Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AULA IX
Parte 1/4
Essa classificação separa os bens em bens de uso comum do povo, bens de uso
especial e bens dominicais (alguns chamam de bens dominiais. O professor adota a corrente
que não vislumbra diferença na nomenclatura dominicais/dominiais e José dos Santos
Carvalho Filho menciona isso). Eventualmente, se encontra na doutrina e até o próprio José
dos Santos Carvalho Filho cita, a ideia de que os bens públicos dominicais são aqueles que
não estão afetados e os dominiais se referem ao gênero, isso é, a todos os bens integrantes
do patrimônio público.
Essa classificação aparece no art. 99, CC. Não se trata de uma novidade do Código
Civil atual, pois era previsto no art. 66, CC/1916. Os Códigos não definem o que são bem de
uso comum do povo e bem especial, apenas dão exemplos. Eles trazem uma aproximação do
conceito de bem dominical.
I - os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;
III - os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto
de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.
Parágrafo único. Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às
pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.
O uso de um bem público pode ser uso comum ordinário, uso comum
extraordinário ou uso privativo, segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro (nos demais autores
os nomes variam). O “uso comum ordinário” ou “uso simples” não depende do
preenchimento de qualquer condição. Ex: a pessoa vai a uma praia no horário que quiser (de
madrugada, de dia, à tarde), não precisa pagar nada, não depende da anuência de quem quer
que seja.
Por fim, há o “bem de uso privativo”, também chamado por Hely Lopes Meirelles
como “bem de uso especial”. Cada autor usa uma nomenclatura, mas se vê que Hely
considera como de uso especial o uso comum extraordinário e o uso privativo, que é o uso de
bem público com caráter privativo. E é possível que o bem de uso comum do povo tenha,
ainda que em caráter excepcional, uso privativo. Ex: De 2019 para 2020 o prefeito da cidade
do Rio de Janeiro resolveu permitir que os quiosques das praias pudessem usar um espaço de
forma privativa na areia da praia e que, inclusive, vendesse ingressos para isso. Isso é uso
privativo de bem de uso comum do povo. Ex2: Prefeito que coloca a praça pública para
exploração comercial, com festas em determinados horários e dias. Isso é algo atípico, não
comum e o prefeito terá que avaliar o efeito disso politicamente. Do ponto de vista jurídico,
é possível que se tenha uso privativo de bem de uso comum do povo.
Bem de uso comum do povo é o bem público que está afetado. É o bem que,
portanto, está desempenhando uma função pública, a qual não está voltada para viabilizar a
prestação de um serviço público específico, como ocorre com bem de uso especial. O bem de
Já os bens de uso especial são bens públicos que também estão afetados, mas que
a afetação se destina a viabilizar um serviço que é prestado pela administração. Ex: Hospital
público, escola pública, quartel general, prédio em que funciona o fórum. Esses bens também
são chamados bens patrimoniais indisponíveis. São bens que podem sofrer uma avaliação
patrimonial (Ex: é possível saber quanto vale o prédio em que funciona o fórum), mas, em
razão da afetação, eles não podem ser alienados enquanto estiverem afetados.
Os bens dominicais são bens públicos que não estão afetados, bens que integram
o patrimônio do poder público, mas que não comportam qualquer afetação. São chamados
de bens patrimoniais disponíveis e disponíveis porque podem ser alienados, desde que os
requisitos essenciais para a alienação de um bem público sejam observados.
Art. 2º, Lei 8.666/93 - As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões,
permissões e locações da Administração Pública, quando contratadas com terceiros, serão
necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou
entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a
formação de vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.
Quanto a cessão de uso (outro instituto para viabilizar o uso de um bem público),
existem os mais variados entendimentos sobre o alcance da cessão. Para alguns a cessão tem
que ocorrer no âmbito de uma mesma pessoa jurídica. Já segundo Diogo de Figueiredo, não
pode ser na mesma pessoa jurídica, pois não é cessão. Ex: Secretaria de Justiça cede
gratuitamente o uso de um imóvel à Secretaria de Educação. Muitos vão dizer que isso é
cessão e Diogo de Figueiredo diz que não é cessão por estar no âmbito de uma mesma pessoa
jurídica e que teria que ser em relação a outra pessoa jurídica.
I - Estados, Distrito Federal, Municípios e entidades sem fins lucrativos das áreas de educação, cultura,
assistência social ou saúde; (Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007)
§ 1º A cessão de que trata este artigo poderá ser realizada, ainda, sob o regime de concessão de
direito real de uso resolúvel, previsto no art. 7º do Decreto-Lei nº 271, de 28 de fevereiro de 1967,
aplicando-se, inclusive, em terrenos de marinha e acrescidos, dispensando-se o procedimento
licitatório para associações e cooperativas que se enquadrem no inciso II do caput deste
artigo. (Redação dada pela Lei nº 11.481, de 2007)
O art. 18, §1º gera confusão, pois a cessão do direito real de uso é outro instituto,
que inaugura um direito real resolúvel e que o concessionário terá que dar ao imóvel objeto
da concessão uma destinação específica. A própria lei aproxima a cessão de uso da concessão
do direito real de uso. Os demais parágrafos e a lei regulamentam a cessão de uso no âmbito
federal.
É importante saber que o bem público pode ser utilizado por particulares, por
meio dos mais diversos institutos, alguns precários e outros que não tenham característica da
precariedade.
São 4 características:
▪ Alienabilidade condicionada;
▪ Impenhorabilidade;
▪ Imprescritibilidade; e
▪ Não onerabilidade
Essa quarta característica não é aceita por todos, mas é majoritária e é cobrada
em provas.
• Alienabilidade condicionada
Parte 2/4
O bem, tendo sido desafetado, pode ser alienado. Ex: uma praça pública,
enquanto for praça, não pode ser alienada, mas, uma vez que se torne terreno da estrutura
do Município, deixando de ser praça, poderá ser alienado. Isso fica claro com os art. 100 e
101, CC:
Art. 100, CC - Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto
conservarem a sua qualificação, na forma que a lei determinar.
Art. 101, CC - Os bens públicos dominicais podem ser alienados, observadas as exigências da lei.
Art. 17, Lei 8.666 -. A alienação de bens da Administração Pública, subordinada à existência de
interesse público devidamente justificado, será precedida de avaliação e obedecerá às seguintes
normas:
a) dação em pagamento;
c) permuta, por outro imóvel que atenda aos requisitos constantes do inciso X do art. 24 desta Lei;
d) investidura;
f) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão
de uso de bens imóveis residenciais construídos, destinados ou efetivamente utilizados no âmbito de
h) alienação gratuita ou onerosa, aforamento, concessão de direito real de uso, locação ou permissão
de uso de bens imóveis de uso comercial de âmbito local com área de até 250 m² (duzentos e cinqüenta
metros quadrados) e inseridos no âmbito de programas de regularização fundiária de interesse social
desenvolvidos por órgãos ou entidades da administração pública; (Incluído pela Lei nº
11.481, de 2007)
i) alienação e concessão de direito real de uso, gratuita ou onerosa, de terras públicas rurais da União
e do Incra, onde incidam ocupações até o limite de que trata o § 1o do art. 6o da Lei no 11.952, de 25
de junho de 2009, para fins de regularização fundiária, atendidos os requisitos legais;
e (Redação dada pela Lei nº 13.465, 2017)
II - quando móveis, dependerá de avaliação prévia e de licitação, dispensada esta nos seguintes casos:
a) doação, permitida exclusivamente para fins e uso de interesse social, após avaliação de sua
oportunidade e conveniência sócio-econômica, relativamente à escolha de outra forma de alienação;
c) venda de ações, que poderão ser negociadas em bolsa, observada a legislação específica;
f) venda de materiais e equipamentos para outros órgãos ou entidades da Administração Pública, sem
utilização previsível por quem deles dispõe.
Por que essa regra? A primeira resposta seria de que os bens imóveis são mais
valiosos e de que seria inviável uma lei para a alienação de cada bem móvel. Entretanto, o
professor entende que esse argumento não se sustenta, pois não se sabe se o bem móvel vale
realmente menos do que o imóvel. O controle de uma sociedade de economia mista que é de
titularidade do Poder Público, é resultante da titularidade de bens móveis, isso é, de valores
mobiliários. Quando se aliena esse controle, se aliena bens móveis. Na ADI 5.624, o STF
decidiu, ainda que em cautelar, que a alienação de estatais e, portanto, do controle da estatal,
depende de autorização legislativa.
No Judiciário, atos que devem ser praticados por um tutor, por um curador, atos
de alienação, de disposição patrimonial, demandam autorização do juiz. Então, há sempre a
necessidade de consentimento de outro. No caso dos bens públicos, como essa alienação vai
além da função de administrar regularmente, deveria haver autorização legislativa.
O fato do bem ser móvel não desobriga a Administração de obter uma autorização
legislativa.
José dos Santos Carvalho Filho chega a dizer que se for bem imóvel, a lei tem que
ser específica para cada bem imóvel, enquanto que se for bem móvel a autorização legal pode
ser genérica.
A Lei 9.636/98, art. 23, prevê que pode haver delegação da prerrogativa de alienar
para o chefe do Poder Executivo. É possível que a alienação ocorra sem a observância de uma
lei para cada imóvel específico.
Art. 23, Lei 9.636/98 - A alienação de bens imóveis da União dependerá de autorização, mediante ato
do Presidente da República, e será sempre precedida de parecer da SPU quanto à sua oportunidade e
conveniência.
§ 1º A alienação ocorrerá quando não houver interesse público, econômico ou social em manter o
imóvel no domínio da União, nem inconveniência quanto à preservação ambiental e à defesa nacional,
no desaparecimento do vínculo de propriedade.
§ 2º A competência para autorizar a alienação poderá ser delegada ao Ministro de Estado da Fazenda,
permitida a subdelegação.
Ex: a União adjudicou um imóvel e em uma execução fiscal poderá alienar o bem
por meio do leilão e não só da concorrência.
• Impenhoralibilidade
Os bens públicos não podem ser penhorados, isso é, não podem ser atingidos por
uma medida judicial de constrição a fim de que o bem responda pela dívida do executado.
O professor Valter faz aqui uma ressalva. Nem todos os bens são afetados, mas
os bens dominicais não podem ser penhorados. Sendo um bem de uso comum do povo ou
um bem de uso especial, fica mais fácil dizer que o princípio da continuidade do serviço
público impede a impenhorabilidade.
A Lei das PPP (Lei 11.079/2004) prevê o fundo garantidor de parcerias, que nada
mais é do que um fundo de direito privado que recebe recursos de origem pública e que se
destina a garantir as obrigações do parceiro público em uma parceria público-privada. Se o
Poder Público contratar uma PPP e não pagar, ele vai ter bens deste fundo FGV respondendo
pelas obrigações contraídas, podendo ser penhorados. Houve muita discussão e se apontou
que isso era uma violação à impenhorabilidade dos bens públicos. Na verdade, o dinheiro era
público e, a partir do momento em que foi introduzido no fundo, se tornou privado e isso
legitima a penhora. Até porque, se não for assim, será preciso defender precatório em PPP e
isso afasta investimento no Brasil. Ex: Um banco estrangeiro investindo 50 bilhões de dólares
em uma PPP, recebe a informação de que se o Estado não pagar esse valor que está sendo
emprestado, terá que esperar um precatório. Pelo sistema atual, o banco vai atrás dos
recursos que estão no fundo e que servem como garantia. Eram recursos públicos e passaram
a ser bens privados. A própria Lei 11.079/04 além de dizer que esse fundo tem natureza
privada, permite a afetação desses recursos a PPP específicas. Então, ele acaba tendo a função
pública de garantir aquela específica PPP. O professor Valter não vê problema na penhora ou
na alienação forçada de bem do FGP pela inadimplência do parceiro público em uma parceria
público-privada.
Parte 3/4
• Imprescritibilidade
O Poder Público pode usucapir bens, mas os seus bens não podem sofrer
usucapião. Existem diversos argumentos para essa impossibilidade: a usucapião poderia
comprometer a continuidade do serviço público; se o bem puder ser transferido por
usucapião, ele será alienado sem a observância das regras e dos requisitos legais para a
alienação do bem público ao particular.
Art. 191, parágrafo único, CRFB/88 - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
Art. 183, § 3º, CRFB/88 - Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.
O CC, art. 102 vai além dos imóveis e diz que os bens públicos não estão sujeitos
à usucapião.
Por mais que o art. 102, CC fale de forma mais ampla do que a Constituição,
abrangendo móveis e imóveis, o constituinte se preocupou com a situação que é mais
problemática, que é a discussão da usucapião em relação a imóveis. Quando ele proibiu a
usucapião de bens imóveis também quis proibir de todo e qualquer bem público e a prova
disso é a súm. 340, STF, que anuncia que, desde a vigência do CC/1916, os bens dominicais
como os demais bens públicos não podem ser adquiridos por usucapião.
Súm. 340, STF - Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como os demais bens públicos,
não podem ser adquiridos por usucapião.
Isso é importante frisar, porque a leitura conjunta da súm. 340, STF com o texto
constitucional e o Código Civil leva à inequívoca confusão de que os bens públicos, ainda que
não estejam afetados, ainda que sejam dominicais, não podem ser usucapidos.
Alguns dizem que a função social da propriedade deveria levar à conclusão que os
bens dominicais (aqueles que não estão afetados e estão abandonados) podem ser
usucapidos. O professor Valter entende que deve ser pensada para o futuro a usucapião de
bem público dominical, mas o fato é que o ordenamento jurídico brasileiro proíbe a usucapião
de bem público, inclusive dominical e o STF já se debruçou a respeito desse tema há algum
tempo. Por isso, o professor não é adepto das teorias favoráveis à usucapião.
Durante o séc. XX, houve momentos em que o bem público poderia ser
excepcionalmente usucapido. A leitura das Constituições de 1934, 1937 e 1946 leva à
conclusão de que seria possível a usucapião pro labore, que é a usucapião de terras públicas
em razão da exploração do bem com trabalho, o que é bem explicado por Maria Silvia Zanella
di Pietro. A usucapiçao pro labore acabou com a Carta de 1967 e com a Emenda I de 1969 e o
Art. 29, Lei 6.383/76 - O ocupante de terras públicas, que as tenha tornado produtivas com o seu
trabalho e o de sua família, fará jus à legitimação da posse de área contínua até 100 (cem) hectares,
desde que preencha os seguintes requisitos:
II - comprove a morada permanente e cultura efetiva, pelo prazo mínimo de 1 (um) ano.
§ 1º - A legitimação da posse de que trata o presente artigo consistirá no fornecimento de uma Licença
de Ocupação, pelo prazo mínimo de mais 4 (quatro) anos, findo o qual o ocupante terá a preferência
para aquisição do lote, pelo valor histórico da terra nua, satisfeitos os requisitos de morada
permanente e cultura efetiva e comprovada a sua capacidade para desenvolver a área ocupada.
§ 3º - A Licença de Ocupação será intransferível inter vivos e inegociável, não podendo ser objeto de
penhora e arresto.
O artigo não garante a usucapião, mas garante o direito de ocupar o bem por, no
mínimo, quatro anos e, após, havendo alienação pelo poder público, o direito de preferência.
Entretanto, terá que pagar o valor histórico para adquirir o bem.
A MP começa “Aquele que, até 30 de junho de 2001 (...)” e garantiu o direito. Isso
deu tão certo e evitou tantos problemas de regularização do espaço público, que foi alterada
pela MP 759, depois convertida na Lei 13.465/2017, com a seguinte redação:
Art. 1º, MP 2.220 - Aquele que, até 22 de dezembro de 2016, possuiu como seu, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, até duzentos e cinquenta metros quadrados de imóvel público
situado em área com características e finalidade urbanas, e que o utilize para sua moradia ou de sua
família, tem o direito à concessão de uso especial para fins de moradia em relação ao bem objeto da
posse, desde que não seja proprietário ou concessionário, a qualquer título, de outro imóvel urbano ou
rural. (Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017)
§1º A autorização de uso de que trata este artigo será conferida de forma gratuita.
§2º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo, acrescentar sua posse à
de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.
§3º Aplica-se à autorização de uso prevista no caput deste artigo, no que couber, o disposto nos art.
4o e 5o desta Medida Provisória.
• Não onerabilidade
A não onerabilidade significa que os bens públicos não podem ser oferecidos em
garantia, não podem ser empenhados ou hipotecados, não podem ser gravados para garantir
uma obrigação.
Entra a mesma lógica. “Se vai pagar por precatório, porque precisa oferecer em
garantia”? A Fazenda Pública não responde com a alienação forçada dos seus bens que foram
oferecidos em garantia. Na penhora, o que se tem é uma medida judicial de constrição. Aqui
tem-se um ato voluntário da Administração, que ofereceria o bem para que ele passasse a
responder pela obrigação contraída. Assim, um dos argumentos é de que a Fazenda Pública
não responde com os seus bens pelas obrigações contraídas. Ela paga por precatório ou
requisição de pequeno valor.
Em uma prova, o normal é ter que dizer que a não onerabilidade é um dos
atributos, uma das características do regime jurídico dos bens públicos.
Os terrenos de marinha são, por previsão constitucional do art. 20, VII, bens da
União.
Art. 2º, DL 9.760/46 - São terrenos de marinha, em uma profundidade de 33 (trinta e três) metros,
medidos horizontalmente, para a parte da terra, da posição da linha do preamar-médio de 1831:
a) os situados no continente, na costa marítima e nas margens dos rios e lagoas, até onde se faça
sentir a influência das marés;
b) os que contornam as ilhas situadas em zona onde se faça sentir a influência das marés.
Parágrafo único. Para os efeitos dêste artigo a influência das marés é caracterizada pela oscilação
periódica de 5 (cinco) centímetros pelo menos, do nível das águas, que ocorra em qualquer época do
ano.
Pela definição legal, o terreno de marinha faz divisa com o mar na extensão de 33
metros e com a margem das correntes navegáveis, no trecho que sofre influência da maré. A
oscilação da maré é a oscilação do nível da corrente navegável em razão da influência do mar.
Como os rios desaguam nos mares, há o movimento de oscilação. Quanto mais próximo do
mar, maior a oscilação. Essa extensão de 33 m ocorre não apenas em relação ao mar, mas,
também, na corrente navegável.
Parte 4/4
Art. 4º, DL 9.760/46 - São terrenos marginais os que banhados pelas correntes navegáveis, fora do
alcance das marés, vão até a distância de 15 (quinze) metros, medidos horizontalmente para a parte
da terra, contados dêsde a linha média das enchentes ordinárias.
Tem que ser fora do alcance das marés, porque se estiver ao alcance, é terreno
de marinha. O terreno de marinha é uma faixa estática, enquanto que o terreno reservado é
uma faixa de 15 metros contados desde a média das enchentes ordinárias e isso pode oscilar
ao longo dos anos. A faixa é menos extensa, menor. Essa faixa se situa na margem de uma
corrente navegável, fora da influência da maré. Se a corrente não for navegável, a faixa de
terra na margem terá 10m e será uma servidão de trânsito, conforme prevê o art. 12 do
Código de Águas.
Art. 12, Código de Águas - Sobre as margens das correntes a que se refere a última parte do nº 2 do
artigo anterior, fica somente, e dentro apenas da faixa de 10 metros, estabelecida uma servidão de
trânsito para os agentes da administração pública, quando em execução de serviço.
Hely Lopes Meirelles é lembrado por ter sustentado a tese, hoje minoritária, de
que os terrenos marginais ou reservados não seriam bens públicos. O que se teria é uma
servidão de trânsito, uma restrição quanto ao uso pleno da propriedade. Mas a área, segundo
ele, seria de propriedade privada. Ex: se a pessoa tem uma fazenda nessa extensão, para Hely
Lopes Meirelles, essa área de manobra seria do particular. Se é do particular, segundo ele, a
área pode ser usucapida e, eventualmente, ser incluída na desapropriação.
Súm. 479, STF - As margens dos rios navegáveis são de domínio público, insuscetíveis de expropriação
e, por isso mesmo, excluídas de indenização.
A redação da súmula não está 100% correta, porque é um erro dizer que um
imóvel por ser de domínio público não pode ser desapropriado, já que bens públicos podem
ser desapropriados. Mas, é possível entender a razão da súmula, que quis dizer que as
margens de rios navegáveis são áreas públicas e que o valor dessas áreas não será incluído na
indenização ao proprietário do bem. Então, o objetivo foi o de excluir da indenização o
terreno reservado ou o terreno marginal.
Art. 20, III, CRFB/88 - os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que
banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se estendam a território
estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;
Em uma interpretação literal do art. 20, III, CRFB/88 os terrenos marginais seriam
todos bens da União. No livro do professor Diogo de Figueiredo, quando ele comenta terrenos
marginais, consta que são bens de propriedade da União, conforme art. 20, III, CRFB/88.
Entretanto não é essa a corrente majoritária e não é esse o entendimento que vem sido
prestigiado pelos tribunais. O Código de Águas (Decreto 24.643) prevê em seu art. 31 a
seguinte regra:
Art. 31, Código de Águas - Pertencem aos Estados os terrenos reservados as margens das correntes e
lagos navegáveis, si, por algum título, não forem do domínio federal, municipal ou particular.
Parágrafo único. Esse domínio sofre idênticas limitações as de que trata o art. 29.
Como regra e a priori, os terrenos reservados são dos Estados, a não ser que, em
razão de algum título, sejam de propriedade da União, de Município ou de particulares.
O inciso III do art. 20, CRFB/88 menciona que são bens da União, por exemplo, os
rios que banhem mais de um Estado. Ex: O rio Itapemirim banha os Estados do Rio de Janeiro
e do Espírito Santo; o rio Paraíba do Sul que banha São Paulo e Rio de Janeiro.
E o inciso III do art. 20? Quando a CRFB/88 menciona que os terrenos marginais
são da União, não são todos, mas apenas aqueles que tem relação com o que é descrito no
próprio inciso.
• Terras devolutas
As terras devolutas são bens dominicais, bens públicos que não estão afetados a
um serviço público a uma função pública. Integram o patrimônio público, mas não
desempenham essa função pública. Por isso, as terras devolutas podem ser alienadas. Não há
nenhuma proibição.
Art. 225, § 5º, CRFB/88 - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações
discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.
Essas que se destinam a proteção dos ecossistemas naturais possuem uma função
pública específica e, portanto, não podem ser alienadas. É muito comum perguntarem em
prova sobre a propriedade em relação às terras devolutas (“A quem pertencem”?). É o que
está na Constituição: ou as terras devolutas serão de propriedade dos Estados-membros e,
como regra, são de propriedade dos Estados-membros por força do art. 26, IV, CRFB/88; ou
serão de propriedade da União (art. 20, II, CRFB/88)
II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares,
das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei;
Como na origem os bens de raiz, os bens imóveis, eram públicos; e como não há
prova de que ele foi transferido a um particular, porque no Registro de Imóveis não há essa
menção, isso significa que ainda continuam como bens públicos. Isso é razoável do ponto de
vista teórico, tem uma lógica. E na doutrina se encontra, como em José dos Santos Carvalho
Filho, que faria sentido trabalhar com essa lógica.
O problema é que na prática a adoção séria dessa lógica gera injustiça. Ex: a
pessoa está com a sua família há 50 anos ocupando, como se proprietária fosse, um imóvel.
O cartório do Registro de Imóveis diz que não sabe se o bem é público ou privado. Vem o
Poder Público e diz que como não há menção de quem é o proprietário, então é público e que
O STJ já decidiu por mais de uma vez - e o STF também – que não há presunção
de domínio público em relação às terras devolutas. Não cabe ao Poder Público alegar
genericamente que o bem é público sob o fundamento de que a ausência de menção quanto
ao proprietário torna o bem público. Caberia ao Poder Público juntar a documentação
comprobatória de que aquele bem é efetivamente um bem público.
• Ilhas
II - as áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio, excluídas aquelas sob
domínio da União, Municípios ou terceiros;
IV as ilhas fluviais e lacustres nas zonas limítrofes com outros países; as praias marítimas; as ilhas
oceânicas e as costeiras, excluídas, destas, as que contenham a sede de Municípios, exceto aquelas
áreas afetadas ao serviço público e a unidade ambiental federal, e as referidas no art. 26, II; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 46, de 2005)
Em relação às ilhas oceânicas e costeiras, que são ilhas marítimas, em regra elas
serão de propriedade da União e, excepcionalmente, poderão ser de propriedade dos
Estados, quando estiverem no seu domínio ou, até mesmo, dos Municípios ou de terceiros
(um particular pode ser proprietário de uma área em uma ilha oceânica ou costeira).
Exemplos de ilhas costeiras que tem sede de Município: Vitória – ES, São Luís –
MA, Florianópolis – SC.
A EC 46, que alterou o inciso IV do art. 20, colocou que se a ilha tem sede de
Município, ela não será de propriedade da União, a não ser as áreas em que haja unidade
ambiental federal ou que em que esteja sendo prestado um serviço público federal (ex:
hospital federal, quartel general, área de proteção permanente federal, parque nacional). A
EC 46 tirou da União algo que era de sua propriedade. Antes da EC 46, a ilha era da União e
todo mundo que tinha propriedade nela pagava o foro anual e, na transferência, o laudêmio
à União. Como isso estava ficando caro, resolveram acabar e deixaram como propriedade da
União só as áreas que já eram dela, como unidade ambiental federal, para que não houvesse
desmatamento e virasse unidade privada; e os hospitais; os prédios federais; etc.
O problema e a dúvida que isso gerou foi de que existe na ilha costeira com sede
de Município uma área de 33m que, se estivesse no continente, seria chamada de terreno de
marinha. Os terrenos de marinha são bens da União. A questão é que quando o inciso IV do
art. 20 se referiu às áreas que seriam da União, não fez alusão expressa ao art. 20, VII, que é
o que menciona os terrenos de marinha. Isso deu margem à seguinte dúvida: “será que em