Você está na página 1de 26

Direito Penal I – Teoria do crime

Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Material de autoria do Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva e co-autoria do Prof. Walter Bressan

Proibido a publicação ou cópia parcial ou total deste material sem autorização expressa dos
autores.

DIREITO PENAL – TEORIA DO CRIME

1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Definição:
Direito Penal - É a denominação trazida pela CF (art. 62, § 1º, I, b):
“Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá
adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao
Congresso Nacional.
§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
[...]
b) Direito penal, processual penal e processual civil;”
Obs.: Expressão criticada por parte da doutrina (Ex. Basileu Garcia)

O conceito de Infração Penal pode variar de acordo com o enfoque:


o Sociológico ou dinâmico: “mais um instrumento de controle social de
comportamentos desviados, visando assegurar a necessária disciplina social, bem como
a convivência harmônica dos membros do grupo;

o Material: “comportamentos considerados altamente reprováveis ou danosos ao


organismo social, afetando bens jurídicos indispensáveis à sua própria conservação e
progresso.” (Cunha e Prado); e

o Formal ou analítico: “Conjunto de normas que qualifica certos comportamentos


humanos como infrações penais (crime ou contravenção), define os seus agentes e fixa
as sanções (pena ou medida de segurança) a serem-lhes aplicadas.” (Sanches Cunha).

1
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Características
o Manutenção da paz social - Propicia a regular convivência humana em sociedade por
meio de normas que estabelecem diretrizes (determinam ou proíbem determinados
comportamentos);

o Violadas as normas, surge o poder (dever) do Estado de aplicar as sanções;

o O que diferencia a norma penal das demais é a consequência jurídica;

o O Direito Penal deve ser aplicado de forma subsidiária e racional para preservação dos
bens mais relevantes.

Ciências do Direito Penal


o Ciência - Organização de métodos de interpretação das normas jurídicas. Correta
aplicação das referidas normas;

o Manifestações sociais da conduta criminosa e condições pessoais daquele que a pratica;

o Ciências penais - a delinquência como fato natural (apontar causas – observação e


experimentação);

o As ciências penais são integradas pela Criminologia e pela Política Criminal.

Criminologia
o Criminologia - Ciência empírica (abarca o estudo do crime, da pessoa do criminoso, da
vítima e do comportamento da sociedade);

o Causal-explicativa (retrata o delito enquanto fato – origens, razão da existência,


contornos e exteriorização);

o Engloba a biologia criminal, antropologia criminal, sociologia criminal, etc.

o Ciência empírica (abarca o estudo do crime, da pessoa do criminoso, da vítima e do


comportamento da sociedade);

o Causal-explicativa (retrata o delito enquanto fato – origens, razão da existência,


contornos e exteriorização);

o Engloba a biologia criminal, antropologia criminal, sociologia criminal, etc.

2
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
Política Criminal
o Trabalha as estratégias e meios de controle social da criminalidade (caráter teleológico);

o Sugere e orienta reformas legislativas.

Resumo
o Direito Penal – o crime enquanto norma.

o Criminologia – o crime enquanto fato.

o Política criminal – o crime enquanto valor.

Funcionalismo
Movimento da atualidade, é uma corrente doutrinária que visa analisar a real função do direito
penal. Não há pleno consenso sobre sua teorização, mas possui dois segmentos relevantes:
o Funcionalismo teleológico ou moderado (Claus Roxin): a função do direito penal é
assegurar bens jurídicos (valores indispensáveis à convivência harmônica em
sociedade), valendo-se de medidas de política criminal; e

o Funcionalismo sistêmico ou radical (Günther Jakobs): a função do direito penal é


assegurar o império da norma (resguardar o sistema), pois mostra que o direito penal
existe e não pode ser violado. O direito penal NÃO tem como função principal a
segurança de bens jurídicos, mas a garantia de validade do sistema, uma vez que a sua
atuação ocorre quando o bem jurídico já foi violado.

o Direito Penal do Inimigo: cuida de maneira própria daquele que é considerado infiel
ao sistema (não se aplica o direito, mas a coação e repressão necessária aos que perdem
o status de cidadão);

Prevalece o entendimento de que o Direito Penal assegura bens jurídicos (Birnbaum, 1834),
sem desconsiderar a missão indireta (controle social e limitação do poder punitivo do Estado)

Seleção dos Bens Jurídicos


o Os bens jurídicos tutelados são selecionados a partir da Constituição Federal (orienta o
legislador e limita sua atuação).

Categorias do Direito Penal


o Direito Penal substantivo - direito material; e

o Direito Penal adjetivo - direito processual.

3
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
Obs.: Importante lembrar que o direito processual é um ramo autônomo.
o Direito Penal objetivo ou jus poenale - conjunto de leis penais em vigor no país; e

o Direito Penal subjetivo ou jus puniendi - direito de punir do Estado – capacidade que o
Estado tem de produzir e fazer cumprir suas normas.

O Direito Penal subjetivo pode ser dividido em:

o Positivo - criar e executar as normas; e

o Negativo - capacidade de derrogar preceitos penais ou restringir o alcance das figuras


delitivas, atividade exercida de forma preponderante pelo STF.

o O poder de punir não é incondicionado (limitações de modo, lugar e tempo).

o O Estado é o titular do jus puniendi.

o A justiça privada é proibida, mas há exceção contida no art. 57 da Lei 6.001/73


(Estatuto do Índio).

o Direito Penal de Emergência - a sensação de insegurança gera uma demanda de


criminalização que resulta em normas de repressão, as quais, em muitos casos, afastam
o caráter fragmentário e subsidiário do direito penal – ignora as garantias do cidadão e
assume nítida feição punitivista.

o O legislador esquece da missão do direito penal e atua baseado na opinião pública (cria
novos tipos penais e/ou aumenta penas e restrições de garantias, para devolver a
sensação de tranquilidade).

o Possibilita a criação de leis com função meramente representativa (Direito Penal


Simbólico).

o O legislador esquece da missão do direito penal e atua baseado na opinião pública (cria
novos tipos penais e/ou aumenta penas e restrições de garantias, para devolver a
sensação de tranquilidade).

o Possibilita a criação de leis com função meramente representativa (Direito Penal


Simbólico).

4
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
o Direito Penal como Proteção de contextos da vida em sociedade (Günther
Stratenwerth) - enfoque máximo à proteção dos interesses difusos, da coletividade
(proteção das futuras gerações). A proteção dos interesses individuais é relegada ao
segundo plano.

o Direito Penal garantista (modelo de Luigi Ferrajoli) - A Constituição é o


fundamento de validade de todas as normas infraconstitucionais (respeito aos direitos
fundamentais).

o O garantismo estabelece critérios de racionalidade e civilidade à intervenção penal, uma


vez que deslegitima normas ou formas de controle social que se sobreponham aos
direitos e garantias individuais;

o Estabelece o objeto e os limites do direito penal nas sociedades democráticas.

Axiomas
o Nulla poena sine crimine;

o Nullum crimen sine lege;

o Nulla lex (poenalis) sine necessitate;

o Nulla necessitas sine injuria;

o Nulla injuris sine acione;

o Nulla actio sine culpa;

o Nulla culpa sine judicio;

o Nullum judicio sine accusatione;

o Nullum accusatio sine probatione;

Nulla probatio sine defensione

Privatização do Direito Penal


o Papel da vítima no âmbito criminal;

o Criação de institutos penais e processuais penais sob o enfoque da vítima (o interesse da


vítima prevalece sobre o poder de punir do Estado);

o Exemplo: Lei 9.099/95 (Juizados Especiais).

5
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
Velocidades do Direito Penal
Idealizada por Jesús-María Silva Sánchez (trabalha com o tempo que o Estado leva para
punir o autor da infração):
o 1ª Velocidade - Infrações penais mais graves (penas privativas de liberdade e
procedimento garantista);

o 2ª Velocidade - relativizado (penas alternativas e procedimento flexibilizado);

o 3ª Velocidade - penas privativas de liberdade e procedimentos flexibilizados.

6
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO PENAL

Introdução
• Origem -> organização do homem em sociedade.

• Tempos primitivos -> ausência de normas penais sistematizadas. O castigo não visava a
justiça, mas a vingança (revide = penas cruéis e desumanas).

• Vingança Penal: divina, privada e pública.

Vingança Penal
• Vingança divina:

O homem percebia o mundo de forma mitigada (misticismos e crenças em seres sobrenaturais).


Acreditava-se que os acontecimentos decorrentes das leis da natureza (ventanias, chuvas, secas,
etc.) eram provocados por divindades, que premiavam ou castigavam os homens pelos seus
comportamentos.
Sociedades totêmicas: os totens eram divindades com poderes infinitos que exerciam influência
direta na vida das pessoas. A pena (cruel e degradante) era imposta pelo grupo ao indivíduo que
descumpria as regras (ofensa ao “totem”), uma vez que temiam a retaliação por parte da
divindade.
• Vingança privada:

O crime ensejava uma reação punitiva por parte da própria vítima ou de pessoas ligadas ao seu
grupo social (deixa de ter relação com as divindades).
Diante da ausência de regulamentação, a reação era normalmente desproporcional à ofensa (em
muitos casos ultrapassava a pessoa do delinquente – conflitos entre coletividades).
Babilônia: o Código de Hamurabi (evolução social, mas ainda pautado na vingança) traz a regra
do talião (punição graduada para se igualar à ofensa – ideia de proporcionalidade, mas sem
evitar penas cruéis e desumanas). Havia distinção entre homens livres e escravos, estes tratados
como objetos (maior rigor).
O talião também foi utilizado na Lei das XII Tábuas (Tábua VIII, Inciso II).
• Vingança pública:

Maior organização societária e fortalecimento do Estado. Deixa-se de lado o caráter individual


da punição (perturbador da paz social) para que as medidas sejam impostas pelas autoridades
competentes.
Pena pública -> função principal de proteger a própria existência do Estado e do Soberano.
Delitos principais: os delitos de lesa-majestade, os crimes que atacassem a ordem pública, os
bens religiosos ou públicos.
As penas permaneciam cruéis e por muitas vezes atingiam descendentes por diversas gerações.

7
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Direito Penal Na Grécia Antiga


• Algumas obras filosóficas possibilitam a análise da legislação penal então existente.

• Evolução da vingança privada e religiosa para um período político (base moral e civil).

• Fundamento do direito de punir e razão da pena são questões debatidas pelos filósofos
(ex: Platão e Aristóteles).

Direito Penal em Roma


• Roma também viveu as fases da vingança até chegar na vingança pública. Assim como
os gregos, separou Direito e Religião.

• Divisão dos delitos em públicos (crimina publica), que consistiam nas violações aos
interesses coletivos (jus publicum – penas públicas), e privados (delicta privata),
lesando apenas interesses particulares (jus civile – penas privadas).

• Ainda fomentava penas cruéis e desumanas, mas em menor escala.

Direito Penal Germânico


• A doutrina considera como a fonte do Direito Penal da Transição (contribuição
inestimável para a evolução do Direito Penal).

• Frieldlosigkeit (pena mais grave – extremamente peculiar e não vista em outros


ordenamentos): quando a infração ofendia os interesses da comunidade, o agente perdia
o direito fundamental a vida (qualquer cidadão poderia matá-lo). Quando atingia apenas
uma pessoa ou família, a paz social era fomentada por meio da reparação, admitindo,
também, a vingança de sangue (faida).

Depois das invasões, o Direito Penal Germânico fica caracterizado pelo crescente poder do
Estado (a autoridade pública substitui a vingança privada). A paz, até então uma faculdade
do ofendido, passa a ser obrigatória e as condições são fixadas pelo Juiz-Soberano.
Direito Penal na Idade Média
• Período de retrocesso -> penas mordazes (caráter eminentemente intimidador).

• Tribunal da Santa Inquisição (cientistas e pensadores que divergissem do ideal católico


eram perseguidos e condenados a penas cruéis).

• Aspectos positivos -> penas privativas de liberdade (caráter reformador, embora não
fosse o objetivo primário). Análise do elemento subjetivo do delito.

• Século XVIII (Iluminismo): busca pela evolução das normas sancionadoras (Beccaria –
Dos Delitos e Das Penas).

• Após o período, surgem as escolas penais.

8
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Escolas Penais
• Diversos doutrinadores ou conjunto de doutrinadores que, em dado momento histórico-
político, investigaram alguns institutos (o crime, a pena, o delinquente, etc.). Pilares do
sistema penal de sua época.
• Em muitos casos a denominação “escolas” pode ser imprecisa ou generalizante (ex:
pensamentos divergentes dentro de uma mesma escola).
Escola Clássica
• Expoentes: 1. Gaetano Filangieri, Giovanni Carmignani, Domenico Romagnosi; 2.
Pellegrino Rossi, Francesco Carrara e Enrico Pessina.
• Crime -> ente jurídico (consiste na violação de um direito).
• Delinquente -> ser livre que pratica o delito por escolha moral, alheia a fatores externos.
• Pena: 1. prevenção de novos crimes (defesa da sociedade); 2. Necessidade ética
(reequilíbrio do sistema – inspiração em Kant e Hegel).
• Observação: reação ao absolutismo (fundada nos ensinamentos de Beccaria –
humanização da resposta do Estado).
Escola Positiva
• Expoentes: Cesare Lombroso, Enrico Ferri e Rafael Garofalo.
• Crime: Decorre de fatores naturais e sociais.
• Delinquente: não é dotado de livre-arbítrio (ser anormal sob as óticas biológica e
psíquica).
• Pena: defesa social com o objetivo de prevenção. A pena é indeterminada, pois deve ser
adequada ao criminoso para corrigi-lo.
• Garofalo vê a pena como forma de eliminar o criminoso grave (defesa da pena de
morte).
• Observações: doutrina determinista (introduziu a ideia do criminoso nato).
Terza Scuola Italiana
• Expoentes: Emanuele Carnevale, Berdardino Alimena e Giuseppe Impallomeni (ITA);
Alessandre Lacassagne, Tarde e Manouvrier (FRA).
• Crime: É fenômeno individual e social.
• Delinquente: Não é dotado de livre-arbítrio; não é um ser anormal.
• Pena: Função de defesa social (essência), embora também possua caráter aflitivo.
• Observações: é uma escola eclética, pois amparada em conceitos clássicos e
positivistas.

9
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Escola Penal Humanista


• Expoente: Vicenzo Lanza.

• Crime: desvio moral de conduta (o que não viola a moral não deve ser crime).

• Delinquente: o imputável (único passível de educação).

• Pena: forma de educar o culpado (pena = educação).

• Observações: Noção de “delinquência artificial” – o crime que não viola a moral.

Escola Técnico-Jurídica
• Expoentes: Karl Binding, Arturo Rocco, Vincenzo Manzini, Giacomo Delitala (1);
Maggiore, Bettiol, Petrocelli, Battagliani (2).

• Crime: relação jurídica de caráter tanto humano quanto social.

• Delinquente: dotado de livre-arbítrio e responsável moralmente.

• Pena: tem como objetivo castigar o delinquente (meio de defesa contra o perigo que o
agente representa).

• Observações: Aproxima-se da escola clássica; rechaça a filosofia no Direito Penal;


restabelece o caráter jurídico da Ciência Penal.

Escola Moderna Alemã


• Expoentes: Paulo Anselmo de Feuerbach, Franz Von Lizst, Van Hamel, Adolpho Prins.

• Crime: é simultaneamente ente jurídico e fenômeno de ordem humana e social.


Feuerbach – Nullum crimen sine lege; Nulla poena sine lege.

• Delinquente: Ser livre, mas condicionado pelo ambiente que o circunda. Não há
criminoso nato.

• Pena: Instrumento de ordem e segurança social; função preventiva geral negativa


(coação psicológica).

Escola Moderna Alemã


• Observações: Também conhecida como escola da política criminal; grande contribuição
para a repressão penal ao menor delinquente; distingue imputabilidade da liberdade de
querer. Seguidores: Eberhard Schmidt e Graf Zu Dohna, Mezger.

10
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Escola Correcionalista
• Expoente: Karl David August Röeder.
• Crime: Ente jurídico (criação da sociedade). Não é natural.
• Delinquente: ser anormal (portador de uma vontade reprovável).
• Pena: correção da vontade do criminoso e não retribuição ao mal, razão pela qual pode
ser indeterminada. Pena e medida de segurança são institutos dependentes.
• Observações: preconiza a ideia de ressocialização do delinquente. Adeptos na Espanha:
Giner de los Ríos, Alfredo Calderón e Pedro Dorado Montero.

Escola da Nova Defesa Social


• Expoentes: Filippo Gramatica e Marc Ancel.
• Crime: mal que desestabiliza o aprimoramento social.
• Delinquente: ser que precisa ser adaptado à ordem social.
• Pena: reação da sociedade com o objetivo de proteger o cidadão.
• Observações: caráter humanista (a ressocialização do criminoso é responsabilidade da
sociedade).

Direito Penal Brasileiro


• Início da colonização: Ordenações Afonsinas (mesmo regime jurídico vigente em
Portugal). Caráter religioso, com influência do Direito Romano.
• 1514: Ordenações Manuelinas. Manutenção das bases anteriores. Não define tipo ou
quantidade de pena (ato discricionário do Juiz).
• Compilação de D. Duarte Nunes Leão (Código de D. Sebastião ou Sebastiânico): Reúne
as leis (até então separadas) de difícil compreensão e interpretação por parte dos
cidadãos.

Direito Penal Brasileiro


• Ordenações Filipinas: vigorou por mais de 200 anos (a partir do século XVII).
Fundamentado em preceitos religiosos (Direito confundido com moral e religião).
Punição rigorosa aos hereges, apóstatas, feiticeiros e benzedores. Penas cruéis e
desumanas (objetivava infundir o temor pelo castigo).

11
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

• Independência: Código Criminal do Império (1824). Direito Penal protetivo e


humanitário (individualização da pena; agravantes e atenuantes; julgamento especial
para os menores de 14 anos). A pena de morte ficou limitada aos crimes praticados por
escravos. A ofensa à crença oficial do Estado foi tipificada como crime.

• Proclamação da República (1890): Código Criminal da República. Atentou para as


restrições impostas pela Constituição de 1891 (proibição das penas de morte e de
caráter perpétuo). Permitia as penas de prisão e de banimento (temporário), além da
suspensão de direitos. Instalação do regime penitenciário de caráter correcional.

• 1932: Consolidação das Leis Penais (Desembargador Vicente Piragibe).

• 1942: Código Penal (sistema básico de normas penais até os dias atuais, mas que teve a
parte geral reformulada em 1984).

Sistemas de punição evoluíram para tornar mais humana a execução da lei penal.
Observar a finalidade da pena.

12
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

2. FONTES DO DIREITO PENAL

Fontes – Introdução
• Fonte = procedência, origem, nascedouro.

• A norma penal é provida de características que indicam sua origem e forma de


manifestação.

• Qual a origem?

• Como se revela?

• Fonte material (produção) e fonte formal (conhecimento) do Direito Penal.

Fonte Material do Direito Penal


• O Estado é a fonte de produção da norma (órgão encarregado da criação do Direito
Penal).

• Artigo 22, I, da CF – União (regra)

• Exceção (possibilidade dos Estados-membros legislarem sobre questões específicas de


direito penal – necessidade de autorização por lei complementar): art. 22, parágrafo
único, da CF.

Fonte Formal do Direito Penal


• Instrumento de exteriorização (conhecimento ou cognição) do Direito Penal. A forma
como as regras se revelam.
• Classificação:
a) Imediata: a lei;
b) Mediata: costumes e princípios gerais de direito. Ato Administrativo (Flávio Augusto
Monteiro de Barros).
• Doutrina moderna (exigência de atualização do rol pós EC nº 45):
a) Imediatas: lei (único instrumento normativo capaz de criar infrações penais);
Constituição Federal (estabelece patamares para o Direito Penal – vinculam o
legislador); tratados e convenções internacionais de direitos humanos (caráter
vinculante); jurisprudência (súmulas vinculantes); Princípios; e complementos (norma
penal em branco).
b) Mediata: doutrina.

13
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
Fonte Informal do Direito Penal
• Costumes (comportamentos uniformes e constantes decorrentes da certeza de
obrigatoriedade).
• Os costumes não criam infrações penais, mas podem atuar como causas supra legais de
exclusão de ilicitude ou culpabilidade.
• Os costumes podem abolir infrações penais? (três correntes).
• 1ª Corrente: o costume é capaz de revogar a lei quando a infração penal deixa de
afrontar o interesse social. A ausência de reprovação social é tida como hipótese de
revogação formal e material da norma (desnecessário editar lei para revogar).
• 2ª Corrente: não se admite o costume abolicionista, mas quando o fato deixa de
contrariar o interesse social a lei não deve ser aplicada pelo Juiz. A lei foi materialmente
revogada, mas necessita da revogação formal.
• 3ª Corrente: somente uma lei pode revogar outra lei. Enquanto vigorar, a lei terá plena
eficácia (art. 2º da LINDB).

EMENTA: PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS.


CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL. VENDA DE CD'S
"PIRATAS". ALEGAÇÃO DE ATIPICIDADE DA CONDUTA POR
FORÇA DO PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO SOCIAL.
IMPROCEDÊNCIA. NORMA INCRIMINADORA EM PLENA
VIGÊNCIA. ORDEM DENEGADA. I - A conduta do paciente amolda-se
perfeitamente ao tipo penal previsto no art. 184, § 2º, do Código Penal. II -
Não ilide a incidência da norma incriminadora a circunstância de que a
sociedade alegadamente aceita e até estimula a prática do delito ao adquirir
os produtos objeto originados de contrafação. III - Não se pode considerar
socialmente tolerável uma conduta que causa enormes prejuízos ao Fisco
pela burla do pagamento de impostos, à indústria fonográfica nacional e aos
comerciantes regularmente estabelecidos. IV - Ordem denegada. (HC 98898,
Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI, Primeira Turma, julgado
em 20/04/2010, DJe-091 DIVULG 20-05-2010 PUBLIC 21-05-2010
EMENT VOL-02402-04 PP-00778 RTJ VOL-00216-01 PP-00404 RSJADV
jun., 2010, p. 47-50 RT v. 99, n. 901, 2010, p. 513-518).

14
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
Características da Lei Penal
• Características:

a) Exclusividade: apenas a lei define infrações penais e suas respectivas sanções;

b) Imperatividade: imposta a todos (independe da vontade de cada um);

c) Generalidade: todos devem acatar a lei penal (mesmo os inimputáveis); e

d) Impessoalidade: dirigida, de forma abstrata, a fatos (futuros) e não a pessoas (imposta a


todos os cidadãos, indistintamente).

a) Lei penal incriminadora: define as infrações penais e comina as respectivas penas. É


dotada de preceito primário (definição da conduta criminosa) e preceito secundário
(previsão da sanção penal aplicável).

• Exemplo: Ameaça

• b) Lei penal não incriminadora (lei penal em sentido amplo):

• b.1. Permissivas Justificantes: tornam lícitas determinadas condutas que, normalmente,


seriam passíveis de reprovação (Legítima Defesa, Estado de Necessidade, etc.).

• b.2. Permissivas Exculpantes: eliminam a culpabilidade (Exemplo: embriaguez


acidental completa – art. 28, § 1º, do CP).

• Art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio
simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:

• Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

b.3. Explicativas ou interpretativas: esclarecem determinados conceitos (conteúdo)


contidos na norma.
• Exemplo: Funcionário público

• Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora
transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

• b.4. Complementares: delimitam a aplicação das leis incriminadoras e fornecem


princípios gerais para a aplicação da lei penal (Exemplo: art. 5º do CP).

• b.5. Extensão ou integrativas: utilizadas para possibilitar a tipicidade de alguns fatos.


Como exemplos podem ser citados o art. 14, II (tentativa) e o art. 29 (concurso de
pessoas), ambos do CP.

15
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

3. CONCEITO DE CRIME

Existem três conceitos de crime: o conceito material, o conceito formal e o conceito


analítico (Nucci, Manual de direito penal, parte geral, parte especial, p. 160; 162).
a) Conceito material de crime: violação de um bem penalmente protegido. É
um critério ou parâmetro sobre o que o direito penal deve punir;
b) Conceito formal de crime: é a conduta proibida por lei decorrente da política
criminal adotada. É a visão do legislador sobre quais bens jurídicos devem
ser tutelados;
c) Conceito analítico: para alguns, também é denominado conceito formal e
constitui a essência do estudo do crime do direito penal, sem dúvida, a parte
mais importante tanto da parte geral como da especial.

Conceitos dados pelos doutrinadores: (conceito analítico de crime)


a) Crime é fato típico e antijurídico, sendo a culpabilidade um pressuposto de
aplicação da pena (Damásio de Jesus, Mirabete e Delmanto);
b) Crime é fato típico, antijurídico, culpável e punível (Basileu Garcia, Battaglini);
c) Crime é fato típico e culpável, estando a antijuridicidade dentro da própria
tipicidade (Miguel Reale Júnior, adotando a teoria dos elementos negativos do
tipo);
d) Crime é fato típico, antijurídico e punível, constituindo a culpabilidade o vínculo
do crime à pena (Luiz Flávio Gomes);
e) Crime é fato típico, antijurídico e culpável, incluindo os finalistas (Francisco de
Assis Toledo, Fragoso, Zaffaroni, Cezar Roberto Bittencourt, Luiz Regis Prado,
Maurach, Claus Roxin) e causalistas (Hungria, Frederico Marques, Aníbal
Bruno, Noronha, Manoel Pedro Pimentel) e também os adeptos da teoria social
da ação que desejam um ajuste entre o causalismo e o finalismo (Jescheck,
Wessels). Esse conceito é majoritário no Brasil e no exterior (Nucci, Manual de
direito penal, parte geral, parte especial, p. 161). Sob esse prisma, o menor de 18
anos não comete crime, pois falta a culpabilidade (imputabilidade).
Preferimos o conceito de crime como fato típico e antijurídico (posição bipartida),
entendendo a culpabilidade como pressuposto de aplicação da pena. Exemplo é o
homicídio. Matar alguém. Se atiro em alguém, existe previsão da lei ou do tipo, daí que
cometi fato típico. Não ajo com alguma excludente de antijuridicidade, daí que a minha
conduta é contrária à lei: fato típico e antijurídico.
Atenção:
Prevalece na doutrina o entendimento de que crime é fato típico, antijurídico e culpável.

16
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Infração penal: abrange crime e contravenção penal. Exemplo de contravenção: art. 62


da LCP: embriaguez: “apresentar-se publicamente em estado de embriaguez, de modo
que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia. Pena: prisão
simples de 15 dias a três meses, ou multa”.
Contravenção penal é uma espécie de infração penal de menor potencial ofensivo.
Também através da Lei de Introdução ao Código Penal, em seu art. 1º, existe uma
distinção sobre a forma de execução da pena. Se for crime, pena de reclusão e detenção
e multa. SE for contravenção, prisão simples mais multa.

Crime
Infração penal
Contravenção penal

Estrutura do crime: vamos analisar, agora, a forma de apresentação dos crimes da


parte especial (exemplos: homicídio do art. 121, roubo do art. 157 etc.).
Sujeito ativo do crime: é aquele que pratica o fato típico. Exemplo: no homicídio,
qualquer pessoa, pois qualquer pessoa pode praticar este crime. No estupro, o sujeito
ativo é o homem, pois exige conjunção carnal entre homem e mulher.

Sujeito passivo do crime: pode ser geral (constante), que é o Estado e particular
(eventual) que pode ser a pessoa física ou jurídica e ainda o próprio Estado ou a
coletividade. Em todos os crimes, o Estado é atingido como nos crimes contra a vida,
além da pessoa-vítima. Por exemplo, o art. 340 do Código Penal- CP trata da
comunicação falsa de crime ou contravenção, sabendo o agente que o fato não se
verificou. Quem é o sujeito passivo? O Estado, pois é o serviço de segurança que fica
prejudicado pela falsa comunicação de crime. Em todos os demais crimes, o Estado
sempre é o sujeito passivo, sempre estará sendo atingido pelo cometimento de algum
crime.

17
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

4. CAPACIDADE PENAL

a) Conceito: conjunto de condições para que o sujeito seja titular de direitos e


obrigações no campo penal;
b) Pessoas físicas e jurídicas: atualmente, tanto a pessoa física (o ser humano) pode
cometer um crime (exemplo: o homicídio) como a pessoa jurídica (por exemplo,
uma empresa). A própria Constituição Federal-CF, em seu art. 225, § 3º,
permitiu a penalização da pessoa jurídica. Como a mesma pode ser atingida?
Através de uma pena restritiva de direitos, como no caso de interdição da
empresa ou através de uma pesada multa (calculada em dias-multa). Por
exemplo, a Lei nº 9.605/98 que trata dos crimes contra o meio ambiente prevê
que são penas restritivas de direitos da pessoa jurídica, a suspensão de sua
atividade (por exemplo, se explora a extração de de ferro na Serra dos Carajás, o
juiz pode ordenar a paralisação dessa atividade), interdição temporária da obra
(uma empresa que está construindo uma rodovia como a Transamazônica,
desmatando, pode sofrer como pena a paralisação desta obra) e finalmente existe
a proibição de contratar o Poder Público. Outra particularidade desta lei é o art.
34 que veda, por exemplo, a pesca no período em que a pesca é proibida,
punindo com pena de um ano a três anos de detenção ou multa, ou ambas
cumulativamente.
2.1- Objetos do crime:
a) O objeto pode ser jurídico: objetividade jurídica: o bem ou interesse protegido
pela norma penal. Por exemplo, no latrocínio. Crime complexo: primeiro se
protege o patrimônio (objeto imediato) depois, o bem vida (mediato);
b) objeto material é o bem jurídico sobre o qual recai a conduta. Por exemplo:
no homicídio, a objetividade jurídica é a vida e o objeto material é também a
vida (há repetição do objeto jurídico e material). No crime de falsificação de
documento público do art. 297, do CP, o objeto jurídico é a fé pública e o objeto
material pode ser a cédula de identidade, com a colocação de outra fotografia.
2.2- Punibilidade:
É a consequência jurídica do crime. Com a violação da norma, surge ao Estado o
direito de punir (jus puniendi). A punibilidade não é requisito, isto é, não integra
o conceito de crime para a maioria da doutrina.
2.3- Crime e contravenção penal:
Não há regra fixa para se determinar se uma conduta é crime ou não. Isso
depende da aspiração social (anseio da sociedade). Atualmente, a tendência
18
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

5. CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES

a) Crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa. É o caso do homicídio.

b) Crime próprio: somente pode ser praticado por determinada categoria, mas
admite coautoria ou participação de pessoa comum. Exemplo infanticídio: a
mulher em estado puerperal pode matar o filho recém-nascido, mas pode haver
outra instigando-a a fazer isto (exemplo: o marido). Exie uma condição ou
qualidade especial.
c) Crime de mão própria: como o próprio nome diz, deve possuir a “mão) do
agente, ou seja, deve atar pessoalmente. Segundo Janaína Conceição Paschoal
(Direito Penal, parte geral, p. 67), mão própria é o crime que não admite
coautoria, mas tão-somente a participação. Ou, ainda, crime de mão própria é
aquele que deve ser cometido diretamente pela pessoa, não admitindo que outra
realize para outra pessoa.
Um exemplo é o crime de falso testemunho (art. 342) ou perjúrio, seguindo
jurisprudência dominante, não é possível a coautoria nesse tipo de delito pelo
advogado. Convém anotar que tal limitação se restringe a coautoria, admitindo a
participação (RTJ 75/104). Porém, alguns julgados, ao rotularem tal crime como
de mão própria, acabam por não admitir a coautoria e a participação (RT
601/321 e RT 570/289).
Outro exemplo é o crime de abandono intelectual (art. 246 do CP), já que não
pode ser praticado senão pelos pais e trata-se de conduta omissiva. Igualmente o
crime de abuso de autoridade na modalidade do art. 4º, d, da Lei nº 4.898/65,
pois somente o juiz poderá deixar de ordenar o relaxamento de prisão, não
permitindo que um não-juiz seja coautor. É possível nos tribunais que haja
coautoria de juízes, mas não descaracterizando o crime de mão própria.
Utilizando-se o critério de Damásio (Direito penal, parte geral, v. I, p. 132), o
elemento diferenciador seria a possibilidade de utilizar de interposta pessoa
para cometer o delito. Nos crimes próprios, segundo essa definição, seria
possível utilizar-se de outra pessoa (que não possui a qualidade a condição
pessoal) para o cometimento do crime. Já o crime de mão própria não admitira a
utilização dessa interposta pessoa.
Essa solução é didática no crime de mão própria, porque seria fácil explicar que
no extinto crime de adultério (art. 240 do CP) só cometeria o delito o cônjuge. A
questão técnica no crime de mão própria parece ser a exclusividade do polo
ativo do delito (só a pessoa que mente em juízo, só a pessoal casada que mantém
outro relacionamento, etc).

19
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

No crime próprio, alguns delitos permitiriam a inclusão de interposta pessoa: o


pai mandado pela mãe, no infanticídio. Portanto, didaticamente:

Crime comum e crime próprio


A classificação é de crime comum (qualquer pessoa) e crime próprio
(qualidade; de funcionário público no peculato ou condição de ser mãe no
infanticídio).
A classificação do crime de mão própria nada tem a ver com a de crime
comum e de crime próprio. Nesta, a diferença recai sobre a qualidade ou
condição do sujeito ativo.
Crime de mão própria e crime que não é de mão própria.
A classificação seria dos crimes de mão própria e dos crimes que não são
de mão própria. Nos e mão própria, haveria necessidade de a pessoa atuar
diretamente como autora ou coautora. Ludicamente, poderíamos afirmar que o
agente não pode ser preguiçoso e mandar o outro fazer. Se isso acontecer, isto é,
se a pessoa indicada deve realizar o tipo, mesmo com outra, o crime é de mão
própria.
Exemplo: não posso mandar alguém mentir para mim, pois devo
comparecer pessoalmente ao Fórum; logo, o crime é de mão própria. O crime é
comum, pois não exige condição: qualquer um pode testemunhar.
Outro exemplo: o infanticídio é dito crime próprio, pois deve ser praticado
pela mãe. Todavia, admite-se que a mãe mande o pai realizar o infanticídio.
Logo, é crime próprio e crime que não é de mão própria.
É errada a antiga noção de que não se admite participação. Assim, no
atestado ideologicamente falso (art. 302), o crime é próprio (ser médico) e de
mão própria, pois o médico deve atuar diretamente (dar o atestado). Nada
impede que o paciente seja participe (induzir) e a secretária coautora (redigiu e
colocou o carimbo).

d) Crime habitual: exige habitualidade para a consumação, ou seja, deve haver


uma prática reiterada e contínua, não bastando que a conduta seja feita em
apenas uma ocasião. Exemplo: casa de prostituição (art. 229 do CP).
e) Crime de dano: é o que se consuma com a efetiva lesão do bem jurídico tutelado.
Por exemplo, no roubo, o bem patrimônio deve ser efetivamente atingido.
f) Crime de perigo: é o que se consuma com a possibilidade de dano ou com o
simples perigo. Exemplo: perigo de contágio venéreo do art. 130 do CP. Pode
ser perigo individual (indivíduo ou grupo) ou coletivo (número indeterminado

20
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
de pessoas). Pode ser ainda perigo abstrato (presumido) ou concreto (deve ser
provado).

g) Crime de ação única: contém apenas uma modalidade de conduta (aqui se


entende verbo). Exemplo: no homicídio, existe uma única conduta descrita:
matar alguém (art. 121 do CP).
h) Crime de ação múltipla: contêm tipos alternativos ou múltiplos, fornecendo mais
de uma conduta. O exemplo típico é do art. 33 da Lei de Tóxicos, que contém
vários verbos: adquirir, transportar, ter em depósito, vender, guardar, etc.
i) Crime falho: incide na tentativa perfeita. O agente esgota todos os meios para
consumar o crime, mas não consegue. Exemplo: o agente descarrega as balas de
uma metralhadora na pessoa e esta ainda sobrevive. Ele, o agente, julga que
tinha liquidado a vítima.
j) Crime profissional: é aquele praticado por profissional, valendo-se da atividade
para praticar. Exemplo: o médico que realiza o aborto (vale-se do conhecimento
médico para realizar manobras abortivas).
k) Crime funcional: é o praticado por funcionário público. Exemplo concussão
(exigência de dinheiro para não realizar ato – art. 316 do CP).
l) Crime consumado: onde se reúnem todos os elementos de sua definição legal. O
conceito é extraído do art. 4, inc. I, do CP. Exemplo: no homicídio, o crime se
consuma com a morte da vítima.
m) Crime tentado: é aquele em que, iniciada a execução, não se consuma o crime,
por circunstâncias alheias à vontade do agente. Exemplo: no homicídio, dispara
cinco tiros, mas não mata a vítima. Seu desejo era matar, mas ocorreram
circunstâncias que impediram a morte (exemplo: ser socorrido prontamente no
nosocômio).
n) Crime exaurido: é o que, depois de consumado, atinge suas últimas
consequências, lesivas ou não. Exemplo: extrosão mediante sequestro (art. 159
do CP) e o pagamento do resgate.
o) Crime impossível: é aquele impossível de se consumar em razão da ineficácia
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto (art. 17 do CP). Por
exemplo

21
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

PLANO DIREITO PENAL I


Faculdade DIREITO
Nome da Disciplina DIREITO PENAL I
Carga Horária 060
Carga Aula 060
Créditos 04

Ementa Conceito de Direito Penal, história e escolas penais. As fontes do Direito


Penal. A lei penal e sua aplicação. Conceito de crime. Tipicidade. Tipo
doloso, culposo, consumado e tentado. Erro de tipo. Antijuridicidade.
Culpabilidade. Concurso de pessoas. Pendências atuais e correlações
com Direitos indígenas, negros, afrodescendentes, direitos destinados à
proteção das mulheres, idoso e Direito Ambientais.
Objetivos Fornecer aos alunos conhecimento da estrutura, princípios e técnica do
direito penal brasileiro a partir do estudo da teoria geral do crime,
focando a análise dos elementos estruturantes da definição enquanto
conduta típica, antijurídica e culpável.
Conteúdo UNIDADE I - ESCOLAS PENAIS E HISTÓRIA DO DIREITO PENAL Tempos
Programático primitivos. Fases da vingança. Direito penal dos hebreus. Direito
Romano. Direito Germânico. Direito Canônico. Direito Medieval. Direito
Humanitário. Escola Clássica. Período Criminológico e Escola Positiva.
Escolas mistas e tendências contemporâneas. Direito Penal no Brasil.
UNIDADE II - CONCEITO DE DIREITO PENAL Conceito, denominação e
caracteres do Direito Penal. Direito Penal objetivo e subjetivo. Direito
Penal Comum e Especial. Direito Penal Adjetivo e subjetivo. UNIDADE III
- FONTES DO DIREITO PENAL Conceito. Fontes formais e materiais.
Analogia. UNIDADE IV - LEI PENAL Caracteres. Classificação. Norma Penal
em branco. Interpretação da Lei Penal. Espécie e elementos da
interpretação. Vigência e revogação da Lei Penal. Contagem do prazo.
UNIDADE V - APLICAÇÃO DA LEI PENAL Princípio da Legalidade. Lei penal
no Tempo. Lei penal no espaço. Lei Penal em Relação às pessoas que
exercem função pública. Imunidades Parlamentares e diplomáticas.
Imunidades absolutas e relativas. UNIDADE VI - CRIME Conceito de
crime. Conceito material e formal. Crime e contravenção. Classificação
das infrações penais. UNIDADE VII - FATO TÍPICO Elementos do fato
típico. A conduta. Conceito; características e elementos da conduta.
Imputação objetiva. Teoria da conduta. Formas de conduta: ação e
omissão. Caso fortuito e força maior. O resultado. Conceito e teorias
sobre o resultado. Crime sem resultado. A relação de causalidade. A
teoria da equivalência dos antecedentes. Causalidade na omissão.
Superveniência causal. Tipicidade Tipo legal e fato concreto. Fases da
tipicidade. Tipicidade e antijuridicidade. UNIDADE VIII - AÇÃO E
OMISSÃO. DOLO, CULPA E PRETERDOLO Conceito de ação e omissão;
Conceito, e Natureza do Dolo, Teorias do Dolo, elementos e espécies de
22
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
dolo; Conceito, estrutura e elementos do crime culposo; Imprudência,
Negligência e Imperícia. Espécies e grau de culpa; Previsibilidade
Objetiva; Excepcionalidade do tipo culposo; Crimes Preterdolosos.
Conceito. Nexo subjetivo e normativo. UNIDADE IX - CRIME
CONSUMADO E TENTADO Consumação; iter criminis e tentativa;
Elementos, punibilidade e inadmissibilidade da tentativa; Desistência
voluntária; Arrependimento eficaz; Arrependimento posterior; Crime
impossível; Crime putativo; Crime provocado. UNIDADE X - ERRO DE
TIPO Conceito. Erro sobre os elementos do tipo; Erro provocado por
terceiro; Erro culposo; Erro sobre pessoa. UNIDADE XI -
ANTIJURIDICIDADE Conceito; Antijuridicidade material e formal; Caráter
da Antijuridicidade. Exclusão da antijuridicidade. Causas supra legais de
exclusão da antijuridicidade. Estado de necessidade. Legitima defesa;
Estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito.
Excesso nas justificativas. Excesso doloso e culposo. UNIDADE XII -
CULPABILIDADE Teorias e conceitos. Elementos da culpabilidade.
Exclusão da culpabilidade. A imputação. A potencial consciência da
ilicitude. A exigibilidade de conduta diversa. Erro de proibição. Coação
moral irresistível. Obediência hierárquica. Menoridade. Emoção e
paixão. Embriaguez. UNIDADE XIII - CONCURSO DE PESSOAS Introdução.
Teorias. Causalidade física e psíquica. Requisitos. Autoria, co-autoria e
participação. Autoria mediata, colateral e incerta. Concurso de pessoas e
crimes omissivos. Co-autoria em crimes culposos. Cooperação dolosa
distinta. Punibilidade no concurso de agentes. Qualificadoras e
agravantes. Concurso e circunstâncias do crime. Concurso e execução do
crime. UNIDADE XIV - O PLANO PENAL DE PROTEÇÃO ÀS MINORIAS. O
plano legislativo de proteção às Minorias. I - As leis 7716/89 e 2889/56,
reguladoras respectivamente, dos crimes resultantes de preconceito de
raça ou cor e de prevenção ao genocídio.
Referências 1. PAULO AMADOR THOMAZ ALVES DA CUNHA BUENO. DIREITO PENAL
Bibliográficas PARTE GERAL: LINK: MANOLE, 2012.
Básicas 2. JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL. DIREITO PENAL PARTE GERAL 2A
EDIÇÃO ATUALIZADA E AMPLIADA: LINK: MANOLE
3. EDITORIA JURÍDICA DA EDITORA MANOLE (ORG.). CONSTITUIÇÃO
FEDERAL CÓDIGOS CIVIL PROCESSO CIVIL PENAL PROCESSO PENAL
LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR E SÚMULAS DO STF E DO STJ 2011: LINK:
MANOLE, 2011.
Referências 1. PAULO AMADOR THOMAZ ALVES DA CUNHA BUENO. DIREITO PENAL
Bibliográficas PARTE GERAL: LINK: MANOLE, 2012.
Complementar 2. ORG: CARLOS EDUARDO GUERRA/ RICARDO LODI RIBEIRO. COLEO 80
DIREITO UERJ DIREITO PENAL 1 EDIÇÃO: LINK:FREITAS BASTOS, 2015.
3. JANAINA CONCEIÇÃO PASCHOAL. DIREITO PENAL PARTE GERAL 2A
EDIÇÃO ATUALIZADA E AMPLIADA: LINK: MANOLE.
Metodologia de Método básico utilizado no processo instrucional é o de Exposição
Ensino Dialogada. Dependendo do evento de aprendizagem a ser ensinado, os
alunos desenvolveram trabalhos individuais e em grupos, tais como:
Leitura Dirigida; Estudo de Casos, e Resolução de Exercícios. Poderão ser
utilizados os seguintes recursos didáticos: 1) Quadro Branco; 2) Textos;
23
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
3) Recortes de Jornais, e 4) Livros didáticos.
Critérios de A avaliação dos alunos ocorrerá durante todo o processo de
Avaliação desenvolvimento do curso, valorando-se a participação nas atividades
desenvolvidas em aula, com vistas à maior interação professor/aluno e à
fixação dos conceitos discutidos em aula. O aproveitamento do aluno
durante o semestre será aferido por meio de conceitos e pontos
distribuídos a critério do professor e a necessidade verificada ao longo
do semestre, obedecendo aos seguintes parâmetros institucionais:

Critérios de Avaliação Padrão:


AV1 corresponde ao primeiro bimestre letivo do semestre e
equivale a 60% (sessenta por cento) do total da Nota Final;
AV2 corresponde ao segundo bimestre letivo do semestre e
equivale a 40% (quarenta por cento) do total da Nota Final.
A Nota Parcial AV1 é composta de:
AV1 = [ 6,0 (avaliação bimestral) + 4,0 (atividades diversas) ]
10

A Nota Parcial AV2 é composta de:

AV2 = [ 6,0 (avaliação bimestral) + 2,0 (atividades diversas) + 2,0 (avaliação


Multidisciplinar ]
10

A Nota Final é calculada da seguinte forma:

NF = [ AV1 + AV2 ]
10

Estão Aprovados os discentes que atinjam média igual ou superior a


6,0(seis) na Nota Final;
Caso o discente tenha atingido a média superior a 3,0 (três) e inferior a
6,0(seis) na Nota Final, poderá fazer a Avaliação AV3.
A frequência às aulas é obrigatória, exigindo-se do aluno o mínimo de
75% de frequência da carga horária efetivamente ministrada na
disciplina, sob pena de reprovação.
▪ Os alunos cujos nomes não estiverem nas pautas não poderão assistir
às aulas, e os que já tiverem atingido 25% de faltas da carga horária
prevista não poderão realizar provas e trabalhos acadêmicos enquanto
não regularizarem sua situação no Departamento.
▪ É obrigatória a indicação das fontes bibliográficas na realização de
eventuais trabalhos, cuja entrega só poderá ser feita, por escrito,
diretamente ao professor.
▪ Não haverá arredondamento de notas.
▪ As provas não comportarão consultas, nem poderão ser feitas a lápis,
lapiseira e caneta vermelha.

24
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva

Em casos excepcionais o professor poderá autorizar, na primeira


avaliação, a utilização de Lei Seca, sendo o aluno responsabilizado com a
atribuição de menção SR caso porte ou mantenha a seu alcance material
não autorizado.
▪ A menção final será obtida a partir da média aritmética das notas
aferidas nas 1ª e 2ª menções.
▪ As provas substitutivas serão sempre cumulativas, nos moldes das
anteriores, e aplicadas ao final do semestre.
▪ O aluno poderá solicitar ao Departamento revisão de menção, no
prazo de 48h, apresentando as razões fundamentadas do recurso com o
original da prova recorrida.

Programa de 01. AULA INAUGURAL. APRESENTAÇÃO DO PROGRAMA E ESTRATÉGIA


Atividades DE ENSINO. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E COMPLEMENTAR
02. DEFINIÇÕES DE DIREITO PENAL. FUNÇÕES, OBJETIVOS E LIMITES.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA E COMPLEMENTAR
03. BEM JURÍDICO. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
04. BEM JURÍDICO E CÓDIGO PENAL. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
05. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL. BIBLIOGRAFIA
BÁSICA E COMPLEMENTAR
06. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL. BIBLIOGRAFIA
BÁSICA E COMPLEMENTAR
07. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL. BIBLIOGRAFIA
BÁSICA E COMPLEMENTAR
08. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO DIREITO PENAL. BIBLIOGRAFIA
BÁSICA E COMPLEMENTAR
09. CONCEITO DE CRIME. CRIME E CONTRAVENÇÃO. BIBLIOGRAFIA
BÁSICA E COMPLEMENTAR
10. CONCEITO DE CRIME. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
11. CONDUTA. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
12. CONDUTA. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
13. CONDUTA. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
14. CONDUTA. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
15. TIPICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
16. Aplicação da primeira Verificação de Aprendizagem.
17. TIPICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
18. TIPICIDADE E ITER CRIMINIS. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
19. TIPICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
20. ANTIJURIDICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
21. ANTIJURIDICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
25
Direito Penal I – Teoria do crime
Prof. MSc. Rodrigo Lélis Neiva
22. ANTIJURIDICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
23. ANTIJURIDICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
24. ANTIJURIDICIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
25. CULPABILIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
26. CULPABILIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
27. CULPABILIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
28. CULPABILIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
29. CULPABILIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
30. CULPABILIDADE. BIBLIOGRAFIA BÁSICA E BIBLIOGRAFIA
COMPLEMENTAR
31. APLICAÇÃO DA SEGUNDA VERIFICAÇÃO DE APRENDIZAGEM.
32. CULPABILIDADE. CORREÇÃO DE EXERCÍCIOS E ENTREGA DAS NOTAS.
BIBLIOG. BÁSICA E BIBLIOG. COMPLEMENTAR.

26

Você também pode gostar