instrumentos para o cometimento do crime, visto que podem resultar perigo
comum e causar danos a um número indeterminado de pessoas (LIMA, p. 426) e, principalmente, porque o
número de casos envolvendo explosão de caixas eletrônicos continua extremamente alto em todas as
regiões do país.
Porém, não há semelhante dispositivo legal tornando o crime de roubo majorado por estas mesmas
circunstâncias fáticas como crime hediondo, ainda que, obviamente, seja esta conduta (a do roubo
majorado) mais grave que a do furto qualificado, acima descrito (LIMA, p. 426).
Roubo
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou
violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de
resistência:
[…]
§ 2º-A A pena aumenta-se de 2/3 (dois terços): (Incluído pela Lei nº 13.654, de 2018)
[…]
De se ver que foi a mesma lei que incluiu referidas circunstâncias, qual seja, a Lei nº 13.654, de 2018 e que,
atenção, no roubo, tal circunstância é uma qualificadora, enquanto que no roubo, é uma causa de aumento
de pena.
(S)e o agente, por exemplo, realizar a subtração mediante utilização de explosivo, sem agredir
ou ameaçar quem quer que seja, somente poderá progredir de regime depois de cumpridos 40%
da pena, mas se praticar lesão corporal crime de roubo], ferindo o sujeito passivo, durante a
realização do crime, a progressão poderá ser concedida depois de passados 25% da pena. Sem
falar dos demais efeitos da hediondez, que desapareceriam se houvesse os meios executivos
mais graves. É quase um “convite” ao furtador para que agrida ou ameace a vítima.
Diante disso, não há como negar que se está diante de um caso de violação ao princípio da
proporcionalidade, pois a Lei tornou a punição ao crime mais leve deveras severa, cravando-a de hedionda,
enquanto a conduta mais grave, não ostenta referida pecha. Sobre este “princípio síntese”, leciona ANDRÉ
RAMOS TAVARES (2020):
(O)s direitos fundamentais encontram-se em potencial conflito e, assim, a ideia pura e simples
de que os direitos fundamentais também vinculam o legislador será vazia de sentidos em que
haja alguma sorte de complementação. Daí a proporcionalidade ser compreendida como a exata
medida dessa vinculação. A partir dessa concepção, passou-se a entender que a legalidade
clássica, no sentido de exigência da lei, foi superada pela exigência de lei proporcional, como
expressão daquela vinculação do legislador aos direitos fundamentais.
Por qualquer ponto de vista que se analise a situação (constitucional ou político-criminal), não há como
entender razoável que a subtração realizada com o emprego de explosivo, ou artefato análogo, mas sem
violência ou grave ameaça contra pessoa, seja rotulada como crime hediondo e, quando efetivada com
emprego de violência ou grave ameaça a pessoa, não o seja.
O que se tem, ao menos de acordo com o texto expresso da lei, é uma conduta menos grave (diminuto
desvalor da ação) possuindo uma resposta penal qualitativamente mais drástica e gravosa do que a conduta
obviamente mais violenta (alto desvalor da ação).
Neste sentido, vale a pena conferir as palavras de Victor Eduardo Rios Gonçalves, ditas em uma palestra
divulgada pela Escola Superior do Ministério Público de São Paulo[1] (12'35'' aos 15’23’’):
[…] uma crítica ao legislador, por uma desatenção, o projeto originário, ele criava uma
qualificadora no furto […] e transformou-se em qualificado o furto com emprego de explosivos.
Só que quando mexeram no projeto, acrescentaram essa conduta também no roubo. Mas a
proposta lá do Ministro Alexandre de Morais […] quando se transformava o furto com explosivo
em qualificadora, já no projeto havia a transformação em crime hediondo. Só que depois
inseriram como majorante no roubo o emprego de explosivos e se esqueceram de mexer aqui na
lei dos crimes hediondos. Então ficou uma coisa sem nenhum sentido: o furto quando qualificado
com o emprego de explosivos ser hediondo e quando o crime for o de roubo com o emprego de
explosivos não ser. A defensoria pública, os advogados, com toda certeza vão alegar que nós
estamos aqui diante de uma ofensa ao princípio da proporcionalidade. Se o mais não é hediondo,
não há como o menos sê-lo.
Então, naquela oportunidade, o ilustre membro do MPSP e professor acima mencionado sugere três
possíveis soluções para a flagrante problemática: 1 – concordar que há uma ofensa à proporcionalidade, e,
assim, não considerar o furto qualificado em estudo como crime hediondo; 2 – Reconhecer a ofensa à
proporcionalidade e, por isso, por meio de uma interpretação extensiva da norma, tratar o roubo majorado
ora em estudo como hediondo, já que o crime menos grave assim o é tratado; e, por último, 3 – defender
que o legislador é quem tem a opção de rotular como hediondo ou não um determinado delito e, assim,
aceitar o disparate. Neste sentido, é importante lembrar que existem muitos outros crimes mais graves que
o furto qualificado e que não integram o rol dos crimes hediondos (GONÇALVES, 2020).
A colaboração premiada é um instituto que está previsto há algum tempo na nossa legislação esparsa, mas
que, por conta de recentes investigações e processos, tornou-se um meio de obtenção de prova muito falado
e, principalmente, com nova regulamentação legal. Antes de mais nada, portanto, conheça algumas destas
previsões legais já existentes:
Art. 13. Poderá o juiz, de ofício ou a requerimento das partes, conceder o perdão judicial e a
conseqüente extinção da punibilidade ao acusado que, sendo primário, tenha colaborado efetiva
e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, desde que dessa colaboração tenha
resultado:
Art. 14. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o
processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime, na localização
da vítima com vida e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de
condenação, terá pena reduzida de um a dois terços.
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando
se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
ou terrorismo.
Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem,
como condição ou preço do resgate:
[…]
Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o
processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na
recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de
um terço a dois terços.
Na lei de Lavagem de Dinheiro (Lei n.º 9.613/98), desde 2012, há a seguinte previsão:
Art. 1º, § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em regime aberto
ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a qualquer tempo, por
pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar espontaneamente com as
autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração das infrações penais, à
identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos bens, direitos ou valores
objeto do crime
Referido instituto também está previsto e regulamentado na Lei n.º 12.850/13 (Lei de Organização
Criminosa), em seu artigo 3º, desde 2013. Com o advento do ‘pacote anticrime’ (Lei n.º 13.964/19),
normatizou-se de forma exaustiva todo o procedimento atinente, por meio da inclusão dos artigos 3-A e
seguintes.
Não é este o momento para estudarmos à fundo todo este procedimento da colaboração premiada. A
proposta, então, é chamar sua atenção, caro concurseiro, para alguns pontos novos da Lei, talvez os mais
interessantes ou que possam gerar alguma dúvida.
Parte da doutrina utiliza os termos delação e colaboração premiada como sinônimos. Outros, como Renato
Brasileiro, diferenciam tais termos, ao afirmarem que na colaboração premiada, o imputado assume a culpa
do delito sem incriminar terceiros, fornecendo, por exemplo, informações sobre a localização do produto do
crime. Neste caso ele é mero colaborador. Já na delação premiada, o imputado assume a culpa e delata
outras pessoas. Assim, a colaboração premiada é um gênero e a delação premiada seria uma espécie (LIMA,
p. 793).
Neste viés, pode-se dividir a colaboração premiada em quatro subespécies: a) delação premiada, também
conhecida como chamamento do corréu, onde o colaborador, além de assumir a autoria delitiva, expõe
outras pessoas envolvidas na infração penal. Este colaborador é chamado de agente revelador; b)
colaboração para libertação: o colaborador “indica o lugar onde está mantida a vítima sequestrada,
facilitando sua libertação”; c) colaboração para localização e recuperação de ativos: o agente fornece
informações para a localização do proveito ou produto do crime e de bens que possam ter sido submetidos
a esquemas de lavagens de captais; d) por fim, tem-se a colaboração preventiva, onde o colaborador “presta
informações relevantes aos órgãos estatais responsáveis pela persecução penal de modo a evitar um crime,
ou impedir a continuidade ou permanência de uma conduta ilícita” (LIMA, p. 794).
(2) a delação premiada exige, além da colaboração para a elucidação de uma infração penal, que
o agente, confessando a imputação que lhe é feita, aponte outros comparsas que, em concurso
de pessoas, participam da empreitada criminosa, como uma forma de chamamento do corréu.
Outras expressões são verificadas na prática de designá-la, tais como imputação de corréu,
chamamento de cúmplice, pentinismo (alusivo a pentito ou, no italiano, relativo a quem se
arrependeu), crown witness (testemunho da coroa) ou, ainda, colaboração processual.
O legislador preferiu a expressão genérica: “colaboração premiada”. Por isso, neste estudo trataremos o
assunto desta forma.
O artigo 3-A da lei da Organização Criminosa prevê que “O acordo de colaboração premiada é negócio
jurídico processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos.
Inovação belíssima, já de início, é a conceituação de tal instituto, na seara penal, como sendo um negócio
jurídico processual.
O que antes era cabível somente no processo civil, agora também o é no processo penal, sendo este mais
um passo rumo à justiça negociada, ‘plea bargain’ etc.
Para DIDIER JR., “negócio processual é o ato voluntário, em cujo suporte fático confere-se ao sujeito o poder
de escolher a categoria jurídica ou estabelecer, dentro dos limites fixados no próprio ordenamento jurídico,
certas situações jurídicas processuais”. ((DIDIER JR, 2015, P. 376). Ou seja, a autonomia da vontade dos
sujeito processuais (autor e réu) prevalecerá, em determinadas situações dentro do processo, o que, há
pouquíssimo tempo, era inadmissível na esfera processual penal, em que a lei seca haveria de determinar o
rito a ser tomado, e ponto final.
Basta conferir toda a novel normatização sobre o tema para se perceber que a colaboração premiada é um
complexo probatório, visto que envolve consenso do colaborador (autonomia da vontade), todo um
procedimento para se propor validamente o acordo e se descortinar novas provas, além de, tal como o
‘nomen juris’ do capítulo atinente já indica, também um meio de obtenção de prova. Ou seja, é um espaço
probatório constituído por negócio jurídico, um meio de obtenção de elementos de informação ou de provas
e, ao menos parcialmente, a colaboração premiada constitui uma confissão (TÁVORA, p. 1024).
Um primeiro ponto interessante sobre o tema é o “marco de confidencialidade” logo das tratativas (art. 3-
B). Assim o será (sigilo com relação ao colaborador e suas informações) inclusive quando o celebrante
(normalmente a Polícia ou MP) não firmar o acordo, situação em que todas as informações até então
fornecidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas para qualquer fim (Art. 3-B, §6º). Aliás, nenhum ato
deste procedimento específico haverá de ser realizado sem a presença de defensor técnico (Art. 3-C, §1º,
especificamente quanto à tratativa, e Art. 4º, §15º).
É de se ressaltar que não existe direito subjetivo à celebração da colaboração. Como negócio jurídico que é,
está a mercê da discricionariedade regrada do celebrante (Polícia ou MP) que, por qualquer razão justificada,
pode não celebrar o acordo. Neste sentido, didática a lição do ministro EDSON FACHIN, no julgado do MS
35693 Agr/DF, em 28/05/2019 (Informativo STF n.º 942).
Neste ponto, ainda, frise-se que o “prêmio” só será devido se, ao final, a colaboração concretamente houver
trazido novos elementos de informação/prova aos autos, ou seja, tenha sido ela eficaz (vide Art. 4º, abaixo
colacionado).
A assinatura do termo não implica, isoladamente, a suspensão das investigações. Inclusive, o acordo da
colaboração premiada pode ser precedido de instrução, se houver necessidade. Ainda, o rito previsto para a
celebração do acordo de colaboração premiada tem o objetivo de impedir arbítrios, preservando o
colaborador de eventuais abusos (TÁVORA, p. 1026).
No acordo de colaboração premiada deve constar a narrativa do colaborador sobre os fatos ilícitos para os
quais concorreu e que tenham uma relação direta [2] com os fatos investigados. O “desenvolvimento da
prova se submete ao contorno do objeto a se provar e este, a sua vez, é aquele descrito na denúncia futura
ou já ajuizada” (TÁVORA, p. 1027).
Ainda, o §4º do Art. 3-C prevê que deverá a “defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos com os
fatos adequadamente descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando as provas e os elementos de
corroboração”, isto porque todas as cautelas devem ser tomadas, a fim de evitar “aventuras jurídicas”
(TÁVORA, p. 1027).
O art. 4º da Lei n.º 12.850/13 talvez seja o epicentro do instituto, eis que estipula quais são os benefícios
(prêmios) plausíveis e o que se entende por eficácia da medida colaborativa, a ponto de efetivamente o
colaborador ter direito ao prêmio. Vale a pena a transcrição destes tópicos:
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3
(dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que
tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde
que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa;
Questão interessante que já se discute é se referidos prêmios podem ser aplicados a quaisquer crimes, desde
que praticados por uma organização, ou somente ao crime de organização criminosa (artigo 2º da Lei n.º
12.850/13). Ora, se a intenção da Lei (conhecida como ‘pacote anticrime’) é fazer com que membros de
organização criminosa passem a delatar seus comparsas e toda a estrutura da empresa delitiva, nada mais
razoável do que aplicar referidas consequências premiais a todo e qualquer crime praticado pela referida
organização.
Por certo, no entanto, tais prêmios são incomunicáveis (ou seja, não se estendem) aos demais
investigados/corréus. Como dito, trata-se de um negócio jurídico ‘personalíssimo’, a respeitar a autonomia
da vontade do colaborador e do celebrante (Polícia ou MP), neste caso, de forma fundamentada de acordo
com a discricionariedade regrada, evidentemente.
Inclusive, não se admite que os delatados ou pessoas meramente mencionadas questionem a validade do
acordo, por falta de interesse (HC n.º 127.483, julgado em 2015 pelo STF e RHC n.º 69.988, julgado em 2016
pelo STJ). É que a colaboração é um negócio personalíssimo e, como tal, preenchidos os requisitos legais,
notadamente a autonomia da vontade, terceiros não podem contestá-lo. Evidentemente, o que consta do
acordo e diga respeito a terceiros será levado ao conhecimento destes e, a depender da fase processual (IP
ou ação penal) ou do que efetivamente constou (se houve a imputação de algum crime a este, ou apenas a
menção como testemunha, por exemplo) haverá ampla possibilidade de se manifestar à respeito, por meios
próprios.
Atenção para o fato de ser cabível a colaboração premiada inclusive após a sentença (ou acórdão) penal
condenatório, na forma preconizada pelo Art. 4º, §5º, que estipula que “A pena poderá ser reduzida até a
metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos”.
Encerrou-se, é interessante relembrarmos, certa discussão que existia com relação à possibilidade do
Delegado de Polícia firmar o acordo ora em estudo (previsão do artigo 4º §§2º e 6º). O tema chegou à
Suprema Corte, por meio da ADI 5508/DF, julgada em 2018, em que prevaleceu a constitucionalidade do
dispositivo mencionado, conforme voto do Ministro MARCO AURELIO. Portanto, pode sim o Delegado de
Polícia firmar o acordo, desde que ainda na fase policial e com a posterior manifestação do MP, antes da
homologação judicial.
Por certo, diversas outras questões controversas e delicadas ainda surgirão, além daquelas que já existem
sobre o tema, eis que, sendo um instituto processual novo, alguns dogmas estão sendo ‘postos em xeque’,
tal como o seguinte:
Art. 4º, §14: Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu
defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade.
Num primeiro passar de olhos desavisado ou conservador, poderia se entender que tal preceito violaria
regras constitucionais (não fazer prova contra si mesmo, direito ao silêncio etc). Porém, para rechaçar tal
argumentação ‘chavão’, basta afirmar que estamos a tratar de um acordo, de uma negociação processual,
em que o colaborador assina se quiser, de acordo com sua autonomia de vontade e, mais ainda, sempre na
presença de um defensor técnico (advogado ou defensor público).
Não existe dever ao silêncio ou dever de não fazer provas contra si mesmo. Portanto, se o sujeito quiser não
exercitar tais direitos, pode (convenhamos que o termo técnico adequado seria ‘não exercitar’ o direito, e
não ‘renunciar’, tal como previsto no texto legal acima transcrito).
Nestor Távora (p. 1032) disserta sobre alguns requisitos desta confissão:
Ou seja, não deve ser admitida a delação premiada se restar constatada pressão psicológica pela decretação
abusiva de prisão, contrariedade ao direito, tais como prisões preventivas com excesso de prazo, prisões
temporárias com o fito de obter colaboração dos investigados ou, ainda, prisões impostas por meio de
fundamentação vaga (TÁVORA, p. 1032).
É por isso que há quem sustente que não cabe a celebração do acordo se o colaborador estiver preso,
justamente por entender que o sujeito não estaria exercendo sua autonomia da vontade de forma plena.
Porém, para rechaçar tal tese, basta se verificar que, se o sujeito estiver preso de forma justificada
(devidamente fundamentada por um magistrado) e estiver cumprido o requisito básico da presença
obrigatória de defensor técnico desde as negociações prévias até a celebração formal do termo de acordo,
presumir-se-á que não houve coação ou abuso algum e, com isso, que o acordado é válido.
Alguns dos pontos interessantes da colaboração premiada são estes. Leia por diversas vezes os artigos 3º-A
ao 7º da Lei de Organização Criminosa, pois o rito a ser seguido na elaboração do acordo (além de todas as
demais informações ali constantes) são um “prato cheio” para as bancas de concurso do MP.
REFERÊNCIAS
CABETTE, Eduardo Luiz Santos e CARUSO, Gianfranco Silva. Lei anticrime e crimes hediondos. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/79849/lei-anticrime-e-crimes-
hediondos#:~:text=O%20furto%20com%20emprego%20de,aviltadas%20por%20esse%20tratamento%20ab
surdo.
LIMA, Renato Brasileiro de. Pacote Anticrime: Comentários à Lei Nº 13.964/19 – Artigo por Artigo. Salvador:
Editora JusPodivm, 2020.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Simpósio Pacote Anticrime: Alterações no âmbito do Direito Penal.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NcLk3-kuOPo.
TAVARES, André Ramos Curso de direito constitucional / André Ramos Tavares. – 18. ed. – SãoPaulo : Saraiva
Educação, 2020.
SANCHES, Rogério. Lei Penais Especiais comentadas. 3ª edição. Salvador. Juspodivm. 2020
DIDIER JR. Fredie. Princípio do respeito ao Autorregramento da Vontade no Processo Civil. Extraído do Cap
01 da coleção Grandes temas do Novo CPC, vol. 01 - Negócios processuais. Salvador: Juspodivm. 2015.
1.8.1 - Definição
As condições de elegibilidade são condições impostas pela Constituição, de forma exaustiva (taxativa), no
art. 14, § 3º, para que o direito de ser votado possa ser regularmente exercido, ou seja, para o regular
desempenho da elegibilidade (cidadania passiva ou capacidade eleitoral passiva).
O art. 14, § 3º, da Carta Magna relega à lei a fixação das condições de elegibilidade. Trata-se, portanto, de
norma constitucional de eficácia limitada (norma constitucional não autoaplicável, não autoexecutória ou
não autoexecutável), na medida em que a sua aplicabilidade depende de uma interposição legal, isto é, da
produção de norma legal que viabilize a sua aplicação ao caso concreto.
1.8.2 - Enumeração
a) Nacionalidade brasileira
Em relação ao inc. I, há uma exceção representada pelo português equiparado (art. 12, § 1º). A Constituição
atribui ao português equiparado os direitos inerentes aos brasileiros, e um deles é o direito de poder ser
eleito. Portanto, embora o art. 14, § 3º, inc. I, exija nacionalidade brasileira, o caso do português equiparado
representa uma exceção em que, mesmo sendo estrangeiro, poderá ser eleito, desde que satisfeitas três
condições:
No entanto, a Constituição, em seu art. 12, § 3º, restringe o acesso a determinados cargos apenas a
brasileiros natos. Portanto, embora possa o português equiparado (que é considerado cidadão brasileiro,
embora não seja nacional) ser eleito, não poderá ocupar cargos privativos de brasileiro nato, entre os quais
há um cargo eletivo: o de Presidente da República. Neste caso, além de ser brasileiro, deve o candidato ser
brasileiro nato.
Os direitos políticos terão pleno desempenho se não forem privados, nas hipóteses de perda e suspensão.
Portanto, não deve existir privação definitiva ou temporária de direitos políticos para que alguém possa ser
eleito (art. 15 da CRFB). Caso tenha havido perda ou suspensão, os direitos políticos poderão ser
readquiridos, por iniciativa (na perda) ou automaticamente (na suspensão), após a cessação do fato que
ensejou a sua ocorrência.
Deve-se pontuar que eventuais antecedentes criminais não importam, por si só, na inexistência dessa
condição de elegibilidade. Isso porque, para que haja suspensão de direitos político (não satisfazendo,
portanto, a condição “pleno exercício dos direitos políticos”), no tocante à condenação criminal a
Constituição exige que esta seja definitiva, ou seja, transitada em julgado (art. 15, inc. III).
Sem que haja trânsito em julgado de eventual condenação, a condição de elegibilidade não está ausente. Se
houver condenação criminal recorrível, o indivíduo preenche a condição de elegibilidade colocada. No
entanto, o que pode existir é uma causa de inelegibilidade, prevista no art. 1º, inc. I, “d”, da LC nº 64/90 n/f
LC nº 135/10, se houver condenação criminal recorrível (ainda sem trânsito em julgado) proferida por órgão
colegiado.
Assim, se houver decisão colegiada não transitada em julgado, não há ainda suspensão de direitos políticos
(o art. 15, inc. III, da CRFB pressupõe trânsito em julgado), mas pode ser que haja causa de inelegibilidade,
prevista na LC nº 64/90.
c) Alistamento eleitoral
A Constituição impõe duas condições: (i) domicílio eleitoral; (ii) no território da sua circunscrição. A par
dessas condições, a legislação impõe ainda: (iii) prazo mínimo.
• Domicílio eleitoral
Quanto ao domicílio eleitoral, indaga-se se este corresponderia ou não ao domicílio civil. Sabe-se que as
normas que produzem efeitos para fins patrimoniais (direito civil) não produzem efeitos para fins políticos
(direito eleitoral).
O Código Civil estabelece domicílio como o local no qual uma pessoa estabelece residência com animus de
ali permanecer. Para efeitos patrimoniais, esse é o conceito de domicílio. Contudo, para efeitos políticos,
domicílio eleitoral corresponde ao local no qual o cidadão mantém vínculo patrimonial, social ou laborativo
(art. 42, parágrafo único, do CE). Não se exige, portanto, que nesse local haja residência, muito menos com
animus de permanecer. Além disso, basta que se estabeleça um vínculo para que fique caracterizado o
domicílio eleitoral, de modo que não é necessário que se estabeleçam os três vínculos simultaneamente no
mesmo local.
Assim, é possível que o mesmo cidadão tenha múltiplos vínculos eleitorais, porque mantém em múltiplos
locais vínculos patrimoniais, sociais e laborativos (prestação de serviços), ou até mais de um vínculo no
mesmo local.
Com isso, a norma que pertence ao direito civil produz efeitos para fins patrimoniais, e se aplica no campo
civil, não produzindo efeitos para fins políticos. Logo, o conceito de domicílio civil não se aplica no campo do
direito eleitoral, que prevê um conceito de domicílio eleitoral distinto.
• Circunscrição territorial
A circunscrição territorial varia conforme o tipo de pleito que se cogita, isto é, se a eleição é nacional, regional
ou local. Assim, a depender da eleição, haverá uma circunscrição maior ou menor.
Se a eleição for local (Prefeito e Vereador), a circunscrição corresponderá ao território do Município. Logo,
no Município deverá ser fixado o domicílio eleitoral. No caso de eleição regional (Governador, Deputado
Estadual, Deputado Federal e Senador), a circunscrição corresponderá ao território do Estado. Por fim,
sendo a eleição nacional, a circunscrição corresponde ao território brasileiro.
• Prazo mínimo
A Lei das Eleições costumava impor apenas um prazo, para fixação de domicílio eleitoral na circunscrição
(art. 9º, caput, da Lei nº 9.504/97). Diante de alteração legislativa, a lei passou a fixar dois prazos, de fixação
na circunscrição territorial e filiação partidária.
A atual redação do art. 9º, caput, da Lei nº 9.504/97, menciona o prazo de 6 meses, aplicável não só para
fixação de domicílio eleitoral na circunscrição como também para filiação a partido político.
e) Filiação partidária
O art. 142, § 3º, inc. V, da CRFB é expresso no sentido de que o militar, enquanto estiver em atividade, não
pode estar filiado a partido político. Logo, o militar não poderia ser eleito, uma vez que não satisfaz a
condição de elegibilidade alusiva à filiação partidária. Contudo, a Constituição, em seu art. 14, § 8º, dispõe
que o militar alistável é elegível, desde que satisfeitas as condições impostas pelo dispositivo.
Trata-se de um claro conflito de normas constitucionais, que será abordado com maior profundidade
posteriormente. No entanto, desde logo registre-se que, mesmo no caso do militar, haverá filiação
partidária. Hoje, a filiação partidária é uma condição sine qua non imposta a todos, inclusive aos militares.
No tocante ao militar, pode ser que haja uma dispensa do prazo mínimo de 6 meses da filiação partidária,
mas sempre se impõe essa condição (filiação partidária).
Ainda sobre o tema “filiação partidária”, deve ser destacada a questão pertinente a candidatura avulsa,
independente ou apartidária, que tramita no STF com repercussão geral reconhecida e audiência pública já
realizada. Nesse caso, seria afastada a condição alusiva à filiação partidária, sendo admitida a eleição de
candidato sem filiação a partido político.
O art. 14, § 3º, relega à lei a fixação das condições de elegibilidade (“nos termos da lei”). E o Brasil é signatário
de um tratado internacional que discute direitos civis e políticos, de status normativo supralegal, que não
exige filiação partidária. Assim, embora a legislação exija a filiação, deveria ser aplicada a norma supralegal.
Se o STF futuramente aceitar, no Brasil, a possibilidade de candidatura independente, é possível que a
fundamentação passe por esse raciocínio.
Há uma separação entre idade mínima para capacidade eleitoral ativa e para capacidade eleitoral passiva. A
capacidade eleitoral ativa se adquire de modo facultativo aos 16 anos (art. 14, § 1º, inc. II, “c”), e de modo
obrigatório aos 18 anos (art. 14, § 1º, inc. I). Já a capacidade eleitoral passiva adquire-se com idade que pode
variar entre 18, 21, 30 e 35 anos (art. 14, § 3º, inc. VI). Diante disso, é possível afirmar que a cidadania plena
somente é adquirida aos 35 anos de idade.
Além disso, destaque-se que, em caso de substituição ou sucessão, o substituto ou sucessor deve ter as
condições mínimas exigidas do substituído ou sucedido, para que possa regularmente assumir o cargo.
Assim, para ser Deputado Federal deve-se ter pelos menos 21 anos, mas para ser Presidente da Câmara deve-
se ter 35 anos, pois este é um dos possíveis substitutos do Presidente da República, e não se pode aceitar
que assuma o cargo sem satisfazer a condição mínima de idade fixada pela Constituição Federal.
Para ser eleito Deputado estadual, a Constituição estabelece idade mínima de 21 anos; e 30 anos para
Governador. Como há a possibilidade de o Presidente da Assembleia legislativa assumir o cargo de
Governador, para que um Deputado seja Presidente da Casa Legislativa este deve ter 30 anos, satisfazendo
a idade mínima exigida para Governador.
Para ser eleito Vereador basta ter 18 anos; mas para ser Presidente da Câmara Municipal é preciso 21 anos,
pois para ser Prefeito é necessário essa idade mínima, e poderá ser necessário que o Presidente da Câmara
assuma a Prefeitura, dando satisfação à idade mínima de 21 anos prevista pela Constituição da República
para assumir o cargo de Prefeito.
Por fim, destaque-se que a idade mínima prevista no art. 14, § 3º, inc. VI, é aferida na data da posse, não no
registro, de acordo com o art. 11, § 2º, da Lei nº 9.504/97 (Lei das Eleições). Trata-se, portanto, de uma
condição exigida para assumir e exercer ou desempenhar mandato eletivo, não para participar da eleição.
Como só há exercício do mandato após a posse, só se afere a idade mínima na posse.
Esse entendimento, no entanto, não se aplica no caso de eleição para o cargo de Vereador. Neste caso, a
idade mínima deverá ser observada no registro de candidatura, não na pessoa. Isso porque, se assim não
fosse, um relativamente incapaz poderia registrar candidatura desde que provasse que, na data da posse,
completaria 18 anos. Portanto, não se admite que menor de idade registre candidatura.
Aspectos Gerais
Consoante o art. 112, do Estatuto, bem como art. 1º, § 2º, da Lei nº 12.594/2012, são as medidas
socioeducativas:
I - advertência;
IV - liberdade assistida;
Trata-se de rol taxativo e, por isso, não pode ser ampliado pela autoridade judiciária.18
Conceito
Para se chegar ao conceito da medida socioeducativa, é importante levar em conta alguns aspectos
importantes, como o fundamento normativo para a sua aplicabilidade, aqueles que estão sujeitos à medida,
a sua finalidade e a autoridade competente para a sua imposição.
A medida socioeducativa tem por fundamentos normativos as Diretrizes de Riad, as Regras de Pequim, a
Constituição Federal (art. 228), o Código Penal e o Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com as Diretrizes de Riad, devem ser adotadas providências necessárias para impedir a ocorrência
da delinquência juvenil, enfatizando-se que somente em último caso os jovens deverão ser internados em
instituições e pelo mínimo espaço de tempo necessário, dando-se a máxima importância aos seus superiores
18
As Regras de Beijing determinam que uma ampla variedade de medidas deve estar à disposição da autoridade competente,
permitindo a flexibilidade e evitando ao máximo a institucionalização (item 18).
interesses (item 45). Nas Regras de Pequim enfatizou-se que em cada jurisdição nacional deve-se promulgar
um conjunto de leis, normas e disposições aplicáveis especificamente aos jovens infratores, assim como os
órgãos e instituições encarregados (item 2.3).
A Constituição Federal, em seu art. 228, determina serem penalmente inimputáveis os menores de dezoito
anos, sujeitos às normas da legislação especial. Na mesma linha, o art. 27, do Código Penal, indica que os
menores de dezoito anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na
legislação especial. Por fim, o art. 112, do Estatuto, determina que, uma vez verificada a prática de ato
infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as medidas que identifica.
As medidas socioeducativas poderão ser impostas aos adolescentes autores de ato infracional (art. 112,
caput), devendo ser levada em conta o momento da ação ou da omissão tipificada na lei como crime ou
contravenção penal.
Nesse passo, se quando da ação ou da omissão, o agente ainda era criança, não será possível a imposição de
medida socioeducativa, podendo ser inserido em medida protetiva, conforme já foi anteriormente indicado.
Há de ser lembrado que o Estatuto da Criança e do Adolescente poderá ser aplicado excepcionalmente
àqueles que tiverem entre dezoito e vinte e um anos, sendo autorizada a imposição da medida
socioeducativa a estas pessoas, desde que o ato infracional tenha sido praticado quando o agente ainda era
adolescente.
Para a imposição da medida socioeducativa, contudo, não basta que o agente tenha praticado o ato
infracional. Há necessidade de que o adolescente tenha condições mentais de assimilar o conteúdo
pedagógico da medida.
Com efeito, as medidas socioeducativas têm como objetivos (art. 1º, § 2º, da Lei nº 12.594/2012):
II – a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio
do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e,
Todos esses objetivos resumem o fato de que as medidas socioeducativas devem propiciar a ressocialização
do adolescente, inibindo-se a reiteração.
Por fim, somente o Juízo da Vara da Infância e da Juventude será competente para a apuração da autoria e
da materialidade do ato infracional (independentemente de qual seja), bem como da imposição da medida
socioeducativa necessária à ressocialização do adolescente. Dessa maneira, ainda que o ato ilícito tenha sido
praticado contra a União, a competência para a sua apuração será do Juízo da Vara da Infância e da
Juventude.
O Juízo da Vara da Infância será provocado pelo Ministério Público, que poderá, ou propor a concessão de
remissão, cumulada ou não com medida socioeducativa, ou então oferecer a representação (petição inicial),
com pedido de apuração de autoria e da materialidade do ato infracional.
Partindo-se dessas considerações, tem-se que a medida socioeducativa constitui-se em medida jurídica que
pode ser aplicada pelo Juízo da Vara da Infância e da Juventude ao adolescente autor de ato infracional.
Como foi analisado nas Disposições Preliminares, o Estatuto da Criança e do Adolescente aplica-se,
excepcionalmente, às pessoas que tenham entre dezoito e vinte e um anos de idade.
A questão não foi sempre compreendida dessa forma. A propósito, alguns Tribunais de Justiça admitiam que
somente seria possível a aplicação, nessas situações, de medidas restritivas de liberdade – semiliberdade e
internação – com exclusão das demais. Enquanto outros, sempre defenderam a viabilidade de inserção
desses jovens em quaisquer medidas socioeducativas.
O tema foi analisado pelo Superior Tribunal de Justiça que, concomitantemente, fixou tese no Tema
Repetitivo nº 992, bem como editou a Súmula 694, decidindo-se que a superveniência da maioridade penal
não interfere na apuração de ato infracional nem na aplicabilidade de medida socioeducativa em curso,
inclusive na liberdade assistida, enquanto não atingida a idade de 21 anos.
Bem definida a tese, resta, neste momento, exemplificar a sua aplicação para melhor compreensão.
Situação 1: imagine-se que o adolescente Mévio tenha praticado ato infracional com dezessete anos e onze
meses de idade. Foi apreendido, tendo sido decretada a sua internação provisória, aguardando-se o
julgamento em entidade de atendimento. Completa a maioridade penal e, posteriormente, advém o
julgamento da ação socioeducativa, com inserção do jovem em medida socioeducativa de liberdade assistida
cumulada com prestação de serviços à comunidade.
Note-se que, neste caso, o ato infracional foi praticado enquanto o jovem ainda era adolescente e o
magistrado, após apurar o déficit socioeducativo, impôs-lhe medida socioeducativa em meio aberto. O
advento da maioridade penal não obstou tal procedimento.
Situação 2: diferentemente do primeiro caso, ao adolescente Tício foi aplicada medida socioeducativa de
semiliberdade enquanto este ainda tinha 17 anos. Estando em cumprimento da medida, sobrevém-lhe a
maioridade penal. Neste caso, continuará cumprindo a medida socioeducativa de semiliberdade.
Situação 3: jovem, com 17 anos, pratica latrocínio e lhe é aplicada medida socioeducativa de internação.
Posteriormente, foge para os Estados Unidos. Quando tinha 20 anos e 11 meses de vida, foi deportado ao
Brasil. Aqui chegando, passa a cumprir a medida socioeducativa pelo tempo que é possível, ou seja, até
completar a idade de vinte e um anos.
Com todos esses exemplos, é possível compreender a aplicabilidade da tese fixada pelo Superior Tribunal de
Justiça em sede de recurso repetitivo.
Por fim, vale o registro: o jovem terá vinte e um anos de idade no primeiro instante do dia em que completa
essa idade, independentemente do horário em que tenha nascido. A partir de então, não será mais possível
cumprir as medidas socioeducativas, as quais deverão peremptoriamente ser extintas.
Não é incomum buscar compreender a situação do infrator Champinha que, muito embora já tenha
completado vinte e um anos de idade, ainda permanece internado.
Rememore-se que no ano de 2003, quando tinha dezesseis anos de idade, Roberto Aparecido Alves Cardoso,
conhecido como Champinha, em concurso com outros agentes, veio a praticar terrível ato infracional e que,
até hoje, não se encontra em liberdade.19
Ocorre que, depois de cumprir o período máximo da medida, Roberto Aparecido Alves Cardoso, no ano de
2007, passou de “uma forma de intervenção estatal justificada pela perspectiva pedagógica ressocializadora
(objetivo da medida socioeducativa) para uma subordinação a um tratamento de saúde, medida
fundamentada pelos diagnósticos médicos formulados a partir de seus laudos psiquiátricos”.20
19
“O apelido Champinha se tornou conhecido no final de 2003. Em novembro daquele ano, em Embu-Guaçu, região da grande
São Paulo, o adolescente Champinha (então com 16 anos), juntamente com Paulo Cesar Silva Marques, rendeu e sequestrou Felipe
Caffé e Liana Friedenbach, um jovem casal de namorados que acampava na região rural da cidade. Outros três homens ainda se
envolveriam no crime, que acabou vitimando fatalmente o casal. Os veículos de comunicação noticiaram intensamente as
investigações sobre o crime e o processo de punição dos envolvidos, dando especial destaque ao papel do adolescente no crime
e a sua trajetória pelas instituições de privação de liberdade do Estado”. CARLOS, Juliana de Oliveira. Experimento de Exceção:
Política e Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da
Universidade de São Paulo. São Paulo: 2011, p. 13.
20
CARLOS, Juliana de Oliveira. Experimento de Exceção: Política e Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2011, p. 14.
A propósito, Juliana de Oliveira Carlos, em dissertação sobre o tema, bem registrou: “(...) findos todos os
prazos que justificariam a manutenção da internação de Champinha, o jovem foi diagnosticado – depois de
uma sequência de laudos de resultados divergentes – como portador de transtorno de personalidade e,
então, internado compulsoriamente para receber tratamento psiquiátrico em uma instituição criada para
recebê-lo, a Unidade Experimental de Saúde (UES), que está subordinada à Secretaria da Saúde, mas opera
em convênio com a Secretaria de Administração Penitenciária (SAP)”.21
Portanto, diferentemente do que se possa imaginar, o caso Champinha não se configura como exceção, pois
não mais se encontra internado em cumprimento de medida socioeducativa.
Para que o Juiz da Vara da Infância e da Juventude possa escolher a medida socioeducativa a ser aplicada no
caso concreto, o que o fará na ação socioeducativa promovida pelo Ministério Público e à luz de todos os
elementos colhidos sob o contraditório e a ampla defesa, deverá observar aos seguintes quesitos: 22
e) se as medidas em meio aberto não forem suficientes à ressocialização, verificar se está diante de uma das
hipóteses do art. 122, do Estado, quando então será possível a aplicação da medida de internação.
21
CARLOS, Juliana de Oliveira. Experimento de Exceção: Política e Direitos Humanos no Brasil Contemporâneo. Dissertação
apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo. São Paulo: 2011, p. 14.
22
Regras de Beijing: 17. Princípios norteadores da decisão judicial das medidas. a) a resposta à infração será sempre proporcional
não só às circunstâncias e à gravidade da infração, mas também às circunstâncias e às necessidades do jovem, assim como às
necessidades da sociedade; b) as restrições à liberdade pessoal do jovem serão impostas somente após estudo cuidadoso e se
reduzirão ao mínimo possível; c) não será imposta a privação de liberdade pessoal a não ser que o jovem tenha praticado ato
grave, envolvendo violência contra outra pessoa ou por reincidência no cometimento de outras infrações sérias, e a menos que
não haja outra medida apropriada; d) o bem-estar do jovem será o fator preponderante no exame dos casos.
17.2 A pena capital não será imposta por qualquer crime cometido por jovens. 17.3 Os jovens não serão submetidos a penas
corporais. 17.4 A autoridade competente poderá suspender o processo em qualquer tempo.
Como é possível verificar, a gravidade do ato infracional não é elemento que, por si só, justificará a escolha
de uma medida socioeducativa. Trata-se de mais um elemento que deverá ser ponderado para a escolha
(item 5.1, das Regras de Beijing).23
Além disso, há de se enfatizar que as medidas privativas de liberdade (semiliberdade e internação) somente
poderão ser aplicadas excepcionalmente, se as demais medidas não forem suficientes à ressocialização. 24
Diante de uma situação concreta e após analisar os elementos fáticos existentes, o juiz poderá chegar à
conclusão de que o déficit socioeducativo somente poderá ser suprido com a intervenção por meio de mais
de uma medida socioeducativa. Nesse sentido, por exemplo, poderá cumular as medidas de liberdade
assistida e de prestação de serviços à comunidade.
Para que a cumulação possa ocorrer, no entanto, há necessidade de que haja compatibilidade, pois não é
possível determinar o cumprimento conjunto, a título de exemplo, da internação e da liberdade assistida.
São incompatíveis entre si.
Assim, com fundamento nos artigos 99, 100 e 113, do Estatuto, admite-se a cumulação das medidas
socioeducativas, quando houver compatibilidade entre elas.
Consoante o § 3º, do art. 42, da Lei nº 12.594/2012, considera-se mais grave a internação, em relação a
todas as demais medidas, e mais grave a semiliberdade, em relação às medidas de meio aberto.
Diante da lógica das medidas socioeducativas, tem-se que para que o juiz possa aplicar a medida
socioeducativa de internação, considerada a mais grave entre todas as demais, deverá descartar a viabilidade
de que outra medida fosse suficiente à ressocialização, bem como anotar a presença de uma das hipóteses
do art. 122, do Estatuto.
Contudo, para a medida de semiliberdade, diferentemente, basta que verifique que não existe outra medida
socioeducativa seja suficiente à ressocialização, não havendo a necessidade de que esteja presente uma das
causas autorizativas da internação (art. 122, Estatuto).
23
Regras de Beijing. 5.Objetivos da Justiça da Infância e da Juventude. 5.1 O sistema de Justiça da Infância e da juventude enfatizará
o bem-estar do jovem e garantirá que qualquer decisão em relação aos jovens infratores será sempre proporcional às
circunstâncias do infrator e da infração.
24
Regras de Beijing. 19.Caráter excepcional da institucionalização. 19.1 A internação de um jovem em uma instituição será sempre
uma medida de último recurso e pelo mais breve período possível.
À exceção da internação, as demais serão aplicadas em conformidade com o juízo de ponderação realizado
pelo magistrado, não havendo correspondência entre uma causa e a escolha da medida.
Considerando-se o caráter precário das medidas socioeducativas, é possível que o Juízo da Vara da Infância
e da Juventude competente determine a substituição de uma por outra, desde que haja necessidade
devidamente comprovada.
Nesse sentido, é possível substituir-se a medida de internação pela de liberdade assistida, em uma
progressão de medida. De outro, também é viável a substituição da medida de semiliberdade pela de
internação sem prazo determinado, em razão de ter sido apurado posteriormente a existência de déficit
socioeducativo que autorize intervenção mais severa.
A análise jurídica do tributo não pode prescindir do estudo da regra-matriz de incidência tributária.
Por regra-matriz de incidência tributária se entende o modelo teórico mediante o qual se organiza os textos
legais para fins de identificação da norma tributária que institui o tributo25. Esse modelo facilita o estudo dos
enunciados prescritivos e ajuda na avaliação da compatibilidade da norma com a Constituição Federal. Foi
desenvolvido pelo jurista Paulo de Barros Carvalho e é bastante difundido na doutrina brasileira e
estrangeira.
Pois bem, essa teoria parte do pressuposto de que há uma distinção entre texto normativo e norma jurídica.
Texto normativo é o conjunto de dispositivos de leis espalhados pela legislação. É a soma dos enunciados
que encontramos na Constituição, em um Código ou na legislação esparsa.
Norma jurídica, por outro lado, é uma construção mental; é a significação que se atribui ao texto durante o
processo interpretativo. As normas jurídicas são construídas como uma proposição hipotética-condicional,
conforme gráfico a seguir:
25
A expressão regra-matriz de incidência tributária tem mais de uma acepção. Pode ser compreendida como modelo
teórico e também como a própria norma de tributação.
Hipótese (Ex. Se não pagar tributo) Consequência (ex. Deve pagar multa)
Como toda norma jurídica, as normas tributárias imponíveis possuem uma hipótese (se) e um consequente
(dever ser).
Na hipótese, necessariamente vamos encontrar o critério material, o critério espacial e o critério temporal.
No consequente, o critério quantitativo e o critério pessoal.
Passemos a analisá-los.
Critérios do Antecedente
O Legislador recorta a realidade social e seleciona os fatos que considera relevantes na composição de uma
hipótese normativa.
A descrição desses fatos se encontra no antecedente da norma jurídica, local em que está enunciado um
determinado comportamento ou estado, condicionados por coordenadas de tempo e de espaço.
Ao se isolar essas circunstâncias (comportamento, tempo e espaço), conclui-se que há três critérios no
antecedente da norma: o critério material, o critério temporal e o critério espacial.
Critério Material
O critério material é formado por um verbo e um complemento, que indica um comportamento humano (p.
ex.: auferir renda, importar produtos) ou um determinado estado (p. ex.: ser proprietário de bem imóvel).
Trata-se, assim, do núcleo essencial do enunciado normativo, em que se descreve uma conduta humana
condicionada no tempo e no espaço. Por abstração, desconsidera-se nesse momento os condicionantes de
tempo e de espaço26.
26
CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário: fundamentos jurídicos da incidência. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
Pensemos em um exemplo do direito tributário, o ITR – Imposto Territorial Rural, cuja instituição foi operada
pela Lei 9.393/9627.
O critério material pode ser enunciado da seguinte forma: Ser proprietário, enfiteuta ou possuidor de bem
imóvel.
Critério Espacial
O critério espacial é o local em que a conduta descrita no critério material deve ocorrer.
Um caso de definição explícita é o do IPTU, em que a legislação diz que o critério material (ser proprietário
de bem imóvel) deve ocorrer na zona urbana (critério temporal). Já um exemplo de definição implícita é o
do IPI, cujo critério espacial é todo território nacional.
O critério espacial pode ser: i) pontual, quando o local do fato deve ocorrer em um ponto bastante específico
(ex. estacionar veículo em local proibido, apresentar-se à Delegacia de Polícia localizada em determinada
cidade); ii) regional, quando o local eleito pela lei, embora específico, é um pouco mais amplo (ex. ser
proprietário de bem imóvel urbano, ou seja, dentro de uma determinada zona geográfica); iii) territorial,
bastante genérico, em que o critério espacial se confunde com o âmbito de vigência da lei (industrializar
produtos em qualquer lugar do território nacional); iv) universal, quando o critério espacial é mais amplo do
27
Art. 1º O Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - ITR, de apuração anual, tem como fato gerador a
propriedade, o domínio útil ou a posse de imóvel por natureza, localizado fora da zona urbana do município, em 1º de
janeiro de cada ano.
que o âmbito territorial da própria norma. (É o caso do IRPF, em que se tributa, nos casos de residentes no
Brasil, a renda auferida no exterior) 28.
No caso do ITR, o critério espacial é a zona rural, porque é nessa região geográfica que alguém deve ser
proprietário de um imóvel para que haja a incidência da norma jurídica.29
Critério Temporal
O critério temporal é o momento, contido no suposto da regra, que indica o instante em que ocorre o fato
jurídico30.
Em alguns casos, como do IPTU, a sua veiculação explícita é imprescindível, porque se está diante de uma
conduta que exprime uma situação duradoura (ser proprietário de bem imóvel urbano). Assim, é preciso
responder de maneira expressa em que momento que essa situação (ser proprietário) se afigura relevante
para fins de incidência.
Já em outras circunstâncias, o critério temporal se encontra inserido de maneira implícita, porque pode ser
construído a partir do critério material.
Um exemplo de definição explícita ocorre com o ITR, cujo critério temporal é o dia 1º de janeiro, por definição
do artigo 1º da Lei 9.393/96.
Critérios do Consequente
No consequente se identifica a relação jurídica que nasce quando da ocorrência daquela situação prevista
pela hipótese da norma tributária.
É no consequente que se encontra quem é o sujeito portador do direito subjetivo; a quem foi cometido o
dever de pagar uma prestação; e qual o objeto desta prestação.31
Dois critérios permitem identificar esse plexo de informações: o critério pessoal e o critério quantitativo.
Critério Pessoal
28
TOMAZINI DE CARVALHO, Aurora. Teoria Geral do Direito – O construtivismo Lógico-semântico. 623 f. Tese
(Doutorado em Direito) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009, p.295-296
29
Quando estudarmos impostos em espécie, vamos ver que há exceção a essa regra.
30
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 327
31
CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 22ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.p.348
O critério pessoal é formado pelo conjunto de informações constantes do consequente da norma, que
permite identificar quem são o sujeito ativo e o sujeito passivo da relação obrigacional.
No caso do ITR, via de regra o sujeito ativo é a União Federal. Os sujeitos passivos são os proprietários,
enfiteutas e possuidores dos imóveis rurais.
Critério Quantitativo
A base de cálculo possui três funções: i) mensuradora, porque mede as proporções reais do fato; ii) objetiva,
porque compõe a determinação da dívida; iii) comparativa, porque em comparação com o critério material,
pode confirma-lo, infirmá-lo ou afirmá-lo32.
As funções mensuradora e objetiva são de fácil compreensão. Imaginemos a seguinte situação: No ano de
2016, o contribuinte João auferiu renda no valor de R$ 200.000,00. Esta quantia é a base de cálculo do IRPF,
porque mensura a proporção do fato – o quantum de renda auferido – e permite a determinação do valor
devido a título de tributo quando multiplicada pela alíquota (função objetiva).
Quando a base de cálculo eleita pela legislação consegue medir as proporções reais do fato, ela confirma o
critério material, como aconteceu no exemplo acima. Se isso inocorre, ela infirma o critério material.
É o que ocorreria com uma lei municipal que criasse uma taxa de licença de publicidade e estabelecesse
como base de cálculo o lucro do sujeito passivo. O lucro do estabelecimento não mediria a proporção do
fato, por não ter relação com o custo incorrido pelo município ao exercer a fiscalização. Logo, a base de
cálculo infirmaria o critério material. Embora o município tivesse dado o nome de taxa ao tributo, na verdade
teria criado um imposto. E um imposto inconstitucional.
Portanto, a base de cálculo pode indicar que o Estado criou uma espécie tributária, mas deu a ela o nome de
outra para lhe dar uma aparência de legalidade.
As alíquotas podem ser especificas, quando assumem um valor fixo que é multiplicado pela unidade prevista
em lei (p. ex.: R$ 1,50 por metro linear); ou ad valorem, quando é um percentual fixado em lei (p. ex.: 18%
sobre o valor do produto).
No caso do ITR a base de cálculo é o valor da Terra Nua Tributável – VTN e as alíquotas variam entre 0,03%
a 20%, a depender do tamanho do imóvel e do grau da sua utilização.
32
Ibid, p. 400
Síntese
1.11.1 - Recomendação
Art. 27. Cabe ao Ministério Público exercer a defesa dos direitos assegurados nas Constituições
Federal e Estadual, sempre que se cuidar de garantir-lhe o respeito: Parágrafo único. No exercício
das atribuições a que se refere este artigo, cabe ao Ministério Público, entre outras providências:
IV - promover audiências públicas e emitir relatórios, anual ou especiais, e recomendações
dirigidas aos órgãos e entidades mencionadas no caput deste artigo, requisitando ao destinatário
sua divulgação adequada e imediata, assim como resposta por escrito.
Além da lei 8.625/93, é regulamentada pela Resolução 164/2017 do CNMP, bem como os atos
administrativos internos de cada Ministério Público estadual. Nos termos do art. 1º da citada resolução, a
recomendação é assim definida:
A recomendação não possui caráter coercitivo, vale dizer, não é impositiva e nem aplica penalidade, mas
serve de sugestão fundamentada e alerta para a possível tomada de medidas, a fim de que seu destinatário
corrija determinadas posturas ou atos.
A recomendação deve ser devidamente fundamentada e pode ser dirigida de maneira preventiva ou
corretiva para quem possui poderes, atribuição ou competência para resolver a situação enfrentada.
Competência é a medida da jurisdição. No caso das ações coletivas genéricas, a regra de competência geral
é a colocada no art. 2º da lei 7.347/85: “Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local
onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa”. Deve-se reforçar
que a competência é tratada da mesma forma, tanto para as ações de natureza preventiva, quanto
repressiva. Não obstante a regra geral do art. 2º da LACP, há situações específicas e pontuais decorrentes de
estatutos específicos, como o Estatuto do Idoso e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Assim, na forma
do art. 209 do ECA:
Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do local onde ocorreu ou
deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar a causa,
ressalvadas a competência da Justiça Federal e a competência originária dos tribunais superiores.
E o Estatuto do Idoso:
Art. 80. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro do domicílio do idoso, cujo
juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas as competências da Justiça
Federal.
1749422/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 20/09/2018, DJe
17/12/2018)
Requer a harmonização entre o desenvolvimento econômico e a proteção do meio ambiente. Está previsto
no art. 225, caput, da CR, em relação à previsão do meio ambiente ecologicamente equilibrado enquanto
bem essencial à sadia qualidade de vida e o dever de preservação para as presentes e futuras gerações
(princípio da solidariedade intergeracional). É complementado, ainda, pelo art. 170, III e VI, da CR, que
estabeleceu a função social da propriedade e a defesa do meio ambiente como princípios da ordem
econômica (modelo de Economia Verde)
Foi definido inicialmente no Relatório Brundtland – Our Common Future, pela Comissão Mundial do Meio
Ambiente, em 1987, como o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades.
Princípio 3: O direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que responda
eqüitativamente às necessidades de desenvolvimento e ambientais das gerações presentes e
futuras.
Em relação ao conteúdo do princípio, fala-se no tripé da sustentabilidade: busca do justo equilíbrio entre
desenvolvimento econômico (vertente econômica), preservação do meio ambiente (vertente ecológica) e
equidade social (vertente social).
33
Édis Milaré prefere falar em solidariedade sincrônica (relações de cooperação entre as gerações
presentes) e solidariedade diacrônica (cooperação com as futuras gerações). Direito do Ambiente. 10.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p. 259.
34
WEDY, Gabriel. Princípios do desenvolvimento sustentável e da solidariedade intergeracional.
Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-ago-17/ambiente-juridico-desenvolvimento-sustentavel-
solidariedade-intergeracional
A solidariedade intrageracional, por sua vez, relaciona-se com o conceito de justiça ambiental, pois invoca
o dever de cooperação ambiental em uma mesma geração. Relaciona-se com a distribuição equitativa dos
ônus da poluição ambiental, a fim de obstar que determinado grupo de pessoas suporte uma parcela
desproporcional dos efeitos da degradação ambiental. Do conceito injustiça ambiental surgiu a noção de
racismo ambiental, oriunda de movimento por justiça ambiental ocorrido nos EUA na década de 90,
relacionado com a distribuição desproporcional da poluição industrial em relação à comunidade negra.
Estudos realizados na época identificaram uma tendência de que as indústrias poluentes se instalavam
próximas a comunidades carentes e vulneráveis, especialmente a população negra, que apresentavam
menor capacidade de resistir ao poder econômico. Deste movimento surgiu a síndrome N.I.M.B.Y (not-in-
my-backyard – “não no meu quintal”) e sua evolução para N.I.A.B.Y (not-in-anyone´s-backyard – “não no
quintal de ninguém”), como busca impedir a geração de desigualdades ambientais e proteger a vida e a
saúde em relação à instalação de indústrias poluentes.
Destas noções extrai-se a tridimensionalidade da justiça ambiental: (1) justiça intrageracional: atinente à
solidariedade entre pessoas da mesma geração; (2) justiça intergeracional: solidariedade entre gerações
diversas, especialmente da presente com as futuras; (3) justiça interespécie: novo conceito que envolve o
tratamento com respeito do ser humano com as demais espécies.
Relaciona-se com a definição do bem ambiental, em relação à ausência de fronteiras espaciais, temporais e
de sujeitos. Os bens ambientais são transnacionais.
Significa dizer que a degradação ambiental provocada em determinada localidade pode provocar efeitos
perversos além das fronteiras nacionais e temporais (caráter transfronteiriço da poluição ambiental), a
exemplo da questão das alterações climáticas e dos desastres ecológicos. Trata-se de aspecto relacionado às
implicações da preservação ambiental no âmbito da proteção da vida e da saúde humana (art. 225, caput,
da CR), em atenção ao conceito de meio ambiente estabelecido no art. 3º, I, da Lei nº 6.938/81 (conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida
em todas as suas formas).
Também é decorrência do princípio da ubiquidade o dever de cooperação, que demanda a atuação conjunta
para a preservação do meio ambiente, de âmbito nacional (federalismo cooperativo e competência material
comum) e internacional (art. 4º, IX, da CR – princípio da cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade).
Desta noção extrai-se o princípio da cooperação entre os povos, como demanda pela implementação de
uma política ambiental de âmbito global, sem prejuízo à soberania nacional. No âmbito internacional, foi
previsto na Declaração de Estocolmo/1972:
Princípio 24: Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação
e em pé de igualdade das questões internacionais relativas à proteção e melhoramento do meio
ambiente. É indispensável cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os
efeitos prejudiciais que as atividades que se realizem em qualquer esfera, possam ter para o meio
ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios apropriados,
respeitados a soberania e os interesses de todos os estados.
3. PRINCÍPIO DA PREVENÇÃO
É o princípio-matriz do Direito Ambiental. Está previsto no art. 225, caput, da CR, que impõe ao Poder
Público e à coletividade o dever de proteger e preservar o equilíbrio ecológico.
Decorre da natureza do dano ambiental e sua nota de irreversibilidade (efeitos cumulativos e sinergéticos
da poluição ambiental), no contexto da sociedade de risco global (Ulrich Beck) e transnacional.
4. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO
É uma vertente do princípio da prevenção que se aplica para os casos de riscos incertos e desconhecidos.
Princípio 15: Com a finalidade de proteger o meio ambiente, os Estados deverão aplicar
amplamente o critério de precaução conforme suas capacidades. Quando houver perigo de dano
grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão
para que seja adiada a adoção de medidas eficazes em função dos custos para impedir a
degradação ambiental
Previsão constitucional: conforme reconhecido pelo STF, o princípio da precaução está previsto no art. 225,
§1º, V, que impõe ao Poder Público o dever de controlar a produção, a comercialização e o emprego de
técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente.
Art. 3o A PNMC e as ações dela decorrentes, executadas sob a responsabilidade dos entes
políticos e dos órgãos da administração pública, observarão os princípios da precaução, da
prevenção, da participação cidadã, do desenvolvimento sustentável e o das responsabilidades
comuns, porém diferenciadas, este último no âmbito internacional, (...).
No referido julgado, o STF entendeu que o princípio da precaução deve ser aplicado com prudência, à luz da
proporcionalidade. Na ocasião, ao enfrentar o desafio de estabelecer o conteúdo jurídico do princípio da
precaução, o Supremo Tribunal Federal compreendeu que o princípio não pode produzir uma letargia nas
ações do Estado diante de riscos potenciais, isto é, ser contido na ação, e não deve tampouco se embasar
em temores infundados que levariam a sua aplicação sem filtros como medida a afastar qualquer tipo de
risco. Fixou, pois, o conceito jurídico do princípio como método de gestão de riscos à luz da
proporcionalidade.
Em seu voto, o Min. Rel. Dias Toffoli conceituou o princípio da precaução como:
O princípio da precaução é um critério de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem
incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto, evento ou serviço desequilibrar o
meio ambiente ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o Estado analise os riscos, avalie
os custos das medidas de prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão
decorrentes de decisões universais, não discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais.
Por outro lado, a aplicação do princípio não pode gerar como resultados temores infundados.
Havendo relevantes elementos de convicção sobre os riscos, o Estado há de agir de forma
proporcional. Sua adequada aplicação na dimensão material deve propiciar que a investigação
dos riscos ocorra sobre as “consequências distantes tanto em tempo como em lugar, [sobre]
danos a bens particularmente sensíveis, [sobre] meros distúrbios e até [sobre a] pouca
probabilidade de danos”, de forma a propiciar a adoção de medidas pertinentes e proporcionais
(cf. Gerd Winter. A Natureza Jurídica dos Princípios Ambientais em Direito Internacional. In, KISHI,
Sandra A. S., SILVA, Solange T. da e SOARES, Inês V. P. (Org.). Desafios do Direito Ambiental no
Século XXI. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 144). O adequado equacionamento dos elementos que
levam o poder público a agir e as medidas acautelatórias a serem adotadas só se efetivarão com
o cumprimento dos princípios da motivação e da proporcionalidade, o que evita o non liquet
estatal.
Do princípio da precaução surge o princípio in dubio pro natura (a incerteza científica milita em favor do
meio ambiente), que constitui metodologia de hermenêutica jurídico-ambiental. Na jurisprudência do STJ:
2. A legislação de amparo dos sujeitos vulneráveis e dos interesses difusos e coletivos deve ser
interpretada da maneira que lhes seja mais favorável e melhor possa viabilizar, no plano da
eficácia, a prestação jurisdicional e a ratio essendi da norma de fundo e processual. A
hermenêutica jurídico-ambiental rege-se pelo princípio in dubio pro natura (REsp 1198727/MG,
Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/08/2012, DJe 09/05/2013).
Decorre, ainda, do princípio da precaução, a aplicação da inversão do ônus da prova nas ações de
degradação ambiental (Súmula nº 618 do STJ).
5. PRINCÍPIO DA PARTICIPAÇÃO
Nos termos da CR (art. 225), o dever de proteção do meio ambiente impõe-se ao Poder Público e também à
coletividade. Exige certo grau de democratização nas decisões tomadas no âmbito da gestão ambiental,
com a participação e o envolvimento da população.
Princípio 10: O melhor modo de tratar as questões ambientais é com a participação de todos os
cidadãos interessados, em vários níveis. No plano nacional, toda pessoa deverá ter acesso
adequado à informação sobre o ambiente de que dispõem as autoridades públicas, incluída a
informação sobre os materiais e as atividades que oferecem perigo a suas comunidades, assim
como a oportunidade de participar dos processos de adoção de decisões. Os Estados deverão
facilitar e fomentar a sensibilização e a participação do público, colocando a informação à
disposição de todos. Deverá ser proporcionado acesso efetivo aos procedimentos judiciais e
administrativos, entre os quais o ressarcimento de danos e recursos pertinentes.
O dever de participação aplica-se a todos os poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) e pode ser visto sob
dois pontos de vista:
(1) Negativo – impõe a adoção de comportamentos individuais de não praticar atos que possam ser
ofensivos ao meio ambiente;
(2) Positivo - impõe adoção de comportamentos sociais/coletivos consistentes numa tomada de atitude,
que não se resumam apenas à esfera individual, tendentes à proteção ambiental.
Instrumentos de participação pública: audiências públicas, ação popular e ação civil pública, conselhos de
meio ambiente.
6. PRINCÍPIO DA INFORMAÇÃO
Em relação à gestão de riscos ambientais, fala-se em gestão democrática do risco (governança social do
risco), através de uma prevenção informada e participativa, para a concretização do direito a saber.
Previsão constitucional: art. 5º, XXXIII (acesso à informação como garantia individual) + art. 225, §1º, IV
(publicidade do Estudo de Impacto Ambiental). O Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que acompanha
o EIA, constitui, igualmente, instrumento de efetivação do princípio da informação.
Também está previsto nas legislações ambientais, a exemplo da Lei nº 6.938/81, que prevê o Relatório de
Qualidade do Meio Ambiente (art. 9º, X) e a publicação do pedido de licenciamento ambiental (art. 10,
§1º), ambos instrumentos de densificação do princípio da informação.
Veja, em específico, a Lei nº 10.650/03, que dispõe sobre o acesso público aos dados e informações
existentes nos órgãos e entidades do SISNAMA.
Também é corolário do princípio da participação e está previsto de forma expressa na CR, em seu artigo 225,
§1º, VI, enquanto obrigação do Poder Público, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino
e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. É a chamada democracia participativa
ecológica.
A educação ambiental está prevista como princípio da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 2º, X, da Lei
nº 6.938/81): educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade,
objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Está, ainda, prevista dentre os
objetivos da PNMA, no sentido da difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de
dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de
preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico (art. 4º, V).
A Lei nº 9.795/99 instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental, estabelecendo o conceito de educação
ambiental no seu art. 1º:
Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade
Nos termos da referida lei, a educação ambiental deverá ser prestada em caráter formal e não formal (art.
2º), tendo como agentes envolvidos no processo o Poder Público, as instituições educativas, os Órgãos
integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, os meios de comunicação em massa, as
empresas, as entidades de classe e a sociedade como um todo (art. 3º). A educação ambiental deverá se
basear em uma visão sistemática, onde se privilegie um enfoque humanista e holístico, com a concepção do
meio ambiente em seu todo, e interpretação que abarque a pluralidade de ideias e pensamentos (enfoque
democrático e participativo), levando em consideração à diversidade cultura do País (art. 4º - princípios
básicos da educação ambiental).
Atenção! A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino
(art. 10, §1º, da Lei nº. 9795/99). Exceção: nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao
aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina
específica (art. 10, §2º).
8. PRINCÍPIO DO POLUIDOR-PAGADOR
Impõe que os custos da prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais sejam suportados pelo
poluidor. Possui, na sua essência, uma vertente econômica, ligada à internalização das externalidades
negativas ambientais, a fim de evitar a privatização dos lucros e a socialização das perdas. Jamais pode ser
interpretado como “pagar para poluir”, uma vez que apresenta caráter essencialmente preventivo.
35
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p.
303.
Conclui-se, portanto, ser errada a ideia de que o poluidor-pagador seja um passaporte para a
poluição, bastando apresentar um visto de compra (internalização do custo) para que se tenha o
direito de poluir. Repetindo, esse princípio “tem uma estrutura aberta, permitindo desse modo
que a sua execução seja feita ou através de instrumentos econômicos, seja através de
instrumentos de responsabilidade civil, ou ainda de outros instrumentos”36.
Princípio 16: As autoridades nacionais deveriam procurar fomentar a internalização dos custos
ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em conta o critério de que o causador
da contaminação deveria, por princípio, arcar com os seus respectivos custos de reabilitação,
considerando o interesse público, e sem distorcer o comércio e as inversões internacionais.
Fundamento constitucional: art. 225, §3º - as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente
da obrigação de reparar os danos causados.
(...)
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado,
independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio
36
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Direito Ambiental Esquematizado. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p.
313.
ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao
meio ambiente.
Está previsto de forma expressa na Lei nº. 12.305/10, enquanto princípio da Política Nacional de Resíduos
Sólidos (art. 6º, II).
Instrumento de aplicação concreta: sistema de logística reversa (art. 8º, III, da Lei nº. 12.305/10) – busca
justamente fazer com que a atividade econômica internalize esses custos, para que eles não sejam
experimentados por toda uma coletividade que não participa nem da produção nem do consumo de
produtos geradores deste tipo de resíduos.
9. PRINCÍPIO DO USUÁRIO-PAGADOR
É uma evolução do princípio do poluidor-pagador aplicada à utilização racional dos recursos naturais.
Decorre da previsão constitucional no sentido de que o meio ambiente constitui bem de uso comum do
povo, ou seja, de titularidade de toda coletividade (art. 225 da CR).
Previsão legal: art. 4º, VII da Lei nº 6.938/81, no sentido da imposição, ao usuário, da contribuição pela
utilização de recursos ambientais com fins econômicos.
Instrumentos de aplicação concreta: outorga de recursos hídricos (art. 19, I, da Lei nº 9.433/97 – Lei de
Política Nacional de Recursos Hídricos, que estabelece como objetivo da cobrança pelo uso dos recursos
hídricos, reconhecer a água como bem econômico e dar ao usuário uma indicação de seu real valor)
Atenção! O princípio do usuário-pagador não ostenta caráter punitivo. Relaciona-se com a valoração
econômica dos recursos naturais, a fim de evitar o custo zero. Assim, se da utilização do bem resultar dano
ambiental, incidirá, na ocasião, o princípio do poluidor-pagador, na sua vertente de responsabilização.
14. Sob este visual das coisas, entendo que o art. 36 da Lei nº 9.985/00 densifica o princípio
usuário-pagador, este a significar um mecanismo de assunção da responsabilidade social
(partilhada, insista-se) pelos custos ambientais derivados da atividade econômica. (...)
15. Nessa ampla moldura, é de se inferir que o fato de, aqui e ali, inexistir efetivo dano ambiental
não significa isenção do empreendedor em partilhar os custos de medidas preventivas. Isto
porque uma das vertentes do princípio usuário-pagador é a que impõe ao empreendedor o dever
de também responder pelas medidas de prevenção de impactos ambientais que possam
decorrer, significativamente, da implementação de sua empírica empreitada econômica.
Relaciona-se com o modelo de Economia Verde e o incentivo ao incremento da proteção ambiental através
de instrumentos econômicos e de mercado, em complemento à tradicional política de comando e controle.
Na perspectiva econômica de proteção do meio ambiente (art. 170, VI, da CR), destaca-se a previsão de
instrumentos econômicos e financeiros, que se fundamentam no princípio do desenvolvimento sustentável,
mas constituem, também, mecanismos de concretização do princípio do protetor-recebedor.
Previsão legal: art. 6º, inciso II, da Lei nº 12.305/10 – Política Nacional de Resíduos Sólidos:
(...)
II - o poluidor-pagador e o protetor-recebedor;
Art. 1º-A. Esta Lei estabelece normas gerais sobre a proteção da vegetação, áreas de Preservação
Permanente e as áreas de Reserva Legal; a exploração florestal, o suprimento de matéria-prima
florestal, o controle da origem dos produtos florestais e o controle e prevenção dos incêndios
florestais, e prevê instrumentos econômicos e financeiros para o alcance de seus objetivos.
Parágrafo único. Tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável, esta Lei atenderá aos
seguintes princípios:
Em sentido semelhante, a Lei nº 6.938/81 – LPNMA prevê, como um dos instrumentos da Política Nacional
do Meio Ambiente, a criação de instrumentos econômicos (art. 9º, XIII).
De forma específica, podem ser citados os seguintes instrumentos econômicos previstos na legislação
ambiental brasileira:
Previsão constitucional: art. 5º, XXIII, art. 182, §2º e art. 186
Art. 5º (...)
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais
de ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
Além disso, impõe ao proprietário a realização de condutas positivas (ex: efetivação da reserva legal) e
negativas (dever de não degradar o meio ambiente) e, como regra, não gera direito à indenização.
Trata-se de princípio constitucional implícito que veda o retrocesso, tanto legislativo, como administrativo e
judicial, no âmbito da tutela ambiental (aspecto negativo) e impõe o dever de contínuo incremento e avanço
da política ambiental e da legislação ambiental (aspecto positivo).
Previsão legal: Lei nº 6.938/81 – PNMA – estabelece como objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente
a melhoria da qualidade ambiental propícia à vida (art. 2º).
Aplicação do princípio na jurisprudência do STF: No julgamento da ADI 4.717/DF (Min. Rel. Carmem Lúcia, j.
05.04.2018), o STF utilizou como parâmetro ao aplicar o princípio da vedação de retrocesso ambiental o
critério da violação ao núcleo essencial do direito fundamental ao ambiente. Não se trata de princípio
Esse núcleo essencial do direito fundamental ao ambiente corresponderia ao chamado mínimo existencial
ambiental, enquanto conteúdo intangível do princípio da dignidade da pessoa humana.
Segundo o que Código Civil preceitua em seu art. 887, título de crédito é compreendido como "um
documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido". Trata-se de um documento
formal uma representação gráfica, preenchida nos moldes exigidos em lei (literalidade) que destina a
reproduzir e a provar a existência de uma dívida, e, consequentemente, a vontade de assumir uma obrigação.
É possível dizer, assim, que estaremos diante de um documento em papel (título), que
representará o crédito, que, nada mais é do que a consecução de um bem da vida, uma
mercadoria ou um empréstimo.
Os títulos de crédito são principal meio de circulação de riquezas e, embora existam inúmeros, constatam-
se características, funções e princípios comuns, o que permite falar-se em uma teoria geral de títulos de
crédito.
Serão regulados por leis específicas (Decreto 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra, em se tratando de letras
de câmbio e notas promissórias e pelas Leis 7.357/85, com relação aos cheques, e 5.474/68, com relação Às
duplicatas) e, subsidiariamente, pelo Código Civil.
37
SARLET, Ingo, e FENSTERSEIFER, Tiago. O Supremo Tribunal Federal e a proibição de retrocesso
ecológico. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-jun-28/direitos-fundamentais-supremo-
tribunal-federal-proibicao-retrocesso-ecologico#sdfootnote1sym
Quanto à sua natureza jurídica, há divergência. Hoje, prevalece a "Teoria da Declaração Unilateral da
Vontade" que, nas palavras de MARLON TOMAZETTE E FRAN MARTINS:
“Reconhecendo-se a vontade como fonte das obrigações cambiárias, mas afastada a natureza
contratual dessa manifestação, é certo que o melhor enquadramento para a vontade criadora da
obrigação é como uma declaração unilateral de vontade.” (Marlon Tomazette)
“O princípio de que o título de crédito deve a sua eficácia não a um contrato, mas a um ato unilateral
da vontade do subscritor, é hoje geralmente admitido.” (Fran Martins)
Segundo essa teoria, acolhida pelo nosso direito, a obrigação nascerá, em se tratando de títulos típicos, no
momento de sua criação (com a simples assinatura do título) e, em se tratando de títulos atípicos, com a
assinatura ou com a entrega voluntária.
(a) constituir um meio técnico para o exercício de direitos de crédito (função econômica);
(iii) circulação;
(vii) executividade;
(ix) formalismo; e
4. Princípios
A doutrina não é unânime a respeito do termo “princípios”, há quem prefira outras como: características,
atributos ou até requisitos essenciais.
De qualquer modo, apesar de alguns princípios extras, a doutrina converge em relação a pelo menos 3 (três):
(a) princípio da cartularidade (ou incorporação) que, de acordo com MARLON TOMAZETTE:
“No conceito de Vivante, diz-se que ‘título de crédito é o documento necessário para o exercício do
direito, literal e autônomo, nele mencionado’. Diz-se que o documento é necessário, ‘porque,
enquanto existe o documento, o credor deve exibi-lo para exercitar todo direito, seja principal, seja
acessório, que o título porta consigo e não se pode fazer qualquer mudança na posse do título, sem
anotá-la nele’.” (Marlon Tomazette)
O título de crédito, como já bem vimos, é um documento necessário ao exercício do direito nele
mencionado, logo, é preciso apresentá-lo à pessoa indicada para efetuar o pagamento. Não há que se falar
em título de crédito oral.
Além do exposto, tal princípio encontra algumas variações em relação às duplicatas mercantis ou
de prestação de serviços, nas quais alguns direitos podem ser exercidos sem a exibição do título,
como o protesto por indicações e a execução baseada no protesto por indicações acompanhada
do comprovante de entrega das mercadorias.” (Marlon Tomazette)
“Pelo princípio da autonomia das obrigações cambiais, os vícios que comprometem a validade
de uma relação jurídica, documentada em título de crédito, não se estendem às demais relações
abrangidas no mesmo documento.” (Fábio Ulhoa Coelho)
O princípio da autonomia das obrigações cambiais se desdobra em 2 (dois) outros subprincípios: (a) o da
abstração e (b) o da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé. Nas palavras do grande
FÁBIO ULHOA COELHO:
Havendo prescrição executória do título, o princípio da autonomia não permanecerá válido, conforme
reiteradamente já decidiu o Superior Tribunal de Justiça.
“(...) literal quer dizer que vale apenas o que está escrito, ou seja, o que efetivamente está
estampado no título. Assim, somente produzem efeitos jurídicos-cambiários os atos lançados no
próprio título de crédito, pois apenas o conteúdo do título é que possui valor.” (Tarcísio Teixeira)
Pelo princípio da literalidade, só é levado em consideração o que está escrito no título de crédito, e, por
consequência, as obrigações inseridas em separado a ele não se integram.
Tal princípio não se aplica na íntegra às duplicadas, como lembra MARLON TOMAZETTE:
“Mais uma vez, tal princípio não se aplica integralmente à duplicata. Nesta, são admitidas a
quitação em separado (Lei n. 5.474/68 – art. 9º), a compensação de valores não previstos no
título (Lei n. 5.474/68 – art. 10) e a assunção de obrigação fora do título, como o chamado aceite
presumido.” (Marlon Tomazette)
Além dos três mencionados, doutrinariamente é possível falar da presença de mais dois:
(i) abstração:
O princípio da abstração consagra a irrelevância da causa que deu origem ao título, em relação ao terceiro
de boa-fé para o qual este fora transferido. Para a compreensão da abstração, devemos seguir por partes,
entendendo um erro existente no artigo 887, CC.
(ii) independência:
A autonomia citada no artigo 887 do Código Civil, além da abstração, consagra a independência das relações
jurídicas constantes no título de crédito.
Nesse momento, a palavra atributo tratá o significado de qualidade. A primeira qualidade do título é a “fácil
circulação dos Títulos de Crédito”, aliás, um dos motivos de sua existência, já que foram criados para que a
circulação de riquezas fossse mais rápida, fácil e segura, simplificando as relações comerciais. Vamos a um
exemplo!
1. Quanto ao modelo
Entende-se como título de crédito de natureza livre aqueles que não não possuem uma forma ou padrão
preestabelecido pela lei. São exemplos a letra de câmbio e a nota promissória. É possível dizer que sua
criação dependerá de uma caneta, papel e conhecimento dos requisitos legais.
Sua criação depende de uma forma ou padrão predeterminado pela lei, como o cheque e a duplicata.
2. Quanto à natureza
Trata-se de título que apresenta três relações jurídicas diferentes: aquele que dá ordem (sacador ou
emitente), aquele que recebe a ordem (sacado ou devedor) e aquele que é beneficiário da ordem (tomador).
Ex.: Cheque (emitente, beneficiário e banco).
Trata-se de título que apresenta duas relações jurídicas diferentes: aquele que promete o pagamento e
aquele que é beneficiário do pagamento, isto é, o beneficiário da promessa. Ex.: nota promissória.
3.1. Causais
São aqueles que somente podem ser emitidos se ocorrer o fato que a lei elegeu como causa possível para
sua emissão. Ex.: duplicata mercantil.
Esse título apenas pode ser emitido em vista de uma transação em que empresários estejam nos dois pólos
passivos (Compra e Venda ou Prestação de serviços mercantis).
São aqueles que podem ser criados por qualquer causa, representando obrigação de qualquer natureza,
já que o título, a partir do momento em que é emitido, torna-se livre da causa que lhe originou. Ex.: letra de
câmbio, cheque e nota promissória.
4. Quanto à circulação
4.1. Ao portador
São aqueles que não identificam o credor, sendo transmissíveis por mera tradição (entrega) do emissor para
o beneficiário.
4.2. Nominativos
São aqueles que identificam o credor, isto é, o título é emitido em favor de pessoa cujo nome conste no
registro do emitente, sendo que sua transmissão pressupõe, além da tradição, outro ato jurídico (endosso
ou cessão de crédito).
Os títulos nominativos à ordem são aqueles que podem ser transferidos pelo beneficiário a um terceiro
mediante endosso. Caso conste em um título a cláusula não à ordem, o título não poderá ser transferido por
endosso.
A partir da norma veiculada pelo art. 2º, no ordenamento constitucional, o Ministério Público não tem
tratamento formal de Poder de Estado.
Entretanto, o Ministério Público é dotado de características materiais de Poder do Estado, dentre as quais:
III. tipificação dos atos do Presidente da República que atentem contra o livre exercício do Ministério
Público como crime de responsabilidade (art. 85, inc. II);
IV. autonomia administrativa, delimitada como capacidade de direção própria, por meio da prática dos
atos de gestão, organização dos serviços auxiliares, decisão sobre situação administrativa funcional e
elaboração de regimentos internos (art. 127, § 2º);
V. autonomia financeira, demarcada como capacidade de manipulação de recursos financeiros, com
vistas à elaboração da proposta orçamentária, gestão e aplicação dos recursos destinados ao custeio
das atividades do órgão titular da dotação orçamentária (arts. 127, § 3º, e 168),
VI. garantias e vedações próprias dos membros do Ministério Público (art. 128, § 5º, incs. I e II).
Na doutrina, Alfredo Valladão enfatiza que “o Ministério Público se apresenta com a figura de um verdadeiro
Poder do Estado. Se Montesquieu tivesse escrito hoje o ‘Espírito das Leis’, por certo não seria tríplice, mas
quádrupla, a divisão dos Poderes. Ao órgão que legisla, ao que executa, ao que julga, um outro órgão
acrescentaria ele – o que defende a sociedade e a lei, perante a justiça, parta a ofensa de onde partir, isto é,
dos indivíduos ou dos próprios Poderes do Estado” (VALLADÃO, Alfredo. O Ministério Público. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 1973, p. 27).
Na jurisprudência, de outro giro, o Supremo Tribunal Federal decidiu que, conquanto o Ministério Público
tenha elevado status constitucional, a Instituição está vinculada funcionalmente ao Poder Executivo:
Federal e Aeronáutica Militar – se inclui no poder residual da Polícia dos Estados” (STF, ADIn nº
132, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, J. 30.4.2003, DJU 30.5.2003).
Os direitos básicos do consumidor vêm elencados no art. 6º do Código de Defesa do Consumidor, de maneira
exemplificativa. De acordo com o professor Rodrigo Vaslin (PDF Estratégia):
A enumeração de direitos básicos do consumidor realizada pelo art. 6º supra não é exaustiva.
Além disso, são direitos garantidos pelo legislador para serem utilizados a favor da parte
vulnerável na relação de consumo, qual seja o consumidor. Dessa forma, o fornecedor não pode
se valer dos direitos básicos do consumidor acima enumerados para, de alguma forma,
beneficiar-se em detrimento do consumidor
Trata-se de direitos que traduzem a essência da defesa do Consumidor, sendo enumerados, como dito, de
forma exemplificativa, uma vez que o art. 7º do mesmo diploma menciona a possibilidade da existência de
outros direitos decorrentes de tratados ou convenções internacionais, o que caracteriza a teoria do diálogo
das fontes. Assim:
Com efeito, a expressão, direitos básicos, corresponde ao mínimo que o Código de Defesa do Consumidor
estipula abrindo campo para outras formas de proteção ao consumidor. Estas outras formas devem guardar
o mesmo espírito protetivo do CDC e serem compatíveis com os preceitos constitucionais que impõe a defesa
do Consumidor. Assim, os direitos básicos, tanto os previstos no CDC quanto em outros diplomas também
devem guardar relação com a Constituição e sua implicação consumerista, como previsto no art. 1º da lei
8.078/90:
A título de exemplo, pode-se citar o Decreto 6.523/2008, que regulamenta o Serviço de Atendimento ao
Consumidor – SAC-, que prevê direitos específicos ao consumidor decorrente de uma pontualidade da
relação de consumo.
2 - QUESTÕES OBJETIVAS
Encerrados os temas da aula de hoje, agora entra em campo nosso time de professores com 50 questões
distribuídas do seguinte modo:
Vamos lá!
Comentários
As normas constitucionais de eficácia contida não são dotadas de aplicabilidade integral, já que há a
possibilidade do alcance do preceito ser reduzido pela legislação ordinária, de forma que a norma
infraconstitucional logra restringir os efeitos da norma constitucional regulamentada, como, por exemplo,
as inscritas nos arts. 5o, inc. XIII, e 93, inc. IX, da CRFB. Vale dizer: “as normas de eficácia contida também são
de aplicabilidade direta, imediata, mas não integral, porque sujeitas a restrições previstas ou dependentes
de regulamentação que limite sua eficácia e aplicabilidade”, congregando “as normas que incidem
imediatamente e produzem (ou podem produzir) todos os efeitos queridos, mas preveem meios ou conceitos
que permitem manter a sua eficácia contida em certos limites, dadas certas circunstâncias” (SILVA, José
Afonso. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 3ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998, ip. 82-84).
“A norma inscrita no art. 5º, LXVII, da Carta Política não impede que delitos contra a ordem
tributária sejam punidos com a imposição de pena criminal. Esse preceito da Carta Federal
brasileira qualifica-se como típica norma revestida de eficácia contida ou restringível, eis que,
em função de seu próprio conteúdo material, contempla a possibilidade de o legislador comum
limitar o alcance da vedação constitucional pertinente à prisão civil (noção irredutível ao conceito
de prisão penal), autorizando-o a excepcionar a cláusula proibitória em duas únicas hipóteses:
(a) inadimplemento de obrigação alimentar e (b) infidelidade depositária. Note-se, portanto,
considerada a especial qualificação desse preceito constitucional, definido como norma de
eficácia contida – consoante proclama o magistério da doutrina – que a possibilidade jurídica de
o Congresso Nacional instituir a prisão civil por dívida, sempre nos casos excepcionais previstos
na Carta Política, encontra fundamento na própria Constituição, cuja autoridade normativa não
pode e nem deve expor-se a mecanismos de limitação fixados em sede de tratados
internacionais” (STF, HC-MC nº 77.631, Rel. Min. Celso de Mello, J. 03.08.1998, DJU 19.08.1998).
Questão 2. A regra veiculada pelo art. 1° da Constituição Federal, de acordo com a qual “A República
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito”, é considerada como uma norma de eficácia:
a) Plena.
b) Contida.
c) Limitada de princípio institutivo.
d) Limitada de princípio programático.
e) Restringível.
Comentários
A regra veiculada pelo art. 1° da Constituição Federal, dotada de eficácia direta, integral e imediata, é
entabulada como norma constitucional de eficácia plena sobre a qual versa a alternativa A.
Questão 3. É imediatamente aplicável, podendo ter sua eficácia contida pela legislação, a norma
constitucional segundo a qual:
a) Não haverá pena de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos da Constituição.
b) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei.
c) É livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a
lei estabelecer.
d) No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular,
assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.
e) A lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão
competente.
Comentários
Exemplo de norma constitucional de eficácia contida pode ser tomado do art. 5º, inc. XIII, segundo o qual “é
livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei
estabelecer”.
Questão 4. Decidiu o Supremo Tribunal Federal que o exercício do direito de greve por servidor público só
pode se dar legitimamente após editada a lei que defina os termos e os limites daquele direito, previsto
no art. 37, inc. VII, da Constituição da República. Considerando a posição do Tribunal, é correto a citada
norma constitucional como eficácia:
a) Absoluta.
b) Plena.
c) Restringível.
d) Limitada.
e) Contida.
Comentários
O Supremo Tribunal Federal, nos autos do agravo regimental em agravo de instrumento nº 618.986,
entendeu que a norma do art. 37, inc. VII, da Constituição da República é dotada de eficácia contida, de
forma que o candidato deve assinalar a alternativa E.
“Servidor público. Direito de greve. Alegada violação ao art. 37, VII. Preceito constitucional
de eficácia contida. Necessidade de norma infraconstitucional. Ofensa reflexa. Agravo
improvido. O preceito constitucional que garante o exercício de greve aos servidores públicos é
de eficácia contida, de acordo com jurisprudência consolidada desta Corte. A eficácia plena do
preceito constitucional demanda a existência de norma infraconstitucional que regulamente os
efeitos e a forma de exercício deste direito. A ausência de lei não conduz a conclusão de que a
Administração Pública deveria considerar justificadas as faltas, a ofensa ao texto constitucional,
se ocorrente, seria meramente reflexa. Agravo regimental improvido” (STF, AI-AgR nº 618.986,
Rel. Min. Ricardo Lewandowski, J. 13.05.2008, DJU 06.06.2008).
Comentários
As normas constitucionais podem ser analisadas em três planos: vigência, validade e eficácia.
A validade é conceituada como qualidade da norma jurídica produzida em consonância com o ordenamento
constitucional.
A eficácia corresponde à aptidão formal para a produção dos efeitos próprios das normas jurídicas, motivo
pelo qual se revela correta a alternativa C.
Comentários
Letra E – Para responder a questão é necessário ter em mente os artigos 20 e 26 da CR/88. De acordo com o
primeiro dispositivo constitucional, são bens da União:
III - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem
mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território estrangeiro
ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as
ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto
aquelas áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art.
26, II; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)
VI - o mar territorial;
Por outro lado, de acordo com o artigo 26, incluem-se entre os bens dos Estados:
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
domínio da União, Municípios ou terceiros;
Assim, diante da leitura dos dispositivos constitucionais, a resposta é a letra E, pois as águas superficiais ou
subterrâneas são bens dos Estados.
Comentários
Letra D – De acordo com o art. 55 da Lei 9.784/99 - Em decisão na qual se evidencie não acarretarem lesão
ao interesse público nem prejuízo a terceiros, os atos que apresentarem defeitos sanáveis poderão ser
convalidados pela própria Administração.
Letra A – Errada – A revogação pressupõe um ato válido, o que não ocorre diante de um ato que
possuam defeitos sanáveis.
Letra B – O Poder Judiciário não pode determinar a convalidação de um ato administrativo, isto porque, há
um juízo de mérito na convalidação de um ato com defeito sanável e, como se sabe, o Poder Judiciário não
faz análise de mérito administrativo.
Letra C – Errada – O erro da assertiva está na parte que exige que os requisitos sejam cumulativos para a
anulação.
Comentários
Letra E – De acordo com o art. 4º, §2º da Lei, As sociedades controladoras, controladas, coligadas ou, no
âmbito do respectivo contrato, as consorciadas serão solidariamente responsáveis pela prática dos atos
previstos nesta Lei, restringindo-se tal responsabilidade à obrigação de pagamento de multa e reparação
integral do dano causado
Questão 4. Ainda de acordo com a Lei 12.846/2013, e o acordo de leniência, julgue os itens abaixo:
I - A celebração do acordo de leniência isentará a pessoa jurídica de eventual multa aplicável.
II - O acordo de leniência exime a pessoa jurídica da obrigação de reparar integralmente o dano causado.
III - Os efeitos do acordo de leniência serão estendidos às pessoas jurídicas que integram o mesmo grupo
econômico, de fato e de direito, desde que firmem o acordo em conjunto, respeitadas as condições nele
estabelecidas.
IV - A proposta de acordo de leniência somente se tornará pública após a efetivação do respectivo acordo,
salvo no interesse das investigações e do processo administrativo.
V - Em caso de descumprimento do acordo de leniência, a pessoa jurídica ficará impedida de celebrar novo
acordo pelo prazo de 5 (cinco) anos contados do conhecimento pela administração pública do referido
descumprimento.
São incorretas:
a) III e IV
b) I e II
c) II e III
d) I, II e III
e) I, II e V
Comentários
Letra E - Trata-se de tema importante e atual, que vem ganhando espaço nas provas mais recentes. Atenção
a leitura dos artigos 16 e 17 da Lei Anticorrupção.
I – Errado – O acordo de leniência isentará das seguintes sanções: A) publicação extraordinária da decisão
condenatória e b) proibição de receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de
órgãos ou entidades públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo
prazo mínimo de 1 (um) e máximo de 5 (cinco) anos.
II – Errado – De acordo com o art. 16, §3º, o acordo de leniência não exime a pessoa jurídica da obrigação de
reparar integralmente o dano causado.
V – Errado – De acordo com o art. 16, §8º, o prazo é de 3 anos e não de 5 anos.
Questão 5. De acordo com as Licitações para Microempresas e empresas de pequeno porte, marque a
assertiva correta:
a) Considera-se empate de propostas aquelas situações em que as propostas apresentadas pelas
microempresas e empresas de pequeno porte sejam iguais ou até 5% superiores às propostas mais bem
classificada, na modalidade pregão.
b) No caso de pregão, a microempresa ou empresa de pequeno porte mais bem classificada será convocada para
apresentar nova proposta no prazo máximo de 5 (cinco) dias após o encerramento dos lances, sob pena de
preclusão.
c) Nas licitações públicas, a comprovação de regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das
empresas de pequeno porte somente será exigida para efeito de adjudicação do objeto licitado.
d) As microempresas e as empresas de pequeno porte, por ocasião da participação em certames licitatórios,
deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito de comprovação de regularidade fiscal e
trabalhista, desde que esta não apresente alguma restrição.
e) A microempresa e a empresa de pequeno porte titular de direitos creditórios decorrentes de empenhos
liquidados por órgãos e entidades da União, Estados, Distrito Federal e Município não pagos em até sessenta
(sessenta) dias contados da data de liquidação poderão emitir cédula de crédito microempresarial.
Comentários
Letra B – Errada – De acordo com o art. 45, §3º. No caso de pregão, a microempresa ou empresa de pequeno
porte mais bem classificada será convocada para apresentar nova proposta no prazo máximo de 5 (cinco)
minutos após o encerramento dos lances, sob pena de preclusão.
Letra C – Errada – De acordo com o art. 42 da LC 123/16, Nas licitações públicas, a comprovação de
regularidade fiscal e trabalhista das microempresas e das empresas de pequeno porte somente será
exigida para efeito de assinatura do contrato.
Letra D – Errada – De acordo com o art. 43, As microempresas e as empresas de pequeno porte, por ocasião
da participação em certames licitatórios, deverão apresentar toda a documentação exigida para efeito de
comprovação de regularidade fiscal e trabalhista, mesmo que esta apresente alguma restrição.
Letra E – Errada – De acordo com o art. 46, A microempresa e a empresa de pequeno porte titular de direitos
creditórios decorrentes de empenhos liquidados por órgãos e entidades da União, Estados, Distrito Federal e
Município não pagos em até 30 (trinta) dias contados da data de liquidação poderão emitir cédula de crédito
microempresarial.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque a morte, em princípio – e tal como disposto na assertiva – não é considerada
condição, mas sim termo, por se tratar de evento futuro (projetado para além do presente) e certo (de
ocorrência inevitável). Esta é uma das diferenças substanciais entre condição e termo: a certeza do
acontecimento, a qual se refere tão somente à ocorrência do fato e não à data ou período em que se
realizará. Nesse sentido, não há que se falar que o caso abordado tenha por base uma condição suspensiva,
pois inexiste incerteza ou dúvida de que o terceiro mencionado um dia falecerá.
A alternativa B é verdadeira, porque o termo pode ser classificado como certo – sabe-se que o evento
ocorrerá e quando ocorrerá – ou incerto – sabe-se que o evento ocorrerá, mas não se sabe quando, distinção
esta que se fundamenta simplesmente na ciência da data de realização do fato e não desnatura as
características da futuridade e certeza, visto que, em ambas as hipóteses, é infalível a sua ocorrência.
A alternativa C é falsa, porque quando o encargo ilícito ou impossível constituir o motivo determinante da
liberalidade, ou seja, causa do ato negocial, o caso é de invalidade do negócio jurídico em sua totalidade,
conforme o artigo 137 do Código Civil. Apenas nas demais hipóteses, isto é, quando o encargo ilícito ou
impossível não representar a causa do negócio, é que se fala na possibilidade de seu aproveitamento na
forma pura, abstraindo-se dele o referido ônus, por ser considerado não escrito ou inexistente.
A alternativa D é falsa, porque a venda a contento não denota a subordinação do efeito do negócio jurídico
ao puro arbítrio de uma das partes, mas se pauta na satisfação do adquirente, como cláusula especial da
compra e venda, com expressa previsão legal. Dispõe o artigo 509 do Código Civil que a venda feita a
contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido
entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado.
A alternativa E é falsa, porque o termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito, na forma
do artigo 131 do Código Civil.
Questão 2. Considere a seguinte situação hipotética: João, plenamente capaz, celebrou negócio jurídico
com Pedro, por meio do qual lhe transferiu bens de seu patrimônio, como forma de retribuição por
serviços prestados ao longo da vida (cujo pagamento não poderia mais ser exigido), em valor superior ao
que aqueles efetivamente correspondiam. Ocorre que, após 06 (seis) meses, Pedro, movido por
exacerbado ciúme, desferiu diversos golpes de faca contra João, do que resultou o seu óbito.
Inconformados com o acontecido, os herdeiros da vítima decidiram ajuizar uma ação para revogar a
transferência do patrimônio doado ao autor do crime, mas verificaram, no instrumento particular da
doação, uma cláusula de renúncia ao direito de revogação da liberalidade em caso de ingratidão do
donatário. Com base nisso, marque a alternativa que dispõe corretamente sobre a viabilidade da
pretensão manifestada pelos herdeiros do ofendido e seus possíveis desdobramentos:
a) Não há que se falar em qualquer liberalidade na transferência de bens realizada por João, já que se
destinou, na realidade, a retribuir serviços efetivamente prestados por Pedro, ainda que o pagamento não
pudesse mais ser exigido e tenha ocorrido em valor excedente.
b) Por ter se destinado a retribuir serviços prestados, cujo pagamento não poderia mais ser exigido, não será
possível a revogação da doação por ingratidão em relação à exata medida da parcela remuneratória, mesmo
tendo Pedro ceifado, com consciência e vontade para a prática do ilícito, a vida de João.
c) Tendo em vista a prática do crime de homicídio doloso pelo donatário contra o doador, seria plenamente
possível a revogação total dos bens doados, em virtude de ingratidão; contudo, tal direito ficou prejudicado
pela cláusula de renúncia contida no instrumento particular.
d) Aos herdeiros do doador não é permitido ajuizar a referida ação, pois o direito de revogar a doação é
personalíssimo e, portanto, não se transmite.
e) Eventual oferecimento de perdão por João, minutos antes do falecimento, não obsta a possibilidade de
seus herdeiros promoverem, judicialmente, a revogação da doação pela ingratidão.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque a doação remuneratória não perde o caráter da liberalidade, no excedente ao
valor dos serviços remunerados. É o que dispõe o artigo 540 do Código Civil: “A doação feita em
contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação
remuneratória, ou a gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto”.
Sendo assim, há que se fazer uma distinção entre os limites exatos da recompensa e o valor excedente,
sobretudo para análise das alternativas seguintes. Somente o que excedeu ao valor correspondente aos
serviços prestados constitui efetivamente ato de liberalidade.
A alternativa B é verdadeira, porque, em que pese a ocorrência de hipótese de ingratidão, por ter o donatário
cometido crime de homicídio doloso contra o doador (art. 557, I, CC), não se revogam por ingratidão as
doações puramente remuneratórias, isto é, aquelas feitas como forma de retribuição por serviços prestados,
mas que não se confundem com pagamento, por não ser este mais exigível, conforme o artigo 564, I, do
Código Civil. Diante disso, a exata medida da parcela remuneratória não é passível de revogação, porquanto
pressupõe a prática de ato anterior pelo donatário que embasou, de maneira justa, o recebimento da
“recompensa”.
A alternativa C é falsa, porque não se pode renunciar antecipadamente ao direito de revogar a liberalidade
por ingratidão do donatário, na esteira do artigo 556 do Código Civil, razão pela qual a existência dessa
cláusula no instrumento particular de doação não se presta a impedir a revogação do valor excedente (o qual
representa liberalidade). Vale lembrar que a parcela remuneratória, de todo modo, não pode ser revogada
pela ingratidão, como visto acima, pelo que, independentemente da referida cláusula, não haveria que se
falar na possibilidade de revogação total dos bens transferidos.
A alternativa D é falsa, porque, no caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos herdeiros,
conforme intelecção do artigo 561 do Código Civil.
A alternativa E é falsa, porque o oferecimento de perdão pela vítima do homicídio doloso constitui hipótese
de exceção à possibilidade de ajuizamento da ação de revogação da doação pelos herdeiros, com fulcro no
artigo 561 do Código Civil.
Questão 3. À luz do entendimento firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar que:
a) Ante o caráter irrenunciável do direito aos alimentos, não é possível a realização de acordo com a
finalidade de exonerar o devedor do pagamento de alimentos devidos e não pagos, mesmo porque
concernentes à promoção da subsistência da própria vida humana.
b) Em ação de desoneração de alimentos fixados entre ex-cônjuges, não cabe ao autor alegar a capacidade
potencial do alimentado para o trabalho, nem tampouco o tempo de pensionamento, a fim de desconstituir
a obrigação, se devidamente comprovado o binômio necessidade-possibilidade.
c) Denomina-se côngruo o alimento que visa a manutenção da condição social da pessoa alimentada, e não
apenas a sua subsistência.
d) Em sede de execução de alimentos, as despesas pagas “in natura” não servem a minorar a dívida
alimentar, ainda que destinadas ao atendimento de necessidade essencial do alimentado, com o
consentimento do credor, caracterizando-se, ao máximo, como mera liberalidade do alimentante, em razão
da incompensabilidade de débitos dessa natureza.
e) O alcance da maioridade pelo alimentado possui o condão, por si só, de autorizar a redução ou
desoneração dos alimentos, visto que presumida a capacidade potencial para o trabalho.
Comentários
A alternativa A é falsa, porque “é irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do
Código Civil). O credor pode, contudo, renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso
porque a irrenunciabilidade atinge o direito, e não o seu exercício”.
STJ. 3ª Turma. REsp 1529532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/06/2020
(Info 673).
A alternativa B é falsa, porque “o dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório, devendo ser
assegurado alimentos apenas durante certo tempo, até que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com
meios próprios. Assim, ao se analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar recebendo os alimentos, deve-se
examinar não apenas o binômio necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras circunstâncias,
tais como a capacidade potencial para o trabalho e o tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido
de desoneração.” STJ. 3ª Turma. REsp 1829295-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em
10/03/2020 (Info 669).
A alternativa E é falsa, porque “a redução de pensão alimentícia a filho que alcançou a maioridade não é
automática, dependendo da prova da redução das suas necessidades ou da diminuição das possibilidades do
seu genitor”.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1852422/MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/06/2020. “A
obrigação alimentar do pai em relação aos filhos não cessa automaticamente com o advento da
maioridade, a partir da qual subsiste o dever de assistência fundada no parentesco sanguíneo,
devendo ser dada a oportunidade ao alimentando de comprovar a impossibilidade de prover a
própria subsistência ou a necessidade da pensão por frequentar curso técnico ou universitário”.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp n. 970461/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em
27/2/2018. Súmula 358-STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a
maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
Analisamos o ponto de maneira mais detida nos temas aprofundados.
Questão 4. No que tange ao poder familiar, todas as afirmativas a seguir estão corretas, exceto:
a) A separação judicial, o divórcio e a dissolução da união estável alteram as relações entre pais e filhos
quanto ao direito, que aos primeiros cabe, de terem em sua companhia os segundos.
b) A emancipação encerra a incapacidade civil do menor, mas não extingue o poder familiar, uma vez que
não induz o alcance da maioridade.
c) Enseja a perda do poder familiar, por ato judicial, a prática dolosa de crime de lesão corporal grave, no
contexto de violência doméstica e familiar, por um dos genitores contra o outro que igualmente o titulariza.
d) Na falta ou impedimento de um dos pais, compete ao outro o exercício do poder familiar, com
exclusividade, independentemente de suprimento do juiz, respeitadas as hipóteses de necessidade de prévia
autorização judicial para a prática de certos atos.
e) Aos pais não cabem o usufruto e a administração dos valores auferidos, no exercício de atividade
profissional, pelo filho maior de dezesseis anos que ainda não haja alcançado a maioridade.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque o direito dos pais de terem os filhos em sua companhia corresponde
justamente à exceção da inalterabilidade das relações entre eles, em decorrência da separação judicial,
divórcio ou dissolução da união estável, nos exatos termos do artigo 1.632 do Código Civil.
A alternativa B é falsa, porque, muito embora não ocasione o alcance da maioridade, a emancipação constitui
causa autônoma de extinção do poder familiar, dissociada do critério etário e fundada na aquisição da
capacidade civil plena, consoante o artigo 1.635, II, do Código Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque dispõe o artigo 1.638, parágrafo único, I, “a”, do Código Civil que perderá
também por ato judicial o poder familiar aquele que praticar contra outrem igualmente titular do mesmo
poder familiar homicídio, feminicídio ou lesão corporal de natureza grave ou seguida de morte, quando se
tratar de crime doloso envolvendo violência doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à
condição de mulher.
A alternativa D é verdadeira, porque a falta ou impedimento de um dos pais reserva ao outro, naturalmente,
a exclusividade do exercício do poder familiar, o que não depende de pronunciamento ou suprimento
judicial. Não obstante, há casos – com os quais não se deve confundir - em que impera a necessidade de
prévia autorização judicial para a prática de certos atos, a exemplo da alienação ou imposição de ônus real
sobre imóveis dos filhos, por necessidade ou evidente interesse da prole, com fulcro no artigo 1.691, “caput”,
do Código Civil.
A alternativa E é verdadeira, porque, em regra, o pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são
usufrutuários dos bens dos filhos e têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade
(artigo 1.689 do CC). Todavia, nos exatos termos do artigo 1.693, II, do Código Civil, excluem-se do usufruto
e da administração dos pais os valores auferidos pelo filho maior de dezesseis anos, no exercício de atividade
profissional e os bens com tais recursos adquiridos.
Questão 5. No âmbito dos direitos reais de garantia sobre coisa alheia, inserem-se a hipoteca e o penhor,
instrumentos de grande repercussão prática na constituição de diversas relações negociais, sobre os quais
somente não se pode afirmar que:
a) É possível a alienação de imóvel dado em hipoteca, mesmo com a existência do gravame sobre o bem.
b) Ainda que haja inadimplência da obrigação principal, não pode o credor pignoratício ou hipotecário ficar
com o bem objeto da garantia por força de autorização prévia em cláusula contratual, por constituir esta
hipótese de nulidade, mas pode o devedor, após o vencimento, dar a coisa em pagamento da dívida.
c) À semelhança da hipoteca, o penhor rural, industrial, mercantil e de veículos não se constitui pela
transferência efetiva da posse da coisa dada em garantia.
d) A contemporaneidade da dívida não representa elemento necessário para a viabilidade da constituição
da hipoteca, visto que esta pode ser estabelecida para garantia de dívida futura ou condicionada, desde que
determinado o valor máximo do crédito a ser garantido.
e) A anuência do credor pignoratício à substituição do penhor por outra garantia não gera, por si só,
presunção de renúncia apta a ensejar a sua extinção.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque é nula a cláusula de inalienabilidade do imóvel objeto de hipoteca, isto
é, a cláusula que proíbe ao proprietário alienar o imóvel hipotecado, nos termos do artigo 1.475, “caput”, do
Código Civil. Em verdade, caso seja alienado, o gravame acompanhará o imóvel. É possível, não obstante,
convencionar-se que, na hipótese de alienação, será considerado vencido o crédito hipotecário, na forma do
parágrafo único do mesmo artigo.
A alternativa B é verdadeira, porque é nula a cláusula que autoriza o credor pignoratício, anticrético ou
hipotecário a ficar com o objeto da garantia, se a dívida não for paga no vencimento, conforme o artigo
1.428, “caput”, do Código Civil. Veda-se, portanto, o pacto comissório real, ou seja, a apropriação da coisa
dada em garantia, o que não obsta, todavia, a possibilidade de o devedor oferece-la em pagamento, após
vencida a dívida, com fulcro no parágrafo único do mesmo dispositivo legal.
A alternativa C é verdadeira, porque, em regra, constitui-se o penhor pela transferência efetiva da posse que,
em garantia do débito ao credor ou a quem o represente, faz o devedor, ou alguém por ele, de uma coisa
móvel, suscetível de alienação. Entretanto, no penhor rural, industrial, mercantil e de veículos, as coisas
empenhadas continuam em poder do devedor, que as deve guardar e conservar, conforme intelecção do
artigo 1.431 do Código Civil, não havendo, pois, em tais casos, a transferência da posse do objeto dado em
garantia, tal como ocorre na hipoteca.
A alternativa D é verdadeira, porque, nos exatos termos do artigo 1.487 do Código Civil, a hipoteca pode ser
constituída para garantia de dívida futura ou condicionada, desde que determinado o valor máximo do
crédito a ser garantido.
A alternativa E é falsa, porque se presume a renúncia do credor (modalidade de extinção do penhor - art.
1.436, III, CC), quando consentir na venda particular do penhor sem reserva de preço, quando restituir a sua
posse ao devedor, ou quando anuir à sua substituição por outra garantia, na esteira do artigo 1.436, §1º, do
Código Civil.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os
interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, por meio da representação
judicial, em todos os âmbitos federativos, e das pessoas jurídicas de direito público que integram a
administração direta e indireta, na forma do artigo 182 do Código de Processo Civil. Vê-se, pois, que não
estão compreendidas as pessoas jurídicas de direito privado integrantes da Administração Pública.
A alternativa B é verdadeira, porque reproduz fielmente o disposto nos artigos 184 e 187 do Código de
Processo Civil.
A alternativa C é verdadeira, porque prevê o artigo 183, “caput”, do CPC que a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a partir da intimação pessoal.
Igualmente, prescreve o artigo 186, “caput”, do mesmo diploma legal, que a Defensoria Pública goza de
prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais. Em ambos os casos, não se aplica tal
benefício, quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio.
A alternativa D é falsa, porque é a Defensoria Pública quem exerce a orientação jurídica, a promoção dos
direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de
forma integral e gratuita. Não se confunde com a Advocacia Pública, relativa aos interesses dos entes
públicos e pessoas jurídicas de direito público da Administração Pública, como visto acima.
A alternativa E é verdadeira, porque dispõe o artigo 183, §1º, do CPC, que a intimação pessoal (da Advocacia
Pública e da Defensoria Pública) far-se-á por carga, remessa ou meio eletrônico. Ademais, a retirada dos
autos do cartório ou da secretaria em carga pelo advogado, por pessoa credenciada a pedido do advogado
ou da sociedade de advogados, pela Advocacia Pública, pela Defensoria Pública ou pelo Ministério Público
implicará intimação de qualquer decisão contida no processo retirado, ainda que pendente de publicação,
nos termos do artigo 272, §6º, do Código de Processo Civil.
Questão 2. São peças ou documentos essenciais à instrução da petição de agravo de instrumento e/ou à
admissibilidade do recurso, exceto:
a) Cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada e da própria decisão
agravada.
b) Cópia da certidão de intimação da decisão agravada ou outro documento oficial que comprove a
tempestividade do recurso.
c) Comprovante de pagamento das respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos.
d) Declaração de inexistência de qualquer dos documentos obrigatórios, feita pelo advogado do agravante,
sendo eletrônicos os autos do processo.
e) Cópia das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado.
Comentários
Prevê o artigo 1.017, I, do CPC, que a petição de agravo de instrumento será instruída, obrigatoriamente,
com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que ensejou a decisão agravada, da própria decisão
agravada, da certidão da respectiva intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade
e das procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado. Disto, constata-se a veracidade
das alternativas A, B e E.
Continua o §1º do mesmo dispositivo legal que acompanhará a petição o comprovante do pagamento das
respectivas custas e do porte de retorno, quando devidos, conforme tabela publicada pelos tribunais. É
também verdadeira, portanto, a alternativa C.
Lado outro, sendo eletrônicos os autos do processo, são dispensadas as peças referidas, facultando-se ao
agravante anexar outros documentos que entender úteis para a compreensão da controvérsia, na forma do
§5º do mesmo artigo. A exigência de declaração de inexistência de quaisquer dos documentos obrigatórios
aplica-se tão somente aos autos físicos (art. 1.017, §1º, II, CPC). Destarte, a alternativa D é a incorreta.
Questão 2. Considerando que a liquidez da obrigação constitui requisito imprescindível à exigência de sua
satisfação, quando, embora reconhecido judicialmente o débito, ainda não haja definição exata de seu
quantum, faz-se necessária à tutela executiva a prévia inauguração de uma etapa processual conhecida
como liquidação de sentença. Sobre o assunto, assinale a alternativa incorreta:
a) A pendência de recurso não obsta a liquidação de sentença, que, nesta hipótese, dar-se-á em autos
apartados no juízo de origem.
b) Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover
simultaneamente a execução daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.
c) Pode a liquidação da sentença depender de alegação e prova de fato novo, caso em que obedecerá ao
procedimento comum, intimando-se o requerido para, querendo, apresentar contestação.
Comentários
A alternativa A é verdadeira, porque a liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-
se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças
processuais pertinentes, com respaldo no artigo 512 do Código de Processo Civil.
A alternativa D é falsa, porque, não obstante a vedação, no âmbito da liquidação, de rediscutir a lide ou
modificar a sentença que a julgou (art. 509, §4º, CPC) não alcança a forma de liquidação, a qual deve se
sujeitar à modalidade mais adequada à espécie. Nesse sentido, havendo impropriedade na forma de
liquidação consignada na sentença, não há óbice, em caráter excepcional, à sua alteração. Com efeito,
registra a súmula 344 do Superior Tribunal de Justiça: “A liquidação por forma diversa da estabelecida na
sentença não ofende a coisa julgada”.
Comentários
Gabarito: E
O princípio da humanidade das penas, enquanto limite do poder punitivo do Estado, representa a evolução
do sistema penal contemporâneo.
O Direito Penal deve garantir o bem-estar da coletividade, incluindo-se o dos condenados. Estes não devem
passar por processo de “coisificação”, após receberem uma sentença penal condenatória, devendo-se,
sempre, atentar para o princípio da dignidade humana como fundamento do Estado brasileiro.
Este postulado do sistema penal é incompatível com sanções que atinjam a própria dignidade da pessoa,
como a pena de morte, as penas corporais e infamantes, as penas privativas de liberdade de duração
excessiva ou com caráter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida.
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito,
a idade e o sexo do apenado;
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; L – às presidiárias serão
asseguradas condições para que possam per- manecer com seus filhos durante o período de
amamentação;
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam per- manecer com seus filhos
durante o período de amamentação.
O item I, ao afirmar que, em qualquer hipótese, não haverá morte, contraria a alínea a do inc. XLVII do art.
5º da CR, que admite tal modalidade de pena na hipótese de guerra declarada e autorizada pelo Congresso
Nacional.
Questão 2. A culpabilidade pode ser conceituada como um juízo de reprovação social que recai sobre a
conduta típica e ilícita do agente; e que conta como pressupostos com a exigibilidade da conduta diversa,
a real ou potencial consciência da ilicitude e a imputabilidade. A propósito da culpabilidade, analise as
proposições abaixo e, em seguida, assinale a opção correta:
I O acometimento de doença mental acarreta a inimputabilidade do agente. A constatação do conteúdo e
dimensão de seus efeitos é necessária, porém, para sua classificação como uma causa de exclusão ou
diminuição da imputabilidade (e correspondente pena).
II Na legislação brasileira as consequências do erro evitável sobre os pressupostos fáticos de uma excludente
de ilicitude são as mesmas do erro de tipo, e não as do erro de proibição.
III Para a teoria limitada da culpabilidade, o erro de agente que recaia sobre pressupostos fáticos de uma
causa de justificação configura erro de tipo permissivo.
IV Quando um agente julga que tem autoridade para agir de acordo com uma causa de justificação não
reconhecida ou quando acredita que pode ultrapassar os limites de uma causa de justificação reconhecida,
caracteriza-se o erro de permissão ou erro de proibição indireto.
V Mãe que, a fim de cuidar do machucado de seu filho, aplica sobre o ferimento ácido, pensando tratar-se
de pomada cicatrizante, age em erro de proibição.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições II, III e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: B
I O critério adotado pelo legislador para o reconhecimento da inimputabilidade por doença mental é o
biopsicológico; assim a afirmação de que a doença mental acarreta a inimputabilidade está errada. É
necessária a verificação do afastamento absoluto da capacidade de atendimento e autodeterminação em
decorrência da doença mental para que se reconheça a inimputabilidade do agente.
II Muito embora se trate o erro de modalidade de erro de tipo permissivo, o tratamento conferido pelo
legislador é o do erro de proibição, em face da adoção pelo finalismo da teoria limitada da culpabilidade.
Para a teoria limitada da culpabilidade, se o erro do agente incidir sobre uma situação fática que, se existisse,
tornaria a conduta legítima, fala-se em erro de tipo (erro de tipo permissivo); mas, se o erro recair sobre a
existência ou, os limites de uma causa de justificação, o erro é de proibição (erro de proibição indireto/ erro
de permissão). Todavia, caso o erro seja evitável, tanto no erro de tipo, quanto no erro de tipo permissivo, a
consequência é a punição a título culposo, em caso de previsão legal (CP, Art. 20, caput, e §1º).
III Para a teoria limitada da culpabilidade, adotada pelo Código Penal, o erro sobre os pressupostos fáticos
de causa de justificação constitui erro de tipo permissivo. Em contrapartida, a teoria extremada da
culpabilidade não faz qualquer distinção, entendendo que, tanto o erro sobre a situação fática, como aquele
em relação à existência ou limites da causa de justificação devem ser considerados erros de proibição, já que
o indivíduo supõe lícito o que não é.
IV No erro de proibição indireto (descriminante putativa por erro de proibição) o agente sabe que a conduta
é típica, mas imagina presente uma norma permissiva, ora supondo existir uma causa excludente da ilicitude,
ora supondo estar agindo nos limites da descriminante (ex.: “A”, traído por sua mulher, acredita estar
autorizado a matá-la para defender sua honra ferida).
V A hipótese é do reconhecimento do erro sobre elemento fático, não sobre a valoração do fato como justo
ou injusto, o que o caracteriza como erro de tipo, e não como erro de proibição.
Questão 3. A propósito dos crimes contra a pessoa, analise as proposições abaixo e, em seguida, assinale
a opção correta:
I O crime de omissão de socorro, tipificado na parte especial do Código Penal, somente se consuma com a
ocorrência de um resultado naturalístico, o qual, dependendo de sua gravidade, poderá constituir, ainda,
causa qualificadora da conduta.
II Dada sua natureza, o crime de ameaça só se configura se o agente tiver ameaçado explicitamente a vítima.
III Comprovado o animus laedendi na conduta do agente e a sua culpa no resultado mais grave, qual seja, a
morte da vítima, ainda que esse resultado seja previsível, restará configurado o delito preterdoloso de lesão
corporal seguida de morte.
IV Lesão corporal de natureza grave é aquela da qual resulta deformidade permanente.
V A lesão corporal que tem como resultado aborto é classificada como lesão corporal seguida de morte.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições II, III e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: E
I O crime de omissão de socorro é crime de perigo abstrato, não necessitando de resultado naturalístico; a
mera conduta já configura o crime.
II De acordo com a doutrina, o crime de ameaça pode se dar na forma explícita, implícita ou condicional.
III Comprovado o dolo de lesionar (animus laedendi), e previsível o resultado, condição para a
responsabilidade por crime culposo, o agente deve responder pela lesão corporal seguida de morte (CP, Art.
129, §3º).
IV A deformidade permanente caracteriza a lesão corporal como gravíssima, nos termos do art. 129, §2º, IV.
V A lesão corporal da qual decorre o aborto é classificada como lesão gravíssima (CP, Art. 129, §2º, V).
Questão 4. A respeito dos crimes contra o patrimônio, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de estelionato.
II A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de furto mediante fraude; e o
pagamento do débito apurado em perícia criminal, antes do recebimento da denúncia, é causa de extinção
da punibilidade.
III A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de furto mediante fraude; e o
pagamento do débito apurado em perícia criminal, antes do recebimento da denúncia, não é causa de
extinção da punibilidade.
IV Pratica o crime de apropriação indébita previsto no artigo 168 do Código Penal, o Advogado que se
apropria de quantia em dinheiro recebida a título de indenização pelo seu cliente - pessoa maior de 60 anos
aplicando-se a causa de aumento de pena por ter recebido o valor em razão da profissão.
V Aquele que acha coisa alheia perdida e dela se apropria, total ou parcialmente, deixando de restituí-la ao
dono ou legítimo possuidor ou de entregá-la à autoridade competente, dentro do prazo de 15 dias, comete
o crime de apropriação de coisa achada.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições III e V;
c) Estão corretas apenas as proposições I, II, III e IV;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas três das proposições estão corretas.
Comentários
Gabarito: B
I A ligação clandestina em poste de energia elétrica, em via pública, é crime de furto mediante fraude,
conforme jurisprudência dos tribunais superiores.
III 3. O crime de furto de energia elétrica mediante fraude praticado contra concessionária de serviço público
situa-se no campo dos delitos patrimoniais. Neste âmbito, o Estado ainda detém tratamento mais rigoroso.
O desejo de aplicar as benesses dos crimes tributários ao caso em apreço esbarra na tutela de proteção aos
diversos bens jurídicos analisados, pois o delito em comento, além de atingir o patrimônio, ofende a outros
bens jurídicos, tais como a saúde pública, considerados, principalmente, o desvalor do resultado e os danos
futuros. (...) 6. Nos crimes patrimoniais existe previsão legal específica de causa de diminuição da pena para
os casos de pagamento da "dívida" antes do recebimento da denúncia. Em tais hipóteses, o Código Penal -
CP, em seu art. 16, prevê o instituto do arrependimento posterior, que em nada afeta a pretensão punitiva,
apenas constitui causa de diminuição da pena. (RHC 101.299/RS, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, Rel. p/
Acórdão Ministro JOEL ILAN PACIORNIK, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/03/2019, DJe 04/04/2019) (grifei).
IV Em face do princípio da especialidade, aplica-se o art. 102 do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/03).
V Cuida-se do crime previsto no art. 169, Parágrafo único, II, do Código Penal.
Questão 5. A propósito dos crimes contra a administração, analise as proposições abaixo e, em seguida,
assinale a opção correta:
I O particular que paga vantagem indevida a um policial que o abordou numa blitz, atendendo solicitação do
próprio policial, comete o crime de corrupção ativa, enquanto que o policial o de corrupção passiva.
II Segundo o STF, a previsão legal do crime de desacato a funcionário público no exercício da função não viola
o direito à liberdade de expressão e de pensamento previstos no Pacto de São José da Costa Rica.
III A esposa de um preso, contando com a conivência do Diretor do Presídio, ingressa na unidade prisional,
no dia de visitas, com um aparelho celular e o entrega a seu marido, que está preso, cumprindo pena em
razão de condenação definitiva. O Diretor do Presídio praticou o crime de prevaricação imprópria (CP, art.
319-A).
IV Servidor público licenciado do seu cargo público que exige determinada vantagem econômica indevida
para si, em função do seu cargo público, a fim de evitar a ação da fiscalização no estabelecimento comercial
da vítima, comete o crime de concussão.
V As fraudes em certames de interesse público é crime próprio, praticado apenas por funcionário público.
a) Apenas uma proposição está errada;
b) Estão corretas apenas as proposições II, III e IV;
c) Estão corretas apenas as proposições II e V;
d) Todas as proposições estão corretas;
e) Apenas uma das proposições está correta.
Comentários
Gabarito: B
I O crime de corrupção ativa traz como condutas núcleo do tipo oferecer e prometer. Assim, quem atende
solicitação, não comete tal crime. CP, Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário
público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12
(doze) anos, e multa.
II Ao atuar no exercício de sua função, o agente público representa a administração pública, situação que lhe
sujeita a um regime jurídico diferenciado de deveres e prerrogativas. Se de um lado está sujeito a sanções
próprias e mais rigorosas por eventuais desvios, por outro é razoável que se prevejam tipos penais protetivos
de sua atuação. Com este entendimento, no julgamento da ADPF 496, em 22 de junho de 2020, o STF
considerou constitucional o crime de desacato, previsto no art. 331 do Código Penal.
III Cuida-se do crime previsto no Art. 319-A CP - Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a
comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)
ano.
IV Cuida-se do crime previsto no art. 316 do Código Penal - Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena
- reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
V O crime previsto no art. 311-A do Código Penal é crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa
- Art. 311-A. Utilizar ou divulgar, indevidamente, com o fim de beneficiar a si ou a outrem, ou de
comprometer a credibilidade do certame, conteúdo sigiloso de I - concurso público; II - avaliação ou exame
públicos; III - processo seletivo para ingresso no ensino superior; ou IV - exame ou processo seletivo previstos
em lei: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Comentários
Gabarito: E
Todas as alternativas constam de expresso texto de lei, especificamente de dispositivos previstos na parte
inaugural do CPP, que tratam do inquérito policial.
Incorreta a alternativa C, pelo fato de que quando se tratar de crime de ação privada (e não ação pública), é
que os autos aguardarão em cartório até que o interessado promova o andamento do feito (CPP, art. 19: Nos
crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos ao juízo competente, onde
aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o
pedir, mediante traslado.), pois nessas situações, excepcionalmente, a legitimação foi entregue ao particular.
Comentários
Gabarito: E
A suspeição de autoridade policial verificada em inquérito não é motivo para a anulação do processo penal.
Aliás, vale registro que, segundo entendimento dominante dos Tribunais brasileiros, as nulidades havidas na
fase de investigação não tem o condão de afetar a ação penal que lhe é subsequente.
Comentários
Gabarito: A
A, B, C e D (versão correta) são entendimentos do STF sobre a matéria. A alternativa E é redação do artigo
14, do CPP.
Ao Ministério Público não é vedado proceder a diligências investigatórias, consoante interpretação sistêmica
da Constituição Federal (art. 129), do Código de Processo Penal (art. 5º) e da Lei Complementar 75/1993 (art.
8º). Trata-se de entendimento já consolidado nos Tribunais brasileiros, baseado na teoria dos poderes
implícitos.
Comentários
A) Incorreta. A assertiva apresenta-se incorreta, pois afronta diretamente a inteligência da súmula 630-STJ
que prevê:
Ou seja, não basta apenas admitir da posse ou propriedade para uso próprio, é necessário o efetivo
reconhecimento da traficância pelo acusado, logo alternativa falsa.
B) Incorreta. Conforme o artigo 28 da Lei nº 11.343/06, a pena de prestação pecuniária não está inserida
no rol de seus três incisos, que estipulam apenas:
C) Incorreta. A questão se mostra incorreta, pois está em desconformidade com a Súmula 607 do STJ:
Súmula 607 do STJ: “A majorante do tráfico transnacional de drogas (art. 40, I, da lei 11.343/06)
se configura com a prova da destinação internacional das drogas, ainda que não consumada a
transposição de fronteiras”.
D) Incorreta. Devido ao fato de o tráfico de entorpecentes privilegiado não ser considerado hediondo,
conforme afirma o entendimento jurisprudencial do STF e, atualmente, pelo contido no artigo 112 §5º da
LEP;
Realmente, no uso compartilhado, que ocorre quando alguém oferece droga, eventualmente e sem objetivo
de lucro, a pessoa de seu relacionamento para juntos a consumirem, como foi o caso proposto, incide numa
infração de menor potencial ofensivo, conforme descreve o preceito secundário do Artigo 33, §3º, da lei
11343/2006:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil
e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.
Valendo lembrar da Lei n.º 9.099/95: Art. 61. “Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo,
para os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior
a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa. (Redação dada pela Lei nº 11.313, de 2006)”.
Questão 2. Sobre o instituto do RDD - regime disciplinar diferenciado - previsto na Lei de Execuções Penais,
diante das inovações trazidas pelo chamado pacote anticrime, houveram significativas mudanças em suas
características, que constam do Art. 52. Analise as assertivas:
I) As entrevistas do preso com seu defensor serão sempre monitoradas, em instalações equipadas para
impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo expressa autorização judicial em contrário; Havendo
também a fiscalização do conteúdo da correspondência.
II) Conforme referida lei, será permitida visitas quinzenais de 2 (duas) pessoas por vez, a serem realizadas
em instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da família ou,
no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de 2 (duas) horas;
III) Após os primeiros 6 (seis) meses de regime disciplinar diferenciado, o preso que não receber visita,
poderá, após prévio agendamento, ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2
(duas) vezes quinzenalmente e por 10 (dez) minutos.
IV) Existindo indícios de que o preso exerce liderança em organização criminosa, associação criminosa ou
milícia privada, ou que tenha atuação criminosa em mais de 1 (um) Estado da Federação, o regime disciplinar
diferenciado será obrigatoriamente cumprido em estabelecimento prisional federal.
Dentre as alternativas abaixo assinale a correta:
a) I, II
b) II
c) II, III
d) III, IV
e) II, III, IV
Comentários
Esta questão buscava o conhecimento do candidato a respeito do diploma legal e das mudanças recentes.
Importante notar que concurso público cobram detalhes, assim, fundamental conhecê-los. Vamos às
alternativas.
I) Incorreta. A parte inicial da assertiva está falsa, quando dispõe serem sempre monitoradas as entrevistas
do preso com seu defensor, sendo que, apesar do monitoramento das entrevistas serem regra, esta não se
aplica ao defensor, constituindo uma exceção, conforme Art. 52, V, da LEP.
A parte final por sua vez está correta quando indica ser possível a fiscalização do conteúdo da
correspondência. Art. 52, VI, do da LEP.
II) CORRETA. Esta assertiva está em perfeita consonância com o que está disposto no texto legislativo,
estando correta conforme Artigo 52, III, da LEP.
III) Incorreta. Embora aparente estar de acordo em sua totalidade, isto não é verdade, pois falha no quesito
temporal, quando afirma serem quinzenais os contatos telefônicos, o que está equivocado, pois, o correto
seria mensalmente:
Art. 52, § 7º, “...ter contato telefônico, que será gravado, com uma pessoa da família, 2 (duas)
vezes MENSALMENTE e por 10 (dez) minutos”.
IV) Incorreta. Esta assertiva se mostra inverídica, pois, o erro aqui reside no fato de que a referida atuação
do preso é em 2 (dois) ou mais estado da federação, e não em 1 (um) ou mais, como trouxe o item.
Questão 3. Em relação à Lei nº 11.340/2006, que objetiva coibir a violência doméstica e familiar contra a
mulher, assinale a alternativa incorreta:
a) O juiz assegurará à mulher em situação de violência doméstica e familiar, para preservar sua integridade
física e psicológica, entre outras medidas, o encaminhamento à assistência judiciária, quando for o caso,
inclusive para eventual ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento
ou de dissolução de união estável perante o juízo competente.
b) Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, a
autoridade policial deverá, de imediato, entre outros procedimentos, verificar se o agressor possui registro
de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de existência, juntar aos autos essa informação, bem como
notificar a ocorrência à instituição responsável pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos
termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003.
c) Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em situação de
violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado do lar,
domicílio ou local de convivência com a ofendida pela autoridade judicial, pelo delegado de polícia ou pelo
policial, sendo neste último caso quando não houver delegado disponível no momento da denúncia.
d) Para a configuração da violência doméstica e familiar prevista no artigo 5º da Lei nº 11.340/2006 não se
exige a coabitação entre autor e vítima.
e) A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente
doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.
Comentários
A questão abordou modificações recentes na Lei Maria da Penha, as quais possuem grande probabilidade de
serem cobradas nos próximos concursos.
A) Correta. Nos termos do artigo 9º, §2º, III da Lei 11.340/2006. O referido inciso foi incluído pela Lei
13.894/2019.
B) Correta. Nos termos do artigo 12, VI – A, da Lei 11.340/2006. Tal inciso foi incluído pela Lei 13.880/2019.
C) INCORRETA. O Delegado de Polícia SOMENTE poderá afastar o agressor do lar, domicílio ou local de
convivência com a ofendida QUANDO o Município não for sede de Comarca. Assim como o policial quando
o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no momento da denúncia.
Nos termos do artigo 12-C, incisos II e III, da Lei 11.340/2006. Alteração feita pela lei 13.827/2019.
Comentários
Para concorrer às eleições, o candidato deverá possuir domicílio eleitoral na respectiva circunscrição pelo
prazo de seis meses e estar com a filiação deferida pelo partido no mesmo prazo, de acordo com o art. 9º,
caput, da Lei nº 9.504/97, com a redação que lhe foi conferida pela Lei nº 13.488/17.
Questão 2. O Presidente da Câmara dos Deputados deve ostentar a idade minima de:
a) Dezesseis anos.
b) Dezoito anos.
c) Vinte e um anos.
d) Trinta anos.
e) Trinta e cinco anos.
Comentários
Considerando que o Presidente da Câmara dos Deputados pode substituir o Presidente da República, em
caso de impedimento, como prescreve o art. 80; que o Presidente da República deve ter a idade mínima de
trinta e cinco anos, como preceitua o art. 14, § 3º, inc. VI, “a”, ambos da Constituição da República, e, por
fim, que, na hipótese de substituição, o substituto deve ter os mesmos atributos do substituído, o Presidente
da Câmara dos Deputados deve ostentar a idade minima de trinta e cinco anos.
Questão 3. João da Silva pretende concorrer para o cargo de Vice-Governador de seu Estado, porém, ainda
não completou 30 anos de idade. Considerando que a data limite para os partidos e coligações de
solicitação à Justiça Eleitoral do registro de seus candidatos foi 26 de setembro de 2020, que o 1° turno
das eleições será no dia 15 de novembro de 2020, que o 2° turno será no dia 29 de novembro de 2020 e
que a data da posse é 1° de janeiro de 2021, assinale a alternativa correta quanto à idade mínima de 30
anos constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade:
a) Não será exigida para o cargo de Vice-Governador de Estado.
b) É verificada tendo por referência a data do 1° turno da eleição.
c) Será aferida tendo por referência a data do 2° turno da eleição.
d) É verificada tendo por referência a data limite para o pedido de registro da candidatura.
e) Será aferida tendo por referência a data da posse.
Comentários
A resposta à questão gira em torno das normas veiculadas pelo art. 14, § 3º, inc. VI, “b”, da Constituição da
República, e art. 11, § 2º, da Lei nº 9.504/97, com a redação que lhe foi dada pela Lei nº 13.165/15.
De outro lado, a idade mínima constitucionalmente estabelecida como condição de elegibilidade é verificada
tendo por referência a data da posse, salvo quando fixada em dezoito anos, hipótese em que será aferida na
data-limite para o pedido de registro.
Comentários
Medidas socioeducativas constituem-se em medidas jurídicas que podem ser aplicadas aos adolescentes
autores de ato infracional. Encontram-se tipificadas no art. 112, do Estatuto, que contém rol taxativo. A
medida de internação, por sua vez, somente poderá ser aplicada se não existir outra medida socioeducativa
suficiente à ressocialização, bem como se a situação estiver prevista em uma das hipóteses do art. 122, do
Estatuto. Nesse sentido, poderá ser aplicada a internação quando: I – tratar-se de ato infracional cometido
mediante grave ameaça ou violência a pessoa; II – por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
e, III – por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta. A gravidade em
abstrato do ato infracional não justifica, por si só, a aplicação da medida de internação, tal como já decidiu
reiteradamente o Superior Tribunal de Justiça. A prática do ato equiparado ao tráfico de entorpecentes, por
si só, não justifica a aplicação da medida da internação, pois não se enquadra no inciso I, do art. 122 (não é
ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça à pessoa). Será possível, por se tratar de ato
infracional grave, que seja aplicada a internação quando houver a reiteração na prática de infrações dessa
natureza (grave). A reincidência não acarreta a viabilidade da aplicação da medida de internação. Se o
adolescente tiver cometido reiteradamente infrações graves, será possível aplicar-lhe a medida
socioeducativa de internação, com fundamento no art. 122, II, do Estatuto.
Ainda que o adolescente já tiver cumprido a medida de semiliberdade, se não houver necessidade
pedagógica ou se a situação não se encaixar no art. 122, do Estatuto, não será viável a aplicação da
internação.
Questão 2. (CESPE – Defensor Público – DPE - DF/2019) André, com dezessete anos de idade, foi
apreendido pela prática de ato infracional análogo ao crime de tráfico de drogas. Depois de ter sido
conduzido à delegacia de polícia especializada, o adolescente foi apresentado ao Ministério Público. O
promotor de justiça que o entrevistou ofereceu-lhe remissão cumulada com medida socioeducativa de
semiliberdade. O magistrado indeferiu a remissão ministerial, sob o fundamento de que a aplicação de
medida socioeducativa ao adolescente por ato infracional é de competência exclusiva do juiz, e abriu vista
ao Ministério Público para que apresentasse representação contra André no prazo de 24 horas. Diante da
negativa de homologação judicial e do retorno dos autos, o promotor ofereceu representação contra
André e o magistrado manteve a internação provisória, designou audiência de apresentação e determinou
a citação do adolescente. Na sentença, o magistrado determinou a internação, fundamentando que a
conduta do adolescente era grave, embora não houvesse qualquer outra anotação em sua folha de
passagem.
Com relação a essa situação hipotética, julgue o seguinte item, de acordo com a legislação pertinente e a
jurisprudência dos tribunais superiores.
Eventual recurso contra a sentença proferida pelo magistrado deverá adotar o sistema recursal do Código
de Processo Civil, com as adaptações previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.
Comentários
Assertiva: nos termos do art. 198, do Estatuto, nos procedimentos afetos à Vara da Infância e da Juventude,
inclusive os relativos à execução das medidas socioeducativas, será adotado o sistema recursal do Código de
Processo Civil, com algumas adaptações. A regra se aplica ainda que se trate de procedimento de apuração
de ato infracional.
Gabarito: “certo”.
Comentários
a) Alternativa incorreta. Art. 174 do CTN - A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco
anos, contados da data da sua constituição definitiva.
c) Alternativa incorreta. Art. 174, § único, inciso III, do CTN. Qualquer ato judicial que constitua em mora
o devedor tem o condão de interromper o prazo prescricional.
d) Alternativa incorreta. - Art. 40 da LEF: O Juiz suspenderá o curso da execução, enquanto não for localizado
o devedor ou encontrados bens sobre os quais possa recair a penhora, e, nesses casos, não correrá o prazo
de prescrição.
b) O lançamento de ofício ocorre apenas quando o sujeito passivo presta informações falsas à autoridade
administrativa.
c) A forma de constituição do crédito tributário do imposto de renda se dá por meio de lançamento por
declaração.
d) No lançamento por declaração o sujeito passivo efetua o pagamento antecipado do tributo.
e) A denúncia espontânea se aplica aos tributos sujeitos a lançamento por homologação regularmente
declarados.
Comentários
a) Alternativa correta. Trata-se da modalidade de lançamento misto ou por declaração, prevista no art. 147
do CTN. O lançamento é realizado com base na declaração do sujeito passivo, que presta à autoridade
lançadora as informações exclusivamente sobre matéria de fato, necessárias à constituição do crédito
tributário. Ex.: ITBI e ITCMD.
b) Alternativa incorreta. Há várias situações que motivam o lançamento de ofício, conforme artigo 149 da
CF.
c) Alternativa incorreta. O imposto de renda é constituição por meio do lançamento por homologação.
Questão 3. A União aprova, por meio de lei complementar, uma nova contribuição especial. No ano
seguinte, essa contribuição é modificada por lei ordinária em relação a dois de seus comandos: alíquota e
base de cálculo. Com base no exposto, e em atenção à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no que
concerne ao conflito entre lei ordinária e complementar, assinale a afirmativa correta.
a) A lei ordinária é válida em relação à base de cálculo, mas não em relação à alíquota
b) A lei ordinária é inválida, pois não pode alterar a lei complementar.
c) A lei ordinária é válida em relação à alíquota, mas não em relação à base de cálculo
d) A lei ordinária é inválida e sequer poderá ser convalidada por lei complementar superveniente.
e) A lei ordinária é válida, pois a matéria por ela regulada (contribuição especial) não é reservada a lei
complementar
Comentários
A questão traz à lume o entendimento firmado quando do julgamento da ADC - 1/DF. Nesse julgamento, foi
decidido que a Cofins é contribuição social, com amparo no inciso I, do art. 195, da Constituição da República.
Para a sua disciplina não é necessária lei complementar, reservada para os casos de criação de novas fontes
de custeio para a seguridade social (art. 195, § 4º c/c art. 154, I, CF). A tese fixada foi a seguinte: “a Lei
Complementar nº 70/91 possui status de lei ordinária, posto não se enquadrar na previsão do art. 154, I da
Constituição Federal”.
Portanto, a lei ordinária referida pela questão é válida, visto que a matéria por ela regulada não é reservada
à lei complementar. Diante disso, por ostentar status de lei ordinária, é possível alterações supervenientes
por meio de lei ordinária.
Comentários
Todas as questões decorrem do texto legal da lei 7.3.47/85. A ‘a’ está correta, pois de acordo com o art. 3º
da LACP. A ‘b’ está incorreta, pois em desacordo com o art. 5º, §1º da LACP. A atuação do MP como fiscal da
lei é obrigatória. A ‘c’ está correta, pois de acordo com a regra gral do art. 2º da LACP. A ‘d’ está correta, pois
de acordo com o art. 5º, §5º da LACP. Por fim, a ’e’ está correta, pois de acordo com o art. 1º, IV, da LACP.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela Lei nº 12.529,
de 2011). IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
Comentários
A incorreta é a letra ‘c’, que não é prevista como princípio do processo coletivo. Os demais são específicos
do processo coletivo. Assim: ‘a’ busca-se o conhecimento e pronunciamento da questão de mérito.
‘b’ diz que o autor da ação coletiva não pode abdicar de seu objeto. Este princípio é flexibilizado pela
possibilidade de desistência “fundada”, prevista na Lei da Ação Civil Pública.
‘d’ a decisão em processo coletivo não pode prejudicar, mas somente beneficiar as pessoas. Isto se dá em
razão do fato que a legitimação para o ingresso das ações é extraordinária e independe de qualquer
autorização.
‘e’ a execução coletiva deve ser movida obrigatoriamente pelos legitimados extraordinários, quando o caso
assim demandar. (art. 98 do CDC)
Questão 3. Assinale a alternativa correta de acordo com a lei da ação civil pública (7.347/85)
a) Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de
fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos do inquérito civil ou das
peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.
b) A ação civil pública poderá ter por objeto a condenação em prestação de serviços ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
c) O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, poderá atuar como fiscal da lei.
d) Ordem dos Advogados do Brasil pode ajuizar ação civil pública.
e) Condomínio fechado pode ajuizar ação civil pública.
Comentários
A assertiva ‘a’ está de acordo com o art. 9º da lei 7.347/85. A ‘b’ está em desacordo com o art. 3º. No caso
da ‘c’, a intervenção do Ministério Público é obrigatória, caso não seja o autor da ação. Nem OAB nem
condomínio fechado têm legitimidade para propor ACP, na forma do art. 5º da Lei 7.347/85.
Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.
Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: (Redação dada pela Lei
nº 11.448, de 2007).
III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; (Incluído pela Lei nº 11.448, de 2007).
IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; (Incluído pela Lei
nº 11.448, de 2007).
Comentários
Alternativa A: INCORRETA
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente,
segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
Por expressa dicção legal, o cumprimento da função social da propriedade rural exige o atendimento
simultâneo de todos os requisitos elencados.
Alternativa B: INCORRETA
O princípio do limite (ou da tolerabilidade ou do controle ou da capacidade de suporte), por sua vez, impõe
ao Poder Público o dever de controlar a poluição mediante a instituição de padrões máximos de tolerância,
a fim de assegurar níveis aceitáveis, visando preservar o equilíbrio ambiental e a saúde humana. Está previsto
como instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9º, I, da Lei nº 6.938/81) e constitui princípio
auxiliar da prevenção e do desenvolvimento sustentável.
Alternativa C: INCORRETA
A da Lei nº. 12.651/12 – Código Florestal prevê instrumentos econômicos e financeiros para auxiliar no
escopo de proteção da vegetação e alcance dos demais objetivos eleitos e adota como um de seus princípios
a criação e mobilização de incentivos econômicos para fomentar a preservação e a recuperação da vegetação
nativa e para promover o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis (art. 1-A, VI).
Alternativa D: CORRETA
Conforme prescreve o.art. 225, §1º, IV, para assegurar a efetividade do direito ao meio ambiente, incumbe
ao Poder Público:
Alternativa E: INCORRETA
Art. 2º Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério
Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a
realização de audiência pública.
Gabarito: D
e) da ubiquidade
Comentários
O acórdão analisou a questão à luz do princípio da precaução, com base na noção de meio ambiente sadio
equilibrado, nos termos do art. 225, caput, da Constituição da República.
Na ocasião, ao enfrentar o desafio de estabelecer o conteúdo jurídico do princípio da precaução, o Supremo
Tribunal Federal compreendeu que o princípio não pode produzir uma letargia nas ações do Estado diante
de riscos potenciais, isto é, ser contido na ação, e não deve tampouco se embasar em temores infundados
que levariam a sua aplicação sem filtros como medida a afastar qualquer tipo de risco. Fixou, pois, o conceito
jurídico do princípio como método de gestão de riscos à luz da proporcionalidade.
No citado acórdão, o Min. Rel. Dias Toffoli conceitua o princípio da precaução como:
O princípio da precaução é um critério de gestão de risco a ser aplicado sempre que existirem
incertezas científicas sobre a possibilidade de um produto, evento ou serviço desequilibrar o
meio ambiente ou atingir a saúde dos cidadãos, o que exige que o Estado analise os riscos, avalie
os custos das medidas de prevenção e, ao final, execute as ações necessárias, as quais serão
decorrentes de decisões universais, não discriminatórias, motivadas, coerentes e proporcionais.
Por outro lado, a aplicação do princípio não pode gerar como resultados temores infundados.
Havendo relevantes elementos de convicção sobre os riscos, o Estado há de agir de forma
proporcional. Sua adequada aplicação na dimensão material deve propiciar que a investigação
dos riscos ocorra sobre as “consequências distantes tanto em tempo como em lugar, [sobre]
danos a bens particularmente sensíveis, [sobre] meros distúrbios e até [sobre a] pouca
probabilidade de danos”, de forma a propiciar a adoção de medidas pertinentes e proporcionais
(cf. Gerd Winter. A Natureza Jurídica dos Princípios Ambientais em Direito Internacional. In,
KISHI, Sandra A. S., SILVA, Solange T. da e SOARES, Inês V. P. (Org.). Desafios do Direito Ambiental
no Século XXI. São Paulo: Malheiros, 2005, p. 144). O adequado equacionamento dos elementos
que levam o poder público a agir e as medidas acautelatórias a serem adotadas só se efetivarão
com o cumprimento dos princípios da motivação e da proporcionalidade, o que evita o non liquet
estatal.
Gabarito: C
Comentários
Gabarito: B.
É exatamente o que prevê o art. 887 do Código Civil, que dita que o título de crédito é um documento
necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido.
Comentários
Gabarito: C.
Os títulos de crédito possuem duas funções fundamentais, a saber: (a) constituir um meio técnico para o
exercício de direitos de crédito (função econômica); (b) facilitar e agilizar a circulação de riquezas (função
de circulabilidade).
Comentários
Gabarito: A.
Questão 4. As notas promissórias, enquanto títulos de crédito, são classificadas quanto ao seu modelo
como:
a) De modelo vinculado
b) Como ordem de pagamento.
c) De modelo livre
d) De natureza nominativa.
Comentários
Gabarito: C.
Assim como a letra de câmbio, a nota promissória é classificada quanto ao seu modelo como título de crédito
de natureza livre, isso porque não possuem forma ou padrão preestabelecido por lei.
Comentários
Hugo Nigro Mazzilli defende que “a opção do constituinte de 1988 foi, sem dúvida, conferir um elevado
status constitucional ao Ministério Público, quase erigindo-o a um quarto Poder” (MAZZILLI, Hugo Nigro.
Regime Jurídico do Ministério Público. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 66 – grifado).
Comentários
Em consonância com os arts. 52, inc. II, 68, § 1º, inc. I, e 127, §§ 2º e 3º, da Constituição da República, são
características de Poder de Estado de que dispõe o Ministério Público: competência do Senado Federal para
processo e julgamento do Procurador-Geral da República nos crimes de responsabilidade que lhes sejam
imputados como Chefe do Ministério Público da União (alternativa A); autonomia administrativa do
Ministério Público (alternativa B); proibição de delegação legislativa sobre organização do Ministério Público,
carreira e garantia de seus membros (alternativa C) e autonomia financeira do Ministério Público (alternativa
D).
A contrario sensu, não consiste em característica de Poder de Estado a atribuição do Conselho Nacional do
Ministério Público, e não da Procuradoria-Geral da República, para a solução de conflitos entre o Ministério
Público de Estados diferentes, de acordo com o posicionamento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal
no julgamento da Petição nº 4.891/DF, motivo pelo qual a alternativa E está correta.
Questão 3. Nos termos da Constituição da República, sob o ângulo político-administrativo, os atos que
atentem contra o livre exercício do Ministério Público podem ser reconhecidos como:
a) Fatos atípicos.
b) Crimes comuns.
c) Atos de improbidade administrativa.
d) Crimes de responsabilidade.
e) Infrações eleitorais.
Comentários
À luz do art. 85, inc. II, da Constituição da República, são crimes de responsabilidade os atos do Presidente
da República que atentem contra o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério
Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação.
Comentários
a- A atuação como fiscal da lei é obrigatória. Art. 92 do CDC, assim com o art. 127 da Constituição.
b- De acordo com o Art. 93, I do CDC. Ressalva-se a competência da Justiça Federal, a hipótese de haver
interesse da União, na forma do art. 109 da Constituição.
c- A legitimação é concorrente e autônoma, de acordo com o Art. 82 do CDC e art. 5º, da lei 7.347/85. Não
há que se falar em legitimação subsidiária.
d- O conceito não está de acordo com o Art. 81, II do CDC: II - interesses ou direitos coletivos, assim
entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo,
categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;
e- O conceito não está de acordo com o Art. 81, I do CDC: I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos,
para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas
indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;
Comentários
A incorreta é a letra ‘a’, pois em desacordo com o caput do art. 2º do CDC. Ademais, o conceito de
consumidor engloba a teoria finalista (destinatário final), de modo que o vocábulo “sempre” exclui o
entendimento do STJ que em casos específicos flexibiliza esta teoria. STJ em teses nº 39: “1) O Superior
Tribunal de Justiça admite a mitigação da teoria finalista para autorizar a incidência do Código de Defesa do
Consumidor - CDC nas hipóteses em que a parte (pessoa física ou jurídica), apesar de não ser destinatária
final do produto ou serviço, apresenta-se em situação de vulnerabilidade.”
b- Art. 3º
c- Art. 3º
d- Art. 6º
e- Art. 6º
3 - QUESTÕES DISCURSIVAS
Agora vamos às 20 questões discursivas, que observam a seguinte distribuição:
Vamos lá!
Comentários
Os princípios constitucionais podem ser classificados como fundamentais, gerais e setoriais ou especiais.
Os princípios fundamentais são sínteses das normas constitucionais, que a eles podem ser direta ou
indiretamente reconduzidas, com o objetivo de organizar o Estado, de forma que “os princípios
fundamentais formam o trinômio de atributos essenciais do Estado brasileiro: a democracia, a república e a
federação” (FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Curso de Direito Constitucional Brasileiro. v. I. Rio de Janeiro:
Forense, 1958, p. 87)
Os princípios gerais são desdobramentos dos princípios fundamentais, que são irradiados pelo ordenamento
constitucional, com o objeto de limitar o poder imanente ao Estado, de modo que “os princípios gerais
figuram dentre os princípios gerais os que se seguem: a legalidade, a igualdade, a inafastabilidade do controle
judicial e o devido processo legal” (BARROSO, Luís Roberto. Princípios Constitucionais Brasileiros. Revista
Trimestral de Direito Público, nº 1, 1993, p. 175).
Questão 2. O que são “normas constitucionais com eficácia absoluta”? Resposta objetivamente justificada.
Comentários
As normas constitucionais com eficácia absoluta consistem em normas intangíveis, contra as quais não há
expressão do poder constituinte derivado reformador, como, por exemplo, as normas que prescrevem a
federação (art. 1º), o voto direto, secreto, universal e periódico (art. 14), a separação de poderes (art. 2º) e
os direitos fundamentais (art. 5º, dentre outros), todos da Constituição da República.
“Os dois cargos acumulados (...) não se enquadram no permissivo constitucional. Também
reconheço que não há direito adquirido contra a Constituição, salvo quando esta expressamente
ressalva. O disposto no art. 5º, XXXVI, só tem eficácia absoluta em face da legislação
infraconstitucional” (STF, RE nº 209.651, Rel. Min. Joaquim Barbosa, J. 18.08.2008, DJU
10.09.2008).
Comentários
A licitação carona consiste no fato de um órgão ou entidade que não participou da licitação que deu ensejo
à ata pretende contratar com o vencedor, aderindo à ata feita por outro órgão.
Trata-se de situação regida pelo Decreto Federal nº 7.892/2013, em seu artigo 22.
Desde que devidamente justificada a vantagem, a ata de registro de preços, durante sua vigência, poderá
ser utilizada por qualquer órgão ou entidade da administração pública federal que não tenha participado do
certame licitatório, mediante anuência do órgão gerenciador.
Os órgãos e entidades que não participaram do registro de preços, quando desejarem fazer uso da ata de
registro de preços, deverão consultar o órgão gerenciador da ata para manifestação sobre a possibilidade de
adesão.
A manifestação do órgão gerenciador fica condicionada à realização de estudo, pelos órgãos e pelas
entidades que não participaram do registro de preços, que demonstre o ganho de eficiência, a viabilidade e
a economicidade para a administração pública federal da utilização da ata de registro de preços, conforme
estabelecido em ato do Secretário de Gestão do Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão.
Por sua vez, caberá ao fornecedor beneficiário da ata de registro de preços, observadas as condições nela
estabelecidas, optar pela aceitação ou não do fornecimento decorrente de adesão, desde que não
prejudique as obrigações presentes e futuras decorrentes da ata, assumidas com o órgão gerenciador e
órgãos participantes.
As aquisições ou contratações adicionais não poderão exceder, por órgão ou entidade, a cem por cento dos
quantitativos dos itens do instrumento convocatório e registrados na ata de registro de preços para o órgão
gerenciador e órgãos participantes, no caso de compra nacional. Trata-se de limite individual, por órgão ou
entidade.
O instrumento convocatório deverá prever que o quantitativo decorrente das adesões à ata de registro de
preços não poderá exceder, na totalidade, ao quíntuplo do quantitativo de cada item registrado na ata de
registro de preços para o órgão gerenciador e órgãos participantes, independente do número de órgãos não
participantes que aderirem, no caso de compra nacional. Trata-se de limite global.
Por sua vez, para compras não nacionais, as aquisições ou as contratações adicionais não poderão exceder,
por órgão ou entidade, a cinquenta por cento dos quantitativos dos itens do instrumento convocatório e
registrados na ata de registro de preços para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes. Trata-se de
limite individual, por órgão ou entidade.
O instrumento convocatório preverá que o quantitativo decorrente das adesões à ata de registro de preços
não poderá exceder, na totalidade, ao dobro do quantitativo de cada item registrado na ata de registro de
preços para o órgão gerenciador e para os órgãos participantes, independentemente do número de órgãos
não participantes que aderirem, para compras não nacionais. Trata-se de limite global
O órgão gerenciador somente poderá autorizar adesão à ata após a primeira aquisição ou contratação por
órgão integrante da ata, exceto quando, justificadamente, não houver previsão no edital para aquisição ou
contratação pelo órgão gerenciador.
Após a autorização do órgão gerenciador, o órgão não participante deverá efetivar a aquisição ou
contratação solicitada em até noventa dias, observado o prazo de vigência da ata.
É vedada aos órgãos e entidades da administração pública federal a adesão a ata de registro de preços
gerenciada por órgão ou entidade municipal, distrital ou estadual.
É facultada aos órgãos ou entidades municipais, distritais ou estaduais a adesão a ata de registro de preços
da Administração Pública Federal.
Questão 2. O chefe do Poder Executivo de uma unidade da Federação, em razão do acúmulo de serviço
ocorrido nas diversas repartições, praticou dois atos administrativos para solucionar o problema.
O primeiro ato foi a remoção de servidores para outras localidades de trabalho, de modo a atender melhor
a necessidade do serviço público.
O segundo ato, por sua vez, foi a contratação de servidores temporários e estagiários para realização de
diversas atividades em órgãos da Administração Pública municipal.
Um grupo de aprovados fora do número de vagas no concurso público da carreira de analista administrativo,
indignado com a medida feita pelo Prefeito, impetrou mandado de segurança pleiteando a nomeação dos
aprovados, tendo em vista a ocorrência de preterição à ordem de classificação. Assim, de acordo com o
fundamentado pelo grupo, haveria direito líquido e certo à nomeação dos aprovados, haja vista decisão do
Supremo Tribunal Federal no sentido de que a preterição à ordem de classificação geraria direito subjetivo
à nomeação.
Diante do cenário narrado, justifique a legalidade ou não dos atos praticados pelo Prefeito, abarcando os
aspectos jurisprudenciais e constitucionais sobre o tema, passando pelas hipóteses de direito subjetivo à
nomeação dos candidatos aprovados em concursos públicos.
Comentários
De acordo com o STJ, não ocorre preterição na ordem de classificação de aprovados em concurso público na
hipótese de remoção de servidores lotados em outras localidades. No momento da remoção, o que se há
são servidores devidamente investidos no cargo, não se podendo falar, pois, em preterição.
Ademais, também de acordo com o STJ, a paralela contratação de servidores temporários, ou ainda, como
no caso, o emprego de servidores comissionados, terceirizados ou estagiários, só por si, não caracterizam
preterição na convocação e nomeação dos impetrantes ou autorizam a conclusão de que tenham
automaticamente surgido vagas correlatas no quadro efetivo, a ensejar o chamamento de candidatos
aprovados em cadastro de reserva ou fora do número de vagas previstas no edital condutor do certame.
Comentários
De ordinário, a prova da filiação se realiza por perícia técnica: exame de Ácido Desoxirribonucleico (DNA).
Para tanto, as partes, ou parentes das partes, se for o caso, fornecem o material genético que servirá de base
para o exame. ==10be0c==
Entretanto, a pessoa apontada como genitor poderá obstar a produção do exame. A negativa do exame é
fato impeditivo da prova pericial e, assim, dificultar o conhecimento da filiação.
Neste contexto é que a jurisprudência, amparada no Código Civil (arts. 231 e 232), solidificou-se no sentido
de que a recusa não beneficiará a parte; ao contrário, será a ela prejudicial.
É o teor do entendimento sumular nº. 301 do STJ: em ação investigatória, a recusa do suposto pai a
submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.
Vale ressaltar que não se está a afirmar ser a recusa prova plena de paternidade. Deverá o contexto dos
autos ser analisado. Se houver indícios suficientes de paternidade, a presunção iuris tantum decorrente da
recusa servirá como instrumento processual determinante ao reconhecimento da filiação.
E se a mera presunção não for suficiente ao sentenciamento da lide? Em compasso com a jurisprudência do
STJ, deverá haver o emprego de métodos indutivas, coercitivas ou mandamentais, previstas no art. 139, IV,
do CPC (pela importância e completude do aresto, recomenda-se a leitura atenta integral da ementa):
2- Tendo o acórdão desta Corte concluído que o documento apresentado pela parte configurava
prova indiciária da alegada fraude ocorrida em anterior exame de DNA e, em razão disso,
determinado a reabertura da fase instrutória, não pode a sentença, valendo-se apenas daquele
documento, extrair conclusão diversa, no sentido de não ser ele suficiente para a comprovação
da fraude, sob pena de afronta à autoridade da decisão proferida pelo Superior Tribunal de
Justiça.
3- Determinado, pelo acórdão desta Corte, que fosse realizado novo exame de DNA para
apuração da existência de vínculo biológico entre as partes, não pode a sentença, somente com
base na ausência das pessoas que deveriam fornecer o material biológico, concluir pelo
restabelecimento da coisa julgada que se formou na primeira ação investigatória (e que foi
afastada por esta Corte), nem tampouco concluir pela inaplicabilidade da presunção contida na
Súmula 301/STJ, sem que sejam empreendidos todas as providências necessárias para a
adequada e exauriente elucidação da matéria fática. Aliás, é preciso enfatizar que maior do que
o direito de ter um pai é o direito de saber quem é o pai.
5- Aplicam-se aos terceiros que possam fornecer material genético para a realização do novo
exame de DNA as mesmas diretrizes anteriormente formuladas, pois, a despeito de não serem
legitimados passivos para responder à ação investigatória (legitimação ad processum), são eles
(STJ - Rcl: 37521 SP 2019/0061080-0, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento:
13/05/2020, S2 - SEGUNDA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe 05/06/2020)
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O relacionamento afetivo-amoroso interpessoal pode constituir união estável, figura que expressa a família
constitucionalmente tutelada, a teor do art. 1.723 do Código Civil, que dispõe: é reconhecida como entidade
familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura
e estabelecida com o objetivo de constituição de família.
Há elementos essenciais à configuração da união estável. Ainda, com o fito de facilitar o aperfeiçoamento
do instituto, também são elencados elementos acidentais, isto é, não necessários à configuração, mas que
auxiliam em seu delineamento.
São elementos essenciais à união estável o relacionamento (I) público, consistente na demonstração não
restrita do enlace; (II) contínuo, sem interrupções que desfigurem o relacionamento familiar; (III) estável,
apto a permitir o desenho de uma unidade familiar sólida; e (IV) com o objetivo de constituição de família.
Preenchidos os requisitos acima, haverá a chancela jurídica do relacionamento, de modo a atrair a proteção
legal inerente à união estável.
Como elementos acidentais, aptos a auxiliar a conclusão pela existência de união estável – e não de mero
namoro –, pode-se citar o tempo do relacionamento, que, duradouro, facilita a visualização do contexto
familiar; a prole e a coabitação.
Por fim, cite-se que a estabilidade, embora seja relativa, isto é, não haja critérios estanques e objetivos para
determiná-la, não é obtida por circunstâncias efêmeras. Neste sentido:
1. O Código Civil definiu a união estável como entidade familiar entre o homem e a mulher,
"configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de
constituição de família" (art. 1.723).
2. Em relação à exigência de estabilidade para configuração da união estável, apesar de não haver
previsão de um prazo mínimo, exige a norma que a convivência seja duradoura, em período
suficiente a demonstrar a intenção de constituir família, permitindo que se dividam alegrias e
tristezas, que se compartilhem dificuldades e projetos de vida, sendo necessário um tempo
razoável de relacionamento.
3. Na hipótese, o relacionamento do casal teve um tempo muito exíguo de duração - apenas dois
meses de namoro, sendo duas semanas em coabitação -, que não permite a configuração da
estabilidade necessária para o reconhecimento da união estável. Esta nasce de um ato-fato
jurídico: a convivência duradoura com intuito de constituir família. Portanto, não há falar em
comunhão de vidas entre duas pessoas, no sentido material e imaterial, numa relação de apenas
duas semanas.
(REsp 1761887/MS, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
06/08/2019, DJe 24/09/2019)
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Em recente julgado, consignou o Superior Tribunal de Justiça, ao conceder habeas corpus para revogação de
prisão civil, a impossibilidade de sua decretação em desfavor do devedor de alimentos pautados em ato
ilícito, isto é, de caráter indenizatório, sob o fundamento de que a única hipótese de prisão civil admitida
pelo ordenamento jurídico é a derivada de pensão alimentícia fundada nas relações familiares.
Muito embora não haja previsão normativa expressa que estabeleça distinção entre a natureza da obrigação
alimentar, a qual pode se embasar em vínculo familiar (alimentos legítimos), em relações negociais
(alimentos voluntários/negociais) ou em ato ilícito (alimentos indenizatórios), para fins de viabilidade de
prisão civil, entendeu-se, por interpretação teleológica e sistemática do ordenamento jurídico e por critérios
de razoabilidade e proporcionalidade, pela sua exclusiva possibilidade em virtude de vínculo familiar.
Isso porque a restrição do âmbito de aplicabilidade da prisão civil fora ensejada pela Convenção Americana
de Direitos Humanos – Pacto São José da Costa Rica – e consagrada pela Constituição Federal (art. 5º, LXVII),
como forma de autorizar a imposição desta medida, em caráter de excepcionalidade, aos casos em que se
contraponha a própria dignidade da pessoa humana, não se mostrando, pois, acertada a sua extensão a
Assim sendo, deve a análise da viabilidade da prisão civil obedecer ao viés restritivo e excepcional
característico desta própria medida, motivo pelo qual não é possível a decretação da prisão civil do devedor
de alimentos de caráter indenizatório decorrentes de ato ilícito.
Por isso, é franqueado ao devedor de alimentos que possua título executivo o rito da excussão patrimonial,
nos termos do art. 523 e ss. do Código de Processo Civil.
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CP, art. 4º: Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado.
Para efeito da aplicação das leis no tempo, é necessário determinar o momento da prática do fato, o
momento da ação ou omissão.
Com o início da execução já há crime, na forma da tentativa. Por isso, se já há crime com o início da execução,
o fato determinante para fixar o tempus delicti tem de ser necessariamente o primeiro ato de execução,
porque nesse momento o agente deve já saber se o seu comportamento é ou não penalmente ilícito.
Toda lei, quando discutida no plenário do Congresso Nacional, aprovada, promulgada e sancionada, tem a
pretensão de ser eterna. Todavia, por conta de novas aspirações sociais ou da necessidade de regulação de
fatos até então desconhecidos, novas leis são editadas, revogando as anteriores ou tratando de novos
assuntos.
Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.
Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos
anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.
Regido pelo princípio da anterioridade e, consequentemente, pela aplicação da lei penal mais favorável ao
acusado, tem-se que o Direito Penal adota as regras de irretroatividade da lei penal mais prejudicial (ou in
pejus) e retroatividade da lei penal mais benéfica (in melius).
• Se a lei revogada for mais benéfica, será aplicada ultrativamente ao fato cometido à sua época.
• Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei revogadora, é esta que deverá ser aplicada
retroativamente.
Lei ultrativa, portanto, é aquela que, vigente à data do fato, se aplica ao caso em concreto, mesmo após sua
revogação, em razão de sua natureza mais benéfica. Neste caso, deve-se compreender a lei revogada como
mais benéfica quando a lei nova, que revoga aquela até então vigente, aumenta a pena prevista para o crime,
acrescenta-lhe novas penas ou retira benefícios até então aplicáveis para o cumprimento da pena. Lei
retroativa, por seu turno, é aquela que se aplica ao crime praticado antes de sua entrada em vigor, porque,
nesta hipótese, era a lei revogada, aquela em vigor na data do fato, mais gravosa, por alguma das razões
acima expostas.
Desta feita, verifica-se que a nova redação dada ao art. 157, §2o, do Código Penal, quando comparada com
o texto anterior, constitui novatio legis in pejus, haja vista a criação de causa especial de aumento de pena
até então desconhecida do ordenamento jurídico brasileiro.
Em face de tal natureza, conclui-se, com fulcro no art. 2o, parágrafo único, do Código Penal, que a Lei no
13.964/19, no que toca à criação de nova majorante para o crime de roubo, não retroage para alcançar as
condutas praticadas antes da data de sua efetiva aplicação, ou seja, após a verificação do prazo de vacatio
legis.
Portanto, os crimes de roubo praticados mediante grave ameaça, com o emprego de arma branca, antes do
dia 24 de janeiro de 2020, serão tratados, na data do julgamento, como crimes de roubo simples, tipificados
no art. 157, caput, do Código Penal.
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento,
(coerência, clareza, por meio da linguagem adequada e da coerência das
ortografia, propriedade ideias, é elemento importante que será considerado 10%
vocabular e raciocínio para a composição da nota.
jurídico)
Análise da Teoria da Ação O Código Penal adotou a teoria da ação para
determinar o tempo do crime.
CP, art. 4º: Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja
10%
o momento do resultado.
Para efeito da aplicação das leis no tempo, é
necessário determinar o momento da prática do
fato, o momento da ação ou omissão.
Irretroatividade da norma Regido pelo princípio da anterioridade e,
penal incriminadora consequentemente, pela aplicação da lei penal mais
favorável ao acusado, tem-se que o Direito Penal
20%
adota as regras de irretroatividade da lei penal mais
prejudicial (ou in pejus) e retroatividade da lei penal
mais benéfica (in melius).
Conflito intertemporal de leis O conflito intertemporal de leis penais resolve-se da
penais - solução seguinte maneira:
• Se a lei revogada for mais benéfica, será aplicada
ultrativamente ao fato cometido à sua época. 20%
• Em caso contrário, sendo mais benéfica a lei
revogadora, é esta que deverá ser aplicada
retroativamente.
Lei ultrativa e retroativa Lei ultrativa, portanto, é aquela que, vigente à data
do fato, se aplica ao caso em concreto, mesmo após
sua revogação, em razão de sua natureza mais
benéfica. Neste caso, deve-se compreender a lei
revogada como mais benéfica quando a lei nova, que
revoga aquela até então vigente, aumenta a pena
prevista para o crime, acrescenta-lhe novas penas ou 20%
retira benefícios até então aplicáveis para o
cumprimento da pena. Lei retroativa, por seu turno,
é aquela que se aplica ao crime praticado antes de
sua entrada em vigor, porque, nesta hipótese, era a
lei revogada, aquela em vigor na data do fato, mais
gravosa, por alguma das razões acima expostas.
Irretroatividade do Pacote Desta feita, verifica-se que a nova redação dada ao
Anticrime art. 157, §2o, do Código Penal, quando comparada
20%
com o texto anterior, constitui novatio legis in pejus,
haja vista a criação de causa especial de aumento de
Comentários
Não há bilateralidade entre os crimes de corrupção passiva e ativa, uma vez que estão previstos em tipos
penais distintos e autônomos, são independentes e a comprovação de um deles não pressupõe a do outro,
de acordo com a jurisprudência dos tribunais superiores.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que eventual bilateralidade das condutas de
corrupção passiva e ativa é apenas fático-jurídica, não se estendendo ao plano processual, visto que a
investigação de cada fato terá o seu curso, com os percalços inerentes a cada procedimento, sendo que para
a condenação do autor de corrupção passiva é desnecessária a identificação ou mesmo a condenação do
corruptor ativo (AgRg no REsp 1613927/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, Sexta Turma,
julgado em 20/09/2016, DJe 30/09/2016).
Composição da
Questionamento Fundamento
Nota da Questão
Aspectos microestruturais A apresentação clara e escorreita do conhecimento,
(coerência, clareza, por meio da linguagem adequada e da coerência das
ortografia, propriedade ideias, é elemento importante que será considerado 10%
vocabular e raciocínio para a composição da nota.
jurídico)
Bilateralidade da corrupção Não há bilateralidade entre os crimes de corrupção
ativa e passiva passiva e ativa, uma vez que estão previstos em tipos
penais distintos e autônomos, são independentes e
45%
a comprovação de um deles não pressupõe a do
outro, de acordo com a jurisprudência dos tribunais
superiores.
Responsabilidade penal Prevalece na jurisprudência do STF e do STJ a
independente inexistência de bilateralidade entre os crimes de
corrupção passiva e ativa, pois, de regra, tais
comportamentos delitivos, "por estarem previstos
em tipos penais distintos e autônomos, são 45%
independentes, de modo que a comprovação de um
deles não pressupõe a do outro" (RHC 52.465/PE,
Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado
em 23/10/2014, Dje 31/10/2014).
Comentários
A prisão constitui restrição à liberdade de locomoção do indivíduo. Sua decretação é medida excepcional,
dependendo de decisão escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. Esse controle exercido
pelo Poder Judiciário, a jurisdicionalidade da medida, pode ser anterior ou posterior.
Ao receber o APF, o magistrado dispõe de três alternativas, conforme apregoa o artigo 310, do CPP, verbis:
III - conceder liberdade provisória, com ou sem fiança. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).
Veja-se que a lei autoriza expressamente que o magistrado faça a conversão, parecendo prescindir de
requerimento de quem quer que seja (Ministério Público ou Autoridade Policial).
Fazendo uma leitura rasa do dispositivo, a jurisprudência do STJ tem se consolidado no sentido de que o
magistrado pode, sim, convertê-la de ofício, conforme se vê abaixo:
"o Juiz, mesmo sem provocação da autoridade policial ou da acusação, ao receber o auto de
prisão em flagrante, poderá, quando presentes os requisitos do art. 312 do Código de Processo
Penal, converter a prisão em flagrante em preventiva, em cumprimento ao disposto no art. 310,
II, do mesmo Código, não havendo falar em nulidade (RHC n. 120.281/RO, Rel. Ministro Ribeiro
Dantas, 5ª T., DJe 15/05/2020).
A 2ª Turma do STF, no entanto, acolhendo a deliberação monocrática do Ministro Celso de Mello, destacou
a impossibilidade de prisão preventiva sem requerimento do MP ou da Polícia Judiciária, "tendo em vista as
inovações introduzidas nessa matéria pela recentíssima Lei nº 13.964/2019 (“Lei Anticrime”), que deu
particular destaque ao sistema acusatório adotado pela Constituição, negando ao Juiz competência para a
imposição, ex officio, dessa modalidade de privação cautelar da liberdade individual do cidadão (CPP, art.
282, §§ 2º e 4º, c/c art. 311)."
(...) ao suprimir a expressão “de ofício” que constava do art. 282, §§ 2º e 4º, e do art. 311, todos
do Código de Processo Penal, vedou, de forma absoluta, a decretação da prisão preventiva sem
o prévio “requerimento das partes ou, quando no curso da investigação criminal, por
representação da autoridade policial ou mediante requerimento do Ministério Público” (grifei),
não mais sendo lícita, portanto, com base no ordenamento jurídico vigente, a atuação “ex officio”
do Juízo processante em tema de privação cautelar da liberdade.
A interpretação do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282, §§ 2º e 4º, e 311, do
mesmo estatuto processual penal, a significar que se tornou inviável, mesmo no contexto da
audiência de custódia, a conversão, de ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa em
prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo, para tal efeito, anterior e formal
provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o caso, do querelante ou
do assistente do MP. Magistério doutrinário. Jurisprudência.
A divergência foi instaurada, não se sabendo qual posicionamento irá se consolidar com o tempo.
Questão 1. Fulano, proprietário de uma editora local, dias antes da 1ª Parada Gay que ocorreria na cidade,
publicou um manifesto em face da Comunidade LGBTI+, afirmando que “os homossexuais e transgêneros
eram pessoas anormais e não poderiam conviver em sociedade’, além de incitar toda a população a
evitar qualquer contato com os referidos indivíduos, alertando que eram perigosos e portadores de
doenças contagiosas.
Em razão da publicação do referido manifesto, o Ministério Público apresentou denúncia em desfavor de
fulano, proprietário de uma editora pela prática do delito previsto no artigo 20, §2º da Lei 7.716/1989.
À luz da Lei 7.716/1989 e da jurisprudência do STF, redija um texto dissertativo sobre a situação hipotética
apresentada.
Comentários
A República Federativa Brasileira tem entre outros objetivos, o de promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, a teor do artigo
3º, IV, da CF/88.
Para garantir o direito individual fundamental à igualdade, previsto no artigo 5º, caput, da CF/88, e vedar o
tratamento discriminatório em razão da raça, o constituinte originário estabeleceu mandamentos
constitucionais de criminalização, previstos nos incisos XLI e XLII do artigo 5º da CF/88. Dessa forma, nasceu
a Lei 7.716/89 que define os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião
ou procedência nacional.
A referida legislação tem finalidade proteger a dignidade da pessoa humana, garantindo o direito à igualdade
e tem como especial fim de agir o ato consistente de discriminar, segregar, dispensando tratamento desigual
e injusto a um grupo de pessoas em razão de sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
Em razão da gravidade do delito, o constituinte originário, estipulou no art. 5º, XLII, da CF, que a prática do
racismo constitui crime e imprescritível e inafiançável, sujeito à pena de reclusão.
Nesse ponto, importante diferenciar o crime de racismo, previsto no artigo 20 da Lei 7.716/1989 e a injúria
racial tipificada no artigo 140, §3º do Código Penal.
Por outro lado, a injúria racial tutela a honra subjetiva da pessoa, é uma forma qualificada do crime de injúria,
previsto no §3º do artigo 140 do Código Penal. A conduta criminosa é dirigida à determinada pessoa e tem
por finalidade ofender a dignidade o decorro utilizando elementos referentes à raça, cor, etnia, origem ou
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Há discussão, é bom que se diga, sobre a prescritibilidade e fiançabilidade do crime de injúria racial, porém,
tanto o STJ (AREsp 686.965/DF) quanto o STF (Agravo Regimental no Recurso Extraordinário nº 983.531, e
AG.REG. NO HABEAS CORPUS 142.583, ambos da 1ª Turma) já decidiram que o referido delito seria uma
espécie do crime de racismo e, portanto, também seria um crime imprescritível e inafiançável.
Assim, no caso hipotético citado no enunciado, observa-se que a conduta praticada por Fulano,
efetivamente, configura a forma qualificada do crime de racismo, prevista no §2º do artigo 20 da Lei
7.716/1989, uma vez que a conduta discriminatória dirigida aos homossexuais e transgêneros, integrantes
da Comunidade LGBTI+, foi praticada por meio de uma publicação.
Comentários
Não é imprescindível o estabelecimento de residência com ânimo definitivo para a configuração do domicílio
da circunscrição eleitoral.
Nessa ordem de ideias, em consonância com as decisões proferidas pelo Tribunal Superior Eleitoral no REspe
nº 8.551, de 08.04.2014, e no RO nº 060238825, de 04.10.2018, o conceito de domicílio eleitoral pode ser
demonstrado não só pela residência com ânimo definitivo, mas também pela constituição de vínculos
políticos, econômicos, sociais ou familiares, por força do art. 42, parágrafo único, do Código Eleitoral.
Comentários
Os impostos diretos seriam aqueles em que não haveria o repasse do custo da tributação pelo contribuinte,
do que seriam exemplos o IR, o IPTU, o IPVA, etc. Nesses casos, a própria pessoa que realiza o fato gerador
– o proprietário do bem imóvel urbano, no caso do IPTU, por exemplo – é quem arcaria com o valor da
exação.
Os impostos indiretos, por outro lado, seriam aqueles cujo ônus da tributação seria repassado a terceiros.
Nesses casos, existiriam dois contribuintes: O contribuinte de direito, que é quem realizaria o fato gerador,
e o contribuinte de fato, que seria a pessoa que efetivamente arcaria com o custo da tributação.
Em tese, todo tributo pode repercutir, inclusive os tributos acoimados de diretos. E a razão é simples: A
formação do preço dos produtos e serviços considera todos os custos tributários envolvidos.
Comentários
Questão de conhecimento de legislação seca. Deve-se citar a lei e o artigo. Não deve ir além dos conceitos
previstos, pois a questão pede apenas a legislação federal.
Conceitos legais presentes no art. 3º da Lei n. 6.938/81 (PNMA). Poluição: degradação da qualidade
ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-
estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente
a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em
desacordo com os padrões ambientais estabelecidos. Poluidor: pessoa física ou jurídica, de direito público
ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental. Meio
ambiente: conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que
permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas. Recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores,
superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a
fauna e a flora.
Comentários
A despeito da posição do Supremo Tribunal Federal, que firmou jurisprudência no sentido da “integração do
Ministério Público na estrutura do Poder Executivo” (STF, ADIn nº 132, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, J.
30.4.2003, DJU 30.5.2003), o Parquet é revestido da natureza jurídica de órgão independente, que se posta
ao lado dos Poderes do Estado, com elevado status constitucional.