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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

AULA 1 – Prof. Fernanda Sell de Souto Goulart Fernandes


PLANO DE ENSINO
O Significado do Direito
Processual e os Conceitos
Elementares que o Permeiam

• A vida em sociedade exige a observância de dois vocábulos: “partilhar” e “conviver”.


• Ocorre que o indivíduo, em sua essência, tende a privilegiar: o que é seu, de seu interesse
ou do interesse de seu grupo. Daí aparecem os conflitos.
• O papel do Direito, neste contexto, é exatamente ordenar a sociedade, harmonizar os
interesses, evitar desgaste e sacrifício excessivos entre os membros da sociedade.
• Assim, a imposição de vontades entre os sujeitos - visando à satisfação de suas
necessidades e interesses, levam à insegurança social, caso o conflito não seja resolvido.
• Esta demonstração de que os interesses e as pretensões podem convergir, sem uma
resolução amigável ou espontânea, chama-se “lide”, para a doutrina tradicional .
• Podemos, então, apontar o litígio como o conflito de interesses ou a incompatibilidade
entre interesses colocados em uma relação.
• Visando impedir que a lei do mais forte impere sobre a do mais fraco, o direito surge,
como regulador das relações sociais (“ubi societas ubi jus”).
Direito Processual
• É o ramo do Direito Público que consiste na
reunião dos institutos, das regras e dos princípios
que definem a atividade jurisdicional estatal e o
modo de solução dos conflitos surgidos no meio
social, abrangendo o exercício do direito de ação
e o processo, como instrumentos para se obter a
paz na sociedade.
Processo
• Vimos que cabe ao direito prevenir e
resolver o conflito de interesses
intersubjetivos, harmonizando,
pacificando, trazendo segurança aos
entes da sociedade.
• O fim a ser alcançado é a paz social e,
sobretudo, a justiça . Mas, como obter a
proteção judicial? Como efetivar um
direito, ou ainda, como conseguir a
aplicação do que é justo em cada caso?
PROCESSO
• O processo, tradicionalmente, é visto como o instrumento democrático
através do qual a jurisdição se opera.
• Cada interesse ou direito é apreciado pelo órgão jurisdicional de uma forma
ordenada, sequencial, permitindo ao julgador conhecer a realidade
demonstrada, ao mesmo tempo em que propicia aos envolvidos sua
manifestação, defesa e participação.
• Hoje, devemos lembrar que os interesses em jogo não são apenas
individuais (de um sujeito ou indivíduo, isoladamente). Os interesses
podem ser coletivos (de um grupo de pessoas) ou ainda, difusos (interesses
difundidos, espalhados pela sociedade e que a afetam indiscriminadamente,
ultrapassando a pessoa do indivíduo e alcançando indeterminados sujeitos).
Para cada interesse em conflito o órgão jurisdicional deverá entregar a
proteção que é buscada, através do processo.
PROCEDIMENTO
• Elio Fazzalari apresenta a estrutura do PROCEDIMENTO detalhada a seguir, com grande aceitação por muitos
doutrinadores brasileiros:
• a) série de normas através da qual se regulamenta a produção do ato final, que, normalmente, se trata de um
provimento, ou mero ato. Cada norma regula uma determinada conduta (qualificada como lícita ou devida), mas
enuncia-se como pressuposto para a execução de uma conduta regulada por outra norma;
• b) o procedimento apresenta-se como uma sequência de atos, previstos e valorados pela norma;
• c) o procedimento compõe-se de uma série de faculdades, poderes e deveres: quantos e quais, são as posições
subjetivas, que se obtêm pela norma em questão.
• Portanto, para a corrente de FAZZALARI há a concepção de que o procedimento é uma série ou sequência de normas,
atos e posições subjetivas, que se conectam e inter-relacionam em um complexo normativo, constituindo a fase
preparatória de um provimento, visto como ato final de caráter imperativo.
JURISDIÇÃO

• Sabemos que o objetivo do Estado é o BEM


COMUM. Para desempenhar a função de pacificar
conflitos e exercer a Justiça, o Estado possui a
função jurisdicional, a função de julgar, de decidir
imperativamente e impor suas decisões - enquanto a
legislativa é construir normas abstratas e a
executiva é administrar e gerir o poder estatal.
• Portanto, para a doutrina tradicional, a função
jurisdicional é a aplicação, pelo Estado Juiz, da lei
ao caso concreto, visando, precipuamente a
resolução de lides sociais trazidas a seu
conhecimento
JURISDIÇÃO

PODER

ATRIBUTOS

ATIVIDADE FUNÇÃO
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO

SUBSTITUTIVIDAD
E

INÉRCIA IMPARCIALIDADE

DEFINITIVIDADE LIDE

ATUAÇÃO ESTATAL
UNA
OUTRAS FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE
CONFLITOS

• AUTOTUTELA
• Baseia-se em motivos excepcionais, pelos quais são
legitimadas condutas unilaterais, invasoras da esfera
de liberdade alheia, principalmente na
impossibilidade física do Estado-juiz estar presente
sempre que um direito esteja sendo violado ou
ameaçado de sê-lo.
OUTRAS FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

• AUTOCOMPOSIÇÃO
• Na autocomposição, outra forma de resolução de
conflitos, as partes envolvidas optam por
renunciar a parte ou à integralidade de seus
interesses, sacrificando suas necessidades para
transacionar.
OUTRAS FORMAS DE
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS

• ARBITRAGEM
• Na intervenção de terceiros, outro modo de finalizar um conflito, há a
escolha de um julgador imparcial. Pode ser exercido por um árbitro ou pelo
poder estatal (processo).
• A arbitragem prevista na Lei 9.307/96 regulamenta a solução privada dos
conflitos, levando a lide para conhecimento e resolução através de árbitros,
previamente convencionados e remunerados pelos interessados. Diz a lei em
seu art. 3º que: As partes interessadas podem submeter a solução de seus
litígios ao juízo arbitral mediante convenção de arbitragem, assim entendida
a cláusula compromissória (em estipulação contratual prévia, as partes
convencionam que, em caso de eventual litígio, seja a arbitragem a forma
escolhida de resolução de conflitos daquele contrato) e o compromisso
arbitral (submissão das partes a árbitro, por convenção, quando o conflito de
interesses se encontra configurado). A arbitragem não ofende ao princípio
constitucional de acesso à Justiça (XXXV, art. 5º CF) tendo em vista que o
direito de ação não é um dever de ação20 , permitindo a livre disposição de
direitos e bens atinentes aos direitos patrimoniais.
DIREITO • O direito de ação, segundo MISAEL MONTENEGRO FILHO,
se refere à prerrogativa conferida a todas as pessoas, de direito

DE público e de direito privado, naturais e jurídicas, inclusive entes


despersonalizados (massa falida, condomínio e espólio,
principalmente), de solicitar ao representante do Estado que
AÇÃO pacifique o conflito de interesses
PRINCÍPIOS DO DIREITO
PROCESSUAL
Princípio do Contraditório
e da Ampla Defesa

• Art. 5o , LV CF - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e


aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa,
com os meios e recursos a ela inerentes
PRINCÍPIO DA IGUALDADE

• Art. 5º, “caput” CF - Todos são iguais perante a


lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade (...).
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DIREITO A ASSISTÊNCIA
JURÍDICA

• Art. 5o , LXXIV CF - o Estado prestará assistência jurídica


integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de
recursos;
• Art. 133, CF - O advogado é indispensável à administração da
justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no
exercício da profissão, nos limites da lei.
• Art. 134, CF - A Defensoria Pública é instituição essencial à
função jurisdicional do Estado, incumbindo lhe a orientação
jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na
forma do art. 5º, LXXIV.
PRINCÍPIO
DO DEVIDO
PROCESSO
LEGAL
Art. 5o , IV CF - ninguém será
privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal;
Princípios da
Celeridade Processual
e Economia
Processual

• Art. 5o , LXXVIII CF - a todos, no âmbito judicial e administrativo,


são assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-ND
PRINCÍPIO DO
JUIZ NATURAL

• LIII CF - ninguém será processado nem


sentenciado senão pela autoridade competente
• Disto decorrem três regras de proteção:
• só podem exercer jurisdição os órgãos instituídos
pela Constituição;
• ninguém pode ser julgado por órgão instituído
após o fato;
• entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem
taxativa de competências que exclui qualquer
alternativa deferida à discricionariedade de quem
quer que seja. Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-ND
Princípios da Fundamentação e
da Publicidade dos Atos
Decisórios

• Art. 93, IX, CF - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário


serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade,
podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes
e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação
do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse
público à informação
Princípio da Livre
Investigação e
Apreciação das Provas

• O princípio da livre investigação das provas ou do


dispositivo compreende o sistema em que o juiz
necessita da iniciativa das partes para instaurar a
causa e conceder as provas, verificando as
alegações em que se baseará para fundamentar
sua decisão. As partes possuem o ônus de provar
o que alegam, cabendo ao julgador livremente
apreciar o que foi colhido e apresentado sobre os
fatos necessários ao deslinde da questão.
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Princípio da Boa-Fé
Processual
• Art. 14 – Código de Processo Civil. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma
participam do processo:
• I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;
• II - proceder com lealdade e boa-fé;
• III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento;
• IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito.
• V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de
provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.
• Parágrafo único. Ressalvados os advogados que se sujeitam exclusivamente aos estatutos da OAB, a
violação do disposto no inciso V deste artigo constitui ato atentatório ao exercício da jurisdição, podendo o
juiz, sem prejuízo das sanções criminais, civis e processuais cabíveis, aplicar ao responsável multa em
montante a ser fixado de acordo com a gravidade da conduta e não superior a vinte por cento do valor da
causa; não sendo paga no prazo estabelecido, contado do trânsito em julgado da decisão final da causa, a
multa será inscrita sempre como dívida ativa da União ou do Estado.

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Princípio do duplo
grau de jurisdição

• Trata-se da possibilidade de revisão, através de


recurso, de causas julgadas pelo juiz de primeiro
grau, considerando a natureza humana que admite
falhar, cometer injustiça ou errar, daí a
necessidade de se permitir a sua reforma em grau
de recurso.

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ATIVIDADE AULA 01
• Pesquise um julgado com aplicação prática de um dos princípios
estudados hoje.

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