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Vocação Hereditária II

Impedimentos Legais Sucessórios


Impedimentos legais sucessórios
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I – a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II – as testemunhas do testamento;
III – o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua,
estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV – o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante
quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
• Comentário ao art. 1801, III:
Dispositivo criticável: traz a discussão da culpa e, ademais, estando
separado de fato, independentemente do tempo, o testador já pode
estar em união estável.

Enunciado 269, III Jornada de Direito Civil: a vedação do art.


1.801, III, do Código Civil não se aplica à união estável,
independentemente do período de separação de fato (art.
1.723, § 1º).
• Atenção!
Art. 1.802. São nulas as disposições testamentárias em favor de
pessoas não legitimadas a suceder, ainda quando simuladas sob a
forma de contrato oneroso, ou feitas mediante interposta pessoa.
Parágrafo único. Presumem-se pessoas interpostas os ascendentes, os
descendentes, os irmãos e o cônjuge ou companheiro do não
legitimado a suceder.

Art. 1.803. É lícita a deixa ao filho do concubino, quando também o for


do testador.
• EXCLUSÃO DA SUCESSÃO

Há situações previstas por lei que podem haver a exclusão de


um sucessor da sucessão. Dois institutos podem ser
estudados sob o parâmetro da exclusão da sucessão:
exclusão por indignidade e deserdação. O fundamento de
ambos é bastante semelhante.
• EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE
“O Código Civil de 2002, na esteira do seu antecessor, elenca de modo
taxativo as hipóteses que conduzem à exclusão dos herdeiros (art. n.
1.814, I a III)”. Anderson Schreiber, Manual de Direito Civil
Contemporâneo, 3ª ed., Ed. Saraiva.

Obs.: a primeira perspectiva de análise no estudo da exclusão da


sucessão é a exclusão por indignidade, que tem como base o Art. Nº
1.814.
• EXCLUSÃO POR INDIGNIDADE
Manual de Direito Civil, Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona (Ed. Saraiva):
“Primeiramente, trataremos da ‘exclusão por indignidade’, cujas causas
estão taxativamente enumeradas no art. 1.814 do Código Civil de 2002,
e que tanto pode se aplicar à Sucessão Legítima como à Testamentária.

Trata-se, pois, de um instituto de amplo alcance, cuja natureza é


essencialmente punitiva, na medida em que visa a afastar da relação
sucessória aquele que haja cometido ato grave, socialmente
reprovável, em detrimento da integridade física, psicológica ou moral,
ou, até mesmo, contra a própria vida do autor da herança.
Afinal, não é justo nem digno que, em tais circunstâncias, o
sucessor experimente um benefício econômico decorrente do
patrimônio deixado pela pessoa que agrediu”.

A exclusão por indignada é um ato com a finalidade de


sancionar o sucessor que cometeu um ato indigno contra o
autor da herança. Ela tanto se aplica aos sucessores legítimos,
como também aos sucessores testamentários.

Obs.: trata-se, de acordo com a opinião do professor, de um rol


taxativo.
Em quais casos ocorre a exclusão de um
herdeiro ou legatário por indignidade?
• Art. n. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso,


ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge,
companheiro, ascendente ou descendente;

II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou


incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor


da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
• É possível observar, portanto, que as causas se tratam de atos
graves, como violência à vida, à honra e à liberdade.

Avaliando individualmente cada Inciso, têm-se:

I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio


doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;

• Não há referência à necessidade de “condenação criminal”.


• O juízo cível tem independência para analisar o caso
concreto de modo claro e quando se estuda as regras
referentes à competência criminal em face da competência
civil, tem-se o desdobramento desse raciocínio. Entretanto,
observe que a lei não afirma que deve haver uma
condenação criminal por homicídio doloso. Basta existir a
tentativa para que haja a exclusão.

• Portanto, aquele que mata ou até mesmo tenta matar o autor da


herança é automaticamente afetado pela exclusão da sucessão.
• E se o ato for praticado por menor?

Confira-se o REsp. 1.938.984-PR:


É juridicamente possível o pedido de exclusão do herdeiro em virtude
da prática de ato infracional análogo ao homicídio, doloso e
consumado, contra os pais, à luz da regra do art. 1.814, I, do CC/2002”.

Então se o herdeiro é menor e tentou ou matou o seu pai, pode ser


excluído da sucessão, juridicamente. A norma deve ser aplicada com
prudência, embora o rol seja taxativo.
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor
da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou
de seu cônjuge ou companheiro;

• A sentir, a expressão “acusação caluniosa” também contempla a


denúncia prevista no art. n. 339 do Código Penal
Se um herdeiro caluniou o autor da herança, ele também será excluído da
sucessão. Além disso, quando a norma diz “acusado caluniosamente”,
contempla-se a possibilidade de o herdeiro ter cometido algo mais grave
ainda.

Denunciação caluniosa
Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório
criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil
ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime,
infração ético disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação dada pela
Lei n. 14.110, de 2020)
Pena – reclusão, de dois a oito anos, e multa.
§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de
nome suposto.
§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.
Ex.: o herdeiro que rompeu o lacre do testamento cerrado, para
fazer crer que houve revogação pelo testador (José F. Simão,
Código Civil Comentado, Ed. Forense, citado).

Portanto, a base da exclusão por indignidade é o Art. n. 1.814. Como ocorre


a exclusão na prática?
Art. n. 1.814. São Também excluídos da sucessão OS HERDEIROS ou
LEGATÁRIOS:

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o


autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade.

Ex.: o herdeiro que rompeu o lacre do testamento cerrado, para fazer crer
que houve revogação pelo testador.
Art. n. 1.815. A exclusão do herdeiro ou legatário, em qualquer
desses casos de indignidade, será declarada por sentença.

Nesse caso, para que haja a exclusão por indignada, é necessária uma ação
que se configura como tal. Os interessados vão ajuizar uma ação de exclusão
por indignidade contra o herdeiro ou o legatário que praticou o ato.

Qual o prazo para ajuizamento da ação?


• Os sucessores interessados poderão ajuizar a demanda
de exclusão por indignidade, cujo prazo decadencial é de
4 anos!

§ 1º O direito de demandar a exclusão do herdeiro ou legatário extingue-se


em quatro anos, contados da abertura da sucessão. (Redação dada pela Lei
n. 13.532, de 2017)
ATENÇÃO!
Art. n. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu
cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
§ 2º Na hipótese do inciso I do art. 1.814, o Ministério Público tem
legitimidade para demandar a exclusão do herdeiro ou legatário. (Incluído
pela Lei n. 13.532, de 2017).

Obs.: herança é interesse patrimonial e o Ministério Público não atua


nesse campo. Entretanto, nesse caso, trata-se de ética. Portanto, o
Ministério Público pode ajuizar.
EFEITOS DA EXCLUSÃO
Art. n. 1.816. São pessoais os efeitos da exclusão; os descendentes do
herdeiro excluído sucedem, como se ele morto fosse antes da
abertura da sucessão.

Parágrafo único. O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto ou


à administração dos bens que a seus sucessores couberem na herança,
nem à sucessão eventual desses bens. Ou seja, o excluído não é
beneficiado de forma alguma!
ATENÇÃO!

Os efeitos da exclusão por indignidade são pessoais.


Só quem sofre essa pena civil é o excluído, e não os
sucessores dele.
Ex.: suponha que Pedro é o autor da herança e ele possui dois filhos: Leo e Chico.
Este tem uma filha chamada Carla e ele tentou matar Pedro, ou seja, ele foi excluído
da herança de seu pai. Nesse caso, sua filha Carla não pode ser afetada e ela
representará Chico na sucessão de Pedro, o seu avô. Além disso, se Carla for de
menor, Chico não possui usufruto legal sobre a herança. Além disso, caso Carla
venha a falecer, os bens não vão para Chico.
Além disso, é válido ressaltar a possibilidade de um longo prazo para a aplicabilidade
da exclusão, dentro do prazo de 4 anos.

Nesse sentido, suponha que Chico, por um tempo, foi inventariante praticando bens
em nome do inventário como se fosse um herdeiro legítimo e, posteriormente, foi
excluído da herança. O que acontece com esses atos?
PEDRO (autor da herança)

LEO CHICO (foi excluído da herança)

CARLA (sucederá como se seu pai CHICO já estivesse morto)


TEORIA DO HERDEIRO APARENTE
• Art. n. 1.817. São válidas as alienações onerosas de bens
hereditários a terceiros de boa-fé, e os atos de administração
legalmente praticados pelo herdeiro, antes da sentença de exclusão;
mas aos herdeiros subsiste, quando prejudicados, o direito de
demandar-lhe perdas e danos.

• Parágrafo único. O excluído da sucessão é obrigado a restituir os


frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas
tem direito a ser indenizado das despesas com a conservação deles
• Portanto, os atos praticados pelo herdeiro enquanto não excluído da
herança, são válidos e devem ser respeitados. Por fim, vale ressaltar
se há a possibilidade de haver o perdão do indigno. Ou seja, o
herdeiro indigno pode ser reabilitado pelo perdão?
PERDÃO DO INDIGNO
• Art. n. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a
exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato
autêntico. PERDÃO EXPRESSO.

• Ex.: suponha que, em testamento, o autor da herança expressa o seu


perdão ao seu filho que o caluniou ou tentou matá-lo. Nesse caso, o
herdeiro poderá suceder normalmente, desde que o perdão esteja
expresso.
PERDÃO DO INDIGNO
• Art. n. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a
exclusão da herança será admitido a suceder, se o ofendido o tiver
expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato
autêntico. PERDÃO EXPRESSO.

• Ex.: suponha que, em testamento, o autor da herança expressa o seu


perdão ao seu filho que o caluniou ou tentou matá-lo. Nesse caso, o
herdeiro poderá suceder normalmente, desde que o perdão esteja
expresso.
PERDÃO TÁCITO
• Parágrafo único. Não havendo reabilitação expressa, o indigno,
contemplado em testamento do ofendido, quando o testador, ao testar,
já conhecia a causa da indignidade, pode suceder no limite da
disposição testamentária.

PERDÃO TÁCITO. PERDÃO TÁCITO. “A título de exemplo, se determinada


pessoa tenta matar seu pai e, depois, for beneficiada como legatária de
um imóvel no testamento, o perdão tácito só produz efeitos para que
possa receber o legado, mas não a reabilita como herdeira de toda a
herança”. (José F. Simão, Código Civil Comentado, Ed. Forense, citado).
QUESTÃO ESPECIAL
O “ABANDONO AFETIVO” PODE SER CAUSA PARA A EXCLUSÃO POR
INDIGNIDADE?

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