Você está na página 1de 6

Resumo de Direito Administrativo

Bens Públicos

Introdução: Segundo o artigo 98 do Código Mista que prestam serviço público, não há
Civil, são bens públicos todos aqueles que dúvidas que seus bens possuem natureza
pertencem a pessoas jurídicas de direito pública, revestindo-se das seguintes
público, isto é, União, Estados, DF, características:
Municípios, respectivas autarquias e fundações
 inalienabilidade;
públicas de direito público, sendo todos os
outros considerados particulares,  impenhorabilidade;
independentemente da pessoa a que  imprescritibilidade;
pertencerem.  impossibilidade de oneração.

O citado art. 98 se refere aos bens de qualquer Com relação aos bens daquelas estatais que
natureza, tais como imóveis, móveis, exploram a atividade econômica, reproduzimos
semoventes, corpóreos, incorpóreos, créditos, o posicionamento lapidar de José dos Santos
direitos e ações. Carvalho Filho: “Os valores e bens oriundos da
gestão da empresa pública ou da sociedade de
Celso Antônio Bandeira de Mello amplia tal economia mista devem caracterizar-se, em
conceito por entender que, além dos que princípio, como privados, já que, como temos
integram o patrimônio das pessoas jurídicas de visto, são elas pessoas jurídicas de direito
direito público, também serão públicos os que privado (art. 98, Cód. Civil). Somente os bens e
estejam afetados à prestação de um serviço valores oriundos diretamente da pessoa
público, ainda que o seu proprietário possua controladora, normalmente a entidade
personalidade jurídica de direito privado. federativa, e, ainda não administrados pelo ente
É bem verdade que, quando estes bens forem paraestatal, é que se qualificam (si et in
de propriedade de empresas privadas, não quantum) como públicos. Dessa maneira, o
haverá a necessidade de desafetação formal, controle do Tribunal de Contas executado com
nem de realização de licitação quando a base no art. 71, lI, da CF (que se refere a
alienação for admissível (ex.; quando os bens 'dinheiros, bens e valores públicos'), somente
forem substituídos por equipamentos mais tem incidência nestes últimos, ficando os
modernos), tendo em vista que, uma vez que primeiros fora do âmbito de controle".
não estejam mais empregados na prestação do Classificação
serviço público, perdem a natureza jurídica de
direito público e se submetem ao regime O art. 99, do Código Civil traz a seguinte
jurídico de direito privado. classificação para os bens públicos:

Bens das Empresas Públicas e Sociedades de i) Bens de uso comum do povo;


Economia Mista ii) Bens de uso especial;
iii) Bens dominicais.
Em relação aos bens das Empresas Públicas -
EP e Sociedades de Economia Mista - SEM, há Bens de Uso Comum do Povo: por lei ou em
que se diferenciar as estatais que prestam face de sua natureza, são destinados ao uso da
serviço público daquelas que exploram coletividade, sem distinção de usuários,
atividade econômica. limitação de horários e remuneração, tais como
ruas, rios navegáveis ou flutuáveis, praias
Conforme exposto acima, em relação às naturais e mar.
Empresas Públicas e Sociedades de Economia
Qualquer restrição ao direito subjetivo de livre locação, enfiteuse, concessão de direito real de
fruição, como a cobrança de pedágio nas uso); Os bens de uso comum do povo não
rodovias, acarreta a especialização do uso e, admitem utilização exclusiva por particular; já
quando se tratar de bem realmente necessário à os bens de uso especial admitem, tão somente,
coletividade, só pode ser feita em caráter a utilização exclusiva por intermédio dos
excepcional. instrumentos estatais de outorga (ex.:
autorização, permissão e concessão de uso).
Bens de Uso Especial: são destinados à
execução dos serviços públicos e assim Afetação e Desafetação dos Bens de Uso
classificados nas seguintes situações: Comum e Especial
a) Utilização pela Administração Celso Antônio Bandeira de Mello conceitua
(repartições públicas, veículos afetação como "a preposição de um bem a um
empregados pela Administração); dado destino categorial de uso comum ou
b) Utilizados por particular com especial, assim como a desafetação é sua
exclusividade por meio de ato unilateral retirada do referido destino. Os bens dominicais
(autorização e permissão de uso) ou são bens não afetados a qualquer destino
bilateral (concessão de uso); e público".
c) Os que possuem restrições ou para o
A afetação pode ocorrer naturalmente como no
qual se exige pagamento.
caso dos rios e os mares, ou por lei ou por ato
São características dos bens de uso comum e de administrativo que determine a destinação de
uso especial a inalienabilidade (não podem ser um bem dominial ou de uso especial ao uso
alienados enquanto estiverem afetados ao uso público, como a afetação de um terreno não
comum ou especial), a imprescritibilidade (não edificado, por lei municipal, como praça
corre prescrição contra esses bens - usucapião), pública.
a impenhorabilidade (não podem ser
Os bens que são naturalmente afetados ao uso
penhorados para assegurar o pagamento de
comum do povo não podem ser desafetados,
dívidas do Poder Público) e a impossibilidade
vez que são insuscetíveis de valoração.
de oneração (não podem ser afetados como
garantia na obtenção de empréstimos). Por sua vez, os bens que venham a ser afetados
por lei, ato administrativo ou fato
Bens Dominicais ou Bens do Patrimônio
administrativo são bens relativamente
Disponível: são aqueles que apesar de
inalienáveis, ou ainda, de alienabilidade
integrarem o patrimônio público, não são
condicionada, haja vista que deixam a categoria
aplicados nem ao uso comum nem ao uso
de inalienáveis e passam a ser passíveis de
especial, não afetados a qualquer destino
alienação quando perdem a sua destinação
público.
comum ou especial e passam a integrar a
Os bens dominiais possuem as características categoria de bens dominicais.
da impenhorabilidade, da imprescritibilidade e
A desafetação dos bens públicos depende, via
impossibilidade de oneração; no entanto,
de regra, de lei ou de ato administrativo, vez
conforme já assinalado, são bens alienáveis. A
que a afetação também decorrerá,
alienação pressupõe, como regra gerai,
normalmente, de lei ou ato administrativo.
autorização legislativa e licitação.
Também é possível que ocorra a desafetação
Quando surge o interesse estatal em facultar a
por fato administrativo, quando, por exemplo,
utilização desses bens por particulares, há que
um terremoto ou um incêndio destruir um
se distinguir os bens dominicais, dos bens de
prédio onde funcionava uma escola pública.
uso comum do povo e especial. Os primeiros
(dominiais) admitem a formalização de seu uso O que não se admite é a desafetação pela
por meio de institutos do direito privado (ex.: ausência de uso, como, por exemplo, no caso
de uma rua ou uma praça que deixaram de ser Administração legitima o uso de bem público
utilizadas. A desafetação só ocorrerá por ato de por particular.
hierarquia igual ou superior ao responsável pela
O STJ vem entendendo que as autorizações
afetação.
para o comércio ambulante são concedidas a
Uso de Bem Público Por Administrado título precário pela Administração, podendo,
assim, ser revogada a qualquer tempo, por não
Os bens públicos podem ser utilizados pelos
gerar direito adquirido (Informativo n° 237).
particulares, mas essa utilização será
diferenciada, de acordo com a afetação desses Permissão de Uso: é o ato unilateral,
bens. discricionário e precário por meio do qual a
Administração legitima a utilização exclusiva
de bem público por particular.
Conforme doutrina de Maria Sylvia Oi Pietro, é
Se diferencia da autorização por ser conferida
necessário diferenciar as maneiras de
no interesse da coletividade e por possuir uma
utilização, da seguinte forma:
precariedade mitigada em relação à
a) pelo critério da conformidade ou não da autorização.
utilização com o destino principal a que o bem
Concessão de Uso: é o contrato administrativo
está afetado, o uso pode ser normal ou anormal;
pelo qual a Administração legitima o uso
b) pelo critério da exclusividade ou não do uso, exclusivo de bem público a particular. Sendo
combinado com o da necessidade ou não do instrumento bilateral de ajuste de vontades, é
consentimento expresso da Administração, o mais estável.
uso pode ser comum ou privativo.
A concessão pode ser remunerada ou gratuita,
por tempo certo, mas deverá ser sempre
precedida de autorização legal e, normalmente,
de licitação para o contrato.
O contrato de concessão de uso de bem público
é conferido em razão da natureza da pessoa do
Essa utilização anormal deve ser precedida de concessionário, razão pela qual é intransferível
solicitação e deferimento da autoridade sem prévio consentimento da Administração.
competente, que decidirá discricionariamente. Concessão de Direito Real de Uso: é o contrato
Essa autorização estatal só deve ser admitida pelo qual a Administração transfere o direito
quando não venha a inviabilizar real de uso de terreno público ou do seu espaço
permanentemente o uso normal do bem aéreo, de forma remunerada ou gratuita.
público.
O contrato de concessão de direito real de uso
Atenção! O STJ vem entendendo (Informativo está regulado pelo Decreto-Lei n° 271/67 e é
n° 297) que a ocupação de terra pública não
passa de simples detenção de terra
transmissível por ato inter vivos ou mortis
irregularmente ocupada, não se admitindo a causa, mas reverterá à Administração
indenização por benfeitorias e o direito de concedente se o concessionário ou seus
retenção. sucessores não mantiverem o uso pactuado ou o
desviarem de sua finalidade.
Instrumentos Estatais de Outorga de Títulos
Jurídicos para Uso de Bens Públicos por A concessão, no entendimento de Hely Lopes,
Particulares substitui vantajosamente a maioria das
alienações de terrenos públicos, razão pela qual
Autorização de Uso: é o ato unilateral, que
deverá ser sempre preferida principalmente nos
independe de autorização legal e prévia
casos de venda ou doação. A concessão de
licitação, discricionário e precário pelo qual a
direito real de uso, tal como ocorre com a
concessão comum, depende de autorização 3°, inciso 1, firma que se aplicam o disposto
legal e de concorrência prévia, admitindo-se a nos arts. 55 e 58 a 61 (da Lei n° 8.666/93) e
dispensa desta, quando o beneficiário for outro demais normas gerais, no que couber, "aos
órgão ou entidade da Administração Pública. contratos de seguro, de financiamento, de
locação em que o Poder Público seja locatário,
Instrumentos de Privados de Outorga de Títulos
e aos demais cujo conteúdo seja regido,
Jurídicos para Uso Exclusivo de Bens Públicos
predominantemente, por norma de direito
por Particulares
privado".
Locação: diversos autores renomados indicam
Dessa forma, nos contratos de locação em que a
o contrato de locação como tipo de contrato
Administração for locatária não incidirá a regra
firmado pelo poder público que não é regido
estabelecida pelo art. 57, da Lei 8.666/93, que
pelo direito público, mas pelo direito privado.
estabelece 60 meses como prazo máximo para
Todavia, faz-se necessário diferenciar os
os contratos administrativos, já incluídas as
contratos de locação em que a Administração
eventuais prorrogações. Para a vigência
figura como locadora, daqueles em que ela
contratual e demais situações não contempladas
figura como locatária.
nos supra referidos arts. 55, 58 e 61, devem se
No que concerne aos contratos em que a União aplicar as regras previstas na Lei n° 8.245/91
é locadora de bem público imóvel, o (lei do inquilinato).
regramento está disposto no Decreto-Lei no
Enfiteuse dos Terrenos da Marinha
9.760/46, cujo artigo 86 autoriza que os bens
não utilizados em serviço público devem ser Enfiteuse é o instrumento que permite que a
alugados: União venha a atribuir a outrem o domínio útil
de terreno de marinha, mediante o pagamento
• para a residência de autoridades federais
de uma remuneração anual chamada de foro.
ou de outros servidores da União, no
Consiste na transferência da posse, do direito
interesse do serviço público;
de uso e gozo perpétuos, mas não da
• para residência de servidor da União,
propriedade do terreno de marinha.
em caráter voluntário;
• por quaisquer interessados. o art. 87 Era instituto previsto no antigo Código Civil,
determina que a locação "se fará mas hoje se encontra extinto, só sendo
mediante contrato, não ficando sujeito a admissível para os terrenos da marinha.
disposições de outras leis concernentes
Sempre que o enfiteuta optar pela venda do
a locação".
bem, deverá observar o direito de preferência
Trata-se, por óbvio, de locação de bens imóveis do senhorio direito; este, caso não venha a
públicos federais dominicais. exercê-lo, fará jus ao percebimento de um valor
chamado de laudêmio.
Por sua vez, o art. 89 estabelece que as
hipóteses de rescisão contratual ocorrerão por
ato administrativo auto executório federal,
retirando qualquer espécie de direito de
reparação para o locatário, salvo os referentes a
benfeitorias necessárias. Nessas hipóteses,
trata-se de típico contrato firmado pela
Administração e regido pelo direito público, em Transferência dos Bens Públicos entre
face da presença das cláusulas exorbitantes Entidades e Órgãos Públicos
garantidas pela legislação de regência.
É o ato de transferência gratuita entre
Quanto aos contratos de locação em que a repartições públicas, em que aquela entidade ou
Administração Pública celebra na condição de órgão que tem bens desnecessários aos seus
locatária, a Lei n° 8.666/93, em seu art. 62, § serviços cede o uso a outra que deles está
precisando, para utilização nas condições administrativa de 10m, não havendo que se
estabelecidas no termo, podendo retomá-lo a falar em desapropriação dessas áreas.
qualquer tempo ou recebê-lo no termo final do
Atenção! A Súmula 479, do STF, dispõe que
prazo fixado na cessão. “as margens dos rios navegáveis são de domínio
público, insuscetíveis de expropriação e, por
A cessão de uso entre órgãos da mesma isso mesmo, excluídas de indenização".
entidade não exige autorização legislativa e se
faz por simples termo e anotação no cadastro Terras Tradicionalmente Ocupadas pelos
patrimonial. Índios: nos termos do art. 20, inciso XI e art.
231, § 1°, da Constituição Federal, as terras
Bens Públicos em Espécie tradicionalmente ocupadas pelos índios
Terras Devolutas: o Decreto-Lei nº 9.760/46 pertencem à União e são consideradas bens
assegura um conceito residual, dispondo que públicos de uso especial, cujo uso e usufruto
caso uma terra não esteja afetada a um uso exclusivo são outorgados em caráter perpétuo
público federal, estadual ou municipal e aos índios.
nenhum particular apresente título de Rios: são públicos os rios navegáveis e
propriedade, será considerada devoluta. flutuáveis.
São bens dominicais e que pertencem, via de Pertencem à União:
regra, aos Estados. Pertencem à União as terras
devolutas indispensáveis à defesa das 1) Os que estão em seu domínio;
fronteiras, das fortificações e construções 11) Aqueles que percorrem mais de um Estado;
militares, das vias federais de comunicação e à
preservação ambiental (art. 20, II, CF). As 111) Os que forem limítrofes com outros
demais pertencem aos Estados. países;

Terrenos da Marinha: são as áreas banhadas IV) Aqueles que se estendem a território
pelas águas do mar ou dos rios navegáveis em estrangeiro ou dele provenham.
sua foz, estendem-se à distância de 33 metros Os demais rios públicos pertencem aos Estados.
para área terrestre contados da linha do preamar
médio (média das maiores marés) de 1831. Faixa de Fronteira: é a área de 150 km de
Pertencem à União, sendo o uso por largura que corre paralelamente à linha
particulares admitido. por enfiteuse. divisória do território nacional com países
estrangeiros.
Ilhas e rios que sofrem influência das marés
também possuem terrenos de marinha. Ilhas: a Constituição, em seu art. 20, inciso IV,
Considera-se influência das marés a oscilação define que são bens da União:
periódica das águas maior ou igual a sem.
1. As ilhas fluviais e lacustres nas zonas
Atenção! Terreno de marinha não se confunde limítrofes com outros países;
com praia, que é a área coberta e descoberta
pelas marés, seguida da área de detritos. lI. As ilhas oceânicas e as costeiras, excluídas
destas as que contenham a sede de Municípios,
Terrenos Reservados: são os banhados pelos
exceto aquelas áreas afetadas ao serviço
rios navegáveis que se estendem até a distância
público e à unidade ambiental federal, e as
de 15m para a terra. São de propriedade da
referidas no art. 26, II.
União, se o rio for federal, e dos Estados, se
estadual. O supracitado inciso II, do art. 26, define como
bens estaduais as áreas, nas ilhas oceânicas e
Se o proprietário ribeirinho provar a
costeiras, as quais estiverem no seu domínio,
propriedade mediante título legítimo de
excluídas aquelas sob domínio da União,
propriedade, submeter-se-á à servidão
Municípios ou terceiros.
Por fim, o Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias define que a ilha de Fernando de
Noronha integra o Estado de Pernambuco.

Ler as Súmulas nº 340 e 344 do STF e Súmulas


nº 38 do STJ.

Você também pode gostar