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Deserdação: Motivos e

consequências
Quais as formas de se privar um
herdeiro de seu direito à herança?
Indignidade e deserdação. Os
motivos são praticamente os
mesmos da. A diferença é que
esse tipo de exclusão,
indignidade, não é feito por meio
de testamento, mas apenas por
ação judicial movida pelos
demais herdeiros (ou, em alguns
casos, pelo Ministério Público)
após o falecimento do autor da
herança.
A indignidade e a deserdação são
sanções civis aplicáveis àqueles
que não se comportaram bem
com o autor da herança. Indigno
e deserdado são considerados
incompatíveis com a herança.
Assim, concluindo com o
magistério de Silvio Rodrigues
[4]:
“Exclusão por indignidade e
deserdação, todavia, são
institutos paralelos, que
remedeiam a mesma situação,
visto que por intermédio deles se
afasta da sucessão o beneficiário
ingrato, pois, como observa
LACERDA DE ALMEIDA, a
sucessão hereditária assenta na
afeição real ou presumida do
defunto pelo sucessor, afeição
que deve nesse último o
sentimento de gratidão. A quebra
desse dever de gratidão acarreta
a perda da sucessão; nisso se
combinam a indignidade e a
deserdação.”
Exemplo de exclusão por
indignidade é o caso de Suzane
Von Richtofen, acusada de matar
barbaramente os pais com a
ajuda do namorado e de outro
cúmplice. Suzane, por sinal, teve
sua exclusão confirmada em
julgamento no processo
sucessório que seu irmão, o outro
único herdeiro, ajuizou,
resultando no reconhecimento da
exclusão da irmã, por
indignidade, como era esperado.
Se ela não tivesse irmão, a ação
poderia ser proposta por pais,
avós ou, na inexistência destes,
por outros parentes e herdeiros
das vítimas. Se não houver
outros parentes, o Ministério
Público pode propor a ação.
É necessária ação própria para a
exclusão do herdeiro deserdado à
herança?
Sim. O fato de um herdeiro
deserdado ter concordado com os
termos do testamento não exime
os demais de ajuizar ação própria
de deserdação, prevista no
artigo 1.965 do Código Civil.
Afinal, ao herdeiro instituído, ou
àquele a quem aproveite a
deserdação, incumbe provar a
veracidade da causa alegada pelo
testador, o que já virou uma
tradição no Direito.
Deste modo, a deserdação não é
automática. Ela deve ser
anunciada em testamento, com a
obrigatória apresentação dos
motivos. Após a abertura do
testamento, os demais herdeiros
têm um prazo de quatro anos
para ingressar com uma ação
judicial pedindo que a pessoa
cuja deserdação é solicitada seja
excluída da herança. Caberá a
eles apresentar as provas
necessárias para justificar a
medida. Naturalmente, o
acusado terá sua chance de
defender-se das alegações.
Somente após a expedição da
sentença judicial é que a
deserdação será consumada. Ou
não. Afinal, o juiz pode entender
que as razões apresentadas não
são válidas.
Maria Berenice Dias, especialista
em Direito de Família entende ser
necessária a indicação dos
motivos da exclusão, bem como é
necessária posterior
comprovação judicial de que a
causa integra o rol constante na
lei, como sinaliza o Código Civil,
nos artigos 1.961 a 1.963.
Quais os motivos para a
deserdação? Precisam ser
motivos graves?
Precisam ser motivos graves e por
motivos graves entende-se, entre
outros, o homicídio intencional
ou a tentativa de homicídio
(cometidos pelo herdeiro contra o
autor da herança, seu cônjuge,
pais ou filhos); o ataque ofensivo
à honra, à dignidade, à fama, à
reputação da pessoa, deve ser de
tal gravidade que torne
intolerável o convívio entre o
lesado e o injuriado; agressões e
abandono – o filho que deixar o
pai desamparado durante
enfermidade ou doença mental,
poderá perder o direito à sua
herança, e vice-versa. Quer dizer,
o pai que desamparar o filho
também poderá vir a perder o
direito sobre uma eventual
herança que esse filho venha a
deixar.
Assim, um mero
desentendimento entre pai e filho
não se inclui entre esses motivos.
Da mesma forma, a oposição
paterna às escolhas do filho, no
que diz respeito aos seus
relacionamentos ou carreira, por
exemplo, também não justifica a
deserdação.
Uma discussão do pai com o filho
acompanhada de ameaça como:
“Vou te deserdar”. Na maioria dos
casos, a ameaça paterna não
passa de uma manifestação de
sua ira, sem maiores
conseqüências legais.
Com a deserdação efetivada por
sentença e a conseqüente perda
do direito a herança atinge os
filhos do excluído?
Não. Como é uma sanção, um
castigo de caráter absolutamente
pessoal, não teria cabimento que
os descendentes daquele que foi
punido sejam afetados. É preciso
ainda lembrar que, se a exclusão
for legalmente efetivada, seja por
indignidade, seja por deserdação,
a parte da herança que caberia ao
excluído irá para os descendentes
dele (filhos, netos ou bisnetos). O
principal efeito da deserdação é a
privação de toda a parte da
herança que caberia aquele que
foi deserdado. Somente se o
excluído não tiver descendente é
que sua parte poderá ser dividida
entre os demais herdeiros.
O perdão ou reconciliamento
entre testador e excluído afasta a
deserdação?
Não. A reconciliação do testador
com o herdeiro não significa
perdão. Ocorre que a última
vontade do testador é aquela
constante do testamento e assim,
ela deve ser cumprida. Dessa
forma, caso o próprio testador
não revogue a cláusula do
testamento que afasta o ofensor,
agora perdoado, o simples reatar
da amizade, das relações sociais
ou familiares não tem o poder de
deduzir que se deu a revogação
do ato expresso no testamento.
Assim, revogar expressamente a
clausula de deserdação, nesse
caso, é ato obrigatório.
Motivos na legislação para a
perda da herança por meio da
deserdação.
Como refere Orlando Gomes, o
motivo indicado deve configurar
autêntica ingratidão, no
significado técnico da palavra:
falta de agradecimento ou o mau
reconhecimento da pessoa em
relação àquela de quem mereceu
o benefício. Não reconhecida a
veracidade do motivo apontado, é
ineficaz a disposição
testamentária, caindo por terra a
deserdação, o que não
compromete a higidez do
testamento”, sustenta a
doutrinadora gaúcha.
Na indignidade os fatos nem
sempre são anteriores à morte do
autor da herança, sendo em caso
da deserdação necessário que o
fato tenha ocorrido antes da
morte do autor da herança, pois,
como vimos, o autor da herança é
o único capaz de afastar o
herdeiro pela deserdação
mediante testamento com sua
causa fundamentada.
Para que seja efetivada a
deserdação, é imprescindível a
presença de certos requisitos
tidos como essenciais, são eles:
a) Exigência de testamento válido
com expressa declaração do fato
determinante da deserdação.
Art. 1.964. Somente com
expressa declaração de causa
pode a deserdação ser ordenada
em testamento.
b) Fundamentação em causa
expressamente prevista pela lei
Considerada nula é a cláusula de
testamento que o testador vir a
deserdar descendente, sem o
devido fundamento.
Maria Helena Diniz [21] afirma
que “a lei (CC,
arts. 1.814, 1.862 e 1.863) retira
do arbítrio do testador a decisão
quanto aos casos de deserdação,
devido à gravidade desse ato, não
admitindo interpretação
extensiva e muito menos o
emprego da analogia”.
Jurisprudência:
HERANÇA - DESERDAÇÃO E
EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE -
DISTINÇÕES - INTELIGÊNCIA
DO ART. 1.595 DO CC [ART.
1.814, CC/2002] - AÇÃO PARA
EXCLUIR O PAI DO DE CUJUS-
IMPROCEDÊNCIA -APELAÇAO
IMPROVIDA. Deserdação e
exclusão da sucessão por
indignidade são institutos que
não se confundem. A deserdação
depende de ato da vontade do
autor da herança. A exclusão da
sucessão por indignidade é
disciplinada no art. 1.595 do CC
[art. 1.814, CC/2002j (TJRJ 6. L
Câm. Cív. —AC 8.810—rel. Des.
Fonseca Passo—j. 17.06.1979).
Como estudado, embora sejam
paralelos os institutos da
indignidade e deserdação, estas
não podem ser confundidas, pois
são institutos distinto
Indignidade X Deserdação
1. A indignidade é ato
reconhecido mediante uma ação
de indignidade, prevista no
art. 1.185 do Código Civil 1. A
deserdação se manifesta por ato
de vontade do autor da herança
por meio do testamento, logo,
somente o autor da herança pode
deserdar
2. Qualquer sucessor (seja
herdeiro ou legatário) pode ser
indigno 2. Somente o herdeiro
necessário pode ser deserdado
3. A indignidade é reconhecida
por ato praticado antes ou depois
da abertura da sucessão 3. A
deserdação se dá por ato
praticado antes da abertura da
sucessão
4. As causas de indignidade estão
previstas no art. 1.814 4. As
causas de deserdação são as
mesmas de indignidade (art.
1.814) e também as previstas nos
arts. 1.962 e 1.963
Art. 1.814. São excluídos da
sucessão os herdeiros ou
legatários:
I - que houverem sido autores,
co-autores ou partícipes de
homicídio doloso, ou tentativa
deste, contra a pessoa de cuja
sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou
descendente
II - que houverem acusado
caluniosamente em juízo o autor
da herança ou incorrerem em
crime contra a sua honra, ou de
seu cônjuge ou companheiro; III -
que, por violência ou meios
fraudulentos, inibirem ou
obstarem o autor da herança de
dispor livremente de seus bens
por ato de última vontade.
Art. 1.962. Além das causas
mencionadas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos
descendentes por seus
ascendentes:
I - ofensa física
II - injúria grave
III - relações ilícitas com a
madrasta ou com o padrasto
IV - desamparo do ascendente em
alienação mental ou grave
enfermidade.
Art. 1.963. Além das causas
enumeradas no art. 1.814,
autorizam a deserdação dos
ascendentes pelos descendentes:
I - ofensa física
II - injúria grave
III - relações ilícitas com a mulher
ou companheira do filho ou a do
neto, ou com o marido ou
companheiro da filha ou o da
neta
IV - desamparo do filho ou neto
com deficiência mental ou grave
enfermidade.
Desse modo, dada as
conseqüências deste instituto,
deserdação, mister a necessidade
da ratificação pelo juiz por meio
de sentença da exclusão do
herdeiro confirmando então a
vontade do testador.
Devido ao princípio da
consumação da vontade do
testador caso não seja
confirmada por sentença os
motivos da deserdação e
conseqüente exclusão do
herdeiro o testamento poderá ser
aproveitado outras cláusulas
como reconhecimento de um filho
havido fora do casamento por
exemplo.
Não visando esgotar o assunto,
deixem seus comentários para
debates enriquecedores da
matéria.
Ana Paula D. Garcia OAB/PR
83.786
Fonte
Conjur
Jusbrasil

Disponível em:
https://anagarciaoabdf.jusbrasil
.com.br/artigos/441145441/des
erdacao-motivos-e-
consequencias Acesso em:
11/09/2019.

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