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ESCOLAS DA TGIP

Constança Maia de Andrade Castela

ESCOLA CLÁSSICA (von Liszt e Beling) - sistema de tipo indiciador, objetivo e descritivo.
● AÇÃO - basta uma voluntariedade formal do comportamento, independentemente da
vontade se dirigir à espécie de ação desenhada legalmente. Assim, o conteúdo concreto
da vontade era algo que não impediria a qualidade de ação do facto1, tendo em conta que
a vontade é uma causa de movimentos corpóreos numa perspetiva naturalística;
➔ Ação Causal - a ação era uma expressão corporal associada a uma modificação
do mundo exterior comandada pela vontade (MFP - o comportamento humano
tem como base uma enervação neuromuscular que permite alterar/causar uma
modificação do mundo exterior) - naturalista, causal, descritiva e objetiva;
➔ MFP - crime enquanto comportamento voluntário, dominado ou dominável pela
vontade, implicando uma certa compreensão do sentido de voluntariedade do
comportamento;
❖ Ex.: o disparo de uma arma contra alguém, devido a um choque elétrico,
que produziu, no agente, um ato de reflexo, não é matar;
➔ O primeiro juízo de verificação do facto2 bastava-se com uma constatação mínima
de voluntariedade;
➔ Para efeitos de responsabilidade penal, a ação é o elemento externo e objetivo de
um comportamento voluntário;
➔ Omissões - de difícil enquadramento porque falta o momento exterior e causal;
➔ Automatismos - não resolve este problema porque o que está em causa é a lógica
da causalidade, sendo que, a partir do momento em que haja um comportamento
voluntário, teríamos sempre uma ação.
● TIPICIDADE - comanda a ordem das valorações, sendo a ilicitude e a culpa
necessariamente enquadradas aqui;
➔ Beling - inicialmente, este era um verdadeiro elemento do conceito de crime e um
juízo autónomo, sendo que o crime seria a ação correspondente ao facto descrito
na norma, contrário ao Direito e culposo. Aqui, o crime seria um comportamento
externo-objetivo, adequado à descrição do facto na lei penal. Quanto ao tipo, este
era descritivo e objetivo;
➔ 1ª Fase - a tipicidade era uma verificação da correspondência do aspeto
externo-objetivo do facto à lei (tipo descritivo), visto que a constatação da
adequação do facto à lei era um mero juízo de facto sem ponderação valorativa;
❖ Antijuridicidade - momento normativo da afirmação da ilicitude do facto,
surgindo, depois, a culpa, onde se valorariam os momentos subjetivos do
facto (relação de voluntariedade psicológica do autor com o facto);

1
Condição primeira da qualificação de um ao humano como crime.
2
Base de qualificação de um facto como crime.
❖ Binding (Teoria das Normas) - a lei penal não seria, verdadeiramente,
uma norma, sendo apenas uma mera sanção de normas contidas noutros
setores do ordenamento jurídico. Não obstante, a ilicitude penal resultaria
da violação dessas outras normas (caráter secundário e sancionatório).
No entanto, Beling encarava a norma como um elemento
formulado/implícito do ordenamento jurídico geral.
➔ 2ª Fase - aqui, a tipicidade já não seria uma valoração/qualidade do facto
criminoso, passando a ser uma espécie de antecipação das qualidades que
definiriam o crime, passando o tipo a ser objetivo e subjetivo (antecipa a
valoração da culpa - conceção de tipo indiciador);
❖ Tipo - referência necessária de contrariedade ao Direito (quadro legal da
descrição do facto);
❖ Concretização antecipada da ilicitude e da culpa, não um quid autónomo.
➔ Distinção entre tipo indiciador de ilicitude e tipo de ilícito:
❖ Tipo Indiciador de Ilicitude - o primeiro momento para a qualificação do
facto como crime é enquadrar o facto concreto no facto legal, num plano
lógico (não produz verdadeiros juízos de valor). A ilicitude só se analisaria
num segundo momento, sendo a tipicidade a verificação de um indício de
crime;
❖ Tipo de Ilícito - a tipicidade é o indício e a fonte de antinormatividade,
fundamentando, por si, a ilicitude do facto (princípio e fim do juízo
valorativo).
➔ Beling - a qualificação de um facto como crime implica a correspondência entre o
facto descrito legalmente e o facto concreto, sendo a mesma um momento do
juízo global, instrumental do juízo da ilicitude. Assim, este queria alcançar um
método objetivo e rigoroso, para que a definição do caráter criminoso do facto
concreto seja um método científico próximo do utilizado pelas ciências naturais,
sendo que a tipicidade servia esta finalidade.
● ILICITUDE - contrariedade ao Direito do facto, sendo um juízo de desvalor com
dimensão negativa (ex.: o facto concreto de alguém ter produzido a morte de outrem é
proibido);
➔ Beling - a diferença entre tipicidade e ilicitude residia no facto de que, na
primeira, o facto era apenas o tipo legal de crime que se contrapunha ao
acontecimento concreto e, na segunda, o facto é toda a ordem jurídica;
❖ Juízo que implica uma avaliação do confronto do facto com todas as
proibições e permissões que o mesmo suscitaria;
❖ Adequada ao cariz sancionatório e secundário do Direito Penal, inerente à
teoria das normas de Binding.
➔ Valoração Objetiva da Ação - formal e neutra.
● CULPABILIDADE - análise da parte espiritual/psicológica do facto, sendo apenas
analisada na última fase;
➔ Elementos da Culpa:
❖ Dolo - comportamento próximo do comportamento intencional, que pode
ser dolo necessário, direto ou eventual;
❖ Negligência - conjugação da previsibilidade de um certo resultado com a
evitabilidade do mesmo (falta de orientação do comportamento de acordo
com as regras da prudência).
➔ Também incluía as situações de falta de imputabilidade de culpa (incapazes,
menores, anomalia psíquica), sendo a imputabilidade o pressuposto da culpa;
➔ O juízo de culpabilidade seria descritivo, tendo em conta que é a constatação
desses nexos psicológicos, não consubstanciando a valoração verificada na
ilicitude.
● PUNIBILIDADE - factos contextuais que condicionam o interesse punitivo do Estado,
quanto a condutas que seriam crimes (ilícitos culposos), devido às suas características
intrínsecas, mas que não é necessário punir.
➔ Quando estiver associada a condições de punibilidade previstas num tipo legal de
crime, é um momento autónomo e ulterior da qualificação, como é o caso do art.
5º/1, b) e f), CP;
➔ Também tem a função de adaptar/conformar as categorias da ilicitude e da culpa
às exigências político-criminais, como é o caso da carência efetiva de tutela penal
- juízo sem momento certo na qualificação do facto como crime/qualificação
adicional e seletiva de outras qualificações.

ESCOLA NEOCLÁSSICA ( Mezger e Engisch)


● AÇÃO - função muito mais limitada e, segundo MFP, quase irrelevante, na perspetiva da
sua função sistemática (de base de apoio das valorações), mas não se desprezava,
totalmente, o conceito de ação (ação mecanicista). Aqui, o legislador e o intérprete têm
liberdade de criar, de acordo com as perspectivas culturais e os interesses a proteger,
figuras desligadas da estrutura normal dos nossos comportamentos, de uma forma
objetiva - ação como projeção da violação da norma;
➔ Ação Social - comportamento significativo, que pode englobar omissões,
antecipando as valorações da ilicitude e da culpa e projetando-as;
❖ Comportamento Socialmente Relevante - necessário para o
comportamento ser considerado crime (tudo o que depender de critérios
valorativos), tendo uma finalidade objetiva, que corresponde a
comportamentos adequados às leis;
❖ MFP - ações e omissões não são a mesma coisa, porque as omissões são
apenas uma ação potencial contra-fática, sendo que, o que define a
ilicitude é a exigência pelo direito dessa ação contra-fática que evite a
lesão do bem jurídico. Esta exigência só tem cabimento nas omissões
porque, pré-juridicamente, são diferentes das ações, havendo uma
diferença ontológica.
➔ O conceito de ação não tem a perspetiva de que existe uma espécie de
manifestação dos objetos de valoração pré-jurídicos, que condicione as valorações
mencionadas na Escola Clássica, baseando-se, aqui, numa conceção neokantiana
(Kant, considerava que a realidade, enquanto objeto do conhecimento, seria
inatingível, sendo que cada sujeito só poderia conhecer a partir das categorias da
sua própria racionalidade) - a ação só pode partir do sujeito;
➔ A responsabilidade criminal vai de encontro com os fins das penas, tendo de
haver um significado de base censurável (a censurabilidade depende das
finalidades do sistema, dos valores do sistema penal e da racionalidade do sujeito,
de acordo com os elementos culturais que dispõe). Assim, a antecipação da
responsabilidade e a construção de comportamentos puníveis, só estão limitadas
pelos valores culturais/princípios jurídicos, não havendo uma necessária
adequação entre normatividade e a estrutura prévia dos comportamentos;
➔ Ação Social - comportamento significativo, que pode englobar omissões,
antecipando as valorações da ilicitude e da culpa e projetando-as;
❖ Comportamento Socialmente Relevante - necessário para o
comportamento ser considerado crime, tendo uma finalidade objetiva, que
corresponde a comportamentos adequados às leis (crime é tudo o que
depende de critérios valorativos);
❖ MFP - ações e omissões não são a mesma coisa, porque as omissões são
apenas uma ação potencial contra-fática, sendo que, o que define a
ilicitude é a exigência, pelo direito, dessa ação contra-fática que evite a
lesão do bem jurídico. Esta exigência só tem cabimento nas omissões
porque, pré-juridicamente, são diferentes das ações, havendo uma
diferença ontológica.
➔ O comportamento doloso e negligente não tem de ser equiparado em termos de
relevância, não tendo de obedecer a alguma fronteira ontológica;
➔ O mundo objetivo exterior não era cognoscível e o mundo dos valores seria
autónomo, fazendo parte de uma outra esfera (não havia uma total analogia entre
o mundo dos valores e o mundo dos objetos sensíveis - dualismo irredutível);
➔ Problema (MFP) - a filosofia dos valores tende a condicionar o objeto da
valoração em função da valoração, havendo uma multiplicidade de objetos de
valoração que não correspondem aos comportamentos conhecidos desde sempre
(falta de um apoio sistemático);
➔ Automatismos - não resolve este problema porque o que está em causa é a lógica
da causalidade, sendo que, a partir do momento em que haja um comportamento
voluntário, teríamos sempre uma ação.
● TIPICIDADE - defende a conceção de tipo de ilícito, sendo o tipo legal uma valoração
de comportamentos lesivos de bens jurídicos, atingindo-se o resultado final da
qualificação jurídica do facto com a descoberta dessas valorações;
➔ Nega qualquer momento de puro juízo de facto na qualificação jurídica;
➔ Remete todo o juízo sobre o caráter criminoso do facto para uma valoração de
contrariedade à norma legal;
➔ Conceito de Crime Tripartido - define o crime como uma ação típica, ilícita e
culposa mas, por força da sua desvalorização do conceito de ação, releva a
tipicidade;
➔ É uma espécie de anti-normatividade, continuando a aceitar-se a conceção da
ilicitude como contrariedade à ordem jurídica no seu conjunto, sendo que era aqui
que se concretizava a ilicitude, ou seja, era mista;
➔ Elementos de Facto Objetivos - é a regra, mas alguns tipos necessitam de
elementos subjetivos (elementos subjetivos da tipicidade/ilicitude), como é o caso
do crime tentado (na tentativa, se não existir intenção não dá para concretizar a
anti-normatividade);
➔ MFP - a tipicidade não é apenas o produto de uma valoração em concreto, sendo
que deve haver um primeiro momento, na qualificação de um facto como crime,
em que se averigua a possibilidade de uma ulterior imputação. Ora, afirmar a
tipicidade não implica imputar definitivamente, sendo apenas a verificação dos
pressupostos lógicos e fácticos de uma possível imputação, através de uma leitura
social de um facto e da análise da sua coincidência lógica e social com o facto
descrito na norma.
❖ Quando se fala de tipo indiciador, também se tem em vista a indiciação do
ilícito do facto (todos os pressupostos da punição que têm de estar fixados
na lei penal), havendo um momento de antecipação do facto proibido
(ilícito penalmente relevante);
❖ Não concorda, por razões valorativas e sistemáticas, com a consideração
de causas de justificação como elementos negativos do tipo, que funde a
afirmação da ilicitude típica com a sua exclusão - a afirmação da ilicitude
típica é a constatação da violação de uma norma de valoração e proteção
de um bem, sendo que, a exclusão da ilicitude por uma causa de
justificação é uma valoração positiva excecional do facto ou, então, uma
afirmação de um contra-valor neutralizante da violação da
norma/valoração.
● ILICITUDE - o facto é ilícito quando está em contradição com a própria proibição
penal;
➔ Fundamenta toda a afirmação de valor possível sobre o facto, visando decidir logo
no juízo de tipicidade se foram negados os valores protegidos pelo Direito;
➔ Ex.: se A disparar sobre B para se defender de uma agressão, não é realmente
típico porque a legítima defesa é uma causa de exclusão da ilicitude, absorvendo o
desvalor da lesão da vida - causas de justificação como elemento negativo do tipo;
➔ Reflete as valorações específicas do legislador penal na incriminação das
condutas, e uma justificação autónoma das normas penais.
● CULPABILIDADE - momentos psicológicos que têm de ser valorados, a par dos
critérios da conceção psicológico-normativa da culpa.
➔ Aqui, o dolo e a negligência são tratados na ilicitude, numa dimensão psicológica
e ético-jurídica, assim como as causas de exclusão da culpa e os critérios da
imputabilidade;
➔ O dolo tem os elementos psicológicos, mas também se requer uma consciência da
ilicitude (relação do agente com a ordem jurídica, em geral), continuando a ter a
ver com a culpa, ou seja, há uma valoração da vontade através da censurabilidade.

ESCOLA FINALISTA (Welzel)


● AÇÃO - para identificar a ação era essencial o conteúdo da vontade, tendo de se atender
à perspetiva dos fins da ação, sendo que o primeiro juízo de verificação do facto exigia
uma ação final real/potencial;
➔ Ex.: se A atinge a tiro B, quando pretendia atingir um animal, não faz sentido
qualificar esse comportamento como ação num homicídio;
➔ Vontade - especificidade do comportamento humano (condução para fins ou
objetivos concretos previamente selecionados);
➔ Ação Final - considerava o conceito de ação causal, pela Escola Clássica,
insuficiente, porque faltava o momento de direção da vontade pelo agente e da
orientação para um fim de um comportamento, estando os elementos subjetivos
associados à sua descrição objetiva;
❖ Welzel - a finalidade era uma orientação implícita do comportamento
exterior pela vontade, sendo uma ação ôntica, que se baseava na valoração
jurídica como processo orientado para a modificação do mundo exterior
(basta uma estrutura comportamental como base das valorações da
ilicitude e da culpa, independente da significação no mundo social);
❖ Ação como um esquema cibernético de relação entre o agente e o meio,
não se preocupando, individualmente, com o significado de vontade
humana na compreensão dos atos de cada pessoa;
❖ Expressão Objetiva de Vontade como Base de Imputação de
Responsabilidade Penal - exige-se um conteúdo que possa ser
compreendido pelo próprio agente como uma decisão sua ou algo que o
agente poderia ter evitado de acordo com dados sociais e culturais.
➔ Negligência - é uma finalidade potencial (a que poderia ter existido para evitar o
resultado criminoso), exprimindo a objetiva realidade de um momento de controlo
sobre os atos, que justifica que o comportamento negligente ainda seja base da
responsabilidade penal;
➔ Omissões - apesar de ser de difícil enquadramento, devido à ausência de
exterioridade exigida, admite-se que esta não seria um ente puramente normativo,
dependente da violação de um dever de agir, apelando à finalidade potencial. Para
Welzel, as ações reais e possíveis são iguais na dignidade ontológica, sendo que o
momento pré-valorativo e objetivo em que se apoiaria o crime omissivo é a
possibilidade efetiva de ação.
❖ O dever jurídico é pressuposto necessário da relevância da omissão,
impondo que esta só possa ser equiparada à ação, onde o dever de ação for
determinado por uma relação de domínio/responsabilidade social
institucionalmente indiscutível com o bem jurídico.
➔ Automatismos - não resolve este problema porque falta a finalidade consciente,
resolvendo apenas o problema dos atos reflexos.
● TIPICIDADE
➔ Na sua natureza, esta era um juízo descritivo, mas de indício das valorações da
ilicitude objetiva, sendo que, quanto à contrariedade à ordem jurídica que se
estabelecia, passa a haver uma contrariedade dos lados objetivo e subjetivo do
crime;
➔ A ação típica teria uma dimensão causal/objetiva (causalidade)e uma dimensão
subjetiva/final (dolo e a negligência).
● ILICITUDE
➔ Construída de modo idêntico à conceção clássica, mas inclui a dimensão
subjetiva da ação típica, devido ao facto de se incluir o dolo na ação;
➔ Mantém-se como contrariedade à ordem jurídica no seu conjunto, incluindo os
tipos objetivo e subjetivo;
➔ Duplo Juízo de Valor - teria de concluir pelo desvalor do resultado (aspetos
objetivos do tipo - violação do dever) e pelo desvalor da ação (violação da
norma).
● CULPABILIDADE
➔ Como integra os aspetos finais/subjetivos, a culpabilidade já não tem que se
debruçar sobre os aspetos de tipo psicológico/mentais, porque já estariam
integrados nos juízos anteriores (tipicidade e ilicitude) e já teriam sido valorados
na ilicitude objetivo-subjetiva, assim como o dolo e negligência;
➔ Apenas se ocupava das causas de exclusão e de atenuação da culpa, sendo então
um juízo de negativo de valor;
➔ Imputabilidade associada à capacidade de motivação média das normas;
➔ Conceção Normativa da Culpa - baseava-se na violação de um dever de
motivação pelas normas (quase moral/espiritual que pressupõe o dever ideal - ex.:
não matar), valorado segundo o critério de censurabilidade e autónomo do dever
de não violação das mesmas, porque o desvalor da ação é a contrariedade ao
dever da ação;
➔ Causas de Exclusão da Culpa - quando alguém viola a norma, numa primeira
dimensão, mas não viola o dever de motivação das normas (ex.: estado de
necessidade) - dever normal de motivação pelas normas cuja violação, em certos
casos, não se poderia constatar;
❖ Suicídio Medicamente Assistido - quem auxilia ao suicídio, em situações
muito excecionais, não teria cometido este crime nem o de homicídio,
sendo que a solução da lei não teria de ser a de punir porque, talvez, as
condições da normal motivação não estariam cumpridas, havendo uma
enorme compaixão;
❖ Teoria Rigorosa da Culpa (Welzel) - defendia um rigorismo sistemático,
admitindo o erro sobre as causas de justificação e a diferenciação ao erro
sobre o tipo.
❏ Duas Hipóteses:
★ Ex.: A pensa que está a matar um animal na caça, mas mata
B;
❖ Erro do tipo (art. 16º, CP), excluindo uma ação
final, tendo em conta que essa não era a intenção do
agente (A não conduziu a sua ação para a morte de
B, mas sim para a morte de um animal);
★ Ex.: A pensa que está a agir em legítima defesa, estando
equivocado quanto à matéria de facto (ex.: A, polícia, pensa
que, ao passar numa rua, está a haver um assalto e dispara
contra alguém, mas o que se passa é a filmagem de um
filme);
❖ A pessoa representa uma causa de justificação que,
na realidade, não se verifica. Neste caso, a pessoa
quis disparar sobre uma pessoa e matar outra,
mesmo que em legítima defesa, havendo a ação
final de homicídio, a qual pode ser atenuada devido
à falta de motivação (este dolo não se repercute
numa culpabilidade absoluta) - pensamento
sistemático rigoroso redutivo;
❏ Crítica (MFP) - ambos os casos são equiparáveis porque, mesmo
que haja negligência, persiste sempre a responsabilidade a título de
negligência.
➔ Crítica (MFP) - em termos de culpabilidade, Welzel conduz a resultados difíceis
de aceitar do ponto de vista dos fins das penas e dos fins da responsabilidade
penal. Também não é correto afirmar-se que a responsabilidade penal se baseia
nos aspetos mentais e psicológicos da ação, na medida em que estamos perante
uma ética da responsabilidade e não da atitude (não há lugar às emoções, o que
importa são as emoções médias do destinatário médio).

ESCOLA FUNCIONALISTA (Jakobs) - funcionalismo sistémico, sociológico ou estratégico


- baseia-se na Teoria dos Sistemas de Luhmann, caracterizando a sociedade como um sistema
social. Assim, a ideia de sistema consiste na compreensão das sociedades humanas como uma
organização de interações entre as pessoas que a constituem, de acordo com fins com funções
específicas, visando a sua auto-preservação e/ou auto-repercussão - certa organização de
elementos que interagem entre si e se articulam para uma finalidade comum (estrutura dinâmica)
- ideia de estrutura, função, relação, interação e de finalidade conjunta (ex.: interação familiar é
uma das várias áreas de interação);
● A função primária do Direito é a conservação da sociedade e não a proteção de bens
jurídicos;
● Função (ex.: mão) - numa perspetiva analítica, é descrita como uma parte do corpo, com
certas caraterísticas biológicas, tais como forma, composição, etc. Por outro lado, numa
perspetiva funcionalista, a mão seria o que permite fazer certas coisas, como agarrar;
➔ As normas têm uma função de estabilizar, contra-facticamente, a realidade das
expectativas sociais, delas resultantes (criar segurança). Assim, as sociedades
organizam-se através de normas motivadoras de comportamentos, que criam
expectativas de segurança para os seus destinatários;
❖ Ex.: a punição do crime de homicídio, leva a concluir que as pessoas não o
irão praticar devido ao facto de terem uma consequência prevista.
● AÇÃO - algo funcionalizado, que cumpre as finalidades de um sistema e as relações que
essas finalidades impõe que tenham concordância com as normas;
➔ Teoria da Evitabilidade Individual - o comportamento é definido como a
evitabilidade de um resultado diferente;
❖ Automatismos - há que ter em conta o agente concreto, que está numa
situação concreta. Se o automatismo puder ser neutralizado, e desde
que não haja falta de tempo para o processo de motivação, estamos
perante uma ação, havendo responsabilidade. Se não houver tempo
(não é evitável), o indivíduo não consegue reorientar o seu
comportamento, não havendo uma ação, porque não há tempo para um
comportamento alternativo;
❖ Para haver responsabilidade penal, o agente tem de ser capaz de evitar a
conduta proibida, mas opta por atuar em contrariedade ao Direito.
➔ Dolo - tem direta relevância para com os estados psicológicos, nomeadamente, ao
nível da representação dos fins (relação social do agente e da norma), exigindo
apenas a compreensão, pelo agente, do seu papel social em função da norma (age
dolosamente quem não pode deixar de apresentar o risco, em função da sua
relação com a norma);
➔ MFP - há um protagonismo da ação, porque define a relação da pessoa para com
o mundo, prévia ao Direito e, sem a qual o Direito não se pode construir para
determinar a finalidade das normas.
● Distinção face à Escola Finalista:

FINALISMO FUNCIONALISMO

Parte de uma base ôntica e de uma estrutura ontológica da Não aplica o elemento chave da realidade na estrutura
realidade, a partir do conceito de ação, onde se verifica a ontológica, havendo antes um relacionamento entre
relação da consciência do agente para com o mundo e a ações e normas, necessário para preservar o sistema
questão do controlo do agente sobre o mundo, a partir do social e a sua segurança (têm de se criar ou conceber
qual se têm de construir as normas, relacioná-las e relações estáveis e determinadas, que vão dar
organizá-las. liberdade de responsabilidade aos destinatários das
normas, pressupondo um conceito de ação adequado a
garantir essa estabilização e desenvolvimento).

A responsabilidade em termos de dolo baseia-se na MFP - a redução da responsabilidade na questão do


perigosidade do agente. dolo e questões relacionadas com a culpabilidade,
envolve a rutura do papel do agente, visto que, o
mesmo se afasta do seu papel como cidadão fiel ao
Direito.

Quanto à conceção normativa da culpa, esta baseava-se na Quanto ao conceito normativo de culpa, a
violação de um dever de motivação pelas normas, quase culpabilidade não é um facto psíquico nem a ausência
moral/espiritual que pressupõe o dever ideal, valorado do mesmo, mas sim quem quebra a fidelidade ao
Direito.
segundo o critério de censurabilidade e autónomo do dever
de não violação das mesmas, porque o desvalor da ação é a
contrariedade ao dever da ação;

Ser pessoa impõe-se ao próprio Direito. Ser pessoa é ser fiel ao Direito, não se impondo ao
mesmo

Releva os estados mentais e das emoções. Afasta a relevância dos estados mentais e das
emoções.

ESCOLA FUNCIONALISTA ( Roxin) - funcionalismo teleológico


● Baseia o seu pensamento na política criminal (critérios de prevenção geral e especial),
nomeadamente nos princípios da necessidade da pena e dignidade da pessoa humana,
permitindo estes que o legislador decida a responsabilidade penal e a graduação da pena;
● Conceito Pessoal da Ação - a conduta corresponde a uma exteriorização da
personalidade, ou seja, trata-se de um comportamento significativo pessoal, adequado à
pessoa do agente, sendo que apenas a ação é controlada pelo agente;
➔ Atos reflexos, inconscientes e a vis absoluta não são ações;
➔ Os pensamentos, quando se materializem em impulso da vontade, já podem ser
expressões da personalidade.

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