Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA X
Parte 1/4
Por fim, o controle posterior é aquele que se realiza após a edição do ato.
Normalmente o Poder Judiciário exerce a função de controlar posteriormente à edição do
ato. De igual modo, em geral, a atuação do Tribunal de Contas ocorre após o ato a ser
controlado ter sido editado. Nada impede que, eventualmente, a Administração faça uma
consulta ao Tribunal de Contas e que procure prevenir o problema e faça a indagação
anteriormente, mas, normalmente, os atos dos Tribunais de Conta são posteriores.
Já houve muita discussão, mais do que hoje em dia, sobre a possibilidade de uma
delação anônima inaugurar uma forma de controle. Será que a Administração pode investigar
com base em uma delação anônima, em uma delação, eventualmente, apócrifa (sem
assinatura)?
Enquanto estava no CNMP, o professor Valter viu um caso em que o particular fez
uma representação, um pedido de providências (PP) e, ao longo do PP, alguém alegou que a
parte não era interessada, pois não seria afetada diretamente pelo desfecho de eventual
decisão no processo. Mas, a parte não precisa ser interessada. No processo civil, no processo
judicial, de fato, parte vai ajuizar a ação em nome próprio e, eventualmente, em nome de
terceiro - desde que haja autorização legal ou que o contratual -, pois ela tem que ter algum
interesse. Mas, no processo administrativo, como ele também é um instrumento de controle
da Administração, não há essa necessidade.
Ex: A CRFB/88 prevê que para o Presidente se ausentar do país por mais de 15
dias, ele precisará de autorização do Congresso Nacional. Um Estado coloca em sua
Constituição estadual que a ausência do Governador dos limites do Estado a qualquer tempo
depende da anuência da Assembleia Legislativa. Isso é inconstitucional. É o Poder Legislativo
ampliando os seus poderes e diminuindo os poderes do Poder Executivo.
A Lei 8.666/93 estipula em seu art. 109 que o pedido de reconsideração será o
recurso interposto contra a decisão que declarar a inidoneidade do licitante para a licitar ou
contratar. Então, muitas vezes, há uma previsão legal que dá a uma espécie de recurso
administrativo uma função muito própria.
Parte 2/4
A reclamação é uma espécie de recurso que não tem a ver com a reclamação
prevista constitucionalmente para assegurar a autoridade das decisões do STF. A reclamação
do Direito Administrativo está prevista no art. 6º, do Decreto 20.910/1932 e é um recurso
que diz respeito ao reclamante e que pode ser interposto no prazo de até um ano.
Art. 6º, Decreto 20.910/32 - O direito à reclamação administrativa, que não tiver prazo fixado em
disposição de lei para ser formulada, prescreve em um ano a contar da data do ato ou fato do qual a
mesma se originar.
É um recurso muito peculiar e está no art. 65, Lei 9.784. Na súm. 633, o STJ
reconheceu que a Lei 9.784 tem aplicação subsidiária a outros entes da federação que não
tenham lei própria de processo administrativo. Ex: Se um Município que não tem lei sobre
processo administrativo, aplica-se subsidiariamente o art. 65 da lei.
Art. 65, Lei 9.784/99 - Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a
qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias relevantes
suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
O detalhe nos casos faz toda a diferença. A pessoa recorreu alegando que existem
fatos novos que justificam a sua absolvição. Nesse caso, a Administração não pode agravar a
situação do recorrente e terá que absolver ou manter.
Em outra hipótese, a pessoa não está alegando fatos novos, mas dizendo que a
sanção é ilegal. A pena de suspensão não é legalmente prevista e, sim, a demissão. Se a pena
de suspensão ainda não foi aplicada, ela pode ser anulada e substituída por outra mais grave
e isso não é ofensivo à revisão, que pressupõe fatos novos. Nessa segunda hipótese, tem-se
um controle de legalidade que gera uma pena mais grave.
É importante distinguir os casos. A revisão não pode agravar (art. 65), mas ela é
distinta do controle de legalidade da pena que não foi aplicada e, no caso da pena já ter sido
aplicada, não é possível substituir pela pena legalmente correta, a não ser quando se tratar
de CNJ e de CNMP. Então, o controle administrativo por meio de recurso ocorre assim.
O professor recomenda a leitura da Lei 9.784, pois ela tem um capítulo que trata
dos recursos (começa no art. 56).
Art. 56, § 2º, Lei 9.784 - Salvo exigência legal, a interposição de recurso administrativo independe de
caução.
Art. 5º, XXXV, CRFB/88 - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;
Há uma exceção que aparece no art. 217, §1º, CRFB/88 e que se refere à Justiça
Desportiva. As causas referentes a esportes só serão conhecidas pelo Judiciário após o
exaurimento da matéria na Justiça Desportiva, que é um Tribunal Administrativo. Então, para
esportes, há uma solução constitucional que condiciona a provocação judicial à apreciação da
matéria em todas as instâncias da Justiça Desportiva. Mas, não há essa regra para outras
matérias de direito, para outras questões que poderiam ser resolvidas pela Administração.
Por enquanto, só há essa decisão e quanto ao INSS, mas a razão de decidir (ratio
decidende) pode ser utilizada como fundamento em outras decisões judiciais para estender
para outras entidades da Administração.
São raros os casos em que o STF determina uma medida e, normalmente, essa
medida resulta do reconhecimento de uma ofensa ao mínimo existencial. Ex: reforma de
penitenciaria mencionou isso; fornecimento de medicamento de alto custo. O Judiciário
determina que tem que fornecer em razão da dignidade da pessoa humana, de que o mínimo
existencial deve ser garantido, de que não se deve invocar a reserva do possível nessas
matérias.
O Judiciário não corre atrás do processo. O processo chega ao STF e, muitas vezes,
o próprio parlamento e o próprio Executivo provocam o Judiciário para que não assumir o
ônus político de uma eventual decisão.
Há um artigo do Min. Luís Roberto Barroso sobre o tema chamado “A razão sem
voto” em que ele analisa o papel do STF. Esse artigo gerou muita polêmica, pois foi nele que
o Ministro destacou que além do papel representativo, que pode ser um papel de exteriorizar
a vontade da maioria e não apenas de tutela da minoria, o Judiciário teria um papel de
vanguarda iluminista, ou seja, serviria para empurrar a história para frente quando a história
emperra.
Parte 3/4
No art. 20, LINDB, está a preocupação que o juiz deve ter agora ao controlar os
atos da Administração. Ele deve se preocupar com as consequências desse ato.
Art. 20, LINDB - Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da
decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)
A LINDB sepulta a ideia de que se o ato é inválido, ele não pode ser mantido no
ordenamento e não pode produzir efeito jurídico algum. Existem as mais variadas soluções a
serem adotadas pelo órgão controlador, inclusive pelo Judiciário quando ele se depara com
um ato inválido. Pode determinar a anulação com efeito ex-tunc, com efeitos ex-nunc (não
retroagindo), pode deslocar os efeitos da anulação para frente por razões de segurança
jurídica. Em razão do decurso do tempo do ato ilegal o juiz pode reconhecer que houve uma
convalidação no tempo e pode ser obrigado a manter seguindo o art. 54 da Lei 9.784 por
exemplo. Ele pode ter que convalidar e, agora com a LINDB, pode buscar uma solução
dialogada por meio da celebração de um termo de compromisso.
Ex: o ato praticado pelo administrador é ilegal, mas o juiz, no controle judicial da
Administração estimulará a celebração desse termo de compromisso que aparece no art. 26,
LINDB.
Hoje em dia, a LINDB é um diploma fundamental para quem está estudando para
concurso público.
Art. 21, CRFB/88 - A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo
expresso suas consequências jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Regulamento)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)
Art. 22, LINDB - Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos
e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados. (Regulamento)
§3º As sanções aplicadas ao agente serão levadas em conta na dosimetria das demais sanções de
mesma natureza e relativas ao mesmo fato. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional;
II - autorizar o Presidente da República a declarar guerra, a celebrar a paz, a permitir que forças
estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente, ressalvados os
casos previstos em lei complementar;
V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites
de delegação legislativa;
VII - fixar idêntico subsídio para os Deputados Federais e os Senadores, observado o que dispõem os
arts. 37, XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº
19, de 1998)
IX - julgar anualmente as contas prestadas pelo Presidente da República e apreciar os relatórios sobre
a execução dos planos de governo;
X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo,
incluídos os da administração indireta;
XI - zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros
Poderes;
XVII - aprovar, previamente, a alienação ou concessão de terras públicas com área superior a dois mil
e quinhentos hectares.
O inciso II traz atos de tamanha relevância para o Estado brasileiro que dependem
do consentimento do Poder Legislativo.
§1º Os Ministros de Estado poderão comparecer ao Senado Federal, à Câmara dos Deputados, ou a
qualquer de suas Comissões, por sua iniciativa e mediante entendimentos com a Mesa respectiva, para
expor assunto de relevância de seu Ministério.
§2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão encaminhar pedidos escritos de
informações a Ministros de Estado ou a qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo,
importando em crime de responsabilidade a recusa, ou o não - atendimento, no prazo de trinta dias,
bem como a prestação de informações falsas. (Redação dada pela Emenda Constitucional de
Revisão nº 2, de 1994)
O Poder Legislativo pode convocar uma autoridade do Poder Executivo para que
ela preste esclarecimento sobre fatos pré-determinados. Isso é controle político exercido pelo
Poder Legislativo.
Outro exemplo de controle político é a CPI, prevista no art. 58, §3º, CRFB/88.
Art. 58, § 3º, CRFB/88 - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação
próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas,
serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente,
mediante requerimento de um terço de seus membros, para a apuração de fato determinado e por
prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que
promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.
O art. 52, III, CRFB/88 também traz uma hipótese famosa, que é a sabatina. A
nomeação para determinados cargos, como o de ministro do STF, embaixador, depende da
aprovação do Senado Federal e isso se replica em alguns Estados. Ex: o conselheiro que é
indicado para o Tribunal de Contas deve ser sabatinado na Assembleia Legislativa do
respectivo Estado.
Essa simetria não é absoluta. Recentemente, o STF reconheceu que o TCM de São
Paulo pode ter apenas cinco conselheiros e isso não é uma ofensa à simetria. A Constituição
fala que os TCE devem ter sete conselheiros. Só há TCM no Rio de Janeiro e em São Paulo e
não é possível mais criá-los. Então, nem tudo o que vale para o âmbito federal valerá para os
âmbitos estadual e municipal, mas, como regra, há simetria.
São raros os casos em que o STF autoriza que uma regra específica seja adotada
para um Tribunal de Contas que seja diversa da regra aplicada ao TCU. O que há com mais
frequência na jurisprudência do STF é declaração de que uma regra estadual é
inconstitucional, porque está restringindo a competência do TCE e fazendo com que tenha
menos competência do que o TCU. Ex: Já houve Estado que previu que decisão do TCE seria
apreciada por recurso por Assembleia Legislativa. Então, poder-se-ia interpor um recurso
dirigido à Assembleia Legislativa para rever decisão do TCE e isso não existe no caso do TCU.
Isso diminui a atribuição do TCE.
Art. 75, CRFB/88 - As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à organização,
composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, bem como dos
Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
Parágrafo único. As Constituições estaduais disporão sobre os Tribunais de Contas respectivos, que
serão integrados por sete Conselheiros.
O TCE tem sete conselheiros por previsão constitucional. O TCU tem nove. O TCM
do Rio de Janeiro tem sete por previsão de lei orgânica. Já o TCM de São Paulo tem cinco.
Parte 4/4
Art. 71, CRFB/88 - O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o auxílio do
Tribunal de Contas da União, ao qual compete:
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo Presidente da República, mediante parecer prévio
que deverá ser elaborado em sessenta dias a contar de seu recebimento;
VII - prestar as informações solicitadas pelo Congresso Nacional, por qualquer de suas Casas, ou por
qualquer das respectivas Comissões, sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;
Na mesma oportunidade, o STF também julgou o RE 729.744 para dizer que antes
do julgamento das contas pelo Poder Legislativo, o parecer do Tribunal de Contas não pode
tornar o administrador público inelegível. Havia essa discussão sobre o efeito do parecer em
Art. 31, § 2º, CRFB/88 - O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o
Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros
da Câmara Municipal.
Isso não significa, segundo o STF, que o parecer terá força vinculante até ser
derrubado. O parecer do Tribunal de Contas é uma opinião e a Câmara de Vereadores é que
vai julgar. Se ela derrubar o parecer, ele não ficará inelegível. Se confirmar o parecer, haverá
inelegibilidade. Então, a inelegibilidade prevista na Lei da Ficha Limpa não resulta da mera
opinião lançada pelo Tribunal de Contas em relação às contas do Prefeito.
Art. 71, II, CRFB/88 - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens
e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e
mantidas pelo Poder Público federal, e as contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra
irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público;
Art. 71, III, CRFB/88 - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a
qualquer título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo
Tese do tema 445 no RE 636.553 - "Em atenção aos princípios da segurança jurídica e da confiança
legítima, os Tribunais de Contas estão sujeitos ao prazo de 5 anos para o julgamento da legalidade do
Se passado 5 anos, há o registro tácito, que não pode mais ser modificado. Isso
tem sido cobrado em provas.
Art. 71, VI, CRFB/88 - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante
convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a
Município;
Quanto ao inciso VI, por mais que a verba não mais integre o patrimônio federal,
como houve um repasse do recurso para outro ente da federação, o papel de controle
continua sendo exercido pelo TCU.
Art. 71, VIII, CRFB/88 - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade
de contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional
ao dano causado ao erário;
O inciso VIII se refere à lei orgânica do TCU, que é a Lei 8.443/92. Ela é importante
quanto ao controle e detalha competências; prevê a possibilidade de declaração de
inidoneidade do licitante, que o STF reconheceu que não foi revogada pela Lei 8.666/93; e a
possibilidade do TCU multar.
Isso tem sido destacado por quem acredita na competência do Tribunal de Contas
para essa matéria. O professor Valter acha que o STF deve reconhecer essa competência, mas
é contrário, pois a decretação de indisponibilidade é uma medida muito drástica, que impede
que o direito de propriedade seja exercido em sua plenitude e seria com base em uma decisão
de um órgão administrativo. Para ele, o Judiciário deveria ser provocado para autorizar a
decretação de indisponibilidade, mas o que se tem visto é que elas estão ocorrendo e que há
decisões favoráveis do STF. É um tema que será cobrado em prova, quando do julgamento.
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou, nesta quinta-feira (25), o julgamento do
Mandado de Segurança (MS) 35506, em que a empresa PPI – Projeto de Plantas Industriais Ltda.,
sociedade brasileira pertencente ao grupo japonês Toyo Engineering, pede a cassação de decisão do
Tribunal de Contas da União (TCU) que decretou a indisponibilidade dos seus bens e ativos, em
montante equivalente a R$ 653 milhões, e a desconsideração de sua personalidade jurídica. O relator
do MS, ministro Marco Aurélio, único a votar na sessão de hoje, confirmou a decisão liminar concedida
em 2018 para afastar a determinação da Corte de Contas.
No caso em questão, a decisão foi tomada pelo plenário do TCU no âmbito da tomada de contas
especial que apura responsabilidades por indícios de irregularidade no contrato firmado entre a
Petrobras e o Consórcio TUC Construções, para a construção da Central de Desenvolvimento de Plantas
de Utilidade (CDPU) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). No mandado de
Atribuição
Segundo o relator, não compete ao TCU, órgão administrativo que auxilia o Poder Legislativo, o
implemento de medida cautelar que restrinja direitos de particulares de efeitos práticos tão gravosos
como a indisponibilidades de bens e a desconsideração da personalidade jurídica, que configuram
sanções patrimoniais antecipadas.
Em seu voto, o ministro Marco Aurélio explicou que não se trata de afirmar a ausência do poder geral
de cautela do Tribunal de Contas, mas de assinalar que essa atribuição tem limites, dentro dos quais
não se encontra o bloqueio, “por ato próprio, dotado de autoexecutoriedade”, dos bens de particulares
contratantes com a administração pública.
Para o ministro, é imprópria a justificativa da medida com base no artigo 44 da Lei Orgânica do TCU
(Lei 8.443/92), pois o dispositivo diz respeito à disciplina da atuação do responsável pelo contrato
público, ou seja, do servidor público, sem abranger o particular.
Judiciário
O relator lembrou ainda que a legislação infraconstitucional atribui ao Tribunal de Contas o poder de
determinar por ato próprio ao particular a execução de certas penalidades. Exige, no entanto, a
intervenção do Poder Judiciário, mediante a provocação do Ministério Público.
Quanto ao inciso VIII do art. 71, tem-se o a Lei 8.443 prevê multa, declaração de
nulidade. A Constituição exige que a multa aplicada guarde uma relação de proporção com o
dano que foi sofrido pelo erário.
Art. 71, IX, CRFB/88 - assinar prazo para que o órgão ou entidade adote as providências necessárias
ao exato cumprimento da lei, se verificada ilegalidade;
Pela lógica dos incisos, quando o Tribunal de Contas se depara com um ato que
pode ser ilegal, ele dá um prazo para a correção. Se a Administração não corrigir, incide o
inciso X.
Art. 71, X, CRFB/88 - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão
à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal;
Art. 71, § 1º, CRFB/88 - No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pelo
Congresso Nacional, que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
§ 2º Se o Congresso Nacional ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as medidas
previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá a respeito.
Na pior das hipóteses é que o Tribunal susta, isso é, somente se o Congresso for
omisso. Mas, em condições normais, não cabe ao Tribunal de Contas sustar o contrato, pois
isso é competência do Poder Legislativo.
Invariavelmente o STF tem reconhecido que não há problema algum nesse tipo
de atuação do TCU, pois o TCU não está sustando o contrato e nem anulando o contrato,
providências que ele não poderia tomar. O TCU está determinando ao órgão contratante que
corrija a irregularidade e a correção será feita por meio da anulação do contrato pelo próprio
órgão contratante, no exercício da autotutela. Assim, não há qualquer inconstitucionalidade
Ex: Em uma segunda-feira, um Tribunal de Contas recebe uma ação em que consta
que será celebrado um contrato fraudulento e ilegal na quarta-feira. O Tribunal de Contas
não tem a convicção e a informação é insuficiente para chegar à conclusão da ilegalidade,
mas há uma forte suspeita de que alguma coisa está errada. Se o contrato for firmado, o
prejuízo pode ser maior, porque vai envolver desembolso de recurso. O Tribunal de Contas
resolve suspender o procedimento licitatório com uma medida de natureza cautelar.
Art. 130, CRFB/88 - Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as
disposições desta seção pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura.
Há uma carreira própria, que é regida por uma lei de iniciativa do próprio Tribunal
de Contas, pois o STF considera que se trata de uma carreira integrante da estrutura do
Tribunal de Contas.
Então, não é o próprio MP de Contas que vai iniciar o projeto de lei que regula a
sua carreira e isso tem gerado muitas complicações. De um lado, o MP de Contas quer fazer
valer o regime constitucionalmente previsto para o Ministério Público, que lhe garante
independência funcional e, de outro lado, em alguns Tribunais de Contas, o que se pretende
é que o MP de Contas funcione praticamente como órgão de assessoramento, sendo que ele
não foi feito para isso.