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ProfessorValter Shuenquener
AULA XIII
Parte 1/4
A ideia de que o ato administrativo é um ato unilateral, que tem como atributo a
imperatividade, é flexibilizada com a noção de que quanto maior a participação do
particular na formação da vontade estatal, maior a chance de aquela manifestação de
vontade ser aceita pela sociedade e ter a legitimidade que dela se espera.
No Brasil, o que não falta são órgãos de controle. Tem-se o Tribunal de Contas, a
Administração Pública, o Ministério Público (exerce o controle por meio de inquéritos civis,
ação de improbidade, ações penais), Judiciário. Há vários mecanismos de controle e o que
ainda é necessário é uma racionalidade na forma como esse controle é exercido.
O ato pode ser anulado com efeitos ex tunc e efeitos xcex nunc (o passado sendo
preservado). A anulação pode produzir efeitos futuros, com modulação temporal. O
Administrador pode ser obrigado a manter o ato no ordenamento jurídico, a despeito de
sua ilegalidade, caso o ato tenha sido editado há mais de 5 anos. Não faz muito tempo, o
STF corroborou isso, quando reconheceu que se o Tribunal de Contas da União ficar inerte
por mais de 5 anos, haverá um registro tácito do benefício previdenciário do servidor e
aquilo não mais poderá ser anulado. Então, é ilegal, mas será mantido pela inércia da
Administração.
Quando o órgão de controle que não foi eleito vulgariza a desconstituição do ato
controlado (editado por quem foi eleito), ele está substituindo a vontade daquele que foi
eleito pela sociedade por uma autoridade que não foi eleita (seja ela um juiz, um promotor,
um Ministro do TCU, um Conselheiro de um TCE). Então, é preciso tomar muito cuidado
para que o controle exercido numa base principiológica não comprometa a vontade popular
que se materializa, que fica consubstanciada na manifestação de vontade daquele que foi
eleito. Não é que o juiz não possa modificar uma decisão do administrador, mas no Brasil há
um exagero, um excesso de decisões proferidas por órgãos de controle ou mesmo por
atuações que estimulam comportamentos (como é o caso do promotor). Uma
recomendação do Ministério Público não é uma decisão, não tem caráter cogente, mas é
muito forte. Ex: Um promotor faz uma recomendação a um Prefeito do interior, que não
tem formação jurídica, e este, ao recebê-la, entende que aquilo deve ser cumprido, como
uma regra constitucional.
É o primeiro art. da Lei 13.655/18. O grupo de trabalho que propôs essa Lei da
Segurança Jurídica foi desenvolvido especialmente pelos professores Carlos Ari Sundfeld e
Floriano Marques. Eles construíram esse discurso comentado anteriormente. Na época em
que a LINDB foi aprovada, havia muita resistência. Muitos diziam que isso acabaria com os
órgãos de controle.
Art. 20, LINDB - Nas esferas administrativa, controladora e judicial, não se decidirá com base em
valores jurídicos abstratos sem que sejam consideradas as consequências práticas da
decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)
A primeira vez que o professor Valter leu o texto do art. 20, LINDB, quando ainda
era projeto de lei, perguntou a Carlos Ari “Por que colocar “controladora” se a
Administração já exerce essa atividade controladora e o Judiciário também? Não bastaria
dizer nas esferas administrativa e judicial? E o Tribunal de Contas já seria esfera
administrativa, por ser tribunal administrativo”. Carlos respondeu que era importante
manter a palavra “controladora” para que não houvesse dúvidas de que o comando se
dirige também aos Tribunais de Contas. Hoje o professor concorda, pois é preciso não deixar
dúvida alguma. No Brasil, sempre que há um espaço, há polêmica e dúvidas. Mas, o fato de
ter mencionado controladora não significa que a Administração e o Judiciário não
controlem, pois são órgãos de controle. Ex: ação popular, ação de improbidade, ação civil
pública são formas de controle da Administração pelo Judiciário.
Parte 2/4
Art. 21, LINDB - A decisão que, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, decretar a
invalidação de ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa deverá indicar de modo
expresso suas consequências jurídicas e administrativas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Regulamento)
Parágrafo único. A decisão a que se refere o caput deste artigo deverá, quando for o caso, indicar as
condições para que a regularização ocorra de modo proporcional e equânime e sem prejuízo aos
interesses gerais, não se podendo impor aos sujeitos atingidos ônus ou perdas que, em função das
peculiaridades do caso, sejam anormais ou excessivos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018)
Mais uma vez, a lei traz “Nas esferas administrativa, controladora ou judicial”.
A ideia é a de que pode existir outra solução, sem ser a mais óbvia da
invalidação do ato. A lei se preocupa com soluções intermediárias entre o válido e o
inválido, de modo que o particular não sofra excessivamente e não seja responsabilizado de
maneira anormal.
Art. 22, LINDB - Na interpretação de normas sobre gestão pública, serão considerados os obstáculos
e as dificuldades reais do gestor e as exigências das políticas públicas a seu cargo, sem prejuízo dos
direitos dos administrados. (Regulamento)
Não se faz uma leitura desse artigo de modo a negar direitos de maneira
generalizada, com base em um discurso da reserva do possível. Segundo a teoria da reserva
do possível, o Estado não pode ser obrigado a prestar serviços ou a entregar serviços que o
orçamento estatal não comporte. O Estado age dentro daquilo que seja viável e possível
dentro do ponto de vista orçamentário. Mas, há essa preocupação com a realidade ao fazer
a interpretação da norma. Muitas vezes, o Prefeito não construiu a creche, mesmo sabendo
que deveria, porque não tinha recursos. É preciso olhar para a realidade e fala-se até em
princípio da realidade. Trata-se de uma abordagem contextualista. Em que contexto essa
norma de gestão pública específica deve ser interpretada sobre a tramitação dos processos
que obrigam pagamento pelo Estado? As medidas a serem tomadas na gestão do Município.
É preciso uma interpretação que olhe para a realidade, que não seja dissociada
dela. Muitas vezes, há uma interpretação da legislação sem levar em conta as
particularidades.
Pelo parágrafo segundo, se não houve dano, não há razão de punir. Não que a
sanção sempre dependa da ocorrência de dano. Na improbidade não depende. Mas, isso
tem que ser considerado na aplicação das sanções. Esse parágrafo dá um norte quanto à
aplicação da sanção, na concretização do princípio da adequação punitiva. O papel do órgão
controlador é o de reconhecer abusos, violação à proporcionalidade, mas não o de
substituir a decisão tomada pelo administrador quanto à sanção que foi escolhida, desde
que ela seja proporcional. Esses parâmetros a serem considerados pelo administrador na
aplicação das sanções também existem na Lei 8.429/92 e na Lei de Improbidade.
O parágrafo terceiro tem por objetivo que haja um excesso de sanções pela
prática do mesmo fato. Não há uma proibição. É possível que um único fato, como a
proibição, gere uma pena de privativa de liberdade, sanções aplicadas pelo Tribunal de
Contas, sanções aplicadas no âmbito de uma ação de improbidade e até mesmo no âmbito
disciplinar e em sede de responsabilidade civil. São várias instâncias punitivas. Há aqui uma
preocupação de que na dosimetria tudo isso seja considerado. Se a pessoa já foi punida em
outra oportunidade, que isso seja considerado. Pode ser que essa consideração justifique
até mesmo um aumento de pena em uma determinada instância. O problema é que quando
se fala de “mesmo fato”, se há uma única conduta ilícita, há um discurso favorável de
conciliação das instâncias punitivas, de modo que não haja um excesso.
Art. 23, LINDB - A decisão administrativa, controladora ou judicial que estabelecer interpretação ou
orientação nova sobre norma de conteúdo indeterminado, impondo novo dever ou novo
condicionamento de direito, deverá prever regime de transição quando indispensável para que o
novo dever ou condicionamento de direito seja cumprido de modo proporcional, equânime e eficiente
e sem prejuízo aos interesses gerais. (Regulamento)
Art. 2º, Parágrafo único, Lei 9.784/99 - Nos processos administrativos serão observados, entre
outros, os critérios de:
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim
público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.
O texto que foi vetado (parágrafo único do art. 23, LINDB) dispunha:
Razões do veto:
Art. 24, LINDB - A revisão, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, quanto à validade de
ato, contrato, ajuste, processo ou norma administrativa cuja produção já se houver completado
levará em conta as orientações gerais da época, sendo vedado que, com base em mudança posterior
de orientação geral, se declarem inválidas situações plenamente constituídas. (Incluído pela
Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)
O art. 25 foi vetado. Ele permitia uma atuação do juízo de primeiro grau quase
como a do STF, em que ele poderia, diante de um ato normativo, se tornar uma autoridade
estatal capaz de exercer uma espécie de controle concentrado de constitucionalidade, como
faz o STF.
Vetado - Art. 25 – Quando necessário por razões de segurança jurídica de interesse geral, o ente
poderá propor ação declaratória de validade de ato, contrato, ajuste, processo ou norma
administrativa, cuja sentença fará coisa julgada com eficácia erga omnes.
§1º A ação de que trata o caput deste artigo será processada conforme o rito aplicável à ação civil
pública.
§2º O Ministério Público será citado para a ação, podendo abster-se, contestar ou aderir ao pedido.
§3º A declaração de validade poderá abranger a adequação e a economicidade dos preços ou valores
previstos no ato, contrato ou ajuste.
O rito que havia sido proposto era o da ACP. Declarar-se-ia a validade de um ato
normativo, o que poderia equivaler a uma declaração de constitucionalidade feita pelo STF,
com usurpação de sua competência.
Razões do veto:
“A ação declaratória preconizada pelo dispositivo, cuja sentença terá eficácia para todos, inclusive
podendo dispor a respeito de preço e valores, poderá acarretar em excessiva demanda judicial
injustificada, tendo em vista a abrangência de cabimento para a impetração a ação por ‘razões de
segurança jurídica de interesse geral’, o que, na prática, poderá contribuir para maior insegurança
jurídica. Ademais, há omissão quanto à eficácia de decisões administrativas ou de controle anteriores
à impetração da ação declaratória de validade, uma vez que a atuação judicial pode se tornar
instrumento para a mera protelação ou modificação dessas deliberações, representando, também,
violação ao Princípio Constitucional da Independência e Harmonia entre os Poderes”
Art. 26, LINDB - Para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação
do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá,
após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes
razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observada a
legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial. (Incluído
pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)
§ 1º O compromisso referido no caput deste artigo: (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
IV - deverá prever com clareza as obrigações das partes, o prazo para seu cumprimento e as sanções
aplicáveis em caso de descumprimento. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Na verdade, não é um absurdo e se está buscando uma solução que seja melhor
para as partes (particular de um lado e Administração de outro) e para as partes de um
modo geral.
Art. 10, LINDB - Na hipótese de a autoridade entender conveniente para eliminar irregularidade,
incerteza jurídica ou situações contenciosas na aplicação do direito público, poderá celebrar
compromisso com os interessados, observada a legislação aplicável e as seguintes condições:
§ 2º O compromisso:
II - o parecer conclusivo do órgão jurídico sobre a viabilidade jurídica do compromisso, que conterá a
análise da minuta proposta;
III - a minuta do compromisso, que conterá as alterações decorrentes das análises técnica e jurídica
previstas nos incisos I e II; e
§ 6º Na hipótese de que trata o § 5º, a decisão final quanto à celebração do compromisso será do
Advogado-Geral da União, nos termos do disposto no parágrafo único do art. 4º-A da Lei nº 9.469, de
1997.
Vetado –Art. 26, §1º, II LINDB – poderá envolver transação quanto a sanções e créditos relativos ao
passado e, ainda, o estabelecimento de regime de transição.
O professor Valter tem certa reserva quanto às razões do veto, pois entende que
a possibilidade em relação às sanções existe (no Direito Administrativo é chamado de
sancionador negociado). O que deve ser objeto de preocupação é a questão dos requisitos
para a sanção ocorrer. O professor não exigiria que a lei autorizasse isso, entendendo que
faz parte da atividade administrativa e das prerrogativas que quem administra avaliar a
conveniência e a oportunidade de negociar a sanção, até porque a sanção no Direito
Administrativo sancionador tem essa função prospectiva, regulatória, de dissuadir em favor
Vetado - Art. 26, §2º, LINDB – Poderá ser requerida autorização judicial para celebração do
compromisso, em procedimento de jurisdição voluntária, para o fim de excluir a responsabilidade
pessoal do agente público por vício do compromisso, salvo por enriquecimento ilícito ou crime”
Razões do veto:
Para que depender de homologação judicial esse tipo de medida? Também iria
abarrotar o Judiciário com ações desnecessárias.
Art. 27, LINDB - A decisão do processo, nas esferas administrativa, controladora ou judicial, poderá
impor compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do
processo ou da conduta dos envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de
2018) (Regulamento)
§ 1º A decisão sobre a compensação será motivada, ouvidas previamente as partes sobre seu
cabimento, sua forma e, se for o caso, seu valor. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
§ 2º Para prevenir ou regular a compensação, poderá ser celebrado compromisso processual entre
os envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018)
Art. 9º, LINDB - A decisão do processo administrativo poderá impor diretamente à pessoa obrigada
compensação por benefícios indevidos ou prejuízos anormais ou injustos resultantes do processo ou
da conduta dos envolvidos, com a finalidade de evitar procedimentos contenciosos de ressarcimento
de danos.
§ 2º A compensação prevista no caput será motivada na forma do disposto nos art. 2º, art. 3º ou
art. 4º e será precedida de manifestação das partes obrigadas sobre seu cabimento, sua forma e, se
for o caso, seu valor.
§ 3º A compensação poderá ser efetivada por meio do compromisso com os interessados a que se
refere o art. 10.
O art. 28, LINDB já deu muita confusão, mas agora está mais tranquilo.
Art. 28, LINDB - O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas
em caso de dolo ou erro grosseiro. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)
O professor Valter não vê problema quanto a essa previsão, pois entende que
ela estimula o empoderamento do administrador honesto. A história de que “quem defere,
dorme tranquilo”, muito comum no Brasil, é muito ruim para o desenvolvimento econômico
do país, que deve punir quem é desonesto, aquele que atua dolosamente ou que atua
praticando uma conduta que representa um erro grosseiro. Mas, punir por negligência,
imprudência, imperícia, gera, na prática, insegurança jurídica, pois, temos decisões estatais,
especialmente pelos variados órgãos de controle, que oscilam bastante. Não se tem certeza
de nada na Administração Pública.
É possível fazer efeito carona? Uns dizem que sim, outros dizem que não (no
caso do registro de preço). Uma hora prevalece que pode, outra hora que não.
Assim, o professor Valter entende que punir o administrador público por culpa
simples é algo temerário.
A MP 966 criou algo que não precisava ter criado, pois já estava regulamentado
pela LINDB e pelo Decreto 9.830. Houve um receio de que o texto da MP pudesse estimular
o administrador público a, em tempos de pandemia, propor soluções em termos de
Isso foi judicializado. O Min. Barroso foi o relator de sete ADIs (ADI 6.421, 6.422,
por exemplo) em que se discutiu se era constitucional ou não a previsão de limitação de
dolo ou erro grosseiro. O relator disse que isso não vale para a improbidade, pois a Lei de
Improbidade prevê que é possível a punição por culpa. A decisão é no sentido de que
configura erro grosseiro, que é uma decisão do administrador que se afaste do que se
espera cientificamente ou da solução proposta cientificamente. Qualquer interpretação que
dê imunidade a agentes públicos por atos ilícitos fica, desde logo, excluída. Essa MP não
beneficia nenhum agente público que tenha praticado ato de improbidade administrativa,
pois para isso existe legislação específica.
Aqui seria mais para uma responsabilidade disciplinar, até perante o Tribunal de
Contas, o qual acaba fazendo o discurso de que essa limitação não poderia impedir a sua
atuação.
Para o professor Valter, isso deveria valer para todas as esferas, até porque a
LINDB não restringiu. Está dizendo que só responde nos casos de dolo ou erro grosseiro.
O art. 37, §6º, CRFB/88 menciona que nos casos de responsabilidade civil, a
responsabilidade é por dolo ou culpa. Mas isso não impede que uma lei limite a
responsabilidade do agente público. Há exemplos de lei que ampliam a responsabilidade
civil do Estado. É o caso da Lei 10.744/03 que amplia no caso de atentado terrorista.
Também se verifica isso na Lei Geral da Copa (Lei 12.663/12), que ampliou a
responsabilidade da União nos eventos da Copa do Mundo, em seu art. 23. E o STF validou
isso tudo. Em razão disso, o professor Valter não vê com estranheza um texto legal que
restringe a responsabilidade do agente público além do que o texto constitucional
restringiu, pois a vítima fica amparada. Se um particular sofrer um dano, poderá demandar
o Estado. O Estado é que vai ter essa restrição.
O que o STF decidiu em relação ao texto da MP 966, que muito repete da LINDB
e do Decreto 9.830, foi que erro grosseiro é aquele que ocorre quando o administrador
público se afasta do consenso científico. Foi um recado, fazendo uma leitura da
Constituição, para que os Prefeitos, Governadores e o Presidente da República não
adotassem medidas contrárias ao que a ciência propõe, porque, se não, poderiam
responder diante de uma situação de erro grosseiro.
Vetado – Art. 28, §1º, LINDB – Não se considera erro grosseiro a decisão ou opinião baseada em
jurisprudência ou doutrina, ainda que não pacificadas, em orientação geral ou, ainda, em
interpretação razoável, mesmo que não venha a ser posteriormente aceita por órgãos de controle ou
judiciais.
Razões do veto:
Às vezes, a decisão não é pacificada, mas não é errada. Até pode ser considerada
errada no futuro. O veto foi para evitar que decisões sejam tomadas com base em opiniões
ou em doutrina e jurisprudência ainda não pacificadas.
O problema aqui é: quais são essas despesas? Uma coisa é apoiar um Procurador,
designando-o para a defesa. Outra coisa é pagar um advogado. Essa foi a preocupação.
Vetado – Art. 28, §3º, LINDB - Transitada em julgado decisão que reconheça a ocorrência de dolo ou
erro grosseiro, o agente público ressarcirá ao erário as despesas assumidas pela entidade em razão
do apoio de que trata o §2º deste artigo.
“Os dispositivos criam direito subjetivo para o agente público obter apoio e defesa pela entidade, em
qualquer esfera, decorrente de ato ou conduta praticada no exercício regular de suas competências,
inclusive nas despesas com a defesa. Tal como se apresenta, fica caracterizada a não exclusividade
do órgão de advocacia pública na prestação, podendo impor a cada entidade dispêndio financeiro
indevido sem delimitar hipóteses de ocorrência de tais apoios nem especificar o órgão responsável
por esse amparo, o que poderia gerar significativos ônus sobretudo para os entes subnacionais”
Art. 29, LINDB - Em qualquer órgão ou Poder, a edição de atos normativos por autoridade
administrativa, salvo os de mera organização interna, poderá ser precedida de consulta pública para
manifestação de interessados, preferencialmente por meio eletrônico, a qual será considerada na
decisão. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Vigência) (Regulamento)
A preocupação era de que isso pudesse atrasar na aprovação do ato. Além disso,
há a questão do custo alto da publicação em diário oficial. Portanto, isso pode não só
aumentar a burocracia, como também dificultar a implementação da nova medida, do novo
ato. Assim, é preciso ter cuidado com a forma com que a consulta será feita.
Parte 4/4
Art. 30, LINDB - As autoridades públicas devem atuar para aumentar a segurança jurídica na
aplicação das normas, inclusive por meio de regulamentos, súmulas administrativas e respostas a
consultas. (Incluído pela Lei nº 13.655, de 2018) (Regulamento)
Parágrafo único. Os instrumentos previstos no caput deste artigo terão caráter vinculante em
relação ao órgão ou entidade a que se destinam, até ulterior revisão. (Incluído pela Lei
nº 13.655, de 2018)
A previsão do art. 30, caput, LINDB, está alinhada com o CPC/2015, que se
preocupa com precedentes, com estabilização da jurisprudência, pois isso é o que
proporciona segurança jurídica e desenvolvimento econômico de um país.
Art. 1º, Lei 13.874/19 - Fica instituída a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, que
estabelece normas de proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica e
disposições sobre a atuação do Estado como agente normativo e regulador, nos termos do inciso IV
do caput do art. 1º, do parágrafo único do art. 170 e do caput do art. 174 da Constituição Federal.
§ 1º O disposto nesta Lei será observado na aplicação e na interpretação do direito civil, empresarial,
econômico, urbanístico e do trabalho nas relações jurídicas que se encontrem no seu âmbito de
aplicação e na ordenação pública, inclusive sobre exercício das profissões, comércio, juntas
comerciais, registros públicos, trânsito, transporte e proteção ao meio ambiente.
§ 3º O disposto nos arts. 1º, 2º, 3º e 4º desta Lei não se aplica ao direito tributário e ao direito
financeiro, ressalvado o inciso X do caput do art. 3º.
§ 4º O disposto nos arts. 1º, 2º, 3º e 4º desta Lei constitui norma geral de direito econômico,
conforme o disposto no inciso I do caput e nos §§ 1º, 2º, 3º e 4º do art. 24 da Constituição Federal, e
será observado para todos os atos públicos de liberação da atividade econômica executados pelos
Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, nos termos do § 2º deste artigo.
§ 5º O disposto no inciso IX do caput do art. 3º desta Lei não se aplica aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios, exceto se:
II - o ente federativo ou o órgão responsável pelo ato decidir vincular-se ao disposto no inciso IX
do caput do art. 3º desta Lei por meio de instrumento válido e próprio.
§ 6º Para fins do disposto nesta Lei, consideram-se atos públicos de liberação a licença, a
autorização, a concessão, a inscrição, a permissão, o alvará, o cadastro, o credenciamento, o estudo,
o plano, o registro e os demais atos exigidos, sob qualquer denominação, por órgão ou entidade da
administração pública na aplicação de legislação, como condição para o exercício de atividade
econômica, inclusive o início, a continuação e o fim para a instalação, a construção, a operação, a
produção, o funcionamento, o uso, o exercício ou a realização, no âmbito público ou privado, de
atividade, serviço, estabelecimento, profissão, instalação, operação, produto, equipamento, veículo,
edificação e outros.
Destaca-se o art. 1º, §5º, que se relaciona com o art. 3º, IX, ambos Lei
13.874/19, que trata do que é chamado de silêncio que representa a aceitação tácita em
relação à atividade econômica. É aquela inércia do administrador na resposta a um
requerimento de desempenho de atividade econômica. Esse silêncio é lido, interpretado e
considerado como aceitação de desempenho de atividade econômica. Ex: O particular faz o
requerimento, a Administração não responde – por falta de pessoal ou porque a questão
técnica ainda não foi apreciada ou para criar um embaraço -, o que acaba facilitando a
prática de corrupção. A lei inverteu a lógica e previu que o administrador terá que dar ao
particular (administrado-requerente) um prazo para decidir. Uma vez exaurido esse prazo, o
requerimento será considerado aceito. Isso também é objeto de regulamentação. O
Decreto 10.178 corrobora isso.
O art. 1º, §5º, Lei 13.784/19 estabelece em que casos essa aceitação tácita do
requerimento não terá efeitos ou validade. O inciso IX do art. 3º da Lei 13.784/19 não se
O art. 3º, Lei 13.874/19 é importante, porque prevê os direitos de toda pessoa
natural ou jurídica possui no que diz respeito ao desenvolvimento e crescimento do país. É
como se fosse uma declaração de direitos. Inclusive, o capítulo começa anunciando “Da
declaração de direitos de liberdade econômica”. O que a Constituição traz para os
empreendedores como direitos?
Art. 3º, Lei 13.874/19 - São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o
desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único
do art. 170 da Constituição Federal:
IX - ter a garantia de que, nas solicitações de atos públicos de liberação da atividade econômica que
se sujeitam ao disposto nesta Lei, apresentados todos os elementos necessários à instrução do
processo, o particular será cientificado expressa e imediatamente do prazo máximo estipulado para
a análise de seu pedido e de que, transcorrido o prazo fixado, o silêncio da autoridade competente
importará aprovação tácita para todos os efeitos, ressalvadas as hipóteses expressamente vedadas
em lei; (Vide Decreto nº 10.178, de 2019) Vigência
A regra do art. 1º, Lei 13.784/19 veda em algumas hipóteses a aplicação do art.
3º, IX e o próprio art. 3º, no §6º, dispõe:
Art. 3º, § 6º, Lei 13.874/19 - O disposto no inciso IX do caput deste artigo não se aplica quando:
O INPI, muitas vezes, demora muito tempo para registrar uma marca e o fato da
demora ocorrer não importará em aprovação tácita do registro da marca.
Pelo inciso II, do §6º, do art. 3º, se o particular requer que a Administração
reconheça uma dívida de R$1.000.000.000,00 e a Administração não se manifesta, isso não
importa na aceitação da dívida.
Art. 3º, § 7º, Lei 13.874/19 - A aprovação tácita prevista no inciso IX do caput deste artigo não se
aplica quando a titularidade da solicitação for de agente público ou de seu cônjuge, companheiro ou
parente em linha reta ou colateral, por consanguinidade ou afinidade, até o 3º (terceiro) grau,
dirigida a autoridade administrativa ou política do próprio órgão ou entidade da administração
pública em que desenvolva suas atividades funcionais.
Art. 3º, § 12, Lei 13.874/19 - O disposto no inciso IX do caput não se aplica às atividades com
impacto significativo no meio ambiente, conforme estabelecido pelo órgão ambiental
competente. (Redação dada pela Medida Provisória nº 915, de 2019)
O art. 2º, Lei 13.874/19 prevê alguns princípios, que foram considerados pela Lei
da Liberdade Econômica como importantes. Esses princípios podem ser extraídos dos
valores que permeiam o texto constitucional.
Art. 2º, Lei 13.874/19 - São princípios que norteiam o disposto nesta Lei:
Parágrafo único. Regulamento disporá sobre os critérios de aferição para afastamento do inciso IV
do caput deste artigo, limitados a questões de má-fé, hipersuficiência ou reincidência.
No Brasil, parece que aquele que vai se relacionar com a Administração está
presumidamente de má-fé. Na relação entre a Administração, o que se exige do particular
em termos de burocracia, leva à conclusão de que se presume a sua má-fé. Entretanto, nas
relações jurídicas deve se presumir a boa-fé do particular na relação com o Poder Público,
pois má-fé não se presume.
Quanto ao art. 2º, III, Lei 13.874/19, tem-se que ainda há certa discussão se só o
texto constitucional permitiria concluir que o Estado deve intervir de modo subsidiário,
muito embora seja o discurso predominante na literatura de que o Estado só vai intervir nas
hipóteses excepcionais de imperativo de segurança nacional e de relevante interesse
coletivo. Poder-se-ia defender, eventualmente, de que não são situações excepcionais e
subsidiárias, mas o que se permitiria no texto constitucional é uma intervenção estatal. O
que a Lei da Liberdade Econômica traz à reflexão é de que ela está, à pretexto de
regulamentar o texto constitucional, indicando que o papel do Estado é realmente
subsidiário, que o particular é que o titular da atividade econômica e que apenas em
situações excepcionais é que fica justificada a intervenção no Estado do domínio econômico
por meio das estatais.
Art. 3º , Lei 13.874/19 - São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o
desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único
do art. 170 da Constituição Federal:
A pessoa vai exercer uma atividade de costureira, em casa, com sua máquina de
costura. Por que o Estado tem que expedir um alvará de licença para a exploração dessa
atividade econômica? Trata-se de um exagero, pois a atividade não gera risco algum para a
coletividade. A pessoa está querendo se desenvolver. É o mesmo que exigir de um músico
que ingresse na Ordem dos Músicos do Brasil para poder tocar em bar, como já se pensou e
o STF teve que dizer que era inconstitucional.
Art. 3º , Lei 13.874/19 - São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o
desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único
do art. 170 da Constituição Federal:
III - definir livremente, em mercados não regulados, o preço de produtos e de serviços como
consequência de alterações da oferta e da demanda;
Art. 3º , Lei 13.874/19 - São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o
desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único
do art. 170 da Constituição Federal:
V - gozar de presunção de boa-fé nos atos praticados no exercício da atividade econômica, para os
quais as dúvidas de interpretação do direito civil, empresarial, econômico e urbanístico serão
resolvidas de forma a preservar a autonomia privada, exceto se houver expressa disposição legal em
contrário;
Art. 3º , Lei 13.874/19 - São direitos de toda pessoa, natural ou jurídica, essenciais para o
desenvolvimento e o crescimento econômicos do País, observado o disposto no parágrafo único
do art. 170 da Constituição Federal:
VIII - ter a garantia de que os negócios jurídicos empresariais paritários serão objeto de livre
estipulação das partes pactuantes, de forma a aplicar todas as regras de direito empresarial apenas
de maneira subsidiária ao avençado, exceto normas de ordem pública;
Deve-se prestigiar aquilo que foi acordado, que foi negociado, mais até do que
uma interpretação distorcida de regras de Direito Empresarial.
Art. 4º, Lei 13.874/19 - É dever da administração pública e das demais entidades que se vinculam a
esta Lei, no exercício de regulamentação de norma pública pertencente à legislação sobre a qual esta
Lei versa, exceto se em estrito cumprimento a previsão explícita em lei, evitar o abuso do poder
regulatório de maneira a, indevidamente:
III - exigir especificação técnica que não seja necessária para atingir o fim desejado;
Inciso I: O Estado não pode dar privilégios a determinado grupo econômico por
meio da criação de uma regra que só uma pessoa consegue atender.
Inciso II: Ex: ter um decreto que proíbe que empresas de um determinado ramo
tenham participação de estrangeiros. A própria Constituição pode prever isso e o próprio
caput do art. 4º prevê que isso não será observado se houver expressa previsão em lei, mas
o administrador público não pode, sem fundamento nenhum, fazer a restrição.
Inciso IV: É o caso do Uber. Criar um decreto que impede a entrada de novos
agentes econômicos que estão no mercado em razão de uma inovação tecnológica não é
possível.
Inciso IX: Criar exigências tributárias para esvaziar a possibilidade de uma pessoa
explorar uma atividade econômica. Ex: se não estiver em dia com determinado tributo, não
pode ser costureira. Trata-se de um condicionamento absurdo e a lei se preocupou com
isso. É possível fazer o lançamento do tributo e procurar saber o que está acontecendo, mas
isso não pode ser condicionante para o desempenho de atividade econômica de baixo risco.
O art. 5º, Lei 13.874/19 trata da análise de impacto regulatório. Não é o único
artigo a tratar desse tema no Brasil. A própria Lei das Agências Reguladoras (Lei 13.848/19)
prevê isso, a Lei da Agência Nacional de Mineração (Lei 13.75/17) fala de impacto
regulatório. É um estudo exigido para que o Estado profira decisões que impactarão a
sociedade. Mudanças como o modo como uma atividade econômica é realizado, são
mudanças que devem ser tomadas após uma análise efetiva dos seus efeitos. Ex: Fazer o
estudo sobre como a exigência de pagamento para despachar uma bagagem no avião
gerará efeitos. As pessoas vão passar a colocar as bagagens dentro do avião, para não pagar
para despachar bagagem.
Art. 5º, Lei 13.874/19 - As propostas de edição e de alteração de atos normativos de interesse geral
de agentes econômicos ou de usuários dos serviços prestados, editadas por órgão ou entidade da
administração pública federal, incluídas as autarquias e as fundações públicas, serão precedidas da
realização de análise de impacto regulatório, que conterá informações e dados sobre os possíveis
efeitos do ato normativo para verificar a razoabilidade do seu impacto econômico. (Regulamento)
Parágrafo único. Regulamento disporá sobre a data de início da exigência de que trata o caput deste
artigo e sobre o conteúdo, a metodologia da análise de impacto regulatório, os quesitos mínimos a
serem objeto de exame, as hipóteses em que será obrigatória sua realização e as hipóteses em que
poderá ser dispensada.
Essa é a tendência, que reforça também uma leitura do Direito à luz da análise
econômica do Direito. A análise de impacto regulatório é mais um exemplo de como o
Direito brasileiro está sofrendo forte influência da análise econômica do Direito.