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THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil, vol.

1, 63ª edição, Rio de


Janeiro: Forense, 2022, §8º, Jurisdição, p. 98/118.

Fichamento

Jurisdição

Entende-se por jurisdição o poder-dever do Estado de aplicar o direito ao caso concreto,


com o objetivo de solucionar os conflitos de interesse, de maneira a resguardar a ordem jurídica.

Há, pois, o conflito de interesses, quando mais de um sujeito procura usufruir o mesmo
bem e há o litígio quando o conflito surgido na disputa em torno do mesmo bem na encontra
uma solução voluntária ou espontânea entre os diversos concorrentes.

Jurisdição, função e efetividade

A função jurisdicional é o papel da Justiça de prestadora da tutela (defesa) ao direito


material, que deve ser efetiva e justa.

Nesse sentido, a jurisdição irá operar no campo do direito material, para que então
produza o efeito que o direito assegura a quem se acha na situação de vantagem garantida pela
ordem jurídica, seja na forma originaria, seja no seu equivalente econômico, seja para impedir
o dano, seja para saná-lo.

Características da jurisdição

• Secundária – pois o Estado exercerá uma atividade que deveria ter sido desempenhada
pelos sujeitos da relação jurídica;
• Instrumental – pois ela é o instrumento que o direito dispõe para impor-se à obediência
dos cidadãos;
• Declarativa ou executiva – o juiz se pronunciará com base na lei material pertinente, não
se eximindo de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade no ordenamento
jurídico;
• Desinteressada – visto que não coloca em prática vontades concretas da lei que não se
dirigem ao órgão jurisdicional;
• Imparcialidade – o juiz mantém-se equidistante dos interessados e sua atividade e
subordinada exclusivamente à lei;
• Provocada – caberá a parte interessada provocar o Poder Judiciário quando se achar
com direito ameaçado ou lesado.

Efetividade da tutela jurisdicional

O direito de ação é abstrato, no sentido de que pode ser exercido sem prévia
demonstração da existência efetiva do direito material que se pretende fazer atuar. Mas a tutela
jurisdicional, que só é disponibilizada a quem realmente encontre na titularidade de um direito
subjetivo ameaçado ou lesado, tem de ser efetiva e justa, dentro das perspectivas traçadas pela
ordem constitucional.

Princípios fundamentais

• Juiz natural – só pode exercer a jurisdição aquele órgão que a Constituição atribui o
poder jurisdicional;
• Investidura – juízes regularmente investidos, providos em cargos de magistrados e no
efetivo exercício da função;
• Indeclinabilidade – o órgão tem a obrigação de prestar a tutela jurisdicional;
• Indelegabilidade – não pode delegar o exercício da função a qual lhe foi conferida;
• Aderência territorial – circunscrição territorial na qual exerce suas funções;
• Inércia – não pode agir por iniciativa própria;
• Unidade – o Poder Judiciário é único e soberano.

Jurisdição contenciosa e jurisdição voluntária

A chamada jurisdição voluntária, é aquela na qual o juiz apenas realiza gestão pública
em torno de interesses privados, ou seja, não há lide nem partes, mas apenas um negócio
jurídico processual envolvendo o juiz e os interessados. Já a contenciosa, é a jurisdição
propriamente dita, em que o Estado irá atuar como pacificador ou compositor do litígio.
Pressupõe uma lide entre as partes, a ser solucionada pelo juiz.

Substitutivos da jurisdição

Existem outros meios alternativos de resolução de conflitos, que não dependem da


sentença judicial. Referidos meios são divididos em autocomposição ou heterocomposição, a
depender da presença ou não de terceiros no meio alternativo. A ação do agente na
heterocomposição é impositiva, pois ele julgará o mérito da lide.

A título de exemplo de meios autocompositivos, tem-se a conciliação e a mediação,


enquanto com relação aos meios heterocompositivos, tem-se a jurisdição e a arbitragem.

A evolução da jurisdição individual para a jurisdição coletiva

No século XX, a jurisdição deixou de ser apenas individual, de maneira que se tornou
mais ampla, passando a compreender os fenômenos coletivos, que alcançam toda a
comunidade ou grandes porções dela.

Despertou-se o direito para os interesses relevantes, tais como meio ambiente, saúde
pública, segurança coletiva e relações de consumo. Tratam-se de interesses transindividuais e
indivisíveis, razão pela qual somente podem ser exercidos e defendidos em nomes da
coletividade e, por isso, chamados de interesses difusos ou coletivos.

A primeira ação de defesa de interesse difuso foi a ação popular, por meio da qual se
conferiu ao cidadão a defesa do patrimônio público contra ato abusivo de autoridade. Para todas
essas ações voltadas para a defesa dos interesses transindividuais, determinou-se a legitimação
concorrente para o Ministério Público e outras entidades públicas e privadas.

Vale informar também, que em todas as ações coletivas, o regime da coisa julgada é
especial e goza da possibilidade de eficácia além dos sujeitos da relação processual, eficácia erga
omnes.

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